Anna Luiza Silva Almeida Vicente Perfil Molecular de Melanomas Cutâneos e de Mucosas Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação da Fundação Pio XII Hospital de Câncer de Barretos para obtenção do Título de Mestre em Ciências da Saúde. Área de concentração: Oncologia Orientador: Prof. Dr. Vinicius de Lima Vazquez Barretos, SP 2016 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada por Martins Fideles dos Santos Neto CRB 8/9570 Biblioteca da Fundação Pio XII – Hospital de Câncer de Barretos V632p Vicente, Anna Luiza Silva Almeida. Perfil molecular de melanomas cutâneos e de mucosas / Anna Luiza Silva Almeida Vicente. - Barretos, SP 2016. 69 f. : il. Orientador: Dr. Vinicius de Lima Vazquez Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde) – Fundação Pio XII – Hospital de Câncer de Barretos, 2016. 1. Melanoma. 2. MAPK. 3. Telomerase. 4. Mutação. 5. Sequenciamento. 6. Prognóstico. I. Autor. II. Vazquez, Vinicius de Lima. III. Título CDD 571.6 SUPORTE À PESQUISA POR AGÊNCIA DE FOMENTO Este trabalho recebeu apoio da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) através de Auxílio à Pesquisa – Regular (processo número 2012/4194-1). As opiniões, hipóteses e conclusões ou recomendações expressas neste material são de responsabilidade dos autores e não necessariamente refletem a visão da FAPESP “Esta dissertação foi elaborada e está apresentada de acordo com as normas da Pós Graduação do Hospital de Câncer de Barretos – Fundação Pio XII, baseando-se no Regimento do Programa de Pós-Graduação em Oncologia e no Manual de apresentação de Dissertações e Teses do Hospital de Câncer de Barretos. Os pesquisadores declaram ainda que este trabalho foi realizado em concordância com Código de Boas Práticas Científicas (FAPESP), não havendo nada em seu conteúdo que possa ser considerado como plágio, fabricação ou falsificação de dados. As opiniões, hipóteses e conclusões ou recomendações expressas neste material são de responsabilidade dos autores e não necessariamente refletem a visão da Fundação Pio XII – Hospital de Câncer de Barretos”. “Embora o Núcleo de Apoio ao Pesquisador do Hospital de Câncer de Barretos tenha realizado as análises estatísticas e orientado sua interpretação, a descrição da metodologia estatística, a apresentação dos resultados e suas conclusões são de inteira responsabilidade dos pesquisadores envolvidos”. Dedico este trabalho aos meus pais e irmão, cujo amor e gratidão superam o número de timinas, adeninas, citosinas e guaninas existentes em toda a Terra. AGRADECIMENTOS Registro neste documento o quanto sou grata e aprecio a cada um de vocês. É uma forma simples, porém única, que eu tenho de agradecer o apoio que me deram ao longo desses dois anos. E me senti extremamente sortuda por ter tido tantas pessoas incríveis que caminharam ao meu lado na busca por esse sonho. A gratidão, na minha opinião, é um dos maiores deveres do ser humano, por isso peço a quem quer que esteja lendo essa tese, que não se importe com a extensão destes agradecimentos. Aos pacientes com melanoma que concederam o uso de suas informações genéticas e clínicas para o meu estudo. Foi me permitido com isso conhecer um mundo intrigante, o qual eu acabei me interessando imensamente. Grande parte deste trabalho eu realizei com inúmeros tubinhos contendo DNA tumoral, mas eu procurei nunca esquecer o quanto aquilo significava sofrimento e dor para muitas famílias, para que eu pudesse sempre amadurecer e crescer como profissional, afim de que algum dia eu contribua significativamente para que mude o cenário de sobrevida e qualidade de vida destes pacientes. Ao Dr. Vinicius de Lima Vazquez, meu orientador, por ter visto naquela pessoa insegura e nervosa, um potencial que nem eu mesma via. Obrigada por ter contribuído positivamente para essa experiência. Sou especialmente grata por ter me orientado quando preciso, mas por ter me deixado livre o suficiente para que eu aprendesse a caminhar com as minhas próprias pernas, o que me fez crescer enormemente como pessoa e profissional. Agradeço por tantas vezes ter reconhecido o meu esforço, por responder meus e-mails o mais rápido possível e por nunca ter medido esforços para me ajudar, mesmo nos feriados. Obrigada pelas inúmeras oportunidades profissionais, por sempre ter me respeitado e por ter feito da nossa relação a melhor possível, o que me deu ainda mais prazer e tranquilidade para concluir este trabalho. Registro aqui a minha enorme admiração e gratidão por você. Ao Dr. Rui Manuel Reis pela co-orientação, mesmo que tenha sido extra-oficialmente. Obrigada por todos os ensinamentos, discussões e por ter me acolhido no seu grupo, o que contribuiu profundamente para o meu crescimento científico. Sou especialmente grata por, junto com o Dr. Vinicius, ter acreditado em mim e me concedido a oportunidade de trabalhar no CPOM. Ao Dr. Gilles Landman e a Dra. Márcia Chiquitelli, por terem feito parte da minha banca de acompanhamento, dispensando tempo para ler a minha tese, contribuir com o meu trabalho e me auxiliar a crescer nessa jornada. À minha mãe, Liliana Vicente, por sempre ter segurado a minha mão, ao mesmo tempo em que era o vento em baixo das minhas asas. Esse paradoxo é a força que me torna capaz de conquistar tudo aquilo que eu desejo. Você faz tudo valer a pena e dá sentido para a minha existência. Obrigada por emergir neste meu sonho ao ponto de saber o que é uma PCR! Meu amor e gratidão por você são inexplicáveis. Ao meu pai, Welton Vicente, por sempre apoiar meus sonhos, por acreditar em mim, comemorar cada pequena vitória e por reconhecer meu esforço. Agradeço pelo seu amor, dedicação e por ter me ensinado os valores que eu carrego sempre com muito orgulho no meu coração e que procuro praticar no dia-a-dia. Ao meu irmão, Welliton Vicente, por ser meu companheiro de vida, pela lealdade, cumplicidade, amor e por sempre ter a palavra certa que acalma meu coração e minha alma. Obrigada por me incentivar a ser cada vez melhor como pessoa e profissional, mas também por aceitar meus defeitos e limitações. Sou especialmente grata por desde sempre você andar ao meu lado tornando a minha caminhada muito mais bonita e feliz. Sua inteligência, bondade, caráter e o modo como você enxerga a vida me inspiram. E o meu amor por você transborda. Agradeço especialmente ao meu avô Anagê (in memorian) por ter me concedido a oportunidade de estudar. Avó Mirley, obrigada por todo o amor e incentivo e a minha Avó Elmiria (in memorian) por ter construído em mim lindas memórias de infância. Ao meu avô José (in memorian) por estar sempre comigo, me guiando e me protegendo, desde sempre e para sempre. À Tata e a Tia Miltes, por serem a minha referência de família. Aquela que às vezes briga, discorda e se afasta. Mas, que sempre apoia, conforta, comemora, entende, não julga, ama e cuida. À Ana Lucia, João Carlos, Hugo, Rildo, Aurélia e agora a pequena Helena, por serem a minha referência de família que você ganha da vida. Obrigada pela torcida e companheirismo nesses longos anos de vizinhança. À toda a minha família, que mesmo sem entender o que eu faço, me apoiou e comemorou minhas conquistas. Duas pessoas possuem importância ímpar nessa minha caminhada: Matias Melendez, fica difícil agradecer por todas as vezes que você sentou comigo e me ensinou tantas coisas, que transcenderam a genética ou a biologia molecular. Você se tornou uma inspiração pessoal e profissional e eu jamais poderei agradecer a sua dedicação, carinho e paciência em me ajudar. E sou ainda mais grata pela oportunidade de ter podido trabalhar com você tantas vezes, o que me fez te admirar ainda mais e o que me permitiu crescer cientificamente. Adriana Cruvinel, eu nunca vou conseguir te agradecer pelo cuidado que você sempre teve comigo, por tudo que eu aprendi com você, por todas as vezes que você me ajudou, pela confiança e por você ter acreditado tanto na minha capacidade. Me sinto abençoada por ter tido vocês dois ao meu lado nesses dois anos. Sem dúvidas vocês foram meus alicerces nesta jornada. Ao André Lengert, por várias vezes ter dispensado o seu tempo para me ajudar e me ensinar. Pelas conversas de “meia hora”, que sempre duraram horas e que aconteceram quando eu mais precisava, que sempre me fizeram refletir e que acalmaram meus anseios. Te admiro imensamente e devo grande parte do meu amadurecimento científico a você. O trabalho de algumas pessoas incluía me ajudar de alguma forma. Como era trabalho, sei que era uma obrigação, mas foi feito com tanto carinho, que me fez ser extremamente grata: Letícia, Path e Bia (Patologia), Silvana e Brenda (Pós-graduação), Cintia (Secretária CPOM). Obrigada! À todas as pessoas do diagnóstico molecular por terem colocado as minhas placas no sequenciador um milhão de vezes e por terem me ajudado sempre que eu precisei: Gabi, Flávia, André e Cris. Obrigada pela enorme paciência e disponibilidade. Ao Gustavo Berardinelli, pela contribuição nas análises, por sempre vir falar comigo depois das minhas apresentações, afim de contribuir com o meu crescimento e pela disposição em me dar alíquotas de primers, sequências dos genes e protocolos. De coração, muito obrigada! À Camila Crovador, pela enorme ajuda sempre dispensada com muita competência e carinho. Admiro imensamente a profissional que você é. À Dra. Graziela Macedo, que tantas vezes reviu as minhas lâminas com tanto carinho e com a maior paciência me ensinou muito sobre histologia. Aos pesquisadores do CPOM Dra. Edenir Palmero, Dr. Daniel Vidal e Dr. Henrique Silveira, por todas as conversas de corredor e discussões no Journal, que sem dúvidas foram importantes na minha formação acadêmica. À Fernanda Cury, pelo companheirismo, parceria, pelas palavras que sempre me confortam e pelo apoio. Sou especialmente grata por você sempre tentar me entender, não julgando quem eu sou ou as minhas atitudes. Sua amizade sem dúvidas foi o maior presente que o mestrado me trouxe. À Maraisa Costa, por ter esse jeito doce e inocente, que fez e faz eu acreditar nas pessoas. Pelo seu jeito extrovertido e engraçado, que tantas vezes me fez rir e trouxe leveza para os dias pesados no laboratório. Como eu gosto de dizer, o CPOM sem você seria muito menos divertido. Ao Renato, Viviane, Tati, Marcela e Aline, por terem me acolhido tão bem no laboratório, pelas conversas, ensinamentos, paciência e por serem tão queridos comigo. Ao grupo de cabeça e pescoço do HCB, do qual me sinto um pouco parte: à Lidia, por ter parado para me ajudar quando eu precisei acelerar as análises do TERT e pelos momentos de descontração que tornaram os dias melhores. À Carolzinha, pela disponibilidade em sempre me ajudar. As minhas meninas, Bruna e Elisa, que com tanto companheirismo e amizade, estiveram comigo me apoiando e tornando a rotina muito mais feliz. Obrigada pela parceria! Vocês são muito especiais! À Úrsula, pelo eterno companheirismo! Por ter dividido a bancada comigo e, mais do que isso, ter dividido as angústias, problemas, alegrias, desesperos, risadas e conhecimento. Sou grata por cada ajuda que você me deu, especialmente pelo suporte emocional e por todos aqueles dias em que você sentou ao meu lado enquanto eu aplicava milhões de amostras em gel e conversando comigo, fez o tempo passar mais feliz! À Nathalia Campanella, pela amizade, por toda ajuda e conselhos. Seu foco no trabalho, postura em algumas circunstâncias e determinação são, sem dúvidas, fontes de inspiração. Ao Gerson, Fabiana e Andressa, as pessoas que constituem o Núcleo de Educação em Câncer do Hospital de Câncer de Barretos (NEC), pela parceira e confiança, que me permitiram vivenciar uma das melhores experiências da pós-graduação. Participar do concurso de redação e ser responsável pelo estágio dos alunos dentro do laboratório instigou em mim uma vontade inexplicável de fazer a diferença por meio da educação. E isso mudou o rumo da minha vida, de quem eu sou e do que eu acredito. De coração, muito obrigada! À Dra. Simone Acrani, pelos conselhos durante a graduação, que me fizeram amadurecer e que me permitiram pensar mais longe. E à Dra. Mariangela Torreglosa Ruiz Cintra, por ter me concedido a primeira oportunidade de trabalhar em um laboratório de genética, por ter sido tão rígida e exigente, que me tornou uma pessoa capaz de conseguir a oportunidade que me fez chegar até a conclusão deste trabalho. Aos meus amigos de longa data, que já passaram comigo tantas etapas, obrigada pelos momentos de alegria que me renovaram e obrigada por terem comemorado cada conquista minha, como se de vocês fosse: Gean, Kubo, Kell, Bruno e Talita. A amizade de vocês é um tesouro que eu tenho na vida. Por fim, agradeço ao Felipe Barco, por ter feito parte da minha vida e por ter me proporcionado conhecer o amor, sentimento que achei que passaria pela vida sem sentir. Você entrou em minha vida, abriu os meus olhos e despertou o que de melhor havia em mim. Você encheu de vida meu coração. Agradeço por, tantas vezes, ter sido o motivo pelo qual eu não desisti de acreditar e de fazer inúmeras coisas em minha vida. Nessa caminhada, sempre fiz meu trabalho com cuidado e responsabilidade, porque nunca esqueci destas suas palavras no primeiro dia que entrei no Hospital. E elas foram decisivas para eu ter crescido e amadurecido tanto até aqui. “Se hoje eu consigo enxergar mais longe, é porque me apoiei no ombro de gigantes” Isaac Newton SUMÁRIO 1. Introdução....................................................................................................................................... 1 1.1. Transformação Maligna dos Melanócitos ............................................................................... 3 1.2. Epidemiologia do Melanoma ................................................................................................... 5 1.3. Fatores de Risco para Melanoma ............................................................................................ 8 1.4. Prevenção do Melanoma ....................................................................................................... 10 1.5. Subtipos Histopatológicos do Melanoma .............................................................................. 11 1.6. Diagnóstico, Estadiamento, Prognóstico e Tratamento do Melanoma ................................ 15 1.7. Alterações Moleculares e Terapia Alvo em Melanoma ......................................................... 22 1.7.1. BRAF .............................................................................................................................. 23 1.7.2. NRAS .............................................................................................................................. 25 1.7.3. KIT .................................................................................................................................. 26 1.7.4. PDGFRA ......................................................................................................................... 27 1.7.5. TERT ............................................................................................................................... 28 1.8. Justificativa ............................................................................................................................ 29 1.9. Objetivo Geral ........................................................................................................................ 29 1.10. Objetivos Específicos .............................................................................................................. 30 1.11. Casuística e Métodos ............................................................................................................. 30 1.11.1. Delineamento e População de Estudo .......................................................................... 