Caderno de Resumos 2012

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VIII Seminário dos Estudantes
de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Caderno de Resumos
10 a 13 de Setembro de 2012
PPGFIL – UFSCAR
São Carlos, SP
Universidade Federal de São Carlos
Centro de Educação e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação em Filosofia
Reitor
Prof. Dr. Targino de Araújo Filho
Pró-Reitor de Pesquisa
Prof. Dr. Claudio S. Kiminami
Pró-Reitor de Pós-Graduação
Prof. Dr. Bernardo Arantes do N. Teixeira
Diretora do Centro de Educação e Ciências Humanas
Profa. Dra. Wanda Aparecida Machado Hoffman
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Filosofia
Prof. Dr. Fernão de Oliveira Salles dos Santos Cruz
Capa e Editoração
Rosalis Designer - www.rosalis.com.br
Imagem
Órbita de Jânio Kléo Castro
Comissão Organizadora
André Mattos
Elizângela Mattos
Fillipa Silveira
Luiz Fernando Proença
Prof. Dr. Paulo Licht dos Santos
Thiago Canonenco Naldinho
Vanessa Temporal
Apoio
Departamento de Filosofia e
Metodologia das Ciências Humanas
UFSCar
SUMÁRIO
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
Mapa do Campus. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
Programação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
Mesas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Resumos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
APRESENTAÇÃO
O Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar é um
evento que tem o objetivo de criar um espaço acadêmico que favoreça o debate e a
interação entre os estudantes de pós-graduação em filosofia da UFSCar e das demais
universidades brasileiras, bem como divulgar a produção acadêmica discente dos
programas de pós-graduação. O evento ocorre anualmente, nas dependências desta
instituição, estando atualmente em sua oitava edição. Além das comunicações de
trabalhos de pós-graduandos, a programação conta com palestras e mini-cursos,
ministrados por professores convidados, como forma de enriquecer o evento.
Comissão Organizadora
MAPA UFSCar
Auditório
do CECH
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
PROGRAMAÇÃO
MANHÃ
SEGUNDA-FEIRA (10/09)
10:00
às
11:50
Auditório 1 da Biblioteca
UFSCar (Área Norte)
Auditório 2 da Biblioteca
UFSCar (Área Norte)
Auditório 3 da Biblioteca
UFSCar (Área Norte)
MT3-Nietzsche
MT1-Filosofia e
Literatura
14:00
às
15:50
- Alex Martins: Crítica
da narração pura: as
categorias filosóficas das
Memórias póstumas de
Brás Cubas, de Machado
de Assis.
TARDE
- José Paulo Gatti:
Literatura e formação
humana.
MT2-Wittgenstein
- Aline Dias: É o
Wittgenstein de Kripke
um não-factualista sobre
significado?
- Karina Oliveira: Ludwig
Wittgenstein: entre o
que pode ser dito e o que
pode ser mostrado.
- Marcelo Maroldi:
Wittgenstein e Brandom
sobre seguir uma regra.
- Anna Paula Campos:
Considerações acerca do
ressentimento a partir de
Nietzsche e Freud.
- João Paulo Villas
Boas: Turguêniev e
Dostoiévski fontes de
Nietzsche: o niilismo
russo como instrumento
para a exumação da
modernidade.
- Rafaelo Facini: O
nascimento de Deus em
Nietzsche.
Sala de Reuniões do DFMC
(Área Sul)
MT4-Platão
- Juliano Orlandi: A
Apologia de Sócrates:
entre a retórica judicial e
a epidíctica.
- Rineu Quinalia: O uso do
αὐτὸ no Hípias Maior.
- Robson Gabioneta: O
personagem Protágoras
nos diálogos de Platão:
o problema da distinção
entre o particular e o
público.
MT-5 Hegel
- Claudeni Oliveira:
Família e Eticidade na
Filosofia do Direito de
Hegel.
16:00
às
17:50
- Kárita Pedra:
Desdobramento da
vontade na introdução
à Filosofia do Direito de
Hegel.
- Lincoln França: Hegel
leitor de Aristóteles: o
motor imóvel concebido
como a Ideia que não
sai da órbita da relação
consigo mesma, uma
apropriação indevida?
MT-6 Empirismo e
Linguagem
- Cristiano Junta: O
sentido de uma ilusão:
Ayer, Austin e o papel do
“Argumento da Ilusão”.
- Renato Pereira:
Introdução aos Trabalhos
de Rudolf Carnap.
- Ronaldo Moraca: John
Locke e as questões em
torno da linguagem.
MT-7 Fenomenologia e
Hermenêutica
- Adriano Mergulhão:
Heidegger, caminhos pela
fenomenologia.
- Alexandre Junior: Notas
sobre o potencial éticopolítico da hermenêutica
de Gadamer.
- Roseli da Silva:
Linguagem versus
Escritura:possíveis
deslocamentos e
interrupções.
MT-8 Nietzsche
- Mayara da Silva:
Nietzsche como filósofo da
cultura.
- Ricardo Vecchia: Der
Begriff des Organischen
seit Kant: notas sobre o
projeto de doutorado de
Nietzsche.
NOITE
Auditório do CECH - (Área Sul)
19:00
PALESTRA
- Prof. Dr. Oswaldo Giacóia Jr. (UNICAMP): Necessidade, liberdade e repetição: sobre a potência do paradoxo.
11
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
PROGRAMAÇÃO
TERÇA-FEIRA (11/09)
MANHÃ
Auditório do CECH - (Área Sul)
10:00
Minicurso
às
11:50
- Prof. Dr. Osmyr F. Gabbi Jr. (UNICAMP): A apropriação lacaniana da noção de inconsciente de Lévi-Strauss
Auditório 1 da Biblioteca
UFSCar (Área Norte)
14:00
às
TARDE
15:50
Auditório 2 da Biblioteca
UFSCar (Área Norte)
Auditório 3 da Biblioteca
UFSCar (Área Norte)
MT12-Epistemologia
e formalização do
pensamento
MT9-Estética na Escola
de Frankfurt
MT10-Hume
- Anita Câmara: Walter
Benjamin e Franz Kafka:
a exigência de uma nova
narratividade.
- Lucas Machado: Hume,
Kant, Schulze e a relação
entre ceticismo e
filosofia.
- Felipe da Silva:
Considerações parciais
acerca do realismo
beckettiano em Endgame.
- Alexandro Fernandes:
Pressupostos
Epistemológicos Hume:
Cético Ou Naturalista?
- Lucas Marinho:
Domínio da Natureza
e Dessensibilização do
Espírito.
- Gustavo Oliveira:
Experiência e percepção
em David Hume.
MT11-Habermas
- Danilo Persch: O
conceito de esfera
pública em Habermas.
- Ronaldo Gomes: A
Democracia Deliberativa
de Jürgen Habermas.
- Vinícius Xavier:
Trabalho, Técnica E
Emancipação No Jovem
Habermas.
MT13-Filosofia e
Religião
16:00
às
17:50
- Luiz Felipe Roselino:
Sobre alguns
traços idealistas
na “interpretação
espiritualista” de Max
Weber: A recepção de
Albrecht Ritschl na Ética
Protestante e o Espírito
do capitalismo.
- Rogério Vagna: Leibniz
e as razões para crer na
religião.
NOITE
12
- Alexandre Ferraz:
Operações mentais e
operações matemáticas:
uma análise em
Epistemologia Genética.
- Danilo da Silva:
Considerações sobre o
desenvolvimento das
estruturas cognitivas
necessárias a constituição
da noção de tempo.
- Thiago Nascimento:
Husserl sobre a
aplicabilidade da
Geometria Formal: um
leitura em termos de
Estruturas e Modelos.
MT16-Marx e Marxismo
MT14-Peirce
- Mariana Rodrigues:
Abordagem Semiótica dos
conceitos de Abdução,
Indução e Dedução.
- Paulo Henrique Pereira:
Ação no contexto da
percepção direta.
MT15-Aristóteles e o
Pensamento Medieval
- André de Deus:
Presença de Agostinho na
epistemologia de Tomás
de Aquino.
- Juliana de Almeida: As
paixões aristotélicas: uma
reabilitação do sensível.
Auditório do CECH - (Área Sul)
18:00
Sala de Reuniões do DFMC
(Área Sul)
PALESTRA
- Prof. Dr. José Arthur Giannotti (USP): O dito pressuposto no dizer.
- André Cressoni: Uma
introdução ao conceito de
abstração em ‘O Capital’
de Marx.
- Bruno Moretti: As
antinomias como um
problema filosófico da
reificação em História e
Consciência de Classe de
Georg Lukács.
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
PROGRAMAÇÃO
QUARTA-FEIRA (12/09)
MANHÃ
Auditório do CECH - (Área Sul)
10:00
Minicurso
às
11:50
14:00
às
TARDE
15:50
- Prof. Dr. Osmyr F. Gabbi Jr. (UNICAMP): A apropriação lacaniana da noção de inconsciente de Lévi-Strauss.
Auditório 1 da Biblioteca
UFSCar (Área Norte)
Auditório 2 da Biblioteca
UFSCar (Área Norte)
MT17-Filosofia Política
Moderna
MT18-Husserl
- Alberto Paulo Neto:
Republicanismo e
Cosmopolitismo.
- Andressa Souto:
Imanência e
Transcendência em A Ideia
da Fenomenologia.
- Antônio Ferreira: A
relação entre mente
e corpo do Estado no
Tratado Político de
Espinosa.
- Scheila Tomé: A dupla
intencionalidade da
retenção nas Lições de
Husserl.
- Paulo de Oliveira: O
Estado Ideal Kantiano.
- Tayrone Alves: Tempo
e Subjetividade na
Fenomenologia de
Husserl.
MT21-Kant
16:00
às
17:50
- Elias Dutra:
A Apercepção
Transcendental Na
Crítica Da Razão Pura:
Capacidade Cognitiva
Ou Problemas De
Subjetividade?
- Juliano Tomasel: A
concepção kantiana de
objeto.
- Márcio Girotti: A
ilusão transcendental
da Crítica da razão pura
e os princípios P1 e P2:
uma contraposição de
interpretações.
MT22-Estética
- Jean Siqueira: Berys
Gaut e a concepção
agregativa do conceito
“arte”.
- Luciene Alves: Schiller
e a possibilidade do
sublime perante o trágico
e o terror.
- Luiza Helena
Hilgert: Facticidade e
contingência em três
contos do livro O Muro.
Auditório 3 da Biblioteca
UFSCar (Área Norte)
MT19-Freud
- Adriana Gomes:
Freud e o humanismo
renascentista: a
civilização em foco.
- André Mattos: A
singularidade na teoria:
uma investigação na
Traumdeutung freudiana.
- Fernanda Corrêa: O
desejo da dor, em Freud.
Sala de Reuniões do DFMC
(Área Sul)
MT20-Filosofia Moderna
- Luiz Carlos da Silva: Leo
Strauss ventríloquo de
Thomas Hobbes.
- Luiz Henrique Monzani:
As paixões em Rousseau.
- Nelson da Silva: A pintura
e escrita sobre a amizade
como resgate do “eu” em
Montaigne.
MT23-Filosofia Política
- Miguel Carneiro:
Política e Felicidade no
pensamento de Remo
Bodei.
- Paulo Eduardo Jr.: A
Política e a raposa: notas
sobre temporalidade
do pensamento e da
constituição do mundo
em Hannah Arendt.
- Raphael Valério: Sobre
a Biopolítica de Giorgio
Agamben: entre Foucault
e Arendt.
MT24-Filosofia da Mente
- Edmar Rodrigues: A
concepção da consciência
como experiência
fenomenológica de
aspecto dual no âmbito
da perspectiva do monista
reflexivo.
- Samuel Leite: Podem
novos experimentos de
Metacontraste falsear
o Modelo de Esboços
Múltiplos da consciência?
NOITE
Auditório do CECH - (Área Sul)
19:00
PALESTRA
- Prof. Dr. Guido de Almeida (UFRJ): Kant e a refutação do Idealismo.
13
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
PROGRAMAÇÃO
MANHÃ
QUINTA-FEIRA (13/09)
10:00
às
11:50
Auditório 1 da Biblioteca
UFSCar (Área Norte)
Auditório 2 da Biblioteca
UFSCar (Área Norte)
MT25 – Foucault 1
MT26-Bergson 1
- Fillipa Silveira:
Antropologia e “fisiologia
moral” em Foucault.
- Luiz Fernando Proença:
Henri Bergson e Franz
Brentano. Leituras
cruzadas?
- Rafael Hack: O
classicismo, o sujeito
e a loucura em Michel
Foucault.
- Thiago Naldinho: Notas
sobre crítica e parrhesía
na filosofia de Michel
Foucault.
- Marcos Camolezi:
Leis de conservação de
energia e paralelismo
psicofisiológico no Ensaio
de Bergson.
- Maria Fernanda dos
Santos: Heterogeneidade
e homogeneidade na
teoria das multiplicidades
de Bergson.
Auditório 3 da Biblioteca
UFSCar (Área Norte)
MT27-Ética e Liberdade
- Elizângela Mattos: Um
elemento para a razão
livre: leitura do ateísmo
sadiano.
- Gládis Rauber: Sobre a
dedução do princípio da
moralidade na III seção da
Fundamentação.
- Lúcio Vaz: Suicídio como
afirmação da liberdade
para o estoicismo.
Sala de Reuniões do DFMC
(Área Sul)
MT28-Teoria Crítica
- David Bet: Teoria Crítica,
meios de comunicação
e (de) formação da
subjetividade: os aspectos
políticos/ideológicos das
produções televisivas e os
desafios pedagógicos da
escola.
- Nathalia Locks: O Estado
autoritário em Pollock e
Neumman: uma disputa
frankfurtiana.
- Rafael Pellegrino:
Matéria e Memória e a
percepção como escolha.
Auditório 1 da Biblioteca
UFSCar (Área Norte)
Auditório 2 da Biblioteca
UFSCar (Área Norte)
MT29-Foucault 2
14:00
às
15:50
- Anderson da Silva:
Foucault leitor de
Sócrates: entre
“conhecimento de si” e
“cuidado de si”.
- Cinthia Falchi:
Sexualidades na
educação: a busca pela
ética no contraponto
entre os aphrodisia e a
pastoral cristã da carne.
TARDE
- Franciele Santos:
Análise do Discurso em
Foucault: as produções de
sentido das sexualidades
na escola.
MT33-Foucault 3
- Alexandre dos
Santos: Genealogia da
governamentalidade em
Michel Foucault.
16:00
às
17:50
- Fábio Figueredo: A
Propósito do Vigiar e
Punir em Foucault nas
instituições atuais:
Permanências?
Auditório 3 da Biblioteca
UFSCar (Área Norte)
MT31-Sartre 1
MT30-Bergson 2
- Catarina Rochamonte:
Intuição filosófica e
intuição mística a
partir de Bergson e
Schopenhauer.
- Eduardo Ribeiro:
Bergson e o método
intuitivo.
- Elaine Guinevere:
Intuição e Conhecimento
na Filosofia de Bergson.
MT34-Bergson 3
- Marcelo Barbosa:
Linguagem e
subjetividade em
Bergson.
- Carlos Eduardo de
Moura: Psicanálise
Existencial, Liberdade e
História: interioridadeexterioridade como
produção de si.
- Siloe Erculino: Sartre
e a ideia de nadificação
como conduta concreta
humana.
- Vinícius dos Santos:
Prático-inerte e alienação
na “Crítica da razão
dialética” de Sartre.
NOITE
14
MT32-Deleuze
- Adhemar de Oliveira: O
conceito de imagem no
Cinema: Deleuze leitor de
Bergson.
- Elemar Favreto: Modelo,
cópia e simulacro - Uma
perspectiva deleuziana ao
problema platônico.
- Guilherme Ribeiro:
Deleuze e o tempo
estratigráfico da história
da filosofia.
MT36-Merleau-Ponty
MT35-Sartre 2
- Diego Rodrigues: O
projeto de ser sartreano
no Ser e o Nada.
- Solange Bitterbier: O
conhecimento metafísico:
a intuição como método
em Bergson.
- Lucila Carvalho:
Indivíduo e existência:
A Náusea em Sartre e o
Absoluto de Camus.
- Vanessa Temporal:
As contribuições do
filólogo Max Müller à
teoria bergsoniana da
linguagem.
- Thiago Teixeira:
Sartre e o problema
moral: entre a ação e a
responsabilidade.
Auditório do CECH - (Área Sul)
19:00
Sala de Reuniões do DFMC
(Área Sul)
PALESTRA
- Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva (USP/ UFSCar): Ética e alteridade: Levinas.
- Jeovane Camargo:
O sentido do não-ser
na Fenomenologia da
percepção de MerleauPonty.
- Mariana Scarpa: Sobre a
negatividade em MerleauPonty.
- Uilson Fernandes: Tempo
e Corpo próprio: um
estudo da hecceidade no
horizonte da Estrutura do
Comportamento.
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
MESAS
Título da Mesa
MT1-Filosofia e
Literatura
Comunicações
- Alex Martins: Crítica da narração pura: as
categorias filosóficas das Memórias póstumas de
Brás Cubas, de Machado de Assis.
- José Paulo Gatti: Literatura e formação humana.
- Aline Dias: É o Wittgenstein de Kripke um nãofactualista sobre significado?
MT2Wittgenstein
- Karina Oliveira: Ludwig Wittgenstein: entre o
que pode ser dito e o que pode ser mostrado.
- Marcelo Maroldi: Wittgenstein e Brandom sobre
seguir uma regra.
- Anna Paula Campos: Considerações acerca do
ressentimento a partir de Nietzsche e Freud.
MT3- Nietzsche
- João Paulo Villas Boas: Turguêniev e Dostoiévski
fontes de Nietzsche: o niilismo russo como
instrumento para a exumação da modernidade.
- Rafaelo Facini: O nascimento de Deus em
Nietzsche.
- Juliano Orlandi: A Apologia de Sócrates: entre a
retórica judicial e a epidíctica.
MT4- MT4-Platão
- Rineu Quinalia: O uso do αὐτὸ no Hípias Maior.
- Robson Gabioneta: O personagem Protágoras nos
diálogos de Platão: o problema da distinção entre
o particular e o público.
Data e Horário
Local
10/09
Auditório 1
(Segunda-feira)
Biblioteca UFSCar
14h às 15h50
(Área Norte)
10/09
Auditório 2
(Segunda-feira)
Biblioteca UFSCar
14h às 15h50
(Área Norte)
10/09
Auditório 3
(Segunda-feira)
Biblioteca UFSCar
14h às 15h50
(Área Norte)
10/09
(Segunda-feira)
Sala de Reuniões do
DFMC
14h às 15h50
(Área Sul)
- Claudeni Oliveira: Família e Eticidade na
Filosofia do Direito de Hegel.
MT5-Hegel
- Kárita Pedra: Desdobramento da vontade na
introdução à Filosofia do Direito de Hegel.
- Lincoln França: Hegel leitor de Aristóteles: o
motor imóvel concebido como a Ideia que não
sai da órbita da relação consigo mesma, uma
apropriação indevida?
- Cristiano Junta: O sentido de uma ilusão: Ayer,
Austin e o papel do “Argumento da Ilusão”.
MT6-Empirismo
e Linguagem
- Renato Pereira: Introdução aos Trabalhos de
Rudolf Carnap.
- Ronaldo Moraca: John Locke e as questões em
torno da linguagem.
MT7Fenomenologia
e Hermenêutica
- Adriano Mergulhão: Heidegger, caminhos pela
fenomenologia.
- Alexandre Junior: Notas sobre o potencial éticopolítico da hermenêutica de Gadamer.
- Roseli da Silva: Linguagem versus
Escritura:possíveis deslocamentos e interrupções
- Mayara da Silva: Nietzsche como filósofo da
cultura.
MT8-Nietzsche
MT9-Estética
na Escola de
Frankfurt
- Ricardo Vecchia: Der Begriff des Organischen
seit Kant: notas sobre o projeto de doutorado de
Nietzsche
- Anita Câmara: Walter Benjamin e Franz Kafka: a
exigência de uma nova narratividade.
- Felipe da Silva: Considerações parciais acerca do
realismo beckettiano em Endgame.
- Lucas Marinho: Domínio da Natureza e
Dessensibilização do Espírito.
10/09
Auditório 1
(Segunda-feira)
Biblioteca UFSCar
16h às 17h50
(Área Norte)
10/09
Auditório 2
(Segunda-feira)
Biblioteca UFSCar
16h às 17h50
(Área Norte)
10/09
Auditório 3
(Segunda-feira)
Biblioteca UFSCar
16h às 17h50
(Área Norte)
10/09
(Segunda-feira)
16h às 17h50
Sala de Reuniões do
DFMC
(Área Sul)
11/09
Auditório 1
(Terça-feira)
Biblioteca UFSCar
14h às 15h50
(Área Norte)
15
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
MESAS
- Lucas Machado: Hume, Kant, Schulze e a relação
entre ceticismo e filosofia.
MT10-Hume
- Alexandro Fernandes: Pressupostos
Epistemológicos Hume: Cético Ou Naturalista?
- Gustavo Oliveira: Experiência e percepção em
David Hume.
- Danilo Persch: O conceito de esfera pública em
Habermas.
MT11-Habermas
- Ronaldo Gomes: A Democracia Deliberativa de
Jürgen Habermas.
- Vinícius Xavier: Trabalho, Técnica E Emancipação
No Jovem Habermas.
MT12Epistemologia e
formalização do
pensamento
MT13-Filosofia e
Religião
- Alexandre Ferraz: Operações mentais e
operações matemáticas: uma análise em
Epistemologia Genética.
- Danilo da Silva: Considerações sobre o
desenvolvimento das estruturas cognitivas
necessárias a constituição da noção de tempo.
- Thiago Nascimento: Husserl sobre a
aplicabilidade da Geometria Formal: um leitura
em termos de Estruturas e Modelos
- Luiz Felipe Roselino: Sobre alguns traços
idealistas na “interpretação espiritualista” de
Max Weber: A recepção de Albrecht Ritschl na
Ética Protestante e o Espírito do capitalismo.
- Rogério Vagna: Leibniz e as razões para crer na
religião.
MT14- Peirce
MT15Aristóteles e
o Pensamento
Medieval
MT16- Marx e
Marxismo
MT17-Filosofia
Política Moderna
- Mariana Rodrigues: Abordagem Semiótica dos
conceitos de Abdução, Indução e Dedução.
- Paulo Henrique Pereira: Ação no contexto da
percepção direta
- André de Deus: Presença de Agostinho na
epistemologia de Tomás de Aquino.
- Juliana de Almeida: As paixões aristotélicas: uma
reabilitação do sensível.
- André Cressoni: Uma introdução ao conceito de
abstração em ‘O Capital’ de Marx.
- Bruno Moretti: As antinomias como um problema
filosófico da reificação em História e Consciência
de Classe de Georg Lukács.
- Alberto Paulo Neto: Republicanismo e
Cosmopolitismo
- Antônio Ferreira: A relação entre mente e corpo
do Estado no Tratado Político de Espinosa
- Paulo de Oliveira: O Estado Ideal Kantiano
- Andressa Souto: Imanência e Transcendência em
A Ideia da Fenomenologia.
MT18- Husserl
- Scheila Tomé: A dupla intencionalidade da
retenção nas Lições de Husserl.
- Tayrone Alves: Tempo e Subjetividade na
Fenomenologia de Husserl.
- Adriana Gomes: Freud e o humanismo
renascentista: a civilização em foco.
MT19- Freud
- André Mattos: A singularidade na teoria: uma
investigação na Traumdeutung freudiana.
- Fernanda Corrêa: O desejo da dor, em Freud.
16
11/09
Auditório 2
(Terça-feira)
Biblioteca UFSCar
14h às 15h50
(Área Norte)
11/09
Auditório 3
(Terça-feira)
Biblioteca UFSCar
14h às 15h50
(Área Norte)
11/09
(Terça-feira)
Sala de Reuniões do
DFMC
14h às 15h50
(Área Sul)
11/09
Auditório 1
(Terça-feira)
Biblioteca UFSCar
16h às 17h50
(Área Norte)
11/09
Auditório 2
(Terça-feira)
Biblioteca UFSCar
16h às 17h50
(Área Norte)
11/09
Auditório 3
(Terça-feira)
Biblioteca UFSCar
16h às 17h50
(Área Norte)
11/09
(Terça-feira)
16h às 17h50
Sala de Reuniões do
DFMC
(Área Sul)
12/09
Auditório 1
(Quarta-feira)
Biblioteca UFSCar
14 às 15h50
(Área Norte)
12/09
Auditório 2
(Quarta-feira)
Biblioteca UFSCar
14h às 15h50
(Área Norte)
12/09
Auditório 3
(Quarta-feira)
Biblioteca UFSCar
14h às 15h50
(Área Norte)
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
MESAS
MT20- Filosofia
Moderna
- Luiz Carlos da Silva: Leo Strauss ventríloquo de
Thomas Hobbes.
12/09
- Luiz Henrique Monzani: As paixões em Rousseau.
(Quarta-feira)
- Nelson da Silva: A pintura e escrita sobre a
amizade como resgate do “eu” em Montaigne.
14h às 15h50
- Elias Dutra: A Apercepção Transcendental Na
Crítica Da Razão Pura: Capacidade Cognitiva Ou
Problemas De Subjetividade?
MT21-Kant
- Juliano Tomasel: A concepção kantiana de
objeto.
- Márcio Girotti: A ilusão transcendental da
Crítica da razão pura e os princípios P1 e P2: uma
contraposição de interpretações
- Jean Siqueira: Berys Gaut e a concepção
agregativa do conceito “arte”.
MT22- Estética
- Luciene Alves: Schiller e a possibilidade do
sublime perante o trágico e o terror.
- Luiza Helena Hilgert: Facticidade e contingência
em três contos do livro O Muro.
- Miguel Carneiro: Política e Felicidade no
pensamento de Remo Bodei.
MT23- Filosofia
Política
- Paulo Eduardo Jr.: A Política e a raposa: notas
sobre temporalidade do pensamento e da
constituição do mundo em Hannah Arendt.
- Raphael Valério: Sobre a Biopolítica de Giorgio
Agamben: entre Foucault e Arendt.
MT24-Filosofia
da Mente
- Edmar Rodrigues: A concepção da consciência
como experiência fenomenológica de aspecto dual
no âmbito da perspectiva do monista reflexivo.
- Samuel Leite: Podem novos experimentos de
Metacontraste falsear o Modelo de Esboços
Múltiplos da consciência?
