UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS - UFAM CENTRO DE CIENCIAS DO AMBIENTE-CCA PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA – PPG/CASA - MESTRADO PROFISSIONAL SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO. ADELMA FERREIRA DE SOUZA MANAUS 2009 UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE – CCA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA PPG / CASA MESTRADO PROFISSIONAL ADELMA FERREIRA DE SOUZA SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade da Amazônia - PPG-CASA como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências Ambientais, área de concentração Gestão Ambiental. Orientadora: Profª Drª Sandra do Nascimento Noda. MANAUS 2009 ADELMA FERREIRA DE SOUZA SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade da Amazônia - PPG-CASA como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências Ambientais, área de concentração Gestão Ambiental. Aprovada em 25 de junho de 2009. BANCA EXAMINADORA: _______________________________________________ Profª. Drª Sandra do Nascimento Noda Universidade Federal do Amazonas _______________________________________________ Profª. Dr Luiz Augusto Gomes de Souza Universidade Federal do Amazonas _______________________________________________ Profª. Dr Danilo Fernandes da Silva Filho INPA- Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas DEDICATÓRIA À geração mais experiente, meus pais, que me transmitiram os seus saberes. A nova geração, meus filhos Mariana, Pedro e Laura guardiões das memórias dessa geração e ao eterno companheiro Eonilson Antonio de Lima. In memória de Francisco Vicente de Oliveira Agricultor Familiar do Assentamento Rural Nª Sª Aparecida. AGRADECIMENTOS A tarefa de escrever uma dissertação nunca é uma atividade individual, mas de um grupo de pessoas, pois antecede várias etapas e diferentes convívios. Etapas que se iniciam antes da escolha do mestrado que se quer fazer. Assim agradeço a determinação da Professora Msc. Noelma Silva (companheira de caminhada), que acreditando que o impossível é algo que ninguém tentou ainda, assim foi lá e fez, conseguiu articular o mestrado em Ciências do Ambiente numa parceria entre UFAM e FIESC para os professores. Agradeço também o empenho da gestão da FECOLINAS em efetivar este convênio. Agradeço imensamente o acúmulo do capital simbólico proporcionado pelo grupo de professores do PPG/CASA, em especial ao professores Dr. George Rebelo, Dr. Henrique dos Santos Pereira, Dr. Hiroshi Noda, Dr. Antonio Carlos Witkoski, Drª Sandra Noda e Dr. César Honorato. Ao Dr. Luiz Augusto pela sua rápida, mas não menos contundente contribuição na minha formação. Os colegas de mestrado, pelos calorosos debates e divergências de idéias que tivemos, pois, acredito que o conflito de idéias gera crescimento. Aos amigos do mestrado Elistênia Fonseca e Ronair Justino de Faria, dos quais tive o prazer de compartilhar interessantes discussões e de construímos uma sólida e solidária amizade durante o mestrado. A coordenação do PPG/CASA, em especial a “Rai” por ter sempre presente para auxiliar a turma do Tocantins. A coordenação local do mestrado, de forma especial ao Emitério, pela dedicação e apoio aos professores durante esses dois anos. Agradeço carinhosamente a minha orientadora Drª Sandra Nascimento Noda por ter me incentivado, tranqüilizado e por fim acreditado na minha capacidade intelectual. Retribuo as suas colaborações com meu afeto. Não poderia deixar de agradecer com enorme carinho às famílias do Assentamento Nossa Senhora Aparecida, que sem seus saberes este trabalho não poderia ter sido pensado e ainda pela enorme paciência durante a realização da pesquisa de campo. Ao Professor Wagner Madruga pelo carinho, tempo disponibilizado para me ajudar com as coletas de plantas e os conhecimentos botânicos compartilhados. As acadêmicas da FIESC: Adriana Rodrigues da Silva, Mônica Alves Ribeiro, Kamila Soares de Araújo Coimbra e Sâmara Almeida Barros, pela enorme contribuição durante o trabalho de campo e na sistematização dos dados. Agradeço imensamente a ajuda da minha amiga Silvia Gomes e do amigo Lucas Magno, pela trabalhosa sistematização e tabulação dos dados, pois, sem ajuda de vocês não conseguiria levar adiante este trabalho. Agradeço amorosamente os meus filhos Mariana, Pedro e Laura e companheiro Nilsinho por ter agüentado minhas “ausências” durante a elaboração da dissertação. A Dona Aparecida, deixo o meu carinho de agradecimento por ter cuidado da minha casa e da minha família nestes 10 anos. Agradeço também os meus pais, irmãos e sobrinhos pelo apoio, incentivo e compreensão durante este dois anos de estudo, por ter pouco aparecido na nossa vida familiar. Não podia deixar de agradecer a Deus, Pai de infinita bondade, por ter me dado à possibilidade do crescimento moral e intelectual, para que eu possa compartilhar estes saberes com a nossa grande família universal. Enfim! Agradecer a todos e dizer-lhes que, este é um trabalho de equipe que deu certo! O contato com a natureza é sempre uma ruptura. Sentir medo do horizonte, da altura, da profundidade, do vento, do frio, do sol escaldante, do mato fechado, do barulho dos insetos, da precariedade e do desconforto remete-nos a rompimentos com nossos comportamentos mais "assentados". E essas rupturas abrem "brechas" para a introdução/construção de novas leituras/discursos sobre o que somos, o que gostamos, o que acreditamos. Romper com formas consagradas de falar, ver e sentir é um caminho saudável de construir o novo. E o novo só aparece quando se dá espaço. Forçar rupturas enfrentando voluntariamente situações inesperadas gera mudanças. (Fabio Cascino) RESUMO SOUZA, Adelma Ferreira. Saberes Ambientais Locais: O Assentamento Nossa Senhora Aparecida no município de Pequizeiro-TO. Dissertação do Mestrado. Curso de Mestrado em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia. Nas ultimas décadas os debates sociais, políticos e científicos sobre agricultura familiar foram recolocados em cena pelos movimentos sociais, universidades e na formação de políticas públicas no Brasil, contrariando a concepção de cientistas que viam este segmento como uma forma social residual, transitória ou que estava em vias de desaparecer nas modernas sociedades capitalistas. Tal fato está relacionado com o fortalecimento da luta pela a terra, através da reforma agrária. Assim, crescem estudos sobre as relações de trabalho, sistemas produtivos e as questões ambientais na agricultura familiar. O resgate analítico da questão agrária e das populações rurais está pautado nas discussões que se formam em torno do modelo de desenvolvimento econômico para a agricultura brasileira, os mecanismos de manutenção da cultura local e as questões ambientais globais. Assim, o objetivo geral desta pesquisa é analisar a relação dos saberes dos agricultores familiares com a conservação da biodiversidade no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, no município de Pequizeiro-TO. A premissa que se levanta é a de que os conhecimentos sobre as plantas e práticas produtivas dos agricultores familiares contribuem para a conservação da biodiversidade no assentamento. O estudo está norteado em dados obtidos no levantamento de campo, através de entrevistas com as famílias. Como principal metodologia foi utilizada a abordagem sistêmica através de observação direta e análises dos dados. Os resultados apontam para uma relação dicotômica sobre a conservação da biodiversidade, pois, há aspectos do manejo dos recursos naturais que são sustentáveis ecologicamente, assim como há também práticas extremamente predatórias para o ambiente. A pesquisa permitiu avaliar a importância da valorização dos saberes ambientais das populações do campo na elaboração de políticas públicas para os assentamentos rurais, que busquem efetividade na conservação ambiental. Palavras - Chave: Agricultura familiar, Etnoconhecimento e Biodiversidade. ABSTRACT SOUZA, Adelma Ferreira. Local Environmental Knowledge: The Settlement Nossa Senhora da Aparecida in the city Pequizeiro-TO. Master's thesis. Masters Course in Environmental Sciences and Amazon’s Sustainability. In recent decades the social, political and scientific debates about family farming were reattached on the scene by social movements, universities and by the construct of public policies in Brazil. Against the scientist’s conceptions who understood this segment as a residual social, transitional or that was in the process of disappearing in modern and capitalist societies. This fact is related by the intensification of the Agrarian Reform. Because this, there are increasing studies on labor relations, production systems and environmental issues in family farming. The analytical view of the agrarian issue and the rural populations is based on the discussions around the economic model of development for Brazilian agriculture, which maintain mechanisms of local culture and global environmental issues. Consequently, the overall objective of this study is to examine the relation of family agriculture knowledge and conservation of biodiversity in the Settlement Nossa Senhora Aparecida, in the municipality of Pequizeiro-TO. The premise that arises is that the vegetation knowledge on plants and Family production practices contributes to the conservation of biodiversity in the settlement. The study is guided by data obtained from the exploration field, through interviews with families. As the main method used was the systemic approach through direct observation and analysis of data. The results indicate a dichotomous relation the biodiversity’s conservation, therefore, the aspects of natural resource management that are ecological sustainable and there is also extremely predatory practices to the environment. The study allowed evaluating the importance of involving local people at the developing policies public for rural settlements, which look for effectiveness in environmental conservation. Key-words: Family farm, Ethnicity’s knowledge and Biodiversity LISTA DE TABELAS Tabela 1. Freqüência e área média cultivada das espécies encontradas no componente roça no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. ......................... 67 Tabela 02. Alimentação, tipo de instalação e formas de manejo da criação dos animais praticada pelos assentados no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro - TO............................................................................................................... 77 Tabela 03. Descrição dos componentes da paisagem e suas formas de utilização no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro-TO........................... 86 Tabela 4. Informações gerais sobre a biodiversidade vegetal encontrada no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. n = 160............................... 103 Tabela 5. Características das espécies vegetais, hábitos de crescimento, utilização, freqüência e origem das espécies encontradas no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. n=160 ............................................................................................... 109 Tabela 6. Informações gerais sobre a biodiversidade da fauna silvestre encontrada no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. n = 106 ....... 122 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Localização, coordenadas geográficas, população e área territorial do município de Pequizeiro, no estado do Tocantins, Brasil. ..................................................................... 39 Figura 2. Distribuição geográfica das áreas de assentamento rural com fins de reforma agrária, implantados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, incluindo o assentamento Nossa Senhora Aparecida com suas coordenadas geográficas, no município de Pequizeiro, TO................................................................................................................ 40 Figura 3. Detalhes da paisagem do Assentamento Nossa Senhora Aparecida, ilustrando área de pastagem (a) e áreas em processo intensivo de erosão, com solo exposto (b), no município de Pequizeiro, TO. .......................................................................................................... 43 Figura 4. Características dos recursos hídricos existentes no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, mostrando o Córrego do Macaco (a) e cursos d´água vicinais (b), no município de Pequizeiro, TO................................................................................................................ 44 Figura 5. Freqüência de idade dos componentes das famílias entrevistadas no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO (n = 44).................................... 47 Figura 6. Seqüência cronológica da chegada das famílias e quadro atual da ocupação completa dos lotes no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, no município de Pequizeiro, TO. (n = 12). ................................................................................................................................. 48 Figura 7. Distribuição da origem das famílias no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, do município de Pequizeiro, TO. (n = 25). ........................................................................... 48 Figura 8. Distribuição da concentração do número de lotes por famílias de assentados no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, do município de Pequizeiro, TO. (n = 25) ....... 51 Figura 9. Mapa esquemático cronológico das mudanças na paisagem do Assentamento Nossa Senhora Aparecida, construído a partir dos dados coletados nas entrevistas com os assentados, no município de Pequizeiro, TO. .................................................................. 56 Figura 10. Distribuição da área explorada como quintais, roçado, pasto e remanescente de mata para 12 lotes de assentados no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO................................................................................................................ 59 Figura 11. Ponto de coleta de leite onde está instalado um tanque de resfriamento coletivo, no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. ......................... 61 Figura 12. Grupo de discussão dos assentados para formação da Cooperativa dos Agricultores Familiares de Pequizeiro e região, no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (a) Reunião para criação da COOPEFAPER; (b) Curso de formação dos agricultores em cooperativismo....................................................................................... 62 Figura 13. Distribuição da área agrícola e principais culturas explorada no ano de 2007, em 12 lotes de assentados no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. ....................................................................................................................................... 65 Figura 14. Identificação de técnicas agrícolas aplicadas por assentados para armazenamento de água utilizada na irrigação do cultivo de melancia no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. ........................................................................ 66 Figura 15. Técnicas dos assentados para armazenar as sementes para plantio da safra seguinte no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (A) Armazenamento das sementes de feijão trepa-pau, (B)Armazenamento das sementes de milho. ............................................................................................................................ 68 Figura 16. Técnicas dos assentados para armazenamento da produção de mel no assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. ......................... 73 Figura 17. Reunião do Programa de Formação de Lideranças Agroecológicas, para entrega da centrifuga ao grupo de apicultores no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO................................................................................................................ 74 Figura 18. Criação de galinha caipira melhorada da raça Label Rouge no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. .......................................................... 75 Figura 19. Croqui da distribuição dos diferentes componentes da paisagem em uma propriedade com maior área de mata. Adaptado a partir do mapa desenhado proprietário do lote, no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO.............. 80 Figura 20. Croqui da distribuição dos diferentes componentes da paisagem em uma propriedade sem área de mata. Adaptado a partir do mapa desenhado proprietário do lote, no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. ......................... 81 Figura 21. Esquema da adaptabilidade e distribuição da paisagem e os usos do solo no sistema de produção no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO .................................................................................................................................. 88 Figura 22: Ilustração da mata como componentes da Paisagem no assentamento Nossa Senhora Aparecida, município Pequizeiro-TO. ............................................................... 89 Figura 23: Ilustração do brejo como componentes da Paisagem no assentamento Nossa Senhora Aparecida, município Pequizeiro-TO. ............................................................... 90 Figura 24: Ilustração do pasto como componentes da Paisagem no assentamento Nossa Senhora Aparecida, município Pequizeiro-TO. ............................................................... 91 Figura 25: Ilustração do curral como componentes da Paisagem no assentamento Nossa Senhora Aparecida, município Pequizeiro-TO. ............................................................... 92 Figura 26: Ilustração dos quintais e seus diferentes usos pelas famílias no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. Figuras A e B......................... 93 Figura 27: Ilustração dos terreiros e formas de utilização deste componente de paisagem pelas famílias no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO ........ 94 Figura 28: Ilustração das hortas cultivadas pelas famílias no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. ....................................................................... 95 Figura 29. Distribuição das espécies de plantas pela sua utilização pelas famílias no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, Município de Pequizeiro – TO........................ 99 Figura 30. Quantidade de espécies plantas encontradas nas propriedades com maior e menor área de mata no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, Tocantins. n=160 ............................................................................................................................. 101 Figura 31. Coleta das plantas endêmicas nas áreas de mata para classificação taxonômica no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, Tocantins. ... ........... 102 Figura 32. Quantidade de espécies faunísticas nas propriedades com maior e menor área de mata encontradas no Assentamento Nossa Senhora Aparecida. Pequizeiro, Tocantins, n= 106 ....................................................................................................................................... 120 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APP – Área de Preservação Permanente COOPEFAPER – Cooperativa de Produção e Comercialização dos Agricultores Familiares de Pequizeiro e Região Ltda. IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INPA – Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia MST – Movimento dos Sem Terra NATURATINS – Instituto de Natureza do Tocantins ONG – Organização Não Governamental PDA – Plano de Desenvolvimento de Assentamentos PRA – Plano de Recuperação de Assentamentos PRONAF – Programa Nacional para Agricultura Familiar SAF’s – Sistemas Agroflorestais STR’s – Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais TAC – Termo de Ajuste de conduta SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 18 HIPOTESE .................................................................................................................... 20 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................... 20 OBJETIVOS ESPECIFICOS .......................................................................................... 20 1 CAMINHOS TEÓRICOS DA PESQUISA............................................................... 22 1.1. Agricultura Familiar: Diversidade das unidades de produção. .................................. 23 1.2. Etnoconhecimento: Conhecimentos dos agricultores familiares sobre o ambiente .... 25 1.3. Biodiversidade: Diversidade biológica e ecológica na agricultura familiar................ 28 2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA.................................. 30 2.1. Abordagem da Pesquisa ........................................................................................... 30 2.2. Métodos da Pesquisa... ............................................................................................. 31 2.3. Técnicas de Pesquisa de Campo ............................................................................... 33 2.4. Técnicas de Análise dos dados ................................................................................. 35 3. ÁREA DE ESTUDO ................................................................................................. 37 3.1 O Município de Pequizeiro: Histórico, Localização e Ambiente. .............................. 37 3.2 O Assentamento Nossa Senhora Aparecida: Localização, Histórico e Ambiente. ...... 38 3.2.1 Localização do Assentamento.......................................................................... 38 3.2.2 Histórico do Assentamento. ............................................................................ 41 3.2.3 O Ambiente..................................................................................................... 42 3.2.3.1 Recursos Hídricos .................................................................................... 44 3.2.3.2 Característica do solo ............................................................................... 45 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................ .46 4.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIO-ECONOMICA E CULTURAL DOS AGRICULTORES FAMILIARES ................................................................................................................ 46 4.2 RELAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS NAS PRÁTICAS DE TRABALHO DOS AGRICULTORES FAMILIARES .................................................................................. 54 4.2.1 Agricultores Familiares: Práticas Produtivas e Formas de Trabalho ................. 57 4.1.1.1 Organização da produção .................................................................... 57 4.1.1.1.2 Pecuária ........................................................................................... 59 4.1.1.1.3 Agricultura ...................................................................................... 64 4.1.1.1.4 Apicultura e criação de pequenos animais. ....................................... 73 4.2.2 Formas de Trabalho......................................................................................... 77 4.3 SABERES AMBIENTAIS LOCAIS ......................................................................... 83 4.3.1 As Unidades de Paisagem Locais e seus diferentes usos .................................. 85 4.3.2 Etnobotânica das Espécies .............................................................................. 96 4.3.3 As Espécies de Fauna: Diversidade.................................................................. 119 4.4 AGRICULTURA FAMILIAR E BIODIVERSIDADE.............................................. 128 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 141 6 RECOMENDAÇÕES ............................................................................................... 147 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 148 8 ANEXOS ................................................................................................................... 152 18 INTRODUÇÃO Ao estudar assentamentos rurais, não podem deixar de lado o debate em torno da questão agrária no Brasil. A posse de terra no Brasil sempre esteve relacionada ao poder econômico e controle social da classe dominante. O direito à terra foi negado durantes séculos aos milhares de trabalhadores rurais deste País. A partir da década de 50 surgiu à organização dos trabalhadores rurais, chamada de Liga Camponesa cujo lema era “Reforma agrária na lei e na Marra”, o objetivo era pressionar o governo e aglutinar forças para a implantação da reforma agrária no Brasil. Neste mesmo período foi instalada a ditadura militar e com ela a repressão de toda organização social. A partir do final da década de 70, inicia-se um novo processo de reorganização dos movimentos de trabalhadores rurais sem-terra em Santa Catarina, apoiados pela Igreja Católica, criando assim, o MST. Logo este movimento se espalhou por todo o país, ganhando novo fôlego, para pressionar o Estado fazer a reforma agrária, usando como estratégia as marchas e ocupações de prédios públicos e latifúndios improdutivos, que não cumprem a sua função social, para pressionar o governo a negociar e chamar a atenção da população para o problema dos conflitos de terra no Brasil. É neste contexto de conflito no campo que na década de 80 vão surgindo os primeiros assentamentos rurais no Brasil. No Estado do Tocantins, os conflitos mais conhecidos foram no Bico do Papagaio, gerado a partir dos confrontos entre pecuaristas apoiados pelo estado e posseiros que viviam na terra há vários anos na região. 19 No Estado do Tocantins existem atualmente 353 assentamentos rurais em torno 22 mil famílias assentadas1 o que implica uma população aproximada de 110 mil pessoas, representando 8,8% da população do Tocantins. Outra região que ficou marcada pelos conflitos de reocupação da terra foi à região do Vale do Juari, lugar de latifúndios improdutivos que ficavam situados entre os municípios de Colinas do Tocantins, Pequizeiro e Couto Magalhães. Estes conflitos tinham de um lado trabalhadores rurais (apoiado pelo STR’s e Setores da Igreja Católica) e do outro, os fazendeiros que tentavam resguardar os direitos a propriedade através do apoio da polícia militar e de pistoleiros fortemente armados. Segundo Bergamasco e Norder (1996, p.2) o termo assentamento começou a ser cunhado a partir dos anos 60 pela população rural que vinha sendo expulsa do campo para os centros urbano devido uma série de fatores como ausências de políticas públicas para o campo, incentivo do próprio estado para a migração para as cidades e a grilagem de terra. Os assentamentos rurais são entendidos por Bergamasco e Norder (1996, p.7) como novas unidades de produção agrícola, por meio de políticas governamentais visando o reordenamento do uso da terra, em beneficio de trabalhadores rurais, ou seja, é a forma de acesso e democratização da terra àqueles que historicamente foram alijados dos projetos de desenvolvimento do país e que historicamente, muitas vezes foram diretamente prejudicados por tais projetos. As populações que vivem no campo e as “assentadas”, que são foco deste trabalho também denominado de agricultores familiares, vivem em assentamentos rurais possuem saberes e conhecimentos sobre o ambiente em que vivem e uma racionalidade cultural, produtiva e ambiental própria que são materializadas nas suas práticas produtivas. 1 Dados do INCRA-Tocantins -2008 20 Observa-se que nas ultimas décadas a proposta de desenvolvimento para a produção agrícola, implantada nos assentamentos rurais por meio das políticas públicas gera conflitos com o modus operandi (Bourdieu 2000: 349) dos agricultores familiares. Os assentamentos rurais estão passando por fortes pressões econômicas externas advindas do modelo de desenvolvimento para agricultura que é pautado na racionalidade econômica e na maximização da exploração dos recursos naturais. Estas orientações globais do capital incidem diretamente no local, sobre a cultura dos agricultores familiares. Este modelo está voltado para uma lógica produtiva de promover a inserção dos “assentados” no sistema capitalista, ou seja, o lucro. A questão da preservação ambiental e sustentabilidade entraram recentemente na pauta de discussão dos órgãos governamentais responsáveis pela política de reforma agrária. Portanto, esta demanda lança-nos desafio de pensar em políticas agrícolas e agrárias sustentáveis para os assentamentos rurais, incluindo assim, estas populações nas pautas de discussões nacional, pois afinal, também são elas as responsáveis pela sobrevivência de grande parcela de pessoas e pela manutenção da agrobiodiversidade do nosso País. A hipótese que se levanta nesta dissertação é a de que os conhecimentos sobre as plantas e sua utilização nas relações de trabalho dos agricultores familiares contribuem para a conservação da biodiversidade no assentamento rural Nossa Senhora Aparecida. Neste sentido, o objetivo geral da dissertação foi analisar a relação dos saberes dos agricultores familiares com a conservação da biodiversidade no Assentamento Nª Senhora Aparecida, buscou-se, portanto, constituir os seguintes objetivos específicos: Identificar as relações socioambientais de trabalho no cotidiano do assentamento; Inventariar as plantas e suas práticas de utilização no assentamento e Descrever as relações de trabalhos e o uso das plantas e suas contribuições para a biodiversidade local. 21 Este assentamento foi escolhido devido ao seu tempo de constituição, pois foi criado há duas décadas, portanto as famílias podem evidenciar saberes que são utilizados no seu cotidiano. Estudou-se um grupo de 12 agricultores familiares. Estas famílias foram escolhidas pela a sua diversidade sociocultural, econômica, produtiva e ambiental apresentada. O local estudado trata-se de uma região marcada pela forte pressão da atividade pecuarista e pela presença significativa da agricultura familiar em vários assentamentos de reforma agrária, com famílias oriundas de vários lugares e diferentes situações de posse da terra (ocupação compra da posse e usufruto). 