UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS – UEA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS – FMT-AM PROGRAMA DE POS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS HEPATITE B E DELTA: AVALIAÇÃO DE UMA SÉRIE DE CASOS NA REGIONAL DO JURUÁ – ESTADO DO ACRE SUIANE DA COSTA NEGREIROS DO VALLE MANAUS 2007 i SUIANE DA COSTA NEGREIROS DO VALLE HEPATITE B E DELTA: AVALIAÇÃO DE UMA SÉRIE DE CASOS NA REGIONAL DO JURUÁ – ESTADO DO ACRE Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, como requisito para obtenção do título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas. Orientador (a): Prof. Dr. Wornei Silva Miranda Braga Co-orientador (a): Profª Dra. Flor Ernestina Martinez MANAUS 2007 iii “Há duas formas para viver sua vida: Uma é acreditar que não existe milagre. A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.” Albert Einstein 1879-1955 iv DEDICATÓRIAS Aos meus filhos Orsetti Neto e Mariana Aos pacientes que se fazem presentes na minha formação médica v AGRADECIMENTOS A Deus que no seu infinito amor e misericórdia, sempre foi luz no meu caminho. A Universidade do Estado do Amazonas, pela iniciativa de tão louvável empreendimento. A SUFRAMA, pelo incentivo a Educação e Pesquisa no Estado do Amazonas. A minha mãe, que pelo exemplo de determinação e coragem, é minha motivação para ir sempre além. Aos meus irmãos que foram pilares na ajuda com meus filhos, durante minha ausência. Ao meu orientador, Dr. Wornei Braga pela confiança, sua orientação e amizade. A Dra. Flor Martinez, co-orientadora, por sua colaboração. A Secretaria Estadual de Saúde do Acre, pelo incentivo e apoio financeiro. Aos médicos Infectologistas do Acre pela determinação de fazer diferente, tendo como iniciador o médico Tião Viana. Aos professores da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, pelo reconhecimento do meu trabalho como médica residente e apoio na nova etapa da minha graduação. Ao professor José Carlos Ferraz Fonseca pela contribuição, através da sua inestimável experiência. Aos servidores do Hospital Geral de Cruzeiro do Sul, em especial as funcionárias do ambulatório Marize e Marciene, do serviço de vigilância epidemiológica, na pessoa de Lourdes Albuquerque, do serviço de estatística Amílcar, do Laboratório e dos demais setores que prontamente atenderam sempre que precisei. Aos servidores do Hospital de Guajará, na ajuda de resgate de pacientes. Aos servidores das secretarias municipais de saúde (Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves, Mâncio Lima, Porto Valter, Marechal Thaumaturgo, Guajará e Ipixuna) na colaboração de dados, através do SINAN, em especial a funcionária Maria Cirlene, que com sua competência e dedicação fez extensão ao meu trabalho. Aos servidores do Hemonúcleo de Cruzeiro do Sul, pelo apoio logístico com as amostras de sangue dos pacientes. Ao Dr. Luís Augusto (LABSUL), pela consideração, colaboração e presteza no atendimento aos pacientes portadores de hepatite. vi A Associação dos Portadores de Hepatite do Acre (APHAC), no nome de seus servidores, em especial Vânia e Raquel. Ao médico Edwin Vivanco, pela colaboração no atendimento aos pacientes portadores de hepatite. Aos colegas da turma 2005, professores e funcionários do curso de pós-graduação em Medicina Tropical. A Dr. Raimundo Paraná e Dr. Hermes Pedreira da Universidade da Bahia e FIOCRUZ/BAHIA, pela boa acolhida em Salvador e execução das técnicas de biologia molecular. A Franesi Ribeiro, pelo companheirismo e incentivo ao novo desafio que me foi proposto. Aos amigos em Manaus, os antigos e os adquiridos, em especial Lúcia, que sempre esteve por perto quando precisei. A todos que contribuíram direta ou indiretamente para que este trabalho se concretizasse, mesmo só na torcida ou com uma palavra amiga. vii RESUMO Estima-se que aproximadamente 1/3 da população mundial já teve contato com o vírus da hepatite B e que cerca de 350 a 500 milhões são portadoras do antígeno de superfície e desses 18 milhões estão infectados pelo VHD. A região Amazônica é caracterizada como uma das regiões do mundo de maior ocorrência dos vírus B e Delta. A clínica de ambas as enfermidades é heterogênea variando desde formas assintomáticas até quadros fulminantes. Evidências clínicas e laboratoriais de surtos de hepatite fulminante em comunidades fechadas na Amazônia brasileira demonstram a presença marcante da doença na região, justificando assim o presente estudo. Este mesmo, tem como objetivo descrever os aspectos clínicos e epidemiológicos de uma população com diagnóstico definido de hepatite B e Delta atendidos no ambulatório de infectologia do Hospital Geral de Cruzeiro do Sul. Em um estudo descritivo, foi aplicado um questionário para coleta de dados de prontuário médico e da Ficha de Notificação para as Hepatites Virais, lançadas no SINAN. Através desse questionário foi possível descrever os fatores epidemiológicos, clínicos e sorológicos de cada paciente. Foram avaliados 355 pacientes, sendo que 243 originados do prontuário médico, 104 das fichas de notificação e 8 de atestados de óbito. A taxa de incidência na região variou de 42/100.000hab/ano à 117/100.000hab/ano. Clinicamente foram identificadas todas as formas clínicas, sendo maior número de pacientes, 84% na forma crônica, com média de idade 28 anos. Foi encontrada na população geral uma reatividade de 55,6% para Anti-VHD e 78,1% para o Anti-HBe. Óbito foi associada a coinfecção VHB/VHD. A soroconversão de HBeAg e resposta bioquímica foi de 66,6%, mas nos pacientes Anti-HBe a resposta variou de 36,8 a 44,6%. A cura ocorreu em 1,7% (6/353). Os genótipos de VHB encontrados foram A, F e D, com predomínio para o genótipo A. A associação entre história de hepatite na família demonstra a importância desses vírus como agente etiológico de doença ictérica em nossa região, sugerindo a transmissão horizontal intrafamiliar, acometendo indivíduos jovens e com a co-infecção VHB/VHD expressiva na população estudada. Palavras-chaves: VHB; VHD; Amazônia; Evolução clínica; Tratamento; Genótipo viii ABSTRACT It is considered that approximately 1/3 of the world population already had contact with the hepatitis B virus (HBV) and that 350 to 500 million are carriers of the HBV surface antigen, of those 18 million are infected with hepatitis Delta virus (HDV). The Amazon region is characterized as one of the highest prevalent areas of HBV and HDV occurrence. Clinically both viruses are heterogeneous varying from asymptomatic cases to fulminant forms. Clinical and laboratory evidences of outbreaks of fulminant hepatitis in closed communities in the Brazilian Amazon demonstrate the important presence of HBV and HDV disease in the area, justifying the present study. Its objective is describe the clinical and epidemiological aspects of a case series of patients with the diagnosis of hepatitis B and Delta assisted at the clinic of infectious diseases of the General Hospital in Cruzeiro do Sul, Acre. This is a descriptive study of a case series of patients with the diagnosis of hepatitis B and Delta infection, a questionnaire was applied for collection of data from hospital medical records and from the National Health Information System (SINAN). Epidemiological, serological and clinical information were drown form this instrument. We studied 355 patients, 243 selected from the medical records of the study hospital, 104 from the National Health Information System, and 8 from death certification register. Viral hepatitis cumulative incidence rate in the study area varied from 42/100.000 hab/year to 117/100.000 hab/year. We could examine all kinds of hepatitis B infection clinical spectrum, 84% of chronic forms, with a mean age of 28 years. 55.6% of the studied population was reactive to anti-HDV and 78.1% for AntiHBe. Death was strongly associated with HBV/HDV co infection. HBeAg seroconvertion was seemed in 66.6% of treated patients, but in anti-HBe patients biochemical improvement varied from 36.8% to 44.6%. Anti-HBS seroconvertion was seemed in 1.7% (6/353). We detected HBV A, F and D genotypes, been the genotype A the most prevalent. The association between a history of hepatitis and death in families demonstrate the importance these viruses as etiologic agents of icteric disease in our region, suggesting horizontal familiar transmission, involving young individuals and with co-infection of HVB/HVD notorally expressive in the studied population. Word-key: HBV; HDV; Amazon; Clinical evolution; Treatment; Genotype ix LISTA DE TABELAS Tabela 1 Perfil sorológico da população estudada.................................. 30 Tabela 2 Média de idade entre as formas clínicas................................... 31 Tabela 3 Distribuição dos sintomas de hepatite aguda........................... Tabela 4 Sinais e sintomas hepatite fulminante....................................... 35 Tabela 5 Sinais e sintomas da hepatite crônica....................................... 38 Tabela 6 Resultado histopatológico dos pacientes crônicos submetidos a biópsia percutânea................................................................. 39 Tabela 7 Sinais e sintomas da cirrose..................................................... Tabela 8 Fatores de risco envolvidos na transmissão x forma clínica .... 44 Tabela 9 Perfil sorológico nas formas clínicas......................................... 44 Tabela 10 Diagnóstico e evolução das formas clínicas............................. Tabela 11 Prevalencia e associação com a presença do marcador antiVHD........................................................................................... 46 Tabela 12 Sinais e sintomas associados a presença de VHD................... 47 34 40 45 x LISTA DE FIGURAS Figura 1 Estrutura VHB............................................................................ 6 Figura 2 Estrutura VHD............................................................................ 8 Figura 3 Mapa do estado do Acre............................................................ 20 Figura 4 Mapa do estado do Acre com destaque para os municípios que compõem a regional do Vale do Juruá............................... 21 Figura 5 Distribuição da população estudada por grupo de idade.......... 31 Figura 6 Media de ALT por forma clínica................................................. 43 xi LISTA DE ABREVIAÇÕES HBsAg Antígeno de superfície do VHB HBeAg Antígeno e do VHB, responsável pela replicação viral HBcAg Antígeno do core do VHB Anti-HBe Anticorpo contra o antígeno e do VHB Anti-HBcIgG Anticorpo contra o antígeno central do VHB, fração IgG Anti-HBc IgM Anticorpo contra o antígeno central do VHB, fração IgM Anti-HBs Anticorpo contra o antígeno de superfície do VHB AgHD Antígeno do vírus da hepatite delta Anti-HDT Anticorpos do vírus delta, fração total Anti-HD IgM Anticorpos do vírus delta, fração IgM ALT Alanino amino transferase AST Aspartato amino transferase DNA VHB Genoma vírus B (Acido desoxirribonucléico) DST Doenças Sexualmente Transmissíveis HGCZS Hospital Geral de Cruzeiro do Sul RNA VHD Genoma vírus delta (Acido ribonucléico) PCR Reação em cadeia da polimerase UDI Usuário de drogas intravenosas VHB Vírus da hepatite B VHD Vírus da hepatite delta xii SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 1.1 Definição...................................................................................................... 1.2 Histórico....................................................................................................... 1.3 Epidemiologia............................................................................................... 1.4 Vírus da Hepatite B e Delta.......................................................................... 1.5 Transmissão e história natural..................................................................... 1.6 Diagnóstico.................................................................................................. 1.7 Tratamento................................................................................................... 1 1 1 2 5 9 11 13 2 OBJETIVOS........................................................................................................ 2.1 Geral........................................................................................................... 2.2 Específicos................................................................................................... 18 18 18 3 MATERIAL E MÉTODOS................................................................................... 3.1 Modelo de estudo......................................................................................... 3.2 Local do estudo............................................................................................ 3.3 População do estudo................................................................................... 3.3.1 Critérios sorológicos.............................................................................. 3.3.2 Critérios clínicos.................................................................................... 3.4 Seleção dos pacientes................................................................................. 3.4.1 Fontes de informações.......................................................................... 3.5 Procedimentos............................................................................................. 3.5.1 Procedimento clínico............................................................................. 3.5.2 Testes laboratoriais inespecíficos......................................................... 3.5.3 Testes sorológicos................................................................................. 3.5.4 Testes de biologia molecular................................................................. 3.5.5 Técnica para avaliação do PCR............................................................ 3.5.6 Teste de genotipagem........................................................................... 3.6 Análise dos dados........................................................................................ 3.7 Considerações éticas................................................................................... 19 19 19 21 22 22 23 23 25 25 25 25 26 27 28 28 29 4 RESULTADOS.................................................................................................... 4.1 Formas clínicas............................................................................................ 4.1.1 Hepatite aguda...................................................................................... 4.1.2 Hepatite fulminante................................................................................ 4.1.3 Portador inativo..................................................................................... 4.1.4 Hepatite crônica..................................................................................... 4.1.5 Cirrose................................................................................................... 4.1.6 Hepatocarcinoma.................................................................................. 4.2 Coinfecção (VHB/VHD)................................................................................ 4.3 Crônicos em tratamento............................................................................... 4.4 Biologia Molecular........................................................................................ 30 32 32 34 36 37 39 41 45 48 51 5 DISCUSSÃO....................................................................................................... 53 6 CONCLUSÃO..................................................................................................... 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 61 62 8 ANEXOS............................................................................................................. 70 1 1 INTRODUÇÃO 1.1 Definição As hepatites virais são doenças causadas por diferentes agentes etiológicos, de distribuição universal e que têm em comum o tropismo pelo fígado, pertencentes a distintas famílias, tais como: Picornaviridae - vírus da hepatite A - descoberto por Feinstone et al. (1973); Hepadnaviridae - vírus da hepatite B - descoberto por Alisson e Blumberg (1961); Flaviviridae - vírus da heaptite C - seqüenciado por Choo et al. (1989); vírus da hepatite D, viróide de planta ou RNA satélite, utilizando o envelope do vírus B, descoberto por Rizzeto et al. (1977); e Calciviridae (?) - vírus da hepatite E - observado à microscopia eletrônica por Bradley (1990). 1.2 Histórico As hepatites virais têm ocorrência registrada desde a 2ª guerra mundial, sob apresentação de duas formas de contágio da doença: hepatite infecciosa, de transmissão fecal-oral e hepatite soro homóloga, transmitida por meio do contato com o sangue e derivados (Havens, 1946; Neef, et al.1946). A detecção em soro de um aborígine australiano de antígeno que reagia com o soro de dois hemofílicos politransfundidos, identificado como antígeno austrália por Blumberg em 1964, fixou definitivamente o primeiro momento dos marcadores sorológicos para um tipo de hepatite. A partir da descoberta, Blumberg juntamente com o microbiologista Irving Millman, desenvolveu um teste para identificar o vírus, tornando o primeiro método de triagem para os doadores de sangue. Mais tarde, em 1976, Blumberg recebia o Prêmio Nobel de Medicina. Em 1970, Dane e colaboradores demonstraram a natureza completa do vírus da hepatite B (VHB). Em 1973 a Organização Mundial da Saúde propôs que o termo hepatite por soro homólogo ou sérica, fosse substituído por hepatite B (Freitas, 2005). 2 A descoberta do antígeno austrália foi um marco para identificação dos vírus das hepatites. No Brasil os estudos sorológicos foram introduzidos a partir de 1970, motivadas pela tentativa de esclarecimento da etiologia de surtos familiares de uma doença, denominada popularmente de “ febre negra de Lábrea ”. E os estudos sobre o vírus da hepatite Delta (VHD) na região foram iniciados em 1983, quando revelam a elevada ocorrência deste agente (Bensabatth, 2003). O diagnóstico específico, através dos testes que avaliam marcadores sorológicos, busca identificar no soro os antígenos (HBsAg e HBeAg) e os anticorpos (Anti-HBcAg, Anti-HBeAg e AntiHBsAg), que estão presentes na infecção dependendo da sua fase evolutiva. Considerado como marcador de prevalência de infecção, HBsAg (antígeno de superfície do VHB) e AntiHBcT (anticorpo do core do VHB) (Gonçales Júnior, 2003). 