A DIMENSÃO TRIBAL DE COMUNIDADES BASEADAS NAS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO Ana Patrícia Pinto de Lima Tese submetida para a obtenção do grau de Mestre em Marketing Orientador: Prof. Doutor Carlos Melo Brito 2010 Nota biográfica Ana Lima nasceu no Porto em 1978. Actualmente é aluna do Mestrado de Marketing da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, com Licenciatura em Marketing concluída em 2001, no ISCAP – Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto. Concluiu um Curso Intensivo de Inglês na LSI – Inglaterra e o Curso de Formação Pedagógica de Formadores. No ISCAP, lecciona as disciplinas de Marketing de Distribuição, Marketing do Ponto de Venda, Administração e Técnicas de Venda e Marketing I, da Licenciatura de Marketing do ISCAP. É responsável pela mobilidade de alunos Erasmus do curso de Marketing no ISCAP e exerce a actividade de formadora nas áreas de marketing, vendas e atendimento telefónico e presencial. Foi proprietária de uma loja de franchising na área dos acessórios de moda, sendo responsável pela imagem, compras e recursos humanos. Consultora de marketing e imagem de uma marca masculina de vestuário italiano. Responsável de marketing de uma cadeia de franchising na área dos acessórios de moda de uma marca portuguesa. Responsável de marketing na área automóvel de um concessionário de automóveis franchisado do grupo Siva Portugal. Assistente de marketing numa empresa de tecnologias de informação especializada em comércio electrónico. Moderadora do tema «Branding Myopia» - X Jornadas de Marketing. Moderadora do tema «Marketing Relacional: O sucesso da fidelização da SportZone» – XI Jornadas de Marketing. Moderadora do tema, «O sucesso do Rock in Rio» – VIII Jornadas de Marketing; Moderadora do tema «Melhores Publicidades» – Isculturap. Oradora participante no Ciclo de Conversas IPP na Fnac, no tema “A Importância da Identidade Visual”. Membro convidado do júri de trabalhos fim de curso da Licenciatura de Comércio da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda – Universidade de Aveiro. Principais áreas de interesse na investigação: comportamento do consumidor, marketing relacional e marketing tribal. i Agradecimentos Ao orientador Prof. Doutor Carlos Melo Brito pelos seus conhecimentos teóricos e práticos, o espírito crítico, a organização e a excelente capacidade de motivação. A sua amabilidade e disponibilidade no acompanhamento foram fundamentais para a realização desta dissertação. À minha família, pelos bons conselhos de quem para além de ter outros conhecimentos já passou pela experiência de um percurso académico exemplar. São a base daquilo do que sou hoje e estarão sempre na plateia da minha vida. Ao namorado, pelos incentivos nos momentos de desânimo e pelo suporte emocional. Aos amigos, pelo ânimo transmitido e compreensão nos meus momentos de ausência. Aos colegas de trabalho e de curso, que sempre se mostraram disponíveis para a discussão de questões úteis. Aos meus alunos, que de forma entusiástica colaboraram nos casos práticos, sempre participativos e curiosos. ii Resumo O ser humano revela, na escola, nos grupos de amigos, no trabalho uma necessidade de companheirismo e afiliação. No entanto, no passado muitas das relações sociais eram limitadas por questões de tempo ou território, o que a Internet e as demais tecnologias de suporte vieram libertar através das comunicações globais. Dadas as potencialidades das novas tecnologias, torna-se mais fácil e rápido encontrar pares semelhantes a nível de opiniões e interesses comuns. Os jovens apresentam uma facilidade quase inata na forma como absorvem a tecnologia em prol dos seus interesses, estudo e tempos livres. Quanto mais a tecnologia providenciar a interacção entre os grupos, mais fácil será a adesão à tecnologia e seus serviços. Deste modo, assiste-se à proliferação de grupos de indivíduos motivados pela paixão comum, por interesses e opiniões que os unem em prol das facilidades de interacção e comunicação. Estes grupos podem partilhar emoções e paixões, podendo o valor da ligação entre os mesmos revelar-se superior à funcionalidade dos objectos. Torna-se assim deveras importante prestar atenção a este fenómeno da emergência de grupos designados por tribos que colocam em questão as assumpções da segmentação como dado adquirido da divisão de mercado. As tribos despontam da afiliação baseada na identificação comum por paixões e gostos comuns que levam os consumidores a celebrações da ligação para além da materialização do consumo em produtos e serviços. Esta nova realidade conota o consumidor de particularidades únicas e especiais que não podem ser encaradas por metodologias com critérios demográficos ou geográficos como são utilizados pela segmentação convencional. É tempo de tribos influenciadoras do consumo e da projecção ou eliminação de marcas, produtos/ serviços. Perante tais características tão próprias, apraz fazer um estudo e perceber o modo de actuação e o que leva a que certos grupos de pessoas em união possam ser retratados como grupos com dimensão tribal. Esta dissertação pretende analisar a dimensão tribal de grupos de indivíduos que formam comunidades assentes em tecnologias de informação e comunicação. Assim, através de uma análise qualitativa procede-se a um estudo junto de duas comunidades distintas: uma comunidade de comunicações móveis e um fórum de discussão online. A aplicação deste estudo aos casos seleccionados permitiu identificar e aferir da existência iii ou não de características tribais nos seus elementos e providenciar um contributo para o conhecimento das motivações e estímulos dos participantes, sempre útil para a mensagem e formas de interacção das empresas com o seu mercado. Foi possível aferir que os fóruns de discussão online apresentam nas suas motivações e modos de interacção, uma maior tendência para a prevalência de traços e características tribais. Palavras-chave: Pós-modernismo, Socialização, Comunicação, Tribos, Interacção, Consumo, Comunidades Virtuais, TIC‟s. iv Abstract The human reveals, in the school, groups of friends, at work a need of fellowship and affiliation. However, in the past many the social relations were limited due to time or territory, which the Internet and other supporting technologies have come through free global communications. The new technologies had become more easy and fast to find pairs with similar opinions and interests. The young people have an innate form to absorb the free technology in favor of its interests, study and free times. The more technology to provide interaction between groups, the easier it is joining the technology and its services. In this way, the proliferation of groups of individuals motivated for the common passion is attended to it, for interests and opinions that join them in the support of communication. These groups can share emotions and passions, and then the value of the linking relations is greater than the object functionality. It‟s important to pay attention to this phenomenon of emergency of groups assigned for tribes who place in question the foundations of segmentation to the market division. The tribes born of the affiliation based on the common identification with passions and common tastes that take the consumers to celebrate the linking value and neglect the materialization of the consumption in products and services. This new reality attributes to the consumer a new and special characteristic that cannot be faced by methodologies such demographic or geographic criteria, as is used by the conventional segmentation. It is the new era of powerful tribes of consumption and the growth or elimination of brands, products or services. In accordance with such scene, it becomes very significant to make a study and to know how these groups interact and what leads some certain groups to be dubbed as tribes. This thesis intends to analyze the tribal dimension of groups that form communities seat in technologies of information and communication. Thus, through a qualitative analysis proceeds to a study from two different communities: one community of mobile communications and one online discussion forums. The applications of this study at the selected cases are to identify and verify the existence of tribal characteristics and provide a contribution to the understanding of the motivations and incentives of the participants. This is helpful to the message and forms of interaction of the companies with its business market. It was possible to infer that the online discussion forums have in their motivations and modes of interaction, a greater tendency for the prevalence of tribal traits and characteristics to a tribal dimension. Keywords: postmodernism, socialization, communication, tribes, interaction, consumer, virtual communities, TIC‟s. v Índice Nota biográfica .................................................................................................................. i Agradecimentos ................................................................................................................ ii Resumo ............................................................................................................................ iii Abstract ............................................................................................................................. v Capítulo I - Introdução ................................................................................................. - 1 Capítulo II – Marketing Tribal..................................................................................... - 3 2.1 Introdução .............................................................................................................. - 3 2.2 O Tribalismo e a Pós-Modernidade ....................................................................... - 3 2.3 O Consumo Tribal ............................................................................................... - 10 2.4 O Marketing Tribal e a Socialização ................................................................... - 14 2.5 A Identificação de Tribos .................................................................................... - 24 2.6 As Tecnologias de Informação e Comunicação e as Tribos ................................ - 34 2.7 Conclusão............................................................................................................. - 48 Capítulo III. – Questões de Investigação e Modelo de Análise ................................. - 49 3.1 Introdução ............................................................................................................ - 49 3.2 Questões de Investigação ..................................................................................... - 49 3.3 Modelo de Análise ............................................................................................... - 49 Capítulo IV – Metodologia ........................................................................................ - 54 4.1 Introdução ............................................................................................................ - 54 4.2 Estudo Empírico .................................................................................................. - 54 4.3 Operacionalização da Metodologia ..................................................................... - 55 4.3.1 Focus Group ...................................................................................................... - 55 4.3.2 Recolha dos Dados............................................................................................ - 55 4.3.3 Análise dos dados ............................................................................................. - 57 4.4 Conclusão............................................................................................................. - 57 - vi Capítulo V – Análise dos Resultados ........................................................................ - 58 5.1 Introdução ............................................................................................................ - 58 5.2 As Comunidades de Comunicação Móveis ......................................................... - 58 5.2.1 Enquadramento ................................................................................................. - 58 5.2.2 A Interpretação dos Dados ................................................................................ - 60 5.2.2.1 Motivações ..................................................................................................... - 60 5.2.2.2 Processo de Interacção ................................................................................... - 63 5.2.2.3 Dimensão Tribal ............................................................................................ - 65 5.2.3 Síntese ............................................................................................................... - 67 5.3 Os Fóruns de Discussão Online ........................................................................... - 68 5.3.1 Enquadramento ................................................................................................. - 68 5.3.2 Interpretação dos Dados.................................................................................... - 69 5.3.2.1 Motivações ..................................................................................................... - 69 5.3.2.2 Processo de Interacção ................................................................................... - 73 5.3.2.3 Dimensão Tribal ............................................................................................ - 76 5.3.3 Síntese ............................................................................................................... - 80 5.4 Resposta às Questões de Investigação ................................................................. - 81 Capítulo VI – Conclusão............................................................................................ - 87 6.1 Síntese .................................................................................................................. - 87 6.2 Principais Contributos.......................................................................................... - 88 6.3 Limitações e Sugestão de Investigações Futuras ................................................. - 92 Referências................................................................................................................. - 94 Anexos 1 e 2 .............................................................................................................. - 98 Anexo 1 - Guião do Focus Group: Comunidades de Comunicações Móveis ........... - 99 Anexo 2 - Guião do Focus Group: Fóruns de Discussão Online ............................. - 102 - vii Índice de Figuras Figura 2.1 - Metamorfose da ligação social ................................................................. - 6 Figura 2.2 - Níveis de observação do consumo ......................................................... - 13 Figura 2.3 - Uma Ancoragem Diferente do Esforço .................................................. - 21 Figura 2.4 - O Trevo Tribal ....................................................................................... - 32 Figura 2.5 - Os papéis dos membros da tribo ............................................................ - 33 Figura 2.6 - Tipologia dos membros de comunidades virtuais de consumo. ............. - 39 - Índice de Tabelas Tabela 5.1 - Comunidades de Comunicações Móveis: Síntese ................................. - 67 Tabela 5.2 - Fóruns de Discussão Online: Síntese..................................................... - 80 Tabela 5.3 - Síntese das Conclusões Relativas à 1ª Questão de Investigação ........... - 82 Tabela 5.4 - Síntese das Conclusões Relativas à 2ª Questão de Investigação ........... - 83 Tabela 5.5 - Síntese das Conclusões Relativas à 3ª Questão de Investigação ........... - 84 - viii Capítulo I - Introdução As sociedades contemporâneas apresentam-se dinâmicas e fluidas ao nível da transmissão de informação. Os gostos e preferências dos consumidores são livres de serem expressados e partilhados sem fronteiras de espaço ou lugar. A natureza humana, caracterizada pela necessidade de interagir, compartilhar e formar grupos de interesse, leva ao surgimento de novas formas de actuação. O ser humano, assumindo-se como ser social, interage com o meio, desenvolve sentimentos de pertença e afiliação com os demais indivíduos. Os grupos são muitas vezes escolhidos segundo os valores, crenças ideologias, ou até aquilo que se pretende demonstrar e comunicar sobre o auto-conceito. Os mercados cada vez mais competitivos apresentam uma grande diversidade de produtos e serviços destinados a satisfazer as necessidades e desejos particulares de cada consumidor. Assim, as necessidades dos consumidores são ainda mais segmentadas, para além das variáveis demográficas ou psicográficas. Os estudos de comportamento do consumidor tenderão a fluir para a compreensão de comportamentos e preferências de consumo que se baseiam muito mais em produtos de marcas com valores emocionais e iconográficos, e que contribuem para a criação de laços entre os consumidores, do que no valor material e funcional dos objectos. A emergência das novas tecnologias acarreta potencialidades de difusão, interacção e velocidade de propagação da informação. As empresas que melhor entenderem como se manifestam os seus consumidores e como agem a diferentes estímulos, serão aquelas que estarão mais próximas e emocionalmente envolvidas com os consumidores. O espaço cibernético é o encontro ideal para que milhares de consumidores possam estar mais próximos de quem partilha as emoções, opiniões e informações acerca de uma marca, produto ou serviço. Sobressai uma base motivadora de comunicação e expressão, consequente de comunicações mais rápidas, em contextos globalizados suportados pelas novas tecnologias. Os jovens apresentam uma facilidade quase inata na forma como absorvem a tecnologia em prol dos seus interesses, estudo e tempos livres. Quanto mais a tecnologia providenciar a interacção entre os grupos de amigos, mais fácil será a adesão à tecnologia e seus serviços. As empresas que utilizem meios de contacto e interacção com os jovens, terão que perceber a importância da inovação na forma de expressão e transmissão da mensagem. -1- Ainda que potenciado pelas novas tecnologias, os jovens detêm a necessidade de sociabilização, daí identificarem-se com os seus pares. Estes jovens exercem grande influência na conquista de mais amigos para a comunidade, e o efeito de passa a palavra assume uma enorme importância. As empresas prestadoras de serviços de suporte tecnológico devem facilitar o contacto e a expressão entre os membros da comunidade. As estratégias de marketing das empresas fornecedoras de serviços e plataformas tecnológicas devem centrar-se nas razões que mantém os membros unidos e motivados nas comunidades e não apenas na performance dos produtos/serviços. Esta dissertação tem por objectivo analisar o comportamento tribal de comunidades que assentam na utilização de novas tecnologias de informação e comunicação. Para isso, identificam-se duas comunidades, uma baseada na utilização de dispositivos de comunicações móveis e a outra em fóruns de discussão online. Posteriormente estuda-se as razões de adesão e a forma de interacção entre os membros. A dissertação estruturase da seguinte forma. Após a introdução, o Capítulo 2 diz respeito à revisão da literatura em que o tema em análise se enquadra. No referido capítulo, a revisão bibliográfica inclui numa primeira parte, as teorias que evocam as origens das tribos e a sua emergência nas sociedades. É dado enfoque às tribos como uma consequência do pósmodernismo nas sociedades. As teorias abordadas do pós-modernismo sugerem que os indivíduos podem ser considerados elementos de micro-grupos sociais, ou seja, as ditas tribos. Após esta caracterização e enquadramento em volta das tribos, a revisão bibliográfica termina com o enquadramento da emergência das tribos ou comunidades sustentadas em plataformas tecnológicas. O Capítulo 3 apresenta o modelo de análise de base empírica que serve de suporte a este estudo. São também identificadas as respectivas questões de investigação que servem de base a todo o estudo. No subsequente capítulo, é descrita a metodologia utilizada para dar resposta às questões de investigação propostas. São descritos os estudos qualitativos que servem de instrumento de auscultação dos membros de duas comunidades seleccionadas. No Capítulo 5 são apresentados os resultados obtidos do respectivo estudo, em que se enunciam as conclusões. Finalizando, o Capítulo 6 diz respeito à conclusão e implicações para o marketing face aos resultados obtidos e às limitações encontradas, bem como algumas sugestões de pesquisas futuras. -2- Capítulo II – Marketing Tribal 2.1 Introdução Na revisão bibliográfica levada a cabo neste capítulo procura-se relevar os principais conceitos que enquadram a temática do marketing tribal e do conceito de tribo (Secções 2.2 e 2.3) e sua importância para a sociedade na Secção 2.4. Após uma explanação das condicionantes da sociedade que levaram ao aparecimento do movimento tribal (Secção 2.5), são abordadas as características, traços e interacções dos membros de uma tribo. Posteriormente, nas Secções 2.6 e 2.7, esboça-se a importância deste novo segmento que traz novos desafios às empresas e tem como consequência uma nova relação consumidor-consumidor. Na verdade, e por fim, as novas tecnologias revelam-se fontes exímias no conhecimento e interacção dos consumidores entre si e entre os consumidores e as empresas. 2.2 O Tribalismo e a Pós-Modernidade De acordo com uma primeira corrente de investigação sociológica sugerida por Lipovetsky (1983, 1987, 1990), a pós-modernidade é caracterizada pelo individualismo e pela busca da libertação das obrigações sociais. Para Cova (1997) o indivíduo pósmoderno, livre da restrição dos limites das comunidades, é restaurado no seu “eu” e capaz de se tornar autónomo. Na pós-modernidade a conquista do “eu” tornou-se inevitável e cada indivíduo mostra a sua personalidade, diferenciando-se. É o direito à liberdade ilimitada, em teoria - mas limitado pelo contexto económico, político e intelectual. Surge a era do indivíduo que pode (e deve) tomar medidas pessoais de modo a produzir e a mostrar a sua própria existência, a sua própria diferença. O conceito de mobilidade caracteriza a acção do indivíduo quer a nível de território quer a nível social. Segundo Cova (1997) a fragmentação da sociedade e, em particular, a fragmentação do consumo são algumas das consequências mais visíveis deste individualismo pósmoderno. Da sua própria casa, e sem a necessidade de um contacto físico e social, o indivíduo pós-moderno pode obter quase tudo o que deseja. Todos os produtos e serviços oferecidos contribuem para o isolamento do indivíduo pós-moderno, contudo, também lhe permite estar em contacto virtual com todo o mundo. -3- O que caracteriza a vida pós-moderna é o processo de egocentrismo induzido pelo inevitável desenvolvimento e sobretudo pela utilização generalizada de computadores em todos os aspectos do dia-a-dia. A pós-modernidade pode ser entendida como um período de grave dissolução social e de um individualismo extremo. Uma segunda corrente sociológica preconizada por Bauman (1992) e Maffesoli (1988, 1990, 1992, 1993), assenta não no triunfo do individualismo, mas no início do seu fim, com o aparecimento de um movimento de reversão na busca pela ligação social. O indivíduo embarca num movimento inverso ao recompor o seu universo social, com base numa escolha emocional livre. Nesta perspectiva, o individualismo correspondeu apenas a um curto período de transição. Cova (1997) alega que a dinâmica social, característica da era pós-moderna, é constituída por uma multiplicidade de experiências, de representações e de emoções experimentadas, que muitas vezes não são devidamente compreendidas. Tais dinâmicas são na maioria das vezes explicadas pelo individualismo, no entanto, sublinham que o tribalismo está a desenvolver-se cada vez mais. Para Cova (1997) a palavra "tribo" refere-se à re-emergência de valores quase arcaicos: um sentimento de identificação local, religiosidade, sincretismo, narcisismo de grupo, em que o denominador comum é a dimensão da comunidade. Estas tribos tentam reviver o arquétipo da comunidade da aldeia ou do bairro, mas não são comunidades com definições claras em termos espaciais, visto que podem ser usados meios técnicos de comunicação para formar tribos virtuais, no qual o contacto face-a-face ou a copresença física não é obrigatório. A sociedade pós-moderna, ao contrário da sociedade moderna (concebida como um conjunto de grupos sociais – categorias e classes sócioprofissionais), assemelha-se a uma rede de micro-grupos sociais em que os indivíduos estabelecem fortes laços emocionais, uma sub-cultura comum, uma visão da vida. Nos dias de hoje, comunidades profissionais como engenheiros, bailarinos ou skinheads desenvolvem os seus próprios significados e símbolos, de forma mais ou menos estável. As tribos revelam-se invisíveis para as categorias da sociologia moderna. As comunidades pós-modernas são referidas pelo termo "sociabilidade", que é diferente de "social". -4- Cada indivíduo pós-moderno pertence a várias tribos e em cada uma das quais pode desempenhar um papel diferente. E o facto de o indivíduo pertencer a essas tribos tornou-se mais importante do que pertencer a uma classe social moderna. Segundo Cova (1997) o estatuto social, ou seja, a posição estática de um indivíduo numa das classes sociais da modernidade, é progressivamente substituído pela configuração da sociedade, isto é, o posicionamento dinâmico e flexível do individuo dentro e entre