UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA – UNOESC CHAPECÓ MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO LETÍCIA EUGÊNIA ARENHART A GERAÇÃO DE INOVAÇÕES SUSTENTÁVEIS A PARTIR DAS MÍDIAS SOCIAIS ONLINE: PROPOSIÇÃO DE UM MODELO DE GESTÃO Chapecó 2014 LETÍCIA EUGÊNIA ARENHART A GERAÇÃO DE INOVAÇÕES SUSTENTÁVEIS A PARTIR DAS MÍDIAS SOCIAIS ONLINE: PROPOSIÇÃO DE UM MODELO DE GESTÃO Trabalho de Conclusão Final do Curso apresentado ao Mestrado Profissional em Administração da UNOESC Chapecó como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Administração Orientador: Prof. Dr. Fábio Lazzarotti Chapecó 2014 ARENHART, Letícia Eugênia A geração de inovações sustentáveis a partir das mídias sociais online: proposição de um modelo de gestão/ Letícia Eugênia ARENHART. Chapecó: Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC 2014 139 p. Dissertação (mestrado) – Universidade do Oeste de Santa Catarina, Mestrado Profissional em Administração, Chapecó, 2014. Palavras-chave: 1. Inovação; 2. Sustentabilidade; 3. Mídias sociais A geração de inovações sustentáveis a partir das mídias sociais online: proposição de um modelo de gestão LETÍCIA EUGÊNIA ARENHART A GERAÇÃO DE INOVAÇÕES SUSTENTÁVEIS A PARTIR DAS MÍDIAS SOCIAIS ONLINE: PROPOSIÇÃO DE UM MODELO DE GESTÃO Trabalho de Conclusão Final do Curso apresentada ao curso de Mestrado Profissional em Administração da Universidade do Oeste de Santa Catarina como requisito parcial para a obtenção do grau Mestre em Administração. Área de concentração: Sustentabilidade e Agronegócio. Aprovada em BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Fábio Lazzarotti Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC Profa. Dra. Eliane Salete Filippim Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC Prof. Dr. Ricardo Boeing Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI AGRADECIMENTOS A realização deste estudo só foi possível graças à colaboração direta e indireta de muitas pessoas. Para que se tornem parte efetiva deste trabalho, gostaria de mencionar algumas delas, cujo apoio foi essencial. A Deus, por permitir que todas as condições se tornassem favoráveis para conclusão deste trabalho. Ao meu orientador, prof. Dr. Fábio Lazzarotti, por aceitar e encarar a orientação como de fato deve ser. À prof. Dra. Eliane, por ser fonte de inspiração e orientadora por opção. Aos professores da banca de qualificação, que aperfeiçoaram e auxiliaram o desenvolvimento do trabalho final. Aos professores do curso de mestrado, que proporcionaram o amadurecimento e crescimento necessários à construção do trabalho final de um curso desse porte. Às Brunas: à Camassari da Silva, por me apresentar ao proprietário da Meu Móvel de Madeira; à Mariana Andrade de Souza Bosckovik, por me permitir a entrada na Dudalina S/A. À Meu Móvel de Madeira, em especial ao proprietário Ronald Heinrichs e à Gerente de Entretenimento Andrea Conceição, por seus exemplos de empreendedorismo, inovação e simplicidade. À Dudalina S/A, sobretudo ao Bruno Luz Martins e à Laura Hoepfner, que dispuseram seu tempo a esse estudo. Ao Luiz Martins, Gestor de Inovação da Celulose Irani, que, mesmo sem conhecer o assunto, viu uma oportunidade. Aos especialistas entrevistados, por estarem disponíveis e atentos. À Madeiras Lega, por me permitir ausentar-me quando necessário e oferecerme todas as condições para a realização desta etapa da minha vida. À UNOESC, pelo oferecimento do curso de mestrado nas condições que eu pudesse realizá-lo. À UDESC/ESAG, pela robusta e exigida graduação, que tornou o mestrado um passo natural. À minha irmã, pelas inúmeras leituras com o intuito de conferir à língua portuguesa o devido status. À minha mãe, minha grande amiga, que nunca hesitou em prestar todo e qualquer auxílio. Ao meu pai, minha maior fonte de inspiração profissional, que incentiva as minhas escolhas e me ensina a dar importância àquilo que é importante. Ao meu noivo e futuro marido, meu maior agradecimento, porque soube compreender e aguardar a finalização deste estudo. Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite. Clarice Lispector, A Hora da Estrela. RESUMO Este trabalho propõe um modelo de gestão que busca captar inovações sustentáveis a partir das mídias sociais. Para que o propósito pudesse ser alcançado realizou-se um estudo de abordagem qualitativa. O procedimento combinou as estratégias da pesquisa bibliográfica, da pesquisa exploratória e do estudo de caso único com múltiplos casos. Os casos escolhidos para o estudo foram a Meu Móvel de Madeira e a Dudalina S/A, em especial a marca Dudalina Feminina. Ambos foram escolhidos por observar o notório know-how nos temas centrais de estudo e apresentar disponibilidade e interesse à pesquisa. As técnicas de coletas de dados foram: visitas presenciais, acesso a documentos, entrevistas e benchmarking. Os instrumentos de pesquisa serviram-se da pesquisa exploratória e da pesquisa bibliográfica para serem construídos. A apreciação dos dados levou em conta a análise de conteúdo por meio da categorização das variáveis e seus descritores, evidenciando a abordagem qualitativa. Foi possível constatar, a partir da observação da realidade, uma lacuna na apropriação dos produtos oriundos das mídias sociais pelas empresas. Ainda, destacou-se a contemporaneidade das temáticas no estudo da administração para justificar o estudo. Sob essas prerrogativas desenvolveu-se um modelo de gestão que busca captar inovações sustentáveis a partir das mídias sociais, com base na revisão de literatura e aplicação de procedimentos metodológicos citados. Para tanto, o modelo levou em conta: as práticas de sustentabilidade desenvolvidas pelas empresas; o posicionamento ativo nas mídias sociais; a identificação e potencialização de fatores motivacionais nas mídias sociais; a economia colaborativa em especial o crowdsourcing; o processo de integração do conhecimento; e a gestão da inovação. Com a finalidade de conferir um caráter operacional ao modelo desenvolveu-se um fluxograma para identificar as decisões a serem tomadas e as ações a serem implementadas. Nessa proposta foram guias mestras as três temáticas centrais do estudo: a sustentabilidade, a inovação e as mídias sociais. Com base nos dados obtidos e no modelo proposto pode-se concluir que é possível captar inovações sustentáveis a partir das mídias sociais, desde que haja pré-disposição para isso. Além disso, pode-se citar como resultados o alcance dos objetivos específicos do estudo; a aplicabilidade do trabalho produzido; e os efeitos colaterais da implementação do modelo de gestão. Ainda, o estudo não pretendeu inserir as empresas no contexto das mídias sociais, nem implementar o modelo de gestão idealizado, nem tanto validá-lo. Para estudos futuros, sugere-se a implementação do modelo, com o fim de testá-lo e aprimorá-lo para a utilização nas empresas. Palavras-chave: sustentabilidade; inovação; mídias sociais. ABSTRACT This study proposes a management model that seeks to capture sustainable innovations from social media. For the purpose could be fulfilled there was a qualitative study. The procedure combined the strategies of bibliographic research, exploratory research and the single case study with multiple cases. The cases chosen for the study were Meu Móvel de Madeira and Dudalina S/A, especially Dudalina Feminina brand. Both were chosen by observing the notorious know-how in the core subjects of study and present availability and interest to the research. The techniques of data collection were: in-person visits, access to documents, interviews and benchmarking. The research instruments were used to exploratory research and literature to build. The assessment of the data took into account the content analysis by categorizing the variables and their descriptors, showing the qualitative approach. It was found from the observation of reality a gap in ownership of products from social media by companies. Still, the highlight was the contemporary of the themes in the study of management to justify the study. Under these prerogatives developed a management model that seeks to capture sustainable innovations from social media, based on the literature review and application cited methodological procedures. Therefore, the model took into account: sustainability practices developed by companies; the active position in social media; identification and enhancement of motivational factors in social media; collaborative economy especially crowdsourcing; the integration process of knowledge; and innovation management. In order to give an operational character to the model has developed a flow chart to identify the decisions to be taken and actions to be implemented. In this proposal were master guides the three central themes of the study: sustainability, innovation and social media. Based on the data obtained and the proposed model can be concluded that it is possible to capture sustainable innovations from social media, if there is predisposition to do it. In addition, one can cite as a result the scope of the specific objectives of the study; the applicability of the work produced; and side effects of the implementation of the management model. Still, the study did not intend to enter the business in the context of social media, or implement the idealized model of management, or both validate it. For future studies, it is suggested the implementation of the model in order to test it and improve it for use in companies. Keywords: sustainability; innovation; social media. LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Características das redes sociais por Mitchell (1969) ............................. 23 Quadro 2 - Propriedades das redes sociais .............................................................. 24 Quadro 3 - Propriedades morfológicas das redes ..................................................... 25 Quadro 4 - Efeitos provocados pelas redes sociais e analogia com autores ............ 25 Quadro 5 - Atores e papeis nas redes sociais ........................................................... 26 Quadro 6 - Fatores que afetam a rede social e relações .......................................... 30 Quadro 7 - Evolução das redes sociais online .......................................................... 32 Quadro 8 - Características que influenciam as mídias sociais online........................ 33 Quadro 9 - Classificação das mídias sociais online .................................................. 33 Quadro 10 - Valores associados às mídias sociais ................................................... 36 Quadro 11 - Perspectiva da classificação das inovações a partir do conhecimento . 42 Quadro 12 - Estágios da sustentabilidade que gera inovação .................................. 48 Quadro 13 - Categorização das variáveis ................................................................. 53 Quadro 14 - Palestras e cursos assistidos ................................................................ 59 Quadro 15 - Detalhamento das entrevistas com especialistas .................................. 60 Quadro 16 - Fontes de dados secundários ............................................................... 61 Quadro 17 - Técnica de coleta de dados relacionadas às fontes de evidência ......... 62 Quadro 18 - Detalhamento dos entrevistados ........................................................... 64 Quadro 19 - Descrição das condições das entrevistas ............................................. 65 Quadro 20 - Sumário executivo dos procedimentos metodológicos da pesquisa ..... 68 Quadro 21 - Características principais - Meu Móvel de Madeira ............................... 71 Quadro 22 - Características principais - Dudalina S/A .............................................. 74 Quadro 23 - Nomenclatura entrevistados .................................................................. 77 Quadro 24 - Visibilidade nas mídias sociais .............................................................. 83 Quadro 25 - Popularidade e reputação das mídias sociais ....................................... 84 Quadro 26 - Engajamento nas mídias sociais ......................................................... 102 Quadro 27 - Esclarecimentos sobre as condições do modelo de gestão ................ 109 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Diagrama de Granovetter.......................................................................... 27 Figura 2 - Buracos estruturais e laços fracos ............................................................ 28 Figura 3 - Honeycomb das mídias sociais ................................................................. 34 Figura 5 - Modelo elo de cadeia - trajetória dos fluxos de informação e cooperação 41 Figura 6 - Radar da inovação .................................................................................... 43 Figura 7 - Modelo de integração das três abordagens para gestão da inovação ...... 45 Figura 8 - Representações do desenvolvimento sustentável .................................... 47 Figura 9 - Organograma Meu Móvel de Madeira....................................................... 72 Figura 10 - Estrutura organizacional Dudalina S/A.................................................... 75 Figura 11 - Modelo de gestão de captações de inovações sustentáveis nas mídias sociais ..................................................................................................................... 111 Figura 12 - Processo de integração do conhecimento ............................................ 115 Figura 13 - Fluxograma do modelo de gestão ......................................................... 118 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 14 1.1 OBJETIVOS ................................................................................................. 16 1.1.1 Objetivo geral ............................................................................................. 17 1.1.2 Objetivos específicos ................................................................................ 17 1.2 JUSTIFICATIVA ........................................................................................... 17 1.3 ESTRUTURA DO RELATÓRIO ................................................................... 20 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................................ 21 2.1 REDES SOCIAIS ......................................................................................... 21 2.1.1 Contexto histórico...................................................................................... 21 2.1.2 Mídias sociais online ................................................................................. 31 2.1.3 Organizações e o uso das mídias sociais................................................ 35 2.2 INOVAÇÃO SUSTENTÁVEL ....................................................................... 39 2.2.1 Inovação...................................................................................................... 39 2.2.2 Sustentabilidade e inovação sustentável ................................................ 46 2.2.3 As mídias sociais e a geração de inovações sustentáveis .................... 49 2.3 CATEGORIZAÇÃO TEMÁTICA ................................................................... 53 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................... 55 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ........................................................... 55 3.1.1 Abordagem da pesquisa............................................................................ 56 3.1.2 Estratégia da pesquisa .............................................................................. 56 3.2 CASOS ELEITOS PARA O ESTUDO .......................................................... 57 3.3 TÉCNICAS E INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS............................ 58 3.4 TÉCNICA DE ANÁLISE DOS DADOS ......................................................... 64 3.5 DELIMITAÇÕES DA PESQUISA ................................................................. 66 3.6 SUMÁRIO EXECUTIVO DOS PROCEDIMENTOS DA PESQUISA ............ 67 4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........................... 69 4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES .............................................. 69 4.1.1 Meu Móvel de Madeira ............................................................................... 70 4.1.2 Dudalina S/A ............................................................................................... 73 4.2 ANÁLISE DOS DADOS................................................................................ 76 4.2.1 Redes sociais ............................................................................................. 77 4.2.1.1 Mídias sociais online .................................................................................... 77 4.2.1.2 Organizações e o uso das mídias sociais .................................................... 79 4.2.2 Inovação sustentável ................................................................................. 85 4.2.2.1 Inovação....................................................................................................... 85 4.2.2.2 Sustentabilidade e inovação sustentável ..................................................... 93 4.2.2.3 As mídias sociais e geração de inovações sustentáveis .............................. 98 4.3 SÍNTESE DA DISCUSSÃO DOS DADOS ................................................. 105 5 PROPOSIÇÃO DO MODELO DE GESTÃO .............................................. 108 5.1 JUSTIFICATIVA DA PROPOSIÇÃO DO MODELO DE GESTÃO ............. 108 5.2 PROPOSIÇÃO DO MODELO DE GESTÃO .............................................. 110 6 APLICABILIDADE DO TRABALHO PRODUZIDO ................................... 117 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 122 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 125 APÊNDICES ........................................................................................................... 134 14 1 INTRODUÇÃO Adam Smith (1983) ao abordar a Teoria da Escolha Individual preconiza que o bem estar da sociedade resulta da convergência de interesses individuais dos compradores e dos vendedores. As escolhas, por sua vez, ocorrem por meio de trocas voluntárias e competitivas. Dessa maneira, Smith (1983) traduz os conceitos de necessidades, de desejos e de demandas: elementos essenciais à compreensão das ações de marketing e reflexo da orientação estratégica das empresas. O planejamento e a execução de iniciativas voltadas a gerar desejos e então atender às necessidades dos clientes, requerem que as empresas estejam aptas a transformar o modo como desempenham essas atividades e relacionam-se com seu entorno. Berry (2002) aponta que o marketing de relacionamento é uma estratégia para pensar em clientes e criar valor. Neste aspecto, o marketing de relacionamento exerce papel fundamental ao utilizar as mídias sociais online nas iniciativas das empresas. O uso das mídias sociais afeta a construção dos relacionamentos das empresas com seus clientes. A transformação do ambiente onde ele é construído passa a ser online e a frequência da interação é o elemento primordial para que haja a consolidação desse relacionamento. Para Day (2011), essas transformações fazem parte das modificações que o meio tem provocado nas ações de marketing das empresas. Para que essas relações sejam potencializadas, o autor afirma que uma das providências a serem efetuadas concentra-se na decisão de estabelecer relacionamentos com os usuários que estão na vanguarda das novas tecnologias e que têm a influência de mobilizar os parceiros da sua rede. A construção desse relacionamento é fruto do desempenho da empresa nas mídias sociais e também das expectativas dos usuários que dela fazem parte. Ao propor a pirâmide do relacionamento Malaviya e Spargo (2002) identificam seis níveis de ligação entre a empresa e os clientes. Na base da pirâmide estão os níveis de utilidade e conveniência, refletindo as necessidades básicas dos clientes. Avançando na pirâmide estão os níveis de bem estar e de reconhecimento pessoal. Neles, observa-se um envolvimento entre as partes além da compra. No topo da pirâmide estão os níveis de interação: a auto expressão e a criação conjunta, níveis em que se identificam confiança e um relacionamento consolidado. 15 O papel das mídias sociais na construção dos relacionamentos entre empresa e clientes orienta-se no sentido de almejar o topo da pirâmide, quando passe a existir satisfação das necessidades racionais e afetivas. O papel das empresas, portanto, está focado em construir esse relacionamento e utilizar-se das ferramentas que estão a seu dispor, destacando: as mídias sociais online. A partir desse escopo, o propósito do trabalho visa estudar como estão sendo monitorados, investigados e aproveitados esses relacionamentos e os produtos resultantes dessas interações. Não se observam com facilidade modelos de gestão que tomem como norteadores os frutos oriundos das mídias sociais. Para Alves (2010) os resultados das mídias sociais podem ser percebidos pela construção do relacionamento entre empresa e cliente; o engajamento; o atendimento; o diálogo; a colaboração; a transparência; a encontrabilidade; o acesso a fontes de dados; e o tráfego. Todos esses elementos tendem a gerar resultados, podendo ser tangíveis ou intangíveis. Um dos resultados que se pretende observar a partir dos relacionamentos construídos nas mídias sociais está focado na geração de inovações sustentáveis. Inovações podem ser compreendidas, conforme Freeman e Soete (2008), como coisas novas, principalmente produtos ou serviços, processos de produção, marketing ou métodos organizacionais, que sejam percebidos como novos pelos consumidores. As inovações apresentam-se de maneira radical quando alteram o mercado em que estão inseridas, ou de maneira incremental, quando proporcionam uma mudança à empresa. Outro aspecto que se conjecturam as inovações refere-se à maneira como elas acontecem. As inovações podem ser desenvolvidas internamente na empresa, e serem chamadas de inovação fechada, ou receberem a contribuição de stakeholders da empresa e serem chamadas de aberta. (TIDD et al, 2008). Além de identificar inovações, pretende-se estudar a geração de inovações sustentáveis por meio do uso das mídias sociais nas empresas. Uma inovação sustentável ocorre quando as organizações conseguem implementar simultaneamente mudanças que atendam aos três pilares da sustentabilidade e assim serem: economicamente eficientes; compatíveis às necessidades do meio ambiente; e promotoras de justiça social (BARBIERI, 2007). 16 Este estudo, em sua fase exploratória, identificou uma lacuna no que tange à obtenção de inovações sustentáveis a partir das mídias sociais. Por isso, verificouse a possibilidade de proposição de um modelo de gestão que oriente essa iniciativa dentro das organizações. Pode-se inferir, todavia, que as empresas podem estar desenvolvendo métodos e processos organizacionais que já digam respeito a essa construção, mas não se encontraram registros na literatura científica. Para que se pudesse constatar essa assertiva foram identificadas publicações em diversas bases de dados de periódicos nacionais e internacionais, além de literatura específica que diz respeito às três áreas de interesse de estudo: inovação, sustentabilidade e mídias sociais. A pergunta de pesquisa proposta ao estudo questiona como ocorre a gestão das mídias sociais no âmbito organizacional a fim de aproveitar seu potencial e gerar inovações sustentáveis às empresas. A partir dessa lacuna, portanto, identificou-se a oportunidade de produção do Trabalho de Conclusão Final do Curso (TCFC) na modalidade de desenvolvimento de soluções e inovações, na forma de modelo e/ou sistema de gestão. Este trabalho está vinculado à Linha de Pesquisa de Sustentabilidade em Organizações do Mestrado Profissional em Administração. A pesquisa adota o método de estudo de caso para observar as melhores práticas desenvolvidas em duas organizações. As empresas escolhidas para o estudo foram as empresas Dudalina S/A focando especialmente a marca Dudalina Feminina e a Meu Móvel de Madeira, escolhidas por conveniência da pesquisadora. Por se tratar de um estudo de caso e tratar os dados colhidos subjetivamente, a caracterização da pesquisa assume caráter qualitativo ao passo que se concretiza por meio da pesquisa bibliográfica, da pesquisa exploratória e do estudo de caso. O estudo consiste em caracterizá-las visando propor um modelo de gestão organizacional, a partir da utilização das mídias sociais, que permita gerar inovações sustentáveis nas empresas. Na continuidade deste capítulo, apresentam-se os objetivos deste TCFC. 1.1 OBJETIVOS De modo a buscar respostas à problematização exposta, apresentam-se os objetivos deste estudo, que se subdividem em geral e específicos. 17 1.1.1 Objetivo geral Propor um modelo de gestão organizacional, que vise a utilização das mídias sociais para captação de inovações sustentáveis nas empresas. 1.1.2 Objetivos específicos a) Descrever o contexto das organizações escolhidas para o estudo de caso no que se refere às práticas atuais de gestão e à utilização das mídias sociais para gerar inovações sustentáveis; b) Verificar a existência de modelos de gestão em relação à adoção de inovações sustentáveis a partir do uso das mídias sociais; c) Apresentar o modelo de gestão, descrevendo as principais soluções e ferramentas que podem contribuir na geração de inovações sustentáveis a partir das mídias sociais; d) Avaliar a aplicabilidade e os possíveis efeitos da implementação do modelo de gestão proposto. 1.2 JUSTIFICATIVA O propósito desta seção é apontar justificativas e esclarecimentos sobre a importância e a necessidade em realizar o presente estudo. O primeiro esclarecimento está relacionado aos termos redes sociais e mídias sociais, muitas vezes usados de modo intercambiável, sem distinção de utilização, finalidade e aplicabilidade. Dessa forma, o entendimento, a diferenciação e a usabilidade desses conceitos já torna relevante a proposição do estudo. O tema principal do estudo – mídias sociais online – está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas. Dados da própria rede social Facebook afirmam que ao final do ano 2013 o site da já contava com 1,23 bilhões de usuários (FACEBOOK, 2014). A plataforma para serviço de microblogging Twitter já está disponível em mais de trinta e quatro idiomas e alcança mais de 200 milhões de usuários (TWITTER, 2014). Além desses exemplos, a diversidade de novas mídias sociais que surgem e a adesão massiva das pessoas a elas é um fato observado na sociedade atual. 18 As mudanças ocorridas em decorrência desses adventos já haviam sido observadas por Castells (2009) quando discorre sobre redes. O autor afirma que a sociedade é composta delas e essas são mediadas pelas novas tecnologias da informação e comunicação. Essa nova realidade demonstra a importância do desenvolvimento de estudos que observem como as empresas estão se portando e aproveitando a reunião de clientes e consumidores em um espaço democrático. Outra justificativa para a pesquisa é a conexão da inovação às mídias sociais. A finalidade é não somente observar as mídias sociais como uma inovação em si mesmo, mas também abarcar a possibilidade de utilizá-las como meio para possibilitar a criação de inovações sustentáveis. Nota-se uma oportunidade para as empresas aproveitarem essas informações que podem já estar dispostas e utilizá-las para incrementar e conferir competitividade aos negócios. Diferentes autores, que serão citados ao longo do estudo, observam o ambiente das mídias sociais como locus propício à geração de inovações sustentáveis. Gallaugher e College (2010), por exemplo, descrevem que o diálogo entre consumidores e empresas enriqueceu-se a partir do advento das mídias sociais. No artigo, os autores analisam as práticas de uma empresa nas mídias sociais, e sinalizam lacunas existentes no que tangem a outras possibilidades de atuação. Os autores ainda inferem que são notórias as oportunidades que emergem a partir desses relacionamentos. Essas oportunidades, assim sendo, podem ser desdobradas em inovações. Kaplan e Haenlein (2010) também expõem as oportunidades geradas a partir das mídias sociais. Essas ferramentas, segundo os autores, permitem que as empresas estejam em contato direto com os clientes de forma rápida, efetiva e econômica. Os autores sugerem às empresas que estejam atentas aos resultados dessas interações especialmente sob a ótica da sociabilidade e do meio. O estudo justifica-se também quando passa a integrar uma nova perspectiva à inovação: a sustentabilidade. Assim sendo, a inovação não é mais considerada um fim em si mesmo, mas aquela que apresenta foco na sustentabilidade, ao respeitar seus pilares – social, ambiental e econômico. Para Silva et al (2010) a inovação sustentável é aquela que simultaneamente consegue criar valor sem comprometer o atendimento às necessidades das gerações futuras. A congregação desses dois temas – inovação e sustentabilidade – 19 está gradativamente integrando as estratégias das empresas. (BRASIL et al, 2014; PHILIPPI; MARTINS, 2014; PEDROZO; WINCKLER; SILVA, 2014). Desse modo, os temas centrais abordados pelo estudo podem ser considerados relativamente recentes no campo de estudo da administração. Especialmente quando relacionados e quando se busca observar a reunião desses sob um fato observado. É fatual a lacuna de estudo existente quando da aplicabilidade das mídias sociais pelas empresas para geração de inovações sustentáveis aos negócios. Observa-se, a partir das citações destacadas em estudos previamente realizados, a demonstração da importância, das classificações e das metodologias de gerenciar as ações no contexto das mídias sociais. (MANGOLD; FAULDS, 2009; KAPLAN; HAENLEIN, 2010; KIETZMANN; HERMKENS; MCCARTHY, SILVESTRE, 2011; ROCHA; JANSEN; LOFIT; FRAGA, 2013). A proposição de um modelo de gestão que busca, a partir dos resultados de tais interações, a geração de inovações sustentáveis, não foi observada em periódicos nacionais e internacionais que versassem sobre redes e inovação, bem como seus desdobramentos que interessassem ao tema nas bases de dados EBSCO, SciELO e demais periódicos de relevância. A pesquisa justifica-se ainda por abordar não somente os conteúdos envolvidos e descrever a observância dos fatos colhidos, mas a articulação deles na proposição de um modelo de gestão que busca captar inovações sustentáveis às empresas a partir das mídias sociais. E esse, ser o resultado final da pesquisa. A pesquisa também se aprova por tomar algumas referências como norteadoras e que vem a reforçar a relevância científica do estudo. Dentre eles, citase Mount e Martinez (2014) ao sugerir que as mídias sociais são uma ferramenta para a inovação aberta; Cenerino et al (2013) ao enfatizar as redes sociais como fenômeno cultural e ambiente propício à inovação; Malhotra e Majchrzak (2014) ao recomendarem o gerenciamento de multidões para encarar os desafios da inovação; e Quadros (2008) ao auxiliar o gerenciamento do processo de inovação. A partir das lacunas identificadas pelos artigos citados e os demais referenciados nesse trabalho, a proposta de trabalho pretende contribuir para a geração de um modelo de gestão organizacional que busque captar inovações sustentáveis a partir das mídias sociais. 