saberes ambientais locais - ppgcasa

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS - UFAM
CENTRO DE CIENCIAS DO AMBIENTE-CCA
PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO
AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA –
PPG/CASA - MESTRADO PROFISSIONAL
SABERES AMBIENTAIS LOCAIS:
O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA
NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO.
ADELMA FERREIRA DE SOUZA
MANAUS
2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE – CCA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS
DO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA
PPG / CASA
MESTRADO PROFISSIONAL
ADELMA FERREIRA DE SOUZA
SABERES AMBIENTAIS LOCAIS:
O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA
NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências
do Ambiente e Sustentabilidade da Amazônia - PPG-CASA como
parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências
Ambientais, área de concentração Gestão Ambiental.
Orientadora: Profª Drª Sandra do Nascimento Noda.
MANAUS
2009
ADELMA FERREIRA DE SOUZA
SABERES AMBIENTAIS LOCAIS:
O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO
MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências
do Ambiente e Sustentabilidade da Amazônia - PPG-CASA como
parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências
Ambientais, área de concentração Gestão Ambiental.
Aprovada em 25 de junho de 2009.
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________________
Profª. Drª Sandra do Nascimento Noda
Universidade Federal do Amazonas
_______________________________________________
Profª. Dr Luiz Augusto Gomes de Souza
Universidade Federal do Amazonas
_______________________________________________
Profª. Dr Danilo Fernandes da Silva Filho
INPA- Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas
DEDICATÓRIA
À geração mais experiente, meus pais, que me
transmitiram os seus saberes.
A nova geração, meus filhos Mariana, Pedro e Laura
guardiões das memórias dessa geração e ao eterno
companheiro Eonilson Antonio de Lima.
In memória de Francisco Vicente de Oliveira
Agricultor Familiar do Assentamento Rural Nª Sª
Aparecida.
AGRADECIMENTOS
A tarefa de escrever uma dissertação nunca é uma atividade individual, mas de um
grupo de pessoas, pois antecede várias etapas e diferentes convívios. Etapas que se iniciam
antes da escolha do mestrado que se quer fazer.
Assim agradeço a determinação da
Professora Msc. Noelma Silva (companheira de caminhada), que acreditando que o impossível
é algo que ninguém tentou ainda, assim foi lá e fez, conseguiu articular o mestrado em
Ciências do Ambiente numa parceria entre UFAM e FIESC para os professores. Agradeço
também o empenho da gestão da FECOLINAS em efetivar este convênio.
Agradeço imensamente o acúmulo do capital simbólico proporcionado pelo grupo de
professores do PPG/CASA, em especial ao professores Dr. George Rebelo, Dr. Henrique dos
Santos Pereira, Dr. Hiroshi Noda, Dr. Antonio Carlos Witkoski, Drª Sandra Noda e Dr. César
Honorato. Ao Dr. Luiz Augusto pela sua rápida, mas não menos contundente contribuição na
minha formação.
Os colegas de mestrado, pelos calorosos debates e divergências de idéias que
tivemos, pois, acredito que o conflito de idéias gera crescimento. Aos amigos do mestrado
Elistênia Fonseca e Ronair Justino de Faria, dos quais tive o prazer de compartilhar
interessantes discussões e de construímos uma sólida e solidária amizade durante o mestrado.
A coordenação do PPG/CASA, em especial a “Rai” por ter sempre presente para
auxiliar a turma do Tocantins.
A coordenação local do mestrado, de forma especial ao Emitério, pela dedicação e
apoio aos professores durante esses dois anos.
Agradeço carinhosamente a minha orientadora Drª Sandra Nascimento Noda por ter
me incentivado, tranqüilizado e por fim acreditado na minha capacidade intelectual. Retribuo
as suas colaborações com meu afeto.
Não poderia deixar de agradecer com enorme carinho às famílias do Assentamento
Nossa Senhora Aparecida, que sem seus saberes este trabalho não poderia ter sido pensado e
ainda pela enorme paciência durante a realização da pesquisa de campo.
Ao Professor Wagner Madruga pelo carinho, tempo disponibilizado para me ajudar
com as coletas de plantas e os conhecimentos botânicos compartilhados.
As acadêmicas da FIESC: Adriana Rodrigues da Silva, Mônica Alves Ribeiro,
Kamila Soares de Araújo Coimbra e Sâmara Almeida Barros, pela enorme contribuição
durante o trabalho de campo e na sistematização dos dados.
Agradeço imensamente a ajuda da minha amiga Silvia Gomes e do amigo Lucas
Magno, pela trabalhosa sistematização e tabulação dos dados, pois, sem ajuda de vocês não
conseguiria levar adiante este trabalho.
Agradeço amorosamente os meus filhos Mariana, Pedro e Laura e companheiro
Nilsinho por ter agüentado minhas “ausências” durante a elaboração da dissertação.
A Dona Aparecida, deixo o meu carinho de agradecimento por ter cuidado da minha
casa e da minha família nestes 10 anos.
Agradeço também os meus pais, irmãos e sobrinhos pelo apoio, incentivo e
compreensão durante este dois anos de estudo, por ter pouco aparecido na nossa vida familiar.
Não podia deixar de agradecer a Deus, Pai de infinita bondade, por ter me dado à
possibilidade do crescimento moral e intelectual, para que eu possa compartilhar estes saberes
com a nossa grande família universal.
Enfim! Agradecer a todos e dizer-lhes que, este é um trabalho de equipe que deu
certo!
O contato com a natureza é sempre uma ruptura.
Sentir
medo
do
horizonte,
da
altura,
da
profundidade, do vento, do frio, do sol escaldante,
do mato fechado, do barulho dos insetos, da
precariedade e do desconforto remete-nos a
rompimentos com nossos comportamentos mais
"assentados". E essas rupturas abrem "brechas"
para
a
introdução/construção
de
novas
leituras/discursos sobre o que somos, o que
gostamos, o que acreditamos. Romper com formas
consagradas de falar, ver e sentir é um caminho
saudável de construir o novo. E o novo só aparece
quando se dá espaço. Forçar rupturas enfrentando
voluntariamente
situações
inesperadas
gera
mudanças.
(Fabio Cascino)
RESUMO
SOUZA, Adelma Ferreira. Saberes Ambientais Locais: O Assentamento Nossa Senhora
Aparecida no município de Pequizeiro-TO. Dissertação do Mestrado. Curso de Mestrado
em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia.
Nas ultimas décadas os debates sociais, políticos e científicos sobre agricultura familiar foram
recolocados em cena pelos movimentos sociais, universidades e na formação de políticas
públicas no Brasil, contrariando a concepção de cientistas que viam este segmento como uma
forma social residual, transitória ou que estava em vias de desaparecer nas modernas
sociedades capitalistas. Tal fato está relacionado com o fortalecimento da luta pela a terra,
através da reforma agrária. Assim, crescem estudos sobre as relações de trabalho, sistemas
produtivos e as questões ambientais na agricultura familiar. O resgate analítico da questão
agrária e das populações rurais está pautado nas discussões que se formam em torno do
modelo de desenvolvimento econômico para a agricultura brasileira, os mecanismos de
manutenção da cultura local e as questões ambientais globais. Assim, o objetivo geral desta
pesquisa é analisar a relação dos saberes dos agricultores familiares com a conservação da
biodiversidade no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, no município de Pequizeiro-TO.
A premissa que se levanta é a de que os conhecimentos sobre as plantas e práticas produtivas
dos agricultores familiares contribuem para a conservação da biodiversidade no assentamento.
O estudo está norteado em dados obtidos no levantamento de campo, através de entrevistas
com as famílias. Como principal metodologia foi utilizada a abordagem sistêmica através de
observação direta e análises dos dados. Os resultados apontam para uma relação dicotômica
sobre a conservação da biodiversidade, pois, há aspectos do manejo dos recursos naturais que
são sustentáveis ecologicamente, assim como há também práticas extremamente predatórias
para o ambiente. A pesquisa permitiu avaliar a importância da valorização dos saberes
ambientais das populações do campo na elaboração de políticas públicas para os
assentamentos rurais, que busquem efetividade na conservação ambiental.
Palavras - Chave: Agricultura familiar, Etnoconhecimento e Biodiversidade.
ABSTRACT
SOUZA, Adelma Ferreira. Local Environmental Knowledge: The Settlement Nossa
Senhora da Aparecida in the city Pequizeiro-TO. Master's thesis. Masters Course in
Environmental Sciences and Amazon’s Sustainability.
In recent decades the social, political and scientific debates about family farming were
reattached on the scene by social movements, universities and by the construct of public
policies in Brazil. Against the scientist’s conceptions who understood this segment as a
residual social, transitional or that was in the process of disappearing in modern and capitalist
societies. This fact is related by the intensification of the Agrarian Reform. Because this, there
are increasing studies on labor relations, production systems and environmental issues in
family farming. The analytical view of the agrarian issue and the rural populations is based on
the discussions around the economic model of development for Brazilian agriculture, which
maintain mechanisms of local culture and global environmental issues. Consequently, the
overall objective of this study is to examine the relation of family agriculture knowledge and
conservation of biodiversity in the Settlement Nossa Senhora Aparecida, in the municipality
of Pequizeiro-TO. The premise that arises is that the vegetation knowledge on plants and
Family production practices contributes to the conservation of biodiversity in the settlement.
The study is guided by data obtained from the exploration field, through interviews with
families. As the main method used was the systemic approach through direct observation and
analysis of data. The results indicate a dichotomous relation the biodiversity’s conservation,
therefore, the aspects of natural resource management that are ecological sustainable and there
is also extremely predatory practices to the environment. The study allowed evaluating the
importance of involving local people at the developing policies public for rural settlements,
which look for effectiveness in environmental conservation.
Key-words: Family farm, Ethnicity’s knowledge and Biodiversity
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Freqüência e área média cultivada das espécies encontradas no componente roça no
Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. ......................... 67
Tabela 02. Alimentação, tipo de instalação e formas de manejo da criação dos animais
praticada pelos assentados no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de
Pequizeiro - TO............................................................................................................... 77
Tabela 03. Descrição dos componentes da paisagem e suas formas de utilização no
Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro-TO........................... 86
Tabela 4. Informações gerais sobre a biodiversidade vegetal encontrada no Assentamento
Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. n = 160............................... 103
Tabela 5. Características das espécies vegetais, hábitos de crescimento, utilização, freqüência
e origem das espécies encontradas no Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município
de Pequizeiro, TO. n=160 ............................................................................................... 109
Tabela 6. Informações gerais sobre a biodiversidade da fauna silvestre encontrada no
Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. n = 106 ....... 122
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Localização, coordenadas geográficas, população e área territorial do município de
Pequizeiro, no estado do Tocantins, Brasil. ..................................................................... 39
Figura 2. Distribuição geográfica das áreas de assentamento rural com fins de reforma agrária,
implantados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, incluindo o
assentamento Nossa Senhora Aparecida com suas coordenadas geográficas, no município de
Pequizeiro, TO................................................................................................................ 40
Figura 3. Detalhes da paisagem do Assentamento Nossa Senhora Aparecida, ilustrando área
de pastagem (a) e áreas em processo intensivo de erosão, com solo exposto (b), no município
de Pequizeiro, TO. .......................................................................................................... 43
Figura 4. Características dos recursos hídricos existentes no Assentamento Nossa Senhora
Aparecida, mostrando o Córrego do Macaco (a) e cursos d´água vicinais (b), no município de
Pequizeiro, TO................................................................................................................ 44
Figura 5. Freqüência de idade dos componentes das famílias entrevistadas no Assentamento
Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO (n = 44).................................... 47
Figura 6. Seqüência cronológica da chegada das famílias e quadro atual da ocupação completa
dos lotes no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, no município de Pequizeiro, TO. (n =
12). ................................................................................................................................. 48
Figura 7. Distribuição da origem das famílias no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, do
município de Pequizeiro, TO. (n = 25). ........................................................................... 48
Figura 8. Distribuição da concentração do número de lotes por famílias de assentados no
Assentamento Nossa Senhora Aparecida, do município de Pequizeiro, TO. (n = 25) ....... 51
Figura 9. Mapa esquemático cronológico das mudanças na paisagem do Assentamento Nossa
Senhora Aparecida, construído a partir dos dados coletados nas entrevistas com os
assentados, no município de Pequizeiro, TO. .................................................................. 56
Figura 10. Distribuição da área explorada como quintais, roçado, pasto e remanescente de
mata para 12 lotes de assentados no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de
Pequizeiro, TO................................................................................................................ 59
Figura 11. Ponto de coleta de leite onde está instalado um tanque de resfriamento coletivo, no
Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. ......................... 61
Figura 12. Grupo de discussão dos assentados para formação da Cooperativa dos Agricultores
Familiares de Pequizeiro e região, no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de
Pequizeiro, TO. (a) Reunião para criação da COOPEFAPER; (b) Curso de formação dos
agricultores em cooperativismo....................................................................................... 62
Figura 13. Distribuição da área agrícola e principais culturas explorada no ano de 2007, em 12
lotes de assentados no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO.
....................................................................................................................................... 65
Figura 14. Identificação de técnicas agrícolas aplicadas por assentados para armazenamento
de água utilizada na irrigação do cultivo de melancia no Assentamento Nossa Senhora
Aparecida, município de Pequizeiro, TO. ........................................................................ 66
Figura 15. Técnicas dos assentados para armazenar as sementes para plantio da safra seguinte
no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (A)
Armazenamento das sementes de feijão trepa-pau, (B)Armazenamento das sementes de
milho. ............................................................................................................................ 68
Figura 16. Técnicas dos assentados para armazenamento da produção de
mel no
assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. ......................... 73
Figura 17. Reunião do Programa de Formação de Lideranças Agroecológicas, para entrega da
centrifuga ao grupo de apicultores no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de
Pequizeiro, TO................................................................................................................ 74
Figura 18. Criação de galinha caipira melhorada da raça Label Rouge no Assentamento Nossa
Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. .......................................................... 75
Figura 19. Croqui da distribuição dos diferentes componentes da paisagem em uma
propriedade com maior área de mata. Adaptado a partir do mapa desenhado proprietário do
lote, no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO.............. 80
Figura 20. Croqui da distribuição dos diferentes componentes da paisagem em uma
propriedade sem área de mata. Adaptado a partir do mapa desenhado proprietário do lote, no
Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. ......................... 81
Figura 21. Esquema da adaptabilidade e distribuição da paisagem e os usos do solo no
sistema de produção no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro,
TO .................................................................................................................................. 88
Figura 22: Ilustração da mata como componentes da Paisagem no assentamento Nossa
Senhora Aparecida, município Pequizeiro-TO. ............................................................... 89
Figura 23: Ilustração do brejo como componentes da Paisagem no assentamento Nossa
Senhora Aparecida, município Pequizeiro-TO. ............................................................... 90
Figura 24: Ilustração do pasto como componentes da Paisagem no assentamento Nossa
Senhora Aparecida, município Pequizeiro-TO. ............................................................... 91
Figura 25: Ilustração do curral como componentes da Paisagem no assentamento Nossa
Senhora Aparecida, município Pequizeiro-TO. ............................................................... 92
Figura 26: Ilustração dos quintais e seus diferentes usos pelas famílias no Assentamento
Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. Figuras A e B......................... 93
Figura 27: Ilustração dos terreiros e formas de utilização deste componente de paisagem pelas
famílias no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO ........ 94
Figura 28: Ilustração das hortas cultivadas pelas famílias no Assentamento Nossa Senhora
Aparecida, município de Pequizeiro, TO. ....................................................................... 95
Figura 29. Distribuição das espécies de plantas pela sua utilização pelas famílias no
Assentamento Nossa Senhora Aparecida, Município de Pequizeiro – TO........................ 99
Figura 30. Quantidade de espécies plantas encontradas nas propriedades com maior e menor
área de mata no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, Tocantins.
n=160 ............................................................................................................................. 101
Figura 31. Coleta das plantas endêmicas nas áreas de mata para classificação taxonômica no
Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, Tocantins. ... ........... 102
Figura 32. Quantidade de espécies faunísticas nas propriedades com maior e menor área de
mata encontradas no Assentamento Nossa Senhora Aparecida. Pequizeiro, Tocantins, n= 106
....................................................................................................................................... 120
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
APP – Área de Preservação Permanente
COOPEFAPER – Cooperativa de Produção e Comercialização dos Agricultores Familiares de
Pequizeiro e Região Ltda.
IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INPA – Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia
MST – Movimento dos Sem Terra
NATURATINS – Instituto de Natureza do Tocantins
ONG – Organização Não Governamental
PDA – Plano de Desenvolvimento de Assentamentos
PRA – Plano de Recuperação de Assentamentos
PRONAF – Programa Nacional para Agricultura Familiar
SAF’s – Sistemas Agroflorestais
STR’s – Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais
TAC – Termo de Ajuste de conduta
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 18
HIPOTESE .................................................................................................................... 20
OBJETIVO GERAL ....................................................................................................... 20
OBJETIVOS ESPECIFICOS .......................................................................................... 20
1 CAMINHOS TEÓRICOS DA PESQUISA............................................................... 22
1.1. Agricultura Familiar: Diversidade das unidades de produção. .................................. 23
1.2. Etnoconhecimento: Conhecimentos dos agricultores familiares sobre o ambiente .... 25
1.3. Biodiversidade: Diversidade biológica e ecológica na agricultura familiar................ 28
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA.................................. 30
2.1. Abordagem da Pesquisa ........................................................................................... 30
2.2. Métodos da Pesquisa... ............................................................................................. 31
2.3. Técnicas de Pesquisa de Campo ............................................................................... 33
2.4. Técnicas de Análise dos dados ................................................................................. 35
3. ÁREA DE ESTUDO ................................................................................................. 37
3.1 O Município de Pequizeiro: Histórico, Localização e Ambiente. .............................. 37
3.2 O Assentamento Nossa Senhora Aparecida: Localização, Histórico e Ambiente. ...... 38
3.2.1 Localização do Assentamento.......................................................................... 38
3.2.2 Histórico do Assentamento. ............................................................................ 41
3.2.3 O Ambiente..................................................................................................... 42
3.2.3.1 Recursos Hídricos .................................................................................... 44
3.2.3.2 Característica do solo ............................................................................... 45
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................ .46
4.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIO-ECONOMICA E CULTURAL DOS AGRICULTORES
FAMILIARES ................................................................................................................ 46
4.2 RELAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS NAS PRÁTICAS DE TRABALHO DOS
AGRICULTORES FAMILIARES .................................................................................. 54
4.2.1 Agricultores Familiares: Práticas Produtivas e Formas de Trabalho ................. 57
4.1.1.1 Organização da produção .................................................................... 57
4.1.1.1.2 Pecuária ........................................................................................... 59
4.1.1.1.3 Agricultura ...................................................................................... 64
4.1.1.1.4 Apicultura e criação de pequenos animais. ....................................... 73
4.2.2 Formas de Trabalho......................................................................................... 77
4.3 SABERES AMBIENTAIS LOCAIS ......................................................................... 83
4.3.1 As Unidades de Paisagem Locais e seus diferentes usos .................................. 85
4.3.2 Etnobotânica das Espécies .............................................................................. 96
4.3.3 As Espécies de Fauna: Diversidade.................................................................. 119
4.4 AGRICULTURA FAMILIAR E BIODIVERSIDADE.............................................. 128
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 141
6 RECOMENDAÇÕES ............................................................................................... 147
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 148
8 ANEXOS ................................................................................................................... 152
18
INTRODUÇÃO
Ao estudar assentamentos rurais, não podem deixar de lado o debate em torno da
questão agrária no Brasil. A posse de terra no Brasil sempre esteve relacionada ao poder
econômico e controle social da classe dominante. O direito à terra foi negado durantes séculos
aos milhares de trabalhadores rurais deste País.
A partir da década de 50 surgiu à organização dos trabalhadores rurais, chamada de
Liga Camponesa cujo lema era “Reforma agrária na lei e na Marra”, o objetivo era
pressionar o governo e aglutinar forças para a implantação da reforma agrária no Brasil. Neste
mesmo período foi instalada a ditadura militar e com ela a repressão de toda organização
social.
A partir do final da década de 70, inicia-se um novo processo de reorganização dos
movimentos de trabalhadores rurais sem-terra em Santa Catarina, apoiados pela Igreja
Católica, criando assim, o MST. Logo este movimento se espalhou por todo o país, ganhando
novo fôlego, para pressionar o Estado fazer a reforma agrária, usando como estratégia as
marchas e ocupações de prédios públicos e latifúndios improdutivos, que não cumprem a sua
função social, para pressionar o governo a negociar e chamar a atenção da população para o
problema dos conflitos de terra no Brasil.
É neste contexto de conflito no campo que na década de 80 vão surgindo os
primeiros assentamentos rurais no Brasil. No Estado do Tocantins, os conflitos mais
conhecidos foram no Bico do Papagaio, gerado a partir dos confrontos entre pecuaristas
apoiados pelo estado e posseiros que viviam na terra há vários anos na região.
19
No Estado do Tocantins existem atualmente 353 assentamentos rurais em torno 22
mil famílias assentadas1 o que implica uma população aproximada de 110 mil pessoas,
representando 8,8% da população do Tocantins.
Outra região que ficou marcada pelos conflitos de reocupação da terra foi à região do
Vale do Juari, lugar de latifúndios improdutivos que ficavam situados entre os municípios de
Colinas do Tocantins, Pequizeiro e Couto Magalhães. Estes conflitos tinham de um lado
trabalhadores rurais (apoiado pelo STR’s e Setores da Igreja Católica) e do outro, os
fazendeiros que tentavam resguardar os direitos a propriedade através do apoio da polícia
militar e de pistoleiros fortemente armados.
Segundo Bergamasco e Norder (1996, p.2) o termo assentamento começou a ser
cunhado a partir dos anos 60 pela população rural que vinha sendo expulsa do campo para os
centros urbano devido uma série de fatores como ausências de políticas públicas para o
campo, incentivo do próprio estado para a migração para as cidades e a grilagem de terra.
Os assentamentos rurais são entendidos por Bergamasco e Norder (1996, p.7) como
novas unidades de produção agrícola, por meio de políticas governamentais visando o
reordenamento do uso da terra, em beneficio de trabalhadores rurais, ou seja, é a forma de
acesso e democratização da terra àqueles que historicamente foram alijados dos projetos de
desenvolvimento do país e que historicamente, muitas vezes foram diretamente prejudicados
por tais projetos.
As populações que vivem no campo e as “assentadas”, que são foco deste trabalho
também denominado de agricultores familiares, vivem em assentamentos rurais possuem
saberes e conhecimentos sobre o ambiente em que vivem e uma racionalidade cultural,
produtiva e ambiental própria que são materializadas nas suas práticas produtivas.
1
Dados do INCRA-Tocantins -2008
20
Observa-se que nas ultimas décadas a proposta de desenvolvimento para a produção
agrícola, implantada nos assentamentos rurais por meio das políticas públicas gera conflitos
com o modus operandi (Bourdieu 2000: 349) dos agricultores familiares.
Os assentamentos rurais estão passando por fortes pressões econômicas externas
advindas do modelo de desenvolvimento para agricultura que é pautado na racionalidade
econômica e na maximização da exploração dos recursos naturais. Estas orientações globais
do capital incidem diretamente no local, sobre a cultura dos agricultores familiares. Este
modelo está voltado para uma lógica produtiva de promover a inserção dos “assentados” no
sistema capitalista, ou seja, o lucro.
A questão da preservação ambiental e sustentabilidade entraram recentemente na
pauta de discussão dos órgãos governamentais responsáveis pela política de reforma agrária.
Portanto, esta demanda lança-nos desafio de pensar em políticas agrícolas e agrárias
sustentáveis para os assentamentos rurais, incluindo assim, estas populações nas pautas de
discussões nacional, pois afinal, também são elas as responsáveis pela sobrevivência de
grande parcela de pessoas e pela manutenção da agrobiodiversidade do nosso País.
A hipótese que se levanta nesta dissertação é a de que os conhecimentos sobre as
plantas e sua utilização nas relações de trabalho dos agricultores familiares contribuem para a
conservação da biodiversidade no assentamento rural Nossa Senhora Aparecida.
Neste sentido, o objetivo geral da dissertação foi analisar a relação dos saberes dos
agricultores familiares com a conservação da biodiversidade no Assentamento Nª Senhora
Aparecida, buscou-se, portanto, constituir os seguintes objetivos específicos: Identificar as
relações socioambientais de trabalho no cotidiano do assentamento; Inventariar as plantas e
suas práticas de utilização no assentamento e Descrever as relações de trabalhos e o uso das
plantas e suas contribuições para a biodiversidade local.
21
Este assentamento foi escolhido devido ao seu tempo de constituição, pois foi criado
há duas décadas, portanto as famílias podem evidenciar saberes que são utilizados no seu
cotidiano. Estudou-se um grupo de 12 agricultores familiares. Estas famílias foram escolhidas
pela a sua diversidade sociocultural, econômica, produtiva e ambiental apresentada. O local
estudado trata-se de uma região marcada pela forte pressão da atividade pecuarista e pela
presença significativa da agricultura familiar em vários assentamentos de reforma agrária,
com famílias oriundas de vários lugares e diferentes situações de posse da terra (ocupação
compra da posse e usufruto).
22
1. CAMINHOS TEÓRICOS DA PESQUISA
A pesquisa buscou um aporte teórico que pudesse nortear as questões postas neste
trabalho: a caracterização do tipo de agricultores que vivem no Assentamento Nossa Senhora
Aparecida, como estes agricultores compreendem o ambiente em vivem e de que modo
organizam os diferentes espaços, a partir dos seus conhecimentos nas práticas de trabalho e
seus saberes sobre as plantas endêmicas e exóticas.
O pano de fundo deste trabalho é com base nos estudos da Etnociências, que tem o
objetivo aproximar as ciências sociais e as ciências naturais. Portanto, optou-se em fazer um
recorte epistemológico que pudesse explicar os aspectos das populações rurais que estavam
intrinsecamente relacionadas com ambiente, como a exploração agrícola e o cultivo de plantas
e animais.
Nas populações rurais, a forma de sobrevivência e de produção econômica está
diretamente relacionada com o uso da terra. Dependentes, portanto das intempéries da
natureza, essas populações desenvolvem estratégias para diminuir as inseguranças dos
resultados agrícolas em sua propriedade.
Logo, a finalidade deste trabalho foi levantar questões que viessem a responder se as
famílias do assentamento escolhido possuem práticas que contribuem para a conservação
ambiental, do/no assentamento. Ao final deste estudo, pretende-se fazer algumas sugestões
para minimizar possíveis impactos negativos sobre o ambiente decorrentes das ações destas
famílias.
Assim, foi feito uma caracterização da área de estudo partir de dados secundários e
primários sobre os aspectos históricos, geográficos, demográficos e ecológicos da área. Com
base nestes dados buscou-se entender as formas de ocupação do espaço social, produtivo e
ambiental no assentamento.
23
Descreveremos em seguida o percurso teórico deste trabalho, bem como as
estratégias da pesquisa de campo desenvolvidas no Assentamento Nossa Senhora Aparecida,
no Município de Pequizeiro-TO.
1.1. AGRICULTURA FAMILIAR: DIVERSIDADES DAS UNIDADES DE
PRODUÇÃO
Com o objetivo de entender melhor a organização produtiva e econômica do
assentamento, bem como, suas relações com ambiente, identificou-se na literatura disponível
sobre agricultura familiar, uma concepção da exploração familiar que se aproximasse da
realidade vivida na pesquisa de campo, bem como, um conceito que explicasse a
complexidade de tipos de agricultores que vivem em assentamentos de reforma agrária, e em
especial os agricultores do Assentamento Rural Nossa Senhora Aparecida.
O debate sobre agricultura família não é novo e é contornado por divergentes
concepções. Apresentamos alguns autores e as variadas concepções sobre a exploração
familiar e concomitante o agricultor familiar.
Autores de renome no meio acadêmico fizeram à previsão do fim da produção
familiar, (Guimarães, 1963); (Sodré, 1962); (Mendras, 1967); (Tchayanov,1972); (Sanroni,
1980).
Outros vêem este seguimento como elemento funcional à produção capitalista para
produzir alimentos mais baratos e satisfazer as necessidades da sociedade como um todo,
(Oliveira, 1973); (Santos, 1978); (Abramovay, 1992).
Alguns estudiosos como (Silva, et al.,1983); ( Prado Junior, 2005) argumentam que
no processo de integralização do agricultor familiar aos sistema capitalista no campo, estes se
24
tornarão uma espécie de assalariado rural disfarçado, já que trabalham em sua propriedade
mas com controle da empresa capitalista.
Porém, há, portanto dois autores, que merecem ser citados nesta breve revisão de
literatura, (Wanderley, 1985) e (Martins, 2002), ambos abordam a questão da autonomia da
unidade de exploração familiar. Para estes autores, o agricultor familiar não é dependente das
decisões capitalista, eles possuem autonomia para tomar decisão sobre o que produzir e para
quem vender, já que, são proprietários dos meios de produção que é a terra.
Buscou-se neste trabalho para classificar os agricultores do Assentamento Nossa
Senhora Aparecida, como familiares, utilizar o conceito de Lamache (1997), já que esse
possui uma visão sistêmica da agricultura e seu conceito abarca as diversidades de exploração
familiar agrícola. Segundo o autor:
Agricultura faz apelo a grupos sociais limitados que tem em comum associar
estreitamente família e produção, mas que se diferenciam uns dos outros por sua
capacidade de se apropriar dos meios de produção e de desenvolvê-los... a
agricultura familiar não é um elemento da diversidade, mas contém nela mesma,
toda a diversidade.. (LAMARCHE, 1997, p. 15-18).
Na agricultura familiar há várias formas de unidade de produção organizadas e
executadas pelos membros da família extensa ou nuclear, que não podem ser abrangidos por
um único modelo ou numa mesma categoria de agricultores. As formas de exploração
agrícola serão definidas pelas possibilidades e condições de produção do agricultor familiar
como tamanho da área, tecnologia, capacidade técnica e financeira do agricultor. Assim,
continua Lamache (1997. p.23-24) Compreender seu funcionamento significa colocar em
evidencias as diferentes lógicas em função das quais o explorador determina suas escolhas
fundamentais.
Há agricultores familiares que estão totalmente inseridos no mercado capitalista e
que a propriedade é uma empresa familiar rural a exemplo dos agricultores familiares no
entorno da cidade de Unaí - MG, que são plantadores de soja. Há também aqueles que apesar
25
de estarem de certa forma, ligados ao mercado capitalista, o que prevalece ainda é a
reprodução familiar, como é o caso dos agricultores familiares das áreas de assentamentos
rurais no município de Pequizeiro - TO.
A exploração familiar, tal como é concebida, concebemos, corresponde a uma
unidade de produção agrícola onde propriedade e trabalho estão intimamente ligados à
família (LAMARCHE, 199, p. 15).
As teorias de Lamarche reforçam a análise de que os agricultores que são objeto
deste estudo se caracterizam como familiares, visto que, apesar de viverem em um
assentamento de reforma agrária, onde há uma orientação do INCRA de produzir para
mercado capitalista, aproximadamente 83% destes agricultores utiliza no seu sistema
produtivo o trabalho familiar e seu foco é a garantia da sobrevivência da família.
1.2.
ETNOCONHECIMENTO:
PERCEPÇÃO
DOS
AGRICULTORES
FAMILIARES SOBRE AMBIENTE
Para entendermos melhor o conhecimento que esses atores sociais possuem sobre a
biodiversidade local, baseou-se no estudo da etnociências. A partir da década de 50, Steward
desenvolveu a abordagem multidisciplinar da antropologia ecológica para estudar as
populações humanas dentro dos ecossistemas. Para Móran (1994), nesta abordagem,
elemento central era o processo de utilização dos recursos. Os pesquisadores que começaram
a utilizar o método ecológico-cultural para estudar a cultura e não o ambiente ou relação entre
ambos, não passavam, portanto, de antropólogos culturais. A preocupação com esta
abordagem é que ela pretendia ser “ecológica”, mas na verdade tinha foco nos fatores
culturais.
26
Continua Móran (1994), esta abordagem passou a ser aplicada a estudos das
relações homem/habitat, ou seja, a relação dos componentes num sistema ecológico. Para
alguns cientistas o conceito de ecossistemas apresenta resposta mais satisfatória à questão da
adaptabilidade humana-física, cultural e comportamental, do que as análises do
comportamento/ estrutura de Steward (1994, p 91).
A partir dos anos 60, apareceu no campo da etnolingüística estudos sobre as
percepções que os grupos humanos possuem sobre o ambiente e como os indivíduos
organizam essas percepções pela linguagem. Surge então a etnociência, com as suas
subciências como a etnobotânica, etnoecologia e etnozoologia. Pesquisas etnoecológicas
buscam compreender como as pessoas percebem o seu ambiente e como organizam estas
percepções (Frake, 1961 apud Móran, 1994). Esta abordagem tem como foco o estudo de
como os nativos fazem classificação do mundo que os cercam. Ou melhor, que conhecimento
possui sobre as plantas, animais, insetos, tipos de solos enfim, do lugar em que vivem e de
que forma este conhecimento interfere nas suas relações com o ambiente. Estes preceitos
teóricos metodológicas estão baseados nas populações humanas e seu ambiente físico.
Segundo Noda (2004, p. 35), ao estudar a relação homem/natureza, busca-se apoio
na ecologia humana, visto que, a antropologia e sociologia não dão respostas às essas
interações, por não perceber o homem como entidade social e cultural no ambiente. Essas
interações, alvo do estudo da ecologia humana, estão relacionadas com os sistemas de
crenças e adaptação do homem a diferentes ambientes, assim como, as conseqüências destas
interações.
Para Móran (1994), os processos de adaptação ao ambiente não é garantia de
estabilidade no sistema. Pois, esta questão está relacionada com a capacidade reguladora que
as populações humanas possuem para fazer ajustes físicos (utilização do solo, fluxo de
energias, termorregulação), culturais (conhecimento sobre as construções de habitações,
27
estilo de vestuário, tecnologia rituais) e sociais (formas de organização social e econômica)
que garantam equilíbrio no ecossistema.
Ao estudar os conhecimentos e saberes que os agricultores familiares do
Assentamento Nossa Senhora Aparecida possuem sobre o ambiente, adquiridos através das
gerações e a partir das relações sociais endógenas, fomos reportados para os preceitos
teóricos e metodológicos do etnoconhecimento que foram sistematizados pela e na
etnoecologia.
A Etnoecologia possui duas vertentes, uma cognitivista e outra adaptacionista. A
primeira faz parte dos estudos da Etnobiologia de Porsey (1987 apud Diegues 2001, p.21) que
está relacionada ao estudo do papel da natureza no sistema de crenças e de adaptação do
homem a determinados ambientes, enfatizando as categorias e conceitos cognitivos
utilizados pelos povos em estudo. Portanto, procura entender como as populações percebem o
ambiente e como o organizam, a partir do uso que lhe são feitos. Este ramo de estudo parte do
pressuposto de que todas as populações possuem sistema único de perceber e organizar as
coisas, os eventos e comportamentos.
A segunda vertente está baseada dos estudos de Móran (1994, p. 25), sobre a
Adaptabilidade Humana e tende a enfatizar a flexibilidade da reação humana frente ao
ambiente (...) trata mais de problemas específicos enfrentados pelos habitantes de diversos
meios ambientes do que do ambiente propriamente dito. Esta abordagem busca estudar as
repostas que organismos humanos ou não, dão frente a uma situação de estresse como: frio
extremo, baixa produtividade biológica, escassez de água, enfim ao limite ambiental.
Os estudos baseados na Etnoecologia possibilitam desenvolver instrumentos para
entender como umas populações percebem, classificam e utilizam os recursos naturais
existentes. Nesta pesquisa nos baseamos nas duas abordagens da etnoecologia para dar conta
de explicar a complexidade ambiental envolvida na pesquisa. Da abordagem cognitivista
28
busca-se entender os saberes que os agricultores familiares possuem sobre o ecossistema e
como classificam e organizam o ambiente. Foi dada ênfase na forma que estes organizaram
as unidades de paisagem e como estes moradores percebem e utilizam os diferentes
componentes vegetais nos diferentes ambientes existentes. Da abordagem adaptacionista,
procuramos entender os processos adaptativos que as famílias desenvolveram desde que
chegaram ao assentamento e como estão enfrentando os estresses ambientais que porventura
vieram aparecer nestas duas décadas.
1.3
BIODIVERSIDADE:
DIVERSIDADE
ECOLÓGICA,
SOCIAL
E
CULTURA NA AGRICULTURA FAMILIAR.
Pretendendo analisar as práticas de trabalho dos agricultores familiares e sua relação
com a conservação da diversidade ecológica local, apoiamo-nos no conceito de
biodiversidade. A abordagem de biodiversidade possui também diferentes conceitos e por
muito tempo ficou restrita a definição da variedade de ecossistemas marinhos, terrestres e
aquáticos, bem como, relacionados às questões ecológicas.
Esta definição de biodiversidade faz parte de correntes da ecologia definidos como
conservacionistas e preservacionistas, que estuda os habitats, mas não percebe o homem
fazendo parte deste ambiente. Por longo tempo, a idéia de preservação ou conservação dos
recursos naturais estava ligada à retirada dos grupos humanos de dentro de determinados
ecossistemas, como por exemplo, a criação dos Parques Nacionais.
A partir da década de 60, foram surgindo vários ramos da ecologia como a
etnobotânica, e etnobiologia, este conceito foi se ampliando. Atualmente o conceito de
biodiversidade não está restrito as questões ecológicas, mas também à diversidade social e
cultural existente nos ecossistemas. Dessa forma, neste estudo faremos uso do conceito
29
anunciado por Diegues e Arruda (2001, p.21), sobre a biodiversidade como sendo não apenas
biológico, mas também, (...) relativo à diversidade genética de indivíduos, de espécies ou de
ecossistemas (...) é o resultado de práticas, muitas vezes milenares, das comunidades
tradicionais que domesticam espécies, mantendo e aumentando como em alguns casos, a
diversidade local.
Este conceito norteará o entendimento sobre a diversidade ambiental existentes no
assentamento rural Nossa Senhora Aparecida, no que se refere à identificação das relações
socioambientais de trabalho e das plantas existentes e como este dois fatores interferem nas
diferentes formas de vida existente neste assentamento. A biodiversidade está vinculada não
apenas na relação dos agricultores familiares com a natureza, mas também, quais os
conhecimentos e saberes que ainda preservam na sua relação com a diversidade de vida local,
como uso da terra, formas de produção, instrumentos utilizados, manejo e uso das plantas nas
suas relações de trabalho.
Buscamos analisar a importância prática dos saberes sobre plantas dos agricultores
familiares para a conservação da biodiversidade, bem como entender que significados estes
saberes possuem na vida cotidiana destas pessoas. Enfim, o que pretendemos neste estudo foi
analisar como o modus vivendu dos agricultores familiares afeta a biodiversidade local.
30
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA
2.1 ABORDAGEM DA PESQUISA.
Para a operacionalização da pesquisa, analisaremos o fenômeno estudando do ponto
de vista da abordagem sistêmica definida por Morin (2002, p. 265), como um conjunto de
ações dentro de um sistema que interagem entre si e retroagem sobre o todo e que se
autoregula. Entendemos que os fenômenos socioambientais não acontecem de forma isolada,
eles estão correlacionados com outros aspectos endógenos e exógenos ao assentamento como
as questões políticas, econômicas, culturais e ecológicas.
Segundo Morin (2002, p. 272), para analisar o fenômeno, tem-se que ver as partes
com relação ao todo e do todo com relação às partes na ótica da complexidade. Ou seja, em
um sistema não só as suas unidades ou particularidades a partir da sua totalidade, mas é
também constituído de uma diversidade interna que agem entre si e que age sobre o sistema
como um todo.
A abordagem proposta por Morin ajudará a pensar e analisar o assentamento como
um sistema que possui uma diversidade ambiental e sócio-cultural interna que é preciso ser
estudado se quisermos entender a correlação desta parte do ambiente como um todo. Só
entendendo estas particularidades, poderemos desentranhar a complexidade existente no
assentamento.
Esta abordagem teórica apoiará na forma descrever os dados sobre os saberes dos
agricultores familiares e ajudara a identificar as ligações causais entre estes saberes e a
biodiversidade do assentamento.
31
2.2. MÉTODO DA PESQUISA.
O método utilizado nesta pesquisa será com base na teoria de Yin sobre o Estudo de
Caso. Segundo Yin (2005, p. 28) utiliza-se o estudo de caso quando fazemos perguntas do
tipo “como” e “por que” para entender fenômenos atuais ou quando o pesquisador tem pouco
ou nenhum conhecimento o assunto pesquisado. O Estudo de Caso é o método que busca
preservar as características holísticas e significativas da vida real.
Pode-se utilizar o Estudo de Caso nas estratégias para estudo exploratório, descritivo
ou explanatório. Para utilizar cada uma dessas estratégias é preciso três condições: a) o tipo de
questão de pesquisa proposta, b) a extensão de controle que o pesquisador tem sobre eventos
comportamentais atuais, c) o grau de enfoque em acontecimentos contemporâneos em
oposição a acontecimentos históricos.
Conforme o autor, no método Estudo de Caso é necessário considerar pelo menos
cinco importantes componentes:
1) as questões de estudo, no caso deste projeto,
- Quais são as práticas de trabalho no assentamento? E qual a relação destas práticas
com o ambiente.
- Quais são as plantas conhecidas nos diferentes ambientes e para que são utilizadas?
E como ocorre a transmissão cultural dos saberes sobre ambiente em que vivem essa
população?
- Qual a importância prática e simbólica dos saberes sobre plantas dos agricultores
familiares para conservação da biodiversidade
2) suas proposições, se houver. As proposições deste estudo são:
- Os conhecimentos, técnicas e meios de produção utilizados pelos agricultores
familiares permitem estabelecer uma relação integrada com meio ambiente.
32
- Os conhecimentos sobre as plantas, manejo e técnicas são transmitidos oralmente
através de habitus adquiridos socialmente pelos agricultores familiares,
- O reconhecimento e valorização da contribuição desses saberes na conservação da
diversidade biológica e sócio-cultural nos estimulam a pensar em políticas públicas
sustentáveis para os assentamentos rurais.
3) suas unidades de análises. Analisaremos as seguintes categorias ou unidades: Agricultores
Familiares, Etnoconhecimento e Biodiversidade.
4) a lógica que une os dados às proposições, (hipóteses) ou seja, como os conhecimentos
sobre as plantas e sua utilização nas relações de trabalho dos agricultores familiares
contribuem para a conservação da biodiversidade no assentamento rural Nª Senhora
Aparecida .
5) os critérios para interpretar as constatações.
Os critérios utilizados para interpretar e explicar os dados serão os da abordagem
qualitativa utilizando estratégias analíticas da descrição de dados que tem por finalidade
desenvolver uma estrutura descritiva sobre as questões identificadas no campo, a fim de
organizar o estudo de caso.
O tipo de estudo de caso escolhido é estudo de caso múltiplo, uma vez que, apesar de
ser um único assentamento estudado, a pesquisa envolve três variáveis – praticas produtivas,
conhecimentos e uso de plantas e a interação entre estes elementos. Assim como também a
pesquisa envolve três categorias de analises – agricultura familiar, etnoconhecimento e
agricultura familiar.
Conforme Yin, a utilização de projetos de casos múltiplos deve seguir a lógica da
replicação. (2005, p. 71). Ou seja, deve, portanto selecionar os agricultores familiares a partir
do momento que as informações convergem ao conjunto “completo” de evidências e
respondem ao fenômeno estudado.
33
Desta forma não escolhemos um grupo de agricultores familiares por amostragem,
mas a partir da lógica da replicação do fenômeno em outras propriedades.
Segundo Yin, se usarmos a lógica da amostragem estaremos direcionando mal o
estudo de caso. Assim argumenta o autor:
(...) pois, em primeiro lugar o estudo de caso não deve ser utilizado para avaliar a
incidência de fenômenos; em segundo lugar, o estudo de caso teria que tratar tanto
do fenômeno de interesse quanto de seu contexto, produzindo um grande número de
variáveis potencialmente relevantes e em terceiro lugar, se a lógica da amostragem
tivesse de ser aplicada a todos os tipos de pesquisa, muitos tópicos não poderiam ser
empiricamente investigados. Só é possível de executar o estudo seguindo a lógica da
replicação.
2.3 TÉCNICAS DA PESQUISA DE CAMPO.
O assentamento rural Nossa Senhora Aparecida possui 25 famílias assentadas, sendo
que, os critérios de seleção das famílias, para as entrevistas foram, por tempo que moram no
assentamento (década de 80, 90 e do ano de 2000 em diante), as diferenças nas práticas de
trabalho (agricultura diversificada e exploração da pecuária), como também, diversidade de
Ambiente (mata, pasto, roça, quintal, terreiro), pois assim poderíamos entender a diversidade
de sociocultural, econômica, produtiva e ambiental nas diferentes propriedades. As famílias
de agricultores foram identificadas para entrevistas a partir destas características, através de
uma reunião com associação de produtores do assentamento.
Foram convidadas a fazer parte da pesquisa doze famílias, sendo representadas pelos
cônjuges. Todas as pessoas entrevistadas moram no assentamento, das doze famílias, quatro
compraram o lote na década de 90 e a partir do ano de 2000, oito famílias ocuparam área.
Destas, quatro famílias possuem maiores áreas de mata e quatro famílias que possuem
menores áreas de mata e estas famílias ainda praticam a policultura. Após a identificação das
famílias pelas características descritas acima, foram visitados conforme agendamento das
entrevistas.
34
Fizemos uso também das seguintes técnicas:

Entrevistas semi-estruturadas: - Identificar a história do assentamento, origem das
famílias, as práticas produtivas e o conhecimento das plantas existentes;

Observação direta - Entender as formas de apropriação e organização dos
componentes da propriedade, a diversidade de saberes e origem destes saberes
transmitidos aos agricultores familiares.

Mapas falantes - Construídos pelos agricultores para definir os vários ambientes de
suas propriedades e seus diferentes usos e conhecimentos sobre o uso

Exsicatas - Coletar as folhas, frutos, sementes e flores das plantas que não foram
identificadas pelas bibliografias de botânicas, bem como, aquelas que são típicas da
região.

Diário de Campo – Anotar as impressões, indagações, dúvidas que ocorreram durante
o trabalho de campo.

Outras fontes de evidências como: Relatórios de diagnósticos anteriores sobre o local
de estudo, fotografia, gravador.
Para operacionalização do trabalho de campo foram feitas quatro visitas de campo nas
propriedades dos agricultores:
Primeira visita - levantamento sobre:

Dados pessoais da família - Nome, idade, sexo, escolaridade, etc..

História de vida das famílias - Onde nasceu, o que fazia antes de ir para o
assentamento, porque mora no assentamento, quanto tempo mora no assentamento,
etc..

História do assentamento - Como foi o processo de ocupação, como era o
assentamento quando chegaram, quais as dificuldades enfrentadas, tamanho da
propriedade etc..
35

Práticas produtivas - Tipos de ambientes, cultivos agrícolas, tamanho da área,
finalidade, variedades plantadas etc..

Criação de animais - Tipos de animais, raça, quantidade, finalidade, forma de criação,
manejo.

Fauna e flora silvestre: nome, freqüência, local etc...
Segunda visita:

Identificação das plantas por ambientes: nome, conhecimento do uso, parte utilizada,
freqüência, local encontrada, tipo de doença para que serve a planta, como adquiriram
estes conhecimentos e a origem das sementes.
Terceira visita:

Fazer exsicatas: – coletas de plantas não identificadas e das plantas típicas da região.
As espécies duvidosas foram identificadas no herbário do Instituto Nacional de
Pesquisa da Amazônia-INPA.
Quarta visita:

Referendar algum dado que ficou faltando.
2.4 TÉCNICAS DE ANÁLISE DOS DADOS
No trato dos dados, foram utilizadas as análises Qualitativa, Descritiva e Análise do
Discurso. A primeira é utilizada segundo Bogdan e Biklen (1982) apud Ludke e André (1986,
p.13) quando enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a
perspectiva dos participantes. Ou seja, busca entender o processo de adaptação dos
agricultores familiares no assentamento bem como, captar o saberes que estes possuem sobre
o ambiente.
36
A segunda descreverá as diferentes formas de apropriação dos recursos naturais no
assentamento, bem como seus aspectos socioculturais e ambientais. Para subsidiar está
estratégia de análise faremos de uso das técnicas de análise dos “memes”, entrevistas semiestruturadas, observação direta e mapas falantes. A teoria do memes foi desenvolvida por
Dawkins, a partir de uma analogia entre os genes e memes. Segundo o autor, os genes são os
maiores replicadores genéticos da evolução no nosso planeta, assim como considera os
memes, como novo tipo de replicadores, que surgiu recentemente neste mesmo planeta e que
está flutuando ao sabor da corrente no seu caldo primordial, que é o caldo da cultura humana.
Segundo Dawkins (2007, p. 330) , assim como os genes que se reproduzem no pool
gênico se multiplicando através dos espermatozóides ou dos óvulos, os memes também se
propagam no pool de memes se reproduzindo de um processo que, pode ser chamado de
imitação, através da transmissão cultural.
Para entender os memes, faremos uso da terceira análise, o discurso ou hermenêutica,
que segundo Fazenda (2004, p. 100) consiste em captar o significado dos fenômenos, saber
ou desvendar seu sentido ou seus sentidos. Esta técnica auxiliará na compreensão dos
discursos, gestos, ações, palavras dos agricultores familiares, para perceber os significados
materiais e simbólicos de seus saberes sobre o ambiente em que vivem.
Foram usadas ainda outras fontes de evidências como relatórios de diagnósticos
anteriores sobre o local de estudo, diário de campo, fotografia, gravador e exsicatas.
37
3. A ÁREA DE ESTUDO
3.1 O MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO: HISTÓRICO, LOCALIZAÇÃO E
AMBIENTE.
O Município de Pequizeiro está localizado no Estado do Tocantins entre as bacias
hidrográficas dos rios Tocantins e Araguaia. Sua localização mais precisa é na região do Alto
Araguaia, Amazonas-Tocantins. O município surgiu após as descobertas de garimpos de
cristal nas décadas de 40 e 50, onde, em 1944 existia na comunidade uma parada denominada
“Pousada de Pequizeiro”, devido os viajantes usarem um alto e frondoso pé de pequi, ponto
para espera de condução para dirigir-se a outras localidades, dando origem ao nome do
município.
O município de Pequizeiro localiza-se a uma latitude 08º35’37” sul e a uma
longitude 48º56'03" oeste, estando a uma altitude de 283 metros. Sua população estimada em
2008, segundo os dados do IBGE, 4.940 habitantes, sendo que 50% da sua população reside
na zona rural, a maioria vivem em 07 assentamentos de reforma agrária.
O municipio possui uma área de 1229,99 km² e está a uma distância em torno de 280
Km de Palmas, capital do Tocantins, na região “Centro-Norte” do Estado, pertencente à VI
Região Administrativa e à microrregião de Colinas do Tocantins e fazendo limites com os
municípios de Couto de Magalhães, Colinas do Tocantins, Itaporã, Colméia, Bernardo Sayão,
Arapoema, Bandeirantes, Brasilândia, Juarina, Pau D’arco, Presidente Kennedy e Tupiratins.
(Atlas do Tocantins, 2003).
De acordo com dados do Atlas do Tocantins (2003), o município encontra-se na
região climática B1wA’a’, apresentando clima tropical alternadamente úmido e seco, com
evapotranspiração potencial média anual entre 1.400 mm e 1.700mm, distribuindo-se no
38
verão em torno de 390 mm a 480 mm ao longo dos três meses consecutivos com temperatura
mais elevada. A temperatura média anual varia de 25 a 27°C. A precipitação pluviométrica
média anual é de 1.900 a 2.000 mm, com período chuvoso entre os meses de outubro a maio.
A região do município de Pequizeiro compreende áreas formadas por solo do tipo
areno-argiloso variando entre profundos a pouco profundos, com perfis permeáveis e
pequenos diferenciações entre horizontes. Ocorrem normalmente em relevos ondulados (8 a
20% de declive). A ecodinâmica da paisagem é de transição (pedogênese - morfogênese). Os
processos de escoamento superficial são difusos e lentos e com ocorrência de tipo
concentrado. (25.083,8 km², 90%).
3.2.
O
ASSENTAMENTO
NOSSA
SENHORA
APARECIDA:
LOCALIZAÇÃO, HISTÓRICO E AMBIENTE.
3.2.1 Localização do Assentamento
A pesquisa foi realizada no Assentamento Rural Nossa Senhora Aparecida inserida
na região denominada Vale do Juari, devido às proximidades do rio Juari. Esta é uma região
que nas ultimas décadas vem ocorrendo processos de reocupação das terras pelos agricultores
familiares através do Programa Nacional de Reforma Agrária, onde foram implantados 08
assentamentos (figura 2).
Esse assentamento encontra-se às margens da TO 335 (Rodovia Transcolinas) que
liga o Estado do Tocantins com o estado do Pará, com a distância de aproximadamente 50 Km
da divisa entre Pará e Tocantins, a 90 km da sede do município de Pequizeiro, 70 km do
município de Colinas do Tocantins e a 305 km de Palmas, capital do Tocantins.
39
Fonte: SEPLAN – TO-2005.
Fonte: IBGE, 2002
Latitude 08º 35' 37" S;
Longitude 48º 56' 03" W
População (2007) 4.799
Fonte: Atlas - TO, (2009)
Área: 1.210 Km²
Figura 1. Localização, coordenadas geográficas, população e área territorial do município de Pequizeiro, no Estado do Tocantins, Brasil.
40
Figura 2. Distribuição geográfica das áreas de assentamento rural com fins de reforma agrária, implantados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA,
incluindo o assentamento Nossa Senhora Aparecida com suas coordenadas geográficas, no município de Pequizeiro, TO.
41
3.2.2 Histórico do Assentamento
A história do surgimento do assentamento bem como, de seu processo de ocupação,
está relatada a partir dos conhecimentos contados pelos moradores. O processo de ocupação
inicia-se quando o senhor Dalvino de Araújo Teixeira (Falecido) membro do Sindicato
Trabalhadores Rurais de Colinas – STR’s, após saber que a fazenda do General Chichakli era
improdutiva, saiu à procura de pessoas que tivessem interesse em adquirir um pedaço de terra
para trabalhar. O mesmo convidou várias pessoas para uma reunião no dia 15 de fevereiro de
1986, para uma conversa sobre a ocupação da fazenda Chichakli, para qual, compareceram
apenas seis pessoas. No entanto, após alguns meses a ocupação aconteceu com um total de
quarenta e duas pessoas, sendo a maioria oriunda do município de Colinas do Tocantins.
No período em que permaneceram acampados houve muita perseguição por parte do
dono da terra e de fazendeiros vizinhos, para que os agricultores desocupassem a fazenda. A
pressão para que as famílias deixassem a terra se deu através de processos, onde oficiais de
justiça coletava assinatura dos agricultores para que os mesmo se sentissem intimidados e
desocupassem a área. Os delegados regionais do município de Colinas e de Bernardo Sayão,
juntamente com policiais colheram depoimentos dos agricultores, como mecanismo de
intimidação. No entanto, apesar de todas as ameaças, os agricultores resistiram na terra e não
sofreram nenhum despejo.
De acordo com os agricultores, no período em que ficaram acampados na fazenda,
enfrentaram muitas dificuldades principalmente por falta de transporte, infra-estrutura, falta
de recursos financeiros, discriminação, ameaças e a morte de dois agricultores.
No processo de resistência e conquista da terra, os agricultores contaram com o apoio
do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Colinas, da Comissão Pastoral da Terra - CPT, que
disponibilizou advogados para assessorar os agricultores e da Igreja Católica, que juntos
42
colaboraram na conquista da terra, que hoje é o projeto de Assentamento Nossa Senhora
Aparecida.
Assim, no ano de 1995 a fazenda Chichakli foi desapropriada pelo INCRA, e criado
o Projeto de Assentamento Nossa Senhora Aparecida, com capacidade de assentar 38
famílias, sendo estipulado um módulo de 10 alqueires para cada família, no entanto as
próprias famílias optaram pela divisão por acomodação, assim o tamanho de cada unidade de
produção é entre 43,2 a 86,4 há, sendo que, entre os entrevistados existem 02 agricultores que
possuem 2 lotes. De acordo com os agricultores algumas famílias não se enquadraram nas
exigências do projeto de assentamento, não conseguindo a terra, mas a maioria foi
beneficiada.
O nome do assentamento foi dado por um agricultor, que por ser católico, escolheu o
nome de Nossa Senhora Aparecida, que é a padroeira do Brasil, ao falar o nome do
assentamento já tá pedindo por Nossa Senhora. ( D.E.S, 53 anos)
3.2.3 O Ambiente
O Assentamento Nossa Senhora Aparecida se encontra em uma região de Ecótono,
(área de transição do cerrado para floresta). Há 20 anos a região era de mata, hoje às
condições atuais do ecossistema encontram-se bastante degradadas, visto que, grande parte da
área foi alterada pela ação antrópica (como desmatamento e queimadas). Um alto percentual
das matas foi destruído para formação de pastagens e agricultura, isto é reflexo de políticas
públicas equivocadas que agem como se os problemas nos assentamento rurais fossem só a
distribuição de terras.
Os agricultores familiares ficaram desde o ano da ocupação que foi em 1986 à 1995
sem apoio das políticas públicas voltadas para assentamentos rurais, durante este período um
43
alto percentual das matas foi destruído para que as terras fossem utilizadas na agricultura e
depois na formação de pastagem para a pecuária, que segundo eles, era necessário pra manter
o sustento da família. Portanto, essa ausência do Estado nas áreas de assentamento reflete
diretamente nas condições atuais do ecossistema, que está prejudicando o solo de forma geral,
provocando assoreamento nas margens dos córregos e erosão em alguns pontos (figura 3-B).
Os agricultores relataram que áreas de preservação permanente dentro do Projeto de
Assentamento encontram-se parcialmente preservadas, visto que, em alguns pontos as matas
ciliares nas margens dos córregos ainda existem, porém em outros pontos os córregos se
encontram desprovidos das matas ciliares. De modo geral os agricultores expressam uma
grande preocupação com este fato, pois segundo os mesmos as águas dos córregos vem
diminuindo gradativamente com o passar dos anos.
A
B
Figura 3. Detalhes da paisagem do Assentamento Nossa Senhora Aparecida, ilustrando área de pastagem (A) e
áreas em processo intensivo de erosão, com solo exposto (B), no município de Pequizeiro, TO.
Fonte: Equipe PRA/COOPTER-2005
44
3.2.3.1. Recursos hídricos
O Projeto de Assentamento Nossa Senhora Aparecida pertence às bacias
hidrográficas dos Rios Tocantins e Araguaia, o principal recurso hídrico é Córrego dos
Macacos (Figura 4-A) que é afluente do Ribeirão Juari e que deságua no Rio Araguaia.
Existem outros córregos menores como o Piau, Sucuri, o Buriti e o Brejão (Figura 4-B) sendo
que, todos estes deságuam no Córrego dos Macacos. Praticamente todos os lotes são
banhados por estes córregos, exceto alguns lotes que ficam ao leste do Projeto de
Assentamento. As águas destes córregos são utilizadas para o consumo de animais na
pecuária, na agricultura. Outra forma de aquisição da água dentro do Projeto de Assentamento
são as cisternas, utilizadas para o uso doméstico, para o consumo humano e de pequenos
animais. Sendo que praticamente todos os lotes possuem cisternas.
Alguns lotes possuem represas onde as águas destas são utilizadas para o consumo de
bovinos e animais de serviço. Estas represas foram construídas na maioria das vezes através
de projetos do PRONAF.
A
B
Figura 4. Características dos recursos hídricos existentes no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, mostrando
o Córrego do Macaco (A) e cursos d´água vicinais (B), no município de Pequizeiro, TO.
Fonte: Equipe PRA/COOPTER-2005
3.2.3.2 Característica do Solo
45
No assentamento predominam solos do tipo areno-argiloso e o clima é tropical
alternadamente úmido e seco. A conservação de solo se dá através do uso e do manejo
adequado das suas características químicas, físicas e biológicas, visando à manutenção do
equilíbrio ou recuperação das mesmas. Através das práticas de conservação é possível manter
a fertilidade do solo e evitar problemas comuns, como a erosão e a compactação causadas
pela criação de gado bovino.
No projeto de Assentamento Nossa Senhora Aparecida poucos agricultores fazem
algum tipo de atividade voltada para conservação de solos. Atualmente 62,97 % dos
agricultores não fazem ou desconhecem qualquer tipo de prática conservacionista e apenas
37,03 % fazem alguma prática de conservação tais como, aceiro e a rotatividade de culturas.
Em relação às queimadas, consideradas como atividades irregulares, são mínimas e
os mesmos já estão conscientizados em relação aos prejuízos que esta prática provoca no solo.
46
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIO-ECONOMICA E CULTURAL DOS
AGRICULTORES FAMILIARES.
A população do assentamento, no primeiro momento foi formada por grupo de 40
agricultores que conseguiram a terra através do processo de ocupação com apoio dos
movimentos sociais rurais (STR e CPT), sendo que estas famílias vieram da região de Colinas
do Tocantins. O segundo momento, já foi através da compra do direito a posse, sendo esta
mais recente, é formado por um pequeno grupo de 05 agricultores que compraram direitos de
posse de moradores antigos que por um motivo ou outro (conflitos internos) não
permaneceram no assentamento.
Esta população do assentamento rural Nossa Senhora Aparecida, apesar de já viver
na região de Colinas do Tocantins no período de ocupação da terra, são na sua maioria
oriundas de outros estados: Goiás, Maranhão, Ceará e Pernambuco e de outros estados do
nordeste. Estas famílias vieram em buscar de novas oportunidades para sustento de suas
famílias.
Sobre o perfil da população, em relação ao gênero, a maioria 56 % são mulheres e 43
% são homens. De acordo com a figura 5, pode-se perceber que há heterogeneidade de faixa
etária dos membros das famílias entrevistadas acentuando um pouco entre os adultos com
idade entre 21 a 50 anos representando 40,9 % das pessoas e de crianças e jovens com 33, 7
%. Apenas 2,3 % dos assentados estão na classe de 30- 40 anos, porque houve uma evasão
dos filhos do primeiro grupo de famílias que ocuparam o assentamento. Saíram para estudar
47
nas cidades de médio porte (Colinas, Araguaia e Palmas) ou estão casados e moram em outros
assentamentos da região do Vale do Juari.
Figura 5. Freqüência de idade dos componentes das famílias entrevistadas no Assentamento Nossa Senhora
Aparecida, município de Pequizeiro, TO (n = 44)
O processo de ocupação humana no assentado ocorreu em dois momentos distintos:
famílias que ocuparam área e famílias que compraram os lotem. O primeiro grupo, chegou na
década de 80 (figura 6), com a implantação do assentamento e o segundo grupo já foi na fase
de implementação do assentamento na década de 90 e a partir de 2003. As famílias que
compõem este primeiro grupo residiam no município de Colinas do Tocantins
correspondendo a 44 % do total das famílias do assentamento.
Este primeiro grupo de famílias, veio na sua maioria, dos Estados do Nordeste como
Pernambuco, Maranhão, Ceará, Piauí e alguns do Goiás (figura 7) e moram no assentamento
há 22 anos. Vieram com seus pais na década de 40, 50 e 70, fugindo da seca ou a procura de
melhores terras para plantar e melhorar de vida. O segundo grupo, que são os agricultores que
compraram a posse da terra, chegou ao assentamento nos anos 92, 93 e 2003 (Figura 6). São
famílias que moravam em Colinas do Tocantins e nos Municípios de Itaporã e Pau D`arco,
mas há também que são oriundas do Rio Grande do Sul. Este grupo representa 56 % do total
48
de famílias do assentamento. Observa-se que estas famílias que já passaram por processos de
mobilidade urbana.
Figura 6. Seqüência cronológica da chegada das famílias e quadro atual da ocupação completa dos lotes no
Assentamento Nossa Senhora Aparecida, no município de Pequizeiro, TO. (n = 12).
Figura 7. Distribuição da origem das famílias nos lotes no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, do
município de Pequizeiro, TO. (n = 25).
Os motivos que levaram as primeiras famílias a venderem seus lotes são os mais
variados; ausência de apoio de órgãos governamentais nos primeiros anos de ocupação,
conflitos internos (briga de vizinhos, separação de casais), terra era “fraca” (arenosa),
compraram lote no assentamento vizinho (Vitória) onde as terras eram melhores e alguns já
estavam com idade avançada não tendo força para trabalhar com serviços pesados.
49
As famílias pertencentes ao primeiro grupo relataram que o que os motivou a ocupar
a terra foi cassando um jeito de melhorar de vida(...) tinha um sonho de ter um pedaço de
terra para plantar (F.V.O 58 anos e P.A.J, 52 anos), pois, trabalharam a vida toda como
empregados, meeiros ou arrendatários nas grandes fazendas da região, derrubando mata,
plantando roça, fazendo cerca, “batia juquira” (limpar pasto) e também como vaqueiro. Viram
na ocupação a oportunidade de acabar com a sujeição ao grande fazendeiro e poder garantir a
reprodução social de sua família de forma autônoma, conforme afirma Sr D.E.S de 53 anos,(
...) é difícil um ser humano ter terra e ser livre para tocar sua roça. O assentamento se
apresentava então como a única saída para um grupo de trabalhadores que vinham com
histórico de vida de exploração do seu trabalho em terras de terceiros desde gerações
passadas, não vendo, portanto, perspectivas de nesta condição dar dignidade a sua família e de
serem livres para decidir os rumos de sua vida,... porque “gato” não dá camisa pra ninguém.
Quem trabalha pro gato, trabalha para três. O gato, o fazendeiro e pra tua família, (R.S.P,
68 anos).
Quando ocuparam a terra já haviam acontecido outras duas ocupações na região do
Vale do Juari, o assentamento Juarina e Juari, sendo que este último teve conflitos violentos
entre os trabalhadores e pistoleiros contratados por fazendeiros para expulsá-los das terras,
resultando na morte um trabalhador rural, portanto, as famílias que ocuparam o assentamento
estavam dispostas a enfrentar qualquer coisa para ter o sonho de ter seu pedaço de terra
realizado.
.. veio arriscar até a vida aqui, porque aqui na época ocupação estes lotes que a
gente ta aqui foi matado dois trabalhadores que ocuparam o pedaço de terra ...
rapaz que tinha comprado uma parte do gerente da fazenda na época da ocupação,
os rapaz vieram ocuparam a área e ele veio com pistoleiros e matou os dois
rapaz. Ficou esta área aqui que o pessoal não passava pra cá pra nada, porque,
ficou meio assombrado que os pistoleiros iam ficar vigiando a área, ai a gente
chegou não tinha outra área pra ir, ai a gente arriscou a vida.. já tinha morrido
dois e ai a gente entrou na mesma área. (0.T.B, 50 anos).
50
O segundo grupo, que comprou o direito de posse da terra, parte chegou ao
assentamento nos anos 90, no período em que este já estava sendo desapropriado pelo
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária- INCRA, que decretou a desapropriação
em 1995, o outro grupo quando o assentamento já estava consolidado. Alguns são filhos de
agricultores familiares medianos que possuem terras na região e que casaram e precisavam de
terras para morar com as famílias. Outros eram pequenos comerciantes do município de
Colinas, e também são filhos de agricultores familiares. Compraram o lote por que (...) casou
precisava começar a vida de família (C.M. S, 31 anos) e também porque (...) gosta de mexer
com terra, vim pro assentamento, porque fui criado na roça, é de cultura (A.S.L,.42 anos).
Observa-se, portanto, que mesmos as famílias que compraram o lote tem uma relação
cultural com a terra, visto que, foram criados no campo e trouxeram consigo os hábitos e
costumes herdados de seus pais, como podemos ver nos seus relatos do por que se dedicam a
agricultura (...) pela a cultura da família e porque gosta (E.A.I, 50 anos) e porque(...) vem dos
pais que eram agricultores, desde berço vem mexendo com a agricultura, sempre morou na
roça, nunca morou na cidade. (F.V. O, 58 anos).
No período que o assentamento foi ocupado, a paisagem ainda era de mata fechada.
Enfrentaram muitas dificuldades, o perigo de onças, de pistoleiros, a falta de dinheiro para
comprar os produtos do mercado, colhia a produção, mas não tinha como tirar por falta de
estrada, levava os produtos colhidos na costa até chegar à estrada mais próxima, numa
distancia de 6 km, (atual TO-335), conforme o relato do Sr. F.V. O, 58 anos. (...) não tinha
dinheiro, tinha as coisas da roça, mais não tinha comprar os produtos da cidade. Nos
períodos de chuva as famílias andavam até 15 km à pé para chegar ao ponto de ônibus mais
próximo para ir para Colinas do Tocantins, que era e ainda é o município de referência para as
famílias no que diz respeito a mercado, saúde, educação, relações com os bancos e com o
Sindicato dos Trabalhadores Rurais- STR’s.
51
Para superar as dificuldades iniciais as famílias começaram a se organizar e trabalhar
coletivamente para construir a estrada de enxadão para atravessar o assentamento, alguns
trabalhavam uma semana nas grandes fazendas da região e outra semana no seu lote, para ter
o dinheiro de sustentar a família que tinha ficado na cidade, pois, no início vieram somente os
homens, a maioria das mulheres só foram para o assentamento uns 5 (cinco) anos depois da
ocupação. Em 1989, foi construída a TO- 335, que liga os municípios de Colinas do Tocantins
à Conceição do Araguaia-PA e que dá acesso a entrada do assentamento e em 1995
asfaltaram-na, assim, com a chegada da estrada puderam vender o excedente da produção
agrícola.
O assentamento tem capacidade para “assentar” 36 famílias, mas atualmente tem
apenas 25 famílias, visto que, há agricultores que possuem mais de um lote. No assentamento
tem dois agricultores que possuem 6 e 4 lotes respectivamente e que estão regularizados pelo
INCRA, os lotes estão distribuídos em nome de familiares destes agricultores como filhos,
pais, irmãos e tios, (gráfico 8). A média do tamanho é 62,2 ha., mas há lotes variam entre 43 á
74 ha, esta diferença se deu por causa da demora do INCRA em fazer a desapropriação da
fazenda, quando o fizeram respeitaram a divisão que os agricultores familiares tinha feito por
acomodação.
Figura 8. Distribuição da concentração do número de lotes por famílias de assentados no Assentamento Nossa
Senhora Aparecida, do município de Pequizeiro, TO. (n = 25).
52
As famílias percebem que suas vidas mudaram muito depois que vieram para o
assentamento, pois, agora possuem maior qualidade de vida, estão com certa estabilidade
econômica, conseguiram comprar motos, alguns compraram carro, aumentaram o número de
gados, reuniram a família que antes moravam na cidade, tiveram independência dos patrões,
pois são livres para trabalhar na sua propriedade, (...) agora trabalho por conta própria, sem
gritos de patrão. (J.S. M, 45 anos).
Conforme afirma Martins, (2002, p. 64), o camponês é livre na medida em, que é
dono de seus instrumentos de trabalho ou no mínimo, dono de sua vontade quanto ao que
produzir como produzir e para quem vender. A propriedade da terra, portanto se apresenta
como o sonho realizado por estes trabalhadores de serem donos das suas terras e de suas
vidas, sem a exploração que tiveram submetidos ao longo de suas existências. O assentamento
representa a independência e segurança alimentar e econômica para essas famílias.
Os agricultores familiares demonstram sentimentos de afetividade ao ambiente em
que vivem. Eles expressam em suas falas os diferentes valores e significados que o
assentamento representa em suas vidas. Para Tuan (1980, p. 07) as pessoas respondem mais
rapidamente ao ambiente pelos sentidos, que pode primeiramente ter representar pelo valor
estético, ou seja, valorizar a beleza do lugar, isto ocorre no assentamento na medida em que
as famílias demonstram gostar da tranqüilidade, do verde, sossego, paz de viver no campo, os
pássaros cantando, ar puro. A resposta pode ser tátil, como o prazer de cultivar a terra, de
pescar, de tomar banho no córrego.
Mas, prossegue o autor, os sentimentos mais difíceis de expressar são os laços
afetivos que os seres humanos têm como meio ambiente material, ou Topofilia, definida por
Tuan, (1980, pág. 107 e 108), como, o amor humano ao lugar (...) são os sentimentos que
temos para com um lugar, por ser o lar, o lócus de reminiscências e o meio de se ganhar a
53
vida. Quando tornamos um espaço como algo que nos é familiar, damos significado ao lugar e
passa adquirir um profundo significado para o individuo.
Percebe-se nas falas dos agricultores familiares que ocuparam o assentamento e de
alguns que também compraram o lote, o sentimento de amor à conquista da terra. O
assentamento para essas famílias, representa o lócus onde moram, criam seus filhos,
trabalham e retiram o sustento da família e que pode possibilitar a educação seus filhos, (...) é
um pedaço da gente, é lugar onde a gente mora trabalha com a família conforme diz J.B.M.S,
(25 anos). A maioria das famílias possui um sentimento de pertence à sua terra, gostam do
assentamento porque, foi a primeira terra que teve, foi a que pode obter ( J.B.S, 65 anos),
para os que ocuparam era a única possibilidade de ter uma terra, para os que compram e já
eram agricultores familiares, é a continuidade dos habitus familiares. (...) Meu avô sempre
dizia que a roça é uma mãe pra gente, a gente tira tudo dela pra gente e ainda sobra para os
bichos comerem e não se acaba. (A.S. L, 42 anos).
Em suma, a consciência da sua história, reforça o amor dessas famílias ao lugar. O
assentamento para as famílias que estão lá há duas décadas significa uma referência, um lugar
de pertencimento e de identidade. Possuem o desejo de continuar vivendo e trabalhando com
a família e de deixa a terra para os filhos e netos. Eles acreditam também que tem muito ainda
o que conquistar como organização e diversificação da produção, e comercialização dos
produtos para a melhor a renda familiar.
54
4.2 RELAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS NAS PRÁTICAS DE TRABALHO
DOS AGRICULTORES FAMILIARES
A história nada mais é do que uma transformação permanente da natureza do
homem (...) poder-se-ia dizer que o mesmo se dá com a história do espaço
produtivo. (Marx 1963 in Santos, 2001)
A adaptabilidade humana, segundo Moran, (1994, p. 95) está relacionada às
relações ecossistêmicas, respostas fisiológicas humanas aos estresses ambientais e aos
ajustes socioculturais. Ou seja, as formas reguladoras que as populações humanas encontram
para reagiram frente às limitações impostas pelos diferentes tipos de ambientes (físicos
químicos e socioculturais). Seguindo o pensamento de Moran, podemos entender que diante
das adversidades encontradas na criação do assentamento, as famílias, nestes 22 anos,
desenvolveram diferentes estratégias adaptativas.
No início do assentamento a paisagem era toda de mata fechada, entraram na área
fizeram picadas e delimitaram uma área para cada ocupante, a partir da acomodação. As
famílias fizeram “piquetes”, pequenas estradas para interligarem as suas propriedades, as suas
casas foram feitas inicialmente com folhas de bananeira brava e mais tarde construíram casas
de tábuas, cobertas de cavacos. Os homens foram trabalhar nos seus lotes e a famílias ficaram
mais uns 5 (cinco) anos na cidade, esperando melhorar as condições de habitação para
mudarem para o assentamento, ou porque, algumas mulheres trabalhavam e com este
dinheiro conseguiam comprar os utensílios necessários para manter-se na propriedade. Só
mais recentemente, em 2002, foi liberado para famílias o crédito para sistema habitacional.
Este crédito possibilitou os assentados a melhorar a qualidade de suas residências,
construindo casas de tijolos e telhas.
55
No primeiro ano, os homens se preocuparam logo em derrubar um pedaço da mata
para colocar roças de arroz, milho e feijão para garantir a sobrevivência da família e vender o
excedente, contavam com ajuda mútua no sistema de troca de dia e mutirão, esta foi uma das
alternativas encontradas pelas famílias para suprir a mão-de-obra necessária, visto que, não
tinham recursos para pagar trabalho de terceiros. A cada dois anos os agricultores derrubavam
uma nova área de mata para plantar nova roças, e área já derrubada os agricultores foram
formando pastos. O plantio de roças perdurou por aproximadamente cinco anos como
principal atividade econômica. Mas os solos foram enfraquecendo e produção de grãos foi
caindo vertiginosamente, deixando de ser a principal fonte de renda destas famílias que assim
foi sendo substituída gradativamente pela pecuária.
Por volta de 1993, a mata foi sendo queimada pelo fogo que era utilizado para fazer
as roças e a paisagem foi sendo substituída por capoeiras. As famílias passaram a utilizar a
área de roça para a formação de pastagem. Assim, gradativamente ao longo destes 20 anos, a
agricultura foi perdendo espaço para a criação de gado. A pecuária ganharia então sua
importância econômica dentro do assentamento, tal situação, se deu por alguns fatores:
ausência de políticas agrícolas para a produção, já que a desapropriação da terra só veio sair
em 1995, os agricultores durante este período (12 anos) não tiveram ajuda financeira nenhuma
dos órgãos públicos e, portanto ficando a mercê de suas próprias capacidades físicas e
econômicas. Muitas pessoas derrubaram matas por que era obrigado, não tinham como
trabalhar só com os braços ((0.T.B, 50 anos). Os créditos Fomento, para compra de
ferramentas e PRONAF-A foram liberados somente em 1996 e 1999, respectivamente.
Atualmente, a paisagem que prevalece no assentamento é a pastagem, mas há
também atividades agrícolas e fragmentos de matas. Esta mudança na paisagem pode ser
observada na figura 9.
56
Figura 9. Mapa esquemático cronológico das mudanças na paisagem do Assentamento Nossa Senhora
Aparecida, construído a partir dos dados coletados nas entrevistas com os assentados, no município de
Pequizeiro, TO.
Desenho: Mônica Alves Ribeiro.
Outros fatores contribuíram para a mudança na estratégia produtiva dos agricultores
da agricultura para a pecuária. Podemos considerar que, o primeiro fator seria a influência do
mercado, que é voltado nesta região para a pecuária de corte e leite, sendo que o
assentamento é cercado por quatro grandes fazendas criadoras de gado. O segundo, as
políticas públicas voltadas para este setor tanto as linhas de crédito do PRONAF -A, quanto
57
às assistências técnicas oficiais orientam os agricultores familiares para produção bovina.
Terceiro fator foram às experiências de trabalhos anteriores, que muitos deste tiveram, apesar
de trabalharem na agricultura, muitos eram vaqueiros nas fazendas da região. O quarto fator,
é que não havia na década de 80 uma atenção aos problemas ambientais ainda nas áreas de
assentamento, esta questão entrou só recentemente na pauta de discussão do INCRA. Tanto
que, no Tocantins, dos 353 assentamentos desapropriados pelo INCRA, apenas um tem
licenciamento ambiental. Esta é também a percepção de alguns agricultores. Os primeiros
moradores destruiu as matas porque não tinha naquela época a discussão ambiental que tem
hoje. (J.R, 45 anos).
4.2.1 Agricultores Familiares: Práticas Produtivas e Formas de Trabalho
4.2.1.1 Organização da produção
A população do assentamento Nossa Senhora Aparecida, desenvolveram nestas duas
décadas competências, estratégias e instrumentos necessários para garantir a sua reprodução
social e econômica partir de sua cultura e sua história de vida. A forma em que os agricultores
familiares organizaram os espaços exprime os diferentes modos de uso da propriedade e suas
interações socioambientais.
Na análise de Aguiar et al (1993) apud Chambers (1983) os conhecimentos destes
agricultores se apresentam em quatro dimensões: as práticas agrícolas, conhecimento do
ambiente, faculdades próprias dos agricultores (saberes) e experimentação agrícola, e estão
relacionadas na percepção que os agricultores possuem do ambiente em que vivem. Ao longo
dos capítulos estaremos evidenciando essencialmente estas três primeiras características que
são foco deste trabalho.
58
A organização da produção é feita por uma administração familiar que gerencia os
recursos naturais e financeiros de acordo com as possibilidades econômicas que possuem
para tender as suas necessidades básicas e venda de um excedente para garantir alguma renda
para a família. As práticas produtivas desenvolvidas no assentamento são: pecuária (gado
bovino) agricultura, apicultura e criação de pequenos animais como porco, galinhas, e outras
aves.
As práticas produtivas destes agricultores que para muitos, são vista como simplistas
e rudimentares, possuem sofisticados sistema administrativo e produtivo que envolve várias
etapas no planejamento, formas de investimento, retorno financeiro do investimento, preparo
da terra, plantio, manejo, colheita dos produtos e venda da produção.
A forma que os agricultores familiares demonstram os diferentes modos de uso da
propriedade evidencia seus habitus. Podemos interpretar os habitus, não como uma memória
sedimentada e imutável, mas como um sistema de conhecimentos construídos continuamente
entendido por Bourdieu (2000,p. XLII) como:
um conjunto de esquemas implantas desde a primeira educação familiar, e
constantemente reposto e reutilizados ao longo da trajetória social restante, que
demarcam os limites à consciência possível de ser mobilizada pelos grupos e/ou as
classes, sendo assim responsáveis, em ultima instância, pelo campo de sentido em
que operam as relações de força.
Assim Bourdie (2000, p.16), completa explicando que (..) os habitus são conjuntos
de conhecimentos que são passados socialmente entre o grupo e que são utilizados como
instrumentos de conhecimento e de construção do mundo objetivo.
Ou seja, os
agricultores/as materializam seus saberes nas suas práticas cotidianas de trabalho a partir da
sua cultura, isto é, herdados de gerações passadas, adquiridos na sua trajetória de vida ou são
apreendidos nas suas relações socioculturais dentro do assentamento.
59
4.2.1.2 Pecuária
A nossa primeira hipótese sobre as práticas produtivas é que havia um grupo de
agricultores familiares que tinham a produção diversificada, especialmente os que ocuparam
as terras e outro grupo que a prática produtiva era somente da pecuária, tendo na sua unidade
produtiva área de mata muito pequena. Nossa hipótese não se confirmou, visto que, primeiro;
todos os agricultores do assentamento têm como principal atividade econômica a pecuária, de
onde tiram sua renda do leite e da venda do bezerro. Segundo, a maioria destes agricultores
dos dois grupos, ainda possui roças tradicionais de milho, feijão, mandioca e arroz para o
consumo da família e vendem o que é produzido a mais e os produtos de outras espécies como
melancia e abacaxi. Terceiro, tanto no grupo dos agricultores que ocuparam quanto nos
agricultores que compraram suas terras, há propriedades com poucas áreas de matas.
Conforme podemos observar na figura 10, os componentes dos sistemas agrícolas não se
Área da Propriedade
diferenciam muito nas famílias estudadas.
Figura 10. Distribuição da área explorada como quintais, roçado, pasto e remanescente de mata para 12 lotes de
assentados no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO.
60
As unidades de produção, possuem de 43,2 à 74,4 ha. A variação dos tamanhos do
lote e conforme já dissemos, foi devido à demora do INCRA de desapropriar a fazenda, os
agricultores ficaram muito tempo trabalhado nos lotes respeitando as “picadas” e acabaram
dividindo os lotes por acomodação. Há quatro agricultores/as familiares que possuem entre
19 à 33 ha de área de matas. O restante possuem 2 á 9 ha de área de mata apenas. Todos
possuem quintais que variam 0,4 à 2,0 ha. A maioria, 75 %, ainda planta roças e a maior parte
destas possuem tamanho de ½ a 4,8 ha. A área de pasto varia de 28,8 até 72 ha e representa
em média 86,5 %, na maioria das propriedades.
Como podemos observar a atividade de pecuária ocupa maior parte da propriedade.
Os bovinos são criados de forma extensiva, a raça dos bovinos existentes no assentamento é
do tipo cruzado (holandês/suíço, girolando/ holandês, tabapuã/holandês), mas, também tem
gado comum. A produção bovina tem por finalidade a venda de bezerros e leite, sendo que a
maior parte da produção do leite destinada para a comercialização em laticínios nas cidades
de Bernardo Sayão - TO (Cremolat) e Colinas do Tocantins - TO (Leitbom), e uma pequena
quantidade é destinada para o consumo das famílias, os bezerros são comercializados na
região vendidos para fazendeiros e pequenos agricultores. O valor do bezerro está valendo
atualmente (outubro de 2008) em torno de R$ 350,00 à 500,00 e são vendidos por volta dos 7
meses de idade.
O valor da renda do leite varia de acordo com a época do ano. No período da seca, o
preço do litro de leite aumenta e no período das chuvas o preço diminui. Nos meses da
pesquisa (setembro e outubro/2008) o valor do litro estava variando R$ 0,43 à 0,54/Lt e o
pagamento é a prazo, 30 dias. A produção de leite diária varia entre 20 lt/d à 120 lt/d. Sendo
predominante a quantidade entre 35 á 50 l/d em algumas unidades produtivas. O leiteiro
recolhe o leite leva para o resfriador de leite (Figura 11). O resfriador tem capacidade para
1.000 l/ leite, quando atinge esta capacidade o laticínio recolhe então o leite.
61
Figura 11. Ponto de coleta de leite onde está instalado um tanque de resfriamento coletivo, no Assentamento
Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO.
Foto: Kamila Soares.
Em torno de 60 % das famílias pesquisadas, possui de 20 à 70 cabeças de gado e
restante, 40 % possui 90 à 170 cabeças de gados, este segundo grupo também tem mais de
um lote de terra ou tem gado repartido a meia fora do assentamento.
A média da renda mensal do leite no assentamento é de R$ 913, 00 por família, mas,
tem famílias que por possuírem mais gados possuem uma renda maior em torno de R$
1.500,00 e as famílias que possuem menos gado tiram por mês em torno de R$ 550,00. Estas
famílias possuem outras fontes de renda como: aposentadoria; (quatro famílias) com valor de
2 salários mínimos mensais do marido e esposa; venda de galinha caipira melhorada em torno
de R$ 500,00/ mês (03 famílias); serviço públicos -merendeira e agente de saúde, (02
famílias), com renda mensal 1 salário mínimo. As famílias que não possuem outra renda fixa
além do leite, possuem rendas sazonais, com a venda da melancia, mel e dos bezerros.
O gado é alimentado só com capim das espécies baqueara e quicuio, nos períodos de
chuvas, e nos períodos de seca a alimentação bovina é complementada com ração de cana,
milho e mandioca sal mineral proteinado para segurar a produção do leite, mas, o agricultor
que tem área de brejo em suas terras não precisa de ração, pois, o pasto fica verde ano todo.
62
Os excrementos do rebanho bovino são utilizados como adubo na produção de hortas e
plantas frutíferas dos quintais.
As instalações para o manejo do gado, é o curral feito de tábua e cordoalha, sem
cobertura. Observamos que o curral sempre é construído na frente da residência e na parte
mais alta que, segundo os agricultores é para manter seco o chão no período das chuvas e
facilitar o transporte do leite, isto demonstra os conhecimentos que estes agricultores possuem
do ambiente em que vivem para facilitar seu trabalho.
As principais dificuldades que os agricultores/as familiares enfrentam com a criação
de bovinos são os baixos preços do leite, além das doenças e as pragas que acometem as
pastagens. Os laticínios são quem estabelece o preço do leite, causando uma preocupação no
grupo estudado sobre a produção do leite, pois, este dá pouco lucro ou a maior parte fica na
mão dos donos de Lacticínio. Para diminuir o impacto do controle do laticínio na produção
leiteira os agricultores estão se organizando para vender o leite de forma coletiva, para isso,
estão estruturando a Cooperativa de Produção e Comercialização dos Agricultores Familiares
de Pequizeiro e Região Ltda-COOPEFAPER (figura 12-A). Estes estão buscando, portanto,
informações e orientações sobre formas organizativas de produção como uma estratégia de
fortalecimento do grupo para enfrentar às pressões do mercado (figura 12-B).
A
B
Figura 12. Grupo de discussão dos assentados para formação da Cooperativa dos Agricultores Familiares
(COOPEFAPER) de Pequizeiro e região, no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro,
TO. (A) Reunião para criação da COOPEFAPER; (B) Curso de formação dos agricultores em cooperativismo.
63
Alguns agricultores utilizam agrotóxicos (Roundup) para combater as ervas daninha
e limpar o pasto. Os agricultores já começaram a perceber o desgaste da natureza devido à
degradação das pastagens no assentamento. Na avaliação de alguns, ao estabelecer uma
relação da prática de pecuária e a conservação ambiental, são francos em afirmar que fizeram
errado em desmatar as áreas de mata, o certo era preservar a natureza, notam que “os córregos
estão secando e que o ambiente está mais quente, diminuindo as chuvas, assim terá menos
plantio e mais fome no mundo”.
Para enfrentar este problema do desmatamento, 32 % das famílias deste
assentamento participam do Programa de Formação de Lideranças Agroecológicas. Este
programa é financiando pela MISEROR, uma ONG de Cooperação Internacional. As ações
que inicialmente estão sendo desenvolvendo são viveiros de mudas de plantas nativas,
medicinais, madeireiras e alimentícias; o reflorestamento das cabeceiras dos córregos e
nascentes e diversificação da produção econômica pela apicultura.
Apesar dos problemas apresentados pela pecuária bovina, esta atividade representa
para os agricultores um “investimento” ou uma “poupança”, que pode rapidamente ser
transformado em dinheiro nos casos de necessidades como: surgimento repentino de uma
doença, pagamentos de estudos dos filhos ou outras eventualidades que possam aparecer.
Conforme os agricultores, o sonho de todo ser humano é ter gado pra tirar seu leite, fazer seu
queijo (..) há a necessidade também de um investimento próximo, na sua mão, que não vai no
banco, e tem a facilidade de transforma em dinheiro em causo de necessidade.(D.E.S 53
anos).
A maioria dos agricultores/as já teve acesso a créditos de financiamentos. Os
primeiros financiamentos deveriam, segundo a orientação dos técnicos do Banco da
Amazônia, ser para a compra de gado. O que reforçou mais ainda a prática de criação de gado
e aumentou a pressão sobre os recursos naturais.
64
Há no assentamento um pequeno número de eqüídeos (eqüinos e muares) que são
utilizados como animais de serviço. Estes animais foram perdendo sua importância nas
atividades diárias das famílias, em função das áreas de pastagens do gado ser relativamente
pequenas e o seu manejo poderem ser feito a pé e também porque os transportes dos produtos
e de pessoas que antes eram feitos por estes animais foram substituídos por motos e carros.
4.2.1.3 Agricultura
As famílias do Assentamento Nossa Senhora Aparecida, também como já dito acima,
praticam a agricultura para sobrevivência da família. Esta é uma estratégia característica da
agricultura familiar, que tem na sua essência a diversificação da produção como garantia do
autoconsumo e venda planejada do excedente.
As famílias cultivam algumas culturas tradicionais como milho (Zea mays), arroz
(Oryza sativa), mandioca (Manihot esculenta) e feijão (Vigna unguiculata), as roças são
pequenas, a área média de roças variam em torno de ½ (meio) a 4,8 ha, apenas para a
alimentação familiar e alimentação dos animais domésticos. Praticam técnica do
consorciamento de produtos, como: feijão, mandioca e milho; milho, abóbora e fava; milho e
abóbora. Esta é uma estratégia tradicional de comunidades camponesas para aumentar a
produtividade, diminuir o gasto com insumos externos e adubar a terra. Como retrata o
depoimento deste agricultor (...) mistura as plantações porque a terra é pequena, e porque
uma planta serve de adubo e proteção pra outra (J.N. S, 45 anos)
Além destas culturas, alguns agricultores relataram que produzem banana (Musa
spp), melancia (Citrullus vulgaris), fava (Vicia faba), abóbora (curcubitace) e amendoim
(Arachis hypogaea) para contribuir na subsistência. (figura 13). Observamos também que há
três propriedades que não possuem roças. Os motivos que levaram estes agricultores a
65
deixarem de plantar foram porque, em duas propriedades (9 e 11) os agricultores já são
idosos e estão aposentados, na outra propriedade (4) as “pragas” comem tudo o que é
Área da Propriedade (ha)
produzido na roça, desestimulando assim o agricultor a plantar.
Figura 13. Distribuição da área agrícola das principais culturas explorada no ano de 2007, em 12 lotes de
assentados no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO.
Geralmente plantam também outras espécies para vender como a melancia (Citrullus
vulgaris) e o abacaxi (Ananas comosus). Vendem também o excedente da mandioca Cacau e
Pão, (Manihot esculenta), que são consideradas pelos agricultores como mandioca “mansa”,
própria para o consumo in natura, já a mandioca “brava” é imprópria para o consumo in
natura, sendo utilizada na fabricação de farinha de “puba”, farinha mais consumida na
reunião, típica da região nordeste. Esta espécie de mandioca é pouco cultivada no
assentamento. A mandioca além de ser vendida in-natura também é processada e servida para
alimentação dos animais suínos.
66
As formas de produção ainda são rudimentares, possuem um trator coletivo, doado
pelo uma ONG, Irlandesas (Irshids), que serve para gradear a terra, mas o restante dos
trabalhos é feito manualmente com enxadas, enxadão, foice e cutelo. No caso da produção de
melancias o trabalho de irrigação e todo feito manualmente, os agricultores constroem taques
rústicos feitos de madeiras, forrados com lona, que se enche de água pela queda livre. (figura
14). Fazem o uso do regador, também para irrigação da melancia.
Figura 14. Identificação de técnicas agrícolas aplicadas por assentados para armazenamento de água utilizada na
irrigação do cultivo de melancia no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO.
A escolha do local para plantação da roça é de acordo com a espécie que será cultiva.
A mandioca é plantada em terras mais arenosa e sempre é consorciada com o feijão. Na
maioria das propriedades estudas 77,7 %, estas espécies são cultivadas na área comunitária da
associação dos agricultores familiares. A associação possui uma área para uso coletivo de 52
ha.
O milho é consorciado com a abóbora e a fava, assim como a melancia e abacaxi,
essas espécies são plantadas nas próprias unidades produtivas, em terras mais argilosas,
consideradas pelos agricultores como “terras firmes” ou “terras altas”. O Arroz é plantado nas
67
terras “baixas”, locais escolhidos por ter maior umidade. Não é comum a comercialização do
arroz, sendo a produção voltada para o consumo da família e ocasionalmente o excedente é
comercializado. No assentamento atualmente quase não se planta mais arroz. Esta espécie foi
encontrada apenas em três propriedades em torno de 25 % da freqüência produzida. Na tabela
2, podemos observar também a freqüência de espécies mais produzidas, sendo em primeiro
lugar a mandioca (75 %), seguindo do milho e feijão (58,3 %).
Tabela 1. Freqüência e área média cultivada das espécies encontradas no componente roça no
Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO.
FREQUENCIA (%)
AREA MÉDIA (ha)
(n = 12)
--------------------------------------------- Cereais -------------------------------------------------Feijão trepa-pau, coruja e roxinho
58,3
0,58
Milho
58,3
1.12
Arroz agulhinha
25,0
0,14
Fava
25,0
0,04
----------------------------------------------Raízes -------------------------------------------------Mandioca-cacau e Mandioca-pão
75,0
0,62
--------------------------------------------- Hortaliças --------------------------------------------Abóbora
16,6
0,06
Melancia
25,0
0,22
--------------------------------------------- Fruteiras ----------------------------------------------Banana
16,6
0,06
Abacaxi
8,3
0,16
Cana
25,0
10,41
ESPECIES
As variedades plantadas são do feijão trepa-pau, carioquinha e roxinho, mandioca
Pão, Cacau e mandioca “brava” e milho de sementes comprada selecionadas (70 dias), arroz
é agulhinha de 4 meses, abóbora (vermelha) e fava (branca).
Os agricultores/as geralmente utilizam sementes próprias, que foram guardadas de
safras anteriores ou trocam com vizinho. No cultivo da mandioca é freqüente a utilização de
manivas doadas por vizinhos no próprio assentamento. Só compram as sementes de arroz,
milho, melancia e hortaliças. Costumam usar adubo químico somente nas espécies milho e
68
arroz (adubo Araguaia) e usam outros produtos químicos na melancia (matilium) e abacaxi
(carbureto). A escolha das sementes para plantio é feita pela aparência, escolhem as melhores,
maiores, sem caruncho. Estas sementes ficam armazenadas até a próxima safra. O arroz é
armazenado no saco, o feijão fica lacrado em vidros de Polietileno Tereftalato-PETI, (figura
15- A) e o milho é guardado na casca ou no saco (figura 15-B).