30 1.11.2. Critérios de Inclusão e Exclusão .................................................................................... 30 2. Métodos ........................................................................................................................................ 30 2.1. Extração de DNA .................................................................................................................... 30 2.2. Análise Mutacional dos Genes Alvos ..................................................................................... 31 2.3. Associação dos Dados Moleculares com os Fatores Demográficos, Clínicos e Histopatológicos dos Pacientes ......................................................................................................... 33 2.4. Análise Estatística .................................................................................................................. 34 2.5. Questões Éticas ...................................................................................................................... 34 3. Resultados..................................................................................................................................... 34 4. Discussão....................................................................................................................................... 49 4.1. Caracterização demográfica, clínica e histopatológica dos pacientes e amostras ............... 49 4.2. Características moleculares e suas associações com as demais variáveis estudadas e a sobrevida ........................................................................................................................................... 51 5. Conclusão ...................................................................................................................................... 56 7. Anexos........................................................................................................................................... 67 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - ESTRUTURA DO TECIDO EPITELIAL ..................................................................................................................... 1 FIGURA 2 - MODELO DE PROGRESSÃO DO MELANOMA......................................................................................................... 4 FIGURA 3 - ESTIMATIVAS MUNDIAIS DE INCIDÊNCIA E PREVALÊNCIA DE MELANOMA ................................................................... 5 FIGURA 4 - 20 PAÍSES COM MAIOR ESTIMATIVAS DE INCIDÊNCIA E PREVALÊNCIA DE MELANOMA .................................................. 6 FIGURA 5 - ESTIMATIVA DE INCIDÊNCIA E MORTALIDADE DE MELANOMA NOS PAÍSES EUROPEUS................................................... 7 FIGURA 6 - MELANOMA EXTENSIVO SUPERFICIAL. ............................................................................................................ 14 FIGURA 7 - MELANOMA LENTIGO MALIGNO. ................................................................................................................... 14 FIGURA 8 - MELANOMA NODULAR. ............................................................................................................................... 14 FIGURA 9 - MELANOMA LENTIGINOSO ACRAL. ................................................................................................................. 14 FIGURA 10 - RELAÇÃO ENTRE NÍVEIS DE CLARK E DE BRESLOW ............................................................................................ 17 FIGURA 11 - VIA DE SINALIZAÇÃO MAP QUINASE ............................................................................................................. 23 FIGURA 12 - EXEMPLOS DAS MUTAÇÕES ENCONTRADAS EM NOSSA CASUÍSTICA. ..................................................................... 37 FIGURA 13 - PADRÃO DE MUTAÇÃO NOS PACIENTES DURANTE A EVOLUÇÃO TUMORAL............................................................. 41 FIGURA 14 -DISTRIBUIÇÃO DAS MUTAÇÕES NOS PACIENTES COM MELANOMA INCLUÍDOS NO ESTUDO. ........................................ 42 FIGURA 15 - SOBREVIDA LIVRE DE DOENÇA DE 459 PACIENTES COM MELANOMA. ................................................................... 45 LISTA DE TABELAS TABELA 1 - ESTADIAMENTO DO TUMOR PRIMÁRIO, SEGUNDO A AJCC – 2009. ......................................... 18 TABELA 2 - ESTADIAMENTO DA METÁSTASE À DISTÂNCIA, SEGUNDO A AJCC – 2009. ................................. 19 TABELA 3 - ESTADIAMENTO DA METÁSTASE LINFONODAL, SEGUNDO A AJCC – 2009. ................................ 19 TABELA 4 - ESTADIAMENTO DO MELANOMA SEGUNDO AJCC- 2009. ..................................................... 20 TABELA 5 - VIAS DE SINALIZAÇÃO ALTERADAS EM MELANOMA E SUAS RESPECTIVAS ALTERAÇÕES. ................... 22 TABELA 6 - INFORMAÇÕES DA PCR PARA OS GENES ALVOS. .................................................................... 33 TABELA 7 - CARACTERÍSTICAS PORTADORES DE MELANOMA TABELA 8 - PERFIL DEMOGRÁFICAS, CLÍNICAS E HISTOPATOLÓGICAS PATOLÓGICAS DOS 459 DO HOSPITAL DE CÂNCER DE BARRETOS. ............................................. 36 HCB DE ACORDO COM O DESENVOLVIMENTO DA DOENÇA. ............................................................................................... 37 MOLECULAR DOS PORTADORES DE MELANOMA DO TABELA 9 - TIPOS DE MUTAÇÕES ENCONTRADAS NOS 459 PACIENTES DO HCB DE ACORDO COM OS GENES ALVOS. ................................................................................................................................. 38 TABELA 10 - DISTRIBUIÇÃO DOS SÍTIOS ANALISADOS NOS PACIENTES INCLUÍDOS NO ESTUDO. ........................ 41 TABELA 11 - ASSOCIAÇÃO 459 PACIENTES DO HCB INCLUÍDOS NO ESTUDO E AS MUTAÇÕES NOS GENES ALVOS. ................................................................................ 43 ENTRE OS DADOS DEMOGRÁFICOS DOS TABELA 12 - ASSOCIAÇÃO ENTRE OS DADOS CLÍNICOS DOS 459 PACIENTES DO HCB INCLUÍDOS NO ESTUDO E AS MUTAÇÕES NOS GENES ALVOS. .................................................................................................. 44 TABELA 13 - SOBREVIDA 459 PACIENTES DO HCB DE ACORDO COM O STATUS MUTACIONAL DOS GENES ALVOS. ............................................................................................... 46 ESPECÍFICA POR CÂNCER DOS TABELA 14 - SOBREVIDA ESPECÍFICA POR CÂNCER DOS TABELA 15 - SOBREVIDA ESPECÍFICA POR CÂNCER DOS 459 PACIENTES DO HCB DE ACORDO COM O STATUS MUTACIONAL DOS GENES ALVOS E CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS. ............................................... 46 459 PACIENTES DO HCB DE ACORDO COM O STATUS MUTACIONAL DOS GENES ALVOS E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS. ......................................................... 47 TABELA 16 - ANÁLISE MULTIVARIADA DE SOBREVIDA ESPECÍFICA POR MELANOMA DOS 459 PACIENTES DO HCB. ........................................................................................................................................... 48 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 - FREQUÊNCIAS DAS ALTERAÇÕES ENCONTRADAS NO ÉXON 15 DO GENE BRAF. .......................... 38 GRÁFICO 2 - FREQUÊNCIAS DAS ALTERAÇÕES ENCONTRADAS NO GENE NRAS. ........................................... 19 GRÁFICO 3 - FREQUÊNCIAS DAS ALTERAÇÕES ENCONTRADAS NA REGIÃO PROMOTORA DO GENE TERT.. ......... 38 GRÁFICO 4 - FREQUÊNCIAS DAS ALTERAÇÕES ENCONTRADAS NO GENE KIT. .............................................. 38 GRÁFICO 5 - FREQUÊNCIAS DAS ALTERAÇÕES ENCONTRADAS NO GENE PDGFRA........................................22 LISTA DE ABREVIATURAS BRAF – v-raf murina sarcoma viral oncogene homolog B TERT – Telomerase reverse transcriptase NRAS – Neuroblastoma RAS viral oncogene homolog CDKN2A – Cyclin-dependent Kinase inhibitor 2A PTEN – Phosphatase and tensin homolog MTAP – Methylthiodenosine phosphorylase PLA2G6 – Phospholipase A2 goup VI IRF4 – Interferon regulator factor 4 MC1R – Melanocortin 1 receptor cMAP – amp cíclico ANVISA – Agência nacional de vigilância sanitária DHL – Desidrogenase lática AJCC – American Joint Committee on Cancer DNA – Ácido desoxirribonucleico RNA – Ácido ribonucleico TCGA – The cancer genome atlas network PDGFRA - Platelet derived growth factor receptor alpha WT – Wild type HCB – Hospital de Câncer de Barretos PCR – Reação em cadeia da polimerase LISTA DE SÍMBOLOS ≤ menor ou igual ≥ maior ou igual % porcentagem < menor > maior x vezes µL microlitros µg microgramas ˚C graus Celsius nM nanomolar mM milimolar µM micromolar U unidades cm centímetros RPM rotações por minuto G gravidade mL mililitro M molar ng nanograma bp base pair V volts p valor de p mm milímetros mm2 milímetros quadrados RESUMO Vicente, ALSA. Perfil Molecular de Melanomas Cutâneos e de Mucosas. Dissertação (mestrado). Barretos: Hospital de Câncer de Barretos; 2016. O melanoma é a forma mais agressiva de câncer de pele e surge a partir de células normais de pigmento, os melanócitos, localizadas na membrana basal de superfícies epiteliais. Pesquisas indicam que há um crescimento da incidência de melanoma nos últimos anos. O aumento do conhecimento da heterogeneidade da doença e do surgimento de terapias-alvo com sucesso em ensaios clínicos e aprovados como tratamento para melanoma em todo mundo, tornou necessário caracterizar o perfil molecular do melanoma na população brasileira, para nortear pesquisas futuras e melhorar o tratamento dos pacientes. Diante disso, 459 pacientes com melanoma diagnosticados no Hospital de Câncer de Barretos foram incluídos no estudo e sequenciados pelo método de Sanger para os hotspots dos genes alvos BRAF, NRAS, TERT, KIT e PDGFRA. Além disso, os achados moleculares foram associados com dados demográficos, clínicos e histopatológicos. Em nossa casuística, houve a predominância do subtipo nodular (38,9%) e disseminativo superficial (34,4%), sendo os membros a localização tumoral mais frequente (50,0%). Os fatores ulceração, nível de Clark, índice mitótico, Breslow e estádio TNM em nossa casuística foram associados ao prognóstico. As frequências de mutações para BRAF, NRAS, TERT, KIT e PDGFRA foram, respectivamente, 34,1%, 7,9%, 34,3%, 6,2% e 2,9%, sendo que os tipos de alterações ou localizações mais frequentes para cada gene foram V600E, Q61, C250T, éxon 11 e éxon 12, respectivamente. Mutações em BRAF foram associadas a pacientes mais novos (p= 0,014), assim como para mutações em TERT (p= 0,006) e mutações em PDGFRA a pacientes com cor da pele negra (p= 0,023). Além disso, mutações em BRAF e TERT estão associadas a diferentes localizações anatômicas, principalmente a região do tronco (p= 0,0001, para ambos) e ao subtipo tumoral disseminativo superficial e nodular, respectivamente (p= 0,0001, para ambos). Ainda, mutações em TERT estão associadas a ausência de ulceração (p= 0,037) e valor de DHL menor ou igual 400 U/L. O status mutacional dos genes alvos não foi associado a sobrevida dos pacientes. De forma geral, os pacientes possuem perfil molecular similar ao que se observa em outras populações e acreditamos que pacientes brasileiros podem se beneficiar das terapias-alvo já existentes e emergentes direcionadas a estas alterações mais frequentes. Palavras-chave: Melanoma, MAPK, Telomerase, Mutação, Sequenciamento e Prognóstico. ABSTRACT Vicente, ALSA. Molecular Profiling of Cutaneous and Mucosal Melanomas. Dissertation (Master´s Degree). Barretos: Barretos Cancer Hospital; 2016. Melanoma is the most aggressive form of skin cancer and it is originate from the melanocytes located in the basement membrane of epithelial surfaces and recent studies demonstrated its increasing incidence in the last years around the globe. The knowledge of heterogeneity and multiple specific molecular profile of the disease and development of successful target therapies, raise the question of the characterization of the molecular profile of melanoma in the Brazilian population. Thus, 459 patients diagnosed with melanoma in the Barretos Cancer Hospital were tested for specific molecular alterations by Sanger direct sequencing method of the hotspot region of BRAF, NRAS, TERT, KIT e PDGFRA. Beyond that, the molecular findings were correlated with demographic, clinical and histopathological data. We found predominance of the nodular subtype (38.9%) and superficial spreading melanoma (34.4%), and the limbs were the most frequent tumor location (50.0%) The factors such as ulceration, Clark level, mitotic index, Breslow and TNM stage were related to the prognosis. . The frequencies of mutations for BRAF, NRAS, TERT, KIT e PDGFRA were respectively, 34.1%, 7.9%, 34.3%, 6.2% and 2.9%. The most frequent types of changes or locations for each gene were V600E, Q61, C250T, éxon 11 e éxon 12, respectively. BRAF mutations were associated with younger patients (p = 0.014) as well as mutations in TERT (p = 0.006) and PDGFRA mutations in patients with black skin (p= 0.023). Furthermore, mutations in BRAF and TERT were associated with different anatomical locations, particularly the trunk (p= 0.0001, for both) and superficial spreading and nodular subtype respectively (p= 0.0001, for both). TERT promoter mutations were associated with absence of ulceration (p= 0.037) and less than or equal LDH levels of 400 U/L. The mutational status of target genes was not associated with survival. In general, patients have similar molecular profiling to that observed in other populations. Brazilian patients can benefit from targeted therapies already used and emerging ones directed to these more frequent alterations. Key words: Melanoma, MAPK, Telomerase, Mutation, Sequencing and Prognostic. 1 1. Introdução A pele é o maior órgão do corpo humano, sendo composta por diversos tecidos, tipos celulares e estruturas especializadas, tornando-se assim um órgão extremamente complexo (Figura 1). Ela é constituída por uma porção epitelial mais externa de origem ectodérmica, a epiderme, e uma porção conjuntiva intermediária de origem mesodérmica, a derme. Há ainda uma estrutura inferior, a hipoderme, que embora não possa ser considerada parte da pele é sob ela que as duas camadas já citadas repousam1. 1 Figura 1 - Estrutura do tecido epitelial . A hipoderme é formada por tecido conjuntivo que varia do tipo frouxo ao denso e em determinadas regiões do corpo contém células adiposas formando o panículo adiposo, importante como reserva de energia, isolante térmico e para absorção de choques 1. A derme também é formada por tecido conjuntivo e é constituída por fibras de colágeno, elastina e gel coloidal, sendo responsável pelas propriedades de elasticidade e resistência que a pele apresenta. Ela possui inúmeros corpúsculos sensoriais e táteis e 2 terminações nervosas, portanto é ricamente vascularizada, sendo inclusive, responsável pela nutrição sanguínea da epiderme. A derme é subdividida em uma camada papilar, de tecido conjuntivo frouxo que forma as papilas dérmicas e onde são encontradas fibrilas especiais de colágeno que contribuem para prender a derme à epiderme, e uma camada reticular, constituída por tecido conjuntivo denso1. A epiderme é composta de quatro tipos celulares: os queratinócitos, células de Langerhans, células de Merkel e os melanócitos. Os queratinócitos são derivados da ectoderme, possuem função principal de síntese de queratina e são as células epidérmicas mais populosas2. As células de Langerhans localizam-se em toda a epiderme entre os queratinócitos, porém são mais frequentes na camada espinhosa1. Estas células se originam de células precursoras da medula óssea que são transportadas pelo sangue circulante e atuam como células apresentadoras de antígeno em respostas imunológicas2. As células de Merkel possuem origem incerta e se localizam na parte profunda da epiderme, apoiadas na membrana basal. Atuam como mecanoreceptores devido às terminações nervosas aferentes se aproximarem destas células1. Os melanócitos são células dendríticas localizadas no estrato basal da epiderme, cujos prolongamentos penetram na camada espinhosa, mas não formam desmossomos com os queratinócitos. Estas células se diferenciam a partir do melanoblasto, uma célula precursora migratória da crista neural, controlado pelo ligante do fator de células-fonte interagindo com o c-Kit, uma tirosinaquinase1. Estas células invadem a pele entre a 12ª e 14ª semana da vida intrauterina e apresentam renovação mais lenta do que os queratinócitos e se caracterizam por produzirem melanina1. A melanina é derivada do aminoácido tirosina, o qual é transportado para dentro de vesículas especializadas contendo tirosinase, conhecidas como melanossomas, derivadas da rede trans-Golgi. No interior dessas melanossomas, a tirosinase converte tirosina em 3,4-dihidroxifenilalanina (dopa), a qual é transformada em dopaquinona e, finalmente, em melanina2. Os melanossomas seguem para aos prolongamentos dos melanócitos, os quais são englobados e endocitados pelos queratinócitos dos estratos basal e espinhoso. Os melanossomas liberados migram para as proximidades do núcleo do queratinócito de modo a formar um capuz protetor contra os raios ultravioleta da radiação solar. Logo em seguida, os lisossomas atacam e destroem os melanossomas2. 