20 1.3 ESTRUTURA DO RELATÓRIO A estrutura do relatório está organizada com a finalidade de proporcionar ao leitor melhor aproveitamento das informações disponibilizadas. Para tanto, o presente capítulo introduz a pesquisa, o contexto em que foi aplicada, os objetivos, a justificativa e uma síntese dos procedimentos metodológicos utilizados. O capítulo seguinte apresenta a revisão bibliográfica dos conceitos teóricos e referenciais que são fundamentais para a solidificação da pesquisa. Na sequência estão descritos os procedimentos metodológicos e a justificativa para escolha das organizações escolhidas para o estudo de caso. No prosseguimento, apresentam-se a discussão e análise dos resultados obtidos nas etapas anteriores e por fim, como cumprimento do objetivo geral do que aqui se apoia, a proposição do modelo de gestão. Ainda estão contidos ao final do relatório a aplicabilidade do modelo produzido, as considerações finais da pesquisa, as referências utilizadas para a construção do trabalho e nos apêndices, os instrumentos de pesquisa utilizados para a coleta de dados. 21 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Revisar os conceitos teóricos que são fundantes para a compreensão dos temas centrais de estudo é o propósito deste capítulo. Nesse sentido, apresenta-se uma revisão da literatura sobre redes sociais e inovação, a relação entre ambos e a influência das mídias sociais na geração de inovações sustentáveis. Ao final do capítulo também pode ser observada a construção de um quadro contendo a categorização temática dos assuntos desenvolvidos destacando as principais categorias teóricas e os respectivos descritores. 2.1 REDES SOCIAIS A discussão sobre redes sociais e seu resgate histórico é fundamental à compreensão do papel que elas desempenham no contexto atual. Relevante também é o entendimento dos principais conceitos introduzidos por pesquisadores de trabalhos seminais que podem ser aplicados ao objeto de estudo. Para melhor compreensão do fenômeno das mídias sociais, descreve-se um contexto histórico a partir da conceituação do fenômeno de redes e como elas passaram a se tornam um meio de comunicação online e fazerem parte das empresas. 2.1.1 Contexto histórico O termo redes sociais tem sua origem no campo das ciências sociais. São os pesquisadores dessa área que trazem as primeiras contribuições acerca de suas implicações. À luz da antropologia social, Barnes (1954) descreve no artigo Class and Committees in a Norwegian Island Parish a pesquisa realizada na ilha de Bremnes na Noruega. O estudo ocorreu durante a década de 1.950 na busca da compreensão da organização social de uma sociedade simples, abarcando suas interações e também a maneira de arranjar-se. Barnes (1954), a partir da apresentação dos resultados de estudo, identificou três sistemas sociais em Bremnes: o primeiro deles está relacionado à divisão territorial da ilha; o segundo ao sistema econômico; e o terceiro à ausência de fronteiras. O último sistema social foi objeto de estudo em profundidade, que detalhou como os integrantes dessa rede relacionavam-se e os motivos pelos quais também deixavam de fazê-lo. A justificativa encontrada foram os laços de amizade e de 22 parentesco, o que tornou os elementos dessa rede móveis, permitindo a entrada e/ou a saída de novos e a possibilidade de cada indivíduo gerar novas redes. A partir dessa constatação, Barnes (1954) passou a chamar este campo de rede social. O autor passou a utilizar o termo network ao invés de web, pois teve o intuito de prover um caráter multidimensional ao conceito. A tradução compreende network com o significado de rede e web é indicativo de teia. Munido dessa premissa, o autor descreve a imagem da rede como um conjunto de pontos ligados por linhas, em que aqueles são as pessoas e estas são as relações entre elas. Essa noção gráfica foi utilizada por autores das décadas de 1950 e 1960 e ainda é utilizada para compreensão da capilaridade das redes e a determinação do seu alcance. (MITCHELL, 1969; GRANOVETTER, 1973; TICHY et al, 1979). A incorporação do termo “redes sociais”, segundo Mitchell (1969), popularizou-se a partir desse período. Isso aconteceu devido à insatisfação da estrutura de interpretação social e ao desenvolvimento quantitativo do interrelacionamento pessoal. A combinação desses dois fatores permitiu ao autor o desenvolvimento de estudos reportados ao tema. Mitchell (1969) propõe que o conceito de rede social concentra-se nas ligações entre as pessoas. As propriedades adicionais dessas ligações podem ser usadas e interpretadas pelo comportamento dos indivíduos no momento das interações que acontecem na rede social. Isso direciona que é a rede quem dita e define as características do indivíduo que a compõe. Para detalhar as características definidas pelo autor, apresenta-se o Quadro 1. Nele distinguem-se as peculiaridades das redes sociais em morfológicas e interacionais e descrevem-se suas subdivisões. Implícitos nas características descritas no Quadro 1, pode-se inferir que a rede social está baseada na existência do relacionamento dos indivíduos que dela fazem parte e atuam corroborando com o conceito que a rede social busca apoiar. De acordo com Barnes (1987, p.163), a rede social consiste “na análise e descrição daqueles processos sociais que envolvem conexões que transpassam os limites de grupos e categorias”. 23 Quadro 1 - Características das redes sociais por Mitchell (1969) Características das redes sociais Morfológicos Características das redes e de suas ligações Ancoragem Ponto referencial da rede Acessibilidade Grau em que o comportamento dos indivíduos é influenciado pelas relações da rede social Profundidade Alcance Interacionais Conteúdo Direção Durabilidade Intensidade Grau de intimidade entre os integrantes da rede social Quantidade de ligações realizadas através da rede social Características do comportamento das pessoas durante as interações Significado da pessoa no âmbito da rede social Rumo das interações das pessoas na rede social Horizonte de tempo em que há interações que geram obrigações e direitos entre as pessoas da rede social Grau em que os indivíduos estão preparados para honrar suas obrigações com os outros indivíduos dentro da rede social Frequência Regularidade da interação Fonte: Adaptado de Mitchell (1969) Além da observação da existência das redes sociais e dos relacionamentos que ocorrerem por intermédio delas, estudiosos posteriores aprofundaram-se no tema. A exemplo, Tichy et al. (1979) apresentam um quadro com as propriedades que contemplam as redes sociais e indicam características essenciais para serem utilizadas como ferramentas para compreensão de seu funcionamento. Segundo os autores, as propriedades dividem-se em: conteúdo, ligações, estrutura e atores, conforme exemplifica o Quadro 2. 24 Quadro 2 - Propriedades das redes sociais Conteúdo da transação Afeto Influência e/ou poder Informação O que pode ser trocado durante a relação social Bens e/ou serviços Natureza das ligações Intensidade Reciprocidade Força e natureza qualitativa das relações sociais Clareza de expectativas Multiplexidade Características estruturais Tamanho Conectividade Densidade Abertura Estabilidade Padrão das relações entre os atores da rede social Acessibilidade Hierarquia Atores da rede social Estrela Conector Ponte Porteiro Desertor Fonte: Adaptado de Tichy et al (1979). Figuras atuantes nas redes sociais Comparativamente às características das redes sociais propostas por Mitchell (1969) no Quadro 1 e a classificação sugerida por Tichy et al. (1979) no Quadro 2, pode-se dizer que há congruências na abordagem dos autores, apontando o direcionamento de como as relações sociais acontecem. O objeto das interações assemelha-se às características interacionais de Mitchell (1969), juntamente com os conteúdos de transação e a natureza das ligações propostas por Tichy et al (1979). As características morfológicas das redes sociais dizem respeito à constituição das redes. Wasserman e Faust (1994) descrevem essas características conforme podem ser vistas no Quadro 3 e complementam a visão de Mitchell (1969) exposta no Quadro 2. 25 Característica Quadro 3 - Propriedades morfológicas das redes Visualização gráfica Definição Centralidade Ator é o elemento central da rede Autonomia estrutural Ator conecta outros dois atores Equivalência estrutural Atores com comportamentos similares Densidade Interconexão entre os atores Coesão Intensidade do relacionamento entre os atores Fonte: Adaptado de Wasserman e Faust (1994). Os efeitos provocados pelas características descritas no Quadro 3 podem ser relacionados às características interacionais das redes sociais, caracterizadas pelo comportamento dos atores quando da sua relação dentro da rede social, proposta por Mitchell (1969). Também pode ser relacionado às propriedades das redes sociais descritas por Tichy et al (1979). O Quadro 4 atende a esse propósito. Quadro 4 - Efeitos provocados pelas redes sociais e analogia com autores Característica Centralidade Efeito proposto por Wassermann Acesso a recursos externos Autonomia estrutural Potencializam-se os benefícios Equivalência estrutural Comportamento similar dos atores Facilita o fluxo de recursos. Sistema fechado Densidade Coesão Ganho de informações privilegiadas 1. 2. 3. 4. 1. Analogia Autor Conteúdo de transação Ator estrela Característica interacional de conteúdo Característica morfológica de ancoragem Ator conector Tichy et al(1979) Tichy et al(1979) Mitchell (1969) Mitchell (1969) Tichy et al(1979) 2. Característica morfológica de acessibilidade Mitchell (1969) 1. Ator ponte Tichy et al(1979) 1. Característica estrutural de densidade Tichy et al(1979) 2. Característica morfológica de profundidade 1. Característica interacional de intensidade 2. Natureza das ligações Mitchell (1969) Mitchell (1969) Tichy et al(1979) Fonte: Elaborado pela autora (2014). Relacionar o pensamento dos autores sobre o assunto é efetivo para identificar quais são as lacunas obstantes ao estudo das redes sociais. Desse modo é possível supri-las com demais autores e também reforçar os principais conceitos que devem ser levados em consideração para o prosseguimento do estudo. 26 A partir da observação e análise do Quadro 4 pode-se inferir que um elemento essencial na construção e funcionamento das redes sociais são os recursos e seus fluxos. Esses são apontados pelos autores como informação, status e poder. Allen (1969) afirma que o fluxo de informações é facilitado pelas configurações das redes sociais, pois, a informação escrita precisa ser lida e tornase mais onerosa a ser multiplicada. Importante ressaltar que o autor traz o elemento da tecnologia como um dificultador para prover informações no fluxo das redes sociais. A observação das analogias também permite identificar que, além do fluxo de recursos, a figura do ator na perspectiva da rede social é determinante para que as relações dentro dela ocorram. Mitchell (1969) não inclui os autores que fazem parte da rede social como figuras correspondentes. Tichy et al (1979) apropriam-se de nomenclaturas desenvolvidas por Granovetter (1973) e inserem os autores em diferentes atuações no contexto das redes sociais, de acordo com o Quadro 5. Quadro 5 - Atores e papeis nas redes sociais Ator Papel Indivíduo que possui o maior número de nominações Estrela Conector Indivíduo que não é membro de um grupo mas liga dois ou mais Indivíduo que é membro de múltiplos grupos dentro da rede Ponte Porteiro Um indivíduo estrela que liga a rede com domínios externos Desertor Um indivíduo que saiu da rede Fonte: Adaptado de Tichy et al (1979). A compreensão da teoria sociológica no entendimento dos mecanismos que compõe as redes sociais nesse contexto foi auxiliada pelo estudo de Granovetter (1973). A colaboração aconteceu quando o autor apresentou o artigo sobre a força dos laços fracos nas relações sociais. Granovetter (1973) descreveu que todas as relações que abrangem uma rede social são compostas por laços, que são mais ou menos intensificados. Essa intensidade está relacionada à duração da relação, à intensidade emocional, à intimidade e à reciprocidade. Quanto maiores forem esses indicadores, mais fortes serão os laços e mais congruentes serão os indivíduos que nele estarão inseridos. O autor, assim sendo, focou o estudo nos “laços fracos” que se formam nas interações das redes sociais, os quais intitulou de pontes, conforme pode ser 27 observado na Figura 1. Para o autor, as pontes são mais significantes como conexão entres grupos aparentemente distintos. Kaufman (2012) contribui que indivíduos que compartilham “laços fortes” integram o mesmo círculo social, ao passo que indivíduos que compartilham “laços fracos”, como entre E e I na Figura 1, são essenciais para que haja interação com outros grupos e o rompimento de ilhas isoladas, o que de fato configura e assume a definição de rede social. Figura 1 - Diagrama de Granovetter Fonte: Granovetter (1973). São por intermédio dos relacionamentos intitulados de “laços fracos”, segundo Granovetter (1973), que se explora a oportunidade de conhecer outras realidades. Esses relacionamentos são fortemente observados sob a ótica das redes sociais na internet, ou seja, a pura observação da construção de laços fracos entre os seus participantes. Kafuman (2012, p. 209) reforça esse pensamento quando afirma que essas conexões [...] guardam semelhança com a definição de “laços fracos” [...] ao desempenharem papel de propagadores de inovações, difundindo referências e experiências, facilitadas pela tecnologia que amplia o acesso e acelera as interações com um número maior de pontos de contato. No estudo seguinte, que revisitou a teoria defendida por Granovetter, os laços fracos são apontados como essenciais à obtenção de uma sociedade coesa e coerente. O mesmo autor em 1983 afirma que a inexistência desses torna a geração de novas ideias lenta; os avanços científicos deficientes; e os grupos existentes dentro da sociedade menos conectados. Isso porque existe uma tendência natural de o ser humano relacionar-se com os semelhantes, mecanismo intitulado pelo autor de homofilia. 28 A força dos laços fracos tem sua relevância determinada pela possibilidade de oportunizar mobilidade ao integrante na rede social. O autor, após estudo, verificou que pessoas com mais laços fracos possuíam mais acesso a informações sobre oportunidades de trabalho. Corroborando o dito pelo autor, Castells (2009, p. 445) define que laços fracos são úteis no “fornecimento de informações e na abertura de novas oportunidades a baixo custo, [...] facilitam a ligação de pessoas com diversas características sociais, expandindo assim a sociabilidade para além dos limites socialmente definidos”. Nesse estudo o autor também reforça a importância dos laços fortes, os quais oportunizam mais facilmente a obtenção de recursos e informações. Todavia, o foco desse estudo destinou-se aos laços fracos. A partir da concepção e internalização do conceito de laços fracos, Burt (1992) identificou e definiu os buracos estruturais no interior das redes sociais. Reforçando o exposto por Granovetter, os laços fortes são determinados pelas linhas sólidas e os fracos pelas tracejadas, o que configura a existência de três grupos sociais distintos ao observar a Figura 2. A figura indicada pelo autor aponta “you” como o centro da rede social e referência para a observação dos buracos estruturais. O primeiro deles ocorre entre as ligações de A e as de “you”, ou seja, as ligações entre A e C. O segundo buraco segue a mesma lógica e é definido pela inter-relação de B e C. O terceiro e mais aparente buraco estrutural é a ligação entre A e B. Figura 2 - Buracos estruturais e laços fracos Fonte: Burt (1992) 29 A diferença entre os dois conceitos – laços fracos e buracos estruturais – reside na desigualdade da titulação e da aplicabilidade. O fundamento da força dos laços fracos é a solidificação do abismo entre dois grupos sociais distintos. O argumento do buraco estrutural, por sua vez, versa sobre definição, abrangência e impacto do abismo. Os buracos estruturais, portanto, são os vazios da estrutura social que distanciam fontes não redundantes de informação. Há ganho e geração de vantagem, conforme elucidado pelo autor para o tertius gaudens – terceiro que se beneficia, como pode ser visto na Figura 2, representados por A, B e “you”. Carvalho (2002) complementa que os buracos estruturais constituem a oportunidade de agenciar o fluxo de informação produzidos no conjunto das redes sociais. Os buracos estruturais são, segundo o autor, locus mais propícios à geração de ideias e inovações, e a chave para o desenvolvimento do capital social. Boissevain (1974) afirma que o ser humano mantém suas redes sociais por meio da manutenção de estruturas sociais como o círculo de amigos, parentes e colegas de trabalho; as visitas; barganhas; fofocas; e manipulações. O propósito é tirar algum proveito dessa rede de relações. Pode-se constatar, portanto, que a construção de pontes a partir de laços fracos e a identificação de buracos estruturais é apenas um meio para obter outras influências, que segundo o autor vão além do costume, coerção e ordem social. Para Both (1976), a rede social sob a ótica do contexto familiar, sofre influência de fatores que afetam seu funcionamento e direcionam o curso de suas ações. A autora reforça que a variabilidade do meio social permite escolhas que afetam os relacionamentos dentro da rede. Esses fatores podem ser identificados e relacionados aos estudos e conceitos apresentados, conforme pode ser visto no Quadro 6. O estudo considerou a rede social como sendo a unidade familiar e suas relações no contexto da sociedade industrial pós segunda guerra mundial. 30 Quadro 6 - Fatores que afetam a rede social e relações Fatores que afetam a rede social Vínculos econômicos Vizinhança Relacionamentos fora da rede Analogia 1. Conteúdo de transação 2. Natureza das ligações 1. Atores da rede social 1. Laços fracos Autor Tichy et al(1979) Tichy et al(1979) Tichy et al(1979) Granovetter (1973) Burt (1992) Tichy et al(1979) 2. Buracos estruturais 1. Característica estrutural de densidade Mobilidade física e social 2. Característica morfológica de profundidade Mitchell (1969) Personalidade individual 1. Atores da rede social Tichy et al(1979) Fonte: Elaborado pela autora (2014). O produto das relações sociais são as relações com um fim em si mesmas e a construção do capital social. Para Coleman (1994), capital social é um ativo intangível e constrói-se quando as relações entre as pessoas facilitam o curso de determinadas ações. A complementar, o autor reforça que os nós da rede proporcionam o capital humano, enquanto as ligações, o capital social. Dessa maneira, pode-se verificar que a construção do capital social ocorre a partir dos relacionamentos dentro da rede social, podendo sê-los de laços fortes, fracos ou oriundos de buracos estruturais. Putnam (2002), por sua vez, associa a existência e desenvolvimento do capital social ao construto confiança, atuando como elemento facilitador da ação coletiva. As redes sociais, assim sendo, são ambientes propícios e ocasionadores de tais condições. A partir da identificação da morfologia das redes sociais e do modo como acontecem as relações dentro da estrutura e dos fluxos identificados quando da ocorrência das relações, pode-se identificar uma próxima etapa para sua total compreensão: a análise dos dados obtidos e resultados de suas interações. Tais dados são chamados de sociométricos, que segundo Tichy et al (1979) são o resultado do estudo das relações entre os indivíduos de um mesmo grupo e entre vários grupos da mesma pertença. O autor alerta para a facilidade de coleta e obtenção desses dados e para a dificuldade e criteriosidade para sua análise. Inserir os conceitos revisitados nos estudos realizados sobre redes no contexto do tema é essencial para a compreensão de sua influência mediante a geração de inovação sustentável para as empresas que se utilizam dessas ferramentas. 31 Além disso, compreender como o histórico de redes sociais pode ser observado no contexto das mídias sociais online e como são percebidas e direcionadas no contexto empresarial é o que se destaca no tópico seguinte. 2.1.2 Mídias sociais online Incluir os parâmetros determinados no contexto histórico das redes sociais e trazê-los para um horizonte temporal diverso requer que algumas condições façamse presentes. Uma delas é a revolução digital criada a partir da popularização da Internet na década de 1990. Esse evento é considerado importante, pois tem transformado os hábitos das relações interpessoais e por consequência o arranjo como se configuram as redes sociais nessa nova estrutura. A combinação dos dois fatores, portanto, resultou no surgimento das redes sociais online (SILVA, 2009). Para Boyd e Ellison (2008) as redes sociais na internet podem ser definidas como um espaço que permite ao usuário a construção de um perfil público limitado. Nele, o usuário pode construir uma lista de contatos com quem deseja estabelecer uma relação, além de poder visualizar as relações feitas por outros integrantes da mesma rede. Raacke e Raacke (2008) conceituam as redes sociais online como um espaço virtual que permite a um grupo específico o compartilhamento de interesses comuns e, com isso, comunicam-se, compartilham e discutem ideias. Petina et al (2013) reforçam o conceito trazendo três elementos que caracterizam as redes sociais online: a exibição pública de conexões, a propagação exponencial de conteúdo e a acessibilidade sem precedentes. Boyd e Ellison (2008) reforçam sobre o conteúdo gerado e percorrido dentro das redes sociais. Para os autores o conteúdo possui caráter digital e pode ser percebido como informação, influência ou capital social. Após o conteúdo, o segundo elemento a ser observado é a estrutura da rede social online. Nesta, o padrão de nós e linhas é identificável e possui rastreabilidade comprovada, principal distinção das redes sociais off-line. Kim et al (2013) propõem uma representação gráfica sobre a evolução das redes sociais online utilizando-se de três perspectivas distintas: o usuário, a tecnologia e o fornecedor, como pode ser observado no Quadro 7. As óticas destacadas na interpretação dos autores fazem alusão a três pilares essenciais para 32 a evolução das redes sociais online no intuito de acompanharem a evolução vivenciada pela internet ao acompanhar a Web 1.0, 2.0 e 3.0. Quadro 7 - Evolução das redes sociais online Perspectivas da evolução das redes sociais online Conectividade do conteúdo Interoperabilidade do serviço Tecnologia Plataforma de acesso Estrutura do serviço Intenção social Perspectiva da relação social Usuário Informação comportamental Métodos de busca Provisão do serviço Infraestrutura do negócio Fornecedor Mercado Estratégia do negócio Fonte: Kim et al (2013). Sob a perspectiva tecnológica, para que as redes sociais online possam se manter atrativas, deverão ter um conteúdo de conectividade persuasivo e que contemple além da relação interpessoal e das máquinas. Sob o ponto de vista da plataforma de acesso, a tendência é a compatibilidade com diversos dispositivos interconectados. Para o usuário, a busca é pela recomendação de conteúdo de acordo com seus interesses e enraizados socialmente por conta da facilidade de comunicação. Ao fornecedor cabe que a provisão dos serviços seja através de centros de dados e a estratégia de negócio esteja centrada na convergência e multidimensionalidade do conceito da rede social online. Até o presente momento, as redes sociais online podem ser definidas, segundo Siqueira (2014), como um ambiente e/ou reunião de pessoas em função de algum interesse. Ao passo que esse ambiente torna-se um canal de comunicação e que combine o componente social, a mesma rede social online passa a se chamar de mídia social online. Sua distinção advém do papel das pessoas nas interações e da possibilidade da rede social atuar como um canal de comunicação. O conceito mais adequado ao estudo, portanto, é o de mídias sociais, que segundo Kaplan e Haenlein (2010) surgem da combinação de duas condições: a Web 2.0 e a pré-disposição do usuário em gerar conteúdo no que se intitula User Generated Content. As mídias sociais, assim sendo, são um conjunto de aplicativos desenvolvidos, baseados e executados nos fundamentos técnicos e ideológicos da Web 2.0 que permitem a criação e troca de conteúdo gerado pelo usuário. Algumas variáveis devem ser observadas quando da análise das mídias sociais e sua influência com o meio em que estão inseridas, bem como a relação de 33 seus atores. Para Kaplan e Haenlein (2010) esses indicadores são essenciais e determinantes para originar uma classificação das mídias sociais online e sugerem os elementos indicados no Quadro 8. Quadro 8 - Características que influenciam as mídias sociais online Aspecto de mídia Presença social Percepção de outro ator envolvido Riqueza da mídia Eficiência do meio de comunicação Aspecto social Auto apresentação Controle Auto revelação Compreensão Fonte: Kaplan e Haenlein (2010). Sob os aspectos de mídias destacam-se a presença social e a riqueza da mídia. A primeira alude-se aos elementos tangíveis que os atores podem perceber durante suas relações utilizando-se das mídias sociais. Quanto maior for esse indicador, maior é a permissividade da influência da comunicação. A segunda alega a possibilidade de se atenuarem as ambiguidades e os ruídos durante o processo de comunicação. Sob o aspecto social das mídias sociais está o contraponto da auto apresentação e da auto revelação. Esses processos versam sobre o que é informado e o que é percebido pelos atores da rede durante seu relacionamento nas mídias sociais online. Os mesmos autores, Kaplan e Haenlein (2010), sugerem uma classificação das mídias sociais quanto à intensidade dos indicadores supracitados, conforme pode ser detalhado no Quadro 9. Quadro 9 - Classificação das mídias sociais online Presença social e riqueza da mídia Classificação das mídias sociais online Baixa Média Alta Auto apresentação / auto revelação Baixa Projetos colaborativos Comunidades de conteúdo Mundos virtuais de jogos Alta Blogs Sites de Mundos virtuais relacionamento sociais Fonte: Kaplan e Haenlein (2010). No primeiro quadrante, em que todos os indicadores apresentam baixa intensidade, estão classificados os projetos colaborativos de mídias. Pode-se citar a mais popular dentre elas: a Wikipedia, uma rede social colaborativa multilíngue de licença livre. À medida em que se intensificam a presença social e a riqueza da mídia, mas ainda permanecem baixos os demais indicadores, apresentam-se as 34 comunidades de conteúdo, como por exemplo, compartilhamento de vídeo por meio do Youtube. No quadrante extremo estão os jogos virtuais, em que se mantém baixa a auto apresentação e a auto revelação, mas elevada a presença social e a riqueza de mídia. Cita-se como exemplo o Second Life, um ambiente virtual e tridimensional que simula fatos da vida real. Quando a abertura e apresentação dos atores envolvidos é maior tem-se os blogs em uma categoria inicial, distribuídos em diversas plataformas. Seguem-se os sites de relacionamento, como o Facebook, e com intensidade máxima nos dois indicadores, os mundos virtuais sociais, representados pelos jogos online como World of Warcraft. As classificações sugeridas para o tema são diversas e ocasionalmente complementares. Opta-se aqui por apresentar também a classificação funcional das mídias sociais propostas por Kietzmann et al (2011). Os autores elaboraram a representação gráfica de um favo de mel, o qual possui a construção em blocos, que indicam componentes das mídias sociais, como pode ser visto na Figura 3. Figura 3 - Honeycomb das mídias sociais Fonte: Kietzmann et al (2011) Os blocos determinados pelos autores na Figura 3 permitem avaliar o usuário das mídias sociais, suas experiências e também suas implicações nas organizações. A combinação de dois ou mais elementos apresentados na Figura 3 configuram as características de uma determinada mídia social. 35 Os autores reforçam que algumas mídias sociais têm atingido um equilíbrio das características propostas pelos blocos, uma vez que conseguem alcançar mais do que quatro blocos. É o exemplo da rede profissional LinkedIn, que foca na identidade, nos atributos e na reputação do usuário e também direciona esforços para os relacionamentos dentro da rede. Complementando a classificação proposta por Kietzmann et al (2011) pode-se observar que os elementos presença, grupos e relacionamentos podem ser considerados aspectos de mídia de presença social, conforme citado por Kaplan e Haenlein (2010). O bloco da conversa pode ser equiparado ao aspecto de mídia de riqueza social, por tratar da eficiência do meio em que é gerada a comunicação. A identidade e a reputação das mídias sociais podem ser consideradas como aspectos sociais de auto revelação, pois podem acontecer de modo consciente ou não. O compartilhamento, pode ser encarado como o aspecto social da auto apresentação, porque tem um caráter de controle sobre a maneira como o usuário age nas mídias sociais. Destaca-se, a esse ponto, que as plataformas de mídias sociais citadas como exemplos às duas classificações propostas são menos importantes que a proposta de categorização. Isso porque a efemeridade dos meios não permite que esses exemplos sejam imutáveis ao longo do tempo. 