as suas tribos pós-modernas. É a emoção e a comunhão que levam os indivíduos do pós-modernismo para a re-integração dos rituais e da transcendência na vida quotidiana. Existem estudos sociológicos que enfatizam o retorno dos rituais, no sentido profano e não com base na manifestação religiosa (Ferrarotti, 1993). A religião tem frequentemente um sentido puramente divino, considerando-se a etimologia básica do latim, é basicamente uma ligação (re-ligare): ligar os seres humanos com o divino e, portanto, é aquilo que liga os seres humanos uns com os outros. Pode portanto dizer-se que a religião não está em declínio nas sociedades pós-modernas, o que mudou foi a forma: menos institucional, mais improvisados, mas tendo sempre presente um factor de ligação social, uma espécie de fé, sem dogma. Esta nova ritualidade expressa a criatividade da sociedade pós-moderna e a emergência das suas numerosas tribos. De facto, não se verifica um consenso sobre o conceito de pós-modernidade. Segundo Lipovetsky (1983, 1987, 1990, 1992), a pós-modernidade é a realização do processo de individualização, enquanto Maffesoli (1988, 1990, 1992, 1993) numa outra corrente, afirma que é o início de um movimento inverso de recomposição social com base nas tribos efémeras. Para Cova (1997), ainda se pode considerar o caso apresentado na Figura 2.1, que relaciona quatro conceitos da ligação social que hoje coexistem: as comunidades tradicionais, as agregações modernas, o individualismo moderno, e as tribos pósmodernas. Isto pode ajudar a explicar a coexistência de diferentes formas de consumo: a partir de um consumo individualizado para um consumo tribalizado. Os diferentes modos de consumo, como os diferentes modos de relação social, podem ser vivenciados pela mesma pessoa no decurso da vida diária. -5- Figura 2.1 - Metamorfose da ligação social Fonte: Cova (1999, p. 7) Cova (1999) sustenta que antes de se referir à essência do tribalismo e à emergência do Marketing Tribal, é necessário enquadrar este conceito ainda segundo a comparação entre a visão Latina e o pensamento do Norte da Europa sobre o dinamismo social pós moderno. Cova (2002) apresenta duas correntes de pensamento de investigadores de marketing, uns provenientes dos países do Norte, nomeadamente da Nordic School of Services e a Scandinavian School of Industrial Marketing e a outra proveniente de investigadores de países como a Espanha, França e Itália, que deram origem à visão Latina, a chamada Latin School of Societing. Segundo Cova (2002), a visão latina tem um denominador comum aos seus investigadores, que é o facto de os países que lhe deram origem serem banhados pelo mar e situarem-se junto ao Mediterrâneo. Este pequeno detalhe converge para o facto de se poder aferir que os consumidores destes países têm um estilo de vida muito próprio: gostam de conviver em grupos (mesmo na era do individualismo), e as experiências do dia-a-dia são de reapropriação social, diversão e distorção dos significados do sistema dominante (e não apenas de uma mera participação do sistema). O Club de Marseille1 (1994) sustenta que a cultura mediterrânica é alimentada pelo desenvolvimento de atitudes humanas orientadas para a existência, a experiência do 1 O Clube de Marseille foi criado em 1992 por Henry Roux Alez, presidente da Câmara de Comércio e Ind. de Marseille. Faz parte do Instituto do Mediterrâneo em Marselha e é um lugar de encontro e trabalho multidisciplinar de decisores políticos e intelectuais que publicam sobre a civilização, culturas, etnias e religiões. -6- convívio, o que leva à propensão para a auto-organização em grupos. Esta tendência não pode ser contrariada, há então que a conhecer e perceber como se comporta o novo consumidor e o que valoriza. Por outro lado, Cova (2002) reconhece que o desenvolvimento da tecnologia permite que o dito isolamento seja colmatado pela facilidade de no mundo virtual se poder comunicar com qualquer pessoa sem barreiras geográficas ou culturais. Hoje em dia podemos realizar as nossas compras sem sair de casa, fazer visitas virtuais a bibliotecas sem o mínimo contacto e interacção humana. Mesmo reconhecendo-se que se esta perante uma fase de individualismo social, motivada pelas potencialidades das novas tecnologias, e de acordo com Goulding (2001), verifica-se uma libertação de barreiras e constrangimentos individuais que recompõem novas formas de interacção social e organização de comunidades. Um indivíduo pode assim fazer parte de vários grupos, efémeros ou eternos, interagir e influenciar comportamentos. Pode-se assim dizer que esta nova fase, em vez de potenciar o individualismo, promove o seu fim, com o nascimento de uma nova interacção social. Para Maffesoli (1996) está-se perante uma redefinição e manutenção de ligações sociais entre os indivíduos. Bauman (1992) e Maffesoli (1996) são unânimes na concordância de que esta dinâmica social, característica da nova fase de pós-modernismo de interacção social, é composta por uma diversidade de experiências, representações e emoções que nem sempre são compreendidos. Para Cova (1997) pode-se até falar da emergência de um movimento inverso nos países latinos, ou seja, a procura pela permanência ou recriação das ligações sociais. Cova (2002) evoca que a palavra «tribo» transmite as mesmas características que a noção de "grupo étnico", mas numa escala menor de homogeneidade local, linguística e cultural. E ainda na mesma linha das características que a noção de "clã" transmite, mas numa escala maior: o parentesco, a ligação de sangue e outros atributos relacionados. Para Cova (2002), a dinâmica social do pós-modernismo pode ser definida metaforicamente como "tribos", pois, à semelhança das tribos das sociedades arcaicas: • estas tribos não podem contar com o poder central para manter a ordem social ou coagir os elementos para a submissão às normas colectivas; -7- • constituem um colectivo que pode representar um contrapoder ao institucional; • a reunião das pessoas não ocorre devido a aspectos racionais; • as pessoas agrupam-se por elementos emocionais, com o intuito de participarem para o re-encantamento do Mundo, Maffesoli (1996). Segundo Cova (2002) o denominador comum das tribos do pós-modernismo é a paixão e a partilha de emoções entre os elementos da comunidade. Maffesoli (1996) acrescenta que as tribos pós-modernas são inerentemente instáveis, não constituídas por qualquer parâmetro fixado pela sociedade moderna, em contrapartida, podem ser partilhadas emoções, estilos de vida, novas crenças morais e práticas de consumo. De forma simbólica e através de rituais, os membros manifestam o seu compromisso. As tribos podem ser baseadas em emoção e paixão partilhada. Para Kozinets (1999) os laços emocionais entre os membros da tribo são fortes, pelo facto de poderem ser temporários. Esta possível efemeridade da participação dos membros leva a que cada momento, emoção ou experiência com a tribo seja mais intenso. Para Cova (2002) as tribos estão em permanentes fluxos, e não se contabilizam pelas relações de vizinhança ou intensidade de troca. Elas existem pelo grau de envolvimento manifestado pelos membros através de simbolismos, rituais e objectos/lugares de culto. A (re)construção de significados compartilhados através de experiências, de rituais é a forma mais sólida de manter a identidade tribal nas sociedades pós-modernas. A visão Latina, assume que a sociedade assemelha-se a uma rede social de microgrupos em que cada indivíduo partilha fortes emoções, estilos de vida, novas crenças, práticas e experiências de consumo (Club de Marseille,1994; e Maffesoli,1996). Para Maffesoli (1996) e Morace (1996), existe uma ligação estreita entre o individualismo, o racionalismo, o utilitarismo e o universalismo, como reflecte o pensamento do Norte, no entanto, reconhecem que emerge uma relação estreita entre a comunidade, a afectividade e resistência, que são características do pensamento do sul. Os investigadores latinos (Club de Marseille, 1994) definem que os indivíduos mediterrânicos apresentam traços culturais específicos que favorecem o desenvolvimento de atitudes orientadas para um ser humano que partilha e valoriza as -8- experiências dos outros e os convívios, tendo propensão para a organização em microgrupos. Cova (2002) sustenta que actualmente a consciência da importância de um estilo de vida nos jovens, leva ao desenvolvimento de significados e interpretações próprias e complexas de símbolos, que levam à formação de tribos que por vezes são invisíveis às categorias sociais estabelecidas. Cada indivíduo pode pertencer a diversas tribos, e em cada uma delas exercer diferentes papéis e assumir diversas funções. E, o facto de esse indivíduo pertencer a uma tribo tem um significado mais forte do que o mesmo pertencer a classes sociais ou segmentos definidos. Os novos consumidores comunicam e identificam-se através de simbolismos, identificam-se e identificam a sua tribo na emergência de tantas novas tribos. Para Cova (2002) as tribos pós-modernas apresentam claramente algumas diferenças em relação às tribos arcaicas (como, por exemplo, as tribos de índios nos Estados Unidos da América): • são tipicamente efémeras e não totalizam agrupamentos, enquanto as arcaicas são de carácter permanente; • um indivíduo pode pertencer a várias tribos pós-modernas. Numa tribo arcaica, os indivíduos apenas pertencem a uma tribo; • os limites de uma tribo pós-moderna são conceptuais, enquanto nas arcaicas falamos de limites físicos; indivíduo pode pertencer a várias tribos pós-modernas. Numa tribo arcaica, os indivíduos apenas pertencem a uma tribo; • os membros de uma tribo pós-moderna estão ligados por sentimentos partilhados e (re) apropriação de sinais e valores. Os membros de tribos arcaicas estão ligados pelo grau de parentesco, hierarquias e até por dialectos. No pós-modernismo, o facto de um indivíduo pertencer a uma tribo não exclui a possibilidade de pertencer a outras demais tribos. É interessante notar que Firat e Dholakia (1998) preferem usar outros termos para descrever estas alternativas sociais: "modo de vida das comunidades" ou "modo de vida de culturas". Para estes autores, estas novas alternativas sociais são consideradas como "enclaves" fora da sociedade. Mas tal não é corroborado pela visão latina. -9- As tribos representam mais do que categorias residuais da vida social, são o elemento central da realidade social da nossa própria experiência quotidiana. Assim, as tribos podem existir de forma colateral, muitas vezes despercebidas, lado a lado com a sociedade moderna. Para a abordagem latina, Club de Marseille (1994) e Maffesoli (1996), a sociedade assemelha-se a uma rede social de micro-grupos nos quais os indivíduos compartilham fortes laços emocionais, uma subcultura comum, uma visão da vida. Esses micro-grupos desenvolvem os seus próprios significados e símbolos de forma mais ou menos estável. Consequentemente, assiste-se à concepção e ao lançamento de produtos e serviços destinados a facilitar a co-presença em grupos. Ou seja, mensagens, sinais e símbolos em que os consumidores não olham apenas para os produtos e serviços de forma racional, mas sim como um meio para proporcionar ligações a outros membros de determinada tribo. 2.3 O Consumo Tribal Para Cova (1997) a era pós-moderna revelou ser um período de extrema perturbação do consumo e, consequentemente, de imprevisibilidade do comportamento dos consumidores. A dificuldade em classificar as preferências do consumidor e a impossibilidade de explicar o seu comportamento de acordo com os indicadores sociais, pode ser entendido pela simples facto de se tratar de pessoas, no sentido pleno da palavra, e não de um número de uma classe social onde os comportamentos são supostamente idênticos. Ainda segundo Cova (1997), o indivíduo pós-moderno tende para a livre escolha sem limites ou constrangimentos sociais, estando assim em sintonia com as suas preferências que não dependem da classe social. Na verdade, para o indivíduo pós-moderno a qualidade essencial dos produtos e serviços é o zero defeitos e a sua principal virtude é a de servir e satisfazer as suas necessidades de forma personalizada. O valor de uso dos produtos pode ser funcional (atributos materiais), simbólico (atributos imateriais) ou uma mistura dos dois. O que parece importar é a pessoa na sua independência e na distinção quando comparada com os outros. A instabilidade das preferências do - 10 - consumidor indica a livre escolha do indivíduo pós-moderno em todas as esferas da vida quotidiana. Segundo o autor, o indivíduo pós-moderno vive em perpétuo movimento social, sendo imprevisível. Sem orientação, o indivíduo acede à tentação de tentar tudo como se o consumo fosse um jogo. O que o torna cada vez mais infiel a produtos. Cova (1997) depreende que o fenómeno de ausência de referências e de significados na vida quotidiana de liberdade de escolha, reforça a ideia da existência de um indivíduo tribalista que está a olhar menos para o consumo como um meio directo de dar sentido à vida, mas como um meio de formar laços com outros de uma ou várias comunidades de referência. O sistema de consumo está assim ao serviço da ligação social: a ligação é mais importante do que a coisa. Ou seja, os produtos e serviços que são valorizados são principalmente aqueles que através de seu valor de vinculação, permitem apoiar a interacção social do tipo comunal. O novo tribalismo que caracteriza a pós-modernidade exige uma redefinição do valor dos produtos ou serviços, tendo este último que servir ao mesmo tempo a pessoa na sua individualidade e contribuir para a união do grupo, "entre vários" e "entre dois". Não é o produtor que define o valor de ligação do seu produto, são as pessoas que o usam que lhe vão dar significado. Além disso, Cova (1997) refere que como os significados dos objectos não são mais fixados e ligados às suas funções materiais, cada indivíduo pode atribuir significados diferentes para os seus objectos. Há portanto, uma atenção extrema no valor de ligação de um produto ou um serviço, ao contrário do "valor de uso universal", como foi percebido na modernidade. Cova (2002) apresenta a visão da “The Latin School of Societing”, em que os produtos e serviços são adquiridos com base na conectividade que estabelecem, mais do que propriamente com o valor do uso. O consumo, assume-se assim como um acto envolto em ligações fortes e emocionais entre os consumidores e os produtos/serviços. É o reconhecimento e a partilha do valor dessa ligação que une os elementos das comunidades. As tribos constituem um dos focos importantes para os investigadores do consumo pós-moderno e uma alternativa para a selecção das acções de marketing, sustenta Cova (2001). Segundo Cova (2001) a visão latina propõe considerar os conceitos de "tribos" e o valor de "ligação" de modo a colocar o foco nos agrupamentos de pessoas que surgem nas sociedades actuais. Esta visão latina apresenta a tendência interpretativa das pesquisas - 11 - do consumidor se centrarem na experiência do consumidor. As pesquisas sobre o consumo pós-moderno são uma parte dos estudos interpretativos do consumo, que se focam na experiência do consumidor para interpretar os diversos âmbitos relacionados com as demais teorias (Arnould, 1997). Assim, as pesquisas sobre o consumidor no pósmodernismo distinguem-se de outras pesquisas do consumidor, porque são mais holísticas e apresentam uma visão menos individualista sobre o consumo, que vai para além da sua localização geográfica. Para Cova (2001) um indivíduo pode pertencer a várias tribos, e em cada uma pode desempenhar um papel diferente. Assim, pertencer a tribos torna-se mais importante do que pertencer a uma classe social ou determinado segmento. O estatuto social, ou seja, a posição de um indivíduo numa classe social, é progressivamente substituído pela configuração da sociedade que apresenta um posicionamento dinâmico e flexível do indivíduo dentro e entre as suas tribos. Nesta análise latina da sociedade, pode-se construir uma visão de marketing com um vector de ligação tribal (Cova, 1997, 1999). É mais importante para os consumidores o valor dos bens e serviços, que suportam a ligação e interacção social do que a funcionalidade dos mesmos. Há ainda a referir uma das abordagens relevantes para o consumo de hoje, a abordagem etno-sociológica sugerida por Dibie (1998). Nesta abordagem, a psicossociologia incide sobre a influência de um A sobre um B (e A pode ser uma pessoa ou um grupo), ou sobre o poder de um A sobre um B, ou sobre a contaminação dos B pelos A, ou na imitação de A por B. A palavra Etno incidirá sobre o que faz a ligação entre A e B, ou a emoção compartilhada entre A e B, ou o sentimento de apenas estar junto, a união de AB. São assim os produtos e serviços que suportam a ligação AB e não o facto de ser A ou B. Segundo Cova (2002) os significados dos símbolos tribais não existem isoladamente, são construídos dentro da cultura tribal, negociados e interpretados por indivíduos cuja subcultura é específica. O significado atribuído aos produtos e serviços está relacionado com a experiência colectiva que constituem oportunidades para afirmar, evocar, ceder, ou revisar esses mesmos significados. Por conseguinte, o objectivo é o de encontrar elementos de uma natureza intangível, que são imperceptíveis individualmente, mas que podem ser percebidos e interpretados em experiências colectivas que ocorrem num - 12 - contexto de subcultura. A visão latina olha para consumo a partir de uma perspectiva micro-social (Figura 2.2). Figura 2.2 - Níveis de observação do consumo Fonte: Cova (2002, p.601) O nível micro-social representa a interacção entre as pessoas, seja cara-a-cara ou em grandes encontros. O nível macro-social é o designado por Maffesoli (1996) como o "nível" da sociedade, ou seja, é o nível primário da sociabilidade que é composto por interacções e emoções diárias e difere da sociabilidade secundária que lida com os papéis sociais e a participação em sociedade, como o trabalho. No nível micro-social, o acto de consumir é acima de tudo criar laços sociais, para construir uma estrutura social. A perspectiva micro-social do consumo foi assumida como estudos de consumo em oposição a um comportamento do comprador, comportamento do consumidor ou pesquisa de consumo (Ostergaard e Jantzen, 2000). Deste modo, segundo Cova (2002) o consumo do indivíduo deve ser concebido como um membro de uma tribo e não apenas como um “animal” (comportamento do comprador), um “computador” (o comportamento do consumidor) ou um “turista” (pesquisa do consumidor). Se o indivíduo consome como um membro de uma tribo, existe muito para além do lado emocional e narcisista descrito na categoria da pesquisa do consumidor. Os membros de uma tribo têm ainda alguns aspectos emocionais da categoria do turista, mas o - 13 - indivíduo não é mais visto como um independente, que está a tentar recolher mais experiências. Em vez de ser baseada em emoções pessoais, o indivíduo que consome é um membro de uma tribo, onde o simbolismo do produto e a experiência de consumo, criam um universo de interacção para a tribo. Quanto maior for a contribuição de um produto ou serviço para o estabelecimento e/ou reforço do vínculo à tribo, maior será o valor da ligação (Cova, 1997). 2.4 O Marketing Tribal e a Socialização Cova (1997) evoca a existência de duas visões no marketing pós-moderno: a dualidade individualismo/tribalismo elevada pela análise etno-sociológica. Essa dualidade é ainda expressa na abordagem anglo-saxónica em que a conceptualização de marketing resulta do individualismo; e na visão dos defensores da abordagem do Mediterrâneo a conceptualização de marketing decorre do tribalismo pós-moderno. Uma característica comum a numerosas abordagens anglo-saxónicas de marketing é o facto de adaptarem a fragmentação e o individualismo pós-moderno à busca da proximidade do consumidor. O principal objectivo é construir, desenvolver e manter o relacionamento com o cliente como um indivíduo, ao contrário de abordar um mercado constituído por uma massa generalista, dividida em segmentos homogéneos. Cova (1997) refere empresas como Quaker Oats ou American Airlines que no final da década de 1980 justificavam as suas abordagens pelos seguintes argumentos: • se o mercado não pode ser dividido de forma homogénea e estável em segmentos, a única alternativa é abordar o consumidor individualmente com recurso aos sistemas de informação. O que leva à possibilidade de formação de pequenos grupos de consumidores, para acções de marketing especificas. • se o consumidor é volúvel e imprevisível, não é tão importante prever o seu comportamento, mas sim ser capaz de reagir imediatamente às novas aspirações através da manutenção de uma relação contínua. - 14 - • se o consumidor é individualista, vai procurar o que lhe permita manter e desenvolver a sua liberdade, assim tem de prevalecer uma relação de confiança com um fornecedor que garanta o zero defeitos ou qualidade total dos aspectos materiais da vida. • se o consumidor pretende diferenciar-se, valoriza os produtos personalizados. Firat e Venkatesh (1993) consideram que o indivíduo pós-moderno dá um sentido à vida essencialmente através do consumo e que o marketing pode já ser a maior instituição pós-moderna. Definiram-se possíveis consequências para a prática do marketing na pósmodernidade: a) actualmente o marketing pode aplicar-se a áreas que até então tinham sido rejeitadas, como a arte, a cultura e a ideologia. b) devido à fragmentação, a efemeridade e a diversidade de estilos, o marketing terá de renovar constantemente os significados e as representações atribuídas ao produto. c) por causa da rejeição por parte de indivíduos dos valores dominantes e da dita sociedade normal, o marketing começa a interessar-se pela diversidade de estilos de vida diferentes. d) o indivíduo pós-moderno prefere a simulação da realidade, pode optar por viver todas as suas actividades de consumo de forma virtual e favorecer um sistema de marketing que lhe permite para fazer compras sem sair de casa. e) como o sistema educacional é baseado em instituições modernas, o sistema de comercialização, que tem o papel de gerar valores e significados, tornou-se o principal vector da educação nas sociedades. f) por causa do esbatimento da categorização bipolar feminino/masculino, o marketing tem que mudar sua representação do "ideal" do consumidor (exemplo: dona de casa), tanto no nível do pensamento estratégico como ao nível da comunicação e de imagens. g) devido à globalização da cultura, as empresas transnacionais tornam-se, através das suas acções de marketing, em veículos de mudança cultural por excelência. - 15 - Firat e Venkatesh (1993) vão mais longe do que a anterior abordagem anglo-saxónica que se debruçava num aspecto da pós-modernidade: o aspecto mecânico de fragmentação do mercado. Essas abordagens parecem, não conseguir considerar o movimento pós-moderno da estetização da vida quotidiana que atribui especial importância às emoções, representações e aos aspectos sociais. Firat e Venkatesh (1993) e Elliott (1993) compartilham das preocupações da Escola Latina do pensamento pósmoderno em marketing, que atribui ao marketing um papel social. Percebem o marketing como um sistema que permita preencher o pós-vácuo causado pela falta de comunidade e propõem uma visão de marketing como um vector de ligação da comunidade. Segundo Morace (1996), a moda e as tendências tendem a ignorar a partilha de emoções e a interacção entre os indivíduos, em contraste, as tribos são baseadas na riqueza destes conceitos. Segundo Cova (1997), e a fim de se compreender a especificidade das abordagens latinas do marketing no pós-modernismo, é necessário voltar ao princípio subjacente ao tribalismo pós-moderno: em produtos e serviços o valor de uso está a ser procurado, tanto quanto maior for o valor de ligação (ligação com os outros ou com outras pessoas e em meios de simbiose tribal). Um produto ou um serviço, é capaz de desempenhar um papel social de apoio às comunidades. Representa assim um suporte para a co-presença. Ou seja, a ligação é mais importante do que a coisa (por exemplo, a coisa é apenas o apoio social da ligação). Cova (1997 e 1999) e Rémy (2001) referem que através da visão latina da sociedade é possível construir uma visão de marketing com base num vector de ligação tribal. Cova (2002) coloca a hipótese de que os consumidores valorizam os produtos e serviços, mediante o valor das ligações que obtêm, e que lhes permite suportar as interacções sociais no seio da tribo. O consumo assume um lado extremamente emocional para o consumidor. Para Cova (1997) as empresas enfrentam graves problemas quando produzem bens e serviços que quando são colocados no mercado se tornam verdadeiros commodities, com um certo valor de uso para o indivíduo, mas que raramente são objectos ou lugares com um potencial estético de valor de ligação para uma comunidade de indivíduos. - 16 - Na base desta afirmação, estão algumas proposições conceptuais que foram apresentadas pelos representantes da abordagem do Mediterrâneo: • Etnomarketing para as pesquisas de marketing; • Inovações sociais para a inovação de produtos; • Ligações a lugares para a prestação de serviços. Segundo Cova (1997) o etnomarketing procura a ligação entre as práticas de consumo e a imaginação tribal, começando com a ideia de que as pessoas não funcionam em vácuo social sob o impulso de mensagens publicitárias. O significado atribuído aos produtos e serviços está muitas vezes relacionado com as ocasiões e relações sociais, sendo os rituais uma das melhores oportunidades colectivas para afirmar, evocar, ceder ou revisar esses significados. O objectivo do etnomarketing é fixar os elementos de uma natureza imaterial que são imperceptíveis numa situação individual, mas pode ser discernida em situações que ocorrem num clima de confiança estabelecido num período de tempo. Estas