1.3 Epidemiologia A infecção pelo VHB é considerada a virose mais comum no homem, que constitui seu reservatório natural. A grande maioria dos casos concentra-se no sudeste asiático, na Amazônia, na África e no extremo norte da América, contribuindo com mais de 90% dos casos mundiais e implicado como importante fator na etiologia de hepatite crônica, cirrose hepática e hepatocarcinoma (Maynard, 1990). A Organização Mundial da Saúde estima que cerca de dois bilhões de pessoas no mundo já tiveram contato com o VHB e que 400 milhões tornaram-se portadores crônicos (CDC 1991). E subdivide o mundo em três nosoáreas: alta, média e baixa endemicidade, baseando-se na prevalência da infecção pelo vírus da hepatite B, através da detecção dos marcadores sorológicos HBsAg ou AntiHBcT. Áreas de alta endemicidade são aquelas com taxas de prevalência do HBsAg acima de 7% ou 60% de AntiHBcT positivo; média endemicidade, quando encontramos 2-7% da população definida como portadora do vírus, ou seja, HBsAg positivo, ou quando 20 a 60% encontra-se com AntiHBcT positivo. As áreas de baixa 3 endemicidade ocorrem com menos de 2% da população portadora desse vírus, ou menos de 20% com positividade para AntiHBcT (Halder, 1990). A prevalência de infecção pelo VHB é considerada baixa, menor que 1% no norte da América, Austrália e Nova Zelândia, moderada (2-4%) no Japão e alta na China (5-18%) e Taiwan (12-20%) (Chen, 2000). Países asiáticos, como Taiwan, considerado com alta endemicidade para os vírus B e D, apresentam prevalência de 12,6% para o HBsAg e 15,3% para o AntiHDT, considerando os testes realizados nos portadores de VHB (Lu, et al. 2003). Em áreas endêmicas de hepatite B, a infecção pelo VHD representa grave problema de saúde pública. Estima-se que 18 milhões de pessoas encontram-se infectadas pelo VHD entre os 350 milhões de portadores crônicos do VHB no mundo. O estado de portador crônico do VHB (HBsAg positivo), constitui-se no principal fator epidemiológico para a propagação do VHD, o que ocorre, por exemplo, entre as populações nativas da Amazônia brasileira, peruana e venezuelana (Braga, 2004; Silveira et al. 1999; Arboleda et al. 1995). A prevalência da hepatite pelo vírus B no Brasil apresenta grande variação regional, tornando imprudente extrapolar dados de uma região ou cidade para todo um estado. Essa idéia é reforçada pela alta prevalência encontrada no oeste de Santa Catarina e Paraná e áreas de baixa prevalência na Amazônia (Souto, 1999). De acordo com investigações realizadas por Bensabath (1984), o padrão epidemiológico das infecções pelos vírus B e Delta não é uniforme em toda região norte do Brasil, sendo mais marcante nas regiões dos vales dos rios Juruá, Purus e Madeira na Amazônia Ocidental e no vale do rio Tapajós na Amazônia Oriental. Confirmado por outros estudos, Strauss, et al., 1987; Miranda, et al. 2004. Vários estudos têm demonstrado a alta endemicidade da infecção pelo VHB na região Amazônica. Arboleda et al. (1995) no município de Barcelos, Alecrim et al. (1986) no município de Labrea e Fonseca (1988) nos municípios de Codajás e Itamarati demonstraram respectivamente positividade de 1,6%, 15,3%, 15,5% e 4 18,3% para HBsAg. A prevalência do Anti-VHD (anticorpo do VHD) em torno de 32%, quando analisado amostras HBsAg positiva. Braga et al.(2004) no município de Labrea (Amazonas) em trabalho que estima a prevalência de hepatite B e Delta, após dez anos de introdução da vacina na região, encontra positividade de 3,3% para o HBsAg e 49,9% para o Anti-HBcT. O VHD foi encontrado em 30% dos indivíduos com reatividade para o HBsAg. Outro estudo conduzido no Estado do Amazonas, em gestantes, mostrou uma prevalência de 3,2% para o HBsAg, com marcada expressão para as regiões do Juruá, Purus e Madeira, chamando atenção para o risco de transmissão vertical (Kiesslich, 2004). Bensabath (1973) em pesquisa realizada no município acreano de Sena Madureira, na população geral identificou reatividade para o HBsAg de 13,4%. Estudo realizado nas comunidades ribeirinhas dos rios Acre (Acre) e Purus (Amazonas) por De Paula et al. (2001), encontraram prevalência de 5,2% para o HBsAg, 66,2% para Anti-HBc (IgG) e 66,6% do VHD nas amostras AgHBs positiva. Inquérito de soroprevalência de base populacional na região Amazônica, conduzida por Souto et al. (2004), no Estado de Mato Grosso, foi registrado 2,1% de portadores do VHB e entre esses portadores 28% tinha marcadores sorológico positivo para hepatite Delta. Dados de prevalência do Estado do Acre, a partir de inquérito sorológico populacional em 12 municípios realizado por Vianna (2003), demonstram índices de prevalência de 3,4% para o marcador HBsAg, 62,9% para Anti-HBc total e 1,7% para o Anti-VHD do total de amostras estudadas. Outros estudos que mostram a importância da infecção na região, foram realizados por Lobato (2002) e Tavares Neto et al. (2004), com prevalência de 5,1% e 3,3% para HBsAg respectivamente. Em candidatos a doação de sangue da regional do Juruá, é descrita uma prevalência 2,5% para HBsAg e 69% para Anti-HBcTotal (dados não publicados). Em portadores assintomáticos de VHB, foi encontrada uma prevalência de 24% a 34% de anticorpos contra o vírus da hepatite D (anti-VHD) e para os pacientes com doença crônica pelo VHB de 84,6% a 94,7%. Encontrado ainda, nos 5 casos de hepatite fulminante 74% de reatividade para Anti-VHD (Bensabath et al. 1984; Fonseca et al. 1987). De acordo com Bensabath e Leão (2003), apesar da desigualdade das notificações, as taxas referentes à mortalidade por hepatites na região Amazônica são mais altas que nas demais regiões do Brasil. No estado do Acre, segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde/ MS, as taxas de mortalidade pelo VHB são de 24,4 para um milhão de habitantes e de 4,8 para o VHD, sendo maiores que a média nacional (0,28 para VHB e 0,07 para VHD). (MS/ SVS, 2003). 1.4 Vírus da Hepatite B e Delta O VHB pertence à família Hepadnaviridae, constituição genômica de uma molécula de DNA de fita parcialmente dupla. Constitui-se de dois gêneros: Orthohepadnavírus, que classifica os vírus que infectam os mamíferos e o Avihepadnavirus, os vírus que infectam as aves (Pringle, 1998). O VHB (Figura 1) produz dois tipos de partículas virais: incompletas, que são esféricas e filamentosas, não infecciosas, com 22 nm de diâmetro. Completas, que são infecciosas, também chamada de partícula de Dane de 42 nm de diâmetro. São circundadas por um envelope externo protéico (invólucro) que contém os três antígenos de superfície HBsAg-S; HBsAg-M, com sua seqüência adicional pré-S2; HBsAg-L, com suas seqüências adicionais pré-S1 e pré-S2. A camada interna, denominada nucleocapsídeo é icosaedrica constituído por proteínas do cerne (HBcAg) que circundam o genoma viral e a enzima DNA polimerase, contendo outro antígeno associado que é o HBeAg (Tiollais et al. 1985). Embora o VHB seja um vírus DNA ele codifica uma transcriptase reversa e replica-se através de um RNA intermediário. Após adsorção o vírus penetra nos hepatócitos e perde o envoltório protéico e a multiplicação do genoma viral ocorre no núcleo da célula, onde por ação da DNA polimerase, o filamento de DNA é convertido em fita dupla completa covalentemente fechada circular (cccDNA). A RNA Polimerase II transcreve o genoma do VHB a partir da forma cccDNA, produzindo o RNA pré-genoma, o qual é usado como molde para a transcrição reversa, resultando 6 na formação do DNA viral. Uma vez sintetizado, as proteínas do core contendo o genoma viral adquire o envelope externo (HBsAg). Este processo ocorre no Reticulo Endoplasmático e Complexo de Golgi e o vírion é liberado a partir do hepatócito por exocitose e não por lise celular (Seeger e Mason, 2000). Core Proteína S do antígeno de superfície Proteína M do antígeno superfície (S+pré-S2) Proteína L do antígeno de superfície (S+pré-S2 + pré-S1) DNA Polimerase (P) Fonte: www.netterimages.com Figura 1 – Estrutura do VHB O VHB não é um vírus citopático, a evolução da doença depende da resposta imune do hospedeiro, pois tanto o componente celular quanto o humoral são necessários para a eliminação do vírus. Ação de linfócitos T citotóxicos (CTL) oriundos da ativação de LT CD8+ expressos na membrana dos hepatócitos, por moléculas do Complexo de Histocompatibilidade Principal (MHC) de classe I, é o principal mecanismo efetor para clareamento do vírus e desenvolvimento de dano hepático. Por outro lado, a formação de anticorpos e a liberação de citocinas pelos linfócitos CD4+ de classe II do MHC, como as interleucinas, FNT (fator de necrose tumoral alfa) e o Interferon gama intensificarão a expressão dos antígenos ao MHC e a apresentação de peptídeos dos antígenos HBs, HBc e HBe para as células T killer citotóxicas, contribuindo para a destruição dos hepatócitos infectados (Lee, 1997). 7 O genoma do VHB é um dos menores entre os genomas virais que infectam o homem, com aproximadamente 3200 pares de bases. A primeira variabilidade genética do VHB foi reconhecida no antígeno de superfície, permitindo a classificação de nove subtipos: ayw1, ayw2, ayw3, ayr, adw2, adw4, adrq e adrq+. Posteriormente é classificada em oito grupos genômicos definidos pelas letras de A – H, por comparação das seqüências de nucleotídeos do gene pré S/S ou do genoma completo. Esses genótipos não estão obrigatoriamente correlacionados com os subtipos, no entanto, todas as cepas de ayw4 e adw4 são agrupadas nos genótipos E e F respectivamente (Mangnius; Norder, 1995). A distribuição mundial dos genótipos não é uniforme, encontrando na Ásia Ocidental, onde se concentra a maioria dos portadores de VHB, o predomínio dos genótipos B e C. O genótipo A é prevalente no norte da Europa e África. Os genótipos E e F parecem ser originários de aborígines da África (genótipo E) e do Novo Mundo (genótipo F). O genótipo F é um dos mais prevalentes em alguns países da América do Sul e América Central e o mais divergente entre os genótipos do VHB (Mangnius; Norder, 1995). No Brasil, os estudos demonstraram maior prevalência do genótipo A, seguido do genótipo F, exceto para a região sul, onde se observa elevada freqüência para o genótipo D (Ribeiro, 2006; Viana 2005; Sitnik, 2004; Oliveira, 2003). Vários estudos tentam correlacionar os diferentes genótipos com a gravidade dos quadros clínicos resultantes da infecção crônica pelo VHB, assim como a presença de mutação pré-core. Na correlação clínica com os marcadores sorológicos, foi observado que genótipos A e G são geralmente encontrados em indivíduos HBeAg positivo e o C associado à hepatite crônica, cirrose hepática e carcinoma (Mangnius& Norder, 1995; Conde et al. 2004). O vírus do VHD (Figura 2) é o único representante do gênero Deltavírus, está diretamente relacionado ao VHB, pois sendo um vírus defectivo, necessita da presença do envelope desse vírus para se replicar. É um RNA vírus de hélice simples, em forma de bastão, semelhante aos vírus RNA das plantas. Foi 8 inicialmente descrito por Rizzeto (1977). Apesar de vários estudos tentarem correlacioná-lo como agente etiológico da febre negra de Lábrea, somente em 1987 essa correlação ficou definida por Bensabath. VHD RNA Ag HBs Ag HD Fonte: www.scielo.br/img/fbpe/rsbmt/v35n2/9067f1.giff Figura 2 – Estrutura do VHD O VHD codifica uma só proteína, AgHD. A replicação se inicia com adesão do vírus ao hepatócito, com provável ligação ao mesmo receptor do VHB, com reconhecimento pela região pré-S1 do HBsAg. É transportado até o núcleo, onde sofre replicação através da RNA Polimerase e posterior transcrição de AgHD (Rizzeto, 2003). Estudos genéticos e seqüenciais do genoma do VHD relatam alta heterogeneidade desses vírus, com várias seqüências isoladas, sendo identificados três genótipos diferenciados e denominado tipo I, II (IIa, IIb) e III. São reconhecidos como mais patogênicos os subtipos IIa e III (Radjef et al. 2001). A distribuição geográfica desses genótipos tem registro de maior prevalência do tipo I nas regiões que compreendem os EUA, Europa, norte da África e sul do Pacifico. O tipo II predomina na Ásia, especialmente Japão e Taiwan e o tipo III 9 aparece apenas na América do Sul, mas precisamente na Amazônia. (Casey et al. 1996; Quintero et al. 2001). 1.5 Transmissão e história natural Segundo Lee (1997), as formas de transmissão do vírus da hepatite B são conhecidas, sendo a exposição percutânea ou de mucosas ao sangue contaminado, a principal via de transmissão. Apresenta ainda outras formas de contágio, como: transmissão vertical, relações sexuais, uso de drogas intravenosas, transplante de órgãos ou tecidos, lesões de pele e acidentes ocupacionais envolvendo profissionais da saúde. A transmissão intrafamiliar, sugerida em vários estudos, tem os pais e irmãos como principais reservatórios. Associada a fatores adicionais, como taxa ocupacional elevada por moradia, infestação de artrópodes e freqüentes lesões de pele, contribuindo para o padrão de hiperendemicidade do VHB e VHD na Amazônia. Segundo Brasil et al. (2003) a transmissão domiciliar no Estado do Amazonas, está demonstrada pela elevada freqüência de infecção pelo vírus da hepatite B entre os contatos de casos índices das formas fulminantes e alta prevalência entre os irmãos, sugerindo a presença da circulação viral no ambiente familiar. Segundo Lobato (2003), no município acreano de Rio Branco, a prevalência encontrada nos contatos domiciliares de mãe HBsAg positiva, foi de 21,1 % para o HBsAg e 60,5% para o Anti-HBc (IgG) enquanto que no grupo comparativo (mãe HBsAg negativo) a reatividade foi de 2,8% para o HBsAg e 27,4% para o AntiHBcT. Após a infecção aguda pelo VHB, evoluções diferentes podem ser observadas nos pacientes infectados em conseqüência a replicação viral e aos mecanismos envolvidos na resposta imune do hospedeiro, resultante da ação citotóxica das células T (LOK, 2000). Após infecção aguda 90 a 95% evoluirá para cura, com negativação do marcador HBsAg, menos de 1% para forma fulminante e cerca de 5 a 10% manterão a persistência do HBsAg em período superior a seis 10 meses, caracterizando o estado de portador crônico da hepatite B, com evolução para cirrose em 10% e desses 5% para hepatocarcinoma. Na hepatite fulminante se desenvolve rápida necrose hepatocelular maciça, com letalidade bastante alta, alcançando os 80% no Brasil. Os que se recuperam, o fazem com normalização histológica e funcional na maioria das vezes, exceto se houver coinfecção com o VHD, onde a evolução para a hepatite crônica é mais rápida em 45% dos sobreviventes. Diferentemente, quando causada pelo VHB sozinho, onde a cronificação ocorre em 3% dos casos.(Saracco, 1988; Balik, 1991). O padrão histológico na forma fulminante associado ao VHD apresenta necrose hepatocelular moderada, balonização hepatocelular e as células em mórula, ou espongiócitos, traduzido por necrose lítica com esteatose microvesicular, sendo este o substrato histológico (Paraná, 1995; Fonseca, 2004). Fatores estão implicados no desenvolvimento e na evolução da infecção crônica, sendo eles: época da aquisição da infecção, aspectos relativos à raça, sexo e genótipo do VHB. A progressão para o estado de portador crônico do VHB é mais freqüente nos indivíduos infectados pela via vertical ou perinatal, enquanto que a infecção na idade adulta geralmente leva à recuperação e ao desenvolvimento de imunidade específica na maioria dos pacientes. Sabe-se que o pior prognóstico está nos indivíduos que permanecem em fase de replicação, caracterizada pela presença do HBeAg e/ou DNA VHB elevado no soro (Gonçales Júnior, 2003). De acordo com Rizzeto (1990) o VHD por ser um agente viral defectivo, necessita da ajuda funcional do VHB para se manifestar e apresentando semelhante mecanismo de transmissão. Contudo, em determinadas áreas do norte da América do Sul, a exemplo da Amazônia brasileira e venezuelana, a transmissão do VHD poderia ocorrer por exposição inaparente, principalmente relacionada com efrações da pele após picadas de insetos ou através das mucosas. (Fonseca, 2002). Está freqüentemente associado a surtos de hepatite fulminante e evolução precoce para as formas graves de hepatopatia crônica. 11 Estudos epidemiológicos sugeriram que a transmissão pode também ser intrafamiliar, como demonstrado através de análise filogenética do HDV-RNA, em algumas populações do sul da Itália onde infecção de VHD é endêmica (Niro et al.1999). A história natural da infecção ocorre tanto por co-infecção, como por superinfecção de um portador do VHB, podendo ser encontradas formas assintomática, aguda (variando desde formas leves a fulminante) e crônica (Rizzeto, 1990; Farci, 2003; Fonseca, 2004). A doença aguda pelo VHD por superinfecção ocorre quando o individuo já é portador do vírus da hepatite B e adquire o vírus da hepatite Delta. Evolução geralmente grave, não raramente, ocorre curso fulminante e prognóstico ruim, com cronificação em 70% dos casos. Ao contrário do que acontece na co-infecção, com aquisição simultânea dos dois vírus, mas com resolução favorável em mais de 95% dos casos (Saracco et al. 1988). 1.6 Diagnóstico O diagnóstico é realizado mediante história epidemiológica, clínica e laboratorial. Clinicamente a infecção pode se apresentar desde a forma de portador inativo, até a de hepatocarcinoma, podendo passar ou não evolutivamente pelas formas aguda, aguda fulminante, crônica e cirrose. O diagnóstico laboratorial é baseado nas alterações de exames específicos e inespecíficos dependendo da fase evolutiva. Os exames laboratoriais inespecíficos podem indicar agressão hepática, tendo as dosagens de aminotransferases séricas, Alanina aminotransferase/ Transamina Glutâmica Piruvica (ALT/TGP) e Aspartato aminotransferase/ Transamina Glutâmica Oxalacética (AST/TGO) como essenciais para o diagnóstico da doença, podem está três vezes maior que o valor normal ou atingir valores acima de 1000 UI/l nas hepatites agudas. A persistência dos valores alterados das aminotransferases por mais de 6 meses é indicativa de provável cronificação. 