3 São três as principais neoplasias malignas da pele: o carcinoma de células basais, o carcinoma de células escamosas e o melanoma maligno. A primeira consiste na mais comum neoplasia maligna, ocorrendo em virtude da radiação ultravioleta e se desenvolve no estrato basal, sendo as áreas cronicamente expostas da pele como a face, as mais acometidas. A cirurgia é normalmente efetiva em 90% dos casos, sem recaída2. O carcinoma de células escamosas ou carcinoma epidermóide está relacionado a fatores ambientais, tais como radiação ultravioleta e os raios X, além de carcinógenos químicos. Esta neoplasia origina-se nas células do estrato espinhoso e aparece clinicamente como uma placa escamosa hiperqueratótica, com invasão profunda dos tecidos subjacentes, frequentemente acompanhada por sangramento. A cirurgia neste caso, geralmente é o tratamento de escolha2. O melanoma, foco central deste estudo, é a forma mais agressiva dentre as neoplasias de pele e surge a partir de células normais de pigmento, os melanócitos 3, que se tornam mitoticamente ativos e invadem a derme, podendo penetrar nos sistemas circulatório e linfático para formar metástases em outros órgãos2. Mais de 90% dos melanomas surgem na pele, em especial nos sítios expostos ao sol, como membros, tronco e face. Em torno de 3 a 5% dos melanomas se originam de melanócitos do trato uveal e raramente em superfícies epiteliais não cutâneas, incluindo membranas mucosas dos seios, orofaringe, esôfago, reto e vagina. Em pessoas com pele negra esta forma de câncer surge em geral em locais não expostos ao sol, como membranas mucosas, região palmo-plantar e subungueal, com baixa frequência destas apresentações clínicas na população de pele branca3. 1.1. Transformação Maligna dos Melanócitos Melanomas se desenvolvem a partir de um dos melanócitos num processo marcado por sucessivas alterações genéticas. Ainda não existe um consenso sobre o padrão de desenvolvimento da doença4, no entanto, um artigo recente publicado por Shain e colaboradores (2015)5, mostrou com os dados de sequenciamento de 37 melanomas primários, em um total de 150 áreas, com histologias distintas de lesões precursoras, que a evolução da doença a partir dessas lesões realmente se estabelece com o acúmulo de mutações somáticas, enquanto que variações no número de cópias do DNA é um processo 4 importante para a metastização. Além disso, propuseram um modelo de progressão da doença (Figura 2), onde a radiação ultra-violeta possui papel importante desde o surgimento da lesão benigna, até se tornar invasivo e que a maioria dessas lesões possui mutações condutoras (driver mutations) importantes, que levam ao desenvolvimento da doença. Eles postulam três possíveis caminhos de surgimento do melanoma. O primeiro é quando a lesão benigna já possui a mutação V600E do gene BRAF (v-Raf murine sarcoma viral oncogene homolog B) e a mutação na região promotora do TERT (telomerase reverse transcriptase) é a responsável pela transição da lesão intermediária para o melanoma in situ. A segunda e terceira teoria é a existência de uma lesão intermediária entre a lesão benigna e o melanoma in situ, que surge por mutações no NRAS (neuroblastoma RAS viral oncogene homolog) mais TERT ou por BRAF V600K mais TERT, respectivamente. O fato é que a transição do melanoma in situ para invasivo, independente das três teorias, seria em virtude de alterações no gene CDKN2A (cyclin-dependent kinase inhibitor 2A), importante supressor tumoral, que leva a perda da função do gene e alterações nos genes SWI/SNF, responsáveis por mecanismos epigenéticos de enovelamento da cromatina nas histonas. E a metastização do tumor provavelmente se estabelece por perda de função de PTEN (phosphatase and tensin homolog) e P53. 5 Figura 2 - Modelo de progressão do melanoma . 5 1.2. Epidemiologia do Melanoma Estudos indicam que há uma incidência crescente de melanoma em todo mundo 6. A Sociedade Americana de Câncer estima cerca de 76.380 novos diagnósticos de melanomas na população norte-americana em 2016, em torno de 46.870 em homens e 29.510 em mulheres. Além disso, estima que 10.130 pessoas morram pela doença neste mesmo ano7. Segundo as estimativas do Globocan 2012 em todo o mundo aproximadamente 232.000 novos casos de melanoma seriam diagnosticados. Ainda segundo esta estimativa a incidência e prevalência mundial de melanoma não diferem entre os gêneros, é maior nos países desenvolvidos (Figura 3), sendo que os vinte com maior estimativa de incidência e prevalência são: EUA, Alemanha, Reino Unido, Austrália, Itália, França, Rússia, China, Canadá, Holanda, Espanha, Brasil, Suécia, Suíça, Nova Zelândia, Ucrânia, Polônia, República Tcheca, Bélgica e Dinamarca (Figura 4)8. 8 Figura 3 - Estimativas mundiais de incidência e prevalência de melanoma . 6 8 Figura 4 - 20 países com maior estimativas de incidência e prevalência de melanoma . 7 Segundo a EUCAN (Figura 5), em 2012, os cinco países com maior estimativa de incidência de melanoma na Europa incluem Suíça, seguida de Noruega, Holanda, Dinamarca e Suécia. Enquanto que o país com maior estimativa de mortalidade é Noruega, seguida de Eslovênia, Suécia, Holanda e Islândia9. 9 Figura 5 - Estimativa de incidência e mortalidade de melanoma nos países europeus . 8 Na Austrália o melanoma é o terceiro câncer mais incidente e as estimativas em 2016 é de 15.270 novas casos10. Em 2011 ocorreram 1.544 mortes por este tipo tumoral neste país, sendo que a sobrevida é maior em homens. A incidência de melanoma entre 1982 e 2007 na Austrália foi de 47 a cada 100.000 pessoas e a taxa de mortalidade neste período foi de 5.7 a cada 100.000 pessoas11. No Brasil, em 2006 a Sociedade Brasileira de Dermatologia publicou dados decorrentes de uma Campanha Nacional de Prevenção do Câncer de Pele, que ocorreu entre 1999 e 2005. Embora não sejam dados frutos de uma pesquisa, a análise destes pode dar uma ideia do panorama geral. Nos sete anos que durou a campanha 205.869 exames dermatológicos foram feitos e 1.057 melanomas foram diagnosticados12. Em 2011 foi publicado um estudo epidemiológico de melanoma, que avaliou a incidência deste câncer em 30 anos na cidade de Blumenau. Entre os anos de 1980 e 2009 foram encontrados 10.981 casos de câncer de pele, dos quais 1.002 melanomas. A incidência passou de 4.4 para 22 por 100.000 habitantes entre os anos de 1980 e 2009 13. Enquanto que Moreno e colaboradores mostraram em 2012 que entre 2002 e 2009 a incidência de melanoma aumentou em Santa Catarina de 7.4 para 9.3 por 100.000 habitantes14. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, embora a incidência de melanoma na população brasileira seja baixa, sua letalidade é alta. As estimativas deste câncer em 2016, segundo este mesmo órgão nacional, são 3.000 casos novos em homens e 2.670 em mulheres. A cidade de Porto Alegre possui a maior estimativa de incidência de melanoma do país, sendo 9.41 a cada 100.000 homens e 7.45 a cada 100.00 mulheres. Essa baixa incidência quando comparada ao panorama mundial, muito provavelmente, é em virtude da subnotificação15. A sobrevida por melanoma no Brasil é baixa comparada a população mundial, muito devido ao diagnóstico tardio que pode ser relacionado à dificuldade de acesso da população ao sistema de saúde16. 1.3. Fatores de Risco para Melanoma Os fatores de risco associados ao desenvolvimento do melanoma incluem: exposição intermitente ao sol, dificuldade no bronzeamento, xeroderma pigmentoso, história familiar de melanoma, nevos melanocíticos congênitos, múltiplos nevos displásicos, dentre outros17. 9 A exposição intermitente ao sol é o maior fator de risco para melanoma. Alguns estudos demonstram que p53, p21, p16 e a proteína retinoblastoma são importantes na estabilidade genômica quando os melanócitos são expostos a radiação ultra-violeta e, consequentemente, na prevenção da transformação maligna destas células18. Há fortes evidências de que um padrão de exposição intermitente ao sol (curta e intensa, em virtude de banhos de sol e recreações ao ar livre) aumenta o risco de melanoma, enquanto que a exposição crônica (contínua, principalmente ocupacional) demonstra menor associação com o risco de melanoma. Isto pode ser em virtude da exposição crônica ao sol promover o espessamento epitelial e em conjunto com um efeito de bronzeamento poder oferecer uma modesta proteção contra a exposição à radiação solar mais tarde19. Além disso, há evidências que sugerem que o risco de melanoma continua a aumentar com o acúmulo da exposição intermitente ao sol. Meta-análises relatam o aumento do risco de melanoma com o aumento do número de queimaduras solares durante todos os períodos da vida (infância, adolescência e idade adulta), sem diferenças significativas entre queimaduras solares na infância e na idade adulta20. O xeroderma pigmentoso é uma doença autossômica recessiva que ocorre em virtude de mutações em genes de reparo do DNA21. Levando-se em consideração isto, tornase fácil entender que tendência ao fácil bronzeamento e xeroderma pigmentoso constituem fatores de risco ao desenvolvimento do melanoma porque tornam os indivíduos mais susceptíveis à radiação ultra-violeta. Em relação ao melanoma familiar, de 25 a 40% estão associados a mutações em CDKN2A, sendo este classicamente um supressor tumoral, acarretando assim uma perda de função. Este gene codifica a proteína p16 e p14, ambas envolvidas na regulação do ciclo celular, supressão tumoral e senescência dos melanócitos17. A proteína p16 inibe a atividade de CDK4 e CDK5 e influencia a proteína retinoblastoma a regular a progressão de G1 para a fase S. A proteína p14 afeta a via do p53, impedindo o ciclo celular e induzindo a apoptose 22. O nevo melanocítico congênito é uma alteração benigna que se origina entre a 5ª e 24ª semana de gestação e acredita-se que ocorra em virtude de um erro morfológico na neuroectoderma durante a embriogênese, levando ao crescimento descontrolado de melanoblastos, as células precursoras dos melanócitos. Há evidências claras na literatura de que indivíduos portadores de nevos congênitos possuem de 5 a 10% a chance de desenvolver melanoma23. 10 O número de nevos displásicos é um dos maiores fatores de risco para melanoma19. Há uma ampla discussão sobre os critérios histopatológicos para os nevos displásicos na literatura patológica e dermatopatológica, entretanto, de forma geral, pode-se definir como uma desordem estrutural e uma atipia citológica24. Uma meta-análise conduzida em 2005 por Gandini e colaboradores com 10.499 casos e 14.256 controles, em um total de 47 bancos de dados, demonstrou que os indivíduos com mais de 100 nevos displásicos estão em um risco quase sete vezes maior de desenvolver melanoma do que os indivíduos com poucos (≤15) nevos25. Ainda, há evidências de que polimorfismos nos genes IRF4 (interferon regulatory factor 4), MTAP (methylthioadenosine phosphorylase) e PLA2G6 (phospholipase A2 group VI) em nevos displásicos estão associados ao risco à doença26. Além desses fatores de risco, algumas variantes do gene MC1R (melanocortin 1 receptor), por sua característica polimórfica, podem estar relacionadas à maior susceptibilidade ao melanoma19. Também foi demonstrado que este gene está superexpresso em melanomas quando comparados a qualquer tecido saudável. Inclusive há muitos estudos que já discutem o seu papel no diagnóstico e condução de tratamento para este tipo tumoral. Este gene codifica um receptor acoplado à proteína G, cuja ativação resulta na elevação dos níveis intracelulares de AMP cíclico (cAMP), numa cascata de transdução de sinal que termina com a produção de melanina26. 1.4. Prevenção do Melanoma As intervenções se baseiam principalmente na informação e educação, por meio de políticas públicas e órgãos não governamentais, em ambientes que vão desde locais de recreação ao ar livre, creches, escolas e em locais de trabalho. A prevenção do melanoma tem se baseado, principalmente, em precaver queimaduras solares, reduzir o tempo de exposição ao sol e o uso de fotoprotetor19. Em alguns países o uso de bronzeamento artificial é uma prática comum, entretanto, muitos estudos já demonstraram que esses equipamentos podem ser um causador do melanoma, portanto, intervenções no sentido de conscientizar sobre essa prática, também vêm sendo empregadas27. 11 Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia não há nenhuma medida fotoprotetora que, de forma independente, garante fotoproteção adequada. Sendo assim, a combinação do maior número possível de medidas é a estratégia mais correta. As recomendações do consenso brasileiro sobre fotoproteção incluem evitar a exposição solar entre 10:00 e 15:00, sendo que no nordeste a exposição deve ser evitada a partir das 9:00 e no centro-oeste até as 16:00, devido a posição geográfica. Este consenso ainda indica para pessoas calvas o uso de chapéus e fotoprotetor no couro cabeludo, a atenção para fotoproteção das orelhas, o uso de óculos de sol com proteção solar, bem como o uso de produtos com fotoproteção nos lábios28 e recomenda que os protetores solares indicados por dermatologistas estejam de acordo com a legislação da ANVISA (Agência nacional de vigilância sanitária) e que a população seja orientada a aplicá-los de forma correta 28. O Consenso brasileiro afirma que o bronzeamento artificial deveria ser proibido no país, embora a radiação artificial possa ser empregada para o tratamento de algumas doenças, desde que haja a indicação e orientação de um dermatologista. E que fotoproteção mecânica, como bonés, chapéus e guarda-chuvas, devem ser estimulados28. 1.5. Subtipos Histopatológicos do Melanoma A classificação do melanoma que é amplamente utilizada tanto por clínicos e pesquisadores, bem como pela Organização Mundial de Saúde foi estabelecida por Clark em 1969 e se baseia nos padrões microscópicos de crescimento e está associada às características clínicas, tais como localização anatômica do tumor primário e idade do paciente. Esta classificação distingue quatro subtipos principais de melanoma29: Melanoma Extensivo Superficial (MES): é um subtipo de melanoma que tende a ocorrer na pele e é caracterizado por uma fase de crescimento radial composto de neoplasia com grandes melanócitos que se estendem entre os queratinócitos 30. Além disso, é o subtipo mais frequente, compreendendo 2/3 de todos os melanomas e exposição solar aguda na infância, bem como exposição intermitente na vida adulta, constituem fatores importantes na sua etiologia31. 