A
B
Figura 15. Técnicas dos assentados para armazenar as sementes para plantio da safra seguinte no Assentamento
Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (A) Armazenamento das sementes de feijão trepa - pau,
(B) Armazenamento das sementes de milho.
Os agricultores ainda fazem uso dos conhecimentos sobre o calendário lunar para
plantar suas roças. Costumam arar a terra na lua cheia para diminuir as pragas. O plantio de
qualquer espécie de rama como feijão, melancia, abóbora, como também as verduras de horta,
como alface (Lactuca sativa) quiabo (Hibiscus esculentus), couve (Brassica oleracea), pepino
(Cucumis sativus) e o coentro (Coriandrum sativum) são feitos na lua nova. Segundo os
agricultores é quando a lua tá fina e fica melhor para carregar o fruto, estas espécies de
plantas não é bom plantar na crescente, pois enrama demais e dá muita praga (pulgões). As
plantas de batata como mandioca, batata e inhame devem ser plantados na lua quarta
crescente para cheia, para as mudas nascerem com mais força e resistência. Os plantios de
cana e abacaxi podem ser plantados na lua crescente para que os gomos e frutas cresçam
maiores, já a plantação de arroz e milho deve ser plantada na lua minguante, assim o produto
69
não dá grande mais, ficam com os grãos bem carregados e cheios e não dão broca. A limpeza
da roça deve ser feita na minguante, visto que, a tendência é diminuir as pragas e os matos
que nascem na lavoura.
Fazem ainda a estratégia de rotação de culturas numa mesma área, plantam arroz,
depois da colheita plantam milho, e depois que colhe o milho, plantam o feijão e fava. O arroz
geralmente é cultivado entre os meses de outubro a dezembro, isto de acordo com a
freqüência das chuvas do ano. Em alguns casos é comum o plantio consorciado do arroz com
outras culturas como o milho e abóbora. As sementes do arroz são compradas (agulhinha 4
meses), outros agricultores guardam a semente para o plantio do ano seguinte. O plantio do
abacaxi para comercialização, também é feito entre os meses de julho á outubro e é colhido
em abril ou maio. O cultivo do milho também se dá entre os meses de novembro e dezembro,
consorciado também com abóbora e fava, algumas famílias utilizam sementes próprias, outras
compram as sementes. As famílias não comercializam o milho, já que a produção é pequena,
sendo utilizada para o consumo da família e para alimentar pequenos animais como as
galinhas, porcos, pata entre outros. O plantio do feijão e da fava ocorre nos meses de janeiro e
fevereiro, logo depois que é colhido o milho.
Entre os meses de maio à agosto ocorre o cultivo das hortaliças, que a família
aproveita para enriquecer e diversificar a alimentação da família. As hortas são pequenas
variando entre 9m² à 25 m². Nas hortas são plantadas, abobrinhas verdes (Cucurbita pepo),
couve (Brassica oleracea), quiabo (Hibiscus esculentus), maxixe (Cucumis anguria), coentro
(Coriandrum sativum), cebolinha (Allium fistolosum), pepino (Cucumis sativus), alface
(Lactuca sativa), jiló (Solanum gilo), mamão (Carica papaya) e pimentas (Capsicum
odoriferum). Um grupo pequeno de agricultores planta também melancia nesta época para
venda, para a complementação da renda familiar.
70
Ainda fazem uso do extrativismo da bacaba (Oenocarpus bacaba) para fazer
“sambereba”, espécie de suco da fruta e aproveitamento do caju (Anacardium occidentale)
para a fabricação de doces e sucos e a manga (Mangifera indica) para a alimentação dos
porcos. Ver quadro I.
Quadro 1. Calendário de produção agrícola e extrativismos no Assentamento Nossa Senhora
Aparecida.
Atividades
de
produção agrícolas e
extrativismo
ANO 2007
jan Fev mar abr maio jun jul agost set out nov dez
Planta feijão, milho e
fava
Preparo da terra para
plantar melancia
Plantio de melancia e
hortas
Colhe caju
Colhe melancia, verdura
e legumes
Preparo da terra para
plantar milho, arroz,
mandioca,
banana,
abobora e abacaxi
Plantio
de
milho,
mandioca,
abacaxi,
arroz, banana e abobora
Colhe bacaba
Colhe manga
Colhe milho, abobora
Colhe feijão, fava, arroz,
abacaxi
.
Os Produtos agrícolas como abacaxi, melancia, mandioca in-natura, são
comercializados nos municípios da região, Couto Magalhães, Colinas do Tocantins, Bernardo
Sayão e Juarina e em alguns casos, nos assentamentos vizinhos ou no próprio assentamento.
Os compradores são consumidores diretos, comerciantes ou vendem nas feiras. O preço é
negociado entre agricultor e consumidor. Normalmente vendem à vista nas feiras e entregam
71
com um prazo de 30 (trinta dias) para o comércio. O valor do abacaxi é de R$ 2,00 (dois
reais) à unidade, o preço da melancia pequena é R$ 2,00 (dois reais) e das maiores entre
R$4,00 (quatro) à R$ 6,00 (seis) e a caixa da mandioca in-natura é no valor de R$ 13,00 (treze
reais).
A maioria dos agricultores, fazem o pousio apenas por 3 (três) meses, e alguns de
ano em ano,
período em que deixam a terra descansar. Eles acreditam que depois da
gradagem da terra é necessário deixar a terra quieta para tirar a “febre” dos matos verdes e
assim evitam problemas na plantação.
A roça esta perdendo a importância para os agricultores familiares no assentamento,
pois, a sua produtividade é baixa. Há vários fatores que geram incertezas nesta atividade
agrícola como o fator climático, que por causa das mudanças globais na atmosfera, não está
mais estável causando uma desorientação nos saberes que os agricultores possuem sobre
período certo de plantar. Planta quando começa a chover (...) todo o ano as chuvas estão
chegando cada vez mais tarde (J.S. M, 45 anos), fatores bióticos causados pela ação
antropica, como o ataque das pragas como cigarrinha e das aves e mamíferos silvestres, que
geram a perda da produção. Já plantei de tudo arroz, feijão, mandioca, mas a roça enchia de
pragas, não colhia nada, daí deixei de plantar. (J.S. V, 65 anos). O interessante é que a
percepção de pragas nas lavouras para estes agricultores vai desde a vassourinha e cigarrinha
aos bichos silvestres como periquitos, papagaios, pássaros-pretos, curicas, capivaras,
macacos, perdizes e tatus. Nesta ultima safra colheram pouca coisa, os animais silvestres
comeram tudo.
Fatores econômicos, como a falta de recursos financeiros para pagar as horas de
trator para gradear a terra para o plantio ou o trator da associação não está disponível no
período certo que o agricultor precisa. Enfim esta é uma atividade de alto risco levando ao
agricultor a investir na criação bovina que é uma atividade para eles menos arriscosa.
72
Por causa destes problemas, identificamos 03 (três) agricultores que não planta mais
roças e observamos que nestas propriedades se encontram as menores áreas de matas do
assentamento, em torno de 2 à 4,8 Ha.
Os agricultores que possuem maiores áreas de matas em suas propriedades são os
que mais sofrem com este problema, pois, são nas suas propriedades onde há maior
diversidade de animais silvestres. (voltaremos nesta questão no segundo capítulo). Alguns
agricultores já entenderam que quantidade de bichos do mato que atacam suas roças faz parte
do desequilíbrio ambiental, provocado pela a derrubada da mata ao longo destes 20 anos.
Conforme relata Sr. J.S. M, 45 anos.
As “pragas” atacam as roças porque os bichos tão com fome. Acho que tem que
plantar de tudo, porque tem que ter as coisas em casa. Não acho certo, morar na
roça e ter que comprar as coisas. O povo incutiu com capim, gado e esqueceu da
roça. As pessoas queixa das pragas, mas se todo mundo botar um pouquinho de
roça parte os prejuízos que os bichos come .
A estratégia encontrada pelos agricultores para se adaptar ao estresse ambiental que
se apresenta e continuar plantando as suas roças para o auto-consumo da família foi, colocar
cachorros como guarda do plantio, para espantar os bichos que atacam a lavoura.
Ao relacionar as práticas de cultivo agrícola com a questão ambiental, alguns
responderam que suas práticas produtivas ainda não são corretas, pois, o ideal é ter adubo
natural, porque é melhor para as plantas, já que, os adubos químicos interferem na água, no
solo, mas, ainda utilizam adubos químicos porque não sabem fazer adubo orgânico. Há um
grupo que acredita está protegendo a natureza à medida que deixaram em torno de 25 á 38%
da sua propriedade para área de reserva e quando pode, faz o possível para usar o máximo de
diversificação de plantas nas roças, para adubar a terra. Outros acham que plantando roças
estão ajudando a alimentar os animais, (...) não colhe muito, mas pelo menos os bichos do
mato comem ( F.V.O. 58 anos).
73
4.2.1.4 Apicultura e criação de pequenos animais.
No assentamento há um grupo de 11 famílias que desenvolvem a atividade produtiva
da criação de abelhas européias, onde retira mel que geralmente a família destina para seu uso
doméstico e para venda. Cada família tem entre 02 à 5 caixas de abelhas, que são colocadas
no pasto e na mata. Há no assentamento, segundo os agricultores, 75 espécies de plantas
florísticas que são boas para a produção do mel, e que são encontradas nas matas, pasto e
quintais. Entre estas espécies de destaca-se o Assa Peixe, planta exótica que predomina no
pasto. A produção de mel gira em torno de 20 l/colméia. O mel é em embalado em garrafas de
Polietileno Tereftalato- PETI, conforme pode ser observado na figura 16.
Figura 16. Técnicas dos assentados para armazenamento da produção de mel no Assentamento Nossa Senhora
Aparecida, município de Pequizeiro, TO.
O mel é vendido por R$ 10,00 (dez reais), à vista, para pessoas que visitam o
assentamento ou entregam por encomenda em Colinas do Tocantins, TO. A venda do mel
ainda é muito incipiente, o grupo de apicultores está se organizando para vender
coletivamente a produção do mel, em Palmas-capital do Tocantins, já que o preço é dobro, R$
20,00/L. Os agricultores querem agregar valor do produto, melhorando a embalagem e
74
marketing do produto. O grupo recebeu a doação de uma centrífuga do Programa de
Formação de Lideranças Agroecologicas para processarem o mel. (figura 17).
Figura 17. Reunião da coordenação do Programa de Formação de Lideranças Agroecológicas, para entrega da
centrifuga ao grupo de apicultores no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO
Os agricultores também criam pequenos animais que garante parte da renda e para o
auto-consumo da família, como porcos, galinhas, angolistas e alguns criam patos e perus.
A criação de galinhas, assim como seus os ovos são utilizados na alimentação
familiar e algumas famílias comercializam o excedente no próprio assentamento e em cidades
vizinhas. Do grupo estudado, há três famílias que estão com criação de galinha caipira
melhorada, implantadas com crédito do PRONAF - Mulher, liberado em 2006. Esta criação se
destina a comercialização, que são vendidas nos comércios de Colinas do Tocantins, ou
entregam ao consumidor direto por encomendas, duas agricultoras vendem para instituições
municipais em Colinas - TO e Pequizeiro - TO, através do Programa da Compra Direta. Elas
compram os pintinhos nos comércios de produtos agrícolas de Colinas - TO, à R$ 1,70 (um
real e setenta centavos). Com 3 (três) meses as aves são abatidas, sendo tratadas e vendidas
limpas, no valor de R$ 14,00 e R$ 15,00, a unidade. Vendem para conhecidos e nos
comércios à prazo e para consumidores desconhecidos à vista. As aves são embaladas em
sacos plásticos, colocadas no gelo em caixas grandes de isopor e levadas para Colinas, TO e
75
Pequizeiro-TO. Uma agricultora tem transporte próprio, as outras duas levam o produto no
ônibus.
As galinhas caipiras melhoradas (figura 18) são criadas no sistema semi-extensivo
em granja construída de telha, tijolo e cercada por tela, uso de piquetes para separar as
galinhas por fase de produção: pintinho, crescimento e abate. Atualmente estão criando de
200 à 500 galinhas melhoradas. Utilizam a ração de crescimento para os pintinhos, usam
milho e pastagem para as galinhas caipiras melhoras. As criações de galinhas caipiras
comuns, patos, perus, angolistas estão entre 30 a 100 unidades ao todo, estas aves são criadas
soltas e se alimentam de pastagem, milho e mandioca e abóbora para reforçar a alimentação.
Os agricultores gostam de criam as angolistas pelo prazer estético, segundo eles porque
acham bonito vê elas no quintal e para auxiliar na alimentação e também porque elas comem
as cigarrinhas e limpam o pasto das “pragas”. Os excrementos produzidos pelas aves e
bovinos são utilizados nas plantações de hortas e plantas, onde são produzidas as verduras e
frutas para a família. Percebe-se nesta prática uma interação entre sistemas produtivos e
animais nas propriedades.
Figura 18. Criação de galinha caipira melhorada da raça Label Rouge no Assentamento Nossa Senhora
Aparecida, município de Pequizeiro, TO.
Fonte: Eonilson Antonio de Lima
76
Há também criação de suínos rústicos (piau), que é utilizada para a alimentação
familiar. Os suínos são criados presos em chiqueiros rústicos construídos de tábua, tela, e
também de forma extensiva nos quintais. As familiais criam entre 02 a 10 porcos. Estes são
alimentados com soro do leite, milho, manga, mandioca, abóbora e restos de comida. (tabela
2. p.79).
A família abate o porco, frita a carne e conserva-a, dentro da própria gordura, que
também é consumida pela família, o excedente é vendido para vizinhança. Esta prática de
conserva dos alimentos é característica de comunidades camponesas que não tinham energia
elétrica para congelar os alimentos. Nota-se que mesmo tenho eletricidade no assentamento
eles ainda mantêm esta cultura.
Ainda hoje os agricultores têm o hábito de “vizinhar”, ou seja, doam parte do que
abatido (porco, vaca, caça ou pesca) em sua propriedade para os vizinhos mais próximos ou
que tenha mais afinidade, esta ação é recíproca. Esta prática garante a diversificação da
alimentação e manter um costume típico das comunidades tradicionais do Brasil, que ainda
resiste às inovações tecnológicas no campo.
77
Tabela 02. Alimentação, tipo de instalação e formas de manejo da criação dos animais
praticada pelos assentados no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de
Pequizeiro-TO.
CRIAÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Galinha caipira
Mandioca, milho, folhas
de hortaliças, restos de
frutas, comida humana,
capim.
Ração de crescimento,
milho e capim.
Mandioca, milho, folhas
de hortaliças, restos de
frutas, comida humana,
capim
Mandioca, milho, folhas
de hortaliças, restos de
frutas, comida humana,
capim
Soro do leite, milho,
frutas, folhas, cascas e
batata da mandioca e
abóbora.
Capim e na seca capim e
ração de soja
Capim
Galinha caipira
melhorada
Pato
Angolista
Porcos
Bovinos
Eqüídeos
TIPOS DE
INSTALAÇÃO
Não possui
Galinheiro
Não possui
Não possui
Chiqueiro rústico
FORMAS DE
MANEJO
Poleiro, sobem em
árvores, criação
extensiva em terra
firme
Criação semiextensiva, poleiro.
Criação extensiva em
terra firme
Poleiro, sobem em
arvores, criação
extensiva em terra
firme.
Criação extensiva ou
fechada em chiqueiros
Curral
Pastagem extensiva
Não possui
Pastagem extensiva
4.2.2 Formas de Trabalho
O trabalho no assentamento em 83 % das propriedades, ainda é familiar, contando
com as esposas e filhos. As mulheres e filhas são responsáveis pelos serviços da casa
(arrumar, limpar, fazer comida, lavar vasilhas e roupas) e também do cuidado das pequenas
criações como: porcos, galinhas, cuidam do terreiro, da horta. Mas algumas mulheres, além
dos serviços domésticos também fazem os serviços da roça e do manejo do gado,
principalmente naquelas propriedades onde os filhos saíram para estudar ou ainda estão
pequenos. Os homens e os filhos são responsáveis pela criação e manejo do gado (vacinar, dar
78
remédio, tirar leite), pelo cultivo da roça (arar a terra, plantar, adubar, capinar, irrigar, colher)
e pelo manejo dos quintais. (plantio e poda). Também cuidam dos porcos e na ausência das
mulheres cuidam dos outros animais e fazem e cuida dos trabalhos domésticos.
Os agricultores familiares costumam ainda fazer troca de dia entre os vizinhos ou
parentes para agilizar os trabalhos, só raramente é que pagam alguém para ajudá-los, isso,
quando estão muito apertados com os serviços na propriedade. Ainda há, portanto, no
assentamento traços da solidariedade mecânica, definido por Durkheim aput Costa, (2005:
87), como os laços que unem o indivíduo a sociedade pelos as crenças e sentimentos comuns,
através da família, da religião, da tradição e dos costumes. Este tipo de solidariedade é típica
das sociedades pré-capitalistas onde são independentes à divisão social do trabalho. Para
Lamarche, esta é uma estratégia que longe de ser considerada uma atraso tecnológico dos
agricultores, é antes de tudo uma estratégia de adequação a situações adversas do mercado.
(Wanderley, 1998:14).
Desse modo, os agricultores conseguem preservar o ethos da campenisidade, termo
cunhado por Klass Woortmann, utilizado por Brandão (2004, p. 123- 129), como sendo, um
modo de ser que se traduz numa ética de reciprocidade entre as pessoas e o mundo “dos
outros”, ou seja, esta ética é observada na persistência da cultura não apenas na linguagem
destes agricultores, mas também nos seus valores éticos, afetivos e de honradez, percebidos
nas questões sociais e relações de negócio dentro do assentamento e também nas relações de
ajuda mútua da família e entre vizinhos.
A continuidade destes hábitos culturais demonstra que, os agricultores não perderam
totalmente sua cultura e independência frente às relações capitalistas. Segundo Martins (2002,
p. 64), no sistema capitalista, embora o camponês seja socialmente dependente porque não
trabalhar sozinho, mas juntamente com sua família, seu trabalho familiar é independente, já
que ele ainda possui o instrumento de produção que é a terra. Ele é livre para decidir sobre
79
sua produção. As determinações do mercado não estão diretamente presentes no processo de
trabalho. Sua existência, diferente do operário, não está condicionada pelo trabalho
excedente, mas por produto excedente. Ou seja, ela se baseia cálculo da produção a mais para
vender e não são as sobras que ele vende, assim pode garantir a complementação da renda
familiar.
Nota-se que nesse assentamento, os agricultores/as familiares ainda não estão
totalmente integrados ao mercado, diferentemente de outros lugares, onde os agricultores
familiares já estão totalmente inseridos no mercado capitalista e que propriedade é uma
empresa familiar rural à exemplo dos agricultores familiares no entorno da cidade de UnaíMG, que são plantadores de soja, passando para prática da monocultura.
A independência dos agricultores familiares no assentamento se apresenta na forma
de trabalho, na diversidade produtiva e na propriedade da terra, que os tornam donos dos
meios de produção.
Desta forma, devido às suas características de trabalho e práticas produtivas os
agricultores que moram no Assentamento rural Nossa Senhora Aparecida podem ser definidos
por agricultores familiares. Conceito explicado por Lamarche. Segundo este autor,
Agricultura faz apelo a grupos sociais limitados que tem em comum associar
estreitamente família e produção, mas que se diferenciam uns dos outros por sua
capacidade de se apropriar dos meios de produção e de desenvolvê-los... a
agricultura familiar não é um elemento da diversidade, mas contém nela mesma,
toda a diversidade.. (LAMARCHE, 1997, p. 18).
Na agricultura familiar há várias formas de unidade de produção organizadas e
executadas pelos membros da família extensa ou nuclear, que não podem ser abrangidos por
um único modelo ou numa mesma categoria de agricultores. As formas de exploração
agrícola serão definidas pelas possibilidades e condições de produção do agricultor familiar
como: tamanho da área, tecnologia, capacidade técnica e financeira do agricultor.
80
O assentamento apresenta uma diversidade de tipologia de agricultores familiares.
No primeiro grupo, os que ocuparam a terra, existem duas situações: a) Há agricultores que
possuem criação bovina (40 à 60), roças, apicultura e criação de pequenos animais, o trabalho
é todo familiar e é neste grupo que se encontram as maiores área de matas (20 à 33 Há
Figura 20). b) Há agricultores que maior parte do lote o sistema produtivo é a pecuária, não
produzem mais roças e tem uma área de mata ínfima em torno de 3 á 4,8 ha, possuem mais de
um lote e maior numero de bovinos entre100 à 170 cabeças, em alguns casos, o trabalho na
propriedade é pago.
Figura 19. Croqui da distribuição dos diferentes componentes da paisagem em uma propriedade com maior área
de mata. Adaptado a partir do mapa desenhado pelo proprietário do lote, no Assentamento Nossa Senhora
Aparecida, município de Pequizeiro, TO. Desenho: Mônica Alves Ribeiro.
81
No segundo grupo, os que compraram a terra, também há diferentes tipos. a) Há
agricultores que possuem maior numero de lote, 02 agricultores possuem 4 e outro 6 lotes,
com a conivência do INCRA, portanto tem maior numero de rebanho e pouca área de mata e
não plantam roça, criam pequenos animais, pagam funcionários (estes não quiseram dar
entrevista). b) Há também um segundo grupo em que os lotes são de 40 à 60 Ha, a maioria da
propriedade é também área de pastagem, possuem um lote e 20 à 80 cabeças de gado, a
maioria plantam roças, criam pequenos animais e apicultura, também possuem pouca área de
mata em torno de 2 à 4,8 Há e o trabalho ainda é familiar. (figura 21)
Figura 20. Croqui da distribuição dos diferentes componentes da paisagem em uma propriedade sem área de
mata. Adaptado a partir do mapa desenhado pelo proprietário do lote, no Assentamento Nossa Senhora
Aparecida, município de Pequizeiro, TO.
Desenho: Mônica Alves Ribeiro.
82
Observa-se que no tipo A - do primeiro e segundo grupo de agricultores - a maioria,
possui baixa dependência de tecnologia externa, estão inseridos no mercado de forma ainda
mercantil através da venda incipiente do leite, mel e galinha caipira melhorada, da melancia e
do abacaxi. O trabalho é familiar, contanto com esposa e filhos, ocasionalmente usam troca
de dias e se difere dos demais pela variedade da policultura, mesmo a pastagem dominando a
paisagem. Mesmo no caso em que alguns compraram a terra, mas estes tem origens
campesinas, são filhos de pequenos agricultores ou sitiante ou eram trabalhadores rurais nas
fazendas de gado da região.
O grupo B - do primeiro e segundo grupo - são os agricultores familiares mais
capitalizados com maior inserção no mercado capitalista, possuem mais de um lote que foram
adquirindo com passar dos anos, tem mais de 150 cabeças de gado bovino, com
características da monocultura do leite, maior dependência de insumos externo, um
rentabilidade maior com a venda do leite e bezerro, em alguns casos, ainda tem o trabalho
familiar, mas, utiliza na maioria das vezes mão de obra remunerada.
O primeiro caso está mais próximo do que Lamarche (1997, p. 22) chamou de
Modelo Original, ou seja, quanto mais o modelo de agricultura familiar for próximo deste
modelo, menor será seu grau de interação com o mercado, maior será a preservação da sua
cultura, mas também terá mais dificuldades se adaptar as novas exigências impostas pelas
mudanças globais.
No segundo grupo, este modelo se aproxima mais da definição de Lamarche (idem:,
p. 22) do Modelo Ideal,quanto mais a agricultura familiar tiver próximo deste parâmetro,
mais integrado estará com o mercado. Em conseqüência, terão seus valores, costumes
totalmente alterados, pois, perdem seu patrimônio cultural.
83
4.3 SABERES AMBIENTAIS LOCAIS
Todo sistema cultural tem a sua própria lógica e não passa de
ato primário de etnocentrismo tentar transferir a lógica de um
sistema para outro.
(Laraia, 2006).
Há mais de três séculos as sociedades estruturam sua forma de pensar e seus
conhecimentos com base no racionalismo científico como sendo a única forma pensamento
correto, concreto e capaz de ordenar o mundo de forma confiável. Este pensamento iniciou na
Europa espalhou-se por todo mundo, em todas as áreas nas ciências, leis, economias e até na
forma de ver a natureza. Era possível, conhecendo a natureza, dominá-la, utilizando-se dos
recursos naturais como sinônimos de progresso. As populações ou sociedade que não tinham
este mesmo sistema cultural foram consideradas, no século XIX e até primeira metade do
século XX, como sociedades pré-lógicas, ou melhor, dizendo, dotadas de forma de pensar sem
coerência, através de um pensamento mágico ou religioso. Claude Levi-Strauss no seu livro O
pensamento Selvagem, se posiciona contra esta abordagem, afirmando que, pelo contrário, o
pensamento das sociedades simples forma um sistema de classificação do mundo bem
articulado, independente da ciência e que constrói a sua história e sua cultura a partir dos
meios materiais que lhes dispõem. (Laraia, 2006, p. 88).
Geertz, em seu livro O Saber Local, chama atenção para evitarmos visões
homogeneizantes e simplistas dos sistemas de representação dos grupos e comunidades.
Temos que levar em consideração as particularidades e singularidades de cada cultura, bem
como, a seu emaranhado de significações desenvolvidas a partir das histórias de vida das
populações, essas representações têm que ser explicadas sempre do ponto de vista do nativo,
no caso aqui, dos agricultores familiares. Geertz (2007, p. 88) adverte ainda, que para obter os
melhores resultados na pesquisa, deve captar conceitos de experiência-próxima, ou seja,
84
elaborar um conceito sobre o ponto de vista do grupo estudado que permita estabelecer uma
relação estreita com seu o modus vivendi, mas também, utilizar o conceito de experiênciadistante, que permita utilizar conceitos criados por especialistas para explicar os elementos
mais gerais da vida social.
Logo, esta pesquisa será encaminhada neste sentido, buscando equilibrar a análise
sempre com base nos saberes locais sobre o ambiente, contrapondo com a opinião de autores
sobre práticas de conservação ambiental.
A primeira impressão que se tem do assentamento Nossa Senhora Aparecida é que é
um cenário todo homogêneo de pastagem. A visão que se tem é a de que as famílias estão
altamente inseridas no sistema capitalista, que já perderam todos os seus habitus de agricultor
e conseqüentemente seu patrimônio cultural. Mas quando, desentranhamos “a teia de
significados” que existem no local, percebemos que o assentamento tem complexa formas de
produção (já descritas no capitulo anterior) e que possui um mosaico formado por diversos
componentes de paisagens como mata, brejo, pasto, roça, córrego, quintal, terreiro, horta,
galinheiro, curral e pasto sendo este ultimo o preponderante. Nestes subsistemas vivem e
interage uma riquíssima diversidade de fauna e flora, com 106 espécies de bichos selvagens
(mamíferos, aves, répteis e peixes) e 160 espécies de plantas (alimentícias, medicinais,
madeireiras, olerículas, ornamentais, ecológicas e de rituais).
As populações rurais, e neste caso, os agricultores familiares, possuem um articulado
conhecimento sobre o ambiente, definido pelos os etnociêntistas como etnoconhecimento.
Este conceito é explicado a partir da etnobiologia como:
(...) o estudo do papel da natureza no sistema de crenças e de adaptação do homem a
determinados ambientes, enfatizando as categorias e conceitos cognitivos utilizados
pelos povos em estudo. (Porsey (1987 apud Diegues 2001, p.21)
85
A utilização dos estudos na Etnobiologia nos possibilitará analisar como os
agricultores familiares entendem o ambiente no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, e
como ao longo dos anos organizaram-no a partir do uso dos recursos naturais. Procurou
portanto, descrever como as famílias classificam o ambiente conforme as unidades de
paisagem, inventariando as plantas e animais existentes em cada unidade e os diferentes
conhecimentos sobre os seus usos nas suas práticas cotidianas.
4.3.1 As unidades de Paisagem Locais e seus diferentes usos
Neste item objetivou-se descrever os mecanismos ambientais e socioculturais que as
famílias do assentamento Nossa senhora Aparecida, utilizam para satisfazer as suas
necessidades básicas, expressando assim, um estilo de vida local.
Os agricultores familiares se adaptaram ao ambiente em que vivem e foi adquirindo
nestas duas décadas um elaborado conhecimento sobre os diferentes componentes da
paisagem e suas formas de uso (ver tabela 3), como também possuem uma diversidade de
saberes sobre manejo e uso das diversas espécies de plantas e conhecimentos diferentes
espécies de animais expressados nas suas práticas de trabalho cotidiano, percebe-se o contato
com o mundo natural em todas as paisagens (mata, brejo, pasto, quintal, terreiro, horta, roça,
curral, galinheiro e córrego). Estes espaços são definidos pelo processo de acomodação e
adaptação das famílias desde sua chegada ao assentamento que foi reconhecidos e respeitados
pelos órgãos oficiais.
86
Tabela 03. Descrição dos componentes da paisagem e suas formas de utilização no
Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro-TO.
NOMENCLATURA
DEFINIÇÃO DO USO
Reserva ambiental, lugar para tirar alguma madeira para cabo de
ferramentas, pega lenha ou pegar alguma planta serve para remédio,
serve para abrigar os bichos da mata e produzir florada para abelhas,
e oxigênio.
Mata alagada no período chuvoso
Mata
Brejo
Pasto
Quintal
Terreiro
Horta
Roça *
Curral
Galinheiro
Córrego
Serve de pastagem para o gado e cavalos e criação de abelhas e
abriga também algumas espécies de plantas e animais silvestres.
Quintal é lugar onde não se varre para que as folhas possam
produzir adubo para plantas, é se onde cria os porcos, galinhas e
onde se planta as arvores frutíferas e algumas medicinais.
Onde é varrido para família ficar. Local onde são plantados a
plantas de enfeite, os temperos e as hortas para que as aves e os
porcos não mexam. Normalmente o terreiro e todo cercado e tela
È plantada nos terreiros são utilizadas para a família variar a comida
e ter uma verdura pra comer
Produção da alimentação da família e dos animais de criação
(mandioca, milho, arroz, feijão e fava) e para complementação de
renda. (melancia, abacaxi)
O curral serve para manejo do gado: tirar leite, vacina, aplicar
remédio, aparta o gado. Fica na frente da casa para facilita a entrega
do leite. È construído na parte mais alta do terreno, assim evita
barro e facilita o manejo do gado na época da chuva.
Onde é criada a galinha caipira melhorada, as galinhas caipiras são
criadas soltas nos quintais.
Antes servia pra tudo, lavar roupa tomar banho, pegar água. Agora é
o lugar onde o gado bebe água, onde pescam peixes para comer de
vez em quando.
Podemos observar os processos de adaptabilidade humana numa paisagem que antes,
era formada por uma cobertura vegetal densa, típicas das florestas amazônicas e foi se
modificando ao longo dos anos, de tal forma, que resultou num imbricado sistema produtivo,
com uma paisagem distribuída em vários subsistemas de produção que valoriza toda a área e
uso dos solos, de forma tal que, com a formação gradativa da pastagem para a criação
pecuária bovina, o plantio de roças de cereais, plantações de espécies hostículas e a
87
introdução da produção de pequenos animais, fez com que os agricultores fossem ocupando
todo o ambiente da sua propriedade.
Na paisagem do assentamento representando as propriedades (Figura 21),
observamos que há um conjunto de espécies de plantas de arbustos como pimenteiras,
hostículas, ornamentais e o plantio de hortaliças que ficam na cercania das moradias onde é
denominado o terreiro.
A frente das moradias é marcada pela paisagem da Pastagem para produção bovina.
Nas imediações da moradia há um conjunto de espécies arbóreas frutíferas e medicinais,
numa associação de espécies de bananeiras, canavieiros, cajueiros, mangueiros, abacateiros,
goiabeiras, mamoeiros e vários outras que são cultivadas aos fundos das moradias
denominados de quintais.
Logo após os quintais está a zona de vegetação natural denominada Mata onde está
localizados variedades de espécies de plantas nativas, animais silvestre e córrego que é o
principal recurso hídrico para os animais. Na outra margem dos córregos há manchas de
cultivo de roças de melancia, feijão e milho.
Nota-se, portanto, a variação dos sistemas e como estes inter-relacionam com as
diversas unidades de paisagem e a otimização que os agricultores fazem dos recursos naturais
que possuem. O contato com ambiente de forma cotidiana através das suas práticas de
trabalho e modos de vida no assentamento Nossa Senhora Aparecida possibilitou as famílias
desenvolver percepções sobre ecossistemas desenvolvendo o entendimento sobre a
necessidade de manutenção das práticas ecológicas como reciclagem de nutrientes,
manutenção da diversidade biológica e uso racional dos recursos. Pois as famílias já estão
compreendendo que, se não houver a preocupação com a manutenção destes processos,
ocorrerá a perturbará a manutenção dos recursos naturais.
88
Figura 21. Esquema da adaptabilidade , distribuição da paisagem e os usos do solo no sistema de produção no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro,
TO.
Desenho: Mônica Alves.
89
Conforme figura 22, podemos observar como os agricultores fizeram à composição
do espaço nas suas propriedades. Estes já modificaram bastante a paisagem original da área,
transformou quase tudo em pastagem, somente 16 % dos agricultores preservam uma maior
área de mata, em média com 20 ha. Estes fragmentos de mata (figura 22) são utilizados como
reserva ambiental, pelos agricultores familiares para fins ecológicos, preservação dos
córregos, uso de algumas plantas medicinais para fazer um remédio ou uma garrafada,
utilizam também a mata para tirar alguma madeira para fabricação de cabo de enxada,
machados, manutenção de alguma instalação na propriedade. Mas também, para todos os
agricultores/as entrevistados a mata é percebida como um importante habitat para os bichos
silvestres e para manter a biodiversidade de espécies de plantas. Segundo Schubart et al
(1983) aput Noda (2000) as florestas são importante no processo de reciclagem de nutrientes e
possibilitam a conservação dos ecossistemas e mantêm o bom estado nutricional das plantas.
Figura 22: Ilustração da mata como componente da Paisagem no assentamento Nossa Senhora Aparecida,
município Pequizeiro-TO.
Os agricultores possuem conhecimentos de 37 espécies de plantas nas áreas de
matas. Destas 18 são madeireiras, sendo que, 10 espécies são também utilizadas para lenha e
7 são utilizadas em construções, 9 são espécies são medicinais, 3 espécies são utilizadas na
alimentação da família (buriti, bacaba e jenipapo). Do total de plantas da mata, 17 espécies
90
servem também para alimentação dos animais silvestres. Nas propriedades que a área de mata
é menor os agricultores só conhecem 18 espécies de plantas, isto demonstra que ao derrubar a
mata, muitas espécies desapareceram e, portanto, os saberes sobre as diversas plantas que os
agricultores possuíam vão desaparecendo das memórias coletivas.
A área de brejo ou mata alagada (figura 23) é considerada “terra baixa”, que alaga no
período da chuva, estas áreas ficam a margens do córrego macaco e de outros córregos
vicinais. No período da seca serve de pastagem para o gado porque é uma área que o capim
fica o tempo todo verde. Em algumas propriedades é local para plantio de roças de arroz e
milho, porque pode ser plantado mais cedo já que o terreno é úmido o tempo todo.
Figura 23: Brejo como componentes da Paisagem no assentamento Nossa Senhora Aparecida, município
Pequizeiro-TO.
A pastagem (figura 24) conforme já foi dito, é o maior componente da paisagem,
serve para a alimentação do gado e equinos, mesmo assim, segundo os agricultores abriga 22
espécies de plantas, 8 madeireiras, 8 espécies servem como alimentação dos animais
silvestres, (floradas de abelhas, frutas que os peixes, pássaros e mamíferos se alimentam) e
uma espécie é medicinal e 5 espécies servem para outros fins como construção, artesanato,
ecológica e para fazer sombra para o gado. Neste local também são colocadas caixas de
91
abelha, para produção de mel. Nas propriedades onde há menores áreas de matas só foram
encontradas apenas 06 espécies de plantas nesse local. Deste modo nas áreas de pastagem
foram tiradas quase todas as arvores e os rebanhos bovinos não têm como se protegerem do
sol.
Nas propriedades onde área de pastagem é menor são encontradas a maior
diversidade de fauna silvestre, 20 espécies, sendo 6 mamíferos (anta, tamanduá bandeira e 4
espécies e tatus- verdadeiro, peba, galinha e bola), 9 aves terrestres (bem-te-vis, ema, joão de
barro, perdiz, pássaro preto, pomba do bando, seriema, tetéu e garças), 2 répteis aquáticos
(cobras: jaracuçu do brejo, jibóia) e 4 répteis terrestres ( cobras: cascavel, cipó, coral e
jararaca). Já nas propriedades onde as áreas de pasto são maiores foram informados
conhecimentos de apenas 13 espécies.
Figura 24: Pasto como componente da Paisagem no assentamento Nossa Senhora Aparecida, município
Pequizeiro-TO.
Por causa da atividade da pecuária, outro componente da paisagem encontrado em
todas as propriedades é o curral (Figura 25). Este é utilizado como o local de manejo do gado
como: vacinar, apartar às vacas, tirar leite, aplicar remédios. Os currais possuem em média
80 m² e foram construídos na parte mais alta do terreno em frente à residência, para evitar a
92
formação de barro e poças de lama no período chuvoso que dificulta a atividade de tirar leite e
também porque facilita para o leiteiro pegar o leite.
Figura 25: Curral como componente da Paisagem no assentamento Nossa Senhora Aparecida, município
Pequizeiro-TO.
Os quintais (Figuras 26 A-B) representam os diferentes usos que os agricultores
familiares dão a terra em suas unidades produtivas. São organizados pela família no fundo das
residências, onde cultivam diversas espécies de plantas e pequenos animais que são utilizados
para garantir segurança alimentar e auto-suficiência da família. Os quintais são definidos
pelas famílias como o lugar onde não se varre, para aproveitar o adubo das folhas das
arvores e é onde ficam as criações pequenas (D.E.S, 53 anos). Os quintais são sistema
agroflorestais (SAF´S) constituídas de diversas espécies de plantas, que se encontram
distribuídas de forma aleatórias, sem espaçamento definido. Estes foram formados ao longo
do tempo que as famílias chegaram ao assentamento. Os tamanhos encontrados entre 1,0 a 2,0
ha. Nas propriedades das famílias que estão no assentamento desde a época da ocupação,
foram encontradas 96 espécies de plantas nativas e plantadas (perenes e anuais), sendo 29 %
alimentícias, 28 % alimentícias e Medicinais, 13,5 % somente medicinais e as espécies
restantes são madeireiras, ornamentais, ecológicas e artesanais.
93
Uma parte dos quintais é utilizada para a construção dos galinheiros, para criação
das galinhas caipiras melhoradas. Estes foram encontrados apenas nas três propriedades que
criam estas espécies. São construídos, com telha, tijolo e cimento cercados de tela com
piquetes para as galinhas pastarem, com uma área total de 60m². Nestas 3 (três) propriedades
a galinha caipira melhorada, representam 66,4 % da produção dos pequenos animais.
No que se referem aos outras criações de pequenos animais, o que predomina no
assentamento são as galinhas caipiras, com 67 % dos animais criados na comunidade,
seguidos pela criação de angolistas com 17 %, de porcos 12,5 %, de perus 1,6 % e de patos
1,2 %. Estes animais aproveitam as folhas, frutos, raiz e microorganismos que existem nos
quintais para se alimentar.
A
B
Figura 26: Quintais e seus diferentes usos pelas famílias no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município
de Pequizeiro, TO. Figuras A e B.
Os terreiros (Figura 27) são os espaços ao redor da casa, normalmente cercado por
telas para evitar entrada de animais, é definido pelas famílias como o lugar que é barrido
para a gente fica, usar, trabalhar (N.A. S, 46 anos). Este lugar a responsabilidade de cuidá-lo
é das mulheres e filhas. Contrapondo o quintal que é deixado naturalmente para a produção
dos nutrientes das plantas, os terreiros são cuidados para o uso coletivo dos grupos familiares,
94
onde são realizadas atividades sociais: festinhas em família, acolhimento das visitas e
conversar com vizinhos.
É o lugar também onde é exercido o prazer estético através do plantio de espécies
ornamentais (Lírios, orquídeas, coqueirinho, onze - horas, samambaias, cravos, cactos, rosas,
flores, bunina, moça velha, maravilha, boa-noite, margaridas, comigo ninguém pode e espada
de são jorge), há também as plantas medicinais (arnica, alfavaca, capim santo, erva cidreira,
boldo, romã, babosa, algodão, arruda) e também as plantas decorativas espada de São Jorge e
comigo-ninguém-pode onde estão relacionadas também a crenças populares de proteção a
casa e família contra mau-olhado. Nos terreiros, uma parte é deixada e cercada para o cultivo
de hortas.
Figura 27: Terreiros e formas de utilização deste componente de paisagem pelas famílias no Assentamento
Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, TO.
As hortas (figuras 28) também faz parte dos arranjos produtivos locais na
diversificação da produção de alimentos para auto reprodução da família. Estas hortas são
pequenas, em média em torno de 10 m² onde se encontram os temperos (cebolinha, coentro,
pimenta malagueta, pimenta de cheiro) e verduras e legumes (vargem, alface, couve, pepino,
jiló, quiabo, maxixe, abóbora vermelha, abobrinha, tomate).
95
Figura 28: Hortas cultivadas pelas famílias no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de
Pequizeiro, TO.
Os saberes e saber-fazer destes agricultores sobre o ambiente se manifesta também
nas suas representações sociais e simbólicas que são expressos nas suas falas. As famílias
fazem analogias aos lugares e coisas com representação ao ambiente como nome dos
córregos, como: Macaco, Sucuri, Piau, Buriti e o Brejão.
O córrego macaco é principal manancial de água do assentamento. O nome macaco
foi dado pelos agricultores a este pequeno afluente de água devido à quantidade enorme de
macacos-pregos que vivem na mata à sua margem. Nos primeiros anos do assentamento, este
córrego foi a única fonte de água para todas as atividades da propriedade tanto domésticas,
quanto produtiva. Era o local onde a família tomava banho, lavava roupa, pegava água para
consumo da casa. Também era e continua sendo a fonte dos animais beberem. Atualmente o
córrego macaco é utilizado como recurso hídrico para irrigação de queda livre para as
lavouras, é também usado no abastecimento de água das propriedades que ficam a sua
margem. As famílias o utilizam como lugar de pesca, como uma atividade de lazer, cujo
pescado serve de complementação protéica na alimentação. A pesca é artesanal com uso de
azóis. As famílias que estão maior tempo no assentamento e que vivem em áreas que ainda há
matas possuem conhecimento de 27 espécies de peixe. Deste, ainda consomem 6 espécies
96
(papa-terra, piaba, piau branco, pintado, traíra e tucunaré) sendo os três últimos mais
apreciados. Nas propriedades onde só tem pequenos córregos vicinais e que as famílias
compraram a terra, só conhecem ou ainda se encontra apenas 12 dessas espécies.
4.3.2 Etnobotânica das Espécies
Os saberes dos agricultores familiares sobre os componentes florísticos se
manifestam nas diferentes práticas do cotidiano do assentamento, nas plantações de quintais,
no cultivo de hortas, nas plantações dos terreiros e na extração de madeira, da casca, do óleo
das plantas nativas. Os agricultores definem plantas somente aquilo que é plantado, as
espécies endêmicas são definidas como mato. Identificam as diferentes espécies de plantas
pelos seus usos, cheiros, texturas e tamanhos, cor, tipos de sementes e flores e período que
florescem. Conforme relatos abaixo.
Alfavaca muda muito depende da época, nesta época elas não prosperam, é igual
mastruz, elas nascem na época das águas (..). no lugar muito úmido ainda tem
ela.(D.E.S,)
(...) a lima serve de alimentação e uma pessoa ensinou que tirar a raiz da lima do
lado que o sol sai, não tem tipo de febre que não corta.
Estes conhecimentos da biodiversidade florísticas são adquiridos pela transmissão
cultural que se processa através de fragmentos mêmicos significativos das relações cotidianas,
nas idéias dos antepassados, nas relações dos grupos familiares, nas representações dos
grupos e nas relações sociais com os diferentes grupos dos quais os agricultores/as fizeram
parte ao longo da vida. Nas entrevistas percebe-se nas falas dos agricultores os memes de três
entrevistados sobre como se deu processo de acumulação dos saberes.
97
(...) aprendi desde pequeno, com os mais velhos, meus pais e avós (P.A.J, 48 anos).
(...) pra gripe cê pega o limão corta 3 limão em cruz e bota ferver bem fervido até
ficar molinho e bota um pouco de sali e bebe...aprendi com um vizinho cearense.
(...) isso é tradição dos mais antigos, desde quando começou o mundo é que tem
esse negocio de fazer azeite da mamona para remédio, minha mãe que fazia.
As aquisições de informações dos saberes sobre as plantas no assentamento ocorrem
das seguintes formas: pela transmissão entre gerações como avós, pais e tios; nas relações
cotidianas no assentamento com vizinhos; através de cursos que já participaram; pelos
programas de televisão e também pela observação empírica, enfim, pelos os habitus dos
agricultores familiares. Entendendo o conceito de habitus aqui, segundo Bourdieu (2005:16),
como conjuntos de conhecimentos que são passados socialmente entre o grupo e que são
utilizados como instrumentos de conhecimento e de construção do mundo objetivo. Ou seja,
não é só a memória já arraigada pela cultura a responsável pela propagação destes saberes,
mas também aquisição de novas mensagens cognitivas que vão sendo adquiridas a partir das
necessidades das famílias e de seu modus operandi. As necessidades cotidianas é que,
conforme descreve (Allut, 2000, p. 104):
(...) contribui para a construção do conhecimento que se adquire sobre a base de
uma informação hierarquizada e seletiva, obtida...pelo aprendizado perceptivo, em
que se empregam ,além dos “saberes antigos”, uma atenta e hábil percepção
sensorial , em que todos os sentidos intervêm ativamente como receptores de
informação.
A vida no campo é cheia de imprevistos, como doenças na família, nos animais,
pragas nas plantas, indefinições climáticas que prejudicam as lavouras, insegurança do retorno
financeiro do investimento nas atividades produtivas como as galinhas, melancia, abacaxi, as
roças, da produtividade do rebanho bovino, da oscilação do preço do leite e falta de
conhecimento técnico. Os conhecimentos sobre as plantas de apresentam, portanto, como
solução necessária para resolver estes problemas que aparecem no assentamento rural,
98
atuando como regulador de incertezas. Quando os agricultores familiares fazem uso destes
conhecimentos nas suas práticas cotidianas, podem vivenciar estes saberes através da
observação, experimentação, comparação, atualização e aquisição de novos saberes,
mantendo vivo um banco de dados na memória coletiva do grupo.
No assentamento as relações familiares contribuem para o processo ensinoaprendizagem sobre saberes ambientais a partir do envolvimento dos jovens com os pais nas
práticas do trabalho diário. È nestes momentos de convívio com os pais, explica Noda (2000),
que se inicia o processo de aprendizagem sobre a natureza, ao reconhecer as diferentes
formações vegetais e os espaços ocupados, a movimentar-se dentro deles, a decodificar os
comportamentos dos animais e plantas e os sons e cheiros da mata e dos bichos. Deste modo,
a transmissão intergeracional desses saberes pode estar comprometida já que, em 50% das
famílias entrevistadas os filhos não moram mais na propriedade, saíram para estudar,
casaram-se e moram na cidade, uns poucos estão morando em outros assentamentos e apenas
34% da população pesquisada são crianças e jovens.
Nas entrevistas, percebe que os agricultores familiares estabelecem uma classificação
das plantas como: nomes das espécies, locais que melhor se adaptam o solo, suas
características físicas, suas interações com animais, outras espécies, a partir dos processos de
socialização estabelecidos no assentamento, como as trocas de mudas para plantio de roças
como mandioca, cana, feijão e milho; nas trocas de frutas ou sementes para plantio no quintal,
diversificando assim, as espécies alimentares, ou ainda na necessidade emergencial de alguma
doença em que se valem da solidariedade entre vizinhos, com remédios caseiros ou receitas
para as doenças mais freqüentes como gripe, febre, tosse, diarréia, dor de cabeça, infecções de
garganta ou doenças causadas por machucados, problemas digestivos, de rins ou fígado,
problemas crônicos como pressão alta, colesterol, conforme podemos observar na tabela 4.
99
Há varias espécies de plantas nativas e cultivadas que são utilizados para diferentes
para fins na propriedade, como alimentação (família e bichos), remédio, ornamentação, uso da
madeira, sendo portando, mais valorizadas pelas famílias. Como podemos observar na figura
31.
Figura 29. Distribuição das espécies de plantas pela sua utilização pelas famílias no Assentamento Nossa
Senhora Aparecida, Município de Pequizeiro – TO.
A =Alimento (Humano - Frutas, verduras, legumes, temperos-Abelhas-Flores- Aves
silvestres e domésticas – Frutas- Peixes – sementes- Bichos-mamíferos domésticos e
silvestres-frutas).
M= Medicinais
MA= Madeireira
OR= Ornamental
E= Ecológicas