situações quando repetidamente decretadas, são rituais criados à volta de objectos ou lugares, em circunstâncias de uso funcional e estético. É esta aura de mistério e sacralidade que costuma dar uma identidade específica, um significado aos objectos ou lugares. Com a rejeição do materialismo e da formatação da vida quotidiana que caracteriza a condição pós-moderna, a busca por rituais e a sua integração na concepção de produtos e serviços podem desempenhar um papel de memória activa de uma sociedade que procura o sagrado. A ecologia das relações humanas, ou seja, a aptidão para definir códigos para um novo ritual de comportamento entre as pessoas, nomeadamente através de objectos e lugares, tornou-se assim um dos principais temas do marketing do pós-modernismo (Badot, 1993). O conceito de inovação sócio-sensível (Gobbi, 1990) ou inovações sociais (Cova e Svanfeldt, 1992), foi proposto para designar o processo através do qual novos significados e novas possibilidades de emoção são introduzidos no sistema do póssocial. As inovações sociais são assim capazes de reunir as tendências sócio-culturais emergentes potenciadas pelas tecnologias. Auletta (2008) refere a título de exemplo, o caso de um jovem executivo que na sua vida diária consome produtos e serviços de - 17 - acordo com o seu papel social no local de trabalho; durante o fim-de-semana pertence a uma tribo de surf, assumindo os padrões de consumo da mesma. Este pequeno exemplo, demonstra a força da análise de que os consumidores vivem experiências diversificadas no âmbito da socialização e de acordo com o papel activo na relação com marcas e produtos que se manifestam como instrumentos do tribalismo de cada um. Para Cova (1997) o credo do marketing tribal é que as pessoas no pós-modernismo não estão apenas à procura de produtos e serviços que lhes permitam ser mais livre, mas também produtos e serviços, que possam vinculá-los a outros, para uma comunidade, uma tribo. Cova (2002) reconhece que grande parte das tribos oferecem excelentes oportunidades para o profissional de marketing exercer relações simbióticas com os grupos de consumidores. Há que compreender a estrutura e a cultura de uma tribo. Com esta aproximação ao consumidor, as marcas conseguem interagir de uma forma eficaz com o seu público-alvo criando e gerindo laços emocionais. O marketing tribal aparece com a finalidade de consolidar os laços existentes com o consumidor. O consumo tornase algo de especial, com um vínculo emocional. O marketing tribal preocupa-se em explorar o lado sentimental/emocional dos consumidores, e não o lado racional. O marketer, para além de fornecer os suportes necessários para o funcionamento da tribo, pode também ajudar na socialização de novos membros, facilitando a comunicação dentro da tribo e apoiando os eventos e outras experiências que sustentam as actividades da tribo (Schouten e Mc Alexander, 1995). O profissional de marketing não deve limitar-se ao simples estatuto de observador não participante, aconselha-se que se envolva com os membros da tribo, partilhe e fomente emoções e experiências, participando também nos rituais. Para Sherry (1995), estes comportamentos são baseados no alto envolvimento emocional com os consumidores e lembram uma antropologia do consumo. Alguns autores evidenciam a importância de métodos como a etnografia orientada para o mercado ou etnomarketing. Esses métodos permitem a observação do significado incorporado nos produtos que é transferido do produto aos consumidores ou como é posteriormente alterado, desviado e destorcido por meio de experiências quotidianas. Os membros das tribos devem ser vistos como parceiros no mercado e não meros actores do mercado. Na busca pela interacção dinâmica com a tribo, as empresas podem - 18 - ser forçadas a adoptar progressivamente algumas das regras e normas da tribo. No entanto, tal traz consequências directas sobre o modo como as pessoas são geridos dentro da empresa, alguns dos seus modos de funcionamento em termos de relações humanas podem ser alterados (Rémy, 2000). Não é apenas uma questão de servir uma comunidade, é também uma questão de ser um membro. Para Cova (2002) é muito mais interessante e socialmente sensível para o contexto social interagir com uma tribo do que dominar os mercados. Aqui, a ideia de parceria entre a empresa e a tribo assume uma dimensão essencial na abordagem a tribos. Se considerarmos uma tribo como um actor capaz de acção colectiva, é então possível incorporar a experiência tribal no modelo de empresa: os clientes são co- impulsionadores da experiência e competências tribais que podem ser mobilizados pela empresa. Há assim o reconhecimento de que as tribos são uma fonte de forças e competências para diminuir as fronteiras da empresa - a tribo não está fora da empresa, é parte da rede da empresa, assim como a empresa faz parte da tribo. Todos os membros da tribo, sejam meros conhecedores, consumidores regulares ou coleccionadores de produtos, nas suas experiências partilhadas de re-apropriação, proporcionam uma experiência colectiva do produto, serviço ou marca, que pode ser muito benéfico para a empresa. Contudo, o profissional de marketing da empresa deve monitorar de modo a que as experiências partilhadas não sejam uma fonte de boatos negativos. Entre outras são de salientar algumas vantagens e desvantagens do Marketing Tribal: Vantagens: - A empresa/marca pode desenvolver uma relação mais emocional e entusiástica com os consumidores; - Os consumidores assumem-se como defensores da marca, os embaixadores; - Poder elevado de um passa-a-palavra positivo e rápida difusão da informação sobre a marca/produto com base nas novas tecnologias; - Forma natural de abordar, envolver e conhecer melhor o consumidor (hábitos, necessidades e desejos). - 19 - Desvantagens: - Pode acarretar investimentos elevados até se conseguir cativar os membros da tribo; - Esforço elevado para as empresas manterem as expectativas de uma tribo face a um produto ou marca; - Um erro ou mau procedimento da empresa poderá significar o abandono da tribo, ou, se um membro desta não gostar do produto vai influenciar negativamente a tribo. As tribos podem co-existir lado a lado com a sociedade de uma forma complexa e entrelaçada, permitindo muitas interacções sociais paralelas. Para Cova (2002) a proximidade entre os entusiastas da tribo obriga as empresas a agir como uma organização voluntária. Na verdade, não há certezas que exista só um sentido: a invasão da esfera social pela esfera do mercado. Pode muito bem haver um movimento inverso: a invasão da esfera do mercado pela esfera social. Cada vez mais as tribos de entusiastas pretendem desempenhar um papel nas decisões da empresa, no que diz respeito à paixão pelo seu objecto. E este fenómeno é susceptível de ter uma nova e maior dimensão com o desenvolvimento da tecnologia. Na Internet, as tribos são estruturadas em torno de uma paixão partilhada e estão a crescer rapidamente (Rauch e Thunqvist, 2000). Segundo Kozinets (1999) as tribos emocionais são algo mais do que apenas "comunidades de interesse" e devem ser cautelosamente consideradas: os consumidores on-line são mais activos, participativos, resistentes, activistas, sociais e comunitários. Para Kozinets (1999) o objectivo não é controlar a informação, mas usá-la com sabedoria a fim de construir sólidos e duradouros relacionamentos. Por exemplo, Cova (2002), citou o caso do francês fabricante do automóvel Citroen que fomenta o seu marketing tribal na Internet para um número seleccionado de 1500 sites de entusiastas da marca, para além do funcionamento e dinamização do seu site institucional Citroen. Ao fazê-lo, a Citroen facilita a experiência emocional dos adeptos além fronteiras. Mas nem mesmo isso pode ser suficiente. As tribos de entusiastas cibernéticos, usualmente, querem participar nas decisões das empresas/marca e podem vir a ter poder para fazê-lo. Se as empresas não quiserem lidar com estas tribos, em algum momento, elas vão ao encontro da empresa. E, estas tribos vão levar a empresa a adoptar a socialização. - 20 - A socialização é uma abordagem que está disposta a estabelecer compromissos mutuamente benéficos entre o mercado e a sociedade, em vez de uma abordagem que visa a colonização de um pelo outro, ou o enclave de um contra o outro. A noção de tribo dá à empresa a oportunidade de desenvolver uma abordagem social, sendo que a empresa não é apenas um simples actor económico de adaptação ao mercado, mas sim um actor social relativamente ao contexto social (Badot, 1993). Para Badot (1993) a Socialização define-se como algo socialmente relevante do ponto de vista do marketing, design, investigação e desenvolvimento. O lema central da Socialização é que a ligação é mais importante do que o objecto – e é claramente perceptível na abordagem de marketing tribal. A ancoragem do esforço na socialização é o suporte e o envolvimento a uma tribo de entusiastas, enquanto o núcleo do esforço de marketing é atender a um mercado (Figura 2.3). Figura 2.3 - Uma Ancoragem Diferente do Esforço Fonte: Cova (2002, p. 614) Segundo Badot (1993) a socialização vê o marketing como o actividade de projecção e concepção de inovações destinadas a facilitar a co-presença e as agregações tribais dos indivíduos: uma espécie de condomínio ou "marketing tribal". Cova (2002) reforça que as oportunidades que existem nos mercados dependem da vontade de se desfazer o pensamento de um marketing mecânico e adoptar-se uma lógica dinâmica, relacional, que se foque no valor da ligação como centro da estratégia - 21 - da oferta. Tal implica constantes pesquisas de mercado e redefinição de estratégias de oferta, e acima de tudo uma abordagem social capaz de considerar a experiência partilhada dos consumidores em tribos, integrando as informações no modelo de negócio da empresa. A Internet permite que as pessoas criem e mantenham ligações entre si, sendo uma poderosa ferramenta para agir em conjunto com as tribos, que sem restrições de tempo e espaço, estão a trazer à tona a necessidade de desenvolver uma abordagem de socialização para se caminhar lado a lado com a tendência crescente de re-socialização dos indivíduos. Cova (2002) afirma que o Marketing Tribal é um dos aspectos críticos da visão Latina, assumindo-se uma visão mais holística do que individualista. O quotidiano é caracterizado pela rapidez da proliferação da informação, pela fragmentação das sociedades, pelo desenvolvimento industrial e comercial. A consequência desta evolução irreversível, é o individualismo. O futuro do marketing passará por oferecer e apoiar um sentimento renovado de comunidade, e assim o marketing torna-se tribal. É o desafio da emergência e interacção com as comunidades. Em termos de consumo, para Cova (2002), a noção de tribos não é particularmente revolucionária. Pode até dizer-se que sempre existiram tribos sob vários nomes (por exemplo, mesmo os Mods, Teddy Boys ou Skinheads dos anos 60 e 70, podem ser designadas de tribos), mas a diferença é que hoje em dia os indivíduos podem pertencer a mais do que uma tribo enquanto noutras anteriores subculturas, tal teria sido impossível (Shankar e Elliott, 1999). Uma outro aspecto a considerar, segundo Cova (2002), reside na dupla identidade pósmoderna dos grupos tribais, que podem ser simultaneamente estruturas de grupo primário e/ou secundário. Assim, como nos grupos primários, os membros estão ligados pela partilhada de experiências concretas da vida quotidiana. E à semelhança dos grupos primários, a própria condição da sua existência é a interacção com outros colectivos, a influência do domínio público através da valorização da emoção compartilhada pelos membros. Os grupos tribais também não são directamente comparáveis com os grupos de referência ou segmentos psicográficos. Por um lado, eles diferem dos grupos de referência na medida em que não se concentram segundo influências normativas do grupo ou dos membros do grupo. Em vez disso as tribos concentram-se na ligação ou elemento de ligação que mantém os indivíduos no grupo. - 22 - As tribos diferem dos segmentos psicográficos pela sua curta duração e diversidade. É justo dizer-se que o tribalismo pós-moderno traduz uma necessidade do indivíduo pertencer não apenas a um, mas a vários grupos simultaneamente, e que a associação tribal não envolve traços de personalidade, mas traduz uma experiência pessoal compartilhada. A abordagem latina desafia também a construção do conceito de lealdade dos consumidores. Assim, os conceitos de marketing um-para-um e o marketing de relacionamento podem ser criticados, segundo Cova (1997): • são conceitos limitados nas tentativas de aproximação dos clientes conhecidos, sem compartilhar alguma emoção entre eles. Eles confundem a proximidade e intimidade, e a base de um serviço ao cliente. Na verdade, cada vez mais as pessoas não querem ser simplesmente o objecto de um serviço individualizado, em termos de personalização de funções. As pessoas pretendem uma ligação personalizada em termos de emoção; • a abordagem de marketing de relacionamento é redutora e míope na forma como assume a designada relação com o cliente. Considerando que a abordagem individualista do marketing de relacionamento visa criar e desenvolver uma relação entre a marca ou a empresa (ou mesmo uma membro da empresa) e um cliente; a abordagem ao marketing tribal opta por recrear e apoiar a relação entre os clientes. Os produtos, serviços, meios físicos, apoios e colaboradores, são dedicados e estimulados a suportar a ligação tribal. Como consequência e para Cova (2002), é possível confrontar uma forma tribal de fidelização de clientes com uma abordagem individualista, isto porque: • a abordagem individualista incide sobre o relacionamento cliente/empresa; a abordagem tribal centra-se na relação cliente/clientes; • a abordagem individualista considera que as posições da sociedade são um pólo da relação; nas posições da abordagem tribal, a empresa surge como um apoio do relacionamento, os membros da empresa, produtos, serviços existem para apoiar a ligação entre os clientes; - 23 - • a abordagem individualista utiliza meios cognitivos como por exemplo, os cartões de fidelidade; a abordagem tribal baseia-se em rituais, comemorações tribais e lugares de culto; • a abordagem individualista desenvolve a lealdade cognitiva, a abordagem tribal visa construir lealdade afectiva. Para Morace (1996) uma tribo é mais do que uma moda ou tendência. As modas e tendências tendem a ignorar as emoções compartilhadas e interacções entre os indivíduos. A principal preocupação do marketing tribal é saber que tribo(s) interessam às acções de marketing. A abordagem do marketing tribal coloca menos ênfase no produto ou serviço, ou mesmo em segmentos de consumidores. Em vez disso, suporta os produtos e serviços que as pessoas valorizam para manter a união de um grupo de pessoas entusiastas ou devotas. Isto inclui portanto, tudo o que fortalece os laços comunitários e promove uma sensação de pertença e de adesão tribal (Cova, 2002). Tal refere-se à contribuição do produto/serviço para a criação e/ou reforço dos vínculos entre os indivíduos. Quanto maior a contribuição de um produto ou serviço para o desenvolvimento e fortalecimento do vínculo tribal, maior o seu valor de ligação (Cova, 2002). 2.5 A Identificação de Tribos A natureza humana leva a conceber organizações grupais motivadas por interesses, opiniões, ideologias políticas, religiosas, éticas, profissionais, ou simplesmente porque existe um interesse, uma paixão que se torna mais forte se for partilhado, divulgado e anunciado. Existem apenas dois aspectos fundamentais para que um grupo possa ser denominado de tribo: um interesse, gosto ou paixão para partilhar e uma forma de comunicação entre os membros desse grupo. É um qualquer grupo de pessoas, independentemente da dimensão, que estão conectados por um líder ou ideia (Godin, 2008). Para Godin (2008) as tribos têm que prosperar, acrescentar valor aos seus membros, serem úteis e terem capacidade de fluir e de espalhar informação. As boas ideias têm que ser partilhadas, melhoradas. Tem que existir um certo comprometimento entre os - 24 - membros. Uma tribo não mede o seu poder pela sua dimensão, até porque existem tribos pequenas, exclusivas, em que o seu poder reside no elitismo e na dificuldade em se ser aceite nessa comunidade. Um elemento de uma tribo motivado e apaixonado pelas suas causas, um verdadeiro fã, consegue persuadir os seus amigos e contagiar quem o rodeia. Para Godin (2008) um verdadeiro fã, de uma marca, produto, ideia, pode ser difícil de encontrar, mas depois torna-se num bem precioso. E bastam poucos fãs para revolucionar o mercado. A abordagem latina do marketing tribal tem rejeitado conceitos como: segmentos de consumidores, nichos de mercado e estilos de vida. Nem atribuem muita importância a grupos coerentes de consumidores, isto porque acreditam que os mesmos são baseados em perfis de consumidores imaginários e improváveis (Cova, 2002). A unidade de referência do marketing tribal é um grupo de indivíduos que partilham semelhantes experiências e emoções, e que se unem e estão interligados em comunidades, tribos. Segundo Cova (2001) a ideia de referência usada na investigação do consumidor do pós-modernismo é a existência de um grupo de indivíduos que partilham experiências e emoções semelhantes, que têm ligações conjuntas, constituindo comunidades – as tribos pós-modernas. Comparando com os segmentos do consumidor, as tribos são difíceis de identificar segundo as variáveis do consumo moderno. As tribos podem ser imprecisas, por isso é necessário iniciar uma ruptura no conhecimento convencional do marketing para compreender as tribos (Cova, 2002). Para Cova (2001) as tribos apresentam particularidades delicadas de quantificar: é difícil medir o que é efémero e orgânico, o que existe hoje com determinadas características amanhã pode estar alterado; as tribos estão em constante agitação e com mais influência na sociedade. As tribos vão mudando as pessoas de grupo em grupo, para sistemas abertos ao qual um indivíduo pertence, sem perceber que completamente integra um novo grupo. Em contrapartida, as pesquisas racionais, analíticas e quantitativas destinam-se a definir o âmbito de um objecto, a descrever as suas características. Deste modo, as tribos não toleram nem sustentam esta abordagem, que se apresenta frágil e desajustada. - 25 - Para Holbrook e Hirschman (1982), os membros de uma tribo surgem pela partilha de experiências de uma dada realidade e não deriva da ordenação do consumidor segundo uma análise quantitativa. Auletta (2008) reconhece que as preferências dos consumidores evoluíram de forma tribal, ao ponto das preferências conhecidas e homogéneas gerarem grupos de afinidade que partilham valores sociais e culturais. Os produtos, serviços, marcas e comportamentos de compra preferidos por um grupo são considerados de proveniência etnocêntrica. Cada membro da tribo comporta-se de forma consistente seguindo os parâmetros das preferências que reforçam o sentimento de ligação e pertença ao grupo. Surge assim a necessidade de ultrapassar os segmentos psicográficos, por vezes forçados a grupos de forte identidade, sentimento e consciência, que representam um verdadeiro substrato social e cultural, sobre o qual as empresas podem basear as suas estratégias, nomeadamente a identidade e notoriedade das marcas. Sendo assim, as tribos de consumidores estão longe das categorias abstractas e tipificadas de segmentação tradicional para darem lugar a uma multiplicidade de grupos sociais em que os membros participam e interagem. O consumo de produtos, experiências e comunicações facilitam as relações sociais e as manifestações dos indivíduos nos diferentes grupos, segundo o papel que desejam desempenhar. Para Auletta (2008) estes grupos chegam a converter-se em tribos, ou até tribos de estilo, quando são partilhados os sistemas de valores que se manifestam em padrões de consumo mediante os quais os membros emitem sinais sobre a afiliação, diferenciandose. As preferências tornam-se assim uma expressão de estilo, desde a componente física visível até um sistema de comunicação único de simbologia descrita nos valores, ideologia, ética, desejos e sonhos. Os membros das tribos podem também expressar o seu estilo diferenciador através da moda (tatuagens, decoração corporal, cor do cabelo), rituais de socialização (música, jogos e entretenimento) e o uso e consumo de marcas com valor simbólico. O papel das marcas pode ser fulcral na definição de certos estilos e valores partilhados, em que a marca se transforma no grande ícone de identidade e identificação da tribo. Cova (2001) apresenta um exemplo que sustenta esta explanação usando como exemplo uma tribo budista, constituída pela partilha religiosa de padrões de consumo. - 26 - O exemplo começa com a questão - Qual a população de Budistas em França? De acordo com o INSEE (Institut National de la Statistique et des Études Économiques France) existem cerca de 600.000 budistas em França. Mas este número o que significa num país onde 45 milhões de pessoas declaram que são Católicas, mas apenas 10% são paroquianos. Aqui reside a grande diferença entre o número de pessoas que constituem o núcleo de uma comunidade, que activamente contribuem para a sua organização e existência, e o total de pessoas que apenas expressam simpatia e que esporadicamente se identificam em certas ocasiões especiais (Le Quéau, 1998). Quantas pessoas serão simpatizantes com o Budismo, aquando das visitas do Dalai Lama a França? Os estudos de mercado do INSEE apenas permitirão uma resposta, contudo, o Budismo não exclui a hipótese de um católico partilhar uma filosofia Budista. Então, quais são as características de uma tribo budista? Para Cova (2002) o conceito de tribo é de extrema importância para o conhecimento do novo consumidor. As tribos não são nem podem ser, directamente comparadas com os designados grupos de referência, uma vez que não se focam em processos normativos do grupo. As tribos concentram-se no estabelecimento de ligações e de simbolismos com significado, que contribuem para manter os indivíduos em grupos. As tribos também se diferenciam dos segmentos psicográficos, devido à sua curta duração e riqueza na diversidade. Segundo Cova (2001) as tribos são instáveis, de pequena dimensão, afectivas, e não propriamente seguidoras ou afectadas por parâmetros pré-estabelecidos da sociedade moderna. São grupos que se mantém unidos através da partilha de emoções, estilos de vida, novos valores morais, práticas e experiências de consumo. É ainda importante ressalvar que as tribos do pós-modernismo traduzem a necessidade de pertença não apenas a um, mas a vários grupos simultaneamente. O membro de uma tribo não está ancorado ou dependente de um conjunto de traços de personalidade, ou dos mesmos valores, mas antes, da partilha de experiências e comportamentos de consumo. É no conceito de segmentação que as tribos se distinguem, não se baseando em aspectos tipificados de características de perfil, mas sim em modos de actuação de compra, segundo as emoções e o significado da experiência como condição para se definirem verdadeiros perfis de motivações e desejos que os profissionais de marketing devem - 27 - conhecer. Um segmento é definido como um grupo homogéneo de pessoas que partilham e possuem certas e determinadas características. O tradicional conceito de segmentação, começa a ficar ultrapassado pelo conceito de tribo. A diferença entre um segmento e uma tribo é que as tribos são grupos de consumidores formados por interesses mais amplos do que os relacionados com a demografia e a geografia. Para Cova (2002) é pertinente fazer uma confrontação que distingue uma tribo de um segmento: • uma tribo é definida como uma rede de pessoas heterogéneas, em termos de idade, sexo, rendimento, que estão ligados/unidos por uma paixão ou emoção, sendo capaz de dinamizar uma acção colectiva. Os seus membros não são simples consumidores, são também embaixadores, prescritores; • um segmento é definido como um grupo homogéneo de pessoas que compartilham o mesmo conjunto de características, não havendo ligação uns com os outros. Um segmento não é capaz de dinamizar uma acção colectiva, visto que os seus elementos são simples consumidores. Para Cova (2002) as tribos surgem de uma experiência partilhada da realidade e não derivam de um perfil tipo do consumidor ordenado com base em análises quantitativas ou de outra forma. Numa segmentação comportamental, os membros do segmento apresentam um comportamento ou atitudes similares relativamente a um produto ou serviço. No entanto, na generalidade os membros de uma tribo opõem-se à segmentação do consumidor, desde que se verifica que um membro de uma tribo dificilmente é descriminado. A adesão a uma tribo dificilmente é discriminatória. As tribos são ainda próximas dos seus clãs, no sentido de que participam no re-encantamento do Mundo e não colocam limites em aceitar pessoas de várias idades, considerando que não há limitações para a partilha de paixões e sua demonstração (Cova, 2001). As tribos são visíveis nos principais mercados e a relevância da sua análise não está limitada à cultura jovem de moda efémera. Existem bons exemplos de tribos que actuam nos principais mercados sem limites de idades dos seus membros, que são exímios entusiastas que formam um verdadeiro culto - Citroen 2CV, Mini Cooper, ou o legendário Ford Mustang. Nestes exemplos encontram-se membros de tribos com - 28 - idades compreendidas entre os 18 e os 61 anos. De facto, um consumidor actual tem maior probabilidade de encontrar tribos baseadas em partilha de emoções do que em aspectos demográficos (Cova, 2001). Uma questão chave é perceber que tribos devem abordar as empresas. Segundo Cova (2001) a perspectiva das pesquisas do consumidor do pós modernismo apresenta uma menor ênfase nas especificidades do