12 O MES (Figura 6) pode ocorrer em todo corpo, sendo mais frequentemente observado nas pernas em mulheres e no tronco em homens. Um dos primeiros sinais clínicos é a variação de cor, decorrente à presença de melanócitos nas diferentes camadas da epiderme, e de melanófagos na derme. Outros reconhecimentos clínicos desta lesão incluem assimetria, irregularidade das bordas e diâmetro maior do que 6.0mm30. O MES tem uma incidência elevada de mutações no oncogene BRAF e alterações cromossômicas incluem, principalmente, perda do 9, 10, 6q, 8p e ganhos de cromossomos 1, 6p, 7, 8q e 20. A perda do cromossomo 9 geralmente inclui o locus 9p21 onde se encontra o gene CDKN2A, já discutido como sendo importante supressor tumoral31. Melanoma Lentigo Maligno (MLM): é uma forma de melanoma que ocorre na pele de idosos em regiões cronicamente expostas ao sol, principalmente na face (Figura 7). Caracteriza-se histologicamente por proliferação melanocítica linear e aninhado, ao longo da junção derme-epiderme, cuja lesão está associada à atrofia epidérmica e elastose solar. Nos países de população predominantemente branca, estima-se que esse subtipo compreende de 4 a 15% dos melanomas30. O MLM surge como uma extensa mácula irregular, de limites imprecisos, com uma pigmentação heterogênea em tons variáveis de cinza, marrom ou preto. Normalmente, as lesões apresentam uma proliferação de melanócitos atípicos, confluentes ao longo da junção dermo-epiderme, com fusão das cristas epiteliais, atrofia epidérmica e extensa elastose, como já dito31. Quanto às alterações moleculares deste subtipo, parece que mutações no oncogene BRAF são menos frequentes e as perdas cromossômicas mais comuns envolvem o cromossomo 13 e menos frequentemente o 1030. Melanoma Nodular (MN): é o segundo subtipo mais frequente entre os melanomas e cuja etiologia se assemelha a descrita para o MES. O componente dérmico é caracterizado por um nódulo coeso ou pequenos ninhos de células tumorais que têm um padrão expansivo de crescimento (Figura 8). As células tumorais são frequentemente mais epitelióide, mas outros tipos de células, incluindo células fusiformes, podem predominar ou haver uma mistura entre elas. Além disso, os nucléolos são proeminentes e índices mitóticos são altos31. 13 É mais comum para MN começar “de novo” do que ser proveniente de um nevo préexistente. Em relação às alterações genéticas, ainda não há uma alteração que o defina como um tipo único30. Melanoma Lentiginoso Acral (MLA): é um subtipo de melanoma cutâneo com características histopatológicas bem distintas e acomete as palmas das mãos, plantas dos pés e regiões subungueais (Figura 9). A incidência desse subtipo de melanoma varia enormemente de acordo com a raça e etnia, sendo que na população branca compreende aproximadamente 2% dos melanomas, mas chegando a 80% na população negra e 77% na população asiática30. A incidência de MLA permaneceu estática, embora a incidência mundial de melanoma esteja aumentando ao longo dos últimos anos. Esse subtipo ocorre em pacientes idosos, com pico na sétima década de vida e em população onde MLA é mais comum, este tumor é mais frequente em homens do que em mulheres31. Clinicamente o MLA na fase radial é caracterizado por acantose, alongamento das cristas epiteliais e proliferação de melanócitos atípicos com grandes prolongamentos dendríticos ao longo da epiderme basal. O componente intraepidérmico apresenta melanócitos com grandes núcleos e nucléolos, e citoplasma preenchido com grânulos de melanima. Embora acometam sítios que, muitas vezes, não recebem alta incidência de radiação ultra-violeta, esta constitui um fator de risco para MLA somando-se a isto, um número alto de nevos30. As alterações genéticas em MLA se diferem em relação aos outros subtipos de melanoma. Alteração em BRAF é menos comum em comparação ao MES, MN e MLM, enquanto que mutações em KIT, NRAS e PDGFRA parecem ser importantes na etiologia deste subtipo31. 14 Figura 6 - Melanoma Extensivo Superficial. Figura 8 - Melanoma Nodular. Figura 7 Maligno. - Melanoma Lentigo Figura 9 - Melanoma Lentiginoso Acral. 15 Além dessas quatro formas clássicas de melanoma, há ainda formas mais raras, como o melanoma de mucosas, ocular, desmoplásicos, associados a nevos congênitos, infantil, nevóide, persistente e associado a nevo azul30. O melanoma de mucosas se caracteriza por acometer a região de cabeça e pescoço, genitália feminina, região anorretal e urinária. Clinicamente se apresenta frequentemente multifocal e com pigmentação escura irregular. São mais frequentes no sexo feminino e geralmente incidem na sétima década de vida. Por ser um subtipo raro, poucos estudos investigaram até o momento suas alterações genéticas. Entretanto, sabe-se que mutações em KIT ocorrem em 40% desse subtipo32 e parece haver um papel importante do gene NRAS em sua etiologia dependendo do sítio acometido33. 1.6. Diagnóstico, Estadiamento, Prognóstico e Tratamento do Melanoma O diagnóstico do melanoma é eminentemente clínico e o uso da dermatoscopia (equipamento óptico para visão ampliada) ajuda a observação mais detalhada da lesão. Além disso, o exame histopatológico é fundamental para confirmação diagnóstica, do subtipo de melanoma e para programar o tratamento adequado31. Vários métodos têm sido utilizados na interpretação dos achados dermatoscópicos, sejam por meio de métodos semiquantitativos como a regra do ABDCE e dos setes pontos, ou qualitativos, como método de Menzies e análise dos padrões31. A regra do ABCDE avalia a lesão com base em cinco parâmetros34: 1- Assimetria: são traçados dois eixos perpendiculares entre si, para análise da simetria em cada metade, quanto à forma, estrutura e cor. Esse critério possui peso 1.3, então se a lesão for assimétrica em um eixo, multiplica-se um eixo de assimetria por 1.3 e se obtém 1.3. Entretanto, se a lesão for assimétrica em dois eixos, então multiplica-se dois eixos de assimetria por 1.3 e se obtém 2.6. 16 2- Borda: são traçados quatro eixos sobre a lesão, perpendiculares dois a dois, dividindo-se em 8. Então, para cada octante com interrupção brusca de borda é multiplicado o peso de 0.1. 3- Cores: para cada cor que a lesão apresentar, multiplica-se por 0.5. 4- Diferentes Estruturas: multiplica-se por 0.5 a presença de cada uma dessas estruturas: rede pigmentada, estrias, glóbulos, pontos e área sem estrutura. 5- Evolução: ampliação ou evolução da lesão. Assim, considera-se a lesão como benigna quando o escore varia entre 1.0 e 4.75, suspeita entre 4.75 e 5.45, e altamente suspeita quando o escore é maior do que 5.45 34. A regra dos sete pontos descrita por Argenziano avalia e pontua sete critérios, divididos em maiores e menores. Os critérios maiores valem dois pontos cada e incluem véu brancoazulado e padrão vascular atípico, enquanto que os critérios menores valem um ponto cada e incluem estrias irregulares, pigmentação irregular, glóbulos/pontos irregulares e estruturas de regressão. Assim, escore maior do que 3 é diagnóstico para melanoma31. No método descrito por Menzies, pelo menos um dos seguintes critérios deve estar presente para o diagnóstico do melanoma, entretanto, apenas um critério não é suficiente, devendo se considerar o contexto da lesão: pigmentação assimétrica, ausência de uma única cor, véu branco-azulado, múltiplos pontos marrons, pseudópodes, estrias radiais, rede pigmentada negativa, despigmentação irregular, despigmentação crucial, pontos e glóbulos pretos periféricos, múltiplas cores, múltiplos pontos azul-acinzentado e rede alargada35. A análise de padrões descrita por Pehamberger se dividem em: padrões globais, padrões específicos, critérios adicionais e padrões relacionados à localização. Os padrões multicomponentes e inespecíficos são indicativos de melanoma, enquanto que padrões regular, globular e homogêneo azul-acinzentada, são sugestivos de lesão benigna. Além disto, atividade melanocítica irregular, resultando em assimetria na cor e na distribuição das estruturas, bem como presença de véu-branco-azulado, estrias radiais e pseudópodes. Esse método praticamente se sobrepõe ao de Menzies31. Apesar da importância inicial dos achados dermatoscópicos, os principais fatores prognósticos estão relacionados aos dados histopatológicos, sendo o nível de Clark e espessura de Breslow os mais clássicos em melanoma (Figura 10). O primeiro determina a 17 invasão do tumor nas camadas da pele e está relacionado, portanto, a extensão da espessura do tumor, sendo que quanto menor o nível histopatológico da lesão, melhor o prognóstico31. Assim, o nível I de Clark corresponde à epiderme; enquanto que o nível II corresponde à invasão parcial da derme papilar; o nível III corresponde à invasão definitiva da derme papilar, estendendo-se à interface derme papilar; o nível IV corresponde à invasão definitiva da derme reticular; e o nível V corresponde à invasão do tecido subcutâneo 35. Enquanto que a espessura de Breslow é complementar aos níveis de Clark e determina diferentes prognósticos em relação à espessura vertical máxima do melanoma medido em milímetros através de uma régua acoplada ao microscópio na análise histopatológica36. 33 Figura 6 - Relação entre níveis de Clark e de Breslow . Além disso, a ulceração está associada a maior agressividade tumoral, com maior probabilidade de metástase e menor sobrevida. Assim como o índice mitótico é um importante fator prognóstico para melanomas “finos” (espessura inferior a 1mm)36. A DHL (dehidrogenase lática) está envolvida na síntese de energia celular e a sua super-expressão correlaciona-se com o metabolismo anaeróbio tumoral e reduz a dependência celular de oxigênio37. Há um tempo pesquisas demonstram que o nível de DHL encontra-se aumentado no soro de pacientes com melanoma e que está associado com uma menor sobrevida naqueles com doença avançada38. Esses achados levaram à incorporação de DHL nos critérios prognósticos estabelecidos pela AJCC (American Joint Committee on Cancer)38. O estadiamento do melanoma é crucial para a orientação clínica do paciente, sendo um sistema de classificação que leva em conta fatores prognósticos já discutidos. Neste 18 momento o estadiamento dos tumores malignos é regido por normais internacionais do AJCC, que publica regulamente o livro TNM – Classification of Malignant Tumors. A última revisão ocorreu em 2009 e é a que está atualmente em vigor36. O sistema TNM visa à análise da extensão anatômica da doença e possui como base a avaliação de três componentes: T - a extensão do tumor primário; N - a ausência ou presença e a extensão de metástase em linfonodos regionais; e M - a ausência ou presença de metástase à distância. A adição de números a estes três componentes indica a extensão da doença maligna36. Existe a classificação TNM clínica (cTNM) que se baseia nas evidências obtidas antes do tratamento, em virtude do exame físico, diagnóstico por imagem, endoscopia, biópsia, exploração cirúrgica e outros exames relevantes. Também existe a classificação TNM patológica (pTNM), cujas bases são as evidências conseguidas antes do tratamento, complementadas ou modificada pela evidência adicional conseguida através da cirurgia e do exame histopatológico39. Dessa forma, os estadiamentos clínicos ou patológicos categorizam os portadores de melanoma localizado sem evidência de metástase (estadios I e II), em portadores de metástase regionais (estádio III) ou portadores de metástase distantes (estádio IV)31. As Tabelas de 1 a 4 representam de forma geral os estadios clínicos do melanoma segundo a versão de 2009 da AJCC36. Vale ressaltar que nesta versão o índice mitótico distingui as categorias T1a e T1b, sendo a primeira com índice mitótico ≥1 mm2 e a segunda < 1mm2. Além disso, desde 2010 o nível de Clark é facultativo19. Tabela 1 - Estadiamento do tumor primário, segundo a AJCC – 2009. Classificação T Espessura do Tumor TX Tumor não avaliável Tis Melanoma in situ T1 Menor ou igual a 1mm T2 1.01-2.00mm T3 2.01-4.00mm T4 >4.0mm Fatores de prognóstico adicionais Estádio não determinável Melanoma in situ, sem invasão da derme a: sem ulceração e menos de uma mitose/ mm2 b: com ulceração e/ou com uma ou mais mitose/ mm2 a: sem ulceração b: com ulceração a: sem ulceração b: com ulceração a: sem ulceração b: com ulceração 19 Tabela 3 - Estadiamento da metástase linfonodal, segundo a AJCC – 2009. Classificação N N° de Linfonodos Metastáticos (LM) Nx Não avaliáveis N0 Sem metástase linfonodal N1 1 LM Extensão da Metástase Linfonodal a: Micrometástase b: Macrometástase a: Micrometástase b: Macrometástase c: Metástase em trânsito/satelitose sem metástase linfonodais N2 2-3 LM N3 ≥ 4 LM; conglomerado linfonodal; combinação de metástase em trânsito/satélites com metástases linfonodais Tabela 2 - Estadiamento da metástase à distância, segundo a AJCC – 2009. Classificação M Local da Metastização Nível sério de LDH MX avaliação de metástase à distância não executada M0 sem metástase à distância M1a pele, tecido celular subcutâneo ou ganglionares não locoregionais Normal M1b Pulmão Normal M1c Outros órgãos viscerais Normal/Elevada 20 Tabela 4 - Estadiamento do melanoma segundo AJCC- 2009. Estádio Tumor Primário (pT) Linfonodos loco-regionais (N) Metástase à distância (M) 0 Tumor in situ N0 M0 IA ≤1.0mm, não ulcerado, IM <1/mm2 NO M0 ≤1.0mm, com ulceração ou IM ≥1/mm NO M0 1.01-2.0mm sem ulceração NO M0 1.01-2.0mm com ulceração NO M0 2.01-4.00mm sem ulceração NO M0 2.01-4.00mm com ulceração NO M0 > 4.00mm, sem ulceração NO M0 IIC > 4.00mm, com ulceração NO M0 IIIA Qualquer espessura sem ulceração N1a, N2a M0 Qualquer espessura com ulceração N1a, N2a M0 Qualquer espessura sem ulceração Até 3 macrometástases (N1b, N2b) M0 Qualquer espessura sem ulceração Metástase em trânsito/satelitose sem metástases linfonodais M0 Qualquer espessura com ulceração Até 3 macrometástases (N1b, N2b) M0 2 IB IIA IIB IIIB IIIC IV N3 (≥4 linfonodos; conglomerado linfonodal; combinação de metástase em Qualquer espessura com ou sem ulceração trânsito/satélites com metástases linfonodais) Qualquer T IM = Índice Mitótico. Qualquer N M1 21 O objetivo do tratamento inclui o controle local da doença evitando quando possível a disseminação à distância. O principal tratamento do melanoma ainda é a cirurgia 31. Nas fases iniciais (estadios I e II) o tratamento é cirúrgico e o prognóstico é favorável, enquanto que para estadios avançados, a literatura demonstra benefícios na sobrevida global em pacientes submetidos a ressecção completa, embora muitos pacientes não são elegíveis a cirurgia, quer pelo estado geral e/ou por co-morbidades associadas3. A pesquisa de linfonodo sentinela é a maneira atual de diagnóstico de doença linfonodal metastática. Nesta técnica identifica-se com o auxílio de injeção perilesional de contrastes radioativos e outros pigmentos com tropismo para a via linfática, os primeiros linfonodos que drenam a região acometida. Com isto pode-se fazer diagnóstico de metástases linfonodais subclínicas (micrometástases) e o tratamento com cirurgia complementar de resseção completa da cadeia linfonodal. Metástases linfonodais diagnosticadas clinicamente também são tratadas com cirurgia e o prognóstico é relacionado com a carga tumoral linfonodal. A presença de maior acometimento linfonodal é indicador de menores taxas de sobrevivência16, 40-42. O melanoma é um tumor considerado radio resistente e a radioterapia é utilizada em situações específicas, principalmente para tratamento paliativo e eventualmente adjuvante, sendo que esta deve ser indicada para pacientes considerados de alto risco para recaída locorregional ou naqueles em que a localização da lesão limita o tratamento cirúrgico adequado43. Nas últimas três décadas, a dacarbazina foi o gold-standard do tratamento do melanoma metastático, apesar de nunca ter sido demonstrado um aumento consistente da sobrevida global. Este quimioterápico é um análogo das purinas, que inibe a síntese de DNA (ácido desoxirribonucleico) e RNA (ácido ribonucleico). Desde 2011 este tratamento deixou de ser considerado a primeira opção para terapia sistêmica do melanoma, devido ao advento de terapia alvo e imunoterapias mais eficientes, que serão discutidas mais a frente6. Junto com o avanço de inibidores de alterações específicas relacionadas à carcinogênese do melanoma, houve mais recentemente grande avanço na imunoterapia para este tipo tumoral. Ipilimumabe é um anticorpo monoclonal de imunoglobulina humana (IgG1) que bloqueia totalmente CTLA-4 (linfócito citotóxico associado a antigeno-4) e promove imunidade antitumoral44. Foi o primeiro agente a demonstrar uma melhoria na sobrevida global em um estudo randomizado de fase III em pacientes com melanoma 22 avançado45. O PD-1 (proteína de morte celular programada 1) está envolvido na regulação imune, mediada pela ligação de PD-1 e os seus ligantes PD-L1/PD-L2. O desenvolvimento de anticorpos PD-1 já mostrou benefício clínico em pacientes com melanoma, bem como uma ampla variedade de tipos de tumores46. Assim, os tratamentos direcionados e novos avanços na imunoterapia vêm se mostrando eficientes em melhorar a sobrevida e são agora uma parte do atendimento clínico de rotina dos pacientes com melanoma em vários países e devem em futuro próximo ser incorporados ao arsenal terapêutico brasileiro 45. 1.7. Alterações Moleculares e Terapia Alvo em Melanoma Um número grande de vias celulares encontra-se alterada em melanoma (Tabela 5)47. A via MAP quinase (Figura 11) é uma das mais importantes no desenvolvimento do melanoma, sendo que esta é ativada por um receptor de tirosina quinase, que fosforila e ativa a família RAF, consequentemente NRAS, MEK, ERK, que migra para o núcleo onde ativa vários fatores de transcrição, incluindo ELK-1, ETS e c-MYC47. Tabela 5 - Vias de sinalização alteradas em melanoma e suas respectivas alterações. Vias de Sinalização Genes Alterados Receptores de tirosina quinases Integrinas/sinalização ECM RAS/RAF/MEK/ERK RAS/PI3K/PTEN/AKT/Mtor NF1 (PI3K + MAPK) KIT EGFR MET ERBD4 FGFR NEDD9/HEF Tipo de Alteração Mutação/amplificação Ativação Ativação Mutação Amplificação Amplificação NRAS BRAF MEK1 PIK3CA PTEN AKT1, AKT2 AKT3 Mutação Mutação Mutação Mutação Mutação Mutação rara Amplificação NF1 Mutação RAC MAP3K5 e MAP3K9 PREX GRIN2A Receptores de Glutamato GRM3 Proteínas G exceto RAS, envolvidas na GNAQ MAPK GNA11 Mutação Mutação Mutação Mutação Mutação Mutação Apoptose BCL2A1 Amplificação WTN/β-catenina CTNNB1 Mutação CDK4 Mutação/amplificação CCND1 Amplificação P14ARF (CDKN2A) Mutação/deleção MDM4 Amplificação RB1 P116INK4A (CDKN2A) Mutação/deleção MITF processo transcricional MITF Mutação/amplificação MYC processo transcricional MYC Amplificação/superexpressão ETV1 processo transcricional ETV1 Amplificação Região promotora da subunidade catalítica Mutação RHO/RAC/ outros MAPKs Mutação CDK P53 TERT 47 Fonte: SHTIVELMAN et al . 23 29 Figura 7 - Via de sinalização MAP quinase . 1.7.1. BRAF O BRAF codifica uma proteína quinase serina/treonina membro da família RAF, no cromossomo 7q34, que ativa a MAP quinase47. No melanoma, BRAF é o gene mais comumente mutado, com uma frequência de 50 a 70%. Análises de subtipos anatômicos demonstraram que as mutações em BRAF são relativamente comuns em melanomas cutâneos (42,5%), mas incomum em melanomas de mucosas (5,6%) e raras em melanoma uveal (menos de 1%). Entre os melanomas cutâneos, mutações em BRAF são comuns em melanomas extensivos superficiais (53%), mas é menos frequente em lentiginoso acral (18%) e ocorre em apenas 9% do subtipo lentigo maligno48. As mutações em BRAF ocorrem particularmente com maior frequência em melanomas cutâneos com exposição intermitente ao sol, como aqueles situados nos membros, do que aqueles com exposição crônica, como no rosto 25. Mais de 90% dessas mutações resultam em uma substituição da valina por ácido glutâmico na posição 600 (Val600Glu ou V600E). BRAF V600E conduz à ativação da ERK, resultando em proliferação e vantagem de sobrevivência de células de melanoma6. Um artigo recente fruto dos dados do TCGA (The Cancer Genome Atlas Network) mostrou que 52% dos 331 pacientes analisados possuíam mutações em BRAF, das quais 24 74,7% eram V600E, 10,8% V600K, 1,8% V600R e 12,7% eram mutações em outras localizações do gene49. Além disso, este artigo e outros demonstraram que mutações nesse gene são mutuamente exclusivas com mutações em NRAS e são mais frequentes em pacientes mais jovens5, 45, 49. A descoberta dessa alta frequência da mutação V600E em melanoma fez desta proteína oncogênica um alvo ideal para a terapia. O objetivo da pesquisa molecular-alvo tem sido identificar alterações moleculares relevantes em pacientes individuais e usar este conhecimento para orientar as decisões de tratamento50. PLX4032 (Vemurafenibe) é um inibidor que induz a parada do ciclo celular, a proliferação e inicia a apoptose em células exclusivamente portadoras da mutação V600E50. Os primeiros ensaios clínicos com esta terapia-alvo demonstraram até 80% de taxa de resposta clínica em portadores de melanoma metastático com esta mutação em BRAF51. Em contraste, o uso de Vemurafenibe associou-se ao crescimento das lesões nos pacientes portadores do gene selvagem e em particular naqueles com mutação em NRAS52. Enquanto esta alta taxa de resposta global foi sem precedentes para um único agente em melanoma, vários pacientes desenvolveram resistência após a resposta inicial, sendo observada recidiva e/ou progressão do tumor. A duração média da resposta à PLX4032 é de aproximadamente sete meses48. Em 17 de agosto de 2011 a instituição governamental norte-americana “Food and Drug Administration” (FDA) aprovou o ZelborafTM (Vemurafenibe) para o tratamento de melanomas inoperáveis ou metastáticos com a mutação BRAF V600E. A FDA também aprovou o Teste de Mutação Cobas 4800 BRAF V600E®, um teste de diagnóstico desenvolvido pela empresa Roche para identificar os pacientes elegíveis para o tratamento. ZelborafTM foi o primeiro medicamento personalizado para melanoma aprovado pelo FDA, demonstrando os benefícios da abordagem de medicina personalizada53. Posteriormente a isto, outro inibidor de BRAF chamado Dabrafenib mostrou resultados promissores42. Foi demonstrado que pacientes com melanoma com mutação BRAF V600E eram mais sensíveis ao tratamento, com uma taxa de resposta confirmada de 57% em comparação com 37% em pacientes com mutações V600K. Pacientes com mutação V600E ou V600K tiveram sobrevida livre de doença semelhante, com médias de 5,5 e 5,6 meses, respectivamente54. 25 No geral, foi comprovado que pacientes tratados com Dabrafenibe apresentaram taxas de resposta e sobrevida livre de doença em taxas significativamente mais elevadas, juntamente com um perfil de toxicidade bem tolerada em pacientes com melanoma metastático com mutação BRAF V600E50, 55. O desenvolvimento de Trametinibe, um inibidor MEK, também parte da mesma via de sinalização mudou o interesse de identificação de inibidor desta via em melanomas metastáticos com mutações em BRAF. Trametinibe possui o desempenho melhor do que qualquer outro inibidor MEK avaliados até agora, permitindo, além disso, uma otimização da inibição da sinalização MAPK55. Isto foi observado no estudo clínico fase II conduzido por Keith e colaboradores (2012)56, no qual os pacientes que receberam a terapia de combinação com 150mg de Dabrafenibe e 2mg de Trametinibe mostraram taxa de sobrevida livre de doença estatisticamente diferente daqueles que foram tratados apenas com Dabrafenibe, sendo 9,4 e 5,8 meses, respectivamente (taxa de risco de progressão ou morte 0.39, IC 95%, 0.25-0.62, p < 0.001). A terapia de combinação também induziu maior extensão de regressão do tumor, com uma resposta de 76%, em comparação com 54% da monoterapia (p < 0.03). Diante destas evidências, a FDA aprovou em maio de 2013 a monoterapia de Dabrafenibe e Trametinibe e, em janeiro de 2014, a terapia de combinação destas duas drogas em pacientes com melanoma metastático com mutação V600E e V600K 57. 1.7.2. NRAS Mutações ativadoras no NRAS podem estimular tanto a via MAP quinase quanto as vias PI3K/AKT, entretanto estas mutações são mutuamente exclusivas com mutações em BRAF, como mencionado anteriormente49, 58. Em torno de 90% das mutações que ocorrem em NRAS nos melanomas estão nas posições 12/13 e 61, possuindo esta última maior frequência6. Os dados do TCGA demonstraram que 28% dos 331 pacientes possuíam mutações em NRAS, sendo que 86 das 88 mutações encontradas, se localizavam em uma região hotspot. Destas, 91,9% no códon 61 e 8,1% do códon 12/13 de NRAS49. Estudos demonstram que frequências de mutações neste gene em melanoma sejam diferentes entre os subtipos, sendo que cerca de 26% de melanomas cutâneos apresentam 26 mutações no NRAS, enquanto melanomas de mucosas apresentam frequência em torno de 14% e melanoma uveal menos de 1%51. Dentre os melanomas cutâneos, a frequência de mutações em NRAS parece ser em torno de 22% em melanomas extensivos superficiais, 28% em nodulares, 4% em lentiginoso acral e 0% em lentigo maligno54. Devido à ausência de inibidores específicos da família RAS, atualmente não existem ensaios clínicos registados para a avaliação de inibidores de NRAS. A próxima quinase na via, MEK, tem provado ser um alvo mais favorável59. Um estudo conduzido por Jaykumar e colaboradores (2014) testou a eficácia de inibidores MEK em sete linhagens primárias de melanoma com mutação em NRAS e concluíram que elas eram particularmente sensíveis ao inibidor MEK16260. Devido a essa e outras evidências, um ensaio clínico de fase II foi conduzido utilizando o inibidor de MEK1/2 (MEK 162) e demonstrou que pacientes metastáticos com NRAS mutado possuíam uma taxa de resposta de 25% e que possuíam uma sobrevida livre de progressão semelhante àqueles pacientes com melanoma metastático BRAF mutado61. 1.7.3. KIT O gene KIT codifica um receptor tirosina-quinase e é composto por cinco domínios imunoglobulina extracelular, uma região transmembrana, um domínio justamembrana e um domínio citoplasmático. Esta quinase ativa as vias de sinalização MAPK, PI3K e AKT6. A amplificação de KIT foi identificada em 8% de melanomas de mucosa e em 7% de lentiginoso acral. Número de cópias aumentadas deste gene foi encontrado em 6% de melanomas cutâneos com evidências de danos causados pela exposição crônica ao sol. Além disso, cerca de 21% de melanomas de mucosa possuem mutações neste gene, enquanto que em melanoma lentiginoso acral essa frequência é de 11% e 0% em melanomas cutâneos sem danos causados pela exposição crônica ao sol48. Os dados do TCGA mostram a importância de mutações, amplificações e rearranjos complexos do gene KIT naqueles melanomas que são WT para BRAF e RAS49. Em um artigo do nosso grupo, com parte desta casuística, mostramos que 20,7% de 48 pacientes com melanoma acral, possuem mutação em KIT, corroborando que este gene é importante na oncogênese deste subtipo62. 27 Um dos inibidores de KIT testado foi o Sunitinibe, que também possui efeito sob os receptores do VEGF59. Um estudo conduzido por Minor e colaboradores (2012) verificou a ação deste inibidor em quatro pacientes com mutação em KIT no éxon 11 (W557G, V559G ou L576P) demonstrando respostas diferentes ao tratamento. Um deles apresentou uma remissão completa por quinze meses, um por sete meses, outro por um mês e um apresentou a progressão da doença63. Imatinibe é uma pequena molécula ATP-competitiva inibitória da tirosina-quinase BCR-ABL, KIT, PDGFRA e PDGFRB6. Em 2011, Guo e colaboradores64 administraram 400 mg de Imatinibe ao dia para 43 pacientes com melanoma metastático com mutações ou amplificações em KIT. As respostas parciais foram observadas em 10 pacientes (23,3%); doença estável em 13 pacientes (30,2%) e progressão da doença em 20 pacientes (46,5%). A média de sobrevida livre de doença para os 43 pacientes foi de 3.5 meses e uma taxa global de sobrevida em um ano de 51%. A taxa global de controle da doença foi de 53,5%. Este estudo concluiu que Imatinibe aumentou a taxa global de sobrevida livre de doença, a taxa de resposta e a sobrevida global em pacientes que apresentam mutações em KIT nos éxons 11 e 13. Dasatinibe é uma droga alvo responsável pela inibição da família de quinases src e foi aprovado pela FDA em 2010 para o tratamento de leucemia mielóide crônica 59. Um estudo de fase II selecionou 17 pacientes com melanoma avançado para o tratamento com Dasatinibe. A taxa de resposta objetiva foi de 5%, com evidências de regressão do tumor após quatro ciclos de terapia. A média de sobrevida livre de doença foi de oito semanas. Este estudo revelou que o Dasatinibe teve atividade limitada em pacientes com melanoma avançado ou inoperável65. No artigo resultado dos dados do TCGA os autores recomendam o uso de Imatinibe e Dasatinibe para aqueles pacientes com melanoma cutâneo e com mutação ou amplificação em KIT49. 1.7.4. PDGFRA O fator de crescimento derivado de plaquetas receptor α (PDGFRA), localizado em 4q12, codifica um receptor transmembrana tirosina-quinase, o PDGFRA. Embora o estado mutacional de PDGFRA em melanoma não seja intensamente investigado, esse gene é um candidato potencial para a terapia-alvo baseada em inibidores de tirosina-quinases66. 28 Um estudo do final de 2013 analisou 351 amostras de tecido de melanoma quanto à presença de mutações no éxon 12, 14 e 18 do gene PDGFRA. Além disso, verificaram a resposta de linhagens celulares com mutação em PDGFRA a Imatinibe e Crenolanibe. Dai e colaboradores verificaram que a frequência de mutações deste gene em melanomas é de 4,6% e que são mais comuns nos subtipos lentiginoso acral e de mucosas e concluíram que pacientes com melanoma com mutações em PDGFRA podem eventualmente se beneficiar do tratamento com estas duas drogas66. Os dados do TCGA mostram que as amplificações em PDGFRA ocorrem em concomitância com amplificações em KIT naqueles pacientes WT (wild type) para BRAF e RAS. Um estudo recente mostrou que de 137 pacientes com melanoma cutâneo e 14 com melanoma de mucosas, apenas 0,7% possuíam mutação em PDGFRA67 e dados do nosso grupo mostram que 14,8% de 43 pacientes com melanoma acral, possuem mutação neste gene62. 1.7.5. TERT O gene TERT codifica a subunidade catalítica da telomerase. Mutações somáticas na região codificante deste gene são infrequentes em tumores humanos. Mas, mutações somáticas e germinativas na sua região promotora foram recentemente encontradas com uma alta frequência em melanomas (71%) e em 16% das linhagens celulares primárias de câncer68. Simultaneamente a esta publicação, Horn e colaboradores (2013)69 identificaram que 85% dos melanomas metastáticos, 33% de melanomas primários e 74% de linhagens celulares derivadas de melanoma metastático, possuem mutações na região promotora do TERT. Posteriormente, Vinagre e colaboradores (2013)70 avaliaram o perfil mutacional desta região do TERT em alguns tipos de câncer, encontrando a frequência de 43% em cânceres do sistema nervoso central, 59% de bexiga, 10% de tireóide e 29% de melanomas cutâneos. Nos três estudos as mutações mais frequentes eram C228T e C250T, sendo estas mutuamente exclusivas. Após essas publicações, alguns trabalhos surgiram com o intuito principal de caracterizar a frequência dessas mutações em diversos subtipos de melanoma e em diversas 29 populações. Foi evidenciado que mutações neste gene são infrequentes em melanomas sinonasal (8%)71, possui uma frequência que varia entre 671 e 9,3%62 em melanomas acrais e que mutações germinativas na região promotora deste gene são raras em melanoma familial72. No TCGA 64,4% dos 115 pacientes possuíam mutações neste gene, sendo que 23,5% eram C228T e 40,9% eram C250T49. Uma série de estudos demonstrou que estas mutações são fatores prognósticos independentes em melanomas cutâneos68, 69, 73, 74. Em conjunto, eles podem indicar que a presença de mutações na região promotora de TERT seja um potencial preditor biológico de maior mortalidade e também pode representar um preditor de metástases em pacientes com melanoma cutâneo73. 