A = Alimento: Esta espécie é maioria 57 %, das plantas identificadas. Sendo que, 19
% destas são medicinais e 6 % também são madeireiras. Esta categoria diz respeito às
espécies disponíveis na propriedade para alimentar tanto os seres humanos quanto os
animais de criação e silvestres. As maiorias destas plantas são consumidas in natura,
mas também, são transformadas em sucos e doces. A maior parte destas é encontrada
nos quintais e terreiros.

M = Planta medicinal: Esta espécie representa 35 % do total das plantas encontradas,
e 19 % desta também são alimentícias. È caracterizada pela sua relevância dentro do
assentamento, pois, as famílias fazem uso de suas folhas, sementes, raízes e cascas
100
subtraindo extratos para preparar remédios que são usadas na medicina popular
regional. São reconhecidas em todos os componentes da paisagem: Quintais, terreiros,
pastos e matas. Mas é nos quintais que se encontram uma maior diversidade. São 45
espécies sendo que 22 destas espécies são nativas.

MA = Madeira: representa apenas 22 % do total de espécies encontras. Caracteriza-se
pela satisfação que as famílias podem obter na economia doméstica ao utilizar estas
plantas para a fabricação de cabos para ferramentas, reparos na propriedade,
construção de residências e instalações para os animais e também são usadas como
lenha. São encontras na sua maioria na mata, 29 espécies e uma boa quantidade, 16
espécies também nos quintais.

Or = Planta ornamental: são em menores espécies apenas 9 %. É uma categoria de
planta em que sua valorização se dá pela satisfação da sensibilidade estética e
apreciação a beleza.

Ou= também são incluídas outras categorias como:

E = plantas valorizadas pelo serviço relevante que prestam junto a recuperação da
natureza. Foram encontradas poucas espécies, apenas 5 que protegem as nascentes do
rio como: taboca, bambu, buriti; evita raios: maravilha e NIN - inseticida natural.

F/R/AR = plantas conhecidas pelos seus valores afrodisíacos, misticismo (proteção a
mal olhado) ou ainda que seja utilizadas para a fabricação de alguma artesanato.
Conforme a Figura 30, pode-se notar que há uma maior diversidade de espécies
floríticas nas propriedades com área de matas maiores e nos quintais das famílias que está há
mais tempo no assentamento. Estes dados compravam materialmente que, o manejo de
recursos naturais por parte das populações que possuem um sentimento de pertencimento o
lugar é mais sustentável, pois estas populações percebem que as sobrevivências de sua família
101
e de seus descendentes dependem diretamente de práticas sustentáveis de conservação
ambiental.
Em algumas propriedades essas espécies de plantas estavam relacionadas com o
lugar de origem do conjugue. As pessoas que vieram de Goiás cultivam entre outras espécies
a guariroba, carambola, mexerica, vargem, abobrinha verde, caju; quem veio da região
nordeste plantaram varias espécies características dos seus Estados como: Buriti, babaçu,
bacaba, bacuri, açaí, cupuaçu, coco anão, buritirana, pitomba, seriguela, fava, mandioca.
Esta diversidade de plantas existentes no assentamento demonstra que parte das
famílias mantém a biodiversidade a partir seus habitus reproduzidos no manejo dos recursos
naturais e na reprodução de espécies alimentares e medicinais nos quintais e terreiros e que,
logo, por meio desta prática contribuem para a conservação de variadas espécies de plantas
Nº de espécies de plantas
endêmicas e exóticas no assentamento.
Figura 30. Quantidade de espécies de plantas encontradas nas propriedades com maior e menor área de mata no
Assentamento Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, Tocantins. n=160
As espécies apresentadas na tabela 4 foram identificadas pelos discursos dos
agricultores durante as entrevistas e no momento das exsicatas (Figura 31). Foram
organizadas pelas famílias, espécies e nos ambientes em que encontram.
102
Figura 31: Coleta das plantas endêmicas nas áreas de mata para classificação taxonômica no Assentamento
Nossa Senhora Aparecida, município de Pequizeiro, Tocantins.
Foto: Kamila Soares
103
Tabela 4. Informações gerais sobre a biodiversidade vegetal encontrada no Assentamento
Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n = 160).
FAMÍLIA/ESPÉCIE
Anacardiaceae
Anacardium occidentale
Astronium fraxinifolium
Kielmeyera coriacea
Lafoensia glyptocarpa
Mangifera indica
Spondias mombin
Spondias purpurea
Anonaceae
Annona squamosa
Anona muricata
Apocynaceae
Annoma squamosa
Aracaceae
Acrocomia aculeata
Cocos nucifera
Euterpe oleracea
Mauritia flexuosa
Oenocarpus bacaba
Orbignya phalerata
Araceae
Bidens pilosa
Dieffenbachia amoema
Lactuca sativa
Leucanthemum vulgare
Lychnophora pinaster
Monstera deliciosa
Tagetes minuta
Zinnia elegans
Bignoniaceae
Bixa orellana
Bixaceae
Pithecoctenium crucigerum
Tabebuia aurea
Bombacaceae
Bombax munguba
Ceiba pentandra
Brassicáceae
Brassica oleracea
Burseraceae
Protium heptaphyllum
Protium spruceanum
Trattinnickia burseraefolia
*
1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto
NOME POPULAR
AMBIENTE*
Caju
Gonçalo Alves
Folha Santa
Mirindiba
Manga
Cajá
Seriguela
1,2
3,4
1
3, 4
1,2
1,2
1
Fruta do Conde
Graviola
1
1
Ata Mejú
1
Macaúba
Coqueiro da Bahia
Açaí
Buriti
Bacaba
Babaçu
1
1
2
1,3
1,3,4
1
Picão
Comigo- n- pode
Alface
Margarida
Arnica
Bananeira do mato
Cravo
Moça velha
1
2
2
2
2
1,4
2
2
Urucum
1
Pente-de-macaco
Ipê Amarelo
1
3,4
Munguba
Barriguda
1
1
Couve
2
Amesca Arueira
Amesca Branca
Amesclão
3
3
1
104
Tabela 4. Informações gerais sobre a biodiversidade vegetal encontrada no Assentamento
Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n = 160). (Continuação)
FAMÍLIA/ESPÉCIE
Cacropiaceae
Cecropia catarinensis
Caesalpinaceae
Caesasalpinia echinata
Campsiandra comosa
Couepia uiti
Sclerolobium paniculatum
Caricaceae
Carica papaya
Caryocaraceae
Caryocar brasiliense
Cecropiaceae
Cecropia sp.
Chenopodiaceae
Chenopodium ambrosioides
Chrysobalanaceae
Licania tomentosa
Clusiaceae
Calophyllum brasiliensis
Garcinia madruno
Compositae
Vernonia ferruginea
Vernonia polyanthes
Convolvulaceae
Ipomoea bona-noxa
Operculina macrocarpa
Cucurbitaceae
Cucumis anguria
Cucumis sativus
Cucurbita maschata
Cucurbita pepo
Luffa cylindrica
Dioscoreáceas
Dioscorea alata
Euforbiáceas
Cereus jamacaru
Croton urucurana
Hieronyma sp
Manihot esculenta
Ricinus communis
Sapium sp
*
1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto
NOME POPULAR
AMBIENTE*
Embaúba
1
Pau-Brasil.
Acapu
Pateiro
Cachamorra
3
3
3
3
Mamão Papaia
1
Pequi
Imbaúba
3
Mastruz
1
Oiti
3
Landi
Bacuri
3
1
Assa-peixe branco
Assa peixe
4
1,4
Boa-noite
Batata de purga
2
1
Maxixe
Pepino
Abóbora comum
Abobrinha Verde
Bucha
2
2
2
2
2
Cará de rama
1
Cacto médio
Sangra D’água
Vermelhão
Mandioca cacau
Mamona
Burra leiteira
2
3
3
1
1
1
105
Tabela 4. Informações gerais sobre a biodiversidade vegetal encontrada no Assentamento
Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n = 160). (Continuação)
FAMÍLIA/ESPÉCIE
NOME POPULAR
Fabaceae
Apuleia leiocarpa
Garapa
Bauhinia glabra
Cipó Tripa de galinha
Caesalpinia pulcherrima
Maravilha
Copaifera multifuga
Copaíba
Copaifera langsdorfri
Pau de óleo
Dalbergia spruceana
Jacarandá
Hymenaea courbaril
Jatobá
Inga congesta
Ingá Preto
Inga edulis
Ingá de corda/metro
Phaseolus vulgaris
Feijão de vargem
Tamarindus indica
Tomarino
Gramineae
Guadua paniculata
Taboca
Guttiferae
Caraipa densifolia
Camaçari
Lamiaceae
Melissa officinalis
Erva cidreira
Ocimum basilicum
Alfavaca
Plectranthus barbatus
Boldo
Pogostemum patchouly
Paticholi
Laurácea
Acrodiclidium brasiliense
Louro
Crocus sativus
Açafrão
Persea americana
Abacate de bico
Lecythidaceae
Cariniana estrellensis
Cachimbeiro
Liliacea
Allium schoenoprasum
Cebolinha
Aloe arborescens
Babosa
Lírio orange
Lírio
Sanseviera trifasciata
Espada São Jorge
Lythraceae
Physocalymma sacaberrimum
Cega Machado
Malpighiaceae
Malpighia glabra
Acerola
Malvaceae
Gossypium hirsutum
Algodão Branco
hibiscus esculentus
Quiabo
Meliaceae
Azadirachta indica
NIM
Cabralea sp
Cajarana
Cedrela fissilis
Cedro
Swietenia macrophylla
Mogno
*
1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto
AMBIENTE*
3,4
1,3
2
3
3
3
3,4
4
2
2
1
1,4
4
2
1,2
1
1
3
1
1, 2
3
2
1
1
2
3
2
1
2
1,2
3
1,4
1
106
Tabela 4. Informações gerais sobre a biodiversidade vegetal encontrada no Assentamento
Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n = 160). (Continuação)
FAMÍLIA/ESPÉCIE
Mimosaceae
Anadenanthera macrocarpa
Dinizia excelsa
Mimosa caesalpiniifolia
Mirtáceae
Eucaliptus spp
Eugenia malaccensis
Eugenia uniflora
Myciaria cauliflora
Psidium guajava
Psidium piriferum
Moraceae
Artocarpus intergrifolia
Brosimum gaudichaudii
Brosimum Rubescens
Chlorophora tinctoria
Fícus dendrocida
Ficus spp
Morus sp
Musaceae
Musa spp
Myristicaceae
Virola sebifera
Oleaceae
Olea europaea
Orquidaceae
Cattleya violacea Rolfe
Oxalidaceae
Averrhoa carambola
Palmae
Butia leiospatha
Syagrus oleracea
Passifloraceae
Passiflora edulis
Passiflora quadrangularis
Piperaceae
Piper aduncum
Piper nigrum
Poaceae
Bambusa spp
Cymbopogon densiflorus
Saccharum officinarum
*
1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto
NOME POPULAR
AMBIENTE*
Angico monjolo
Angelim
Sabiá
1
1,3
1
Eucalipto
Jambo Nativo
Pitanga
Jabuticaba
Goiaba branca
Goiaba vermelha
1
3
1
1
1,2
1,2
Jaca
Inharé
Conduru
Moreira
Atraca
Gameleira
Amora
1
3
1
1,3,4
1
1
1
Banana
1
Mucuíba
3
Azeitona
1
Orquídea
1
Carambola
1
Vassoura
Gueroba
1
1,2
Maracujá Perola
Maracujá Grande
1
1
Pimenta de macaco ou
Jaboranti
Pimenta do reino
1
Bambu
Capim santo
Cana-de-açúcar
1
2
1
1
107
Tabela 4. Informações gerais sobre a biodiversidade vegetal encontrada no Assentamento
Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n = 160). (Continuação)
FAMÍLIA/ESPÉCIE
Polypodiaceae
Pteridium aquilinum
Portulacaceae
Portulaca grandiflora
Punicaceae
Punica granatum
Rosaceae
rosa sp.
Rubiaceae
Cinchona calisaya
Coffea canephora
Genipa americana
Rutaceae
Citrus aurantifolia
Citrus aurantifolia
Citrus limonia
Citrus nobilis
Citrus reticulata
Citrus sinensis
Ruta graveolens
Zanthoxylum fagara
Zanthoxylum rhoifolium
Sapindaceae
Talisia esculenta
Sapotaceae
Eugenia lambertiana
Pouteira macrocarpa
Pouteria oblanceolata
Pouteria sp
Simorubaceae
Simoruba spp
Scrophilariaceae
Scoparia dulcis
Solanaceae
Capsicum chinense
Capsicum frutescens
Lycopersicun esculentum
Solanum paniculatum
Solanum gilo
*
1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto
NOME POPULAR
AMBIENTE*
Samambaia
2
Onze - horas
2
Romã
1
Rosa
2
Quina
Café
Jenipapo
1
1
3,4
Lima
Limão galego
Limão china /cravo
Mexerica Pocan
Mexeriquinha
Laranja de enxerto
Arruda
Maminha de porca
grande
Maminha de porca
pequena
1
1
1
1
2
1
2
1,4
Pitomba
1
Goiabinha do Mato
Tuturubá
Tuturebá
Guapeva
3
1
1,3
3
Mata menino
3
Vassourinha
1
Pimenta de Cheiro
Pimenta Malagueta
Tomate
Jurubeba
Jiló
2
2
2
1
2
1
108
Tabela 4. Informações gerais sobre a biodiversidade vegetal encontrada no Assentamento
Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n = 160).
FAMÍLIA/ESPÉCIE
Sterculiaceae
Helicteres sacarrolha
Sterculia apeibophylla
Sterculia sp
Theobroma cação
Theobroma grandiflorum
Umbelliferae
Coriandrum sativum
Verbenaceae
Duranta repens aurea
Stachytarpheta cayennensis
Vitex montevidensis
*
1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto
NOME POPULAR
AMBIENTE*
Rosquinha
Axixá
Chichá
Cacau
Cupuaçu
3,4
4
3
1
1
Coentro
2
Pingo D,ouro
Gervão
Tarumã
2
1
4
Das espécies citadas na tabela acima, segundo a lista Oficial de Espécies da Flora
Ameaçadas de Extinção divulgada pelo Instituto Brasileiro Meio Ambiente e dos Recursos
Renováveis (IBAMA, 1992), apenas o Mogno (Swietenia macrophylla) e Pau-Brasil
(Caesalpinia echinata Lam) constam da lista. A espécie Gonçalo Alves (Pterogyne nitens)
também está protegida por Lei Federal.
109
Tabela 5. Características das espécies vegetais, hábitos de crescimento, utilização, freqüência e origem das espécies encontradas no Assentamento
Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n=160)
HÁBITO
DE
CRESCIMENTO
CONHECIMENTO
SOBRE O USO
Acrocomia aculeata
Aloe arborescens
Palmeira
Herbácea
A/M
M
Anadenanthera macrocarpa
Annona squamosa
Annona squamosa
Anona muricata
Artocarpus intergrifolia
Averrhoa carambola
Bambusa SP
Bidens pilosa
Árvore
Arbusto
Arbusto
Arbusto
Arvore
Arbusto
Arbusto
Herbácea
A/L
A/MA
A
A
A
A
E
M
ESPÉCIE
PARTE DA
PLANTA
UTILIZADA
Quintal
Fruto
Folha
Madeira/flor
Madeira/fruta
Fruta
Fruta
Fruta
Fruto
Raiz, caule
Raiz
USO
MEDICINAL
FREQUENCIA
Caxumba
Gripe, câncer, rins,
hemorróidas
Media
Icterícia, catapora e
hepatite.
Colesterol
Média
Baixa
Baixa
Baixa
Baixa
Baixa
Baixa
Baixa
Bixa orellana
Arbusto
A/M
Semente
Baixa
Bombax munguba
Árvore
E
Arvore
Baixa
Brosimum Rubescens
Árvore
AR/MA
Madeira
Alta
Butia leiospatha
Herbácea
M
Folha
Media
Carica papaya .
Arbusto
A/M
Fruta/folha
Câncer, má digestão.
Alta
Cattleya violacea
Herbácea
OR
Flores
Baixa
Ceiba pentandra
Árvore
MA
Madeira
Baixa
A; Alimentícias, L; Lenha M; Medicinal, MA; Madeireira, OR; Ornamental, E; Ecológica; AR-Artesanato, V- Veneno e F-Folclore.
ORIGEM DA
ESPÉCIE
Vizinho
Fazenda onde
morava/vizinhos
Nativa
Nativa
Vizinhos
Colinas
Vizinho
Vizinho
Vizinho
Nativa
Vizinho
Faz. onde morava
Vizinho
Nativa
Comprou
Casa da Mãe
Nativa
110
Tabela 5. Características das espécies vegetais, hábitos de crescimento, utilização, freqüência e origem das espécies encontradas no Assentamento
Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n=160) (Continuação)
HÁBITO
DE
CRESCIMENTO
CONHECIMENTO
SOBRE O USO
Herbácea
M
Cinchona calisaya
Árvore
MA/M
Madeira/casca
Citrus aurantifolia
Árvore
A/M
Fruta/raiz
Citrus aurantifolia
Árvore
A/M
Fruta/folha
Citrus limonia
Citrus nobilis
Citrus sinensis
Árvore
Árvore
Árvore
A/M
A
A/M
Fruta/folha
Fruta
Fruta/casca/folha
Palmeira
Arbusto
Arbusto
Cipó
Árvore
Árvore
A
A/M
A/M
A
MA/M
A
Fruta
Sementes/folha
Raiz
Batata
Madeira e folha
Fruta
ESPÉCIE
Chenopodium ambrosioides.
Cocos nucifera
Coffea canephora
Crocus sativus
Dioscorea alata
Eucaliptus sp
Eugenia uniflora
PARTE DA
PLANTA
UTILIZADA
Quintal
Folha/sumo
USO MEDICINAL
FREQUENCIA
ORIGEM DA
ESPÉCIE
Infecção/vermes/cic
atrizante de osso do
animal
Inflamações, fígado,
intestino.
Calmante, dor de
cabeça e febre
Gripe,dor de barriga
e calmante
Calmante
Alta
Faz. onde morava
Baixa
Nativa
Baixa
Vizinho
Alta
Vizinho
Alta
Media
Baixa
Vizinho
Comprada
Vizinho
Media
Baixa
Alta
Baixa
Baixa
Baixa
Colinas
vizinho
Vizinhos
Vizinho
Colinas
Qdo comprou a terra
já tinha plantado
Gripe, má
digestão/febre
Congesta/sinusite
Infecção de garganta
Gripe e laxante
A; Alimentícias, L; Lenha M; Medicinal, MA; Madeireira, OR; Ornamental, E; Ecológica; AR-Artesanato, V- Veneno e F-Folclore.
111
Tabela 5. Características das espécies vegetais, hábitos de crescimento, utilização, freqüência e origem das espécies encontradas no Assentamento
Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n=160) (Continuação)
HÁBITO
DE
CRESCIMENTO
CONHECIMENTO
SOBRE O USO
Fícus dendrocida
Cipó
R
Quintal
Leite
Ficus sp
Garcinia madruno
Árvore
Palmeira
E
A/M
Arvore
Fruta/caroço
Gossypium hirsutum
Kielmeyera coriacea
Lírio orange pixie
Manihot esculenta
Arbusto
Arbusto
Herbácea
Arbusto
M
M
OR
A
Mimosa caesalpiniifolia
Morus sp
Musa sp
Myciaria cauliflora
Olea europaea
Operculina macrocarpa
Árvore
Arbusto
Arbusto
Arbusto
Árvore
Herbácea
A/MA
A
A
A/M
A/M
M
Folha/semente
Folha
Flor
Folha/rama
/caule e raiz
Madeira/flores
Fruta
Fruta
Fruta/folha
Fruto
Raiz
Orbignya phalerata
Palmeira
A/MA/AR
Passiflora edulis
Passiflora quadrangularis
Piper aduncum
Piper nigrum
Plectranthus barbatus
Arbusto
Arbusto
Arbusto
Cipó
Arbusto
A
A
A/M
A/M
M
ESPÉCIE
PARTE DA
PLANTA
UTILIZADA
Fruta/madeira/
Folha/fibra /óleo
Fruta
Fruta
Fruto
Fruto
Folha
USO
MEDICINAL
FREQUENCIA
ORIGEM DA
ESPÉCIE
Visgo para pegar
passarinho
Baixa
Nativa
Alta
Baixa
Nativa
Maranhão
Media
Media
Baixa
Alta
Faz. onde morava
Vizinho
Vizinha
Vizinho e onde
morava
Nativa
Vizinho
Vizinho
Vizinho, parentes
Pneumonia, gripe,
ferimento externo
Infecção e gripe
Inflamações
Gripe
Baixa
Baixa
Alta
Baixa
Baixa
Baixa
Laxante
Media
Pressão alta
Media
Baixa
Baixa
Media
Alta
Garganta inflamada
Gripe
Fígado e má
digestão
A; Alimentícias, L; Lenha M; Medicinal, MA; Madeireira, OR; Ornamental, E; Ecológica; AR-Artesanato, V- Veneno e F-Folclore.
Fazenda onde
morava/ Colinas
Fazenda onde
morava
Vizinho/Colinas
Vizinho
Nativa
Parente, Pará
Vizinho
112
Tabela 5. Características das espécies vegetais, hábitos de crescimento, utilização, freqüência e origem das espécies encontradas no Assentamento
Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n=160) (Continuação)
HÁBITO
DE
CRESCIMENTO
CONHECIMENTO
SOBRE O USO
Pogostemum patchouly
Portulaca grandiflora
Pouteira macrocarpa
Punica granatum
Ricinus communis
Arbusto
Herbácea
Árvore
Arbusto
Arbusto
R
OR
A
M
M
Saccharum officinarum
Sapium sp
Scoparia dulcis
Solanum paniculatum
Spondias purpúrea
Stachytarpheta cayennensis
Swietenia macrophylla
Talisia esculenta
Tamarindus indica
Theobroma cação
Arbusto
Árvore
Herbácea
Arbusto
Árvore
Arbusto
Árvore
Árvore
Árvore
Arbusto
A
A/M/L/MA
M
A/M
A
M
MA/M
A
A/M
A
ESPÉCIE
PARTE DA
PLANTA
UTILIZADA
Quintal
Sementes
Flor
Fruta
Casca
Semente/óleo/
Folha
Caldo
Flor/leite/Madeira
Folha
Fruta
Fruta
Raiz
Madeira/flores
Fruta
Fruta/folha
Fruta
USO MEDICINAL
FREQUENCIA
ORIGEM DA
ESPÉCIE
Infecção de garganta
Laxante
Baixa
Baixa
Pouca
Baixa
Baixa
Vizinho
Vizinha
Nativa
Mato grosso
Vizinho
Alta
Media
Muito
Alta
Baixa
Alta
Media
Baixa
Media
Baixa
Vizinho
Nativa
Nativa
Itapira
Vizinho
Nativa
Comprada
Maranhão
Colinas
Gastrite
Fígado
Gripe
Theobroma grandiflorum
Árvore
A
Fruta
Baixa
Trattinnickia burseraefolia .
Árvore
E
Madeira, folhas
Baixa
Vernonia Polyanthes
Arbusto
M
Folha
Gripe
Alta
Zanthoxylum rhoifolium .
Árvore
MA/C
Madeira
Media
Zanthoxylum rhoifolium
Árvore
MA/C
Madeira
Media
A; Alimentícias, L; Lenha M; Medicinal, MA; Madeireira, OR; Ornamental, E; Ecológica; AR-Artesanato, V- Veneno e F-Folclore.
Fazenda que
morava
Colinas
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
113
Tabela 5. Características das espécies vegetais, hábitos de crescimento, utilização, freqüência e origem das espécies encontradas no Assentamento
Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n=160) (Continuação)
HÁBITO
DE
CRESCIMENTO
CONHECIMENT
O SOBRE O USO
Allium schoenoprasum
Brassica oleracea
Caesalpinea pulcherrima
Capsicum chinense
Capsicum frutescens
Cereus jamacaru
Citrus reticulata
Coriandrum sativum
Cucumis anguria
Cucumis sativus
Cucurbita maschata
Cucurbita pepo
Cymbopogon densiflorus
Herbácea
Herbácea
Arbusto
Arbusto
Arbusto
Arbustos
Arvore
Herbácea
Cipó
Cipó
Cipó
Cipó
Gramínea
A
A
OR/E
A/M
A
OR
A
A
A
A
A
A
M
Dieffenbachia amoema
Duranta repens aurea
Euterpe oleracea
Hibiscus esculentus
Inga edulis
Ipomoea bona-noxa
Lactuca sativa
Leucanthemum vulgare
Luffa cylindrica
Herbácea
Arbusto
Palmeira
Arbusto
Arvore
Arbusto
Herbácea
Hebárcea
Cipó
OR/R
OR
A
A
A
OR
A
OR
E
ESPÉCIE
PARTE DA
PLANTA
UTILIZADA
Terreiro
Folha
Folha
Flor/caule/raiz
Fruto/folha
Fruto /folha
Folha
Fruta
Folha
Fruto
Fruto
Fruto
Fruto
Folha/raiz
Folhas
Folhas
Fruta
Fruto
Fruta
Flor
Folha
Flor
Fruto
USO
MEDICINAL
Evita raios
Erisipela
Erisipela
Calmante, gripe, má
digestão, queda de
cabelo.
Contra mal olhado
FREQUENCIA
ORIGEM DA
ESPÉCIE
Media
Media
Baixa
Alta
Alta
Baixa
Media
Media
Médio
Baixa
Pouca
Pouca
Alta
Comprada
Comprada
Vizinha
Palmas e vizinhos
Vizinho
Colinas
Comprada
Comprada
Comprada
Comprada
Vizinho
Comprada
Vizinho, faz.que
morava
Alta
Baixa
Baixa
Médio
Alta
Baixa
Media
Baixa
Baixa
Casa da mãe
Vizinho
Curso de formação
Comprada
Vizinho
Vizinha
Comprada
Vizinho
Nativa
A; Alimentícias, L; Lenha M; Medicinal, MA; Madeireira, OR; Ornamental, E; Ecológica; AR-Artesanato, V- Veneno e F-Folclore.
114
Tabela 5. Características das espécies vegetais, hábitos de crescimento, utilização, freqüência e origem das espécies encontradas no Assentamento
Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n=160) (Continuação)
HÁBITO
DE
CRESCIMENTO
CONHECIMENTO
SOBRE O USO
Lychnophora pinaster
Lycopersicun esculentum
Malpighia glabra
Melissa officinalis
Herbáceas
Herbáceas
Arbusto
Hebárcea
M
A
A/M
M
Sumo
Fruto
Fruta
Folha
Phaseolus vulgaris
Portulaca grandiflora
Pteridium aquilinum
rosa sp.
Ruta graveolens
Sansevieria trifasciata
Solanum gilo
Tagetes minuta.
Zinnia elegans
Cipó
Herbácea
Herbácea
Arbusto
Arbusto
Herbácea
Arbusto
Herbácea
Arbusto
A
OR
OR
OR
M
OR
A
OR/R
OR
Acrodiclidium brasiliense
Brosimum gaudichaudii
Arvore
Arvore
MA
M/L
Vargem
Flor
Folhas
Flor
Folha e sumo
Folha
Fruto
Flor
Flor
Mata
Madeira
Leite/casca/madeira
Cabralea sp
Caesasalpinia echinata
Arvore
Arvore
MA
MA/M
Madeira
Madeira/Leite
ESPÉCIE
PARTE DA PLANTA
UTILIZADA
USO MEDICINAL
FREQUENCIA
ORIGEM DA
ESPÉCIE
Dor e machucado
Baixa
Baixa
Alta
Alta
Faz onde morava
Comprado
Vizinho
Vizinha
Media
Baixa
Baixa
Baixa
Baixa
Media
Media
Baixa
Baixa
Vizinha
Vizinha
Itaporã
Vizinha
Vizinho
Terreiro
Gripe
Dor de cabeça, gripe,
calmante e queda de
cabelo.
Dor de cabeça e cólica
Contra mal olhado
Vizinho
Vizinha
Vizinha
Baixa
Média
Nativa
Nativa
Baixa
Baixa
Nativa
Nativa
Calophyllum brasiliensis
Arvore
C
Madeira
Media
A; Alimentícias, L; Lenha M; Medicinal, MA; Madeireira, OR; Ornamental, E; Ecológica; AR-Artesanato, V- Veneno e F-Folclore.
Nativa
Antibiótico,
depurativo p/sangue
Bronquite/madeira de
Lei
115
Tabela 5. Características das espécies vegetais, hábitos de crescimento, utilização, freqüência e origem das espécies encontradas no Assentamento
Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n=160) (Continuação)
HÁBITO
DE
CRESCIMENTO
CONHECIMENT
O SOBRE O USO
Campsiandra comosa
Cariniana estrellensis
Cecropia sp.
Copaifera multifuga
Arvore
Arvore
Arvore
Arvore
C/A
C
M/C/A
C/M/A
Mata
Madeira/flor
Madeira
Madeira/água/fruto
Madeira/óleo/fruto
Copaifera sp.
Couepia uiti
Croton urucurana.
Dalbergia spruceana
Eugenia lambertiana
Eugenia malaccensis
Hieronyma sp
Licania tomentosa
Physocalymma sacaberrimum
Pouteria sp
Protium heptaphyllum
Protium spruceanum
Sderobium paniculatum
Simoruba sp
Sterculia sp
Virola sebifera
Arvore
Arvore
Arvore
Arvore
Arvore
Arvore
Arvore
Arvore
Arvore
Arvore
Arvore
Arvore
Arvore
Arvore
Arvore
Arvore
MA
A/L
C/A
MA
A
A/L
C/A
MA/L
MA/A
A/L
MA
M/L
MA/L
A
MA/F
M
Madeira
Flor/fruto/madeira
Madeira/flor
Madeira
Fruto
Fruto/Madeira
Madeira/flor
Madeira
Madeira/flor
Madeira/flor/fruta
Madeira
Madeira
Madeira
Flor
Madeira/ fruto
Leite
ESPÉCIE
PARTE DA
PLANTA
UTILIZADA
USO MEDICINAL
Rins, gastrite
Câncer, sinusite,
infecções de rins,
cicatrizante.
Madeira de Lei
Sinusite
FREQUENCI
A
ORIGEM DA
ESPÉCIE
Baixa
Alta
Alta
Baixa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Baixa
Baixa
Alta
Baixa
Baixa
Alto
Alta
Alta
Baixa
Media
Baixa
Alta
Alta
Baixa
Média
Alta
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Estimulante sexual
Gastrite, câncer e
coluna
A; Alimentícias, L; Lenha M; Medicinal, MA; Madeireira, OR; Ornamental, E; Ecológica; AR-Artesanato, V- Veneno e F-Folclore.
116
Tabela 5. Características das espécies vegetais, hábitos de crescimento, utilização, freqüência e origem das espécies encontradas no Assentamento
Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n=160) (Continuação)
ESPÉCIE
HÁBITO
DE
CRESCIMENTO
CONHECIMENTO
SOBRE O USO
PARTE DA PLANTA
UTILIZADA
USO MEDICINAL
FREQUEN ORIGEM DA
CIA
ESPÉCIE
Pasto
Caraipa densifolia
Ingá congesta
Pithecoctenium crucigerum
Sterculia apeibophylla
Vernonia ferruginea
Vitex montevidensis
Arvore
Arvore
Arvore
A/C
A
E
Madeira/flor
Fruta/flor
Madeira/flor
Arbusto
Arvore
A/M
A/MA
Anacardium occidentale
Arvore
Azadirachta indica
Arvore
Mangifera indica
Ocimum basilicum
Persea americana
Arvore
Herbácea
Arvore
A/M
A/M
A/M
Fruta/folha
Folha /semente
Fruta, caroço
Psidium guajava
Árvore
A/M
Fruto/casca/broto
Psidium piriferum
Árvore
A/M
Fruto/casca/broto
Flor/folha
Madeira/fruto
Quintal e Terreiro
A/M
Fruta/castanha
/flor/casca
E/V/M
Folha
Alta
Baixa
Baixa
Nativa
Nativa
Nativa
Tosse, bronquite
Baixa
Baixa
Nativa
Nativa
Diarréia e infecção
Alta
Vizinhos
Câncer de pele e
inseticida
Gripe
Baixa
Doação do
Técnico
Vizinho
Infecção rins
Vomito, diarréia,
câncer, bexiga solta.
Vomito diarréia,
câncer, bexiga solta.
Alta
Média
Pouca
Alta
Alta
Spondias mombin
Arvore
A
Fruta/flor
Media
Syagrus oleracea
Palmeira
A
Palmito/coco
Alta
Alimentícias, L; Lenha M; Medicinal, MA; Madeireira, OR; Ornamental, E; Ecológica; AR-Artesanato, V- Veneno e F-Folclore.
Faz. onde
morava
Colinas,
vizinho
Colinas,
vizinho
Nativa
Vizinho
A;
117
Tabela 5. Características das espécies vegetais, hábitos de crescimento, utilização, freqüência e origem das espécies encontradas no Assentamento
Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. (n=160) (Conclusão)
ESPÉCIE
Apuleia sp
Astronium fraxinifolium
Genipa americana
Helicteres sacarrolha
Hymenaea courbaril
Lafoensia glyptocarpa
Tabebuia aurea
HÁBITO
DE
CRESCIMENTO
Árvore
Árvore
Árvore
Árvore
Árvore
Árvore
Árvore
Chlorophora tinctoria
Oenocarpus bacaba
Árvore
Palmeira
Bauhinia glabra
Arbusto
Cecropia catarinensis
Dinizia excelsa
Mauritia flexuosa
Árvore
Árvore
Palmeira
CONHECIMENTO
SOBRE O USO
PARTE DA
PLANTA
UTILIZADA
Mata e Pasto
MA/L
Madeira
MA
Madeira
A/B/M
Fruto/flor/folha
MA/L/A
Madeira/flor
MA/L/M/A
Madeira/fruto
MA/A
Madeira/flor
C/A
Madeira/flor
Quintal ,Mata e Pasto
MA/M
Madeira/leite
A
Fruto
Quintal e Mata
M/AR
Caule
A/M
A/MA
A/M/E
FREQUENCIA
ORIGEM DA
ESPÉCIE
Média
Média
Media
Media
Baixa
Média
Media
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Dor de dente
Baixa
Alta
Nativa
Nativa
Dor de barriga,
rins e coluna.
Rins e infecção
Madeira de Lei
Gastrite, infecção
e veneno de cobra
Alta
Nativo
Baixa
Baixa
Baixa
Nativa
Nativa
Fazenda onde
morava
Rins
Anemia
Madeira de Lei
Fruta
Baixa
Quintal e Pasto
Cedrela fissilis
Árvore
MA/R
Madeira/casca
Tirar mal olhado
Baixa
Guadua paniculata
Arbusto
AR
Fibra
Media
Monstera deliciosa
Arbusto
C
Folha
Alta
Vernonia Polyanthes
Arbusto
A/M
Flor/folha
Tosse, bronquite
Alta
Zanthoxylum fagara
Árvore
MA/C
Madeira
Media
A; Alimentícias, L; Lenha M; Medicinal, MA; Madeireira, OR; Ornamental, E; Ecológica; AR-Artesanato, V- Veneno e F-Folclore.
Pouteria oblanceolata
Árvore
A/R
Raiz/broto/fruto
Madeira/flor
Fruto/óleo/raízes
USO
MEDICINAL
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Nativa
Das 160 espécies mencionadas, 27 espécies se repetem em mais de um ambiente,
sendo 11 espécies frutíferas, (quintal, terreiro e pasto), 7 são madeireiras (mata e Pasto) e 3
utilizadas para fabricações de pequenas instalações, 6 são utilizadas para remédios e outros
fins (quintal, mata e pasto).
Na diversidade de espécies encontradas, a categoria que mais se destaca é a de
alimento. As espécies que aparecem com maior freqüência são mandiocas (Manihot
esculenta) com as variedades cacau e pão; banana (Musa sp.,) pacovan, marmelo; acerola
(Malpighia glabra L) abóbora (Cucurbita maxima); abacate (Persea americana Mill.) das
variedade de bico, kilo e roxo; caju (Anacardium occidentale); cana (Saccharum spp), as
variedade cana-de-açucar e caiana; limão (Citrus aurantifolia) das variedades galego e china;
mamão (Carica papaya) da variedade papaya; a manga (Mangifera indica) das variedades de
cheiro e de mesa; guariroba (Syagrus oleracea Becc); goiaba (Psidium guayaba L.) das
variedades vermelha e branca.
No assentamento ocorre um processo de socialização de saberes bastante
significativo, pois das 97 espécies que foram plantadas, maiorias 47 % das sementes ou
mudas, foram trazidas das propriedades dos vizinhos, a maior parte destas, 74% também são
de alimentação, 14 % são plantas medicinais e 12 % ornamentais. Estes dados confirmam a
idéia de que, devido às necessidades materiais e de gosto estéticos das famílias, muitas
sementes e mudas circulam no assentamento, e junto com elas, vem também os saberes que os
agricultores/as possuem que se multiplicam através das inter-relações no cotidiano do
assentamento, deste modo, as famílias mantêm viva um fluxo de informações e troca de
conhecimentos sobre ambiente.
As espécies medicinais que foram encontradas com maior freqüência foram: A)
Plantas Domésticas- Erva cidreira (Melissa officinalis L.) e capim santo (Cymbopogon
citratus D.C. Stapf ) – servem para dor de cabeça, gripe, calmante e queda de cabelo; Mastruz
(Chenopodium ambrosioides L)- Infecção, vermes e cicatrizante e Boldo (Peamus boldus) –
Fígado e Má digestão. Temos também as plantas alimentícias, que muitas delas também são
utilizadas como remédios para vários tipos de doenças como é o caso das plantas citadas
acima como: Abacate - infecção de rins; Açafrão (Crocus sativus L) – Infecção de garganta;
Acerola-gripe; Caju- diarréia e antibiótico; Goiaba- vomito diarréia, bexiga solta, prisão de
urina e câncer; Limão- Calmante, gripe, dor de barriga; Mamão - Câncer e digestão;
Mandioca- aumentar o cálcio dos ossos; Manga-Gripe, inflamação; Guariroba- problemas no
fígado; Pimenta ( )- erisipela. B) Plantas Nativas- Assa Peixe (Vernonia ferruginea Less )gripe, bronquite; Cipó Tripa de Galinha (Bauhinia glabra)- dor de barriga, rins e coluna;
Gervão (Bauhinia glavra)- Stachytarpheta cayennensis (Rich.) Vahl)- gripe; Amesca Branca
(Protium spruceanum)- Sinusite; Imbaúba (Cecropi palmata )- rins, gastrite; Mucuiba
(Diospyros hispida)- Câncer, gastrite e coluna; Sangra D´agua (Croton salutaris Muell gastrite e infecção.
Observa-se que os homens possuem maiores conhecimentos medicinais das espécies
nativas, devido às praticas cotidianas do trabalho masculino estar relacionadas com a
diversidade de unidades de paisagem como o manejo do gado no pasto, nas atividades de
reparo e fabricação de cabos para as ferramentas de trabalho onde precisam retirar a madeira
da mata, no manejo das roças e quintais. As mulheres conhecem mais as plantas medicinais de
uso doméstico ou alimentar, pois são plantas cultivadas nos terreiros, hortas e também nos
quintais onde normalmente ocorre o trabalho feminino.
4.3.3 As Espécies de Fauna: Diversidade
A presença de ocorrência de fauna silvestre no Projeto de Assentamento Nossa
Senhora Aparecida acontece de forma bastante variada, apresentando um grande número de
espécies nativas da região norte do país nas áreas de mata, nos pasto e principalmente nos
quintais. Foi identificada uma maior diversidade de espécies animal nas propriedades onde
ainda possuem fragmentos de mata, sendo: 23 mamíferos, sendo 48 espécies de aves, 10
répteis e 25 espécies de peixe, perfazendo um total de 106 espécies. Nas propriedades onde
Nº de espécies da Fauna
não possuem mais mata só identificamos 52 espécies (figura 32).
Figura 32. Quantidade de espécies faunísticas nas propriedades com maior e menor área de mata encontradas
no Assentamento Nossa Senhora Aparecida. Pequizeiro, Tocantins, n= 106
De acordo com a Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de
Extinção (Portaria nº 1.522 de 19/12/1989) do IBAMA, alguns os animais que foram
encontrados no assentamento representados na tabela abaixo estão ameaçados de extinção
como: Macaco prego (Cebus apella), Tatu canastra (Priodontes maximus), Rolinha
(Scardafella squammata), Jacu (Penelope ochrogaster), Lontra (Lutra longicaldis), Jaó
(Crypturellus noctivagus).
Na diversidade de espécies encontradas, as que mais se destacam em termos de
maior freqüência em relação aos mamíferos são: macacos guariba (Alouata caraya) e prego
(Cebus apella), os Tatus peba (Euphractus sexcintus) e china (Dasypus septemcinctus), Cutia
(Dasyprocta a. azarae), Capivara (Hydrochoerus hydrocaeris)e o Quati (Nasua nasua).
As aves silvestres ainda estão em ambudância no assentamento, sendo que as
espécies que aparecem com maior freqüência são: pato bravo (Cairina moschata), Garça
branca (Egretta thula), Jaburu (Jabiru mycteria), Gavião Cinza (Ciraus cinereus), Inhuma
(Anhima cornuta), Urubu (Coragypus atratus),Teteu (Vanellus chilensis), Juriti( Leototila
verreauxi,), Rolinha (Scardafella squammata, Jacu (Penelope ochrogaster, Anus branco
(Guira guira) e preto (Crotophaga ani), Carcará (Polyborus plancus, Perdiz (Rhynchotus
rufescens), Pássaro preto (Gnorimopsar chopi ), Jacu cigano (Opisthocomus hoazin), Curica
(Amazona amazônica), Arara azul (Anodorhynchus hyacinthinus) e Arara do peito amarelo
(Ara ararauna), Periquitos (Arantinga áurea), Periquito reino (Aratinga áurea), comum
(Aratinga auricapilla), rabudo (Brotogeris tirica) e Jandaia (Aratinga sp.), Curiatã (Euphonia
violacia), as Pipiras azul (Cyanicterus cyanicterus) e Parda (Lanio fulvus), Inhambu Pé roxo
(Crypturellus tataupa) e passáro Peito de aço/ Biscateiro (Lipaugus vociferans).
Dos répteis, os que foram identificados como mais freqüentes são: Cobra cipó
(Chironius bicarinatus), Falsa-cipó (Erythrolamprus aesculapii), Cobra coral (Micrurus
lemniscatus), Jararaca (Bothrops jararaca), Jibóia (Boa constrictor), Sucuri (Eunectes
murinus), Jaracuçu do brejo (Mastigodryas bifossatus).
Na ictiofauna, das 25 espécies encontradas, 50 % destas ainda são encontradas com
freqüência como: Piaus (Anostomoides laticeps), branco (Schizodon knerii), Pacu (Piaractus
mesopotamicus), Piranha (Serrasulmus sp.), Papa terra (Satanoperca pappaterra ), Piaba
(Anchoviella vaillanti), Tucunaré (Cichla ocellaris), Sardinha (Sardinella brasiliensis), Traíra
(Hoplias malabaricus), Chorão (Pimelodella sp.), Lobó(bagri) (Rhamdia quelen ), Lampreía
(Lampetra fluviatilis), Arraia (Lampetra fluviatilis) e o Cará (Cichlaurus facetus).
As famílias raramente caçam alguma espécie para alimentação, pois, sentem-se
inibidas de caçar, por causa do artigo 11, da Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que
define crime ambiental sujeito as sanções legais para quem matar perseguir, caçar, apanhar,
utilizar espécimes da fauna silvestre. Quando o fazem, caçam mamíferos e pescam para a
diversificação protéica da alimentação das famílias como: Capivara (Hydrochoerus
hydrocaeris), Paca (Agouti paca), Tatu peba (Euphractus sexcintus) e Tatu galinha (Dasypus
novemcinctus) e pescam espécies como Papa-terra (Satanoperca pappaterra), Piau
(Anostomoides laticeps), Piau branco (Schizodon knerii), Piau flamengo (Leporinus
fasciatus), Pintado (Pseudoplatystoma corruscans), Traíra (Hoplias malabaricus) e Tucunaré
(Cichla ocellaris). A pesca é artesanal e são utilizados anzóis e tarrafa.
Portanto, podemos observar que, seja por causa da coerção da lei ou devido maior
consciência ambiental, a população local presta um serviço importante para a conservação da
biodiversidade preservando estas diversidades de espécies faunísticas, principalmente as que
estão ameaçadas de extinção.
Tabela 6. Informações gerais sobre a biodiversidade da fauna silvestre encontrada no
Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. n = 106
FAMÍLIA/ESPÉCIE
Agoutidae
Agouti paca
Bradipodideae
Bradypus tridatylus
Canidae
Cerdocyon thous
Caviidae
Galea spixii
Cebidae
Alouata caraya
Cebus apella
Mazama americana
NOME POPULAR
MAMÍFEROS
AMBIENTE *
FREQÜÊNCIA
Paca
3
Media
Preguiça
3
Pouca
Raposa
3,4
Media
Preá
Macaco guariba
Macaco prego
Veado mateiro
Media
3
3
Alta
Alta
Pouco
Mazama gouazoubira
Saguinus midas midas
Veado catingueiro
Macaco mão-de-ouro
3
3
Médio
Media
1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto, 5; Roça, 6; Córrego, 7: Brejo.
Tabela 6. Informações gerais sobre a biodiversidade da fauna silvestre encontrada no
Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. n = 106
(Continuação)
FAMÍLIA/ESPÉCIE
Dasypodidae
Dasyprocta a. azarae
Dasypus novemcinctus
Dasypus septemcinctus
Euphractus sexcintus
Priodontes maximus
Tolypeutes matacus
Hydrochaeridae
Hydrochoerus hydrocaeris
Mustelidae
Lutra longicaldis
Mymercophagidae
Mymercophaga tridactyla
Tamandua tetradactyla
Procyonidae
Nasua nasua
Procyon cancrivorous
Tapiridae
Tapirus terrestris
Tayassuidae
Pecari tajacu
Anatidae
Anas sp
Cairina moschata
Ardeidae
Butorides striata
Egretta thula
Ciconiidae
Jabiru mycteria
Rallidae
Gallinula chloropus
Rallus maculatus
NOME POPULAR
AMBIENTE *
FREQÜÊNCIA
Cutia
Tatu galinha /verdadeiro
Tatu china
Tatu peba
Tatu canastra
Tatu bola
1,3,6
3, 4
4
4
4
4
Alta
Baixa
Alta
Alta
Baixa
Baixa
Capivara
3
Alta
Lontra
3
Mambira/ Tamanduá
Bandeira
Tamanduá mirin
3,4
Média
3,4
Baixa
Quati
Guaxinim
3
3,4
Alta
Anta
3,4
Media
3
Media
Marreco
Pato bravo
5,7
5,7
Media
Alta
Socozinho
Garça branca
4
Baixa
Alta
Jaburu
4,7
Alta
Galinha D’agua
Saracura
3,7
3,7
Media
Media
Caititu
AVES AQUÁTICAS
1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto, 5; Roça, 6; Córrego, 7: Brejo.
Tabela 6. Informações gerais sobre a biodiversidade da fauna silvestre encontrada no
Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. n = 106
(Continuação)
FAMÍLIA/ESPÉCIE
NOME POPULAR
AMBIENTE *
Accipitridae
Circus cinereus
Gavião cinza
1
Anhimidae
Anhima cornuta
Inhuma
3, 7
Cariamidae
Cariama cristola
Seriema
4
Cathartidae
Coragypus atratus
Urubu comum
4
Charadriidae
Vanellus chilensis
Teteu
4
Columbidae
Leototila verreauxi
Juriti
4
Scardafella squammata
Rolinha
4
Zenaida auriculata
Pomba do bando
4
Cracidae
Crax fasciolata
Mutum
1,3
Penelope ochrogaster
Jacu
3,7
Cuculidae
Crotophaga ani
Anu preto
1,2,3
Guira guira
Anu Branco
1,2,3
Falconidae
Polyborus plancus
Carcará
1
Fringillidae
Oryzoborus angolensis
Curió
2,3 e 7
Furnaridae
Furnarius rufus
João de Barro
4
Glareolidae
Rhynchotus rufescens
Perdiz
4
Icteridae
Cacicus haemorrhous
Guaxe
3
Gnorimopsar chopi
Pássaro preto
1,3, 4
Opisthocomidae
Opisthocomus hoazin
Jacu cigano
3,7
Ploceidae
Passer domesticus
Pardal
1,3,4
1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto, 5; Roça, 6; Córrego, 7: Brejo.
FREQÜÊNCIA
Alta
Alta
Baixa
Alta
Alta
Alta
Alta
Media
Baixa
Alta
Alta
Alta
Alta
Médio
Pouco
Alta
Baixa
Alta
Alta
Médio
Tabela 6. Informações gerais sobre a biodiversidade da fauna silvestre encontrada no
Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. n = 106
(Continuação)
FAMÍLIA/ESPÉCIE
Psittacidae
Amazona aestiva
Amazona amazonica
Amazona dufresniana
Anodorhynchus hyacinthinus),
Ara ararauna
Arantinga áurea
Aratinga aurea
Aratinga auricapilla
Aratinga sp.
Brotogeris tirica
Ramphastidae
Ramphastos vitellinus
Rheidae
Rhea americana
Thraupidae
Cyanicterus cyanicterus
Euphonia violacia
Lanio fulvus
Tinamidae
Crypturellus noctivagus
Crypturellus tataupa
Lipaugus vociferans
Taoniscus nanus
Trochilidae
Amazilia sp.
Tyrannidae
Pitangus sulphuratus
NOME POPULAR
AMBIENTE *
AVES TERRESTRES
FREQÜÊNCIA
Papagaio verdadeiro
Curica
Papagaio azul
Arara Azul
Arara do peito Amarelo
Periquito
Periquito reino
Periquito comum
Jandaia
Periquito rabudo
1,4
1
1
3,7
3,7
1,3,4,5
1,3,4,5
1,3,4,5
1,3,4,5
1,3,4,5
Médio
Alta
Baixa
Alta
Alta
Alta
Alta
Alta
Alta
Alta
Tucano papo amarelo
1,4
Baixa
Ema
4
Baixa
Pipira azul
Curiatã
Pipira parda
1,4
1,3,4 e 5
1,4
Alta
Alta
Alta
Jaó
Inhambu Pé roxo
Peito de aço/ biscateiro
Inhambu-carapé
3
3
1,4
3,4
Baixa
Alta
Alta
Media
Beija-flor
1,4
Media
1,4
Media
Bem-te-vi
RÉPTEIS TERRESTRES
Colubridae
Chironius bicarinatus
Cobra cipó
3,4
Erythrolamprus aesculapii
Falsa-coral
3,4
Elapidae
Micrurus lemniscatus
Cobra coral
3,4
Testudinidae
Gerochelone carbonaria
Jaboti
3
Viperidae
Bothrops jararaca
Jararaca
3,4
Crotalus durissus
Cascavel
4
1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto, 5; Roça, 6; Córrego, 7: Brejo.
Alta
Alta
Alta
Baixa
Alta
Media
FAMÍLIA/ESPÉCIE
NOME POPULAR
AMBIENTE *
FREQUÊNCIA
REPTÉIS AQUÁTICOS
Alligatoridae
Caiman latirostris
Boidae
Boa constrictor
Eunectes murinus
Colubridae
Mastigodryas bifossatus
Ageneiosidae
Ageneiosus sp
Anostomidae
Anostomoides laticeps
Leporinus fasciatus
Schizodon knerii
Bryconinae
Brycon insignes
Characidae
Astyanax shubartii
Brycon hilarii
Piaractus mesopotamicus
Serrasulmus sp.
Cichlidae
Anchoviella vaillanti
Cichla ocellaris
Satanoperca pappaterra
Clupeidae
Sardinella brasiliensis
Ctenoluciidae
Boulengerella spp
Cynodontidae
Acestrorhynchus lacustris
Erythrynidae
Hoplias malabaricus
Heptapteridae
Pimelodella sp.
Rhamdia quelen
Petromyzontidae
Lampetra fluviatilis
Pheraposidae
Electrophorus eletricus
Pimelodidae
Paulicea lutkeni
Pimelodus heraldoi
Pseudoplatystoma corruscans
Potamotrygonidae
Potamotrygon sp.
Rivulariaceae
Cichlaurus facetus
Jacaré papo-amarelo
6,7
Media
Jibóia
Sucuri
3,4
3,6
Alta
Alta
Jaracuçu do brejo
PEIXES
3,4,6
Alta
Fidalgo
6
Baixa
Piau
Piau flamengo
Piau branco
6
6
6
Alta
Baixa
Alta
Piabanha
6
Baixa
Lambari
Matrichãn
Pacu
Piranha
6
6
6
6
Média
Baixa
Alta
Alta
Piaba
Tucunaré
Papa terra
6
6
6
Alta
Alta
Alta
Sardinha
6
Alta
Bicuda
6
Baixa
Cachorra
6
Média
Traíra
6
Alta
Chorão
Lobo (Bagri)
6
6
Alta
Alta
Lampreia
6
Média
Piraquê (peixe elétrico)
6
Alta
Jaú
Mandi
Pintado
6
6
6
Baixa
Baixa
Média
Arraia
6
Alta
Cará
6
Alta
Tabela 6. Informações gerais sobre a biodiversidade da fauna silvestre encontrada no
Assentamento Nossa Senhora de Aparecida, município de Pequizeiro, TO. n = 106
*
1, Quintais; 2, Terreiro; 3, Mata; 4, Pasto, 5; Roça, 6; Córrego, 7: Brejo.
Nota-se que há um saber empírico dos agricultores familiares sobre as interações dos
sistemas, acumulado pela observação dos processos naturais que ocorrem no cotidiano do
assentamento. Como, por exemplo, o conhecimento sobre varias espécies de frutos que
servem de alimentação para animais ou que são observados para facilitar a caça e a pesca, á
exemplos do pé de paqueiro e da atraca, que serve como local de “espera” da paca, ou então,
as frutas do tuturubá que local de comida para tatu, cutia e anta. Como também os
conhecimentos do tipo de sementes mais apreciadas por determinados peixes como: semente
do pateiro que é muito consumida pelo o Pacu. Enfim, estes agricultores aprenderam a
entender o ambiente a partir da observação ou através das experiências vivenciadas nos
assentamento. Como afirmar Sr P.A.J, 48 anos, aprendeu observado a natureza (...) comecei
a observar onde as abelhas mais gostavam de posar e percebi que elas ficavam muito nas
flores do assa-peixe e da rosquinha.
Percebe-se que este saber empírico foi o meio utilizado pelos agricultores nestes anos
para se orientar no mundo, no meio em que vive. O homem procura sempre explicar os
fenômenos que o cercam, buscando coerência e lógica na cultura ou ainda na sua “visão de
mundo”. Conforme enfatizou Levi-Strauss apud Laraia, (2005, p. 88) “o sábio nunca dialoga
com a natureza pura, senão com um determinado estado de relação entre a natureza e a
cultura, defendida por ( ..) meios materiais de que dispõe.
A cultura, portanto, é um dos meios materiais que as populações rurais utilizam para
tirar as suas conclusões a partir da sua observação direta dos fenômenos socioambientais,
dispondo para isso apenas, da sua experiência de vida, para explicações do mundo que o
cercam.
4.4 AGRICULTURA FAMILIAR E BIODIVERSIDADE
Qualquer plano grandioso de conservação da vida selvagem
sem se levar em conta adequadamente os interesses humanos
deverá fracassar. A conservação nos países em
desenvolvimento tem de ser um meio-termo entre idealismo
cientifico e a realidade prática. (Raman Sukumar, écologo
indiano, 1985).
Neste capitulo será discutido a relação entre agricultura familiar e a diversidade
ecológica existente no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, buscando entender como este
importante segmento de produtores rurais se relaciona com a biodiversidade local. Ou seja,
como desenvolve suas atividades dentro das opções de comportamento na sua relação com a
terra, solo, água, plantas e animais.
A biodiversidade é aqui entendida, não apenas enquanto conceito biológico, mas
também como,
(...) relativo à diversidade genética de indivíduos, de espécies ou de ecossistemas
(...) é o resultado de práticas, muitas vezes milenares, das comunidades tradicionais
que domesticam espécies, mantendo e aumentando como em alguns casos, a
diversidade local. Diegues e Arruda (2001, p. 21).
Com isso, queremos dizer que, há no assentamento uma complexa diversidade social,
cultural, produtiva e ambiental com fortes influências no ambiente.
As famílias que ocuparam a terra (44 %) eram trabalhadores rurais sem terras, ao
passo que, as famílias que compraram seus lotes (56 %) são filhos de agricultores familiares
que já possuíam uma pequena propriedade, foram pequenos comerciantes e gerentes de
algumas fazendas de gado da região, assim, estavam mais capitalizados. Dentre este último
grupo, encontra 04 famílias agricultores familiares que possuem em torno de 100 ha dentro
do assentamento, portanto, já são médios proprietários.
Esta diferença econômica entre as famílias vai incidir diretamente na forma de se
relacionar com a natureza e nas suas formas de produção. Pois, há uma correlação entre grau
de acumulação de capital e racionalidade produtiva. Os agricultores familiares que
compraram seus lotes estão mais inseridos nos modos de produção capitalista, assim, a sua
estratégia produtiva está intrinsecamente ligado ao mercado para melhorar a produtividade do
leite e bezerro, é consequentemente gera maior consumo de insumos e defensivos e estabelece
uma maior integração ao mercado regional. Este modelo agropecuário provoca sérios danos
aos recursos naturais, pois, o aumento da cabeça de gado, configura-se no tamanho da
pastagem, causando mais desmatamento e a compactação da terra. Além, é claro, dos sérios
dados causados pelos herbicidas à fertilidade do solo e qualidade da água.
Estudos já demonstraram que a pecuária na região amazônica é um investimento
desastroso para a biodiversidade, pois, paisagem é composta de árvores, possui solo úmido
com as áreas de “terras baixas”, que formam os brejo ou igarapés. Com o desmatamento,
quando chove ocorre uma lixiviação do solo pela água da chuva, causando graves danos ao
ecossistema, deixando a terra, que era rica em matéria orgânica devido à decomposição das
folhas das árvores, pobre e com baixa fertilidade, provocando enormes erosões no solo e
assoreamento nos rios.
Este processo também está acontecendo no assentamento, principalmente nas
propriedades onde a mata foi retirada, comprometendo assim, os sistemas de auto-recuperação
do solo. O problema se intensiva com as pisadas do gado nas cabeceiras dos córregos, que
estão desprotegidas, causando um assoreamento dos córregos, o que no futuro pode levar a
seca de suas nascentes. A pecuária apesar de se configurar no assentamento como a principal
fonte de renda das famílias e como segurança em caso de necessidades para um grupo de
agricultores familiares menos descapitalizados por causa da sua liquidez, é hoje umas das
práticas produtivas que mais degrada o frágil ecossistema amazônico. Conforme afirma
Quirino e Melagodi, (1999), a erosão, a perda da fertilidade natural, do solo e a perda da
capacidade de auto-recuperação são fatores que tornam este segmento ainda mais vulnerável
às intempéries climáticas e aos desafios do mercado de produtos agropecuários.
Logo, essa é uma atividade produtiva que fragiliza ainda mais este segmento, pois
com passar do tempo à degradação ambiental vai se constituir como uma das fortes ameaça a
sustentabilidade da agricultura familiar.
Os agricultores familiares menos descapitalizados, que ocuparam a terra, também
tem como a sua principal atividade econômica a pecuária de leite e corte, mas, numa
quantidade menor, mesmo porque, estão limitados pelo falta de capital para investir, portanto,
precisa desenvolver outras estratégias produtivas de sobrevivência, assim praticam a
policultura, diversificando a produção para as atividades agrícolas como roças de milho,
feijão, mandioca e arroz, para ajudar na alimentação das famílias e criação de pequenos
animais como galinhas e porcos. Estes cultivam também plantações de melancia e abacaxi e
apicultura, como complemento de renda. O trabalho é familiar, usam pouca mecanização e
pouco insumo e defensivos industriais. Possuem uma maior preocupação com a natureza, por
isso deixaram uma área de reserva de mata em torno de 30% para preservação do córrego,
dos pássaros e bichos silvestres. Logo, observa-se que o segundo grupo possui uma
racionalidade cultural diferenciada nas formas de produção, nas relações com a natureza e nas
formas de trabalho, definida por Leff, (2004, p.137) como
Sistemas singular e diverso de significações (...) que produz a identidade e
integridade de cada cultura, dando coerência a suas práticas sociais e produtivas em
relação as potencialidade do seu entorno geográfico e de seus recursos naturais.
Esta racionalidade cultural está relacionada ao aproveitamento do uso dos recursos e
as interações estabelecidas na natureza e “visão de mundo” dessas famílias. A cultura é
apontada por Leff como mecanismo amortecedor entre maximização da produção e escassez
dos recursos naturais. Dito de outra forma, o que impediu que este grupo de agricultores
familiares depredasse todo o recurso natural como fazem as famílias que compraram o direito
de posse da terra, foi o seu patrimônio cultural. Porque possuem outra lógica produtiva que
não está calcada na maximização do lucro, mas acima de tudo, nos valores como: terra,
trabalho e reprodução familiar.
Lamarche, (1998, p. 63), nos seus estudos sobre agricultura familiar, escolheu estas
três categorias pelo o grau de relevância que as mesmas possuem para as unidades familiares.
A terra, porque é o elemento central da vida das famílias, que o grupo familiar só venderia
por um motivo muito forte. O trabalho, porque todo atividade desenvolvida na propriedade,
em grande parte, são realizadas pelos membros da família e a reprodução familiar, porque o
objetivo primordial da lógica familiar é a garantia da sobrevivência da família através dos
investimentos feito na propriedade.
Para os agricultores familiares do Assentamento Nossa Senhora Aparecida, a
propriedade fundiária é um bem inalienável, pois lutaram muito para conseguir realizar o
sonho de ter uma terra e de sair da condição de empregados rurais para serem seus próprios
patrões. (...) tinha o sonho de ter uma vaca, ter autonomia. Tenho a terra por amor, não tem
terra para negócio. Nunca penso em vender, essa terra é pra ficar para minhas filhas ou
netos (D.E.S, 53).
Aqui é onde a gente tira o sustento da família, gosta de pescar, trabalhar com a
terra, tem medo de vender e acabar com as coisas que já conseguimos. (N.A S, 46 anos)
Segundo Martins (198, p. 60), esta é a diferença entre empresário capitalista rural e
agricultor familiar. O primeiro grupo vê a terra como forma de obtenção de lucro, seja pela a
sua especulação financeira ou pela exploração da força de trabalho dos empregados rurais ou
o lucro de quem dela precisa para trabalhar, é apenas mais uma mercadoria que se pode
aumentar os ganhos de capital. Assim para Martins, (1980, p. 60),
Quando o capitalista se apropria da terra, ele o faz com intuito do lucro, direto ou
indireto. Ou a terra serve para explorar o trabalho de quem não tem terra; ou a terra
serve para ser vendida por alto preço a quem dela precisa para trabalhar e não a tem.
Por isso nem sempre a apropriação da terra pelo capital se deve à vontade do
capitalista de se dedicar à agricultura
O segundo grupo tem a terra como locus de trabalho, que se utilizar para garantir
ganhos como a reprodução social e econômica da família. A terra para este grupo tem valor de
uso, onde a partir do trabalho familiar, produz mercadorias para vender e adquirir renda para
suprir as necessidades familiares e das propriedades. Conforme ainda Martins, esse é o
mesmo raciocínio para as propriedades agrícolas familiares que estão inseridas nos complexos
agro-industriais, que incluí os agricultores aos sistemas de integração produtiva de mercado,
como é o caso do setor de hortifrutigranjeiros no sul de Goiás. Nestes casos específicos, há a
permissão dos agricultores familiares para a exploração do trabalho familiar, através do
contrato com as indústrias de derivados de frangos. Mesmo assim, os ganhos dos agricultores
familiares são para Martins (1982 p. 59) (..) ganhos do seu trabalho e o trabalho de sua
família e não ganhos de capitais, exatamente porque estes ganhos não provêm de um
capitalista sobre o trabalhador expropriado dos seus instrumentos de trabalho.
Podemos entender, portanto, que não há nas explorações agrícolas familiares o
vínculo de subordinação do trabalho ao capital, pois, estes possuem os bens de produção, que
é a terra e seu trabalho que é trabalho familiar independente. Confrontam-se então duas éticas
diferentes: o capitalista com sua ética do lucro e o agricultor familiar com sua ética de
trabalho.
A ética camponesa, (entendendo o agricultor familiar aqui como camponês), é
cunhada nas populações rurais a partir do seu modo de vida, do seu jeito de ser, da sua “visão
de mundo”, enfim, da sua cultura. Entendida por Laplantine, (2007, p. 120) como
conjunto dos comportamentos, saberes e saber-fazer característicos de um grupo
humano ou de uma dada sociedade, sendo essas atividades adquiridas através de um
processo de aprendizagem, e transmitidas ao conjunto de seus membros.
Logo, não podemos dissociar o contexto econômico - trabalhadores rurais ou
pequenos comerciantes e gerentes de fazenda, do contexto cultural - seus sistemas simbólicos.
Pois, os hábitos culturais das famílias refletem diretamente na forma que percebem e
organizam o ambiente.
Os agricultores que ocuparam a terra possuem vasto conhecimento sobre o sistema
produtivo e sobre a diversidade da flora e fauna existentes no assentamento. São encontradas
na maioria das propriedades roças tradicionais para garantir a alimentação das famílias e das
pequenas criações, o trabalho é familiar e utilizam ainda conhecimentos tradicionais de
plantio pelo calendário lunar, herdados de seus pais e avós.
Nas propriedades que possuem maiores áreas de matas, os agricultores afirmaram
conhecer 160 espécies de plantas endêmicas e exóticas, distribuídas no diferentes ambientes
da sua propriedade, fora as espécies alimentares que são cultivadas nas roças e também 106
espécies de animais silvestres que também foram identificados pelos seus habitats (quintais,
matas, pastos, roças, córregos, brejos).
Desse modo, percebe-se que há uma intensa interação entre os diferentes ambientes.
Nos quintais foram encontradas 76 espécies de plantas alimentícias, medicinais e madeireiras,
que além de atender as necessidades básicas das famílias (alimentação, saúde e madeira)
também servem para alimentar 21 espécies de pássaros. Além disso, neste ambiente, criam
também galinha, porcos, patos e perus para complementação da alimentação e renda da
família.
Nos terreiros são cultivadas espécies olerículas e ornamentais (utilizando esterco de
gado e galinha) para atender a diversificação protéica da alimentação e ao prazer estético da
família.
Nos pastos, as famílias conhecem as plantas medicinais e as espécies que produz
alimentação para família, animais, abelhas e pássaros, como bacaba, jenipapo, jatobá, assapeixe, tarumã e mirindiba, além de abrigar 11 espécies de mamíferos, 27 espécies de aves e 07
espécies de répteis, é lugar também para a produção apícola.
A mata, apesar de ter restado apenas fragmentos da paisagem original, é o lugar
reconhecido por algumas famílias, pelo seu valor ecológico, pois, segundo os agricultores
habitam neste local 18 espécies de mamíferos e 23 espécies de pássaros e 08 espécies de
répteis, garantindo assim a diversidade biológica. Além é claro, do seu importante papel da
produção de oxigênio. È utilizada pela família também para extração de alguma madeira para
atividades na propriedade e de casca, folhas, raízes para fazer remédios e garrafadas.
Os conhecimentos dos agricultores sobre ambiente estão calcados no aproveitamento
da diversidade de recursos disponíveis no ecossistema para garantir a manutenção da família.
Não dá para dissociar, portanto, a dimensão prática destes conhecimentos com a sua dimensão
simbólica, pois, estes saberes foram criados e recriados nas relações sóciohistóricas destas
famílias a partir dos seus habitus que foram adquiridos através dos conhecimentos
transmitidos pelas gerações passadas, mas também, pelo intenso fluxo de informações
estabelecidas pelas relações sociais na comunidade e pelos meios de comunicação. Desta
forma, os habitus se apresentam como principio mediador entre as práticas individuais e o
contexto socioeconômico destas populações.
Perceber as populações rurais, compreender suas práticas produtivas, reconhecer seus
saberes quanto o uso da natureza, ajuda a pensar estratégias sustentáveis de políticas de
desenvolvimento para o campo. Não se pode negar que as famílias que já desmataram em
média 87 % da mata e que descobriram grande parte das margens dos córregos. Isto significa
não apenas a derrubada de árvores, mas também, mudanças nos ecossistemas da flora, fauna e
ictiofauna. Mas também, não devemos esquecer que essas famílias foram levadas agir desta
forma devido às condições sociais de existência, pois, segundo Marx, (1974, p. 335),
Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem
sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam
diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.
As famílias que ocuparam e algumas que compraram seus lotes no Assentamento
Nossa Senhora Aparecida, são trabalhadores rurais que trazem arraigados na memória à
percepção de ambiente repassada pela família do grupo social de que fazia parte, cujo
costume de plantio era o sistema da “roça de toco” (derrubada, queima e plantio) típico das
comunidades tradicionais, a diferenças é que não possuem a hábito do pousio com tempo
suficiente para o ecossistema se recompor. Estas famílias também são fortemente
influenciadas pela a cultura da região da pecuária de leite e de corte da produção para o
mercado. Sem falar, na década que ficaram no assentamento sem apoio das políticas públicas
e ainda, do favorecimento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária- INCRA
com aqueles agricultores que não tinham perfil para serem atendidos pelo programa de
reforma agrária. Dessa forma, o desequilíbrio ambiental se apresenta no assentamento pelo
desflorestamento, baixa fertilidade do solo e erosões que são reflexos do modelo de política
da reforma agrária conduzida pelo órgão responsável.
Contrapondo a estes hábitos predatórios, há também no assentamento as práticas de
cultivos agrícolas de baixo impacto ambiental como as técnicas de cultivos de plantas
medicinais e frutíferas nos quintais e terreiros, que garantem, no aspecto ecológico, a
conservação da biodiversidade através da capacidade dos agricultores de ordenar, classificar e
manejar estes ecossistemas.
Na pesquisa de campo, percebemos que há um conflito entre a racionalidade cultural
das famílias e a racionalidade econômica projetada pelo INCRA, como modelo de
desenvolvimento para o campo. Nestes 20 anos, as políticas agrícolas desenvolvidas no
assentamento, foram voltadas para atender as demandas do mercado. As orientações deste
órgão e da assistência técnica eram de desenvolver o assentamento, tornando-o sustentável,
com o foco apenas no ponto de vista econômico, não levando em conta as lógicas produtivas,
os aprimorados conhecimentos dos agricultores sobre a biodiversidade local, muito menos as
questões de conservação ambiental.
Até 2002, não havia no INCRA preocupações mais efetivas com os problemas
ambientais. Dos 353 assentamentos de reforma agrária implantados no Tocantins, apenas 01
(um) possui licenciamento ambiental. A discussão ambiental só entrou na pauta das
atividades deste órgão após a elaboração do II Plano Nacional de Reforma Agrária, em que
foram incluídos os Planos de Desenvolvimento dos Assentamentos – PDA e o Plano
Recuperação do Assentamento-PRA para os mais antigos. Este último foi realizado no
assentamento em 2005, por uma cooperativa de prestação de serviço em assistência técnica e
extensão rural em parceria com INCRA e a Associação Padre Josimo (Associação do
agricultores).
O PRA apontou algumas ações para as questões produtivas e ambientais como:
desenvolvimento de produção com enfoque ecológico (alternativas produtivas, melhorar a
organização e manejo da produção pecuária, acompanhamento técnico efetivo na produção
agrícola para melhorar o manejo das roças e aumento da produção de cereais) e Recuperação
das áreas de reserva legal e das áreas de proteção permanentes (APP’s).
Segundo os dados da Associação dos agricultores e dos técnicos do INCRA,
algumas ações estão sendo implementadas. Já foram realizados curso de manejo de
pastagens, inseminação artificial no gado e criação da Cooperativa dos Agricultores
Familiares de Pequizeiro e Região -(COPEFAPER), a liberação do PRONAF-mulher para
três agricultoras que tinham interesse a criação de Galinha. Mas, em relação à produção
agrícola ou a questão ambiental nenhuma ação foi executada ainda. Segundo ainda
informação de técnicos do INCRA, foi assinado o Termo de Ajuste de Conduta - TAC entre
INCRA, Ministério Público-MP e Instituto Natureza do Tocantins - NATURATINS, onde
estabelece normas para o licenciamento ambiental nos projetos de assentamento.
A efetivação do TAC no Tocantins representa um avanço para as questões de
monitoramento e avaliação das ações ambientais nos assentamentos. Este instrumento de
regulação implicará numa nova racionalidade ambiental para as definições de políticas
públicas e nas práticas das famílias assentadas. Segundo Leff (2001, p. 134-135)
(...) a construção racionalidade ambiental que oriente a transição para o
desenvolvimento sustentável requer a mobilização de um conjunto de processos
sociais: a formação de uma consciência ecológica; o planejamento transetorial da
administração publica e a participação da sociedade na gestão dos recursos
ambientais; a reorganização interdisciplinar do saber, tanto na produção como na
aplicação dos conhecimentos.
Observa-se que está se formando uma nova consciência ambiental no assentamento.
Há um grupo de famílias que estão sensibilizados com os problemas ambientais. Já
começaram a internalizar conceitos ecológicos para um desenvolvimento sustentável como
práticas agroecológicas e conservação dos recursos naturais.
Percebem a mudança do
paradigma ambiental na sociedade, e sentem a pressão externa sobre impactos ambientais que
causaram no assentamento. Tais aspectos surgem nas falas dos agricultores,
Tem que melhorar muita coisa ainda no assentamento, aumentar a reserva
ambiental, conforme a Lei define. (D.E.S, 53 anos).
Penso em plantar mil mudas para reflorestamento, pois as pessoas de fora
valorizam mais a propriedade quando tem mata. (D.E.S. 53anos)
Posseiros querem ser fazendeiros, temos é quer diminuir a quantidade e aumentar a
qualidade. ( A S.L. 42 anos)
Algumas iniciativas foram adotadas através do Programa de Formação de Lideranças
Agroecológicas (apoiado pela MISEROR) que está acontecendo no assentamento há um ano e
meio com 36 % das famílias do assentamento e com famílias de outros assentamentos da
região. O programa tem como objetivo discutir e implantar nos assentamentos práticas
produtivas mais sustentáveis. As ações que estão realizando são: apoio a organização do
grupo de apicultores e à cooperativa dos agricultores familiares produtores de Leite,
aproveitamento e beneficiamento de produtos dos sistemas agroflorestais -SAF,s ( frutas,
sementes, cascas ,etc..) e incentivo à criação de viveiros de mudas medicinais, frutíferas e
madeireiras, para o fortalecimento do patrimônio biológico ( aumento das espécies de planta)
e cultural (diversificação de saberes) das famílias, bem como, para produção de mudas para o
reflorestamento das nascentes dos córregos. Segundo relatos dos agricultores, era para já
terem feito o reflorestamento das nascentes, mais ainda não aconteceu. Alguns agricultores
até tentaram plantar as mudas, mas elas morreram quase tudo, tinha umas plantas que eu não
sabia a época certa de plantar e que elas não gostavam de sol. (V. C. A, 54 anos). Percebe-se
que faltou um acompanhamento técnico mais direto no processo de recuperação das áreas de
proteção permanente - APP, s.
As iniciativas do programa de formação para implantação de alternativas de
produção e conservação ambiental sustentáveis são ainda tímidas, pois, não conseguiu
estimular a participação da maioria das famílias do assentamento, já que apenas um pouco
mais de um 1/3 (um terço) fazem parte deste programa e nem atender a demanda de maior
relevância para a questão ambiental no assentamento que é a recuperação das nascentes e a
contenção das erosões nas propriedades.
As políticas públicas governamentais, projetos ou programas apoiados por
organizações não-governamentais e movimentos sociais para desenvolvimento sustentável
nos assentamentos, tem que estimular a participação interativa da maior parte da população,
para que ocorra uma mudança coletiva de mentalidade das famílias, além de respeitar suas
decisões e reconhecer os saberes empíricos que essas populações possuem sobre o ambiente.
Para Pimbert e Pretty (2000, p.198), qualquer esforço de estimular e promover
processos sociais que permitam as comunidades locais conservar e aumentar a biodiversidade
local tem que desenvolver habilidades, interesses e capacidades que instigue a população a
um grau de participação, equivalente a participação interativa, (grifo nosso), envolvendo
essas populações nos processos elaborações e de análises de planos, formação de novos
grupos ou fortalecimentos dos existentes. Neste tipo de participação, utiliza-se metodologia
interdisciplinar para dar conta das múltiplas perspectivas, usando um processo de aprendizado
sistematizado e estruturado que atenda a essa variedade de possibilidades. Nesta fase, os
grupos são formados ou mantidos e assumem o controle das decisões locais ou passam a se
interessar e a defender práticas mais sustentáveis.
Segundo Gomez-pompa (200, p. 126) os estudos sobre conservação ambiental,
negligenciaram as percepções e as experiências que as populações rurais possuem, sendo que
essas pessoas têm uma ligação próxima com a terra e encaram o ambiente naturalmente a sua
volta antes de tudo como professor e provedor. Sabemos que nem todo agricultor é um
conservacionista ambiental, mais que, essas populações possuem um acumulo de acertos e
fracassos sobre o uso dos recursos naturais que não podem ser negligenciados, além é claro,
de serem as mais afetadas pelas políticas ambientais.
Portanto, devemos incluí-las nas discussões e formulações das políticas de educação
e conservação ambiental para que possam entender o ambiente natural e os efeitos da
sociedade sobre ele.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisar as características dos processos organizativos, produtivos e de manejo
dos recursos naturais dos agricultores familiares do assentamento rural Nossa Senhora
Aparecida, na região do Vale do Juari no município de Pequizeiro, Tocantins, observa-se
primeiramente que houve duas dinâmicas de ocupação.
No assentamento encontra dois grupos de agricultores familiares. Primeiro grupo
chegou à área pelo processo de luta pela terra, estão no assentamento há 22 anos, é o grupo
menos capitalizado, tem renda principal do leite e venda de bezerro e parte deste grupo ainda
conservam 30% das áreas de matas. A maioria deles pratica a policultura e possuem uma
diversidade de conhecimentos etnobotânicos, etnobiológicos e etnoecológicos nas suas
propriedades.
O segundo grupo pertence aos agricultores familiares que compraram seus lotes em
dois momentos distintos: década de 90 e partir do ano 2000. Este grupo agora é a maioria,
56%. São agricultores que tiram à renda familiar praticamente da pecuária de leite e de corte.
Este grupo tem pouca participação na vida organizativa e associativa do assentamento.
Algumas famílias possuem mais de um lote e são mais capitalizados. Este grupo já perdeu boa
parte de seus conhecimentos sobre a biodiversidade local.
No processo adaptativo as famílias dos dois grupos de agricultores desenvolveram
técnicas de manejo do solo que conflitem com formas adequadas de conservação ambiental e
de preservação da biodiversidade. A atividade de pecuária é freqüente em todas as
propriedades. Consequentemente 87 % da mata já foi derrubada. Este sistema de produção
está causando um stress ambiental no assentamento. Os reflexos deste problema podem ser
sentidos nas questões da vida diária da comunidade. O solo está com deficiência de nutrientes
essenciais para o cultivo de algumas culturas, as famílias estão deixando de plantar roças por
causa do ataque das pragas e animais (mamíferos e pássaros), inclusive duas destas famílias
fazem parte do primeiro grupo. Os agricultores estão com dificuldade de manter as pastagens
na época da seca, há também na pastagem grande incidência de pragas. Às margens dos
córregos estão com boa parte desflorestada.
No início desta pesquisa levantamos a hipótese de que os conhecimentos dos
agricultores familiares sobre as plantas e sua utilização nas relações de trabalho contribuem
para a conservação da biodiversidade no assentamento. Observamos que a nossa hipótese foi
confirmada, pois, apesar da produção de pecuária bovina no assentamento e suas
externalidades, os dois grupos possuem conhecimentos e práticas ambientais de ajudam a
manter a biodiversidade no Assentamento. As noções de espacialidades destas famílias,
principalmente do primeiro grupo, permitiu constatar a percepção ecológica dos agricultores
sendo possível à caracterização de aspectos de conservação da biodiversidade.
Com o resultado da pesquisa, observa-se que há uma interação entre as diferentes
unidades de paisagens dos ecossistemas terrestres e aquático, bem como uma relação
intrínseca entre plantas - homem - animal através da manipulação dos recursos naturais, que
foi desenvolvida nestas duas décadas através do acúmulo e troca de experiências vivenciadas
pelas famílias. Percebe-se que os arranjos locais desenvolvidos pelas as famílias estão
relacionados aos aspectos naturais e culturais que podem definir por quanto tempo a ocupação
social deste espaço vai perdurar.
A manutenção desta diversidade biológica e ecológica no assentamento passa por
uma transformação na racionalidade econômica das famílias para uma nova racionalidade
ambiental nas formas de usos de recursos naturais e humanos. Ou seja, depende do
reconhecimento das famílias da estreita relação entre a biodiversidade e com suas práticas
produtivas. Pois, segundo Neves (1992), citado por Noda (2000, p. 157), as formas de
organização social podem ser produzidas como respostas a problemas ambientais, como
também podem provocar mudanças na biodiversidade original de uma unidade de paisagem.
Desta forma, a manutenção da biodiversidade no assentamento Nossa Senhora
Aparecida, representa a manutenção da racionalidade cultural das famílias, que atualmente
está em conflito. Permitirá também, ser à base de formação da identidade dos agricultores
familiares, assim, como os seus conhecimentos etnobotânicos e etnoecológicos sobre a
complexidade dos sistemas agroflorestais podem ser entendidos como indicador de
preservação da cultura.
O processo de conhecimento dos agricultores sobre a flora possui duas vertentes,
conforme afirma Noda (2000, p.158). A primeira, diz respeito à conservação dos espaços de
manutenção da teia alimentar dos animais. A segunda, diz respeito às áreas de valoração, onde
a conservação é pensada através no manejo dos recursos naturais nas atividades desenvolvidas
na organização social e de produção para manutenção dos bens necessários à família.
Esses saberes são transmitidos de geração para geração, caracterizando os
agricultores familiares por: a) relações simbólicas e econômicas intensas com a terra e seus
ciclos, construídas nas práticas de uso do ambiente; b) ligação com o assentamento onde o
grupo social se reproduz socialmente; c) importância das atividades de subsistência, ainda que
as relações com o mercado desempenhem um papel importante na reprodução do modo de
vida; d) acumulação limitada de capital de algumas famílias; e) papel crucial desempenhado
pela unidade familiar ou doméstica; f) as relações sociais baseadas na cooperação e troca com
a vizinhança e g) um certo nível de identidade social e cultural que distingue essa comunidade
pelo seu modo de vida.
A partir dos resultados iniciais propomos algumas discussões com este trabalho.
Primeiro, os conhecimentos, técnicas e meios de produção utilizados pelos agricultores
familiares permitem estabelecer uma relação integrada com meio ambiente.
Muitos desses saberes ambientais foram repassados pelos antepassados das famílias,
como avós e pais. Outros, principalmente sobre as plantas nativas e regionais foram
transmitidos pelas interações sociais existentes no assentamento. Alguns conhecimentos, os
próprios agricultores contam que aprenderam observando a natureza.
Há portanto, uma relação sistêmica no assentamento entre estes saberes sobre
plantas, práticas de utilização e conservação da biodiversidade na medida em que: a) o uso e
manejo destas plantas enriquecem o solo, como é o caso das roças consorciadas e do sistema
de rotação de plantio; b) Mantém viva uma diversidade de espécies biológicas com as
variedades de plantas e animais existentes nos quintais e na mata; c) e, por fim, fortalece e
mantém os laços de identidade dos agricultores familiares com ambiente, através dos
diferentes usos destes ambientes.
Mas, uma parte do grupo estudado, já se percebe estresse nos recursos naturais e
desequilíbrio dos ecossistemas, que pode comprometer a reprodução social e econômica
destas famílias. Esta questão tem que ser discutida pelas organizações governamentais e nãogovernamentais que trabalham no assentamento, bem como, pelos próprios agricultores nas
suas organizações internas (associação, grupos produtivos, cooperativa), para que os
agricultores/as familiares possa garantir à seus filhos e netos no mínimo, as mesmas
condições de trabalho e manutenção dos recursos naturais existentes atualmente
O direito à posse da terra deu às famílias, em especial, aquelas que eram
trabalhadores rurais, uma dimensão de pertencimento ao lugar, um sentimento topófico pelo
assentamento, que se expressa no modus operandi que estas famílias possuem na prática da
conservação dos recursos naturais aquáticos e terrestres.
As famílias materializam seus saberes ambientais nas ações cotidianas no
assentamento. A agricultura familiar faz uso de espécies e técnicas de produção, que
combinam uso da terra, do trabalho na roça, no plantio e manejo de espécies de plantas nos
quintais e terreiros. Na utilização dos recursos naturais no pasto, na mata, nos córregos
(extrativismo vegetal e animal) e nas relações de troca de semente e mudas com a vizinhança.
O conhecimento do espaço natural que se dá na classificação das plantas por categoria de
valoração utilitária (alimentícias medicinais, madeireiras e ornamentais), de maior freqüência
(alta, media e baixa), bem como, os conhecimentos dos animais (tipos, espécies, hábitat) e
bem como, sua utilização para as famílias ou para o ecossistema demonstra seus saberes sobre
a biodiversidade local.
Podemos perceber que a biodiversidade passa pela relação que os agricultores
familiares possuem com a terra, as plantas, os animais, seus vizinhos e com a comunidade.
Identifica-se no assentamento uma variedade de saberes nas formas de apropriação dos
recursos naturais, como a variedades de subsistemas animais e vegetais, bem como, sobre os
conhecimentos e os diferentes usos das plantas tanto nativas, como alimentares. Apesar da
prática da pecuária, ainda cultivam roças, mesmo que pequenas, onde se observa a
materialização de seus habitus nas técnicas do plantio e manejo de culturas tradicionais,
através do sistema consociado, assim como na obtenção e seleção das sementes.
Os resultados obtidos neste trabalho, em parte, reforçam a teoria de que a forma de
produção em roças, em escala familiar, através do baixo consumo de insumos externos e o
cultivo de espécies anuais para a produção de alimentos básicos para a família é uma forma
sustentável de produção. Pois, nas práticas cotidianas a força de trabalho, na sua maioria 83%
, é familiar, estabelecendo em alguns momentos relações de ajuda mútua com os vizinhos e
parentes. Além é claro, da diversidade biológica de seus quintais e terreiros expressarem uma
reconstrução cultural, social, e econômica do ambiente natural, através de seus habitus.
Por outro lado, o desenvolvimento de práticas predatórias para o ambiente põe em
risco essa biodiversidade. A produção da pecuária como proposta econômica, é insustentável
para os recursos naturais e até certo tempo, inviável para a agricultura familiar.
Uma parte do grupo estudado, já percebe “estresse” nos recursos naturais e os
desequilíbrios dos ecossistemas, que pode comprometer a reprodução social e econômica
destas famílias. Esta questão tem que ser discutida amplamente para que os agricultores
familiares entender a necessidade de conservar os ecossistemas existentes para garantir as
suas gerações futuras condições ambientais, no mínimo iguais, para manutenção da
reprodução social de seus descendentes.
Os assentamentos rurais é uma política pública de reforma agrária, resultado de uma
mais de meio século de luta dos trabalhadores rurais. Como política governamental ele tem
que ser sustentável, mas não só do ponto de vista econômico, mas também, nas questões
socioambientais e culturais. Desta maneira, é necessário desenvolver alternativas de geração
de renda que possa manter e conservar a sua biodiversidade, articulando todos os atores
sociais que estão envolvidos ao assentamento (agricultores, associação dos agricultores,
INCRA, STR’s, órgãos de Assistência técnica, ONG’s, Movimentos sociais, universidades)
em amplo debate sobre a urgência de elaboração e execução de políticas públicas sustentáveis
para os assentamentos.
6. RECOMENDAÇÕES
As recomendações para implantação de ações mais adequadas de conservação
ambiental que preservam a biodiversidade local estarão baseadas nas análises realizadas
durante a pesquisa de campo e também na análise do relatório do Plano de Recuperação do
Assentamento produzido pelo INCRA/ COOPTER.
•
Sensibilização e motivação das famílias para a necessidade e ganhos da conservação
ambiental;
•
Reflorestamento das áreas degradadas, recuperando as nascentes dos córregos com
plantas nativas da região;
•
Incentivo aos agricultores familiares do controle natural de pragas;
•
Implantação das ações do Plano de Recuperação do Assentamento - PRA
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, Ana Rosa Camillo. Et-al. In: BLUMER A. Et-al. Sociologia Rural: texto:
AVENTURA E EQUILIBRO: Saber Camponês e Mudanças Técnica em uma Comunidade
Rural do Sul de Minas Gerais. Lavras, MG, UFLA/FAEPE, 1997.
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São Paulo, SP: Brasiliense, 1996. Coleção Primeiros Passos.
Biodiversidade o Brasil. MMA, NUBAUB, Brasília, 2001.
BOURDIEU, Pierre. A Economia das Trocas Simbólicas, São Paulo, SP: Perspectiva, 2007.
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COOPTER - Cooperativa de Trabalho, Prestação de serviço, Assistência e Extensão Rural Plano de Recuperação do Projeto de Assentamento Nossa Senhora Aparecida. INCRA,
FETAET. Pequizeiro-TO, 2005.
COSTA, Maria Cristina Castilho. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo,
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FAZENDA. Ivani. (org.) Metodologia de Pesquisa Educacional. São Paulo, SP: Cortez, 2004.
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<http://www.cedroambiental.com.br/herbario.php?> Acesso em Novembro 2008
<http://www.adotearvores.org.br/br/Adote_arvores/relac.xls> Acesso em Novembro 2008
<http://www.recor.org.br/publicacoes/plantas-nativas.html> Acesso em Novembro 2008
<http://webdrm.cpqba.unicamp.br/cpma/lista_sementes.php> Acesso em Dezembro 2008
<http://www.belli.com.br/Ecoturismo/Nomes/Mamiferos.htm> Acesso em Dezembro 2008.
ANEXOS
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
CENTRO DE CIENCIAS DO AMBIENTE /CCA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIENCIAS DO AMBIENTEE
SUSTENTABILIDADE DA AMAZÔNIA –PPG/CASA
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o Senhor____________________________________ para participar da
pesquisa intitulada “Os Saberes Ambientais Locais: O Assentamento Rural Nossa
Senhora Aparecida no Município de Pequizeiro - TO”, que será realizada na Universidade
Federal do Amazonas (UFAM) e pretende analisar a relação dos saberes dos agricultores
familiares e com conservação da biodiversidade. Se alguma parte não estiver clara, pode
perguntar que será explicado.
Os agricultores familiares possuem saberes sobre o ambiente em que vivem que muita
vezes não são respeitados na implantação das políticas publicas nos assentamentos rurais.
Acreditamos que o senhor pode nos ajudar contando os seus conhecimentos sobre as plantas e
suas práticas de utilização no assentamento, as suas formas de trabalho e as o uso das plantas
nas suas atividades do dia a dia. È nosso interesse saber mais sobre os conhecimentos locais
sobre as plantas, porque, este conhecimento poderá nos ajudar no debate sobre o respeito da
cultura local nos assentamentos rurais quando órgãos públicos, instituições governamentais e
não-governamentais e técnicos forem desenvolver alguma atividade áreas de assentamento
rurais.
O senhor está sendo convidado fazer parte desta pesquisa, porque sentimos que a sua
experiência de viver neste assentamento ajudará muito a nossa pesquisa.
Sua participação nesta pesquisa é completamente voluntária. É sua escolha participar ou não.
Esta pesquisa envolverá sua participação em entrevistas e observação da sua propriedade. As
entrevistas poderão durar até 2 horas e meia e visitas na sua propriedade podem ser que
ocorram várias vezes e isso pode atrapalhar seus afazeres. Portanto, estes procedimentos serão
realizados no local e hora que o Senhor definir como mais conveniente. A pesquisadora
Adelma Ferreira de Souza, responsável pelo projeto, pede então autorização para a realização
desta entrevistas e visitas.
Serão tiradas fotografias e as entrevistas serão gravados. O Senhor pode ter uma cópia
das fitas e fotos gravada ou escrita.
Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade não será
divulgada. Para qualquer outra informação, o (a) Sr.(a) poderá entrar em contato com o(a)
pesquisadora pelo telefone (63)3476-4311 ou pelo celular 9983-0424.
Consentimento Pós–Informação
Eu,___________________________________________________________, fui informado
sobre o que a pesquisadora quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e entendi a
explicação.Por isso, eu concordo em participar do projeto, sabendo que não vou ganhar nada e
que posso sair quando quiser. Estou recebendo uma cópia deste documento, assinada, que vou
guardar.
_________________________________
ou ____-______-_____
Assinatura
Data
do
participante
__________________________________
Pesquisadora Responsável
____-______-_____
Impressão do dedo
polegar. Caso não
saiba assinar
.
Data
PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL
NOSSA SENHORA APARECIDA NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO.
ROTEIRO DE ENTREVISTA
1. DADOS DA FAMÍLIA: Nº F___________
2.
Nº
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
ENDEREÇO: _____________________________
Nome
Parent Ida
Nat
Se
Escol
esco
ur.
xo
arid.
de
LT:______________
Atividades
PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO
RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO MUNICÍPIO DE
PEQUIZEIRO-TO.
2. DADOS DE ORIGEM/HISTÓRIA: F.02
1. Onde você nasceu? (neste município, nesta região, neste estado, em outro estado, qual?)
2. Nome da localidade onde você nasceu?
3. De sua (seu) esposa (o)?
4. Por que deixaram a região de origem?
5. A quanto tempo mora aqui?
6. Por que veio morar aqui?
7. Como era aqui quando o Sr. (a) chegou?
8. Quais as dificuldades enfrentadas?
9. Como essas dificuldades foram superadas?
10. Onde morou antes de mudar para o assentamento?
11. Quanto tempo morou lá?
12. Por que morava lá?
13. O que fazia?
14. O que levou o Sr.(a) a se dedicar a agricultura?
15. O que mudou após seu estabelecimento no assentamento?
3. Dados da Propriedade:
1) Qual é a área total da sua propriedade?
2) Qual a dimensão da propriedade, em m²? (largura e comprimento)
3) Qual o tamanho da área de terra firme?
4) Qual a sua situação legal em relação à propriedade (assentado, já titulo definitivo?)
157
PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL
NOSSA SENHORA APARECIDA NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO.
4. DADOS DOS SISTEMAS AGRÍCOLAS: (Fazer com Mapas falantes)
ORGANIZAÇÃO DA PROPRIEDADE
Áreas
(ambientes)
da Tamanho de cada área
Utilização de cada área
propriedade
Obs.: tirar fotos conforme conceito deles.
1) Qual a sua principal atividade, a que contribui com a maior parte da
sobrevivência da família?
2) A família possui outra renda? Qual? Quanto?
158
PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO
MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO.
5. DADOS DO CULTIVO AGRÍCOLA:
Roteiro
Cultivos Agrícolas
Milho
Arroz
Mandioca
Área
Local
Escolha da área
Variedades plantadas
Tipo de plantio (cons/solt)
Época de plantio
Objetivo plantio
Quant.prod./área
Preço de venda
Época da venda
Trabalho é feito por quem?
1) Onde vende?
2) Como é vendida?(como é embalagem e o transporte é próprio ou pago)
3) Quem compra?
4) Quem define o preço?
5) Como é a forma/relação de pagamento?
6) Qual a percentagem de ganho?
7) Se tiver ajuda de terceiros nos trabalhos, é Pago ou formas coletivas?
Feijão
Abóbora
8) Origens das sementes e mudas? (comprada, onde? troca, com quem? )
9) Critério para escolha da semente?
10) Usam agrotóxicos? Em quais culturas?
11) Faz uso de alguma prática agroecologica? Quais?
12) Deixa a terra descansar?
13) Por quanto tempo?
14) Por quê?
15) O que plantava no local atual do pousio?
16) Faz adubação? Qual?
17) Se faz, que tipo de adubação? Porque escolheu este tipo?
18) Há alguma relação das suas práticas de cultivo agrícola com o ambiente.? Por que?
PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO
MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO.
6 . DADOS DA CRIAÇÃO DE ANIMAIS
ROTEIRO
ESPÉCIES/RAÇA
Galinha
Gado
Porco
Raça
Quantidade
Finalidades (produto)
Media de produção
Se vende? Quanto?
Em que época?
Onde é vendida?
Como? (emb.e transp)
Comprador
Quem define o preço?
Forma de pagamento
Percentagem de ganho
Forma de criação (int/ext)
Tipo de alimentação
Como são Instalações
Como é feito manejo e por quem?
1. Faz uso de aproveitamento de resíduos (aproveitamento dos recursos naturais) na criação dos animais?
2. Quais resíduos são utilizados?
3. Há alguma relação na forma da criação dos animais com o ambiente? Por que
PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA
NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO.
7. FAUNA SILVESTRE
7.1 - BICHO
Nome
Freqüência (pouco, media, alta)
Onde são encontradas
Animais que ainda são consumidos
PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO
MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO.
7. FAUNA SILVESTRE
7.2- PÁSSAROS
Nome
Freqüência (pouco, media e alta)
Onde são encontradas
Animais que ainda são consumidos
PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA
NO MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO.
7. FAUNA SILVESTRE
7.2- PEIXES
Nome
Freqüência (pouco, media, alta)
Onde são encontradas
Animais que ainda são consumidos
PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO
MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO.
1. DADOS DA FAMÍLIA: Nº F. __________________________________________: PA. Nª Senhora Aparecida
LT:______________
8. DADOS SOBRE OS CONHECIMENTOS SOBRE AS PLANTAS EXISTENTES E SUAS UTILIZAÇÕES
8.1 QUINTAIS
1) definição do Agricultor sobre o que é planta para ele?
Nome Popular
N/P*
Conhecimento
uso **
sobre
o Parte
planta
usada
da Freqüência
é (pouco,
Se for remédio, cura o Com quem aprendeu
que?
este conhecimento?
média, alta)
* N- Nativa ou P- Plantado
**Legenda para uso: A – Alimentação, M- Medicinal, MA- Madeira, L- Lenha, O-Olerículas , OR Ornamental, C –Construção, E Ecológica, LLenha, V- veneno, AR- Artesanato, B-Bebida, R- Ritual/folclore, ( ) outros
PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO
MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO.
8.2 TERREIRO
Nome
Popular
N/P Conhecimento
uso
sobre
o Parte da planta Freqüência
é usada
(pouco, média, alta)
Se for remédio, cura o que?
Com quem aprendeu
Este conhecimento?
N- Nativa ou P- Plantada **Legenda para uso: A – Alimentação, M- Medicinal, MA- Madeira, L- Lenha, O - Olerículas , OR Ornamental, C –
Construção, E Ecológica, L-Lenha, V- veneno, AR- Artesanato, B-Bebida, R- Ritual/folclore, ( ) outros
2. Quem faz o manejo destas plantas? 3. Vocês ainda fazem uso destas plantas? Pra que? Por quê?
PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO
MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO.
MATA
Nome Popular
N/P
Conhecimento sobre o Parte
uso
da Freqüência
planta
é (pouco,
usada
alta)
Se for remédio, cura o Com
média, que?
quem
aprendeu
este
conhecimento?
*Legenda para uso: A – Alimentação, M- Medicinal, MA- Madeira, L- Lenha, O-Olerículas , OR Ornamental, C –Construção, E Ecológica, LLenha, V- veneno, AR- Artesanato, B-Bebida, R- Ritual/folclore, ( ) outros
PESQUISA: SABERES AMBIENTAIS LOCAIS: O ASSENTAMENTO RURAL NOSSA SENHORA APARECIDA NO
MUNICÍPIO DE PEQUIZEIRO-TO.
PASTO
Nome Popular
N/P
Conhecimento sobre o uso
Parte
da Freqüência
planta
é (pouco,
usada
alta)
Se for remédio, Com
média, cura o que?
quem
aprendeu
este
conhecimento?
N- Nativa ou P- Plantado
**Legenda para uso: A – Alimentação, M- Medicinal, MA- Madeira, L- Lenha, O-Olerículas , OR Ornamental, C –Construção, E Ecológica, LLenha, V- veneno, AR- Artesanato, B-Bebida, R- Ritual/folclore, ( ) outros
4. Vocês ainda fazem uso de alguma planta nativa? Pra que? Por que? 5. Em sua opinião, há alguma relação do uso destas plantas com a
preservação ambiental? Por quê?
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