- Fillipa Silveira: Antropologia e “fisiologia moral”
em Foucault.
MT25-Foucault 1
- Rafael Hack: O classicismo, o sujeito e a loucura
em Michel Foucault.
- Thiago Naldinho: Notas sobre crítica e parrhesía
na filosofia de Michel Foucault.
Sala de Reuniões do
DFMC
(Área Sul)
12/09
Auditório 1
(Quarta-feira)
Biblioteca UFSCar
16h às 17h50
(Área Norte)
12/09
Auditório 2
(Quarta-feira)
Biblioteca UFSCar
16h às 17h50
(Área Norte)
12/09
Auditório 3
(Quarta-feira)
Biblioteca UFSCar
16h às 17h50
(Área Norte)
12/09
(Quarta-feira)
16h às 17h50
13/09
(Quinta-feira)
10h às 11h50
Sala de Reuniões do
DFMC
(Área Sul)
Auditório 1
Biblioteca UFSCar
(Área Norte)
- Luiz Fernando Proença: Henri Bergson e Franz
Brentano. Leituras cruzadas?
MT26- Bergson 1
- Marcos Camolezi: Leis de conservação de
energia e paralelismo psicofisiológico no Ensaio
de Bergson.
- Maria Fernanda dos Santos: Heterogeneidade e
homogeneidade na teoria das multiplicidades de
Bergson.
13/09
(Quinta-feira)
Auditório 2
Biblioteca UFSCar
(Área Norte)
10h às 11h50
- Rafael Pellegrino: Matéria e Memória e a
percepção como escolha.
- Elizângela Mattos: Um elemento para a razão
livre: leitura do ateísmo sadiano.
MT27- Ética e
Liberdade
- Gládis Rauber: Sobre a dedução do princípio da
moralidade na III seção da Fundamentação.
- Lúcio Vaz: Suicídio como afirmação da liberdade
para o estoicismo.
13/09
Auditório 3
(Quinta-feira)
Biblioteca UFSCar
10h às 11h50
(Área Norte)
17
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
MESAS
MT28- Teoria
Crítica
- David Bet: Teoria Crítica, meios de comunicação
e (de) formação da subjetividade: os aspectos
políticos/ideológicos das produções televisivas e
os desafios pedagógicos da escola.
- Nathalia Locks: O Estado autoritário em Pollock
e Neumman: uma disputa frankfurtiana.
13/09
(Quinta-feira)
Sala de Reuniões do
DFMC
10h às 11h50
(Área Sul)
- Anderson da Silva: Foucault leitor de Sócrates:
entre “conhecimento de si” e “cuidado de si”.
MT29-Foucault 2
- Cinthia Falchi: Sexualidades na educação:
a busca pela ética no contraponto entre os
aphrodisia e a pastoral cristã da carne.
- Franciele Santos: Análise do Discurso
em Foucault: as produções de sentido das
sexualidades na escola.
MT30- Bergson 2
- Catarina Rochamonte: Intuição filosófica
e intuição mística a partir de Bergson e
Schopenhauer.
- Eduardo Ribeiro: Bergson e o método intuitivo.
- Elaine Guinevere: Intuição e Conhecimento na
Filosofia de Bergson.
- Carlos Eduardo de Moura: Psicanálise Existencial,
Liberdade e História: interioridade-exterioridade
como produção de si.
MT31- Sartre 1
- Siloe Erculino: Sartre e a ideia de nadificação
como conduta concreta humana.
- Vinícius dos Santos: Prático-inerte e alienação na
“Crítica da razão dialética” de Sartre.
- Adhemar de Oliveira: O conceito de imagem no
Cinema: Deleuze leitor de Bergson.
MT32- Deleuze
- Elemar Favreto: Modelo, cópia e simulacro - Uma
perspectiva deleuziana ao problema platônico.
- Guilherme Ribeiro: Deleuze e o tempo
estratigráfico da história da filosofia.
MT33-Foucault 3
- Alexandre dos Santos: Genealogia da
governamentalidade em Michel Foucault.
- Fábio Figueredo: A Propósito do Vigiar e
Punir em Foucault nas instituições atuais:
Permanências?
- Marcelo Barbosa: Linguagem e subjetividade em
Bergson.
MT34- Bergson 3
- Solange Bitterbier: O conhecimento metafísico: a
intuição como método em Bergson.
- Vanessa Temporal: As contribuições do filólogo
Max Müller à teoria bergsoniana da linguagem.
- Diego Rodrigues: O projeto de ser sartreano no
Ser e o Nada.
MT35- Sartre 2
- Lucila Carvalho: Indivíduo e existência: A Náusea
em Sartre e o Absoluto de Camus.
- Thiago Teixeira: Sartre e o problema moral:
entre a ação e a responsabilidade.
MT36- MerleauPonty
- Jeovane Camargo: O sentido do não-ser na
Fenomenologia da percepção de Merleau-Ponty.
- Mariana Scarpa: Sobre a negatividade em
Merleau-Ponty.
- Uilson Fernandes: Tempo e Corpo próprio: um
estudo da hecceidade no horizonte da Estrutura
do Comportamento.
18
13/09
Auditório 1
(Quinta-feira)
Biblioteca UFSCar
14h às 15h50
(Área Norte)
13/09
(Quinta-feira)
Auditório 2 - Biblioteca UFSCar
14h às 15h50
(Área Norte)
13/09
Auditório 3
(Quinta-feira)
Biblioteca UFSCar
14h às 15h50
(Área Norte)
13/09
(Quinta-feira)
Sala de Reuniões do
DFMC
14h às 15h50
(Área Sul)
13/09
Auditório 1
(Quinta-feira)
Biblioteca UFSCar
16h às 17h50
(Área Norte)
13/09
Auditório 2
(Quinta-feira)
Biblioteca UFSCar
16h às 17h50
(Área Norte)
13/09
Auditório 3
(Quinta-feira)
Biblioteca UFSCar
16h às 17h50
(Área Norte)
13/09
(Quinta-feira)
Sala de Reuniões do
DFMC
16h às 17h50
(Área Sul)
Resumos
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
O conceito de imagem no Cinema:
Deleuze leitor de Bergson
Adhemar Santos de Oliveira
[email protected]
Universidade Estadual de Montes Claros
Podemos supor que o filósofo Gilles Deleuze tenha sido o que mais tentou
adequar a sua filosofia ao cinema, ou em suas próprias palavras a filosofia com a nãofilosofia. Em sua obra O que é a Filosofia? Escrita juntamente com Félix Guattari, o
filósofo enfatiza que a filosofia precisa de uma não-filosofia que a compreenda. Ela
precisa de uma compreensão não-filosófica da filosofia, como a arte precisa da nãoarte e a ciência da não-ciência. Para Deleuze, a filosofia é também uma arte de formar,
de inventar, de fabricar conceitos. Simultaneamente, nas obras Cinema I e Cinema II,
Deleuze escreve, que o cinema, assim como a filosofia, cria conceitos. Dessa forma, o
filósofo pensou o cinema criando conceitos e construindo uma taxionomia própria
para as imagens dessa arte. Assim, a filosofia se sente forçada a pensar os conceitos
que o cinema nos apresenta.
Para se pensar os problemas encontrados no cinema, sobre o conceito de imagem,
discutiremos o encontro do filósofo Gilles Deleuze com Henri Bergson. A filosofia de
Bergson é fundamental para se compreender o pensamento do cinema deleuzeano,
pois o conceito de imagem descrito por Bergson corresponde às experiências
cinematográficas das imagens e à singularidade do cinema. Deleuze retoma as ideias
propostas por Bergson, analisando especificamente a crítica feita ao cinematógrafo e a
noção do conceito de imagem-móvel, criado em Matéria e Memória. É a partir destas
críticas que Deleuze verá o cinema a grande arte do sec. XX, a arte do tempo puro.
Freud e o humanismo renascentista:
a civilização em foco
Adriana de Albuquerque Gomes
[email protected]
UFSCAR
Ao longo de seu percurso intelectual, Sigmund Freud nunca deixou de expressar
uma profunda admiração por figuras emblemáticas do Renascimento italiano. Seu
21
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
interesse por Roma e pela antiguidade romana – referências importantes em sua obra
– pode ser constatado, inclusive, pela grande quantidade de viagens que Freud realizou
rumo a cidades italianas. No Dictionnaire de la psychanalyse, editado por Elisabeth
Roudinesco e Michel Plon, consta que, entre 1876 e 1923, Freud chegou a ir cerca de
vinte vezes à Itália. É nesse período, então, que o fundador da Psicanálise publica Eine
Kindheitserinnerung des Leonardo da Vinci (1910) e Der Moses der Michelangelo
(1914). Este fato chamou a atenção de autores como Eric Fromm e Jacques Lacan,
os quais, na década de 60 do século XX, teceram considerações completamente
divergentes acerca da complexa relação de Freud com o humanismo renascentista.
Partindo da oposição radical que se pode estabelecer entre as interpretações de
Fromm e de Lacan, este trabalho pretende examinar introdutoriamente o modo
como a psicanálise aborda o processo civilizador – tomando de empréstimo o termo
já consagrado de Norbert Elias – e, em última instância, as fronteiras entre o humano
e o não humano. Em nosso percurso, convocaremos alguns filósofos franceses
contemporâneos que, a nosso ver, podem enriquecer ainda mais este debate.
Heidegger, caminhos pela fenomenologia
Adriano Ricardo Mergulhão
[email protected]
Faculdade de São Bento
Pretendemos neste artigo, nos afastar de opiniões preconcebidas por estereótipos,
para realizar um exame imparcial dos diferentes caminhos trilhados pelo pensador
alemão Martin Heidegger (1889-1976), ao estabelecer seu método fenomenológico
de filosofar. Analisaremos, neste trabalho as ligações da fenomenologia em seus
primórdios, e o método desenvolvido pelo filósofo Heidegger, ao longo das décadas
de 20 e 30. Como nosso trabalho possui um caráter essencialmente teórico propomos
aqui uma análise exegética da produção hedeggeriana deste período mencionado, onde
o referencial (filosófico/teológico/ontológico) é contraposto a uma nova experiência
do pensamento que poderíamos denominar “hermenêutica fundamental”. Antes de
adentrarmos este aspecto conceitual, iremos nos deter em um momento específico,
cuja referência seria a “virada”/“vira volta” (Kehre) conceitual, diagnosticada por
estudiosos da obra do autor, ao dividirem seu pensamento em duas fases específicas
(embora argumentaremos aqui que não se tratam de fases distintas, mas duas faces
de um desenvolvimento, por diferentes vias, de uma mesma problemática, a saber,
22
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
a questão do Ser). Para que assim possa ficar claro o que compreendemos por I
Heidegger e II Heidegger, visto que nossa análise se detém prioritariamente em sua
primeira fase, cuja cronologia histórico se limita a sua produção até década de 30.
Diante do que foi exposto, iremos inicialmente circunscrever nossa investigação
ao que então se convencionou chamar de I Heidegger, discutindo qual o método
correspondente a este primeiro estagio de suas pesquisas sobre o Ser e suas correlações
com a analítica existencial e com o Niilismo, que será o eixo condutor deste ensaio.
Do II Heidegger, gostaríamos posteriormente de alertar sobre a importância de alguns
conceitos (como o de verdade enquanto alethéia) para um aprofundamento acerca
de suas discussões sobre o velamento do Ser ocasionado pelos abusos da técnica e
do pensamento científico. Demonstrando assim que existem determinados fatores
históricos (argumentaremos que estes fatores são a própria história da metafísica)
que causam a obnubilação e o esquecimento de nosso acesso a verdade do Ser em
oposição aos entes.
Republicanismo e Cosmopolitismo
Alberto Paulo Neto
[email protected]
Universidade de São Paulo
CAPES
A fundamentação de uma organização que coordene política e juridicamente
os Estados em âmbito internacional é uma meta recorrente na História da filosofia
política. Na modernidade filosófica, esse projeto de organização política internacional
teve como precursores o Abbé de Saint-Pierre e Jean-Jacques Rousseau e alcançou
o auge de defesa e de proposição de ideias nas obras de Immanuel Kant. Neste
filósofo de Königsberg, as ideias de direito internacional adquiriram uma mudança
de perspectiva teórica que foi a defesa da instituição do direito cosmopolita e não
somente a organização dos Estados sob o direito internacional. A forma jurídica
cosmopolita faz com que os Estados assumam o compromisso de se organizarem
politicamente sob os princípios constitucionais republicanos e que eles compactuem
pela criação de uma federação de Estados. Não obstante, as teorias céticas ao ideal de
cosmopolitismo avaliam as malogradas experiências históricas de implantação de um
órgão regulativo, que representasse os países e que não estivesse submetido ao poderio
econômico das grandes potências mundiais, como uma demonstração do empecilho
23
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
para instituição de uma ordem jurídica cosmopolita ou de uma instituição jurídica
que defenda os objetivos que transcendam aos interesses nacionais. As teorias céticas
apregoam somente a minimalista prática das relações internacionais como a nãointerferência em assuntos internos, a abstenção de intervenção militar, a proibição a
qualquer de infiltração subversiva ou a retaliação econômica. Na contemporaneidade
filosófica, a questão de edificar um ordenamento jurídico internacional que estabeleça
o ideal de justiça global e de filantropia entre os países se constituiu em um projeto
de filosofia política normativa. A teoria republicana de Philip Pettit se situa como
um ideal mais exigente do que o ceticismo de não-intervenção e menos utópico
que o ideal cosmopolita de justiça. Para a realização deste projeto de organização
internacional é postulado que o ideal republicano se constitui em uma teoria sobre a
organização jurídica dos Estados representativos. Estes evitam a dominação exercida
por outro Estado ou por alguma instituição não-estatal. A não-dominação representa
a liberdade republicana de não estar sujeito a qualquer exercício de interferência
ou de poder arbitrário sobre o arbítrio dos indivíduos. A perspectiva de Pettit
permite a mudança no foco de discussão sobre organização das instituições políticas
internacionais porque salienta o critério de não-dominação entre os Estados como
elemento necessário para a razoabilidade nos acordo internacionais.
Crítica da narração pura: as categorias filosóficas
das Memórias póstumas de Brás Cubas,
de Machado de Assis
Alex Lara Martins
[email protected]
UFMG
A história da filosofia consagrou Immanuel Kant por investigar as condições
prévias da objetividade, em detrimento de uma versão epistemológica naturalista
em que os objetos da percepção determinam ou dão origem ao conhecimento. A
“revolução copernicana” de Kant concede às condições de cognoscibilidade do sujeito
transcendental prevalência sobre o conhecimento do mundo. De maneira semelhante,
Machado de Assis opera uma inversão metodológica sobre a posição realista na história
da literatura, debitária daquela visão de mundo naturalista, que se caracteriza por
três proposições básicas: (1) o mundo se constitui por uma totalidade fixa de objetos
24
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
independentes do sujeito; (2) há exatamente uma descrição verdadeira e completa
deste mundo; (3) a verdade supõe uma espécie de relação de correspondência entre as
palavras e as coisas. Em teoria da literatura, diríamos que neste ponto de vista narrativo
os acontecimentos estão dados, seguem uma lógica causal, tendem à verossimilhança
e pressupõem uma interpretação correta. O objetivo geral deste trabalho é mostrar
como o narrador machadiano desconstrói a estrutura representacional desta visão
de mundo. Através da obra deste autor, em especial as Memórias póstumas de Brás
Cubas, mostramos como estas proposições são substituídos pela pergunta sobre a
legitimidade da representação unívoca e imparcial; como a trama das ações, causal
e logicamente concatenada, é substituída pela dramatização dos eventos internos
dos personagens, mostramos, por fim, a conversão das narrativas monológicas no
movimento de desdobramento do narrador, que atua na trama e dela se distancia
assumindo a perspectiva de espectador irônico. O texto se torna um complexo jogo
de revelação e ocultamento em que a verdade é deslocada, cifrada, determinada
contextualmente ou simplesmente indeterminada. O transcendentalismo de Brás
Cubas, se não garante a neutralidade do relato, coloca-o numa posição inusitada
dentro da tradição dos ironistas. Ensaiando uma espécie de crítica da narração
pura, Brás desvia a atenção quanto ao objeto de estudo, da generalização da miséria
humana para o processo narrativo, ou seja, as condições de possibilidade do relato se
transformam em objeto verbal privilegiado, cuja generalização acaba por enquadrá-lo
naquela tradição.
Operações mentais e operações matemáticas:
uma análise em Epistemologia Genética
Alexandre Augusto Ferraz
[email protected]
UNESP - Marília
CAPES
O presente trabalho pretende um olhar mais profundo com relação ao conceito
de operação encontrado na Epistemologia Genética. Conforme pode ser visto em
Logique et equilibre (1975), Piaget diz que as operações são “ações interiorizadas
ou interiorizáveis, reversíveis e coordenadas em estruturas totais.” No entanto,
ao exemplificar o conceito de operação, Piaget fala da capacidade de seriação e
classificação (incluindo, nesta, a união, a interseção e a subtração de conjuntos) do
25
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
sujeito epistêmico, isto é, o sujeito do conhecimento. Porém, entendemos que esses
exemplos não são completamente explicados pela definição de operação como ação
interiorizada e reversível. Dessa forma, parece que Piaget deixa uma lacuna, em sua obra,
entre a ideia de simplesmente agir internamente e as coordenações que as capacidades
de classificação e seriação implicam. Essa concepção está de acordo com a crítica do
epistemólogo Gilles-Gaston Granger, que também é apresentada por Tassinari (1998)
em sua dissertação de mestrado Da Experiência Sensível à Estruturação Lógica do
Real: Um Estudo da Forma da Construção do ‘Agrupamento’ em Piaget, bem como
em Ferreira (2011), Sobre o uso da Função Proposicional e sua gênese segundo a
Epistemologia Genética, de que haveria uma ruptura, na obra de Piaget, na explicação
da passagem da ação sobre a experiência sensível até o aparecimento das estruturas
lógico-matemáticas. Porém, Tassinari, em sua dissertação, também apresenta a
interpretação feita por Ramozzi-Chiarottino que mostra o papel da imagem mental
na construção do sistema de operações do sujeito epistêmico, interpretação da qual
Tassinari parte para explicar como se dá tal passagem (da ação sobre a experiência
sensível até a estruturação lógico-matemática do real). Pretendemos com esse
trabalho esclarecer como se dá essa passagem e porque tal passagem se dá somente
no período operatório concreto, mostrando como a concepção de operação parcial
em Matemática é a peça-chave para tal entendimento.
Genealogia da governamentalidade
em Michel Foucault
Alexandre Gomes dos Santos
[email protected]
UFSCAR
CAPES
Entre a noção de governamentalidade esboçada por Michel Foucault em “Sécurité,
territoire, population”, curso de 1978, e os ganhos teóricos da década de 80 em torno
de uma “genealogia da ética” é possível traçar um percurso de inteligibilidade no qual
aquela noção mantém sua importância e mesmo sua prioridade dentro do quadro
geral do pensamento deste autor. Assim, colocamo-nos na trilha de uma compreensão
foucaultiana da ética como pertencente a uma dimensão política na medida em que o
estudo da governamentalidade possa se configurar como um projeto no qual a genealogia
da ética se inseriria, hipótese que, acreditamos, contribuirá para uma atualização do
26
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
debate político em Foucault. Esse debate fora tão desdenhado em vista do grande furor
que a genealogia da ética provocara na sua recepção crítica, que toda a sua empresa
teórica viu-se reduzida a um “cuidado de si indiferente ao outro”. Desejamos, pois, que
a última fase de seus trabalhos seja atualizada tendo como veículo a questão política aí
incutida: estudo das fundações do governamento ocidental e do palco ético-cultural
onde surgiu e se desenvolveu. A governamentalidade não é um “tema transicional”,
mas se mantém como o novo foco das pesquisas foucaultianas na medida em que é o
tema do governamento que perdura como projeto maior no qual se inseririam todas as
incursões ético-genealógicas de Foucault nos seus últimos anos de vida.
Notas sobre o potencial ético-político
da hermenêutica de Gadamer
Alexandre Roque Ott Junior
[email protected]
UFSC
CAPES
A hermenêutica de Gadamer, sobretudo a partir da segunda parte de Verdade e
Método, e do artigo Acerca da la verdad de la Palabra, na obra Arte y Verdad de la
Palabra, é aqui o mote para uma reflexão acerca do diálogo político. Sucintamente,
Gadamer defende que os pré-julgamentos são uma estrutura prévia da compreensão.
Ignorá-los comprometeria sobremaneira qualquer projeto de compreensão do
mundo, pois a tradição fala – por eles - da coisa em questão. Toda compreensão é uma
leitura de mundo e esta se dá no medium da linguagem, durante um processo, tal qual
um jogo, que tem como fim a verdade que se realiza no próprio jogar, pela conexão
e tensão entre as concepções em disputa. Abre-se assim, o caminho para o retorno
da dialética. Com efeito, a dialética peculiar da pergunta e da resposta apresentase como um ponto-chave para a compreensão hermenêutica. Como exercício de
reflexão acerca daquilo que é posto pela doxa, a dialética pondera medindo a força das
concepções que pretendem verdade. Para tanto, é preciso colocar os questionamentos
corretos, pois estes não podem ser impostos retoricamente. O perguntar é pois,
como um sofrer, pois ele nada mais é do que uma interpelação da tradição que
deseja estabelecer-se como horizonte de sentido. No entanto, se a própria tradição é
condição para a abertura da pergunta, esta é condição do estabelecimento da tradição
como verdade, como autenticidade. Esta só seria atingida pela imersão no escopo
27
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
de sentido em questão, para aí alcançarmos a verdade da coisa de que se fala. Neste
momento, a palavra alcança uma autonomia, pois remete sempre à interpretação
daquele que compreende e dela se apropria. Neste sentido, quando a conversação
hermenêutica é um diálogo ético-político, o conceito de autoridade adquire novo
estatuto em Gadamer: não mais uma imposição que alija o próprio pensar, mas um
reconhecimento baseado nas limitações da razão e que adquire sentido pelo diálogo.
Analogamente, a tradição não se mostra mais como algo a ser superado, mas como
condição do estabelecimento do diálogo, cuja coisa a que se visa não é nada mais do
que a própria democracia.
Pressupostos Epistemológicos Hume:
Cético Ou Naturalista?
Alexandro Fernandes
[email protected]
Faculdade De Educação São Luis
Este resumo tem por objetivo apresentar a característica real do pensamento
empregado por David Hume, enquanto identifica os pontos centrais de sua teoria
epistêmica, bem como a pretensão de caracterizar sua filosofia diante da díade
ceticismo/naturalismo, discussão frequentemente abordada ao longo da História da
Filosofia. A partir disso, procura contrapor e conciliar a interpretação do ceticismo
Pirrônico e Acadêmico, para destacar o ceticismo em Hume e caracterizar, no interior
da filosofia cética, qual tipo de ceticismo melhor se adapta a seu pensamento. Haja
vista, Hume é tradicionalmente caracterizado como um filósofo cético, mas, ao
longo da história, vários autores preocuparam-se em elaborar ensaios na tentativa de
rejeitar a interpretação cética de sua filosofia, atribuindo a ela outras classificações,
dentre as quais a de naturalista: corrente filosófica que tem como principal objetivo
viver de acordo com as leis da natureza. O que não se pode admitir. Após apresentar
na Investigação sobre Entendimento Huamano (IEH), as origens dos diferentes tipos
de conhecimentos de que dispomos e as etapas nas quais eles se processam, Hume,
destina o último capítulo, precisamente, a seção XII, intitulada “Da filosofia acadêmica
ou cética”, para evidenciar os tipos de ceticismo, e em especial uma crítica ao ceticismo
radical, denominado por ele de pirrônico. David Hume, dessa forma, manifesta acerca
do conhecimento empírico, pois estende essa desconfiança até mesmo ao poder da
razão. Por seu turno, devido a essa postura de ataque contundente ao ceticismo radical
28
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
denominado por ele de Pirrônico, insurgem sobre a figura do referido filósofo teorias,
as quais colocam o ceticismo de Hume como sendo algo fingido e que, também,
desconhecido por ele. Por considerarmos essas críticas equivocadas devido à postura
sistemática do filósofo, até mesmo porque, era um profundo estudioso da Filosofia
Antiga, fez-se a necessidade em desenvolver esta pesquisa.
É o Wittgenstein de Kripke um não-factualista
sobre significado?
Aline da Silva Dias
[email protected]
UFPR
CAPES
Em Wittgenstein on Rules and Private Language, Kripke apresenta um
argumento inspirado em sua leitura da discussão de Wittgenstein, nas Investigações
Filosóficas, sobre seguir regras. Segundo Kripke, podemos ler essa discussão como
propondo um paradoxo cético que mostra a inexistência de fatos constitutivos do
significado. No entanto, para evitar o resultado absurdo de que a linguagem seria
impossível, já que qualquer atribuição de significado seria ilusória e sem conteúdo, ele
oferece uma solução cética para seu paradoxo. Esta aceita que realmente não há fatos
que constituem o significado. Contudo, afirma que mesmo assim são possíveis as
atribuições de significado. Isso porque essas atribuições não devem ser analisadas tem
termos de correspondência a fatos. Elas devem ser analisadas em termos de condições
de assertibilidade. A proposta de Kripke teve ampla repercussão e gerou uma série
de interessantes discussões, dentre as quais podemos destacar a seguinte: a solução
cética oferecida pelo Wittgenstein de Kripke (doravante WK) está comprometida
com um não-factualismo acerca das atribuições de significado? Durante muito tempo
a resposta a essa questão foi afirmativa. No entanto, George Wilson, e outros poucos
autores, contestaram essa resposta. Segundo ele, WK não deixa de ser um factualista
por recusar a existência de fatos. Isso porque os fatos rejeitados por ele são aqueles
exigidos pelos realistas clássicos, i.e., condições de verdade realistas, que se um
enunciado é significativo ele deve corresponder a fatos. Desse modo, permanecem
em ordem os fatos compreendidos em um sentido mais básico e intuitivo de “fato”.
Com isso, WK não nega que possamos dizer que “é um fato que alguém significa
mais por ‘+’”, desde que “fato” seja compreendido de uma forma ordinária, que
29
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
equivaleria a dizer simplesmente: “alguém significa mais por ‘+’”. Nesse trabalho
pretendo apresentar, ainda que brevemente, esse debate entre leituras factualistas e
não-factualistas do WK, na tentativa de avaliar em que medida é viável atribuir um
factualismo a ele. Assim, começarei apresentando a interpretação não-factualista de
Paul Boghossian; em seguida, irei expor a proposta factualista de George Wilson; por
fim, procurarei avaliar a proposta factualista diante do que foi apresentado.