produto ou serviço, ou ainda num segmento. Em contrapartida, suporta a importância dos produtos e serviços na manutenção e sustentação dos laços afectivos que mantêm as pessoas entusiasmadas e devotas nas tribos. O que inclui um qualquer sentimento ou acção que fortaleça o sentido de pertença a uma determinada comunidade. Para simplificar as diferenças no uso de variáveis formatadas, o autor usa como exemplo o mítico Citroen 2CV – Quantos são os entusiastas deste modelo de automóvel? Para a Citroen Car Club (o clube oficial internacional), existem cerca de 120.000 membros, mas qual é o significado desta resposta quando existem mais de 500.000 carros ainda em circulação? Ou seja: o 2CV foi lançado pela Citroen no início dos anos cinquenta e foi considerado por muitos um carro feio, e esteve em produção até o final da década de oitenta. Agora assume-se como um objecto de culto. Quantas pessoas se identificam ou simpatizam com o 2CV? E quando, por exemplo, há um encontro especial no Canadá ou na França? A participação nestes eventos dos 2CV não exclui a possibilidade de o indivíduo ser um entusiasta também do carro Beetle. Assim, quais são as características dos membros da tribo 2CV? Quem são essas pessoas que se reúnem, conversam, comemoram este carro feio e velho? São todos homens de idade? Ou são jovens e nostálgicos num mundo perdido? A Citroen Car Club apresenta algumas indicações sobre o perfil dos membros: são pessoas que estão em qualquer lugar entre 18 e 76 anos, são estudantes, trabalhadores de colarinho branco ou aposentados. O vínculo à tribo 2CV, a sua lógica, a partilha de experiências, a interpretação, as representações, os discursos e acções, são conceitos que passam despercebidos através de inquéritos estatísticos. O que os membros da tribo 2CV têm em comum é o prazer de conduzir um carro com uma velocidade máxima de 85 quilómetros por hora e ainda a experiência de se sentarem nele. O que revela uma ruptura com o mundo da alta velocidade. - 29 - Os adeptos dos 2CV são guerreiros de fim-de-semana, da experiência partilhada de quebrar a rotina do dia-a-dia, o que revela ser uma característica bem mais poderosa do que qualquer variável sócio-demográfica explicativa. Segundo Cova (2001) as tribos transmitem sinais com os quais os membros se identificam. No entanto, estes sinais ou mesmo traços de identidade não expressam a totalidade do sentimento de pertença, mas fornecem dicas importantes para o entendimento dos seus membros. Existem pelo menos dois tipos de traços de tribos: os traços temporais e os traços espaciais. Em termos temporais, as tribos emergem, crescem, atingem o zénite, definham e depois dissolvem-se. A lógica subjacente é intemporal e fragmentada. Um exemplo que justifica este traço temporal das tribos, é o caso da música Funky, em que a tribo existe quando ganha vida com as multidões. Os círculos de amigos ou família, os grupos de rock com as suas próprias identidades, dissolvem-se na multidão para o breve momento da sua existência. Todas as diferenças desaparecem por um instante. Mesmo os mais exclusivos círculos de amigos ou família, juntam-se ao fluxo e permitem-se a eles próprios serem arrastados pela enchente. Os eventos e acontecimentos fortalecem a coesão dos membros e demonstra que os mesmos são capazes de organizar algo juntos (Cova, 2001). As tribos ao existirem também podem ocupar espaço físico, traços espaciais. A tribo, ou alguns dos seus membros podem juntar-se para participar em rituais em espaços públicos, locais de reunião, veneração, culto ou comemoração. Para Cova (1999) estes locais podem ser considerados como locais de ancoragem, que podem constituir como um lar para a tribo. Ainda para Cova (2002), estes locais, rituais e reuniões são oportunidades para se reafirmar e reforçar os valores subjacentes do grupo. Os rituais da tribo são uma expressão da pertença social e das crenças compartilhadas. Os encontros sociais e os rituais podem ser apoiados pelo uso de vestuário específico, objectos de culto, imagens ou palavras, ídolos e ícones que se consideram sagrados. Para Maffesoli (1996) as efémeras tribos pós-modernas, precisam de consolidar e afirmar a sua união e estão juntas por algo que facilita a comunicação e suporta um vínculo: um site, um emblema, um ritual de integração ou reconhecimento. - 30 - Mas, nenhum destes traços temporais e espaciais, esgotam o potencial da tribo. Os membros de uma tribo nunca estão sozinhos, pois pertencem de forma física ou virtual a uma vasta comunidade (Maffesoli, 2000). A identificação e o reconhecimento da tribo exige um esforço diferente e especial. O profissional de marketing deve deixar de lado a utilização exclusiva dos meios tradicionais para as suas abordagens e debruçar a sua atenção noutros instrumentos de pesquisa, por exemplo (Kozinets, 1997): • pesquisa documental em jornais e livros sobre tudo o que pode ser dito ou escrito sobre a tribo; • pesquisas em páginas de Internet, blogues, fóruns de discussão - abordagem sugerida e desenvolvida por Kozinets (1997) para o seu X-Philes "Netnography" nos E.U.A.; • entrevistas semi-estruturadas e não estruturadas com membros de uma tribo (focus group); • observação de participantes e não participantes nos locais específicos onde a tribo (ou parte da tribo) se reúnem. Há assim a preocupação em analisar a personalidade, as motivações, os sentimentos da tribo, e em personalizar os produtos/serviços em prol da tribo. Na óptica do Marketing Tribal, os critérios sócio-demográficos tendem a passar para segundo plano. A Figura 2.4 ilustra um trevo tribal onde é possível identificar e tipificar os papéis dos membros de uma tribo. - 31 - Figura 2.4 - O Trevo Tribal Fonte: Cova (2002, p. 606) Na Figura 2.4, a evidência física das tribos está localizada no eixo horizontal (eixo dos vestígios ou evidências). O que inclui, no plano temporal, os momentos de encontro dos membros da tribo que se reúnem para os seus rituais (ocasiões), o espaço físico para os convívios, reunião e espaços virtuais. No eixo vertical (eixo invisível), onde se detectam os sinais provenientes do dia-a-dia (das experiências pessoais e partilhadas), bem como as tendências, modas, fantasias e aspectos da imaginação que borbulham vivamente na sociedade. - 32 - Figura 2.5 – Os papéis dos membros da tribo Fonte: Cova (2002, p.607) Para Cova (2002) a partir desta abordagem é possível conhecer os papéis aprovados pelos membros tribais nas suas relações com os outros. A Figura 2.5 ilustra os diferentes papéis que os membros podem adoptar: - O membro aderente das instituições (associações, seitas religiosas); - O participante em encontros informais (manifestações, acontecimentos); - O praticante que tem participação quase diária nas actividades tribais; - O simpatizante "ou" companheiro de viagem que se move com as modas e tendências e é marginalmente integrado na tribo. O Marketing Tribal pode ter como objectivo alcançar todos os membros da tribo ou ter o foco apenas numa secção transversal. O Marketing Tribal defende a vertente do consumo sagrado em oposição ao consumo mundano pois vivemos numa época em que as necessidades básicas já se encontram minimamente satisfeitas, dando assim lugar a que as necessidades secundárias manifestem o seu poder, daí se considerar um consumo restrito, personalizado, como se fosse um ritual. - 33 - 2.6 As Tecnologias de Informação e Comunicação e as Tribos O desenvolvimento e a evolução das novas tecnologias permitem uma forma de contacto quase real, esbatendo-se assim qualquer barreira geográfica e/ou cultural. Promovem a divulgação, a propagação de mensagem e a forma de interacção dinâmica entre as pessoas. Torna-se mais fácil, espalhar uma mensagem, pensamento e obter o respectivo retorno. Para Godin (2008) a Internet potencia a forma de contacto entre os membros de uma tribo, mas há algo que não pode ser mecanizado, ou substituído – a liderança. A liderança é algo que é individual, fomenta-se de indivíduo para indivíduo e exige uma relação interpessoal. Para o mesmo autor, os indivíduos que comandam, que inspiram os outros, que mudam as regras para melhor, têm tendência a prosperar. É na Internet que as tribos electronicamente se estruturam à volta dos interesses de consumo. As empresas para terem sucesso na abordagem aos consumidores de comunidades virtuais devem ter em consideração que estes são mais activos e perspicazes, menos acessíveis à abordagem individual e valorizam mais a informação cultural e social. A actual revolução tecnológica e de comunicação origina grandes transformações e mudanças sociais. Assim, não existem barreiras geográficas e temporais para o estabelecimento de ligações entre os indivíduos, partilhando-se valores culturais, interesses e afiliações sociais. E, grande parte destas afiliações sociais é baseada nas actividades de consumo, incluindo o comércio electrónico. As tribos electrónicas são de substancial importância para a estratégia de marketing. Para Kozinets (1999) quanto mais os consumidores gravitarem online, maior probabilidade haverá para participarem ou fazerem parte de comunidades online. Uma vez iniciada a conexão e interacção com outros membros online é possível que o individuo se torne num membro recorrente. Estes pontos de encontro têm sido designados com as terminologias de: online, virtual ou comunidades mediadas via computador. Os responsáveis de marketing devem encetar esforços para compreenderem estas comunidades e as oportunidades que podem representar em termos de comportamentos e estímulos para consumo. - 34 - Para Rheingold (1993) o termo mais adequado a usar é o de comunidades virtuais, que são definidas como agregações sociais que emergem da Internet quando certas pessoas geram discussões de ideias, com sentimentos, de modo a se formarem relações pessoais no ciberespaço. O termo «comunidades virtuais», é comummente utilizado para referir grupos online que partilham normas de comportamento com certas práticas, que activamente estabelecem valores morais que intencionalmente geram uma comunidade; ou grupos que simplesmente coexistem pela proximidade Komito (1998). Ainda Carey (1989) reforça que as comunidades virtuais têm que partilhar mais do que mera informação, ou seja, alcançar cerimónias sagradas que mantenham as pessoas unidas e ligadas. Kozinets (1999) sustenta que o termo comunidade é bem utilizado se no seu sentido o conceito de grupo é sinónimo de pessoas que partilham interacções com laços sociais e num espaço de culto ou convívio, seja virtual ou físico. Posteriormente é necessário enquadrar essas comunidades no suporte das novas tecnologias, e com isto fala-se de comunidades virtuais ou e-tribos. As interacções sociais têm sido um forte complemento representativo do comportamento do consumidor actual, conjugado com as informações provenientes dos meios de comunicação tradicional. Os consumidores nas comunidades virtuais partilham com maior facilidade informação sobre o consumo de produtos e serviços, aconselham e prescrevem comportamentos de consumo (Kozinets, 1999). Rheingold (2000) no seu livro sobre as comunidades virtuais refere que as comunidades representam agregações sociais que emergem da Internet quando um número suficiente de pessoas desenvolve opiniões públicas com sentimento e emoção, no sentido de formar uma teia de relações sociais baseadas no ciberespaço. Ainda segundo o mesmo autor, as pessoas em comunidades virtuais usam as palavras para discutir, opinar, participar em discursos intelectuais, trocar conhecimentos e sentimentos, fazer planos, partilhar ideias, criticas, apaixonarem-se, encontrar amigos e perdê-los, jogar jogos, namorar, e quem sabe criar uma arte. Para os milhões de pessoas que foram atraídas para as mais diversas comunidades, a riqueza e a vitalidade do computador ligado a diferentes culturas é atraente, e mesmo viciante. Não se trata de uma única subcultura monolítica on-line, é mais um ecossistema de subculturas, e algumas frívolas. - 35 - Para Fremuth (2003) o termo comunidade pretende designar um grupo de pessoas que se identificam com uma ideia comum e que interagem segundo interesses comuns e visam intensificar relações entre elas. Como tal, estabelecem relações, interagem e comunicam entre si. O funcionamento da comunidade reside bastante na participação e dinamismo dos seus membros. Daí os profissionais de marketing terem que entender sob que estímulos os membros são activados para interagir e participar na comunidade. Os sistemas tecnológicos de suporte das comunidades permitem a interacção e a proliferação das mensagens entre os membros da comunidade, reportando-os para espaços físicos ou virtuais. A implementação de plataformas electrónicas de suporte às comunidades leva a que as pessoas possam comunicar sobre produtos ou serviços, o que visa fornecer informações valiosas sobre o cliente, as suas atitudes e preferências. Segundo Fremuth (2003), os fornecedores de plataformas electrónicas avistaram novas oportunidades para o enriquecimento das suas plataformas através da integração de serviços móveis. Para tal contribuiu o aumento da procura de mais e melhores serviços móveis e os consumidores mostram-se dispostos a pagar mais por comunicações baseadas nas redes móveis. Deste modo, a extensão das comunidades virtuais com serviços móveis pode representar o próximo palco da evolução do fenómeno das comunidades virtuais. Para Fremuth (2003), as comunidades móveis diferem em alguns aspectos principais das tradicionais comunidades virtuais baseadas na Internet: - As comunidades móveis podem ser acedidas através de dispositivos móveis como telemóveis, smartphones e PDA's. - As comunidades móveis oferecem novos serviços de comunicação, possibilitada pelo uso de redes móveis. Na maioria das comunidades virtuais baseadas na Internet o acesso é feito apenas por um computador e internet de conexão fixa. No entanto, a comunidade de membros têm de se sentar em frente ao computador - no escritório ou em casa -, de modo a poder utilizar os serviços de comunicação e entrar em contacto com outros membros da comunidade. Usando dispositivos móveis e serviços de comunicações móveis as pessoas podem obter o benefício de a qualquer hora e em qualquer lugar efectuar a conexão com a comunidade em tempo real. Os dispositivos móveis de última - 36 - geração, permitem a transferência de dados e a sua organização o que leva a uma comunicação mais espontânea e emocional. Para Fremuth (2003) as comunidades móveis tendem a ser pequenos grupos de amigos ou colegas de uma cidade e/ou vizinhança que interagem e comunicam através de serviços de comunicação móvel. Na generalidade, as pessoas usam os serviços das operadoras de comunicações móveis para interagirem com os amigos ou outras pessoas que partilhem interesses e gostos comuns. Para Hampe e Schubert (2006), uma comunidade de comunicações móveis pode ser definida como uma agregação de indivíduos que interagem à volta de um interesse partilhado, onde a forma de contacto é suportada por tecnologias móveis. As comunidades de comunicações móveis podem ser consideradas uma evolução natural das comunidades virtuais. Estas comunidades provêm da equação de soma entre as comunidades virtuais mais um dispositivo electrónico que poderá ser um telemóvel. Através da criação e geração de serviços os fornecedores criam espaços de comunicação entre as pessoas. Estas podem interagir nos espaços de comunicação de forma regular e estável, mantendo-se relações de longo prazo. Perante tal, falamos de uma verdadeira comunidade de pessoas caracterizada pelo âmbito pessoal, regular e com uma comunicação estável entre todos os membros (Fremuth, 2003). Das ferramentas tecnológicas à disposição nem todos os membros interagem da mesma forma, assim há quem apenas utilize o telemóvel para voz, para voz e mensagens de texto, o email, os blogues ou única e exclusivamente as redes sociais na Internet. O importante é entrar em contacto, e cada membro vai privilegiar a forma de o fazer. Os adolescentes vêm o serviço de SMS (short message service) como um verdadeiro "serviço" pessoal, que lhes permite ter uma espécie de "espaço de comunicação privado". As comunidades de comunicações móveis, são altamente motivadas pela interacção e as próprias marcas que as representam alimentam muito do seu dinamismo, proporcionando passatempos, download de músicas, jogos, toques e músicas para o telemóvel (Fremuth, 2003). Diariamente milhões de consumidores estão a tornar-se membros de grupos que comunicam socialmente, trocam informação, criam e codificam significados especiais de grupo, negoceiam as identidades e movem-se entre as interacções da rede virtual. - 37 - Muitos destes grupos são implícita ou explicitamente estruturados à volta de interesses de consumo e marketing (Kozinets, 1999). Segundo Kozinets (1999) as comunidades virtuais de consumo são um específico subgrupo das comunidades virtuais, que explicitamente se centram nas experiências e interesses de consumo. Podem ser definidos como grupos de afiliação cujas interacções online são baseadas no entusiasmo da partilha das experiências e conhecimentos das actividades de consumo. Kozinets (1999) exemplifica que os membros de uma lista de endereços de correio electrónico, que sejam coleccionadores de bonecas Barbie e que recebam informações via email e que interajam entre si, são uma comunidade virtual de consumo. Inicialmente os utilizadores de Internet usam-na para algumas pesquisas e recolha de informação sobre um determinado consumo, apenas para leitura e não para a participação escrita. Posteriormente, com a experiência de utilização da Internet o interesse pela troca de experiências de consumo aumenta. Kozinets (1999) refere que um potencial comprador de um automóvel poderá inicialmente fazer as suas pesquisas na Internet. Contudo, à medida que a sua pesquisa se torna mais sofisticada este potencial comprador vai procurar locais virtuais para trocar e partilhar informações com consumidores de determinado automóvel. Poderá ser uma mera participação, mas este consumidor poderá vir a ser um membro frequente de uma determinada comunidade da marca do automóvel em questão. O conhecimento do consumo é aprendido lado a lado com o conhecimento cultural do grupo online, a sua linguagem específica e conceitos bem como a identidade dos peritos devotos e de outros membros do grupo. A coesão cultural é amadurecida através da partilha de histórias e empatias. O que inicialmente começa por uma pesquisa primária de informação, pode transformar-se numa fonte de compreensão para se estabelecer uma comunidade (Kozinets, 1999). A formação e identificação de um indivíduo como membro de uma comunidade virtual de consumo dependem de dois factores (Kozinets, 1999): o primeiro diz respeito à relação que o indivíduo tem com a actividade de consumo. Ou seja, quanto mais central e importante for a actividade de consumo para o auto-conceito do indivíduo, maior importância terão os símbolos que representam essa actividade de consumo. - 38 - E por consequência, o indivíduo irá valorizar a pertença e participação a uma determinada comunidade que representa o ponto de partilha de uma actividade de consumo. O segundo factor refere-se à intensidade do relacionamento social que os membros estabelecem entre si na comunidade virtual de consumo. Estes dois factores podem estar inter-relacionados, contribuindo para uma definição dos tipos de membros que podem existir segundo o relacionamento que existe com a actividade de consumo e as relações com a comunidade virtual (Figura 2.6) (Kozinets, 1999). Figura 2.6 - Tipologia dos membros de comunidades virtuais de consumo. Fonte: Kozinets (1999, p. 262) De acordo com a Figura 2.6, o primeiro dos quatro tipos de membros é designado por membro turista. Define o membro que tem uma fraca ligação social com os membros da comunidade e que mantém um interesse superficial pela actividade de consumo. O membro sociável define-se como tendo fortes ligações sociais com os membros da comunidade, mas que são pouco interessados na actividade central de consumo. O tipo de membro devoto apresenta um forte interesse e entusiasmo pela actividade de consumo, mas tem poucas ligações com o grupo. Por último, o participante é o membro que tem uma extrema ligação social com a comunidade e um forte vínculo pessoal com a actividade de consumo. - 39 - Os tipos de membro sociável e participante tendem a ser mais sociais e relacionais na comunicação com o grupo. Para estes, a interacção social que se desenrola online é na sua essência um factor de reforço do valor da comunidade. Para Kozinets (1999) estes são os membros alvos para uma estratégia de marketing. Quando os consumidores são devotos a um produto ou serviço tendem a formar ou pertencer a comunidades virtuais de consumo. Em consequência, a comunidade virtual pode propagar o desenvolvimento da lealdade e do consumo frequente através do reforço cultural e social da actividade de consumo (Kozinets, 1999). Esse poderá ser um dos caminhos para levar os membros turistas e sociáveis a participantes e devotos. Segundo Kozinets (1999) na generalidade um membro de uma comunidade virtual de consumo progredirá de um simples visitante para um participante, à medida que aumenta a experiência online e o indivíduo descobre novos grupos cuja experiência de consumo satisfazem a sua necessidade de conhecimentos ou partilha. É importante que os marketers compreendam que a tendência é um modo de interacção simples que começa com uma procura de informação factual e evolui para uma interacção baseada numa mistura de informação factual, social, emocional ou relacional. Kozinets (1999) refere que através do conhecimento das diferenças dos modos de interacção social que ocorrem nas comunidades virtuais de consumo, as empresas podem encetar uma estratégia de segmentação baseada no tipo de interacção. O conhecimento da diferenciação dos tipos de interacção presentes numa comunidade virtual de consumo, permite às empresas uma melhor formulação da estratégia que satisfaça as necessidades dos vários tipos de membros. A crescente influência e diversidade de actividades sociais de consumo das comunidades virtuais, acrescentam uma nuance para a compreensão do comportamento do consumidor (Kozinets, 1999). O Marketing de Relacionamento é uma prática extremamente influente para acompanhar as novas práticas de marketing. A segmentação baseada na lealdade expande o Marketing de Relacionamento para o foco no tipo de relacionamento que o consumidor tem com a empresa. Kozinets (1999) sugere que o relacionamento seja avaliado em termos de lealdade do consumidor e a gestão dos recursos da empresa para potenciar essa relação. O Marketing de Relacionamento virtual tem sido importado do modelo original sem suporte virtual, sendo feito com restrições e assumpções irrealistas - 40 - que ignoram a realidade social das comunidades virtuais de consumo. Em particular, o comportamento do consumidor em comunidades virtuais revela subtileza perante os pressupostos dos consumidores solitários e silenciosos que interagem com a empresa (Kozinets, 1999). Tendo em conta os diferentes tipos de comunidades virtuais de consumo e os seus diferentes membros, pode-se dizer que os membros devotos podem não ser leais a uma comunidade particular, mas sim a uma particular forma de consumo. Kozinets (1999) sustenta que a lealdade pode não ser apenas avaliada em termos económicos de retenção ou mudança, mas também em termos culturais e experienciais que contribuem para a devoção baseada na experiência e emoção. Por exemplo, um membro devoto de uma comunidade virtual de consumo com bastante influência sobre os restantes membros pode mudar a sua devoção de um produto para outro, devido à sua experiência de consumo e justificá-lo publicamente. A sua acção vai causar consequências nas actividades de consumo dos outros membros, a experiência de mudança de um líder vai levar à conversão das atitudes dos outros. Estas mudanças de comportamento colectivas de consumo podem culminar numa divisão de sentimentos de lealdade e desistências no grupo. Segundo Kozinets (1999) somente reconhecendo o membro devoto e influenciador, que tem elevada interacção nas mudanças sociais e informativas, é que os responsáveis de marketing podem estrategicamente lidar com estes comportamentos. A estrutura revisada do Marketing de Relacionamento, contextualizada pela emergência das comunidades virtuais de consumo suportadas pelas novas tecnologias, é designada por “Virtual Comunal Marketing” ou VCM (Kozinets, 1999). Uma VCM é baseada em três variáveis que expandem e acrescentam complexidade às anteriores assumpções que suportam os princípios básicos do Marketing de Relacionamento. Primeiro, os consumidores online não são meros receptores passivos de informações de consumo, mas sim activos criadores. Segundo, o relacionamento das empresas com os consumidores manifesta-se não só como um relação binodal (com uma única ligação), mas também como uma rede de múltiplas ligações, relação multinodal (com várias ligações). Por último, o valor dos dados dos consumidores que se obtêm online não apresentam apenas aspectos unidimensionais, como as vendas ou a demografia, mas sim, aspectos multidimensionais com elevada relevância. - 41 - Alguns conceitos contribuem para a complexidade do Marketing de Relacionamento no contexto virtual. Kozinets (1999), evoca que no mundo virtual, o Marketing de Relacionamento tem sido operacionalizado como uma extensão das potencialidades das tecnologias da informação e da emergência do micromarketing. Com isto, surgem imensas vantagens na utilização do marketing no mundo virtual, nomeadamente no que diz respeito ao enriquecimento da informação das bases de dados. Contudo, esta recolha, análise e armazenamento da informação, apresenta-se numa vertente quantitativa, em que se pressupõe que as preferências, hábitos e características de consumo do indivíduo são estáveis e passíveis de