2.1.3 Organizações e o uso das mídias sociais Para que as organizações possam se inserir e se tornarem ativas no contexto das mídias sociais é primordial que tenham sapiência do conceito histórico das redes sociais e da forma como essas se adaptaram ao ambiente online. Além disso, é indispensável que compreendam as implicações que o uso dessa ferramenta – ou a falta dela – pode gerar no curso das atividades empresariais e perante o mercado. Gallaugher e Ransbothan (2010) demonstram a transformação que as mídias sociais causaram no processo de comunicação das organizações. Os autores sugerem uma mudança nas interações entre consumidores e empresas ao apresentar o conceito da comunicação baseada em três fluxos: megafone, ímã e monitor. No fluxo representado pelo megafone, a comunicação parte da organização para o cliente, enquanto que no retratado pelo ímã, a direção é a oposta. O terceiro 36 fluxo é gerado sob a existência das mídias sociais, intitulado monitor, pois direciona a comunicação entre os consumidores. Os autores afirmam que o entendimento desses fluxos permite a identificação dos desafios pertinentes a melhor utilização das mídias sociais. O posicionamento que a empresa vai adotar quanto ao uso das mídias sociais e quais plataformas vai direcionar seus esforços é uma decisão estratégica que deve estar consoante ao negócio da empresa. Esse posto pode ser definido como uma mera presença virtual, conforme exposto por Naylor et al (2012). Nesse caso, a finalidade é apenas se colocar na condição de participante da mídia social, sem a potencialidade de gerar externalidades positivas, adotando uma postura passiva quando da experiência das marcas perante as mídias sociais. Avançar estrategicamente no uso das mídias sociais e deixar de agir somente defensivamente requer que as empresas avaliem fatores internos e externos para tomar as melhores decisões. Recuero (2009) indica quatro valores básicos que permeiam o uso das mídias sociais, os quais são construídos dentro do próprio ambiente em que acontecem e devem ser observados atentamente para uma decisão estratégica sustentável. Quadro 10 - Valores associados às mídias sociais Visibilidade Presença na rede social Reputação Percepção construída pelos demais atores Popularidade Audiência Autoridade Fonte: Recuero (2009). Poder de influência do usuário Os valores apresentados por Recuero (2009) no Quadro 10 são avaliados à medida em que o usuário interage nas mídias sociais. Este estudo utiliza-se dos mesmos valores, sob a perspectiva da empresa: para gerar visibilidade, exige-se conectividade nas mídias sociais; para obter reputação e popularidade, aposta-se na existência de laços fracos; e para alcançar autoridade, demanda-se a existência de capital social conector. Difundir o uso das mídias sociais como ferramenta de marketing para as organizações requer que esse feito contemple o planejamento de marketing da empresa. A comunicação integrada de marketing, conforme enuncia Boone e Kurtz 37 (2007), tenta coordenar e controlar os diversos elementos do mix promocional. Uma dessas formas é a presença digital nas mídias sociais com o objetivo de produzir uma mensagem focada no cliente. As mídias sociais, portanto, tem papel fundamental no composto do mix de marketing das empresas. Mangold e Faulbs (2009) asseguram que elas afetam a consciência, a aquisição de informações, as opiniões, as atitudes, o comportamento de compra e pós-compra, a comunicação e a avaliação dos usuários, e logo, os consumidores. Os autores reforçam a importância do fluxo de comunicação conforme exposto por Gallaugher e Ransbothan (2010) quando da importância da comunicação entre os clientes sobre a empresa ao utilizarem as mídias sociais. Uma das grandes vantagens do uso das mídias sociais reside na facilidade de encontro com o público-alvo das empresas. Outras vantagens apontadas por Weinberg e Pehlivan (2011) são: o baixo custo de aporte de recursos para ingressar na utilização dessas mídias; a abrangência e variabilidade dos objetivos pretendidos; e a capacidade de atingir mais pessoas por meio de ativos intangíveis como a construção de capital social, confiança, autenticidade e transparência. Sob essa perspectiva, a gestão da marca passa a acontecer de maneira colaborativa, integrando a empresa e os clientes, em um processo de comunicação de muitos emissores e receptores, além de uma grande quantidade de intercâmbios e cooperação. Com isso, substitui-se o monólogo pelo diálogo e a comunicação unidirecional em ambiente controlado e de cima para baixo pela comunicação horizontal e em via de mão dupla, conforme discorrido por Reis et al (2009). Berthon et al (2012) inserem as mídias sociais no contexto da web 2.0, tornando-as ferramentas criativas para o desenvolvimento de ações de marketing estratégico. Para tanto, os autores propõem cinco axiomas que tentam facilitar a compreensão da dimensão do uso das mídias sociais. Os axiomas, assim chamados por serem evidentes, têm o intuito de clarificar a importância e as oportunidades que estão disponíveis junto ao uso das mídias sociais. Para eles, é essencial captar que as mídias sociais são um produto da tecnologia, cultura e governo de determinado contexto, apresentando-se como o primeiro axioma. O segundo trata da capacidade que as mídias sociais têm em fazer um evento local expandir-se e de interpretar localmente os eventos globais, apresentando o terceiro item da lista. O quarto axioma descreve que a ação dos 38 consumidores também está condicionada à tecnologia, cultura e governo de determinado contexto. O quinto dedica-se à dependência histórica da tecnologia. Por parte das empresas, usar as mídias sociais como componente de seu mix de marketing e não fazer o uso de métricas para avaliar os resultados acaba por interromper um processo. Okada (2011) vai além quando afirma que as métricas utilizadas não devem ser superficiais como frequência, recência e valor de compra, mas também devem versar sobre engajamento e interação com o produto e a marca. O desenvolvimento e aplicação de ferramentas que permitam a aproximação com esses dados é de suma importância para o planejamento da comunicação e a otimização das estratégias digitais definidas para o uso das mídias sociais. Uma alternativa proposta para a avaliação, acompanhamento e mensuração da performance das mídias sociais é o modelo proposto por Hamel (2009). O modelo descreve critérios objetivos para determinar a sofisticação das ações de marketing nas mídias sociais por meio de uma evolução composta por cinco níveis, os quais contemplam desde a visão básica da tecnologia da informação até a análise estratégia da tomada de decisão. Conforme pelo autor, o primeiro nível dispõe sobre a análise de tráfego e dados pontuais, sem possibilidade de subsídios e informações estratégicos. Ao passar para o segundo nível, os indicadores de desempenho já são observados e registrados. O terceiro representa uma otimização das ações e dos resultados esperados ao usufruir de mecanismos de busca mais elaborados. Os níveis quatro e cinco buscam o aperfeiçoamento das ferramentas e das métricas, levando a uma gestão estratégica em que as decisões são baseadas em informações concretas e mensuráveis. Sobre esse ponto, Daft e Lengel (1986) trazem o conceito de media richeness, que trata sobre a capacidade de interpretação, compreensão e análise estratégica do conteúdo da comunicação. As perspectivas para o engajamento nas mídias sociais são inerentes ao processo de comunicação. Para Serra et al (2013) as principais motivações para o uso das mídias sociais devem-se ao seu fácil acesso, a possibilidade de utilizar-se das ferramentas com o caráter relacional e assim aproximar-se do seu público-alvo, além de “uso como canal de atendimento, acesso ao público, o uso para pesquisa e teste e o uso como ferramenta de venda” (2013, p. 247). 39 2.2 INOVAÇÃO SUSTENTÁVEL A revisão de literatura sobre inovação sustentável é determinante para a compreensão de como esse processo pode se relacionar às mídias sociais. O conceito de inovação concentra-se no mecanismo de “implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional”, conforme definido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, OCDE, (2005, p. 55) e é determinante para o prosseguimento do estudo. Os tópicos que seguem apresentam as definições relacionadas à inovação, esclarecimentos sobre sustentabilidade e sua inter-relação com a inovação, e a relação de ambos com as mídias sociais. 2.2.1 Inovação Schumpeter (1982) defende que a inovação apresenta-se como elemento essencial para o desenvolvimento econômico. À inovação, denominou de novas combinações e podem ser: a introdução de um novo bem, um novo método de produção, a abertura de um novo mercado, a conquista de uma nova fonte de oferta de matérias-primas ou de bens semimanufaturados ou, ainda, o estabelecimento de uma nova organização. O autor acrescenta como elementos essenciais à promoção do desenvolvimento econômico o acesso ao crédito e o papel do empreendedor como figura propulsora a estar diante dessas tarefas. O autor ainda introduz em sua obra o elemento da tecnologia e a constatação de que para que uma inovação seja assim considerada, precisa ser difundida e comercializada, caso contrário, é apenas um invento. Christensen (2001) trouxe o conceito de inovação de ruptura ou radical, sendo essa a introdução de um novo bem, produto, processo ou método capaz de transformar o mercado em que está inserido, usufruindo-se da possibilidade de gerar coisas novas e que essas sejam percebidas pelo consumidor. Se assim não o for, será uma inovação incremental, na hipótese em que ocorram melhorias de componentes ou do desempenho de processos, sendo novidade somente para a empresa. 40 A amplitude da inovação pode alcançar o nível da empresa, o do mercado e também o do mundo. A amplitude das inovações é maximizada quando há aporte de recursos destinados a esses esforços. Tidd et al (2008) afirmam que alguns componentes facilitam a geração de inovação dentro das organizações, como: a visão compartilhada e o desejo de mudança; a estrutura adequada e apta; a existência de pessoas chaves; o trabalho em equipe; o desenvolvimento individual e contínuo; a comunicação extensiva; a inovação de alto envolvimento; o foco no ambiente externo; o ambiente criativo; e a capacidade da organização estar sempre disposta a aprender. Marins (2007) afirma, todavia, que os investimentos voltados à inovação dependem da percepção das oportunidades por parte dos indivíduos que estão no interior das empresas. O lócus para a inovação, não obstante, é motivo de discussão ao que Chesbrough (2006) informa sobre a inovação aberta e as oportunidades que dela surgem. A partir do exposto, pode-se afirmar que a inovação pode surgir de dois jeitos: fechada ou aberta. A primeira é internamente na empresa, por meio de inciativas e programas que incentivem e busquem potencializar os esforços de introduzir inovações na empresa. A outra fonte de captação de inovações é a chamada aberta, pois permite a aproximação e possível entrada de pessoas que não estão dentro da empresa, mas podem contribuir significativamente ao pesquisar, desenvolver e compartilhar conhecimentos que gerem inovações. Potencializar as características incentivadoras para um ambiente inovador, segundo Aydalot e Kleebe (1988) e atenuar os efeitos das barreiras que tentam contê-las, portanto, é um dever de todos dentro da empresa. Aí então possibilitar-seá a criação de um ambiente propício à geração de inovação. Para que essa condição possa existir, Kline e Robsenber (1986) propõem um modelo integrado e não linear de elo de cadeia. Nele estão exemplificados a trajetória do fluxo de informação e cooperação quando da ocorrência da atividade e/ou desejo de inovar dentro da organização, conforme pode ser visto na Figura 4. 41 Figura 4 - Modelo elo de cadeia - trajetória dos fluxos de informação e cooperação Fonte: Kline e Rosenberg (1986). O modelo de elo de cadeia para a geração de inovação é composto por cinco pilares de atividade: a cadeia central da inovação, representada pela construção e inter-relação do modelo apresentada como C na figura; as ligações, representando o feedbak do processo, como podem ser vistos por F e f; o caminho da pesquisa e do conhecimento, representados por K; a inovação, representada por D; e o feedback oriundo da inovação, representado por I e S. Pode-se verificar fortemente a importância da cadeia, do trabalho em equipe e da complexidade do processo. A maneira, portanto, com que as empresas oportunizam a geração de inovações é peculiar e distinta, pois reflete o ambiente interno e as características de como gerenciam os conhecimentos produzidos dentro e fora dela. Para Nonaka e Takeuchi (1997), o processo de inovação contínua é resultado da criação de conhecimento organizacional incorporado, difundido e aplicado aos bens e serviços da empresa em uma forma denominada espiral do conhecimento. Nesse método, ocorre a inter-relação da dimensão epistemológica do conhecimento, que aqui pode ser tácita e explícita, com a dimensão ontológica, que versa sobre o nível de abrangência do conhecimento do indivíduo, podendo passar pelo grupo, pela organização e pela interorganização. A conexão entre a difusão do conhecimento e a geração de inovações é apresentada por Popadiuk e Choo (2006), conforme pode ser visto no Quadro 11. Pode-se entender que as inovações radicais derivam do compartilhamento do 42 conhecimento tácito, ao passo que as inovações incrementais resultam da manifestação do conhecimento explícito. Importante também ressaltar a presença do ambiente externo, ao conhecimento de mercado pertinente à disseminação do conhecimento e, consequentemente, à geração de inovações. Desta forma, a criação do conhecimento está focada na sua própria geração e aplicação, o que permite à organização desenvolver novas capacidades. Quadro 11 - Perspectiva da classificação das inovações a partir do conhecimento As dificuldades são inerentes a qualquer processo que gere mudanças. Quando se compete à geração de inovações, pode-se citar algumas delas: a aversão ao risco, as recompensas baseadas em padrões tradicionais, as disfunções da burocracia, a cultura e estrutura conservadora da empresa, as rivalidades internas e as hierarquias empresariais complexas, rígidas e centralizadas, conforme exposto por Perin et al (2007). Gerar inovações, portanto, é uma tarefa que requer concentração no método e em ferramentas que a tornem aplicável e adaptável às peculiaridades de cada empresa. Como forma de apresentar um modelo para visualizar os pilares essenciais à geração de inovações, Sawhney et al (2006) propõem o radar da inovação, uma ferramenta que auxilia a construção de valor substancial aos consumidores e às empresas, alterando uma ou mais dimensões do negócio. Os autores reforçam o modelo ao afirmarem que a inovação está centrada na geração de valor e não somente no desenvolvimento de novos produtos. Ainda, sustentam que ela pode ser desenvolvida de diferentes configurações e que o 43 processo é sistêmico. As dimensões do modelo podem ser vistas na Figura 5 e estão relacionadas às oportunidades de as empresas inovarem. Figura 5 - Radar da inovação Fonte: Sawhney et al (2006). Os pilares centrais do modelo são chamados de âncoras. A primeira delas está centrada na oferta, ou seja, nos bens e serviços comercializados pelas empresas. A segunda âncora são os clientes, seguidos pelos processos e pela presença. A oferta compara-se ao que a OECD (2005) define como inovação de produto; a âncora cliente e a presença equiparam-se à inovação de marketing; e a âncora processo equivale-se à inovação de processo e ao método organizacional. As demais dimensões da inovação destacadas no modelo também podem ser comparadas às inovações propostas pelo Manual de Oslo (2005). Competem à inovação de marketing às experiências do consumidor, à marca e ao relacionamento da empresa com seus stakeholders. A inovação de processo pode ser observada quando do interesse das organizações em prover mudanças na plataforma de tecnologia e know-how, nas soluções oferecidas aos clientes e na cadeia de fornecimento. As inovações de método organizacional podem ser percebidas nos pilares da captura de valor e da organização do funcionamento e estrutura da empresa. As diferentes teorias sobre inovação tratam de diferentes meios de gerá-la e difundi-la dentro de determinados ambientes e sua inter-relação com o meio. Rogers 44 (2003) aponta alguns elementos essenciais à difusão da inovação. São eles: a inovação em si, os canais de comunicação, o horizonte temporal e a inserção social da inovação. Para o autor, a difusão é um processo pelo qual uma inovação é comunicada por determinados meios, durante um período de tempo, entre membros de um sistema social, podendo então ser incorporada por adotantes iniciais ou tardios. Wejnert (2002) aponta três elementos essenciais à difusão da inovação: as características da inovação, nas quais são mensurados seus custos e benefícios; as características do autor; e o ambiente em que está sendo inserida. Cabe às empresas, nesse contexto, não somente proporcionar um ambiente que seja fértil à inovação, mas em que ela possa se difundir. Além disso, para que a geração de inovações torne-se um processo cíclico e renovável é primordial que seja atendido por ferramentas de apoio à gestão. Canongia et al (2004) apresentam uma ferramenta para a promoção da capacidade de inovar e da competitividade das empresas. Os autores propõem a sinergia de três abordagens: o exercício de technology foresight; a inteligência competitiva; e a gestão do conhecimento. Para os autores, o intuito das abordagens é aprimorar a qualidade da tomada de decisão no ínterim do processo de inovação. O technology foresight é uma atividade que conjuga dimensões para pensar, debater e modelar o futuro por meio da produção simultânea de conhecimento e ação. A inteligência competitiva concentra-se em um sistema de monitoramento do ambiente externo voltado ao planejamento e decisões estratégicas. A gestão do conhecimento define-se em um processo articulado destinado a promover o desempenho global com base no conhecimento. O modelo que Canongia et al (2004) desenvolveram pode ser melhor observado na Figura 6 e pronuncia-se na convergência das abordagens apresentadas por suas semelhanças: a função de produzir conhecimento; a orientação para a tomada de decisão; a presença das redes; o suporte à geração de inovações; e a flexibilidade do conceito. 45 Figura 6 - Modelo de integração das três abordagens para gestão da inovação Fonte: Canongia et al (2004). O modelo proposto na Figura 6 apresenta a cadeia de agregação de valor do conhecimento. A extensão vai desde o monitoramento do ambiente externo até às decisões tomadas, que refletem no ambiente interno. O principal resultado esperado da gestão da inovação concentra-se no aprimoramento e melhoria contínua do processo ao dedicar-se a uma abordagem clara com visão, objetivos, meios, metas e técnicas definidas. Não obstante, outras alternativas para realizar a gestão da inovação e torná-la parte da gestão dos negócios são descritos. Pode-se citar o exposto por Tidd et al. (2008) quando os autores afirmam que o objetivo não é “criar e aplicar um mecanismo complexo e previsível, mas de criar condições, [...] para que a resolução eficaz de desafios múltiplos sob altos índices de incerteza seja facilitada”. Com o propósito de tornar mensurável o processo de gestão da inovação, os autores condicionam o sucesso da implantação das inovações ao processo de aprendizagem, em que são observados e avaliados o compartilhamento de experiências, a introdução de novos conceitos e ideias sobre novas técnicas e ferramentas, a experimentação e a reflexão estruturada. A ferramenta que atende esses critérios pode estar centrada em uma auto avaliação que averigue a maneira como as pessoas lidam com questões pertinentes à inovação e a sua gestão. 46 2.2.2 Sustentabilidade e inovação sustentável O conceito de sustentabilidade pode ser melhor compreendido e aplicado às organizações a partir dos preceitos idealizados por Elkington na década de 1990. Ele integra três perspectivas para avaliar a sustentabilidade – econômica, social e ambiental por meio do que intitulou de triple bottom line. A perspectiva econômica se dá pela criação de empreendimentos viáveis e atraentes; a ambiental, quando esses empreendimentos não degradam e operam em consonância ao meio em que estão inseridos; e a social por meio de preocupação com a comunidade e os impactos que as ações das organizações causam nela. ELKINGTON (1994). Este estudo é decorrente da perspectiva de 3 P – people, planet e profit, ou seja: as pessoas, o planeta e o lucro. A partir dessa combinação de fatores puderam-se tornar palpáveis as definições de sustentabilidade. Os pilares desenvolvidos e evidenciados para o alcance da sustentabilidade são dados à magnitude que o termo carrega consigo. É imprescindível que as organizações passem a se preocupar e tomar medidas, incorporar hábitos e promover mudanças que tornem esse conceito mais visível pelos seus stakeholders ao passo que se tornam um diferencial competitivo. (ELKINGTON, 1994). Nesse aspecto aplicar o conceito de inovação à sustentabilidade é interesse do estudo em questão. A inovação sustentável refere-se à capacidade e importância das empresas inovarem com foco na sustentabilidade, ao respeitar seus pilares – social, ambiental e econômico. Para Barbieri (2007), a organização sustentável é aquela que simultaneamente consegue ser eficiente economicamente, respeitar e oferecer suporte ao meio ambiente e promover justiça social, ao passo que introduz novidades que atendam essas dimensões. A inovação sustentável, portanto, para Barbieri et al (2010) não se trata apenas de reduzir impactos negativos, mas avançar em benefícios líquidos. Os mesmos autores ainda trazem a representação gráfica do desenvolvimento sustentável conforme representado na Figura 7 para que a inserção da inovação nesse processo possa ser melhor visualizada e aplicada. 47 Na figura 8a observa-se o desenvolvimento sustentável como um conceito em termos gerais. A figura 8b avança ao traduzir a anterior para as dimensões e contexto das empresas, alterando o enfoque das suas dimensões. A figura 8c é uma representação do que Elkington (1994) nomeou como os pilares da sustentabilidade. Figura 7 - Representações do desenvolvimento sustentável Fonte: Barbieri et al (2010) apud – Figura 8a – adaptada da norma francesa SD 21000; figura 8b – inspirada nessa norma e em Marrewijk, 2003; figura 8c – extraída de Elkington, 2001. A partir da Figura 7 fica contextualizado o conceito de eco eficiência, importante para o entendimento e aplicabilidade da inovação sustentável. A ecoeficiência é a combinação das dimensões econômica e ambiental do desenvolvimento sustentável. A combinação desses dois elementos dá possibilidade às empresas, conforme elucidado por Elkington (2001), desenvolver bens e serviços a preços competitivos e que busquem reduzir os impactos ambientais a um nível suportável para o planeta, buscando assim obter mais produtividade e lucro ao utilizar menos recursos. A ecoeficiência, contudo, não trata do caráter social da sustentabilidade Ainda tomando como referência a Figura 7, pode-se inferir que ao passo que se inclui a dimensão social no contexto obtém-se a busca pela sustentabilidade. Quando as inovações propostas pelas empresas perpassam o exposto na figura e valem-se da sustentabilidade, estão apostando no que se chama de eco inovação. Ela tem o objetivo de abordar explicitamente as mudanças em direção ao desenvolvimento sustentável que ocorrem quando da inovação tecnológica, social e institucional, de acordo com Rennings (2000). 48 A definição do termo é conferir à inovação sustentável um caráter amplo em que se considerem suas peculiaridades: o impulso da tecnologia, as regulamentações existentes e as demandas de mercado. Esses fatores afetam positiva ou negativamente a introdução de inovações sustentáveis. Hellström (2007) ainda afirma que a eco inovação pode ser compreendida ao passo que a inovação apresenta seus conceitos, conforme já exposto nesse estudo. Para conceituar a eco inovação o autor cita-a como a inovação que coloca em prática a a sustentabilidade. O autor ainda afirma que as eco inovações, assim como as inovações, podem ser mais facilmente observáveis quando ocorrem de forma incremental do que de maneira radical. No intuito de tornar a inovação sustentável uma realidade para as empresas e que possam ter um norte para guiar seu planejamento estratégico e tático Dormann e Holliday (2007) propõe quatro questões a servirem como direcionadores dos processos inovadores sustentáveis nas empresas. As questões tratam da inclusão da sustentabilidade a partir do processo criativo e da gestão empresarial no interior das organizações. Ainda, atentam à visão externa, incorporando e trazendo o conceito de inovação aberta como elemento fundamental à geração de inovações sustentáveis. A última pergunta é de cunho mais estratégico pois questiona como os processos destinados à geração de inovação sustentável são capazes de aumentar o valor intelectual da empresa. Buscando garantir que as inovações desenvolvidas no interior das organizações sejam sustentáveis e garantam perenidade Nidumolu et al (2009) afirmam que o único meio de gerar inovações é buscar aquela que toma a sustentabilidade como guia mestra. Os autores apresentam um quadro evolutivo dos desafios da sustentabilidade e oportunidades que dela emergem. O detalhamento dos estágios, o desafio central, as competências demandadas e as oportunidades de inovação podem ser vistas no Quadro 12. Estágios Quadro 12 - Estágios da sustentabilidade que gera inovação Pontos Principais Desafio central: tratar regulamentações como oportunidades para inovação. 1. Tratar Competências demandadas: habilidade de antecipar e influenciar regulamentações. regulamentações Habilidade de interagir com concorrentes e outros órgãos. como oportunidades Oportunidade de inovação: pesquisar e operacionalizar atividades com parceiros sob novas regras, como forma de inovar estabelecer novos padrões. 2. Tornar as Desafio central: difundir a eficiência ao longo da cadeia produtiva. 49 cadeias de valor Competências demandadas: gerenciar ciclo de vida de produtos; aprimorar sustentáveis produção na cadeia com redução de rejeitos e sobras; habilitar fornecedores e distribuidores sustentáveis. 3. Desenvolver produtos e serviços 4. Desenvolver novos modelos de negócios Oportunidade de inovação: desenvolver fontes sustentáveis de matérias-primas e componentes; aumentar uso de energias limpas; reutilizar de forma inovadora os produtos devolvidos. Desafio central: ofertar produtos e serviços sustentáveis ou redesenhar antigos. Competências demandadas: reconhecer produtos e serviços agressivos à natureza; operacionalizar e não só alardear práticas de sustentabilidade; expandir a produção sustentável em volume e diversidade de portfólio. Oportunidades de inovação: aplicar técnicas modernas na produção como substituição de componentes químicos poluentes por naturais ou não poluentes; desenvolver novas embalagens recicláveis, menores e menos poluentes. Desafio central: habilidade de conceber e executar novos modelos de negócio com valor agregado que impactem positivamente na comunidade. Competências demandadas: interpretar as demandas de clientes e lançar produtos adequados; entender e integrar parceiros no esforço de agregar valor às ofertas. Oportunidades de inovação: redesenhar modelo logístico e de transferência de valor na cadeia; criar modelos de negócios atrelados à serviços e não só a produtos; integrar benefícios digitais e não só fiscais ao modelo de negócio. Desafio central: Questionar sob a ótica da sustentabilidade o modelo de negócio atual. Competências demandadas: conhecer como fontes renováveis e não renováveis afetam os ecossistemas e indústrias; habilidade de sintetizar modelos de negócios, 5. Criar plataformas para tecnologias e regulamentações em diferentes indústrias. novas práticas Oportunidades de inovação: desenvolver plataformas de negócio que habilitarão fornecedores e clientes a gerenciar energia de forma radicalmente inovadora; desenvolver produtos que demandem menor consumo de água em sua produção e/ou manutenção; desenvolver tecnologias que permitirão às indústrias a utilizar energia produzida como subproduto. Fonte: Nidumolu et al (2009) Aliar a inovação a essas práticas é complementar o proposto por Nidumolu et al (2009) e dessa forma evidenciar que tanto a inovação quanto a sustentabilidade devem caminhar juntas e serem perseguidas como um meio para o alcance do desenvolvimento de uma vantagem competitiva sustentável perante o mercado. 