Foucault leitor de Sócrates: entre
“conhecimento de si” e “cuidado de si”
Anderson Aparecido Lima da Silva
[email protected]
USP
CAPES
Tomando como texto base a aula inaugural de Foucault em A hermenêutica do
sujeito, visaremos explorar o desenvolvimento e algumas das possíveis implicações
contidas nas relações entre “conhecimento de si” (gnôthi seautón) e “cuidado
de si” (epiméleia heautoû) no contexto do momento “socrático-platônico”, mais
especificamente, pretendemos nos ater à breve, porém reveladora remissão de Foucault
à Apologia de Sócrates, de Platão. Relação que nos levará a questionar a centralidade
da tradicional vinculação que confere ao personagem Sócrates, senão de maneira
exclusiva ao menos privilegiada, o preceito délfico do “conhece-te a ti mesmo” como
expediente filosófico fundamental. Na contramão desta leitura, Foucault nos revelará
Sócrates como o “homem do cuidado de si”. O que não implica em dizer que este
dispense o “conhecimento de si”, mas porque lhe confere um caráter de formação do
êthos, de trans-formação do ser, do modo de vida do sujeito, isto é, lhe confere um
caráter “etopoético”, ao qual há de acrescentar o caráter político da relação do sujeito à
cidade. Se acrescentarmos por fim que esta tríplice relação, se bem conduzida, resulta na
constituição da própria vida enquanto vida virtuosa ou existência bela, podemos dizer
que do liame entre “conhecimento de si” e “cuidado de si” segue-se a conexão entre
conhecimento, ética, política e estética; não com a finalidade de definir de uma vez por
todas o “si” do sujeito, tal qual uma coisa que pudéssemos isolar em sua identidade, mas,
antes, enquanto marca de um movimento de formação – sempre em aberto – em que o
ser do sujeito se apresenta através de seus atos, como uma obra inacabada.
30
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Presença de Agostinho na epistemologia de
Tomás de Aquino
André de Deus Berger
[email protected]
UFSCAR
CAPES
Nosso objetivo é investigar a interpretação realizada por Tomás de Aquino da
noção de ‘imagem do corpo’ em sua exposição sobre a operação intelectiva humana
no tratado da natureza humana presente na primeira parte de sua Suma de teologia
(Questões 75 a 89), utilizando Agostinho como referência. Argumentando que
a noção agostiniana de ‘imagem do corpo’ equivale ao ‘fantasma’ oriundo da obra
aristotélica, Tomás apresenta em seu desenvolvimento uma crítica às interpretações
árabes de Aristóteles, na figura de Avicena, e afasta Agostinho de Platão, tomando
o bispo de Hipona como referência em conjunto com Aristóteles para fundamentar
suas teses e apresentar sua própria interpretação da obra aristotélica.
Uma introdução ao conceito de abstração
em ‘O Capital’ de Marx
Andre de Goes Cressoni
[email protected]
UNICAMP
O intuito deste trabalho consiste em explorar alguns elementos que envolvem o
conceito dialético de abstração. O conceito dialético de abstração deve compreender
o percurso pelo qual se prova o fundamento do real, no caso de Marx, o fundamento
do processo social. Este percurso, porém, não é somente uma passagem em que vão
se incluindo novas determinações como somatórias ou sobreposições. Ao contrário,
trata-se do processo de externalização de uma lógica interna, sem que interior e
exterior se contraponham sem interpenetrarem-se. Por isso, a passagem do abstrato
ao concreto compreende a passagem de condições lógicas de possibilidade para sua
efetivação em níveis distintos de efetividade. Se a abstração aparece como ponto sempre
presente no debate metodológico da dialética de Marx, há uma tendência a reduzir o
método expositivo ao método de abstração, sem atentar para os fatores que envolvem
a já tão debatida transição dialética abstrato-concreto. Essa tendência resultaria de
31
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
uma falta de compreensão da natureza expositiva intrínseca à dialética, presente não
somente em O Capital, mas na tradição dialética, como em seus mais conhecidos
expoentes em Platão e Hegel. Para a compreensão, por isso, da natureza expositiva
da dialética de O Capital é mister operar, como indica Lenin, um contraponto com
a Ciência da Lógica de Hegel. É por isso que adentraremos em peculiaridades da
dialética hegeliana para a compreensão daquilo que seria de fato o conceito dialético
de abstração. Nelas exploraremos algumas características principais do que poderia se
chamar de ‘abstração’ na lógica hegeliana. Diante deste elementos, avaliaremos como
ela podem ser utilizadas ou não numa compreensão do conceito de abstração tal
como se apresenta em O Capital de Marx. Desta forma, a intenção consiste concluir
como o conceito de abstração impõe a necessária fluidez interna operante no sistema
capitalista, daí Marx buscar na dialética essa fluidez lógica que apresentava-se para
ele na lógica hegeliana.
A singularidade na teoria: uma investigação na
Traumdeutung freudiana
André Santana Mattos
[email protected]
UFSCAR
FAPESP
Propondo uma investigação da relação entre a singularidade e a universalidade
no pensamento de Sigmund Freud, em uma primeira aproximação, tendemos a
identificar, ou ao menos aproximar essa polaridade com a distinção entre os âmbitos da
clínica e da metapsicologia; ou, mais especificamente, em A interpretação dos sonhos,
obra em que aqui nos atemos, falamos da distinção entre a prática interpretativa e a
teoria, de modo que o famoso Capítulo 7, momento da elaboração do modelo teórico
conhecido como a primeira tópica, é usualmente tratado em certa medida à parte
do resto da obra, que estaria debruçada sobre o âmbito da interpretação. Testando
os limites de uma identificação que apresenta sumariamente a singularidade da
interpretação e a universalidade da teoria, procuramos aqui investigar como a
singularidade se insere, em A interpretação dos sonhos, na construção teórica. Apesar
de nos determos especialmente sobre o Capítulo 7, procuraremos também pôr em
questão a possibilidade de uma distinção radical entre este capítulo e o resto da obra,
32
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
se pensada a partir das distinções entre interpretação e teoria ou entre singularidade e
universalidade. É entre o relato extenso da análise de um sonho e a elaboração teórica
em sua generalidade, expoentes maiores da singularidade e da universalidade nesta
obra, que encontramos os modos de exposição que fazem a mediação entre estes dois
pólos, como a evocação do exemplo ilustrativo e a apresentação de casos que amparem
uma tese. Detendo-nos nestes modos de exposição, investigamos em que medida o
modo como o singular e o universal se relacionam constitui uma lógica da prova.
Imanência e Transcendência em
A Ideia da Fenomenologia
Andressa Alves Souto
[email protected]
UFSCAR
CAPES
As cinco lições ministradas por Husserl em 1907, publicadas sob o título A Ideia
da Fenomenologia, podem ser consideradas o momento em que a fenomenologia
transcendental marca seus primeiros passos. Se nas Investigações Lógicas, Husserl se
movia ainda pelo âmbito de uma “psicologia descritiva”, cuja preocupação central se
colocava sob os termos da relação entre o “em si” da objetividade e a subjetividade do
conhecimento, na Ideia, esta questão adquire novos contornos, a qual ele denomina
“o enigma da transcendência”. Aqui, a possibilidade do conhecimento transcendente
torna-se o problema inicial e norteador da crítica do conhecimento. Esta nova maneira
com que o problema do conhecimento é instaurado pela fenomenologia, implica
noções de imanência e transcendência que diferem da interpretação tradicional,
segundo a qual a primeira seria as vivências interiores de um sujeito e a segunda, os
objetos externos à consciência. No presente trabalho, procurarei elucidar a noção de
imanência e de transcendência desenvolvidas em A Ideia da Fenomenologia. A partir
daí, pretendo mostrar que a concepção de imanência desenvolvida nesta obra não
apenas permite a solução do “enigma da transcendência”, como nos apresenta uma
noção de consciência que escapa aos moldes cartesianos.
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Walter Benjamin e Franz Kafka: a exigência de
uma nova narratividade
Anita Guimarães Câmara
[email protected]
PUC – SP.
CNPQ
O tema do presente trabalho é a interpretação de Walter Benjamin da obra do
escritor Franz Kafka. Após uma introdução breve da importância desse estudo para
a filosofia de Benjamin, passo a discutir um conto específico de Kafka para ilustrar
a análise. Podemos resumir a relevância do tema a seguir: O interesse de Benjamin
sobre a obra ficcional de Kafka se inscreve no seu trabalho da “teoria narrativa” e suas
transformações sofridas em uma sociedade capitalista desenvolvida. Seu interesse
pela literatura, não apenas de Kafka como também Baudelaire e Proust, e pela arte,
em especial Klee e os surrealistas, se deve a uma filosofia estética que pretende buscar
nessas representações do mundo chaves imprescindíveis para uma leitura política.
Benjamin se insere num restrito grupo de pensadores que soube dar valor político
e histórico aos fenômenos estéticos. No imaginário de Benjamin há espaço para os
detalhes mais particulares do mundo contemporâneo, assim como há espaço para
assuntos que parecem tão alheios a filosofia. A extrema sensibilidade de Kafka fez com
que ele percebesse o desmoronamento de sentido do mundo de uma forma exemplar.
Para esse fenômeno novo (a destruição de paradigmas até então estáveis da tradição)
ele teve de cifrar de maneira nova, sua escrita é a representação da emergência de um
mundo novo. O mundo burocratizado, feito de relações reificadas e a alienação foi
sentido e descrito por Kafka e é isso que o torna, mais do que qualquer outra coisa,
um escritor tão caro para uma análise do mundo contemporâneo.
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Considerações acerca do ressentimento a partir
de Nietzsche e Freud
Anna Paula de Ramos Campos
[email protected]
UFG
CAPES
O referido trabalho pretende apontar quais são as possíveis considerações acerca
do ressentimento a partir do que tentaremos definir como psicologia do homem de
ação segundo uma perspectiva nietzschiana. O ressentimento é o responsável pelo
suposto envenenamento psicológico que enfraquece o homem, pois há neste caso, uma
negação dos instintos peculiares à natureza humana. Assim, é o que determina suas
crenças e comportamentos, sempre atrelados a uma moralidade que impõe a culpa
como algo natural e por que não dizer, sublime no sentido religioso. O homem em
geral não se queixa do sofrimento e das contingências que o arrebatam, contingências
essas comuns a toda existência humana, mas sim, o que mais o aterroriza é a falta de
sentido que o sofrimento lhe impõe. Portanto, o ressentido não é alguém incapaz de
esquecer, mas sim alguém que busca um culpado para o agravo que lhe foi infligido. O
ressentimento é um tema muito forte e característico dentro da filosofia de Nietzsche
quando este trata do ressentimento como o ponto central de construção da moral do
homem existente dentro do Estado moderno. O ressentimento não é um conceito
psicanalítico, pois, este está muito mais atrelado ao senso comum, às noções de culpa,
castigo, dívida e reparação de danos. Há uma busca pelo responsável causador da
dor e do sofrimento infligidos. O cristianismo tem um grande peso na construção
de todas essas noções. Tentaremos, além disso, abordar as possíveis relações entre
a filosofia de Friedrich Nietzsche e a teoria do pai da psicanálise, Sigmund Freud,
voltadas para a questão do ressentimento. Buscaremos analisar se há a possibilidade
de tal aproximação entre uma teoria psicanalítica freudiana e a teoria filosófica
de Nietzsche. Por fim, objetivamos analisar em quais aspectos especificamente, a
psicanálise freudiana pode se assemelhar ou desassemelhar às ideias precursoras,
engendradas por Nietzsche acerca do ressentimento, sendo compreendidas dentro do
mecanismo de uma psicologia do homem de ação.
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
A relação entre mente e corpo do Estado no
Tratado Político de Espinosa
Antônio Mário David Siqueira Ferreira
[email protected]
FFLCH / USP
CNPQ
Desde o século XVII, tem sido investigada e comentada à exaustão a abordagem
espinosana da relação entre mente e corpo, sobretudo tal como aparece em sua
Ética. Espinosa concebe a mente e o corpo como modos dos atributos pensamento e
extensão, respectivamente, sendo ambos atributos infinitos, infinitos em seu gênero,
de uma mesma e única substância, a saber, Deus ou a Natureza. Por sua natureza
ontológica, a união entre mente e corpo não envolve hierarquia nem comando, mas
simultaneidade, cada qual exprimindo à sua maneira a natureza divina e operando
necessariamente segundo as leis e a ordem eterna da Natureza, seja adequadamente
(predomínio da razão), seja inadequadamente (predomínio da paixão). Contudo, não
é apenas aos homens tomados individualmente que se aplicam os conceitos de mente
e corpo. Em sua Ética, Espinosa já argumentara que “nada os homens podem escolher
de preferível /.../ do que convir todos em tudo de tal maneira que as Mentes e os
Corpos de todos componham como que (quasi) uma só Mente e um só Corpo” (Ética
IV, P. 18, Esc.). Porém, é em sua última obra, o Tratado Político (TP), que Espinosa
melhor desenvolve tal formulação. Tendo estabelecido que o Direito do Estado não é
senão o próprio Direito de Natureza que se determina pela poltência, já não de cada
um, mas da multidão, Espinosa acrescenta: no estado civil, “a multidão é conduzida
como que por uma só mente (una veluti mente ducitur)” (TP, III, §2). Neste trabalho,
pretendo, a partir da análise da ocorrência dos conceitos de mente e corpo no TP: a)
discutir a validade da aplicação destes conceitos à política; b) identificar elementos
que permitam ampliar a interpretação da relação entre mente e corpo na filosofia
espinosana para além daqueles oferecidos pela Ética.
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
As antinomias como um problema filosófico da
reificação em História e Consciência de Classe
de Georg Lukács
Bruno Moretti Falcão Mendes
[email protected]
UFSCAR
CAPES
O propósito deste trabalho seria analisar a discussão filosófica acerca do problema
da reificação desenvolvida por Lukács em História e Consciência de Classe, na medida
em que o autor procura mostrar como na evolução do pensamento filosófico estariam
registros importantes acerca do fenômeno da reificação. Trata-se de investigar como
Lukács promove a articulação entre a teoria do fetichismo da mercadoria com os
fundamentos metodológicos do método dialético observados no trajeto da filosofia
clássica alemã.
Esse vínculo se dá na medida em que a universalização da forma social da
mercadoria, a mercadoria como matriz estrutural que influencia o conjunto geral das
manifestações da sociedade no capitalismo moderno – o fetichismo da mercadoria
– produz as antinomias do pensamento burguês, que são problemas no interior da
filosofia burguesa que impossibilitam para a mesma o acesso à verdade, ou seja,
impendem-na de penetrar concretamente nos problemas do ser, segundo a exposição
que Lukács desenvolve da trajetória da filosofia clássica alemã de Kant à Hegel (na
parte II do 4º capítulo de História e Consciência de Classe).
Lukács busca encontrar a unidade sujeito-objeto idêntico no plano material da
história, ou seja, buscar o sujeito concreto da história a partir dos desdobramentos
das “figuras” da consciência. Nessa medida, a problemática da reificação a partir da
forma estrutural universal da mercadoria deve ser considerada uma matriz estrutural
que permite a articulação entre a objetividade reificada e a subjetividade resultante,
ou seja, a abordagem de Lukács procurar mostrar como, a cada nível da objetividade
reificada (os problemas do ser) há uma tentativa por parte da filosofia de responder a
tais questões, tornando-se consciente filosoficamente. Porém, a tentativa de solucionar
alguns problemas concretos pelo pensamento resultaram em problemas insolúveis,
como o problema da facticidade do dado do conteúdo, a irracionalidade representada
no conceito da coisa em si, mas deixaram indícios e fundamentos importantes em
termos de relação sujeito e objeto, que só poderiam ser concretizados em um momento
seguinte da história. Referimo-nos ao legado da filosofia clássica alemã para o método
dialético nos termos do processo efetivo da história, do sujeito concreto da história.
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Psicanálise Existencial, Liberdade e História:
interioridade-exterioridade como produção de si
Carlos Eduardo de Moura
[email protected]
UFSCAR
FAPESP
O tema do sujeito, percebido em sua individuação e em sua personalidade,
é uma questão vívida em Sartre, o que possibilita traçar alguns caminhos para se
compreender melhor suas contribuições acerca das problemáticas em torno do
conceito de “sujeito” – seja na dimensão individual ou social – e sobre o processo
de formação da personalidade (processo de subjetivação). Para isso, a subjetividade
será apreendida como processo, identificando-a com a liberdade para que o indivíduo
jamais seja coisa (entidade, ἕξις, “Natureza Humana”). Não se pretende pensar aqui o
sujeito como “entidade subjetiva” (uma substância pensante) e sim analisar o homem
na perspectiva de um processo de produção de si, de uma liberdade existindo em ato
(livre) visando um fim que se deseja realizar concretamente no mundo. O processo
de subjetivação será visto como ato livre e não haverá como o sujeito deixar de agir,
pois nenhuma substância ou condição a priori lhe garantirá segurança e estabilidade:
a construção de si será processo, movimento, tensão histórica, ação e compromisso
diante de situações objetivas. É neste sentido que o sujeito (interioridade) será
solicitado a assumir uma posição frente às “resistências” que o mundo oferece à sua
liberdade e, a partir disto, compreender que ela não poderá ser exercida no vazio, ao
contrário, ela existirá em meio à adversidade que é colocada pela realidade material
(exterioridade), pela dimensão sócio-material, isto é, pelo mundo e pelas coisas como
possuidoras de qualidades, de valores e investidas de psiquismo, portanto, portadoras
de um sentido derivado da relação consciência-mundo e pela presença dos outros:
a liberdade será sempre situada. Exercê-la, por fim, será possível apenas diante dos
limites (mundo humanizado, História, classe, Instituições, sociedade, geografia,
cultura, moral, família) que a situação impõe ao sujeito agente e, sendo a existência
processo e liberdade, a subjetividade tornar-se-á possível pelo seu efetivo “criar-se”
na ação livre (na praxis) e diante de condições – condições estas que poderão ser
desveladas pela psicanálise existencial.
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Intuição filosófica e intuição mística a partir de
Bergson e Schopenhauer
Catarina Rochamonte
[email protected]
UFSCAR
CAPES
As filosofias de Arthur Schopenhauer e Henri Bergson convergem tanto na
relativização das pretensões ontológicas absolutas da razão através da elaboração de
uma teoria genética da inteligência, quanto no espaço reservado em suas obras para a
consideração da experiência mística. Tanto Schopenhauer quanto Bergson, a despeito
da análise crítica da inteligência, continuam a pensar que um acesso à realidade é
possível por uma intuição da qual são capazes algumas individualidades privilegiadas:
o artista, de uma maneira limitada e efêmera e os santos ou místicos, de um modo
mais completo e duradouro. Apesar disso, a interpretação daquilo que essas almas
privilegiadas contemplam aponta para concepções éticas de diferentes tonalidades
afetivas, pois remete às diferentes metafísicas que as fundamentam. Tomando como
ponto de partida a noção de intuição em ambos os filósofos pretendemos, pois, visitar
essas duas perspectivas éticas que têm em sua base um voluntarismo ontológico.
Sexualidades na educação: a busca pela ética
no contraponto entre os aphrodisia e a pastoral
cristã da carne
Cinthia Alves Falchi
[email protected]
UNESP – Marília
CNPQ
Exploraremos um caminhar para o desenvolvimento de uma ética a partir da
introdução das sexualidades na educação. Para isso, nos utilizaremos da Erótica grega
como questionadora na moral dos prazeres. Para fundamentar nossa teoria nos fazemos
valer da hipótese da dinâmica dos aphrodisia em contraposição da ética privilegiada
pela pastoral cristã da carne. Assim, discorreremos em proveito de uma askesis que é
além de matéria de ensino também instrumento essencial da direção de almas.
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Para esse nosso trajeto recorreremos as obras de Foucault como fundamentação
de nossos conceitos. Com a discussão que estabelece em História da sexualidade 2 –
o uso dos prazeres, é possível questionarmos nossa conduta enquanto educadores/a
ao mesmo tempo em que nos problematizamos enquanto indivíduo. E será a partir
dessas problematizações e questionamentos que abordaremos as discussões que visam
um governo de si e dos outros como um cuidado de si mesmo.
Não pretendemos, no entanto, nos fazer valer de algum tipo de política pública
como finalidade. Conferimos estrutura para que possamos abrir espaço para uma
ética onde cada pessoa possa se posicionar em relação as suas próprias atitudes.
Assim, não nos limitamos a lei, ao mesmo tempo em que não a ignoramos.
Família e Eticidade na Filosofia do
Direito de Hegel
Claudeni Rodrigues de Oliveira
[email protected]
UNESP - Marília.
Hegel situa a família na Filosofia do Direito como o primeiro momento da
eticidade (Sittlichkeit). A família determina-se pela sensibilidade e através do amor. O
primeiro reconhecimento que a consciência não vive isolada é a descoberta de que o
autoconhecimento passa necessariamente pela mediação do outro. As mediações que
ocorrem no âmbito da família fazem dela uma instituição orgânica em que a pessoa se
torna membro de uma comunidade ética. A família realiza-se em três aspectos: primeiro
através do seu conceito imediato, como casamento. O ponto de partida do casamento
é o sentimento e o livre consentimento. No casamento as vontades individuais são
superadas e guardadas (aufgehoben). O ético do casamento está na unidade com o todo,
mediante a união entre as duas vontades livres. O segundo momento de afirmação da
família se dá através de uma realidade externa; a propriedade. O ético da propriedade
situa-se no sustento da família. Por fim, o terceiro momento de realização da família é a
educação (Bildung) dos filhos. A família educa os filhos para a liberdade e a maioridade.
O terceiro momento, a educação, é o momento da dissolução ética da família. É um
momento ético porque a família realiza o seu papel de educar o filho e torná-lo cidadão
do Estado. Conclui-se, portanto, que a eticidade no âmbito da família é marcada por
diversas mediações que permitem ao indivíduo se reconhecer como membro de uma
comunidade ética, a família, como também de uma totalidade ética, o Estado, na qual a
família obtém seu pleno reconhecimento enquanto tal.
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
O sentido de uma ilusão: Ayer, Austin e o papel
do “Argumento da Ilusão”
Cristiano Junta
[email protected]
UFRGS
CNPQ
O objetivo desse estudo é avaliar a importância filosófica da posição de J. L.
Austin em seu livro Sense and Sensibilia, em especial, como importante crítica às
concepções dualistas em filosofia da percepção. O fio condutor de nossa investigação
é o debate entre Austin e Alfred J. Ayer sobre a teoria da informação-sensorial e o
status do “Argumento da Ilusão”. Argüimos que a resposta de Ayer as críticas de
Austin desfiguram a posição deste sobre o tema. Defendemos que o centro da crítica
de Austin não reside em uma tentativa de refutar a teoria da informação-sensorial,
como defende Ayer. De outra maneira, pretende-se revelar e criticar a natureza
dualista da problemática filosófica que dá ensejo ao uso particular que Ayer faz do
“Argumento da Ilusão”. Argumentamos que, para Austin, o ponto central não reside
em saber se essas discussões são capazes de justificar o emprego de uma terminologia
capaz de dar referência apropriada a um aspecto meramente sensório dos objetos
da experiência perceptiva (distinguível de alguma maneira de suas propriedades
físicas). Tal distinção é fundamental para a instauração da dicotomia entre objeto
material/informação-sensorial. O problema consiste, de maneira completamente
diversa, na observação de que o emprego do vocabulário da teoria da informaçãosensorial guia a investigação filosófica sobre a natureza da percepção a partir de uma
imagem sistematicamente enganadora. Nossa exposição compõe-se das seguintes
partes: (I) expomos a posição Ayer sobre o tema tal como ela aparece em seu “The
Foundations of Empirical Knowledge”; (II) revisamos a crítica de Austin em “Sense
and Sensibilia”; (III) contrapomos a resposta de Ayer em “Has Austin Refuted the
sense-datum Theory?” com algumas características típicas da posição filosófica
de Austin, em especial, sua rejeição a dicotomia objetos materiais/ informações
sensoriais e realismo/anti-realismo; (IV) por fim, relacionamos a posição de Austin
com a critica ao representacionalismo em filosofia da percepção desenvolvido por
Charles Travis em “The Silence of Sense”.
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
O conceito de esfera pública em Habermas
Danilo Persch
[email protected]
UNEMAT
FAPEMAT
Com seu estudo Mudança estrutural da esfera pública, que está completando 50
anos, o filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas tem influenciado a discussão
crítica sobre “esfera pública”, particularmente o que tange os meios de comunicação de
massa, as estruturas sociais, a política, a burocracia, o espaço público como também a
opinião pública. Mas, o que é esfera pública (Öffentlichkeit) para Habermas? O modelo
de organização social que Habermas tem em vista ao tratar da esfera pública, que tem
relação com a sua grande Teoria do agir comunicativo, desenvolvida posteriormente, é
um projeto essencialmente utópico? O que desse livro clássico permanece válido na era
da internet e do mundo digital? Por que ainda hoje vale a pena ler esse texto de Habermas,
que na ocasião da publicação tinha apenas 32 anos? São tais questionamentos, dentre
outros, que tentaremos trazer a tona em nossa comunicação.
Considerações sobre o desenvolvimento das
estruturas cognitivas necessárias a constituição
da noção de tempo
Danilo Ramos Meira da Silva
[email protected]
UNESP - Marília
CAPES
Este trabalho pretende mostrar, segundo a Epistemologia e a Psicologia Genéticas,
o desenvolvimento das estruturas cognitivas necessárias à constituição da noção de
tempo no sujeito epistêmico, o sujeito do conhecimento. Trataremos das operações
elementares que permitem engendrar a simultaneidade e a sucessão assim como
as durações das diversas ordens. Neste sentido, destacaremos alguns problemas de
seriação dos acontecimentos no tempo, tais como os que envolvem a simultaneidade
e sucessão – avaliação da duração dos intervalos, sucessão no domínio dos
acontecimentos atuais, e simultaneidade; bem como os que envolvem a compreensão
das durações das diversas ordens – igualação das durações sincrônicas, transitividade
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
das relações de igualdade das durações, medida do tempo e isocronismo das durações
sucessivas. A partir de tal análise pretendemos destacar o processo global de construção
da noção de tempo, desde o momento da organização das ações mais elementares do
sujeito, passando por quando ela é traduzida para o plano da linguagem e da reflexão
consciente, até o momento em que o sujeito epistêmico se torna capaz de realizar
formalmente as operações constitutivas do tempo físico, como expresso, por exemplo,
na Mecânica Clássica ou nas Teorias da Relatividade (o que implica a constituição de
capacidades relativas à ordem, simultaneidade, sincronização, imbricação e adição
das durações e medidas). É importante notar que essa construção da noção de
tempo constitui, segundo as Epistemologia e Psicologia Genéticas, um dos pilares
fundamentais da construção da realidade por parte do sujeito epistêmico, sendo
solidária, em particular, da noção de causalidade, bem como das noções de espaço
e de objeto permanente (e estas intimamente relacionadas com o desenvolvimento
da capacidade do raciocínio lógico-matemático, por parte do sujeito epistêmico).