12 Outros testes como a dosagem de Fosfatase Alcalina e Gama-glutamil transpeptidase (Gama GT) também demonstram grau de lesão de hepatócitos. A Albumina sérica baixa e o Tempo de Protombina (TAP) diminuído traduzem comprometimento do fígado. A dosagem Bilirrubina e suas frações medem grau e origem da colestase (Lopes, 1997; Thomas, 1990). O diagnóstico etiológico (Quadro 1) é realizado mediante testes sorológicos, que avaliam antígenos e anticorpos dos vírus B, com marcadores que expressam as diferentes fases da doença: fase aguda, crônica e exposição ao vírus ou à vacina. E também pelos testes moleculares com pesquisas quantitativa e qualitativa do DNA do VHB. Quadro 1 - Perfil sorológico e molecular em pacientes com hepatite B Marcador Imuniz . Infecção aguda Infecção pregressa Infecção crônica Portador inativo HBV oculta Anti- HBs Anti-HBc IgM Anti-HBc total Anti-HBe AgHBs + - + + + - -/+ -/+ - - + + + + -/+ - + + - + + + -/+ -/+ AgHBe - + - + - - VHB ADN - + - >105 cópias <105 cópias <103 cópias Como marcador direto da infecção pelo VHD, temos o antígeno do VHD (AgHD), com expressão no tecido hepático, detectado por técnicas de imunoperoxidase, não realizado na rotina. Assim, o diagnóstico inicial da infecção consiste no encontro de marcadores, que são IgM anti – HD e anticorpos totais anti – HD, principalmente os IgG, encontrado em altos títulos quando a infecção torna-se crônica. O isolamento do RNA-VHD no soro ou tecido hepático não é método rotineiro, mas teria importância fundamental no diagnóstico das hepatites crônicas (Rizzeto, 2003). 13 A detecção do VHD RNA está fortemente associada a danos na célula hepática, ainda que em pacientes assintomáticos. É um marcador precoce, detectado no sangue entre 4 e 8 semanas após exposição ao vírus Delta, antes do início da doença clínica (Sakugawa, et al., 1997). 1.7 Tratamento Nenhuma forma de tratamento específico encontra-se indicada nas formas agudas sintomáticas da hepatite B, onde acerca de 95% evolui para a cura. Naqueles que desenvolvem a forma fulminante, a melhor forma de tratamento é através do transplante hepático, realizado com grande sucesso e sobrevida em torno de 80% (Lee, 1997; Ferreira, 2000). O grande contingente de indivíduos infectados pelo VHB com indicações para o tratamento específico é representado principalmente pelos doentes com hepatite crônica e cirrose hepática, objetivando suprimir a replicação viral antes que ocorra dano irreversível ao fígado (Lok, 2000). Até há dez anos não existia nenhum medicamento eficaz contra o VHB. Hoje dispomos pelo menos de cinco medicamentos que podem ser utilizados. Apesar de tudo, continua sem aparecer algum tratamento que seja capaz de eliminar por completo a infecção. O objetivo do tratamento na hepatite B é prevenir a progressão da doença evitando desenvolvimento de cirrose ou câncer no fígado. A redução ou eliminação da carga viral parece ser o melhor caminho para se conseguir um bom resultado. Um dos marcadores utilizados para avaliar efetivamente o resultado do tratamento é a negativação do marcador sorológico HBsAg. Porém, para escolher uma estratégia de tratamento, a maioria concorda que a eliminação do HBeAg e a supressão da carga viral é a melhor escolha que pode ser feita como objetivo do tratamento da hepatite B (Lok, 2006). O ideal seria que todos os pacientes com hepatite B fossem tratados. Alguns autores consideram que como a eficácia dos medicamentos atualmente em uso 14 raramente alcançam a erradicação do vírus, e diante da possibilidade de evolução danosa ao fígado ser muito lenta, seria razoável não realizar o tratamento dos casos com pouco dano ao fígado. Por outro lado, como a velocidade de progressão do dano hepático não pode ser prevista pelos níveis das transaminases ou a carga viral, seria conveniente sempre se realizar uma biópsia para determinar o estágio da doença e assim definir a melhor estratégia para determinado paciente (Hadziyannis, 2006). Consideram-se candidatos ao tratamento, indivíduos que preencham alguns requisitos básicos: infecção crônica pelo VHB (HBsAg positivo por mais de 6 meses); presença de replicação viral (HBeAg positivo e/ou DNA-HBV com viremia de 100.000 cópias/ml); ALT elevada; biópsia hepática com atividade moderada/intensa e/ou fibrose; ausência de contra indicações aos medicamentos. Considerando os principais fatores preditivos de resposta ao tratamento, ALT elevada e baixa viremia, refletindo o grau de ativação imunológica do hospedeiro (Cheinquer, 2003). Os pacientes com hepatite crônica HBeAg negativo, tem sido um desafio, com duração maior de tratamento e resposta a longo prazo, objetivando retardar a progressão da doença hepática (Hadziyannis, 2006). O Interferon (INF) foi a primeira droga aprovada pelo FDA (Food and Drug Administration) em 1992, para o tratamento da infecção crônica, possui atividade antiviral e imunomoduladora, porém não produz uma resposta uniforme em todos os pacientes. Utilizado isolado ou em associação com um análogo de nucleosídeo, como a Lamivudina, é capaz de eliminar a replicação do VHB em 30% dos pacientes tratados, evidenciado pelo seu impacto na evolução da doença, sendo observado nos pacientes respondedores, menor risco de evolução para carcinoma hepatocelular e menor mortalidade (Lok, 2001). Posteriormente foi introduzido o Interferon Peguilado, com o objetivo de aprimorar os perfis farmacocinéticos e farmacodinâmicos desfavoráveis do INF-alfa. Foram desenvolvidas e aprovadas duas moléculas diferentes de INF Peguilado (alfa 2a e alfa 2b), entretanto somente o INF Peguilado alfa 2a foi aprovado para o 15 tratamento da hepatite crônica pelo vírus B, principalmente para os indivíduos HBeAg negativos (Hadziyannis, 2006). A descoberta do uso da enzima transcriptase reversa no ciclo de replicação celular do VHB, motivou o emprego das drogas inibidoras dessa enzima, iniciando com o emprego da Lamivudina utilizada desde a década de 90, determinando retardo na progressão da fibrose hepática. Apresentando dois inconvenientes: recidivas após o término do tratamento e o desenvolvimento de resistência por mutação na polimerase do VHB, sendo a mais conhecida a mutação no locus YMDD (Lai, et al. 1998; Lok, 2001). O Adefovir, outro medicamento de uso oral, consegue nos pacientes AgHBe positivos a soroconversão em 12% dos casos no primeiro ano de tratamento e em 29% e 43% no segundo e terceiro ano, respectivamente, com mínima resistência do vírus. Em pacientes HBeAg negativos o tratamento durante 48 semanas produz a normalização dos níveis das transaminases em 72%. A principal vantagem do Adefovir em relação a Lamivudina, é a baixa resistência viral que ele apresenta. Pacientes que apresentam resistência a Lamivudina devem receber orientação para utilizar o Adefovir, em monoterapia ou na combinação dos dois medicamentos (Marcelin, 2003; Hadziyannis, 2003). Novos análogos de nucleosídeos estão sendo empregados para o tratamento da hepatite crônica B, como o Entecavir e a Tebivurdina de liberação recente, aguardando sistematização pelo Programa Nacional de Hepatites. O Entecavir foi o terceiro medicamento oral aprovado para tratamento da hepatite B. Ele demonstrou ser mais eficaz que a Lamivudine quando utilizado por um período de 24 meses, mas ainda não existem dados de seu uso por períodos maiores. Comparado com a Lamivudina o Entecavir consegue uma maior diminuição da carga viral, mas a taxa de soroconversão do HBeAg não apresentou maior diferença. Não foi demonstrado até o momento resistência viral (Lai et al.2006; Chang et al. 2006). 16 Em relação à Telbivurdina, novo análogo de nucleosideo via oral. Dados de um estudo que acompanhou 1.367 pacientes durante dois anos mostraram reduções superiores na carga viral, chegando a níveis não-detectáveis, quando comparado à Lamivudina (56% vs. 39% de pacientes HBeAg positivos, e em 82% vs. 57% de pacientes HBeAg negativos) (Lai, et al., 2005; Kim, et al., 2006). Segundo a experiência de Fonseca (2003), para o tratamento da hepatite crônica pelo vírus Delta, a única opção viável é o Interferon. As drogas antivirais como a Lamivudina e Ribavirina não apresentam resultados satisfatórios. Considerando a rápida progressão da infecção delta para as formas crônicas o único fator preditivo e determinante da resposta ao Interferon, seria o tempo de duração da infecção. Portanto, quanto mais precoce o diagnóstico e o início da terapêutica com tal droga, melhor o valor determinante da resposta. O uso do Interferon alfa ou beta em altas doses (9 milhões UI 3 vezes por semana) por tempo prolongado foi capaz de influenciar a história natural da hepatite crônica delta, com melhora acentuada dos aspectos clínicos e histopatológicos, apesar da contínua replicação do VHD e recaídas após o término do tratamento (Niro; Rosina; Rizzeto, 2005). A associação de Lamivudina com altas doses de Interferon foi utilizada em alguns pacientes, em um estudo revelando que tal combinação foi incapaz de erradicar a infecção pelo vírus da hepatite D, apesar do efeito supressor da droga sobre o VHB. Outro estudo quando comparou esta combinação com Interferon sozinho mostrou-se superior, até na resposta sustentada (Wolters et al. 2000; Canbakan et al. , 2006). Recentemente, em modelo animal de patos cronicamente infectados com o VHD foi relatada a inibição da viremia, com o análogo de nucleosídeo L-FMAU (Clevudina), criando novas expectativas de um medicamento oral contra este vírus (Casey, et al. 2005). Um alto e significativo percentual de pacientes com hepatite crônica D não respondem as drogas utilizadas e aqueles com hepatite fulminante e cirrose 17 hepática estabelecida, teriam como única opção de sobrevida o transplante hepático (Farci, 2004). Evidências clínicas e laboratoriais de surtos de hepatite aguda em comunidade fechadas na Amazônia brasileira, culminando com óbitos de várias pessoas na família e o atendimento de pacientes hepatopatas crônicos na rede hospitalar e ambulatorial, do município sede da regional do vale do Juruá, demonstram a presença marcante da doença em nossa região. A sede da regional do vale do Juruá fica no município de Cruzeiro do Sul, que é referência secundária na complexidade de atendimento ao Sistema Único de Saúde, responsável pela cobertura de uma população aproximada de 150.000 habitantes. Os estudos existentes nessa região estão relacionados com soroprevalência. Esse projeto específico se propõe a descrever uma população com diagnóstico clínico estabelecido de VHB e VHD, acompanhada em ambulatório especializado, durante os cincos anos de funcionamento. Tal descrição abrangeria as formas clínicas da doença, determinantes epidemiológicos e biomoleculares da população estudada. 18 2 OBJETIVOS 2.1 Geral Descrever os aspectos moleculares, clínicos e epidemiológicos da infecção pelo vírus da hepatite B e Delta em pacientes atendidos no município de Cruzeiro do Sul- Acre no período de 2001 a 2006. 2.2 Específicos • Descrever os casos diagnosticados quanto: sexo, idade, naturalidade, procedência, grau instrução, ocupação. • Identificar possíveis fatores de risco relacionados à transmissão; • Descrever as formas clínicas encontradas e evolução da doença, perfil sorológico, achados laboratoriais e procedimentos de média complexidade, como: exames de imagem, endoscopia digestiva alta e histopatologia; • Descrever a freqüência de Coinfecção VHB/VHD na população estudada; • Descrever a evolução clínica e laboratorial dos pacientes submetidos ao tratamento específico; • Descrever os genótipos encontrados nas amostras examinadas, associandoos as formas clínicas. 19 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1. Modelo de estudo: Estudo descritivo, de uma série de casos, retrospectivo (período 2001 a 2005) e prospectivo de casos novos diagnosticados no período de janeiro a novembro de 2006. 3.2.Local do estudo: a) Descrição da área estudada: O estado do Acre está situado na Amazônia Brasileira, no extremo sudoeste da região Norte, ocupando uma área de 153.194 Km2. Limita-se ao norte com o estado do Amazonas, ao leste com estado de Rondônia, ao sudoeste com a Bolívia e o Peru (Figura 3). Administrativamente, é composta por 22 municípios, sendo Cruzeiro do Sul, a segunda maior cidade do Acre. O estado é dividido em cinco regionais, de acordo com a nova configuração geopolítica, denominadas de: regional do vale do Juruá, Tarauacá e Envira, alto Purus, alto Acre e baixo Acre. O município de Cruzeiro do Sul (Figura 4), sede da regional do Vale do Juruá, localiza-se na margem esquerda do rio Juruá, distante 640 km da capital Rio Branco. Limita-se ao norte com Estado do Amazonas, ao sul com o município de Porto Valter, a leste com o município de Tarauacá e a oeste com os municípios de Rodrigues Alves, Mâncio Lima e com a República do Peru, com extensão territorial de 7881 Km2. A população total do município é estimada em 85.765 habitantes, principalmente de adultos jovens, com densidade demográfica de 8,55 hab/Km2 (IBGE, 2005). Era habitado por diversas tribos indígenas, merecendo especial destaque o grande império dos Nawas, do tronco lingüístico Pano, existindo remanescentes no interior até os dias de hoje, somando as outras tribos, como: Kaxinawá e Araras. Do tronco lingüístico Aruak, tem as tribos Ashaninka (antiga Kampas) e Kulinas. 20 Figura 3 – Mapa do estado do Acre Os nordestinos atraídos pela propaganda de enriquecimento rápido através da exploração da borracha associado a grande seca nordestina de 1877 foram importantes na ocupação desse estado. Além dos nordestinos, imigrantes procedentes do oriente médio, como sírios, libaneses e turcos atraídos pelo intenso comércio numa época áurea da produção da borracha, também ajudaram na ocupação, formando cidades, influenciando na constituição de uma cultura peculiar na Amazônia brasileira.(SOUZA, 2002). O município conta com três hospitais, com um total de 243 leitos disponíveis, além de dois Centros e 15 Postos de Saúde, executando os programas de saúde da família e agentes comunitários. As doenças infecto-contagiosas são causas importantes dos problemas de saúde da população, exemplificando a Hanseníase, Malária, Leishmaniose e Hepatite. O Hospital Geral de Cruzeiro do Sul (HGCZS) oferece os serviços de urgência e emergência, unidades de internação, centro cirúrgico e ambulatório de especialidades, inclusive a Infectologia. É referência para o atendimento do SUS 21 para o município de Cruzeiro do Sul e para os demais municípios que compõem a regional do vale do Juruá (Mâncio Lima, Rodrigues Aves, Porto Valter e Marechal Thaumaturgo) e dois municípios do estado do Amazonas (Guajará e Ipixuna), que se localizam a margem esquerda do rio Juruá. Figura 4 - Mapa do estado do Acre com destaque para os municípios que compõem a regional do Vale do Juruá 3.3 População do estudo A população estudada foi composta de pacientes da demanda do serviço de Ambulatório de Infectologia e Internação Hospitalar do HGCZS, no período de 2001 a 2006, com diagnóstico clínico e sorológico de hepatite viral B e Delta e de pacientes procedentes da notificação da vigilância epidemiológica, com semelhante diagnóstico. Os pacientes foram incluídos no estudo de acordo com os critérios descritos abaixo: 22 3.3.1 Critérios sorológicos Pacientes infectados com VHB: indivíduos com sorologia positiva para o antígeno de superfície do VHB (HBsAg); ou Anti HBcTotal isolado (HBsAg e Anti – HBs negativo). Pacientes infectados com VHB + VHD: indivíduos com as características descritas para o VHB e sorologia positiva para anticorpo do antígeno delta (Anti-VHD Total). 3.3.2 Critérios clínicos Para o caso de Portador Inativo do VHB, foi caracterizado com o preenchimento de todos os critérios descritos e para as demais formas clínicas, que se manifestam de forma heterogênea, foram classificadas de acordo com as manifestações que estavam presentes na avaliação clínica. Portador Inativo: presença do marcador sorológico HBsAg por um período superior a 6 meses, sem sintomas, sem alterações de Aminotransferase (ALT/TGP e AST/TGO). Forma aguda: pode ser assintomática ou com presença de sinais e sintomas inespecíficos, tais como: anorexia importante, náuseas, vômitos, dor abdominal e em alguns pacientes febre baixa. Posteriormente pode evoluir com icterícia, colúria e acolia. Nos adultos com menor freqüência a artrite. Hepatomegalia ao exame físico. História epidemiológica compatível. Elevações dós níveis séricos de Aminotransferases e positividade para AntiHBc IgM ou AntiHBcIgG no teste sorológico. Fulminante: é uma forma aguda grave conseqüente a insuficiência hepática a partir do período ictérico, com acentuação dos sintomas dispépticos e persistência da febre. Observa-se regressão da hepatomegalia. Associa sinais clínicos de encefalopatia hepática aguda (alterações do sensório, desde forma leve até o coma) distúrbios metabólicos, hidroeletrolíticos e coagulopatia. 23 Forma Crônica: evolução por mais de seis meses, variando clinicamente em assintomático, oligoassintomático. Fadiga e sintomas dispépticos são as queixas mais freqüentes. Estigmas de hepatopatia crônica (eritema palmar, aranha vascular, ginecomastia, atrofia muscular e circulação colateral) podem está presente, dependendo do estágio evolutivo. Sinais de descompensação (ascite e/ou hemorragia digestiva e/ou encefalopatia hepática). Aminotransferases normais ou alteradas e presença de marcadores sorológicos - AgHBs, AgHBe, AntiHBe e AntiHBc IgM ou IgG. Histopatologia com sinais de atividade necroinflamatória e fibrose. Nesta forma se agrupa: Hepatite Crônica, Cirrose e Hepatocarcinoma. Forma Crônica em tratamento: pacientes com hepatite crônica e cirrose hepática compensada com indicações de tratamento. A indicação de tratamento com Interferon e/ou Interferon + Lamivudina e/ou Lamivudina, foi baseada na resolução do Ministério da Saúde através da Secretaria da Assistência a Saúde, portaria nº 469 (julho/2002). 3.4 Seleção dos pacientes Os pacientes atendidos de 2001 a 2006 foram selecionados a partir de uma lista de censo do serviço de Infectologia, criada naturalmente pela médica assistente, das Fichas de Notificação computadas no SINAN (Sistema de Informação Nacional de Agravos de Notificação) e dos registros de óbitos para identificação dos casos de hepatite fulminante. 