22 1. CAMINHOS TEÓRICOS DA PESQUISA A pesquisa buscou um aporte teórico que pudesse nortear as questões postas neste trabalho: a caracterização do tipo de agricultores que vivem no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, como estes agricultores compreendem o ambiente em vivem e de que modo organizam os diferentes espaços, a partir dos seus conhecimentos nas práticas de trabalho e seus saberes sobre as plantas endêmicas e exóticas. O pano de fundo deste trabalho é com base nos estudos da Etnociências, que tem o objetivo aproximar as ciências sociais e as ciências naturais. Portanto, optou-se em fazer um recorte epistemológico que pudesse explicar os aspectos das populações rurais que estavam intrinsecamente relacionadas com ambiente, como a exploração agrícola e o cultivo de plantas e animais. Nas populações rurais, a forma de sobrevivência e de produção econômica está diretamente relacionada com o uso da terra. Dependentes, portanto das intempéries da natureza, essas populações desenvolvem estratégias para diminuir as inseguranças dos resultados agrícolas em sua propriedade. Logo, a finalidade deste trabalho foi levantar questões que viessem a responder se as famílias do assentamento escolhido possuem práticas que contribuem para a conservação ambiental, do/no assentamento. Ao final deste estudo, pretende-se fazer algumas sugestões para minimizar possíveis impactos negativos sobre o ambiente decorrentes das ações destas famílias. Assim, foi feito uma caracterização da área de estudo partir de dados secundários e primários sobre os aspectos históricos, geográficos, demográficos e ecológicos da área. Com base nestes dados buscou-se entender as formas de ocupação do espaço social, produtivo e ambiental no assentamento. 23 Descreveremos em seguida o percurso teórico deste trabalho, bem como as estratégias da pesquisa de campo desenvolvidas no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, no Município de Pequizeiro-TO. 1.1. AGRICULTURA FAMILIAR: DIVERSIDADES DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO Com o objetivo de entender melhor a organização produtiva e econômica do assentamento, bem como, suas relações com ambiente, identificou-se na literatura disponível sobre agricultura familiar, uma concepção da exploração familiar que se aproximasse da realidade vivida na pesquisa de campo, bem como, um conceito que explicasse a complexidade de tipos de agricultores que vivem em assentamentos de reforma agrária, e em especial os agricultores do Assentamento Rural Nossa Senhora Aparecida. O debate sobre agricultura família não é novo e é contornado por divergentes concepções. Apresentamos alguns autores e as variadas concepções sobre a exploração familiar e concomitante o agricultor familiar. Autores de renome no meio acadêmico fizeram à previsão do fim da produção familiar, (Guimarães, 1963); (Sodré, 1962); (Mendras, 1967); (Tchayanov,1972); (Sanroni, 1980). Outros vêem este seguimento como elemento funcional à produção capitalista para produzir alimentos mais baratos e satisfazer as necessidades da sociedade como um todo, (Oliveira, 1973); (Santos, 1978); (Abramovay, 1992). Alguns estudiosos como (Silva, et al.,1983); ( Prado Junior, 2005) argumentam que no processo de integralização do agricultor familiar aos sistema capitalista no campo, estes se 24 tornarão uma espécie de assalariado rural disfarçado, já que trabalham em sua propriedade mas com controle da empresa capitalista. Porém, há, portanto dois autores, que merecem ser citados nesta breve revisão de literatura, (Wanderley, 1985) e (Martins, 2002), ambos abordam a questão da autonomia da unidade de exploração familiar. Para estes autores, o agricultor familiar não é dependente das decisões capitalista, eles possuem autonomia para tomar decisão sobre o que produzir e para quem vender, já que, são proprietários dos meios de produção que é a terra. Buscou-se neste trabalho para classificar os agricultores do Assentamento Nossa Senhora Aparecida, como familiares, utilizar o conceito de Lamache (1997), já que esse possui uma visão sistêmica da agricultura e seu conceito abarca as diversidades de exploração familiar agrícola. Segundo o autor: Agricultura faz apelo a grupos sociais limitados que tem em comum associar estreitamente família e produção, mas que se diferenciam uns dos outros por sua capacidade de se apropriar dos meios de produção e de desenvolvê-los... a agricultura familiar não é um elemento da diversidade, mas contém nela mesma, toda a diversidade.. (LAMARCHE, 1997, p. 15-18). Na agricultura familiar há várias formas de unidade de produção organizadas e executadas pelos membros da família extensa ou nuclear, que não podem ser abrangidos por um único modelo ou numa mesma categoria de agricultores. As formas de exploração agrícola serão definidas pelas possibilidades e condições de produção do agricultor familiar como tamanho da área, tecnologia, capacidade técnica e financeira do agricultor. Assim, continua Lamache (1997. p.23-24) Compreender seu funcionamento significa colocar em evidencias as diferentes lógicas em função das quais o explorador determina suas escolhas fundamentais. Há agricultores familiares que estão totalmente inseridos no mercado capitalista e que a propriedade é uma empresa familiar rural a exemplo dos agricultores familiares no entorno da cidade de Unaí - MG, que são plantadores de soja. Há também aqueles que apesar 25 de estarem de certa forma, ligados ao mercado capitalista, o que prevalece ainda é a reprodução familiar, como é o caso dos agricultores familiares das áreas de assentamentos rurais no município de Pequizeiro - TO. A exploração familiar, tal como é concebida, concebemos, corresponde a uma unidade de produção agrícola onde propriedade e trabalho estão intimamente ligados à família (LAMARCHE, 199, p. 15). As teorias de Lamarche reforçam a análise de que os agricultores que são objeto deste estudo se caracterizam como familiares, visto que, apesar de viverem em um assentamento de reforma agrária, onde há uma orientação do INCRA de produzir para mercado capitalista, aproximadamente 83% destes agricultores utiliza no seu sistema produtivo o trabalho familiar e seu foco é a garantia da sobrevivência da família. 1.2. ETNOCONHECIMENTO: PERCEPÇÃO DOS AGRICULTORES FAMILIARES SOBRE AMBIENTE Para entendermos melhor o conhecimento que esses atores sociais possuem sobre a biodiversidade local, baseou-se no estudo da etnociências. A partir da década de 50, Steward desenvolveu a abordagem multidisciplinar da antropologia ecológica para estudar as populações humanas dentro dos ecossistemas. Para Móran (1994), nesta abordagem, elemento central era o processo de utilização dos recursos. Os pesquisadores que começaram a utilizar o método ecológico-cultural para estudar a cultura e não o ambiente ou relação entre ambos, não passavam, portanto, de antropólogos culturais. A preocupação com esta abordagem é que ela pretendia ser “ecológica”, mas na verdade tinha foco nos fatores culturais. 26 Continua Móran (1994), esta abordagem passou a ser aplicada a estudos das relações homem/habitat, ou seja, a relação dos componentes num sistema ecológico. Para alguns cientistas o conceito de ecossistemas apresenta resposta mais satisfatória à questão da adaptabilidade humana-física, cultural e comportamental, do que as análises do comportamento/ estrutura de Steward (1994, p 91). A partir dos anos 60, apareceu no campo da etnolingüística estudos sobre as percepções que os grupos humanos possuem sobre o ambiente e como os indivíduos organizam essas percepções pela linguagem. Surge então a etnociência, com as suas subciências como a etnobotânica, etnoecologia e etnozoologia. Pesquisas etnoecológicas buscam compreender como as pessoas percebem o seu ambiente e como organizam estas percepções (Frake, 1961 apud Móran, 1994). Esta abordagem tem como foco o estudo de como os nativos fazem classificação do mundo que os cercam. Ou melhor, que conhecimento possui sobre as plantas, animais, insetos, tipos de solos enfim, do lugar em que vivem e de que forma este conhecimento interfere nas suas relações com o ambiente. Estes preceitos teóricos metodológicas estão baseados nas populações humanas e seu ambiente físico. Segundo Noda (2004, p. 35), ao estudar a relação homem/natureza, busca-se apoio na ecologia humana, visto que, a antropologia e sociologia não dão respostas às essas interações, por não perceber o homem como entidade social e cultural no ambiente. Essas interações, alvo do estudo da ecologia humana, estão relacionadas com os sistemas de crenças e adaptação do homem a diferentes ambientes, assim como, as conseqüências destas interações. Para Móran (1994), os processos de adaptação ao ambiente não é garantia de estabilidade no sistema. Pois, esta questão está relacionada com a capacidade reguladora que as populações humanas possuem para fazer ajustes físicos (utilização do solo, fluxo de energias, termorregulação), culturais (conhecimento sobre as construções de habitações, 27 estilo de vestuário, tecnologia rituais) e sociais (formas de organização social e econômica) que garantam equilíbrio no ecossistema. Ao estudar os conhecimentos e saberes que os agricultores familiares do Assentamento Nossa Senhora Aparecida possuem sobre o ambiente, adquiridos através das gerações e a partir das relações sociais endógenas, fomos reportados para os preceitos teóricos e metodológicos do etnoconhecimento que foram sistematizados pela e na etnoecologia. A Etnoecologia possui duas vertentes, uma cognitivista e outra adaptacionista. A primeira faz parte dos estudos da Etnobiologia de Porsey (1987 apud Diegues 2001, p.21) que está relacionada ao estudo do papel da natureza no sistema de crenças e de adaptação do homem a determinados ambientes, enfatizando as categorias e conceitos cognitivos utilizados pelos povos em estudo. Portanto, procura entender como as populações percebem o ambiente e como o organizam, a partir do uso que lhe são feitos. Este ramo de estudo parte do pressuposto de que todas as populações possuem sistema único de perceber e organizar as coisas, os eventos e comportamentos. A segunda vertente está baseada dos estudos de Móran (1994, p. 25), sobre a Adaptabilidade Humana e tende a enfatizar a flexibilidade da reação humana frente ao ambiente (...) trata mais de problemas específicos enfrentados pelos habitantes de diversos meios ambientes do que do ambiente propriamente dito. Esta abordagem busca estudar as repostas que organismos humanos ou não, dão frente a uma situação de estresse como: frio extremo, baixa produtividade biológica, escassez de água, enfim ao limite ambiental. Os estudos baseados na Etnoecologia possibilitam desenvolver instrumentos para entender como umas populações percebem, classificam e utilizam os recursos naturais existentes. Nesta pesquisa nos baseamos nas duas abordagens da etnoecologia para dar conta de explicar a complexidade ambiental envolvida na pesquisa. Da abordagem cognitivista 28 busca-se entender os saberes que os agricultores familiares possuem sobre o ecossistema e como classificam e organizam o ambiente. Foi dada ênfase na forma que estes organizaram as unidades de paisagem e como estes moradores percebem e utilizam os diferentes componentes vegetais nos diferentes ambientes existentes. Da abordagem adaptacionista, procuramos entender os processos adaptativos que as famílias desenvolveram desde que chegaram ao assentamento e como estão enfrentando os estresses ambientais que porventura vieram aparecer nestas duas décadas. 1.3 BIODIVERSIDADE: DIVERSIDADE ECOLÓGICA, SOCIAL E CULTURA NA AGRICULTURA FAMILIAR. Pretendendo analisar as práticas de trabalho dos agricultores familiares e sua relação com a conservação da diversidade ecológica local, apoiamo-nos no conceito de biodiversidade. A abordagem de biodiversidade possui também diferentes conceitos e por muito tempo ficou restrita a definição da variedade de ecossistemas marinhos, terrestres e aquáticos, bem como, relacionados às questões ecológicas. Esta definição de biodiversidade faz parte de correntes da ecologia definidos como conservacionistas e preservacionistas, que estuda os habitats, mas não percebe o homem fazendo parte deste ambiente. Por longo tempo, a idéia de preservação ou conservação dos recursos naturais estava ligada à retirada dos grupos humanos de dentro de determinados ecossistemas, como por exemplo, a criação dos Parques Nacionais. A partir da década de 60, foram surgindo vários ramos da ecologia como a etnobotânica, e etnobiologia, este conceito foi se ampliando. Atualmente o conceito de biodiversidade não está restrito as questões ecológicas, mas também à diversidade social e cultural existente nos ecossistemas. Dessa forma, neste estudo faremos uso do conceito 29 anunciado por Diegues e Arruda (2001, p.21), sobre a biodiversidade como sendo não apenas biológico, mas também, (...) relativo à diversidade genética de indivíduos, de espécies ou de ecossistemas (...) é o resultado de práticas, muitas vezes milenares, das comunidades tradicionais que domesticam espécies, mantendo e aumentando como em alguns casos, a diversidade local. Este conceito norteará o entendimento sobre a diversidade ambiental existentes no assentamento rural Nossa Senhora Aparecida, no que se refere à identificação das relações socioambientais de trabalho e das plantas existentes e como este dois fatores interferem nas diferentes formas de vida existente neste assentamento. A biodiversidade está vinculada não apenas na relação dos agricultores familiares com a natureza, mas também, quais os conhecimentos e saberes que ainda preservam na sua relação com a diversidade de vida local, como uso da terra, formas de produção, instrumentos utilizados, manejo e uso das plantas nas suas relações de trabalho. Buscamos analisar a importância prática dos saberes sobre plantas dos agricultores familiares para a conservação da biodiversidade, bem como entender que significados estes saberes possuem na vida cotidiana destas pessoas. Enfim, o que pretendemos neste estudo foi analisar como o modus vivendu dos agricultores familiares afeta a biodiversidade local. 30 2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA 2.1 ABORDAGEM DA PESQUISA. Para a operacionalização da pesquisa, analisaremos o fenômeno estudando do ponto de vista da abordagem sistêmica definida por Morin (2002, p. 265), como um conjunto de ações dentro de um sistema que interagem entre si e retroagem sobre o todo e que se autoregula. Entendemos que os fenômenos socioambientais não acontecem de forma isolada, eles estão correlacionados com outros aspectos endógenos e exógenos ao assentamento como as questões políticas, econômicas, culturais e ecológicas. Segundo Morin (2002, p. 272), para analisar o fenômeno, tem-se que ver as partes com relação ao todo e do todo com relação às partes na ótica da complexidade. Ou seja, em um sistema não só as suas unidades ou particularidades a partir da sua totalidade, mas é também constituído de uma diversidade interna que agem entre si e que age sobre o sistema como um todo. A abordagem proposta por Morin ajudará a pensar e analisar o assentamento como um sistema que possui uma diversidade ambiental e sócio-cultural interna que é preciso ser estudado se quisermos entender a correlação desta parte do ambiente como um todo. Só entendendo estas particularidades, poderemos desentranhar a complexidade existente no assentamento. Esta abordagem teórica apoiará na forma descrever os dados sobre os saberes dos agricultores familiares e ajudara a identificar as ligações causais entre estes saberes e a biodiversidade do assentamento. 31 2.2. MÉTODO DA PESQUISA. O método utilizado nesta pesquisa será com base na teoria de Yin sobre o Estudo de Caso. Segundo Yin (2005, p. 28) utiliza-se o estudo de caso quando fazemos perguntas do tipo “como” e “por que” para entender fenômenos atuais ou quando o pesquisador tem pouco ou nenhum conhecimento o assunto pesquisado. O Estudo de Caso é o método que busca preservar as características holísticas e significativas da vida real. Pode-se utilizar o Estudo de Caso nas estratégias para estudo exploratório, descritivo ou explanatório. Para utilizar cada uma dessas estratégias é preciso três condições: a) o tipo de questão de pesquisa proposta, b) a extensão de controle que o pesquisador tem sobre eventos comportamentais atuais, c) o grau de enfoque em acontecimentos contemporâneos em oposição a acontecimentos históricos. Conforme o autor, no método Estudo de Caso é necessário considerar pelo menos cinco importantes componentes: 1) as questões de estudo, no caso deste projeto, - Quais são as práticas de trabalho no assentamento? E qual a relação destas práticas com o ambiente. - Quais são as plantas conhecidas nos diferentes ambientes e para que são utilizadas? E como ocorre a transmissão cultural dos saberes sobre ambiente em que vivem essa população? - Qual a importância prática e simbólica dos saberes sobre plantas dos agricultores familiares para conservação da biodiversidade 2) suas proposições, se houver. As proposições deste estudo são: - Os conhecimentos, técnicas e meios de produção utilizados pelos agricultores familiares permitem estabelecer uma relação integrada com meio ambiente. 32 - Os conhecimentos sobre as plantas, manejo e técnicas são transmitidos oralmente através de habitus adquiridos socialmente pelos agricultores familiares, - O reconhecimento e valorização da contribuição desses saberes na conservação da diversidade biológica e sócio-cultural nos estimulam a pensar em políticas públicas sustentáveis para os assentamentos rurais. 3) suas unidades de análises. Analisaremos as seguintes categorias ou unidades: Agricultores Familiares, Etnoconhecimento e Biodiversidade. 4) a lógica que une os dados às proposições, (hipóteses) ou seja, como os conhecimentos sobre as plantas e sua utilização nas relações de trabalho dos agricultores familiares contribuem para a conservação da biodiversidade no assentamento rural Nª Senhora Aparecida . 5) os critérios para interpretar as constatações. Os critérios utilizados para interpretar e explicar os dados serão os da abordagem qualitativa utilizando estratégias analíticas da descrição de dados que tem por finalidade desenvolver uma estrutura descritiva sobre as questões identificadas no campo, a fim de organizar o estudo de caso. O tipo de estudo de caso escolhido é estudo de caso múltiplo, uma vez que, apesar de ser um único assentamento estudado, a pesquisa envolve três variáveis – praticas produtivas, conhecimentos e uso de plantas e a interação entre estes elementos. Assim como também a pesquisa envolve três categorias de analises – agricultura familiar, etnoconhecimento e agricultura familiar. Conforme Yin, a utilização de projetos de casos múltiplos deve seguir a lógica da replicação. (2005, p. 71). Ou seja, deve, portanto selecionar os agricultores familiares a partir do momento que as informações convergem ao conjunto “completo” de evidências e respondem ao fenômeno estudado. 33 Desta forma não escolhemos um grupo de agricultores familiares por amostragem, mas a partir da lógica da replicação do fenômeno em outras propriedades. Segundo Yin, se usarmos a lógica da amostragem estaremos direcionando mal o estudo de caso. Assim argumenta o autor: (...) pois, em primeiro lugar o estudo de caso não deve ser utilizado para avaliar a incidência de fenômenos; em segundo lugar, o estudo de caso teria que tratar tanto do fenômeno de interesse quanto de seu contexto, produzindo um grande número de variáveis potencialmente relevantes e em terceiro lugar, se a lógica da amostragem tivesse de ser aplicada a todos os tipos de pesquisa, muitos tópicos não poderiam ser empiricamente investigados. Só é possível de executar o estudo seguindo a lógica da replicação. 2.3 TÉCNICAS DA PESQUISA DE CAMPO. O assentamento rural Nossa Senhora Aparecida possui 25 famílias assentadas, sendo que, os critérios de seleção das famílias, para as entrevistas foram, por tempo que moram no assentamento (década de 80, 90 e do ano de 2000 em diante), as diferenças nas práticas de trabalho (agricultura diversificada e exploração da pecuária), como também, diversidade de Ambiente (mata, pasto, roça, quintal, terreiro), pois assim poderíamos entender a diversidade de sociocultural, econômica, produtiva e ambiental nas diferentes propriedades. As famílias de agricultores foram identificadas para entrevistas a partir destas características, através de uma reunião com associação de produtores do assentamento. Foram convidadas a fazer parte da pesquisa doze famílias, sendo representadas pelos cônjuges. Todas as pessoas entrevistadas moram no assentamento, das doze famílias, quatro compraram o lote na década de 90 e a partir do ano de 2000, oito famílias ocuparam área. Destas, quatro famílias possuem maiores áreas de mata e quatro famílias que possuem menores áreas de mata e estas famílias ainda praticam a policultura. Após a identificação das famílias pelas características descritas acima, foram visitados conforme agendamento das entrevistas. 34 Fizemos uso também das seguintes técnicas: Entrevistas semi-estruturadas: - Identificar a história do assentamento, origem das famílias, as práticas produtivas e o conhecimento das plantas existentes; Observação direta - Entender as formas de apropriação e organização dos componentes da propriedade, a diversidade de saberes e origem destes saberes transmitidos aos agricultores familiares. Mapas falantes - Construídos pelos agricultores para definir os vários ambientes de suas propriedades e seus diferentes usos e conhecimentos sobre o uso Exsicatas - Coletar as folhas, frutos, sementes e flores das plantas que não foram identificadas pelas bibliografias de botânicas, bem como, aquelas que são típicas da região. Diário de Campo – Anotar as impressões, indagações, dúvidas que ocorreram durante o trabalho de campo. Outras fontes de evidências como: Relatórios de diagnósticos anteriores sobre o local de estudo, fotografia, gravador. Para operacionalização do trabalho de campo foram feitas quatro visitas de campo nas propriedades dos agricultores: Primeira visita - levantamento sobre: Dados pessoais da família - Nome, idade, sexo, escolaridade, etc.. História de vida das famílias - Onde nasceu, o que fazia antes de ir para o assentamento, porque mora no assentamento, quanto tempo mora no assentamento, etc.. História do assentamento - Como foi o processo de ocupação, como era o assentamento quando chegaram, quais as dificuldades enfrentadas, tamanho da propriedade etc.. 35 Práticas produtivas - Tipos de ambientes, cultivos agrícolas, tamanho da área, finalidade, variedades plantadas etc.. Criação de animais - Tipos de animais, raça, quantidade, finalidade, forma de criação, manejo. Fauna e flora silvestre: nome, freqüência, local etc... Segunda visita: Identificação das plantas por ambientes: nome, conhecimento do uso, parte utilizada, freqüência, local encontrada, tipo de doença para que serve a planta, como adquiriram estes conhecimentos e a origem das sementes. Terceira visita: Fazer exsicatas: – coletas de plantas não identificadas e das plantas típicas da região. As espécies duvidosas foram identificadas no herbário do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia-INPA. Quarta visita: Referendar algum dado que ficou faltando. 2.4 TÉCNICAS DE ANÁLISE DOS DADOS No trato dos dados, foram utilizadas as análises Qualitativa, Descritiva e Análise do Discurso. A primeira é utilizada segundo Bogdan e Biklen (1982) apud Ludke e André (1986, p.13) quando enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes. Ou seja, busca entender o processo de adaptação dos agricultores familiares no assentamento bem como, captar o saberes que estes possuem sobre o ambiente. 36 A segunda descreverá as diferentes formas de apropriação dos recursos naturais no assentamento, bem como seus aspectos socioculturais e ambientais. Para subsidiar está estratégia de análise faremos de uso das técnicas de análise dos “memes”, entrevistas semiestruturadas, observação direta e mapas falantes. A teoria do memes foi desenvolvida por Dawkins, a partir de uma analogia entre os genes e memes. Segundo o autor, os genes são os maiores replicadores genéticos da evolução no nosso planeta, assim como considera os memes, como novo tipo de replicadores, que surgiu recentemente neste mesmo planeta e que está flutuando ao sabor da corrente no seu caldo primordial, que é o caldo da cultura humana. Segundo Dawkins (2007, p. 330) , assim como os genes que se reproduzem no pool gênico se multiplicando através dos espermatozóides ou dos óvulos, os memes também se propagam no pool de memes se reproduzindo de um processo que, pode ser chamado de imitação, através da transmissão cultural. Para entender os memes, faremos uso da terceira análise, o discurso ou hermenêutica, que segundo Fazenda (2004, p. 100) consiste em captar o significado dos fenômenos, saber ou desvendar seu sentido ou seus sentidos. Esta técnica auxiliará na compreensão dos discursos, gestos, ações, palavras dos agricultores familiares, para perceber os significados materiais e simbólicos de seus saberes sobre o ambiente em que vivem. Foram usadas ainda outras fontes de evidências como relatórios de diagnósticos anteriores sobre o local de estudo, diário de campo, fotografia, gravador e exsicatas. 37 3. A ÁREA DE ESTUDO 3.1 O MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO: HISTÓRICO, LOCALIZAÇÃO E AMBIENTE. O Município de Pequizeiro está localizado no Estado do Tocantins entre as bacias hidrográficas dos rios Tocantins e Araguaia. Sua localização mais precisa é na região do Alto Araguaia, Amazonas-Tocantins. O município surgiu após as descobertas de garimpos de cristal nas décadas de 40 e 50, onde, em 1944 existia na comunidade uma parada denominada “Pousada de Pequizeiro”, devido os viajantes usarem um alto e frondoso pé de pequi, ponto para espera de condução para dirigir-se a outras localidades, dando origem ao nome do município. O município de Pequizeiro localiza-se a uma latitude 08º35’37” sul e a uma longitude 48º56'03" oeste, estando a uma altitude de 283 metros. Sua população estimada em 2008, segundo os dados do IBGE, 4.940 habitantes, sendo que 50% da sua população reside na zona rural, a maioria vivem em 07 assentamentos de reforma agrária. O municipio possui uma área de 1229,99 km² e está a uma distância em torno de 280 Km de Palmas, capital do Tocantins, na região “Centro-Norte” do Estado, pertencente à VI Região Administrativa e à microrregião de Colinas do Tocantins e fazendo limites com os municípios de Couto de Magalhães, Colinas do Tocantins, Itaporã, Colméia, Bernardo Sayão, Arapoema, Bandeirantes, Brasilândia, Juarina, Pau D’arco, Presidente Kennedy e Tupiratins. (Atlas do Tocantins, 2003). De acordo com dados do Atlas do Tocantins (2003), o município encontra-se na região climática B1wA’a’, apresentando clima tropical alternadamente úmido e seco, com evapotranspiração potencial média anual entre 1.400 mm e 1.700mm, distribuindo-se no 38 verão em torno de 390 mm a 480 mm ao longo dos três meses consecutivos com temperatura mais elevada. A temperatura média anual varia de 25 a 27°C. A precipitação pluviométrica média anual é de 1.900 a 2.000 mm, com período chuvoso entre os meses de outubro a maio. A região do município de Pequizeiro compreende áreas formadas por solo do tipo areno-argiloso variando entre profundos a pouco profundos, com perfis permeáveis e pequenos diferenciações entre horizontes. Ocorrem normalmente em relevos ondulados (8 a 20% de declive). A ecodinâmica da paisagem é de transição (pedogênese - morfogênese). Os processos de escoamento superficial são difusos e lentos e com ocorrência de tipo concentrado. (25.083,8 km², 90%). 3.2. O ASSENTAMENTO NOSSA SENHORA APARECIDA: LOCALIZAÇÃO, HISTÓRICO E AMBIENTE. 3.2.1 Localização do Assentamento A pesquisa foi realizada no Assentamento Rural Nossa Senhora Aparecida inserida na região denominada Vale do Juari, devido às proximidades do rio Juari. Esta é uma região que nas ultimas décadas vem ocorrendo processos de reocupação das terras pelos agricultores familiares através do Programa Nacional de Reforma Agrária, onde foram implantados 08 assentamentos (figura 2). Esse assentamento encontra-se às margens da TO 335 (Rodovia Transcolinas) que liga o Estado do Tocantins com o estado do Pará, com a distância de aproximadamente 50 Km da divisa entre Pará e Tocantins, a 90 km da sede do município de Pequizeiro, 70 km do município de Colinas do Tocantins e a 305 km de Palmas, capital do Tocantins. 39 Fonte: SEPLAN – TO-2005. Fonte: IBGE, 2002 Latitude 08º 35' 37" S; Longitude 48º 56' 03" W População (2007) 4.799 Fonte: Atlas - TO, (2009) Área: 1.210 Km² Figura 1. Localização, coordenadas geográficas, população e área territorial do município de Pequizeiro, no Estado do Tocantins, Brasil. 