serem codificadas com base nas tecnologias de informação. Assim, o processo de recolha de informação assume um papel passivo no Marketing de Relacionamento (Kozinets,1999). Mas, o cenário actual de consumo apresenta algumas diferenças. Para Kozinets (1999) nas comunidades virtuais de consumo, os consumidores são activos e profundamente envolvidos em articular as suas actividades de consumo. As comunidades virtuais de consumo são constituídas por grupos, que não foram constituídos por simples segmentos provenientes de esquemas de segmentação, mas sim, por grupos que se formam com base na partilha de informação, experiências, modos de consumo e preferências. Os líderes devotos destas comunidades virtuais de consumo estão intimamente envolvidos na definição de padrões e fronteiras do grupo em termos de consumo, e também na criação de boas relações com as empresas cujos produtos são importantes para eles. Na interacção com estes grupos/comunidades virtuais, Kozinets (1999) sugere que o marketer assuma interacções multidimensionais e atenda a uma nova característica importante: a tendência de grupos aparentemente uniformes se dividir em facções. À medida que prolifera o número de utilizadores de Internet e a circulação fácil e rápida da informação, as comunidades virtuais começam a ser o lugar para encontrar os devotos, fãs do consumo de produtos e serviços. São assim, leais, dedicados, influenciadores e utilizadores frequentes do produto ou serviço. Se o acesso parece assim simples, devido às vantagens e potencialidades da Internet, há que considerar que o Mundo virtual apresenta imensa variedade e complexidade de fóruns e locais de - 42 - discussão para a expressão da informação. O maior desafio é lidar com a fragmentação dos grupos (Kozinets, 1999). Os defensores da segmentação baseada na fidelização, diferenciam os consumidores com base no nível de fidelização. No entanto, esta segmentação deve ser baseada também no comportamento e motivações de mudança e retenção. Para Knox (1998) a fidelização é a retenção com atitude. O envolvimento do consumidor na actividade de consumo é que deve estar na base da fidelização do consumidor. Deste modo, o conhecimento detalhado e dinâmico sobre as bases da fidelização do consumidor é vital para todas as relações que se estabelecem com o consumidor (Kozinets, 1999). A segmentação baseada na fragmentação é baseada na consideração de que, embora os consumidores estejam unidos por uma específica forma de consumo, existem ainda outras divisões no seio do mesmo. Ostensivamente, os grupos singulares tendem a tornar-se numa imensidão de nichos, de micro-segmentos, que apresentam como aspecto crucial comum, diversos pontos de diferenciação (Kozinets, 1999). Quando organizados a um determinado nível de interesse, os membros de uma comunidade procuram infinitamente reorganizarem-se segundo facções de identidade. Acima de tudo, uma segmentação baseada na fragmentação, leva a uma maior compreensão sobre a forma como um produto ou serviço está a criar significado para os consumidores e como é percepcionado o acto de consumo entre os indivíduos (Kozinets, 1999). Compreender esta complexidade e diversidade é uma tarefa árdua, mas por outro lado, a recompensa será uma maior clareza na compreensão das bases da fidelização. Segundo Kozinets (1999) uma segmentação sagaz e sensata deve ser repensada. As semelhanças entre as várias facções devem ser analisadas e exploradas de modo a se determinar o grau de heterogeneidade. A riqueza e a importância da informação presente numa comunidade virtual de consumo podem contribuir para o reforço das estratégias de segmentação. As informações recolhidas e disponíveis nas comunidades virtuais, permite que às empresas um enfoque na relação entre a identidade pessoal, social e a marca. Kozinets (1999) revela que a existência de grupos unidos de consumidores no Mundo virtual revela que o poder está a passar dos profissionais de marketing para os - 43 - consumidores. Os membros consumidores de uma comunidade virtual, experimentam uma realidade social de permanente troca de experiências e de informação, novidades, campanhas, ofertas, desempenhos do produto e a história de uma marca. Deste modo, tornam-se verdadeiros activistas, embaixadores da marca. Os consumidores utilizam as suas actividades online para de forma activa julgarem, aprovarem, difundirem as percepções de valor da oferta de uma determinada marca. As empresas devem assim, prestar atenção para a reputação e imagem que têm, e para as mensagens que as acções de marketing transmitem aos consumidores da comunidade virtual. Os resultados desta análise, tendem a ser extremamente importantes, pois permite aferir o tipo de relacionamento que os consumidores acreditam que a empresa tem com eles (Kozinets , 1999). À medida que as comunidades de consumo constroem ligações entre os membros devotos e fieis a produtos e/ou serviços, aumenta o controlo do que sustenta essa ligação. Quanto mais os membros de uma comunidade virtual comunicam entre si através da Internet, mais ousados e importantes se sentem no desafio constante às acções e ofertas das empresas. Quanto mais activistas se tornarem os consumidores, mais dinâmicas serão as suas actividades (Kozinets, 1999). Para Godin (2008), as tribos são o melhor canal de media, com a particularidade de não terem espaços alugados e nem estarem à venda, como os meios tradicionais. As tribos fazem o que acham que devem fazer. Kozinets (1999), refere que o relacionamento virtual em marketing tem sido baseado e guiado pela essência do Marketing Individual, sendo potenciado pelas inovações e valências da Internet. O Marketing Individual refere que cada indivíduo pode ser eficazmente isolado, compreendido mediante uma segmentação eficiente, senso a oferta dirigida, personalizada e customizada. O Marketing Individual apresenta-se bastante conceptual para os dias de hoje porque na realidade social de consumo, os consumidores são uma parte importante de comunidades virtuais de consumo e por isso não podem ser considerados isolados, ou estáticos nos seus desejos e preferências como o Marketing Individual por vezes presume. O conceito do “um para um” no Marketing Individual assume a ideia de existência de dois pólos: o lado da comunicação de marketing e no outro o indivíduo singular. A grande vantagem da criação de redes virtuais, e da monitorização das comunicações e mensagens, deriva directamente da - 44 - capacidade de providenciar uma comunicação não só entre dois pólos, mas sim conexões entre os consumidores (Kozinets, 1999). Com as barreiras geográficas diminuídas e com as potencialidades do acesso ao mundo virtual os consumidores facilmente criam e partilham os seus gostos e preferências, no seio de uma comunidade. É nas comunidades virtuais que os consumidores negoceiam os padrões de consumo, os significados dos produtos e o valor das marcas. No mundo virtual, os responsáveis de marketing das organizações não se dirigem a individualidades, mas sim a grupos, tendo como alvos os membros mais influentes (Kozinets, 1999). É nos espaços virtuais que os membros podem informar outros membros sobre novas funcionalidades dos produtos, as melhores ofertas, campanhas promocionais, novas aberturas de lojas e serviços inovadores. Eles vendem, compram e comercializam. Os consumidores organizados e coesos, representam uma importante procura, e as empresas devem prestar especial atenção à relação com o grupo, mais do que com cada indivíduo. Nas comunidades virtuais os membros não comunicam apenas com um dos membros, mas com muitos membros (Kozinets, 1999). Sherry (1991) refere que a batalha que se tem travado nas últimas décadas tem sido a de que o marketing deve mover-se de uma orientação individual para uma mais cultural e próxima dos grupos e comunidades, entendendo o seu funcionamento. As comunidades virtuais de consumo proporcionam múltiplas oportunidades para que os profissionais de marketing possam ir para além da simples relação binodal (com uma única ligação) com os consumidores. No sentido de melhor se entenderem as necessidades dos consumidores, o consumo deve ser visto num contexto social de relações multinodal (com várias ligações entre consumidores e marcas). Kozinets (1999), sugere que é primordial sensibilizar os peritos, adeptos, fãs, no interior da comunidade virtual, uma vez que estes serão os verdadeiros influenciadores que os profissionais de marketing devem cortejar. O elevado grau de fidelidade destes influenciadores permitirá uma boa adesão/recepção de uma iniciativa de marketing. Os consumidores estabelecem ligações com os símbolos das marcas, atribuem-lhes certos significados e prendem-lhes a atenção. Nas comunidades virtuais de consumo, os - 45 - diversos fãs, devotos, simpatizantes, providenciam e espalham informações e opiniões muito influentes sobre o que torna para eles o consumo especial (Kozinets, 1999). As comunidades online mais fiéis, são aquelas cujos membros exibem uma paixão contagiante pelo consumo de um produto/serviço e contagiam os restantes membros. Isto, quer se trate de objectos coleccionáveis, serviços de beleza/saúde, desporto, celebridades, alimentação ou programas de televisão. Os membros das comunidades virtuais interligam a sua própria identidade com o simbolismo do consumo do produto/serviço que adoram (Kozinets, 1999). Quanto mais os profissionais de marketing conseguirem ligar e conectar os membros de uma comunidade virtual através de significados, ligações afectivas, inspiração e o misterioso sentimento relacionado com a partilha de experiências comuns, maior será a lealdade do consumo dos seus membros. A interactividade que se cria nas comunidades virtuais, pode também contribuir para dar a conhecer as marcas, e proliferar a informação junto dos consumidores. Kozinets (1999) refere o exemplo da marca de óculos e acessórios Baush and Lomb’s, que criou um jogo online, muito idêntico ao conhecido “Trivial Persute”, em que cada participante respondia a questões sobre a história da empresa, produtos e serviços. Os melhores resultados eram premiados com ofertas de produtos e descontos. À medida que o nível do jogo aumentava, mais os participantes se envolviam e partilhavam os sucessos e resultados obtidos. Com esta iniciativa, os consumidores enriqueciam os conhecimentos sobre a marca, e acima de tudo intensificavam a relação afectiva com a mesma. A ideia subjacente à criação deste jogo interactivo, era de facto, permitir à empresa a construção de relações de longo prazo baseadas na atenção e participação de cada consumidor actual ou potencial. Para Kozinets (1999) estas iniciativas permitem que o consumidor partilhe e forneça, de forma natural e quase espontânea, informação qualitativa muito útil que de outra forma não seria fácil obter. A contribuição desta recolha para o conhecimento dos hábitos, preferências e necessidades dos consumidores é assim fundamental. Quando recolhida e integrada na informação quantitativa que muitos softwares online permitem, é possível traçar perfis de consumo muito úteis para definir a oferta e as interacções a implementar com os consumidores. Integrar a informação qualitativa e quantitativa permite também - 46 - conhecer o que pensa o consumidor da empresa, da marca e que experiências têm do consumo dos produtos e serviços. Kozinets (1999) alerta que os vencedores deste novo Mundo virtual competitivo são aqueles que melhor compreendem a revolução das novas formas de comportamento de consumo dos membros das comunidades virtuais. Os profissionais de marketing têm que aproveitar para realizar ligações e parcerias com comunidades poderosas e influentes que se alimentam e desenvolvem em ambientes virtuais. Nas comunidades virtuais, a lealdade é algo que não pode simplesmente ser um dado adquirido, tem de ser algo assegurado e estimulado pela relação com as marcas. Vive-se na era da replicação e transmissão instantânea da informação pelo meio virtual (Kozinets, 1999). A lição que emerge desta nova economia digital é que as redes que se estabelecem são aquilo que gera valor para os seus membros. É o valor da ligação que se estabelece. E é com base nesta ligação e na lealdade que se constrói entre as marcas e os membros das comunidades, que se consegue a distinção da concorrência. Uma relação baseada em afectividade, inspiração e partilha de experiências, dificilmente se replica para outras empresas. Fala-se de percepções e sentimentos que não podem assim ser iguais. Há que tratar os membros das comunidades virtuais como especiais membros de um clube, com regalias e benefícios únicos de modo a se sustentar uma relação duradoura. A possibilidade de recolha de informação multifacetada é uma realidade, mas o objectivo não é controlar essa informação, mas sim, usá-la sabiamente na criação de relações sólidas de longo termo com os consumidores. Com uma recolha de informação segmentada, os marketers estão em posição de dirigir uma comunicação eficiente e direccionada. Contudo, para lidar com comunidades virtuais de consumo, é aconselhável uma postura subtil. Isto porque, construir uma comunidade é uma actividade criativa (Kozinets, 1999). - 47 - 2.7 Conclusão Uma das principais consequências sociais do consumo é a proliferação de múltiplos grupos heterogéneos. Quando esses grupos “respiram” emoções e encontram formas de as comunicar, pode-se estar perante uma tribo. Realça-se o facto de que quando os sinais e mensagens partilhadas entre os membros de uma tribo são superiores àqueles que as marcas transmitem, então um fenómeno tribal poderá florescer. Fala-se do poder das emoções partilhadas que reforçam os valores de ligação, bem como todo o modo de actuação, desde a forma de consumo até à forma de identidade física. O poder de proliferação e prosperidade vai para além do simples «passa a palavra». O denominado marketing tribal tem assim uma importante função: converter um acto de consumo material em algo sagrado e comunal, em torno da ligação dos indivíduos. O reforço das emoções e o poder partilhado entre consumidor/consumidor, ascende a uma esfera superior ao invés dos esforços relacionais de empresa/consumidor. O conhecimento dos traços e comportamentos tribais dos consumidores permite às empresas a personalização das mensagens e da oferta. As novas tecnologias potenciam a relação entre os membros da tribo e dos mesmos com as organizações. Assim, dado o aparecimento de tantos grupos de diferentes dimensões, com cariz mais ou menos efémeros, tornou-se aliciante passar à prática no sentido de aferir se muitos grupos que foram designados por pseudo tribos, poderão de facto assumir essa caracterização. - 48 - Capítulo III. – Questões de Investigação e Modelo de Análise 3.1 Introdução Após a revisão da literatura apresentada, procede-se à elaboração do modelo de análise que tem por objectivo contribuir para uma resposta às questões levantadas. As questões de investigação são apresentadas na Secção 3.2 e na Secção 3.3 é apresentado o modelo de análise e a sua fundamentação. 3.2 Questões de Investigação Da revisão da literatura concluiu-se que embora prolifere a diversidade de investigação na área das tecnologias de informação e comunicação, se verifica que ainda há lugar para, de forma integrada e contínua, perceber as razões e o modo de interacção no âmbito das tribos. O presente trabalho destina-se a aferir e a identificar traços e características tribais em dois casos de estudo definidos. Deste modo, para a concepção do modelo foram definidas as seguintes questões de investigação que se encontram inter-relacionadas: Q1 - Quais as principais razões de adesão a uma comunidade assente em TIC‟s? Q2 - Como interagem os membros/participantes da comunidade assente em TIC‟s? Q3 - É possível considerar uma comunidade assente em TIC‟s uma tribo? De forma a dar resposta às questões de investigações procedeu-se à elaboração do modelo de análise que a seguir se descreve. 3.3 Modelo de Análise De acordo com a literatura revista, desenvolveu-se um modelo de análise conceptual que tem como objectivo avaliar se os membros de comunidades assentes em TIC‟s nos casos de estudo apresentam características e traços tribais nas suas formas de interacção. O modelo de análise concebido é composto por três partes que procuram dar resposta a cada uma das questões de investigação identificadas. Assim, o modelo presente na - 49 - Figura 3.1 inicia com a pesquisa das razões que levam as pessoas a aderirem às comunidades assentes em TIC‟s; na etapa seguinte, procura-se conhecer as diversas formas de interacção que se desenrolam entre os membros. Na terceira etapa pretendese aferir se as comunidades assentes em TIC‟s seleccionadas se integram num fenómeno tribal. Após a análise dos dados recolhidos, está-se em condições de avaliar se as comunidades assentes em TIC‟s estudados apresentam traços tribais, permitindo encará-las como tribos. Figura 3 1 – Modelo de Análise Fonte: Elaboração própria - 50 - Parte I - Razões O factor impulsionador da interacção entre os indivíduos inicia-se com a identificação e partilha de um sentimento, opinião e emoção comum, o que leva a uma propagação da informação, sem barreiras físicas (Cova, 2002). Existe assim um elo entre as pessoas fundamentado na ligação social, socialização, de quem pretende expor as suas opiniões e sentimentos. A socialização reporta para a necessidade de o indivíduo expressar e assumir sentimentos/atitudes perante os outros. O indivíduo do pós-modernismo, como ser independente nas suas escolhas, e sem regras de parâmetros padronizados e socialmente aceites, deposita um forte sentido à vida com base no consumo que exterioriza (Firat e Venkatesh, 1993). A Escola Latina do pensamento pós-moderno atribui um papel social para o marketing, tendo sido este responsável por preencher o pós-vacuo resultante da falta de comunidade entre os indivíduos. Assume-se assim uma visão de marketing presente num vector de ligação da comunidade. Um produto ou um serviço, pode vir a desempenhar um papel social de apoio às comunidades, representando assim um suporte para a co-presença e afiliações sociais (Cova, 1997). A interacção entre os membros de uma tribo é envolvida numa vertente relacional, constituída por uma rede de pessoas heterogéneas que estão ligadas por uma paixão ou emoção, capazes de mobilização colectiva. Os membros estão ligados pela partilhada de informação e experiências concretas da vida quotidiana. Na procura da ligação valoriza-se a emoção e a informação compartilhada pelos membros, Cova (2002). Parte II – Formas de Interacção As razões da ligação social remetem para a seguinte etapa do modelo, a segunda questão de investigação: as formas de interacção dos membros. Há a considerar dois aspectos vitais para a criação de uma tribo: um interesse, gosto ou paixão para partilhar; e ainda uma forma de comunicação entre os membros (Godin, 2008). Se existe a expressão dos sentimentos, invariavelmente surge a forma de expressão através de formas de comunicação. Ao serviço desta vontade de partilhar e prosperar surgem os diversos instrumentos potenciados pelas novas tecnologias. Os suportes tecnológicos - 51 - favorecem a proliferação da informação, a Internet permite o contacto permanente entre os membros, desde que a tecnologia esteja disponível e acessível (Kozinets, 1999). Eliminam-se as barreiras geográficas e temporais para o estabelecimento de ligações entre os indivíduos. Quanto mais os consumidores marcarem uma presença online, maior será a probabilidade de participarem ou pertencerem a comunidades online. As interacções sociais suportadas pelas novas tecnologias favorecem as trocas de experiências e a recomendação de consumo entre as pessoas. Torna-se certo e facilitado que é nos espaços virtuais que os membros podem informar outros membros sobre novas funcionalidades dos produtos/serviços, ofertas, campanhas promocionais. São os próprios membros que se tornam os responsáveis por vender, comprar e comercializar os produtos/serviços (Kozinets, 1999). Através da utilização de dispositivos móveis e serviços de comunicação móvel, as pessoas podem obter em qualquer momento e em qualquer lugar uma conexão com a comunidade, com o benefício de informação em tempo real (Fremuth, 2003). Os utilizadores de dispositivos móveis encaram esse dispositivo como o instrumento de acesso a uma rede restrita, construída por eles e para eles. A interacção tem também lugar no espaço físico, e o grau de envolvimento pode ser manifestado pelos membros através dos simbolismos, rituais e objectos/lugares de culto. A abordagem tribal refere a manifestação do envolvimento em comemorações tribais e convívios em lugares de culto. Assim, alguns membros de tribos podem juntar-se para participar em rituais em espaços públicos, locais de encontro, culto ou comemoração, de forma a se reafirmarem e reforçarem os valores de união do grupo. Os encontros sociais e os rituais podem ser apoiados por simbologia própria: uso de vestuário específico para o ritual, objectos de culto, imagens ou palavras, ídolos e ícones sagrados (Cova, 2002). Parte III – Fenómeno Tribal As tribos são constituídas por grupos de pessoas heterogéneas que se unem por uma paixão comum ou partilha de sentimentos e informação. É o grau de envolvimento que motiva a comunhão entre os membros e pode ser demonstrado através de simbolismos físicos ou manifestações em lugares de culto e convívio. Os membros das tribos não - 52 - impõem limites em aceitar pessoas de várias idades, não há limites para a partilha e demonstração de emoções. A adesão a uma tribo não se revela discriminatória. As tribos têm que prosperar e acrescentar algo de especial e valorizado pelos seus membros. Tem de existir uma ou mais formas de comunicação entre os membros que rapidamente espalham as suas emoções e informações. As mensagens não se dirigem a unicamente um membro, mas sim a vários membros, o que é possibilitado pelas potencialidades das tecnologias que levam à ausência de barreiras físicas e temporais. Os membros de uma tribo são entusiastas e podem tornar-se verdadeiros embaixadores das marcas, promovendo de forma espontânea e credível os produtos e serviços. O consumo das tribos é considerado um consumo quase sagrado, o que revela a ligação existente entre os membros e permite a partilha de experiências de consumo. Os membros de uma tribo são livres de pertencerem a mais do que uma tribo e as tribos apresentam um carácter efémero e instável. Tal leva a que a intensidade da relação seja mais forte enquanto a tribo se mantém unida e dinâmica. Os membros das tribos valorizam o valor e o significado da ligação que os unes, acima do valor material dos produtos e serviços. Em suma e passando à análise e interacção dos factores determinantes da concepção do modelo, pretende-se no capítulo seguinte, exemplificar com um estudo empírico, a presença ou não de traços e características tribais em duas comunidades seleccionadas. - 53 - Capítulo IV – Metodologia 4.1 Introdução Neste capítulo é justificada a escolha da metodologia (Secção 4.2) e é apresentada a explicação sobre a operacionalização do estudo, desde a selecção à recolha e análise de dados (Secção 4.3). 4.2 Estudo Empírico A metodologia sugerida para este estudo é de natureza qualitativa, uma vez que se estudam aspectos emocionais e motivacionais do indivíduo. Kozinets (2002) indica que existem vários métodos de pesquisa à disposição dos investigadores. Os métodos qualitativos são particularmente importantes para revelarem os desejos, preferências, gostos, escolhas e decisões mais intrínsecos dos consumidores. Refere ainda que um dos maiores propósitos das investigações em marketing é identificar e compreender os gostos, preferências, desejos, o processo de decisão de compra individuais e de grupo. No entanto, com a emergência da Internet e das redes que se podem criar baseadas nos desenvolvimentos tecnológicos, surgem novas oportunidades orientadas para as interacções dos consumidores com o mercado, e também novas formas para os investigadores em marketing conhecerem os gostos, desejos, preferências que os consumidores partilham no meio virtual. Um método bastante utilizado é a entrevista em grupo, designada por focus group, que consiste em entrevistas de grupo focadas em determinados conceitos de estudo. Os estudos qualitativos permitem a identificação de fenómenos e variáveis que num futuro poderão ser alvo de estudo mais profundo, ou até mesmo dar lugar a um estudo quantitativo. Estes estudos apresentam também um carácter exploratório e descritivo para o caso em que se pretende abordar temas para os quais ainda não se possuem muitos dados. Neste tipo de entrevistas o ambiente descontraído e informal pode levar a que os participantes num momento de descontracção revelem de facto as opiniões e sentimentos relativos a um determinado tema a estudar. - 54 - 4.3 Operacionalização da Metodologia 4.3.1 Focus Group As entrevistas de grupo, designadas por focus group são uma das ferramentas dos métodos qualitativos que permite conhecer e recolher as opiniões e motivações do indivíduo, que de uma forma quantitativa não seriam conhecidos de forma natural. Dada a natureza do tema e a necessidade de fazer o encontro de opiniões de indivíduos aderentes a comunidades específicas e de os confrontar com comportamentos de adesão e participação/interacção, optou-se pela entrevista de grupo. Uma das limitações desta técnica é o facto de poder ser vista como um algo intrusa e/ou inibidora. A escolha dos elementos participantes no focus group foi criteriosa, de modo a proporcionar um à vontade e identificação de todos. Pretendeu-se que a boa integração fosse sinónimo de opiniões e comentários sinceros e reveladores das verdadeiras motivações e sentimentos dos indivíduos. Contudo, não deixa de ser um instrumento de pesquisa sujeito a enviesamentos e a interpretações complexas dos dados. 