3.4.1 Fontes de informações a) Arquivo de prontuários médico do Ambulatório do HGCZS. Após consentimento e liberação por escrito da Direção do Hospital Geral de Cruzeiro do Sul, foram selecionados os prontuários dos pacientes que pertenciam a lista descrita acima, contendo a hipótese diagnóstica de hepatite viral e confirmação sorológica para hepatite B. Ao incluir prontuários atendidos pelo Clínico Geral e Pediatra, foi observado que acompanhamento na Infectologia. os pacientes identificados já estavam em 24 Os casos novos atendidos no período de janeiro a novembro de 2006 foram incluídos no estudo no momento do atendimento, após assinatura do Termo de Consentimento. No serviço de Infectologia do HGCZS, grande parte das informações contidas nos prontuários foi registrada pela proponente do projeto, por ser a única médica infectologista de referência para este tipo de patologia. Assim sendo, a maioria das informações foram registradas de maneira uniforme porque seguiu um roteiro padronizado de atendimento em relação à epidemiologia, exame clínico e procedimento de investigação diagnóstica, através de exames hematológicos, bioquímicos, sorológicos, exames de imagem, endoscopia digestiva e histopatologia, de acordo com a necessidade e possibilidade de realização. b) Serviço de Vigilância em Hepatites das Secretarias Municipais de Saúde dos municípios de Cruzeiro do Sul (AC), Guajará e Ipixuna (AM) e Secretaria Estadual - Acre. Foi feito um levantamento através do SINAN dos casos positivos de hepatites B e Delta no período de 2001 a 2006 para complementação da casuística, e também para verificar a abrangência do atendimento do HGCZS em relação aos casos notificados. Foram impressas as fichas de pacientes com pendência de dados nos prontuários e pacientes que não faziam parte da casuística. A inclusão dos municípios de Guajará e Ipixuna no estudo deve – se ao fato dos pacientes procedentes desses locais serem diagnosticados e atendidos em nosso serviço. Caso fosse necessário, os pacientes poderiam ser convocados para complementação de dados da ficha de investigação ou para coleta de sangue. Muitos pacientes selecionados da Ficha de Notificação não faziam acompanhamento médico, porque procediam de investigação de surtos ou de comunicantes de paciente soropositivo para VHB/VHD. 25 c) Serviço de estatística do HGCZS. Foi feito o levantamento de todos os casos de óbito por hepatite fulminante ou insuficiência hepática, no período de 2001 a 2006, usando como fonte de informação o registro de óbito do serviço de estatística do HGCZS, com a finalidade de resgatar casos não conhecidos e informações de prontuário médico. 3.5 Procedimentos 3.5.1 Procedimento Clínico Foi utilizado um instrumento de pesquisa aplicado, uma ficha de investigação (anexo), buscando contemplar todas as variáveis a serem pesquisadas de acordo com os objetivos específicos do projeto. No estudo retrospectivo as informações eram coletadas dos prontuários médicos, das Fichas de Notificação e registro de óbito e transcritas para a Ficha de Investigação. No prospectivo, os pacientes no momento do atendimento eram abordados sobre o estudo e se houvesse consentimento a Ficha de Investigação era aplicada. 3.5.2 Testes laboratoriais inespecíficos Os pacientes após atendimento médico eram submetidos a exames laboratoriais hematológicos e dosagem das enzimas hepática, realizados na rotina do Laboratório do Hospital Geral de Cruzeiro do Sul, utilizando equipamento semiautomático para Hematologia e espectofotômetro para os exames de bioquímica. Os resultados dos exames constavam nos prontuários, para serem transcritos. 3.5.3 Testes Sorológicos Testes sorológicos também eram solicitados aos pacientes, por ocasião do atendimento e a coleta para este exame era feita nos Laboratórios do Hospital Geral e municipal. As amostras eram centrifugadas e separadas as alíquotas de soro, e 26 enviadas ao LACEN (Laboratório Central) no município de Rio Branco para processamento, e retorno para o local de origem em sessenta dias. Esses resultados também se encontravam registrados em prontuários. 3.5.4 Testes de biologia molecular • Seleção de amostras coletadas e estocadas previamente Amostras já coletada previamente (período 2001 a 2005), estocadas na soroteca do Hemonúcleo de Cruzeiro do Sul (único local provido de freezer a – 40º C) e LACEN foram selecionadas para a realização do exame, considerando tempo de coleta, forma de armazenamento (- 40º C), ausência de descongelamento no período estocado e material coletado (plasma ou soro), de acordo com a técnica a ser empregada. As amostras de pacientes crônicos em tratamento foram coletadas prétratamento, com objetivo de realizar exame biomolecular do vírus VHB (PCR), como forma de contribuição na avaliação da resposta terapêutica mediante protocolo estabelecido na Unidade. As demais amostras foram coletadas em situações que na ocasião do diagnóstico o LACEN não disponibilizava de Kits para os testes sorológicos, ou inquéritos de surtos, orientando a coleta de sangue e armazenamento para posterior avaliação. • Amostras do estudo prospectivo Amostras de sangue de pacientes que entraram no estudo no período de janeiro a novembro de 2006 foram coletadas após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Pós-informação (anexo). • Coleta de amostras As amostras que foram coletadas previamente, algumas foram coletadas em tubo de sistema vacutainer® com EDTA K 3 , outras em tubo comum, diferente das amostras do estudo prospectivo, onde todas foram coletadas pelo sitema vacutainer 27 . Foram coletados 5 ml de sangue total, por punção venosa e através da centrifugação foi separada alíquota de plasma ou soro em dois tubos estéreis devidamente identificados e armazenados a – 40º C, para posterior análise biomolecular. • Transporte das amostras As amostras coletadas e as selecionadas foram transportadas por via aérea em conservação adequada (gelo seco) para o Laboratório de Virologia da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas e posteriormente para o Laboratório de Patologia e Biologia Molecular do Centro de Pesquisa Gonçalo Moniz/ FIOCRUZ/ Salvador – Bahia, instituição responsável pelo processamento das amostras do VHB. 3.5.5 Técnica para avaliação do PCR A primeira etapa deste processo foi extração do ácido nucléico viral, utilizando kits comerciais (QUIAamp DNA viral para VHB, marca Quiagen), que consiste no isolamento e purificação da molécula. A amplificação foi realizada empregando-se a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), que utiliza uma enzima termoestável (DNA Polimerase) e na presença de oligunucleotídeos iniciadores (primers) e dos nucleotídeos que compõe a molécula de DNA, amplifica a região de interesse. A região alvo para amplificação foi à região S do VHB. Esta região em ambos os lados do gene foi amplificada como dois fragmentos sobrepondo, usando pares de primers HB1-HB2 e HB3-HB4. A primeira amplificação foi executada quando adicionamos o 5 µl do DNA extraído e misturamos ao mix (45 µl), contendo a seguinte composição: água destilada, Tampão, DNTPs, MgCl2, primers e Taq polymerase. Esta mistura foi colocada no equipamento Termociclador, que sobre ação de sucessivos ciclos de temperatura e da enzima Taq polymerase vai realizar o processo de amplificação da seguinte forma: 28 • Desnaturação: separação das fitas de DNA em temperatura de 94° C • Anelamento ou Hibridização: ligação dos primers às seqüências complementares em temperatura de 72° C • Extensão das fitas após síntese em temperatura de 72° C O produto deste primeiro teste de PCR, foi repetido em um segundo teste, Nested de PCR, utilizando outros pares de primers e submetido às mesmas condições de temperatura. 3.5.6 Testes de genotipagem As amostras que conseguiram ser amplificadas foram submetidas ao procedimento de purificação com o Kit de Purificação (Quiagen) e posteriormente ao sequenciamento automático direto, utilizando o seqüenciador ABI 3100 de 16 capilares, procedimento baseado no método de Sanger et al. (1997). 3.6 Análise dos dados Os dados foram registrados em um banco de dados, utilizando o programa Excel. Análises estatísticas foram conduzidas utilizando-se pacotes de software, incluindo o Epi-Info ® versão 6. A análise dos dados foi iniciada com descrição estatística simples, IC 95%. E testes de significância foram empregados para validação de médias para o cálculo de proporções encontradas, utilizando o teste de Qui-Quadrado e o teste T de Student para comparação de médias. Para avaliação da associação VHB/VHD foram realizadas análise de regressão logística com calculo do odds ratio e posterior análise de significância estatística de algumas variáveis. Para análise das seqüências genômicas foram utilizados os programas Phred/phrap (Ewing and Green,1988), Sequencing Aanlysis versão 5.1 (Applied Biosystems) e Sequence Manager do pacote Lasergene (DNASTAR, Ins, madison, Wi), específicos para alinhamento de seqüências nucleotídicas e comparadas com 29 seqüências depositadas no “GenBank”. Esses programas são de livre acesso e rotineiramente usados nos laboratórios. 3.7 Considerações éticas O estudo foi iniciado após aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas e as pessoas que foram incluídas no estudo prospectivo assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido após leitura do mesmo. 30 4 RESULTADOS O estudo incluiu 355 pacientes, originados de 243 prontuários médico de pacientes em acompanhamento, 104 de Fichas de Notificação e 08 de atestados de óbito. Esses pacientes clinicamente foram identificados em, 41 (11,5%) casos de hepatite aguda pelo VHB, 122 (34,4%) hepatites crônicas, 50 (14,1%) com cirrose hepática, 16 (4,5%) casos de hepatite fulminante, 124 (34,9%) Portadores Inativos do VHB e 02 (0,6%) com diagnóstico de Hepatocarcinoma. A maioria dos pacientes incluídos no estudo foi reativo para os marcadores sorológicos HBsAg e anti-HBc IgG, exceto dois pacientes com forma fulminante em que o HBsAg foi negativo. Marcador de replicação (HBeAg) foi positivo em 23,5% (47/200) e quanto ao Anti-HBe em 78,1% (168/215). Anti-VHD foi pesquisado em 252 pacientes com reatividade de 55,5% (140/252) (Tabela 1). Tabela 1. Perfil sorológico da população estudada Marcador N positivo % negativo % HBsAg 355 353 99,4 2 0,56 AntiHBcIgG 355 355 100 AntiHBcIgM 40 23 57,5 17 42,5 HBeAg 200 47 23,5 153 76,5 AntiHBe 215 168 78,1 47 21,9 AntiHDT 252 140 55,6 112 44,4 Do total de pacientes avaliados, 64,5% (234/355) era do sexo masculino e 34,1% (121/355) do sexo feminino. Com variação de idade entre 5 e 75 anos, média de idade igual a 28,3 anos, ( 12,6 anos) figura 5. Os indivíduos incluídos pelas fichas de notificação não apresentaram distribuição por sexo ou idade diferentes dos incluídos pelo acompanhamento clínico. 31 60 50 40 30 Frequ ën cia 20 10 0 10 20 30 40 50 60 70 idade Figura 5. Distribuição da população estudada por grupo mde idade Não foi observado variação de idade entre os sexos (X² = 1,19, p=0,27). A média de idade variou entre as formas clínicas, hepatite aguda 17 anos, hepatite crônica e cirrose hepática 31 anos, hepatite fulminante 17 anos, portador assintomático 28 anos e hepatocarcinoma 69 anos (X² = 63,71, p<0,001), mesmo depois de estratificado por sexo esta variação se mantém estatisticamente significativa (X2=15,612, p<0,001; X2= 20,666, p<0,001) para homens e mulheres respectivamente, conforme tabela 2. Tabela 2. Média de Idade entre as formas clínicas Forma Clínica Aguda Fulminante H. Crônica Cirrose Portador Inativo Hepatocarcinoma Média de Idade 17 anos 17 anos 31 anos 31 anos 28 anos 65 anos X² P 63,71 <0,001 32 A maioria dos pacientes era natural e procedente do estado do Acre, principalmente do município de Cruzeiro do Sul, sendo 40% (142/350) e 57% (205/354) respectivamente. Para os demais municípios do Acre, a ordem decrescente de freqüência quanto a naturalidade e procedência foi 16,1% (57/350) e 9,9% (35/354) para Porto Valter, 6,2% (22/350) e 6,8% (24/354) Rodrigues Alves, 4,8% (17/350) e 6,8% (24/354) Mâncio Lima e 5,1% (18/350) e 2,0% (7/354) para Marechal Thaumaturgo. Com relação à naturalidade dos pacientes nascidos em municípios do estado do Amazonas: 13,2% (47/350) eram natural de Guajárá, 11% (39/350) de Ipixuna, 0,6% (2/350) de Eirunepé e 0,3% (1/350) de Manaus e Atalaia do Norte. Quanto à procedência dos casos, ficaram restrita aos municípios de Guajará 10,7% (38/354), Ipixuna 5,6% (20/350) e Eirunepé 0,3% (1/350). Em relação a outras características demográficas. Geralmente tinham baixo nível de escolaridade, onde 49,9% (176/321) tinha o ensino fundamental incompleto, 13,2% (47/321) o ensino médio e somente 2,5% (9/321) tinha o terceiro grau. A população de analfabetos correspondeu a 25,1% (89/321) da população avaliada. Quanto à ocupação da população estudada, 24,8% (88/279) eram estudantes, 16,3% (58/279) agricultores, 14,9% (53/279) do lar, entre outras. O número de casos nos permite estimar a taxa de incidência cumulativa de hepatite B para a região estudada, revelando uma taxa estimada de 254 casos/100.000 habitantes no período. Quando esta incidência é calculada por município e por ano, observamos uma variação de 42 casos/100.000 habitantes/ano em Cruzeiro do Sul, e de 117 casos/100.000 habitantes/ano no município de Porto Valter. 4.1 Formas clínicas 4.1.1 Hepatite aguda Dos 41 casos agudos registrados, 43% (18/41) tiveram origem no prontuário médico (com seguimento clínico) e 57% (23/41) na ficha de notificação. Quanto ao 33 sexo, 61% (25/41) foram do sexo masculino e 39% (16/41) do sexo feminino. A idade variou entre 5 e 35 anos, com média de idade de 17,8 anos ( 7,6 anos). A maioria dos pacientes era procedente de Cruzeiro do Sul 43,9% (18/41), seguido de Rodrigues Alves 22% (9/41) e quanto à ocupação a maioria também era de estudantes 65,5% (19/29). Possíveis fatores envolvidos na transmissão da infecção foram identificados nesta forma clínica, através das respostas contidas no instrumento de pesquisa. Relato de óbito por hepatite a família foi observado em 93,8% (15/16), extração dentária em 62,2% (23/37), história familiar de hepatite em 48,7% (19/39), aplicação de injeções por curiosos em 39,5% (15/38) e costume de compartilhar lâmina de barbear em 33,3% (7/21). Outros fatores como, cirurgia, transfusão de sangue, tatuagem, história de doenças sexualmente transmissíveis (DST) e uso de drogas intravenosas (UDI) foram menos relatados pelos pacientes, segundo tabela 8. Em relação ao perfil sorológico desses pacientes quanto à presença de marcadores de infecção aguda, replicação viral e presença do vírus Delta, encontramos o seguinte padrão: anti-HBc IgM positivo em 90% (9/10) dos casos, IC 95% 55,5% a 99,7%; HBeAg positivo em 63,6% (14/22) IC 95% 40,7% a 82,8%; anti-BHe, positivo em 44,8% (13/29) IC 95% 26,4% a 83,5% e o anti-HD Total positivo em 66,7% (18/27) IC 95% 46% a 83,5%, de acordo com a tabela 9. A grande maioria relatava início súbito dos sintomas, com aparecimento de anorexia, náuseas, febre e indisposição. Tabela 3 mostra a distribuição dos principais sinais e sintomas encontrados. Os níveis séricos de ALT variaram entre 65 UI/l e 3.266 UI/l, média de 513,8 UI/l. Os de AST variaram entre 48 UI/l e 3.220 UI/l, média de 399,4 UI/l (± 608,06 UI/l). A evolução desses pacientes foi avaliada em períodos variados, sempre superior a seis meses do quadro agudo. Para cronicidade em 35,9% (14/39) dos casos, óbito e forma inativa da infecção em 5,1% (2/39) e a cura foi observada 34 somente em 7,7% (3/39). Entretanto não houve seguimento de 46,2% (18/39) dos pacientes, todos esses incluídos das fichas de notificação. Dois pacientes ainda não completaram seis meses de observação, segundo tabela 10. Tabela 3. Distribuição dos sintomas hepatite aguda SINTOMAS/SINAIS N (%) TOTAL (%) Anemia 3 (13,0) 23 (100) Anorexia 21 (60,0) 35 (100) Astenia 39 (95,1) 41 (100) Coluria 39 (95,1) 41 (100) Icterícia 33 (86,8) 38 (100) Dor abdominal 37 (92,5) 40 (100) Febre 34 (82,9) 41 (100) Esplenomegalia 11 (39,3) 28 (100) Hepatomegalia 38 (92,7) 41 (100) 4.1.2 Hepatite fulminante Dos 16 casos registrados, 50,0% (8/16) teve origem no atestado de óbito, 37,5% (6/16) no prontuário médico (com seguimento clínico) e 12,5% (2/16) na ficha de notificação. Quanto ao sexo, 62,5% (10/16) foi do sexo masculino e 37,5% (6/16) do sexo feminino. E a idade variou entre 5 e 37 anos, com média de idade 17,0 anos (± 7,8 anos). Dos casos de hepatite fulminante avaliados, 37,5% (6/16) proveniente de Porto Valter/AC, 31,3% (5/16) de Cruzeiro do Sul, 12,5% (2/16) de Guajará/AM e 6,3% (1/16) distribuído nos municípios de Rodrigues Alves, Mâncio Lima e Marechal Thaumaturgo, um caso em cada município. Possíveis fatores envolvidos na transmissão da infecção, identificados nesta forma clínica foram, história de óbito na família por hepatite obtido de somente 6 pacientes, com confirmação de todos (100%) e hepatite na família em 66,7% (6/9). 35 Sendo que cirurgia, transfusão de sangue, tatuagem, história de dst e udi não tiveram importância como possíveis fatores implicados na transmissão, que pode ser observado na tabela 8. Em relação ao perfil sorológico dos pacientes com hepatite fulminante, 2/16 com HBsAg negativo, todos Anti-HBcTotal positivo. Somente sete pacientes foram testados para o anti-HBc IgM e revelaram resultado positivo, HBeAg positivo em 83,3% (5/6) com IC 95% 35,9% a 99,6%; Anti-BHe positivo em 40% (2/5) com IC 95% 5,3% a 85,3% e positivo para o anti-VHD em 85,7% (6/7) com IC 95% 42,1% a 99,6% (Tabela 9). Foi observado que dos 16 casos registrados, o intervalo de dias entre o início dos sintomas e o óbito foi em média de cinco dias. Em duas famílias foram registrados casos de mais de um óbito entre seus membros. A tabela 4 mostra os principais sinais e sintomas relatados pelos casos de hepatite fulminante. Tabela 4. Sinais e sintomas Hepatite Fulminante SINTOMAS/SINAIS N (%) TOTAL (%) Anemia 1 (33,0) 3 (100) Anorexia 10 (90,9) 11 (100) Astenia 14 (93,3) 15 (100) Colúria 13 (86,7) 15 (100) Icterícia 6 (100) 6 (100) Dor abdominal 12 (100) 12 (100) Febre 15 (100) 15 (100) Vômitos 4 (80) 5 (100) Hematemese 4 (40) 10 (100) Encefalopatia 16 (100) 16 (100) Hepatomegalia 12 (80) 15 (100) Esplenomegalia 6 (42,9) 14 (100) 36 O nível de ALT variou entre 85 UI/l e 4.468 UI/l, média de 601 UI/l (desvio padrão 1.181,6 UI/l). Os de AST variaram entre 79 UI/l a 2.469 UI/l, média de 369,4 UI/l ( 638,12 UI/l). Os níveis séricos de ALT nos casos fulminantes variaram significativamente de outras formas clinicas, estando próximos, em media, dos níveis dos casos agudos (Figura 6). Esses pacientes evoluíram para o óbito em 93,8% (15/16) dos casos (IC 95% 69,8 a 99,8%) e somente um paciente, anti-HD total reativo, sobreviveu ao quadro grave, porém com evolução para cronicidade (Tabela 10). 