40 Figura 2. Distribuição geográfica das áreas de assentamento rural com fins de reforma agrária, implantados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, incluindo o assentamento Nossa Senhora Aparecida com suas coordenadas geográficas, no município de Pequizeiro, TO. 41 3.2.2 Histórico do Assentamento A história do surgimento do assentamento bem como, de seu processo de ocupação, está relatada a partir dos conhecimentos contados pelos moradores. O processo de ocupação inicia-se quando o senhor Dalvino de Araújo Teixeira (Falecido) membro do Sindicato Trabalhadores Rurais de Colinas – STR’s, após saber que a fazenda do General Chichakli era improdutiva, saiu à procura de pessoas que tivessem interesse em adquirir um pedaço de terra para trabalhar. O mesmo convidou várias pessoas para uma reunião no dia 15 de fevereiro de 1986, para uma conversa sobre a ocupação da fazenda Chichakli, para qual, compareceram apenas seis pessoas. No entanto, após alguns meses a ocupação aconteceu com um total de quarenta e duas pessoas, sendo a maioria oriunda do município de Colinas do Tocantins. No período em que permaneceram acampados houve muita perseguição por parte do dono da terra e de fazendeiros vizinhos, para que os agricultores desocupassem a fazenda. A pressão para que as famílias deixassem a terra se deu através de processos, onde oficiais de justiça coletava assinatura dos agricultores para que os mesmo se sentissem intimidados e desocupassem a área. Os delegados regionais do município de Colinas e de Bernardo Sayão, juntamente com policiais colheram depoimentos dos agricultores, como mecanismo de intimidação. No entanto, apesar de todas as ameaças, os agricultores resistiram na terra e não sofreram nenhum despejo. De acordo com os agricultores, no período em que ficaram acampados na fazenda, enfrentaram muitas dificuldades principalmente por falta de transporte, infra-estrutura, falta de recursos financeiros, discriminação, ameaças e a morte de dois agricultores. No processo de resistência e conquista da terra, os agricultores contaram com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Colinas, da Comissão Pastoral da Terra - CPT, que disponibilizou advogados para assessorar os agricultores e da Igreja Católica, que juntos 42 colaboraram na conquista da terra, que hoje é o projeto de Assentamento Nossa Senhora Aparecida. Assim, no ano de 1995 a fazenda Chichakli foi desapropriada pelo INCRA, e criado o Projeto de Assentamento Nossa Senhora Aparecida, com capacidade de assentar 38 famílias, sendo estipulado um módulo de 10 alqueires para cada família, no entanto as próprias famílias optaram pela divisão por acomodação, assim o tamanho de cada unidade de produção é entre 43,2 a 86,4 há, sendo que, entre os entrevistados existem 02 agricultores que possuem 2 lotes. De acordo com os agricultores algumas famílias não se enquadraram nas exigências do projeto de assentamento, não conseguindo a terra, mas a maioria foi beneficiada. O nome do assentamento foi dado por um agricultor, que por ser católico, escolheu o nome de Nossa Senhora Aparecida, que é a padroeira do Brasil, ao falar o nome do assentamento já tá pedindo por Nossa Senhora. ( D.E.S, 53 anos) 3.2.3 O Ambiente O Assentamento Nossa Senhora Aparecida se encontra em uma região de Ecótono, (área de transição do cerrado para floresta). Há 20 anos a região era de mata, hoje às condições atuais do ecossistema encontram-se bastante degradadas, visto que, grande parte da área foi alterada pela ação antrópica (como desmatamento e queimadas). Um alto percentual das matas foi destruído para formação de pastagens e agricultura, isto é reflexo de políticas públicas equivocadas que agem como se os problemas nos assentamento rurais fossem só a distribuição de terras. Os agricultores familiares ficaram desde o ano da ocupação que foi em 1986 à 1995 sem apoio das políticas públicas voltadas para assentamentos rurais, durante este período um 43 alto percentual das matas foi destruído para que as terras fossem utilizadas na agricultura e depois na formação de pastagem para a pecuária, que segundo eles, era necessário pra manter o sustento da família. Portanto, essa ausência do Estado nas áreas de assentamento reflete diretamente nas condições atuais do ecossistema, que está prejudicando o solo de forma geral, provocando assoreamento nas margens dos córregos e erosão em alguns pontos (figura 3-B). Os agricultores relataram que áreas de preservação permanente dentro do Projeto de Assentamento encontram-se parcialmente preservadas, visto que, em alguns pontos as matas ciliares nas margens dos córregos ainda existem, porém em outros pontos os córregos se encontram desprovidos das matas ciliares. De modo geral os agricultores expressam uma grande preocupação com este fato, pois segundo os mesmos as águas dos córregos vem diminuindo gradativamente com o passar dos anos. A B Figura 3. Detalhes da paisagem do Assentamento Nossa Senhora Aparecida, ilustrando área de pastagem (A) e áreas em processo intensivo de erosão, com solo exposto (B), no município de Pequizeiro, TO. Fonte: Equipe PRA/COOPTER-2005 44 3.2.3.1. Recursos hídricos O Projeto de Assentamento Nossa Senhora Aparecida pertence às bacias hidrográficas dos Rios Tocantins e Araguaia, o principal recurso hídrico é Córrego dos Macacos (Figura 4-A) que é afluente do Ribeirão Juari e que deságua no Rio Araguaia. Existem outros córregos menores como o Piau, Sucuri, o Buriti e o Brejão (Figura 4-B) sendo que, todos estes deságuam no Córrego dos Macacos. Praticamente todos os lotes são banhados por estes córregos, exceto alguns lotes que ficam ao leste do Projeto de Assentamento. As águas destes córregos são utilizadas para o consumo de animais na pecuária, na agricultura. Outra forma de aquisição da água dentro do Projeto de Assentamento são as cisternas, utilizadas para o uso doméstico, para o consumo humano e de pequenos animais. Sendo que praticamente todos os lotes possuem cisternas. Alguns lotes possuem represas onde as águas destas são utilizadas para o consumo de bovinos e animais de serviço. Estas represas foram construídas na maioria das vezes através de projetos do PRONAF. A B Figura 4. Características dos recursos hídricos existentes no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, mostrando o Córrego do Macaco (A) e cursos d´água vicinais (B), no município de Pequizeiro, TO. Fonte: Equipe PRA/COOPTER-2005 3.2.3.2 Característica do Solo 45 No assentamento predominam solos do tipo areno-argiloso e o clima é tropical alternadamente úmido e seco. A conservação de solo se dá através do uso e do manejo adequado das suas características químicas, físicas e biológicas, visando à manutenção do equilíbrio ou recuperação das mesmas. Através das práticas de conservação é possível manter a fertilidade do solo e evitar problemas comuns, como a erosão e a compactação causadas pela criação de gado bovino. No projeto de Assentamento Nossa Senhora Aparecida poucos agricultores fazem algum tipo de atividade voltada para conservação de solos. Atualmente 62,97 % dos agricultores não fazem ou desconhecem qualquer tipo de prática conservacionista e apenas 37,03 % fazem alguma prática de conservação tais como, aceiro e a rotatividade de culturas. Em relação às queimadas, consideradas como atividades irregulares, são mínimas e os mesmos já estão conscientizados em relação aos prejuízos que esta prática provoca no solo. 46 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIO-ECONOMICA E CULTURAL DOS AGRICULTORES FAMILIARES. A população do assentamento, no primeiro momento foi formada por grupo de 40 agricultores que conseguiram a terra através do processo de ocupação com apoio dos movimentos sociais rurais (STR e CPT), sendo que estas famílias vieram da região de Colinas do Tocantins. O segundo momento, já foi através da compra do direito a posse, sendo esta mais recente, é formado por um pequeno grupo de 05 agricultores que compraram direitos de posse de moradores antigos que por um motivo ou outro (conflitos internos) não permaneceram no assentamento. Esta população do assentamento rural Nossa Senhora Aparecida, apesar de já viver na região de Colinas do Tocantins no período de ocupação da terra, são na sua maioria oriundas de outros estados: Goiás, Maranhão, Ceará e Pernambuco e de outros estados do nordeste. Estas famílias vieram em buscar de novas oportunidades para sustento de suas famílias. Sobre o perfil da população, em relação ao gênero, a maioria 56 % são mulheres e 43 % são homens. De acordo com a figura 5, pode-se perceber que há heterogeneidade de faixa etária dos membros das famílias entrevistadas acentuando um pouco entre os adultos com idade entre 21 a 50 anos representando 40,9 % das pessoas e de crianças e jovens com 33, 7 %. Apenas 2,3 % dos assentados estão na classe de 30- 40 anos, porque houve uma evasão dos filhos do primeiro grupo de famílias que ocuparam o assentamento. Saíram para estudar 47 nas cidades de médio porte (Colinas, Araguaia e Palmas) ou estão casados e moram em outros assentamentos da região do Vale do Juari. Figura 5. Freqüência de idade dos componentes das famílias entrevistadas no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO (n = 44) O processo de ocupação humana no assentado ocorreu em dois momentos distintos: famílias que ocuparam área e famílias que compraram os lotem. O primeiro grupo, chegou na década de 80 (figura 6), com a implantação do assentamento e o segundo grupo já foi na fase de implementação do assentamento na década de 90 e a partir de 2003. As famílias que compõem este primeiro grupo residiam no município de Colinas do Tocantins correspondendo a 44 % do total das famílias do assentamento. Este primeiro grupo de famílias, veio na sua maioria, dos Estados do Nordeste como Pernambuco, Maranhão, Ceará, Piauí e alguns do Goiás (figura 7) e moram no assentamento há 22 anos. Vieram com seus pais na década de 40, 50 e 70, fugindo da seca ou a procura de melhores terras para plantar e melhorar de vida. O segundo grupo, que são os agricultores que compraram a posse da terra, chegou ao assentamento nos anos 92, 93 e 2003 (Figura 6). São famílias que moravam em Colinas do Tocantins e nos Municípios de Itaporã e Pau D`arco, mas há também que são oriundas do Rio Grande do Sul. Este grupo representa 56 % do total 48 de famílias do assentamento. Observa-se que estas famílias que já passaram por processos de mobilidade urbana. Figura 6. Seqüência cronológica da chegada das famílias e quadro atual da ocupação completa dos lotes no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, no município de Pequizeiro, TO. (n = 12). Figura 7. Distribuição da origem das famílias nos lotes no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, do município de Pequizeiro, TO. (n = 25). Os motivos que levaram as primeiras famílias a venderem seus lotes são os mais variados; ausência de apoio de órgãos governamentais nos primeiros anos de ocupação, conflitos internos (briga de vizinhos, separação de casais), terra era “fraca” (arenosa), compraram lote no assentamento vizinho (Vitória) onde as terras eram melhores e alguns já estavam com idade avançada não tendo força para trabalhar com serviços pesados. 49 As famílias pertencentes ao primeiro grupo relataram que o que os motivou a ocupar a terra foi cassando um jeito de melhorar de vida(...) tinha um sonho de ter um pedaço de terra para plantar (F.V.O 58 anos e P.A.J, 52 anos), pois, trabalharam a vida toda como empregados, meeiros ou arrendatários nas grandes fazendas da região, derrubando mata, plantando roça, fazendo cerca, “batia juquira” (limpar pasto) e também como vaqueiro. Viram na ocupação a oportunidade de acabar com a sujeição ao grande fazendeiro e poder garantir a reprodução social de sua família de forma autônoma, conforme afirma Sr D.E.S de 53 anos,( ...) é difícil um ser humano ter terra e ser livre para tocar sua roça. O assentamento se apresentava então como a única saída para um grupo de trabalhadores que vinham com histórico de vida de exploração do seu trabalho em terras de terceiros desde gerações passadas, não vendo, portanto, perspectivas de nesta condição dar dignidade a sua família e de serem livres para decidir os rumos de sua vida,... porque “gato” não dá camisa pra ninguém. Quem trabalha pro gato, trabalha para três. O gato, o fazendeiro e pra tua família, (R.S.P, 68 anos). Quando ocuparam a terra já haviam acontecido outras duas ocupações na região do Vale do Juari, o assentamento Juarina e Juari, sendo que este último teve conflitos violentos entre os trabalhadores e pistoleiros contratados por fazendeiros para expulsá-los das terras, resultando na morte um trabalhador rural, portanto, as famílias que ocuparam o assentamento estavam dispostas a enfrentar qualquer coisa para ter o sonho de ter seu pedaço de terra realizado. .. veio arriscar até a vida aqui, porque aqui na época ocupação estes lotes que a gente ta aqui foi matado dois trabalhadores que ocuparam o pedaço de terra ... rapaz que tinha comprado uma parte do gerente da fazenda na época da ocupação, os rapaz vieram ocuparam a área e ele veio com pistoleiros e matou os dois rapaz. Ficou esta área aqui que o pessoal não passava pra cá pra nada, porque, ficou meio assombrado que os pistoleiros iam ficar vigiando a área, ai a gente chegou não tinha outra área pra ir, ai a gente arriscou a vida.. já tinha morrido dois e ai a gente entrou na mesma área. (0.T.B, 50 anos). 50 O segundo grupo, que comprou o direito de posse da terra, parte chegou ao assentamento nos anos 90, no período em que este já estava sendo desapropriado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária- INCRA, que decretou a desapropriação em 1995, o outro grupo quando o assentamento já estava consolidado. Alguns são filhos de agricultores familiares medianos que possuem terras na região e que casaram e precisavam de terras para morar com as famílias. Outros eram pequenos comerciantes do município de Colinas, e também são filhos de agricultores familiares. Compraram o lote por que (...) casou precisava começar a vida de família (C.M. S, 31 anos) e também porque (...) gosta de mexer com terra, vim pro assentamento, porque fui criado na roça, é de cultura (A.S.L,.42 anos). Observa-se, portanto, que mesmos as famílias que compraram o lote tem uma relação cultural com a terra, visto que, foram criados no campo e trouxeram consigo os hábitos e costumes herdados de seus pais, como podemos ver nos seus relatos do por que se dedicam a agricultura (...) pela a cultura da família e porque gosta (E.A.I, 50 anos) e porque(...) vem dos pais que eram agricultores, desde berço vem mexendo com a agricultura, sempre morou na roça, nunca morou na cidade. (F.V. O, 58 anos). No período que o assentamento foi ocupado, a paisagem ainda era de mata fechada. Enfrentaram muitas dificuldades, o perigo de onças, de pistoleiros, a falta de dinheiro para comprar os produtos do mercado, colhia a produção, mas não tinha como tirar por falta de estrada, levava os produtos colhidos na costa até chegar à estrada mais próxima, numa distancia de 6 km, (atual TO-335), conforme o relato do Sr. F.V. O, 58 anos. (...) não tinha dinheiro, tinha as coisas da roça, mais não tinha comprar os produtos da cidade. Nos períodos de chuva as famílias andavam até 15 km à pé para chegar ao ponto de ônibus mais próximo para ir para Colinas do Tocantins, que era e ainda é o município de referência para as famílias no que diz respeito a mercado, saúde, educação, relações com os bancos e com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais- STR’s. 51 Para superar as dificuldades iniciais as famílias começaram a se organizar e trabalhar coletivamente para construir a estrada de enxadão para atravessar o assentamento, alguns trabalhavam uma semana nas grandes fazendas da região e outra semana no seu lote, para ter o dinheiro de sustentar a família que tinha ficado na cidade, pois, no início vieram somente os homens, a maioria das mulheres só foram para o assentamento uns 5 (cinco) anos depois da ocupação. Em 1989, foi construída a TO- 335, que liga os municípios de Colinas do Tocantins à Conceição do Araguaia-PA e que dá acesso a entrada do assentamento e em 1995 asfaltaram-na, assim, com a chegada da estrada puderam vender o excedente da produção agrícola. O assentamento tem capacidade para “assentar” 36 famílias, mas atualmente tem apenas 25 famílias, visto que, há agricultores que possuem mais de um lote. No assentamento tem dois agricultores que possuem 6 e 4 lotes respectivamente e que estão regularizados pelo INCRA, os lotes estão distribuídos em nome de familiares destes agricultores como filhos, pais, irmãos e tios, (gráfico 8). A média do tamanho é 62,2 ha., mas há lotes variam entre 43 á 74 ha, esta diferença se deu por causa da demora do INCRA em fazer a desapropriação da fazenda, quando o fizeram respeitaram a divisão que os agricultores familiares tinha feito por acomodação. Figura 8. Distribuição da concentração do número de lotes por famílias de assentados no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, do município de Pequizeiro, TO. (n = 25). 52 As famílias percebem que suas vidas mudaram muito depois que vieram para o assentamento, pois, agora possuem maior qualidade de vida, estão com certa estabilidade econômica, conseguiram comprar motos, alguns compraram carro, aumentaram o número de gados, reuniram a família que antes moravam na cidade, tiveram independência dos patrões, pois são livres para trabalhar na sua propriedade, (...) agora trabalho por conta própria, sem gritos de patrão. (J.S. M, 45 anos). Conforme afirma Martins, (2002, p. 64), o camponês é livre na medida em, que é dono de seus instrumentos de trabalho ou no mínimo, dono de sua vontade quanto ao que produzir como produzir e para quem vender. A propriedade da terra, portanto se apresenta como o sonho realizado por estes trabalhadores de serem donos das suas terras e de suas vidas, sem a exploração que tiveram submetidos ao longo de suas existências. O assentamento representa a independência e segurança alimentar e econômica para essas famílias. Os agricultores familiares demonstram sentimentos de afetividade ao ambiente em que vivem. Eles expressam em suas falas os diferentes valores e significados que o assentamento representa em suas vidas. Para Tuan (1980, p. 07) as pessoas respondem mais rapidamente ao ambiente pelos sentidos, que pode primeiramente ter representar pelo valor estético, ou seja, valorizar a beleza do lugar, isto ocorre no assentamento na medida em que as famílias demonstram gostar da tranqüilidade, do verde, sossego, paz de viver no campo, os pássaros cantando, ar puro. A resposta pode ser tátil, como o prazer de cultivar a terra, de pescar, de tomar banho no córrego. Mas, prossegue o autor, os sentimentos mais difíceis de expressar são os laços afetivos que os seres humanos têm como meio ambiente material, ou Topofilia, definida por Tuan, (1980, pág. 107 e 108), como, o amor humano ao lugar (...) são os sentimentos que temos para com um lugar, por ser o lar, o lócus de reminiscências e o meio de se ganhar a 53 vida. Quando tornamos um espaço como algo que nos é familiar, damos significado ao lugar e passa adquirir um profundo significado para o individuo. Percebe-se nas falas dos agricultores familiares que ocuparam o assentamento e de alguns que também compraram o lote, o sentimento de amor à conquista da terra. O assentamento para essas famílias, representa o lócus onde moram, criam seus filhos, trabalham e retiram o sustento da família e que pode possibilitar a educação seus filhos, (...) é um pedaço da gente, é lugar onde a gente mora trabalha com a família conforme diz J.B.M.S, (25 anos). A maioria das famílias possui um sentimento de pertence à sua terra, gostam do assentamento porque, foi a primeira terra que teve, foi a que pode obter ( J.B.S, 65 anos), para os que ocuparam era a única possibilidade de ter uma terra, para os que compram e já eram agricultores familiares, é a continuidade dos habitus familiares. (...) Meu avô sempre dizia que a roça é uma mãe pra gente, a gente tira tudo dela pra gente e ainda sobra para os bichos comerem e não se acaba. (A.S. L, 42 anos). Em suma, a consciência da sua história, reforça o amor dessas famílias ao lugar. O assentamento para as famílias que estão lá há duas décadas significa uma referência, um lugar de pertencimento e de identidade. Possuem o desejo de continuar vivendo e trabalhando com a família e de deixa a terra para os filhos e netos. Eles acreditam também que tem muito ainda o que conquistar como organização e diversificação da produção, e comercialização dos produtos para a melhor a renda familiar. 54 4.2 RELAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS NAS PRÁTICAS DE TRABALHO DOS AGRICULTORES FAMILIARES A história nada mais é do que uma transformação permanente da natureza do homem (...) poder-se-ia dizer que o mesmo se dá com a história do espaço produtivo. (Marx 1963 in Santos, 2001) A adaptabilidade humana, segundo Moran, (1994, p. 95) está relacionada às relações ecossistêmicas, respostas fisiológicas humanas aos estresses ambientais e aos ajustes socioculturais. Ou seja, as formas reguladoras que as populações humanas encontram para reagiram frente às limitações impostas pelos diferentes tipos de ambientes (físicos químicos e socioculturais). Seguindo o pensamento de Moran, podemos entender que diante das adversidades encontradas na criação do assentamento, as famílias, nestes 22 anos, desenvolveram diferentes estratégias adaptativas. No início do assentamento a paisagem era toda de mata fechada, entraram na área fizeram picadas e delimitaram uma área para cada ocupante, a partir da acomodação. As famílias fizeram “piquetes”, pequenas estradas para interligarem as suas propriedades, as suas casas foram feitas inicialmente com folhas de bananeira brava e mais tarde construíram casas de tábuas, cobertas de cavacos. Os homens foram trabalhar nos seus lotes e a famílias ficaram mais uns 5 (cinco) anos na cidade, esperando melhorar as condições de habitação para mudarem para o assentamento, ou porque, algumas mulheres trabalhavam e com este dinheiro conseguiam comprar os utensílios necessários para manter-se na propriedade. Só mais recentemente, em 2002, foi liberado para famílias o crédito para sistema habitacional. Este crédito possibilitou os assentados a melhorar a qualidade de suas residências, construindo casas de tijolos e telhas. 55 No primeiro ano, os homens se preocuparam logo em derrubar um pedaço da mata para colocar roças de arroz, milho e feijão para garantir a sobrevivência da família e vender o excedente, contavam com ajuda mútua no sistema de troca de dia e mutirão, esta foi uma das alternativas encontradas pelas famílias para suprir a mão-de-obra necessária, visto que, não tinham recursos para pagar trabalho de terceiros. A cada dois anos os agricultores derrubavam uma nova área de mata para plantar nova roças, e área já derrubada os agricultores foram formando pastos. O plantio de roças perdurou por aproximadamente cinco anos como principal atividade econômica. Mas os solos foram enfraquecendo e produção de grãos foi caindo vertiginosamente, deixando de ser a principal fonte de renda destas famílias que assim foi sendo substituída gradativamente pela pecuária. Por volta de 1993, a mata foi sendo queimada pelo fogo que era utilizado para fazer as roças e a paisagem foi sendo substituída por capoeiras. As famílias passaram a utilizar a área de roça para a formação de pastagem. Assim, gradativamente ao longo destes 20 anos, a agricultura foi perdendo espaço para a criação de gado. A pecuária ganharia então sua importância econômica dentro do assentamento, tal situação, se deu por alguns fatores: ausência de políticas agrícolas para a produção, já que a desapropriação da terra só veio sair em 1995, os agricultores durante este período (12 anos) não tiveram ajuda financeira nenhuma dos órgãos públicos e, portanto ficando a mercê de suas próprias capacidades físicas e econômicas. Muitas pessoas derrubaram matas por que era obrigado, não tinham como trabalhar só com os braços ((0.T.B, 50 anos). Os créditos Fomento, para compra de ferramentas e PRONAF-A foram liberados somente em 1996 e 1999, respectivamente. Atualmente, a paisagem que prevalece no assentamento é a pastagem, mas há também atividades agrícolas e fragmentos de matas. Esta mudança na paisagem pode ser observada na figura 9. 56 Figura 9. Mapa esquemático cronológico das mudanças na paisagem do Assentamento Nossa Senhora Aparecida, construído a partir dos dados coletados nas entrevistas com os assentados, no município de Pequizeiro, TO. Desenho: Mônica Alves Ribeiro. Outros fatores contribuíram para a mudança na estratégia produtiva dos agricultores da agricultura para a pecuária. Podemos considerar que, o primeiro fator seria a influência do mercado, que é voltado nesta região para a pecuária de corte e leite, sendo que o assentamento é cercado por quatro grandes fazendas criadoras de gado. O segundo, as políticas públicas voltadas para este setor tanto as linhas de crédito do PRONAF -A, quanto 57 às assistências técnicas oficiais orientam os agricultores familiares para produção bovina. Terceiro fator foram às experiências de trabalhos anteriores, que muitos deste tiveram, apesar de trabalharem na agricultura, muitos eram vaqueiros nas fazendas da região. O quarto fator, é que não havia na década de 80 uma atenção aos problemas ambientais ainda nas áreas de assentamento, esta questão entrou só recentemente na pauta de discussão do INCRA. Tanto que, no Tocantins, dos 353 assentamentos desapropriados pelo INCRA, apenas um tem licenciamento ambiental. Esta é também a percepção de alguns agricultores. Os primeiros moradores destruiu as matas porque não tinha naquela época a discussão ambiental que tem hoje. (J.R, 45 anos). 4.2.1 Agricultores Familiares: Práticas Produtivas e Formas de Trabalho 4.2.1.1 Organização da produção A população do assentamento Nossa Senhora Aparecida, desenvolveram nestas duas décadas competências, estratégias e instrumentos necessários para garantir a sua reprodução social e econômica partir de sua cultura e sua história de vida. A forma em que os agricultores familiares organizaram os espaços exprime os diferentes modos de uso da propriedade e suas interações socioambientais. Na análise de Aguiar et al (1993) apud Chambers (1983) os conhecimentos destes agricultores se apresentam em quatro dimensões: as práticas agrícolas, conhecimento do ambiente, faculdades próprias dos agricultores (saberes) e experimentação agrícola, e estão relacionadas na percepção que os agricultores possuem do ambiente em que vivem. Ao longo dos capítulos estaremos evidenciando essencialmente estas três primeiras características que são foco deste trabalho. 58 A organização da produção é feita por uma administração familiar que gerencia os recursos naturais e financeiros de acordo com as possibilidades econômicas que possuem para tender as suas necessidades básicas e venda de um excedente para garantir alguma renda para a família. As práticas produtivas desenvolvidas no assentamento são: pecuária (gado bovino) agricultura, apicultura e criação de pequenos animais como porco, galinhas, e outras aves. As práticas produtivas destes agricultores que para muitos, são vista como simplistas e rudimentares, possuem sofisticados sistema administrativo e produtivo que envolve várias etapas no planejamento, formas de investimento, retorno financeiro do investimento, preparo da terra, plantio, manejo, colheita dos produtos e venda da produção. A forma que os agricultores familiares demonstram os diferentes modos de uso da propriedade evidencia seus habitus. Podemos interpretar os habitus, não como uma memória sedimentada e imutável, mas como um sistema de conhecimentos construídos continuamente entendido por Bourdieu (2000,p. XLII) como: um conjunto de esquemas implantas desde a primeira educação familiar, e constantemente reposto e reutilizados ao longo da trajetória social restante, que demarcam os limites à consciência possível de ser mobilizada pelos grupos e/ou as classes, sendo assim responsáveis, em ultima instância, pelo campo de sentido em que operam as relações de força. Assim Bourdie (2000, p.16), completa explicando que (..) os habitus são conjuntos de conhecimentos que são passados socialmente entre o grupo e que são utilizados como instrumentos de conhecimento e de construção do mundo objetivo. Ou seja, os agricultores/as materializam seus saberes nas suas práticas cotidianas de trabalho a partir da sua cultura, isto é, herdados de gerações passadas, adquiridos na sua trajetória de vida ou são apreendidos nas suas relações socioculturais dentro do assentamento. 59 4.2.1.2 Pecuária A nossa primeira hipótese sobre as práticas produtivas é que havia um grupo de agricultores familiares que tinham a produção diversificada, especialmente os que ocuparam as terras e outro grupo que a prática produtiva era somente da pecuária, tendo na sua unidade produtiva área de mata muito pequena. Nossa hipótese não se confirmou, visto que, primeiro; todos os agricultores do assentamento têm como principal atividade econômica a pecuária, de onde tiram sua renda do leite e da venda do bezerro. Segundo, a maioria destes agricultores dos dois grupos, ainda possui roças tradicionais de milho, feijão, mandioca e arroz para o consumo da família e vendem o que é produzido a mais e os produtos de outras espécies como melancia e abacaxi. Terceiro, tanto no grupo dos agricultores que ocuparam quanto nos agricultores que compraram suas terras, há propriedades com poucas áreas de matas. Conforme podemos observar na figura 10, os componentes dos sistemas agrícolas não se Área da Propriedade diferenciam muito nas famílias estudadas. Figura 10. Distribuição da área explorada como quintais, roçado, pasto e remanescente de mata para 12 lotes de assentados no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. 