2.2.3 As mídias sociais e a geração de inovações sustentáveis Para a OECD (2005) uma inovação de marketing pode ser considerada uma implementação de um novo método que entregue mudanças significativas para o consumidor seja “na concepção de produto ou em sua embalagem, no posicionamento do produto, em sua promoção ou na fixação de preços” (2005, p. 59). A adoção das mídias sociais por parte das empresas como uma ferramenta de marketing e a maneira como a fazem pode ser considerada uma inovação. A amplitude, as barreiras e as facilidades encontradas, dependerão de fato das características da inovação proposta em si. 50 A adoção das mídias sociais pode ser considerada uma inovação de marketing às empresas que ainda não a fazem, pois se caracterizam como a abertura de um novo canal de comunicação e a possibilidade de construção de um relacionamento com os clientes através da prestação de serviços e oferecimento de conteúdo. Essa visão, todavia, que considera as mídias sociais como uma inovação de marketing não é o interesse do estudo em questão. A interligação da inovação e das mídias sociais, apesar disso, apresenta-se sob outra perspectiva. Ela se concentra no resultado do relacionamento entre empresas e clientes no ambiente das mídias sociais online. A esse relacionamento acrescentam-se os três fluxos de interações propostos por Gallaugher e Ransbothan (2010) e a capacidade de gerar inovações para as empresas. Essas, podem ocorrer quando da implementação de um produto novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um método de marketing aprimorado, ou um novo método organizacional. Essa perspectiva, portanto, é o foco de interesse do estudo. A geração de inovação a partir das mídias sociais, deste modo, pode ser considerada aberta, pois acontece somente se houver a participação ativa e combinada de elementos externos à organização, nesse caso, da interação ocorrida nas mídias sociais. Chesbrough (2006) evidencia como principais benefícios da inovação aberta a diminuição dos custos, a agilidade, o volume de inovações, a potencialização do retorno sobre o investimento, a ampliação do canal de comunicação com diferentes stakeholders e a abertura de novos mercados, além de estar totalmente focada e direcionada ao ambiente externo. Tomaél et al (2005) indicam, conforme elucidado por Gallaugher e Ransbothan (2010), a importância das redes para a geração de inovações. Essas tornam-se ativas a partir da concentração dos fluxos de informação e do conhecimento como passaportes para a inovação, reforçados pelo processo da aprendizagem organizacional como fator preponderante para a geração de inovação como produto das mídias sociais. Para os autores, todo o processo de aprendizagem organizacional tem como objetivo resultar em inovação em um ciclo virtuoso de melhoria contínua. A percepção da importância das redes para a geração de inovação também é destacada por Rimoli et al (2013). Os autores afirmam que o fortalecimento da 51 confiança e da cooperação dentro da rede social tornam-se fatores que criam um ambiente propício à difusão de inovações. Os mesmos autores apontam que a rede cria barreiras no início do processo de difusão de inovações, mas, que a partir de certo ponto acelera-o, o que acaba por agregar credibilidade ao processo. De forma a complementar o exposto, a OECD (2005) reforça ao afirmar que as redes são elementos essenciais no processo de inovação. Conforme já exposto, a existência das redes sociais traz consigo a conceituação proposta por Granovetter (1973) sobre laços fracos. A esse ponto é essencial reforçar que são esses que provocam situações geradoras de inovações. A inovação e os laços fracos podem ser encarados de duas formas distintas. A primeira delas sob a ótica da geração de inovação a partir dos relacionamentos oriundos de laços fracos. A outra, para difundir uma inovação já proposta a utilizar-se de uma rede com alta capilaridade para se alastrar. Ao interesse de estudo em questão foca-se na primeira alternativa. Ao passo que os laços fracos são estruturas importantes à geração de inovações, os buracos estruturais propostos por Burt (1992) também o são quando são propulsores de novas ideias. O autor (2004) propõe que opiniões e comportamentos tendem a ser mais homogêneos dentro das redes do que nas fronteiras, onde são observados os buracos estruturais. O elemento gerador de inovação, por assim dizer, pode ser considerado o resultado da síntese de ideias inesperadas, que ocorrem nas limitações dos buracos estruturais. Isso porque, nesses locus a criatividade é potencializada. É essencial também reforçar o que Schumpeter (1982) trouxe como novas combinações, uma vez que os buracos estruturais permitem acesso a distintas combinações. As terminologias apresentadas até então, todavia, representam diferentes formas de relacionamento no interior das redes sociais e o resultado dessas interações. Nesse aspecto, pode-se identificar como elemento efetivo à disposição das empresas a utilização das interações ocorridas nas mídias sociais. Levitt (1983) afirma que o relacionamento entre clientes e empresas é intensificado após a compra, e as empresas devem investir nesse relacionamento para que haja repetição da primeira. O que o mesmo autor em 1960 descreve como a miopia em marketing está no fato das empresas concentrarem-se somente nos 52 produtos e não em seus clientes, deixando à margem os frutos oriundos do relacionamento com eles. Cabe às empresas, sob essa ótica, usufruir do relacionamento com seus clientes nas fronteiras das mídias sociais e além delas. Lages (2004) aponta como fatores determinantes para que relacionamentos online tornem-se duradouros a confiança, a satisfação e o comprometimento das empresas em função de seus clientes. A autora ainda reforça que a construção de relacionamentos mediados por ambientes online está diretamente influenciada pela confiança do consumidor no ambiente off-line. Tornar a confiança um construto mensurável e desenvolver ferramentas para torná-la perceptível às necessidades dos consumidores é um desafio dos gestores. Alia-se ao fato que o alcance desse construto está atrelado ao desenvolvimento de um relacionamento nas mídias sociais. McKnight e Chervany (2002) apontam nesse sentindo a internet e as mídias sociais como potencializadores do construto confiança, pois utilizando-se delas é que se pode cooperar e compartilhar informações tornando o processo cíclico e virtuoso As necessidades do cliente e o que se busca em um relacionamento com as organizações também são determinantes para que haja congruência na elaboração e planejamento das atividades de marketing de relacionamento das empresas. O desenvolvimento dessas atividades deve ter como objetivo o que Gummesson (1999) tratou como a escala da lealdade, em que passam de potenciais clientes a compradores, seguidos por clientes regulares, passando a apoiadores da empresa e por fim defensores da empresa e da marca. Sob a égide da internet e da presença nas mídias sociais a construção e avanço na escada da lealdade tornam-se um desafio e uma ferramenta que pode ser alimentada pelos próprios clientes. A construção de relacionamentos confiáveis, que gerem satisfação aos clientes e que atestem comprometimento das empresas com seus interessados no contexto das mídias sociais é condição essencial para permitir às empresas captar inovações sustentáveis nesse meio. Tornar essa assertiva verdadeira e passível de verificação, portanto, é desafiador. Isso porque é preciso que sejam observados os conceitos teóricos sobre as três temáticas abordadas – inovação, sustentabilidade e mídias sociais; o 53 desenvolvimento de ferramentas que permitam proporcionar a aplicabilidade dessas condições e a construção de um ambiente propício a geração de inovações. 2.3 CATEGORIZAÇÃO TEMÁTICA A partir da sugestão de Bardin (2009) apresenta-se o Quadro 13 que contempla a categorização das variáveis. O propósito dessa construção é a compilação dos assuntos, apresentação das categorias de análise e exposição dos descritores. Essas informações emergem da fundamentação teórica e tem a clara proposta de auxiliar o leitor a compreender a construção teórica desse estudo. Categorias Redes sociais Inovação sustentável Quadro 13 - Categorização das variáveis Categorização das variáveis Descritores Explicação Contexto histórico Como o contexto histórico das redes sociais pode ser percebido e suas propriedades. Destaca-se a existência do capital social e interação dos atores, a observância de laços fortes, fracos e buracos estruturais Mídias sociais online Conceituação e classificação das mídias sociais online, e características que influenciam sua utilização. Organizações e o uso das mídias sociais Como as empresas utilizam-se das mídias sociais para orientar seu planejamento de marketing através da comunicação baseada em três fluxos e ao nível de presença virtual. Discorre também sobre os valores, axiomas e performance de atuação no contexto das mídias sociais. Inovação Conceituação de inovação, amplitude da inovação, características do ambiente inovador, radar da inovação, dificuldades para inovador, trajetória do fluxo de informação e gestão da inovação. Sustentabilidade e inovação sustentável Sustentabilidade e inovação sustentável Redes e a geração de inovação através da solidificação As mídias sociais e a geração do marketing de relacionamento e dos preceitos da de inovações inovação aberta. Fonte: Elaborado pela autora com base na literatura (2014) 54 Para a autora e conforme pode ser observado no quadro, classificar os elementos em categorias “impõem a investigação do que cada um deles tem em comum com os outros” (BARDIN, p. 146, 2009). A partir da análise do quadro é possível perceber a conectividade e a complementariedade dos conceitos trabalhados. Pode-se apontar, portanto, que com a revisão da literatura os conceitos apresentados contribuem e se complementam para a construção das inovações sustentáveis geradas no ambiente das mídias sociais. Cabe destacar ainda que o trabalho ora proposto não tem como objetivo a criação e definição de novos conceitos aos já apresentados. A visitação a esses tem como desígnio o atendimento ao objetivo geral e específicos que a proposição do estudo requer. Além disso, o quadro, embasado na fundamentação teórica, serve de subsídio para a elaboração dos instrumentos de coleta de dados e posterior análise. Ainda servirá para que o modelo de gestão esteja consoante aos preceitos fundantes. 55 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Uma pesquisa só se torna válida quando os métodos a ela aplicados são robustos e asseguram-lhe confiabilidade e adequação. Na contrapartida, o método aproxima o pesquisador do fenômeno estudado, pois atribui a segurança necessária para embasar as tomadas de decisões, os resultados e a maneira como escolheu fazê-los. Para tornar essa assertiva verdadeira, definiram-se os objetivos do estudo e a delimitação da proposição de um modelo de gestão para atendê-los. Na sequência do capítulo, detalham-se os procedimentos metodológicos utilizados ao descrever: a caracterização da pesquisa, a justificativa da escolha das empresas para o estudo de caso, as técnicas e instrumentos de coleta de dados, as técnicas de análise dos dados e as delimitações da pesquisa. Ao final do capítulo encontram-se descritos em um sumário executivo os procedimentos metodológicos aliados aos objetivos da pesquisa. A pesquisa consistiu em quatro etapas principais: a primeira: a revisão de literatura; a segunda: a definição do método da pesquisa; a terceira: a escolha e análise dos casos; e a quarta: a proposição do modelo de gestão que busca captar a partir das mídias sociais a possibilidade de gerar inovações sustentáveis às empresas. O resultado principal da pesquisa concentra-se na proposição de um modelo de gestão que busca gerar inovações sustentáveis a partir das mídias sociais. Para tanto, as etapas apresentadas anteriormente foram essenciais para a construção de um modelo que estivesse embasado pelas demais etapas. 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA A caracterização de uma pesquisa diz respeito a abordagem e a estratégia que se utiliza. A primeira etapa trata da definição da obtenção dos dados que serão colhidos e a segunda da forma como serão tratados. O estudo adotou a abordagem qualitativa ao passo que combinou as estratégias da pesquisa bibliográfica, da pesquisa exploratória e do estudo de caso. 56 3.1.1 Abordagem da pesquisa Tendo em vista a complexidade e particularidade do problema de estudo, os objetivos geral e específicos, apresenta adequada uma abordagem qualitativa à pesquisa. Para Oliveira (1999) o método qualitativo julga-se nessa situação mais apropriado, pois permite a análise e a interação das variáveis. Isso porque essa abordagem tem o interesse de compreender processos dinâmicos experimentados por grupos sociais e permitir a interpretação e particularidades dos comportamentos dos indivíduos. De acordo com Creswell (2007), a pesquisa qualitativa acontece como uma investigação que converge diversas alegações do conhecimento. Os processos, segundo o autor, se baseiam em dados de texto e imagem, utilizam diversas estratégias para a sua coleta e têm características únicas na sua análise. Godoy (1995) corrobora o pensamento quando afirma que a pesquisa qualitativa não procura nem enumerar, nem medir os eventos estudados, nem empregar instrumental estatístico na análise dos dados. O que se pretende é ponderar os dados individualmente e até que se esgotem as possibilidades de fornecerem informações. De acordo com Marconi e Lakatos (2006), algumas das características que diferenciam a pesquisa qualitativa concentram-se no papel do pesquisador. Na abordagem aplicada a esse estudo o pesquisador convive com os pesquisados e aplica à pesquisa recursos subjetivos como sua percepção e interpretação. Considera-se uma vantagem dessa abordagem o resultado dessa interação. Os recursos subjetivos mais valiosos aos resultados da pesquisa podem ser considerados àqueles nomeados de notas de campo, oriundos da observação factível da pesquisadora quando da realização das entrevistas. 3.1.2 Estratégia da pesquisa A efetivação dessa pesquisa pautou-se na pesquisa bibliográfica, na pesquisa exploratória e no estudo de caso. A pesquisa bibliográfica consiste na familiarização dos conceitos abordados para a compreensão do problema de pesquisa. Na fundamentação teórica tomou-se como referências artigos científicos internacionais, acrescidos de artigos científicos nacionais e também literatura nacional e internacional, que tratasse de redes, mídias 57 sociais e inovação sustentável, além de seus desdobramentos que interessam ao tema. As bases de dados consultadas foram EBSCO, SciELO e periódicos nacionais de relevância. A pesquisa exploratória, como segunda ferramenta estratégica da pesquisa, visou a alcançar o primeiro objetivo da proposta de estudo, quando da observação dos conceitos oriundos da fundamentação teórica. A finalidade dessa etapa, conforme exposto por Figueiredo (2008), concentra-se na familiarização do problema. A última estratégia de pesquisa foi a seleção de dois casos para serem tomados como referência e que serviram de inspiração à proposição do modelo de gestão. Para essa etapa da pesquisa, o método mais adequado foi o estudo de caso. Para Yin (2003), o estudo de caso é apenas uma das muitas maneiras de se fazer pesquisa em ciências sociais. Isso porque, “estudos de caso representam a estratégia preferida quando se colocam questões do tipo “como” e “por que”, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco se encontra inserido em algum contexto da vida real. (YIN, 2003, p. 78). Ao projeto de pesquisa proposto o direcionamento do estudo de caso foi um projeto de caso único, mesmo tomando como referência a observação duas empresas para a coleta dos dados. A justificativa para ser considerado um estudo de caso único concentrou-se no que Yin (2003) cita como a possibilidade de representar um caso decisivo ao testar a teoria; quando se apresenta de forma rara ou extrema; por ser um caso representativo e típico; e também por ser revelador. 3.2 CASOS ELEITOS PARA O ESTUDO Com a finalidade de tornar exequível a aplicação do modelo de gestão, entendeu-se como imprescindível a observação de empresas que tivessem knowhow nos temas centrais do estudo: mídias sociais, inovação e sustentabilidade. É importante destacar que ao escolher os casos para estudo não havia sapiência por parte da pesquisadora se havia relação entre os temas abordados nas práticas da empresa. Por isso, demonstram-se os motivos pelos quais os casos foram escolhidos. A escolha se deu a partir de técnicas amostrais não probabilísticas, em que a amostra foi selecionada por intermédio de critérios subjetivos do pesquisador, 58 dependendo de sua experiência, dos objetivos da pesquisa e de julgamentos pessoais. (OLIVEIRA, 1999). Como o próprio nome diz, não são utilizados métodos estatísticos para sua escolha e a abordagem pode ser por conveniência, por julgamento ou por quotas, todas definidas pelo pesquisador e orientadas pelo objetivo da pesquisa. (RICHARDSON, 2011). Alguns critérios foram observados para escolher os objetos de estudo da pesquisa, configurando à amostra características não probabilísticas e intencional: quando os elementos são escolhidos de acordo com o julgamento do pesquisador. As características observadas e desejadas para a escolha dos casos concentraram-se em identificar empresas que possuíssem perfis e presença virtual em diversas mídias sociais; que tivessem preocupação clara e visível em em relação à sustentabilidade; e também que contemplasse elementos visíveis a respeito da inovação. Munidos das características eleitas, a possibilidade para escolha dos casos de estudo ainda oferecia um grande número de alternativas. Não obstante, muitos não estariam aptos, nem dispostos, nem tanto acessíveis à pesquisadora. Foi nesse momento que a escolha das empresas estudadas adquiriu caráter de conveniência, pois foram escolhidas as que estavam em condições de fácil acesso da pesquisadora e as dispostas a colaborar (RICHARDSON, 2011). A combinação dessas duas condições para a escolha dos casos culminou no aprofundamento do estudo de caso de duas empresas catarinenses: a Dudalina S/A, em especial a marca Dudalina Feminina, localizada em Blumenau, e a Meu Móvel de Madeira, localizada em Rio Negrinho. Importante reforçar que o fato das empresas serem catarinenses e possuírem suas matrizes geograficamente próximas não influenciou à escolha das empresas para serem objeto de estudo. 3.3 TÉCNICAS E INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS As técnicas e os instrumentos de coletas de dados utilizados na pesquisa visaram atender aos objetivos que se pretendem o estudo. Além disso, observa-se nesse tópico: as técnicas de coleta de dados, os instrumentos de pesquisa utilizados e adaptados a cada técnica, a descrição das fontes de evidência e a associação aos instrumentos de pesquisa. 59 Aprofundar-se sobre a utilização das mídias sociais e a exploração de seu potencial são assuntos pouco discutidos tanto na literatura quanto no cotidiano das empresas estudadas. Para que essa lacuna pudesse ser atenuada, realizou-se uma investigação sobre como as empresas têm lidado e gerenciado o planejamento e as ações nas mídias sociais. A esse ponto, como primeira técnica de coleta de dados classificou-se a pesquisa bibliográfica, já descrita anteriormente e resultante na fundamentação teórica desse estudo. Nela foram observados autores e pesquisadores de relevância às temáticas pretendidas. Além do embasamento teórico, com o intuito de proporcionar à pesquisadora maior conhecimento sobre às mídias sociais, buscou-se informações em cursos, workshops e fóruns de discussão, conforme lista de cursos realizados que pode ser observado no Quadro 14. Quadro 14 - Palestras e cursos assistidos Título Autor Chris Anderson How web videos powers global innovation Charles Leadbeater The era of open innovation André Siqueira Marketing nas mídias sociais A lagarta e a borboleta: da criatividade à inovação Martha Gabriel 3 macetes poderosos (e desconhecidos) para Ramon Tessmann você lucrar 10x mais no facebook Como construir autoridade e engajamento para Luísa Barwinski sua marca Branding x crise As mídias sociais e o ecossistema de inovação 50 maneiras de engajar nas redes sociais Tendências no marketing digital O marketing relacional em canais digitais low cost Inovação e criatividade Gestão para mídias sociais Fonte: Elaborado pela autora (2014). Erickson Monteiro André Telles Rafael Terra Martha Gabriel Ernesto Ferreira Martha Gabriel Victor Lymberopoulos Fonte TED TED Resultados Digitais TEDex Webinarjam Bootcamp mídias sociais Bootcamp mídias sociais Bootcamp mídias sociais Bootcamp mídias sociais Bootcamp mídias sociais EBRAMAD UNOESC Joaçaba UNOESC Joaçaba Em um segundo momento, adotou-se a técnica de entrevista com especialistas que pretendeu preencher as lacunas e melhor compreender as mídias sociais, o ambiente que as cerca e as expectativas futuras. Para tanto, buscou-se profissionais atuantes no mercado, com experiência e conhecimento sobre o assunto. 60 O roteiro para entrevista segue conforme Apêndice B e o detalhamento da realização das entrevistas pode ser observado no Quadro 15. Quadro 15 - Detalhamento das entrevistas com especialistas Data da Nomenclatura Cargo Duração entrevista Local de realização Especialista 1 Coordenador da Pós-Graduação Especialização em Comunicação 09/06/2014 40min e Marketing Unoesc Presencial Unoesc FM Especialista 2 Gerente comercial Marketing 26/06/2014 30min Online Especialista 3 Diretor de marketing e Co26/06/2014 27min fundador da Resultados Digitais Online Especialista 4 Escritora, consultora, artista, Palestra professora, coordenadora de 15/09/2014 1h30min presencial MBA e palestrante internacional premiada Especialista 5 Professor de pós-graduação de marketing digital e Diretor da 22/09/2014 55min Fabulosa Ideia BlueBerry Palestra online Fonte: Elaborado pela autora (2014). Outra alternativa que permitiu a configuração de uma pesquisa exploratória concentrou-se na execução da técnica do benchmarking. O processo pode ser definido, de acordo com Camp (2002), como um conjunto de técnicas que tem como objetivo medir os produtos, serviços e iniciativas em relação aos concorrentes e players mais fortes do mercado. Nela tenta-se buscar e identificar as melhores práticas que venham a conduzir um desempenho superior. Para essa pesquisa realizou-se uma entrevista de benchmarking no intuito de atender a múltiplos objetivos. O primeiro deles foi a aplicação do pré-teste do instrumento de pesquisa. Após a entrevista o instrumento de pesquisa foi adaptado para ser utilizado nas subsequentes. O segundo deles intencionou verificar as melhores práticas de inovação, a gestão envolvida no processo e o modelo utilizado pela empresa. Para isso, foi realizada uma entrevista de benchmarking com o Gerente de Inovação da empresa Celulose Irani no dia 27/06/2014 às 14h, nas dependências do campus da Unoesc Joaçaba. A duração da entrevista foi de 2h30min, acompanhada pelo orientador deste trabalho e guiada pelo roteiro conforme Apêndice A. Por se tratar de uma empresa que possui uma área destinada à inovação, considerou-se o benchmarking para observar e captar as melhores práticas 61 desenvolvidas. Em um segundo momento as informações vieram a confrontar com as observadas nas demais entrevistas. O objetivo da realização da entrevista de benchmarking, por conseguinte, foi atendido. Ainda, houve a possibilidade de avançar nos assuntos relacionados à sustentabilidade e às mídias sociais, que não diziam respeito à área de interesse do entrevistado. Outra fonte de dados utilizada foi o acesso aos dados secundários. Pode-se, inclusive, tomar como fonte de observação os dados gerados a partir do conteúdo criado pelas mídias sociais das empresas estudadas. Para identificar, foram observadas as fontes de dados secundários descritas no Quadro 16. Essas informações também colaboraram na construção do instrumento de coleta de dados primários e na elaboração do modelo de gestão. Os dados colhidos nas fontes a seguir podem ser observados ao longo da construção da caracterização das empresas, da análise de conteúdo e também da proposição do modelo. Quadro 16 - Fontes de dados secundários Dudalina S/A e Dudalina Feminina Meu Móvel de Madeira Site da empresa Site da empresa Mídias sociais da empresa Redes sociais da empresa Relatório de sustentabilidade – GRI 2.012, 2.011 Divulgação na imprensa Revista Dudalina para dispositivos móveis Newsletter da empresa Divulgação na imprensa Folha da Meu Móvel Newsletter da empresa Termo de adesão Dudalina Código de ética Dudalina Fonte: Elaborado pela autora (2014). Para obter dados primários a partir da investigação dos casos escolhidos para a pesquisa tomou-se como referências as fontes de evidências citadas por Yin (2005) como locus para pesquisa e aprofundamento das questões com o intuito de atender o objetivo geral e os específicos da pesquisa. As fontes de evidência enumeradas por Yin (2005) são potencializadas e melhor aproveitadas quando combinadas e utilizadas complementarmente. Adquiriuse informações em cinco dessas fontes que foram: as entrevistas; a observação direta; a documentação; o registro em arquivos; e os artefatos físicos. O objetivo foi convergir diversas fontes de informação e assim acrescentar notas ao fato estudado. 62 As fontes de evidência numeradas por Yin (2005) foram sumariamente aproveitadas em todas as etapas do estudo, conforme pode ser observado no Quadro 17 e serão detalhados individualmente a seguir. Quadro 17 - Técnica de coleta de dados relacionadas às fontes de evidência Técnica de coleta de dados Fonte de evidência por Yin (2005) Visita à empresa (show room/loja/fábrica /escritório) Acesso ao organograma, plano de marketing, política de inovação e relatório de sustentabilidade Entrevista semiestruturada em profundidade com áreas de interesse Fonte: Elaborado pela autora (2014). Artefatos físicos Observação direta Documentação Registro em arquivos Entrevistas Yin (2005) faz algumas recomendações quando da escolha das técnicas de coleta de dados para estudos de caso. A primeira delas e conveniente para o momento, fala sobre a utilização de múltiplas fontes de evidência, o que se observou na pesquisa. A combinação de distintas fontes tem respaldo na complementariedade que uma proporciona a outra, buscando convergir as evidências acerca do mesmo acontecimento. A coleta de dados a partir da visita à empresa teve caráter de aproximação com a realidade de estudo e exigiu uma participação menos ativa, todavia, mais atenta da pesquisadora. Essa etapa, assumiu o caráter de observação de artefatos físicos e de fatores subjetivos. Com a finalidade de observar as empresas escolhidas para o estudo de caso, assim como outras que possuíssem as mesmas práticas e que pudessem ser interessantes ao objetivo da pesquisa, realizou-se a sistematização dessas observações. Para Godoy (2006, p. 134), “o conteúdo das observações geralmente envolve uma parte descritiva do que ocorre no campo e uma parte reflexiva, que inclui comentários pessoais do pesquisador”. Para atender a fonte de evidência sugerida por Yin (2005) como observação os direcionamentos para a técnica de coleta de dados aconteceram de duas formas. A primeira delas foi a observação direta e as ressalvas de artefatos físicos quando da visitação às empresas. Foram incluídas aí o modo como as pessoas se comportaram, como estavam dispostas no ambiente de trabalho e como as relações de trabalho aconteceram. Para esse efeito de observação, pode-se atentar ao roteiro disposto no Apêndice C. 63 A segunda perspectiva da observação tratou sobre a constatação das práticas realizadas pelas empresas estudadas caso a caso nas ações realizadas nas mídias sociais em que estão presentes. Para isso, a entrevista guiou-se conforme o roteiro disposto no Apêndice D. Os dois instrumentos de coleta de dados para atender à observação são complementares. Há oportunidades em que um relato de observação pode ser avalizado, assessorado e até mesmo incentivado pelo outro. Por esses motivos, há dois instrumentos distintos para a mesma técnica. Ao avançar na coleta de dados primários, seguiu-se para as entrevistas. O direcionamento dado a elas foi às áreas de interesse do tema de pesquisa – mídias sociais, inovação e sustentabilidade. Tais áreas puderam abarcar o marketing, a responsabilidade social, o desenvolvimento de produtos e processos e outros entrevistados que fossem considerados importantes para a construção do objetivo geral da pesquisa. A entrevista semiestruturada tem como propósito o acesso a informações que não são encontradas explicitamente nas empresas. Ela “consiste no diálogo com o objetivo de colher, de determinada fonte, de determinada pessoa ou informante, dados relevantes para a pesquisa em andamento” (RUIZ, 2002, p. 51). Dessa forma, foi possível abordar assuntos que estavam inter-relacionados e a percepção dos entrevistados acerca dos temas questionados. Malhotra (2001) corrobora afirmando que entrevistas em profundidade realizadas uma a uma constituem uma forma direta para obtenção de informações. Nelas, mesmo que o entrevistador procure basear-se em um esboço prédeterminado, o andamento da entrevista, a ordem das perguntas e a forma de elaboração acabam sendo influenciados pelas respostas do entrevistado. O roteiro para direcionamento das entrevistas pode ser observado no Apêndice A e tratou de atender às demandas sinalizadas e trazidas a partir da fundamentação teórica, das entrevistas com os especialistas e da entrevista de benchmarking. Pode-se afirmar, no entanto, que para que as entrevistas pudessem ocorrer de modo natural e menos formalizada, foram dispensadas a ordem sequencial do roteiro e as perguntas foram surgindo conforme o andamento da entrevista. O detalhamento dos entrevistados pode ser notado no Quadro 18. As distinções tratam das características que podem ter influências sobre as respostas. Dentre elas pode- 64 se citar o cargo a que pertencem os entrevistados e o tempo que lá trabalham. Ainda, constam no quadro a nomenclatura que se utilizará na análise dos dados e discussão dos resultados. Destaca-se também que os entrevistados foram indicados pelas empresas e não escolhidos pela pesquisadora. Quadro 18 - Detalhamento dos entrevistados Nomenclatura Gestor 1 Gestor 2.1 Gestor 2.2 Gestor 2.3 Gestor 3.1 Gestor 3.2 Tempo de empresa Gerente de inovação Celulose Irani 10 anos Gerente de entretenimento Fundação Meu móvel de madeira 2 anos Social media Google Fundador Marketing 6 meses Dudalina S/A Sustentabilidade 2 anos Fonte: Elaborado pela autora (2014). Cargo Empresa Ao combinar distintas técnicas de coletas de dados pretende-se conferir resultados mais confiáveis e obter informações mais detalhadas quanto forem necessárias à construção do modelo de gestão proposto para o estudo. Deslandes (2010) corrobora tais fatos ao afirmar que os resultados alcançados pela pesquisa são fruto do trabalho do pesquisador que é capaz de articular informações e conhecimentos disponíveis ao utilizar tecnologias, empregar sua imaginação e emprestar seu corpo ao esforço de realizar a tarefa. 3.4 TÉCNICA DE ANÁLISE DOS DADOS As informações obtidas a partir dos instrumentos de pesquisa descritos anteriormente foram analisadas de forma qualitativa e individualizada a partir da transcrição das entrevistas. O passo inicial foi a transcrição das entrevistas, Incluíram-se não somente as falas dos sujeitos de pesquisa, mas também os momentos reflexivos, outros sons presentes no ambiente e interrupções. Foi a partir desse momento que foram obtidas e relatadas as notas de campo e o preenchimento do relatório de observação conforme Apêndice C. Aí então realizou-se uma leitura investigativa para identificar e destacar os pontos de interesse de cada entrevista. O Quadro 19 atende o propósito de qualificar as entrevistas realizadas. Nele podem ser observados a nomenclatura adotada para cada depoente; a data de realização da entrevista; a duração da entrevista; o local em que foi realizada; e a quantidade de laudas transcritas que resultou. 65 Quadro 19 - Descrição das condições das entrevistas Data da Nomenclatura Duração Local de realização entrevista Laudas transcritas Especialista 1 Especialista 2 Especialista 3 Especialista 4 Especialista 5 Gestor 1 Unoesc - Joaçaba/SC 9 laudas 7 laudas 8 laudas 22 laudas 13 laudas 19 laudas MMM - Rio Negrinho/SC 28 laudas Gestor 2.1 Gestor 2.2 Gestor 2.3 Gestor 3.1 Gestor 3.2 09/06/2014 26/06/2014 26/06/2014 15/09/2014 22/09/2014 27/06/2014 40min 30min 27min 1h30min 55min 1h30min 09/07/2014 2h Unoesc FM - Joaçaba/SC Online Online Palestra presencial Palestra online 24/07/2014 1h30min Dudalina S/A - Blumenau/SC 20 laudas Fonte: Elaborado pela autora (2014). A análise dos dados aconteceu a partir da compilação das entrevistas transcritas de acordo com as variáveis categorizadas, conforme dispostas no Quadro 13 ao final da fundamentação teórica. A técnica de análise de dados abordada foi a análise de conteúdo, considerando a abordagem de Bardin (2010). Acredita-se que dessa forma direcionou-se a execução e andamento das demais atividades e também a alocação das falas dos entrevistados aos objetivos da pesquisa. A autora afirma que esse procedimento consiste em um conjunto de técnicas de análise de comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. Bardin (2010) ainda reforça que a análise de conteúdo está inicialmente focada na pré-análise dos dados em que ocorre a referenciação dos índices, a elaboração dos indicadores, as regras de recortes, a categorização e a codificação das variáveis. A ferramenta adotada para essa análise é a temática. Nela foram abordados os assuntos principais, as características associadas ao tema central, a análise sequencial, a análise de oposições, a análise de enunciação e o esqueleto da entrevista. Com o designío de atender essas prerrogativas a análise dos dados e do conteúdo das entrevistas levou em conta a categorização das variáveis e a construção dos descritores para se apresentar. Na análise estarão expostas e trianguladas as fontes de evidências destacadas ao longo do estudo. 