4.1.3 Portador inativo Dos 124 casos registrados, 68,8% (85/124) teve origem no prontuário médico (com seguimento clínico) e 31,2% (39/124) na ficha de notificação. Quanto ao sexo, 48,4% (60/124) foi do sexo masculino e 51,6% (64/124) do sexo feminino. E a idade variou entre 6 e 75 anos, com média de idade 28 anos ( 11,5 anos). A maioria dos pacientes era procedente de Cruzeiro do Sul 71% (88/124) e quanto à ocupação a maioria relatava atividade do lar 26,3% (25/95). Com relação aos possíveis fatores de risco associados à aquisição da infecção, 80,8% (63/78) relatava extração dentária; 75,4% (43/57) óbito na família por hepatite; 54,7% (64/117) história de hepatite na família; 42,6% (26/61) hábito de compartilhar lâmina de barbear; 32,1% (26/81) aplicação de injeções por curiosos; 31,8% (21/66) compartilhar dormida e 26,3% (15/57) compartilhar escova de dente. Sendo que cirurgia, transfusão, tatuagem, DST e UDI, tiveram poucos relatos, segundo tabela 8. Quanto à presença de marcadores de infecção pelo VHB, replicação e presença do vírus Delta, 85,5% (59/69) anti-BHe reativos, IC 95% 73,6 a 91; 28,6% (24/84), IC 95% 20,0 a 40,3 reativos para o anti-HD Total. 15,9% (10/63) IC 95% 8,9 a 28,7 foram HBeAg positivo. Nenhum dos pacientes testados apresentou reatividade para o anti-HBc IgM (Tabela 9). 37 Os pacientes com essa forma clínica foram assintomáticos na sua maioria e quando sintomáticos, a queixa relatada com mais freqüência era dor abdominal. O nível sérico de ALT variou entre 7UI/l e 42UI/l, média de 24,6UI/l ( 9,3UI/l) e de AST a variação foi de 5UI/l e 70UI/l, média de 23,5UI/l ( 12,6UI/l). Do total de pacientes nesta forma clínica, 49,6% (62/124) realizou ultrassonografia abdominal e dessas 88,7% (55/62) estava sem alterações ecográficas visíveis, sem sinais de hipertensão portal e sem esplenomegalia. Esses pacientes mantiveram-se portadores em 71,8% (89/124), evolução para a cura em 0,8% (1/124) com registro de soroconversão do antígeno de superfície (anti-HBs) e sem seguimento 27,4% (34/124) (Tabela 10). 4.1.4 Hepatite Crônica Dos 122 casos registrados, 70,5% (86/122) teve origem no prontuário médico (com seguimento clínico) e 29,5% (36/122) na ficha de notificação. Quanto ao sexo, 85,2% (104/122) foi do sexo masculino e 14,8% (18/122) do sexo feminino. A idade variou entre 8 e 56 anos, com média de idade 31 anos ( 11,9 anos). Os pacientes tiveram em Cruzeiro do Sul 51,6% (63/122) como local de procedência, seguido de Guajará 11,5% (14/122). Quanto à ocupação 33,7% (34/101) era agricultores, 29,7% (30/101) estudantes, e os demais em outras profissões. Com relação aos possíveis fatores envolvidos na transmissão da infecção, foi registrada extração dentária em 86% (86/100), história de hepatite 62,4% (73/117), relato de óbito na família 61,8% (42/68), aplicação de injeções por curiosos 62,2% (61/98), hábito de compartilhar lâmina de barbear 49,4% (39/74), compartilhar dormida 34,5% (29/84) e compartilhar escova de dente 24,4% (19/57). Cirurgia e transfusão tiveram um registro inferior a 10%. Tatuagem, dst e udi não tiveram importância como possíveis fatores de risco na transmissão (Tabela 8). 38 Na avaliação sorológica dessa forma clínica foi observada positividade para o Anti-HBe em 83,5% (66/79) dos casos com IC 95% 73,5% a 90,9%, Anti-HDT positivo em 60,6% (57/94) com IC 95% 50% a 70,6%. É importante registrar a positividade para o HBeAg em 18,2% (14/77) dos casos (Tabela 9). A tabela 5 mostra os principais sinais e sintomas relatados pelos casos de hepatite crônica. Tabela 5. Sinais e Sintomas da Hepatite Crônica SINTOMAS/SINAIS N (%) TOTAL (%) Anemia 15 (16,9) 89 Anorexia 48 (43,2) 111 Astenia 88 (73,3) 120 Coluria 64 (52,9) 121 Icterícia 53 (44,9) 118 Dor abdominal 98 (81) 121 Febre 54 (44,3) 122 Vômitos 24 (21,8) 110 Hepatomegalia 100 (82) 122 Esplenomegalia 77 (70,6) 109 O nível sérico de ALT variou entre 6UI/l e 409UI/l, média de 73UI/l ( 70UI/l) e de AST a variação foi de 10UI/l a 322UI/l, média de 59UI/l ( 56,4UI/l). Do total de pacientes nesta forma clínica, 71,8% (89/122) realizou ultrassonografia abdominal e dessas 85,4% (76/89) estava com alterações e em ordem decrescente de freqüência se apresentavam com fígado aumentado, textura heterogênea, esplenomegalia, contorno hepático irregular, micronodulos e ascite. Foram submetidos à Endoscopia digestiva, 47 pacientes com essa forma clínica e 38,3% (18/47) apresentaram varizes esofágicas, variando de grau I a II. 39 Dos pacientes em seguimento a evolução foi classificada em crônico compensado em 56,6% (69/122) dos casos com IC 95% 47,3% a 65,5%; cirrose hepática 4,9% (5/122); óbito 8,2% (10/122), portador inativo 0,8% (1/122) e cura em 0,8% (1/122). Foram 28,7% (35/122) pacientes sem seguimento (Tabela 10). Em relação à indicação de biópsia hepática, entre os 122 pacientes portadores crônicos, 12 tiveram contra-indicação do procedimento, 04 não tinham indicação e somente 17 realizaram. O resultado histopatológico variou de leve a intensa atividade inflamatória e de ausência de fibrose a intensa atividade fibrótica, de acordo com a classificação de Metavir (Tabela 6). Esse resultado orientou a indicação para o tratamento de 14 pacientes. Tabela 6. Resultado histopatológico dos pacientes crônicos submetidos à biópsia hepática per-cutãnea. RESULTADOS N % TOTAL % A1F0 4 (23,5) 17 A2F1 2 (11,8) 17 A2F2 4 (23,5) 17 A2F3 4 (23,5) 17 A2F4 2 (11,8) 17 A3F3 1 (5,9) 17 Total 17 100 % 4.1.5 Cirrose Registrado 50 casos e 92% (46/50) teve origem no prontuário médico (com seguimento clínico) e 8,% (4/50) na ficha de notificação. Quanto ao sexo, 66% (33/50) foi do sexo masculino e 34% (17/50) do sexo feminino. A idade variou entre 12 e 62 anos, com média de idade 31 anos ( 12,6 anos). Os pacientes tiveram como local de procedência, Cruzeiro do Sul em 58% (29/50) dos casos, seguido de Rodrigues Alves 10% (5/50). 40 Quanto à ocupação nesta forma clínica, eram agricultores 31,7% (13/41), atividade do lar em 29,3% (12/41) e estudantes em 26,8% (11/41), e os demais em outras profissões. Com relação aos possíveis fatores envolvidos na transmissão da infecção, foram registradas 71,1% (32/45) para história familiar de hepatite; 75,6% (35/45) história pessoal de hepatite; 60% (15/25) óbito na família; 81,3% (26/32) aplicação de injeções por curiosos; 73,5% (25/34) compartilharam lâmina de barbear; 35,3% (12/34) compartilhou escova de dente; 91,2% (31/34) extração dentária, 30,4% (14/46) transfusão, 23,6% (11/46) cirugia. Sendo que dst e udi não tiveram importância nesta forma clínica, como possíveis fatores envolvidos na transmissão, segundo tabela 8. Quanto ao perfil sorológico foram positivo para o AntiBHe 84,4% (27/32) com IC 95% (67,2% a 94,7%), positivo para o antiHDT em 87,2% (34/39) com IC 95% (72,6% a 95,7%). Também foi registrado reatividade para o HBeAg em12,9% (4/31) (Tabela 9). A tabela 7 mostra os principais sinais e sintomas relatados pelos casos de cirrose hepática. Tabela 7. Sinais e Sintomas da Cirrose SINTOMAS/SINAIS SIM (%) Anemia Anorexia Astenia Coluria Icterícia Dor abdominal Febre Vômitos Hematemese Perda ponderal Edema Ascite Aranhas vasculares Hepatomegalia Esplenomegalia 25 (52,1) 25 (50) 43 (86) 21 (42) 28 (56) 45 (90) 14 (28) 9 (18) 8 (16) 26 (53) 26 (53) 35 (72,9) 25 (51) 12 (24) 47 (94) TOTAL (%) 48 50 50 50 50 50 50 50 50 49 47 48 49 50 50 41 O nível sérico de ALT variou entre 9UI/l e 211UI/l, média de 60UI/l ( 53,2UI/l) e de AST a variação foi de 9UI/l a 369UI/l, média de 55UI/l ( 60,9UI/l). Do total de pacientes nesta forma clínica, 45 realizaram ultrassonografia abdominal e dessas 100% estavam com alterações e em ordem decrescente de freqüência se apresentavam com fígado diminuído, textura heterogênea, esplenomegalia, contorno hepático irregular, ascite e dilatação veias hepáticas. Foram submetidos à Endoscopia digestiva, 28 (57,1%) pacientes dessa forma clínica e 75% (21/28) apresentaram varizes esofágicas, variando de grau II a III. Dos pacientes em seguimento a evolução foi classificada como crônico compensado em 38% (19/50) dos casos; crônico descompensado em 10,0% (5/50); óbito em 42% (21/50) e cura em 2,0% (1/50). Do total de pacientes dessa forma clínica, 8% (4/50) de pacientes não tiveram seguimento (Tabela 10). 4.1.6 Hepatocarcinoma Foram registrados dois casos de tumor de fígado ambos com origem no prontuário médico (com seguimento clínico). Quanto ao sexo, os dois eram do sexo masculino. A idade identificada foi 65 e 74 anos. Os dois pacientes eram naturais de Ipixuna e tiveram Cruzeiro do Sul como local de procedência, ambos eram agricultores. Com relação aos possíveis fatores envolvidos na transmissão da infecção, relatavam história de hepatite na família e um deles com óbito. Ambos negaram história pessoal de hepatite. Quanto ao perfil sorológico os dois eram reativos para o HBsAg e anti-HBc Total, um deles portador do anti-HBe e anti-HD Total, o outro paciente não realizou exames para avaliar replicação e o VHD. 42 O nível sérico de ALT foi 134 UI/l para um e 61 UI/l para outro. Somente um dos pacientes realizou a dosagem da alfa fetoproteína, com valores que variaram de um ano pra outro, com acréscimo de quatro vezes a mais ao primeiro exame. A sintomatologia clínica foi semelhante de um paciente crônico, sendo que oligoassintomático. O diagnóstico de tumor foi sugerido na primeira consulta, sem referência a períodos sintomáticos anteriormente, com evolução para o óbito em ambos os casos. Um ocorreu após dois meses do diagnóstico evoluindo com hemorragia digestiva e encefalopatia hepática. Outro após um ano do diagnóstico, com oportunidade de tratamento através da quimioembolização do tumor e medicamento antiviral Lamivudina. Evoluiu com episódios (3) de hemoperitôneo, até descompensação do quadro e choque hipovolemico. Ambos realizaram exame de ultrassonografia com alterações sugestivas de tumor, um deles realizou Tomografia Computadorizada com confirmação da massa tumoral. Os dois pacientes realizaram Endoscopia digestiva e somente um deles apresentava varizes esofágicas. 43 TABELAS E FIGURAS REFERENTE AS FORMAS CLÍNICAS Os níveis séricos de ALT variaram em relação a forma clinica significativamente, apresentando os casos agudos em media 513 UI/l, os casos crônicos 73 UI/l, as hepatites fulminantes 601 UI/l, os portadores assintomáticos 23 UI/l e os de hepatocarcinoma 41 UI/l, figura 6. 1500 1000 500 95% CI alt 0 1 2 3 4 5 Figura 6. Média de ALT por forma clínica 1- Agudo; 2- Crônico; 3- Cirrose; 4- Fulminante; 5- Port. Inativo; 6- Hepatoma 44 Tabela 8. Fatores de risco envolvidos na transmissão x forma clínica Fator de risco Óbito p/ hepatite na família História familiar de hepatite Extração dentária Aplicação de injeções p/ curiosos Compartilhar lâmina de barbear Compartilhar dormida Compartilhar escova de dente Transfusão sanguinea Aguda 93,8% (15/16) 48,7% (19/39) 62,2% (23/37) 39,5% (15/38) 33% (7/21) 28,6% (8/28) 11,8% (2/17) Fulminante 100% (6/6) 66,7% (6/9) 40% (2/5) 100% (5/5) Cirurgia H.Crônica 61,8% (42/68) 62,4% (73/117) 86% (86/100) 62,2% (61/98) 49,4% (39/74) 34,5% (29/84) 24,4% (19/57) 5,9% (7/118) 9,5% (15/119) Tatuagem Cirrose 60% (15/25) 71,1% (32/45) 91,2% (31/34) 81,3% (26/32) 73,5% (25/34) Tumor fígado 50% (1/2) 100% (2/2) 35,3% (12/34) 30,4% (14/16) 23,6% (11/46) 2,4% (1/41) P. Inativo 75,4% (43/57) 54,7% (64/117) 80,8% (63/78) 32,1% (26/81) 42,6% (26/61) 31,8% (21/66) 26,3% (15/57) 7,6% (9/118) 21,2% (25/118) 6,1% (7/115) Tabela 9. Perfil sorológico nas formas clínicas Formas clínicas Aguda Fulminante Hepatite crônica Cirrose Tumor de fígado Portador Inativo AgHBs + 100% (41/41) 87,5% (14/16) 100% (122/122) 100% (50/50) 100% (2/2) 100% (124/124) Anti-HBc IgM + 90% (9/10) 100% (122/122) Anti-HBcT + AgHBe + 100% (41/41) 100% (16/16) 100% (124/124) 100% (50/50) 100% (2/2) 100% (124/124) 63,6% (14/22) 83,3% (5/6) 18,2% (14/77) 12,9% (4/31) 17,2% (11/64) AntiHBe + 44,8% (13/29) 40% (2/5) 83,5% (66/79) 84,4% (27/32) 50% (1/2) 84,3% (59/70) Anti-HDT + 66,7% (18/27) 85,7% (6/7) 60,6% (57/94) 87,2% (34/39) 50% (1/2) 28,6% (24/84) 45 Tabela 10. Diagnóstico e evolução das formas clínicas Formas clínicas 7,7% (3/39) Portador Inativo 5,1% (2/39) 0,8% (1/122) 2% (1/50) 0,8% (1/122) 38% (19/50) 0,8% (1/124) 71,8% (89/124) Cura Aguda Fulminante Hepatite crônica Cirrose Tumor de fígado Portador Inativo Crônico compensado 35,9% (14/39) 6,25% (1/16) 56,6% (69/122) Cirrose 4,9% (6/122) 10% (5/50) Óbito 5,1% (2/39) 93,7% (15/16) 8,2% (10/122) 42% (21/50) 100% (2/2) Sem seguimento 46,2% (18/39) 28,7% (35/122) 8% (4/50) 27,4% (34/124) 4. 2 Coinfecção (VHB/VHD) Do total de casos estudados, de todas as formas clínicas, 55,6% (140/252) (IC 95% 49,2% a 61,8%) apresentava positividade para marcador do VHD (Anti-VHD total), variando de 28,6% (IC95% 19,2%-59,5%) entre os portadores inativos a 87,2% (IC95% 72,6%-95,7%) entre os pacientes com cirrose hepática, X2= 46,27, p<0,001, tabela 11 . A presença do marcador anti-VHD total esteve associada ao sexo, 60,5% entre os homens e 45,9% entre as mulheres, RR= 1,31 (IC95% 1,01-1,71, p= 0,01, teste exato de Fisher), história de óbito na família por quadro de hepatite, 66,0% entre os pacientes com parentes vitimas de hepatite e 41,5% entre os sem esse histórico, RR= 1,59 (IC95% 1,07-2,34, p=0,006, teste exato de Fisher), tabela 11. Foi observado também associação da presença do marcador do VHD com história de transfusão de sangue, 72,7% entre os submetidos a tal procedimento médico e 54,1% entre os sem este fator, RR= 1,31 (IC95% 1,09-1,64, p=0,002), tabela 11. Em média os anti-VHD reativos tinham 28,5 anos ( 12,8 anos), embora não tenha sido tendo sido identificado diferenças entre os grupos de idade, X2= 4,89, p=0,19, tabela 11. 46 Tabela 11. Prevalência e associações com a presença do marcador anti-VHD total em uma série de casos de hepatite pelo VHB em Cruzeiro do Sul-Acre. Variável Sexo M F Transfusão Sim Não Hepatite Sim Não Gidade 1 2 3 4 5 Diagnóstico 1 2 3 4 5 6 ÓbitoFam Sim Não Procedencia 1 2 3 4 5 6 7 8 Evolução 1 2 3 4 5 6 7 Total N Percentual(%) IC95% P 167 85 101 39 60,5 45,9 52,6-67,9 35,0-57,0 0,01 129 110 19 5 14,7 4,5 9,1-22,0 0,6-8,3 0,007 126 107 89 38 70,6 35,5 61,9-78,4 21,6-38,1 <0,001 --34 122 85 10 --15 66 50 8 -----44,1 54,1 58,8 80,0 -----------27,2-62,1 44,8-63,2 47,6-69,4 44,4-97,5 27 94 39 7 84 1 18 57 34 6 24 1 66,7 60,6 87,2 85,7 28,6 100 46,0-83,5 50,0-70,6 72,6-95,7 42,1-99,6 19,2-39,5 ------------- <0,001 103 41 68 17 66,0 41,5 57,0-75,1 26,3-56,5 0,006 146 16 17 29 3 26 13 1 70 11 9 22 3 12 12 1 47,9 68,8 52,9 75,9 100 46,2 92,3 100 39,6-56,4 41,3-89,0 27,8-77,0 56,5-89,7 ------------26,6-66,6 64,0-99,8 ------------- 0,004 88 66 4 6 6 30 51 60 17 0 5 4 28 25 68,2 25,8 0 83,3 66,7 93,3 49,0 57,4-77,7 15,8-38,0 ------------35,9-94,6 22,3-95,7 77,9-99,2 34,8-63,4 <0,001 0,19 47 Anti-VHD total, anticorpo da classe IgG contra o vírus da hepatite Delta; VHB, vírus da hepatite B; N, número de pacientes; %, prevalência do fator estudado; IC95%, intervalo de confiança de 95%; p, significância estatística; Diagnóstico 1: agudo; 2: crônico; 3: cirrose; 4: fulminante; 5: portador inativo; 6: hepatocarcinoma. Procedência 1: C. do Sul; 2: M.Lima; 3: R.Alves; 4: P. Valter; 5: M.Thaumaturgo; 6: Guajará; 7: Ipixuna; 8: Eirunepé. Evolução 1: crônico compensado; 2: portador inativo; 3: cura; 4: crônico descompensado; 5: cirrose; 6: óbito; 7; sem seguimento Observamos também diferença na prevalência do anti-VHD total em relação a procedência dos pacientes avaliados variando de 46,2% (IC95% 26,6% -66,6 %) nos procedentes de Guajará, a 100% na procedentes de Rodrigues Alves, X2= 20,70, p= 0,004, tabela 11. Quanto a evolução dos pacientes que foram a óbito no período do estudo, 93,3% (IC95% 77,9%-99,2%) eram portadores do anti-VHD total e a evolução pra cura foi mais observada nos pacientes com teste sorológico negativo para VHD X2= 87,3, p<0,001, tabela 11. Os pacientes coinfectados com o VHD apresentaram diferenças em relação aos aspectos clínicos de sua enfermidade, principalmente sinais associados à hipertensão portal como presença de esplenomegalia, 62,1% nos anti-VHD total reativos e 31,7% entre os não reativos, RR=1,95 (IC95% 1,43-2,67, p<0,001), e presença de telangectasias 22,2% entre os reativos para o anti-VHD total e 7,7% entre os não reativos, RR=2,88 (IC95% 1,37-6,06, p<0,001), tabela 12. Tabela 12. Sinais e sintomas associados à presença do marcador anti-VHD total. Sinal/Sintoma % reativos %Ñ reativos RR IC95% p Anemia 22,2 10,4 2,13 1,08-4,20 0,01 Anorexia 38,2 28,7 1,32 0,91-1,92 0,08 Telangectasias 22,2 7,7 2,88 1,37-6,06 <0,001 Ascite 6,9 5,9 1,17 0,110,69 11,98 Esplenomegalia 62,1 31,7 1,95 1,43-2,67 <0,001 Hepatomegalia 59,3 41,1 1,44 1,11-1,87 0,002 Icterícia 72,7 54,1 1,34 1,09-1,64 0,002 Anti-VHD total, anticorpo da classe IgG contra o vírus da hepatite Delta; VHB, vírus da hepatite B; N, número de pacientes; %, prevalência do fator estudado; IC95%, intervalo de confiança de 95%; p, significância estatística; 48 4.3 Crônicos em tratamento Do total de pacientes crônicos acompanhados, 85 pacientes iniciaram tratamento supervisonado à medida que os casos foram surgindo a partir de outubro de 2002, baseado nos critérios da portaria nº 860 (2002) do MS/SVS (anexo) e protocolo acordado no serviço de Infectologia do estado. Os pacientes VHD foram tratados com associação de Interferon mais Lamivudina e para aqueles com contraindicação para o Interferon, foi usado Lamivudina, haja vista que a referida portaria não contempla o quadro desses pacientes. Os esquemas de tratamento introduzido foram Interferon alfa 2b 10 milhões três vezes na semana associado à Lamivudina 100 mg doses diárias em 38,8% (33/85) dos pacientes, Interferon alfa 2b na dose acima em 15,2% (13/85) e Lamivudina na mesma dose em 45,8% (39/85). O tempo médio de tratamento para esses pacientes foi em média 14 meses para o Interferon e média de 24 meses para Lamivudina. Dos pacientes tratados 78,8% (67/85) era do sexo masculino e 21,2% (18/85) do sexo feminino. A idade variou entre 8 e 65 anos, com média de idade de 29,9 anos ( 13,0 anos). Em características gerais, média de ALT antes do tratamento nesses pacientes foi 112 UI/l ( 484 UI/l). A indicação do tratamento para hepatite crônica foi em 67,05% (57/85), cirrose hepática 31,76% (27/85) e hepatocarcinoma