1.8. Justificativa Praticamente não existe informação do perfil molecular dos portadores de melanoma no Brasil e a população brasileira possui uma característica marcante: a heterogeneidade étnica regional. O Hospital do Câncer de Barretos (HCB) é um dos maiores hospitais de câncer no Brasil e abriga uma grande coleção de melanomas de pacientes provenientes de todos os estados brasileiros, na qual nenhuma análise genética foi realizada. A definição das características moleculares dos pacientes com melanoma no Brasil poderá nortear pesquisas futuras no país, a fim de melhorar o tratamento dos pacientes. Além disso, a definição molecular e evolução clínica dos pacientes brasileiros com melanoma vão permitir comparações objetivas com os resultados obtidos em outros países. 1.9. Objetivo Geral Caracterizar o perfil clínico e mutacional de genes alvos de pacientes brasileiros portadores de melanoma 30 1.10. Objetivos Específicos 1. Avaliar a frequência de mutações nos genes BRAF, NRAS, KIT, PDGFRA e TERT; 2. Associar as mutações com parâmetros demográficos, clínicos e histopatológicos; 3. Associar as mutações com a sobrevida dos pacientes. 1.11. Casuística e Métodos 1.11.1. Delineamento e População de Estudo O presente estudo trata-se de uma coorte retrospectiva, cuja casuística é quatrocentos e cinquenta e nove pacientes com melanomas diagnosticados na instituição entre 2001 e 2012. 1.11.2. Critérios de Inclusão e Exclusão Material biológico armazenado no departamento de patologia do HCB, bem como ter sido diagnosticado entre os anos de 2001 e 2012 constituem critérios de inclusão, enquanto que os de exclusão são material biológico insuficiente ou tratamento antes de 2001 ou depois de 2012. 2. Métodos 2.1. Extração de DNA Ao menos uma lâmina corada com hematoxilina e eosina foi revisada por um patologista em cada amostra para assegurar a presença de ao menos 70% de células tumorais viáveis para a realização das análises. Para a extração de DNA, foi utilizado 3 cortes de 10 micra para a macrodissecção da região tumoral. 31 A extração de DNA foi realizada utilizando o kit de extração de DNA (QIAamp DNA MicroKit - Qiagen), seguindo as instruções do fabricante. De forma geral, o protocolo inclui desparafinização a 80 °C por vinte minutos, seguido por dois banhos de Xilol, cada um por cinco minutos, reidratação do tecido tumoral com banhos de etanol em concentrações crescentes (100, 70 e 50%), cada um por um minuto, e banho em água Milli-Q pelo mesmo período de tempo. Em seguida, foi realizada a macrodissecção da área tumoral com agulha hipodérmica e o tecido tumoral foi incubado overnight à 56 °C e 700 rpm, com 80 µL de ATL, 1 µL de RNA Carrier e 15 µL de proteinase K. Após, adicionou-se mais 15 µL de proteinase K e incubação por pelo menos uma hora na mesma temperatura e agitação. Então, houve incubação de 20 minutos, à 98 °C e 600 rpm. Em seguida, adicionou-se 110 µL de tampão AL, 110 µL de etanol 100% e incubação por 5 minutos. Então, transferiu-se o volume para a coluna e após 2 lavagens com tampões AW1 e AW2, à 14.000 rpm, por 1 minuto, a eluição do DNA foi feita em 30 µL de água Milli-Q. O DNA foi quantificado no equipamento NanoDrop2000 (Thermo Scientific). Já foi relatado que a melanina é um inibidor da PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), por reduzir a capacidade da polimerase em sintetizar DNA ou por diminuir o tempo de interação entre a enzima e o DNA molde75. Então, para ultrapassar esta dificuldade testamos sete protocolos para chegarmos naquele cuja qualidade de DNA fosse melhor e cuja técnica fosse mais viável (Anexo 1). Desta forma, o protocolo final e que nos deu o melhor resultado para a purificação da melanina foi utilizar o OneStep PCR Inhibitor Removal Kit (Zymo Research), que inclui remover a tampa, quebrar a base da coluna e adicionar 400 µL de água Milli-Q caso a mesma esteja seca. Em seguida, acoplá-la a um tubo coletor e centrifugar à 8.000g por 3 minutos. Por fim, colocar a coluna em um tubo 1,5 mL devidamente identificado, transferir o DNA para a coluna e centrifugar na mesma rotação e tempo. 2.2. Análise Mutacional dos Genes Alvos Para a análise de mutações nos éxons hotspots dos genes BRAF (éxon 15), NRAS (códon 12, 13 e 61), KIT (éxon 9, 11, 13, 17), PDGFRA (éxon 12, 14, 18) e região promotora do TERT foi utilizado o sequenciamento de Sanger. O primeiro passo consistiu em amplificar as 32 regiões de interesse utilizando a técnica de PCR, cujas sequências de primers, tamanhos dos fragmentos e temperatura de annealing estão descritas na Tabela 6. A reação de PCR foi realizada com um volume final de 15 µL, sob as seguintes condições: 1,5 µL tampão (Qiagen); 2 mM MgCl2 (Qiagen); 200 µM dNTPs (Invitrogen); 0,3 mM de primer, sense e anti-sense (Sigma Aldrich), 0,5 unidade de Platinum Taq DNA polimerase (Qiagen) e 50 ng de DNA. A ciclagem da reação consistiu em 15 minutos à 96 °C, 45 segundos à 96 °C, annealing de 45 segundos e temperatura variável de acordo com o primer, extensão por 45 segundos à 72 °C e extensão final por 10 minutos na mesma temperatura, sendo que a reação foi repetida por 45 vezes. Para a análise da PCR foi realizada eletroforese em gel de agarose 1,5% por 40 minutos à 100 Volts. Então, 5 µL do produto da PCR foi purificado com 2 µL ExoSap-IT (GE Techonology) por 15 minutos à 37 °C e 80 °C pelo mesmo período de tempo. Para a reação de sequenciamento foi utilizado 0,3 µL de BigDye (Applied Biosystems), 2,0 µL de tampão para sequenciamento (Applied Biosystems, USA) e 1 µL de primer (3,2 µM). A ciclagem da reação consistiu em 10 segundos à 96 °C, 5 segundos à 50 °C e 60 °C por 4 minutos, 30 vezes. A reação de sequenciamento foi purificada com 25 µL de EDTA (125 mM), 1µL de etanol 100% e 1 µL de citrato de sódio (3 M). Então, houve agitação por 2 minutos, seguido de 15 minutos de incubação e centrifugação por 45 minutos à 2.000g. Após, a placa foi invertida para descartar os reagentes não consumidos, então adicionou-se 35 µL de etanol 70%, centrifugação por 15 minutos à 1.650g e, após nova inversão, incubou-se a placa por 30 minutos em temperatura ambiente. Em seguida, a reação foi ressuspendida em formamida HiDi (Applied Biosystems). O sequenciamento foi realizado no equipamento 3500 series Genetic Analyzer (Applied Biosystems). Todas as mutações foram confirmadas por duas reações independentes. 33 Tabela 6 - Informações da PCR para os genes alvos. Gene Sequência do Primer Forward- 5'-AGTGGATTCGCGGGCACAGA-3' BRAF - exon 15 NRAS - códon 12/13 NRAS - códon 61 KIT – exon 9 KIT – exon 11 KIT – exon 13 KIT – exon 17 PDGFRA – exon12 PDGFRA – exon14 PDGFRA – exon18 TERT Reverse- 5'-CAGCGCTGCCTGAAACTC-3' Forward- 5'-ATGACTGAGTACAAACTGGT-3' Reverse- 5'-CTCTATGGTGGGATCATATT-3' Forward- 5'-TCTTACAGAAAACAAGTGGT-3' Reverse- 5'-GTAGAGGTTAATATCCGCAA-3' Forward- 5'-AGAGTAAGCCAGGGCTTTTG-3' Reverse- 5'-AGACAGAGCCTAAACATCC-3' Forward- 5'-CCAGAGTGCTCTAATGACTG-3' Reverse- 5'-GGAGTTCCTTAAAGTCACTG-3' Forward- 5'-CATGCGCTTGACATCAGTTT-3' Reverse- 5'-TGACAGACAATAAAAGGCAGCTT-3' Forward- 5'-GGTTTTCTTTTCTCCTCCAACC-3' Reverse- 5'-GGATTTACATTATGAAAATCACAGG-3' Forward- 5'-TCCAGTCACTGTGCTGCTTC-3' Reverse- 5'-GCAAGGGAAAAGGGAGTCTT-3' Forward- 5'-TGGTAGCTCAGCTGGACTGAT-3' Reverse- 5'-GGGATGGAGAGTGGAGGATT-3' Forward- 5'-ACCATGGATCAGCCAGTCTT-3' Reverse- 5'-TGAAGGAGGATGAGCCTGACC-3' Forward- 5'-AGTGGATTCGCGGGCACAGA-3' Reverse- 5'-CAGCGCTGCCTGAAACTC-3' Tamanho do Fragamento Temperatura de Annealing 254 bp 55,5°C 111 bp 56,5°C 174 bp 56,5°C 272 bp 58°C 266 bp 58°C 212 bp 58°C 249 bp 58°C 260 bp 58°C 245 bp 58°C 251 bp 58°C 235 bp 64°C 2.3. Associação dos Dados Moleculares com os Fatores Demográficos, Clínicos e Histopatológicos dos Pacientes A partir dos registros hospitalares dos pacientes foram levantados os dados demográficos (data de nascimento, gênero, cor e local de nascimento), data do tumor primário e suas características (localização, subtipo histopatológico, índice de Breslow, Clark, ulceração e índice mitótico), presença ou ausência de metástases linfonodais regionais e características de metástases distantes (localização e DHL sérica). O tempo livre de progressão e a sobrevida específica por melanoma foram calculados, sendo os pacientes categorizados de acordo com critérios diagnósticos validados (classificação TNM). A sobrevida global e a sobrevida livre de doença foram calculadas da data do diagnóstico do tumor primário, da metástase regional e da metástase distante até o último evento (avaliação ou óbito). Estes dados foram associados com os eventos moleculares. 34 2.4. Análise Estatística Para identificar associações entre as características demográficas, clínicas, histopatológicas e moleculares, o teste exato de Fisher ou qui-quadrado foram utilizados. Associações das variáveis à sobrevida livre de doença e global foram avaliadas através de construção de curvas de sobrevida estimadas com o método de Kaplan Meier e com o teste de log-rank para avaliar as diferenças entre as curvas. Pacientes portadores de melanoma in situ foram excluídos das análises de sobrevivência e para esta análise o paciente foi considerado mutado para o gene quando pelo menos uma região ou sítio possuía alteração. Análises multivariadas foram realizadas com o método de regressão de Cox para variáveis que foram significantes na análise univariada ou consideradas de ajuste no modelo multivariado. 2.5. Questões Éticas O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do HCB 548/2011 (Anexo 2). Por se tratar de um estudo observacional, do ponto de vista ético é um projeto de baixo risco, sendo os únicos riscos aos participantes a quebra acidental do sigilo das informações. Para que isso não ocorresse, a equipe de pesquisa envolvida no estudo tomou todos os cuidados para não expor as informações dos pacientes. Nenhum membro da equipe tinha ou tem conflito de interesse quanto a realização da pesquisa. 3. Resultados No presente estudo, não houve diferença na distribuição entre os gêneros, a maioria dos pacientes se autodenominou da cor branca (96,5%), residente no ambiente urbano (89,2%) e possuía idade média de 58 anos (Tabela 7). A localização tumoral mais frequente foi nos membros (50%) e o subtipo mais predominante na casuística foi o nodular (38,9%), seguido de disseminativo superficial (34,4%) e acrolentiginoso (21,1%). 35 A maioria dos pacientes possuía estadiamento TNM II ou III e as informações clínicas mais relevantes, como nível de Clark, Breslow, ulceração e índice mitótico, demonstraram que a maioria dos pacientes possuía prognóstico desfavorável. A Figura 12 mostra um exemplo de mutações encontradas em nossa casuística, bem como o padrão considerado mutado em nosso trabalho. Do total de pacientes, 308 casos tiveram o gene BRAF sequenciado com êxito (67,1% do total de casos considerados), 290 NRAS (63,1%), 213 TERT (46,4%), 145 KIT (31,6%) e 139 (30,2%) o PDGFRA. O éxon 15 do gene BRAF encontra-se mutado em aproximadamente 34,1% das amostras e mais da metade das metástases, bem como das recorrências, apresentam alterações neste gene. Os hotspots do gene NRAS (códon 12/13 e 61) encontram-se mutados em cerca de 8% das amostras, sendo que 11% das metástases linfonodais possuem mutações nesse gene. O gene TERT possui mutações em aproximadamente 34% das amostras, sendo que mais de 50% das metástases apresentam alterações neste gene. E o gene KIT encontra-se mutado em cerca de 6% das amostras, enquanto que o PDGFRA possui alterações em aproximadamente 3% (Tabela 8). 36 Tabela 7 - Características demográficas, clínicas e histopatológicas patológicas dos 459 portadores de melanoma do Hospital de Câncer de Barretos. Idade (média/DP) 58,3 (16,0) Gênero n (%) Masculino Feminino 242 (52,7) 217 (47,3) Cor da Pele n (%) Branca Negra 438 (96,5) 16 (3,5) Ambiente de Moradia n (%) Rural Urbana 38 (10,8) 313 (89,2) Localização Anatômica n (%) Membros Tronco Cabeça e pescoço Mucosas 215 (50,0) 123 (28,6) 86 (20,0) 6 (1,4) Tipo Histológico n (%) Acrolentiginoso Nodular Disseminativo Superficial Lentigo Maligno Melanoma de Mucosa Ocular 71 (21,1) 131 (38,9) 116 (34,4) 7 (2,1) 10 (3,0) 2 (0,5) Clark n (%) I II III IV V 9 (2,5) 19 (5,3) 84 (23,3) 157 (43,5) 92 (23,5) Breslow n (%) até 1 mm 1.0 a 2.0 mm 2.1 a 4.0 mm > 4 mm 53 (14,4) 88 (23,9) 85 (23,1) 142 (38,6) Ulceração n (%) Presente Ausente 158 (61,5) 99 (38,5) Índice Mitótico (mm2) - n (%) 0 10 (4,1) 1 46 (18,8) >1 189 (77,1) Estadio TNM n (%) in situ I II III IV 14 (3,1) 73 (16,3) 147 (32,9) 133 (29,8) 80 (17,9) 37 . Figura 8 - Exemplos das mutações encontradas em nossa casuística. Tabela 8 - Perfil molecular dos portadores de melanoma do HCB de acordo com o desenvolvimento da doença. Sítios BRAF Primário 28/127 (22,0%) Metástase linfonodal 19/55 (34,5%) Metástase à distância 26/51 (51,0%) Recorrência 5/9 (55,5%) Sem informação 27/66 (40.9%) Total 105/308 (34,1%) NRAS 11/162 (6,8%) 7/66 (10,6%) 5/53 (9,4%) 0/9 (0%) 23/290 (7,9%) Genes TERT 29/118 (24,6%) 24/47 (51,1%) 18/39 (46,2%) 2/9 (22,2%) 73/213 (34,3%) KIT 8/78 (10,3%) 0/29 (0%) 1/29 (3,4%) 0/9(0%) 9/145 (6,2%) PDGFRA 4/73 (5,5%) 0/28 (0%) 0/29 (0%) 0/9 (0%) 4/139 (2,9%) 38 A Tabela 9 descreve todas as mutações encontradas nos genes analisados. Em nossa casuística a alteração mais comum em BRAF foi a V600E (Gráfico 1 ), o códon 61 abrange 81% de todas as alterações no gene NRAS (Gráfico 2), enquanto que aproximadamente 80% das alterações na região promotora de TERT são C250T (Gráfico 3). Além disso, em torno de 45% das mutações em KIT ocorreram no éxon 11 (Gráfico 4 ) e 60% das alterações em PDGFRA no éxon 12 (Gráfico 5 Tabela 9 - Tipos de mutações encontradas nos 459 pacientes do HCB de acordo com os genes alvos. Tipo de Mutação BRAF V600E V600K V600M T599I NRAS G12A G12C G13A Q61H Q61K Q61L Q61R TERT C228T C250T n(%) 87(89,7) 8(8,3) 1(1,0) 1(1,0) 1(4,8) 1(4,8) 2(9,5) 1(4,8) 2(9,5) 7(33,3) 7(33,3) 15(20,8) 57(79,2) Tipo de Mutação KIT Asp816Val Glu562Lys Glu635Lys Leu576Pro Lys642Glu Pro467Leu Pro551Leu Val559Ala n(%) 1(11,1) 1(11,1) 1(11,1) 1(11,1) 2(22,3) 1(11,1) 1(11,1) 1(11,1) PDGFRA Arg590Lys Val658Ile GIn828* Pro581Leu 2(40,0) 1(20,0) 1(20,0) 1(20,0) 39 Gráfico 1 - Frequências das alterações encontradas no éxon 15 do gene BRAF. Gráfico 3 - Frequências das alterações encontradas na região promotora do gene TERT. Gráfico 2 - Frequências das alterações encontradas no gene NRAS. Gráfico 4 - Frequências das alterações encontradas no gene KIT. Gráfico 1 - Frequências das alterações encontradas no gene PDGFRA. 40 A Tabela 10 mostra a distribuição do tipo de amostra (tumor primário/metastático linfonodal ou órgão distante) ente os pacientes. Um paciente que possuía amostra de tumor primário, metástase linfonodal e à distância tinha o gene selvagem para BRAF, NRAS e TERT nas três amostras e WT para KIT na doença linfonodal e metastática. Além disso, outro paciente com estas três amostras possuía mutação V600E na doença linfonodal e ela se manteve na metástase à distância, enquanto ele era WT para NRAS na metástase linfonodal e à distância e WT para TERT nos três níveis da doença (Figura 13). Um paciente adquiriu a mutação V600E na transição de doença linfonodal para metastática, enquanto que outro adquiriu essa mesma mutação na transição de doença primária para a linfonodal. Um paciente adquiriu mutação em NRAS na transição ente tumor primário e linfonodal. Ao todo quatro pacientes tiveram discordância em relação ao status mutacional de um gene no tumor primário em relação à doença linfonodal, sendo estes NRAS, TERT e dois pacientes com discordância em KIT (Figura 13). Em nossa casuística mutações em BRAF foram mutuamente exclusivas com mutações em NRAS, ao passo que mutações em TERT ocorrem com uma frequência maior em conjunto com mutações em BRAF, quando comparadas a NRAS. E mutações em KIT e PDGFRA estão presentes em uma pequena fração de pacientes com melanoma (Figura 14). 