Mostraremos então como a teoria de Piaget surge em função de questões de fundo
essencialmente epistemológico e relativo à Teoria do Conhecimento, e que ela traz
novidades para estas áreas. Em especial, veremos que a intuição objetiva do tempo
é derivada, e também solidária, da intuição de velocidade e que esta se expressa
como uma capacidade de coordenar, de maneira operatória, os movimentos em
geral dos corpos.
Teoria Crítica, meios de comunicação e (de)
formação da subjetividade: os aspectos
políticos/ideológicos das produções televisivas e
os desafios pedagógicos da escola
David Silva Bet
[email protected]
UFSCAR
A demanda contemporânea que exalta e exige os valores sociais ditos positivos
perpassa pelo exaustivo e embrutecedor processo de afirmação da cultura estabelecida.
Associado a este processo, temos os poderosos recursos da publicidade e da propaganda
em sua investida a seduzir os indivíduos à prática do consumo. Vendendo mais do
que produtos, os modos de comportamento são sutilmente administrados e contextos
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
ideológicos são transmitidos pelas mensagens publicitárias sob a roupagem de
ingênuas situações cotidianas. Vender a “vida dos indivíduos” é a tentativa de fazer do
estereótipo, da fantasia e da ilusão o próprio real, o dado, o imediato: geração da falsa
consciência. Nessa perspectiva e sob a orientação das leituras das obras de Adorno
e Marcuse, propomos um debate acerca dos conteúdos da televisão e seus impactos
no ambiente escolar. Uma vez que este meio de comunicação pode se converter
em veículo de ideologias que impedem o desenvolvimento das habilidades crítico
reflexivas dos indivíduos e, com efeito, militam a favor da miséria e da labuta, a escola,
ao invés de promover uma formação voltada à emancipação dos homens, pode ser
outro agente de controle social. Nesse sentido, a educação para o esclarecimento não
pode ficar alheia às novas tecnologias. Ao contrário, lançar mão de um mecanismo
de informação como a televisão poderia ser um eficiente meio para a formação, desde
que seu conteúdo fosse voltado não a um fim específico, mas a um princípio: a vida
em todas as suas manifestações (cultural/política/econômica) e na denúncia dos
abusos que perpetuam as diversas formas de servidão.
O Projeto de Ser Sartreano no Ser e o Nada
Diego Rodstein Rodrigues
[email protected]
UFSC
FAPESC
A proposta desta apresentação é entender por qual via a questão do projeto
existencial se faz importante no contexto da teoria de Jean-Paul Sartre e os
impedimentos encontrados pelo ser em seu trajeto, tais questões que são abordadas
pelo autor no livro O Ser e o nada. Para tal, é necessário conhecer de maneira pelo
menos sucinta o caminho feito pelo autor em sua principal obra, que ele diz ser uma
Fenomenologia Ontológica. Nessa empreitada, Sartre se prende principalmente a
conceitos prévios de Husserl, se baseando em sua idéia de fenômeno.
Para compreender a ontologia fenomenológica, que fundamenta a visão sartreana
do projeto existencial do ser, temos que percorrer um caminho partindo da distinção
entre ser-em-si e ser-para-si, que é de grande importância. Pode-se partir da idéia de
que o ser-em-si é qualquer objeto que possui uma essência pré-definida, como por
exemplo, uma tesoura, ela só foi criada para suprir uma necessidade, a de cortar. Este
objeto possui uma essência prévia necessária para poder ser criado.
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Esse tipo de ser não possui nenhum tipo de potencialidade e muito menos
consciência do mundo, ele apenas é, sendo assim um ser em sua plenitude absoluta
e inalterável. Essas manifestações são interpretadas pela consciência humana por via
das manifestações dadas, chamadas na teoria, como fenômenos.
Sartre afirma que tal consciência não detém o autoconhecimento e o conhecimento
do mundo, diferenciando-a assim do ser-em-si: chamando-a então de ser-para-si. É o
para-si que media as relações com o em-si, criando assim de certa forma um sentido
para o seu mundo.
O para-si é totalmente desprovido de essência prévia e conforme vivencia as
coisas ele vai moldando sua essência. Dessa forma Sartre começa a afirmar a não
necessidade de um Deus criador da consciência, pois ao afirmar a consciência como
um ser-para-si ela se torna algo que se dá pela própria essência. Sartre nega qualquer
influência de uma idéia prévia da consciência na mente.
Sendo o para-si um vivenciador e criador de sua própria essência, isso dá o
aspecto da constante mutação da consciência humana, tornando-os os únicos seres
responsáveis por seus atos.
A concepção da consciência como experiência
fenomenológica de aspecto dual no âmbito da
perspectiva do monista reflexivo
Edmar Gomes Rodrigues
[email protected]
UFU
CAPES
Nesta comunicação, pretendemos apresentar as principais divergências entre as
perspectivas assumidas pelo dualismo clássico, o reducionismo e o monismo reflexivo
no que diz respeito à defesa da consciência como categoria fenomênica-ontológica
não redutível nem a processos neurocerebrais nem a uma substância pensante.
Trata-se de um posicionamento contrário ao projeto fisicalista ou dualista segundo
os quais (i) para cada evento mental corresponde um evento neurofisiológico, ou
(ii) para cada objeto experienciado no espaço com extensão e posição possui um
correlato não dimensional e não material produzido por uma substância pensante.
De acordo com a proposta do monismo reflexivo, a consciência da realidade adota
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
um caráter de aspecto-dual reflexivo, a saber, o objeto observado em si coincide com
a experiência fenomênica do subjeito que observa o que difere em essência das formas
clássicas e contemporâneas de dualismo e do reducionismo. Em síntese, trata-se de
uma perspectiva psicológica do mundo no qual a vivência do objeto se apresenta
como, (i) um aspecto de terceira-pessoa o qual ocorre em correlatos neuropsíquicos
do mundo externo captados por diferentes observadores e, (ii) um outro aspecto de
primeira pessoa o qual se manifesta na experiência do sujeito refletindo no objeto de
observação . Por fim nossa proposta concerne em fundamentar uma naturalização dos
aspectos fenomenológicos, o que significa uma naturalização neurofenomenológica
dos processos neurocerebrais segundo a perspectiva de Max Velmans.
Bergson e o método intuitivo
Eduardo Soares Ribeiro
[email protected]
UFSCAR
CAPES
Neste trabalho abordaremos o tema da intuição e o método intuitivo no
pensamento de Henri Bergson, tendo por objetivo mostrar a partir de quais
problemas tal método pôde surgir e quais dificuldades ele tenta solucionar em seu
desenvolvimento no decorrer do pensamento bergsoniano. Para alcançar o problema
da intuição em Bergson, teremos que tratar brevemente de temas fundamentais de
sua filosofia, a saber, da duração e do tempo; da intuição interior e seu contato com o
Eu profundo; do ser como mobilidade e a cisão de Bergson com a metafísica antiga,
clássica, que vê o imóvel como essencial e a mudança como acidental. Discorreremos
também acerca da metafísica bergsoniana – ciência que dispensa o uso dos símbolos
– e da ciência simbólica como formas de conhecimento do absoluto, seja ele intuitivoespiritual ou analítico-material. Por fim, abordaremos o problema da expressão da
intuição ou, em outras palavras, da comunicação da duração em termos espaciais;
a dificuldade da linguagem e da inteligência de dizer o ser movente e a proposta
bergsoniana de solução deste impasse através da introdução da metáfora, das imagens e
dos conceitos flexíveis. Com o intuito de atender nossos objetivos principais, explicitar
as dificuldades acima apontadas – mostrando de que forma Bergson as contorna –,
além de esclarecer o funcionamento do método e do conhecimento intuitivo, iremos
nos basear nos seguintes textos de Bergson: “A Introdução da Metafísica” (1903),
46
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
a conferência intitulada “A Intuição Filosófica” (1911) e as duas introduções de “O
Pensamento e o Movente” (1922), onde esses conceitos aparecem ou pela primeira
vez, ou tomando desenvolvimentos decisivos.
Intuição e Conhecimento na Filosofia de Bergson
Elaine Guinevere de Melo Silva
[email protected]
UFSCAR
CAPES
Para Bergson, o tempo concreto que consiste na duração pura, na mudança
contínua, no movimento real passou a figurar na mesma categoria do espaço. Restava,
portanto, estudar e definir a natureza e a função deste último, para depois aplicar
as conclusões obtidas ao tempo. Dessa maneira, as teorias do espaço e do tempo
tornaram-se paralelas, e ambas desviaram-se da duração real. Portanto, em busca do
conhecimento da realidade tal como ela é, cometeu-se o erro de se utilizar a categoria
do espaço para descrever o tempo.
O objetivo principal dessa comunicação é, através de alguns elementos teóricos,
explicar a distinção entre espaço e duração na filosofia de Bergson. Nesse sentido,
realizou-se uma investigação aprofundada de questões acerca do conceito de duração.
Através do estudo e análise atenta do conjunto da obra bergsoniana, empreendeu-se
também o estudo dessas questões de modo a possibilitar uma compreensão e uma
exposição fundamentada do papel que a intuição e a inteligência têm na metafísica
proposta pelo filósofo.
Pretendemos expor ainda a análise de conceitos que se relacionam direta
ou indiretamente com o conceito de tempo em Bergson, tais como, inteligência,
memória, percepção, intuição, duração e espaço. Como tais conceitos envolvem o
dualismo entre exterioridade e interioridade, qualidade e quantidade, corpo e espírito,
constantemente presentes na obra de Bergson, tal dualismo também será comentado
nesta comunicação.
47
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Modelo, Cópia e Simulação - Uma perspectiva
deleuziana ao problema platônico
Elemar Kleber Favreto
[email protected]
UNIOESTE
CAPES
Este artigo tem por objetivo esclarecer alguns aspectos mais gerais da crítica
que Deleuze faz à Platão, tentando, a partir daí, conceituar a filosofia ontológica
deleuziana. Sabemos que a grande maioria das críticas à filosofia platônica se
direciona especificamente à diferença entre o mundo sensível e o mundo inteligível,
porém, o autor francês observa que o maior problema não está na fundamentação
desta diferença, mas na subordinação destes dois mundos à identidade, ou melhor, a
redução da Diferença (multiplicidade) à Identidade (unidade), através da similitude
entre Ideia e Cópia. Assim, Deleuze considera ser o simulacro a expressão da própria
Diferença e, enquanto expressão desta, manifestação do Ser. Entretanto, devemos ter
em mente que a concepção deleuziana de Ser se dá a partir da univocidade. Esta
univocidade em nada se iguala ao modelo platônico, já que ser unívoco não quer
necessariamente ser idêntico; ser unívoco é possuir um mesmo sentido, e, diria nosso
autor, o Ser só possui um sentido, qual seja: a própria Diferença. É nesta perspectiva
que o simulacro não corresponde nem à Cópia, como reprodução, e nem à Ideia,
como modelo, já que não traz vinculado em seu âmago a representação. Outro ponto
a ser ressaltado é a identificação deleuziana entre simulacro e “eterno retorno”. A ideia
de “eterno retorno” consiste em uma repetição eterna do mesmo, como em Nietzsche;
mas, o que seria este mesmo? Retornamos aqui à Diferença. Poderíamos, assim, dizer
que o que há é um “eterno retorno da Diferença”, já que é a Diferença que sempre
retorna como multiplicidade, que sempre se repete singularmente. O simulacro pode
ser, assim, concebido como a própria Diferença, pois se reconhece nele uma potência
capaz de se manifestar como acontecimento. O Acontecimento se compreende como
a manifestação da singularidade, já que nenhum acontecimento é igual ou semelhante
ao outro, tudo o que acontece é novo e único.
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
A Apercepção Transcendental Na Crítica Da
Razão Pura: Capacidade Cognitiva Ou Problemas
De Subjetividade?
Elias Sérgio Dutra
[email protected]
IFG / UFSCAR
Para Ameriks o papel da apercepção na Crítica não é definir mentalidade ou
subjetividade, mas para designar o nível mínimo do conhecimento humano, isto é,
distinguir os vários níveis do conhecimento, que vai da mera receptividade à atividade
consciente. Afirma que a consciência de si só poderá ser algo porque implica a
consciência de objetos, isto é, como capacidade de determinar as intuições dadas por
meio de conceitos de objetos. Trata a consciência de si apenas como uma consciência
de juízos que são objetivamente válidos, negando que ela seja um princípio necessário
da constituição do ponto de vista de uma subjetividade.
Ao contrário do que foi defendido por Ameriks, Allison construiu uma tese que
relaciona apercepção com o problema da subjetividade ou de mentalidade. Para ele,
a apercepção será analisada como uma “consciência não experimental da atividade
de pensar”. Isso em si já implica duas coisas: remete o problema da apercepção à
espontaneidade do pensamento e a um conhecimento da existência. Allison propõe
analisar a apercepção como espontaneidade a partir da atenção à consciência que
temos de nós mesmos, como seres capazes de cognição, quando ocupados com nossa
atividade primordial que é a atividade de pensar. Portanto, é na capacidade de pensar
que a apercepção pode ser compreendida como espontaneidade. A consciência
resultante de tal ato é consciência de espontaneidade. A partir dessas afirmações,
Allison faz uma distinção entre dois modos de consciência.
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Um elemento para a razão livre: leitura do
ateísmo sadiano
Elizângela Inocêncio Mattos
[email protected]
UFT - UFSCAR
Em defesa da liberdade do indivíduo, resultado do esforço em direção ao
esclarecimento, a obra do Marquês de Sade se refere a um elemento fundamental a ser
combatido: a religião, pois em seu contexto a própria razão seria a causa e o efeito das
ações humanas, em nome de uma liberdade que para tanto, não teria a necessidade
de considerar a existência de Deus, da religião, de seus dogmas, suas instituições,
que em suma, não se justificariam importantes para a conservação da espécie. O
presente texto tem o objetivo de demonstrar o modo como Sade edificou seu ateísmo
como um elemento imprescindível ao homem emancipado, e se dirigiu ao homem de
esclarecimento. Ao se constituir como um entrave da livre razão ou mesmo de alterar
a autonomia da mesma, o ideal da igreja se edifica como um inimigo a ser derrotado
e ao defender o domínio de si e por conseguinte da própria vontade, Sade constrói
sua tese no ponto oposto da igreja: pois a renúncia de si em nome da pureza não seria
atitude do indivíduo livre. Ao evocar a liberdade do desejo, o ateísmo encontra no
contexto sadiano um elemento da emancipação do individuo diante da coerção moral
e social de seu tempo. Em defesa da natureza, Sade requer a comprovação e coerência
lógica das verdades da igreja, que sem sustentação e sentido, deveriam ser abolidas.
Assim acontece quando de sua critica ao mandamento cristão: amar ao próximo como
a ti mesmo que, impossível de se fazer valer, se edifica na benevolência e filantropia,
elementos distintos do que seria próprio da natureza do individuo.
A Propósito do Vigiar e Punir em Foucault nas
instituições atuais: Permanências?
Fábio Luis Rodrigues Figueredo
[email protected]
UNESP DE MARÍLA
REDEFOR
Essa comunicação tem o propósito de compreender se a “hermenêutica” de
Foucault sobre a natureza da vigilância e punição desenvolvida em Vigiar e Punir
50
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
encontra permanências na atualidade a nível de regime fechado de reclusão e o que
essa análise implica no entendimento das instituições . Foucault é por excelência o
pensador que procurou entender o universo das instituições em si, desde prisões,
hospitais, manicômios, em suas estruturas objetivas e subjetivas de existir. O presente
trabalho procura demonstrar o “fazer filosófico” de Foucault, isto é, a “hermenêutica
foucaultina” sobre o vigiar e punir no interior das instituições, não enquanto fruto
de uma mera inspiração empírica, mas como uma exaustivo trabalho em busca
das fontes documentais e contato direto com objeto em si, pois nesse caso a fonte
documental sobre o regime de punição no período moderno se revelará no interior
dessa pesquisa. Os suplícios, as torturas aos corpos práticas tão comuns no século
XVIII, não estariam existindo com outros dizeres no cotidiano atual? Para que
essa pesquisa não ficasse apenas restrita ao mundo das bibliografias, buscou ter
contato direto com uma unidade da Fundação Casa, onde houve um confronto da
hermenêutica do Vigiar e Punir com a instituição de ressocialização do menor infrator
em si; a partir da legislação interna, nas falas, sanções, vigiar, das vestes, do cotidiano,
permitindo questionar se existem permanências de métodos punitivos oriundos do
século das luzes ou não. A genialidade de Foucault foi ter argumentado que pesquisar
regime prisional é um momento original de revelação explícita do que o homem vive
em regime reclusivo, mas cuja vivência se estende de forma implícita e sutilmente
às instituições inseridas na sociedade. O ponto nevrálgico do trabalho de pesquisa
é aquele em que “as estruturas do vigiar e punir” em cada período da Historia se
revestem com novos dizeres, aparelhos, espaços e temporalidades, instaurando a
necessidades de buscar respostas do “por que” dessas permanências do vigiar e punir
resistirem às mudanças. É o que procura responder a presente pesquisa.
Considerações parciais acerca do realismo
beckettiano em Endgame
Felipe Resende da Silva
[email protected]
UNESP
O objetivo deste trabalho é tecer algumas reflexões gerais acerca do estilo realista
da arte beckettiana a partir da análise de Endgame feita por Theodor Adorno. Nessa
análise, como veremos, Beckett confronta o estilo tradicional do drama em virtude de
problemas históricos que entram em conflito com a própria estrutura e composição de
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
um método artístico predominante há vários séculos. Isso se dá principalmente pela
seguinte razão: a eclosão das duas guerras mundiais e os inimagináveis genocídios
nela ocorridos provocaram transformações fundamentais na cultura e na existência
humana, onde a falta de sentido em um mundo barbarizado pelo esclarecimento passa
a assolar profundamente o homem. Nesse quadro, como poderia o drama tradicional
- devedor de uma fundamentação metafísica do significado responsável pelo
desenvolvimento da totalidade do artefato – lidar com um mundo onde a possibilidade
de um sentido imanente se vê cada vez mais rara? Nesta situação, se a obra de arte
presa às regras clássicas tenta significar o não-significado, ela acaba por falsificar a
gravidade histórica do problema. A contradição entre sentido x falta de sentido, como
mostra Adorno, é enfrentada pelo irlandês através da refuncionalização dos elementos
negativos histórico-concretos do mundo, onde eles tanto servem como material de
produção artística quanto componentes críticos do estado de coisas do mundo. Para
que isso se efetive de modo coerente, Beckett reformula a própria configuração dos
elementos tradicionais do drama, invertendo-os formal e conteudisticamente ao
ponto de representarem o seu oposto total. Sob essa tensão criativa, o tédio, a ausência
de significado e o fim do mundo transitam ao longo da obra.
O desejo da dor, em Freud
Fernanda Silveira Corrêa
[email protected]
UFSCAR
Com a introdução do conceito de narcisismo em 1914, Freud concebe novo
fundamento ao conceito de sexualidade.
Até então a sexualidade perversa e polimorfa, caracterizada pela plasticidade,
fora suposta como constituída por impulsos surgidos de diversas vivências de
satisfação. A função biológica sexual (que visa à reprodução) foi suposta como
organizadora, no desenvolvimento, da plasticidade original. Organização que nunca
se realiza plenamente, mas que dá certo sentido ao desenvolvimento, impedindo que
a independência dos impulsos determine a infinita repetição das vivências de prazer.
Na história da humanidade, suposta por Freud, na era glacial, os seres humanos teriam
perdido seus objetos e objetivos sexuais, relacionados com a função biológica. Teria
então sido estabelecida a sexualidade perversa. Em oposição ao desenvolvimento
filogenético, cada indivíduo na sua história pessoal teria de resgatar aquilo que
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
fora perdido na história da espécie: a função biológica. Este fundamento biológico
filogenético que funciona como uma falta de fundamento ontogenético (a função foi
perdida e tem de ser recuperada) abre espaço para o desenvolvimento de todas as
formações culturais, baseadas na plasticidade da sexualidade e, ao mesmo tempo, na
direção ao princípio da realidade.
Com o conceito de narcisismo a sexualidade é concebida segundo os modelos da
doença orgânica, da hipocondria e da passividade feminina. Na filogênese sua origem
está na vivência de castração infringida pelo pai primevo aos filhos. Trata-se, antes
de ser uma oposição à castração, de um desejo por ela, um desejo de ser objeto do
pai. Freud resgata parte da sua teoria da vivência de dor formulada em o “Projeto de
uma Psicologia” e abandonada em prol da teoria da vivência de satisfação. Ganha
espaço o papel do objeto hostil causador de dor, no entanto, não um objeto perante
o qual se tem de fugir (nem fugir psiquicamente, i.e., reprimir), mas que se deseja.
Com a ideia de narcisismo (da posição do eu como objeto) está dada a base para a
disposição sexual passivo-masoquista. A dor, assim como a castração que a provocara
na filogênese (e que é uma ameaça na ontogênese), passa a ser desejada, passa a ser o
outro fundamento da sexualidade.
Antropologia e “fisiologia moral” em Foucault
Fillipa Silveira
[email protected]
UFSCAR
CAPES
O tema da “antropologização do saber”, um dos mais centrais em As palavras
e as coisas (1966) de Michel Foucault, parece já se ter delineado antes em sua Tese
Complementar, redigida no final da década de 50 e publicada tardiamente (2002).
Nesta, já se encontram elementos que tornarão possível, mais tarde, a tematização
da antropologia como a atribuição de valor transcendental, por parte dos saberes,
aos conteúdos empíricos das práticas e atividades humanas. A antropologia seria um
acontecimento epistemológico a partir do qual a verdade sobre o Homem teria passado
a conferir limites de direito ao conhecimento, o que invariavelmente faria recair o
pensamento numa subjetividade constituinte. Foucault parece opor-se fortemente a
este movimento, oposição esta que parece se refletir ao longo de toda sua obra. No
âmbito do exame crítico de Foucault da antropologia pragmática kantiana (tema da
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
dita Tese Complementar), encontra-se um termo que, apesar de pouco expressamente
mencionado, parecendo evidenciar o cerne de toda oposição de Foucault ao saber
sobre o Homem: trata-se da constituição de uma espécie de “fisiologia moral” ou “ética”,
através das quais os saberes médicos, psicológicos e jurídicos teriam sintetizado uma
norma do corpo a uma norma da alma. O objetivo desta comunicação é relacionar os
fundamentos da crítica de Foucault à antropologia a partir da ideia de uma “fisiologia
moral”, mostrando a repercussão desta problemática também em outros momentos
da obra do autor.
Análise do Discurso em Foucault: as produções
de sentido das sexualidades na escola
Franciele Monique Scopetc dos Santos
[email protected]
Unesp - Araraquara
Constatamos hoje uma grande expansão nos estudos sobre a constituição cultural
da(s) sexualidade(s) em diversas áreas de conhecimento, dentre as quais a Educação.
Área de estudos que se configura em um campo produtivo para a disseminação deste
debate. Inúmeros teóricos, assim como teóricas passaram a problematizar questões
referentes à sexualidade, inclusive a heteronormatividade, dando suas contribuições
para o reconhecimento da diversidade sexual de nossa sociedade. É necessário
considerar uma reflexão sobre sexualidade que tenha uma exigência de apresentar
nossas categorias de compreensão de seus limites e manifestações. Trata-se de definir
precisamente o que se entende por isto, ou seja, o conceito de sexualidade, explicitando
os termos e categorias do discurso, a partir de sua conformação etimológica e
significação histórica. Entendemos o discurso com as premissas da totalidade e da
universalidade na medida em que Foucault supõe que em toda sociedade existe uma
defasagem entre dois tipos de texto, os primários e os secundários. A relação que
existiria entre eles se apresenta na medida em que os secundários não fazem outra
coisa a não ser repetir e retomar o que se diz nos textos primários a fim de trazer à
luz uma pretensa verdade originária. Nessa perspectiva que essa análise se anuncia, a
saber: em uma construção primária pensar a sexualidade como componente possível
de abordagem na disciplina de filosofia na educação básica, em segunda instância
pensar a qualidade do discurso produzido por essa intersecção interdisciplinar, para
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
tal, recortaremos a obra de Michel Foucault na construção discursiva e na história da
sexualidade, volume I.
Sobre a dedução do princípio da moralidade na
III seção da Fundamentação
Gládis Maria Rauber
[email protected]
UFSCAR
CAPES
Kant reserva a terceira seção Fundamentação da metafísica dos costumes para
apresentar a prova da possibilidade real da moralidade no agir humano. Essa prova
ocorre apenas na quarta subseção sob o título ‘como é possível um imperativo
categórico?’. Nas três primeiras subseções, Kant precisa mostrar que o conceito de
autonomia não é vazio e que sua lei está em conexão com a vontade humana. Uma
parte da prova consiste em sustentar que a liberdade e a moralidade são conceitos
recíprocos. Uma vez provada a liberdade como propriedade de todo ser racional, dela
segue-se por análise, a moralidade, uma vez que “vontade livre e vontade sob leis
morais são uma e a mesma coisa”. Entretanto, a moralidade sob condições humanas,
não é analítica, mas sintética, exigindo-se uma dedução transcendental para justificála. Como toda ação humana envolve um interesse, é preciso mostrar a possibilidade
de se tomar interesse pela lei moral, o que provaria a conexão entre a vontade humana
e a lei da autonomia. Essa tarefa é cumprida na terceira subseção, sob o título ‘do
interesse que anda ligado às idéias da moralidade’ sendo aqui o nosso objeto de análise
como uma prévia para a dedução do imperativo categórico.