4.3.2 Recolha dos Dados Após a decisão da realização de recolha de dados por focus group, tornou-se pertinente identificar os potenciais participantes. Deste modo, e pela facilidade de acesso a jovens representantes dos utilizadores das comunidades dos casos escolhidos, procedeu-se à apresentação do estudo junto dos alunos do ISCAP – Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto e da FEP – Faculdade de Economia da Universidade do Porto. Assim, após a identificação dos participantes que preenchiam os requisitos (idade e participação nas comunidades de estudo), procedeu-se à convocatória nas datas de realização da recolha de dados. Dados esses de natureza primária, o que conferiu e permitiu ao estudo alguma flexibilidade na adaptação do tema às respostas que se iam obtendo. Procurou-se sempre que a condução do focus group fosse sempre interceptada pelo modelo de análise definido. Todavia, mesmo privilegiando-se a espontaneidade e a - 55 - interacção dos participantes, as entrevistas de grupo foram orientadas por um guião de entrevista (Anexos 1 e 2) que sofreu pequenos ajustes consoante o caso de estudo. O guião de entrevista serviu de base e orientação para a moderação do tema, no entanto não foi rigorosamente seguido quanto à ordem das questões formuladas, mas revelou-se fundamental para definir os temas chave a abordar. Pretendeu-se também dotar a recolha de alguma informalidade e não da sensação de uma entrevista estruturada. A interacção e a espontaneidade dos participantes levou a que muitas vezes a ordem das questões fosse alterada em benefício da riqueza da informação. As entrevistas foram todas gravadas em sistema áudio (3h de conversação total), com a prévia autorização dos participantes, pois teve-se a preocupação ética de informar os participantes envolvidos sobre todos os procedimentos, objectivos do estudo e seus contributos. A investigadora no papel de entrevistadora, assumiu uma postura de dinamizadora do tema no sentido de estimular ao máximo as respostas dadas, contribuindo para a interacção e discussão no grupo. A recolha de dados decorreu em duas sessões de entrevistas de grupo, uma no dia 25 do mês de Março às 8h30 no ISCAP, e outra no dia 28 de Abril às 14h30 na FEP. A amostra apresentou um carácter intencional e não aleatório. A participação numa das comunidades dos casos de estudo e uma idade entre os 18 e os 25 anos, serviram de requisitos para a selecção dos participantes. Considera-se uma amostra representativa para a validação dos dados em questão, mas sem a propósito de generalização ou representação da população total. O primeiro focus group foi constituído por estudantes da Licenciatura em Marketing do ISCAP, com idades compreendidas entre os 19 e os 24 anos e aderentes a pelo menos uma comunidade de comunicações móveis. Estavam presentes 5 raparigas e 5 rapazes. O segundo grupo de participantes era constituído por 7 elementos do sexo masculino, 3 alunos da Licenciatura em Marketing do ISCAP e 4 alunos da Licenciatura de Economia da FEP. Todos os elementos eram participantes activos em pelo menos um fórum de discussão online. Após a recolha dos dados segue-se a análise que representa a interpretação dos conteúdos obtidos pelo registo da comunicação e mensagens transmitidas pelos participantes no estudo qualitativo. - 56 - 4.3.3 Análise dos dados Após a recolha dos dados obtidos nos dois focus group e o registo via suporte de áudio, procedeu-se à audição de toda a informação em diferentes momentos de avaliação. Primeiramente, registaram-se as informações mais relevantes do focus group das comunidades de comunicações móveis e de seguida passou-se à aferição do modelo de análise nas três partes que basearam este instrumento de trabalho. Posteriormente, procedeu-se ao registo das informações contidas no segundo focus group, o dos fóruns de discussão online, e aferiu-se as variáveis do modelo de análise com os dados obtidos. 4.4 Conclusão As metodologias empíricas foram consideradas as mais adequadas devido ao facto de ser um estudo com variáveis comportamentais. A selecção dos elementos participantes dos focus group realizou-se com base na proximidade e facilidade em recrutar os candidatos. Todavia, teve-se em consideração o perfil dos candidatos seleccionados de acordo com as comunidades em estudo. A experiência revelou-se produtiva na recolha de informação e decorreu com naturalidade tendo sido gravada em áudio. - 57 - Capítulo V – Análise dos Resultados 5.1 Introdução Neste capítulo serão analisadas e descritas as informações recolhidas e observadas com a realização dos estudos empíricos de duas comunidades assentes em TIC‟s. O primeiro caso de estudo é sobre os membros de comunidades de comunicação móvel, representadas pelas comunidades Yorn Extravaganza, Tag e Moche (Secção 5.2.1). O segundo caso, analisa os membros de diversos fóruns de discussão online (Secção 5.3.1). Após um breve enquadramento, serão analisadas as variáveis do modelo de análise em cada um dos casos de estudo propostos. No final deste capítulo (Secção 5.2.3) é apresentado um quadro resumo comparativo. 5.2 As Comunidades de Comunicação Móveis 5.2.1 Enquadramento As comunidades de comunicações móveis apresentam uma adesão elevada junto das pessoas que lhes reconhecem uma forma de comunicação baseada em suportes tecnológicos com soluções inovadoras de acessibilidade e conectividade. Os jovens revelam ser um dos públicos com maior propensão à adopção de novos produtos e serviços de telecomunicações móveis. Em Portugal existem três comunidades de comunicações móveis suportadas e geridas pelas principais operadoras de telecomunicações: Tag (Optimus), Yorn Extravaganza (Vofafone) e Moche (TMN). Neste trabalho, o primeiro caso de análise refere-se a estas comunidades de comunicações móveis que emergem dos serviços fornecidos por operadoras de comunicações móveis. Segue-se uma breve descrição das características e funcionalidades oferecidas por estas comunidades de comunicações móveis aos seus utilizadores. A comunidade de comunicações móveis designada por TAG é gerida e promovida pela operadora de telecomunicações Optimus. É uma oferta única de serviços e funcionalidades dirigida a um público jovem que usufruir de uma panóplia de vantagens - 58 - nas comunicações, tendo como contrapartida um fee mensal. Por apenas 10€ por mês os aderentes à comunidade TAG beneficiam de comunicações ilimitadas: voz, vídeo, sms, mms e messenger sem qualquer limite de tráfego. O valor mensal obrigatório representa ainda o valor do saldo para comunicações fora da comunidade. A comunidade constituída por membros aderentes usufrui também de uma multi-plataforma que suporta todos os meios de interacção desde a Internet ao dispositivo móvel. A adesão ao serviço é efectuada através da activação de um cartão da operadora que pode ser adquirido em qualquer loja Optimus. Caso o utilizador já seja cliente Optimus basta uma mudança de tarifário através dos meios habituais. Existe um site exclusivo desta comunidade (www.optimustag.pt) onde todos os aderentes podem interagir com os outros membros, criar páginas pessoais com informações e fotografias, partilhar informações, participar em blogues e ficar a par das últimas novidades e passatempos. É um espaço virtual que promove espaços de expressão e partilha A comunidade TAG assume-se como a primeira comunidade em Portugal integrada com o telemóvel e a internet. O Yorn Extravaganza é uma comunidade gerida e promovida pela operadora de telecomunicações Vodafone. A marca Yorn destina-se às gerações mais jovens e irreverentes (adolescentes e jovens adultos) e ficou conhecida pelas promoções originais (Insólitos Yorn) e uma imagem de marketing irreverente. O Yorn Extravaganza oferece chamadas, sms, mms e videochamadas ilimitadas para todos os membros da comunidade e ainda acesso gratuito ao Messenger, por um fee mensal de €9,98. A adesão pode ser feita através da aquisição de um cartão ou pela simples mudança de tarifário. O valor mensal obrigatório representa ainda o valor do saldo para comunicações fora da comunidade. É através do site (www.yorn.net) que os membros interagem com a comunidade e podem participar nos diversos passatempos, acedendo às recentes novidades e campanhas. O Moche é uma comunidade gerida e promovida pela operadora de telecomunicações TMN. Os membros da comunidade Moche têm à disposição comunicações ilimitadas de voz, um limite semanal de SMS e MMS, Messenger gratuito, por um fee mensal de €9,90. O valor mensal obrigatório representa ainda o valor do saldo para comunicações fora da comunidade. O Moche disponibiliza também um site (www.tmn.pt/moche) onde - 59 - os membros podem ficar a par das novidades da comunidade, participar em passatempos e campanhas. Todas as comunidades apelam a uma política de utilização responsável por parte dos seus membros. 5.2.2 A Interpretação dos Dados 5.2.2.1 Motivações Os elementos seleccionados para este primeiro focus group apresentavam afinidades entre si e a interacção dos elementos foi muito espontânea. As razões que levam os participantes da entrevista de grupo a aderirem às redes de comunicações móveis em análise, são diversas mas muito homogéneas entre si. As pessoas procuram de facto um meio ou espaço para o convívio, em qualquer lugar. No entanto, a experiência de utilização da rede de comunicações móvel leva ao uso corrente dos serviços disponibilizados e ao contacto permanente com os membros do grupo. Grande parte dos participantes indicou que tiveram conhecimento da comunidade por intermédio de amigos ou acções promocionais das marcas, como se pode constatar nas seguintes afirmações: Tomei conhecimento desta comunidade por intermédio de amigos” - Flávia “Eu soube desta rede numa festa do Moche e os cartões eram oferta” – Ana Rita “Já faço parte da Extravaganza desde o início, há cerca de 3 anos” – Luís “Só tenho o Moche por necessidade, tem vantagens e os meus amigos estão lá” – Ana “Uma amigo meu estava a fazer a promoção do Extravaganza e como eu já era da Vodafone, aderi..era grátis” – Vasco Pretendem estar sempre contactáveis com a rede de amigos e família, com uma noção clara da relação preço/qualidade, considerando que é uma forma económica de poderem falar com qualquer amigo. Conseguem ter cerca de 200 contactos no telemóvel. - 60 - A grande vantagem de presença e utilização desta comunidade prende-se com a poupança económica de numa única plataforma e por um valor mensal aceitável, poderem estar contactáveis com uma rede privada de pessoas. Refire-se rede privada, visto que os indivíduos analisados relatam que são selectivos na rede de amigos e que apenas constam nessa rede pessoas das suas relações de amizade ou família. Uma outra motivação para estarem numa das comunidades de comunicações móvel baseou-se no facto de ser uma moda e algo que têm que acompanhar para se sentirem integrados socialmente. Seguem-se algumas afirmações dos participantes. “Nunca excedo os 10€ por mês nas chamadas. Claro que é rentável falar com tantos amigos por um valor mensal fixo” – Tiago André “Eu antes já gastava 10€ por mês, por isso agora gasto na mesma e falo com mais pessoas” – Ana “Eu tenho 200 contactos na minha rede…no mínimo! E estou em contacto com os meus amigos 24h por dia” – Sílvia “Estou nesta rede pelo dinheiro, os amigos e a comodidade. Afinal toda a gente pertence a pelo menos uma comunidade, por isso eu também tinha de ter” – Flávia Os elementos deste estudo revelam alguma racionalidade quanto à relação com os membros da rede, ou seja, mantêm-se na rede porquanto for a permanência dos amigos. Estão dispostos a mudar de comunidade se os amigos mudarem, o que revela uma ausência de emoção nas razões da ligação com c comunidade em si. Grande parte dos membros da rede são amigos e/ou familiares. Os amigos são jovens e pertencem à escola, à infância, são amigos recentes da mesma faixa etária. Alguns participantes afirmaram que raramente falam com pessoas fora da rede, porque tal representa um custo extra. Assim, as comunicações de voz são um recurso privilegiado na comunicação, que quase sempre ocorre com os elementos da comunidade, pelo facto de ser uma chamada sem custos. Os participantes revelam que apreciam muito mais a funcionalidade/utilidade da comunidade da qual fazem parte do que o valor da ligação entre os membros, pois consideram que se não comunicarem através de dispositivos móveis da comunidade em questão, o fariam de qualquer outra comunidade. Caso a - 61 - marca mudasse de nome e as condições de tarifário e utilização se mantivessem, os participantes revelaram pouca preocupação quanto a esse facto, o que leva a depreender que a ligação à marca é muito baseada na funcionalidade. Alguns elementos demonstraram simpatia e alguma autenticidade nas comunicações das marcas, revelando alguma identidade quanto a isso, no entanto estão conscientes de que se tivessem que pagar mais pelo mesmo serviços abandonariam a marca, desde que os amigos também. Constata-se pelas seguintes afirmações: “Eu estou mais ligado às funcionalidades da rede, essas é que não podem mudar…e também estou ligadas à marca, sempre fui Vodafone. Mas quando me deram um cartão Moche, e eu tinha amigos também nessa rede fiquei com dois telemóveis” – Ana Rita “Não tenho ligação nenhuma à marca, apenas às condições, ao melhor tarifário” – Sílvia “Só o trabalho de mudar de rede e os meus contactos não mudarem, faz com que eu não mude” – Tiago André “Eu estou nesta rede pelos meus amigos, se mudar depois não posso falar com todos” – Vasco “Sou muito selectiva a aceitar novas pessoas no meu grupo, tenho que conhecer as pessoas primeiro” – Sílvia “Uso a rede para falar só com os amigos, e depois só dou o meu número para pessoas que eu conheço” – Ana Rita “A única coisa que me mantém na Extravaganza é porque os meus amigos estão lá, mas se fossem Tag, eu também seria” – Joana “Eu mudaria, se fosse melhor e mais barato, não vou perder dinheiro” – Ana “Todos têm Extravaganza, é barato e assim evito mandar sms, posso ligar sempre, enviar fotografias…são essas as principais razões para não desistir desta rede” – Vasco - 62 - A principal ligação à rede é a facilidade de comunicação com os membros do grupo por um custo que quase todos consideram justo. A ideia de que utilizam os serviços de forma responsável também foi quase partilhada por todos. As razões de permanência na rede prendem-se muito também com o grupo de amigos já estabelecido. A maioria dos participantes afirmou que não aceita qualquer pessoa para a sua rede, tem sempre de existir uma relação de amizade entre ambos. É através dos dispositivos móveis e das suas funcionalidades que os membros se mantêm actualizados dos acontecimentos diários dos amigos, e assumem conversas e sentimentos quase privados nesta comunidade que lhes concede poder para aceitar ou recusar elementos. 5.2.2.2 Processo de Interacção Os membros assumem total dependência pelo contacto permanente com a rede de membros, passam bastante tempo nos contactos via chamadas de voz ou sms. Todos foram peremptórios que pela utilização dos serviços de chamada de voz e sms ilimitados conseguem ser mais próximos dos membros da comunidade, expressar melhor os sentimentos e estar a par do dia a dia, dos afazeres de cada membro. Os dispositivos móveis servem mesmo para isso, para partilhar experiências do dia-a-dia, e nem tanto para partilhar as emoções ou experiências de utilização de produtos, serviços e/ou marcas. Os serviços mais utilizados são as chamadas de voz e as sms, alguns utilizam também o envio de imagens e fotografias. Muitos participantes referiram que têm serviços no telemóvel que nem sequer utilizam. Os diversos participantes não fazem muito a interacção entre os serviços dos dispositivos móveis e as páginas pessoais na Internet disponibilizadas pelas operadoras. O que se verificou é que muitos elementos já tinham outras páginas pessoais noutras redes sociais e não se sentiram motivados a aderir a outra rede social na Internet. Relatam-se algumas afirmações relevantes: - 63 - “Eu tenho mais jeito para escrever sms do que para falar” – Joana “Mando 100 sms por dia, mas à noite falo mais” – Sílvia “Alguma coisa que esteja acontecer no momento na rua, eu fotografo e mando para os meus amigos, ou relato por sms” – Bruno “Eu só partilho os acontecimentos do dia a dia” – Ana Rita “Há muitos amigos que são mais próximos por telemóvel do que depois no café” – Ana “É tão fácil e barato dizer qualquer coisa a alguém, que falamos sempre de qualquer acontecimento…ou às vezes só por falar” – Flávia “Eu até mando mensagens de bom dia e boa noite aos meus amigos, se fosse a pagar nem dizia nada” – Flávia “Eu uso a rede para saber onde os amigos andam.. não tenho paciência para conversas longas” – Vasco “No meu trabalho até uso o telemóvel para saber em que piso estão os meus colegas” – Ana O único meio de comunicação utilizado são os suportes tecnológicos à disposição, no entanto, prevalece o uso dos dispositivos móveis com ou sem acesso à internet. Não se verificam manifestações com presenças físicas em lugares de convívio ou os designados lugares de culto. O convívio não ocorre como exteriorização do simbolismo da ligação entre os membros, ocorre apenas por motivos circunstanciais motivados pela mera amizade. Não há lugar à celebração da união. No que diz respeito ao simbolismo, verifica-se que os membros não compartilham nenhum objecto ou forma de vestir que revele a devoção à comunidade. Apenas os dispositivos móveis servem de elo de ligação e simbolicamente podem representar o objecto comum, no entanto, não é um objecto suficientemente revelador do grau de envolvimento dos membros. Segue-se uma afirmação: “Só o moche tinha um ritual, que depois passou rápido, era fazer moche, saltar aos amigos…de resto não conheço mais nenhum” – Ana Rita - 64 - 5.2.2.3 Dimensão Tribal A dimensão tribal integra um conjunto de conceitos interligados que traçam a presença de características tribais nas comunidades, segundo o modelo de análise. No caso concreto das comunidades de comunicações móveis os membros analisados revelaram algum distanciamento quanto à presença de características tribais. No caso da heterogeneidade na aceitação de membros, verifica-se que não há lugar a integrar na comunidade novos membros que não tenham qualquer grau de conhecimento, amizade ou parentesco com os demais. A aceitação de membros não se baseia na experiência, no valor de ligação, na capacidade de o novo elemento prosperar na tribo, ou na emoção a partilhar por algo comum. A aceitação é baseada num conhecimento prévio e não pela vontade expressa em compartilhar alguma emoção, paixão ou experiência. Não aceitam pessoas com idades fora da faixa etária dos membros da comunidade de comunicações móvel. Os membros participam na comunidade porque são conhecidos de algum dos membros, têm uma forma de comunicar e partilham simples e mera informação quotidiana, de acordo com as seguintes afirmações: “Só tenho família e amigos na minha rede” – Sílvia “Na minha rede só tenho amigos e só dou o meu número a quem conheço” – Luís Verifica-se que existe de facto uma forma de comunicação (dispositivos móveis), ainda que restrita a um determinado grupo; contudo, o valor da ligação não se baseia num interesse comum, gosto ou paixão, mas sim, em conversas informais típicas da idade dos membros da comunidade, sem que exista o intuito de prosperar. O facto de o meio de comunicação ser um dispositivo pessoal e algo privado leva a que se crie quase uma comunidade privada com total controlo do seu detentor. A simbologia partilhada é reduzida ou mesmo nula, exteriormente cada elemento não utiliza qualquer tipo de símbolo ou adereço que os identifique com a comunidade, veja-se algumas das expressões dos participantes: “Não me sinto ligada à rede, só aos amigos” – Joana “Eu não faço promoção gratuita à rede” – Ana - 65 - Os encontros são baseados em convívios combinados e/ou esporádicos em locais de lazer, diversão e escola. Alguns elementos revelaram que pertencem a mais do que uma rede de comunicações móvel, pelo facto de quererem manter as mesmas vantagens de comunicações com os diversos amigos das diferentes operadoras. Os elementos têm a noção de que não precisam nem se sentem pressionados ou motivados para adquirir mais serviços das operadoras promotoras da comunidade de comunicações móveis, o que revela uma clarividência quanto à utilidade limitada ao essencial para se manterem contactáveis. O grau de envolvimento é muito limitado à amizade e aos interesses que a comunidade restrita partilha. As conversas partilhadas são baseadas na amizade e não se manifestam úteis, ou capazes de acrescentar valor aos membros, como se constata nas seguintes expressões: “Estou mais ligado à rede pelos amigos, a marca e o nome da rede não me diz muito” – Vasco “Eu sou fiel ao que dá jeito…falar sem limites” – Tiago “Falo mais com as pessoas agora porque sei que não pago, às vezes são conversas da treta” – Sílvia “À noite os meus amigos estão sempre a perguntar onde é saída e depois encontramo-nos” – Vasco “Confesso estou nesta comunidade 90% por utilidade e 10% por emoção” – Ana “Eu acho que no meu caso é 95% de utilidade” – Ana Rita Curiosamente, mesmo sem o conhecimento prévio dos conceitos por parte dos participantes, questionou-se se se consideravam uma tribo. As respostas foram um pouco contraditórias, segundo as seguintes afirmações: “Eu acho que não somos uma tribo, aquela coisa de estar ligado pelas experiências não existe muito, temos a amizade pelas pessoas” – Tiago André “Podemos não ser uma tribo, mas penso que temos hábitos sempre iguais, eu mando sms às mesmas pessoas a desejar boa noite…é um ritual diário, as tribos têm rituais” – Vasco “Se um grupo de amigos for uma tribo, então eu tenho uma tribo pequenina, mas não sei bem quem é o chefe” – Ana - 66 - 5.2.3 Síntese De modo a tornar esta análise mais sucinta, a Tabela 5.1 apresenta uma síntese dos dados mais importantes. Comunidades de Comunicações Móveis Motivações - Os amigos sugeriram ou já estavam numa das comunidades. (Porquê?) - Moda ou necessidade de presença e participação em grupos. - Forma de comunicação económica com contrapartidas na utilização dos serviços das operadoras de telecomunicações. - Manter um grupo restrito de amigos em contactos permanentes, utilizando os serviços disponibilizados pelas operadoras. Interacção - Dispositivos móveis (voz e sms). (Como?) - Os encontros são casuais e não representam manifestações do valor da ligação entre os membros. - São nulos os simbolismos entre os membros. Dimensão Tribal - Existência de requisitos à admissão de novos membros. - Interacção baseada na racionalidade e comunidade sem capacidade para prosperar com a informação partilhada. - Apenas aceitam novos membros da mesma faixa etária e que sejam conhecidos e/ou amigos de alguém. - As informações partilhadas são simples, triviais e não dizem respeito a opiniões, paixões ou sentimentos por algo. O grupo não prospera. Tabela 5.0-1 - Comunidades de Comunicações Móveis: Síntese Após esta síntese dos dados recolhidos no focus group das comunidades de comunicações móveis, segue-se a análise dos dados recolhidos no focus group dos fóruns de discussão online. - 67 - 5.3 Os Fóruns de Discussão Online 5.3.1 Enquadramento Os fóruns de discussão online são locais de encontro no meio virtual para pessoas que compartilham um interesse similar e que estabelecem contacto com outras pessoas através de mensagens publicadas. Nestes espaços virtuais de encontro é habitual desenvolverem-se conversas sobre produtos e marcas, que se revelam muitas vezes fundamentais para o estabelecimento da ligação com os outros, sem se assumir um carácter muto invasivo e abusador. As conversas de tal carácter são muitas vezes a única razão para que uma pessoa participe num fórum. É frequente encontrar nos fóruns questões como: «Alguém sabe qual o melhor pneu para …?»; «Como se programa a instalação de…?»;«Qual o melhor livro para …?». Os utilizadores de fóruns partilham opiniões, sentimentos, experiências sobre produtos/serviços de modo a poderem contribuir e acrescentar informação útil para qualquer pessoa que por estar naquele fórum, à partida, terá interesse pelo tema do fórum. Outros utilizadores poderão apenas pretender partilhar paixões e encontrar compatibilidade com pessoas com os mesmos interesses. O importante é a interacção com pessoas com gostos e preferências similares, que no limite acrescentem valor ao produto/serviço, mas que acima de tudo propiciem a ligação entre os indivíduos, sem qualquer barreira física ou temporal. Normalmente os temas de discussão indicam que as pessoas procuram informações (ou estão num processo de prospecção) sobre produtos/serviços Na verdade muitos dos temas de discussão revelam que as pessoas estão no decurso de um processo de investigação à procura de mais informações para decidirem uma compra, outros temas podem ser meras opiniões sobre diversos temas de preferência ou da actualidade. Os fóruns online permitem gerar espaços altamente segmentados. Usualmente os fóruns são organizados por categorias e tópicos de discussão com informação específica. A página principal do fórum apresenta uma lista de tópicos de discussão de acordo com a temática em questão. Ao aceder a um tópico, qualquer utilizador encontra uma lista de tópicos de discussão dentro dessa categoria. Qualquer membro pode iniciar um tópico - 68 - de discussão através de uma mensagem publicada no fórum, colocando uma questão para o grupo ou simplesmente começando uma conversa sobre uma determinada área de interesse. Os membros podem acrescentar informações à discussão da temática, colocar as respostas e as conversas fluem desta forma. As mensagens publicadas podem ser arquivadas e permanecer no histórico do fórum. Qualquer utilizador, apenas visitante, pode ler as mensagens e navegar no fórum, no entanto, para começar a participar na conversa é necessário efectuar o registo. Neste processo é criado o perfil do utilizador, que pode incluir informações diversas e pessoais que se pretenda partilhar. Os fóruns podem ainda ter a figura de um "moderador" que é geralmente alguém influente e um membro activo do fórum. Tem a responsabilidade de gerar conversas moderadas, monitorar a actividade do fórum e remover mensagens não autorizadas, por exemplo, de cariz comercial. Os administradores dos fóruns são os responsáveis por estabelecer as próprias regras e directrizes para a participação. Têm também a autoridade para expulsar utilizadores, de modo a manter o fórum com temas e participações de interesse. 