41 Tabela 10 - Distribuição dos sítios analisados nos pacientes incluídos no estudo. n(%) 143(40.8) 51 (14.5) 45 (12.9) 8 (2.3) 19 (5.4) 12 (3.4) 1 (0.3) 2 (0.6) 3 (0.9) 66 (18.9) 350 (100) BRAF NRAS TERT KIT PDGFRA BRAF NRAS TERT KIT PDGFRA V600E Primário P5 Metástase Linfonodo Primário Metástase Linfonodo Primário Metástase P4 V600E G12A Q61H C250T Q635K Q562K Metástase Linfonodo Primário P4 Metástase Linfonodo Primário P3 Metástase Linfonodo Primário P2 Metástase Linfonodo P1 Primário Gene P3 V600E V600E Paciente Lesão Linfonodo Primário P2 Metástase Gene Primário Lesão Linfonodo P1 Paciente Metástase Somente primário Somente metástase linfonodal Somente metástase à distância Somente Recorrência Primário e metástase linfonodal Primário e metástase à distância Primário e recorrência Metástase linfonodal e à distância Primário, metástase linfonodal e à distância Sem informação Total Linfonodo Sítio Legenda Não avaliado WT Mutado Figura 9 - Padrão de mutação nos pacientes durante a evolução tumoral. Figura 10 -Distribuição das mutações nos pacientes com melanoma incluídos no estudo. NA = Não Avaliado. Legenda PDGFRA KIT TERT NRAS BRAF 42 43 De acordo com a Tabela 11, os pacientes com idade até 50 anos possuem frequência maior de mutações em BRAF (p= 0,014), assim como em TERT (p= 0,006), ao passo que mutações em PDGFRA ocorrem com maior frequência naqueles pacientes com cor da pele negra (p= 0,023). Entre os principais parâmetros clínicos e histopatológico tradicionalmente relacionados ao prognóstico, nota-se pela Tabela 12 que as mutações em BRAF e TERT estão associadas a diferentes localizações anatômicas, principalmente a região do tronco (p= 0,0001, para ambos) e ao subtipo tumoral disseminativo superficial e nodular, respectivamente (p= 0,0001, para ambos). Além disso, mutações em TERT estão associadas a ausência de ulceração (p= 0,037) e valor de DHL menor ou igual 400 U/L. Tabela 11 - Associação entre os dados demográficos dos 459 pacientes do HCB incluídos no estudo e as mutações nos genes alvos. Gênero Masculino Feminino Idade (anos) ≤ 50 > 50 Ambiente de Moradia Rural Urbana Cor da pele Branca Negra *Teste exato de Fisher. BRAF WT Mutado 79 41 64 28 p= 0,658 NRAS WT Mutado 134 14 113 7 p=0,272 TERT WT Mutado 67 45 58 27 p= 0,236 KIT WT Mutado 70 5 56 4 p=1,000* PDGFRA WT Mutado 74 1 56 3 p= 0,205* 36 29 106 40 p= 0,014 WT Mutado 5 3 69 35 p= 1,000* WT Mutado 131 67 10 2 p= 0,344* 82 8 164 13 p= 0,658* WT Mutado 15 1 140 11 p= 1,000* WT Mutado 234 18 11 3 p= 0,088* 33 33 91 39 p= 0,006 WT Mutado 5 3 47 39 p= 0,728* WT Mutado 114 69 10 2 p= 0,217* 36 2 89 7 p= 1,000* WT Mutado 4 0 27 4 p= 1,000* WT Mutado 117 8 8 1 p= 0,476* 37 1 92 3 p= 0,872* WT Mutado 4 0 27 4 p= 1,000* WT Mutado 122 2 7 2 p= 0,023* 44 Tabela 12 - Associação entre os dados clínicos dos 459 pacientes do HCB incluídos no estudo e as mutações nos genes alvos. Breslow até 1mm 1.1 a 2.0 mm 2.1 a 4,0 mm >4 Índice mitótico (mm2) 0 até 1 >1 Localização Anatômica Membros Tronco Cabeça e pescoço Mucosas Tipo Histológico Acrolentiginoso Nodular Disseminativo Superficial Lentigo Maligno Melanoma de Mucosa Ocular Ulceração Presente Ausente Estadio TNM in situ I II III IV Clark I II III IV V BRAF WT Mutado 7 5 24 10 27 20 50 19 p= 0,327* WT Mutado 1 0 17 7 80 34 p= 1,000* WT Mutado 84 26 19 29 22 8 5 0 p= 0,0001* WT Mutado 50 8 31 22 24 23 1 0 8 0 1 0 p= 0,0001* WT Mutado 58 20 22 16 p= 0,072 WT Mutado 0 0 13 8 49 18 52 29 26 14 p= 0,627 WT Mutado 0 1 3 1 19 11 40 29 42 13 p= 0,114* NRAS WT Mutado 21 0 40 2 47 6 80 9 p= 0,347* WT Mutado 1 0 28 1 108 7 p= 0,511* WT Mutado 125 11 59 6 38 2 5 0 p= 0,840* WT Mutado 53 7 63 6 53 3 2 0 8 0 1 0 p=0,710* WT Mutado 84 8 44 2 p=0,496* WT Mutado 2 0 30 0 82 7 77 10 50 4 p=0,361* WT Mutado 1 0 5 0 42 1 82 11 54 5 p=0,356* TERT WT Mutado 11 4 20 13 26 16 47 19 p= 0,603 WT Mutado 1 0 17 12 75 25 p= 0,143* WT Mutado 78 23 18 28 15 13 5 1 p= 0,0001* WT Mutado 53 6 21 23 26 19 0 1 9 0 1 0 p= 0,0001* WT Mutado 49 19 20 19 p= 0,037 WT Mutado 0 1 13 10 49 19 43 25 18 15 p= 0,214* WT Mutado 1 0 2 1 16 14 46 22 33 15 p= 0,593* KIT WT Mutado 8 0 21 1 23 5 45 3 p= 0,310* WT Mutado 1 0 14 2 75 7 p=0,671* WT Mutado 66 8 26 0 17 1 5 0 p=0,303* WT Mutado 45 7 18 1 33 1 0 0 9 0 1 0 p=0,381* WT Mutado 45 6 16 2 p=1,000* WT Mutado 0 0 13 0 47 4 41 4 22 1 p=0,848* WT Mutado 1 0 1 0 17 0 41 4 34 5 p=0,484* PDGFRA WT Mutado 8 0 21 1 25 3 48 0 p= 0,088* WT Mutado 1 0 16 0 79 3 p= 1,000* WT Mutado 70 4 26 0 18 0 4 0 p= 0,531* WT Mutado 48 4 19 0 34 0 0 0 8 0 1 0 p= 0,356* WT Mutado 48 3 17 1 p=1,000* WT Mutado 0 0 12 1 49 1 43 2 23 0 p=0,437* WT Mutado 1 0 1 0 16 1 42 3 39 0 p=0,339* 47 20 35 11 p= 0,090 61 8 43 3 p= 0,440* 52 18 37 9 p= 0,001 61 6 43 1 p= 0,309* 65 1 41 3 p= 0,307 DHL ≤400 >400 *Teste exato de Fisher. 45 A sobrevida específica por câncer pode ser estimada em 459 pacientes, com média de 88,8 meses (DP: 3,8), mediana de 68,2 meses (DP: 10.4) e em 5 anos de 51,1% (Figura 15). Variáveis clínicas como ulceração (p= 0,101), idade (p= 0,078), índice mitótico (p= 0,542) e valor de DHL (p= 0,397), não foram associadas a diferentes taxas de sobrevida. No entanto, o estadiamento TNM (p= 0,001), o gênero (p= 0,0001), a localização anatômica (p= 0,0001), o subtipo histológico (p= 0,0009), o nível de Clark (p= 0,0001) e espessura de Breslow (p= 0,0001), foram fatores associados a diferentes taxas de sobrevida. Além disso, pela Tabela 13 nota-se que a presença ou ausência das mutações nos cinco genes não conferem diferentes taxas de sobrevida por melanoma em cinco anos para os pacientes. As Tabela 14 e 15 demonstram que também não há diferença na sobrevida específica por câncer pela associação entre as mutações nos genes alvos com as características demográficas, clínicas, e histopatológicas, respectivamente. A análise multivariada demonstrou que o estadiamento TNM IV, a localização anatômica e o nível de Clark foram associados de forma independente a diferentes taxas de sobrevida (Tabela 16). Figura 11 - Sobrevida livre de doença de 459 pacientes com melanoma. 46 Tabela 13 - Sobrevida específica por câncer dos 459 pacientes do HCB de acordo com o status mutacional dos genes alvos. Variável molecular BRAF NRAS TERT KIT PDGFRA Categoria WT Mutado WT Mutado WT Mutado WT Mutado WT Mutado n 141 69 245 21 123 72 124 9 128 4 Sobrevida em 5 anos (%) 42,1 33,3 46,1 31,6 45,3 39,5 38,4 48,6 40,8 0 p 0,619 0,587 0,251 0,898 0,553 Tabela 14 - Sobrevida específica por câncer dos 459 pacientes do HCB de acordo com o status mutacional dos genes alvos e características demográficas. Gênero Masculino Feminino BRAF WT Mutado NRAS WT Mutado TERT WT Mutado KIT WT Mutado PDGFRA WT Mutado 78 41 63 28 p= 0,686 133 14 112 7 p= 0,660 66 45 57 27 p= 0,400 69 5 55 4 p= 0,929 73 1 55 3 p= 0,528 35 29 105 40 p= 0,511 81 8 163 13 p= 0,556 32 33 90 39 p= 0,400 35 2 88 7 p= 0,822 36 1 91 3 p= 0,547 68 35 5 3 p= 0,502 139 11 15 1 p= 0,273 46 39 5 3 p= 0,403 26 4 26 4 p= nc p= nc 129 67 10 2 p= 0,802 232 18 11 3 p= 0,544 112 69 10 2 p= 0,863 115 8 8 1 p= 0,151 120 2 7 2 p= 0,141 Idade ≤ 50 > 50 Ambiente da Moradia Urbana Rural Cor da pele Branca Negra nc = não calculado pelo SPSS. 4 0 4 0 47 Tabela 15 - Sobrevida específica por câncer dos 459 pacientes do HCB de acordo com o status mutacional dos genes alvos e características clínicas. WT BRAF Mutado WT NRAS Mutado WT TERT Mutado WT KIT Mutado PDGFRA WT Mutado Estadio TNM I II III IV 13 8 47 18 52 29 26 14 p= 0,922 30 80 77 50 7 5 24 10 26 20 49 20 p= 0,258 21 40 46 80 48 31 24 1 1 8 51 63 53 2 1 8 0 7 10 4 p= nc 13 10 47 19 43 25 18 15 p= 0,148 13 45 41 22 11 4 20 13 25 16 46 20 p= 0,222 8 21 22 45 51 21 29 0 1 9 43 18 33 0 1 9 0 4 4 1 12 47 43 23 p= nc 1 1 2 0 p= nc Breslow até 1mm 1.1 a 2.0 mm 2.1 a 4,0 mm >4 Tipo Histológico Acrolentiginoso Nodular Disseminativo superficial Melanoma lentigo maligno Ocular Melanoma de mucosa 8 22 23 0 0 0 0 2 6 9 p= nc p= nc 7 6 3 0 0 0 p= nc 6 23 19 1 1 0 0 1 5 3 8 21 24 48 p= nc p= nc 0 1 3 0 p=nc 7 1 1 0 0 0 46 19 34 0 1 8 p= nc 4 0 0 0 0 0 p= nc Clark I II III IV V Ulceração Presente Ausente Localização Anatômica Membros Tronco Cabeça e pescoço Mucosas 0 3 18 39 42 1 1 11 29 13 0 0 1 11 5 1 2 14 45 33 0 1 14 22 15 1 1 16 40 34 0 0 0 4 5 1 1 15 41 39 0 0 1 3 0 p= nc p= nc p= nc p= nc p= nc 57 20 21 16 p= 0,863 83 8 43 2 p= 0,056 48 19 19 19 p= 0,433 44 6 15 2 p= 0,702 47 3 16 1 p= 0,540 82 19 22 5 123 59 38 5 76 23 18 28 15 13 5 1 p= 0,276 64 26 17 5 68 26 18 4 26 29 8 0 p= nc nc = não calculado pelo SPSS. 1 5 41 81 54 11 6 2 0 p= nc 8 0 1 0 p= nc 4 0 0 0 p= nc 48 Tabela 16 - Análise multivariada de sobrevida específica por melanoma dos 459 pacientes do HCB. Variável Estadio TNM I II III IV Localização Anatômica Membros Tronco Cabeça e Pescoço Mucosas Clark I II III IV V Idade n HR 95% IC (HR) p-valor 65 109 97 30 0,116 0,181 0,333 1,000 0,055-0,245 0,105-0,310 0,201-0,553 - < 0,001 < 0,001 < 0,001 - 153 98 48 2 0,183 0,255 0,344 1,000 0,043-0,777 0,060-1,091 0,078-1,507 - 0,021 0,065 0,157 - 1 17 73 135 75 0,708 0,213 0,792 1,000 0,640 0,094-5,327 0,047-0,959 0,472-1,327 0,419-0,979 0,992-1,017 0,737 0,044 0,376 0,040 0,474 1,004 49 4. Discussão 4.1. Caracterização demográfica, clínica e histopatológica dos pacientes e amostras Os pacientes incluídos neste estudo fazem parte de um trabalho maior, cujo objetivo principal se centrou em observar as características dos melanomas e seus fatores prognósticos, em uma população pouco estudada anteriormente, no sentido de contribuir com um esforço comum de caracterizar este tipo tumoral. Neste foram incluídos cerca de mil pacientes de origem única hospitalar – Hospital de Câncer de Barretos, com parte deles incluída nesta casuística16. A média de idade dos pacientes incluídos neste estudo foi de aproximadamente 58 anos e não houve diferença na distribuição da doença, de acordo com o gênero. A média de idade encontrada em outros estudos foi similar14, 76-78 , no entanto, apesar do nosso modelo multivariado não demonstrar o gênero como fator prognóstico independente, outros estudos demonstraram resultados apostos16, 77, 79. Nossa casuística é predominantemente caucasiana (96,5%) e como encontrado anteriormente nesta população, observamos uma prevalência do subtipo histológico disseminativo superficial, seguido de melanoma nodular, no entanto, encontramos uma frequência considerável do subtipo acrolentiginoso (21,1%), o que não é observado em outros estudos78, 79. Este subtipo é mais comum em populações negras, com frequência em torno de 30%80, 81, enquanto que em populações caucasianas, já foi relatado frequências em torno de 10%78. Um estudo realizado em 2008 com 354 pacientes com melanoma da população brasileira, demonstrou uma frequência de 22,3% do subtipo acrolentiginoso82, sendo esta similar ao encontrado no presente estudo. Já em um estudo mais extensivo já publicado pelo nosso grupo de pesquisa, que incluiu cerca de mil pacientes, com parte deles incluída nesta casuística, a porcentagem de subtipo acrolentiginoso foi de acordo com o esperado na prevalência de populações caucasianas, cerca de 7%16. Portanto, a diferença encontrada na frequência deste subtipo, provavelmente está associada ao tamanho amostral. Em nosso estudo demonstramos que localização anatômica é um fator prognóstico independente, como já descrito anteriormente83. Dados de uma meta-análise que abrangeu vários continentes e localizações geográficas, demonstrou a possibilidade de existir 50 diferentes caminhos etiológicos de desenvolvimento do melanoma por localização anatômica, isto em virtude das diferenças de risco observadas para o desenvolvimento da doença em nevos e por padrões de exposição ao sol84. Foi demonstrado em outros estudos uma predominância de extremidades (27,3%), seguido da região da cabeça e pescoço (25,7%) e tronco (23,1%)40, 78, 76, entretanto, na população brasileira foi demonstrado pelo nosso grupo16, assim como em outros estudos, a predominância da região dos membros, seguido do tronco e região da cabeça e pescoço14, 77 e este trabalho vai de encontro aos já publicados em nossa população. O nível de Clark possui cinco estágios que medem a extensão do melanoma e, segundo a AJCC, não é um critério prognóstico obrigatório, visto que quando se considera o índice mitótico, ele não é um fator prognóstico independente. No entanto, ele ainda é importante para aqueles melanomas finos83. No presente trabalho, quase 70% dos pacientes possuíam nível de Clark entre IV e V, sendo que esta frequência alta também foi observada no outro trabalho publicado pelo nosso grupo16, e o que vai de encontro com um estudo que incluiu 430 pacientes brasileiros com melanoma e mostrou que a maioria deles possuía predominantemente estes mesmos níveis14. Além disso, um outro estudo que incluiu 198 pacientes desta mesma população também demonstrou que 60% dos pacientes possuíam níveis mais avançados de Clark77. Quando se observa outras populações, não parece haver diferença neste padrão78. O índice de Breslow mede a profundidade de invasão das células neoplásicas no tecido epitelial, é considerado o principal fator prognóstico nos melanomas localizados14 com relato que este índice está associado a recorrência e capacidade metastática do tumor 83. Em nossa casuística 38,6% dos pacientes possuíam Breslow acima de 4mm e esta variável está associada a menores índices de sobrevida (p= 0,0001). No entanto, não apareceu como fator prognóstico independente em nosso modelo multivariado, como já amplamente conhecido83. Isso se deve ao Breslow fazer parte do componente T do estadiamento, que faz parte da variável testada como estadio clínico. Na literatura internacional, a espessura de Breslow menor do que 2mm é encontrado na grande maioria dos trabalhos76, 78, 85, 86. Moreno e colaboradores, em 2012, encontraram em 462 pacientes brasileiros com melanoma uma maior frequência de índice de Breslow menor do que 1 mm (45%)14, enquanto que um outro estudo com 199 pacientes demonstrou uma frequência de mais de 70% dos pacientes com Breslow maior do que 1mm 77. O primeiro 51 estudo foi conduzido na região sul do país, onde o índice de desenvolvimento humano municipal é maior, quando comparado a região nordeste, alvo do segundo estudo 87. Isto pode significar maior acesso a saúde pública na primeira região, o que justificaria seu achado. Uma característica do nosso centro é ser altamente especializado no tratamento oncológico e público, o que favorece o encaminhamento de pacientes com doença avançada para tratamento de alta complexidade, o que pode explicar tanto a espessura média de Breslow ser mais alta que a literatura internacional, bem como estádio TNM avançado, tal como observado por nosso grupo e também no trabalho conduzido em uma região com baixo índice de desenvolvimento humano municipal do nosso país16, 77. A ulceração é uma perda do epitélio no local do tumor, enquanto que o índice mitótico é a mensuração da taxa de proliferação do tumor primário, ambos importantes fatores prognósticos de melanoma, segundo a AJCC83. Em nossa casuística mais de 60% dos pacientes apresentaram ulceração tumoral, enquanto que 70% destes apresentaram índice mitótico maior do que um, o que esta associado, portanto, a menor sobrevida dos pacientes. Nossos resultados são semelhantes com os encontrados em outros trabalhos conduzidos na população brasileira14, 77, inclusive com o trabalho publicado pelo nosso grupo 16. Além disso, esta característica tumoral se manteve em estudos com outras populações78, 88. Antes de mais nada, é importante frisar que um estudo retrospectivo sempre enfrenta dificuldades em obter informações e material de qualidade. Esta é a maior explicação do total de pacientes incluídos serem mais de 450 e apenas uma fração deste universo apresentar dados clínicos e histopatológicos completos como amostra adequada e de qualidade para análise de todos os genes de interesse. 