reações e expectativas de adolescentes varões diante da

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REAÇÕES E EXPECTATIVAS DE ADOLESCENTES VARÕES DIANTE DA
PATERNIDADE
Josmar Barreto Duarte (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
Ana Cristina Santos Duarte (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
1 INTRODUÇÃO
A proposta deste artigo é apresentar parte de uma pesquisa que vem sendo
desenvolvida com o objetivo de estudar aspectos relacionados as Representações Sociais de
um grupo de adolescentes sobre a paternidade na adolescência.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 1998) a adolescência compreende o
período dos 10 aos 19 anos. Na dimensão legal, no Brasil, o Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei Federal nº 8.069/1990) define a adolescência entre 12 e 18 anos
(BRASIL,1990).
Para Aberastury e outros (1983) a adolescência é um momento crucial na vida humana
e constitui a etapa decisiva de um processo de desprendimento e construção de identidade do
adolescente.
A escola vem sendo integralmente responsabilizada pela educação sexual dos
escolares, incluindo-se o que se refere à gravidez não planejada, enfocando a maternidade
precoce, bem como, e de forma incipiente o fenômeno da paternidade adolescente.
Observa-se que as abordagens em pesquisas sobre sexualidade e reprodução na
adolescência, têm privilegiado populações e vivências femininas. A gravidez na adolescência
é estudada em muitos dos seus aspectos, da etiologia à prevenção, mas normalmente é
relacionada à adolescente grávida. Constata-se que o fenômeno da gravidez na adolescência,
geralmente, é tratado sob o ponto de vista da maternidade, ficando quase esquecida e ignorada
a questão da paternidade adolescente.
Corrêa (2005) destaca que a paternidade adolescente, no Brasil, permanece pouco
explorada no meio cientifico e acadêmico, e socialmente pouco abordada. Para o mesmo autor
“Conceber a paternidade na adolescência como parte integrante do processo gestacional
favoreceria o surgimento de serviços que prestassem atendimentos a questões gerais que
envolvam a vida de adolescentes homens [...]” (p. 10) e contribuiria para uma mudança
cultural de que a gravidez na adolescência é problema da mulher.
Como advertem Colman & Colman (1990) a paternidade tem um impacto grande na
vida de um adolescente, modificando para sempre sua identidade, seu modo de se perceber,
sua relação com a sexualidade, com o trabalho, a interação com seus pais e com a sociedade.
Nesse sentido, pode-se afirmar que a investigação sobre a paternidade na adolescência
apresenta-se como tema que suscita discussão, visando ampliar o conhecimento sobre seus
vários aspectos, e entre estes aspectos destaca-se o vazio de conhecimento sobre o que e como
pensa o adolescente sobre a paternidade adolescente.
Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi identificar as reações e expectativas de
um grupo de adolescentes diante da noticia da paternidade.
2. METODOLOGIA
Esta pesquisa foi desenvolvida na cidade da Jequié-Bahia-Brasil, em uma escola
pública afastada do centro da cidade. Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva com
análise qualitativa, utilizando a Técnica de Análise de Conteúdo de acordo Bardin (2011).
O estudo foi realizado com 10 adolescentes na faixa etária de 17 a 20 anos de idade,
que se encontravam na situação de espera de um/a filho/a. Dos entrevistados 06 eram solteiros
e 04 casados. Quanto a escolarização 04 possuiam o ensino fundamental incompleto, 03
estavam cursando o ensino médio e 03 possuiam o ensino médio completo.
O instrumento de coleta de dados foi uma entrevista semi-estruturada.
Foram cumpridas as diretrizes da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Foi assegurada a liberdade ao pesquisado de deixar o estudo em qualquer momento e
garantido o sigilo dos informantes.
3. RESULTADOS
Perguntamos aos entrevistados qual a reação deles quando soube que iriam ser pai, a
maioria (06) informou que ficou assustado/espantado, apenas 02 reagiram bem a notícia.
“Tomei um susto, fique triste e ao mesmo tempo emocionado”.
“Levei um susto e fiquei preocupado”.
“Fiquei surpreso de ter engravidado tão rápido”.
“Fiquei espantado, não estava esperando uma notícia dessa”.
“Fiquei satisfeito com a novidade da gravidez, foi um sonho realizado”.
“Felicidade. Quero ser um ótimo pai para a família”.
Resultado semelhante foi encontrado por Almeida e Hardy (2007), “[...] cerca da
metade dos adolescentes disse ter reagido à gravidez da parceira com surpresa e choque, como
se estivesse diante de um fato totalmente inesperado [...]” (p.571).
Quanto a posição dos adolescentes entrevistados acerca da notícia da gestação, em
pesquisa realizada por Nogueira e outros (2011) ressaltam que, “a notícia da gestação foi
recebida como algo inesperado, demonstrando que em nenhum dos casos houve um
planejamento [...] (p.30-31). A ausência de planejamento da gestação contribuiu para o
surgimento de sentimentos de ansiedade, dúvida e medo por parte dos adolescentes.
Entretanto, percebe-se que essa reação foi sendo modificada, processualmente, no decorrer da
gestação.