60 As unidades de produção, possuem de 43,2 à 74,4 ha. A variação dos tamanhos do lote e conforme já dissemos, foi devido à demora do INCRA de desapropriar a fazenda, os agricultores ficaram muito tempo trabalhado nos lotes respeitando as “picadas” e acabaram dividindo os lotes por acomodação. Há quatro agricultores/as familiares que possuem entre 19 à 33 ha de área de matas. O restante possuem 2 á 9 ha de área de mata apenas. Todos possuem quintais que variam 0,4 à 2,0 ha. A maioria, 75 %, ainda planta roças e a maior parte destas possuem tamanho de ½ a 4,8 ha. A área de pasto varia de 28,8 até 72 ha e representa em média 86,5 %, na maioria das propriedades. Como podemos observar a atividade de pecuária ocupa maior parte da propriedade. Os bovinos são criados de forma extensiva, a raça dos bovinos existentes no assentamento é do tipo cruzado (holandês/suíço, girolando/ holandês, tabapuã/holandês), mas, também tem gado comum. A produção bovina tem por finalidade a venda de bezerros e leite, sendo que a maior parte da produção do leite destinada para a comercialização em laticínios nas cidades de Bernardo Sayão - TO (Cremolat) e Colinas do Tocantins - TO (Leitbom), e uma pequena quantidade é destinada para o consumo das famílias, os bezerros são comercializados na região vendidos para fazendeiros e pequenos agricultores. O valor do bezerro está valendo atualmente (outubro de 2008) em torno de R$ 350,00 à 500,00 e são vendidos por volta dos 7 meses de idade. O valor da renda do leite varia de acordo com a época do ano. No período da seca, o preço do litro de leite aumenta e no período das chuvas o preço diminui. Nos meses da pesquisa (setembro e outubro/2008) o valor do litro estava variando R$ 0,43 à 0,54/Lt e o pagamento é a prazo, 30 dias. A produção de leite diária varia entre 20 lt/d à 120 lt/d. Sendo predominante a quantidade entre 35 á 50 l/d em algumas unidades produtivas. O leiteiro recolhe o leite leva para o resfriador de leite (Figura 11). O resfriador tem capacidade para 1.000 l/ leite, quando atinge esta capacidade o laticínio recolhe então o leite. 61 Figura 11. Ponto de coleta de leite onde está instalado um tanque de resfriamento coletivo, no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. Foto: Kamila Soares. Em torno de 60 % das famílias pesquisadas, possui de 20 à 70 cabeças de gado e restante, 40 % possui 90 à 170 cabeças de gados, este segundo grupo também tem mais de um lote de terra ou tem gado repartido a meia fora do assentamento. A média da renda mensal do leite no assentamento é de R$ 913, 00 por família, mas, tem famílias que por possuírem mais gados possuem uma renda maior em torno de R$ 1.500,00 e as famílias que possuem menos gado tiram por mês em torno de R$ 550,00. Estas famílias possuem outras fontes de renda como: aposentadoria; (quatro famílias) com valor de 2 salários mínimos mensais do marido e esposa; venda de galinha caipira melhorada em torno de R$ 500,00/ mês (03 famílias); serviço públicos -merendeira e agente de saúde, (02 famílias), com renda mensal 1 salário mínimo. As famílias que não possuem outra renda fixa além do leite, possuem rendas sazonais, com a venda da melancia, mel e dos bezerros. O gado é alimentado só com capim das espécies baqueara e quicuio, nos períodos de chuvas, e nos períodos de seca a alimentação bovina é complementada com ração de cana, milho e mandioca sal mineral proteinado para segurar a produção do leite, mas, o agricultor que tem área de brejo em suas terras não precisa de ração, pois, o pasto fica verde ano todo. 62 Os excrementos do rebanho bovino são utilizados como adubo na produção de hortas e plantas frutíferas dos quintais. As instalações para o manejo do gado, é o curral feito de tábua e cordoalha, sem cobertura. Observamos que o curral sempre é construído na frente da residência e na parte mais alta que, segundo os agricultores é para manter seco o chão no período das chuvas e facilitar o transporte do leite, isto demonstra os conhecimentos que estes agricultores possuem do ambiente em que vivem para facilitar seu trabalho. As principais dificuldades que os agricultores/as familiares enfrentam com a criação de bovinos são os baixos preços do leite, além das doenças e as pragas que acometem as pastagens. Os laticínios são quem estabelece o preço do leite, causando uma preocupação no grupo estudado sobre a produção do leite, pois, este dá pouco lucro ou a maior parte fica na mão dos donos de Lacticínio. Para diminuir o impacto do controle do laticínio na produção leiteira os agricultores estão se organizando para vender o leite de forma coletiva, para isso, estão estruturando a Cooperativa de Produção e Comercialização dos Agricultores Familiares de Pequizeiro e Região Ltda-COOPEFAPER (figura 12-A). Estes estão buscando, portanto, informações e orientações sobre formas organizativas de produção como uma estratégia de fortalecimento do grupo para enfrentar às pressões do mercado (figura 12-B). A B Figura 12. Grupo de discussão dos assentados para formação da Cooperativa dos Agricultores Familiares (COOPEFAPER) de Pequizeiro e região, no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (A) Reunião para criação da COOPEFAPER; (B) Curso de formação dos agricultores em cooperativismo. 63 Alguns agricultores utilizam agrotóxicos (Roundup) para combater as ervas daninha e limpar o pasto. Os agricultores já começaram a perceber o desgaste da natureza devido à degradação das pastagens no assentamento. Na avaliação de alguns, ao estabelecer uma relação da prática de pecuária e a conservação ambiental, são francos em afirmar que fizeram errado em desmatar as áreas de mata, o certo era preservar a natureza, notam que “os córregos estão secando e que o ambiente está mais quente, diminuindo as chuvas, assim terá menos plantio e mais fome no mundo”. Para enfrentar este problema do desmatamento, 32 % das famílias deste assentamento participam do Programa de Formação de Lideranças Agroecológicas. Este programa é financiando pela MISEROR, uma ONG de Cooperação Internacional. As ações que inicialmente estão sendo desenvolvendo são viveiros de mudas de plantas nativas, medicinais, madeireiras e alimentícias; o reflorestamento das cabeceiras dos córregos e nascentes e diversificação da produção econômica pela apicultura. Apesar dos problemas apresentados pela pecuária bovina, esta atividade representa para os agricultores um “investimento” ou uma “poupança”, que pode rapidamente ser transformado em dinheiro nos casos de necessidades como: surgimento repentino de uma doença, pagamentos de estudos dos filhos ou outras eventualidades que possam aparecer. Conforme os agricultores, o sonho de todo ser humano é ter gado pra tirar seu leite, fazer seu queijo (..) há a necessidade também de um investimento próximo, na sua mão, que não vai no banco, e tem a facilidade de transforma em dinheiro em causo de necessidade.(D.E.S 53 anos). A maioria dos agricultores/as já teve acesso a créditos de financiamentos. Os primeiros financiamentos deveriam, segundo a orientação dos técnicos do Banco da Amazônia, ser para a compra de gado. O que reforçou mais ainda a prática de criação de gado e aumentou a pressão sobre os recursos naturais. 64 Há no assentamento um pequeno número de eqüídeos (eqüinos e muares) que são utilizados como animais de serviço. Estes animais foram perdendo sua importância nas atividades diárias das famílias, em função das áreas de pastagens do gado ser relativamente pequenas e o seu manejo poderem ser feito a pé e também porque os transportes dos produtos e de pessoas que antes eram feitos por estes animais foram substituídos por motos e carros. 4.2.1.3 Agricultura As famílias do Assentamento Nossa Senhora Aparecida, também como já dito acima, praticam a agricultura para sobrevivência da família. Esta é uma estratégia característica da agricultura familiar, que tem na sua essência a diversificação da produção como garantia do autoconsumo e venda planejada do excedente. As famílias cultivam algumas culturas tradicionais como milho (Zea mays), arroz (Oryza sativa), mandioca (Manihot esculenta) e feijão (Vigna unguiculata), as roças são pequenas, a área média de roças variam em torno de ½ (meio) a 4,8 ha, apenas para a alimentação familiar e alimentação dos animais domésticos. Praticam técnica do consorciamento de produtos, como: feijão, mandioca e milho; milho, abóbora e fava; milho e abóbora. Esta é uma estratégia tradicional de comunidades camponesas para aumentar a produtividade, diminuir o gasto com insumos externos e adubar a terra. Como retrata o depoimento deste agricultor (...) mistura as plantações porque a terra é pequena, e porque uma planta serve de adubo e proteção pra outra (J.N. S, 45 anos) Além destas culturas, alguns agricultores relataram que produzem banana (Musa spp), melancia (Citrullus vulgaris), fava (Vicia faba), abóbora (curcubitace) e amendoim (Arachis hypogaea) para contribuir na subsistência. (figura 13). Observamos também que há três propriedades que não possuem roças. Os motivos que levaram estes agricultores a 65 deixarem de plantar foram porque, em duas propriedades (9 e 11) os agricultores já são idosos e estão aposentados, na outra propriedade (4) as “pragas” comem tudo o que é Área da Propriedade (ha) produzido na roça, desestimulando assim o agricultor a plantar. Figura 13. Distribuição da área agrícola das principais culturas explorada no ano de 2007, em 12 lotes de assentados no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. Geralmente plantam também outras espécies para vender como a melancia (Citrullus vulgaris) e o abacaxi (Ananas comosus). Vendem também o excedente da mandioca Cacau e Pão, (Manihot esculenta), que são consideradas pelos agricultores como mandioca “mansa”, própria para o consumo in natura, já a mandioca “brava” é imprópria para o consumo in natura, sendo utilizada na fabricação de farinha de “puba”, farinha mais consumida na reunião, típica da região nordeste. Esta espécie de mandioca é pouco cultivada no assentamento. A mandioca além de ser vendida in-natura também é processada e servida para alimentação dos animais suínos. 66 As formas de produção ainda são rudimentares, possuem um trator coletivo, doado pelo uma ONG, Irlandesas (Irshids), que serve para gradear a terra, mas o restante dos trabalhos é feito manualmente com enxadas, enxadão, foice e cutelo. No caso da produção de melancias o trabalho de irrigação e todo feito manualmente, os agricultores constroem taques rústicos feitos de madeiras, forrados com lona, que se enche de água pela queda livre. (figura 14). Fazem o uso do regador, também para irrigação da melancia. Figura 14. Identificação de técnicas agrícolas aplicadas por assentados para armazenamento de água utilizada na irrigação do cultivo de melancia no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. A escolha do local para plantação da roça é de acordo com a espécie que será cultiva. A mandioca é plantada em terras mais arenosa e sempre é consorciada com o feijão. Na maioria das propriedades estudas 77,7 %, estas espécies são cultivadas na área comunitária da associação dos agricultores familiares. A associação possui uma área para uso coletivo de 52 ha. O milho é consorciado com a abóbora e a fava, assim como a melancia e abacaxi, essas espécies são plantadas nas próprias unidades produtivas, em terras mais argilosas, consideradas pelos agricultores como “terras firmes” ou “terras altas”. O Arroz é plantado nas 67 terras “baixas”, locais escolhidos por ter maior umidade. Não é comum a comercialização do arroz, sendo a produção voltada para o consumo da família e ocasionalmente o excedente é comercializado. No assentamento atualmente quase não se planta mais arroz. Esta espécie foi encontrada apenas em três propriedades em torno de 25 % da freqüência produzida. Na tabela 2, podemos observar também a freqüência de espécies mais produzidas, sendo em primeiro lugar a mandioca (75 %), seguindo do milho e feijão (58,3 %). Tabela 1. Freqüência e área média cultivada das espécies encontradas no componente roça no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. FREQUENCIA (%) AREA MÉDIA (ha) (n = 12) --------------------------------------------- Cereais -------------------------------------------------Feijão trepa-pau, coruja e roxinho 58,3 0,58 Milho 58,3 1.12 Arroz agulhinha 25,0 0,14 Fava 25,0 0,04 ----------------------------------------------Raízes -------------------------------------------------Mandioca-cacau e Mandioca-pão 75,0 0,62 --------------------------------------------- Hortaliças --------------------------------------------Abóbora 16,6 0,06 Melancia 25,0 0,22 --------------------------------------------- Fruteiras ----------------------------------------------Banana 16,6 0,06 Abacaxi 8,3 0,16 Cana 25,0 10,41 ESPECIES As variedades plantadas são do feijão trepa-pau, carioquinha e roxinho, mandioca Pão, Cacau e mandioca “brava” e milho de sementes comprada selecionadas (70 dias), arroz é agulhinha de 4 meses, abóbora (vermelha) e fava (branca). Os agricultores/as geralmente utilizam sementes próprias, que foram guardadas de safras anteriores ou trocam com vizinho. No cultivo da mandioca é freqüente a utilização de manivas doadas por vizinhos no próprio assentamento. Só compram as sementes de arroz, milho, melancia e hortaliças. Costumam usar adubo químico somente nas espécies milho e 68 arroz (adubo Araguaia) e usam outros produtos químicos na melancia (matilium) e abacaxi (carbureto). A escolha das sementes para plantio é feita pela aparência, escolhem as melhores, maiores, sem caruncho. Estas sementes ficam armazenadas até a próxima safra. O arroz é armazenado no saco, o feijão fica lacrado em vidros de Polietileno Tereftalato-PETI, (figura 15- A) e o milho é guardado na casca ou no saco (figura 15-B). A B Figura 15. Técnicas dos assentados para armazenar as sementes para plantio da safra seguinte no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (A) Armazenamento das sementes de feijão trepa - pau, (B) Armazenamento das sementes de milho. Os agricultores ainda fazem uso dos conhecimentos sobre o calendário lunar para plantar suas roças. Costumam arar a terra na lua cheia para diminuir as pragas. O plantio de qualquer espécie de rama como feijão, melancia, abóbora, como também as verduras de horta, como alface (Lactuca sativa) quiabo (Hibiscus esculentus), couve (Brassica oleracea), pepino (Cucumis sativus) e o coentro (Coriandrum sativum) são feitos na lua nova. Segundo os agricultores é quando a lua tá fina e fica melhor para carregar o fruto, estas espécies de plantas não é bom plantar na crescente, pois enrama demais e dá muita praga (pulgões). As plantas de batata como mandioca, batata e inhame devem ser plantados na lua quarta crescente para cheia, para as mudas nascerem com mais força e resistência. Os plantios de cana e abacaxi podem ser plantados na lua crescente para que os gomos e frutas cresçam maiores, já a plantação de arroz e milho deve ser plantada na lua minguante, assim o produto 69 não dá grande mais, ficam com os grãos bem carregados e cheios e não dão broca. A limpeza da roça deve ser feita na minguante, visto que, a tendência é diminuir as pragas e os matos que nascem na lavoura. Fazem ainda a estratégia de rotação de culturas numa mesma área, plantam arroz, depois da colheita plantam milho, e depois que colhe o milho, plantam o feijão e fava. O arroz geralmente é cultivado entre os meses de outubro a dezembro, isto de acordo com a freqüência das chuvas do ano. Em alguns casos é comum o plantio consorciado do arroz com outras culturas como o milho e abóbora. As sementes do arroz são compradas (agulhinha 4 meses), outros agricultores guardam a semente para o plantio do ano seguinte. O plantio do abacaxi para comercialização, também é feito entre os meses de julho á outubro e é colhido em abril ou maio. O cultivo do milho também se dá entre os meses de novembro e dezembro, consorciado também com abóbora e fava, algumas famílias utilizam sementes próprias, outras compram as sementes. As famílias não comercializam o milho, já que a produção é pequena, sendo utilizada para o consumo da família e para alimentar pequenos animais como as galinhas, porcos, pata entre outros. O plantio do feijão e da fava ocorre nos meses de janeiro e fevereiro, logo depois que é colhido o milho. Entre os meses de maio à agosto ocorre o cultivo das hortaliças, que a família aproveita para enriquecer e diversificar a alimentação da família. As hortas são pequenas variando entre 9m² à 25 m². Nas hortas são plantadas, abobrinhas verdes (Cucurbita pepo), couve (Brassica oleracea), quiabo (Hibiscus esculentus), maxixe (Cucumis anguria), coentro (Coriandrum sativum), cebolinha (Allium fistolosum), pepino (Cucumis sativus), alface (Lactuca sativa), jiló (Solanum gilo), mamão (Carica papaya) e pimentas (Capsicum odoriferum). Um grupo pequeno de agricultores planta também melancia nesta época para venda, para a complementação da renda familiar. 70 Ainda fazem uso do extrativismo da bacaba (Oenocarpus bacaba) para fazer “sambereba”, espécie de suco da fruta e aproveitamento do caju (Anacardium occidentale) para a fabricação de doces e sucos e a manga (Mangifera indica) para a alimentação dos porcos. Ver quadro I. Quadro 1. Calendário de produção agrícola e extrativismos no Assentamento Nossa Senhora Aparecida. Atividades de produção agrícolas e extrativismo ANO 2007 jan Fev mar abr maio jun jul agost set out nov dez Planta feijão, milho e fava Preparo da terra para plantar melancia Plantio de melancia e hortas Colhe caju Colhe melancia, verdura e legumes Preparo da terra para plantar milho, arroz, mandioca, banana, abobora e abacaxi Plantio de milho, mandioca, abacaxi, arroz, banana e abobora Colhe bacaba Colhe manga Colhe milho, abobora Colhe feijão, fava, arroz, abacaxi . Os Produtos agrícolas como abacaxi, melancia, mandioca in-natura, são comercializados nos municípios da região, Couto Magalhães, Colinas do Tocantins, Bernardo Sayão e Juarina e em alguns casos, nos assentamentos vizinhos ou no próprio assentamento. Os compradores são consumidores diretos, comerciantes ou vendem nas feiras. O preço é negociado entre agricultor e consumidor. Normalmente vendem à vista nas feiras e entregam 71 com um prazo de 30 (trinta dias) para o comércio. O valor do abacaxi é de R$ 2,00 (dois reais) à unidade, o preço da melancia pequena é R$ 2,00 (dois reais) e das maiores entre R$4,00 (quatro) à R$ 6,00 (seis) e a caixa da mandioca in-natura é no valor de R$ 13,00 (treze reais). A maioria dos agricultores, fazem o pousio apenas por 3 (três) meses, e alguns de ano em ano, período em que deixam a terra descansar. Eles acreditam que depois da gradagem da terra é necessário deixar a terra quieta para tirar a “febre” dos matos verdes e assim evitam problemas na plantação. A roça esta perdendo a importância para os agricultores familiares no assentamento, pois, a sua produtividade é baixa. Há vários fatores que geram incertezas nesta atividade agrícola como o fator climático, que por causa das mudanças globais na atmosfera, não está mais estável causando uma desorientação nos saberes que os agricultores possuem sobre período certo de plantar. Planta quando começa a chover (...) todo o ano as chuvas estão chegando cada vez mais tarde (J.S. M, 45 anos), fatores bióticos causados pela ação antropica, como o ataque das pragas como cigarrinha e das aves e mamíferos silvestres, que geram a perda da produção. Já plantei de tudo arroz, feijão, mandioca, mas a roça enchia de pragas, não colhia nada, daí deixei de plantar. (J.S. V, 65 anos). O interessante é que a percepção de pragas nas lavouras para estes agricultores vai desde a vassourinha e cigarrinha aos bichos silvestres como periquitos, papagaios, pássaros-pretos, curicas, capivaras, macacos, perdizes e tatus. Nesta ultima safra colheram pouca coisa, os animais silvestres comeram tudo. Fatores econômicos, como a falta de recursos financeiros para pagar as horas de trator para gradear a terra para o plantio ou o trator da associação não está disponível no período certo que o agricultor precisa. Enfim esta é uma atividade de alto risco levando ao agricultor a investir na criação bovina que é uma atividade para eles menos arriscosa. 72 Por causa destes problemas, identificamos 03 (três) agricultores que não planta mais roças e observamos que nestas propriedades se encontram as menores áreas de matas do assentamento, em torno de 2 à 4,8 Ha. Os agricultores que possuem maiores áreas de matas em suas propriedades são os que mais sofrem com este problema, pois, são nas suas propriedades onde há maior diversidade de animais silvestres. (voltaremos nesta questão no segundo capítulo). Alguns agricultores já entenderam que quantidade de bichos do mato que atacam suas roças faz parte do desequilíbrio ambiental, provocado pela a derrubada da mata ao longo destes 20 anos. Conforme relata Sr. J.S. M, 45 anos. As “pragas” atacam as roças porque os bichos tão com fome. Acho que tem que plantar de tudo, porque tem que ter as coisas em casa. Não acho certo, morar na roça e ter que comprar as coisas. O povo incutiu com capim, gado e esqueceu da roça. As pessoas queixa das pragas, mas se todo mundo botar um pouquinho de roça parte os prejuízos que os bichos come . A estratégia encontrada pelos agricultores para se adaptar ao estresse ambiental que se apresenta e continuar plantando as suas roças para o auto-consumo da família foi, colocar cachorros como guarda do plantio, para espantar os bichos que atacam a lavoura. Ao relacionar as práticas de cultivo agrícola com a questão ambiental, alguns responderam que suas práticas produtivas ainda não são corretas, pois, o ideal é ter adubo natural, porque é melhor para as plantas, já que, os adubos químicos interferem na água, no solo, mas, ainda utilizam adubos químicos porque não sabem fazer adubo orgânico. Há um grupo que acredita está protegendo a natureza à medida que deixaram em torno de 25 á 38% da sua propriedade para área de reserva e quando pode, faz o possível para usar o máximo de diversificação de plantas nas roças, para adubar a terra. Outros acham que plantando roças estão ajudando a alimentar os animais, (...) não colhe muito, mas pelo menos os bichos do mato comem ( F.V.O. 58 anos). 73 4.2.1.4 Apicultura e criação de pequenos animais. No assentamento há um grupo de 11 famílias que desenvolvem a atividade produtiva da criação de abelhas européias, onde retira mel que geralmente a família destina para seu uso doméstico e para venda. Cada família tem entre 02 à 5 caixas de abelhas, que são colocadas no pasto e na mata. Há no assentamento, segundo os agricultores, 75 espécies de plantas florísticas que são boas para a produção do mel, e que são encontradas nas matas, pasto e quintais. Entre estas espécies de destaca-se o Assa Peixe, planta exótica que predomina no pasto. A produção de mel gira em torno de 20 l/colméia. O mel é em embalado em garrafas de Polietileno Tereftalato- PETI, conforme pode ser observado na figura 16. Figura 16. Técnicas dos assentados para armazenamento da produção de mel no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. O mel é vendido por R$ 10,00 (dez reais), à vista, para pessoas que visitam o assentamento ou entregam por encomenda em Colinas do Tocantins, TO. A venda do mel ainda é muito incipiente, o grupo de apicultores está se organizando para vender coletivamente a produção do mel, em Palmas-capital do Tocantins, já que o preço é dobro, R$ 20,00/L. Os agricultores querem agregar valor do produto, melhorando a embalagem e 74 marketing do produto. O grupo recebeu a doação de uma centrífuga do Programa de Formação de Lideranças Agroecologicas para processarem o mel. (figura 17). Figura 17. Reunião da coordenação do Programa de Formação de Lideranças Agroecológicas, para entrega da centrifuga ao grupo de apicultores no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO Os agricultores também criam pequenos animais que garante parte da renda e para o auto-consumo da família, como porcos, galinhas, angolistas e alguns criam patos e perus. A criação de galinhas, assim como seus os ovos são utilizados na alimentação familiar e algumas famílias comercializam o excedente no próprio assentamento e em cidades vizinhas. Do grupo estudado, há três famílias que estão com criação de galinha caipira melhorada, implantadas com crédito do PRONAF - Mulher, liberado em 2006. Esta criação se destina a comercialização, que são vendidas nos comércios de Colinas do Tocantins, ou entregam ao consumidor direto por encomendas, duas agricultoras vendem para instituições municipais em Colinas - TO e Pequizeiro - TO, através do Programa da Compra Direta. Elas compram os pintinhos nos comércios de produtos agrícolas de Colinas - TO, à R$ 1,70 (um real e setenta centavos). Com 3 (três) meses as aves são abatidas, sendo tratadas e vendidas limpas, no valor de R$ 14,00 e R$ 15,00, a unidade. Vendem para conhecidos e nos comércios à prazo e para consumidores desconhecidos à vista. As aves são embaladas em sacos plásticos, colocadas no gelo em caixas grandes de isopor e levadas para Colinas, TO e 75 Pequizeiro-TO. Uma agricultora tem transporte próprio, as outras duas levam o produto no ônibus. As galinhas caipiras melhoradas (figura 18) são criadas no sistema semi-extensivo em granja construída de telha, tijolo e cercada por tela, uso de piquetes para separar as galinhas por fase de produção: pintinho, crescimento e abate. Atualmente estão criando de 200 à 500 galinhas melhoradas. Utilizam a ração de crescimento para os pintinhos, usam milho e pastagem para as galinhas caipiras melhoras. As criações de galinhas caipiras comuns, patos, perus, angolistas estão entre 30 a 100 unidades ao todo, estas aves são criadas soltas e se alimentam de pastagem, milho e mandioca e abóbora para reforçar a alimentação. Os agricultores gostam de criam as angolistas pelo prazer estético, segundo eles porque acham bonito vê elas no quintal e para auxiliar na alimentação e também porque elas comem as cigarrinhas e limpam o pasto das “pragas”. Os excrementos produzidos pelas aves e bovinos são utilizados nas plantações de hortas e plantas, onde são produzidas as verduras e frutas para a família. Percebe-se nesta prática uma interação entre sistemas produtivos e animais nas propriedades. Figura 18. Criação de galinha caipira melhorada da raça Label Rouge no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. Fonte: Eonilson Antonio de Lima 76 Há também criação de suínos rústicos (piau), que é utilizada para a alimentação familiar. Os suínos são criados presos em chiqueiros rústicos construídos de tábua, tela, e também de forma extensiva nos quintais. As familiais criam entre 02 a 10 porcos. Estes são alimentados com soro do leite, milho, manga, mandioca, abóbora e restos de comida. (tabela 2. p.79). A família abate o porco, frita a carne e conserva-a, dentro da própria gordura, que também é consumida pela família, o excedente é vendido para vizinhança. Esta prática de conserva dos alimentos é característica de comunidades camponesas que não tinham energia elétrica para congelar os alimentos. Nota-se que mesmo tenho eletricidade no assentamento eles ainda mantêm esta cultura. Ainda hoje os agricultores têm o hábito de “vizinhar”, ou seja, doam parte do que abatido (porco, vaca, caça ou pesca) em sua propriedade para os vizinhos mais próximos ou que tenha mais afinidade, esta ação é recíproca. Esta prática garante a diversificação da alimentação e manter um costume típico das comunidades tradicionais do Brasil, que ainda resiste às inovações tecnológicas no campo. 77 Tabela 02. Alimentação, tipo de instalação e formas de manejo da criação dos animais praticada pelos assentados no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro-TO. CRIAÇÃO ALIMENTAÇÃO Galinha caipira Mandioca, milho, folhas de hortaliças, restos de frutas, comida humana, capim. Ração de crescimento, milho e capim. Mandioca, milho, folhas de hortaliças, restos de frutas, comida humana, capim Mandioca, milho, folhas de hortaliças, restos de frutas, comida humana, capim Soro do leite, milho, frutas, folhas, cascas e batata da mandioca e abóbora. Capim e na seca capim e ração de soja Capim Galinha caipira melhorada Pato Angolista Porcos Bovinos Eqüídeos TIPOS DE INSTALAÇÃO Não possui Galinheiro Não possui Não possui Chiqueiro rústico FORMAS DE MANEJO Poleiro, sobem em árvores, criação extensiva em terra firme Criação semiextensiva, poleiro. Criação extensiva em terra firme Poleiro, sobem em arvores, criação extensiva em terra firme. Criação extensiva ou fechada em chiqueiros Curral Pastagem extensiva Não possui Pastagem extensiva 4.2.2 Formas de Trabalho O trabalho no assentamento em 83 % das propriedades, ainda é familiar, contando com as esposas e filhos. As mulheres e filhas são responsáveis pelos serviços da casa (arrumar, limpar, fazer comida, lavar vasilhas e roupas) e também do cuidado das pequenas criações como: porcos, galinhas, cuidam do terreiro, da horta. Mas algumas mulheres, além dos serviços domésticos também fazem os serviços da roça e do manejo do gado, principalmente naquelas propriedades onde os filhos saíram para estudar ou ainda estão pequenos. Os homens e os filhos são responsáveis pela criação e manejo do gado (vacinar, dar 78 remédio, tirar leite), pelo cultivo da roça (arar a terra, plantar, adubar, capinar, irrigar, colher) e pelo manejo dos quintais. (plantio e poda). Também cuidam dos porcos e na ausência das mulheres cuidam dos outros animais e fazem e cuida dos trabalhos domésticos. Os agricultores familiares costumam ainda fazer troca de dia entre os vizinhos ou parentes para agilizar os trabalhos, só raramente é que pagam alguém para ajudá-los, isso, quando estão muito apertados com os serviços na propriedade. Ainda há, portanto, no assentamento traços da solidariedade mecânica, definido por Durkheim aput Costa, (2005: 87), como os laços que unem o indivíduo a sociedade pelos as crenças e sentimentos comuns, através da família, da religião, da tradição e dos costumes. Este tipo de solidariedade é típica das sociedades pré-capitalistas onde são independentes à divisão social do trabalho. Para Lamarche, esta é uma estratégia que longe de ser considerada uma atraso tecnológico dos agricultores, é antes de tudo uma estratégia de adequação a situações adversas do mercado. (Wanderley, 1998:14). Desse modo, os agricultores conseguem preservar o ethos da campenisidade, termo cunhado por Klass Woortmann, utilizado por Brandão (2004, p. 123- 129), como sendo, um modo de ser que se traduz numa ética de reciprocidade entre as pessoas e o mundo “dos outros”, ou seja, esta ética é observada na persistência da cultura não apenas na linguagem destes agricultores, mas também nos seus valores éticos, afetivos e de honradez, percebidos nas questões sociais e relações de negócio dentro do assentamento e também nas relações de ajuda mútua da família e entre vizinhos. A continuidade destes hábitos culturais demonstra que, os agricultores não perderam totalmente sua cultura e independência frente às relações capitalistas. Segundo Martins (2002, p. 64), no sistema capitalista, embora o camponês seja socialmente dependente porque não trabalhar sozinho, mas juntamente com sua família, seu trabalho familiar é independente, já que ele ainda possui o instrumento de produção que é a terra. Ele é livre para decidir sobre 79 sua produção. As determinações do mercado não estão diretamente presentes no processo de trabalho. Sua existência, diferente do operário, não está condicionada pelo trabalho excedente, mas por produto excedente. Ou seja, ela se baseia cálculo da produção a mais para vender e não são as sobras que ele vende, assim pode garantir a complementação da renda familiar. Nota-se que nesse assentamento, os agricultores/as familiares ainda não estão totalmente integrados ao mercado, diferentemente de outros lugares, onde os agricultores familiares já estão totalmente inseridos no mercado capitalista e que propriedade é uma empresa familiar rural à exemplo dos agricultores familiares no entorno da cidade de UnaíMG, que são plantadores de soja, passando para prática da monocultura. A independência dos agricultores familiares no assentamento se apresenta na forma de trabalho, na diversidade produtiva e na propriedade da terra, que os tornam donos dos meios de produção. Desta forma, devido às suas características de trabalho e práticas produtivas os agricultores que moram no Assentamento rural Nossa Senhora Aparecida podem ser definidos por agricultores familiares. Conceito explicado por Lamarche. Segundo este autor, Agricultura faz apelo a grupos sociais limitados que tem em comum associar estreitamente família e produção, mas que se diferenciam uns dos outros por sua capacidade de se apropriar dos meios de produção e de desenvolvê-los... a agricultura familiar não é um elemento da diversidade, mas contém nela mesma, toda a diversidade.. (LAMARCHE, 1997, p. 18). Na agricultura familiar há várias formas de unidade de produção organizadas e executadas pelos membros da família extensa ou nuclear, que não podem ser abrangidos por um único modelo ou numa mesma categoria de agricultores. As formas de exploração agrícola serão definidas pelas possibilidades e condições de produção do agricultor familiar como: tamanho da área, tecnologia, capacidade técnica e financeira do agricultor. 