em 1,17% (1/85). Quanto ao perfil sorológico dos pacientes em tratamento, foi observado HBeAg positivo em 20% (16/80), Anti-HBe positivo 80,2% (65/81) e AntiHDT em 72% (54/75). A avaliação dos resultados na população de pacientes em tratamento foi feita a partir da divisão em pacientes coinfectados ou somente portadores de VHB, apresentando a seguinte divisão: • 54 pacientes coinfectados (VHB/VHD) • 21 somente com marcador de VHB • 10 pacientes sem definição do diagnóstico VHD. 49 Os parâmetros utilizados foram a soroconversão de HBeAg para Anti-HBe e resposta bioquímica (normalização das transaminases) para os pacientes HBeAg positivo e somente resposta bioquímica para os pacientes Anti-HBe positivo, que podem ser observado nos quadros 13 e 14. Coinfectados VHB/VHD: Representou 63,5% (54/85) dos pacientes tratados. Desses, 47 pacientes realizaram teste para o marcador de replicação e 19,1% (9/47) era AgHBe positivo e 80,9% (38/47) era Anti-HBe positivo. Dos nove pacientes HBeAg reativos, oito eram portadores de Hepatite crônica e 1 portador de cirrose hepática. Dos portadores de hepatite crônica, sete usaram esquema Interferon mais Lamivudina e um fez uso de Lamivudina. O paciente diagnosticado como cirrose hepática fez uso exclusivo de Lamivudina. Na avaliação da resposta terapêutica, 77,9% (7/9) foi pbservada soroconversão do HBeAg para o Anti-HBe, como também normalizaram o nível de ALT, embora não tenha sido observado negativaçaõ do HBsAg em nenhum paciente avaliado nesse grupo. Ao avaliar a reposta terapêutica dos pacientes coinfectados AntiHBe positivo ao Interferon combinado ou sozinho, foi observado 25 pacientes com diagnóstico de hepatite crônica, os que receberam Interferon mais Lamivudina, 38,8% (7/18) tiveram resposta bioquímica e os que fizeram uso de Interferon sozinho, em 100% (4/4) não houve resposta. Aqueles que fizeram uso de Lamivudina a resposta foi de 33,3% (1/3). X²= 0,39, p=0,53. Em seguimento a avaliação da reposta terapêutica, aos pacientes coinfectados Anti-HBe com a medicação Lamivudina, observamos que 13 pacientes com cirrose hepática que teve essa indicação, 46,1% (6/13) tiveram resposta bioquímica. Tivemos sete pacientes coinfectados sem registro do marcador de replicação, e cinco desses pacientes tinha o diagnóstico de cirrose hepática e fez 50 uso de Lamivudina e 2 Hepatite crônica em uso de Interferon. Avaliação da resposta bioquímica foi observada em um paciente. Pacientes VHB: Representam 24,7% (21/85) dos tratados. Dos 18 pacientes que realizaram exames de replicação, 50% (9/18) era AgHBe positivo, onde a soroconversão foi observada em 55,5% (5/9), acompanhado de redução das transaminases, sendo 4 com hepatite crônica em uso de Interferon mais Lamivudina e um com cirrose hepática tratado com Lamivudina. Um desses pacientes que soroconverteu também apresentou clearence viral com reatividade para o Anti-HBs (11,1% (1/9)). Os pacientes VHB Anti-HBe positivo foram em 50% (9/18) e a resposta bioquímica foi observada somente em 44,4% (4/9), sendo todos com diagnóstico de hepatite crônica e tratados com Interferon. Entretanto houve clearence viral de um paciente com positividade para o Anti-HBs. Em três pacientes somente portadores de VHB não realizaram o marcador de replicação, todos com cirrose hepática e uso de Lamivudina. Foram observados dez pacientes sem definição do diagnóstico VHD, e entre os que realizaram teste para avaliar replicação, 85,7% (6/7) era Anti-HBe positivo e somente um paciente AgHBe positivo. Dos seis Anti-HBe positivo, a resposta bioquímica foi observada em 66,6% (4/6), sendo dois com hepatite crônica em uso de Interferon e dois cirrose hepática tratados com Lamivudina. O único representante AgHBe positivo era cirrótico, tratado com Lamivudina e evoluiu para óbito. 51 H. Crônica INF + LAM H. Crônica INF H. Crônica LAM Cirrose LAM TOTAL Quadro 13. Resposta terapêutica em pacientes portadores do VHB/VHD (54/85). % Resp. % S/ HBeAg Sero Clareamento AntiHBe+ Bioq. marc. % + conversão Viral Replic. 7/18 07/09 06/07 18/38 36,8% 0 77,7% (7/9) 04/38 01/09 0 03/38 01/09 1/1 13/38 09/47 (19,1%) 02/07 (14/38) 0 0 1/3 6/13 05/07 38/47 (80,9%) 07/54 Quadro 14. Resposta terapêutica em pacientes portadores somente do VHB. (21/85). HBeAg Sero + conversão H. Crônica INF + LAM H. Crônica INF H. Crônica LAM Cirrose LAM TOTAL 04/09 % AntiHBe+ Resp. Bioq. % S/ marc. Replic. % Clareamen to Viral 11,1% (1/9) 11,1 % 04/04 04/09 07/09 03/09 0 02/09 1/2 09/18 55,5% (5/9) 44,4% 02/09 0 (1/9) (4/9) 03/21 09/18 0 03/21 4.4 Biologia Molecular Foram encaminhadas 76 amostras para exame de genotipagem para VHB. Após passar pelo processo de extração, foi possível obter resultados de amplificação de 48% das amostras (37/76) do genoma (DNA) VHB. Após amplificação das amostras foi realizado a identificação do genótipo, sendo 52 encontrados 59% (22/37) para o genótipo A, 30% (11/37) para o F e 11% (4/37) para D. Com relação às formas clínicas, foi observado o genótipo A no portador inativo, hepatite crônica, cirrose e agudo. O genótipo F foi observado nos pacientes com diagnóstico de cirrose hepática, hepatite crônica, hepatocarcinoma e agudo. O genótipo D na forma clínica de cirrose, hepatite crônica e portador inativo. A presença do vírus Delta foi 75% (3/24 nos pacientes com genótipo D, 72 (8/11) no genótipo F e 40% (9/22) no A. O genótipo A, correspondeu ao genótipo mais predominante, 73% (16/22) era do sexo masculino e 27% (6/22) do sexo feminino, com idade variando entre 8 e 30 anos. Segundo o município de naturalidade, 10 eram de Cruzeiro do Sul, 10 de Porto Valter e um de Ipixuna e um de Marechal Thaumaturgo. Quanto à forma clínica associada, 12 pertenciam ao diagnóstico de Hepatite crônica, dois de Cirrose hepática, seis Portadores inativos e dois agudos (uma forma fulminante). O diagnóstico do VHD esteve presente em 40% (9/22) dos casos. O genótipo F foi encontrado em 30% (11/37) dos casos. Também houve predomínio do sexo masculino, registrado em 75% dos pacientes, com idade variando entre 18 e 65 anos. Quanto ao município de naturalidade, cinco são de Ipixuna, três de Rodrigues Alves, um Porto Valter e outro de Manaus. Em relação à forma clínica, um paciente com diagnóstico de hepatocarcinoma, cinco de Hepatite crônica e dois Cirrose hepática e três agudos. O diagnóstico do VHD foi encontrado em 72% (8/11) dos casos. Os quatros pacientes com genótipo D identificado, três eram do sexo masculino e um do sexo feminino, com idade variando de 30 a 45 anos. Quanto a naturalidade três eram de Cruzeiro do Sul e um de Porto Valter. Quanto à forma clínica, dois tiveram diagnóstico de hepatite crônica, um Cirrose e outro de Portador Inativo. A presença do VHD foi encontrada em 75% dos casos. 53 5 DISCUSSÃO A infecção pelo VHB e VHD está sob controle nos países desenvolvidos, mas se apresenta como grave problema de saúde pública nos países em desenvolvimento (Torres, 1996; Silveira et al.,1999; Souto et al.,1999; Fonseca, 2002; Braga et al.,2005). A grande importância das hepatites não se limita ao enorme número de pessoas infectadas, estendem-se também as complicações das formas agudas e crônicas. O conhecimento do grau de morbidade da doença subsidia estratégias de prevenção e controle, e embasa decisões sobre a aquisição e uso de esquemas terapêuticos mais eficazes, seguros e eficientes. Estudo realizado no Estado do Acre, considerado de alta prevalência para os vírus B e Delta, constatou que esta é maior na população localizada na região mais ocidental do estado, que compreende os municípios da regional do Juruá coincidindo com os que fizeram parte da nossa casuística (Viana et al., 2003). O Estado do Acre notificou no período de 2001 a 2006, 1.041 casos de hepatite B e 184 casos de hepatite Delta, sendo que na região do vale do Juruá foram notificados no mesmo período 325 casos de VHB e 105 de VHD. Como nosso estudo abrangeu uma população de 355 pacientes, a maioria notificada nesta regional foi avaliada no Ambulatório de Infectologia. A taxa de incidência acumulada para VHB na região e período estudado foi de 254casos/100.000 habitantes e a taxa anual variou de 42 casos/100.000 habitantes para o município de Cruzeiro do Sul a 117 casos/100.000 habitantes no município de Porto Valter, comparando com a média no Brasil, que é de 7,5 casos/100.000 habitantes/ano, observamos uma diferença significativa. Essa diferença é mantida quando comparado a outros estados considerado de menor prevalência, como o estado de São Paulo, onde a taxa de incidência é de 8 casos/100.000 habitantes/ano e a países como Estados Unidos da América, onde a taxa de incidência é de 1,8 casos/100.000habitantes (Wasley, et al., 2007). 54 Vale ressaltar que esta mesma incidência foi encontrada fora da região amazônica, como mostra os estudos no oeste de Santa Catarina (117/100.000 habitantes/ano), (Chávez, 2003). E no norte do Paraná e no estado do Espírito Santo apresentando alta prevalência de 8,3% e 9% de AgHBs respectivamente (Souto, 2004). A população estudada abrangeu todas as formas clínicas da doença, demonstrando a magnitude do espectro clínico da doença, com a presença de Portadores crônicos, tanto na forma inativa, como a forma ativa evidenciando a grande circulação de vírus na região. A origem desses pacientes quanto ao acesso das informações, somente 68,5% (243/355) tiveram acompanhamento médico, revelando as dificuldades no campo da assistência em nossa região, associada às condições geográficas que dificulta o acesso a saúde. Dados de Silveira et al.(1999) estudando a soroprevalência de hepatite B na América Latina, encontrou maior positividade a partir dos 16 anos e aumentando com a idade, sugerindo transmissão sexual e maior exposição a sangue, através do uso drogas injetáveis e tatuagem. Souto et al.2001, Miranda et al. 2000 e Chavez et al.2003 também sugere a mesma via de transmissão por encontrar maior prevalência em população adulto jovem. Diferenciando dos dados da literatura (Balik, 1991; Chen, 2000; Torres, 1996; Oliveira, et al. 1999; Santana et al. 1998), em que a exposição sanguínea (acidente ocupacional, tatuagem, udi, transfusão) ou transmissão vertical é citada como fator importante na transmissão, em nossa casuística a transmissão horizontal intradomiciliar parece ser a mais importante, ressaltando como os possíveis fatores relacionados à transmissão, história familiar de hepatite e óbito por hepatite na família relatado em todas as formas clínicas avaliadas. Sabe-se que nos países em precárias condições econômicas, existem diversos fatores que poderia está implicado na transmissão da doença, devido à exposição ao sangue contaminado. Na população estudada foi descrita com maior 55 relevância: aplicação de injeções por curiosos e extração dentária por profissional não habilitado, hábitos freqüentes em nossa região e relatados por outros autores (Fonseca, 1988; Brasil, 2003; Lobato, 2003). O relato de exposição a fatores envolvidos na transmissão pesquisados foi mais amplo à medida que os pacientes progrediam para a forma crônica. Chamando-nos atenção que 75% dos indivíduos da forma crônica relatavam história pessoal de hepatite em algum momento da sua vida, demonstrando que a doença passa por fases evolutivas e que podemos intervir de forma individual e coletiva. Com relação ao perfil sorológico da população estudada, na forma aguda observamos um porcentagem maior de AgHBe positivo e uma reatividade pequena em pacientes da forma Portador Inativo, indicando que esta forma pode ser evolutiva, sendo detectado também nas formas de hepatite crônica e cirrose. Mas na população geral, a reatividade para o Anti-HBe positivo (78,1%) se sobrepôs. Identificamos também AntiHBs positivo em 3 pacientes, sendo um Portador Inativo que clareou o vírus espontaneamente e dois pacientes portadores de VHB, sendo 1 Anti-HBe positivo e o outro AgHBe positivo, após 20 meses de tratamento com Interferon. É descrito na literatura (Gonçales Junior, 2003; Look, 2001; Kamasaki et al. 1994) que aproximadamente 0,5% dos pacientes crônicos podem evoluir com clareamento viral e que uma pequena porcentagem de pacientes crônicos podem expressar o marcador AgHBe, indicando uma baixa replicação residual do vírus selvagem, ou sugerir casos de mutação da região pré-core. Um estudo de biologia molecular, na população de pacientes crônicos poderia esclarecer melhor o grau de mutação viral em nossa região, o que nos permitiria uma abordagem diferenciada. Os diversos estudos realizados na Amazônia revelam a alta prevalência da doença em nosso meio, com altos índices de associação VHB/VHD, influenciando na história natural da doença (Bensabath, 1987; Arboleda, 1995; Ribeiro & Souto, 2000; De Paula et al., 2001; Souto, et al., 2004; Braga et al.,2004; Viana et al.,2003). 56 Fora da Amazônia brasileira, em nosso país, a prevalência do VHD mostra-se irrelevante, seja em grupo de risco ou na população geral. Mas a alta prevalência volta a se estender nas populações da Amazônia peruana (Casey, 1996) e venezuelana (Halder, 1983), em determinadas áreas da África (Ojos, 1998 e Radjef, 2004) e no sul da Itália (Niro, 1999). Essa taxa de associação VHB/VHD em nosso estudo foi de 39,4% (140/252), demonstrando uma alta prevalência em nossa região, entretanto, a nossa população estudada foi de indivíduos com diagnóstico prévio. Dados da literatura enfatizam a evolução clinica dessa associação para as formas graves da doença, principalmente quando há superinfeção. Em nosso estudo constatamos um número maior de pacientes com diagnóstico da forma crônica, incluindo o único sobrevivente da forma fulminante (Bensabath, 1987; Fonseca, 1988; Rizzeto, 1990; Balik, 1991; Fonseca, 2002; Farci, 2003). A presença do VHD interfere na replicação do VHB, sendo encontrado com maior freqüência nos pacientes Anti-HBe positivo e com baixo nível de VHB-DNA e moderados níveis de Transaminases, demonstrando que o dano hepático é causado pelo VHD (Lee, et al., 1987; Fattovich et al., 2000; Farci, 2003). O nosso estudo demonstra a informação, expressando talvez nesses casos uma atividade crônica exclusiva do VHD. Hepatite fulminante tem uma característica histórica de dizimar famílias, em relatos de habitantes das calhas dos rios Purus, Juruá e Solimões, clinicamente definida, evoluindo com sintomas digestivos hemorrágicos e neurológicos. Ao longo da história, estes relatos chegaram até ao ambiente hospitalar, mas manteve a forma de aparecimento, ou seja, de surto familiar. Em nosso estudo, pudemos constatar esta característica com duas famílias, sendo acometida em mais de um de seus membros. Em nosso estudo, a hepatite fulminante foi observada em pacientes coinfectados e também com VHB isolado. A letalidade foi 93,8%, com um sobrevivente que evoluiu para forma crônica 24 meses após o quadro agudo. 57 A definição de coinfecção e superinfecção não foi possível ser demonstrada em todos os pacientes por se tratar de um estudo retrospectivo, onde muitos pacientes não realizaram o exame que detecta o quadro agudo (AntiHBcIgM), mas observamos que a hepatite fulminante foi desfecho de situações que caracterizavam tanto a coinfecção (Anti-HBcIgM positivo; AgHBe positivo e Anti-HDT positivo) como a superinfecção (Anti-HBcIgM negativo e AntiHDT positivo). Por não se tratar de estudo estritamente prospectivo, não podemos avaliar a evolução de toda população estudada. Entretanto, a observação de baixa taxa de cura e alta cronicidade nos casos agudos, nos permite inferir que esses pacientes podem ter sido diagnosticados em fase crônica agudizada, ou a média de idade encontrada (17 anos) favoreceria a um maior percentual de evolução para cronicidade. De acordo com a história natural da doença, para os países ocidentais a idade de transmissão ocorre mais na idade adulta, resultando em 5 a 10% de portadores crônicos. (Lee, 1997; Lok, 2001; Gonçales Junior, 2003). Na Amazônia outros estudos revelaram a predominância das formas crônicas da doença em indivíduos mais jovens (Bensabath, 1987; Braga, 2001; Fonseca, 1998). Entretanto, essa forma clínica (aguda) foi a que apresentou mais pacientes sem seguimento, 46,2% (18/39), oriundos da ficha de notificação, portanto sem definição de evolução. Como esta fase inicial é considerada de tolerância, com poucas repercussões clínicas usualmente, os pacientes tendem a não manter o acompanhamento médico, só retornando durante os períodos de exacerbação da doença, ou quando outro membro da família é afetado (Fonseca, 2004; Ono-Nita, 2003). Importante ressaltar que a evolução para a forma crônica desses pacientes agudos foi mais expressiva naqueles positivos para o VHD. Assim como, em toda a população estudada a proporção de indivíduos com a forma crônica é maior naqueles portando os dois vírus. O grande contingente de indivíduos infectados pelo VHB com indicação para o tratamento específico é representado principalmente pelos doentes com hepatite cônica e cirrose hepática. As decisões de tratamento diferem dependendo se os 58 pacientes são AgHBe positivo ou negativo, se foram tratados anteriormente, resistência aos análogos de nucleosídeos e qual estágio da doença hepática se encontram. A concomitância de um vírus RNA (VHD) faz com que a hepatite crônica seja mais difícil de tratamento (Cheinquer, 2003; Hadiyziannis, 2006). Apesar de se tratar de um estudo retrospectivo e o tratamento depender do fornecimento por parte da Secretaria Estadual de Saúde do Acre, foi observado que os pacientes receberam sempre a mesma droga (Interferon alfa 2b - 5 e 10 milhões UI e Lamivudina 100 mg) durante todo o período do tratamento, nunca inferior a 12 meses e de forma supervisionada. Altas doses de Interferon e por tempo prolongado tem sido recomendado para os pacientes Anti-HBe e Anti-HDT positivo (Lok, 2001; Farci, 2004; Lau, 2005). Atualmente o algoritmo ideal para indicação da terapêutica e avaliação da resposta ao tratamento está baseado na detecção no soro do material genético viral (DNA-VHB ou RNA-VHD). (Farci, 2004; Hadziyannis, 2006, Keeffe, 2006). Uma realidade ainda distante de ser executada por nós, portanto, a soroconversão, normalização das aminotransferases e manutenção da estabilidade do quadro foram os fatores avaliados na resposta ao tratamento. Os pacientes portadores somente do VHB e AgHBe positivo foram melhores respondedores, com soroconversão (55,5%) e incluindo clareamento viral (11,1%), com manutenção dessa resposta. Diferenciando dos dados de outras literaturas que mostram uma taxa de soroconversão menor (7,8% em Toronto – Heathcote, 2000; 42% em Taiwan – Lin et al, 1999; 39% em Germany – Niederau et al. 1996; 33% resultante de metanálise- Ferreira, 2000). Isso talvez porque os nossos pacientes tenham recebido doses altas diárias e por um período maior. A maioria dos pacientes tratados eram coinfectados e também Anti-HBe positivo, logo, a resposta nesse pacientes pode ser eficaz inicialmente, mas com recidiva após a suspensão da medicação somente após um seguimento maior dos mesmos poderemos estabelecer melhor uma resposta. 