66 Gomes (2010) reforça que o objetivo da análise qualitativa é a interpretação, que está além da simples descrição e análise dos fatos, pois somente a interpretação é capaz de proporcionar sentido à pesquisa ao assumir o foco central do estudo. Yin (2005) sugere que um melhor aproveitamento dos dados obtidos nas distintas fontes de evidência está na triangulação dos dados, ou seja, na necessidade de confirmar a validade dos processos de coleta de dados. A triangulação dos dados para esse estudo foi concebida a partir dos seguintes elementos: a revisão bibliográfica; os conteúdos oriundos das fontes de dados primárias – entrevistas e relatos de observação; e os dados oriundos das fontes secundárias – documentos disponibilizados pelas empresas para análise. Após concluída a etapa da análise do conteúdo dos instrumentos de coleta de dados, e de sua triangulação com dados secundários e referências bibliográficas, a próxima a ser realizada concentrou-se na proposição do modelo de gestão em sua essência. Para tanto, foram considerados todos os dados e informações colhidos e analisados e todos os objetivos específicos, assim como os procedimentos que se baseiam a construção de modelos de gestão afins. Para que o modelo de gestão ora pretendido seguisse os procedimentos adotados por Crozatti (1998), atentou-se para que ele refletisse a cultura organizacional da empresa, e contemplasse elementos que tratem do processo de gestão, da avaliação de desempenho, da delegação de autoridade e responsabilidade, do processo decisório e do comportamento dos gestores. 3.5 DELIMITAÇÕES DA PESQUISA Esse tópico destina-se à delimitação da pesquisa proposta. É por meio das delimitações que se define claramente onde a pesquisa não pretende se inserir. É essencial compreender que o estudo não tem o propósito de avaliar as mídias sociais como uma ferramenta de inovação de marketing. A intenção desse dedica-se ao aproveitamento das potencialidades que as mídias sociais podem oferecer às empresas, no sentido de captar inovações sustentáveis. Em decorrência, busca-se observar e identificar possíveis inovações que possam ser aplicadas ao universo da empresa. 67 É importante também reforçar que a inserção das empresas no contexto das mídias sociais foi considerada uma premissa para a realização do estudo de caso. Por isso, não se buscou avaliar uma plataforma de mídia social em detrimento de outra, nem tanto suas facilidades e dificuldades de uso. O que se pretendeu observar é o conteúdo disponibilizado pela empresa, assim como sua interação com os demais usuários. Além disso pretendeu-se observar a partir das mídias sociais a possibilidade de captar inovações sustentáveis às empresas. Assim, o conteúdo tornou-se mais importante do que a plataforma onde está sendo disponibilizado. No que se referiu às práticas de inovação e sustentabilidade observadas nas empresas estudadas buscou-se somente identificar superficialmente os pontos mais relevantes. Atentou-se para a conexão entre as três temáticas: inovação, sustentabilidade e mídias sociais. A partir da análise do caso escolhido, não é objetivo do estudo realizar generalizações do setor, nem tanto relacionar o desempenho econômico-financeiro das empresas escolhidas com a utilização das mídias sociais. As únicas intenções que serão atendidas junto à pesquisa das organizações escolhidas referem-se ao atendimento dos objetivos específicos determinados anteriormente. Pode-se destacar como delimitação da pesquisa, por não ser probabilística, o impedimento em realizar generalizações dos resultados e das falas dos depoentes. Apesar dessa limitação, todavia, a escolha pelo método utilizado ainda foi vantajosa, pois, permitiu a obtenção de riqueza de detalhes e aprofundamento da realidade estudada. 3.6 SUMÁRIO EXECUTIVO DOS PROCEDIMENTOS DA PESQUISA Com a finalidade de expor os procedimentos arrolados, evidenciar a relação entre eles e destacar a essencialidade da construção de passos solidificados, apresenta-se um sumário executivo dos principais procedimentos metodológicos da pesquisa. A partir da apresentação do Quadro 20 pretende-se tomar como elementos essenciais o rigor no embasamento metodológico, atuando como norteador para o atingimento dos objetivos geral e específicos da pesquisa proposta. No Quadro 20 estão conectados os objetivos de pesquisa à estratégia que o tornará exequível, assim como a ferramenta que possibilitará sua concretização. 68 Quadro 20 - Sumário executivo dos procedimentos metodológicos da pesquisa Tema: As mídias sociais online e a geração de inovações sustentáveis: proposição de um modelo de gestão. Problema de pesquisa: Como ocorre a gestão das mídias sociais no âmbito organizacional a fim de aproveitar seu potencial e gerar inovações sustentáveis? Objetivo geral: Propor um modelo de gestão organizacional que vise a utilização das mídias sociais para captar inovações sustentáveis nas empresas. Objetivos específicos Descrever o contexto das organizações escolhidas para o estudo de caso no que se refere às práticas atuais de gestão e à utilização das mídias sociais para gerar inovações sustentáveis Verificar a existência de modelos de gestão em relação à adoção de inovações sustentáveis a partir do uso das mídias sociais Apresentar o modelo de gestão, descrevendo as principais soluções e ferramentas que podem contribuir na geração de inovações sustentáveis a partir das mídias sociais Avaliar a aplicabilidade e os possíveis efeitos da implementação do modelo de gestão proposto Estratégia de pesquisa Estudo de caso único Pesquisa exploratória Pesquisa exploratória e Pesquisa descritiva exploratória Ferramenta de pesquisa Entrevistas profundidade observação em Benchmarking e Análise dos dados e Feedback e entrevista com proposição do modelo processo especialista Fonte: Elaborado pela autora (2014). do 69 4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Propõe-se neste tópico a análise dos dados obtidos por meio das distintas fontes de evidência e técnicas de coleta de dados anteriormente descritos O capítulo que se segue oferece a caracterização das organizações escolhidas para o estudo de caso e a apresentação dos dados primários e dos secundários colhidos. Na sequência, apresenta-se a análise dos dados e a discussão dos resultados. Ainda, verifica-se o encontro desses com os conceitos teóricos, no processo que culmina, conforme elucidado por Yin (2005), na triangulação dos dados. 4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES No intuito de caracterizar as organizações escolhidas para aprofundamento do estudo de caso e identificar dados e informações relevantes ao tema da pesquisa, realizou-se uma breve descrição do histórico da organização, por meio de uma pesquisa exploratória preliminar. Para que se tornasse mais objetiva, optou-se pela construção de um quadro elencando as principais características da empresa, seguida pela análise do organograma. Isso porque pretendeu-se identificar onde estão inseridas as áreas de gestão e de execução das atividades relacionadas às mídias sociais, à sustentabilidade e à inovação. Aprofundando-se no objetivo da pesquisa, a caracterização das organizações observou e identificou a presença virtual da empresa nas mídias sociais, sua descrição e os valores associados a elas, conforme proposto por Recuero (2009). Os dados foram obtidos a partir de um contato telefônico inicial com representantes das empresas, que oportunizaram e permitiram a realização da pesquisa nas organizações. Em seguida, foram averiguadas informações sobre o histórico e os dados gerais da empresa, utilizando-se do site das empresas e de outras publicações, as quais estão referenciadas ao final deste relatório. A fim de observar a inserção e a presença virtual das empresas nas mídias sociais, tomou-se como fonte de dados as mídias sociais online. Com o intuito de identificar a alocação das atividades relacionadas às mídias sociais, à sustentabilidade e à inovação dentro da empresa, a fonte de dados foi uma conversa, via e-mail, com a pessoa que permitiu o acesso à organização. Esse 70 processo, com o consequente detalhamento da caracterização da empresa, ocorreu anteriormente à realização das entrevistas. 4.1.1 Meu Móvel de Madeira A Meu Móvel de Madeira, até o ano de 2006, era uma empresa subsidiária da Celulose Irani. A controladora iniciou esse projeto visando aproveitar o cultivo de madeiras que possuía em excesso e não era transformado nem em papel nem em celulose. Algum tempo depois, a Celulose Irani percebeu que a loja online desfocavase do negócio central, e deixou de fornecer insumos à controlada. A decisão estratégica, portanto, foi a de vender o pequeno negócio, uma vez que esse não fazia mais parte do foco de atuação da controladora. Nesse momento aconteceu uma operação conhecida pela sigla MBO: o management buyout. Trata-se de uma manobra de compra onde o quadro de funcionários adquire o capital da empresa e assume a gestão. No caso, o então diretor comercial da Meu Móvel de Madeira, Ronald Heinrichs, comprou a empresa da qual era funcionário, no ano de 2012. (FOLHA DE SÃO PAULO, 2014). No intuito de sintetizar as principais informações e caracterizar objetivamente a Meu Móvel de Madeira, segue o Quadro 21, em que estão destacadas as principais características da empresa. 71 Quadro 21 - Características principais - Meu Móvel de Madeira Meu Móvel de Madeira Origem Brasil Fundação 2006 Fundador Celulose Irani Sede Rio Negrinho, Santa Catarina Proprietário Ronald Heinrichs Capital aberto Não CEO Ronald Heinrichs Fábricas Terceirizadas no polo moveleiro de São Bento do Sul – SC Lojas Lojas temporárias em pontos estratégicos Funcionários 65 Segmento Móveis Principais produtos Mobiliário e decoração Slogan Fazer da sua casa o melhor lugar do mundo Negócio Loja online de móveis sustentáveis Transmita UAU sempre Vire o mapa Seja justo Suba a escada rolante ao contrário Valores Faça mais com menos Curta o tiMMMe Todos por um Faça com garra Simplifique Pessoalize Fonte: Meu Móvel de Madeira (2014). No ambiente da loja online, os produtos são categorizados por ambientes, podendo ser filtrados: móveis para área de serviço, banheiro, churrasqueira, cozinha, escritório, jardim, quarto, sala de estar, sala de jantar e varanda. Ainda, há possibilidade de conjuntos de móveis, decorações e vale presentes. A produção dos móveis é terceirizada, e a Meu Móvel de Madeira é responsável pelo design e pelo controle de qualidade. Os principais fornecedores estão localizados no polo moveleiro de São Bento do Sul, de acordo com palavras do proprietário Heinrichs (2014). A primazia pela qualidade e pelo bom acabamento 72 – um dos valores da empresa – está refletida nos produtos disponibilizada pela empresa. A logística para atender a demanda está em um processo de transformação. No primeiro trimestre de 2014, a Meu Móvel de Madeira passou a atuar com frota e montagem própria nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. As demais regiões ainda são atendidas por intermédio de logística terceirizada. A cultura da sustentabilidade é fortemente presente na empresa Meu Móvel de Madeira, mesmo quando somente utilizados dados secundários para essa constatação. O negócio está pautado no desenvolvimento de móveis sustentáveis: apenas é utilizada madeira de florestas plantadas e há cuidados efetivos ao longo da cadeia produtiva. O propósito é transmitir os valores preconizados pela empresa. A consideração pelas pessoas é percebida nos valores da empresa e também nas palavras de Heinrichs (2014), quando afirma a importância da cultura organizacional e a capacidade que esta tem de influenciar os relacionamentos com os demais stakeholders. A organização das pessoas para o trabalho também é reflexo dessa cultura, conforme pode ser observado no organograma na Figura 8. Estão alocadas sob a gerência de entretenimento as atividades de marketing e de compras; sob a de encantamento, as de atendimento e design; sob a de gerência de produtos e soluções, as de qualidade e de logística; sob a de gente e de grana as finanças e os recursos humanos. Toda a equipe é liderada por um executivo, o qual orienta as ações de todos, com o objetivo de manter soberana a cultura organizacional e a criatividade. Figura 8 - Organograma Meu Móvel de Madeira Diretor de cultura e criatividade Gerência de entretenimento Gerência de encantamento Gerência de produtos e soluções Gerência DGG Fonte: Heinrichs (2014). As atividades relacionadas à gestão e à execução das ações nas mídias sociais ficam a cargo da gerência de entretenimento, ao passo que não existem 73 cargos formalizados nem pessoas unicamente dedicadas à sustentabilidade nem à inovação. Isso porque, para Heinrichs (2014), tanto a inovação quanto a sustentabilidade precisam estar no DNA de todos os funcionários da empresa. 4.1.2 Dudalina S/A O surgimento da Dudalina está ligado ao crescimento e desenvolvimento de uma grande família no interior do município de Luís Alves a partir da década de 1950. Seu Duda e Dona Adelina adquiriram uma pequena loja de secos e molhados e diante de uma grande quantidade de tecidos que haviam sido comprados por Seu Duda, Dona Adelina passou a costurar camisas. Surge em 03 de maio de 1957, a Dudalina, nome oriundo da união do nome do casal (SOUZA, 2002). O negócio amadureceu e desenvolveu-se com a compra de duas lojas em Balneário Camboriú, que propiciaram a educação e participação dos dezesseis filhos do casal no trabalho. A Dudalina passou a ser comandada pelo filho primogênito, Anselmo José, em 1974. No mesmo período a empresa passou a ter uma unidade fabril em Luís Alves, sede do armazém de secos e molhados da família. As demais fábricas e a nova sede foram incorporadas a partir da década de 1980, quando a empresa passou a profissionalizar a gestão. No ano de 2003, eleita pelo conselho de administração, a sexta filha do casal, Sônia Regina Hess de Souza, assumiu a presidência da Dudalina. Com o objetivo de sintetizar as principais informações e de caracterizar objetivamente a Dudalina S/A, segue o Quadro 22 com as principais características da empresa. 74 Quadro 22 - Características principais - Dudalina S/A Dudalina S/A Origem Brasil Fundação 1957 Fundador Adelina Hess de Souza e Rodolfo Francisco de Souza Filho Sede Blumenau, Santa Catarina Proprietário Sociedade anônima Capital aberto Não CEO Sônia Hess de Souza Fábricas Benedito Novo, Blumenau, Blumenau 54, Luís Alves, Presidente Getúlio, Terra Boa/PR Lojas 95 Funcionários 2.600 Segmento Vestuário Principais produtos Camisas, calças e malhas Marcas Dudalina, Dudalina Feminina, Individual e Base Slogan Amor à camisa e às pessoas Paixão Encantamento Pessoas Valores Cliente Ética Inovação Qualidade Resultado Fonte: Site da Dudalina (2014). O modelo de negócio da Dudalina S/A está baseado na composição de sociedade anônima: conta com um conselho de administração, um conselho fiscal e um presidente, que, nesse caso, é o executivo principal da empresa. A estrutura societária está moldada devido ao fato de a empresa ter tido sua origem no seio familiar. É importante ressaltar que esse modelo é que define o organograma da empresa e a maneira como as pessoas, os cargos e as funções estão delimitadas na Dudalina S/A. O slogan da empresa é: “amor à camisa e às pessoas”. Esse lema ao traduzir seus valores é concretizado nas suas ações para com as pessoas e também nas 75 ações de marketing. A Dudalina S/A está organizada conforme estrutura exposta na Figura 9, segundo dados fornecidos pela própria e datados de janeiro de 2014. Figura 9 - Estrutura organizacional Dudalina S/A Presidente Controller Gerente TI Diretor de operações e responsabilidade social Gerente de logística Gerente PCP Gerente unidade TB Gerente unidade PG Gerente melhoria contínua Gerente unidada LA Gerente unidade 54 Gerente unidade BN Diretor comercial Diretor de marketing Gerente CDP Gerente Adm. Vendas Gerente compras tecidos e prod acabados Gerente marca Dudalina Fem. e Base Fem. Gerente marca Individual e Base Gerente marca Dudalina Masc. Diretor de varejo/ Gestão de pessoas Gerente de varejo Gerente de gestão de pessoas Gerente suprimentos Fonte: Souza (2014). Ao interesse da pesquisa em questão, a Dudalina S/A atribui à diretoria de marketing a estratégia e o planejamento das ações nas mídias sociais. A execução, por sua vez, é terceirizada, ficando externa à organização. As atividades referentes à sustentabilidade, em contrapartida, ficam a cargo da diretoria de operações e responsabilidade social, em especial ao Instituto Adelina. A inovação, de acordo com Souza (2014), não está direcionada especificamente a um cargo nem a um responsável, mas ocorre dentro de cada área. A empresa Dudalina S/A é detentora de quatro marcas. A primeira delas é a Dudalina Masculina, grife destinada à camisaria masculina que dispõe das linhas Business, Sport e Cult. A segunda, Individual, foi criada há 27 anos e conta com linha de camisaria e malharia. A marca Base é destinada ao público jovem, tanto masculino quanto feminino. A mais recente marca da companhia e destinada 76 exclusivamente às mulheres é a Dudalina Feminina, grife de camisaria que hoje já diversificou sua linha para calças, suéteres e outras peças; o propósito é vestir mulheres que decidem, como o próprio slogan anuncia. O principal enfoque do estudo será dado à marca Dudalina Feminina. Todavia, é essencial destacar que em muitas oportunidades as iniciativas da empresa são congruentes às praticadas pela marca. Outro fator que evidencia essa assertiva reside no fato dos entrevistados estarem designados à empresa e não a uma das marcas. 4.2 ANÁLISE DOS DADOS A presente subseção realiza a análise dos dados obtidos nas etapas anteriores. Para tais inferências foram utilizadas as fontes de evidência propostas por Yin (2005), conforme descritas no Quadro 17, e os dados secundários disponibilizados no Quadro 16. Nesta etapa também são trazidos os principais conceitos observados na fundamentação teórica. Com isso, consolida-se o processo de triangulação dos dados por meio dos elementos primários, dos secundários e da revisão bibliográfica. Os dados foram analisados conforme a categorização das variáveis proposta no Quadro 13, orientados pelos fundamentos teóricos propostos no referido capítulo. Também se encontram neste tópico os achados de pesquisa que elucidam pontos de interesse não identificados anteriormente à realização das entrevistas. A fim de padronizar a fonte dos dados das entrevistas, utilizou-se uma nomenclatura para especialistas e gestores entrevistados anteriormente descritos nos procedimentos metodológicos, conforme consta no Quadro 23. 77 Quadro 23 - Nomenclatura entrevistados Cargo Nomenclatura Especialista 1 Coordenador da Pós-Graduação Marketing Unoesc Especialização em Especialista 2 Especialista 3 Gerente comercial BlueBerry Marketing Diretor de marketing e Co-fundador da Resultados Digitais Comunicação e Especialista 5 Gestor 1 Gestor 2.1 Gestor 2.2 Gestor 2.3 Escritora, consultora, artista, professora, coordenadora de MBA e palestrante internacional premiada Professor de pós-graduação de marketing digital e Diretor da Fabulosa Ideia Gerente de inovação Celulose Irani Gerente de entretenimento Meu Móvel de Madeira Social media Meu Móvel de Madeira Google Meu Móvel de Madeira Gestor 3.1 Marketing Dudalina Especialista 4 Gestor 3.2 Sustentabilidade Dudalina Fonte: Elaborado pela autora (2014). A análise dos dados feita nos subtítulos seguintes busca mesclar as percepções dos especialistas em mídias sociais, dos gestores das empresas estudadas, das notas de campo, dos relatos da observação e da fundamentação teórica. 4.2.1 Redes sociais Com o propósito de atender às categorias determinadas no Quadro 13, a primeira delas a ser analisada são as redes sociais. Nela serão contempladas, em um primeiro momento, as considerações realizadas pelos especialistas entrevistados e também constatações informadas pelos gestores das empresas, assim como as observadas nas próprias mídias sociais das empresas do objeto de estudo. É importante ressaltar que o primeiro descritor enquadrado na categoria – contexto histórico – não foi abordado na análise. Isso porque não foram identificadas falas e menções que viessem a triangular os dados previamente dispostos. A manutenção desse descritor e das informações na fundamentação teórica, contudo, permanece inalterada por ser de importância para a construção dos conceitos seguintes. 4.2.1.1 Mídias sociais online O arcabouço teórico que tratou das mídias sociais online teve a intenção de classificá-las e observar as características que influenciam sua utilização. Para 78 complementar tais assertivas trazem-se à tona a percepção e os comentários dos especialistas entrevistados. De acordo com o Especialista 2, “as pessoas não entenderam ainda o que significa uma rede social. [...] Todo mundo quer entrar ali, mas não sabe como se comportar”. O Especialista 1, por sua vez, acredita que a “relação de on[line] e off[line], [...] é muito simples. [...] O mundo online não resolve nada, ele vai potencializar o que é bom e o que é ruim”. O Especialista 2 ainda constata que a utilização das mídias sociais pelas pessoas trará grandes oportunidades: “está começando uma grande mudança na internet, apesar das pessoas acharem que isso já aconteceu, isso ainda não aconteceu” Avançando sistematicamente na utilização das mídias sociais e corroborando o que Kaplan e Haenlein (2010) afirmam sobre a pré-disposição do usuário em gerar conteúdo, o Especialista 1 afirma que as mídias sociais acontecem baseadas nisso. Ele ilustra sua fala com o seguinte exemplo: “o Twitter criou uma geração de informação total, é só informação generalizada, 144 [caracteres], e aquilo que importa”. O conteúdo, para o mesmo especialista, pode ser compreendido de forma mais subjetiva no intuito de atender a uma necessidade. Essa assertiva legitima o sustentado por Raacke e Raacke (2008) sobre a conceituação das mídias sociais online como um espaço virtual que permite a um grupo específico o compartilhamento de interesses comuns. O sujeito de pesquisa expõe que “as mídias sociais servem para prestar um serviço às pessoas”. As características que influenciam as mídias sociais, conforme citadas por Kaplan e Haenlein (2010), são: presença social, riqueza de mídia, auto apresentação e auto revelação. Elas são validadas quando o Especialista 2 analogamente cita que O facebook é uma cafeteria de fim de tarde. Eu encontro meus amigos lá, falo sobre futebol, filmes, política e da realidade que está ao meu redor. E assim é o comportamento no facebook. Eu preciso falar de várias coisas, inclusive do meu serviço. Não só do meu serviço, não só da minha atividade, porque o que acontece: se eu começar a falar só de mim mesmo, vai chegar uma hora que lá na cafeteria de fim de tarde, onde eu encontro meus amigos semanalmente, vai chegar lá depois de três, quatro semanas e ninguém vai acabar me ouvindo, porque estão cansados de ouvir falar só de mim. As transcrições das falas dos especialistas ilustram como as mídias sociais são observadas pelos profissionais no assunto, assim como suas percepções sobre 79 as necessidades que surgem no intuito de aprimorar e avançar na utilização dessas ferramentas e também identificar as oportunidades que surgem nesse contexto. Pode-se considerar, a partir das falas dos entrevistados e das percepções colhidas em campo, que o tema – mídias sociais online – ainda não apresenta um consenso entre os depoentes, nem no tocante à utilização, nem quanto às oportunidades que delas podem surgir. As aspirações determinadas pelas falas apresentadas e a compilação dos referenciais teóricos fornecem embasamento para a compreensão do tópico seguinte. 4.2.1.2 Organizações e o uso das mídias sociais A estrutura teórica que abordou as organizações e o uso das mídias sociais expôs como as empresas utilizam-se das mídias sociais para orientar seu planejamento de marketing. Uma das formas de efetivar esse planejamento acontece por meio da comunicação baseada em três fluxos (GALLAUGHER E RANSBOTHAN, 2010); do nível de presença virtual (NAYLOR ET AL, 2012); e dos valores de atuação no contexto das mídias sociais (RECUERO, 2009). Com o objetivo de colaborar com os referencias teóricos anteriormente apresentados, seguem-se aqui trechos das entrevistas realizadas com especialistas e gestores que se relacionam ao tópico. Tomando como ponto de partida a observação do conceito da comunicação baseada em três fluxos retratada por Gallaugher e Ransbothan (2010) – em especial o intitulado monitor, que reflete a comunicação entre usuários ao utilizar figurativamente um monitor – o Especialista 1 responde ao questionamento assegurando: “Quando um usuário fala de um para o outro sobre a empresa? Eu acho que a empresa está engatinhando ainda”. Os respondentes, em particular os especialistas, identificaram grandes oportunidades na utilização das mídias sociais por parte das organizações. Para o Especialista 2 é “um mercado que está apenas começando a crescer, no qual as empresas estão injetando muito valor”. O Especialista 3 também concorda ao afirmar que “o que elas [as empresas] conseguem entender é que é um movimento irreversível [a utilização das mídias sociais]; [...] elas [as empresas] já entendem bem a importância, elas [as empresas] já sabem o poder disso [das mídias sociais]”. O mesmo depoente ainda assegura 80 que “tem formas muito diferentes de lidar com as mídias sociais, de acordo com o tipo de empresa, com o tipo de negócio, tamanho e a visibilidade dela”. Naylor et al (2012) apresenta o conceito de mera presença virtual. Contrapondo o exposto, o Especialista 2 acredita ser imprescindível a aquisição de uma postura ativa, sendo necessário agir nesse contexto, “fazendo com que elas [as empresas] entendam como se comportar numa rede social, o que falar numa rede social, para que você tenha engajamento, pra que você tenha um público realmente pronto para te ouvir”. A execução das ações nas mídias sociais é uma tarefa que deve ser tratada com seriedade dentro das empresas. Na opinião do Especialista 1, a melhor alternativa para tanto é a Contratação de um social mídia ou terceirização como agência, porque você não pode tratar mundo virtual de uma forma jogada. [...] Existem ferramentas específicas que você identifica a popularidade de uma marca nas redes sociais, inclusive ferramentas demonstram diariamente o que você está fazendo certo ou errado. É feito um planejamento de mídia mensal, programar postagem, análise de resultados bem certinho. É importante advertir, aludindo o trecho supracitado, que a tendência de os especialistas considerarem essencial a contratação de um profissional especializado à execução das mídias sociais, ou a terceirização para uma empresa destinada a esse fim, configura um conflito de interesse. Isso porque esse é o negócio a que se destinam as empresas a que os entrevistados pertencem. Nesse ponto de divergência, entre realizar o feito internamente ou terceirizálo, seguem-se as experiências relatadas pelas empresas escolhidas para o estudo de caso. A Meu Móvel de Madeira executa as ações nas mídias sociais internamente. De acordo com a Gestora 2.1, “a gente tem uma pessoa que é responsável por todo conteúdo e pelo contato com as pessoas nas redes sociais. [...] Ela trabalha de home office”. Na opinião do Gestor 2.3, “não terceirizamos a comunicação ou mídias sociais porque acreditamos que a alma é a propaganda do negócio”. A Dudalina S/A, por sua vez, trabalha com uma agência terceirizada para execução das ações nas mídias sociais. A ação, contudo, é feita de maneira colaborativa. Segundo a Gestora 3.2, essa característica de trabalho “contribui mais do que se fosse feito aqui, até porque sai da caixa. Quando você está aqui dentro tem muita demanda de trabalho, então quando você está lá fora você tem mais liberdade de como se trabalhar”. 