80 O assentamento apresenta uma diversidade de tipologia de agricultores familiares. No primeiro grupo, os que ocuparam a terra, existem duas situações: a) Há agricultores que possuem criação bovina (40 à 60), roças, apicultura e criação de pequenos animais, o trabalho é todo familiar e é neste grupo que se encontram as maiores área de matas (20 à 33 Há Figura 20). b) Há agricultores que maior parte do lote o sistema produtivo é a pecuária, não produzem mais roças e tem uma área de mata ínfima em torno de 3 á 4,8 ha, possuem mais de um lote e maior numero de bovinos entre100 à 170 cabeças, em alguns casos, o trabalho na propriedade é pago. Figura 19. Croqui da distribuição dos diferentes componentes da paisagem em uma propriedade com maior área de mata. Adaptado a partir do mapa desenhado pelo proprietário do lote, no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. Desenho: Mônica Alves Ribeiro. 81 No segundo grupo, os que compraram a terra, também há diferentes tipos. a) Há agricultores que possuem maior numero de lote, 02 agricultores possuem 4 e outro 6 lotes, com a conivência do INCRA, portanto tem maior numero de rebanho e pouca área de mata e não plantam roça, criam pequenos animais, pagam funcionários (estes não quiseram dar entrevista). b) Há também um segundo grupo em que os lotes são de 40 à 60 Ha, a maioria da propriedade é também área de pastagem, possuem um lote e 20 à 80 cabeças de gado, a maioria plantam roças, criam pequenos animais e apicultura, também possuem pouca área de mata em torno de 2 à 4,8 Há e o trabalho ainda é familiar. (figura 21) Figura 20. Croqui da distribuição dos diferentes componentes da paisagem em uma propriedade sem área de mata. Adaptado a partir do mapa desenhado pelo proprietário do lote, no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. Desenho: Mônica Alves Ribeiro. 82 Observa-se que no tipo A - do primeiro e segundo grupo de agricultores - a maioria, possui baixa dependência de tecnologia externa, estão inseridos no mercado de forma ainda mercantil através da venda incipiente do leite, mel e galinha caipira melhorada, da melancia e do abacaxi. O trabalho é familiar, contanto com esposa e filhos, ocasionalmente usam troca de dias e se difere dos demais pela variedade da policultura, mesmo a pastagem dominando a paisagem. Mesmo no caso em que alguns compraram a terra, mas estes tem origens campesinas, são filhos de pequenos agricultores ou sitiante ou eram trabalhadores rurais nas fazendas de gado da região. O grupo B - do primeiro e segundo grupo - são os agricultores familiares mais capitalizados com maior inserção no mercado capitalista, possuem mais de um lote que foram adquirindo com passar dos anos, tem mais de 150 cabeças de gado bovino, com características da monocultura do leite, maior dependência de insumos externo, um rentabilidade maior com a venda do leite e bezerro, em alguns casos, ainda tem o trabalho familiar, mas, utiliza na maioria das vezes mão de obra remunerada. O primeiro caso está mais próximo do que Lamarche (1997, p. 22) chamou de Modelo Original, ou seja, quanto mais o modelo de agricultura familiar for próximo deste modelo, menor será seu grau de interação com o mercado, maior será a preservação da sua cultura, mas também terá mais dificuldades se adaptar as novas exigências impostas pelas mudanças globais. No segundo grupo, este modelo se aproxima mais da definição de Lamarche (idem:, p. 22) do Modelo Ideal,quanto mais a agricultura familiar tiver próximo deste parâmetro, mais integrado estará com o mercado. Em conseqüência, terão seus valores, costumes totalmente alterados, pois, perdem seu patrimônio cultural. 83 4.3 SABERES AMBIENTAIS LOCAIS Todo sistema cultural tem a sua própria lógica e não passa de ato primário de etnocentrismo tentar transferir a lógica de um sistema para outro. (Laraia, 2006). Há mais de três séculos as sociedades estruturam sua forma de pensar e seus conhecimentos com base no racionalismo científico como sendo a única forma pensamento correto, concreto e capaz de ordenar o mundo de forma confiável. Este pensamento iniciou na Europa espalhou-se por todo mundo, em todas as áreas nas ciências, leis, economias e até na forma de ver a natureza. Era possível, conhecendo a natureza, dominá-la, utilizando-se dos recursos naturais como sinônimos de progresso. As populações ou sociedade que não tinham este mesmo sistema cultural foram consideradas, no século XIX e até primeira metade do século XX, como sociedades pré-lógicas, ou melhor, dizendo, dotadas de forma de pensar sem coerência, através de um pensamento mágico ou religioso. Claude Levi-Strauss no seu livro O pensamento Selvagem, se posiciona contra esta abordagem, afirmando que, pelo contrário, o pensamento das sociedades simples forma um sistema de classificação do mundo bem articulado, independente da ciência e que constrói a sua história e sua cultura a partir dos meios materiais que lhes dispõem. (Laraia, 2006, p. 88). Geertz, em seu livro O Saber Local, chama atenção para evitarmos visões homogeneizantes e simplistas dos sistemas de representação dos grupos e comunidades. Temos que levar em consideração as particularidades e singularidades de cada cultura, bem como, a seu emaranhado de significações desenvolvidas a partir das histórias de vida das populações, essas representações têm que ser explicadas sempre do ponto de vista do nativo, no caso aqui, dos agricultores familiares. Geertz (2007, p. 88) adverte ainda, que para obter os melhores resultados na pesquisa, deve captar conceitos de experiência-próxima, ou seja, 84 elaborar um conceito sobre o ponto de vista do grupo estudado que permita estabelecer uma relação estreita com seu o modus vivendi, mas também, utilizar o conceito de experiênciadistante, que permita utilizar conceitos criados por especialistas para explicar os elementos mais gerais da vida social. Logo, esta pesquisa será encaminhada neste sentido, buscando equilibrar a análise sempre com base nos saberes locais sobre o ambiente, contrapondo com a opinião de autores sobre práticas de conservação ambiental. A primeira impressão que se tem do assentamento Nossa Senhora Aparecida é que é um cenário todo homogêneo de pastagem. A visão que se tem é a de que as famílias estão altamente inseridas no sistema capitalista, que já perderam todos os seus habitus de agricultor e conseqüentemente seu patrimônio cultural. Mas quando, desentranhamos “a teia de significados” que existem no local, percebemos que o assentamento tem complexa formas de produção (já descritas no capitulo anterior) e que possui um mosaico formado por diversos componentes de paisagens como mata, brejo, pasto, roça, córrego, quintal, terreiro, horta, galinheiro, curral e pasto sendo este ultimo o preponderante. Nestes subsistemas vivem e interage uma riquíssima diversidade de fauna e flora, com 106 espécies de bichos selvagens (mamíferos, aves, répteis e peixes) e 160 espécies de plantas (alimentícias, medicinais, madeireiras, olerículas, ornamentais, ecológicas e de rituais). As populações rurais, e neste caso, os agricultores familiares, possuem um articulado conhecimento sobre o ambiente, definido pelos os etnociêntistas como etnoconhecimento. Este conceito é explicado a partir da etnobiologia como: (...) o estudo do papel da natureza no sistema de crenças e de adaptação do homem a determinados ambientes, enfatizando as categorias e conceitos cognitivos utilizados pelos povos em estudo. (Porsey (1987 apud Diegues 2001, p.21) 85 A utilização dos estudos na Etnobiologia nos possibilitará analisar como os agricultores familiares entendem o ambiente no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, e como ao longo dos anos organizaram-no a partir do uso dos recursos naturais. Procurou portanto, descrever como as famílias classificam o ambiente conforme as unidades de paisagem, inventariando as plantas e animais existentes em cada unidade e os diferentes conhecimentos sobre os seus usos nas suas práticas cotidianas. 4.3.1 As unidades de Paisagem Locais e seus diferentes usos Neste item objetivou-se descrever os mecanismos ambientais e socioculturais que as famílias do assentamento Nossa senhora Aparecida, utilizam para satisfazer as suas necessidades básicas, expressando assim, um estilo de vida local. Os agricultores familiares se adaptaram ao ambiente em que vivem e foi adquirindo nestas duas décadas um elaborado conhecimento sobre os diferentes componentes da paisagem e suas formas de uso (ver tabela 3), como também possuem uma diversidade de saberes sobre manejo e uso das diversas espécies de plantas e conhecimentos diferentes espécies de animais expressados nas suas práticas de trabalho cotidiano, percebe-se o contato com o mundo natural em todas as paisagens (mata, brejo, pasto, quintal, terreiro, horta, roça, curral, galinheiro e córrego). Estes espaços são definidos pelo processo de acomodação e adaptação das famílias desde sua chegada ao assentamento que foi reconhecidos e respeitados pelos órgãos oficiais. 86 Tabela 03. Descrição dos componentes da paisagem e suas formas de utilização no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro-TO. NOMENCLATURA DEFINIÇÃO DO USO Reserva ambiental, lugar para tirar alguma madeira para cabo de ferramentas, pega lenha ou pegar alguma planta serve para remédio, serve para abrigar os bichos da mata e produzir florada para abelhas, e oxigênio. Mata alagada no período chuvoso Mata Brejo Pasto Quintal Terreiro Horta Roça * Curral Galinheiro Córrego Serve de pastagem para o gado e cavalos e criação de abelhas e abriga também algumas espécies de plantas e animais silvestres. Quintal é lugar onde não se varre para que as folhas possam produzir adubo para plantas, é se onde cria os porcos, galinhas e onde se planta as arvores frutíferas e algumas medicinais. Onde é varrido para família ficar. Local onde são plantados a plantas de enfeite, os temperos e as hortas para que as aves e os porcos não mexam. Normalmente o terreiro e todo cercado e tela È plantada nos terreiros são utilizadas para a família variar a comida e ter uma verdura pra comer Produção da alimentação da família e dos animais de criação (mandioca, milho, arroz, feijão e fava) e para complementação de renda. (melancia, abacaxi) O curral serve para manejo do gado: tirar leite, vacina, aplicar remédio, aparta o gado. Fica na frente da casa para facilita a entrega do leite. È construído na parte mais alta do terreno, assim evita barro e facilita o manejo do gado na época da chuva. Onde é criada a galinha caipira melhorada, as galinhas caipiras são criadas soltas nos quintais. Antes servia pra tudo, lavar roupa tomar banho, pegar água. Agora é o lugar onde o gado bebe água, onde pescam peixes para comer de vez em quando. Podemos observar os processos de adaptabilidade humana numa paisagem que antes, era formada por uma cobertura vegetal densa, típicas das florestas amazônicas e foi se modificando ao longo dos anos, de tal forma, que resultou num imbricado sistema produtivo, com uma paisagem distribuída em vários subsistemas de produção que valoriza toda a área e uso dos solos, de forma tal que, com a formação gradativa da pastagem para a criação pecuária bovina, o plantio de roças de cereais, plantações de espécies hostículas e a 87 introdução da produção de pequenos animais, fez com que os agricultores fossem ocupando todo o ambiente da sua propriedade. Na paisagem do assentamento representando as propriedades (Figura 21), observamos que há um conjunto de espécies de plantas de arbustos como pimenteiras, hostículas, ornamentais e o plantio de hortaliças que ficam na cercania das moradias onde é denominado o terreiro. A frente das moradias é marcada pela paisagem da Pastagem para produção bovina. Nas imediações da moradia há um conjunto de espécies arbóreas frutíferas e medicinais, numa associação de espécies de bananeiras, canavieiros, cajueiros, mangueiros, abacateiros, goiabeiras, mamoeiros e vários outras que são cultivadas aos fundos das moradias denominados de quintais. Logo após os quintais está a zona de vegetação natural denominada Mata onde está localizados variedades de espécies de plantas nativas, animais silvestre e córrego que é o principal recurso hídrico para os animais. Na outra margem dos córregos há manchas de cultivo de roças de melancia, feijão e milho. Nota-se, portanto, a variação dos sistemas e como estes inter-relacionam com as diversas unidades de paisagem e a otimização que os agricultores fazem dos recursos naturais que possuem. O contato com ambiente de forma cotidiana através das suas práticas de trabalho e modos de vida no assentamento Nossa Senhora Aparecida possibilitou as famílias desenvolver percepções sobre ecossistemas desenvolvendo o entendimento sobre a necessidade de manutenção das práticas ecológicas como reciclagem de nutrientes, manutenção da diversidade biológica e uso racional dos recursos. Pois as famílias já estão compreendendo que, se não houver a preocupação com a manutenção destes processos, ocorrerá a perturbará a manutenção dos recursos naturais. 88 Figura 21. Esquema da adaptabilidade , distribuição da paisagem e os usos do solo no sistema de produção no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. Desenho: Mônica Alves. 89 Conforme figura 22, podemos observar como os agricultores fizeram à composição do espaço nas suas propriedades. Estes já modificaram bastante a paisagem original da área, transformou quase tudo em pastagem, somente 16 % dos agricultores preservam uma maior área de mata, em média com 20 ha. Estes fragmentos de mata (figura 22) são utilizados como reserva ambiental, pelos agricultores familiares para fins ecológicos, preservação dos córregos, uso de algumas plantas medicinais para fazer um remédio ou uma garrafada, utilizam também a mata para tirar alguma madeira para fabricação de cabo de enxada, machados, manutenção de alguma instalação na propriedade. Mas também, para todos os agricultores/as entrevistados a mata é percebida como um importante habitat para os bichos silvestres e para manter a biodiversidade de espécies de plantas. Segundo Schubart et al (1983) aput Noda (2000) as florestas são importante no processo de reciclagem de nutrientes e possibilitam a conservação dos ecossistemas e mantêm o bom estado nutricional das plantas. Figura 22: Ilustração da mata como componente da Paisagem no assentamento Nossa Senhora Aparecida, município Pequizeiro-TO. Os agricultores possuem conhecimentos de 37 espécies de plantas nas áreas de matas. Destas 18 são madeireiras, sendo que, 10 espécies são também utilizadas para lenha e 7 são utilizadas em construções, 9 são espécies são medicinais, 3 espécies são utilizadas na alimentação da família (buriti, bacaba e jenipapo). Do total de plantas da mata, 17 espécies 90 servem também para alimentação dos animais silvestres. Nas propriedades que a área de mata é menor os agricultores só conhecem 18 espécies de plantas, isto demonstra que ao derrubar a mata, muitas espécies desapareceram e, portanto, os saberes sobre as diversas plantas que os agricultores possuíam vão desaparecendo das memórias coletivas. A área de brejo ou mata alagada (figura 23) é considerada “terra baixa”, que alaga no período da chuva, estas áreas ficam a margens do córrego macaco e de outros córregos vicinais. No período da seca serve de pastagem para o gado porque é uma área que o capim fica o tempo todo verde. Em algumas propriedades é local para plantio de roças de arroz e milho, porque pode ser plantado mais cedo já que o terreno é úmido o tempo todo. Figura 23: Brejo como componentes da Paisagem no assentamento Nossa Senhora Aparecida, município Pequizeiro-TO. A pastagem (figura 24) conforme já foi dito, é o maior componente da paisagem, serve para a alimentação do gado e equinos, mesmo assim, segundo os agricultores abriga 22 espécies de plantas, 8 madeireiras, 8 espécies servem como alimentação dos animais silvestres, (floradas de abelhas, frutas que os peixes, pássaros e mamíferos se alimentam) e uma espécie é medicinal e 5 espécies servem para outros fins como construção, artesanato, ecológica e para fazer sombra para o gado. Neste local também são colocadas caixas de 91 abelha, para produção de mel. Nas propriedades onde há menores áreas de matas só foram encontradas apenas 06 espécies de plantas nesse local. Deste modo nas áreas de pastagem foram tiradas quase todas as arvores e os rebanhos bovinos não têm como se protegerem do sol. Nas propriedades onde área de pastagem é menor são encontradas a maior diversidade de fauna silvestre, 20 espécies, sendo 6 mamíferos (anta, tamanduá bandeira e 4 espécies e tatus- verdadeiro, peba, galinha e bola), 9 aves terrestres (bem-te-vis, ema, joão de barro, perdiz, pássaro preto, pomba do bando, seriema, tetéu e garças), 2 répteis aquáticos (cobras: jaracuçu do brejo, jibóia) e 4 répteis terrestres ( cobras: cascavel, cipó, coral e jararaca). Já nas propriedades onde as áreas de pasto são maiores foram informados conhecimentos de apenas 13 espécies. Figura 24: Pasto como componente da Paisagem no assentamento Nossa Senhora Aparecida, município Pequizeiro-TO. Por causa da atividade da pecuária, outro componente da paisagem encontrado em todas as propriedades é o curral (Figura 25). Este é utilizado como o local de manejo do gado como: vacinar, apartar às vacas, tirar leite, aplicar remédios. Os currais possuem em média 80 m² e foram construídos na parte mais alta do terreno em frente à residência, para evitar a 92 formação de barro e poças de lama no período chuvoso que dificulta a atividade de tirar leite e também porque facilita para o leiteiro pegar o leite. Figura 25: Curral como componente da Paisagem no assentamento Nossa Senhora Aparecida, município Pequizeiro-TO. Os quintais (Figuras 26 A-B) representam os diferentes usos que os agricultores familiares dão a terra em suas unidades produtivas. São organizados pela família no fundo das residências, onde cultivam diversas espécies de plantas e pequenos animais que são utilizados para garantir segurança alimentar e auto-suficiência da família. Os quintais são definidos pelas famílias como o lugar onde não se varre, para aproveitar o adubo das folhas das arvores e é onde ficam as criações pequenas (D.E.S, 53 anos). Os quintais são sistema agroflorestais (SAF´S) constituídas de diversas espécies de plantas, que se encontram distribuídas de forma aleatórias, sem espaçamento definido. Estes foram formados ao longo do tempo que as famílias chegaram ao assentamento. Os tamanhos encontrados entre 1,0 a 2,0 ha. Nas propriedades das famílias que estão no assentamento desde a época da ocupação, foram encontradas 96 espécies de plantas nativas e plantadas (perenes e anuais), sendo 29 % alimentícias, 28 % alimentícias e Medicinais, 13,5 % somente medicinais e as espécies restantes são madeireiras, ornamentais, ecológicas e artesanais. 93 Uma parte dos quintais é utilizada para a construção dos galinheiros, para criação das galinhas caipiras melhoradas. Estes foram encontrados apenas nas três propriedades que criam estas espécies. São construídos, com telha, tijolo e cimento cercados de tela com piquetes para as galinhas pastarem, com uma área total de 60m². Nestas 3 (três) propriedades a galinha caipira melhorada, representam 66,4 % da produção dos pequenos animais. No que se referem aos outras criações de pequenos animais, o que predomina no assentamento são as galinhas caipiras, com 67 % dos animais criados na comunidade, seguidos pela criação de angolistas com 17 %, de porcos 12,5 %, de perus 1,6 % e de patos 1,2 %. Estes animais aproveitam as folhas, frutos, raiz e microorganismos que existem nos quintais para se alimentar. A B Figura 26: Quintais e seus diferentes usos pelas famílias no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. Figuras A e B. Os terreiros (Figura 27) são os espaços ao redor da casa, normalmente cercado por telas para evitar entrada de animais, é definido pelas famílias como o lugar que é barrido para a gente fica, usar, trabalhar (N.A. S, 46 anos). Este lugar a responsabilidade de cuidá-lo é das mulheres e filhas. Contrapondo o quintal que é deixado naturalmente para a produção dos nutrientes das plantas, os terreiros são cuidados para o uso coletivo dos grupos familiares, 94 onde são realizadas atividades sociais: festinhas em família, acolhimento das visitas e conversar com vizinhos. É o lugar também onde é exercido o prazer estético através do plantio de espécies ornamentais (Lírios, orquídeas, coqueirinho, onze - horas, samambaias, cravos, cactos, rosas, flores, bunina, moça velha, maravilha, boa-noite, margaridas, comigo ninguém pode e espada de são jorge), há também as plantas medicinais (arnica, alfavaca, capim santo, erva cidreira, boldo, romã, babosa, algodão, arruda) e também as plantas decorativas espada de São Jorge e comigo-ninguém-pode onde estão relacionadas também a crenças populares de proteção a casa e família contra mau-olhado. Nos terreiros, uma parte é deixada e cercada para o cultivo de hortas. Figura 27: Terreiros e formas de utilização deste componente de paisagem pelas famílias no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. As hortas (figuras 28) também faz parte dos arranjos produtivos locais na diversificação da produção de alimentos para auto reprodução da família. Estas hortas são pequenas, em média em torno de 10 m² onde se encontram os temperos (cebolinha, coentro, pimenta malagueta, pimenta de cheiro) e verduras e legumes (vargem, alface, couve, pepino, jiló, quiabo, maxixe, abóbora vermelha, abobrinha, tomate). 95 Figura 28: Hortas cultivadas pelas famílias no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. Os saberes e saber-fazer destes agricultores sobre o ambiente se manifesta também nas suas representações sociais e simbólicas que são expressos nas suas falas. As famílias fazem analogias aos lugares e coisas com representação ao ambiente como nome dos córregos, como: Macaco, Sucuri, Piau, Buriti e o Brejão. O córrego macaco é principal manancial de água do assentamento. O nome macaco foi dado pelos agricultores a este pequeno afluente de água devido à quantidade enorme de macacos-pregos que vivem na mata à sua margem. Nos primeiros anos do assentamento, este córrego foi a única fonte de água para todas as atividades da propriedade tanto domésticas, quanto produtiva. Era o local onde a família tomava banho, lavava roupa, pegava água para consumo da casa. Também era e continua sendo a fonte dos animais beberem. Atualmente o córrego macaco é utilizado como recurso hídrico para irrigação de queda livre para as lavouras, é também usado no abastecimento de água das propriedades que ficam a sua margem. As famílias o utilizam como lugar de pesca, como uma atividade de lazer, cujo pescado serve de complementação protéica na alimentação. A pesca é artesanal com uso de azóis. As famílias que estão maior tempo no assentamento e que vivem em áreas que ainda há matas possuem conhecimento de 27 espécies de peixe. Deste, ainda consomem 6 espécies 96 (papa-terra, piaba, piau branco, pintado, traíra e tucunaré) sendo os três últimos mais apreciados. Nas propriedades onde só tem pequenos córregos vicinais e que as famílias compraram a terra, só conhecem ou ainda se encontra apenas 12 dessas espécies. 4.3.2 Etnobotânica das Espécies Os saberes dos agricultores familiares sobre os componentes florísticos se manifestam nas diferentes práticas do cotidiano do assentamento, nas plantações de quintais, no cultivo de hortas, nas plantações dos terreiros e na extração de madeira, da casca, do óleo das plantas nativas. Os agricultores definem plantas somente aquilo que é plantado, as espécies endêmicas são definidas como mato. Identificam as diferentes espécies de plantas pelos seus usos, cheiros, texturas e tamanhos, cor, tipos de sementes e flores e período que florescem. Conforme relatos abaixo. Alfavaca muda muito depende da época, nesta época elas não prosperam, é igual mastruz, elas nascem na época das águas (..). no lugar muito úmido ainda tem ela.(D.E.S,) (...) a lima serve de alimentação e uma pessoa ensinou que tirar a raiz da lima do lado que o sol sai, não tem tipo de febre que não corta. Estes conhecimentos da biodiversidade florísticas são adquiridos pela transmissão cultural que se processa através de fragmentos mêmicos significativos das relações cotidianas, nas idéias dos antepassados, nas relações dos grupos familiares, nas representações dos grupos e nas relações sociais com os diferentes grupos dos quais os agricultores/as fizeram parte ao longo da vida. Nas entrevistas percebe-se nas falas dos agricultores os memes de três entrevistados sobre como se deu processo de acumulação dos saberes. 97 (...) aprendi desde pequeno, com os mais velhos, meus pais e avós (P.A.J, 48 anos). (...) pra gripe cê pega o limão corta 3 limão em cruz e bota ferver bem fervido até ficar molinho e bota um pouco de sali e bebe...aprendi com um vizinho cearense. (...) isso é tradição dos mais antigos, desde quando começou o mundo é que tem esse negocio de fazer azeite da mamona para remédio, minha mãe que fazia. As aquisições de informações dos saberes sobre as plantas no assentamento ocorrem das seguintes formas: pela transmissão entre gerações como avós, pais e tios; nas relações cotidianas no assentamento com vizinhos; através de cursos que já participaram; pelos programas de televisão e também pela observação empírica, enfim, pelos os habitus dos agricultores familiares. Entendendo o conceito de habitus aqui, segundo Bourdieu (2005:16), como conjuntos de conhecimentos que são passados socialmente entre o grupo e que são utilizados como instrumentos de conhecimento e de construção do mundo objetivo. Ou seja, não é só a memória já arraigada pela cultura a responsável pela propagação destes saberes, mas também aquisição de novas mensagens cognitivas que vão sendo adquiridas a partir das necessidades das famílias e de seu modus operandi. As necessidades cotidianas é que, conforme descreve (Allut, 2000, p. 104): (...) contribui para a construção do conhecimento que se adquire sobre a base de uma informação hierarquizada e seletiva, obtida...pelo aprendizado perceptivo, em que se empregam ,além dos “saberes antigos”, uma atenta e hábil percepção sensorial , em que todos os sentidos intervêm ativamente como receptores de informação. A vida no campo é cheia de imprevistos, como doenças na família, nos animais, pragas nas plantas, indefinições climáticas que prejudicam as lavouras, insegurança do retorno financeiro do investimento nas atividades produtivas como as galinhas, melancia, abacaxi, as roças, da produtividade do rebanho bovino, da oscilação do preço do leite e falta de conhecimento técnico. Os conhecimentos sobre as plantas de apresentam, portanto, como solução necessária para resolver estes problemas que aparecem no assentamento rural, 98 atuando como regulador de incertezas. Quando os agricultores familiares fazem uso destes conhecimentos nas suas práticas cotidianas, podem vivenciar estes saberes através da observação, experimentação, comparação, atualização e aquisição de novos saberes, mantendo vivo um banco de dados na memória coletiva do grupo. No assentamento as relações familiares contribuem para o processo ensinoaprendizagem sobre saberes ambientais a partir do envolvimento dos jovens com os pais nas práticas do trabalho diário. È nestes momentos de convívio com os pais, explica Noda (2000), que se inicia o processo de aprendizagem sobre a natureza, ao reconhecer as diferentes formações vegetais e os espaços ocupados, a movimentar-se dentro deles, a decodificar os comportamentos dos animais e plantas e os sons e cheiros da mata e dos bichos. Deste modo, a transmissão intergeracional desses saberes pode estar comprometida já que, em 50% das famílias entrevistadas os filhos não moram mais na propriedade, saíram para estudar, casaram-se e moram na cidade, uns poucos estão morando em outros assentamentos e apenas 34% da população pesquisada são crianças e jovens. Nas entrevistas, percebe que os agricultores familiares estabelecem uma classificação das plantas como: nomes das espécies, locais que melhor se adaptam o solo, suas características físicas, suas interações com animais, outras espécies, a partir dos processos de socialização estabelecidos no assentamento, como as trocas de mudas para plantio de roças como mandioca, cana, feijão e milho; nas trocas de frutas ou sementes para plantio no quintal, diversificando assim, as espécies alimentares, ou ainda na necessidade emergencial de alguma doença em que se valem da solidariedade entre vizinhos, com remédios caseiros ou receitas para as doenças mais freqüentes como gripe, febre, tosse, diarréia, dor de cabeça, infecções de garganta ou doenças causadas por machucados, problemas digestivos, de rins ou fígado, problemas crônicos como pressão alta, colesterol, conforme podemos observar na tabela 4. 