55
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Deleuze e o tempo estratigráfico
da história da filosofia
Guilherme Almeida Ribeiro
[email protected]
UFRJ
PPGF
Afirmando uma solidariedade irrestrita entre o modo como Deleuze desdobrou
a história da filosofia em seu próprio percurso e a constituição de suas obras, este
trabalho explora as imbricações entre filosofia e história da filosofia a partir de
uma pressuposição recíproca entre Devir e História. Em um primeiro momento, são
traçadas as coordenadas noéticas de algumas perspectivas tradicionais na historiografia
filosófica, notadamente no campo de enunciação francesa, em relação às quais Deleuze
demonstrou ora total aversão, ora apreço enquanto portadoras de movimentos focais
de renovação do passado filosófico. Neste aspecto, trata-se de desnudar os “retratos
filosóficos” de Deleuze, isto é, suas monografias acerca de alguns filósofos, assim como
a originalidade e a novidade que eles contra-efetuaram quanto ao modo como se estava
habituado a avaliar o lugar de tais pensadores nos quadros esquemáticos da história
da filosofia. Por fim, serão pensados os conceitos propriamente assinados por Deleuze,
sobretudo em Diferença e Repetição, Lógica do sentido e O que é a Filosofia, os quais
escandem o tempo da história da filosofia para além da sucessão factual, e o apontam
para a ideia de coexistência estratigráfica de sistemas.
Experiência e percepção em David Hume
Gustavo Oliveira
[email protected]
UFSCAR
CAPES
Dentre as teses que pautaram a linha de pesquisa empirista, se houvesse apenas
uma que traduzisse as suas principais tendências, esta, decerto, poderia ser expressa a
partir da seguinte proposição do § 28 do Abstract de David Hume: “Não conhecemos
nada mais que qualidades e percepções particulares (p. 695).” Proposição que Hume
levou, dentro do quadro conceitual empirista, às últimas consequências. Primeiro,
por reformular as noções Metafísicas de Substância e de Modo enquanto um conjunto
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
de “ideias simples, que são unidas pela imaginação e às quais se atribui um nome
particular;” segundo, por não fazer nenhuma concessão nem ao modo, através de
qualidades primárias, nem às substânscias materiais, através dos objetos externos, e
tampouco às substâncias imateriais, por meio das ideias universais e/ou abstratas e da
noção de identidade pessoal; e, terceiro, ao externalizar todas as relações entre ideias,
negando, assim, a possibilidade de uma conexão necessária entre percepções diferentes
como, por exemplo, através da relação causal. Com efeito, restaria para o filósofo
empirista investigar a natureza humana, segundo Hume, a partir do modo pelo qual a
experiência é constituída na percepção através das qualidades particulares, das ideias
simples e complexas, dos termos gerais — e, naturalmente, relações entre ideias — e
das proposições sobre questões de fato. Entretanto, de acordo com o parágrado §2º
do Tratado 1.1.1, as qualidades como, por exemplo, cor, sabor e aroma particulares
são denotadas por ideias “que não admitem nenhuma distinção ou separação”, ou
seja, ideias simples, embora sejam termos gerais uma vez que denotam diversas
ideias particulares diferentes, seja pelo gênero como, por exemplo, cores ou sabores
distintos, seja pelo grau como, por exemplo, um tom específico de azul ou a doçura de
um abacaxi. Fato esse que fica ainda mais evidente, quando Hume, no § 2º do Tratado
1.1.7, categoricamente, afirma que é “impossível conceber qualquer quantidade ou
qualidade sem formar uma noção precisa de seus graus.” Portanto, convém investigar
como são formados os termos gerais que denotam ideias simples.
Berys Gaut e a concepção agregativa
do conceito “arte”
Jean Rodrigues Siqueira
[email protected]
UNICASTELO
Desde a publicação do texto de Morris Weitz “O papel da teoria na estética” em
1956, nos anos seguintes o projeto definicional da teoria estética passou a oscilar
entre abordagens céticas e marcadamente anti-essencialistas e tentativas de se definir
conjuntivamente o conceito “arte” a partir da consideração das propriedades históricas
e contextuais dos objetos tidos como arte. Com o passar das décadas, nenhuma
dessas perspectivas mostrou-se claramente consolidada, o que permitiu que outras
propostas acerca da questão da definição de “arte” fossem desenvolvidas. Dentre essas
propostas, a ideia de que o conceito “arte” deve ser compreendido como um conceito
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
agregativo (cluster concept) foi recentemente apresentada pelo filósofo da arte Berys
Gaut. Expor e examinar criticamente a teoria definicional de Gaut é, pois, o objetivo
deste trabalho.
O sentido do não-ser na Fenomenologia da
percepção de Merleau-Ponty
Jeovane Camargo
[email protected]
UFSCAR
CNPQ
Segundo alguns comentadores, o pensamento de Merleau-Ponty é marcado por
um dualismo, o qual se explicitaria na oposição dos termos “não-ser”, “fissura”, “falha”,
“mundo humano”, por um lado, e “ser”, “mundo natural”, “ser em si”, por outro. Tal
desacordo teria levado Merleau-Ponty a um ajuste logo após a Fenomenologia da
percepção (1945). Ajuste, cuja necessidade, o próprio Merleau-Ponty reconheceu
nos textos que aparecem a partir dos anos 50, e de maneira mais evidente em O
visível e o invisível (1964). Contrapondo-nos a esta interpretação, buscamos ler o
texto de 45 sem trazer de antemão para o seu interior o prejuízo do intelectualismo
ou o pensamento de Husserl, procedimento a que se entregam alguns comentários.
O termo “não-ser”, especialmente, ao ser interpretado desde as noções de finitude,
pacto originário, potência e virtualidade, apresentadas na própria Fenomenologia da
percepção, revela-se não uma “interioridade” de tipo intelectualista, mas a condição
mesma de uma experiência temporal e intencional. Desse modo, o ajuste empreendido
a partir de 1950 também muda de foco: ao invés de se dirigir à exterioridade sujeito
e objeto, ele diria respeito a um descompasso entre o movimento anônimo do corpo
(cogito tácito) e a fala falante. O problema seria aquele de como a linguagem pode
ser extraída do movimento anônimo e silencioso do corpo próprio. Se já há uma
significação autóctone no movimento original do ser no mundo, então o corpo
próprio não significaria uma “consciência silenciosa” anterior à linguagem? Desde
essa perspectiva, procuramos mostrar também como as notas de O visível e o invisível
podem ser lidas não como uma crítica a um dualismo de tipo clássico ainda presente
no pensamente de Merleau-Ponty, mas a uma má articulação entre uma consciência
silenciosa e outra falante.
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Turguêniev e Dostoiévski fontes de Nietzsche:
o niilismo russo como instrumento para a
exumação da modernidade.
João Paulo Simões Vilas Bôas
[email protected]
UNICAMP
FAPESP
Este trabalho tem por objetivo apresentar um panorama da influência exercida
pela leitura das obras de F. Dostoievski e I. Turguêniev nas reflexões pioneiras de
Nietzsche sobre o conceito de niilismo, sendo que estes desenvolvimentos iniciais estão
diretamente ligados com o fenômeno do niilismo russo. Inicialmente, procuraremos
mostrar a título de contextualização, as circunstâncias nas quais o filósofo alemão
travou contato com estes romances, para então apresentarmos de maneira resumida
o que consideramos como as ideias essenciais desenvolvidas nas narrativas. Em
seguida, através de uma análise minuciosa dos fragmentos nos quais o termo
niilismo é empregado por Nietzsche pela primeira vez, buscaremos mostrar de que
modo o pensador alemão se apropriou desta temática, reconstruindo a partir destes
fragmentos qual seria a sua concepção geral de niilismo. Por fim, queremos também
deixar indicado o modo como alguns temas presentes nestes primeiros trabalhos
virão a se tornar, em anos posteriores, objeto de outras reflexões e aprofundamentos
nos textos tardios de Nietzsche.
Literatura e formação humana
José Paulo Gatti
[email protected]
Centro Universitário Claretiano
Em que consiste a formação humana? E qual o lugar da literatura inserida
nessa formação? Durante muito tempo, o conceito de educação implicava no ensino
e aprendizagem de conhecimentos legitimados que deveriam ser assimilados e
reproduzidos. A literatura, nesse contexto, era considerada como instrumento
de capacitação para o uso da linguagem, para o aprendizado das expressões mais
apropriadas à comunicação desse conhecimento. Era, portanto, instrumento de
passagem para o conhecimento. Na atualidade, porém, o processo formativo é
59
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
mais bem compreendido enquanto busca de um conhecimento que se transforma
continuamente. E a literatura, por sua vez, além de manifestar as possibilidades
expressivas da linguagem, também representa o espaço em que se encontra a voz das
diferentes experiências do homem no mundo; lugar do conhecimento. Considerando
o processo formativo como caminho para a emancipação do ser humano, entendida
como emergência de uma consciência verdadeira do sujeito que lhe permita emitir
juízos significativos e dialogar com o outro, pretendo traçar uma ponte até a literatura.
A literatura, enquanto expressão da multiforme experiência humana no mundo por
intermédio da linguagem escrita, dá voz a experiências antes desprestigiadas, de
minorias antes ignoradas. Ela representa, nesse sentido, a possibilidade de diálogo
e acesso a novos conhecimentos, a uma distinta perspectiva do mundo. Por meio
do contato com essas outras visões de mundo, o sujeito-leitor descobre a existência
de outros sujeitos com suas experiências específicas e discurso próprio, amplia os
horizontes de seu olhar sobre a realidade, e lhe é reconhecida a voz na roda do diálogo
humano. A temática da educação desde a perspectiva de uma nova racionalidade, eu
a desenvolvo retomando algumas contribuições da escola crítica. Quanto ao papel
formativo da literatura, considero, entre outras, as contribuições de Antonio Cândido,
Vigotsky e Italo Calvino, que oferece fecunda reflexão acerca do lugar da literatura
nesses novos tempos.
As paixões aristotélicas: uma reabilitação
do sensível
Juliana Santana de Almeida
[email protected]
UFT
A proposta que buscaremos desenvolver mostrará que as paixões (tà páthe) podem
vir das sensações e dos discursos como a poesia, que levavam a opiniões e crenças
pautadas no contato do povo grego com suas tradições. De acordo com esses termos
precisaremos tentar reabilitar o sensível e as aparências (phainómena) que percebemos
através dele para esboçar uma genealogia das paixões, especificamente das paixões
trágicas, medo (phóbos) e piedade (elleinós). Portanto, para cumprir o proposto nos
remeteremos à necessidade de restabelecer a credibilidade dos phainómena. Essa
reabilitação será proposta pela descrição do que chamamos de “método aristotélico”.
60
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Este dá lugar às opiniões e às crenças, fazendo delas um primeiro passo para a
pesquisa filosófica. Deste modo, as propostas expressadas nos discursos dos sábios
gregos e as propostas da dóxa são analisadas. O que faz com que nossa investigação se
concentre na forma discursiva (oral ou escrita) de transmissão de conhecimentos. Em
seguida assinalaremos brevemente a importância de se eleger um discurso que não se
contradiga, a fim de fazer valer sua veracidade. A coerência é fundamental também
para que aqueles que se comunicam possam se entender. Esta é necessária também
para que se elabore um juízo correto sobre a situação ou sobre a questão a ser julgada.
Assim, poderemos concluir que as aparências demonstradas e transmitidas por meio
de opiniões e crenças podem mesmo ser expressas pelas diversas formas de discurso
que um orador apresenta a uma audiência. Ao tentar persuadir, o orador se vale das
paixões dos espectadores, que são fundamentadas em suas tradições, levando-os a
formar juízos favoráveis ou desfavoráveis quanto ao assunto que lhes é apresentado e
a reconhecer e aceitar as diferenças entre os homens.
A Apologia de Sócrates: entre a retórica judicial
e a epidíctica
Juliano Orlandi
[email protected]
UFSCAR
CAPES
Considera-se com frequência a Apologia de Sócrates como um texto ímpar
na carreira literária de Platão. Enquanto as demais obras pertencem ao gênero dos
diálogos socráticos, argumenta-se que ela pertence ao gênero dos discursos forenses.
A forma e o conteúdo do texto certamente corroboram essa atribuição. O que se vê
na Apologia é um homem se defendendo de acusações diante de um júri. Além disso,
ele lança mão de argumentos que são encontrados em outros discursos forenses da
época. De maneira geral, os comentadores estão de acordo neste ponto: a Apologia
de Sócrates é um discurso judicial. A leitura da Retórica de Aristóteles, entretanto,
permite ver a Apologia de um ponto de vista diferente. O Estagirita diferencia a
retórica usada nos tribunais, que pretende convencer juízes da justiça ou da injustiça
de determinados atos, da retórica epidíctica cuja finalidade é elogiar ou censurar as
ações de alguém. Em diversos momentos da Apologia, Sócrates parece muito mais
preocupado em louvar a beleza de sua conduta filosófica do que em convencer
61
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
os juízes de que ela foi justa. Provisoriamente, pode-se dizer que a Apologia de
Sócrates é também um discurso epidíctico. O presente trabalho pretende cotejar o
texto platônico com as passagens da Retórica em que Aristóteles descreve o gênero
epidíctico e revelar aspectos que geralmente passam despercebidos quando se trata a
Apologia exclusivamente como um discurso forense.
A concepção kantiana de objeto
Juliano Tomasel
[email protected]
UNIOESTE
CAPES
O que é passível de ser objeto de cognição deve poder ser enquanto aparecimento
(Erscheinung) um objeto de representação. À representação deste objeto deve
corresponder algo que não é apenas representação, algo exterior que não pode ser
mero produto de minha faculdade de representação, mas que não é aparecimento.
Kant denomina este objeto, que em geral é algo = X, de objeto transcendental. O
objeto transcendental é causa externa das nossas afecções, todavia, visto que não é
objeto de nenhuma representação “mantém-se desconhecido para nós” (CRP A 46/B
63). Os objetos de representação são os objetos da experiência possível, os únicos que
os seres humanos podem têm acesso cognitivo. O conteúdo representacional de um
objeto, por um lado, é simples afecção ou modificação da capacidade representativa
pela intuição e, por outro, é forma, isto é, uma relação determinada pelo modo de
pensar esta intuição. A representação imediata numa intuição como modificação da
mente (Gemüt) é uma sensação. A sensação é a matéria de todo objeto, enquanto
conteúdo representacional de uma cognição. De modo tal, os objetos passíveis de
cognição são coisas que aparecem e de algum modo originam certo conteúdo
representacional. Os objetos como representações são modificações da mente
(conteúdo representacional), mas ao mesmo tempo a realidade destes não pode ser
derivada simplesmente do seu conteúdo representacional. A concepção Kantiana de
objeto é caracterizado, contundentemente, nos três aspectos: o objeto de representação
é uma (1) afecção numa intuição (simples modificação da mente) que é (2) organizada
em relações determinadas por regras pela espontaneidade da capacidade de conhecer
(determinações da mente) e, ainda, deve haver um (3) objeto transcendental que é
fundamento da realidade e causa das afecções, porém, não sendo nada mais do que
algo em geral = X.
62
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Ludwig Wittgenstein: entre o que pode ser dito
e o que pode ser mostrado
Karina da Silva Oliveira
[email protected]
UNESP – Marília
CAPES
No Tractatus Logico-philoshophicus, Wittgenstein analisa o mecanismo lógico
da linguagem ao traçar um limite para a expressão dos pensamentos (5.101), o que
é caracterizado “fato” no Tractatus não designa apenas determinada correlação de
elementos, mas uma articulação lógica apreendida e mostrada pela escrita conceitual.
Embora o projeto de uma escrita conceitual tenha sido formulado por Frege nas Leis
fundamentais da aritmética e posteriormente desenvolvido por Russel nos Princípios
da matemática, claramente identificado nas ideias de Wittgenstein, é realizada a
análise da forma lógica ou forma de representação, isto é, o porque da linguagem
no Tractatus não ser um corpus empírico, mas articulações lógicas possíveis. Por
conseguinte, o que está fora do mundo não é fato, e o que está fora da linguagem não
é proposição. Sob esse aspecto, as próprias concepções filosóficas não são formuladas
por uma metalinguagem, ou seja, estão limitadas a linguagem comum que é
interpretada por meta-enunciados de espécie semelhante às proposições do Tractatus
(3.323). Para ilustrar o alcance das formas proposicionais significativas situamos o
espaço lógico entre a tautologia e a contradição, a forma lógica não exprime um fato
no mundo, logo é uma forma do mundo e da linguagem que estabelece seus limites,
a linguagem não exprime sua própria forma, pois, aceitaria a metalinguagem. Por
conseguinte, a linguagem é mostrada na própria proposição na estrutura interna da
proposição. Portanto, pretende-se aqui examinar as consequências da necessidade
da escrita conceitual na qual possibilita mostrar de maneira coerente a estrutura da
forma proposicional de acordo com o pensamento de Ludwig Wittgenstein.
63
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Desdobramento da vontade na introdução à
Filosofia do Direito de Hegel
Kárita Paul de Melo Pedra
[email protected]
UFG
CAPES
Hegel é comumente designado entre os grandes filósofos, como um dos mais
difíceis de se compreender. Não raro seus escritos são acusados de obscuros, quiçá
de impenetráveis, sua linguagem de pouco acessível e intrincada, sendo tomado
por muitos como um pensador de árdua leitura, demasiado hermético e prolixo. E
seguindo o viés da complexidade e densidade de sua obra, que muitas vezes desemboca
na incompreensão da mesma, não são poucos os que dirigem a Hegel a acusação de
renunciar a liberdade e a consciência moral em favor de um Estado totalitário, de
legitimar o poder dominante, para divinizar as leis promulgadas, independente de
quão injustas sejam. Interpretam que para Hegel, apenas a universalidade confere
liberdade, mas que, todavia o universal racional só é atingido à custa do sacrifício do
emotivo, da subjetividade e inclusive de todo o particular e individual. Entendemos
que tais críticas a Hegel, que provém de seu conceito de liberdade, são improcedentes,
resultantes de uma análise negligente do pensamento de Hegel acerca da constituição
do Estado e do papel da subjetividade na sociedade moderna. Desta feita, o tema do
trabalho se funda numa tentativa de compreender a perspectiva através da qual Hegel
pensa o problema da liberdade. Para tanto, o ponto de partida será uma análise do
processo de auto-constituição da vontade livre reflexiva, conforme Hegel apresenta
na introdução à Filosofia do Direito. Sendo, portanto necessário buscar entender a
estrutura conceitual de suas considerações através da explicitação do encadeamento
lógico que a vontade desenvolve segundo seus três momentos: negatividade,
particularidade e singularidade. Levando em consideração o caráter fundamental
da reflexividade da vontade, para que esta alce o patamar de vontade plenamente
livre. Neste sentido, é cabal para a compreensão do conceito de liberdade a questão de
como se deve entender esta reflexividade e, por conseguinte como se dá a realização
da liberdade no mundo objetivo.
64
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Hegel leitor de Aristóteles: o motor imóvel
concebido como a Ideia que não sai da órbita
da relação consigo mesma, uma apropriação
indevida?
Lincoln Menezes de França
[email protected]
UFSCAR
A concepção hegeliana de História da Filosofia está fundamentalmente
vinculada ao que Hegel concebe como desdobramentos dialético-especulativos de Si
do Espírito, o que faz Hegel recepcionar o legado filosófico de forma peculiar. Assim,
os conceitos filosóficos sob o sistema hegeliano são transformados e ganham novo
sentido, ao mesmo tempo em que são preservados. Em relação a Aristóteles, Hegel
seguirá essa perspectiva, recepcionando elementos conceituais que serão centrais ao
seu sistema filosófico de modo metamorfoseado. G. W. F. Hegel (1770-1831) toma
para si o conceito de motor imóvel aristotélico como sendo a Ideia que, apesar de
mover, permanece idêntica a si mesma. A Ideia, sob a concepção hegeliana tem um
papel fundamental, tendo em vista que ela mesma é o tema do sistema hegeliano. É
ela em si e para si na Ciência da Lógica, é ela em seu outro de si, na exterioridade,
na Filosofia da Natureza, é ela em seu retorno a si na Filosofia do Espírito. Neste
trabalho, analisaremos se tal concepção hegeliana estaria em concordância com a
perspectiva aristotélica mesma, tendo em vista que seja possível depreender que o
imóvel movente aristotélico não tenha a dimensão e a atuação que a Ideia teria em
Hegel, como por exemplo, uma efetividade necessária no mundo sublunar.
Domínio da Natureza e Dessensibilização do
Espírito
Lucas Alves Marinho
[email protected]
Universidade Federal de Ouro Preto
FAPEMIG
Na sua “Tentativa de Entender Fim de Partida”, Adorno interpreta a peça
de Beckett como uma espécie de ponto de chegada da história da arte - enquanto
65
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
sintoma, e como a mais bem sucedida determinação literária, da “impossibilidade
(moderna) de referir-se a um sentido positivo”. Acontece que, apesar de afirmar que
a história da arte deve ser compreendida como um momento do processo global
de desencantamento do mundo, Adorno não dedica-se, nem ali, na sua “Tentativa
de Entender Fim de Partida”, nem na sua Teoria Estética, a vincular de uma forma
suficientemente determinada, esses dois momentos - da progressiva perda do sentido
positivo do mundo, e do desenvolvimento da história da arte, mais precisamente,
do desenvolvimento da condição da subjetividade compositiva, até a sua condição
moderna. Isto é o que farei no artigo que pretendo apresentar. Referindo-me ao mesmo
“ponto de chegada” exemplar, selecionado por Adorno: Beckett. Para o que vincularei as
perspectivas teóricas de Max Weber (sobre o progressivo desencantamento do mundo)
e de Hegel (sobre o desenvolvimento sistemático da história da arte), corrigindo-as
materialmente, a partir das seguintes modificações: no lugar dos conceitos de “ideia”
e “espírito” (ou espiritualização), a argumentação hegeliana será deslocada para
outro conceito central, o conceito de “resistência”; o que permitirá demonstrar que a
possibilidade de conferir ao procedimento composicional subjetivo, efetividade, ou
seja, um sentido determinado (quer pré-moderno, positivo; quer moderno, negativo),
está diretamente relacionada, na história da arte, à manutenção da “resistência” objetiva
(ou obscuridade, como prefere dizer Hegel) dos materiais estéticos.
Hume, Kant, Schulze e a relação
entre ceticismo e filosofia
Lucas Nascimento Machado
[email protected]
FFLCH-USP
CNPQ
Em nossa apresentação, discutiremos a relação entre ceticismo e filosofia tal como
ela se daria na conexão entre Hume, Kant e Schulze. Nesse sentido, discutiremos de
que maneiras o ceticismo de Hume seria fundamental para o projeto crítico de Kant,
levando-o a conceber a necessidade da determinação dos limites da razão teórica,
e, a seguir, mostraremos como Schulze pretende criticar a filosofia kantiana em
sua pretensão de realizar essa determinação e mostrar como ela não dá conta de
responder às objeções humeanas. Sendo assim, nossa apresentação buscará, de uma
maneira geral, expor alguns aspectos de um dos momentos centrais do embate entre
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
ceticismo e filosofia e da discussão sobre a relação entre ceticismo e filosofia que se
dá no interior do idealismo alemão. Esperamos assim mostrar como considerações
acerca do embate entre ceticismo e filosofia nesse momento da história da filosofia,
bem como acerca dos conceitos envolvidos e utilizados nesse debate, são de grande
interesse para se pensar algumas das questões mais centrais à filosofia.
Schiller e a possibilidade do sublime perante o
trágico e o terror
Luciene Antunes Alves
[email protected]
UNIFESP
CAPES
A temática da sublimidade envolve reflexões que vão desde os filósofos antigos
aos filósofos contemporâneos, mas será com Kant e Schiller que tal abordagem terá
dimensões amplas e profundas no campo da estética. Assim sendo, neste trabalho,
propomos investigar a possibilidade do sublime (Erhabene), porém, diante do trágico
e do terror. Limitaremos esse contexto principalmente na obra “Do Sublime ao trágico”
de Friedrich Schiller. No final do século XVIII Schiller desenvolveu, a partir de algumas
teorias filosóficas de kant, a questão do sublime como experiência estética voltada de
forma muita mais profunda na arte do que na natureza, diferenciando cada vez mais
de seu contemporâneo (Kant) por convergir na experiência estética dois elementos
primordiais – o sensível e racional. O sublime para Schiller não se limita apenas ao
estado de alegria, prazer, ou êxtase, mas também à experiência estética prazer-dor,
sofrimento e terror, dito de outra forma – o trágico. A pesquisa, portanto, procurarse-á ressaltar primeiramente a definição de sublime em Kant, para em seguida definir e
comparar o sublime e suas variadas classes em Schiller, enfatizando os seguintes pontos:
a possibilidade do sublime diante o trágico; o limite para o sofrimento se tornar estético;
e como o medo e o terror podem proporcionar o sublime.
67
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Indivíduo e existência: A Náusea em Sartre e o
Absoluto de Camus
Lucila Lang Patriani de Carvalho
[email protected]
USP
CAPES
Em nossa apresentação pretendemos expor e relacionar, respeitando os limites
comparativos, a Náusea e o Absoluto conforme são abordados, respectivamente, por
Jean-Paul Sartre e por Albert Camus. Ambos os filósofos participaram do cenário
e dos debates da filosofia francesa contemporânea e foram amigos próximos, mas
romperam mais tarde publicamente por conta de divergências políticas. Para além de
suas diferenças filosóficas, podemos destacar como um possível ponto de convergência
entre a filosofia de ambos a ideia de náusea e de absoluto. Tanto a náusea quanto o
absoluto são estritamente relacionados à existência humana e, mais especificamente,
à contingência do indivíduo, bem como à percepção subjetiva desta condição. É no
momento em que tematizamos estes assuntos que o próprio sentido da vida e da
existência - ou, por outro lado, a ausência deste - é questionado por ambos os filósofos.
Para o recorte proposto em nossa exposição, analisaremos os assuntos conforme
abordados tanto em textos considerados como propriamente filosóficos – dentre os
quais destacaremos trechos pontuais de “O Ser e o Nada”, bem como do ensaio “O Mito
de Sísifo” -, como também por meio dos romances escritos por ambos – sobressaindo o
tema do recorte aqui proposto, principalmente, em “A Náusea” e “O Estrangeiro”.