Também em pesquisa realizada por Gontijo e outros (2011) os resultados apontam que
quanto a notícia da gravidez para os adolescentes foi unânime a reação inicial de surpresa,
choque e susto com a descoberta da gravidez. No entanto, com o passar do tempo, a maioria
relatou que se acostumou com a nova situação e conseguiram lidar com a situação.
Procuramos saber se a gravidez foi planejada, a maioria dos entrevistados (06)
respondeu que não foi planejada, 02 responderam que foi desejada, 01 respondeu que foi
indesejada, 01 disse que foi aceita.
Acerca da gravidez não planejada e da paternidade responsável
Menezes, (2011) ressalta que, o planejamento familiar e a paternidade responsável devem ser
incentivados e bem compreendidos para que crianças inocentes não sejam negligenciadas por
aqueles que não querem ou não tem interesse em exercer o papel de pai/mãe. Nesse sentido, a
autora diz, que a paternidade deve ser entendida de forma responsável, um ato cercado de
consciência, de modo a resguardar os direitos garantidos constitucionalmente aos filhos,
devido a formação do ser fruto de experiências vividas no ambiente familiar, principalmente
na infância e adolescência.
Quanto a expectativa da espera do filho todos os entrevistados, esperam a chegada do
filho com ansiedade.
“A expectativa é muto grande, estou muito feliz e minha noiva também e os familiares
também”.
“Está sendo muito legal, é bom mesmo”.
“Ansioso, tenho que cuidar com paciência”.
Resultado semelhante foi encontrado por Almeida e Hardy (2007), na amostra
estudada, “após o nascimento do bebê, a paternidade foi percebida como algo enaltecedor,
que trouxe satisfação aos entrevistados” (p.571). Isso pode ser explicado pelo fato de que ser
pai insere o homem no mundo dos adultos e reforça sua masculinidade, pois significa assumir
responsabilidades.
Meincke e outros (2009) desenvolveram o estudo “Vivência da paternidade na
adolescência: sentimentos expressos pela família do pai adolescente”. Os resultados obtidos
na pesquisa ressaltam que os sentimentos positivos sobressaíram-se aos negativos, sendo eles
o afeto, o carinho, o apoio, a alegria, a felicidade e o orgulho. E, no que tange aos sentimentos
negativos, imperaram o medo e a preocupação. Os pais adolescentes procuraram vivenciar e
exercer a paternidade e se adaptaram à nova situação.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados apontam que as reações dos adolescentes diante da notícia da
paternidade são muito semelhantes, geralmente recebem a notícia com surpresa e impacto,
depois, com o tempo vão se acostumando e acabam gostando da ideia e se realizando como
pai e assumindo o compromisso diante da paternidade.
Os participantes desta pesquisa procuraram se adaptar à nova situação, enfatizando os
aspectos positivos, apesar das alterações que ocorreram em suas vidas.
Viver a experiência de ser pai ou mãe no período da adolescência pode colocar os
jovens, em situação na qual se faz necessário, o oferecimento de apoio institucionalizado na
forma de programas de atendimento e orientação que envolva tanto profissionais, como a
comunidade de uma forma mais ampla.
No que se refere ao estudo acerca da paternidade na adolescência, Meincke e outros
(2009) afirmam que, “faz-se necessário prosseguir a caminhada no trabalho investigativo
acerca da paternidade na adolescência e suas redes de apoio, uma vez que o estado da arte é
escasso, nessa vertente” (p. 90).
REFERÊNCIAS
ABERASTURY, A. e outros Adolescência. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983.
ALMEIDA, A. F. F e HARDY, E. Vulnerabilidade de gênero para a paternidade em homens
adolescentes. Rev. Saude Pública, 41(4), p. 565-72, 2007.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal nº 8069 de 13 de julho de 1990.
Recuperado de: www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm
COLMAN, A. e COLMAN, L. O pai: Mitologia e papéis em mutação. São Paulo: Cultrix,
1990.
CORRÊA, Á. C. P. Paternidade na Adolescência: vivências e significados no olhar de
homens que a experimentaram. Tese (Doutorado) Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto –
Universidade de São Paulo (USP). São Paulo, 2005.
GONTIJO D.T; BECHARA A.M.D., MEDEIROS M. e ALVES H.C. Pai é aquele que está
sempre presente: significados atribuídos por adolescentes à experiência da paternidade. Rev.
Eletr. Enf. 2011. Recuperado de http://www.fen.ufg.br/revista/v13/n3/v13n3a09.htm.
MEINCKE, K. S. M. e CARRARO, T. E. Vivência da paternidade na adolescência:
sentimentos expressos pela família do pai adolescente. Texto & Contexto Enfermagem, Vol.
18, Núm. 1, enero-marzo, p. 83-91 Universidade Federal de Santa Catarina-Brasil, 2009.
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MENEZES, D. B. Responsabilidade civil por abandono afetivo. Monografia (Especialização
em Direito de Família Registros Públicos e Sucessões). Universidade Estadual do Ceará,
Escola Superior do Ministério Público, Fortaleza, 2011.
NOGUEIRA, M. J. e outros. Depois que você vira um pai: adolescentes diante da
paternidade. Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 28-34, jan/mar, 2011.
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