99 Há varias espécies de plantas nativas e cultivadas que são utilizados para diferentes para fins na propriedade, como alimentação (família e bichos), remédio, ornamentação, uso da madeira, sendo portando, mais valorizadas pelas famílias. Como podemos observar na figura 31. Figura 29. Distribuição das espécies de plantas pela sua utilização pelas famílias no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, Município de Pequizeiro – TO. A =Alimento (Humano - Frutas, verduras, legumes, temperos-Abelhas-Flores- Aves silvestres e domésticas – Frutas- Peixes – sementes- Bichos-mamíferos domésticos e silvestres-frutas). M= Medicinais MA= Madeireira OR= Ornamental E= Ecológicas A = Alimento: Esta espécie é maioria 57 %, das plantas identificadas. Sendo que, 19 % destas são medicinais e 6 % também são madeireiras. Esta categoria diz respeito às espécies disponíveis na propriedade para alimentar tanto os seres humanos quanto os animais de criação e silvestres. As maiorias destas plantas são consumidas in natura, mas também, são transformadas em sucos e doces. A maior parte destas é encontrada nos quintais e terreiros. M = Planta medicinal: Esta espécie representa 35 % do total das plantas encontradas, e 19 % desta também são alimentícias. È caracterizada pela sua relevância dentro do assentamento, pois, as famílias fazem uso de suas folhas, sementes, raízes e cascas 100 subtraindo extratos para preparar remédios que são usadas na medicina popular regional. São reconhecidas em todos os componentes da paisagem: Quintais, terreiros, pastos e matas. Mas é nos quintais que se encontram uma maior diversidade. São 45 espécies sendo que 22 destas espécies são nativas. MA = Madeira: representa apenas 22 % do total de espécies encontras. Caracteriza-se pela satisfação que as famílias podem obter na economia doméstica ao utilizar estas plantas para a fabricação de cabos para ferramentas, reparos na propriedade, construção de residências e instalações para os animais e também são usadas como lenha. São encontras na sua maioria na mata, 29 espécies e uma boa quantidade, 16 espécies também nos quintais. Or = Planta ornamental: são em menores espécies apenas 9 %. É uma categoria de planta em que sua valorização se dá pela satisfação da sensibilidade estética e apreciação a beleza. Ou= também são incluídas outras categorias como: E = plantas valorizadas pelo serviço relevante que prestam junto a recuperação da natureza. Foram encontradas poucas espécies, apenas 5 que protegem as nascentes do rio como: taboca, bambu, buriti; evita raios: maravilha e NIN - inseticida natural. F/R/AR = plantas conhecidas pelos seus valores afrodisíacos, misticismo (proteção a mal olhado) ou ainda que seja utilizadas para a fabricação de alguma artesanato. Conforme a Figura 30, pode-se notar que há uma maior diversidade de espécies floríticas nas propriedades com área de matas maiores e nos quintais das famílias que está há mais tempo no assentamento. Estes dados compravam materialmente que, o manejo de recursos naturais por parte das populações que possuem um sentimento de pertencimento o lugar é mais sustentável, pois estas populações percebem que as sobrevivências de sua família 101 e de seus descendentes dependem diretamente de práticas sustentáveis de conservação ambiental. Em algumas propriedades essas espécies de plantas estavam relacionadas com o lugar de origem do conjugue. As pessoas que vieram de Goiás cultivam entre outras espécies a guariroba, carambola, mexerica, vargem, abobrinha verde, caju; quem veio da região nordeste plantaram varias espécies características dos seus Estados como: Buriti, babaçu, bacaba, bacuri, açaí, cupuaçu, coco anão, buritirana, pitomba, seriguela, fava, mandioca. Esta diversidade de plantas existentes no assentamento demonstra que parte das famílias mantém a biodiversidade a partir seus habitus reproduzidos no manejo dos recursos naturais e na reprodução de espécies alimentares e medicinais nos quintais e terreiros e que, logo, por meio desta prática contribuem para a conservação de variadas espécies de plantas Nº de espécies de plantas endêmicas e exóticas no assentamento. Figura 30. Quantidade de espécies de plantas encontradas nas propriedades com maior e menor área de mata no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, Tocantins. n=160 As espécies apresentadas na tabela 4 foram identificadas pelos discursos dos agricultores durante as entrevistas e no momento das exsicatas (Figura 31). Foram organizadas pelas famílias, espécies e nos ambientes em que encontram. 102 Figura 31: Coleta das plantas endêmicas nas áreas de mata para classificação taxonômica no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, Tocantins. Foto: Kamila Soares 103 Tabela 4. Informações gerais sobre a biodiversidade vegetal encontrada no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n = 160). FAMÍLIA/ESPÉCIE Anacardiaceae Anacardium occidentale Astronium fraxinifolium Kielmeyera coriacea Lafoensia glyptocarpa Mangifera indica Spondias mombin Spondias purpurea Anonaceae Annona squamosa Anona muricata Apocynaceae Annoma squamosa Aracaceae Acrocomia aculeata Cocos nucifera Euterpe oleracea Mauritia flexuosa Oenocarpus bacaba Orbignya phalerata Araceae Bidens pilosa Dieffenbachia amoema Lactuca sativa Leucanthemum vulgare Lychnophora pinaster Monstera deliciosa Tagetes minuta Zinnia elegans Bignoniaceae Bixa orellana Bixaceae Pithecoctenium crucigerum Tabebuia aurea Bombacaceae Bombax munguba Ceiba pentandra Brassicáceae Brassica oleracea Burseraceae Protium heptaphyllum Protium spruceanum Trattinnickia burseraefolia * 1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto NOME POPULAR AMBIENTE* Caju Gonçalo Alves Folha Santa Mirindiba Manga Cajá Seriguela 1,2 3,4 1 3, 4 1,2 1,2 1 Fruta do Conde Graviola 1 1 Ata Mejú 1 Macaúba Coqueiro da Bahia Açaí Buriti Bacaba Babaçu 1 1 2 1,3 1,3,4 1 Picão Comigo- n- pode Alface Margarida Arnica Bananeira do mato Cravo Moça velha 1 2 2 2 2 1,4 2 2 Urucum 1 Pente-de-macaco Ipê Amarelo 1 3,4 Munguba Barriguda 1 1 Couve 2 Amesca Arueira Amesca Branca Amesclão 3 3 1 104 Tabela 4. Informações gerais sobre a biodiversidade vegetal encontrada no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n = 160). (Continuação) FAMÍLIA/ESPÉCIE Cacropiaceae Cecropia catarinensis Caesalpinaceae Caesasalpinia echinata Campsiandra comosa Couepia uiti Sclerolobium paniculatum Caricaceae Carica papaya Caryocaraceae Caryocar brasiliense Cecropiaceae Cecropia sp. Chenopodiaceae Chenopodium ambrosioides Chrysobalanaceae Licania tomentosa Clusiaceae Calophyllum brasiliensis Garcinia madruno Compositae Vernonia ferruginea Vernonia polyanthes Convolvulaceae Ipomoea bona-noxa Operculina macrocarpa Cucurbitaceae Cucumis anguria Cucumis sativus Cucurbita maschata Cucurbita pepo Luffa cylindrica Dioscoreáceas Dioscorea alata Euforbiáceas Cereus jamacaru Croton urucurana Hieronyma sp Manihot esculenta Ricinus communis Sapium sp * 1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto NOME POPULAR AMBIENTE* Embaúba 1 Pau-Brasil. Acapu Pateiro Cachamorra 3 3 3 3 Mamão Papaia 1 Pequi Imbaúba 3 Mastruz 1 Oiti 3 Landi Bacuri 3 1 Assa-peixe branco Assa peixe 4 1,4 Boa-noite Batata de purga 2 1 Maxixe Pepino Abóbora comum Abobrinha Verde Bucha 2 2 2 2 2 Cará de rama 1 Cacto médio Sangra D’água Vermelhão Mandioca cacau Mamona Burra leiteira 2 3 3 1 1 1 105 Tabela 4. Informações gerais sobre a biodiversidade vegetal encontrada no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n = 160). (Continuação) FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME POPULAR Fabaceae Apuleia leiocarpa Garapa Bauhinia glabra Cipó Tripa de galinha Caesalpinia pulcherrima Maravilha Copaifera multifuga Copaíba Copaifera langsdorfri Pau de óleo Dalbergia spruceana Jacarandá Hymenaea courbaril Jatobá Inga congesta Ingá Preto Inga edulis Ingá de corda/metro Phaseolus vulgaris Feijão de vargem Tamarindus indica Tomarino Gramineae Guadua paniculata Taboca Guttiferae Caraipa densifolia Camaçari Lamiaceae Melissa officinalis Erva cidreira Ocimum basilicum Alfavaca Plectranthus barbatus Boldo Pogostemum patchouly Paticholi Laurácea Acrodiclidium brasiliense Louro Crocus sativus Açafrão Persea americana Abacate de bico Lecythidaceae Cariniana estrellensis Cachimbeiro Liliacea Allium schoenoprasum Cebolinha Aloe arborescens Babosa Lírio orange Lírio Sanseviera trifasciata Espada São Jorge Lythraceae Physocalymma sacaberrimum Cega Machado Malpighiaceae Malpighia glabra Acerola Malvaceae Gossypium hirsutum Algodão Branco hibiscus esculentus Quiabo Meliaceae Azadirachta indica NIM Cabralea sp Cajarana Cedrela fissilis Cedro Swietenia macrophylla Mogno * 1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto AMBIENTE* 3,4 1,3 2 3 3 3 3,4 4 2 2 1 1,4 4 2 1,2 1 1 3 1 1, 2 3 2 1 1 2 3 2 1 2 1,2 3 1,4 1 106 Tabela 4. Informações gerais sobre a biodiversidade vegetal encontrada no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n = 160). (Continuação) FAMÍLIA/ESPÉCIE Mimosaceae Anadenanthera macrocarpa Dinizia excelsa Mimosa caesalpiniifolia Mirtáceae Eucaliptus spp Eugenia malaccensis Eugenia uniflora Myciaria cauliflora Psidium guajava Psidium piriferum Moraceae Artocarpus intergrifolia Brosimum gaudichaudii Brosimum Rubescens Chlorophora tinctoria Fícus dendrocida Ficus spp Morus sp Musaceae Musa spp Myristicaceae Virola sebifera Oleaceae Olea europaea Orquidaceae Cattleya violacea Rolfe Oxalidaceae Averrhoa carambola Palmae Butia leiospatha Syagrus oleracea Passifloraceae Passiflora edulis Passiflora quadrangularis Piperaceae Piper aduncum Piper nigrum Poaceae Bambusa spp Cymbopogon densiflorus Saccharum officinarum * 1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto NOME POPULAR AMBIENTE* Angico monjolo Angelim Sabiá 1 1,3 1 Eucalipto Jambo Nativo Pitanga Jabuticaba Goiaba branca Goiaba vermelha 1 3 1 1 1,2 1,2 Jaca Inharé Conduru Moreira Atraca Gameleira Amora 1 3 1 1,3,4 1 1 1 Banana 1 Mucuíba 3 Azeitona 1 Orquídea 1 Carambola 1 Vassoura Gueroba 1 1,2 Maracujá Perola Maracujá Grande 1 1 Pimenta de macaco ou Jaboranti Pimenta do reino 1 Bambu Capim santo Cana-de-açúcar 1 2 1 1 107 Tabela 4. Informações gerais sobre a biodiversidade vegetal encontrada no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n = 160). (Continuação) FAMÍLIA/ESPÉCIE Polypodiaceae Pteridium aquilinum Portulacaceae Portulaca grandiflora Punicaceae Punica granatum Rosaceae rosa sp. Rubiaceae Cinchona calisaya Coffea canephora Genipa americana Rutaceae Citrus aurantifolia Citrus aurantifolia Citrus limonia Citrus nobilis Citrus reticulata Citrus sinensis Ruta graveolens Zanthoxylum fagara Zanthoxylum rhoifolium Sapindaceae Talisia esculenta Sapotaceae Eugenia lambertiana Pouteira macrocarpa Pouteria oblanceolata Pouteria sp Simorubaceae Simoruba spp Scrophilariaceae Scoparia dulcis Solanaceae Capsicum chinense Capsicum frutescens Lycopersicun esculentum Solanum paniculatum Solanum gilo * 1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto NOME POPULAR AMBIENTE* Samambaia 2 Onze - horas 2 Romã 1 Rosa 2 Quina Café Jenipapo 1 1 3,4 Lima Limão galego Limão china /cravo Mexerica Pocan Mexeriquinha Laranja de enxerto Arruda Maminha de porca grande Maminha de porca pequena 1 1 1 1 2 1 2 1,4 Pitomba 1 Goiabinha do Mato Tuturubá Tuturebá Guapeva 3 1 1,3 3 Mata menino 3 Vassourinha 1 Pimenta de Cheiro Pimenta Malagueta Tomate Jurubeba Jiló 2 2 2 1 2 1 108 Tabela 4. Informações gerais sobre a biodiversidade vegetal encontrada no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n = 160). FAMÍLIA/ESPÉCIE Sterculiaceae Helicteres sacarrolha Sterculia apeibophylla Sterculia sp Theobroma cação Theobroma grandiflorum Umbelliferae Coriandrum sativum Verbenaceae Duranta repens aurea Stachytarpheta cayennensis Vitex montevidensis * 1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto NOME POPULAR AMBIENTE* Rosquinha Axixá Chichá Cacau Cupuaçu 3,4 4 3 1 1 Coentro 2 Pingo D,ouro Gervão Tarumã 2 1 4 Das espécies citadas na tabela acima, segundo a lista Oficial de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção divulgada pelo Instituto Brasileiro Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA, 1992), apenas o Mogno (Swietenia macrophylla) e Pau-Brasil (Caesalpinia echinata Lam) constam da lista. A espécie Gonçalo Alves (Pterogyne nitens) também está protegida por Lei Federal. 109 Tabela 5. Características das espécies vegetais, hábitos de crescimento, utilização, freqüência e origem das espécies encontradas no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n=160) HÁBITO DE CRESCIMENTO CONHECIMENTO SOBRE O USO Acrocomia aculeata Aloe arborescens Palmeira Herbácea A/M M Anadenanthera macrocarpa Annona squamosa Annona squamosa Anona muricata Artocarpus intergrifolia Averrhoa carambola Bambusa SP Bidens pilosa Árvore Arbusto Arbusto Arbusto Arvore Arbusto Arbusto Herbácea A/L A/MA A A A A E M ESPÉCIE PARTE DA PLANTA UTILIZADA Quintal Fruto Folha Madeira/flor Madeira/fruta Fruta Fruta Fruta Fruto Raiz, caule Raiz USO MEDICINAL FREQUENCIA Caxumba Gripe, câncer, rins, hemorróidas Media Icterícia, catapora e hepatite. Colesterol Média Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Bixa orellana Arbusto A/M Semente Baixa Bombax munguba Árvore E Arvore Baixa Brosimum Rubescens Árvore AR/MA Madeira Alta Butia leiospatha Herbácea M Folha Media Carica papaya . Arbusto A/M Fruta/folha Câncer, má digestão. Alta Cattleya violacea Herbácea OR Flores Baixa Ceiba pentandra Árvore MA Madeira Baixa A; Alimentícias, L; Lenha M; Medicinal, MA; Madeireira, OR; Ornamental, E; Ecológica; AR-Artesanato, V- Veneno e F-Folclore. ORIGEM DA ESPÉCIE Vizinho Fazenda onde morava/vizinhos Nativa Nativa Vizinhos Colinas Vizinho Vizinho Vizinho Nativa Vizinho Faz. onde morava Vizinho Nativa Comprou Casa da Mãe Nativa 110 Tabela 5. Características das espécies vegetais, hábitos de crescimento, utilização, freqüência e origem das espécies encontradas no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n=160) (Continuação) HÁBITO DE CRESCIMENTO CONHECIMENTO SOBRE O USO Herbácea M Cinchona calisaya Árvore MA/M Madeira/casca Citrus aurantifolia Árvore A/M Fruta/raiz Citrus aurantifolia Árvore A/M Fruta/folha Citrus limonia Citrus nobilis Citrus sinensis Árvore Árvore Árvore A/M A A/M Fruta/folha Fruta Fruta/casca/folha Palmeira Arbusto Arbusto Cipó Árvore Árvore A A/M A/M A MA/M A Fruta Sementes/folha Raiz Batata Madeira e folha Fruta ESPÉCIE Chenopodium ambrosioides. Cocos nucifera Coffea canephora Crocus sativus Dioscorea alata Eucaliptus sp Eugenia uniflora PARTE DA PLANTA UTILIZADA Quintal Folha/sumo USO MEDICINAL FREQUENCIA ORIGEM DA ESPÉCIE Infecção/vermes/cic atrizante de osso do animal Inflamações, fígado, intestino. Calmante, dor de cabeça e febre Gripe,dor de barriga e calmante Calmante Alta Faz. onde morava Baixa Nativa Baixa Vizinho Alta Vizinho Alta Media Baixa Vizinho Comprada Vizinho Media Baixa Alta Baixa Baixa Baixa Colinas vizinho Vizinhos Vizinho Colinas Qdo comprou a terra já tinha plantado Gripe, má digestão/febre Congesta/sinusite Infecção de garganta Gripe e laxante A; Alimentícias, L; Lenha M; Medicinal, MA; Madeireira, OR; Ornamental, E; Ecológica; AR-Artesanato, V- Veneno e F-Folclore. 111 Tabela 5. Características das espécies vegetais, hábitos de crescimento, utilização, freqüência e origem das espécies encontradas no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n=160) (Continuação) HÁBITO DE CRESCIMENTO CONHECIMENTO SOBRE O USO Fícus dendrocida Cipó R Quintal Leite Ficus sp Garcinia madruno Árvore Palmeira E A/M Arvore Fruta/caroço Gossypium hirsutum Kielmeyera coriacea Lírio orange pixie Manihot esculenta Arbusto Arbusto Herbácea Arbusto M M OR A Mimosa caesalpiniifolia Morus sp Musa sp Myciaria cauliflora Olea europaea Operculina macrocarpa Árvore Arbusto Arbusto Arbusto Árvore Herbácea A/MA A A A/M A/M M Folha/semente Folha Flor Folha/rama /caule e raiz Madeira/flores Fruta Fruta Fruta/folha Fruto Raiz Orbignya phalerata Palmeira A/MA/AR Passiflora edulis Passiflora quadrangularis Piper aduncum Piper nigrum Plectranthus barbatus Arbusto Arbusto Arbusto Cipó Arbusto A A A/M A/M M ESPÉCIE PARTE DA PLANTA UTILIZADA Fruta/madeira/ Folha/fibra /óleo Fruta Fruta Fruto Fruto Folha USO MEDICINAL FREQUENCIA ORIGEM DA ESPÉCIE Visgo para pegar passarinho Baixa Nativa Alta Baixa Nativa Maranhão Media Media Baixa Alta Faz. onde morava Vizinho Vizinha Vizinho e onde morava Nativa Vizinho Vizinho Vizinho, parentes Pneumonia, gripe, ferimento externo Infecção e gripe Inflamações Gripe Baixa Baixa Alta Baixa Baixa Baixa Laxante Media Pressão alta Media Baixa Baixa Media Alta Garganta inflamada Gripe Fígado e má digestão A; Alimentícias, L; Lenha M; Medicinal, MA; Madeireira, OR; Ornamental, E; Ecológica; AR-Artesanato, V- Veneno e F-Folclore. Fazenda onde morava/ Colinas Fazenda onde morava Vizinho/Colinas Vizinho Nativa Parente, Pará Vizinho 112 Tabela 5. Características das espécies vegetais, hábitos de crescimento, utilização, freqüência e origem das espécies encontradas no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n=160) (Continuação) HÁBITO DE CRESCIMENTO CONHECIMENTO SOBRE O USO Pogostemum patchouly Portulaca grandiflora Pouteira macrocarpa Punica granatum Ricinus communis Arbusto Herbácea Árvore Arbusto Arbusto R OR A M M Saccharum officinarum Sapium sp Scoparia dulcis Solanum paniculatum Spondias purpúrea Stachytarpheta cayennensis Swietenia macrophylla Talisia esculenta Tamarindus indica Theobroma cação Arbusto Árvore Herbácea Arbusto Árvore Arbusto Árvore Árvore Árvore Arbusto A A/M/L/MA M A/M A M MA/M A A/M A ESPÉCIE PARTE DA PLANTA UTILIZADA Quintal Sementes Flor Fruta Casca Semente/óleo/ Folha Caldo Flor/leite/Madeira Folha Fruta Fruta Raiz Madeira/flores Fruta Fruta/folha Fruta USO MEDICINAL FREQUENCIA ORIGEM DA ESPÉCIE Infecção de garganta Laxante Baixa Baixa Pouca Baixa Baixa Vizinho Vizinha Nativa Mato grosso Vizinho Alta Media Muito Alta Baixa Alta Media Baixa Media Baixa Vizinho Nativa Nativa Itapira Vizinho Nativa Comprada Maranhão Colinas Gastrite Fígado Gripe Theobroma grandiflorum Árvore A Fruta Baixa Trattinnickia burseraefolia . Árvore E Madeira, folhas Baixa Vernonia Polyanthes Arbusto M Folha Gripe Alta Zanthoxylum rhoifolium . Árvore MA/C Madeira Media Zanthoxylum rhoifolium Árvore MA/C Madeira Media A; Alimentícias, L; Lenha M; Medicinal, MA; Madeireira, OR; Ornamental, E; Ecológica; AR-Artesanato, V- Veneno e F-Folclore. Fazenda que morava Colinas Nativa Nativa Nativa Nativa 113 Tabela 5. Características das espécies vegetais, hábitos de crescimento, utilização, freqüência e origem das espécies encontradas no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n=160) (Continuação) HÁBITO DE CRESCIMENTO CONHECIMENT O SOBRE O USO Allium schoenoprasum Brassica oleracea Caesalpinea pulcherrima Capsicum chinense Capsicum frutescens Cereus jamacaru Citrus reticulata Coriandrum sativum Cucumis anguria Cucumis sativus Cucurbita maschata Cucurbita pepo Cymbopogon densiflorus Herbácea Herbácea Arbusto Arbusto Arbusto Arbustos Arvore Herbácea Cipó Cipó Cipó Cipó Gramínea A A OR/E A/M A OR A A A A A A M Dieffenbachia amoema Duranta repens aurea Euterpe oleracea Hibiscus esculentus Inga edulis Ipomoea bona-noxa Lactuca sativa Leucanthemum vulgare Luffa cylindrica Herbácea Arbusto Palmeira Arbusto Arvore Arbusto Herbácea Hebárcea Cipó OR/R OR A A A OR A OR E ESPÉCIE PARTE DA PLANTA UTILIZADA Terreiro Folha Folha Flor/caule/raiz Fruto/folha Fruto /folha Folha Fruta Folha Fruto Fruto Fruto Fruto Folha/raiz Folhas Folhas Fruta Fruto Fruta Flor Folha Flor Fruto USO MEDICINAL Evita raios Erisipela Erisipela Calmante, gripe, má digestão, queda de cabelo. Contra mal olhado FREQUENCIA ORIGEM DA ESPÉCIE Media Media Baixa Alta Alta Baixa Media Media Médio Baixa Pouca Pouca Alta Comprada Comprada Vizinha Palmas e vizinhos Vizinho Colinas Comprada Comprada Comprada Comprada Vizinho Comprada Vizinho, faz.que morava Alta Baixa Baixa Médio Alta Baixa Media Baixa Baixa Casa da mãe Vizinho Curso de formação Comprada Vizinho Vizinha Comprada Vizinho Nativa A; Alimentícias, L; Lenha M; Medicinal, MA; Madeireira, OR; Ornamental, E; Ecológica; AR-Artesanato, V- Veneno e F-Folclore. 114 Tabela 5. Características das espécies vegetais, hábitos de crescimento, utilização, freqüência e origem das espécies encontradas no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n=160) (Continuação) HÁBITO DE CRESCIMENTO CONHECIMENTO SOBRE O USO Lychnophora pinaster Lycopersicun esculentum Malpighia glabra Melissa officinalis Herbáceas Herbáceas Arbusto Hebárcea M A A/M M Sumo Fruto Fruta Folha Phaseolus vulgaris Portulaca grandiflora Pteridium aquilinum rosa sp. Ruta graveolens Sansevieria trifasciata Solanum gilo Tagetes minuta. Zinnia elegans Cipó Herbácea Herbácea Arbusto Arbusto Herbácea Arbusto Herbácea Arbusto A OR OR OR M OR A OR/R OR Acrodiclidium brasiliense Brosimum gaudichaudii Arvore Arvore MA M/L Vargem Flor Folhas Flor Folha e sumo Folha Fruto Flor Flor Mata Madeira Leite/casca/madeira Cabralea sp Caesasalpinia echinata Arvore Arvore MA MA/M Madeira Madeira/Leite ESPÉCIE PARTE DA PLANTA UTILIZADA USO MEDICINAL FREQUENCIA ORIGEM DA ESPÉCIE Dor e machucado Baixa Baixa Alta Alta Faz onde morava Comprado Vizinho Vizinha Media Baixa Baixa Baixa Baixa Media Media Baixa Baixa Vizinha Vizinha Itaporã Vizinha Vizinho Terreiro Gripe Dor de cabeça, gripe, calmante e queda de cabelo. Dor de cabeça e cólica Contra mal olhado Vizinho Vizinha Vizinha Baixa Média Nativa Nativa Baixa Baixa Nativa Nativa Calophyllum brasiliensis Arvore C Madeira Media A; Alimentícias, L; Lenha M; Medicinal, MA; Madeireira, OR; Ornamental, E; Ecológica; AR-Artesanato, V- Veneno e F-Folclore. Nativa Antibiótico, depurativo p/sangue Bronquite/madeira de Lei 115 Tabela 5. Características das espécies vegetais, hábitos de crescimento, utilização, freqüência e origem das espécies encontradas no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n=160) (Continuação) HÁBITO DE CRESCIMENTO CONHECIMENT O SOBRE O USO Campsiandra comosa Cariniana estrellensis Cecropia sp. Copaifera multifuga Arvore Arvore Arvore Arvore C/A C M/C/A C/M/A Mata Madeira/flor Madeira Madeira/água/fruto Madeira/óleo/fruto Copaifera sp. Couepia uiti Croton urucurana. Dalbergia spruceana Eugenia lambertiana Eugenia malaccensis Hieronyma sp Licania tomentosa Physocalymma sacaberrimum Pouteria sp Protium heptaphyllum Protium spruceanum Sderobium paniculatum Simoruba sp Sterculia sp Virola sebifera Arvore Arvore Arvore Arvore Arvore Arvore Arvore Arvore Arvore Arvore Arvore Arvore Arvore Arvore Arvore Arvore MA A/L C/A MA A A/L C/A MA/L MA/A A/L MA M/L MA/L A MA/F M Madeira Flor/fruto/madeira Madeira/flor Madeira Fruto Fruto/Madeira Madeira/flor Madeira Madeira/flor Madeira/flor/fruta Madeira Madeira Madeira Flor Madeira/ fruto Leite ESPÉCIE PARTE DA PLANTA UTILIZADA USO MEDICINAL Rins, gastrite Câncer, sinusite, infecções de rins, cicatrizante. Madeira de Lei Sinusite FREQUENCI A ORIGEM DA ESPÉCIE Baixa Alta Alta Baixa Nativa Nativa Nativa Nativa Baixa Baixa Alta Baixa Baixa Alto Alta Alta Baixa Media Baixa Alta Alta Baixa Média Alta Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Estimulante sexual Gastrite, câncer e coluna A; Alimentícias, L; Lenha M; Medicinal, MA; Madeireira, OR; Ornamental, E; Ecológica; AR-Artesanato, V- Veneno e F-Folclore. 116 Tabela 5. Características das espécies vegetais, hábitos de crescimento, utilização, freqüência e origem das espécies encontradas no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n=160) (Continuação) ESPÉCIE HÁBITO DE CRESCIMENTO CONHECIMENTO SOBRE O USO PARTE DA PLANTA UTILIZADA USO MEDICINAL FREQUEN ORIGEM DA CIA ESPÉCIE Pasto Caraipa densifolia Ingá congesta Pithecoctenium crucigerum Sterculia apeibophylla Vernonia ferruginea Vitex montevidensis Arvore Arvore Arvore A/C A E Madeira/flor Fruta/flor Madeira/flor Arbusto Arvore A/M A/MA Anacardium occidentale Arvore Azadirachta indica Arvore Mangifera indica Ocimum basilicum Persea americana Arvore Herbácea Arvore A/M A/M A/M Fruta/folha Folha /semente Fruta, caroço Psidium guajava Árvore A/M Fruto/casca/broto Psidium piriferum Árvore A/M Fruto/casca/broto Flor/folha Madeira/fruto Quintal e Terreiro A/M Fruta/castanha /flor/casca E/V/M Folha Alta Baixa Baixa Nativa Nativa Nativa Tosse, bronquite Baixa Baixa Nativa Nativa Diarréia e infecção Alta Vizinhos Câncer de pele e inseticida Gripe Baixa Doação do Técnico Vizinho Infecção rins Vomito, diarréia, câncer, bexiga solta. Vomito diarréia, câncer, bexiga solta. Alta Média Pouca Alta Alta Spondias mombin Arvore A Fruta/flor Media Syagrus oleracea Palmeira A Palmito/coco Alta Alimentícias, L; Lenha M; Medicinal, MA; Madeireira, OR; Ornamental, E; Ecológica; AR-Artesanato, V- Veneno e F-Folclore. Faz. onde morava Colinas, vizinho Colinas, vizinho Nativa Vizinho A; 117 Tabela 5. Características das espécies vegetais, hábitos de crescimento, utilização, freqüência e origem das espécies encontradas no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n=160) (Conclusão) ESPÉCIE Apuleia sp Astronium fraxinifolium Genipa americana Helicteres sacarrolha Hymenaea courbaril Lafoensia glyptocarpa Tabebuia aurea HÁBITO DE CRESCIMENTO Árvore Árvore Árvore Árvore Árvore Árvore Árvore Chlorophora tinctoria Oenocarpus bacaba Árvore Palmeira Bauhinia glabra Arbusto Cecropia catarinensis Dinizia excelsa Mauritia flexuosa Árvore Árvore Palmeira CONHECIMENTO SOBRE O USO PARTE DA PLANTA UTILIZADA Mata e Pasto MA/L Madeira MA Madeira A/B/M Fruto/flor/folha MA/L/A Madeira/flor MA/L/M/A Madeira/fruto MA/A Madeira/flor C/A Madeira/flor Quintal ,Mata e Pasto MA/M Madeira/leite A Fruto Quintal e Mata M/AR Caule A/M A/MA A/M/E FREQUENCIA ORIGEM DA ESPÉCIE Média Média Media Media Baixa Média Media Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Dor de dente Baixa Alta Nativa Nativa Dor de barriga, rins e coluna. Rins e infecção Madeira de Lei Gastrite, infecção e veneno de cobra Alta Nativo Baixa Baixa Baixa Nativa Nativa Fazenda onde morava Rins Anemia Madeira de Lei Fruta Baixa Quintal e Pasto Cedrela fissilis Árvore MA/R Madeira/casca Tirar mal olhado Baixa Guadua paniculata Arbusto AR Fibra Media Monstera deliciosa Arbusto C Folha Alta Vernonia Polyanthes Arbusto A/M Flor/folha Tosse, bronquite Alta Zanthoxylum fagara Árvore MA/C Madeira Media A; Alimentícias, L; Lenha M; Medicinal, MA; Madeireira, OR; Ornamental, E; Ecológica; AR-Artesanato, V- Veneno e F-Folclore. Pouteria oblanceolata Árvore A/R Raiz/broto/fruto Madeira/flor Fruto/óleo/raízes USO MEDICINAL Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Das 160 espécies mencionadas, 27 espécies se repetem em mais de um ambiente, sendo 11 espécies frutíferas, (quintal, terreiro e pasto), 7 são madeireiras (mata e Pasto) e 3 utilizadas para fabricações de pequenas instalações, 6 são utilizadas para remédios e outros fins (quintal, mata e pasto). Na diversidade de espécies encontradas, a categoria que mais se destaca é a de alimento. As espécies que aparecem com maior freqüência são mandiocas (Manihot esculenta) com as variedades cacau e pão; banana (Musa sp.,) pacovan, marmelo; acerola (Malpighia glabra L) abóbora (Cucurbita maxima); abacate (Persea americana Mill.) das variedade de bico, kilo e roxo; caju (Anacardium occidentale); cana (Saccharum spp), as variedade cana-de-açucar e caiana; limão (Citrus aurantifolia) das variedades galego e china; mamão (Carica papaya) da variedade papaya; a manga (Mangifera indica) das variedades de cheiro e de mesa; guariroba (Syagrus oleracea Becc); goiaba (Psidium guayaba L.) das variedades vermelha e branca. No assentamento ocorre um processo de socialização de saberes bastante significativo, pois das 97 espécies que foram plantadas, maiorias 47 % das sementes ou mudas, foram trazidas das propriedades dos vizinhos, a maior parte destas, 74% também são de alimentação, 14 % são plantas medicinais e 12 % ornamentais. Estes dados confirmam a idéia de que, devido às necessidades materiais e de gosto estéticos das famílias, muitas sementes e mudas circulam no assentamento, e junto com elas, vem também os saberes que os agricultores/as possuem que se multiplicam através das inter-relações no cotidiano do assentamento, deste modo, as famílias mantêm viva um fluxo de informações e troca de conhecimentos sobre ambiente. As espécies medicinais que foram encontradas com maior freqüência foram: A) Plantas Domésticas- Erva cidreira (Melissa officinalis L.) e capim santo (Cymbopogon citratus D.C. Stapf ) – servem para dor de cabeça, gripe, calmante e queda de cabelo; Mastruz (Chenopodium ambrosioides L)- Infecção, vermes e cicatrizante e Boldo (Peamus boldus) – Fígado e Má digestão. Temos também as plantas alimentícias, que muitas delas também são utilizadas como remédios para vários tipos de doenças como é o caso das plantas citadas acima como: Abacate - infecção de rins; Açafrão (Crocus sativus L) – Infecção de garganta; Acerola-gripe; Caju- diarréia e antibiótico; Goiaba- vomito diarréia, bexiga solta, prisão de urina e câncer; Limão- Calmante, gripe, dor de barriga; Mamão - Câncer e digestão; Mandioca- aumentar o cálcio dos ossos; Manga-Gripe, inflamação; Guariroba- problemas no fígado; Pimenta ( )- erisipela. B) Plantas Nativas- Assa Peixe (Vernonia ferruginea Less )gripe, bronquite; Cipó Tripa de Galinha (Bauhinia glabra)- dor de barriga, rins e coluna; Gervão (Bauhinia glavra)- Stachytarpheta cayennensis (Rich.) Vahl)- gripe; Amesca Branca (Protium spruceanum)- Sinusite; Imbaúba (Cecropi palmata )- rins, gastrite; Mucuiba (Diospyros hispida)- Câncer, gastrite e coluna; Sangra D´agua (Croton salutaris Muell gastrite e infecção. Observa-se que os homens possuem maiores conhecimentos medicinais das espécies nativas, devido às praticas cotidianas do trabalho masculino estar relacionadas com a diversidade de unidades de paisagem como o manejo do gado no pasto, nas atividades de reparo e fabricação de cabos para as ferramentas de trabalho onde precisam retirar a madeira da mata, no manejo das roças e quintais. As mulheres conhecem mais as plantas medicinais de uso doméstico ou alimentar, pois são plantas cultivadas nos terreiros, hortas e também nos quintais onde normalmente ocorre o trabalho feminino. 