Suicídio como afirmação da liberdade
para o estoicismo
Lúcio Vaz
[email protected]
UFMG
CAPES
A pergunta desde há muito formulada pelas reflexões da ética antiga sobre como
viver bem sempre foi acompanhada, ainda que implicitamente, por uma questãolimite: por que viver, ou mais precisamente, por que continuar vivendo? Muitos
filósofos do período helenístico e tantos outros absorveram a resposta a essa última
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
na resposta à primeira, ao dizerem que a moderação quanto aos prazeres da vida
deveria ser semelhantemente aplicada ao grau de adesão à própria vida. Tal absorção
foi possível pela afirmação da possibilidade de uma simulação suficientemente fiel
da morte em vivências ou pensamentos ao longo da vida e, mais fundamentalmente,
pela conceituação da morte como um fato: a questão sobre a opção pela morte e, com
isso, pela vida (em maior ou menor extensão) se submeteria, por simples analogia,
à questão mais geral das opções de conduta dentro da vida (por exemplo, mais ou
menos prazer, dor etc.) ou de tipos de vida.
Alguma tolerância ou espaço para a morte voluntária aparenta ser a seqüência
razoável de algumas dessas filosofias, que afirmaram a necessidade de aceitação
e destemor da morte involuntária. A opinião de que a morte não é por si um mal,
defendida, por exemplo, por estoicos e epicuristas, acarretou a defesa de que, em
algum momento da vida, em algum contexto, seria desejável, racional ou aceitável
livrar-se dela. O sábio (figura freqüente entre os antigos), diferentemente do insensato,
sabe decidir quando a vida já não deve ser prolongada. Diante disso, o problema que
se coloca é saber qual o critério na distinção entre sábio e insensato e quais princípios,
se princípios há, que guiam o primeiro.
O argumento pela liberdade em favor do suicídio teve em Sêneca um empenhado
defensor e, sumariamente, consiste em asserir que a morte voluntária, sob certas
circunstâncias, é uma afirmação da própria liberdade de não aceitar a vida que temos
ou a morte que por outros ou pela natureza nos é imposta.
Sobre alguns traços idealistas na “interpretação
espiritualista” de Max Weber: A recepção de
Albrecht Ritschl na Ética Protestante e o Espírito
do capitalismo
Luis F. de Salles Roselino
[email protected]
UFSCAR
CAPES
A partir de Albrecht Ritschl se difundiu a idéia de que as noções modernas
de profissão e de ofício ganharam seu sentido secular com o luteranismo e com o
calvinismo. As referências ao teólogo e historiador da religião, Albrecht Ritschl,
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
embora sejam muito recorrentes no ensaio mais famoso de Max Weber, nem sempre
são levadas em conta segundo sua real importância. Em contrapartida, ao final da
Ética Protestante e o Espírito do capitalismo, encontramos nas últimas linhas uma
consideração sobre esse trabalho como sendo uma “interpretação espiritualista”,
em oposição à tradição materialista. Mas, quanto ao que vem a ser exatamente
essa “interpretação espiritualista”, e a que tradição idealista ela se vincula, não
nos é dado elementos claros para responder essas questões. Será proposto, nessa
abordagem, que essa tradição “espiritualista” possui como sua principal fonte a
recepção da interpretação de Ritschl, por Ernst Troeltsch, seu aluno e por Max
Weber, caracterizando uma trajetória que parte do meio teológico protestante rumo
às considerações universais e secularizadas dos fenômenos religiosos. Do conteúdo
mais idealista da ética, rumo ao domínio mundano, segundo tipologias, é possível,
nessa releitura, propor uma abordagem que, diferente do materialismo ingênuo,
não desconsidera os aspectos ético-religiosos e que, tampouco, os reduz a leitura
“emanatista” da tradição idealista.
Leo Strauss ventriloco de Thomas Hobbes
Luiz Carlos Santos da Silva
[email protected]
UNICAMP
FAPESP
Nossa comunicação visa apresentar de que modo Leo Strauss sustenta a tese de
uma suposta separação entre ciência e política em Hobbes a fim de evitar o debater
acerca do estatuto epistemológico dos princípios científicos em termos de poder e
autoridade. Separando ciência e política em campos supostamente independentes um
do outro, Strauss faz com que aquilo que, para Hobbes, deveria ser um debate político
ou morasda ciência, num mero debate científico ou epistemológico da política.
Forjando uma suposta concepção de neutralidade dos princípios científicos em
Hobbes, Strauss, por fim, parece defender a politica hobbesiana como uma política à
moda de Maquiavel disfarçada por um aparente discurso cientifico. Em linhas gerais,
nossa comunicação visa apresentar como Leo Strauss parece não conseguir situar
o pensamento hobbesiano entre o liberalismo de Locke e o realismo de Maquiavel,
oscilando daqui para acolá conforme a conveniência.
70
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Henri Bergson e Franz Brentano. Leituras
cruzadas?
Luiz Fernando de Oliveira Proença
[email protected]
UFSCAR
CAPES
O diálogo estabelecido entre a filosofia de H. Bergson e a fenomenologia de E.
Husserl já é bem conhecido na literatura filosófica. No entanto, uma possível relação
entre Bergson e o professor de Husserl, Franz Brentano, não é tão recorrente quanto
ao que já foi escrito acerca de seu aluno. Deste modo, nossa exposição tentará mostrar
alguns aspectos da filosofia dos dois autores a fim de aproximá-los, porém sem borrar
ou omitir suas respectivas diferenças. Minha apresentação, então, será dividida em três
momentos: 1º a descrição do contexto filosófico-científico da virada do sec. XIX ao
XX, notadamente ao que diz respeito à Psicologia: o positivismo científico e a crítica
à noção de alma e a suposta impossibilidade da psicologia como ciência que trata
de fenômenos, as psico-físicas (Fechner) e psico-fisiologias (Wundt) nascentes como
decorrência do critério da filosofia positiva; 2º discussão do problema da constituição
da ciência psicológica: conceito, método e objeto, segundo nossos dois autores e
segundo os problemas específicos das obras a serem tomadas como suporte teórico:
Psicologia de um ponto de vista empírico, F.Brentano, e os dois primeiros ensaios de
H. Bergson, Ensaio sobre os dados imediatos da consciência e Matéria e Memória ; e,
3º, destacaremos uma conseqüência em particular relativa à noção que cada um dos
dois autores concebe da natureza do psicológico, a saber, o conceito de inconsciente,
desta vez para revelar certa divergência entre ambos.
As paixões em Rousseau
Luiz Henrique Monzani
[email protected]
UFSCAR
FAPESP
Em uma nota no Segundo Discurso podemos recordar que Rousseau afirma
que o amor próprio é definido como “um sentimento relativo, fictício e nascido na
sociedade, que leva cada indivíduo a fazer mais caso de si do que de qualquer outro,
71
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
que inspira aos homens todos os males que mutuamente se causam”. Ora, sabemos já
desde o prefácio que a natureza do homem é composta por dois elementos que são
anteriores a toda sociedade e a toda as relações: o amor de si e a piedade. Então, como
explicar essa dicotomia operada por Rousseau em que, de um lado, temos um amor de
si - sentimento natural visando à própria conservação – e, de outro, um amor próprio –
sentimento que ‘inspira aos homens todos os males que mutuamente se causam’?
Ao afirmar que o amor próprio nasce em sociedade, Rousseau parece querer
precisar o fato de que esse sentimento só pode aparecer a partir do momento que o
homem está em relação com seus semelhantes, dado que não é possível uma sociedade
sem essa. Por isso, na continuação do texto citado acima, Rousseau pode acrescentar
que “no nosso estado primitivo, no verdadeiro estado de natureza, o amor próprio
não existe” (IBID. IBID). Se o amor próprio não existe no estado de natureza, dada a
independência total do homem, ele é um sentimento artificial que advém dessa nova
situação em que o homem se encontra. Nossa proposta visa investigar, então, o que
significa dizer que é o amor próprio “que leva cada indivíduo a fazer mais caso de si
do que de qualquer outro”.
Facticidade e contingência em três contos do
livro O Muro
Luiza Helena Hilgert
[email protected]
UNICAMP
FAPESP
Tratar da contingência e da facticidade significa fazer um recorte temático
bem pontual na filosofia de Sartre; mas se, além disso, nossa finalidade é analisar
o modo como essas características são apresentadas nos contos do livro O muro,
além do recorte temático, precisamos, ainda, considerar que textos literários também
contêm ideias filosóficas. E é nesse momento que a questão da relação entre filosofia
e literatura se apresenta e se radicaliza: quando conceitos filosóficos aparecem em
expressões artísticas, podemos pensar que a literatura tem mais que a função de
ilustrar e entreter. A questão sobre o que fazer de si está sempre em jogo para a
realidade humana: a criação, a reafirmação e até mesmo o abandono de certos projetos
individuais, são possibilidades que se fazem presentes constantemente, engajando o
homem nessa ordem temporal da historicidade e exigindo escolha contínua diante
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
da contingência e da facticidade. O que cada um faz com sua liberdade absoluta
e fundamental é o drama central das obras ficcionais de Sartre, e o que permite e
compromete cada pessoa singular de viver esse drama, é descrito nas obras filosóficas
por meio da ontologia e da fenomenologia. A escrita sartriana parte do concreto, da
historicidade, das vivências singulares, das ações gratuitas e factuais, da contingência
da liberdade do homem; ainda assim, sem perder a dimensão de universalidade da
realidade humana. O objetivo do presente texto é investigar a presença e o sentido dos
conceitos de facticidade e contingência a partir de três dos cinco contos presentes na
obra O muro, de Jean-Paul Sartre: O muro, O quarto e Intimidade. Para tal, é preciso,
antes, expor de modo rigoroso os conceitos referidos de facticidade e contingência, de
modo acadêmico-filosófico, cuja referenciação será feita tendo como base a principal
obra de Sartre O ser e o nada.
Linguagem e subjetividade em Bergson
Marcelo Marcos Barbosa
[email protected]
UFSCAR
CAPES
Nosso trabalho pretende abordar o tratamento dado por Bergson às noções
de Linguagem e Subjetividade presentes no Ensaio sobre os dados imediatos da
consciência, com ênfase no terceiro capítulo desta obra, no qual será apresentada
uma nova teoria sobre a Liberdade. A partir da caracterização de duas naturezas
distintas de multiplicidade, a duração e o espaço, o autor poderá distinguir duas
dimensões da própria consciência: o eu profundo, constituído de pura temporalidade,
isto é, condensação da série de estados psicológicos que constituem a história de
um indivíduo, portanto, solo original da subjetividade, em contraponto com o eu
superficial, dimensão na qual exteriorizamos momentos distintos no interior dessa
massa de estados psicológicos, e que para Bergson define o domínio próprio da
linguagem e da vida social. Assim, no movimento em que a consciência é definida
como uma continuidade dinâmica, torna-se possível mostrar que o ato da escolha,
apesar de fundado na série dos momentos vividos, — justamente porque esses
momentos são recortes artificiais do fluxo que é a duração — não implica uma cadeia
causal necessária. Isso significa que a escolha comporta graus de liberdade, criando
possibilidades que vão desde os atos puramente determinados por causas exteriores
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
até aquele que Bergson define como o ato livre por excelência: uma ação na qual a
consciência se determina inteiramente a si mesma, instaurando no mundo algo de
absolutamente novo, por ser a expressão da totalidade do espírito.
Wittgenstein e Brandom sobre seguir uma regra
Marcelo Masson Maroldi
[email protected]
USP
FAPESP
Em sua obra principal, Making it explicit: reasoning, representing, e discursive
commitment, o filósofo analítico Robert Brandom apresenta a sua interpretação
para um dos tópicos mais discutidos das Investigações Filosóficas, de Ludwig
Wittgenstein. Trata-se do controvertido tema de seguir uma regra. Segundo
Brandom, o que Wittgenstein defende, embora não desenvolva, é uma pragmática
normativa, na qual as normas que estão explícitas em expressões linguísticas ou
estados intencionais exigem antes (e necessariamente) normas implícitas na prática,
isto é, naquilo que é feito pelos agentes. Para Brandom, está é a única maneira viável
de entendermos o que é seguir uma regra e evitar os problemas que Wittgenstein
já apresenta nas Investigações Filosóficas. Adotando uma perspectiva similar a esta,
Brandom desenvolve detalhadamente sua própria concepção do tema, elaborado
como um inferencialismo pragmático-normativo fortemente amparado na filosofia
da linguagem e na lógica contemporâneas. Wittgenstein, portanto, é visto como um
aliado. Neste trabalho, tenho dois objetivos principais a alcançar. Em primeiro lugar,
desejo apresentar a interpretação que Brandom atribui a Wittgenstein sobre o que
é seguir uma regra. Em segundo lugar, procuro mostrar que a análise de Brandom,
embora filosoficamente relevante, não é fiel a terapia filosófica wittgensteiniana.
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
A ilusão transcendental da Crítica da razão pura
e os princípios P1 e P2: uma contraposição de
interpretações
Marcio Tadeu Girotti
[email protected]
UFSCAR
CAPES
Nosso objetivo consiste em apresentar a interpretação de Michelle Grier (2001)
e Heny Allison (2004) acerca da ilusão transcendental da Crítica da razão pura. Para
esses autores é possível compreender a doutrina da ilusão transcendental por meio
dos Princípios P1 e P2, que correspondem, respectivamente, às palavras de Kant:
“encontrar para o conhecimento condicionado do entendimento o incondicionado,
pelo qual é completada a unidade de tal conhecimento”, e, “se o condicionado
é dado, é também dada a série total das condições subordinadas entre si, a qual é,
por conseguinte, incondicionada” (KrV, B 364). Com isso, Grier e Allison procuram
elucidar que P1 somente é possível se pressupomos P2, ou, P2 é o princípio de
aplicação de P1: para procurar a unidade do conhecimento é preciso pressupor
o incondicionado como dado. Para Kant, a razão exige uma unidade de todo o
conhecimento, mas tal exigência é subjetiva, a razão procura a unidade e pressupõe
que o incondicionado é dado junto com a série. Nesse ponto, se a exigência subjetiva
da razão for tomada como objetiva, haverá uma espécie de ilusão, que é tomar o dado
subjetivo como se fosse objetivo, ou, tomar o incondicionado como dado e possível de
ser abarcado. Nossa proposta é refletir sobre os Princípios P1 e P2 procurando saber:
1) essa interpretação é suficiente para apresentar a doutrina da ilusão transcendental?
2) se P1 é uma exigência da razão e P2 o seu pressuposto, não seria P1 = P2 e P2 = P1?
Ou, o pressuposto P2 não teria que vir antes da exigência de P1, sendo P2 o princípio
P1 e P1 o princípio P2 (uma inversão de princípios)? Assim, pretendemos apresentar
o problema da ilusão transcendental juntamente com as interpretações de Grier e
Allison, questionando os princípios P1 e P2, bem como colocando em evidência a
característica da ilusão transcendental como natural e inevitável.
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Leis de conservação de energia e paralelismo
psicofisiológico no Ensaio de Bergson
Marcos Daniel Camolezi
[email protected]
USP
FAPESP
Almejamos discutir a recusa bergsoniana dos princípios de conservação de força
e de energia como paradigmas psicológicos, tal como a encontramos no Ensaio sobre
os dados imediatos da consciência (1889) de Henri Bergson. Apoiada na tese de
doutoramento de Émile Boutroux, La contingence des lois de la nature (1874), na qual
a vida é concebida como exceção às leis de conservação de energia, esta recusa agrega
à originalidade e profundidade metafísica do Ensaio uma postura epistemológica não
menos original. Bergson expõe no terceiro capítulo da obra, dedicado ao tratamento
da problemática da liberdade, uma compreensão precisa de teorias então recentes
sobre o comportamento dos gazes e sobre as propriedades do calor, exposição esta que
procuraremos melhor compreender. Ao criticar a aplicação psicológica dos princípios
de conservação de força e de energia, Bergson dava o ultimato a toda psicologia
determinista que buscasse amparo nas leis da termodinâmica, as quais consistiam no
que havia de mais recente na explicação do universo físico, como o próprio filósofo
afirmou reiteradas vezes. No tratamento do problema, Bergson acaba por mostrar que,
ao avançar sobre a psicologia e concluir-se em epifenomenalismo, o determinismo
físico é acompanhado por uma concepção metafísica injustificável, cuja principal
prerrogativa é o paralelismo entre fisiológico e psicológico. Em primeiro lugar, temos
por objetivo, portanto, apresentar a série de problemas que Bergson coloca perante
o determinismo baseado nas leis de conservação, de maneira a compreendermos
em que tais leis consistem. Em segundo lugar, através da exposição deste trecho do
Ensaio, pensamos contribuir para o aprofundamento do debate acerca do paralelismo
psicofisiológico, claramente presente desde a primeira obra do filósofo e que no terceiro
capítulo de A evolução criadora (1907) encontraria ocasião para sua ampliação.
76
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Heterogeneidade e homogeneidade na teoria
das multiplicidades de Bergson
Maria Fernanda dos Santos
[email protected]
UNICAMP
A investigação de Bergson empreendida no Ensaio acerca de dois diferentes
tipos de multiplicidade parece transformar-se ao longo de sua obra num substrato
necessário, pelo qual ele pôde antever a presença da duração nos limites da consciência.
Reconhecida pelo filósofo como heterogeneidade, a duração na consciência tornase um marco referencial de onde será possível estabelecer a diferença entre as duas
multiplicidades. Heterogeneidade que se distingue da homogeneidade caracterizada pela
multiplicidade quantitativa, diante da qual Bergson projetaria as determinações de espaço
e número como um binômio. Deste modo, a teoria das multiplicidades do Ensaio se
forma, por um lado, na definição da multiplicidade quantitativa, representativa da
ordem numérica e material, e por outro, sobre a multiplicidade qualitativa, presente
nos estados de consciência. Deleuze, no Bergsonismo, reafirma que a definição da
multiplicidade qualitativa é tributária do reconhecimento do caráter heterogêneo pelo
qual se define a duração nos estados da consciência. Contudo, o filósofo diz que o que
parece ser um recurso metodológico de encontrar o continnum pelo qual seria possível
definir uma multiplicidade, ganharia larga influência na expressão de Bergson acerca do
virtual. Enfim, trata-se, em nosso trabalho, de analisar a teoria das multiplicidades no
segundo capítulo do Ensaio, junto com a leitura de Deleuze no Bergsonismo. Estudo este
animado pela busca de pontos de apoio pelos quais possam repousar a substantivação
da multiplicidade qualitativa e heterogênea.
Sobre a negatividade em Merleau-Ponty
Mariana Cabral Tomzhinsky Scarpa
[email protected]
UFPR
CAPES/REUNI
Longe de ser tomado como uma noção universal e unívoca, o não-ser, no horizonte
das descrições fenomenológicas de Merleau-Ponty, é permeado de nuances que à
primeira vista apontam para um impasse. Se a postulação merleau-pontiana de um
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
“não-ser” instaura, no movimento criador da linguagem, uma dupla interpretação
do discurso adotado na Fenomenologia da Percepção (1945), é porque, por um lado,
ela pode ser entendida como uma distância ou espessura que impedem o Ser de uma
pura objetividade, assumindo um caráter de negatividade estruturante e criadora (a
fala falante); por outro, ela pode ser interpretada como aquilo que se encontra em
uma interioridade constituinte, de maneira que a ecceidade do mundo se dissolve,
e o não-ser passa a ser entendido como uma positividade negativa. Tendo em vista,
então, que o não-ser (nesta obra de 1945) é tomado como antítese de um Ser puro,
há nele uma positividade em sua negatividade, e sua relação com a linguagem
aponta também para a positividade do signo e da significação. Tal relação positiva
da negatividade impede que a linguagem seja concebida como estruturante. Será por
meio da linguística de Saussure que Merleau-Ponty (por volta dos anos 50) conceberá
uma nova compreensão da relação entre signo e significação que não recorre mais à
positividade de um termo. Embora não se trate de dissolver as oposições encontradas
nessa relação, e sim, apenas de alargar seus limites. Assim, surge uma relação
diacrítica, na qual o signo não é tomado mais pela sua positividade do que pela sua
diferença em relação aos demais termos em jogo; a linguagem passa a ser indireta,
alusiva e oblíqua. Nesse novo âmbito, o valor conferido à negatividade muda, e é este
ponto que queremos explorar neste trabalho, pois o silêncio antes promovido por
uma consciência tácita do mundo agora se faz falar numa linguagem que nunca o
abarca, e o não-ser passa a se manifestar como criação, negatividade estruturante, tal
como almejava o autor desde suas primeiras obras.
Abordagem Semiótica dos conceitos de Abdução,
Indução e Dedução
Mariana Vitti Rodrigues
[email protected]
UNESP/ Marília
FAPESP
O objetivo deste trabalho é realizar uma análise semiótica acerca das relações
entre as noções de raciocínio abdutivo, indutivo e dedutivo. Para tanto, recorreremos a
trechos dos Collected Papers de Charles Sanders Peirce, assim como textos auxiliares.
Por fim, discutiremos a relevância dos três tipos de raciocínio na constituição do
conhecimento.
78
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Segundo Peirce, o raciocínio abdutivo, bem como o indutivo e o dedutivo,
fazem parte do processo denominado pensamento. Este se inicia quando um agente,
imerso em uma rede consolidada de hábitos e crenças, se depara com algo estranho,
surpreendente, que abala suas concepções até então vistas como verdadeiras. Neste
momento se inicia o pensar, que envolve a formulação de hipóteses explicativas, tendo
como objetivo situar o fato surpreendente em uma rede de ações habituais.
Neste contexto, o raciocínio abdutivo pretende sugerir novas hipóteses na tentativa
de explicar o fato anômalo; a dedução, por sua vez, desenvolverá as consequências das
hipóteses sugeridas via abdução; por fim, a melhor hipótese sugerida pela abdução,
será testada indutivamente. Neste contexto, Peirce caracteriza a indução como um
raciocínio que permite confirmar (ou não) uma hipótese geral, sugerida via raciocínio
abdutivo. Se a hipótese for confirmada, via indução, a dúvida cessa e o agente conduzirá
dedutivamente seu pensamento, até que uma nova dúvida abale seu estado atual de
conhecimento. Em poucas palavras, Peirce (1977, p.220) afirma que: “[...] a Dedução
prova que algo deve ser; a Indução mostra que alguma coisa é realmente operativa; a
Abdução simplesmente sugere que alguma coisa pode ser”.
Pretendemos argumentar que é no processo de ajuste dos hábitos abalados por
fatos anômalos que se consolida o conhecimento. Ressaltando que este processo
envolve a sugestão de novas hipóteses, via abdução; a dedução das consequências
experimentais necessárias e prováveis; e o teste indutivo que, em caso de confirmação
da hipótese adotada, dissipará a dúvida gerada pelo fato anormal, ampliando o
conhecimento do agente.
Nietzsche como filósofo da cultura
Mayara Annanda Samarine Nunes da Silva
[email protected]
UFSC
CAPES
O presente trabalho, parte integrante da pesquisa intitulada “A Transvaloração
de Todos os Valores em Nietzsche como Possibilidade Ética”, objetiva refletir
sobre o papel desempenhado e o lugar ocupado pela temática da “cultura” no
pensamento nietzscheano. Refletindo sobre o homem, Nietzsche reconheceu que
o indivíduo desta espécie não poderia ser tomado como independente perante as
diversas forças constitutivas do mundo, dado que está inserido neste, sendo apenas
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
mais uma pequena parte dele – interpretação diversa da concepção de homem
moderna. Nietzsche dedica-se a pensar o homem, e, mais precisamente, o homem
moderno, contextualizado espacial e temporalmente, pois percebe que este apresenta
características específicas conforme o jogo de relações em que está inserido. Neste
jogo, nosso filósofo prioriza o papel da cultura como fruto da vontade de potência de
um grupo humano (um conjunto de indivíduos desta espécie), algo que ao mesmo
tempo em que é pelo homem produzido, também o produz. O homem, animal mais
frágil existente, encontra na vida em grupo o modo de fortalecer-se e proteger-se;
para possibilitar a vida coletiva, deve haver alguma forma de comunicação, e em razão
desta necessidade, o homem desenvolve a linguagem e a consciência: assim se inicia
um rompimento com o que o ele possui de individual – seus instintos e a vontade de
potência. O pensamento que chamamos de consciência é constituído pela linguagem;
os conceitos, definições e significados desta são formados na e voltados para a relação
com os outros: sendo a consciência por esta constituída, depreende-se que tudo o
que chega ao nosso plano consciente já não é individual, mas coletivo. Os sentidos e
entendimentos sobre o mundo e a vida construídos coletivamente, ou seja, a cultura,
desempenharão um papel decisivo no que chegará a consciência dos indivíduos que
estão inseridos em determinada sociedade, definindo seu modo de vida. Não é por
outro motivo que Nietzsche concebe indivíduo e cultura como intimamente ligados,
havendo uma impossibilidade de serem pensados isoladamente um do outro. A partir
desta perspectiva, podemos pensar Nietzsche como um filósofo da cultura: é somente
por meio dela que se poderá realizar a afirmação da vida por ele ambicionada.
Política e Felicidade no pensamento
de Remo Bodei
Miguel Ivân Mendonça Carneiro
[email protected]
UNB
A proposta do presente artigo é analisar a relação entre felicidade e política no
pensamento de Remo Bodei a partir da leitura de sua obra A Política e a Felicidade,
publicada em Roma (1997) em coautoria com Luigi Franco Pizzolato. Remo Bodei
parte da constatação de que a contemporaneidade encerra um ciclo bicentenário
em que se atribuía à política uma função salvífica capaz de tutelar a felicidade. A
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
problemática filosófica da obra fundamenta-se em interpelar quais as consequências
do enredo entre história e utopia, denominado por Remo Bodei de “hibridação”,
configurada em quatro etapas: a primeira etapa ocorre na segunda metade do século
XVIII (em que a perfeição desloca-se da noção de “espaço” para a noção de “tempo”,
leia-se ”futuro”); a segunda etapa é a suspensão das posições filosóficas e religiosas
tradicionais mediante a argumentação de Jean-Jacques Rousseau do “bom selvagem”,
pois o homem nasce bom, sendo a sociedade que o corrompe; a terceira etapa é a
necessidade de eliminar, pela força, a injustiça dos Estados; a quarta etapa cumpre-se
com Karl Marx, para quem a atividade revolucionária é o “acontecer do inevitável”. É
a política que realiza a tendência da história de isentar a sociedade dos óbices da sua
infelicidade (miséria, exploração e violência). O debate proposto por Remo Bodei,
portanto, envolve tanto a exequibilidade simultânea da organização política (Estado)
quanto à realização da felicidade no plano subjetivo do sujeito, pois o projeto coletivo
da política perdeu o estatuto de garantidor da vida feliz. Para Bodei, a felicidade
ultrapassa a perspectiva subjetiva e exige uma cooperação pública e política. O
desafio intelectual da contemporaneidade é redirecionar o sentido da vida pública e
da própria felicidade diante o cenário da perda da esperança sobre a perspectiva de
uma sociedade futura porque a ética do sacrifício ou religiosa fora sucumbida pelo
princípio do consumo. Portanto, urge reelaborar novos sentidos para os princípios de
desejo (paixão futura) e sentimento (paixão domesticada).