5.3.2 Interpretação dos Dados 5.3.2.1 Motivações Os participantes deste segundo focus group rapidamente socializaram e interagiram entre si, parecia que o requisito de participação em fóruns de discussão os tornava mais aptos a se relacionarem com pessoas que partilhavam um interesse comum. Participavam em fóruns de discussão das mais variadas temáticas: jogos online, música, desporto (futebol e ciclismo) e de marketing. Têm conhecimento dos fóruns por pesquisas que fazem na internet sobre os temas que querem explorar ou por publicidade online existente nos principais sites, como retratam as seguintes afirmações: “Fico a conhecer que existem os fóruns por pesquisas na Internet” – Manuel “Por vezes clico em banners sobre os temas que interessam e entro nos fóruns” – Bruno “Procuro mais os fóruns para tentar encontrar opiniões de outras pessoas, uso muito o Google para isso” – Luís - 69 - As razões da participação revelaram-se emocionais, em que a vontade e o desejo de partilharem emoções, opiniões e recolher informações junto de outras pessoas interessadas pela mesma temática, foram dominantes. Há assim uma motivação de procura e partilha de pessoas que partilhem os mesmos gostos, opiniões ou experiências. Destaca-se uma necessidade de socializar com pessoas que fisicamente podem nunca se conhecer, mas que interagem porque têm de facto aspectos comuns que pretendem partilhar. Mesmo no caso de membros com opiniões contrárias, os participantes da entrevista de grupo assumiram que gostam de se debater com essas pessoas, desde que se estabeleça uma contra-argumentação fundamentada e educada. Um aspecto importante é a credibilidade das mensagens e opiniões que levam a que se inicie a interacção. Essa credibilidade é muitas vezes atribuída pelo próprio site do fórum que elabora um ranking das pessoas que colocam o maior número de mensagens no fórum. Caso contrário, os participantes do focus group afirmaram que tinham em conta o perfil da pessoa e os próprios comentários. Veja-se as seguintes declarações: “Se estivermos minimamente a par do tema do fórum é fácil interagir com as pessoas que estão no fórum” – Miguel “Falo com muitas pessoas nos fóruns” – Manuel “Só falo com pessoas que tenham interesses e gostos comuns aos meus” – Ricardo “Pela forma como as pessoas escrevem, expõem os seus pontos de vista, de modo mais ou menos agressivo, pelos argumentos, dá para perceber que tipo de pessoa poderá estar do outro lado” – Miguel “Não, não há requisitos para falar com as pessoas… até porque o perfil nem sempre diz tudo, por isso o que valorizo mais é aquilo que escrevem” – Luís “Eu estou ligado alguns fóruns pelas opiniões e experiências que as pessoas partilham, há até fóruns que classificam a credibilidade dos comentários, o que dá seriedade” – Luís “Há algo que nos liga às pessoas dos fóruns, que é o gosto comum por qualquer coisa, mas depois fora disso tenho o meu grupo de amigos” – Miguel “Não é credível participar num fórum de heavy metal com um username Madona”- João Paulo - 70 - Alguns temas dos fóruns revelaram-se mais entusiasmantes que outros, ou seja, os fóruns de futebol e de música são bastante emocionais e as diversas conquistas e derrotas dos vários clubes levam a conversas de raiz emocional. As temáticas de música revelaram clara evidência na partilha de emoções, experiências com as bandas de música preferida, opiniões sobre o percurso dos músicos e novos lançamentos. No focus group realizado, dois dos elementos eram fiéis participantes em fóruns de música, em diferentes estilos musicais. A música é envolvida em sentimentos e emoções que são transmitidas aos ouvintes, daí ser um tema bastante emocional, onde a paixão pelos músicos e bandas se torna central nas opiniões dos fóruns. É nestes espaços virtuais que se partilham as últimas novidades, os mais recentes trabalhos musicais e se começam a formar opiniões, sentimentos, a prosperar informação e a reunir movimentos de contemplação aos músicos e bandas. É no fórum que se comunicam informações sobre concerto, lançamento de um álbum ou sessão de autógrafos dos músicos. É nos fóruns de discussão online que muitos membros tomam as suas decisões de compra ou informam-se e analisam as características e benefícios de produtos e serviços. Salienta-se assim uma clara evidência da procura de informações e experiências sobre os mais variados temas, que são muitas vezes a base de muitas decisões de compra, seja de produtos/serviços, gostos musicais, afiliação a grupos desportivos, etc. Salientam-se as seguintes expressões: “No fórum de carros, ando sempre a ver as opiniões publicadas, ainda da última vez para comprar uns pneus fui pelas opiniões mais frequentes sobre uma determinada marca” – Luís “Uma vez numas pesquisas sobre técnicas de guitarra encontrei umas dicas muito importantes e depois fiquei ligado a esse fórum” – João Paulo “As opiniões das pessoas nos fóruns influenciam-me muito a comprar produtos. Eu depois vou ao fórum publicar as minhas experiências sobre aquilo que comprei. É muito interessante esta troca de experiências” – João Paulo “Antes de comprar um jogo, há sempre alguém que já o experimentou e vou ao fórum recolher experiências e opiniões” – Bruno - 71 - Para os fóruns de jogos e videojogos, a experiência partilhada é baseada na performance dos jogos e nos resultados obtidos, podendo até gerar-se um ranking dos melhores resultados. Tal, revela uma clara intenção de os participantes do fórum partilharem resultados e muitas vezes dicas para ultrapassarem dificuldades de jogo ou mesmo problemas de instalação das aplicações. É nesse ponto de encontro virtual que se discutem as melhores tácticas e os jogos mais inovadores. É um fórum em que a própria temática origina aconselhamento quanto à aquisição de determinados jogos ou tácticas para se tirar o maior partido dos jogos. Atente-se às seguintes afirmações: “Nos fóruns de videojogos somos mais contidos, mas num de futebol acho que há mais emoções” – Pedro “Nos fóruns há sempre temas que são mais emocionantes, mas depois as pessoas começam a envolver-se, mas por exemplo nos videojogos as temáticas são mais técnicas, acho eu” – Pedro Os participantes revelaram que sentem uma maior probabilidade em encontrar pessoas no fórum para partilharem afinidades por determinada temática, do que com os colegas e amigos do quotidiano. Perante a questão, de definirem o fórum de acordo com uma cidade ou aldeia, alguns elementos consideraram o seu fórum uma cidade, com membros de todo o mundo, de várias nacionalidades. A titulo de exemplo, o participante de um fórum de música assemelhou o seu fórum à cidade de Tóquio, grande, cosmopolita e acima de tudo confusa e com enorme diversidade de gostos e influências. O participante do fórum de jogos online, assemelhou o seu fórum a uma aldeia, em que todas as pessoas se conhecem e existe espírito de união. Quanto à situação de encontrar uma animal que descreva a comunidade que já estabeleceram no fórum, os diversos membros foram peremptórios em encontrar animais afectivos ou pouco agressivos, o que denota a relação afectiva que nutrem pelos membros do fórum com os quais de identificam e já estabeleceram um vínculo, como se constata nas expressões e afirmações: - 72 - “O meu fórum de música se fosse uma cidade seria Tóquio, porque tem pessoas de todo o Mundo… é cosmopolita, muito confuso… e tudo acontece muito rápido” – João Paulo “O meu fórum seria uma aldeia, porque toda a gente fala com toda a gente, e nas aldeias é muito assim, fala-se com todas as pessoas. Na aldeia há mais proximidade do que na cidade” – Pedro “O meu fórum de futebol seria um animal feroz, um tigre por exemplo” – Bruno “O fórum de ciclismo seria um gato, porque é bastante afectivo e pacífico, e não há rivalidades neste tipo de fóruns” – Manuel “Nos fóruns de música, o animal seria um cão…tanto pode estar muito meigo, como de repente fica nervoso e inquieto… tudo depende do que cada um diz lá” – João Paulo 5.3.2.2 Processo de Interacção A interacção com os diferentes membros é uma constante desde que a compatibilidade de gostos e perfil se verifique, onde quer que estejam os membros e independentemente da nacionalidade. O meio privilegiado e quase diário de comunicação é baseado em tecnologia, seja com a internet no computador ou via dispositivos móveis. O fórum é sempre o melhor elo de ligação virtual, revela-se um espaço de interacção que permite a expressão pessoal de ideias e opiniões e pode sempre ser consultado. Algumas interacções entre os membros podem evoluir para outras formas de interacção como por exemplo através do telemóvel ou convívios em espaços físicos. Seguem-se as afirmações mais relevantes: - 73 - “Já me aconteceu falar durante uns tempos com uma pessoa num fórum, partilhávamos imensas opiniões e só depois viemos a descobrir que éramos da mesma faculdade” – Manuel “Num fórum que eu participo de videojogos, começamos cerca de 20 pessoas e fomos poucos durante algum tempo, também era um jogo muito específico” – Pedro “Tenho um amigo que acabei mais tarde por descobrir que já falava com ele num fórum há muito tempo e quando estamos juntos nunca falamos do fórum, só online” – Luís Para além da comunicação de carácter virtual, verificam-se manifestações físicas de convívio que variam de acordo com a dinâmica da comunidade e com a emocionalidade do tema do fórum de discussão. Os participantes em fóruns de música sentem que já têm uma verdadeira comunidade online de amantes do estilo de música que assumem como favorito, de acordo com a expressão de um participante nota-se essa devoção. “A música consegue prolongar mais as emoções, porque depois de se ir a um concerto estamos semanas no fórum a dizer o que vivemos e sentimos” – João Paulo Os membros desses fóruns encontram-se em para assistir aos concertos e eventos das bandas que seguem, podendo considerar que estes encontros representam espaços de contemplação e adoração. Os membros definem entre si um dress code ou a utilização de certos simbolismos para assistirem aos concertos, o que facilita a identificação dos elementos e a identidade perante os demais. Tal reforça a ligação entre os vários elementos da comunidade. É muito frequente ficarem apenas a conhecer as pessoas fisicamente nestes momentos de convívio. Os próprios músicos das bandas participam nesses fóruns, o que gera maior consistência na proximidade entre os fãs e os artistas. - 74 - É nos fóruns que os músicos ficam a conhecer a opinião dos fãs quanto a novos lançamentos, letras das músicas e performance em espectáculos. Muitas vezes os artistas fornecem informações em primeira mão somente para os fãs dos fóruns. Esta possibilidade cria assim maiores laços de ligação entre os membros do fórum que partilham entre si a euforia das informações. Partilham os sentimentos que os ligam a um estilo musical/banda e fazem assim o vínculo de ligação com os demais membros do fórum. Verifica-se nas seguintes afirmações: “Nos fóruns de música, encontro-me com as pessoas nos concertos, às vezes é só mesmo aí que as conheço fisicamente” – João Paulo “Num fórum de música heavy metal que eu pertenço há muito o espírito e sentimento de comunidade, há união, e temos muito simbolismo na forma de vestir e de estar. Isso sempre existiu, agora temos a forma de comunicar online que permite estar perto de muito mais gente” – João Paulo “Nos fóruns de música os concertos são o nosso lugar de culto, sem dúvida. É um ponto comum de encontro para quem gosta daquela música” – João Paulo “É através dos fóruns que partilhamos as nossas opiniões sobre os concertos de música, e falamos com a organização e os próprios músicos, sobre a luz, o som e as músicas” – João Paulo “Há por vezes eventos de música que nem são bem os meus preferidos e eu vou para estar com as pessoas do fórum, porque sei que é uma forma de partilhar ainda mais experiências e opiniões, e acima de tudo para conviver” – João Paulo “Há bandas que criam os fóruns para encontrar informação e opiniões sobre as músicas… é também a partir daí que muitas bandas ficam a saber que musicas as pessoas gostam mais e em que cidades vivem, para depois justificarem vir a certos países” – Miguel “Nós sentimos que temos muita influência naquilo que as bandas de música têm que adaptar para nos agradarem, porque somos os primeiro a comentar e a expressar o que sentimos… e acho que eles ficam agradecidos… assim conseguem medir o que fazem” – Miguel - 75 - Quanto aos participantes de fóruns de desporto, os eventos desportivos são também um local de comemoração para o encontro da comunidade que já iniciou uma ligação por interesses comuns no respectivo fórum. É através dos simbolismos físicos, como o uso de cachecóis, t-shirts e demais objectos dos clubes que os membros se conseguem identificar e se mostram perante a sociedade. Após estes encontros os membros do fórum confraternizam, socializam e reforçam a sua união. Consideram-se as seguintes afirmações: “No fórum de futebol costumamos ver quem são os membros da cidade do Porto e depois organizamo-nos para irmos ver os jogos” – Pedro “Quando ia ao futebol, sem conhecer de lado nenhum a pessoa que se sentava ao meu lado, falava sempre com ela sobre o jogo e mantínhamos conversas ferrenhas porque tínhamos uma paixão comum, nos fóruns é igual, só que usamos a internet e não há no imediato a presença física” – Miguel “No fórum de ciclismo as pessoas de cada cidade por onde passa o evento “Volta a Portugal” organizam-se para verem a prova, é uma forma de se conhecerem e de conviverem” – Manuel De um modo geral, as formas de contacto são realizadas via internet com a publicação de interesses, opiniões, sentimentos e experiências de vida ou consumo nas temáticas dos respectivos fóruns, contudo, após o encontro físico pode estabelecer-se um relacionamento fora do ambiente virtual. 5.3.2.3 Dimensão Tribal A aceitação de pessoas no fórum para a troca de impressões não se baseia em critérios demográficos ou geográficos, mas sim na sintonia e compatibilidade das opiniões e da coerência da participação dos membros no fórum. Deste modo, torna-se condição de interacção a forma como os participantes do fórum expressam as suas opiniões e experiências. Assim os participantes podem aceitar na comunidade membros bastante - 76 - heterogéneos e deslocados geograficamente, pois o importante é o contributo que cada um traz para enriquecer o fórum e a credibilidade que transmite nas experiências que partilha. Mesmo podendo-se consultar o perfil dos membros dos fóruns, os participantes regem-se pelo valor das opiniões e pela credibilidade das mesmas, bem como no histórico das mensagens dos membros. Não se verificam demais restrições pelo que a comunidade revela-se heterogénea quanto à composição dos membros. Assim, desde que um utilizador tenha uma paixão, opinião, experiência para partilhar está apto a interagir no seio da comunidade. Privilegia-se a capacidade de cada membro acrescentar valor à comunidade, sem qualquer restrição ou limitação quanto a idade, nacionalidade ou estilo de vida. Quanto maior a compatibilidade de interesses, maior será o grau de envolvimento das pessoas na interacção com a comunidade. Verifica-se a existência de heterogeneidade no perfil dos membros. Salientam-se os excertos mais relevantes: “Os fóruns acabam por ser um meio de divulgação que eu valorizo mais, porque é a experiência das pessoas que conta, e não é o que está escrito por uma marca nas revistas ou na televisão” – João Paulo “As opiniões das pessoas que estão há mais tempo nos fóruns dão me mais confiança do que aquelas que chegam e dizem logo uma coisa muito acertada” – Ricardo “Há uma paixão comum que nos une, mas somos mais ligados a um grupo de utilizadores específicos… aqueles que têm um ponto de vista mais parecido com o nosso” – Pedro “No futebol é frequente haver muitas trocas de opiniões que não são válidas, mas se houver alguém que até publique uns comentários interessantes, dá para perceber que quer mesmo trocar experiências e não entrar em rivalidades” – Bruno “Eu respondo aos comentários de qualquer pessoa, desde que valorize aquilo que ela diz... às vezes se discordar ainda gosto mais de interagir, gosto de mostrar o outro lado das coisas” – Miguel “Também há fóruns que votam nos comentários das pessoas e depois há uns mais bem cotados do que outros, e as pessoas gerem a confiança com base nessas votações” – Manuel - 77 - Os participantes partilham e escolhem com querem trocar emoções, opiniões e interesses sobre uma determinada temática, e para tal, baseiam-se numa forma de comunicação – a internet – acessível e disponível a qualquer momento. O facto de existir um ponto de encontro virtual permite a interacção que se torna assim pública aos membros presentes na temática do fórum. Veja-se a seguinte afirmação: “A interacção com o fórum começa sempre por curiosidade de tirar dúvidas sobre alguma coisa ou ler umas opiniões sobre alguma coisa, e depois o envolvimento vai aumentando se acharmos útil relacionarmo-nos com as pessoas de lá” Manuel Uma situação que se verifica é que numa comunidade aparentemente uniforme e unida podem verificar-se situações de existência de facções que insurgem contra as opiniões publicadas e experiências de consumo. Torna-se simplificado o processo de tomar partido de qualquer tema de discussão que esteja a ser debatido e surgem deste modo divisões que não são alheias ao conceito de tribo. Destacam-se as sequentes afirmações: “É frequente haver sub-grupos porque os fóruns podem ter muitas pessoas, nós é que depois temos que interagir com aquelas que nos dizem mais, com quem nos identificamos” – Manuel “As divergências de opiniões nos fóruns são saudáveis, se alguém criticar a minha banda de música preferida e não for um comentário válido, eu gosto sempre de intervir para dar os meus argumentos. E se calhar depois até é a pessoa com quem fico a gostar mais de conversar” – Miguel O encontro e a reunião das pessoas ocorre de forma espontânea sem regras estabelecidas, desde que exista algo a acrescentar à comunidade. Os seus membros encontram-se em posição de influenciar, espalhar a informação e fazer os membros do fórum prosperar. - 78 - É o local ideal para que à distância de um clique se possam partilhar experiências e por exemplo, desempenhos e expectativas da utilização de produtos/serviços, como descrevem as expressões: “A recomendação nos fóruns é muito valiosa” – Manuel “Os fóruns enriquecem-nos” – João Paulo “Nos fóruns acaba-se quase por criar uma família e podemos expressar o que achamos sobre diversas coisas” – Bruno Através dos encontros em concertos de música e eventos desportivos, os membros partilham o simbolismo que impera em cada temática, desde o tipo de roupa ao look geral. Verificou-se também a presença de rituais e uso de expressões comuns antes e durante os encontros nos locais referidos como de culto por determinada temática, seja música ou futebol. Estes acontecimentos vêm assim reforçar o valor da ligação e o envolvimento entre os membros, que de forma mais assídua e fervorosa partilham as emoções desse momento com os membros da comunidade do fórum, como exemplifica a seguinte expressão: “Há um sentimento de comunidade, de união” – Manuel Constatou-se a presença de sentimentos, opiniões e experiências que são partilhadas pelos membros da comunidade com a finalidade de acrescentar valor e fazer prosperar a comunidades e os seus membros, como demonstram as expressões: “Tudo começa com uma opinião comum e depois vem o grau envolvimento que queremos ter no futuro” – Manuel “Tudo começa com um interesse, gosto em comum e no limite pode acabar numa amizade para além do fórum” – Manuel “Os fóruns às vezes parecem uma segunda realidade, tenho os meus amigos no dia-a-dia e depois tenho ali uma comunidade virtual que sei que têm gostos e opiniões a partilhar” – Luís - 79 - 5.3.3 Síntese A Tabela 5.2 apresenta uma descrição sintetizada sobre os dados recolhidos. Fóruns de Discussão Online - Encontrar pessoas com gostos, paixões e interesses comuns. Motivações - Partilha de experiências e busca de novas informações e conhecimentos diversos. (Porquê?) - Necessidade de socializar com outras pessoas. Interacção (Como?) - Utilização de suportes tecnológicos como a internet e dispositivos móveis. - Presença em locais considerados de culto para o convívio e manifestação de interesses e sentimentos, como por exemplo: concertos, festas de lançamento de bandas musicais e eventos desportivos. - Simbologia utilizada para a identificação e comemoração da comunidade, representada nomeadamente por estilo de roupa e adereços. - Os membros acrescentam valor à comunidade. Dimensão Tribal - Aceitação de novos membros sem requisitos formais. - Membros com perfil heterogéneo. - Convívio no espaço físico para reforço da ligação à comunidade, o pode ocorrer em locais públicos. - Simbolismo ao nível do vestuário e adereços para identidade e identificação da comunidade. - Partilha de experiências, emoções, opiniões, paixões que existem segundo o grau de envolvimento e o valor da ligação à comunidade. - Necessidade de fazer a comunidade prosperar na sua utilidade e valor emocional. Tabela 5.2 - Fóruns de Discussão Online: Síntese Após esta análise, apresenta-se de seguida um quadro comparativo dos dados recolhidos sobre os dois focus group realizados: comunidades de comunicações móveis e fóruns de discussão online. - 80 - 5.4 Resposta às Questões de Investigação Após a análise individual da informação recolhida em cada focus gruop, torna-se primordial responder às questões de investigação propostas. Apresenta-se de forma esquematizada nas tabelas 5.3, 5.4 e 5.5, os resultados da metodologia empírica com a resposta a cada questão de investigação. - 81 - Q1 - Quais as principais razões de adesão a uma comunidade assente em TIC’s? Objectivo Averiguar as motivações e estímulos para a presença dos membros numa comunidade assente em TIC‟s. Resultados Socialização Verifica-se que a comunidade de comunicações móveis (CCM) estudada se baseia num conceito de grupo restrito de amigos e familiares que interagem segundo factores racionais de custo/benefício. A união do grupo através das funcionalidades dos suportes tecnológicos é apreciada num contexto de vantagens oferecidas pelas operadoras de telecomunicações móveis. Estes membros pretendem manter um contacto permanente com o grupo restrito numa perspectiva de utilização vantajosa. Por seu turno, os membros dos fóruns de discussão online aderem à comunidade com a intenção de encontrar pessoas fora do seu círculo de amigos e família. Com isso pretendem encontrar pessoas que se assemelham e unem pela emoção, paixão e experiências que os temas dos fóruns online podem proporcionar. Apresentam uma necessidade de socializar com outras pessoas (conhecidas ou não) num único espaço de fácil acesso. Partilha de informação Na CCM a troca de informação é muito incipiente, uma vez que partilham acontecimentos do dia-a-dia, trivialidades partilhadas com o grupo restrito e que não contribuem para que a comunidade possa prosperar e acrescentar um valor significativo aos seus membros, ao contrário, aliás, do que se constata nos fóruns online. Os membros dos fóruns online interagem no sentido de acrescentar valor e prosperar de alguma forma ou área de interesse. Verifica-se a partilha de experiências e informações sobre produtos/serviços, em que alguns membros são vistos com autoridade para recomendar certas utilizações e desempenhos dos produtos/marcas. As informações partilhadas são, por vezes, esclarecedoras para que os membros procedam a decisões de consumo. Partilha de sentimentos Os membros da comunidade de comunicações móveis analisada partilham a amizade e o companheirismo, mas não revelam a união pela emoção ou paixão por algo. Já nos fóruns online as motivações são de ordem cognitiva, com particular destaque para a partilha de experiências, gostos, opiniões e recomendações com a comunidade. Algumas temáticas enquadram emoções e paixões comuns que identificam e unem as pessoas em torno desses sentimentos. Tabela 5.3 - Síntese das Conclusões Relativas à 1ª Questão de Investigação - 82 - Q2 - Como interagem os membros/participantes da comunidade assente em TIC’s? Objectivo Analisar o modo de interacção e participação dos membros de comunidades assentes em TIC‟s, nomeadamente, os suportes tecnológicos utilizados, a simbologia e o valor da ligação. Resultados Suportes tecnológicos Os suportes tecnológicos mais utilizados pelos membros da CCM são o dispositivos móveis (vulgo telemóveis) para chamadas de voz e envio de mensagens escritas e de imagens. Os membros dos fóruns online têm como suporte à comunicação a Internet e, por vezes, os dispositivos móveis de telecomunicação. Lugares de culto Os membros da CCM têm apenas encontros casuais não representativos de manifestações do valor da ligação pois representam apenas convívios esporádicos com o grupo restrito de amigos/ conhecidos. Já nos fóruns online verifica-se a presença em espaços físicos para convívio e manifestação de interesses e sentimentos. São exemplos disso a participação em concertos, festas de lançamento de bandas musicais e eventos desportivos. Neste sentido, pode-se dizer que se está perante uma celebração da paixão. Simbologia Na CCM são nulos os simbolismos entre os membros. Nos fóruns online existe alguma simbologia que é utilizada para a identificação e comemoração da comunidade, representada pelo vestuário e alguns adereços. A simbologia é mais apreciada em fóruns cuja temática é a música ou o desporto (em especial, o futebol). Tabela 5. 