4.3.3 As Espécies de Fauna: Diversidade A presença de ocorrência de fauna silvestre no Projeto de Assentamento Nossa Senhora Aparecida acontece de forma bastante variada, apresentando um grande número de espécies nativas da região norte do país nas áreas de mata, nos pasto e principalmente nos quintais. Foi identificada uma maior diversidade de espécies animal nas propriedades onde ainda possuem fragmentos de mata, sendo: 23 mamíferos, sendo 48 espécies de aves, 10 répteis e 25 espécies de peixe, perfazendo um total de 106 espécies. Nas propriedades onde Nº de espécies da Fauna não possuem mais mata só identificamos 52 espécies (figura 32). Figura 32. Quantidade de espécies faunísticas nas propriedades com maior e menor área de mata encontradas no Assentamento Nossa Senhora Aparecida. Pequizeiro, Tocantins, n= 106 De acordo com a Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (Portaria nº 1.522 de 19/12/1989) do IBAMA, alguns os animais que foram encontrados no assentamento representados na tabela abaixo estão ameaçados de extinção como: Macaco prego (Cebus apella), Tatu canastra (Priodontes maximus), Rolinha (Scardafella squammata), Jacu (Penelope ochrogaster), Lontra (Lutra longicaldis), Jaó (Crypturellus noctivagus). Na diversidade de espécies encontradas, as que mais se destacam em termos de maior freqüência em relação aos mamíferos são: macacos guariba (Alouata caraya) e prego (Cebus apella), os Tatus peba (Euphractus sexcintus) e china (Dasypus septemcinctus), Cutia (Dasyprocta a. azarae), Capivara (Hydrochoerus hydrocaeris)e o Quati (Nasua nasua). As aves silvestres ainda estão em ambudância no assentamento, sendo que as espécies que aparecem com maior freqüência são: pato bravo (Cairina moschata), Garça branca (Egretta thula), Jaburu (Jabiru mycteria), Gavião Cinza (Ciraus cinereus), Inhuma (Anhima cornuta), Urubu (Coragypus atratus),Teteu (Vanellus chilensis), Juriti( Leototila verreauxi,), Rolinha (Scardafella squammata, Jacu (Penelope ochrogaster, Anus branco (Guira guira) e preto (Crotophaga ani), Carcará (Polyborus plancus, Perdiz (Rhynchotus rufescens), Pássaro preto (Gnorimopsar chopi ), Jacu cigano (Opisthocomus hoazin), Curica (Amazona amazônica), Arara azul (Anodorhynchus hyacinthinus) e Arara do peito amarelo (Ara ararauna), Periquitos (Arantinga áurea), Periquito reino (Aratinga áurea), comum (Aratinga auricapilla), rabudo (Brotogeris tirica) e Jandaia (Aratinga sp.), Curiatã (Euphonia violacia), as Pipiras azul (Cyanicterus cyanicterus) e Parda (Lanio fulvus), Inhambu Pé roxo (Crypturellus tataupa) e passáro Peito de aço/ Biscateiro (Lipaugus vociferans). Dos répteis, os que foram identificados como mais freqüentes são: Cobra cipó (Chironius bicarinatus), Falsa-cipó (Erythrolamprus aesculapii), Cobra coral (Micrurus lemniscatus), Jararaca (Bothrops jararaca), Jibóia (Boa constrictor), Sucuri (Eunectes murinus), Jaracuçu do brejo (Mastigodryas bifossatus). Na ictiofauna, das 25 espécies encontradas, 50 % destas ainda são encontradas com freqüência como: Piaus (Anostomoides laticeps), branco (Schizodon knerii), Pacu (Piaractus mesopotamicus), Piranha (Serrasulmus sp.), Papa terra (Satanoperca pappaterra ), Piaba (Anchoviella vaillanti), Tucunaré (Cichla ocellaris), Sardinha (Sardinella brasiliensis), Traíra (Hoplias malabaricus), Chorão (Pimelodella sp.), Lobó(bagri) (Rhamdia quelen ), Lampreía (Lampetra fluviatilis), Arraia (Lampetra fluviatilis) e o Cará (Cichlaurus facetus). As famílias raramente caçam alguma espécie para alimentação, pois, sentem-se inibidas de caçar, por causa do artigo 11, da Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que define crime ambiental sujeito as sanções legais para quem matar perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre. Quando o fazem, caçam mamíferos e pescam para a diversificação protéica da alimentação das famílias como: Capivara (Hydrochoerus hydrocaeris), Paca (Agouti paca), Tatu peba (Euphractus sexcintus) e Tatu galinha (Dasypus novemcinctus) e pescam espécies como Papa-terra (Satanoperca pappaterra), Piau (Anostomoides laticeps), Piau branco (Schizodon knerii), Piau flamengo (Leporinus fasciatus), Pintado (Pseudoplatystoma corruscans), Traíra (Hoplias malabaricus) e Tucunaré (Cichla ocellaris). A pesca é artesanal e são utilizados anzóis e tarrafa. Portanto, podemos observar que, seja por causa da coerção da lei ou devido maior consciência ambiental, a população local presta um serviço importante para a conservação da biodiversidade preservando estas diversidades de espécies faunísticas, principalmente as que estão ameaçadas de extinção. Tabela 6. Informações gerais sobre a biodiversidade da fauna silvestre encontrada no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. n = 106 FAMÍLIA/ESPÉCIE Agoutidae Agouti paca Bradipodideae Bradypus tridatylus Canidae Cerdocyon thous Caviidae Galea spixii Cebidae Alouata caraya Cebus apella Mazama americana NOME POPULAR MAMÍFEROS AMBIENTE * FREQÜÊNCIA Paca 3 Media Preguiça 3 Pouca Raposa 3,4 Media Preá Macaco guariba Macaco prego Veado mateiro Media 3 3 Alta Alta Pouco Mazama gouazoubira Saguinus midas midas Veado catingueiro Macaco mão-de-ouro 3 3 Médio Media 1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto, 5; Roça, 6; Córrego, 7: Brejo. Tabela 6. Informações gerais sobre a biodiversidade da fauna silvestre encontrada no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. n = 106 (Continuação) FAMÍLIA/ESPÉCIE Dasypodidae Dasyprocta a. azarae Dasypus novemcinctus Dasypus septemcinctus Euphractus sexcintus Priodontes maximus Tolypeutes matacus Hydrochaeridae Hydrochoerus hydrocaeris Mustelidae Lutra longicaldis Mymercophagidae Mymercophaga tridactyla Tamandua tetradactyla Procyonidae Nasua nasua Procyon cancrivorous Tapiridae Tapirus terrestris Tayassuidae Pecari tajacu Anatidae Anas sp Cairina moschata Ardeidae Butorides striata Egretta thula Ciconiidae Jabiru mycteria Rallidae Gallinula chloropus Rallus maculatus NOME POPULAR AMBIENTE * FREQÜÊNCIA Cutia Tatu galinha /verdadeiro Tatu china Tatu peba Tatu canastra Tatu bola 1,3,6 3, 4 4 4 4 4 Alta Baixa Alta Alta Baixa Baixa Capivara 3 Alta Lontra 3 Mambira/ Tamanduá Bandeira Tamanduá mirin 3,4 Média 3,4 Baixa Quati Guaxinim 3 3,4 Alta Anta 3,4 Media 3 Media Marreco Pato bravo 5,7 5,7 Media Alta Socozinho Garça branca 4 Baixa Alta Jaburu 4,7 Alta Galinha D’agua Saracura 3,7 3,7 Media Media Caititu AVES AQUÁTICAS 1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto, 5; Roça, 6; Córrego, 7: Brejo. Tabela 6. Informações gerais sobre a biodiversidade da fauna silvestre encontrada no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. n = 106 (Continuação) FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME POPULAR AMBIENTE * Accipitridae Circus cinereus Gavião cinza 1 Anhimidae Anhima cornuta Inhuma 3, 7 Cariamidae Cariama cristola Seriema 4 Cathartidae Coragypus atratus Urubu comum 4 Charadriidae Vanellus chilensis Teteu 4 Columbidae Leototila verreauxi Juriti 4 Scardafella squammata Rolinha 4 Zenaida auriculata Pomba do bando 4 Cracidae Crax fasciolata Mutum 1,3 Penelope ochrogaster Jacu 3,7 Cuculidae Crotophaga ani Anu preto 1,2,3 Guira guira Anu Branco 1,2,3 Falconidae Polyborus plancus Carcará 1 Fringillidae Oryzoborus angolensis Curió 2,3 e 7 Furnaridae Furnarius rufus João de Barro 4 Glareolidae Rhynchotus rufescens Perdiz 4 Icteridae Cacicus haemorrhous Guaxe 3 Gnorimopsar chopi Pássaro preto 1,3, 4 Opisthocomidae Opisthocomus hoazin Jacu cigano 3,7 Ploceidae Passer domesticus Pardal 1,3,4 1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto, 5; Roça, 6; Córrego, 7: Brejo. FREQÜÊNCIA Alta Alta Baixa Alta Alta Alta Alta Media Baixa Alta Alta Alta Alta Médio Pouco Alta Baixa Alta Alta Médio Tabela 6. Informações gerais sobre a biodiversidade da fauna silvestre encontrada no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. n = 106 (Continuação) FAMÍLIA/ESPÉCIE Psittacidae Amazona aestiva Amazona amazonica Amazona dufresniana Anodorhynchus hyacinthinus), Ara ararauna Arantinga áurea Aratinga aurea Aratinga auricapilla Aratinga sp. Brotogeris tirica Ramphastidae Ramphastos vitellinus Rheidae Rhea americana Thraupidae Cyanicterus cyanicterus Euphonia violacia Lanio fulvus Tinamidae Crypturellus noctivagus Crypturellus tataupa Lipaugus vociferans Taoniscus nanus Trochilidae Amazilia sp. Tyrannidae Pitangus sulphuratus NOME POPULAR AMBIENTE * AVES TERRESTRES FREQÜÊNCIA Papagaio verdadeiro Curica Papagaio azul Arara Azul Arara do peito Amarelo Periquito Periquito reino Periquito comum Jandaia Periquito rabudo 1,4 1 1 3,7 3,7 1,3,4,5 1,3,4,5 1,3,4,5 1,3,4,5 1,3,4,5 Médio Alta Baixa Alta Alta Alta Alta Alta Alta Alta Tucano papo amarelo 1,4 Baixa Ema 4 Baixa Pipira azul Curiatã Pipira parda 1,4 1,3,4 e 5 1,4 Alta Alta Alta Jaó Inhambu Pé roxo Peito de aço/ biscateiro Inhambu-carapé 3 3 1,4 3,4 Baixa Alta Alta Media Beija-flor 1,4 Media 1,4 Media Bem-te-vi RÉPTEIS TERRESTRES Colubridae Chironius bicarinatus Cobra cipó 3,4 Erythrolamprus aesculapii Falsa-coral 3,4 Elapidae Micrurus lemniscatus Cobra coral 3,4 Testudinidae Gerochelone carbonaria Jaboti 3 Viperidae Bothrops jararaca Jararaca 3,4 Crotalus durissus Cascavel 4 1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto, 5; Roça, 6; Córrego, 7: Brejo. Alta Alta Alta Baixa Alta Media FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME POPULAR AMBIENTE * FREQUÊNCIA REPTÉIS AQUÁTICOS Alligatoridae Caiman latirostris Boidae Boa constrictor Eunectes murinus Colubridae Mastigodryas bifossatus Ageneiosidae Ageneiosus sp Anostomidae Anostomoides laticeps Leporinus fasciatus Schizodon knerii Bryconinae Brycon insignes Characidae Astyanax shubartii Brycon hilarii Piaractus mesopotamicus Serrasulmus sp. Cichlidae Anchoviella vaillanti Cichla ocellaris Satanoperca pappaterra Clupeidae Sardinella brasiliensis Ctenoluciidae Boulengerella spp Cynodontidae Acestrorhynchus lacustris Erythrynidae Hoplias malabaricus Heptapteridae Pimelodella sp. Rhamdia quelen Petromyzontidae Lampetra fluviatilis Pheraposidae Electrophorus eletricus Pimelodidae Paulicea lutkeni Pimelodus heraldoi Pseudoplatystoma corruscans Potamotrygonidae Potamotrygon sp. Rivulariaceae Cichlaurus facetus Jacaré papo-amarelo 6,7 Media Jibóia Sucuri 3,4 3,6 Alta Alta Jaracuçu do brejo PEIXES 3,4,6 Alta Fidalgo 6 Baixa Piau Piau flamengo Piau branco 6 6 6 Alta Baixa Alta Piabanha 6 Baixa Lambari Matrichãn Pacu Piranha 6 6 6 6 Média Baixa Alta Alta Piaba Tucunaré Papa terra 6 6 6 Alta Alta Alta Sardinha 6 Alta Bicuda 6 Baixa Cachorra 6 Média Traíra 6 Alta Chorão Lobo (Bagri) 6 6 Alta Alta Lampreia 6 Média Piraquê (peixe elétrico) 6 Alta Jaú Mandi Pintado 6 6 6 Baixa Baixa Média Arraia 6 Alta Cará 6 Alta Tabela 6. Informações gerais sobre a biodiversidade da fauna silvestre encontrada no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. n = 106 * 1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto, 5; Roça, 6; Córrego, 7: Brejo. Nota-se que há um saber empírico dos agricultores familiares sobre as interações dos sistemas, acumulado pela observação dos processos naturais que ocorrem no cotidiano do assentamento. Como, por exemplo, o conhecimento sobre varias espécies de frutos que servem de alimentação para animais ou que são observados para facilitar a caça e a pesca, á exemplos do pé de paqueiro e da atraca, que serve como local de “espera” da paca, ou então, as frutas do tuturubá que local de comida para tatu, cutia e anta. Como também os conhecimentos do tipo de sementes mais apreciadas por determinados peixes como: semente do pateiro que é muito consumida pelo o Pacu. Enfim, estes agricultores aprenderam a entender o ambiente a partir da observação ou através das experiências vivenciadas nos assentamento. Como afirmar Sr P.A.J, 48 anos, aprendeu observado a natureza (...) comecei a observar onde as abelhas mais gostavam de posar e percebi que elas ficavam muito nas flores do assa-peixe e da rosquinha. Percebe-se que este saber empírico foi o meio utilizado pelos agricultores nestes anos para se orientar no mundo, no meio em que vive. O homem procura sempre explicar os fenômenos que o cercam, buscando coerência e lógica na cultura ou ainda na sua “visão de mundo”. Conforme enfatizou Levi-Strauss apud Laraia, (2005, p. 88) “o sábio nunca dialoga com a natureza pura, senão com um determinado estado de relação entre a natureza e a cultura, defendida por ( ..) meios materiais de que dispõe. A cultura, portanto, é um dos meios materiais que as populações rurais utilizam para tirar as suas conclusões a partir da sua observação direta dos fenômenos socioambientais, dispondo para isso apenas, da sua experiência de vida, para explicações do mundo que o cercam. 4.4 AGRICULTURA FAMILIAR E BIODIVERSIDADE Qualquer plano grandioso de conservação da vida selvagem sem se levar em conta adequadamente os interesses humanos deverá fracassar. A conservação nos países em desenvolvimento tem de ser um meio-termo entre idealismo cientifico e a realidade prática. (Raman Sukumar, écologo indiano, 1985). Neste capitulo será discutido a relação entre agricultura familiar e a diversidade ecológica existente no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, buscando entender como este importante segmento de produtores rurais se relaciona com a biodiversidade local. Ou seja, como desenvolve suas atividades dentro das opções de comportamento na sua relação com a terra, solo, água, plantas e animais. A biodiversidade é aqui entendida, não apenas enquanto conceito biológico, mas também como, (...) relativo à diversidade genética de indivíduos, de espécies ou de ecossistemas (...) é o resultado de práticas, muitas vezes milenares, das comunidades tradicionais que domesticam espécies, mantendo e aumentando como em alguns casos, a diversidade local. Diegues e Arruda (2001, p. 21). Com isso, queremos dizer que, há no assentamento uma complexa diversidade social, cultural, produtiva e ambiental com fortes influências no ambiente. As famílias que ocuparam a terra (44 %) eram trabalhadores rurais sem terras, ao passo que, as famílias que compraram seus lotes (56 %) são filhos de agricultores familiares que já possuíam uma pequena propriedade, foram pequenos comerciantes e gerentes de algumas fazendas de gado da região, assim, estavam mais capitalizados. Dentre este último grupo, encontra 04 famílias agricultores familiares que possuem em torno de 100 ha dentro do assentamento, portanto, já são médios proprietários. Esta diferença econômica entre as famílias vai incidir diretamente na forma de se relacionar com a natureza e nas suas formas de produção. Pois, há uma correlação entre grau de acumulação de capital e racionalidade produtiva. Os agricultores familiares que compraram seus lotes estão mais inseridos nos modos de produção capitalista, assim, a sua estratégia produtiva está intrinsecamente ligado ao mercado para melhorar a produtividade do leite e bezerro, é consequentemente gera maior consumo de insumos e defensivos e estabelece uma maior integração ao mercado regional. Este modelo agropecuário provoca sérios danos aos recursos naturais, pois, o aumento da cabeça de gado, configura-se no tamanho da pastagem, causando mais desmatamento e a compactação da terra. Além, é claro, dos sérios dados causados pelos herbicidas à fertilidade do solo e qualidade da água. Estudos já demonstraram que a pecuária na região amazônica é um investimento desastroso para a biodiversidade, pois, paisagem é composta de árvores, possui solo úmido com as áreas de “terras baixas”, que formam os brejo ou igarapés. Com o desmatamento, quando chove ocorre uma lixiviação do solo pela água da chuva, causando graves danos ao ecossistema, deixando a terra, que era rica em matéria orgânica devido à decomposição das folhas das árvores, pobre e com baixa fertilidade, provocando enormes erosões no solo e assoreamento nos rios. Este processo também está acontecendo no assentamento, principalmente nas propriedades onde a mata foi retirada, comprometendo assim, os sistemas de auto-recuperação do solo. O problema se intensiva com as pisadas do gado nas cabeceiras dos córregos, que estão desprotegidas, causando um assoreamento dos córregos, o que no futuro pode levar a seca de suas nascentes. A pecuária apesar de se configurar no assentamento como a principal fonte de renda das famílias e como segurança em caso de necessidades para um grupo de agricultores familiares menos descapitalizados por causa da sua liquidez, é hoje umas das práticas produtivas que mais degrada o frágil ecossistema amazônico. Conforme afirma Quirino e Melagodi, (1999), a erosão, a perda da fertilidade natural, do solo e a perda da capacidade de auto-recuperação são fatores que tornam este segmento ainda mais vulnerável às intempéries climáticas e aos desafios do mercado de produtos agropecuários. Logo, essa é uma atividade produtiva que fragiliza ainda mais este segmento, pois com passar do tempo à degradação ambiental vai se constituir como uma das fortes ameaça a sustentabilidade da agricultura familiar. Os agricultores familiares menos descapitalizados, que ocuparam a terra, também tem como a sua principal atividade econômica a pecuária de leite e corte, mas, numa quantidade menor, mesmo porque, estão limitados pelo falta de capital para investir, portanto, precisa desenvolver outras estratégias produtivas de sobrevivência, assim praticam a policultura, diversificando a produção para as atividades agrícolas como roças de milho, feijão, mandioca e arroz, para ajudar na alimentação das famílias e criação de pequenos animais como galinhas e porcos. Estes cultivam também plantações de melancia e abacaxi e apicultura, como complemento de renda. O trabalho é familiar, usam pouca mecanização e pouco insumo e defensivos industriais. Possuem uma maior preocupação com a natureza, por isso deixaram uma área de reserva de mata em torno de 30% para preservação do córrego, dos pássaros e bichos silvestres. Logo, observa-se que o segundo grupo possui uma racionalidade cultural diferenciada nas formas de produção, nas relações com a natureza e nas formas de trabalho, definida por Leff, (2004, p.137) como Sistemas singular e diverso de significações (...) que produz a identidade e integridade de cada cultura, dando coerência a suas práticas sociais e produtivas em relação as potencialidade do seu entorno geográfico e de seus recursos naturais. Esta racionalidade cultural está relacionada ao aproveitamento do uso dos recursos e as interações estabelecidas na natureza e “visão de mundo” dessas famílias. A cultura é apontada por Leff como mecanismo amortecedor entre maximização da produção e escassez dos recursos naturais. Dito de outra forma, o que impediu que este grupo de agricultores familiares depredasse todo o recurso natural como fazem as famílias que compraram o direito de posse da terra, foi o seu patrimônio cultural. Porque possuem outra lógica produtiva que não está calcada na maximização do lucro, mas acima de tudo, nos valores como: terra, trabalho e reprodução familiar. Lamarche, (1998, p. 63), nos seus estudos sobre agricultura familiar, escolheu estas três categorias pelo o grau de relevância que as mesmas possuem para as unidades familiares. A terra, porque é o elemento central da vida das famílias, que o grupo familiar só venderia por um motivo muito forte. O trabalho, porque todo atividade desenvolvida na propriedade, em grande parte, são realizadas pelos membros da família e a reprodução familiar, porque o objetivo primordial da lógica familiar é a garantia da sobrevivência da família através dos investimentos feito na propriedade. Para os agricultores familiares do Assentamento Nossa Senhora Aparecida, a propriedade fundiária é um bem inalienável, pois lutaram muito para conseguir realizar o sonho de ter uma terra e de sair da condição de empregados rurais para serem seus próprios patrões. (...) tinha o sonho de ter uma vaca, ter autonomia. Tenho a terra por amor, não tem terra para negócio. Nunca penso em vender, essa terra é pra ficar para minhas filhas ou netos (D.E.S, 53). Aqui é onde a gente tira o sustento da família, gosta de pescar, trabalhar com a terra, tem medo de vender e acabar com as coisas que já conseguimos. (N.A S, 46 anos) Segundo Martins (198, p. 60), esta é a diferença entre empresário capitalista rural e agricultor familiar. O primeiro grupo vê a terra como forma de obtenção de lucro, seja pela a sua especulação financeira ou pela exploração da força de trabalho dos empregados rurais ou o lucro de quem dela precisa para trabalhar, é apenas mais uma mercadoria que se pode aumentar os ganhos de capital. Assim para Martins, (1980, p. 60), Quando o capitalista se apropria da terra, ele o faz com intuito do lucro, direto ou indireto. Ou a terra serve para explorar o trabalho de quem não tem terra; ou a terra serve para ser vendida por alto preço a quem dela precisa para trabalhar e não a tem. Por isso nem sempre a apropriação da terra pelo capital se deve à vontade do capitalista de se dedicar à agricultura O segundo grupo tem a terra como locus de trabalho, que se utilizar para garantir ganhos como a reprodução social e econômica da família. A terra para este grupo tem valor de uso, onde a partir do trabalho familiar, produz mercadorias para vender e adquirir renda para suprir as necessidades familiares e das propriedades. Conforme ainda Martins, esse é o mesmo raciocínio para as propriedades agrícolas familiares que estão inseridas nos complexos agro-industriais, que incluí os agricultores aos sistemas de integração produtiva de mercado, como é o caso do setor de hortifrutigranjeiros no sul de Goiás. Nestes casos específicos, há a permissão dos agricultores familiares para a exploração do trabalho familiar, através do contrato com as indústrias de derivados de frangos. Mesmo assim, os ganhos dos agricultores familiares são para Martins (1982 p. 59) (..) ganhos do seu trabalho e o trabalho de sua família e não ganhos de capitais, exatamente porque estes ganhos não provêm de um capitalista sobre o trabalhador expropriado dos seus instrumentos de trabalho. Podemos entender, portanto, que não há nas explorações agrícolas familiares o vínculo de subordinação do trabalho ao capital, pois, estes possuem os bens de produção, que é a terra e seu trabalho que é trabalho familiar independente. Confrontam-se então duas éticas diferentes: o capitalista com sua ética do lucro e o agricultor familiar com sua ética de trabalho. A ética camponesa, (entendendo o agricultor familiar aqui como camponês), é cunhada nas populações rurais a partir do seu modo de vida, do seu jeito de ser, da sua “visão de mundo”, enfim, da sua cultura. Entendida por Laplantine, (2007, p. 120) como conjunto dos comportamentos, saberes e saber-fazer característicos de um grupo humano ou de uma dada sociedade, sendo essas atividades adquiridas através de um processo de aprendizagem, e transmitidas ao conjunto de seus membros. Logo, não podemos dissociar o contexto econômico - trabalhadores rurais ou pequenos comerciantes e gerentes de fazenda, do contexto cultural - seus sistemas simbólicos. Pois, os hábitos culturais das famílias refletem diretamente na forma que percebem e organizam o ambiente. Os agricultores que ocuparam a terra possuem vasto conhecimento sobre o sistema produtivo e sobre a diversidade da flora e fauna existentes no assentamento. São encontradas na maioria das propriedades roças tradicionais para garantir a alimentação das famílias e das pequenas criações, o trabalho é familiar e utilizam ainda conhecimentos tradicionais de plantio pelo calendário lunar, herdados de seus pais e avós. Nas propriedades que possuem maiores áreas de matas, os agricultores afirmaram conhecer 160 espécies de plantas endêmicas e exóticas, distribuídas no diferentes ambientes da sua propriedade, fora as espécies alimentares que são cultivadas nas roças e também 106 espécies de animais silvestres que também foram identificados pelos seus habitats (quintais, matas, pastos, roças, córregos, brejos). Desse modo, percebe-se que há uma intensa interação entre os diferentes ambientes. Nos quintais foram encontradas 76 espécies de plantas alimentícias, medicinais e madeireiras, que além de atender as necessidades básicas das famílias (alimentação, saúde e madeira) também servem para alimentar 21 espécies de pássaros. Além disso, neste ambiente, criam também galinha, porcos, patos e perus para complementação da alimentação e renda da família. Nos terreiros são cultivadas espécies olerículas e ornamentais (utilizando esterco de gado e galinha) para atender a diversificação protéica da alimentação e ao prazer estético da família. Nos pastos, as famílias conhecem as plantas medicinais e as espécies que produz alimentação para família, animais, abelhas e pássaros, como bacaba, jenipapo, jatobá, assapeixe, tarumã e mirindiba, além de abrigar 11 espécies de mamíferos, 27 espécies de aves e 07 espécies de répteis, é lugar também para a produção apícola. A mata, apesar de ter restado apenas fragmentos da paisagem original, é o lugar reconhecido por algumas famílias, pelo seu valor ecológico, pois, segundo os agricultores habitam neste local 18 espécies de mamíferos e 23 espécies de pássaros e 08 espécies de répteis, garantindo assim a diversidade biológica. Além é claro, do seu importante papel da produção de oxigênio. È utilizada pela família também para extração de alguma madeira para atividades na propriedade e de casca, folhas, raízes para fazer remédios e garrafadas. Os conhecimentos dos agricultores sobre ambiente estão calcados no aproveitamento da diversidade de recursos disponíveis no ecossistema para garantir a manutenção da família. Não dá para dissociar, portanto, a dimensão prática destes conhecimentos com a sua dimensão simbólica, pois, estes saberes foram criados e recriados nas relações sóciohistóricas destas famílias a partir dos seus habitus que foram adquiridos através dos conhecimentos transmitidos pelas gerações passadas, mas também, pelo intenso fluxo de informações estabelecidas pelas relações sociais na comunidade e pelos meios de comunicação. Desta forma, os habitus se apresentam como principio mediador entre as práticas individuais e o contexto socioeconômico destas populações. Perceber as populações rurais, compreender suas práticas produtivas, reconhecer seus saberes quanto o uso da natureza, ajuda a pensar estratégias sustentáveis de políticas de desenvolvimento para o campo. Não se pode negar que as famílias que já desmataram em média 87 % da mata e que descobriram grande parte das margens dos córregos. Isto significa não apenas a derrubada de árvores, mas também, mudanças nos ecossistemas da flora, fauna e ictiofauna. Mas também, não devemos esquecer que essas famílias foram levadas agir desta forma devido às condições sociais de existência, pois, segundo Marx, (1974, p. 335), Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. As famílias que ocuparam e algumas que compraram seus lotes no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, são trabalhadores rurais que trazem arraigados na memória à percepção de ambiente repassada pela família do grupo social de que fazia parte, cujo costume de plantio era o sistema da “roça de toco” (derrubada, queima e plantio) típico das comunidades tradicionais, a diferenças é que não possuem a hábito do pousio com tempo suficiente para o ecossistema se recompor. Estas famílias também são fortemente influenciadas pela a cultura da região da pecuária de leite e de corte da produção para o mercado. Sem falar, na década que ficaram no assentamento sem apoio das políticas públicas e ainda, do favorecimento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária- INCRA com aqueles agricultores que não tinham perfil para serem atendidos pelo programa de reforma agrária. Dessa forma, o desequilíbrio ambiental se apresenta no assentamento pelo desflorestamento, baixa fertilidade do solo e erosões que são reflexos do modelo de política da reforma agrária conduzida pelo órgão responsável. Contrapondo a estes hábitos predatórios, há também no assentamento