59 Embora não tenhamos observado associação estatística para esquema de tratamento, a combinação Interferom mais Lamivudina para o tratamento do VHD foi benéfica em 38,8% dos pacientes que utilizaram, baseando na melhora dos níveis de transaminases, a despeito dos que fizeram Interferon sozinho 100%(4/4) em que não houve redução de transaminases. Portanto, esta combinação pode ser recomendada como opção terapêutica para o VHD (Wolters, et al. 2006). Igual resposta foi encontrada no estudo na Turquia por Canbakan, et al. 2006. Com relação à indicação de Lamivudina para VHD, observamos melhora das transaminases em 46,1%. Resposta menor foi encontrada na Itália (Niro et al., 2005) e sem negativação do RNA-VHD no estudo mencionado. Outro estudo mostrou negativação do RNA-VHD, redução das transaminases, mas com retorno de todas as escórias após suspensão do tratamento (Lau, et al., 1999). Experiência ainda não constatada por nós, porque todos os pacientes que iniciaram Lamivudina se mantêm em uso da mesma. Interferon peguilado, que desponta como uma nova opção de tratamento para VHB e/ou VHB/VHD não foi usado em nenhum dos nossos pacientes, mas parece ser a nova estratégia terapêutica para os não respondedores, principalmente para os AntiHBe e Anti-HDT positivo, mas devendo levar em conta a sensibilidade da resposta comparada aos genótipos de cada local. (Lau, 2005; Janssen, 2005; Niro, 2006; Erhardt, 2006; Casteinau, 2006; Hadziyannis, 2006). O Brasil é um país geograficamente dividido em várias regiões, tendo sido colonizado por pessoas de diferentes etnias, logo a distribuição dos genótipos pode ser diferente. O conhecimento da distribuição do genótipo em uma área de prevalência alta é importante para introdução de medidas de controle. Os estudos realizados na América do Sul apontavam a circulação dos genótipos A e F (Casey, 1996; Quintero, 2001; De Paula, 2001; Oliveira, 2003) e os estudos mais atuais tem registrado a presença também do genótipo D (StiniK, 2004; Conde, 2004; Ribeiro, 2006), incluindo a região amazônica. No estado do Acre, foi observada a mesma variação (Viana, 2005; Lobato 2006), corroborando com o encontrado em nosso estudo. 60 A significância clínica do genótipo ainda é controversa. Apesar do nosso estudo não poder demonstrar a evolução clínica com o genótipo, devido amostra pequena, não ter dados ainda das formas fulminante e aguda e sem resultados do genótipo VHD, mas podemos fazer algumas inferências. O genótipo A esteve relacionado a quadros crônicos, diferenciando dos dados de alguns estudos que mostram a relação desse genótipo com hepatite aguda (Lyra et al, 2005). Um estudo mostrou que o genótipo F tem maior relação com desfecho para óbitos que o genótipo A, mas em nossa amostra não houve diferença estatística, pois foi observada evolução para óbito em todos os genótipos encontrados (Sanchez-Tapias et al. 2003). 61 6 CONCLUSÃO 1. As maiorias dos pacientes encontrado foram de adulto jovem, com média de idade de 28 anos. 2. A associação entre história de hepatite e óbito na família, infecção passada ou presente pelo VHB demonstra a importância desse vírus como agente etiológico de doença ictérica em nossa região. 3. A transmissão horizontal intrafamiliar parece ser a via de transmissão mais importante, mas continua obscura nos seus mecanismos. 4. A coinfecção VHB/VHD foi expressiva na população estudada, sendo encontrada em todas as formas clínicas. 5. Resposta terapêutica foi heterogênea, com baixa taxa de cura 2,3% (2/85). 6. Os pacientes Anti-HBe e Anti-VHD são considerados maus respondedores. 7. Predomínio do genótipo A do VHB nas amostras analisadas, mas sendo encontrados também os genótipos F e D. 62 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Allison, A.C.; Blumberg, B.S. An immunopreciptin reactiondistinguishing human serum protein types. Lancet, 1961, v. 1, p.6343. Alecrim, W.D; Marreiros, L.; Alecrim, M.G; Miranda, S. Inquérito sobre presença de HbsAg em habitantes de Lábrea-Amazonas. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. v.19, p.58-59, 1986. Arboleda, M.; Castilho, M.; Fonseca, J.C.F.; Albuquerque, B.; Sabóia, R.; Yoshida, C. Epidemiological aspects of hepatitis B and D vírus infection in the Northern region of Amazonas, Brazil. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene. v.89, p.481-483, 1995. Balik, I. et al. Epidemiology and clinical outcome of hepatitis D virus infection in Turkey. Eur J Epidemiol. 1991, v. 7 (1), p. 48-54. Bensabath, G; Boshell, J. Presença do antígeno Austrália em populações do interior do estado do Amazonas – Brasil. Rev Inst Méd Trop São Paulo, 1973, v. 15, p. 284288. Bensabath, G., et al. Aspectos epidemiológicos da infecção associação vírus Delta – vírus da hepatite B no município de Boca do Acre, microregião do Purus, Amazonas. In : CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA TROPICAL, 20, Fevereiro 1984, Salvador ( BA ). Anais Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 1984, p. 107. Bensabath, G.; Halder, S.C. Hepatitis Delta vírus infection and Labrea Hepatitis. Prevalence and role in fulminant hepatitis in the Amazon basin. JAMA, 1987, v. 258, n. 4, p. 479- 483. Bensabath, F; Leão, R.N.Q. Epidemiologia na Amazônia Brasileira. In Tratado de Hepatites Virais, Roberto Focaccia, Editora Atheneu, São Paulo, 2003, p.11-26. Bradley, D.W. Enterrically-transmited non-A non-B hepatitis. Br Med Bull, 1990, v. 46, p. 442-461. Braga, W. et al. Ocorrência da infecção pelo vírus da hepatite B (VHB) e Delta (VHD) em sete grupos indígenas do estado do Amazonas. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2001, v. 34 (4), p. 349-355. Braga, W et al.. Infecção pelos vírus das hepatites B e D entre grupos indígenas da Amazônia Brasileira: aspectos epidemiológicos. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2004, v. 37: suplemento II, p.9-13. Braga, W. et al. Prevalência da infecção pelo vírus da hepatite B (VHB) e da hepatite delta (VHD) em Lábrea, rio Purus, estado do Amazonas. Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde, 2004, v. 13 n.1, p.35-46. 63 Brasil, L.M. et al. Prevalência de marcadores par o vírus da hepatite B em contatos domiciliares no estado do Amazonas. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2003, v.36, n.5, p.565-570. Canbakan, B. et al. Efficacy of interferon alpha-2b and lamivudine combination treatment in comparison to interferon alpha 2b alone in chronic delta hepatitis: a randomized trial. J Gastroenterol Hepatol, 2006, v. 21(4), p. 657-663. Casey, J.L. et al. Hepatitis B virus (HBV)/hepatitis D. virus (HVD) coinfection in outbreaks of acute hepatitis in the Peruvian Amazon basin: The roles of HDV genotype III and HBV genitype F. J Infect Dis., 1996 174: 920-926. Casey, J.L. et al. Clevudine inhibitis hepatitis delta virus viremia: a pilot study of chronically infected woodchucks. Antimicrob Agents Chemother, 2005, v. 49, p. 4396-4399. Casteinau, C. et al. Efficacy of peginterferon alpha 2b in chronic hepatitis delta: relevance of quantitative RT-PCR for follow-up. Hepatology, 2006, v. 44(3), p. 728735. CDC. Hepatitis B vírus: a comprenhensive strategy for eliminanting transmission in the United States through universal childhood vaccination ( ACIP ) Management. Morbidity and Mortality Weekly Report ,1991, 40: (nº RR-13) p. 21-25. Chang, T.T. et al. A comparison of Entecavir and Lamivudine for HbeAg positive chronic hepatitis B. N Engl J Med, 2006, v.354 (10), p. 1001-10. Chávez, J.H.,Campana, S.G., Haas, P. Panorama da hepatite B no Brasil e no estado de Santa Catarina. Rev Panam Salud Publica/Pan Am J Public Health 2003, v.14(2), p. 91-96 in the Asia-Pacific region. J Gastroenterol Hepatol. 2000, v. 15 suppl, p. 3-6. Chen, C.J.; Wang, L.Y.; Yu, M.W. Epidemiology of hepatitis B virus infection in the Asia-Pacific region. Gastroenterol Hepatol. 2000, v. 15(suppl.) p. 3-6. Cheinquer, H. Tratamento atual da Hepatite crônica B, In: Curso de Hepatologia Clínica, Amaury Coutinho et al.Editora Universitária da UFPE, p. 217,Recife, 2003. Conde, S.R.S.S et al. Prevalência de genótipos e de mutantes pré-core A-1896 do vírus da hepatite B e suas implicações na hepatite crônica, em uma população da Amazônia Oriental. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2004, v. 37 (suplemento), p. 33-39. De Paula, A, V.S. et al. Seroprevalence of viral hepatitis in riverine communities from the Western Region of the Brazilian Amazon Basin. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 2001, v.96(8), p. 1123-8. Erhardt, A. et al. Treatement of chronic hepatitis delta with pegylated interferon-alpha 2b. Liver Int., 2006, v.26(7), p. 805-810. 64 Fattovich, G. et al., Influence of hepatitis delta virus infection on morbidity and mortality in compensated cirrhosis type B. Gut, 2000, v.46, p. 420-426. Farci, P. et al. Long-term benefit of interferon alfa therapy of chronic hepatitis D: regression of advanced hepatic fibrosis. Gastroenterology 2004, 126: p.1740-1749. Farci, P. et al. Delta hepatitis: an update. Journal of Hepatology, 2003, v. 39, p. 212219. Ferreira, M.S. Diagnóstico e tratamento da Hepatite B. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2000, v. 33(4), p. 389-400. Fonseca, J.C.F. Terapêutica da hepatite Delta, In: Tratado de Hepatites Virais, Roberto Focaccia, Editora Atheneu – São Paulo, 2003. Fonseca, J.C.F. Hepatite fulminante na Amazônia Brasileira. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2004, v. 37 (suplemento). Fonseca, J.C.F. Fulminant hepatic failure in children and adolescents in Northen Brasil, Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2004, v. 37, p. 67-69. Fonseca, J.C.F. Hepatite D. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 2002, v.32,n.2,p.181-190. Fonseca, J.C.F. et al. Estudo da associação do HBsAg com os anticorpos do vírus Delta ( anti delta total ) na Amazônia – Brasil. In : CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA TROPICAL, São Paulo, SP, Anais, 21 fevereiro 1985. Sociedade Brasileira Medicina Tropical p 42 ( Resumo 053 ) , 1987. Fonseca, J.C.F. Epidemiologia das hepatites B e Delta na região Amazônica. Skopia médica. v.23, p.28-32, 1988. Fonseca, J.C.F. et al. Prevalence of infection with hepatitis delta virus (HDV), among carriers of hepatitis B surface antigen in Amazonas state, Brazil. Trans R Soc Trop Med Hyg, 1988, v. 82(3), p. 469 – 471. Freitas, J. Hepatites víricas: Perspectiva histórica. Disponível <http://www.aidsportugal.com/hepatitis/9 35.pdf -> Acesso em 16 ago. 2005. em: Galle, P.R., et al. In vivo experimental infection of primary human hepatocytes with hepatitis B virus. Gastroenterology, 1994, v. 106, n.3, p. 664-673. Gonçales Júnior, F.L. História Natural da Infecção HBV, In : Tratado de Hepatites Virais, Roberto Focaccia, Editora Atheneu – São Paulo, 2003. Gonçales Júnior, F.L. Imunodiagnóstico, In : Tratado de Hepatites Virais, Roberto Focaccia, Editora Atheneu – São Paulo, 2003. Hadziyannis, S.J. et al. Adefovir dipivoxil for the treatmnet of hepatitis B e antigennegative chronic hepatitis B, N Engl J Med. 2003, v. 348(9), p. 800-807. 65 Hadziyannis, S.J. Novos avanços no tratamento da hepatite B crônica. Expert Opni. Biol. Ther. 2006, v. 6(9), p. 913-921. Halder, S.C. Hepatitis B virus infection and health care Works. Vacine 8, 1990( suppl I ): S 24- S28Yucpa indians of Venezuela. Annals of Internal Medicine, 1983, v.100, p. 339-344. Halder, S.C. et al. Delta virus infection and severe hepatitis. An epidemic in the Havens, W.P. Peryod of infectivity of patientis with experimentally induced infection hepatitis. J Exp Med., 1946, v. 83, p. 251-258. Hamasaki, K. et al. Changes in the prevalence of HBeAg-negative mutant hepatitis B virus during the course of chronic hepatitis B. Hepatology, 1994, v. 20 (1), p. 8-14. Keeffe, E.B. et al. A tretament algorithm for the management of chronic hepatitis B virus infection in the United Satates : an update. Clin Gastroenterol Hepatol. 2006, v. 4(8), p. 936-932. Kim, J.W.; Park, S.H.; Louie, S.G. Telbivudine: a novel nucleoside analog for chronic hepatitis B. Ann Pharmacother, 2006, v. 40(3), p. 472-478. Kiesslich, D. et al. Prevalência de marcadores sorológicos e moleculares do vírus da hepatite B em gestantes do estado do Amazonas, Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 2003,v.12(3), p.155-165. Janssen, H.L. et al. Pegylated interferon alfa-2b alone or in combination with Lamivudine for HbeAg positive chronic hepatitis B : a randomised trial. Lancet, 2005, v.365(9454), p.123-129. Lai, C. L. et al. A one year trial of lamivudine for chronic hepatitis B. Asia hepatitis Lamivudine study group. New England Journal of Medicine, 1998, 339: 61-68. Lai, C. L. et al. A 1-year trial of telbivudine, lamivudine, and the combination in patients with hepatitis B e antigen-poistive chronic hepatitis B. Gastroenterology, 2005, v. 129(2), p. 528-536. Lai, C. L. et al. Entecavir versus Lamivudine for patients with HBeAg – negative chronic hepatitis B. N Engl J Med. 2006, v.354(10), p. 1011-20. Lau, D.T. et al. Lamivudine for chronic delta hepatitis. Hepatology, 1999, v.30(2), p. 546-549. Lau, G. K. et al. Peginterferon alfa-2a, Lamivudine and the comnination for HBeAg positive chronic hepatitis B. N Engl J Med. 2005, v. 352 (36), p. 2682-2695. Lee, W.M. Hepatitis B virus infection. N Eng J Med , 1997, v.337, p.1733 – 1745. 66 Lee, S.D. et al. Hepatitis D vírus (delta agent) superinfection in na endemic área of hepatitis B infection: imunopathologic and serologic findings. Scand J Infect Dis. 1987, v. 19(2), p. 173-177. Lyra, A.C. et al. Distribution of hepatitis B virus genotypes among patientis with acute viral hepatitis. J Clin Gastroenterol, 2005, v.39, p.81-82 Lobato, C. Prevalência do vírus da hepatite B em familiares de mães AgHBs positivas do município de Rio Branco(Acre). Dissertação de Mestrado em Medicina e Saúde, Universidade Fedral da Bahia, 235 p. 2003. Lobato, C. et al. Frquencia dos marcadores sorológicos dos vírus das hepatites B, C , D e HIV de sete municípios do estado do Acre. Pôster 294, In: Gastroenterologia Endoscopia Digestiva (GED), 2003, v.22 (supl. 3), Resumos do XVII Congresso Brasileiro de Hepatologia – Recife – PE. Lobato, C. et al. Intrafamilial prevalence of hepatitis B vírus in Western Brasilian Amazon region: epidemiologic and biomolecular. Journal of Gastroenterology and Hepatology, 2006, v.21, p. 863-868 Lok, A. S., et al. Mangement of hepatitis B : 2000 Summary of a workshop. Gastroenterology, 2001, v. 120, p.1828-1853. Lok, A.S. & Mcmahon, B.J. Chronic Hepatitis B. Hepatology, 2001, v.. 34(6), p. 11251241. Lok, A. S. Hepatitis B virus infection: pathogenesis and management. Journal of Hepatology, 2000, v. 32 ( suppl. ! ), p. 89 – 97. Lok, A. S. Serological clearance of HBsAg is the best treatment endpoint for chronic HBV infection. Program and abstracts of the 2006 Shangai-Hong Kong Intenacional Liver Congress: March 25-28, 2006, Shangai, China. Lopes, F. Hepatite B. In: VERONESI, Ricardo; FOCACCIA, Roberto. Tratado de Infectologia. São Paulo; Atheneu, 1997. p. 299-314. Lu, S-N. et al. Molecular epidemiological and clinical aspects of hepatitis D virus in a unique triple hepatitis viruses (B,C,D) endemic community in Taiwan. Journal of Medical Virology, 2003, v. 70 (1), p. 74-80. Magnius, L. O., Norder, H. Subtypes, gentypes and molecular epidemiology of the hepatitis B virus as reflected by sequence variability of the S-gene. Intervirology.1995, v. 38 (1-2), p. 24-34. Marcelin, P.; Castenau, C. Co-infection et sur infection par le virus delta. Journée d’ actualités en Hépato-Gastroenterológie, Paris, 08 oct, 1991. Disponível em http://www.bmlweb.org/glaxo9914html. Marcelin, P. et al. Adefovir dipivoxil for the treatmnet of hepatitis B e antigen-positive chronic hepatitis B. N Engl J Med. 2003, v. 348(9), p. 806-816. 67 Maynard, J.E. Hepatitis B global importance and need for control. Vacine, 1990, 8:518-528 MINISTÉRIO DA SAÚDE – SECRETARIA DE VIGILÃNCIA EM SAUDE. Disponível no endereço: http://www.saude.gov,br/svs/epi/situacao_doencas/situacao.htm Miranda, L.V.G. Marcadores Sorológicos de hepatite B em indivíduos submetidos a exames de sangue em unidades de saúde. Rev Saúde Pública, 2000, v.34 (3), p. 286-291. Miranda, E,C.B.M. et al. Infecções pelos vírus da hepatites B e C e o carcinoma hepatocelular na Amazônia oriental. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2004, v. 37 (suplementoII), p. 47 – 51. Neef, J. R., Gellis,.S. S.,Stokes, J. Homologus (serum) hepatitis, and infectus ( epidemic ) hepatitis: studies of volunteers bearing on immunological and other characteristics of the etilogical agents. AM J MED, 1946, v. 1, p. 3-22. Niro, G.A.; Rosina, F.; Rizzeto, M. Treatment of hepatitis D. Journal of Viral Hepatitis, 2005, 12, 2-9. Niro, G.A. Intrafamilial transmission of hepatitis delta virus: molecular evidence. J Hepatol. 1999, v.30(4), p.564-9. Niro, G.A. Lamivudine therapy in chronic delta hepatitis: a multicentre randomized – controlled pilot study. Aliment Pharmacol Ther. 2005, v. 22(3), p. 227-232. Niro, G.A. et al. Pegylated Interferon alpha 2b as monotherapy or in combination with Ribavirin in chronic hepatitis delta. Hepatology, 2006, v. 44(3), p. 713-720. Ojos, O.S. et al. Hepatitis Delta virus antígen in HBsAg positive chronic liver disease in Nigeria. East Afr Med J. 1998, v. 75(6), p.329-331. Oliveira, C. Variabilidade genética do antígeno de superfície do vírus da hepatite B (VHB) em portadores naturais da Amazônia brasileira. Dissertação de Mestrado – Univerdidade Federal de São Carlos/ Fundação Universidade do Amazonas, 2001, 122 p. Oliveira, M.L. et al. Prevalence and risk factors for HBV and HDV infctions among injecting drug users from Rio de Janeiro, Brazil. Braz J Med Biol Res. 1999, v. 32 (9), p. 1107-1114. Ono-Nita, S.K. et al. Hepatite viral crônica. História natural. In : Tratado de Hepatites Virais, Roberto Focaccia, Editora Atheneu – São Paulo, 2003, p.413-419. Paraná, R. et al. Serial transmission of spongiocytic hepatitis to woodchucks (possibile associaton with a specific delta strain). J Hepatology, 1995, v. 22, p. 468473. 