81 A execução das ações não apresenta unanimidade na escolha. Dessa forma, pode-se inferir, que essa decisão não é determinante para o sucesso das ações nas mídias sociais, nem para a possibilidade de implantar o modelo que na sequência se propõe. O posicionamento e presença nas mídias sociais, igualmente, não se apresenta como um consenso. Não foram identificadas as razões pelas quais as empresas estão inseridas nas mídias sociais. O fato é que a presença nesse meio existe e muitas vezes é determinada por outros players do mercado. A visão dos especialistas contempla também os valores associados às mídias sociais enumerados por Recuero (2009). A visibilidade pode ser observada a partir da geração de conteúdo. O Especialista 1 afirma que as empresas podem buscar visibilidade por meio da “humanização das marcas, porque na rede social, por mais que você esteja com uma marca trabalhando ali, você é uma pessoa. [...] entendendo ela [a marca] na rede social, como algo humano mesmo, porque rede social é isso, é proximidade”. O sujeito de pesquisa Especialista 3 reforça: “o que a gente publica em nossas redes está relacionado à produção de conteúdo”. Acerca da geração de conteúdo, a respondente da empresa Meu Móvel de Madeira, a Gestora 2.1, expõe que “a gente não faz marketing de venda nas redes sociais, nem os nossos conteúdos. [...] O propósito da Meu Móvel de Madeira nas redes sociais é dar conteúdo relevante às pessoas. [...] Fazer com que a gente seja uma fonte de informação na área de decoração e soluções para casa”. O Especialista 1 parece convergir com esse posicionamento quando exemplifica por meio de outras empresas a geração de conteúdo a fim de alcançar visibilidade para a marca. O entrevistado reforça ao sustentar que “você fica no teu conceito, no teu universo, mas você usa a rede social para beneficiar o internauta, ninguém está ali pra propaganda”. O conteúdo gerado pela Meu Móvel de Madeira nas mídias sociais trata de assuntos relacionados à decoração, reciclagem e dicas de “faça você mesmo” (MEU MÓVEL DE MADEIRA, 2014). A abordagem relacionada aos produtos da marca permeia os assuntos supracitados e é realizada para contemplá-los, respeitando o foco e o direcionamento de cada mídia social. A empresa Dudalina, quando ouvida a Gestora 3.2, é consoante à anterior ao posicionamento da geração de conteúdo. Para a entrevistada, o direcionamento nas 82 mídias sociais da empresa é “não apenas mostrar uma foto de campanha ou o que combina com o que, [...] mas também o que acontece aqui dentro [da empresa], que fale de life style, que não seja só foto da marca”. Na observação, o conteúdo gerado pelas mídias sociais na Dudalina Feminina reflete a identidade criada pela marca no intuito de agregar-lhe valor. São desenvolvidos e registrados conteúdos sobre moda, estilo de vida, viagens, gastronomia, cultura, decoração e estilo. O propósito parece ser conectar a grife Dudalina Feminina a esses pontos e às oportunidades para inserirem seus produtos de distinta e controladamente. A finalidade dessa comunicação integrada, na qual estão incluídas as mídias sociais, é demonstrar a essência da marca, a cultura e o posicionamento por meio de elementos tangíveis e intangíveis. Uma vez compreendido como serão disponibilizados os conteúdos nas mídias sociais, é essencial a decisão de quais plataformas serão utilizadas pelas empresas. Essa definição está associada à visibilidade apontada por Recuero (2009) e pode ser verificada no Quadro 24 ao verificar a descrição das plataformas que as empresas estudadas estão presentes. É observável que ambas as empresas estão presentes nas mídias sociais de maior concentração de usuários e em algumas redes de nicho. Para a Meu Móvel de Madeira, nas falas da Gestora 2.1, “a gente tenta estar pelo menos em uma mídia social de cada segmento”. Para a Dudalina, por meio da Gestora 3.2, “Eles [a agência terceirizada] não decidem, eles propõem, e é avaliado aqui, tanto que até é direcionado o que tem que dar mais atenção naquela semana, naquele dia”. Para o Especialista 1, “não existe padrão. Depende da empresa [...] depende quem você é ou o que que você quer”. A visibilidade, valor citado por Recuero (2009), versa sobre a presença da empresa na mídia social e sua íntima relação com a geração de conteúdo do proprietário do perfil. Com a finalidade de conferir um caráter objetivo aos valores descritos por Recuero (2009) descreveu-se como fatores palpáveis à visibilidade a aparição nas mídias sociais, podendo ser identificadas como as publicações existentes nos perfis das empresas em cada mídia social, como estão sistematizadas no Quadro 24. 83 Mídia social Foco Blog Conteúdo Facebook Site de rede social Foursquare Localização Google + Site de rede social Instagram Fotografia digital LinkedIn Pinterest Reclame aqui Twitter Quadro 24 - Visibilidade nas mídias sociais Meu Móvel de Finalidade Madeira Atualização rápida a partir de acréscimos de Publicações diárias posts Publicações diárias Interação entre o usuário e seus contatos 40 álbuns de fotos; 8 aplicativos interligados; publicações diárias 56 álbuns de fotos; 7 aplicativos interligados; publicações diárias Rede social de localização Não presente na mídia social Sem publicações Interação entre o usuário, seus contatos e Publicações diárias outras ferramentas Google Compartilhamento de fotografia Rede de Negócios relacionamentos profissionais Armazenamento e Curadoria de compartilhamento de imagens fotos e vídeos 219 posts Sem publicações 905 posts Publicações eventuais Sem publicações 21 painéis, 1.764 pins 29 painéis; 966 pins Negócios 97,8% das Rede social colaborativa reclamações de avaliação de marcas atendidas e 85,5% com solução 100% das reclamações atendidas e 77,8% com solução Fluxo social Rede social para microblogging 9.258 tweets 3.677 tweets 2 playlists; 44 vídeos 6 playlists; 20 vídeos Compartilhamento de vídeo Fonte: Elaborado pela autora (2014). Youtube Dudalina Feminina Vídeo Importante ressaltar que os perfis nas mídias sociais Foursquare, LinkedIn e Reclame Aqui são pertencentes à Dudalina S/A, contudo, por responderem também a solicitações da Dudalina Feminina, considerou-se válido estarem aderidos à análise. A popularidade e a reputação definidas por Recuero (2009) podem ser observadas a partir dos dados colhidos nas próprias mídias sociais das empresas objetos de estudo, conforme apresentação no Quadro 25. Não se observaram critérios objetivos nem falas esclarecedoras que permitissem a distinção dos dois valores citados. Todavia, pode-se aglutiná-los por acreditar que a percepção construída pelos demais atores da rede social e a audiência estão relacionados. 84 Mídia social Blog Facebook Foursquare Google + Quadro 25 - Popularidade e reputação das mídias sociais Meu Móvel de Madeira Dudalina Feminina 699mil curtidas e 10mil falando sobre isso 495mil curtidas e 18mil falando sobre isso 291 seguidores Não há perfil da empresa 473 seguidores e 589mil visualizações 14 seguidores 3.967 seguidores 1.725 seguidores 2.774 seguidores Reclame aqui Reputação: bom Twitter 6.997 seguidores Youtube 594 inscritos e 291mil visualizações Fonte: Elaborado pela autora (2014). Instagram LinkedIn Pinterest 32.200 seguidores 6.987 seguidores 1.025 seguidores Reputação: bom 4.985 seguidores 140 inscritos e 114mil visualizações A autoridade, por meio do poder de influência do usuário, destacada por Recuero (2009), pode ser observada nas ações de monitoramento das empresas nas mídias sociais, na gestão de crises e no propósito do estudo que aqui se dispõe: a geração de inovações sustentáveis a partir das mídias sociais. Acerca do monitoramento e da proposta apresentada por Hamel (2009), a Meu Móvel de Madeira, nas palavras da Gestora 2.1, informa que “a gente não trabalha com nenhuma ferramenta paga de monitoramento. [...] O hootsuit nós usamos, que é uma ferramenta gratuita. [...] A gente tem algumas formas de buscar, mas uma ferramenta [paga] em si a gente não tem”. Sobre este tema, não houve resposta por parte da empresa Dudalina pelo fato de a pesquisadora não ter tido acesso direto aos responsáveis por tais execuções. A classificação das mídias sociais proposta por Kaplan e Haenlein (2010) seleciona-as de acordo com a presença social, a riqueza da mídia e à auto apresentação e auto revelação, conforme anteriormente apresentado. Para a Meu Móvel de Madeira, a concentração da atuação das mídias sociais está naquelas de média presença social, de média riqueza da mídia e de alta apresentação e revelação. Neste quadrante estão definidas as seguintes mídias sociais: Facebook, Google+, Instagram, LinkedIn e Pinterest. O segundo nicho de atuação das mídias sociais da Meu Móvel de Madeira continua a apresentar alta apresentação e revelação, contudo, torna ainda menor a presença social e média riqueza da mídia, como é o caso do Blog Minha Casa Minha cara, Reclame Aqui e Twitter. 85 Quanto à empresa Dudalina Feminina, a concentração da atuação está nas mídias sociais de média presença social, de média riqueza da mídia e de alta apresentação e revelação. Preenchem tais características as seguintes mídias sociais: Facebook, Google+, Instagram, LinkedIn e Pinterest. Da mesma forma com que ocorre em relação à Meu Móvel de Madeira, o segundo nicho de atuação das mídias sociais da Dudalina Feminina continua a apresentar alta apresentação e revelação, entretanto, torna ainda menor a presença social e média riqueza da mídia, como é o caso do Blog Dudalina Feminina, Foursquare, Reclame Aqui e Twitter. 4.2.2 Inovação sustentável O tópico direcionado a essa análise colhe os trechos que tratam sobre inovação e sua gestão. A fonte para essas informações são as entrevistas realizadas com as empresas escolhidas para o estudo de caso e a empresa definida para benchmarking. Por conseguinte, são apresentados resultados sobre sustentabilidade e inovação sustentável. O último subtópico, trata do objetivo geral a que se propõe o presente estudo – a geração de inovações sustentáveis a partir das mídias sociais – e como as fontes de evidência contribuem para essa construção. 4.2.2.1 Inovação A observância à inovação e a forma como é gerida nas empresas estudadas, pode ser relacionada aos conceitos teóricos revisados na literatura. Para isso, utilizou-se inicialmente a entrevista de benchmarking realizada com o Gerente de Inovação da empresa Celulose Irani S/A, que foi denominado, para este estudo, Gestor 1. As melhores práticas da organização serviram de embasamento para a construção do modelo proposto. Também serão abordadas as percepções dos especialistas, a conduta das empresas escolhidas para o estudo de caso, e o relato de observação das empresas por meio das notas de campo. Segundo o Gestor 1, o seu papel como gerente de inovação é “fazer uma ligação da estratégia [da empresa] com a inovação”. Esclarece, ainda, que, “inovação é toda ideia implementada com sucesso, desde que traga resultados ambientais, sociais, financeiros e comportamentais”. 86 Percebe-se nessa definição que as diretrizes relacionadas à inovação estão ligadas à proposta introduzida por Schumpeter (1982), e às definições trazidas pela OECD (2005). Importante ressaltar que o entrevistado possui intimidade com temas relacionados à inovação, como nomenclaturas, referencial teórico e experiências. Por isso, a discussão sobre o tema tornou-se profunda. A Celulose Irani S/A, ao tratar de inovação, possui uma área definida e contempla quatro colaboradores diretos. A importância do tema para a empresa é tamanha que pode ser observado em seu site uma aba dedicada exclusivamente à inovação e às ações realizadas dentro da área e que se relacionam com as demais e com o público externo. Para o Gestor 1 A área de inovação da Irani saiu das unidades de negócio e está em uma área estratégica da empresa. Hoje ela responde ao presidente e ao superintendente de estratégia e gestão. Áreas estratégicas que estão no negócio da empresa. Ficou mais fácil para discutir, para avaliar os assuntos. Inovação, estratégia, melhoria contínua, qualidade total, P&D corporativo – áreas estratégicas da empresa que não estão no negócio. As empresas escolhidas para o estudo de caso não possuem uma área de inovação configurada, não obstante, afirmam que é um processo inerente às atividades realizadas. Para a Meu Móvel de Madeira, nas palavras do Gestor 2.3, “inovação e sustentabilidade precisam estar no DNA de todos”. Essa afirmação pode ser melhor compreendida quando a Gestora 2.1 fala do ambiente de trabalho e das condições propícias à geração de inovação: “a gente tem muita flexibilidade e o Gestor 2.3 [proprietário] é uma pessoa que adora experimentar coisas novas”. A gestora ainda afirma que a empresa “busca muito que as pessoas sejam um pouco empreendedoras. [...] As pessoas aqui dentro são muito disponíveis. [...] A gente tem um monte de desafios mas eles não ficam pesados”. Essas situações podem ser ainda confirmadas com as percepções e notas de campo realizadas pela pesquisadora quando da visita à empresa. Ao adentrar na sede da empresa, na cidade de Rio Negrinho/SC, a entrevistadora foi recepcionada pelo proprietário da empresa e reconhecida por ele. A disposição do espaço de trabalho é totalmente aberta e informal, ficando todos lado a lado. Não há paredes com divisórias. Interessante destacar que inclusive o proprietário da empresa está inserido nesse ambiente. Os ambientes da empresa possuem nomenclaturas que refletem a ideologia do negócio e a atmosfera de trabalho. Cita-se como exemplo: a sala de cinema, 87 chama-se Videotube; a cozinha, Upload; o banheiro, Download; e as salas onde são realizadas reuniões e previsões, Clima tempo. A empresa Dudalina S/A, igualmente à anterior, não possui uma área específica, nem funcionários destinados ao processo de inovação. Todavia, ambos os entrevistados afirmam possuírem liberdade para propor novas ações e caracterizam o ambiente de trabalho como apto para isso, além de considerá-lo informal. Essa percepção é reforçada pelo Gestor 3.1: “hoje eu tenho uma liberdade para propor um projeto, para fazer alguma coisa”. Os entrevistados também atribuem essa autonomia à disposição aberta do ambiente de trabalho, pois todos ficam lado a lado, inclusive a presidente. Não há paredes, nem salas com divisórias. Um projeto que pode exemplificar as inovações dentro da Dudalina foi a iniciativa perante a venda de 50 milhões de camisas. O feito foi único, de acordo com a Gestora 3.2: A Dudalina não tem promoção. Não faz, não existe. [...] A produção [de camisas] estava a um número maravilhoso, o que fazer com isso? Vamos divulgar, foi acontecendo, vamos celebrar então, dar algo que a gente já recebeu, se a gente produziu é porque foi comprado, então é um retorno daquilo que a gente recebeu. Para essa celebração, como foi chamada, a inovação proposta foi oferecer aos clientes 50% de desconto em algumas peças da marca nas lojas próprias e em multimarcas. Ao buscar esclarecimentos sobre a gestão da inovação na Celulose Irani, para o Gestor 1, o ponto de partida para a implantação da área na empresa foi a definição clara das “fontes de ideia, da onde vem ideias para movimentar um projeto de inovação, quem são essas fontes? Colaboradores, universidades, áreas de P&D, fornecedores e clientes”. Pode-se observar a partir das fontes de ideia definidas pela Celulose Irani a diferenciação de fontes de inovação aberta e fechada, conforme exposto na revisão teórica. As fontes de inovação fechada são: os colaboradores e a área destinada à pesquisa e desenvolvimento. O desafio, portanto, é realizar a captação de ideias dessas fontes ao utilizar ferramentas apropriadas. 88 A área de P&D, de acordo com o Gestor 1: “tem um laboratório interno próprio. Lá dentro não se discute processo ou problema de processo. [...] Eles olham para temas estratégicos e trabalham temas no médio e longo prazo”. Com a finalidade de captar ideias dos colaboradores e potencializar as fontes de inovação fechada, o Gestor 1 informou que A gente criou alguns programas internos na empresa de geração de ideias. [...]um deles é o Programa Interno de Ideias dos colaboradores, um programa formal, regulamentado. [...] É o Ideias de Valor. O único objetivo dele é motivar os colaboradores para inovação gerando ideias. Não faz gestão de projetos, não faz gestão de portfólio de projetos, não faz nada disso. Ideias de valor é para gerar ideias. Qualquer ideia. O próprio Gestor 1 observa a diferença entre as fontes de ideia quando afirma que “colaborador tem inspiração. P&D tem pré-projeto”. À luz das empresas estudadas pôde-se observar a liberdade existente e a autonomia destinada à reunião de esforços para inovar. Constatou-se a partir de informações colhidas no site da empresa Dudalina S/A a realização de uma iniciativa que incentiva a geração de ideias: o Almoço de Ideias. Trata-se de um almoço mensal entre diretoria e lideranças das unidades fabris. Importante ressaltar que por se tratar de uma integração que contempla somente as unidades fabris, não foi citada pelos entrevistados. Na empresa Meu Móvel de Madeira não foi identificado nenhum procedimento formalizado de algum tipo de programa interno de geração de ideias. Ao ouvir o relato da Celulose Irani constata-se que as fontes de inovação abertas são as universidades, os clientes, os fornecedores e os incentivos do governo, especialmente por meio da Lei do Bem e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). No tocante às universidades o Gestor 1 afirma que as parcerias acontecem: “não tem o programa formal de relacionamento com universidades, onde o universitário entra no site da Irani e coloca uma ideia, isso não existe. Mas o nosso contato com projetos específicos existe e é forte. [...] Para universidade eu tenho um modelo de gestão de parcerias”. O Gestor 1 afirma que “as principais parcerias hoje são a UNOESC, UFSC, Universidade Federal de Viçosa, [Universidade] Federal do Rio Grande do Sul e [Universidade] Federal do Paraná”. O resultado das parcerias com os centros universitários, portanto, objetiva buscar inovações radicais. 89 A interação e parceria com universidades também pode ser observada na Meu Móvel de Madeira quando do relato do programa Meu Primeiro Royalty. De acordo com a Gestora 2.1 A gente trabalha com algumas universidades de Curitiba, Joinville e uma de Florianópolis, curso de design de produto. [...] A gente lança desafios pra eles por exemplo: chulé bem guardado. [...] Eles desenvolvem vários projetos. [...] Eles apresentam os projetos, o conceito e a gente dá um primeiro feedback. [...] A gente prototipa pra ver realmente como fica, depois cota e se for o caso dá seguimento. Daí esses estudantes recebem um royalty. É 4% hoje. [...] A gente controla as vendas desses produtos e eles recebem esse valor. A condução desse trabalho aconteceu por conta do que o Gestor 2.3 afirmou que “eu não quero trabalhar em um modelo como Tok Stok trabalha, que faz um concurso, você se inscreve, existe um vencedor e todos os outros ficam sem nenhum feedback”. Essa preocupação é confirmada pelas falas da Gestora 2.1 quando afirma que os produtos oriundos do programa “não têm um giro tão expressivo e é nisso que a gente está trabalhando. A gente está colocando metas de vendas para esses produtos”. Apesar disso, a mesma gestora expõe os efeitos colaterais do programa: “alguns produtos [...] tiveram uma visibilidade muito grande na mídia espontânea”. A visão da Gestora 2.1 sobre o programa dentro da Meu Móvel de Madeira é que “ele é estratégico pra gente [o projeto Meu Primeiro Royalty] [...] É um contato muito rico estar trabalhando com pessoas que estão na universidade”. Como incentivo e forma de capacitar os participantes do programa, de acordo com informações colhidas na página do Facebook do Meu Primeiro Royalty, realizou-se o #designcamp, como a própria Meu Móvel de Madeira intitula. Trata-se de uma colônia de férias da empresa, “uma semana de workshops e exercícios em design thinking para desenvolver produtos prontos para serem comercializados no mercado”. A parceria com universidades também foi observada na empresa Dudalina a partir de informações coletadas em seus documentos online. Uma das atividades em que a empresa está inserida é o projeto Santa Catarina Moda e Cultura – SCMC. É um trabalho regional, datado de 2005, que busca aproximar empresas do Vale do Itajaí catarinense a instituições de ensino superior, com vistas a agregar produtos com inovação e design. Igualmente ao programa relatado pela Meu Móvel de Madeira, a proposta do SCMC é a aproximação entre universidades e empresas ao utilizar recursos como 90 palestras, encontros e estágios. A Dudalina S/A sediou o 4º Workshop do “Inteligência Compartilhada”, reunindo os colaboradores das empresas do projeto e os alunos que compõem os Times Criativos do movimento. É importante ressaltar, porém, que essa iniciativa não foi abordada durante a entrevista pelos depoentes. Outra fonte de ideia para a inovação aberta, conforme citado pelo Gestor 1, na Celulose Irani, ocorre por meio do relacionamento com fornecedores e clientes e a empresa. Para ele “o fornecedor mais inovador começa a ter prioridades. [...] Eles [os fornecedores] entram em nosso site e, hoje, quanto mais inovações eles trazem pra nós, eles se beneficiam no momento de definir fornecedor”. A Meu Móvel de Madeira, ao se relacionar com seus fornecedores, buscou inovar no modelo de negócio. A Gestora 2.1 explica que “nós fechamos a fábrica em outubro de 2010. [...] A gente resolveu se especializar em design de produto [...], que é uma coisa que as pessoas valorizam muito e vamos transformar os nossos concorrentes em nossos fornecedores”. A Dudalina, por sua vez, identifica e regulariza seus fornecedores através do Termo de Adesão Dudalina, documento que orienta o fornecedor sobre as principais diretrizes, valores, princípios e padrões de qualidade. No documento, porém, não constam informações se a inovação proveniente dos fornecedores é um fator decisivo para escolha. Quando consultados os clientes, na Celulose Irani, de acordo com o Gestor 1 “a gente tem uma área de Assistência Técnica que está bem estruturada”. Na Meu Móvel de Madeira, conforme falas da Gestora 2.1 “todos os clientes respondem uma pesquisa depois que eles compram um móvel da Meu Móvel de Madeira. [...] Ali você tem a oportunidade de falar sobre esse produto. Mesmo que você não responda a pesquisa você tem a oportunidade de entrar no site e fazer um depoimento sobre o produto que você comprou”. Segundo a Gestora 2.1, é preciso, não somente deixar um canal aberto para comunicação, mas também utilizar as informações colhidas como fonte de inovações incrementais: “sempre que os designers vão desenvolver produto eles fazem a lição de casa de ler todos aqueles depoimentos sobre aquela mercadoria que eles tão desenvolvendo. Eles acompanham o ciclo de vida do produto”. Os depoentes da Dudalina, pouco falaram de inovações captadas por clientes, ou sobre a forma que isso acontece. 91 O gerenciamento da inovação, contudo, acontece apenas na empresa entrevistada para benchmarking, que possuiu uma área e colaboradores destinados a esse fim. Como essencial à implementação de uma área de inovação, o Gestor 1 afirma com veemência e embasado em experiências passadas que “sem gestão de projetos não sai inovação. [...] Primeiro faz gestão de projetos e depois faz inovação. Inovação navega por projetos”. Apesar disso, nenhuma das empresas pesquisadas para o estudo de caso possuem área de projetos. A Celulose Irani possui um modelo de fluxo para a gestão da inovação. O Gestor 1 atenta que o padrão utilizado atualmente na empresa embasou-se “no modelo do Ruy Quadros. [...] Ele trabalha desde a ideiação até implantação e deixa uma área desse tamanho aqui pra gestão de projetos, então é um modelo que a gente seguiu no início e foi mudando essa questão de ferramentas de fontes [de ideias]”. A primeira adaptação do fluxo proposto por Ruy Quadros (2008) às necessidades da Celulose Irani foi a representação gráfica através de um funil. O modelo de gestão de inovação implementado na empresa entrevistada para benchmarking, de acordo com o Gestor 1, pressupõem que as ideias: Caem num funil de inovação. O primeiro funil é de ideação e tem a fase dos comitês multidisciplinares para avaliação do conceito da ideia, aplicabilidade e viabilidade econômica. [...]O primeiro é conceito. Depois aplicabilidade. Aí tem que estar bem definido o que, como fazer, pro comitê avaliar. [...] O segundo é o funil de inovação de tecnologia. Passando por ali há uma metodologia padrão para todos os projetos. Todos passam pela metodologia de gestão de projetos. As dificuldades no gerenciamento da inovação são visíveis e destacadas pelo depoente como forma de promover mudanças no funil da inovação. O Gestor 1 afirma que “nós estávamos direcionando toda a inovação da empresa pra melhoria de processo, e estava esquecendo da pesquisa de longo prazo, mas era o modelo que estava fazendo isso. Então a gente colocou algumas barreiras”. As barreiras as quais o depoente fala tratam da fixação de um percentual de inovação incremental e um percentual de inovações radicais que devem ser respeitadas. Outra dificuldade apontada pelo sujeito pesquisado são as “ideias que você reprova no fluxo, mas mudando uma coisinha ela é implantada, e não volta e não comunica ao colaborador que implantou essa ideia. Porque a desconexão é muito grande” 92 O gestor durante a entrevista desenhou o fluxo de inovação em um papel no intuito de facilitar a compreensão dos ouvintes. Tidd et al (2008) afirmam que o gerenciamento da inovação está ligado ao processo de aprendizagem dos participantes. Nesse ponto, contudo, é fundamental trazer à tona o que a Especialista 4 afirma: “o ambiente de inovação requer meritocracia e responsabilidade pelos erros, sem que haja punição”. A meritocracia a que a especialista destaca é observada no programa interno de geração de ideias da Celulose Irani, pois, segundo o Gestor 1, “colocamos um programa que dá viagens internacionais, e não só isso, dá 3% do resultado líquido da ideia para o colaborador. [...] As premiações não são por número de ideias, mas sim por quanto ela avança no programa”. A responsabilidade pelo erro, mas sem a punição, está integrada ao feedback e como essa resposta chega aos interessados. A Especialista 4 complementa que a empresa precisa destinar um “budget para o erro, que contemple recursos financeiros e tempo das pessoas”. Para o Gestor 1, “o ponto crítico do programa é a relação com o colaborador. [...] Se você der um feedback errado, discussão vai dar, os colaboradores que são mais instruídos, discutem mais. O colaborador que é de chão de fábrica, ele não fala o que sentiu, fala o que gostou na hora e nunca mais dá uma ideia”. Na empresa existem duas pessoas, de acordo com o Gestor 1, que são “responsáveis pela relação com o colaborador”. A importância do feedback é um ponto relevante para o Gestor 1, pois “quando você dá uma ideia, é um filho teu que está nascendo, então o teu cuidado de dar esse retorno pode garantir a próxima ideia que ele vai dar”. O gerenciamento das inovações e a maneira como elas ocorrem dentro das empresas, todavia, é diverso e depende de fatores internos e externos às empresas. No intuito de facilitar esse processo, a Celulose Irani desenvolve um trabalho de cultura da inovação. O Gestor 1 afirma que “cultura é desenvolver um comportamento inovador nas lideranças, nos colaboradores, fazer o líder ser mais participativo. Mudar o comportamento das pessoas. E quando você muda o comportamento deles, ele é inovador, ele tem uma ideia, e quando ele tem uma ideia, ele joga no funil de projetos”. Desenvolver a cultura da inovação é uma tarefa que permeia as atividades da área de inovação da Celulose Irani. A equipe atua em diversas iniciativas. Uma 93 delas é a “formação de facilitadores, reuniões em todas ás áreas, perguntando e falando sobre inovação e tentando abordar o tema de uma forma diferente”, de acordo com o sujeito de pesquisa Gestor 1. Outra ação desenvolvida foi a simplificação da inovação. Conforme exposto pelo Gestor 1 “criamos um vocabulário interno da inovação, respeitando o manual de Oslo, respeitando o que o FINEP quer nos projetos, respeitando a Lei do Bem, mas sem falar termos em inglês”. Outra iniciativa realizada na empresa é a “massificação. Ela funciona de forma trimestral. O nosso objetivo é abordar 100% dos colaboradores. Tem que falar com todo mundo sobre inovação. Massificação todo mundo gosta, é o que a gente mais tem força”. Outra expressão da disseminação da cultura da inovação são, segundo o Gestor 1, Os laboratórios de criatividade. [...]montamos um evento com 60 pessoas: especialistas no assunto, fornecedores de máquinas, fornecedores de equipamento, pessoal da construção civil, concorrentes[...] Levamos todo mundo para lá, dois dias de evento, palestras sobre produtividade, dinâmicas liberando a criatividade. O grande desafio não é você fazer uma dinâmica que agora é liberar a criatividade, é você manter a criatividade durante todo o evento num nível alto. [...] A gente pega um tema, desafio de desenhar uma planta em Minas Gerais, só que o terreno é menor que a planta que precisa ser colocado em cima. Resultado do evento: no segundo dia foram apresentadas cinco propostas de plantas, todas cabiam no terreno. E eles tinham que votar na melhor planta, e ia ser implantada lá, e a planta mais votada foi a mais inovadora. Pode-se destacar, portanto, que a inovação e os processos a ela relacionados requerem gerenciamento e atenção por parte da estratégia da empresa. 4.2.2.2 Sustentabilidade e inovação sustentável A abrangência dos aspectos da sustentabilidade nos sujeitos e nas empresas pesquisadas pode ser observada em praticamente todas as fontes de evidências enumeradas por Yin (2001) – artefatos físicos, observação direta, documentação, registro em arquivos e entrevistas. A articulação entre as fontes de evidência e a base teórica será apresentada a partir da aceitação da sustentabilidade baseada em três pilares: social, econômico e ambiental, conforme elucidado por Elkington (1994). As práticas sustentáveis observadas e descritas pela Meu Móvel de Madeira já são constatadas quando da descrição do negócio: loja online de móveis sustentáveis. 