O Estado autoritário em Pollock e Neumman:
uma disputa frankfurtiana
Nathalia Muylaert Locks
[email protected]
UNESP- Araraquara
CAPES
Tendo como pressuposto a discussão sobre o fim do capitalismo entre Friedrich
Pollock e Franz Neumman, esta tese pretende investigar se é possível conter a crise do
capitalismo, ou se o capitalismo irá romper como previu Marx. De acordo com Pollock
o capitalismo adentrou em um processo intensivo de burocratização que resultou em
uma economia planificada. A conseqüência disso, é que a planificação por meio da
técnica e da burocracia que passa a controlar a crise. Nesse sentido, teria sido abolida
a propriedade privada, mas ela não resultou em uma forma de socialismo e sim no
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
que Pollock denomina Capitalismo de Estado. Em contrapartida, Neumman, segue
uma interpretação mais fiel ao marxismo leninista no qual o capitalismo monopolista
seria a última fase do capitalismo, isso significa que o capitalismo se encontra em uma
situação que beira a crise, isto é apresentando condições de transformação social.
Pollock e Neumann são autores esquecidos dentro do arcabouço teórico da
escola de Frankfurt, o que, nesse sentido, faz-se necessário a reativação da discussão
tão importante para o segmento do estudo sobre o capitalismo e o esclarecimento.
Dessa maneira a tese em questão visa colocar em evidencia dois pensadores que não
apresentam um estudo aprofundado, atualmente no Brasil. Ao mesmo tempo em que
ousa modificar a natureza das categorias marxistas, a medida em que se faz necessário
suas modificações uma vez que o cenário apresentado é de uma sociedade engendrada
na burocracia estatal. A necessidade desse Estudo se faz pelas vias do controle da crise
que se apresenta como um diagnóstico fatalista, no qual o capitalismo, mesmo em sua
face selvagem irá perpetuar para todo o sempre, ou seja, a democracia se apresenta
como totalitária e o totalitarismo como um sistema da ordem vigente que através da
burocracia executa seu plano autoritário, colocando dessa forma a sociedade em que
estado vigente é o da barbárie. O estado de exceção torna - se a regra. Mediante um
diagnóstico pessimista como este, como pode o capitalismo fracassar.
A pintura e escrita sobre a amizade como
resgate do “eu” em Montaigne
Nelson Maria Brechó da Silva
[email protected]
PUC – SP
CAPES
Esta comunicação pretende analisar a seção XXVIII De l’amitié do primeiro
volume dos Essais de Montaigne. Procura-se uma maior compreensão da relação
entre a pintura e a amizade. Para o filósofo, o exercício de ensaiar implica o resgate
do “eu” perdido no tempo, devido à morte de seu célebre amigo La Boétie. Exercitar
a escrita envolve um talento semelhante ao artista que, pela arte, desenvolve o seu
quadro com aquilo que faz parte do seu interior. Da mesma forma, ensaiar possibilita
a expressão do “eu”, que se encontra desordenado. Contudo, deseja re-estabelecer a
sua ordem pela escrita. Para tanto, analisar-se-á em que medida ocorre esse resgate do
“eu” no filósofo, à luz do pensamento de La Boétie e dos pensadores clássicos Horácio
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
e Plutarco. Desse modo, ver-se-á que esse resgate corresponde a uma tentativa
de Montaigne não perder totalmente o “eu” na melancolia. Expressar o amigo e a
literatura clássica permite o diálogo consigo mesmo como forma de recuperar as
cenas e as palavras mais importantes. Tal exercício consiste em humanizar as suas
experiências pelo viés da escrita e não mais pelo encontro pessoal com o amigo. Nesse
sentido, resgatar será o modo de expressar suas principais experiências. O pintor faz
a sua pintura como expressão do belo. O filósofo, por sua vez, escreve no exercício
de resgatar as experiências vividas nos encontros e nas leituras. Resgatar quer dizer
a capacidade escolher as melhores cenas da vida, registrá-las e refleti-las para a
compreensão constante do “eu” fragmentado.
A Política e a raposa: notas sobre temporalidade
do pensamento e da constituição do mundo em
Hannah Arendt
Paulo Eduardo Bodziak Junior
[email protected]
UNICAMP
CAPES
Entre os anos de 1924-1925 Hannah Arendt teve a oportunidade de acompanhar
os cursos de um dos professores mais jovens e brilhantes que Alemanha conhecera,
Martin Heidegger. É notável a influência deste professor na formação do pensamento
de Arendt, inclusive em sua fase madura. Entretanto, excluídas quaisquer especulações
de caráter pessoal, a relação teórica entre ambos os pensadores é muito marcada por
ligações íntimas e ao mesmo tempo conflituosas em suas obras. Em 1946, após a
catástrofe nazista e a perseguição de judeus, Arendt volta aos trabalhos filosóficos e se
debruça sobre a obra de seu antigo professor. As críticas tecidas ao pensador não são
apenas pontuais mas se dirigem ao epicentro do projeto teórico que Heidegger levara
a cabo em Ser e Tempo. Basicamente, a autora acusava Heidegger de ter se esquecido
da primazia da pluralidade e da política como condição e atividade própria à
constituição da liberdade humana e do próprio mundo. Para ela, não haveria horizonte
de liberdade em um projeto teórico marcado pelo isolamento como possibilidade
máxima de realização do Ser. Não é por acaso que em 1951, já amadurecida após
a publicação de Origens do Totalitarismo, Arendt retoma suas antigas inquietações
e escreve A Condição Humana e o dedica a Heidegger. Embora seja um trabalho
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
todo constituído sobre a noção heideggeriana de mundo, ela insere sua noção de
ação - atividade própria da política – como ponto basilar na constituição mundo,
transformando o conceito de seu mestre. Por fim, pode-se notar que a relação entre
ambos foge de qualquer padrão simplista e levanta a questão: Arendt seria mesmo
uma discípula de Heidegger? Em que medida a autora não mergulha ainda mais no
pensamento heideggeriano ao tentar se livrar de suas inquietações? Para responder
estas perguntas deve-se observar qual é o grau de proximidade entre as noções de
mundo de ambos os autores.
O Estado Ideal Kantiano
Paulo Francisco de Oliveira
[email protected]
UNIMEP
FIES
Um Estado (civitas) é a união de multidão de seres humanos submetida às leis do
Direito. Na medida em que estas são necessárias a priori como leis, isto é, na medida
em que procedem espontaneamente de conceitos de direito externo em geral, a forma
do Estado é aquela de um Estado em geral, ou seja, do Estado em ideia, como deve
ser, de acordo com puros princípios de direito. Essa ideia serve como uma norma para
qualquer associação real numa república (e, por conseguinte, serve como uma norma
para sua constituição interna). Enfim, uma vez que a finalidade do Estado kantiano
é somente ética (entendida como liberdade), não há uma distinção entre o Estado
despótico e o republicano. O Estado é um só: é aquele que garante o direito.
Ação no contexto da percepção direta
Paulo Henrique Araujo Oliveira Pereira
[email protected]
UNESP – Marília
CNPQ
O objetivo desse trabalho consiste em elencar elementos do pragmatismo
peirceano que contribuam ao estudo da percepção direta proposta por Gibson
(1979/86). A hipótese central desse trabalho é que o conceito de razoabilidade
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
peirceano pode carregar elementos, tais como, instintos, emoções e sensibilidade ao
domínio da percepção/ação sem necessariamente descaracterizá-la, possibilitando
um critério de decisão no domínio da ação. Nesse contexto, analisamos a hipótese
gibsoniana que o estudo da percepção/ação, segundo a qual, a percepção não
envolve representações mentais internas, mas está orientada por affordances e que a
razoabilidade pode constituir um elemento balizador nas escolhas dos organismos.
Por affordances, Gibson caracteriza a informação disponível aos organismos no
meio ambiente que possibilita a ação dos organismos. Procuraremos evidenciar de
que modo emoções e instintos, englobados pela razoabilidade, constituem elementos
essenciais à manutenção da vida e, desse modo, estão também presentes em organismos
incapazes de representar mentalmente o mundo. Explicitaremos que a razoabilidade
no sentido peirceano (algumas vezes deixada de lado nos estudos da percepção/ação
na teoria da percepção direta) participa fundamentalmente dos processos racionais
(e também dos não racionais) que envolvem a ação. A teoria gibsoniana da percepção
direta não faz referência a nenhuma estrutura específica, além da fisiológica própria dos
organismos, que delimite suas decisões. Nesse sentido, argumentaremos que o conceito
peirceano de razoabilidade introduz um foco natural à realidade através do instinto
e, como afirma Peirce, mais adaptado à continuidade da nossa raça e da vida por não
ser característico do pensamento científico artificial. Além disso, entendemos que a
razoabilidade confere aos organismos um critério de relevância às suas escolhas que
pode enriquecer a teoria da percepção direta no que diz respeito ao tema das decisões
no plano da ação permitindo aos organismos agirem significativamente no meio.
O classicismo, o sujeito e a loucura
em Michel Foucault
Rafael Fernando Hack
[email protected]
UFSCAR
CAPES
No período clássico a concepção de subjetividade encontrava-se inviabilizada
devido a estrutura discursiva predominante. Diante disto, a caracterização e o tratamento
das denominadas “patologias do espírito” apoiavam-se em outros pressupostos.
Pretendemos assim, observar a relação existente entre o discurso, a loucura e o sujeito
no classicismo.
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
O homem, na medida em que é considerado, pelo período barroco, como aquele
que organiza as representações, não pode ser representado. É no interior do discurso
conferido pela representação que tanto o ser como a existência estão dispostos. É
somente através da redefinição da linguagem que pode se instituir uma ciência do
homem.
No discurso encontram-se imbricadas duas noções: a natureza e a natureza
humana. A primeira fazia surgir a diferença na ordem dos seres através de uma
justaposição real e desordenada. A segunda proporcionava ao idêntico aparecer na
cadeia desordenada das representações. Isto é, a natureza estabelecia o contínuo
através de aproximações desordenadas e a natureza humana percebia o idêntico
naquilo que aparentemente era desordenado e diferente. Ambas as naturezas, apesar
desta oposição, lidam com elementos iguais: a diferença, a continuidade e a sucessão.
Elas permitem que a possibilidade de análise surja em um quadro, mas necessitam,
para tanto, uma da outra.
O discurso clássico, como manifestação da loucura, possui por um lado a natureza
que através de uma análise disponibiliza a semelhança das coisas antes de sua ordenação.
Permeada de lacunas, com suas similitudes misturadas e entrecruzadas, a natureza
necessita de organização. É através de imagens fantasiosas que ela imprime-se como
representação no louco. Por outro lado, as imagens ao serem submetidas a natureza
humana, isto é, a uma analítica da imaginação, que possa enfim ordená-las, deparam-se
com uma lógica baseada em convicções inverossímeis, que embora seja formalmente
eficiente não possui um referencial plausível. Assim, a forma discursiva de manifestação
da loucura no classicismo caracteriza-se: surge o delírio.
Matéria e Memória e a percepção como escolha
Rafael Pellegrino
[email protected]
UFSCAR
CAPES
Propomos uma breve abordagem em nosso seminário acerca da questão das relações
entre percepção e liberdade na filosofia de Bergson, segundo o que consta em seu segundo
livro, Matéria e Memória, sendo este um ensaio a respeito da relação consciência e corpo
onde a percepção consciente aparece como ponto inicial de sua discussão.
O tema geral de nossa pesquisa se propõe a estudar a problemática envolvida em
estabelecer a relação entre corpo e memória, já que se trata de uma relação entre realidades
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
distintas; a da matéria e a da consciência. Recortaremos, porém, um tema preciso dentre
os tantos abordados pelo todo da pesquisa: a relação entre percepção e escolha.
Para Bergson, a percepção aparece como relação entre imagens. Essas imagens, que
resumem-se aos os próprios objetos que nos rodeiam, são entendidas como algo entre a
coisa e a representação e se dividem em dois tipos: o corpo vivo e as imagens não vivas,
cuja diferença é, numa primeira observação, a relativa indeterminação das respostas
do corpo vivo às ações que lhe advêm do resto mundo, enquanto que as imagens não
vivas parecem proceder sempre de modo bem determinado às ações que recebem das
outras imagens. Mas se existe alguma coisa que diferencie, a princípio, esses dois tipos
de imagens e justifique a relativa indeterminação por parte do corpo vivo, para Bergson,
é justamente a capacidade de percepção que o corpo vivo possui, diferente dos outros
corpos ou imagens. Procuraremos, desta forma, analisar em nossa breve apresentação o
modo como Bergson trata a percepção e como a questão da escolha – e, de certa forma
já, da liberdade – aparece-lhe vinculada em Matéria e Memória.
O nascimento de Deus em Nietzsche
Rafaelo Schmitt Faccini
[email protected]
UNISINOS
O trabalho apresenta a gênese do sentimento e do conceito de Deus no homem,
segundo a interpretação que fazemos da filosofia de Friedrich Wilhelm Nietzsche.
Através do título “O nascimento de Deus em Nietzsche”, procuramos mostrar
como pôde surgir, conforme o filósofo, a crença em Deus, interpretando-a como
resultado de uma determinada hierarquia de forças e de uma vontade de nada, as
quais caracterizam a espécie humana. Ao abordar o tema da gênese da ideia moral de
Deus, podemos perceber que Nietzsche não conta a história do surgimento de uma
entidade metafísica. O que ele investiga em obras como a “Genealogia da moral” é,
sobretudo, como o conceito e o sentimento de Deus no homem se desenvolveu no
curso do tempo, levando sempre em consideração o tipo de forças e de vontade de
poder que estão por trás desse desenvolvimento. O trabalho se divide em duas partes.
Primeiramente, é analisada a base de apoio imanente e naturalista da filosofia de
Nietzsche, em que se sobressai a noção de desenvolvimento, de evolução e, sobretudo,
o mecanismo atuante no devir: as forças e a vontade de poder. Ainda tem destaque
nessa primeira parte o método utilizado por Nietzsche para avaliar a hierarquia das
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
forças e da vontade de poder em uma matéria: o método genealógico. Na segunda
parte, é feita uma abordagem sobre como Nietzsche utiliza esses princípios para
mostrar a história da proveniência da crença humana de que existe Deus e de que
modo essa crença adquiriu peso e importância.
Sobre a Biopolítica de Giorgio Agamben: entre
Foucault e Arendt
Raphael Guazzelli Valerio
[email protected]
UNESP
CAPES
Pretende-se mapear o conceito de biopolítica na obra do filósofo italiano Giorgio
Agamben, mais precisamente em seu trabalho de 1995, inaugurador da série Homo
Sacer, cujo título leva o mesmo nome: Homo Sacer: O Poder Soberano e a Vida Nua.
Valendo-se do pensamento de Michel Foucault e Hannah Arendt de um lado, e Walter
Benjamin e Carl Schmitt de outro, Agamben faz recuar o conceito de biopolítica às
fundações da política ocidental. Importa mostrar como estrutura, lógica e topologia
de funcionamento a biopolítica anima as relações políticas desde seu fundamento e
que a modernidade foi capaz de desvelar, transformando radicalmente os espaços
políticos contemporâneos. É sabido que este conceito foi forjado por Foucault e que em
seu pensamento ele funciona como uma modalidade de poder, porém em Agamben
ele aparece de forma central, algo como um conceito base de onde emergirão outros
quatro: homo sacer, poder soberano, estado de exceção e campo de concentração.
A política moderna, ao suscitar um permanente estado de exceção, isola e produz a
mera vida e toma para si o direito de administrá-la. Nesta estrutura de funcionamento
temos como paradigma de espaço político o campo de concentração.
88
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Introdução aos Trabalhos de Rudolf Carnap
Renato Machado Pereira
[email protected]
UFSCAR
CAPES
O artigo tem por finalidade descrever as principais características do pensamento
de Rudolf Carnap. Inicialmente, fazemos uma breve introdução ao contexto em que
estão inseridas as obras carnapianas, frisando o papel importante do Círculo de Viena
em sua vida. Quando se transferiu para Viena e começou a fazer parte do cenáculo
vienense, Carnap já havia adquirido sua formação de base, ao ponto de surgir como um
pensador relativamente independente e maduro. Com sua bagagem de conhecimento,
depressa ele se inseriu como um dos maiores protagonistas do Círculo de Viena, não
só assegurando o seu contributo para a doutrina do grupo, mas também, de acordo
com a dinâmica francamente cooperadora, dele retirando mais de um motivo para
importantes desenvolvimentos das suas próprias ideias.
De maneira especial, Carnap herdou dos adeptos ao Círculo de Viena o
grande interesse pela “linguagem”. Em particular, em sua obra “A Sintaxe Lógica da
Linguagem”, Carnap via com suspeição a possibilidade de falar da linguagem de outro
modo além do sintático. Porém, esse modo de interpretação da linguagem passa por
mudanças marcantes em suas obras e podemos, inclusive, dividir o seu pensamento
em três fases: Fenomenalista, Sintática e Semântica. Dedicamos neste artigo uma
breve descrição dessas três fases, destacando que, mesmo propondo essa divisão, elas
estão inter-relacionadas.
Der Begriff des Organischen seit Kant: notas
sobre o projeto de doutorado de Nietzsche
Ricardo Bazilio Dalla Vecchia
[email protected]
UNICAMP
A edição das obras de Nietzsche feita por Colli e Montinari traz a público um
manuscrito, datado de 1868, com pouco mais de cinquenta fragmentos (P I 8, 62 [3]
- 62 [57]), em que o então jovem filólogo se dedica a tratar do universo da teleologia
de Kant. A confecção desse manuscrito reverbera em duas cartas, ambas de abril
89
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
do mesmo ano, a primeira enviada a Erwin Rohde (KSB, vol. II, p. 265), na qual
Nietzsche comenta seu desejo de redigir uma dissertação (Doktordissertation) sobre
filosofia, e a segunda a Paul Deussen (KSB, vol. II, p. 269), em que o desejo se torna
um projeto, a ser concretizado até o final do ano. Embora num dos fragmentos (cf.
62 [6]) tal projeto receba o título amplo de Die Teleologie seit Kant, na referida carta
a Deussen, Nietzsche sinaliza que seu tema norteador é especificamente “der Begriff
des Organischen seit Kant” (o conceito de orgânico desde Kant). O desenvolvimento
efetivo desse projeto não chega a ultrapassar as mencionadas cinquenta e poucas
notas, visto que, poucos dias depois, numa nova carta a Rohde, Nietzsche comunica
seu abandono. A despeito de sua diminuta elaboração, esse esquecido projeto de
dissertação, ao mirar questões pontuais da filosofia kantiana, sob a “influência”
da metafísica de Schopenhauer e a partir de uma curiosa apropriação de Goethe,
leva Nietzsche a intuir algumas problemáticas que, décadas depois, em sua filosofia
madura, ascenderão ao primeiro plano de sua obra, mediante o desenvolvimento de
conceitos capitais como o de vontade de poder. A partir de uma leitura contextualizada
do manuscrito, pretendemos trazer à tona a origem e os pormenores de algumas
dessas problemáticas, sinalizando, assim, para os temas e os conceitos que elas,
prematuramente, já intuem.
O uso do αὐτὸ no Hípias Maior
Rineu Quinalia
[email protected]
UNIFESP
CAPES
Este estudo considera o Hípias Maior um elo imprescindível dentro do
pensamento de Platão. O diálogo traz, pela primeira vez, investigações acerca do
Belo dentro do Corpus. Não obstante a estrutura textual, ainda “socrática”, o diálogo
apresenta especulações que superam o nível de investigação, composto pelos exames
e interrogações, e os processos argumentativos, tipicamente elênquicos e, prepara a
estrada em que Platão (apesar de ainda não usar especificamente o termo “dialética”
no texto) tenta direcionar sua investigação para uma formulação do seu processo
dialético. No Hípias Maior, busca-se a definição do Belo (tó kalon). Platão ali, tenta
definir o conceito não como predicado, mas como substantivo, ou seja, a pergunta
socrática (tí esti?) que é belo? se transforma em (tí esti << tó >> kalon?) que é <<
90
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
o >> belo? a inserção do artigo (tó = o) evidencia que, o que se busca não são as
várias contextualizações do belo, ou seja, coisas belas (tá kalá), mas o belo em si
(autó tó kalon). Ao tornar-se claro o caráter mais “metafísico-ontológico” da questão,
é difícil não pensar que Platão, já naquele momento, não teria em mente (mesmo
em um estado ainda embrionário) os rudimento do que viria a ser posteriormente
na maturidade sua Doutrina das Ideias. Ao longo desta comunicação, optou-se por
evidenciar dois pontos: (i) Encontrou-se durante o estudo do Hípias Maior, a nítida
tentativa de Platão, ao longo do seu exercício filosófico, seu esforço e sua necessidade
em realizar a passagem do (dialeghesthai) socrático à gênese da sua (dialektiké).
(ii) Não obstante estarmos diante de um texto que a tradição atribui à juventude do
filósofo, caracterizada pela forte influência socrática, Platão parece já ter bem presente
a estrutura inicial da sua ontologia, uma vez que, em meio às definições do belo ali
apresentadas, é clara a distinção conceitual entre particular e universal, ao longo do
movimento argumentativo.
O personagem Protágoras nos diálogos de Platão:
o problema da distinção entre
o particular e o público
Robson Gabioneta
[email protected]
Unicamp
CAPES
Os sofistas ficaram conhecidos na história da filosofia como pseudofilósofos.
Porém, todos os que se dedicam a estudá-los insistem que inicialmente o termo
significava sábio e que a mudança nesse sentido foi dada por Platão e seguida por
Aristóteles. Porém que Platão estão falando? Em quais textos? Como eles interpretam
Platão? Muitas vezes eles sequer se dão o trabalho de apresentar uma justificativa
textual para aquilo que estão dizendo. Outras vezes, apresentam uma posição sem
nenhuma justificativa. O mais curioso é que esse mesmos intérpretes usam os textos
de Platão sem nenhum cuidado metodológico, inclusive nem o próprio. Por exemplo,
citam o personagem Protágoras do diálogo homônimo de Platão como se este fosse
uma figura histórica.
Não se trata aqui de defender nem um nem outro ponto de vista, mas simplesmente
examinar o que Platão, ou melhor, o que o texto platônico fala sobre o Protágoras.
91
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Ou melhor ainda, buscaremos acompanhar como Protágoras aparece em 11 diálogos
de Platão, discutindo o contexto em que é inserido, bem como sua participação no
encadeamento de cada diálogo.
Protágoras aparece de diversas formas: ora como personagem que toma a palavra,
ora é Sócrates que fala em seu nome, ora apenas sua teoria é referida, ora são seus
discípulos, ora é comparado aos poetas, ora aos artesãos... Enfim há uma multiplicidade
de aparições, de modo a dificultar a síntese em relação a esse personagem.
Leibniz e as razões para crer na religião
Rogério Vagna
[email protected]
UFSCAR
A um seguidor da religião cristã é exigida a crença em certos dogmas denominados
mistérios da fé, como por exemplo, o dogma da trindade e o da transubstanciação.
Os dogmas da fé apresentam-se como fundamentalmente ininteligíveis, mas ainda
assim exige-se dos cristãos a crença neles, ou seja, que os considerem verdadeiros.
O fato é que só posso considerar como verdadeiro ou falso algo que é inteligível.
Se, por um lado, nos deparamos com aspectos ininteligíveis quando lidamos com
o discurso religioso, por outro, a posição ortodoxa não pode rejeitar que haja algo
de compreensível nos mistérios da fé, sob pena de aceitar uma total falta de sentido.
Diante de tal problemática pretendemos mostrar que, seguindo o ecletismo presente
na filosofia de Leibniz, não se deve tomar uma posição unilateral. Entre a teologia
natural, fundada na razão e na experiência comum, e a teologia revelada, que traz
a revelação dos mistérios por Deus, não deve haver oposição, mas uma completa
harmonia. Da mesma forma o filósofo de Hannover não poderá aceitar que o discurso
religioso tenha apenas uma significação emotiva, pois sempre se terá que dizer por
que devemos aceitar certas crenças e não outras. Ao darmos razões de preferirmos
uma crença à outra, percebe-se claramente que elas têm um aspecto cognoscitivo,
além do meramente emotivo, haja vista que aceitar uma crença implica considerar
a proposição como verdadeira. Leibniz só aceitará uma posição que contemple
simultaneamente as exigências de inteligibilidade, garantindo que há algo de racional
nas crenças da fé, e de ininteligibilidade, salvaguardando ainda algo de misterioso na
experiência religiosa.
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
John Locke e as questões em
torno da linguagem
Ronaldo José Moraca
[email protected]
UFSCAR
A linguagem foi o tema central do terceiro livro do Ensaio Sobre o Entendimento
Humano, e podemos afirmar que, de acordo com a perspectiva lockeana, as confusões
decorrentes do uso vago e impreciso das palavras tem sido a fonte de confusões
conceituais presentes nas discussões filosóficas. Podemos interpretar as menções
feitas por Locke acerca da linguagem somente como mais uma preocupação de
origem baconiana, ou seja, de que o homem deve empreender suas forças para que seu
entendimento não seja enfeitiçado pelo poder das palavras? Ou, não se trata somente
de dedicar uma especial atenção ao uso dos termos, mas estabelecer uma melhor
compreensão do funcionamento da própria linguagem para que possamos lidar
com as confusões conceituais por ela geradas? A discussão dessas questões revelará
um traço importante presente na filosofia de Locke (e do pensamento filosófico
moderno), a saber, a correta compreensão do funcionamento da linguagem como
trabalho filosófico.
A Democracia Deliberativa de Jürgen Habermas
Ronaldo Martins Gomes
[email protected]
UFSCAR
A democracia se apresenta de forma bastante controversa para os diversos autores
das áreas de filosofia, sociologia, educação, política etc. que se dedicam a estudá-la, isso
faz com que se tenha na atualidade um variado “cardápio” de modelos de democracias:
Democracia Participativa; Democracia Real; Democracia Experimental, entre outras
opções. O que será que isso pode indicar? Será que existe um único modelo de
democracia que seja válido para todas as sociedades políticas em todos os tempos?
Ou será que cada sociedade pode construir sua própria democracia? Essa questão é
relevante, pois há países que desenvolvem modelos centralizadores e violentos, mas
que se denominam “democráticos”. Portanto, talvez seja necessário perguntar: o que
é uma democracia? Ou o que faz com que uma sociedade seja considerada como
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
democrática? Além disso, há uma democracia que se apresenta na organização dos
discursos políticos e outra que é vivida pelos indivíduos nos seus contextos de vida
em cada sociedade singular. Seria este um indicativo que a democracia passou a ser
mais discurso eleitoreiro do que prática social efetiva? Nesse trabalho, após discutir
as questões acima levantadas, se apresentará de forma introdutória a concepção
de Democracia Deliberativa e Esfera Pública em Jurgen Habermas, no contexto
mais amplo da Teoria da Ação Comunicativa. Tendo como objetivo vislumbrar a
Democracia Deliberativa como uma opção válida no projeto emancipatório das
sociedades em geral, e da sociedade brasileira especificamente. Configurou-se que
uma teoria democrática, mesmo sendo pensada no contexto do mundo europeu,
pode ser útil ao universo político brasileiro, no que se refere à possibilidade de refletir
sobre a realidade.
Linguagem versus Escritura:possíveis
deslocamentos e interrupções
Roseli Gonçalves da Silva
[email protected]
UFU
O trabalho que se anuncia visa uma discussão acerca do problema da linguagem
a partir da dimensão derridiana da escritura. Ao anunciarmos a emancipação
da escritura - que por vezes ainda se apresenta como representação figurativa da
linguagem - é possível pensar que talvez nunca na história das línguas tal emancipação
tivesse sido tão cobiçada. Esse desejo de emancipação institui-se e apodera-se da
linguagem de tal forma que acaba por fixar-se no jogo das oposições binárias. Donde,
não permitir que se expresse da melhor maneira que se possa ou se saiba fazer é
desdizer a desconstrução, é desacreditar nas possibilidades de deslocamentos que
verdadeiramente nos propõe a Desconstrução. Ou ainda, permitir que emanando
por entre os antigos hábitos e antigas tradições, se mantenha o eterno porvir... Um
porvir que talvez nem mesmo venha ou que a fortiori já o tenha vindo. Vindo tão
sutil, tão delicadamente sutil que nem se permitiu aperceber-se. Não permitir que a
Linguagem e a Escritura se constituam mutuamente com tudo o que a escritura possa
agregar a si é impedir que o jogo continue. É esquecer os preceitos, os conceitos ou
os quase-conceitos derridianos que simulam e se dissimulam entre si, que invertem
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
e pervertem... Mas, sobretudo que nos colocam diante de nós mesmos, como que
num espelho a refletir sobre e a partir de nossa própria imagem. Dessa forma nos
é facultado pensar que não existem dois lados. Não existem dois gumes. Não existe
par ou ímpar; nem isto ou aquilo. Não há mais espaço nem tempo para dicotomias.
Existem outros, há infinitos outros a partilhar, a compor, a duplicar, a desconstruir
e a (re) construir como que num movimento quase- involuntário, repetindo-se,
como primeira vez. Assim, o que se propõe aqui é que se lance um olhar outro para a
escritura, e, sobretudo, que se amplie a discussão acerca do problema da linguagem.
Um olhar outro que não tema a violência porque possa ou deva passar não só a
escritura, como também o discurso e a própria linguagem.
Podem novos experimentos de Metacontraste
falsear o Modelo de Esboços Múltiplos da
consciência?
Samuel de Castro Bellini Leite
[email protected]
UNESP – Marília
CAPES
O objetivo deste trabalho será de discutir se Todd (2009) consegue falsear o
Modelo de Esboços Múltiplos de Daniel Dennett (1991) através de análises de novos
experimentos de metacontraste. Dennett afirma a superioridade de seu modelo sobre
um modelo tradicional de consciência chamado por ele de “Teatro Cartesiano”. O
conceito do Teatro Cartesiano está relacionado a vários problemas, mas o que parece
ser essencial para as críticas Dennett e também mais controverso está ligado à
afirmação de que uma discriminação em tempo “T” no cérebro não pode corresponder
a um evento no mesmo tempo “T” na consciência, não podendo haver uma linha de
chegada para o início da consciência. Isso se dá porque a adoção desta tese implica
na possibilidade de discernir entre eventos Stalinistas e Orwellianos em frações de
segundos. Dennett acredita mostrar empiricamente que discernir isto é impossível,
e utiliza o metacontraste como uma das principais evidências. Os projetos de Steven
J. Todd (2006, 2009), Breitmeyer et al. (2007) e Christie e Barresi (2002) pretendem
mostrar, justamente, a partir de novos experimentos com metacontraste, evidências
que possam diferenciar entre interpretações Stalinistas e Orwellianas para tornar o
argumento principal a favor do Modelo Esboços Múltiplos falso.
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
A dupla intencionalidade da retenção
nas Lições de Husserl
Scheila Cristiane Thomé
[email protected]
UFSCAR
FAPESP
Nas Lições para uma fenomenologia da consciência interna do tempo Husserl nos
diz que aquilo que está presente em carne e osso (Leibhaft), aquilo que é doado no agora
atual, tem como seu modo de doação intuitiva a percepção, por outro lado, o acesso
intuitivo ao passado, e de certo modo também ao futuro, é garantido pela consciência
reprodutiva. A reprodução (Reproduktion) aparece, assim, como a estrutura geral dos
atos de recordação, expectativa e fantasia. No caso da doação intuitiva do passado,
essa é garantida porque na reprodução é reproduzida a consciência do que fora
atualmente percebido. Esse acesso ao passado se dá desse modo porque a recordação
opera tendo como base a dupla intencionalidade da retenção. Intencionalidade
que, por um lado, visa o objeto temporal imanente na sua duração – essa direção
é caracterizada por Husserl como intencionalidade transversal (Querintentionalität)
-, por outro lado, visa o próprio contínuo de fases do fluxo de consciência – o
que caracteriza uma intencionalidade longitudinal (Längsintentionalität). Essas
duas direções da intencionalidade da retenção formam uma unidade incindível,
de modo que é mediante a intencionalidade transversal que se constitui o tempo
imanente (a esfera própria de alteração e duração do objeto temporal) e é mediante a
intencionalidade longitudinal que se constitui a unidade do próprio fluxo, o contínuo
das fases constitutivas do tempo enquanto dinâmica de fluência do presente vivo.
Deste modo, é num único e mesmo fluxo que se constitui ao mesmo tempo a unidade
do objeto e a unidade do próprio fluxo. O objetivo desta comunicação será, então, o
de analisar a possibilidade do acesso à esfera da subjetividade absoluta constitutiva do
tempo mediante a compreensão da dupla intencionalidade da retenção e do caráter
reprodutivo da recordação, como também analisar os problemas relativos ao acesso
reflexivo-fenomenológico à esfera subjetiva absoluta que enquanto é constitutiva de
toda temporalidade não é ela própria um processo no tempo - ela é propriamente sem
tempo (zeitlos).
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Sartre e a ideia de nadificação como conduta
concreta humana
Siloe Cristina Nascimento Erculino
[email protected]
UFES
FAPES
Sabemos que a nadificação é necessária para compreender o pensamento
sartriano, mas ao contrário do que a primeira impressão sugere, este conceito não
é simples abstração desconectada do real; a nadificação, de outro modo, funciona
como instrumento dialético para compreensão da relação entre a consciência e os
objetos, e como tal é sempre indicação de uma conduta humana que só existe no
mundo. Nosso escopo é explicar, com base na obra O Ser e o Nada de Sartre, como
ele entende a nadificação para mostrar que ela é uma conduta concreta. Para realizar
esta tarefa faremos uma breve introdução ao conceito de intencionalidade explicando
a relação entre a consciência e os objetos. Isso posto, veremos por meio da análise de
uma conduta humana - neste caso a interrogação pelo ser - como a consciência se
desprende dos objetos nadificando o real e fazendo surgir o não-ser e o nada como
constatações objetivas no mundo. Pretendemos mostrar que o conceito de nadificação
compreende, portanto, o desgarramento da consciência em relação aos objetos,
na qual a consciência se desprende do ser percebido colocando a possibilidade da
negação. Iremos observar como a nadificação da consciência faz surgir o não-ser em
meio ao ser em qualquer questão cotidiana a partir do exemplo dado por Sartre: um
encontro num bar. Marco um encontro com um amigo chamado Pedro no bar e ao
chegar observo o ambiente, as pessoas, mesas, bebidas e transcendo essa percepção.
Faço desvanecer o que percebi e uso esse cenário como pano de fundo para a busca
por meu amigo, mas Pedro não está – tudo que encontro é sua ausência – minha
espera pelo ser encontrou o nada. Isso revelará que a falta de Pedro é o nada que
encontrei sobre o fundo do bar que nadifico e a ausência dele é um fato objetivo: o
não-ser de Pedro é o que sustenta a minha negação; dessa forma, concluiremos que a
negação e o nada são constatações objetivas da consciência onde ela organizou o real
esperando uma resposta do ser, e a nadificação indica o desgarramento da consciência
a faz negar o ser.
97
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
O conhecimento metafísico: a intuição como
método em Bergson
Solange Bitterbier
[email protected]
UFSCAR
CNPQ
A metodologia bergsoniana baseada em separações apenas de direito, em novas
concepções para palavras já conhecidas e diferentes abordagens para temas filosóficos
tão debatidos anteriormente fazem da noção de metafísica algo bem peculiar para o
filósofo de Matéria e memória. Se o primeiro capítulo desta obra pode ser considerado
como gnosiológico, o quarto capítulo pode ser compreendido como uma metafísica
que vem a complementar e mesmo concluir as teses anteriormente expostas acerca do
papel do corpo e sua relação com as imagens. Entretanto, essa metafísica é peculiar
na medida em que tem por método uma das noções mais complexas da filosofia
bergsoniana: a intuição. Em outras palavras, o modo de análise bergsoniano torna
a exposição de suas idéias mais compreensíveis e ao mesmo tempo indica que a
intuição está na base do conhecimento verdadeiro, aquele que, por sua vez, deveria
estar na base da metafísica. Embora encontremos a presença direta ou indireta do
termo intuição nas três principais obras de Bergson – Ensaio sobre os dados imediatos
da consciência, Matéria e memória e A evolução criadora – o filósofo só se dedicará
a esse método intuitivo na segunda parte da introdução da obra O pensamento
e o movente, e isso não ocorre por acaso: erigir a intuição como método filosófico
significa ter delineado as particularidades da duração, algo a que Bergson se dedicara
até então. Somente em sua última obra, que é uma coletânea de textos, Bergson se
dedica precisamente à intuição como método adequado para metafísica, assim como
a “associá-la” diretamente à duração. Sendo assim, nosso trabalho pretende mostrar as
particularidades desse método bergsoniano da intuição e qual seria sua importância
para o conhecimento metafísico como um todo.
98
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Tempo e Subjetividade na
Fenomenologia de Husserl
Tayrone Barbosa Justino Alves
[email protected]
UFSCAR
CAPES
A fenomenologia, tradicionalmente conhecida como uma das grandes correntes
filosóficas, tem sua gênese no início do séc. XX com Edmund Husserl, em sua grande
obra “Investigações Lógicas”. A fenomenologia sempre foi concebida desde seu início
como uma investigação de essências. De maneira geral, é uma análise das essências
dos atos de consciência. Apesar desta concepção já estar presente nas “Investigações
Lógicas”, sabe-se que Husserl durante todo o resto de sua vida não deixou de rever e
até mesmo reformular a teoria fenomenológica.
Em estudos anteriores, abordamos uma destas reformulações, mais
especificadamente a que ocorre entre as 1ª e 2ª edições das “Investigações Lógicas”.
Este livro pretende elaborar uma teoria do conhecimento que pudesse dar
cabo definitivamente dos problemas presentes nas concepções psicologistas do
conhecimento; até então concepções muito populares entre os teóricos da época.
Contudo, na 2ª edição das “Investigações”, mais de dez anos depois, o diagnóstico
de Husserl é severo: as “Investigações” continuam sendo um livro importante para
aqueles que quiserem se aventurar na fenomenologia, mas seu objetivo – uma teoria
do conhecimento completamente bem fundamentada – não foi totalmente alcançado
e manteve-se ao nível do “principiante”. Husserl ressalvou suas “Investigações
Lógicas”, pois ainda que estivesse disposto a descrever as essências dos atos visando
uma estrutura essencial do entendimento, ainda o fazia no nível da atitude natural.
Husserl identifica nas “Investigações” um preconceito presente nas tradicionais teorias
do conhecimento. Tal preconceito consistia numa posição epistemológica errônea
em que se opunham dois âmbitos: de um lado, o terreno da realidade psicológica;
do outro, o terreno do que a transcende. O problema do conhecimento posto neste
cenário não pode ser resolvido e culmina num contrassenso.
Nesta apresentação, vamos iniciar uma breve análise dos estudos sobre o tempo
posterior às “Investigações”. Gostaríamos, mesmo com certo caráter introdutório,
de apontar como os estudos sobre o tempo terão papel decisivo na fenomenologia
deste período.
Partiremos do livro “Lições para uma Fenomenologia da Consciência Interna do
Tempo”, pois reúne alguns escritos deste período crucial. Estas análises sobre o tempo
99
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
contribuem para denunciar algumas inconsistências das “Investigações Lógicas”,
sobretudo a própria concepção de subjetividade.
Notas sobre crítica e parrhesía na filosofia de
Michel Foucault
Thiago Canonenco Naldinho
[email protected]
UFSCAR
FAPESP
A presente comunicação almeja investigar o último dos grandes eixos de
pesquisa empreendidos por Michel Foucault – os processos de subjetivação (si) –,
principalmente no que se refere aos cursos que enfocaram, no âmbito mais geral
das relações entre sujeito e verdade, a noção de parrhesía (a qual pode ser entendida
como “franco falar”, “dizer tudo”, “dizer veraz”). Visamos expor nossa interpretação
acerca da razão de interesse de Foucault em determinar o dizer veraz parresiástico
– que exercera um papel de grande destaque nas antigas cultura e filosofia grecohelenística-romanas – como um dos objetos fundamentais das pesquisas divulgadas
em seus últimos cursos. Dentro desse intuito geral, buscaremos descrever brevemente
as íntimas relações entre as noções de crítica e parrhesía no pensamento foucaultiano e
o modo como ambas teriam sido incorporadas à própria filosofia do autor em questão
e, por conseguinte, à sua estratégia de enfrentamento ao poder político moderno.
Husserl sobre a aplicabilidade da Geometria
Formal: um leitura em termos
de Estruturas e Modelos
Thiago Carreira Alves Nascimento
[email protected]
UFSM
CNPQ
Einstein em Geometria e Experiência questiona como a matemática, enquanto
um produto da mente humana independente da experiência, pode ser tão apropriada
100
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
para lidar com os objetos da realidade. Sua resposta a essa questão é sucinta: na medida
em que as leis da matemática se referem à realidade, elas são incertas; na medida em
que elas são certas, não se referem à realidade. Em se tratando de geometria, tem-se,
de um lado, a geometria no sentido lógico-formal, formada por esquemas conceituais
“vazios”, que não remetem a dado algum da intuição; por outro lado, tem-se a
geometria em sentido prático, direcionada a aplicações físicas. O ponto em questão
reside em se requerer ou não certa intuição da experiência para validar as proposições
geométricas. Assim, é uma questão de convenção qual sistema geométrico é melhor
para representar a natureza, independente de existir uma relação estrutural entre um
sistema e outros. Diferentemente de Einstein, Husserl em A Origem da Geometria
defende que deve haver uma estrutura-de-significado que valide o conhecimento
geométrico como um todo em relação à sua “origem” intuitiva-ordinária. Husserl
apresenta o conhecimento geométrico como um produto histórico, como a síntese
de um processo contínuo de validação de estruturas de significado. Disso resulta
que o conhecimento geométrico é constituído de estruturas de significado que são
incrementadas, significado sobre significado, ao longo da atividade científica de
cada época, gerando novos conhecimentos que são “acumulados progressivamente”.
Nesse sentido, ocorre uma espécie de “progresso” no processo de esclarecimento de
noções intuitivas básicas, que se efetiva através de um desenvolvimento históricoepistemológico do domínio de conhecimento em questão. Nesta comunicação
proporemos uma interpretação à tese husserliana sobre o conhecimento geométrico
baseada em Teoria dos Modelos, segundo a qual cada “nível” do conhecimento será
interpretado como uma estrutura matemática, vinculado umas às outras por meio de
uma cadeia de estruturas. A essa noção formal de cadeia de estruturas aproximaremos
o conceito husserliano de “estrutura-de-significado”. Por fim, discutiremos algumas
limitações da proposta husserliana, especialmente em relação ao conceito de
multiplicidade definida, proposto no contexto das Ideias justamente para lidar com a
caracterização estruturas matemático-formais.
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Sartre e o problema moral: entre a ação e a
responsabilidade
Thiago Teixeira
[email protected]
FAJE
CAPES
A partir de investigações destinadas a nossa dissertação nos concentraremos em
esboçar uma introdução de nosso intento fundamental: identificar uma moralidade
no escopo do pensamento de Jean-Paul Sartre firmado em dois elementos muito
explorados em sua produção filosófica, a saber, ação e responsabilidade. Recorremos
para este fim a duas obras de destaque do autor em questão para entender os conceitos
de ação e responsabilidade. Além disso, perguntamos: Como esses pressupostos
findam na configuração de um horizonte moral? O homem, na perspectiva de Sartre,
constitui sua essência em detrimento de sua existência e isso ocorre por meio de
escolhas. Escolher é agir, que, por sua vez, implica numa responsabilidade em relação
a si mesmo e a outrem. Nosso autor esclarece que “não existe um de nossos atos sequer
que, criando o homem que queremos ser, não crie ao mesmo tempo uma imagem do
homem conforme julgamos ela deve ser.” (SARTRE, 2010, p. 44). Ele é aquilo que
projeta vir a ser. Deste modo, a moralidade está na tensão entre a ação do homem
e sua responsabilidade com o outro no tocante à criação de valores que garantam a
dignidade humana tão frisada pelo existencialismo sartriano. Toda moral que se apoia
em apriorismos é negada por Sartre que reforça a noção de “universal concreto”. Essa
universalidade se efetiva através dos dois elementos trazidos aqui para fundamentar
uma moral existencialista. A escolha como ação intencional visa à configuração de
um campo humano e esse só ocorre de fato quando o homem se assume inteiramente
responsável. Condenados à liberdade os homens devem responder entre si por seus
atos, uma vez que a existência humana precede sua essência e não há nada fora do
homem que legitime sua condição, a não ser sua própria configuração. Por fim,
nossa investida é contida visto que a demonstração da ação e responsabilidade como
elementos éticos do pensamento de Sartre configura-se como intenção fundamental
de nossa investigação. Todavia esses dois elementos serão discutidos de modo a
contribuir com nosso intuito central.
102
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
Tempo e Corpo próprio: um estudo da
hecceidade no horizonte da Estrutura do
Comportamento
UILSON JUNIOR FRANCISCO FERNANDES
[email protected]
UFU
FAPEMIG
Este estudo busca expressar algumas considerações acerca da forma muito
peculiar como Maurice Merleau-Ponty efetiva à articulação de suas concepções de
tempo e corpo próprio. Esta articulação conceitual é feita em consonância com o
que filósofo denomina hecceidade, noção esta, que é apresentada no último capítulo
de sua obra A Estrutura do Comportamento, publicada em 1942. A tarefa proposta
adentra, neste sentido, a um prévio reconhecimento da subversão metodológica,
empregada pelo filósofo francês na construção de seu pensamento: a ambiguidade.
Uma das propriedades desta filosofia da ambiguidade é justamente retirar o caráter
meramente conceitual dos problemas filosóficos e os integrar, diretamente, no
tecido de nossa existência como um enigma vivo, atitude engajada que recoloca o
pensamento no mundo. A proposta de remontar a importância da temporalidade
na constituição do sujeito, passa na filosofia merleau-pontyana, por uma nova
perspectiva de compreensão do corpo próprio como estrutura dinâmica e viva,
inserida no espetáculo do mundo, e que busca combater as concepções que definem
a percepção apenas por meio de esquemas causais fundamentados numa perspectiva
física. A própria noção de representação começa a ser desconstruída em prol da
originalidade que a presença dos objetos assumem perante meu corpo. Nestes termos,
nosso objetivo é compreender os desdobramentos da radicalização da presença do
homem frente o mundo, dando maior ênfase ao elemento temporalidade, apontando
assim as consequências desta relação na filosofia de Merleau-Ponty.
103
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
As contribuições do filólogo Max Müller à teoria
bergsoniana da linguagem
Vanessa de Oliveira Temporal
[email protected]
UFSCAR
FAPESP
Em correspondência datada de 1886, tempo de sua permanência em ClermontFerrand, Bergson faz uma lista de dezoito livros a serem devolvidos a Albert Maire.
Dentre estes livros, encontra-se a obra Sources du langage (1867) que reúne os cursos
sobre a origem da linguagem do filólogo Max Müller. Em nota final da carta, Bergson
expressa seu desejo em manter alguns volumes para serem lidos durante suas férias,
sendo o de Müller um deles. A preocupação com a natureza da linguagem é recorrente
na obra bergsoniana, sendo célebre sua tese da impossibilidade da expressão do real
por meio dela. Um dos motivos de sustentação desta tese está no comprometimento
da vida humana com a prática em relação ao conhecimento puro. Tese esta defendida
por Müller ao abordar a origem da linguagem a partir de necessidades essencialmente
práticas, a ponto de argumentar em favor da classificação do estudo lingüístico como
uma ciência natural. Além disto, este levantamento da contribuição da obra de Max
Müller na elaboração da reflexão bergsoniana sobre a linguagem se mostra fecundo
tendo em vista o propósito da obra de Müller em reunir as contribuições alemãs,
francesas e inglesas dentro da teoria da linguagem nos últimos cinqüenta anos
anteriores à sua escrita.
Prático-inerte e alienação na “Crítica da razão
dialética” de Sartre
Vinícius dos Santos
[email protected]
UFSCAR
FAPESP
A Crítica da razão dialética visa esclarecer as condições formais da experiência
histórica – mais precisamente, da experiência capitalista –, de uma perspectiva
capaz de conciliar o materialismo histórico e o existencialismo. Dentro dessa
proposta, o campo social que Sartre denomina de prático-inerte funcionaria como
104
VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
“fundamento lógico” da alienação histórica descrita por Marx. Envolvidos em sua
engrenagem, as práxis individuais, ao agirem sobre a matéria, convertem-se numa
força estranha aos seus agentes. A liberdade torna-se necessidade, e os resultados
da ação humana se voltam contra seus criadores. Conquanto, a princípio, pareça
não haver problemas, uma análise mais detida da forma pela qual Sartre pensa as
relações entre prático-inerte e alienação parece desautorizar-nos a aproximar seu
entendimento deste último conceito daquele desenvolvido por Marx. Isso porque,
Sartre não deixa claro se toda forma de objetivação do homem no mundo é já uma
forma intransponível de alienação – portanto, estaríamos condenados a ela –, ou
se, como em Marx, seria possível pensar uma distinção fundamental entre a ação
como objetivação e realização humana no mundo (Vergegenständlichung) e como
exteriorização alienada (entfremdete Entäusserung) que, enquanto produto histórico,
poderia ser positivamente superada. Pensar essa relação entre o prático-inerte e o
conceito sartriano de alienação, confrontando-o com o de Marx, é a proposta da
comunicação.
Trabalho, Técnica E Emancipação
No Jovem Habermas
Vinicius dos Santos Xavier
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UFSCAR
O objetivo da presente comunicação é caracterizar a dicotomia entre trabalho e
interação na teoria de juventude de Jürgen Habermas. Para tanto, apresentar-se-á, em
um primeiro momento, como o pensador desenvolve sua argumentação em torno dos
conceitos de ação instrumental e ação comunicativa, expostos, principalmente, em
Técnica e Ciência como “Ideologia”. Nesse contexto, Habermas compreende o trabalho
como técnica de apropriação da natureza, não sendo o âmbito no qual se formam a
subjetividade e as relações sociais; e, em outro aspecto, pauta a constituição cultural
e a sociabilidade em uma esfera distinta daquele da ação racional-instrumental. Esta
é denominada como interação, na qual ocorrem as relações intersubjetivas e, além
do mais, domínio por excelência da possibilidade de emancipação. Assim sendo, não
compreende o problema da sociedade moderna relacionado diretamente à produção
material e ao trabalho social. Antes, há uma intervenção da esfera da produção na esfera
comunicativa que impede os indivíduos de se emanciparem, caracterizado por uma
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VIII Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar
tecnocracia. Neste âmbito, observa a necessidade de transformação apenas no tocante
ao político, à democracia, por meio da constituição de uma esfera pública autônoma e
reflexiva. Em seguida, mostrar-se-á como o equacionamento entre trabalho e técnica,
apreendido de forma não-dialética, constitui-se de modo problemático, tanto para os
desdobramentos da teoria habermasiana quanto à emancipação, como também em
relação a crítica ao empreendimento de Marx. A partir de uma interpretação crítica
da categoria trabalho, assumindo o desenvolvimento marxiano da teoria do valor e
do fetiche da produção, propor-se-á uma alternativa crítica à teoria da emancipação
de Habermas. Para isso, far-se-á necessário demonstrar como, segundo Marx, a
distinção entre trabalho e interação, da vida humana constituída em duas esferas
separadas, é carente de sentido, já que, tomando-se a dialética imanente do trabalho,
a interação é um dos momentos das relações de produção, do trabalho social. Por fim,
constatar-se-á que a teoria habermasiana, ao equacionar trabalho e técnica, possui
um fundamento problemático que se reflete e desdobra por toda sua análise acerca
do capitalismo.
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