4.2. Características moleculares e suas associações com as demais variáveis estudadas e a sobrevida O gene BRAF é o que possui papel mais importante na tumorigênese do melanoma, sendo que a primeira terapia-alvo aprovada pelo FDA destinada a esta câncer é contra a sua alteração mais frequente e que acontece neste gene, a mutação V600E 53. No presente trabalho a frequência de mutações em BRAF foi de aproximadamente 34%, sendo a mutação V600E a mais comum, representando quase 90% das alterações. Muitos estudos visam 52 analisar a frequência deste genótipo mutante em BRAF em diversas populações, no entanto, variações são comumente encontradas. Um estudo conduzido por Mazurenko e colaboradores em 2015, mostrou que 55% dos 137 pacientes com melanoma possuíam mutações em BRAF67, além disso, os dados do estudo do TCGA mostraram que 52% dos 331 pacientes, possuíam mutações neste gene49. Estes estudos encontraram frequências maiores de mutações em BRAF, quando comparado com o nosso estudo. Especificamente no caso do TCGA, provavelmente isto seja em virtude da grande maioria das amostras ser metastática, sabidamente com frequências maiores de mutações neste gene49, além disso, não foram incluídas amostras do subtipo lentiginoso acral, visto que sabe-se que ele possui característica genética diferente dos demais, com frequências menores de mutações em BRAF62. Um estudo realizado na população japonesa mostrou que mutações neste gene ocorrem em 30,4% dos 171 pacientes89, sendo esta frequência a mais próxima do nosso estudo, embora nossa casuística seja maior. Ao observar a população deste estudo, nota-se que o subtipo acrolentiginoso também possui uma representatividade importante, ao mesmo tempo em que as amostras primárias representam a maioria da casuística, assim como no presente trabalho, o que poderia explicar as frequências similares. Embora existam diferenças nas frequências das mutações quando compara-se os trabalhos, em todos eles a mutação V600E é mais frequente, seguida de mutações V600K49, 67, 89. Muitos trabalhos mostram a predominância de mutações em BRAF em pacientes jovens49, 89 e neste estudo encontramos associação entre pacientes até 50 anos e alterações neste gene. Além disso, encontramos associação entre mutações em BRAF e localização anatômica no tronco e ao subtipo disseminativo superficial. Um estudo que analisou 66 pacientes com tumores primários, encontrou associação entre mutações neste gene e localização tumoral no tronco, no entanto, também demonstrou associação entre mutações neste gene e melanomas finos e ausência de ulceração90, o que não foi observado no presente estudo. Thomas e colaboradores em 2015 mostraram que em 812 tumores primários de melanoma, as mutações em BRAF estavam associadas ao subtipo disseminativo superficial e nodular, e também demonstraram associações desta mutação com índice mitótico91, o que não foi observado em nosso estudo. Estes dois artigos demonstraram que mutações em BRAF não estão associadas a sobrevida específica por câncer90, 91 e este trabalho vai de encontro a estes achados. Quando 53 se analisa esses parâmetros em populações metastáticas, há evidência de que mutações em BRAF também estão associadas aos subtipos histopatológicos disseminativo superficial e nodular, bem como a localização no tronco92. Em nosso estudo aproximadamente 8% das amostras possuíam mutações em NRAS, entretanto, não encontramos associações entre mutações neste gene e características clínicas e de sobrevida dos pacientes. Quando observamos os trabalhos que analisaram tumores primários ou que estes eram mais predominantes na casuística, como em nosso estudo, nota-se que a frequência de mutações em NRAS está entre 10,6%67 e 14%90, sendo que o trabalho com maior casuística observou a frequência de 13% em 912 pacientes91. Ao passo que Carlino e colaboradores, em 2014, encontraram uma alta frequência de mutações em NRAS, sendo 32% dos 193 pacientes com metástase a distância93, assim como na população analisada pelo TCGA, a frequência de mutações neste gente também foi alta, aproximadamente 28% dos 331 pacientes analisados49. A diferença de frequências de mutações observadas nos estudos em pacientes com tumor primário e metastáticos, pode ser justificada pelo melanoma ser uma doença que se desenvolve pelo acúmulo de mutações, logo, espera-se que tumores primários possuam frequências menores destas alterações, quando comparado com tumores avançados5. Além disso, este trabalho corrobora com outros que demonstraram que mutações em BRAF e NRAS são mutuamente exclusivas e que o códon 61 é a localização mais frequentemente mutada neste gene. Assim como no presente trabalho, outros não demonstraram associações entre mutações em NRAS e características clínicas e de sobrevida89, 94 , entretanto, Thomas e colaboradores, em 2015, encontraram associação entre mutações neste gene e tumor localizado nas extremidades, bem como presença de mitoses, mas não encontraram associações com a sobrevida dos pacientes91, ao passo que Egberts e colaboradores, em 2016, encontraram relação entre mutações em NRAS e pacientes mais velhos, melanomas mais profundos e sobrevida livre de metástase à distância90. A importância de mutações na região promotora do gene TERT na tumorigênese de melanoma foi recentemente descoberta68, 69 e este parece ser importante em estágios iniciais da doença em tumores que se desenvolvem a partir de lesões precursoras 5. Em virtude de ser uma descoberta recente, ainda não há uma vasta gama de artigos que analisou a frequência destas mutações em melanomas. 54 Apesar das variações de frequência entre os estudos, em comum encontra-se o fato de que esta é elevada. O TCGA encontrou que 64,4%49 dos pacientes possuíam mutações na região promotora deste gene, assim como Egberts e colaboradores, em 2016, mostraram frequência de 47,3% em 96 pacientes e a análise de 362 melanomas mostrou uma frequência de mutações de 43%95. Em nossa casuística, a frequência de mutações foi de 34,4%, que apesar de alta é bastante inferior aos demais estudos. Este achado pode ser justificado por Liau e colaboradores, em 2014, demonstrarem que mutações nesta região do gene TERT serem incomuns em melanomas acrolentiginoso (6%)96 e nossa casuística possuir uma representatividade importante deste subtipo de melanoma. Na literatura, a mutação mais frequente encontrada em TERT é a C250T e as duas mutações são mutuamente exclusivas, bem como ocorrem em concomitância com mutações em BRAF49, 90 , características estas também encontradas neste estudo. No presente trabalho encontramos associação entre mutações neste gene e idade inferior a 50 anos, bem como associação com tumores localizados no tronco, ao passo que foi demonstrado esta associação em pacientes mais velhos e tumores localizados na região da cabeça e pescoço e extremidades90. Além disso, foi demonstrado a associação entre estas mutações e melanoma nodular e disseminativo superficial95, bem como com doença mais profunda90, 95, 97, no entanto, no presente estudo foi demonstrado somente associação com o subtipo nodular.Um trabalho conduzido por Macerolla e colaboradores, em 2015, não demonstrou relação entre as mutações e presença de ulceração, entretanto, houve associação com índice mitótico, o que não foi observado em nosso estudo97. Foi demonstrado em outro trabalho que mutações em TERT não estão relacionados a sobrevida90, assim como o que foi encontrado neste estudo, ao passo que outros trabalhos demonstram que esta alteração está associada a pior sobrevida global95, 98. Assim, um artigo recente concluiu que mutação na região promotora de TERT é um potencial marcador biológico preditor de mortalidade mais elevada, assim como preditor de metástases em pacientes com melanoma cutâneo98. O gene KIT encontra-se mutado, nesta casuística, em cerca de 6% dos pacientes e ocorre de forma predominante em melanomas acrolentiginoso (88,9%), sendo que apenas um paciente diferia do restante, apresentando o subtipo nodular. De forma similar, Yimalz e colaboradores encontraram frequência de 8,5% e uma distribuição equivalente das mutações nestes dois subtipos de melanoma99. Além disso, como em nosso estudo, eles não 55 encontraram relação com sobrevida e com variáveis clínicas, no entanto, também demonstraram uma frequência maior de alterações no éxon 11 99. Outros estudos prévios também verificaram frequências de mutações parecidas, bem como predominância destas no subtipo acrolentiginoso e no éxon 11100, 101, no entanto, um artigo na população Coreana, demostrou uma frequência maior destas alterações no éxon 13 do gene KIT102. Há na literatura uma grande escassez de estudos quanto à avaliação de mutações em PDGFRA em melanomas. A maior análise deste gene na doença foi conduzida por Dai e colaboradores, em 2013, onde eles observaram uma frequência de 4,6% de mutações em 351 pacientes e ausência de associação destas alterações com parâmetros clínicos, entretanto, observaram a relação com o subtipo acrolentiginoso, o qual representava 56,2% das alterações66. De forma semelhante, nosso estudo encontrou uma frequência de 2,9% e relação com o subtipo acrolentiginoso. Foi relatado em outro estudo que alterações no gene PDGFRA ocorrem em cerca de 4,0% dos 137 pacientes com melanoma67 e um estudo que incluiu 17 pacientes da população japonesa não encontrou mutações neste gene103. Em alguns pacientes o nosso estudo analisou as mutações em mais de um sítio, sendo que em dois pacientes haviam concordância do status mutacional entre estes, o que sugere que nestes pacientes o mecanismo de oncogênese se estabeleceu por alterações em outros genes ou por outros tipos de modificações genéticas não analisadas neste estudo. Sabe-se que o melanoma é um acúmulo de alterações genéticas, que durante o processo de tumorigênese são selecionadas por conferirem vantagem proliferativa5. Neste sentido, dois pacientes adquiriram a mutação durante o desenvolvimento da doença, o que sugere que nestes pacientes, estas mutações contribuíram para potencializar a taxa proliferativa e a capacidade de metastização da doença. Além disso, em nossa casuística quatro pacientes diferiram quanto o status mutacional nos diferentes sítios, o que já foi observado em outros estudos104, 105 . Em um artigo recente de Bradish e colaboradores eles postularam duas hipóteses para explicar este fenômeno, sendo a primeira a heterogeneidade tumoral e a segunda a existência de dois melanomas primários que podem produzir resultados discordantes se o primeiro melanoma primário é testado, enquanto que o segundo foi o responsável por originar a metástase106. Neste estudo a nossa casuística foi maior para os dados clínicos, visto a dificuldade de amplificação das nossas amostras. Solucionamos parte do problema estabelecendo um protocolo que eliminasse um dos inibidores desta reação, a melanina, no entanto, a 56 qualidade das amostras diminuiu consideravelmente, o que continuou dificultando a amplificação e, muitas vezes, o sequenciamento. Além disso, em nossa instituição o formol tamponado foi utilizado para armazenamento de tecido biológico somente a partir de 2005/2006, o que torna as amostras anteriores a este período um material de baixa qualidade e altamente degradado. Para mostrar isto, de forma aleatória selecionados 10 amostras de 2001 a 2007 e realizamos uma PCR para o gene BRAF (Anexo 3). Observamos uma baixa taxa de sucesso até 2004 e a partir de 2005 o número de amostras amplificadas aumentou de forma considerável. Devido a dificuldade de inserção do subtipo lentiginoso acral nos estudos, visto que ele é uma forma rara de melanoma, pouco se conhece sobre suas alterações moleculares, o que dificultou comparações mais profundas em relação a ele em nosso trabalho e o que nos fez escolher por publicar nossos achados sobre este subtipo separadamente do restante desta casuística (Anexo 4). Provavelmente a informação mais contundente seja que este possui perfil molecular distinto dos demais subtipos de melanoma62. Nesse sentido, o TCGA, maior análise molecular de melanomas em larga escala já realizado até este momento, não incluiu este subtipo, o que corrobora para que tenhamos mais perguntas, do que respostas, e o que justifica que outros trabalhos existam para respondê-las. 5. Conclusão De acordo com nossos objetivos podemos concluir: 1. Conforme demonstrado, de forma inédita, avaliamos em uma população brasileira portadora de melanoma, a frequência de mutações nos genes BRAF (34,1%), NRAS (7,9%), KIT (6,2%), PDGFRA (2,9%) e TERT (34,2%); 2. De acordo com características demográficas, clínicas e histopatológicas identificamos que mutações em BRAF estão associadas a pacientes mais jovens, assim como mutações em TERT e mutações em PDGFRA a pacientes com cor da pele negra. Além disso, mutações em BRAF e TERT estão associadas a diferentes localizações anatômicas, principalmente a região do tronco e ao subtipo tumoral disseminativo superficial e nodular, respectivamente). Ainda, mutações em TERT estão associadas a ausência de ulceração (p= 0,037) e valor de DHL menor ou igual 400 U/L. 57 3. A sobrevida dos pacientes teve associação com fatores prognósticos já conhecidos em análise univariada e multivariada. Nenhuma mutação estudada foi associada a diferenças de prognóstico. Nosso estudo também pôde demonstrar que nossa população possui doença avançada e fatores prognóstico desfavoráveis. De forma geral, os pacientes possuem perfil molecular similar ao que se observa em outras populações, principalmente aquelas cuja casuística se assemelha ao deste estudo, e as frequências dos tipos de mutações são semelhantes. Por fim, devido a frequência expressiva das mutações estudadas, os portadores de melanoma brasileiros podem se beneficiar das terapias-alvo já empregadas e futuras. 58 6. Referências Bibliográficas 1. Junqueira LCU, Carneiro J. Histologia Básica. 12 ed. Rio de Janeiro2013. 2. Gartner L, Hiatt J. Atlas Colorido de Histologia. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2014. 3. Houghton AN, Polsky D. Focus on melanoma. Cancer Cell. 2002;2(4):275-8. 4. Botella-Estrada R, Sanmartin Jimenez O. [New therapies targeting the genetic mutations responsible for different types of melanoma]. Actas Dermosifiliogr. 2010;101(5):394-400. 5. 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A - PCR para BRAF éxon 15 das amostras purificadas com o Kit Wizard® SV Gel and PCR Clean-Up System (Promega). PM= Peso Molecular = 100 bp. CP = Controle Positivo. CN = Controle negativo. B – PCR para BRAF éxon 15 das amostras purificadas com o Kit GeneJET™ PCR Purification Kit (Fermentas). Para este teste não houve amostra D, pois não havia mais lâmina disponível para extração. Entretanto, este era um caso que já havia funcionado pelo método convencional de extração (Kit QIAmp DNA Micro Kit- Qiagen) e utilizado apenas como comparativo. PM = Peso Molecular = 100 bp. CP = Controle Positivo. CN = Controle negativo. C – PCR para BRAF éxon 15 das amostras purificadas com o Kit OneStep PCR Inhibitor Removal Kit (Zymo Research). PM= Peso Molecular = 100 bp. CP = Controle Positivo. CN = Controle negativo. 68 Anexo 2 - Aprovação do presente estudo pelo Comitê de Ética em pesquisa do HCB. . 69 Anexo 3 – Teste para comparar a taxa de sucesso de amplificação de BRAF de amostras entre os anos de 2001 a 2007. Foram selecionadas 10 amostras de cada ano de forma aleatória. D A B E C F G PM = Peso molecular. A – amostras de 2001; B – 2002; C – 2003; D – 2004; E – 2005; F – 2006; G – 2007. 70 Anexo 4 - Artigo publicado pelo nosso grupo com dados preliminares deste trabalho, cujo objetivo foi analisar o perfil molecular de pacientes com o subtipo de melanoma lentiginoso acral.