as práticas de cultivos agrícolas de baixo impacto ambiental como as técnicas de cultivos de plantas medicinais e frutíferas nos quintais e terreiros, que garantem, no aspecto ecológico, a conservação da biodiversidade através da capacidade dos agricultores de ordenar, classificar e manejar estes ecossistemas. Na pesquisa de campo, percebemos que há um conflito entre a racionalidade cultural das famílias e a racionalidade econômica projetada pelo INCRA, como modelo de desenvolvimento para o campo. Nestes 20 anos, as políticas agrícolas desenvolvidas no assentamento, foram voltadas para atender as demandas do mercado. As orientações deste órgão e da assistência técnica eram de desenvolver o assentamento, tornando-o sustentável, com o foco apenas no ponto de vista econômico, não levando em conta as lógicas produtivas, os aprimorados conhecimentos dos agricultores sobre a biodiversidade local, muito menos as questões de conservação ambiental. Até 2002, não havia no INCRA preocupações mais efetivas com os problemas ambientais. Dos 353 assentamentos de reforma agrária implantados no Tocantins, apenas 01 (um) possui licenciamento ambiental. A discussão ambiental só entrou na pauta das atividades deste órgão após a elaboração do II Plano Nacional de Reforma Agrária, em que foram incluídos os Planos de Desenvolvimento dos Assentamentos – PDA e o Plano Recuperação do Assentamento-PRA para os mais antigos. Este último foi realizado no assentamento em 2005, por uma cooperativa de prestação de serviço em assistência técnica e extensão rural em parceria com INCRA e a Associação Padre Josimo (Associação do agricultores). O PRA apontou algumas ações para as questões produtivas e ambientais como: desenvolvimento de produção com enfoque ecológico (alternativas produtivas, melhorar a organização e manejo da produção pecuária, acompanhamento técnico efetivo na produção agrícola para melhorar o manejo das roças e aumento da produção de cereais) e Recuperação das áreas de reserva legal e das áreas de proteção permanentes (APP’s). Segundo os dados da Associação dos agricultores e dos técnicos do INCRA, algumas ações estão sendo implementadas. Já foram realizados curso de manejo de pastagens, inseminação artificial no gado e criação da Cooperativa dos Agricultores Familiares de Pequizeiro e Região -(COPEFAPER), a liberação do PRONAF-mulher para três agricultoras que tinham interesse a criação de Galinha. Mas, em relação à produção agrícola ou a questão ambiental nenhuma ação foi executada ainda. Segundo ainda informação de técnicos do INCRA, foi assinado o Termo de Ajuste de Conduta - TAC entre INCRA, Ministério Público-MP e Instituto Natureza do Tocantins - NATURATINS, onde estabelece normas para o licenciamento ambiental nos projetos de assentamento. A efetivação do TAC no Tocantins representa um avanço para as questões de monitoramento e avaliação das ações ambientais nos assentamentos. Este instrumento de regulação implicará numa nova racionalidade ambiental para as definições de políticas públicas e nas práticas das famílias assentadas. Segundo Leff (2001, p. 134-135) (...) a construção racionalidade ambiental que oriente a transição para o desenvolvimento sustentável requer a mobilização de um conjunto de processos sociais: a formação de uma consciência ecológica; o planejamento transetorial da administração publica e a participação da sociedade na gestão dos recursos ambientais; a reorganização interdisciplinar do saber, tanto na produção como na aplicação dos conhecimentos. Observa-se que está se formando uma nova consciência ambiental no assentamento. Há um grupo de famílias que estão sensibilizados com os problemas ambientais. Já começaram a internalizar conceitos ecológicos para um desenvolvimento sustentável como práticas agroecológicas e conservação dos recursos naturais. Percebem a mudança do paradigma ambiental na sociedade, e sentem a pressão externa sobre impactos ambientais que causaram no assentamento. Tais aspectos surgem nas falas dos agricultores, Tem que melhorar muita coisa ainda no assentamento, aumentar a reserva ambiental, conforme a Lei define. (D.E.S, 53 anos). Penso em plantar mil mudas para reflorestamento, pois as pessoas de fora valorizam mais a propriedade quando tem mata. (D.E.S. 53anos) Posseiros querem ser fazendeiros, temos é quer diminuir a quantidade e aumentar a qualidade. ( A S.L. 42 anos) Algumas iniciativas foram adotadas através do Programa de Formação de Lideranças Agroecológicas (apoiado pela MISEROR) que está acontecendo no assentamento há um ano e meio com 36 % das famílias do assentamento e com famílias de outros assentamentos da região. O programa tem como objetivo discutir e implantar nos assentamentos práticas produtivas mais sustentáveis. As ações que estão realizando são: apoio a organização do grupo de apicultores e à cooperativa dos agricultores familiares produtores de Leite, aproveitamento e beneficiamento de produtos dos sistemas agroflorestais -SAF,s ( frutas, sementes, cascas ,etc..) e incentivo à criação de viveiros de mudas medicinais, frutíferas e madeireiras, para o fortalecimento do patrimônio biológico ( aumento das espécies de planta) e cultural (diversificação de saberes) das famílias, bem como, para produção de mudas para o reflorestamento das nascentes dos córregos. Segundo relatos dos agricultores, era para já terem feito o reflorestamento das nascentes, mais ainda não aconteceu. Alguns agricultores até tentaram plantar as mudas, mas elas morreram quase tudo, tinha umas plantas que eu não sabia a época certa de plantar e que elas não gostavam de sol. (V. C. A, 54 anos). Percebe-se que faltou um acompanhamento técnico mais direto no processo de recuperação das áreas de proteção permanente - APP, s. As iniciativas do programa de formação para implantação de alternativas de produção e conservação ambiental sustentáveis são ainda tímidas, pois, não conseguiu estimular a participação da maioria das famílias do assentamento, já que apenas um pouco mais de um 1/3 (um terço) fazem parte deste programa e nem atender a demanda de maior relevância para a questão ambiental no assentamento que é a recuperação das nascentes e a contenção das erosões nas propriedades. As políticas públicas governamentais, projetos ou programas apoiados por organizações não-governamentais e movimentos sociais para desenvolvimento sustentável nos assentamentos, tem que estimular a participação interativa da maior parte da população, para que ocorra uma mudança coletiva de mentalidade das famílias, além de respeitar suas decisões e reconhecer os saberes empíricos que essas populações possuem sobre o ambiente. Para Pimbert e Pretty (2000, p.198), qualquer esforço de estimular e promover processos sociais que permitam as comunidades locais conservar e aumentar a biodiversidade local tem que desenvolver habilidades, interesses e capacidades que instigue a população a um grau de participação, equivalente a participação interativa, (grifo nosso), envolvendo essas populações nos processos elaborações e de análises de planos, formação de novos grupos ou fortalecimentos dos existentes. Neste tipo de participação, utiliza-se metodologia interdisciplinar para dar conta das múltiplas perspectivas, usando um processo de aprendizado sistematizado e estruturado que atenda a essa variedade de possibilidades. Nesta fase, os grupos são formados ou mantidos e assumem o controle das decisões locais ou passam a se interessar e a defender práticas mais sustentáveis. Segundo Gomez-pompa (200, p. 126) os estudos sobre conservação ambiental, negligenciaram as percepções e as experiências que as populações rurais possuem, sendo que essas pessoas têm uma ligação próxima com a terra e encaram o ambiente naturalmente a sua volta antes de tudo como professor e provedor. Sabemos que nem todo agricultor é um conservacionista ambiental, mais que, essas populações possuem um acumulo de acertos e fracassos sobre o uso dos recursos naturais que não podem ser negligenciados, além é claro, de serem as mais afetadas pelas políticas ambientais. Portanto, devemos incluí-las nas discussões e formulações das políticas de educação e conservação ambiental para que possam entender o ambiente natural e os efeitos da sociedade sobre ele. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao analisar as características dos processos organizativos, produtivos e de manejo dos recursos naturais dos agricultores familiares do assentamento rural Nossa Senhora Aparecida, na região do Vale do Juari no município de Pequizeiro, Tocantins, observa-se primeiramente que houve duas dinâmicas de ocupação. No assentamento encontra dois grupos de agricultores familiares. Primeiro grupo chegou à área pelo processo de luta pela terra, estão no assentamento há 22 anos, é o grupo menos capitalizado, tem renda principal do leite e venda de bezerro e parte deste grupo ainda conservam 30% das áreas de matas. A maioria deles pratica a policultura e possuem uma diversidade de conhecimentos etnobotânicos, etnobiológicos e etnoecológicos nas suas propriedades. O segundo grupo pertence aos agricultores familiares que compraram seus lotes em dois momentos distintos: década de 90 e partir do ano 2000. Este grupo agora é a maioria, 56%. São agricultores que tiram à renda familiar praticamente da pecuária de leite e de corte. Este grupo tem pouca participação na vida organizativa e associativa do assentamento. Algumas famílias possuem mais de um lote e são mais capitalizados. Este grupo já perdeu boa parte de seus conhecimentos sobre a biodiversidade local. No processo adaptativo as famílias dos dois grupos de agricultores desenvolveram técnicas de manejo do solo que conflitem com formas adequadas de conservação ambiental e de preservação da biodiversidade. A atividade de pecuária é freqüente em todas as propriedades. Consequentemente 87 % da mata já foi derrubada. Este sistema de produção está causando um stress ambiental no assentamento. Os reflexos deste problema podem ser sentidos nas questões da vida diária da comunidade. O solo está com deficiência de nutrientes essenciais para o cultivo de algumas culturas, as famílias estão deixando de plantar roças por causa do ataque das pragas e animais (mamíferos e pássaros), inclusive duas destas famílias fazem parte do primeiro grupo. Os agricultores estão com dificuldade de manter as pastagens na época da seca, há também na pastagem grande incidência de pragas. Às margens dos córregos estão com boa parte desflorestada. No início desta pesquisa levantamos a hipótese de que os conhecimentos dos agricultores familiares sobre as plantas e sua utilização nas relações de trabalho contribuem para a conservação da biodiversidade no assentamento. Observamos que a nossa hipótese foi confirmada, pois, apesar da produção de pecuária bovina no assentamento e suas externalidades, os dois grupos possuem conhecimentos e práticas ambientais de ajudam a manter a biodiversidade no Assentamento. As noções de espacialidades destas famílias, principalmente do primeiro grupo, permitiu constatar a percepção ecológica dos agricultores sendo possível à caracterização de aspectos de conservação da biodiversidade. Com o resultado da pesquisa, observa-se que há uma interação entre as diferentes unidades de paisagens dos ecossistemas terrestres e aquático, bem como uma relação intrínseca entre plantas - homem - animal através da manipulação dos recursos naturais, que foi desenvolvida nestas duas décadas através do acúmulo e troca de experiências vivenciadas pelas famílias. Percebe-se que os arranjos locais desenvolvidos pelas as famílias estão relacionados aos aspectos naturais e culturais que podem definir por quanto tempo a ocupação social deste espaço vai perdurar. A manutenção desta diversidade biológica e ecológica no assentamento passa por uma transformação na racionalidade econômica das famílias para uma nova racionalidade ambiental nas formas de usos de recursos naturais e humanos. Ou seja, depende do reconhecimento das famílias da estreita relação entre a biodiversidade e com suas práticas produtivas. Pois, segundo Neves (1992), citado por Noda (2000, p. 157), as formas de organização social podem ser produzidas como respostas a problemas ambientais, como também podem provocar mudanças na biodiversidade original de uma unidade de paisagem. Desta forma, a manutenção da biodiversidade no assentamento Nossa Senhora Aparecida, representa a manutenção da racionalidade cultural das famílias, que atualmente está em conflito. Permitirá também, ser à base de formação da identidade dos agricultores familiares, assim, como os seus conhecimentos etnobotânicos e etnoecológicos sobre a complexidade dos sistemas agroflorestais podem ser entendidos como indicador de preservação da cultura. O processo de conhecimento dos agricultores sobre a flora possui duas vertentes, conforme afirma Noda (2000, p.158). A primeira, diz respeito à conservação dos espaços de manutenção da teia alimentar dos animais. A segunda, diz respeito às áreas de valoração, onde a conservação é pensada através no manejo dos recursos naturais nas atividades desenvolvidas na organização social e de produção para manutenção dos bens necessários à família. Esses saberes são transmitidos de geração para geração, caracterizando os agricultores familiares por: a) relações simbólicas e econômicas intensas com a terra e seus ciclos, construídas nas práticas de uso do ambiente; b) ligação com o assentamento onde o grupo social se reproduz socialmente; c) importância das atividades de subsistência, ainda que as relações com o mercado desempenhem um papel importante na reprodução do modo de vida; d) acumulação limitada de capital de algumas famílias; e) papel crucial desempenhado pela unidade familiar ou doméstica; f) as relações sociais baseadas na cooperação e troca com a vizinhança e g) um certo nível de identidade social e cultural que distingue essa comunidade pelo seu modo de vida. A partir dos resultados iniciais propomos algumas discussões com este trabalho. Primeiro, os conhecimentos, técnicas e meios de produção utilizados pelos agricultores familiares permitem estabelecer uma relação integrada com meio ambiente. Muitos desses saberes ambientais foram repassados pelos antepassados das famílias, como avós e pais. Outros, principalmente sobre as plantas nativas e regionais foram transmitidos pelas interações sociais existentes no assentamento. Alguns conhecimentos, os próprios agricultores contam que aprenderam observando a natureza. Há portanto, uma relação sistêmica no assentamento entre estes saberes sobre plantas, práticas de utilização e conservação da biodiversidade na medida em que: a) o uso e manejo destas plantas enriquecem o solo, como é o caso das roças consorciadas e do sistema de rotação de plantio; b) Mantém viva uma diversidade de espécies biológicas com as variedades de plantas e animais existentes nos quintais e na mata; c) e, por fim, fortalece e mantém os laços de identidade dos agricultores familiares com ambiente, através dos diferentes usos destes ambientes. Mas, uma parte do grupo estudado, já se percebe estresse nos recursos naturais e desequilíbrio dos ecossistemas, que pode comprometer a reprodução social e econômica destas famílias. Esta questão tem que ser discutida pelas organizações governamentais e nãogovernamentais que trabalham no assentamento, bem como, pelos próprios agricultores nas suas organizações internas (associação, grupos produtivos, cooperativa), para que os agricultores/as familiares possa garantir à seus filhos e netos no mínimo, as mesmas condições de trabalho e manutenção dos recursos naturais existentes atualmente O direito à posse da terra deu às famílias, em especial, aquelas que eram trabalhadores rurais, uma dimensão de pertencimento ao lugar, um sentimento topófico pelo assentamento, que se expressa no modus operandi que estas famílias possuem na prática da conservação dos recursos naturais aquáticos e terrestres. As famílias materializam seus saberes ambientais nas ações cotidianas no assentamento. A agricultura familiar faz uso de espécies e técnicas de produção, que combinam uso da terra, do trabalho na roça, no plantio e manejo de espécies de plantas nos quintais e terreiros. Na utilização dos recursos naturais no pasto, na mata, nos córregos (extrativismo vegetal e animal) e nas relações de troca de semente e mudas com a vizinhança. O conhecimento do espaço natural que se dá na classificação das plantas por categoria de valoração utilitária (alimentícias medicinais, madeireiras e ornamentais), de maior freqüência (alta, media e baixa), bem como, os conhecimentos dos animais (tipos, espécies, hábitat) e bem como, sua utilização para as famílias ou para o ecossistema demonstra seus saberes sobre a biodiversidade local. Podemos perceber que a biodiversidade passa pela relação que os agricultores familiares possuem com a terra, as plantas, os animais, seus vizinhos e com a comunidade. Identifica-se no assentamento uma variedade de saberes nas formas de apropriação dos recursos naturais, como a variedades de subsistemas animais e vegetais, bem como, sobre os conhecimentos e os diferentes usos das plantas tanto nativas, como alimentares. Apesar da prática da pecuária, ainda cultivam roças, mesmo que pequenas, onde se observa a materialização de seus habitus nas técnicas do plantio e manejo de culturas tradicionais, através do sistema consociado, assim como na obtenção e seleção das sementes. Os resultados obtidos neste trabalho, em parte, reforçam a teoria de que a forma de produção em roças, em escala familiar, através do baixo consumo de insumos externos e o cultivo de espécies anuais para a produção de alimentos básicos para a família é uma forma sustentável de produção. Pois, nas práticas cotidianas a força de trabalho, na sua maioria 83% , é familiar, estabelecendo em alguns momentos relações de ajuda mútua com os vizinhos e parentes. Além é claro, da diversidade biológica de seus quintais e terreiros expressarem uma reconstrução cultural, social, e econômica do ambiente natural, através de seus habitus. Por outro lado, o desenvolvimento de práticas predatórias para o ambiente põe em risco essa biodiversidade. A produção da pecuária como proposta econômica, é insustentável para os recursos naturais e até certo tempo, inviável para a agricultura familiar. Uma parte do grupo estudado, já percebe “estresse” nos recursos naturais e os desequilíbrios dos ecossistemas, que pode comprometer a reprodução social e econômica destas famílias. Esta questão tem que ser discutida amplamente para que os agricultores familiares entender a necessidade de conservar os ecossistemas existentes para garantir as suas gerações futuras condições ambientais, no mínimo iguais, para manutenção da reprodução social de seus descendentes. Os assentamentos rurais é uma política pública de reforma agrária, resultado de uma mais de meio século de luta dos trabalhadores rurais. Como política governamental ele tem que ser sustentável, mas não só do ponto de vista econômico, mas também, nas questões socioambientais e culturais. Desta maneira, é necessário desenvolver alternativas de geração de renda que possa manter e conservar a sua biodiversidade, articulando todos os atores sociais que estão envolvidos ao assentamento (agricultores, associação dos agricultores, INCRA, STR’s, órgãos de Assistência técnica, ONG’s, Movimentos sociais, universidades) em amplo debate sobre a urgência de elaboração e execução de políticas públicas sustentáveis para os assentamentos. 6. RECOMENDAÇÕES As recomendações para implantação de ações mais adequadas de conservação ambiental que preservam a biodiversidade local estarão baseadas nas análises realizadas durante a pesquisa de campo e também na análise do relatório do Plano de Recuperação do Assentamento produzido pelo INCRA/ COOPTER. • Sensibilização e motivação das famílias para a necessidade e ganhos da conservação ambiental; • Reflorestamento das áreas degradadas, recuperando as nascentes dos córregos com plantas nativas da região; • Incentivo aos agricultores familiares do controle natural de pragas; • Implantação das ações do Plano de Recuperação do Assentamento - PRA 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, Ana Rosa Camillo. Et-al. In: BLUMER A. Et-al. Sociologia Rural: texto: AVENTURA E EQUILIBRO: Saber Camponês e Mudanças Técnica em uma Comunidade Rural do Sul de Minas Gerais. Lavras, MG, UFLA/FAEPE, 1997. BERGAMASCO, Sonia M. e NORDER, Luis A. Coelho. O que são Assentamentos Rurais. 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ANEXOS UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS CENTRO DE CIENCIAS DO AMBIENTE /CCA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIENCIAS DO AMBIENTEE SUSTENTABILIDADE DA AMAZÔNIA –PPG/CASA TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Convidamos o Senhor____________________________________ para participar da pesquisa intitulada “Os Saberes Ambientais Locais: O Assentamento Rural Nossa Senhora Aparecida no Município de Pequizeiro - TO”, que será realizada na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e pretende analisar a relação dos saberes dos agricultores familiares e com conservação da biodiversidade. Se alguma parte não estiver clara, pode perguntar que será explicado. Os agricultores familiares possuem saberes sobre o ambiente em que vivem que muita vezes não são respeitados na implantação das políticas publicas nos assentamentos rurais. Acreditamos que o senhor pode nos ajudar contando os seus conhecimentos sobre as plantas e suas práticas de utilização no assentamento, as suas formas de trabalho e as o uso das plantas nas suas atividades do dia a dia. È nosso interesse saber mais sobre os conhecimentos locais sobre as plantas, porque, este conhecimento poderá nos ajudar no debate sobre o respeito da cultura local nos assentamentos rurais quando órgãos públicos, instituições governamentais e não-governamentais e técnicos forem desenvolver alguma atividade áreas de assentamento rurais. O senhor está sendo convidado fazer parte desta pesquisa, porque sentimos que a sua experiência de viver neste assentamento ajudará muito a nossa pesquisa. Sua participação nesta pesquisa é completamente voluntária. É sua escolha participar ou não. Esta pesquisa envolverá sua participação em entrevistas e observação da sua propriedade. As entrevistas poderão durar até 2 horas e meia e visitas na sua propriedade podem ser que ocorram várias vezes e isso pode atrapalhar seus afazeres. Portanto, estes procedimentos serão realizados no local e hora que o Senhor definir como mais conveniente. A pesquisadora Adelma Ferreira de Souza, responsável pelo projeto, pede então autorização para a realização desta entrevistas e visitas. Serão tiradas fotografias e as entrevistas serão gravados. O Senhor pode ter uma cópia das fitas e fotos gravada ou escrita. Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade não será divulgada. Para qualquer outra informação, o (a) Sr.(a) poderá entrar em contato com o(a) pesquisadora pelo telefone (63)3476-4311 ou pelo celular 9983-0424. Consentimento Pós–Informação Eu,___________________________________________________________, fui informado sobre o que a pesquisadora quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e entendi a explicação.Por isso, eu concordo em participar do projeto, sabendo que não vou ganhar nada e que posso sair quando quiser. Estou recebendo uma cópia deste documento, assinada, que vou guardar. _________________________________ ou ____-______-_____ Assinatura Data do participante __________________________________ Pesquisadora Responsável ____-______-_____ Impressão do dedo polegar. Caso não saiba assinar . Data PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO. ROTEIRO DE ENTREVISTA 1. DADOS DA FAMÍLIA: Nº F___________ 2. Nº 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 ENDEREÇO: _____________________________ Nome Parent Ida Nat Se Escol esco ur. xo arid. de LT:______________ Atividades PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO. 2. DADOS DE ORIGEM/HISTÓRIA: F.02 1. Onde você nasceu? (neste município, nesta região, neste estado, em outro estado, qual?) 2. Nome da localidade onde você nasceu? 3. De sua (seu) esposa (o)? 4. Por que deixaram a região de origem? 5. A quanto tempo mora aqui? 6. Por que veio morar aqui? 7. Como era aqui quando o Sr. (a) chegou? 8. Quais as dificuldades enfrentadas? 9. Como essas dificuldades foram superadas? 10. Onde morou antes de mudar para o assentamento? 11. Quanto tempo morou lá? 12. Por que morava lá? 13. O que fazia? 14. O que levou o Sr.(a) a se dedicar a agricultura? 15. O que mudou após seu estabelecimento no assentamento? 3. Dados da Propriedade: 1) Qual é a área total da sua propriedade? 2) Qual a dimensão da propriedade, em m²? (largura e comprimento) 3) Qual o tamanho da área de terra firme? 4) Qual a sua situação legal em relação à propriedade (assentado, já titulo definitivo?) 157 PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO. 4. DADOS DOS SISTEMAS AGRÍCOLAS: (Fazer com Mapas falantes) ORGANIZAÇÃO DA PROPRIEDADE Áreas (ambientes) da Tamanho de cada área Utilização de cada área propriedade Obs.: tirar fotos conforme conceito deles. 1) Qual a sua principal atividade, a que contribui com a maior parte da sobrevivência da família? 2) A família possui outra renda? Qual? Quanto? 158 PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO. 5. DADOS DO CULTIVO AGRÍCOLA: Roteiro Cultivos Agrícolas Milho Arroz Mandioca Área Local Escolha da área Variedades plantadas Tipo de plantio (cons/solt) Época de plantio Objetivo plantio Quant.prod./área Preço de venda Época da venda Trabalho é feito por quem? 1) Onde vende? 2) Como é vendida?(como é embalagem e o transporte é próprio ou pago) 3) Quem compra? 4) Quem define o preço? 5) Como é a forma/relação de pagamento? 6) Qual a percentagem de ganho? 7) Se tiver ajuda de terceiros nos trabalhos, é Pago ou formas coletivas? Feijão Abóbora 8) Origens das sementes e mudas? (comprada, onde? troca, com quem? ) 9) Critério para escolha da semente? 10) Usam agrotóxicos? Em quais culturas? 11) Faz uso de alguma prática agroecologica? Quais? 12) Deixa a terra descansar? 13) Por quanto tempo? 14) Por quê? 15) O que plantava no local atual do pousio? 16) Faz adubação? Qual? 17) Se faz, que tipo de adubação? Porque escolheu este tipo? 18) Há alguma relação das suas práticas de cultivo agrícola com o ambiente.? Por que? PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO. 6 . DADOS DA CRIAÇÃO DE ANIMAIS ROTEIRO ESPÉCIES/RAÇA Galinha Gado Porco Raça Quantidade Finalidades (produto) Media de produção Se vende? Quanto? Em que época? Onde é vendida? Como? (emb.e transp) Comprador Quem define o preço? Forma de pagamento Percentagem de ganho Forma de criação (int/ext) Tipo de alimentação Como são Instalações Como é feito manejo e por quem? 1. Faz uso de aproveitamento de resíduos (aproveitamento dos recursos naturais) na criação dos animais? 2. Quais resíduos são utilizados? 3. Há alguma relação na forma da criação dos animais com o ambiente? Por que PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO. 7. FAUNA SILVESTRE 7.1 - BICHO Nome Freqüência (pouco, media, alta) Onde são encontradas Animais que ainda são consumidos PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO. 7. FAUNA SILVESTRE 7.2- PÁSSAROS Nome Freqüência (pouco, media e alta) Onde são encontradas Animais que ainda são consumidos PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO. 7. FAUNA SILVESTRE 7.2- PEIXES Nome Freqüência (pouco, media, alta) Onde são encontradas Animais que ainda são consumidos PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO. 1. DADOS DA FAMÍLIA: Nº F. __________________________________________: PA. Nª Senhora Aparecida LT:______________ 8. DADOS SOBRE OS CONHECIMENTOS SOBRE AS PLANTAS EXISTENTES E SUAS UTILIZAÇÕES 8.1 QUINTAIS 1) definição do Agricultor sobre o que é planta para ele? Nome Popular N/P* Conhecimento uso ** sobre o Parte planta usada da Freqüência é (pouco, Se for remédio, cura o Com quem aprendeu que? este conhecimento? média, alta) * N- Nativa ou P- Plantado **Legenda para uso: A – Alimentação, M- Medicinal, MA- Madeira, L- Lenha, O-Olerículas , OR Ornamental, C –Construção, E Ecológica, LLenha, V- veneno, AR- Artesanato, B-Bebida, R- Ritual/folclore, ( ) outros PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO. 8.2 TERREIRO Nome Popular N/P Conhecimento uso sobre o Parte da planta Freqüência é usada (pouco, média, alta) Se for remédio, cura o que? Com quem aprendeu Este conhecimento? N- Nativa ou P- Plantada **Legenda para uso: A – Alimentação, M- Medicinal, MA- Madeira, L- Lenha, O - Olerículas , OR Ornamental, C – Construção, E Ecológica, L-Lenha, V- veneno, AR- Artesanato, B-Bebida, R- Ritual/folclore, ( ) outros 2. Quem faz o manejo destas plantas? 3. Vocês ainda fazem uso destas plantas? Pra que? Por quê? PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO. MATA Nome Popular N/P Conhecimento sobre o Parte uso da Freqüência planta é (pouco, usada alta) Se for remédio, cura o Com média, que? quem aprendeu este conhecimento? *Legenda para uso: A – Alimentação, M- Medicinal, MA- Madeira, L- Lenha, O-Olerículas , OR Ornamental, C –Construção, E Ecológica, LLenha, V- veneno, AR- Artesanato, B-Bebida, R- Ritual/folclore, ( ) outros PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO. PASTO Nome Popular N/P Conhecimento sobre o uso Parte da Freqüência planta é (pouco, usada alta) Se for remédio, Com média, cura o que? quem aprendeu este conhecimento? N- Nativa ou P- Plantado **Legenda para uso: A – Alimentação, M- Medicinal, MA- Madeira, L- Lenha, O-Olerículas , OR Ornamental, C –Construção, E Ecológica, LLenha, V- veneno, AR- Artesanato, B-Bebida, R- Ritual/folclore, ( ) outros 4. Vocês ainda fazem uso de alguma planta nativa? Pra que? Por que? 5. Em sua opinião, há alguma relação do uso destas plantas com a preservação ambiental? Por quê?