94 Conforme as informações do site da empresa, a sustentabilidade dá destaque às ações ambientais. Exemplifica-se por utilizar somente madeira de florestas plantadas, e também preferir fornecedores locais. A Gestora 2.1 afirma que A gente tem um objetivo bem claro de só trabalhar com fornecedores brasileiros e principalmente valorizar os fornecedores locais. [...] Como que eu vou entrar nesse segmento [de decoração]? Vou começar importar? Não combina com a sustentabilidade. [...] A gente acabou encontrando um caminho que foi trabalhar somente com produtos fabricados no Brasil priorizando ONGs e artesãos. Para a mesma gestora, os resultados dessas prerrogativas podem ser observados no entorno das comunidades, e cita como exemplo: “uma fornecedora no Nordeste é a própria artesã. O produto faz maior sucesso e insere essa pessoa no mercado porque ela nem sabia fazer uma nota fiscal. [...] Pra você poder comprar e para poder vender precisa que ela se profissionalize, então você acaba inserindo isso”. Quando questionado o Gestor 2.3 sobre a existência de uma área e de pessoas destinadas a trabalharem com a sustentabilidade, ele afirma que essa visão “precisa estar no DNA de todos” A Dudalina S/A, à vista disso, possui uma área exclusiva para a sustentabilidade que possui dois colaboradores diretos e está formalizada desde o ano de 2012. A conceituação do que é sustentabilidade para a empresa também leva em conta os três pilares apresentados por Elkington (1994). A área compreende iniciativas que sejam economicamente viáveis, ambientalmente corretas e socialmente justas, de acordo com o blog empresarial denominado Dudalina Sustentável que apresenta notícias sobre sustentabilidade da empresa e também o relatório de sustentabilidade. Apesar disso, no site da empresa, a aba destacada para esse assunto é intitulada Socioambiental, deixando à margem a esfera econômica da sustentabilidade. A cultura para a sustentabilidade, a esse ponto, precisa ser identificada. A intenção da verificação dessa cultura é a autonomia dos colaboradores das empresas estudados a fim de que se tornem executores de ações de sustentabilidade. De acordo com as falas do Gestor 3.1, “eu trabalho sozinho. Na verdade é como a sustentabilidade tem que ser. Eu tenho que estar aqui para orientação, e 95 não para fazer. Cada área tem que saber o que é ser sustentável e fazer da melhor forma”. O mesmo entrevistado reforça a importância da gestão para sustentabilidade: Eu sempre ajudo, mas eu devolvo. Porque se está tendo problema com resíduo numa unidade, o problema não é meu porque eu cuido da parte ambiental, o problema é do gerente da unidade, é problema da operação dele. [...] É uma luta constante de não misturar muito, até porque eu nem tenho braço para fazer, não tem como eu ir lá na unidade e fazer o projeto pra ele. As assertivas apresentadas colaboram o que Holliday (2007) apresentou para a existência de inovações sustentáveis nas empresas: a inclusão da sustentabilidade no processo gerencial. A descrição dos resultados desse tópico reflete a observação e percepção das inovações sustentáveis geradas nas empresas estudadas. Ao ouvir o relato da empresa escolhida para benchmarking, Celulose Irani, por meio das falas do Gestor 1, percebe-se que “a Irani hoje não trabalha com nada que seja contra sustentabilidade. Nenhuma ideia, eu posso evoluir se for contra sustentabilidade”. Com isso, constata-se que a empresa destaca como consoante à estratégia, o pilar da sustentabilidade e toma como norte os princípios a ela relacionados. Essa inferência se comprova quando o Gestor 1 afirma que a “nossa atual plataforma [funil de inovação], tem o objetivo de olhar tecnologia e estratégia. [...] A função da plataforma é olhar esse planejamento estratégico. Se realmente está alinhado à estratégia da empresa”. Na entrevista, porém, não foram abordadas ideias que entraram no funil de inovação da empresa e foram reprovadas por estarem dissonantes à sustentabilidade. As inovações sustentáveis, de acordo com o exposto por Barbieri (2007), são aquelas que, ao passo que introduzem melhorias, preocupam-se com os pilares social, econômico e ambiental de suas consequências. Podem-se observar tais inovações nas empresas escolhidas para estudo de caso, conforme apresentação que se sucede. É considerável reforçar que durante as entrevistas não foram utilizados os termos “inovação sustentável” nem mesmo “inovação”, no intuito de reduzir a tendenciosidade das respostas. Como exemplos de inovações sustentáveis ocorridas nas empresas admitidas para o estudo de caso, cita-se a inovação ocorrida na Meu Móvel de Madeira exposta pela Gestora 2.1: “nós fechamos a fábrica em outubro de 2010. [...] A gente 96 resolveu se especializar em design de produto, ter um design próprio e exclusivo. [...] Vamos transformar os nossos concorrentes em nossos fornecedores”. A inovação apresentada pela empresa obteve dificuldade, conforme narrado pela Gestora 2.1: “quando a gente começou abordar os fornecedores a gente ainda tinha fábrica então eles não acreditavam muito e não sabiam se a gente estava indo lá buscar informação pra melhorar a nossa fábrica ou se a gente realmente queria que eles virassem nossos fornecedores”. É essencial destacar que a entrevistada suspirou diversas vezes e pode-se inferir que essa inovação foi um ponto de inflexão para a empresa. A entrevistada complementa que “com jeitinho e com muita conversa o negócio foi acontecendo e hoje a Meu Móvel de Madeira é realmente um grande canal de vendas pros fornecedores aqui da região”. Dessa fala também se pode concluir que essa foi uma inovação organizacional implementada na empresa, segundo o Manual de Oslo (OCDE, 2005). O Programa Ammmigo da Meu Móvel de Madeira é outro exemplo. A Gestora 3.2 define-o como um “programa de fidelidade. [...] Você ganha pelas tuas compras e pelas compras dos teus amigos”. A gestora, todavia, afirma que o programa não está totalmente adequado às necessidades da empresa, pois assegura que “a gente quer estudar para ver se esse programa de fidelidade é de fato o melhor programa de fidelidade que a gente poderia ter”. Essa iniciativa pode ser considerada uma inovação sustentável para a Meu Móvel de Madeira, porque concentra esforços em implementar uma inovação incremental de marketing, ao passo que está preocupada com a fidelização do cliente e com o objetivo de sustentá-lo a longo prazo. Outra inovação sustentável implementada na Meu Móvel de Madeira é o programa Preço Garantido. De acordo com a Gestora 2.1, “foi ideia do Gestor 2.3. Uma vez ele comprou um carro e logo depois entrou redução de IPI, crise do mercado e o carro ficou quase pela metade do preço. Ele ficou indignadíssimo. Nesse momento ele teve essa inspiração. Eu não gostaria que isso acontecesse com os meus clientes”. O programa, ao ser observado sob a ótica econômica, credita pontos do Programa Ammmigo para o cliente todas as vezes que ele compra um produto e em até trinta dias após a compra ele entrar em promoção. O projeto, de acordo com dados do site da empresa, é visto pela primeira vez no Brasil. 97 Ao descrever as realizações da Dudalina S/A no que se refere à implementação de inovações sustentáveis, percebe-se que, em sua maioria, estão ligadas à sustentabilidade no aspecto ambiental. O Gestor 3.1 exemplifica ao afirmar que “é da questão operacional, que é como que as nossas ações podem melhorar pra ser cada vez mais sustentáveis”. As iniciativas apontadas por ele, porém, tratam de melhorias e inovações somente na área ambiental. De acordo com o sujeito de pesquisa: “eu trabalho junto com as unidades, onde toda a parte de controle ambiental, gestão ambiental eu controlo junto com eles, então é minha responsabilidade mas sempre junto com a unidade”. Outro projeto de inovação sustentável que está presente na empresa desde o ano 2005, de acordo com o site da empresa, é o Geração de Renda. Este, de acordo com o Gestor 3.1 acontece de maneira que A Dudalina doa todo o resíduo de material de tecido das camisas, linha, aviamento e outras coisas para mais de 500 instituições. Elas são capacitadas, trabalham, com o objetivo de gerar renda. É um projeto muito grande, muito abrangente. Se eles produzirem a sacola social nos moldes estabelecidos, [...] a Dudalina recompra ainda essa sacola deles. O projeto é coordenado pelo Instituto Sócio Ambiental Adelina Clara Hess de Souza. Segundo o Gestor 3.1, a entidade é “criada e mantida pela Dudalina. [...] Uma parte do faturamento da Dudalina que hoje é 0,5%, vai para o instituto, para fazer ações para comunidade, na maioria das vezes no entorno das nossas fábricas, mas tem ações no Brasil todo. Aí o instituto tem uma coordenação separada, é uma empresa separada”. A inovação, desse modo, assume caráter sustentável. Isso porque já recuperou mais de 50 toneladas de retalhos ao longo dos anos, além de assumir uma preocupação visível com os pilares social e ambiental da sustentabilidade. Conforme Holliday (2007), somente as inovações sustentáveis são capazes de aumentar o valor da empresa: é o caso do reconhecimento da Organização das Nações Unidas como exemplo de projeto social e do Prêmio Responsabilidade Social e Sustentabilidade no Varejo da Fundação Getúlio Vargas, de acordo com o Relatório de Sustentabilidade da empresa no ano de 2012. Henderson (2007) inclui um novo pilar à sustentabilidade que trata de padrões de ética. Há inovações sustentáveis na Dudalina que fazem referência a esse pilar. O Gestor 3.1 percebeu que “faltava um comitê de Ética, apesar de ter um código. [...] 98 A gente passou por uma reformulação total do código de Ética, alterou nossos canais de denúncia, propôs treinamentos. [...] O comitê [é composto por] pessoas de várias áreas da empresa que decidem sobre as questões éticas”. O documento, em consulta ao site da empresa, estabelece como objetivo a constituição de normas e procedimentos que busquem atenuar as subjetividades e interpretações pessoais, pautando as ações em um comportamento ético arrolado em valores consoantes aos da empresa e incorporados ao código por serem justos e pertinentes. Inovações sustentáveis que observassem os aspectos econômicos não foram vistas com tanta facilidade quanto àquelas que dedicaram esforços aos pilares ambientais e sociais. Pode-se inferir das entrevistas que uma das inovações sustentáveis mais significativas para a empresa foi o lançamento da marca de camisaria feminina, a Dudalina Feminina, assim como sua expansão no varejo, por meio de lojas próprias a partir do ano de 2010, e, com isso, a solidificação e o posicionamento da marca. Essa declaração pode ser confirmada pela Gestora 3.2 sobre o: “desejo da marca [Dudalina] que as pessoas têm”. Notar e analisar inovações sustentáveis nas empresas também perpassa pelos artefatos físicos e pela observação direta, conforme orientado por Yin (2005). As fontes de evidência podem ser apresentadas quando da mudança das unidades de negócio da Dudalina nos últimos anos. A empresa optou por dedicar às unidades de Blumenau e São Paulo os centros administrativos, e às demais unidades as fábricas. Essa mudança na estratégia de gestão pode ser considerada uma inovação organizacional no intuito de oferecer às unidades administrativas o acesso a aeroportos e à conectividade a grandes centros, além de ter mais disponibilidade de mão de obra qualificada. As unidades fabris, por sua vez, puderam atenuar os custos de produção e especializarem-se na fabricação de determinado produto. 4.2.2.3 As mídias sociais e geração de inovações sustentáveis Ponderar e avaliar inovações sustentáveis que tenham sido adquiridas a partir das interações nas mídias sociais é o que se propõem avaliar nesse tópico. As fontes de dados foram as inferências realizadas pelos especialistas, pela entrevista de bechmkarking e pelas empresas destinadas ao estudo de caso. Além dos dados 99 primários, utilizaram-se para a construção desse tópico dados obtidos nas mídias sociais das empresas e as interações nelas destacadas. Os entrevistados, ao serem abordados sobre a possiblidade de destacarem inovações sustentáveis emergirem das mídias sociais, reagiram de maneiras diversas. O Especialista 1 surpreendeu-se com a temática proposta e definiu-a como complexa. Pôde ser observada a perplexidade mediante a expressão corporal por se tratar de uma entrevista presencial. O Especialista 3, mesmo em uma entrevista virtual, quando questionado a respeito foi pessimista afirmando que as inovações captadas através das mídias sociais não seriam substanciais à empresa. Para a Especialista 4, todavia, as mídias sociais são uma excelente fonte de captação de inovações sustentáveis. A depoente destaca, entretanto, que existe a necessidade de desenvolvimento de uma metodologia para essa captação. O Gestor 1, da empresa Celulose Irani, também foi questionado sobre a utilização das mídias sociais como fonte para inovações sustentáveis. O sujeito ficou intrigado com a pergunta e lentamente respondeu que “nesse momento a empresa não está utilizando as mídias sociais para captação de ideias. Até gostaria, porque aí se torna bem aberta”. O entrevistado ainda complementou que “eu não saberia como fazer e que público eu estaria atingindo, mas eu acredito que o resultado não deveria ser ruim”. O Gestor 1 ficou nitidamente intrigado e novamente momentos após reforçou afirmando que a utilização das mídias sociais não encontrou a inovação na Celulose Irani, “nesse formato pra geração de ideias não. É uma boa ideia” e complementou a afirmação com risos, caracterizando mais uma evidencia para a proposição de um modelo que atenda essa necessidade. As empresas destinadas ao estudo de caso, por sua vez, possuem comportamentos similares ao observar inovações sustentáveis oriundas das mídias sociais. Na Meu Móvel de Madeira, de acordo com a Gestora 2.1 essa situação pode ser observada quando os clientes demonstram uma “demanda de fazer tal produto em outra cor. A gente vai recebendo essas demandas. [...] Se é uma coisa pontual, uma pessoa pediu, [...] se for possível a gente coloca em prática. Se a gente percebe que tem uma demanda um pouco maior daí acabamos fazendo”. A entrevistada, contudo, afirmou que “muitas vezes a gente recebe aquele feedback, puxa nunca pensamos nisso olha boa ideia vamos fazer”. 100 Outro fato que permitiu à Meu Móvel de Madeira observar inovações sustentáveis a partir das mídias sociais foi quando a Gestora 2.1 exemplificou que: O desenvolvimento elaborou uma escrivaninha, daí eles bolaram uma enquete e pediram para gente postar nas redes sociais para tentar entender como que é o ambiente de trabalho das pessoas, o que é mais complicado. Uma das escrivaninhas que a gente desenvolveu tinha um buraquinho no tampo para as pessoas poderem passar os fios por que era uma das coisas que as pessoas mais reclamavam nas mídias sociais. Quando questionada de que jeito essas interações são programadas, a Gestora 2.1 afirmou que “não existe um procedimento. Quando existe uma demanda por conta do desenvolvimento de produto eles passam pra gente, a gente vai colocar isso em prática e eles vão acompanhar esse fluxo e vão acompanhar todo o feedback” Dadas as situações apresentadas por meio das falas da Gestora 2.1 da Meu Móvel de Madeira, somente houve captação de inovações sustentáveis a partir das mídias sociais quando houve comportamento proativo da empresa no sentido de buscar essas inovações de maneira dirigida e pontual. Ainda é observável que somente foram captadas inovações que tratavam do produto final e não foram consideradas as demais formas de inovação. As práticas ocorridas na Dudalina S/A, por conseguinte, foram mais dificultosas de serem trazidas à entrevista. Isso porque a Gestora 3.2 possui pouco tempo de experiência no cargo e na empresa e a execução das ações nas mídias sociais é terceirizada. As inferências que trataram do assunto foram dispersas e pouco claras. Por se tratar de uma atividade que acontece com pessoas externas à empresa, a agência procura repassar as demandas que surgem nas mídias sociais às áreas e às pessoas responsáveis. É possível afirmar, a esse ponto, que a empresa pode não ter percebido uma dimensão ampliada e estratégica do uso das mídias sociais. A Gestora 3.2, todavia, informou que não há procedimentos formalizados para isso, “passo a passo? Fluxograma? Não, é algo que é subentendido quem deve receber. É bem pontual”. Salienta-se que não foram citados, nas entrevistas realizadas nas empresas de estudo de caso, exemplos claros e objetivos de inovações sustentáveis captadas a partir das mídias sociais. Para que possa se captar inovações sustentáveis a partir das mídias sociais, porém, é requerido que haja a construção de relacionamentos entre empresas e 101 clientes. Esse se desenvolve por meio de ações de marketing de relacionamento ao utilizar-se das distintas plataformas de mídias sociais. Para a Gestora 2.1 da empresa Meu Móvel de Madeira, A gente quer que o cliente se relacione com a marca. [...] A gente quer que você goste desse conteúdo, que você interaja com ele, que você se relaciona com ele e que você queira mais desse conteúdo. [...] Depois, quando você for comprar alguma coisa é a Meu Móvel de Madeira a minha empresa querida por que é com eles que eu me relaciono, são eles que produzem conteúdo pra mim. À luz da concepção teórica do marketing de relacionamento e ao que propõem Malaviya e Spargo (2002) na pirâmide igualmente intitulada, o Especialista 1 afirma que “a pior coisa é o consumidor não achar uma forma de se comunicar com a empresa. Quanto mais transparente e quanto maiores os canais de comunicação que a empresa deixar aberto, melhor”. O Especialista 2 colabora afirmando que “hoje tem muitas empresas ainda fechadas pra isso [as mídias sociais], com medo dessa exposição, mas não adianta, você tem que estar aonde o seu cliente está”. Podem-se potencializar os relacionamentos nas mídias sociais e assim avançar sistematicamente na pirâmide proposta por Malaviya e Spargo (2002) por meio de estratégias de engajamento nas mídias sociais. É importante afirmar que somente dois especialistas, dentre todos os entrevistados, citaram a palavra engajamento. Para o Especialista 5 “engajamento é o grau de envolvimento em determinado assunto” ao passo que para o Especialista 2 “para que você tenha engajamento, pra que você tenha um público realmente pronto pra te ouvir, [...] você precisa entender como se comportar numa rede social, o que falar numa rede social”. Engajar o público alvo nas mídias sociais é um desafio que, se bem sucedido levará à construção de relacionamentos intensos, duradouros e recíprocos. O Especialista 5 informa que o engajamento é um critério objetivo e mensurável. Para o entrevistado, a métrica para o engajamento concentra-se no quociente do somatório das interações contidas na página – comentários, compartilhamentos e curtidas – e do número total de curtidas da página. Fomentar as interações, à vista disso, é uma tarefa que está a cargo da empresa e pode ser controlada no intuito de potencializar o engajamento. Com isso se fortalece o relacionamento entre empresa e clientes e então se conquista um 102 ambiente favorável à obtenção de inovações sustentáveis como produto desse convívio. O mesmo especialista elenca, em uma palestra, cinquenta maneiras de engajar nas redes sociais. Tais orientações podem ser classificadas de acordo com o que Haven et al (2007) intitulam sendo os quatro componentes para alcançar o engajamento – envolvimento, interação, intimidade e influência. As dicas e a analogia às categorias propostas pelo autor podem ser observadas no Quadro 26 abaixo. Quadro 26 - Engajamento nas mídias sociais Componentes do Maneiras de engajar nas redes sociais. Terra engajamento Haven et al (2007) (2007) Engajar o público interno Design nas publicações Usar o off-line para potencializar o online Dicas Infográficos Nichos no Pinterest Listas de presente no Pinterest Mesclar e-mail marketing com redes sociais Envolvimento Engajar a partir do Google Adicionar ícones de compartilhamento social Atualizar a capa do Facebook Anúncios Direcionar Conteúdo relevante Ajudar os outros Frases engajam sempre Inove e conte isso por favor Instamissions Faça pesquisas Interação Usar modelos de comparação Usar hashtag Ações de relações públicas digital Google + para criar engajamentos pontuais Entrar em conversas já existentes no Twitter Desperte a emoção no contexto Aproveitar o momento midiático Pessoas reais e não banco de imagem Puxar papo nas mídias sociais Poder da legenda Contar a história da empresa em drops multimídia Investir na cultura selfie Intimidade 103 Comemorar e compartilhar vitórias Mostrar a arquitetura da sua marca Oferecer algo exclusivo Compartilhar bastidores Inovar nas respostas Conteúdo que cria expectativa Defender a causa Não venda produto, venda possibilidades de uso Potencializar o conteúdo do fã Ações com blogueiros Transformar crises em ações bem sucedidas Ter embaixadores Influência Cultura da pós-venda Investir em brindes sociais Descobrir quem são os seus super fãs Fazer cobertura de eventos Não faça posts, faça campanhas Fonte: Elaborado pela autora (2014). Ao abordar a conceituação proposta por Haven et al (2007) e exemplificar as maneiras sugeridas por Terra (2007) pode-se destacar que ambas as empresas estudadas apresentam estratégias e iniciativas congruentes aos quatro pilares apresentados pelo autor. Para envolver o usuário, a Meu Móvel de Madeira aposta em anúncios conforme relata a Gestora 2.1 “é raríssimo o que é pago, diria que hoje 5% [das publicações] são pagas” e também em dicas, "eu quero dicas de decoração, vou acessar o canal da MMM que lá vai ter". A Dudalina, por sua vez, por intermédio da observação das publicações oferta imagens com design diferenciado e a presença de botões de compartilhamento social em todas as suas peças publicitárias. Ao que Haven et al (2007) acreditam, o envolvimento é apenas o primeiro passo e reflete aspectos objetivos e mensuráveis do relacionamento. Avançar e aprofundar a relação entre as marcas e usuários já configura as etapas seguintes que Haven et al (2007) propõem: interação e intimidade. A esses critérios pode-se elencar a franca utilização da hashtag #meumoveldemadeira pela empresa por parte dos clientes que adquirem produtos, e a inovação nas respostas quando da interação nas mídias sociais: a quaisquer palavras que possuam uma letra “M” são acrescidas outras duas para que estejam consoantes ao nome da empresa. 104 A Dudalina busca interagir e alcançar intimidade com seus fãs mediante frases de engajamento e aproveitando o momento midiático. Como exemplo pode-se citar frases elaboradas com um design exclusivo de Joan Rivers, Robin Williams, Yves Saint Laurent e Nina Garcia. Ainda a empresa busca "compartilhar o que acontece aqui dentro [da empresa], que não seja só foto da marca" acenando compartilhar bastidores. Outra ação interessante foi a comemoração e o compartilhamento de vitórias, quando da comemoração de dois anos de fundação da loja de Milão. Buscar alternativas para influenciar usuários a serem propagadores da marca nas mídias sociais é o que Haven et al (2007) acreditam ser o último estágio do engajamento. Pode-se considerar que tanto a Meu Móvel de Madeira quanto a Dudalina S/A conseguem atender pelo menos algumas maneiras de alcançar o engajamento através da influência. A primeira é mediante a defesa de uma causa, que está relacionada ao negócio da empresa e que por sua vez, é altamente compartilhada nas mídias sociais. A realização de ações com blogueiros faz parte do rol de feitos que conduz à influência, exemplo é a Meu Móvel de Madeira em parceria com o blog Dele e Dela e a Dudalina Feminina com os blogueiros do F*hits. Outra forma de alcançar influência é a atitude de como as empresas reagem a crises que acontecem no ambiente das mídias sociais. As interações que nelas acontecem podem ser oriundas de reclamações e insatisfações por parte dos usuários. As exposições de opiniões negativas no âmbito das mídias sociais aliadas às reações das empresas culminam no que se conhece por gestão de crise. Para o Especialista 2 “a internet proporciona isso, mas é um fator positivo. É muito melhor que alguém venha criticar você dentro da tua fan page, do que critique você na fan page dele, e você nunca saiba disso, você consegue contornar uma crítica muito mais fácil”. Gerenciar essa situação é uma tarefa que deve ser realizada, no entanto, não potencializada. O Especialista 3 informou que “tem algumas práticas que tentamos. Responder sempre rápido e resolver problemas de fato. E sempre ser mais polido e educado possível”. Pode-se argumentar, assim sendo, que o alcance de inovações sustentáveis a partir das mídias sociais pode acontecer a partir do momento que houver a construção de um relacionamento entre empresa e usuários, e que esse 105 relacionamento seja passível de engajamento perpassando suas quatro fases – envolvimento, interação, intimidade e influência. Não obstante, o que a Especialista 4 atenta para esse alcance são os processos e métodos que direcionem esforços produtivamente. Ao que se propõem o estudo em questão, no capítulo seguinte acontece a proposição de um modelo de gestão que tem por objetivo captar inovações sustentáveis a partir das mídias sociais. 4.3 SÍNTESE DA DISCUSSÃO DOS DADOS Após realizar a análise do conteúdo das entrevistas e a sua combinação com as demais fontes de evidência apresentadas no presente relatório, algumas considerações são importantes a fim de alcançar o objetivo geral desse estudo. Não são constatados nas fontes de evidência consultadas estudos, nem atenuantes vivenciais, nem preocupação por parte dos gestores e dos especialistas que tratem de avançar e aproveitar o potencial das mídias sociais, além do que já se realiza. Tanto os gestores quanto os especialistas acreditam que a presença e o alcance de algum nível de engajamento, conforme sugerido por Haven et al (2007) já é uma inovação para a empresa. É importante também destacar a reação de surpresa e de desconhecimento por parte dos entrevistados. Pode-se levantar como hipótese explicativa a esse fato a originalidade e ineditismo dos temas e a inter-relação entre eles. Com o intuito de não direcionar as respostas – fossem elas com especialistas ou com gestores; virtuais ou presenciais – o detalhamento do objetivo do trabalho só ocorreu ao final da interlocução. Sob essas circunstâncias, os depoentes não sabiam do que se tratava efetivamente a pesquisa, nem o que se pretendia com a realização da entrevista. A partir dessa premissa – a não divulgação dos objetivos do trabalho no início da entrevista – verificou-se que a prática de captar inovações sustentáveis nas mídias sociais não é observada nas empresas, nem mesmo notada como uma possível fonte de inspiração. Essas constatações podem estar ligadas ao fato da recente e ainda pequena experiência no que concerne às mídias sociais online, aos profissionais envolvidos e a não percepção da oportunidade do uso pela empresa. Importante ressaltar que a investigação desses elementos não foi objetivo de estudo, mas constitui-se um achado de pesquisa. 106 Também, não se observou, nas empresas estudadas, a interconectividade dos três pilares de interesse de estudo – mídias sociais online, inovação e sustentabilidade. Na empresa Celulose Irani - entrevistada com fins de benchmarking, com enfoque na inovação – há maior afinidade entre os pilares. A partir das falas do depoente, percebe-se a existência de uma cultura empresarial voltada à sustentabilidade e à execução de iniciativas para a construção de ações voltadas à inovação. Isso pode ser concluído pelo fato de a empresa possuir áreas destinadas às duas temáticas e levá-las em conta para a execução de sua estratégia. Na empresa, contudo, o encontro com as mídias sociais não é visível, tanto é que elas têm pouca presença e a sua exposição é tímida. Ademais, não foi identificada a participação das mídias sociais como fonte de inovação sustentável. A empresa Meu Móvel de Madeira, por ter sido originária da empresa Celulose Irani, tem em sua cultura marcados valores associados à sustentabilidade e à inovação, e esses são norteadores das atividades da empresa. Todavia, por se tratar de uma empresa menor que a Irani, ainda não possui pessoas exclusivamente dedicadas às áreas de inovação e sustentabilidade. As atividades relacionadas às mídias sociais, contudo, são realizadas na Meu Móvel de Madeira de maneira profissional e buscam alcançar a construção de um relacionamento com os usuários ao evidenciarem mecanismos de engajamento. As proeminências que solidificam essa assertiva são presentes e identificáveis em todos os resultados coletados pelos instrumentos de pesquisa aplicados à Meu Móvel de Madeira. A empresa tem como objetivo a construção de relacionamentos com os clientes utilizando-se das mídias sociais, nos quais são observadas algumas interações, sem, contudo, haver atenção da empresa por parte dessas inferências. Também não é identificada a formalização das demandas que surgem das mídias sociais. A empresa Dudalina S/A, igualmente à Meu Móvel de Madeira, não possui uma área destinada à inovação, todavia desenvolveu recentemente uma área dedicada à sustentabilidade na empresa. Esta cultura está presente na empresa, conforme se observa nas seguintes evidências: a inclusão de pessoas dedicadas exclusivamente à área; a produção de documentos a respeito do tema, como o 107 Relatório GRI de Sustentabilidade; a inserção do tema nos objetivos da empresa e a associação a temas e a entidades correlatas. A inovação é observada, mas, de acordo com as notas de campo, os relatos das entrevistas e o acesso a demais documentos fornecidos pela empresa, ela ocorre de modo voluntário, não formalizado e sem procedimento na empresa. O posicionamento nas mídias sociais é imparcial e não tem a clara intenção de desenvolver um relacionamento com os usuários inseridos naquele meio. Pode-se afirmar que, por se tratar de uma execução terceirizada e por haver distância física e emocional da empresa, as aparições por meio das publicações são muitas vezes impessoais. A observância da intersecção dos três pilares ora almejados – inovação, sustentabilidade e mídias sociais online – não é claramente identificada nas duas empresas estudadas. As condições existentes nas empresas observadas podem ser facilitadoras ou entraves à implementação do modelo que na sequencia será proposto. A existência de uma cultura voltada à inovação e à sustentabilidade, como é o caso das empresas estudadas, tornam o processo passível de ser realizado. 108 5 PROPOSIÇÃO DO MODELO DE GESTÃO A proposição de um modelo de gestão que busca atender aos objetivos propostos do presente trabalho tem embasamento na revisão de literatura e no conhecimento da realidade organizacional das empresas pesquisadas neste estudo. Pretende-se apresentar as premissas e as condições necessárias para a implementação do modelo de gestão; propor o modelo; expor a maneira com que ele irá atender às atuais deficiências e limitações; e indicar a aplicabilidade do trabalho e possibilidade de implantação. 5.1 JUSTIFICATIVA DA PROPOSIÇÃO DO MODELO DE GESTÃO Encontrar justificativa para embasar a necessidade de um modelo de gestão conforme pretendido é essencial para sua construção. Para que isso possa ser assegurado faz-se necessária a observância e o desmembramento de condições que permitam às empresas usufruírem do modelo. Dentre essas condições citam-se: a finalidade do modelo proposto; a aptidão das empresas para implementarem o modelo; os pré-requisitos necessários ; e os mecanismos pelos quais o modelo poderá se concretizar. Para o atendimento dos argumentos solicitados, sugere-se a leitura do Quadro 27. 109 Quadro 27 - Esclarecimentos sobre as condições do modelo de gestão O que é o modelo Fonte de ideia para o processo de inovação Espaço para inovação aberta Espaço para inovação incremental ou radical Permitir aos clientes e consumidores fazerem parte da empresa Para que serve o modelo Tornar as mídias sociais uma ferramenta estratégica Mídia social como previsão de mercado Tornar sustentável a captação de ideias Empresas estabelecidas nas mídias sociais Empresas que possuam conhecimento referente às mídias sociais Quem pode usar Empresas interessadas em captar inovações sustentáveis nas mídias sociais Comunicação através das mídias sociais deve refletir a empresa Pré-requisitos Atuar em redes que encontrem o público alvo da empresa Não ter mera presença virtual Marketing de experiência Marketing de relacionamento Exposição de situações que usuários possam colaborar Recomendações personalizadas Economia colaborativa Call to action Respostas rápidas e encorajadouras Mecanismos para Feedback interno e externo funcionamento Comunidades internas nas mídias sociais para resolver problemas Endomarketing Identificar propriedades das redes sociais Potencializar laços fracos Humanizar a marca Direcionar a comunicação Engajamento que leva a participação Fonte: Elaborado pela autora (2014). A construção do quadro esteve embasada na fundamentação teórica, nas entrevistas com gestores e especialistas, nos documentos consultados, na observação realizada e nos achados de pesquisa resultantes da triangulação dos dados. Os condicionantes propostos têm a intenção de fazer com que o modelo de gestão seja utilizado como uma ferramenta estratégica que permita às empresas avançarem sistematicamente no uso das mídias sociais. Estarão aptas a utilizarem o modelo, todavia, as empresas que estiverem dispostas; as que detenham conhecimento do funcionamento das distintas plataformas disponíveis para as mídias sociais, e ainda; as que tenham ciência da efemeridade da temática que as cerca. Os pré-requisitos são as condições essenciais que as empresas precisam atender a fim de estarem capacitadas a implementar o modelo e assim poderem 110 obter resultados. É imprescindível afirmar, neste ponto, que o modelo não tem pretensão de inserir as empresas no cotidiano das mídias sociais, nem orientá-las para essa inserção, sendo essa condição primordial para que o modelo seja utilizado. Os mecanismos para o funcionamento do modelo, conforme destacado ao final do Quadro 27, por conseguinte, fazem referência a algumas práticas destacadas nas etapas anteriores da pesquisa que servirão como base para a construção do modelo de gestão proposto. É importante ressaltar que individualmente todos os mecanismos e métodos propostos ao final do Quadro 27 são amplamente conhecidos e discutidos. O modelo que será proposto terá a desígnio de relacioná-las em um único método e assim potencializar seus efeitos. 