68 Pringle, C. R. The Universal System of virus taxonomy of the International Committee on Virus Taxonomy (ICTV), incluinding new proposals ratified since publication of the Sixth ICTV Report in 1995. Arch Virol, 1998, v. 143 (1): p.203-210. Quintero, A. et al. Hepatitis delta virus genotypes III and I circulate associated with hepatitis B virus genotype F in Venezuela. J Med Virol. 2001 64: 356-359. Radjef, et al. Hepatitis D virus (HDV) genome analysis from Africa suggest the existence of more than three worldwide genotypes. J Hepatology, 2001, v.34, p. 120. Radjef, et al. Molecular phylogenetic analyses indicate a wide and anciet radiation of African hepatitis delta virus, suggesting a Deltavirus genus of a least seven major clades. Journal of Virology, 2004, v. 78(5), p. 2537-2544. Ribeiro, L.C; Souto, F.J.S. Hepatite Delta no estado de Mato Grosso: apresentação de cinco casos. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2000, v. 33 (6), p. 599-602. Ribeiro, N.R.C. et al. Distribution of hepatitis B vírus genotypes among patients with chronic infection. Liver International, 2006, v. 26, p. 636-642. Rizzeto, M. et al. Imunofluorescente detection of a new antigen-antibody system (delta/antidelta ) associated to hepatitis B virus in liver and serum of HBsAg carriers. Gut, 1977, v.18, p.997-1003. Rizzeto, M. Hepatitis Delta: the virus and disease. J Hepatology, 1990, v. 11, p. 145148. Rizzeto, M. História Natural da Infecção Hepatite D, In : Tratado de Hepatites Virais, Roberto Focaccia, cap. 5, p.334, Editora Atheneu – São Paulo, 2003. Sakugawa, H. et al. Determination of hepatitis delta vírus (HDV)- RNA in assyntomatic cases of HDV infection. Am J Gastroenterol 1997, v.97, p. 2232-2236. Sanchez-Tapias, J.M. et al. Influence of hepatitis B virus genotypeon the long-term outcome of chronic hepatitis B in western patientis. Gastroenterology, 2003, v.125, p. 1559-1560. Santana, R.O.E. et al. Prevalence of serologic markers of HBV, HDV, HCV and HIV in non- injection drug users, compared to injection drug users in Gran Canaria, Spain. Eur J Epidemiol, 1998, v. 14(6), p. 555-561. Saracco, G., Marcagno. S. Serologicmarkers with fulminants hepatitis in persons positive for hepatitis B surface antigen. A worldwide epidemiologic and clinical survey. Am Inter Méd. , 1988, v. 106, p. 380-384. Seeger, C; Mason, W. Hepatitis B Virus Biology. Microbiology and Molecular Biology Reviews. v.64, n.1, p.51-68, mar. 2000. 69 Silveira, T.R; et al. Hepatitis B seroprevalence in Latin América. Pan Am J Public Health, 1999, v.6, p. 378-383. Sitnik, R. et al. Hepatitis B vírus genotypes and precore and core mutants in brazilian patientis. Journal of clinical microbiology, 2004, v.42(6), p.2455-2460. Souto, F.J.D. Distribuição da hepatite B no Brasil: atualização do mapa epidemiológico e proposições para o seu controle. GED, 1999, v. 18 (4), p. 143-150. Souto, F.J.D. et al. Prevalence of hepatitis B and C vírus markers among Malariaexposed gold miners in Brasilian Amazon. Mem Inst Oswaldo Cruz, 2001, v. 96, p.15. Souto, F.J.D. et al. Prevalência da hepatite B em area rural de município hiperendêmico na Amazônia Mato – grossense: situação epidemiológica. Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde, 2004, v.13 n.2, p.93-102. Souza, C.A.A. História do Acre: novos temas, nova abordagem. Rio Branco, 2002 Cap. 7 p. 69. Tavares-Neto, J. et al. Seroprevalence of Hepatitis B and C in the western Brazilian Amazon Region (Rio Branco, Acre): A pilot study carried out during a hepatitis B Vaccination Program. The Brazilian Journal Infectious Diseases, 2004, v.8(2), p. 133139. Thomas, H.C. The hepatitis B virus and the host response. Journal of Hepatology . v. 11, n.1, p.583-9, jan. 1990. Torres, J.R. Hepatitis B and hepatitis delta virus infection in South America. Gut, 1996, v. 38 (2) p. 48-55. Tiollais, P.; Pourcel, C.; Dejean, A. The hepatitis B virus. Nature. v.317, n. 6037, p.489-95, oct. 1985. Viana, S. Estudo epidemiológico das hepatites B(VHB) e Delta (VHD) em 12 municípios do estado do Acre. Tese de Doutorado em Medicina Tropical, Universidade de Brasília, 2003. Viana, S. et al. High prevalence of hepatitis B vírus and hepatitis D vírus in the western Brasilian Amazon. Am. J. Trop. Med. Hyg., 2005, v. 73(4), p.808-814. Wolters, L. et al. Lamivudine-high dose interferon combinatios therapy for chronic hepatitis B patitents coinfected with the hepatitis D virus. Journal Viral Hepatitis, 2000, 7(6): 428-438. Wasley, A. et al. Surveillance for acute viral hepatitis- Unites Satates, 2005. MMWR Surveill Summ, 2007, v.56(3), p. 1-24 70 8 ANEXOS TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PÓS-INFORMAÇÃO Título do projeto de pesquisa: Hepatite B e Delta: Avaliação de uma série de casos na regional do Juruá – estado do Acre. Eu..................................................................................., fui procurado (a) pela Dra. Suiane Valle, (CRM-AC 305/ CRM-AM 2979), aluna do Curso de Mestrado em Doenças Tropicais e Infecciosas da Universidade do Estado do Amazonas – Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, informado (a) sobre o projeto de pesquisa com o título acima citado e da minha seleção para participar. Fui informado (a) que todos os pacientes atendidos no Hospital Geral de Cruzeiro do Sul com diagnóstico de hepatite, farão parte deste estudo, por seleção de prontuários. Que este projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Fundação Hospitalar do Estado do Acre e/ou CEP da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas em 03/ 01/ 2006. Outra explicação dada foi que o projeto de pesquisa, caso eu aceite participar, consta de levantamento de dados do meu prontuário médico existente no arquivo do Hospital Geral de Cruzeiro do Sul, e caso seja necessário, será feita coleta de 05 ml de sangue em uma veia do braço, através de seringa e agulha esterilizadas, para realização de exames, que não serão feitos em nosso estado, não havendo riscos para o meu estado de saúde. Antes da coleta do sangue, caso seja necessário, algumas perguntas a meu respeito e da minha família e procedimentos submetidos durante o meu acompanhamento médico, poderão ser feitas, caso o prontuário esteja incompleto; Fui plenamente informado (a) que posso negar-me a responder as perguntas acima ou não querer deixar coletar o sangue, sem prejuízo acompanhamento clínico-laboratorial, que por ora faço neste Hospital. do meu 71 Informado ainda, que os resultados da pesquisa não serão feitos de forma individual, ou seja, não haverá resultado de exame informado diretamente ao participante, pois os resultados trarão direcionamentos da doença em relação a sua evolução e seu comportamento na região do vale do Juruá, objetivando medidas de ação de saúde coletiva. Assim considero-me satisfeito (a) com as explicações, que obtive durante a leitura deste documento, quando tive a oportunidade de fazer perguntas. Portanto no momento, eu aceito (ou o menor sob a minha responsabilidade) em participar da pesquisa. Como tenho dificuldade para ler, o escrito acima, atesto também que a Dra. Suiane Valle, leu lentamente este documento e esclareceu as minhas dúvidas. Como concordo em participar do estudo, concordei também em colocar abaixo a minha impressão do dedo polegar. Nome:........................................................................................... Assinatura Impressão digital Testemunhas: ____________________________________________ ____________________________________________ OBS: Em caso de dúvidas contatactar com Dra. Suiane pelos fones: (68) 9983 1266 e (68) 3322 4318/ 3322 2364 72 FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS FICHA DE INVESTIGAÇÃO Projeto: Hepatite B e Delta: Avaliação de uma série de casos na regional do Juruá – estado do Acre. IDENTIFICAÇÃO Nº PRONTUÁRIO:.......................... 1- Nome............................................................................................................ 2- Endereço....................................................................................................... 3- Idade................ anos Estado Civil:............................. 4- Data do nascimento......... /........../.......... 5- Sexo [ ] MAS [ ] FEM 6- Local de nascimento................................................................. 7- Procedência .............................................................................. 8- Tempo que vive neste local........................ _____________________________________________________________ ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS 1- Grau de instrução: [ ]Analfabeto [ ] Semi-analfabeto [ ] 1º Grau [ ] 2º Grau [ ] 3º Grau 2-Ocupação ______________________ 3-Situação atual: [ ] Trabalhando [ ] Desempregado [ ] Aposentado [ ] Aposentado por invalidez 4-Renda familiar: R$______________________ 5- Composição familiar (Membros da família ou outros) [ ] filhos [ ] pai [ ] mãe [ ] irmãos [ ] genro [ ] nora [ ] outros 6-Quantos cômodos têm o domicílio? [ ] FATORES DE RISCO 1-Fez cirurgia? [ ] SIM [ ] NÃO Onde?__________________________ Quando? ______/_______/_______ 73 2- Recebeu transfusão de sangue? [ ]SIM [ ]NÃO Onde?________________________________Quando?_____/_____/_____ 3 – Compartilha ou compartilhou: dormida [ SIM [ ] NÃO lâmina de barbear? [ 4-Tem tatuagem? [ ] SIM [ ] SIM [ ] NÃO escova de dente [ ] SIM [ ] NÃO ] NÃO Se sim, há quanto tempo? __________ anos. 5- Lesões de pele recente ou antiga? [ ] SIM [ ] NÃO 6- Submeteu-se a injeções aplicadas por “curiosos”? [ 7- Já extraiu dentes? [ ] ] Sim [ ] SIM [ ] NÃO ] Não Quantas vezes?_________ Com quem?_____________________ 8-Com que idade iniciou atividade sexual?_________anos. [ ] Criança [ ]Não quis responder 9- Você teve alguma doença abaixo: [ ]Gonorréia [ ]Sífilis [ ]Verrugas genitais [ ]Corrimento genital [ ]Bolhas genitais [ ]Câncro [ ]Outras, ________________________________ 10- Você tem hábito de usar camisinha (preservativo)? [ [ ] SIM [ ] NÃO ]Não quis responder 11- Você trabalha em serviço de saúde? 12- Uso do álcool? [ ] SIM [ [ ] SIM [ ] NÃO ] NÃO Tempo___________Quantidade_________ 13- Uso de drogas: injetáveis? [ ] SIM [ ] NÃO fumadas? [ ] SIM [ ] NÃO 14- Alguém na sua casa teve: Hepatite? [ ] SIM [ ] NÃO Icterícia [ ] SIM [ ] NÃO Colúria (urina cor de guaraná)? [ ] SIM [ Se sim, quem?[ ]Mãe [ ]Pai [ ]Irmão/ã [ ]Companheiro/a [ ] NÃO ]Filho/a [ 15 - Você já teve hepatite? [ ] SIM [ ] NÃO Idade: _________anos Quantas vezes?________ 16 - História de vacina contra hepatite B? [ ] SIM [ ] NÃO 17 - Número de doses: [] não sabe informar [ ] uma [ ] duas [ ] três ASPECTOS CLÍNICOS DATA DO ATENDIMENTO AO AMBULATÓRIO: _____/_____/_____ SINTOMAS [ ]Astenia Data inicio sintomas: ____/___/____ [ ]Anorexia [ ]Náuseas [ ] Vômitos ]Outros 74 [ ]Febre [ ]Cefaléia [ ]Prurido [ ]Dor articular [ ]Diarréia [ ]Hematêmese SINAIS [ ] Edema [ ] Icterícia [ ] Circulação colateral [ ] Ginecomastia [ [ [ [ [ ]Dores musculares [ ]Dor abdominal [ ]Acolia fecal [ ]Colúria [ ]Melena [ ]Perda ponderal ]Ascite ] Aranhas vasculares ]Atrofia muscular ] Atrofia testicular [ ]Anemia [ ] Eritema palmar [ ] Alopecia EXAME FÍSICO: Estado geral [ ] Bom [ ] Regular [ ] Mau Fígado palpável? [ ] SIM [ ] NÃO - Se sim, doloroso? [ ] SIM [ ] NÃO Tamanho: ____cm do RCD. Consistência: [ ] Normal [ ] Mole [ ] Endurecido Superfície: [ ] Lisa [ ] Irregular Baço palpável? [ ] SIM [ ] NÃO - Se sim, doloroso? [ ] SIM [ ] NÃO Tamanho: ____cm do RCE. Consistência: [ ] Normal [ ] Mole [ ] Endurecido CARACTERIZAÇÃO DO QUADRO CLÍNICO ___________________________________________________________________ [ ] Hepatite aguda [ ] Hepatite crônica [ ] Cirrose [ ] Hepatocarcinoma [ ] Fulminante [ ] Portador inativo PACIENTES SUBMETIDOS AO TRATAMENTO 01 – Indicação do tratamento: Hepatite crônica [ Cirrose [ ] HBV [ ] HBV [ ] HBV + HDV ] HBV + HDV 02 – Tratamento proposto e data:____/___/___ Interferon alfa 2b ________________________________________________ Interferon alfa 2b + Lamivudina ______________________________________ Lamivudina______________________________________________________ 04 – Término Programado: _____/____/____ Alta: _____/_____/______ Suspenso: ______/_____/____ Óbito: _____/_____/_____ _______________________________________________________ RESULTADOS DOS TESTES DE LABORATÓRIO TESTE 1ª AMOSTRA 2ª AMOSTRA 3ª AMOSTRA HBsAG [ ]POS [ ]NEG [ ]POS [ ] NEG [ ]POS [ ] NEG ANTI-HBS [ ]POS [ ] NEG[ ]POS [ ] NEG[ ]POS [ ] NEG AntiHBcIgM [ ]POS [ ] NEG [ ]POS [ ] NEG [ ]POS [ ] NEG 75 AntiHBcT [ ]POS [ ] NEG [ ]POS [ ] NEG [ ]POS [ ] NEG HBeAG [ ]POS [ ] NEG [ ]POS [ ] NEG AntiHBe [ ]POS [ ] NEG [ ]POS [ ] NEG [ ]POS [ ] NEG HDAG [ ]POS [ ] NEG [ ]POS [ ] NEG [ ]POS [ ] NEG AntiHDIgM [ ]POS [ ] NEG [ ]POS [ ] NEG ]POS [ ] NEG AntiHDT [ ]POS [ ] NEG [ ]POS [ ] NEG ]POS [ ] NEG PCR VHB [ ]POS [ ] NEG ]POS [ ] NEG [ ]POS [ ] NEG ]POS [ ] NEG ALT _____________ ____________ AST _____________ ____________ ____________ GGT _____________ ____________ ____________ F.AlC _____________ ____________ ____________ BT _____________ BD _____________ ____________ ____________ ALBU. ____________ ___________ ____________ GLOB. ____________ ____________ ____________ PLAQ. _____________ ____________ ____________ TAP _____________ ____________ ____________ HEM _____________ ____________ ____________ LEUC _____________ ____________ ____________ URE _____________ ____________ ____________ CREA _____________ ____________ ____________ GLIC _____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ____________ ___________________________________________________________________ ___________________________________ INDICE DE CHILD-PUGH ( Pugh, R.N. et al, 1973) PONTO S 1 2 BT(mg/dl ) <2 2-3 ALBUMINA(g/dl ) >35 28 - 35 3 >3 <28 TAP(RNI ) <1.25 1.25 – 1.50 >1.50 ENCEFALOPATI A AUSENTE 1–2 3–4 CHILD A: 5 – 6 CHILD B: 7 – 9 CHILD C: 10 – 15 RESULTADO: _________________ ASCITE AUSENTE PRESENT E TENSA 76 _________________________________________________________________ EXAME HISTOPATOLÓGICO – BIÓPSIA HEPÁTICA-CLASSIFICAÇÃO METAVIR: AUSENTE MINIMA MODERADA SEVERA A0 A1 A2 A3 NECROSE PORTAL FIBROSE PORTAL F0 FIBROSE PORTAL SEPTAL F1 F2 FIBROSE PORTAL RAROS SEPTOS F3 FIBROSE PORTAL SEM CIRROSE FIBROSE MUTILANTE COM NODULOS HEPATOCITÁRIOS F4 A= Atividade inflamatória (0 – 3) F= Fibrose (0 – 4) (METAVIR COOPERATIVE STUDY GROUP, 1994) DATA: ____/____/___ RESULTADO:__________________________ _________________________________________________________________ ECOGRAFIA HEPÁTICA (Cerry & Rocha,1993) [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ ] Contornos hepáticos irregulares ] Lesões focais hepáticas ] Textura heterogênea ] Hepatimetria diminuída ] Hepatimetria aumentada ] Atenuação feixe sonoro, hiperecogenicidade do parenquima hepático ] Dilatação de veia porta ] Veia esplenica de calibre aumentado ] Micronodulos ] Esplenomegalia ] Fibrose portal ] Ascite ] Litiase biliar ] Espessamento da parde da vesicula biliar DATA: ____/____/___ RESULTADO:__________________________ __________________________________________________________________ ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA ( BEPPU, et al, 1988) Varizes esofágicas [ ] SIM [ ] NÃO Grau__________ Data:____/____/___ 77 AMOSTRA P/ ANÁLISE BIOMOLECULAR - GENOTIPAGEM [ ] Sim [ ] Não Data coleta:_____/____/_____ DATA ____/_____/_____ _____________________________ Responsável 78 PORTARIA MINISTERIO SAÚDE Portaria nº 860 de 12 de Novembro de 2002. O Secretário de Assistência à Saúde, no uso de suas atribuições legais, Considerando a necessidade de estabelecer Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para o tratamento da Hepatite Viral Crônica B, que contenha critérios de diagnóstico e tratamento, observando ética e tecnicamente a prescrição médica, racionalize a dispensação dos medicamentos preconizados para o tratamento da doença, regulamente suas indicações e seus esquemas terapêuticos e estabeleça mecanismos de acompanhamento de uso e de avaliação de resultados, garantindo assim a prescrição segura e eficaz; Considerando a Consulta Pública a que foi submetido o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Hepatite Viral Crônica B, por meio da Consulta Pública GM/MS nº 01, de 23 de julho de 2002 – Anexo VI, que promoveu sua ampla discussão e possibilitou a participação efetiva da comunidade técnico científica, sociedades médicas, profissionais de saúde e gestores do Sistema Único de Saúde na sua formulação, e Considerando as sugestões apresentadas ao Departamento de Sistemas e Redes Assistenciais no processo de Consulta Pública acima referido, resolve: Art. 1º - Aprovar o PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS - HEPATITE VIRAL CRÔNICA B - Lamivudina, Interferon-alfa, na forma do Anexo desta Portaria. § 1º - Este Protocolo, que contém o conceito geral da doença, os critérios de inclusão/exclusão de pacientes no tratamento, critérios de diagnóstico, esquema terapêutico preconizado e mecanismos de acompanhamento e avaliação deste tratamento, é de caráter nacional, devendo ser utilizado pelas Secretarias de Saúde dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, na regulação da dispensação dos medicamentos nele previstos. § 2º - As Secretarias de Saúde que já tenham definido Protocolo próprio com a mesma finalidade, deverão adequá-lo de forma a observar a totalidade dos critérios técnicos estabelecidos no Protocolo aprovado pela presente Portaria; § 3º - É obrigatória a observância deste Protocolo para fins de dispensação dos medicamentos nele previstos; § 4º - É obrigatória a cientificação do paciente, ou de seu responsável legal, dos potenciais riscos e efeitos colaterais relacionados ao uso dos medicamentos preconizados para o tratamento da Hepatite Viral Crônica B, o que deverá ser formalizado através da assinatura do respectivo Termo de Consentimento Informado, conforme o modelo integrante do Protocolo. Art. 2º - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. RENILSON REHEM DE SOUZA Secretário 79