4 - Síntese das Conclusões Relativas à 2ª Questão de Investigação - 83 - Q3 - É possível considerar uma comunidade assente em TIC’s uma tribo? Objectivo Depreender se as características chave de uma tribo estão presentes nas comunidades analisadas, de modo a aferir até que ponto as mesmas apresentam uma dimensão tribal. Resultados Partilha de sentimentos Heterogeneidade Suportes tecnológicos Lugares de culto Simbologia Das características chave que se consideraram para aferir a dimensão tribal das comunidades em análise resulta o seguinte: A CMM não apresentou nas interacções estabelecidas uma partilha de sentimentos que motivasse a união dos membros, denotam-se razões racionais para a presença no grupo. Os membros apresentam critérios de selecção quanto à entrada de novos membros na comunidade e, como tal, infringem um dos conceitos chave do tribalismo: a eliminação de barreiras geográficas ou de índole demográfica e psicográfica. A comunidade em questão apresenta uma forma de comunicação, visto que utilizam suportes tecnológicos para se manterem em contacto. Contudo, não ambicionam prosperar ou contribuir com o valor das suas experiências pessoais ou de consumo. Verifica-se a ausência de locais físicos e de simbologia que exprimam o valor da ligação e a manifestação de sentimentos ou opiniões. Os membros dos fóruns de discussão online apresentam uma partilha constante de opiniões, emoções, experiências e informações que acrescentam valor à comunidade. A comunidade tem assim perspectivas de prosperar. Verifica-se que a interacção ocorre com qualquer pessoa que tenha uma opinião, paixão ou sentimento a partilhar sobre algo, pelo que a heterogeneidade é um conceito patente nestas comunidades. Têm uma forma de comunicar entre os membros, seja pelos suportes tecnológicos, seja pela presença física em locais de culto que simbolizam a união e o valor da ligação. Os membros em algumas ocasiões de celebração utilizam certos simbolismos nas suas interacções como forma de identidade e identificação. Tabela 5.5 - Síntese das Conclusões Relativas à 3ª Questão de Investigação - 84 - Em suma, os dados recolhidos e transcritos mostram um clara diferença entre as duas comunidades assentes em TIC‟s. Iniciou-se este estudo com a premissa de que um grupo de pessoas que se relacionam entre si pode apresentar tendências ou traços que levem à tribalização. No entanto, e à luz da literatura analisada, verifica-se que muitos mais aspectos têm que ser considerados e a simples união pode não indiciar a presença de um fenómeno tribal. As duas comunidades, embora assentes em TIC‟s, apresentam diferenças evidentes quanto às motivações que levam os membros à adesão e à permanência e interacção na comunidade. As comunidades de comunicações móveis apresentam motivações movidas por razões racionais de presença e participação, segundo condições vantajosas quanto ao custo versus benefício que é oferecido pelas operadoras de telecomunicações móveis. De facto, trata-se de uma rede privada de amigos que usufruiu de comunicações ilimitadas pela contrapartida de um fee mensal. São evidentes as necessidades de comunicar com outras pessoas, no entanto neste caso, trata-se de um núcleo muito restrito de pessoas (amigos e familiares) que pretendem estar contactáveis e trocar informações triviais do dia-a-dia. As conversas entre os membros são praticamente informais. Os lugares para encontro e convívio são quase nulos, não se verifica a necessidade de manifestar publicamente o grau de envolvimento com a comunidade. São um grupo homogéneo em que os elementos apresentam perfis muito semelhantes e a aceitação de novos membros limita-se aos amigos e familiares. Não se verifica que a comunidade prospere e acrescente valor aos seus elementos. A relação dos membros à comunidade dura porquanto se mantiverem atractivas as condições económicas que estimulam a utilização da comunicação na comunidade. De facto, têm uma forma de comunicar, no entanto ficam aquém de estabelecer uma união baseada em paixões, gostos comuns, emoções, opiniões ou experiências, e de terem a propensão para prosperar No outro caso de estudo, os membros dos fóruns de discussão manifestam uma ligação emocional e afectiva com a comunidade em que se inserem. Os membros interagem no sentido de acrescentar valor e prosperar nalgum sentido ou área de interesse. Nalgumas temáticas falam-se em verdadeiras paixões e emoções, pois pode-se estar a falar de membros fãs. Há convívio entre os membros no espaço físico, pelo que é frequente que os membros de determinado fórum se organizem em torno de um determinado evento - 85 - num local público como manifestação e expressão de sentimentos e união. Após o convívio em locais físicos, muitos dos contactos decorrem fora do espaço virtual. Os membros expressam o sentimento de pertença e identificação com algumas peças de vestuário e adereços que fazem questão de usar em momentos de convívio. Os membros dos fóruns online mostram maior dinamismo e relações estabelecidas com base na emocionalidade das experiências, opiniões e paixões partilhadas, com o intuito de acrescentar valor à comunidade. Aceitam sem restrições novos membros com base nas experiências, opiniões e conhecimentos, sem requisitos formais de idade ou profissão. A relação dos membros mantém-se enquanto se mantiverem os valores e sentimentos que deram origem e estimulam a união entre os membros. As tribos são efémeras e esta comunidade assenta em grande parte neste conceito, ou seja, a união dura porquanto maior for a intensidade da ligação pela partilha de sentimentos, opiniões e gostos comuns. Daí se considerar que a ligação é mais forte por haver a noção de que a qualquer momento pode deixar de existir, sendo que um membro pode pertencer a mais do que uma tribo, por isso não há rigidez na participação e os membros são livres de participarem nos fóruns pelo tempo que se considerem unidos pelas pessoas e valores partilhados nessa comunidade. - 86 - Capítulo VI – Conclusão 6.1 Síntese Este trabalho teve como fio condutor a vontade de perceber se grupos emergentes que nascem e proliferam no seio de comunidades assentes em tecnologias de informação e comunicação, apresentam características e dimensão tribal. Assim, após uma revisão da literatura, presente no Capítulo I, procedeu-se à escolha da metodologia de investigação com a definição das questões de investigação e respectivo modelo de análise. Posteriormente, seguiu-se a tarefa de pesquisa de dados com a escolha da amostra e recolha de dados para se proceder a um estudo empírico. Por fim, aplicou-se o modelo de análise aos dados obtidos no sentido de aferir as características e traços tribais de membros de dois casos distintos de duas comunidades assentes em TIC‟s. Após a interacção dos factores determinantes em cada questão de investigação, esperase encontrar informação que possa sustentar as respostas às questões de investigação. Os casos de estudo escolhidos mostram que nem sempre um grupo de pessoas com determinadas características pode ter uma dimensão tribal. Assim, é necessário encontrar as verdadeiras motivações, razões que fazem um indivíduo, ser social que é, mover-se e unir-se por valores sentimentais aos seus pares. Fica evidente que não basta uma forma de comunicação, é necessária a existência de valores de união, identificação e partilha de paixão, emoção e experiências. Aqui a emocionalidade faz toda a diferença no valor da ligação, que ultrapassa a racionalidade e o envolvimento pode ser demonstrado em simbologia, formas de estar e de veneração a lugares de culto e comemoração. As novas tecnologias vieram assim eliminar as barreiras, colocando à distância de um clique, milhares de pessoas unidas por um sentimento e emoção comum. É de salientar que as tribos apresentam um carácter dinâmico e efémero e que a união dos membros pode ser fugaz, pelo que o valor e intensidade da ligação é maior devido à provável curta duração que a comunidade pode ter no futuro. Veja-se que a ligação entre os membros da comunidade de comunicações móveis é quase adquirida pelo grau de amizade anterior à ligação entre os membros, enquanto a força da relação nos membros dos fóruns é mais intensa porque a base da ligação são valores, opiniões e paixões que podem ser efémeras. Daí a necessidade de que a relação, enquanto exista, seja intensa de emoção, partilha e que faça os membros prosperar. - 87 - Assim, após a análise transversal das variáveis que estão na origem do modelo é de aferir que as comunidades de comunicações móveis ficam aquém de preencher na totalidade os conceitos que levam à existência de uma dimensão tribal. Desta forma e à luz do modelo conceptual definido, tende a aferir-se que as comunidades de comunicações móveis não tendem para uma tribo e excluem-se as características que lhe podiam atribuir uma dimensão tribal. Por contraponto, os fóruns de discussão online, no seu modo de actuação e dinamismo estão próximos de serem considerados uma comunidade com dimensão tribal. Partilham emoções, experiências, opiniões, apresentam heterogeneidade nas relações e comemoram o valor da ligação com simbolismo e em lugares de culto. As motivações para o envolvimento na comunidade, as formas de interacção e participação, mostram que as comunidades baseadas em fóruns de discussão online apresentam maior compatibilidade com o modelo de análise proposto, sendo esta a comunidade com maior propensão ser uma tribo. Assim, conclui-se que o segundo caso de estudo é aquele que denota maior compatibilidade com o modelo de análise definido. 6.2 Principais Contributos O interesse por este tema surgiu pela aplicabilidade prática de se poder analisar se qualquer grupo de pessoas que se une a uma comunidade pode ser considerado um membro de um grupo com características tribais. Verifica-se que os membros das comunidades de comunicações móveis utilizam vários meios de comunicação e interacção. No entanto, nem todos assumem a emocionalidade necessária para arrastarem multidões e para serem considerados os embaixadores de um produto/serviço. A necessidade de encontrar respostas para as questões de investigação apresentadas revela-se determinante, para que as empresas possam lidar e conhecer melhor as motivações de associação dos seus consumidores actuais e potenciais. Considerar como tribos grupos que não apresentam tais atributos e características, pode conduzir a mensagens de marketing erradas, pelo que é de todo relevante que as marcas compreendam se o seu mercado alvo integra tribos que possam prosperar informação e emoções sobre a marca, produto/serviço, acrescentando valor ao mercado. Torna-se - 88 - importante reconhecer as potencialidades de um membro de uma tribo e a sua influência na liderança dos restantes membros. O conhecimento das razões de associação e as formas utilizadas para a interacção entre membros é uma poderosa fonte de informação para as empresas que pretendem criar relações emocionais e afectivas com os seus consumidores. Numa sociedade marcada pela capacidade de imitação de produtos, torna-se primordial que as empresas possam fidelizar os seus consumidores pela relação que se estabelece entre a empresa/consumidor, mas acima de tudo, entre consumidor/consumidor. E esta última é o mais difícil de imitar ou substituir. As particularidades de cada consumidor, leva as empresas a considerar os seus consumidores como indivíduos únicos com sentimentos a partilhar e não como meros elementos de um segmento definidos por critérios rígidos e parametrizados. Apresentam-se de seguida os principais contributos teóricos: Falso Tribalismo Após a elaboração deste estudo é possível verificar que um grupo, pelo simples forma de existir e deter uma forma de comunicação baseada nos mais diversos suportes tecnológicos, não detém na totalidade características que lhe apontem uma dimensão tribal. Erradamente estes grupos tendem a auto denominar-se de tribos e as organizações envolvem-se com grupos de consumidores que na sua essência ficam longe de partilhar os sentimentos, a emocionalidade e a experiência de consumo. Confunde-se a simbologia com simples instrumentos tecnológicos, e o consumo destes grupos, pseudo tribos, está longe de ser sagrado e de representar uma comemoração do valor de ligação entre os membros. Os grupos podem estar unidos pela funcionalidade/utilidade e não pela emocionalidade e partilha de informação e experiências, que levam a o grupo a prosperar. Portanto, torna-se um imperativo avaliar e analisar a génese e o valor da ligação entre os membros, as motivações e interacções, para se poder considerar um grupo uma tribo. O simples facto de as pessoas socializarem num grupo e terem formas de comunicação entre si, são aspectos que em si não são condições suficientes para que se assuma um grupo como uma tribo. - 89 - “Reserva do Direito de Admissão” Vários autores referem que as tribos são constituídas por membros com perfis heterogéneos e com diferentes motivações e graus de envolvimento. Esta é de facto uma característica diferenciadora e marcante na diferença entre tribos e um qualquer grupo de indivíduos. Pelo estudo realizado constata-se que o valor da ligação dos membros ultrapassa barreiras demográficas e geográficas, baseando-se assim na paixão partilhada e no valor e influência das opiniões que são trocadas entre todos. Contudo, denota-se que as barreiras ideológicas e de certa forma baseadas em preconceitos podem existir nos membros das tribos. Ou seja, os membros aceitam potenciais membros com base no valor do contributo emocional para o seio da tribo, no entanto verifica-se que coexistem sentimentos de escolha e selecção dos membros por aspectos ideológicos ou de valores. Deste modo, revela-se um dado importante analisar que a par da livre admissão, alguns membros da tribo podem apresentar algum preconceito em estabelecer uma ligação emocional com novos membros que adoptem uma postura controversa demais ou uma postura assumidamente ideológica. Temporalidade O estudo revela que a temporalidade da união e ligação dos membros da tribo é um aspecto que arbitra a existência da tribo. Este conceito distingue quase por si só se um grupo tende para uma tribo. Um grupo que não atribua perecibilidade à sua existência não tende para uma tribo, isto porque uma tribo apresenta-se como efémera e como tal a ligação é intensa entre os membros, sendo vivida e aproveitada como se amanhã pudesse não existir mais. Assim, a emocionalidade intensa leva a que os seus membros valorizem e desfrutem do valor da ligação de forma mais prazerosa do que membros de grupos que apenas existem por uma retenção ou funcionalidade com contrapartidas, como de facto se verifica no caso das comunidades de comunicações móveis. Apontam-se ainda contributos práticos dirigidos aos gestores de organizações: - Explorar as emoções, paixões, sentimentos As tribos estão ligadas pela paixão, devoção a algo, pelo gosto comum, deste modo, torna-se muito importante que as marcas consigam compreender a que sentimentos - 90 - estão os membros de consumidores mais sensíveis e como valorizam as mensagens e experiências que são partilhadas. Explorar o lado sentimental leva a uma maior afectividade e consonância com os desejos e gostos particulares de cada membro de uma tribo. É também importante perceber a que estímulos são os consumidores mais receptivos e como isso influencia os demais membros para um comportamento cognitivo e afectivo com a marca e o consumo. - Criar e estimular a utilização de suportes de interacção Para a partilha de experiências e emoções, os membros das tribos têm que ter meios e suportes de comunicação fáceis e acessíveis. Assim, os gestores podem providenciar meios suportados em tecnologias que sejam valorizados pelos membros e que permitam o contacto constante com os membros. É também necessário promover a repetição de utilização desses suportes tecnológicos como ponto de encontro e interacção. - Criar uma identidade A ligação afectiva entre os membros, pode reflectir-se na afectividade a uma marca, produto ou serviço. Os gestores conscientes deste fenómeno podem contribuir para que se crie uma identidade e identificação da tribo à marca, promovendo a utilização de simbologia própria e a comemoração da existência da tribo em lugares de culto e convívio, como por exemplo, festivais de música, convívios, eventos para lançamento de produtos, testes a novos produtos, etc. - Alimentar, dinamizar e estimular a tribo Os gestores devem acompanhar as mensagens trocadas entre os membros e participar activamente nos meios de comunicação que são utilizados. Torna-se importante gerar o sentimento de exclusividade da tribo, com mensagens e passatempos dinamizados pelas marcas e específicos para a tribo. Pretende-se criar uma relação de exclusividade com os membros que assumem como os embaixadores das marcas, com forte autoridade para um passa-a-palavra positivo e influenciador. É importante lidar e estimular os membros líderes com credibilidade para dinamizar a tribo e fazê-la prosperar. - 91 - - Obter feedback sobre o mercado e experiências de consumo A proximidade dos gestores com as tribos permite que se encontrem motivações e desejos de consumo que de outra forma poderiam não ser tão autênticos. Isto porque, a convivência e o acompanhamento de uma tribo não se revela intrusivo como um estudo quantitativo, por exemplo. Assim, no seio de uma tribo as pessoas revelam as suas opiniões, experiências de consumo e desejos, e tal é fundamental para a satisfação e fidelização dos consumidores. As informações recolhidas pelas interacções dos membros das tribos revelam-se mais valiosas e sinceras porque são fornecidas em ambientes descontraídos e por pessoas que afectivamente estão ligadas à marca, produto ou serviço. As informações recolhidas ajudam as organizações a gerir melhor as relações com os consumidores e a personalizar a oferta às características de um mercado alvo. Este estudo cumpriu o objectivo de analisar dois casos de comunidades assentes em TIC‟s, revelar as suas motivações, as formas de interacção e aferir se apresentavam uma dimensão tribal que lhes permitisse o título de tribos. Por fim, encontraram-se contributos, limitações e sugestões futuras de investigação. 6.3 Limitações e Sugestão de Investigações Futuras Este estudo apresenta algumas limitações que são referidas de seguida. Uma limitação intrínseca prende-se com o facto de a investigadora ter liderado todo o processo da metodologia qualitativa. A utilização de uma metodologia qualitativa já por si, apresenta limitações na generalização dos resultados, o que leva a que a análise se restrinja apenas à amostra definida. Neste caso particular, o estudo foi limitado a dois focus group de alunos, o que revela uma amostra de conveniência baseada na disponibilidade dos participantes. O facto de ser um caso de estudo específico e com base numa metodologia empírica, limita a generalização dos dados recolhidos para o universo. No que diz respeito às sugestões futuras de investigação há a salientar o seguinte: - 92 - 1) Procurar alargar o estudo a outros contextos de natureza tribal analisando uma diversidade de casos emergentes. 2) Será interessante averiguar se as emoções como a amizade e camaradagem são suficientes para dar o mote de saída para se poder considerar um grupo como uma tribo. Ou seja, analisar o processo de forma inversa: se em vez de ser uma opinião e experiência a partilhar sobre um produto ou serviços de uma determinada marca, o simples sentimento de amizade de um grupo restrito possa vir a desencadear sentimentos de partilha que levem um grupo restrito a ser uma tribo. 3) Ainda outra sugestão, é ver se é possível levar um grupo unido pela racionalidade da união com contrapartidas materiais, a um estado de emocionalidade compartilhada. Em suma, este não é um trabalho que chega assim ao fim, é um começo de um estudo que se revela próspero e que aborda um tema que num futuro poderá ser o princípio de investigações futuras com considerações relevantes para as empresas que pretendam conhecer e lidar melhor com as características tribais dos seus consumidores. - 93 - Referências Auletta, N. (2008), “Un mundo de tribus: los jóvenes consumidores”, Revista Debates, Caracas: IESA Badot, O., Bucci, A. e Cova, B. 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(1995), Contemporary Marketing and Consumer Behavior: An Anthropological Sourcebook, Sage, Thousand Oaks, CA. Schubert, P. and Hampe, J.F.(2006), “Mobile communities: How viable are their business models? An exemplary investigation of the leisure industry”, Springer Science, LLC. - 97 - Anexos 1 e 2 - 98 - Anexo 1 - Guião do Focus Group: Comunidades de Comunicações Móveis 1. DATA E HORA 25 de Março de 2010 pelas 8 horas e 30 minutos 2. LOCAL Iscap – Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto. 3. CONSTITUIÇÃO 10 alunos da Licenciatura em Marketing do ISCAP: 5 elementos do sexo feminino e 5 elementos do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 19 e os 25 anos. 4. GUIÃO Introdução: - Apresentação dos moderadores - Apresentação dos membros do focus group - Breve explicação do estudo Fase inicial (contextualização): - A que redes de comunicações móveis pertencem? Abordar e explorar: o Quando aderiram e porquê o Como tomaram conhecimento da existência da rede - Quantas pessoas fazem parte da vossa rede? Abordar e explorar: o Grau de proximidade entre os membros o Aceitação de novos amigos/contactos o Critérios de selecção para pertencer à rede o Quais as semelhanças entre os membros - 99 - Exploração do tema principal: - Quais as principais vantagens de fazerem parte dessas comunidades? Abordar e explorar: o Razões de pertencer o Noção de valor de ligação emocional ou material o Visão racional ou não o Ligação entre os membros porquanto durarem as vantagens o Reconhecem desvantagens - Habitualmente como comunicam com os membros da rede? Abordar e explorar: o Que serviços mais utilizam e porquê o Num dia quanto tempo dedicam a este tipo de comunicação o Apenas comunicação virtual ou há presenças e convívios físicos o Que simbolismos utilizam o Que valores partilham - Quais os principais temas das conversas (amizades, promoções, festivais, informação diversa) Abordar e explorar: o Emoções ou racionalidade na base da união o Utilidade da rede o Partilha de experiências do dia-a-dia ou de utilização dos serviços disponibilizados pelas marcas promotoras das redes de comunicação móvel. o Facilidade em fazer novas amizades o Existe algum simbolismo ou lugares de culto (festivais, concertos) - Estariam dispostos a mudar de rede? Abordar e explorar: o Fidelidade à marca ou às funcionalidades o Estas comunidades são uma moda, tendência o 3 Razões para se manterem na rede - 100 - Fecho: - Usam algum simbolismo para vos identificar como sendo membros da comunidade? Tipo logótipo, símbolo, música, imagem, foto….Onde usam? No computador…objecto pessoal, no telemóvel? - Sentem-se condicionados a adquirir certos serviços ou produtos das marcas promotoras das redes de comunicação móvel, para se sentirem integrados? - Sentem que por estarem em contacto com outras pessoas, conseguiram um contacto que dessa forma não seria possível, aprenderam coisas que não sabiam… tiverem oportunidades de trabalho, estudo…alguma história engraçada para partilhar? - 101 - Anexo 2 - Guião do Focus Group: Fóruns de Discussão Online 1. DATA E HORA 28 de Abril de 2010 pelas 15 horas 2. LOCAL FEP 3. CONSTITUIÇÃO 7 Jovens (sendo 3 alunos da Licenciatura em Marketing do ISCAP e 4 da Licenciatura em Economia/Gestão da FEP, com idades compreendidas entre os 21 e os 25 anos. 4. GUIÃO Introdução: - Apresentação dos moderadores - Apresentação dos membros do focus group - Breve explicação do estudo Fase inicial (contextualização): - A que tipo de fóruns de discussão pertencem? Abordar e explorar: o Temáticas preferidas o Quando aderiram e porquê o Como tomaram conhecimento da existência do fórum - Com quantas pessoas costumam falar? Abordar e explorar: o Grau de proximidade entre os membros o Aceitação de novos contactos: Como e porquê o Quais as semelhanças entre os membros: o que une os membros - 102 - Exploração do tema principal: - Quais as principais vantagens de fazerem parte destes fóruns? Abordar e explorar: o o o o o Razões de pertencer Noção de valor de ligação emocional ou material Visão racional ou não Ligação entre os membros porquanto durarem as vantagens Reconhecem desvantagens - Habitualmente como comunicam/interagem com os membros do fórum? Abordar e explorar: o o o o Apenas componente virtual? Contacto físico Num dia quanto tempo dedicam a este tipo de comunicação Que simbolismos utilizam Que valores partilham e o que vos liga ao fórum - Quais os principais temas das conversas (amizade, opiniões, novidades, informação diversa sobre produtos marcas) Abordar e explorar: o Emoções ou racionalidade na base da união o Utilidade do fórum o Partilha de experiências do dia-a-dia ou de utilização dos produtos/serviços disponibilizados pelas marcas promotoras das redes de comunicação móvel. o Passa a palavra de boas ou más experiências na utilização de produtos e serviços o Facilidade em fazer novas amizades o Existe algum simbolismo ou lugares de culto? - Estariam dispostos a mudar de fórum? Abordar e explorar: o Fidelidade à marca/produtos ou à ligação aos membros - 103 - Fecho: - Se a vossa comunidade fosse uma cidade, qual seria? E agora um animal? - Usam algum simbolismo para vos identificar como sendo membros desse fórum? Tipo logótipo, símbolo, música, imagem, foto….Onde usam? No computador…objecto pessoal, no telemóvel? - Sentem-se motivados a adquirir certos produtos/serviços que tenham sido sugeridos e aconselhados por membros desse fórum? - 104 -