5.2 PROPOSIÇÃO DO MODELO DE GESTÃO O modelo de gestão apresenta-se conforme ilustração da Figura 10. Ele procura atender ao objetivo do estudo: a captação de inovações sustentáveis a partir das mídias sociais. Para que a solução desenvolvida possa atender às exigências requeridas e atentar à aplicabilidade desejada é necessário que os pré-requisitos listados no Quadro 27 sejam atendidos. 111 Figura 10 - Modelo de gestão de captações de inovações sustentáveis nas mídias sociais Fonte: Elaborado pela autora (2014). Além disso, o apontamento do modelo tem a intenção de conferir um método e formalizá-lo, oferecendo condições às empresas para padronizar os procedimentos e situações. Além disso, o modelo proposto é prescritivo e possui rigor científico e metodológico. Para explanar a Figura 10 o primeiro ponto a ser discorrido e o principal determinante para o alcance de inovações sustentáveis oriundas das mídias sociais 112 é a sustentabilidade. Almejar inovações que possuam caráter sustentável requer que todos os processos dela resultantes também estejam conexos aos preceitos da sustentabilidade: economicamente viáveis, socialmente justos e ambientalmente corretos. Para que o modelo seja aplicado é essencial que as condições apresentadas estejam presentes na política e na estratégia de gestão das empresas. O filtro da sustentabilidade pode ser identificado, no modelo proposto, por meio do algarismo 1 no início e ao final da figura indicativa. Após direcionar os esforços para a sustentabilidade, o passo seguinte é o posicionamento da empresa nas mídias sociais, indicado pelo número 2 da Figura 10. Com vistas a complementar e fomentar o posicionamento sugerido, podem ser levadas em consideração as propriedades das redes sociais indicadas por Tichy et al (1979), as características das redes sociais enumeradas por Mitchell (1969) e a identificação dos atores e dos papeis nas redes sociais também citada por Tichy et al (1979). Contudo, para que o posicionamento da empresa seja ativo e esteja interessado em captar inovações sustentáveis, é necessária a existência de um plano de marketing capaz de contemplar os mecanismos dispostos no Quadro 27. A fim de potencializar os fatores dispostos no Quadro 27 e alcançar os objetivos pretendidos no âmbito das mídias sociais, avança-se no modelo proposto e sugere-se o citado por Füller (2006). O autor discorre acerca dos fatores motivacionais que impulsionam as pessoas a envolverem-se em atividades virtuais. Para Füller (2006), esses estímulos podem ser divididos em seis categorias: incentivos monetários; possibilidade de mostrar ideias; oportunidade de adquirir conhecimento; interesse em inovação compartilhada; insatisfação; e curiosidade. De acordo com Heinonen (2011), os fatores motivacionais são: os níveis de informação, a conexão social e o entretenimento adquiridos nas mídias sociais. Aos fatores motivacionais recomendados pelos autores, é preciso definir estratégias e planos de ação no âmbito das mídias sociais para alcançar o engajamento e também a participação dos demais usuários. O objetivo é atender às características anteriormente listadas. Esse passo é o número 3 da Figura 10. As etapas sugeridas até o momento são determinantes para alcançar inovações sustentáveis a partir das interações ocorridas nas mídias sociais. Se não houver captação de ideias impulsionadas pelas ferramentas de engajamento, a 113 implementação do modelo torna-se dificultosa. Para que se possa alcançar esse feito, é necessário, identificar os fatores motivacionais que levam as pessoas a se engajarem nas mídias sociais e também buscar a participação voluntária nesses ambientes. Essas iniciativas, todavia, precisam de planejamento e monitoramento, para que possam alcançar os melhores resultados: levar as pessoas à ação. O mecanismo como isso deve ocorrer, no entanto, não está atrelado a um direcionamento único, pois depende de características que são peculiares de cada empresa. Dentre elas, pode-se citar o negócio da empresa, o público-alvo, as características do mercado, a missão, a visão e os valores da empresa. Ainda, existem fatores que se referem às mídias sociais e também determinam essas ações. Dentre eles cita-se a escolha das mídias sociais que a empresa está inserida, o alcance que ela possui em termos de indicadores numéricos, os atores envolvidos nesse âmbito e os demais objetivos de atuação nesse contexto. Tendo como estratégia o posicionamento ativo da empresa nas mídias sociais, aí então, a gestão está apta a implementar ferramentas capazes de captar inovações sustentáveis do resultado das interações observadas nesse contexto. O modelo proposto incentiva a utilização das ferramentas procedentes da economia colaborativa, de acordo com o número 4 indicado na Figura 10. A essa metodologia, definem-se os negócios que compartilham conhecimento e permutam recursos com a sociedade, de acordo com Schultz (2013). Para Krupinsk (2014) a economia colaborativa vem atender a três anseios sociais. O primeiro deles trata do âmbito social, principalmente ao integrar a sustentabilidade e oferecer aos participantes uma abordagem altruísta; o segundo do econômico, pois torna produtivo um recurso ora ocioso; e o terceiro do tecnológico, ao se beneficiar da infraestrutura das mídias sociais. Malhotra e Alstyne (2014) definem como mecanismos para a efetivação da economia colaborativa algumas metodologias de trabalho. Dentre elas cita-se: o coworking, onde o espaço de trabalho é compartilhado; a cocriação que permite o envolvimento de clientes e concorrentes no processo de criação; o crowdfunding, que permite acesso a um financiamento coletivo de recursos; e o crowdsourcing, ao usar a inteligência coletiva para resolver situações. 114 Destaca-se, que os procedimentos apresentados são ferramentas de inovação aberta. Ao interesse desse estudo, portanto, o destaque será ao crowdsourcing, como ferramenta a efetivar a captação de inovações sustentáveis nas mídias sociais. O crowdsourcing, de acordo com Saxton et al (2013), dá-se quando as empresas usam a web para aproveitar os esforços de uma multidão virtual para realizar tarefas específicas da organização. A maneira como o crowdsourcing pode ocorrer é distinta e está relacionada aos fatores determinados por Saxton et al (2013): os produtos e serviços a serem terceirizados, o nível de colaboração esperada e o sistema de controle gerencial do processo. A esses fatores, adicionam-se a necessidade de integrar pessoas externas à empresa no processo e de encorajar a participação nas mídias sociais por meio de um método formalizado. A reunião desses compõe a justificativa para a realização da atividade. Para atender às peculiaridades de cada empresa e identificar claramente as necessidades emergentes à execução do crowdsourcing, sugere-se a identificação e constatação de um plano de ação para sua realização. Nele podem constar o que se pretende conseguir com a multidão, o porquê deve ser realizado, quem são as pessoas que estarão envolvidas, quando e onde acontecerá, qual é o nível de colaboração desejado e como será realizado. A partir dessas definições é possível compreender como a inovação pode chegar à empresa, utilizando-se das mídias sociais. O crowdsorcing torna-se observável no contexto das empresas ao utilizar o processo de integração do conhecimento, o qual é suportado pelos sistemas de controle gerencial do modelo. O processo de integração do conhecimento aplicado às inovações é sugerido por Malhotra e Majchrzak (2014) e apresentado na Figura 11. Ao retomar a Figura 10 pode-se identificar essa etapa no número 5. 115 Figura 11 - Processo de integração do conhecimento Fonte: Malhotra e Majchrzak (2014) No primeiro terço da Figura 11 destaca-se o compartilhamento de ideias. O quadrante trata do fornecimento de diversas perspectivas relacionadas a um assunto oriundas das experiências individuais dos integrantes da determinada multidão. Essas perspectivas são resultado direto da implementação dos mecanismos e componentes do engajamento descritos no Quadro 26. O incremento da proposição de ideias, exemplos e fatos sugerido por Malhotra e Maichzak (2014) é reflexo da postura pro ativa das empresas no contexto das mídias sociais. Isso significa também avançar nos mecanismos e componentes do engajamento. A seguir, destacam-se as soluções e as proposições mais adequadas a determinado tema e, por conseguinte, combinam-se a outras ideias e percepções de outras fontes. O fechamento da etapa deve culminar no desenvolvimento de inovações e/ou soluções. O processo de integração de conhecimento pode funcionar como um filtro das ideias e sugestões recebidas das mídias sociais. É essencial também compreender que os três processos listados para a integração do conhecimento devem ser mutuamente encorajados pelas ferramentas de engajamento nas mídias sociais. A intenção é a de que o processo torne-se um fluxo contínuo e intermitente de geração de ideias para as empresas. Por esse motivo, ao observar a Figura 10, identifica-se a existência de flechas que sugerem um fluxo contínuo entre as etapas 3 e 5. Pode-se afirmar que a partir do segundo quadrante – o processo de integração do conhecimento – agregam-se pessoas internas à organização. Isso porque objetiva-se construir ideias consoantes à estratégia da empresa, atendendo ao nível da colaboração desejado, e do controle do processo. Uma vez destacadas e combinadas as ideias oriundas do processo de integração do conhecimento, elas passam a figurar no interior das empresas. Ao 116 passo que são realizadas, deixam de ser ideias e passam a ser inovações. Ainda nessa etapa surge a necessidade da implantação da gestão dessas inovações, conforme pode ser visto na Figura 10 destacado pelo número 6. Esse gerenciamento deve levar em conta não somente as inovações oriundas das mídias sociais, mas também as demais inovações da empresa. Elementos que são determinantes para uma gestão da inovação eficiente podem ser destacados: feedback; existência de múltiplas fontes de ideias; orçamento para implementação das inovações; preocupação com o percentual de inovação radical e incremental, e de inovações abertas e fechadas; direcionamento das atividades de inovação e relacionamento da inovação com as demais áreas da empresa. A gestão das inovações oriundas das mídias sociais está relacionada ao posicionamento das empresas nesse meio, uma vez que todo o processo se reflete nessa primeira etapa. Conforme pode ser constatado na figura, também estão inseridas flechas que tornam esse fluxo contínuo. Somente ao manter um posicionamento ativo nas mídias sociais é que a gestão da inovação terá efetividade e razão de existir. A realização das etapas propostas na Figura 10 podem resultar em inovações sustentáveis oriundas das mídias sociais, conforme se analisa no número 7 da mesma figura. Evidencia-se a possibilidade da captação de inovações sustentáveis. No entanto, será verdadeira se, e somente se, houver comprometimento da empresa em acatar as sugestões e inclusive adaptar o modelo a sua realidade. Aí então essa possibilidade se concretizará em resultados nas organizações. 117 6 APLICABILIDADE DO TRABALHO PRODUZIDO No intuito de prover aplicabilidade ao modelo de gestão proposto sugere-se o detalhamento por meio do fluxograma da Figura 12. Ao examinar a representação gráfica do fluxo de trabalho, percebe-se a existência de três linhas direcionadoras: sustentabilidade, inovação e mídias sociais. O fluxograma representa decisões a serem tomadas e ações a serem implementadas para que inovações sustentáveis sejam geradas a partir das mídias sociais. Conforme procedimentos particulares à construção de fluxogramas, os direcionamentos lançados como ações versam sobre uma atividade que precisa de planejamento, operacionalização e execução para que seja alcançada a próxima etapa. Os círculos alongados indicam o início e o final do ciclo que são contemplados logo no início da Figura 12. As setas são indicativas do fluxo; os retângulos são as ações e os losangos representam as questões e alternativas. 118 Figura 12 - Fluxograma do modelo de gestão Fonte: Elaborado pela autora (2014) 119 Este trabalho não contempla o detalhamento dos planos de ação intermediários, indicados pelos retângulos, por não serem considerados objetos do estudo, embora sejam essenciais para o alcance do objetivo final. Menciona-se como exemplo as ações que se relacionam ao desenvolvimento de iniciativas para incluir a sustentabilidade na empresa, ou o desenvolvimento de um programa de geração de ideias. O fluxograma, além de apresentar um fluxo de atividades e direcionamento que orientam objetivo proposto – captar inovações sustentáveis a partir das mídias sociais – cria condições para o desenvolvimento de outras atividades relacionadas à sustentabilidade, à inovação e às mídias sociais. Isso porque o detalhamento do fluxograma significa avançar estrategicamente quando relacionados e conectados os três pilares. Os efeitos colaterais positivos decorrentes da execução dos planos de ação sugeridos podem ser amplos e incluem as três áreas de interesse do estudo. Um posicionamento da empresa que passe a observar e buscar comportamentos sustentáveis passará a gerar externalidades positivas. A primeira delas concentra-se no fato de obter um desempenho que se revele economicamente justo, socialmente responsável e ambientalmente correto. Além disso, o reconhecimento dos stakeholders passará a creditar valor à empresa. O desenvolvimento de esforços à geração de ideias e a consequente formalização da gestão da inovação é um outro efeito colateral positivo às empresas. Inovar e gerenciar esse processo pode permitir às empresas vantagem competitiva e diferenciação no mercado. Os efeitos paralelos da adesão às mídias sociais online são múltiplos. Dentre eles pode-se destacar a presença virtual, o encontro com o público-alvo e a construção de um relacionamento com as partes interessadas. Esse relacionamento, aliado aos mecanismos e componentes de engajamento, também pode gerar outras externalidades: visibilidade, atração, tráfego e vendas nas mídias sociais online. Outra externalidade importante trata do posicionamento que cada empresa pode adquirir no contexto das mídias sociais e, com isso, tornar-se uma referência em geração de conteúdo associado à marca. O presente estudo, que originou o modelo de gestão que busca captar inovações sustentáveis nas mídias sociais, não teve o propósito de ser validado e aplicado nas empresas definidas para o estudo de caso, nem em outras. Pode-se 120 definir, todavia, que existem condições mais propícias às empresas do estudo em questão virem a implementar essa solução de gestão, visando testar e validar o modelo. Ao tratar das condições que se tornam facilitadoras à implantação do modelo, pode-se citá-los: o primeiro trata da presença de políticas e práticas sustentáveis na organização; o segundo, à existência de uma área dedicada à inovação nas empresas; o terceiro, à disponibilidade e à capacitação de profissionais que contemplem as três áreas do conhecimento requeridas. Em suma, são três áreas recentes de alocação de trabalho nas empresas – inovação, sustentabilidade e mídias sociais. De acordo com o Relatório Tramposco (2014), os profissionais capacitados a trabalhar com mídias sociais são em sua maioria jovens com menos de 30 anos de idade e altamente dispostos a mudarem de empresa. Outra condição primordial à implantação do modelo de gestão é o posicionamento da empresa na vanguarda das iniciativas quanto às inovações. Pode-se afirmar que o modelo proposto é uma inovação organizacional, que, por sua vez, terá capacidade de proporcionar outras inovações, conforme elucidado pelo Manual de Oslo, OECD (2008). A discussão sobre a implementação pode ser considerada sugestão para estudos futuros, contudo, é essencial a observância de fatores que tornem o processo viável, ao passo que proporcionem à empresa a obtenção de retorno dos esforços impregnados. Vários fatores devem ser considerados para essa execução, dentre eles a necessidade de mercado requerida pela utilização das mídias sociais. As tendências, assim como as melhores práticas à utilização dessas ferramentas são recentes e ainda não estão totalmente direcionadas, nem formalizadas, permitindo às empresas identificá-las e acompanhar as inclinações mercadológicas a fim de se manter na dianteira dos acontecimentos. Outro fator reside no apoio da alta gerência da empresa para a execução, acompanhamento e feedback do processo. Também precisa ser considerado para a efetivação, e vem ao encontro do citado, a adesão do nível operacional da empresa. Ao combinar as duas fontes de apoio, a execução será massificada e a diversificação de mecanismos para operacionalização será diluída e facilitada. 121 A fundamentação teórica em que se baseia a construção do modelo proposto também é um ponto favorável para a sua implementação. O modelo está baseado em recomendações e fundamentos teóricos, na prática de diversas empresas e nas observações de múltiplos especialistas na área. A esse modelo destaca-se o rigor científico e metodológicos como elementos colaborativos à implementação. Pode-se ainda considerar como sugestão para prosseguimento de estudos que o desenvolvimento da implementação do modelo de gestão seja realizado e que tome por início as considerações aqui realizadas. 122 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS O desenvolvimento deste trabalho permitiu a construção de um modelo de gestão que busca captar inovações sustentáveis a partir das mídias sociais, objetivo geral desse estudo. O modelo procurou identificar as principais condições que se tornassem favoráveis à implementação, que empresas estariam mais aptas a utilizá-lo e quais mecanismos serviriam de facilitadores para o funcionamento. Ainda, desenvolveu-se a composição gráfica do modelo em forma de uma figura e o detalhamento das etapas por meio de um fluxograma de trabalho. As etapas que antecederam a concretização do modelo de gestão, todavia, foram norteadoras. Pode-se afirmar que a compreensão e entendimento dos conceitos e o inter-relacionamento entre os temas fundantes – mídias sociais, inovação e sustentabilidade – somente aconteceu devido ao estudo aprofundado da fundamentação teórica. A partir dessa compreensão pôde-se identificar a relevância do tema, a justificativa para a proposição do modelo, e a comparação entre a teoria e a prática a partir da leitura e estudos de artigos de periódicos internacionais e recentes. A etapa da fundamentação teórica foi igualmente importante, pois direcionou a construção e identificação dos procedimentos metodológicos mais adequados à pesquisa, assim como permitiu o desenvolvimento de instrumentos de investigação apropriados aos sujeitos de pesquisa e aos objetivos que se propunham o estudo. Tomando como relevância os procedimentos metodológicos delimitados para a pesquisa, pode-se inferir que foram adequados aos objetivos propostos. A escolha da estratégia central de pesquisa sendo o estudo de caso permitiu a reflexão e observação das temáticas principais em profundidade e à luz de duas situações empresariais diferentes: a Meu Móvel de Madeira e a Dudalina S/A, em especial a marca Dudalina Feminina. A escolha dos casos pareceu acertada, pois permitiu o acesso a empresas com nichos de mercado e atuação distintos, contudo, buscando um posicionamento similar e que veio ao encontro das temáticas requeridas para o estudo. O fato de estudar dois casos e classificá-los como estudo de caso único em razão da análise permitiu suprir as deficiências e as faltas observadas em um caso em detrimento de outro. 123 Outro fator importante à construção do modelo foi a não comparação entre os casos estudados. As distinções entre as empresas estudadas e os negócios, assim como os posicionamentos no que tratam das temáticas centrais do estudo tornam os casos muito díspares não permitindo a comparação. Por isso, buscou-se apenas ressaltar os pontos de interesse de ambos. Outro ponto dos procedimentos metodológicos que merece ser destacado concentra-se na decisão de escolher uma empresa para realizar a entrevista de benchmarking. As informações obtidas junto à entrevista do gestor da Celulose Irani contribuíram significativamente. Dentre elas, cita-se a validação do instrumento de pesquisa, a observação das melhores práticas sobre gestão da inovação e ainda, a oportunidade de identificar como relevante e motivador o objetivo central da pesquisa. De forma menos contributiva, todavia, importante, as entrevistas com especialistas não avançaram no que se pretendia no instrumento de pesquisa. Isso se pode atribuir ao fato dos especialistas possuírem uma expertise restrita a um dos temas centrais da pesquisa, e assim terem contribuído apenas sob esse aspecto. Outro fator que pode ter tolhido a contribuição dos especialistas residiu no fato da maioria das entrevistas terem sido realizadas virtualmente. Ressalta-se ainda, que houve contribuições indiretas do estudo, que não somente a proposição do modelo de gestão. Dentre elas, pode-se citar a evidência do inter-relacionamento entre as três temáticas abordada – mídias sociais, inovação e sustentabilidade – como oportunidade de desenvolvimento de outros estudos. Outra evidência que se cita é o fato das empresas entrevistadas ainda estarem agindo lentamente no que diz respeito à formalização dos três temas, e que a conexão entre os três não é absolutamente clara nos casos estudados. A proposição do modelo de gestão foi o objetivo principal do estudo. O cumprimento desse propósito viu-se notoriamente a partir do desenvolvimento do Capítulo 5. Nele perceberam-se as oportunidades que podem ser apuradas a partir da observação e da atenção despendida à formalização de procedimentos, que nesse caso, tratam da captação de inovações sustentáveis a partir das mídias sociais. A aplicabilidade e as condicionantes do modelo é que trazem congruência aos fatos apresentados e permitem melhor visualização sistemática e incremental à implantação. 124 É importante, novamente, ressaltar que o estudo proposto não pretendeu orientar a implantação do modelo, nem tanto verificar as vantagens, desvantagens, facilidades e dificuldades do uso. Todavia, a fim de atenuar as incertezas relacionadas a essa etapa, foi realizada a construção de um fluxograma para a orientação do andamento das atividades e planos de ação. Fica registrada como sugestão para estudos futuros a implementação do modelo e observações que surjam no sentido de complementá-lo com vistas a atender às peculiaridades de cada empresa. Outra sugestão para estudos futuros trata da avaliação dos impactos e resultados oriundos da implementação do modelo de gestão. Nesse estudo também pode haver o parecer de uma nova versão do sistema recomendado. Sugere-se ainda para estudos futuros a identificação de outras oportunidades que possam surgir da combinação de temáticas adjacentes às aqui propostas e também aplicá-las a diferentes realidades empresariais no intuito de ampliar a base de dados e assim possibilitar o aprimoramento de outras ferramentas de gestão que venham potencializar áreas atuais e contemporâneas do estudo da administração. 125 REFERÊNCIAS ACIOLI, Sônia. Redes sociais e teoria social: revendo os fundamentos do conceito. Informação & Informação, Londrina, v. 12, n. esp., 2007. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/viewFile/1784/1520>. Acesso em: 01 fev. 2014. ALEN, Thomas J. Roles in technical communication networks. Alfred P. Sloan School of Management. p. 434-69. 1969. ALVES, Mariana. Redes sociais usos e consequências. 2010. Disponível em: <http://marianaalves.com.br/>. Acesso em: 30 abr. 2014. AYDALOT, Philippe; KLEEBE, D. 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Características do ambiente inovador O que levam em conta essas mudanças para serem implantadas? Ambiente para a sustentabilidade É feita uma avaliação de viabilidade econômica dessas mudanças? De que maneira? Que critérios são observados? Inovação sustentável - Pilar econômico da sustentabilidade E as pessoas que estão fora da empresa são lembradas quando são realizadas mudanças? Inovação sustentável - Pilar social da sustentabilidade Para que essa mudança aconteça é observado o local onde será implantado? Inovação sustentável - Pilar ambiental da sustentabilidade Como a empresa se relaciona com os funcionários? Qual seu sentimento de trabalhar aqui? Endomarketing Endomarketing Radar da inovação Gestão da inovação Você fala fora da empresa sobre os produtos que vocês fazem Propriedades das redes aqui? De que maneira? Redes sociais É bom trabalhar aqui? Vocês costumam trabalhar em equipe? De que maneira? Como a empresa se relaciona com os clientes? Capital social Capital social; Redes Marketing de relacionamento Onde a empresa encontra com os clientes? E nas mídias sociais? Vocês podem utilizar as mídias sociais dentro da empresa? O uso das mídias sociais trouxe algum ganho? De que Marketing de relacionamento Marketing de relacionamento Redes; inovação aberta Inovações nas mídias sociais 135 maneira? As mídias sociais e a geração de inovações E alguma dificuldade? Porque? Como a empresa age em relação às mídias sociais? Como são definidas as atividades das mídia social? Inovações nas mídias sociais Nível de presença virtual Planejamento de marketing Como é definido o que vai ser colocado nas mídias sociais? Propriedade das mídias sociais conteúdo de transação E como é definido o que vai ser colocado em cada mídia? Classificação funcional das mídias sociais Como é tratado o relacionamento do perfil da empresa com os demais usuários? Propriedade das mídias sociais natureza das ligações Como a empresa se relaciona com os demais usuários nas mídias sociais? Marketing de relacionamento Como a empresa age nas mídias sociais quando observa a interação entre usuários? Atores da rede social Como a empresa lida com os elogios e as críticas nas mídias sociais? E sugestões? Redes; Feedback O usuário tem respaldo quando age dessa maneira nas mídias Redes; Valores associados às sociais? mídias sociais E o que a empresa faz com essas críticas e elogios? Inovações nas mídias sociais Existe algum procedimento formalizado quando isso acontece? Inovações nas mídias sociais E como são avaliadas as ações nas mídias sociais? Avaliação da performance da mídia social 136 Apêndice B - Roteiro para entrevista com especialista em mídias sociais DADOS DEMOGRÁFICOS – PERFIL DO RESPONDENTE Idade – cargo – intimidade com o assunto – qualificação PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO 1) Como você observa as empresas utilizando as mídias sociais? 2) Qual é o motivo que as levam a profissionalizar essa execução? De que maneira? 3) Antes e depois da contratação de um serviço especializado? 4) Vocês trabalham com o planejamento e execução das ações? E a estratégia da empresa? 5) Como estão alocadas as atividades referentes a presença virtual da empresa? 6) Como as mídias sociais afetam o marketing? 7) Quais são os principais benefícios das empresas utilizarem as mídias sociais? 8) E quais plataformas devem ser escolhidas? E como deve ser esse processo de escolha? 9) Existe alguma avaliação a respeito da funcionalidade da mídia, para sua adoção? GERAÇÃO DE CONTEÚDO 1) O que você considera a moeda de troca da internet? Geração de conteúdo? Construção de relacionamentos? 2) Como são definidos os conteúdos disponibilizados para as mídias sociais? Qual a precaução tomada a fim de não replicar os conteúdos gerados nas mídias sociais? 3) Como as empresas podem aproveitar o conteúdo gerado pelos usuários nas mídias sociais? INTERAÇÃO COM USUÁRIOS 4) As mídias sociais têm capacidade de aproximar empresas e clientes? De que maneira? 5) Como a empresa potencializa os atores dentro da mídia social? 137 6) Qual é a postura adotada quando da interação com clientes e consumidores nas mídias sociais? 7) E como lidar com sugestões, críticas e elogios? 8) Existe algum procedimento de orientação por parte das empresas? Ou vocês oferecem a continuidade desse serviço? FEEDBACK DE USO DAS MÍDIAS SOCIAIS 9) Como a empresa obtêm resultados com a interação dos clientes nas fronteiras das mídias sociais? 10) Como as oportunidades são aproveitadas quando do uso das mídias sociais? 11) Há alguma ferramenta que auxilie as empresas a observar e captar os produtos dos relacionamentos oriundos das mídias sociais? 12) É possível captar inovações para as empresas a partir das mídias sociais? 138 Apêndice C - Roteiro para observação direta Nome do observador: Objetivo da observação: Data da observação: Empresa a ser observada: Meio da observação (online, presencial, outro): Horário da observação: Critérios a serem observados Aspectos tangíveis relacionados à inovação Aspectos intangíveis relacionados à inovação Aspectos tangíveis relacionados à sustentabilidade Aspectos intangíveis relacionados à sustentabilidade Ícones de compartilhamento social na empresa Configuração do ambiente de trabalho Receptividade à entrevistadora Percepções subjetivas do observador Outros registros 139 Apêndice D - Roteiro para observação das mídias sociais Nome do observador: Objetivo da observação: Data da observação: Empresa a ser observada: Meio da observação (online, presencial, outro): Conteúdo de transação Natureza da ligação Intensidade Reciprocidade Clareza de expectativas Multiplexidade Ator Estrela Conector Ponte Porteiro Desertor Características estruturais Tamanho Conectividade Densidade Abertura Estabilidade Acessibilidade Hierarquia Percepções subjetivas do observador Outros:___________ Youtube Twitter Reclame aqui Pinterest LinkedIn Instagram Google + Blog Critérios a serem observados /Plataforma de mídia social Facebook Horário da observação: