Reinan Sena Da Costa

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FACULDADE MARIA MILZA
BACHARELADO EM BIOMEDICINA
REINAN SENA DA COSTA
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DAS LEUCEMIAS LINFÓIDES ATRAVÉS DA
IMUNOFENOTIPAGEM POR CITOMETRIA DE FLUXO: REVISÃO
GOVERNADOR MANGABEIRA-BA
2016
REINAN SENA DA COSTA
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DAS LEUCEMIAS LINFÓIDES ATRAVÉS DA
IMUNOFENOTIPAGEM POR CITOMETRIA DE FLUXO: REVISÃO
Monografia apresentada ao Curso de
Bacharelado
em
Biomedicina
da
Faculdade Maria Milza, como requisito
parcial para obtenção do título de
graduado.
Profª Msc. Ana Paula Castro Melo
(Orientadora)
Profª. Drª. Luciana Souza de Aragão França
(Co-Orientadora)
GOVERNADOR MANGABEIRA-BA
2016
Dados Internacionais de Catalogação
Costa, Reinan Sena da
C837d
Diagnóstico diferencial das leucemias linfóides através da
imunofenotipagem por citometria de fluxo: revisão / Reinan Sena da
Costa. – 2016.
43 f.
Orientador: Profª. Msc. Ana Paula Castro Melo
Co-Orientadora: Profª. Drª. Luciana Souza de Aragão França
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Biomedicina)
– Faculdade Maria Milza, 2016.
REINAN SENA DA COSTA
1. Leucemia. 2.. I. Melo, Ana Paula. II. Título.
CDD: 616.99419
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DAS LEUCEMIAS LINFÓIDES ATRAVÉS DA
IMUNOFENOTIPAGEM POR CITOMETRIA DE FLUXO: REVISÃO
Aprovada em ___/__/201__
BANCA DE APRESENTAÇÃO
___________________________________________
Profª. Msc. Ana Paula Castro Melo
Faculdade Maria Milza-FAMAM
__________________________________________
Profº. Msc. Paulo R. R. Mesquita
Faculdade Maria Milza-FAMAM
___________________________________________
Prof° Marcelo Quintana
Especialista em Hematologia e Hemoterapia-UFRJ
Coordenador de curso e Docente da Faculdade Maurício de Nassau
Diretor- sócio da CapacitaLab
GOVERNADOR MANGABEIRA-BA
2016
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pelo dom da vida e por todas as oportunidades que surgiram ao
longo dessa caminhada.
Obrigado a Faculdade Maria Milza e toda sua equipe. Ao PROINC-FAPESB e a Profª.
Drª Catiane Souza pela concessão da Bolsa de Iniciação Cientifica e todos os
ensinamentos.
Aos mestres e orientadores, em especial a Profª. Drª. Luciana França e Msc. Ana
Paula Castro por sua disponibilidade e disposição, suas orientações foram
fundamentais para a conclusão desse trabalho.
Aos colegas de classe, a toda minha família, a minha noiva, meus amigos que sempre
torceram e apoiaram muito obrigados.
Obrigado as empresas pelos estágios (Hospital Regional de Santo Antonio de JesusHRSJ, Instituto CardioImagem e a Diagnoson a+) e toda sua equipe (especialmente
aos preceptores e aos colegas de bancadas) por seus ensinamentos.
A todos vocês desejo saúde, paz e muitos anos de vida, pois tudo que aconteceu foi
primordial para minha formação, acredito que todo esforço irá valer a pena.
Obrigado!
“Verba volant, scripta manent”
EPÍGRAFE
“O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará”
Salmo 23.
“tudo posso naquele que me fortalece”
Filipenses 4.13.
“Não se mede o valor de um homem pelas suas roupas ou
pelos bens que possui. O verdadeiro valor do homem é o
seu caráter, suas idéias e a nobreza dos seus ideais.”
Charles Chaplin
RESUMO
A leucemia pode ser classificada em dois grandes grupos, mielóide e linfóide, sendo
subclassificada em aguda ou crônica, e dividida no tipo T e tipo B. Este trabalho busca
compreender a etiopatogenia das leucemias infóides, determinar seus principais
marcadores imunológicos e os avanços da imunofenotipagem por citometria de fluxo
multiparamétrica para o diagnóstico diferencial e avaliar a eficiência dos resultados
dos exames imunohematológicos obtidos por associação com a imunofenotipagem ou
outras técnicas convencionais. O presente estudo caracteriza-se por revisão de
literatura do tipo descritiva envolvendo o diagnóstico diferencial das leucemias
linfóides através da citometria de fluxo. Foi realizado um levantamento de artigos no
banco e base de dados da PubMed/Medline, SciELO, CAPES, BVS e ScienceDirect
referente a imunofenotipagem por citometria de fluxo para diagnostico das leucemias
linfóides e no site do Ministério da Saúde/DATASUS e INCA para informações
epidemiológicas. As classificações fenotípicas das células leucêmicas geralmente são
realizadas através do método da imunofenotipagem por citometria de fluxo baseada
na expressão dos antígenos celulares. Esse método de diagnóstico utiliza anticorpos
monoclonais e, por isso, tem alta sensibilidade e especificidade, permitindo a
identificação dos tipos celulares e dos seus estágios de diferenciação. Foram
selecionados 51 artigos acerca da imunofenotipagem por citometria de fluxo das
leucemias linfóides. Os principais marcadores para diagnósticos e classificação da
LLA-T foram CD1a, CD2, TCRαβ, TCRγδ, CD3 Cit/Sm e para LLA-B CD10, CD19,
CD20 , CD22c, CD79a/b, Kappa ou Lambda e IgM. Na determinação da LLC-T os
marcadores CD4, CD7, CD8, CD3, TCR alfa/beta, CD1a foram mais apontados,
enquanto os CD23, CD20, CD19, CD22 (fraco), CD10, CD79b(fraco ou ausente),
FMC7 (fraco ou ausente) são mais utilizados para determina a LLC-B. Os resultados
apontaram que essa técnica apresenta alta especificidade, sensibilidade, confiança,
resultados rápidos e precisos. Assim, pode ser usada nos grandes centros de
oncologia para as análises de marcadores imunológicos para confirmação,
classificação e monitoramento das leucemias linfóides de células B e T com resultados
em um curto intervalo de tempo para favorecer tratamentos imediatos aos pacientes.
Palavras – chaves: Leucemias. Leucemia linfocítica. Imunofenotipagem. Citometria de
fluxo.
ABSTRACT
Leukemia can be classified into two major groups, myeloid and lymphoid, and further
classified into acute or chronic end divided into type T and type B. This work seeks to
understand the pathogenesis of lymphoids leukemias, to determine its main
immunological markers and advances in immunophenotyping cytometric
multiparameter flow for the differential diagnosis and to evaluate the efficiency of the
results of immunohematology tests obtained by association with immunophenotyping
or other conventional techniques. The present study is characterized by literature
review of descriptive involving the differential diagnosis of lymphoid leukemia by flow
cytometry. A survey of articles in the database and database PubMed/Medline,
SciELO, CAPES, BVS and ScienceDirect related immunophenotyping by flow
cytometry for diagnosis of lymphocytic leukemias and the Ministry of Health website /
DATASUS and INCA to epidemiological information. Phenotypic classification of
leukemic cells are generally performed by the method of immunophenotyping by flow
cytometry based on expression of cell antigens. This diagnostic method uses
monoclonal antibodies and thus, has high sensitivity and specificity, permitting the
identification of the cell types and their differentiation stages. 51 items were selected
at about Immunophenotyping by flow cytometry in lymphoid leuemias. The main
markers for diagnosis and classification of T-ALL were CD1a, CD2, TCRαβ, TCRγδ,
CD3 Cit / Sm and LLA-B CD10, CD19, CD20, CD22c, CD79a / b, or Kappa Lambda
and IgM. In determining the LLC-T CD4 bookmarks, CD7, CD8, CD3, TCR alpha /
beta, CD1a were more pointed, while CD23, CD20, CD19, CD22 (weak), CD10,
CD79b (weak or absent), FMC7 ( weak or absent) are best used to determine the BCLL. The results showed that this technique is highly specific, sensitive, reliable, fast
and accurate results. Thus, it can be used in major cancer centers for analysis of
immunological markers for confirmation, classification and monitoring of lymphoides
leukemias of B and T cells results in a short period of time to facilitate immediate
treatment to patients.
Key-words:
leukemias.
lymphocytic
Immunophenotyping. Flow cytometry.
leukemia.
lymphoblastic
leukemia.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Representação esquemática da leucemia linfóide- tipos e subtipos........25
Figura 2- Representação esquemática do funcionamento do citomêtro de fluxo.....37
LISTA TABELAS
Tabela 1 - Principais vantagens e desvantagens da imunofenotipagem por citometria
de fluxo.......................................................................................................................40
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Principais Neoplasias Hematológicas.....................................................23
Quadro 2 - Principais marcadores imunológicos das leucemias linfoblástica aguda e
linfocítica crônica de células T....................................................................................28
Quadro 3 - Marcadores imunológicos dos subtipos da leucemia linfoblástica e
linfocítica de células T................................................................................................29
Quadro 4 - Principais marcadores imunológicos das leucemias linfoblástica aguda e
linfocítica crônica de células B...................................................................................31
Quadro 5 - Marcadores imunológicos dos subtipos da leucemia linfoblástica e
linfocítica de células B................................................................................................32
Quadro 6 -Forma de uso e características das amostras biológicas na
imunofenotipagem por citometria de fluxo..................................................................39
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
BCR
Receptor de células B
CD
Cluster diferentiation
CDCit
Cluster differentiation Citoplasmótico
CDSm
Cluster differentiation Superficie de membrana
CMF
Citometria de Fluxo
DATASUS
Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde
FAB
Franco – Americano – Britânico
FGFR1
Fator de crescimento de fibroblastos receptor 1
FSC
Forward Scatter
G-CSF
Fator Estimulante de Colônias Granulócitos
GM-CSF
Fator estimulante de colônias de Granulócitos e Macrófagos
HLA
HumanLeukocyteAntigens
Ig
Imunoglobulina
IL
Interleucina
INCA
Instituto nacional de câncer
LL
leucemia linfóide
LLA-B
Leucemia linfoblástica aguda da linhagem B
LLC-B
Leucemia linfocítica crônica linhagem B
LL-T
Leucemia linfóide-T
M-CSF
Fator Estimulante de Colônias de Macrófagos
MHC
Complexo principal de histocompatibilidade
MO
Medula óssea
MS
Ministério da saúde
NMP/MD
Neoplasias mieloproliferativas/ mielodisplasicas
OMS
Organização mundial da saúde
PDGFRA
Receptor do fator de crescimento derivado de plaquetas, alfa polipéptido
PDGFRB
Receptor do fator de crescimento derivado debetapolipéptido
SMD
Sindromesmielodisplásicas
SP
Sangue periférico
SSC
Side Scatter
TdT
desoxinucleotidil-transferase
Th
Linfocitos T helper
UFC
Unidade formadora de colônias
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14
2 METODOLOGIA .................................................................................................... 18
2.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO .......................................................................... 18
2.2 FONTE DOS DADOS .......................................................................................... 18
2.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO ........................................................ 18
2.4 EXTRAÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE ............................................................... 19
3 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 20
3.1 HEMATOPOIESE E LINFOPOIESE ................................................................... 20
3.2 PAPEL DOS LINFÓCITOS NA RESPOSTA IMUNE ........................................... 21
3.3 NEOPLASIAS HEMATOLÓGICAS .................................................................... 22
3.4 LEUCEMIA ......................................................................................................... 23
3.5 LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA E LEUCEMIA LINFOCÍTICA
CRÔNICA...................................................................................................................24
3.5.1 Leucemia linfoblásticaaguda-T ..................................................................... 25
3.5.2 Marcadores da leucemia linfoblásticaaguda-T ............................................ 26
3.5.3 Marcadores dos subtipos da leucemia linfoblastica da linhagem-T.......... 28
3.5.4 Leucemia linfoblástica aguda-B.................................................................... 29
3.5.5 Marcadores da Leucemia Linfoblástica Aguda da linhagem- B ................. 30
3.5.6Marcadores dos subtipos da leucemia linfoblástica e linfocítica da
linhagem-B ............................................................................................................... 31
3.5.7 Leucemia linfocítica crônica ......................................................................... 32
3.5.8 Marcadores da leucemia linfocítica crônica da linhagem-T ....................... 33
3.5.9Marcadores dos subtipos da leucemia linfocítica da linhagem-T ............... 33
3.6 CARACTERÍSTICAS CLINICAS DAS LEUCEMIAS ........................................... 33
3.7 DIAGNÓSTICO DAS LEUCEMIAS DE ORIGEM LINFOIDE ............................. 34
3.8 IMUNOFENOTIPAGEM POR CITOMETRIA DE FLUXO ................................... 36
3.8.1 Princípios técnicos da imunofenotipagem por citometria de fluxo ........... 36
3.9 A IMPORTÂNCIA DA IMUNOFENOTIPAGEM POR CITOMETRIA DE FLUXO NO
DIAGNÓSTICO DA LEUCEMIA LINFOIDE............................................................... 37
3.9.1 Avanços, vantagens e limitações da citometria de fluxo ........................... 39
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 41
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 43
14
1 INTRODUÇÃO
A medula óssea em seu estado fisiológico produz células hematopoiéticas
capazes de desempenhar funções como transporte de gases, processos hemostáticos
e produção das células que fazem parte do sistema imunológico do indivíduo, no
entanto em estado patológico produz células imunológicas incapazes de
desempenhar suas funções (SILVEIRA et al., 2008). A leucemia é a doença que afeta
os leucócitos e tem como característica principal o aumento desregulado de células
imaturas (BYRD, 2015).
O desenvolvimento das células, em especial os linfócitos T e B, é efetivamente
controlado desde as células progenitoras. A sobrevivência, proliferação e maturação
dos linfócitos B são determinadas pelos receptores de antígenos específicos e a
ausência dos receptores de antígenos nessas células desencadeia a apoptose. As
células pré-B apresentam a cadeia pesada da Imunoglobulina (Ig) (MICHEL, 2008;
BERTHO et al., 2014). Os linfócitos B que não apresentarem os receptores de células
B (BCR) permitem uma verificação intermediária que assegura temporariamente a
vida da célula, no entanto, cerca de 95% das células que não expressam os receptores
adequados ou que apresentam defeitos moleculares morrem por apoptose (REGO et
al., 2009; GARCIA-MARCO et al., 2013).
No processo de especificidade das células T a seleção positiva assegura a
maturação das células, isso depende da ligação de baixa avidez com as moléculas do
complexo principal de histocompatibilidade própria (MHC). Células que apresentam
ligações de alta avidez são induzidas a morte celular por apoptose, na seleção
negativa. A produção é controlada por um sistema de divisão celular que permite boa
funcionalidade das células e quando defeituosa perde o controle da divisão celular
possibilitando produção descontrolada de células na medula óssea, favorecendo-o
excesso de células jovens sem funcionalidade denominadas blastos ou clones
(BERTHO et al., 2014).
O excesso de blastos na medula óssea inibe a produção de células capacitadas
para desempenhar as suas funções, com isso, os indivíduos irão sofrer complicações
decorrentes da baixa imunidade do organismo e acúmulo de células jovens sem
funcionalidade na corrente sanguínea e nos tecidos extramedulares (BYRD, 2015).
Para o Ministério da Saúde, blastos acima de 20% em sangue periférico ou na medula
óssea é característica da leucemia. Entretanto o grupo Franco-Americano-Britânico
15
(FAB) sugere que o quadro leucêmico seja determinado quando forem encontrados
mais de 30% de blastos em sangue periférico (SP) ou medula óssea (MO) (BRAND et
al., 2009).
Os blastos apresentam marcadores imunológicos denominados CDs (cluster of
diferentiation) fundamentais para sua funcionalidade e permitem predizer o estágio de
maturação celular. Esses CD’s são específicos para as linhagens celulares e estágio
de maturação, com isso, determina-se o tipo de celular e posteriormente classifica o
tipo de leucemia desenvolvido (BERTHO et al., 2014). As leucemias são classificadas
em quatro categorias, leucemia de origem mielóide aguda ou crônica e leucemia
linfóide aguda ou crônica. As classificações das leucemias estão relacionadas aos
tipos de clones leucêmicos encontrados nas análises laboratoriais (BRAND et al.,
2009).
A leucemia linfóide é dividida no tipo B e tipo T, e em subtipos L1, L2 e L3 de
acordo a classificação do grupo Franco-Americano-Britânico (FAB). Sendo que a
classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) não reconhece os subtipos L1
e L2 indistintamente por não predizer o fenótipo B ou T (CHIARETTI et al., 2014).
Portanto, observa-se que há discordância na classificação dessa patologia na
literatura, e com isso, há necessidade de uma pergunta acerca do tema proposto.
Como a citometria de fluxo pode ser utilizada para o diagnóstico e classificação
diferencial das leucemias?
As classificações fenotípicas das células leucêmicas geralmente são realizadas
através do método da imunofenotipagem por citometria de fluxo baseada na
expressão dos antígenos celulares. Esse método utiliza anticorpos monoclonais e, por
isso, tem alta sensibilidade e especificidade, permitindo a identificação dos tipos
celulares e dos seus estágios de diferenciação. É um método utilizado para
classificação, prognóstico, monitoramento, estadiamento e diferenciação das células
hematopoiéticas anormais para diagnóstico das leucemias e revela informações
importantes para escolha do tratamento direcionado que poderá ser fundamental para
sobrevida do paciente. A citometria apresenta vantagens em relação à microscopia
devido à sua alta especificidade, sensibilidade, diagnósticos rápidos e preciso,
podendo elevar a 99% de chances o diagnóstico dos casos suspeitos, além de utilizar
multiparâmetros para identificar características heterogêneas dos clones leucêmicos
(SILVEIRA et al., 2008).
16
Além do exame imunofenotípico, outras técnicas são utilizadas na
determinação dos clones leucêmicos. A citogenética convencional e molecular são as
técnicas mais indicadas para a analises das anormalidades genéticas, através delas
o cariótipo do paciente pode ser analisado e suas informações são importantes para
iniciar o tratamento direcionado.
As estimativas de câncer para os anos 2012-2013 foram de mais de 518.510
novos casos. E para o Brasil, estimou-se 8.510 novos casos de leucemias, sendo
4.570 em homens e 3.940 nas mulheres (HAMERSCHLAK, 2012; MS, 2015). No
entanto, a realidade superou o esperado, pois foram registradas 149.858 internações
de pacientes com leucemias (DATASUS, 2015; MS, 2015). No estado da Bahia
ocorreram 7.204 internações, com 650 casos de óbitos e taxa de mortalidade de
9,02%, no período de 2010 a junho 2015 (FACINA, 2011; DATASUS, 2015; INCA,
2014; MS, 2014).
Os dados indicaram um aumento significante no número de pessoas
acometidas por esse tipo de câncer tornando um desafio para a saúde pública, uma
vez que a doença tem grande potencial de morbidade e mortalidade, com gastos
expressivos em diagnóstico e tratamento. Sobre tudo, há necessidade da realização
de vários exames para o diagnóstico, tais como, hemograma, esfregaço sanguíneo e
de medula óssea, biópsia, citogenética e principalmente a imunofenotipagem por
citometria de fluxo para diferenciação das linhagens leucêmicas (DONGEN et al.,
2012).
Deste modo este trabalho busca compreender a etiopatogenia das leucemias
linfóides, determinar seus principais marcadores imunológicos e os avanços da
imunofenotipagem por citometria de fluxo multiparamétrica para o diagnóstico
diferencial e avaliar a eficiência dos resultados dos exames imunohematológicos
obtidos por associação com a imunofenotipagem ou outras técnicas convencionais.
Se
justifica
ao
apresentar
conteúdos
relevantes
para
o
mundo
científico,abordará técnica importante para o diagnóstico das leucemias das células
hematopoiéticas da linhagem linfóide visando contribuir com atualização da temática
que deve permanecer em expansão no Brasil e no mundo com intuito de ajudar
teoricamente a compreender o diagnóstico da doença. Neste contexto, a atual
proposta pretende realizar uma revisão de literatura acerca da leucemia linfoblástica
aguda (LLA) e leucemia linfocítica crônica (LLC) e enfatizar a importância da
17
imunofenotipagem por citometria de fluxo como o padrão ouro para o diagnóstico
diferencial, rápido, sensível e especifico das leucemias linfocíticas (LL).
18
2 METODOLOGIA
2.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO
O presente estudo caracteriza-se por revisão de literatura do tipo descritiva
envolvendo o diagnóstico diferencial das leucemias linfóides através da citometria de
fluxo. A busca foi realizada nos idiomas Português e Inglês utilizando os descritores e
suas combinações: “neoplasia hematológica”, “imunofenotipagem”, “leucemia”,
“leucemia linfocítica crônica”, “leucemia linfoblástica aguda T ou B”, “leucemia
linfocítica crônica T ou B”, “leucemia linfocítica”, “diagnóstico da leucemia”,
“marcadores imunológicos”, “CDs”, “sistema de lasers”, “citometria de fluxo”,
“diagnósticos das leucemias linfóides”, “citogenéticas”, “citogenética convencional”,
“citogenética molecular”.
2.2 FONTE DOS DADOS
Foi realizado um levantamento de artigos no banco e base de dados da
PubMed/Medline (National Library of Medicine), biblioteca eletrônica SciELO
(Scientific Electronic Library Online),
autarquia pública de pesquisa CAPES
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), BVS (Biblioteca
Virtual em saúde) e Science Direct (liderada pela Elsevier) referente a
imunofenotipagem por citometria de fluxo para diagnostico das leucemias linfocíticas
e no site do Ministério da Saúde/DATASUS (Departamento de Informática do Sistema
Único de Saúde do Brasil) e INCA (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes
da Silva) para informações epidemiológicas.
2.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO
Para inclusão foram utilizados artigos de ensaios experimentais (humanos ou
animais) ou ensaios clínicos, revisão de literatura ou relato de caso, de língua inglesa
ou portuguesa e/ ou outros idiomas com tema referido, artigos disponíveis online na
íntegra e artigos publicados no período de 2008 a 2016.
Os critérios de exclusão foram aplicados em artigos que contemplaram apenas
outros tipos de câncer hematológicos (leucemia mielóide ou linfomas), artigos
duplicados.
19
2.4 EXTRAÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE
Foram avaliados criticamente os dados obtidos, síntese dos principais CDs
para criação dos painéis, comparação dos resultados dos exames imunofenotipagem
por citometria de fluxo com os demais métodos utilizados, baseados em evidências e
descritos as limitações das técnicas.
20
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 HEMATOPOIESE E LINFOPOIESE
Fisiologicamente as células sanguíneas são produzidas por um sistema
denominado hematopoiético que tem como função a formação e desenvolvimento das
células sanguíneas. As células sanguíneas são originadas a partir de um precursor
comum pluripotente (UFC – unidade formadora de colônia; stem-cell ou célula-tronco)
durante o processo de hematopoiese, que é iniciado na fase embrionária no saco
vitelino (por volta da 3ª semana de gestação), posteriormente, durante a vida fetal, no
fígado (da 9ª semana até a 24ª) e finalmente na medula óssea (a partir da 24ª semana)
(BERTHO et al., 2014).
Na medula óssea as células-troncos pluripotentes tendem a sofrer estímulos
principalmente da interleucina-7 (IL-7) e dos fatores estimuladores de colônia (G-CSF,
M-CSF e GM-CSF) para originar as células multipotentes diferenciadas, os
precursores mielóides e linfóides, e posteriormente monócitos, eosinófilos, neutrófilos,
basófilos, eritrócitos, Natural Killer (NK) e dos linfócitos. Os linfócitos denominados de
células agranulares, caracterizam-se por apresentarem núcleo regular e por não
possuírem granulações específicas no citoplasma, são células indispensáveis para o
sistema de defesa imunológica, classificadas em linfócitos B e linfócitos T (BERTHO
et al., 2014).
Durante todo processo de produção e maturação dos linfócitos B (na medula
óssea) e células T (maturação no timo) ocorrem expressões dos receptores dos
antígenos e proteínas de membrana que permitem determinar o grau de maturação
celular (HSU et al., 2016).
As expressões desses receptores são fatores importantes tanto na produção,
regulação e manutenção destas células, quanto para posteriormente serem liberadas
da medula óssea (linfócitos B) e do timo (linfócitos T) para circulação, migrando para
os órgãos linfóides secundários, sítios de elaboração da resposta imune contra
antígenos circulantes (BRAND et al., 2009).
21
3.2 PAPEL DOS LINFÓCITOS NA RESPOSTA IMUNE
Durante o processo inflamatório os linfócitos são recrutados para os órgãos e
tecidos que sofreram injúria para então iniciar a resposta imunológica aos antígenos.
A resposta imune ocorre a partir do reconhecimento de antígenos apresentados por
células apresentadoras de antígenos (macrófagos e das células dendríticas) aos
linfócitos T (MESQUITA et al., 2010).
Os linfócitos T tendem a se diferenciar em duas classes, que podem ser
identificadas de acordo as proteínas de superfícies, tais como, CD4+ e CD8+. Os que
apresentam CD4+ são denominados linfócitos TCD4+ ou células T auxiliar, capazes
de produzir e secretar citocinas para estimular outras células imunológicas, além do
reconhecimento de antígenos via MHC de classe II, que nos humanos é denominado
de HLA (human Leukocyte antigens), do tipo HLA-D (DP, DQ, DR) (HSU et al., 2016).
Estes linfócitos TCD4+ podem ser subdivididos em quatro classes, Th1, Th2,
Th17 e TRegulatórios, essa classificação é de acordo a produção de citocinas que cada
célula produz após estimulo. Os linfócitos Th1 podem secretar citocinas para de ativar
os macrófagos, como interleucinas2 (IL-2) e interferom gama. Os linfócitos Th2 irão
atuar dentro dos tecidos linfóides secundários, estimulando os linfócitos B, eosinófilos,
mastócitos através das citocinas IL-4, IL-5 ,IL-6 e IL-10. Os linfócitos Th17
desempenham papel importante na resposta imunológica contra microrganismo
extracelular. Produzem citocinas IL-22, IL-26 e citocinas da família IL-17, que podem
estar associadas as doenças autoimunes como esclerose múltipla, doença intestinal
inflamatória, psoríase e lúpus. Essas citocinas estão envolvidas em processos
associados à inflamação e infiltração celular e síntese de outras citocinas com
características pro-inflamatórias (MESQUITA et al., 2010).
Os linfócitos T
reguladores
apresenta função imunorreguladora responsável pelo
controle da autotolerância imunológica e das reações autoimunes. São classificados
em LT reguladores de ocorrência natural – (TREGS CD4+ CD25+), Linfócitos T
Reguladores Duplo Negativos ou Linfócitos T Reguladores CD8+CD28-, de acordo a
capacidade da produção de citocinas do tipo TGF-β, IL-4 e IL-10. Sua a atuação
permite regular os mecanismos das respostas imunológicas frente aos antígenos
tumorais, aloantígenos, alégenos, autoantígenos e agentes infecciosos (MAURI et al.,
2008).
22
As células T que apresentam CD8+ em sua superfície são denominadas de
linfócitos TCD8+ ou células T citotóxicas, estas células reconhecem antígenos ligados
ao MHC de classe I, que no homem é denominado HLA-A, HLA-B, e HLA-C. Os
linfócitos TCD8+ agem sobre as células infectadas por vírus, células cancerígenas e
outros microrganismos intracelulares e impede que esses patógenos sofram
replicação (MESQUITA et al., 2010)
Em linfócitos B, responsáveis pela resposta humoral, a ativação ocorre através
de reconhecimento de epítopos antigênicos pelo receptor de célula B (BCR) formado
por imunoglobulinas de membrana, com participação de MHC classe II, além da
participação de moléculas co-estimuladoras presente nos TCD4+, e também das
células dendríticas dos folículos linfóides (MAURI et al., 2008).
Esse contato leva a diferenciação e proliferação dos linfócitos B em
plasmócitos, que são as células produtoras de anticorpos (IgG, IgA, IgM, IgE), com
funções especificas contra os antígenos para os quais foram gerados e geração de
linfócitos de memória.
A resposta imune dos linfócitos B pode ser do tipo: resposta antígenos T
independente e resposta T dependente. A resposta antígenos T independente é
desencadeada por estruturas não protéicas, poliméricas, de baixa afinidade em sua
maioria, pertencente, à classe IgM, em contrapartida, a resposta T dependente a
ativação ocorre nos tecidos linfóides secundários, onde irá ser formado o complexo
linfócitos B-antígenos específicos- linfócitos TCD4+ (MAURI et al., 2008; MESQUITA
et al., 2010).
Durante todo processo de maturação e ativação dos linfócitos T e B ocorre a
produção e expressão de marcadores imunológicos e podem ser identificados através
da imunofenotipagem por citometria de fluxo, assim, esse conhecimento permite a
distinção de um evento fisiológico de uma neoplasia (ZERBINI et al., 2011a; ZERBINI
et al., 2011b).
3.3 NEOPLASIAS HEMATOLÓGICAS
A neoplasia é uma proliferação celular descontrolada associada à supressão
de um ou mais mecanismos regulatórios da diferenciação celular, geralmente resulta
na formação de tumores, estes tumores podem apresentar características benignas
ou malignas (BRAND et al., 2009).
23
A neoplasia hematológica origina células leucêmicas heterogêneas com
fenótipos distintos que determinam seu grupo neoplásico e suas características
permitem a classificação descrita no quadro abaixo (Quadro 1) (ZERBINI et al., 2011a;
ZERBINI et al., 2011b).
Quadro 1 - Principais Neoplasias Hematológicas
NEOPLASIAS HEMATOLÓGICAS
1.Neoplasias mieloproliferativas (NMP)
2.Neoplasias mieloproliferativas/
mielodisplásicas (NMP/MD)
3.Síndromes mielodisplásicas (SMD)
4.Neoplasias de células linfóides precursoras
5.Neoplasias de células linfóides B maduras
6. Neoplasias mielóides e linfóides com
eosinofilia e anormalidades dos genes
PDGFRA, PDGFRB ou FGFR1.
7.Leucemia mielóide aguda (LMA) e Neoplasias
de células precursoras relacionadas.
8.Leucemias agudas de linhagem ambígua.
9.Neoplasias de células T e NK maduras.
10.Linfoma de Hodgkin (LH).
11.Neoplasia de células histiocíticas e
dendríticas.
12.Doenças linfoproliferativasassociadas à
imunodeficiência (DLP-ID).
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Neoplasias de caráter clonal com alterações nos
genes BCR-ABL, JAK2, Kit, PDGFRA, PDGFRB
e FGFR1.
Estão ligadas as alterações nos genes que codificam as cadeias α e β de receptores com
atividade tirosina quinase.
É caracterizada por presença de células clonais
precursoras hematopoiética com citopenias,
displasia de uma das linhagens com deficiência
na hematopoese, aumento da apoptose e
tendência a LMA.
>20% de blastos da linhagem linfóide na MO ou
SP
Aumento de linfócitos B maduro sem
funcionalidade.
São consideradas neoplasias raras derivadas de
células progenitoras pluripotente de origem
mielóide-linfóide. Clinicamente apresenta-se
heterogenia com características de neoplasias
mieloproliferativa ou de origem linfóide.
Blastos acima de 20% em SP quando contada
200 células ou 500 células em MO relacionadas a
alterações genéticas.
Células leucêmicas jovens que apresentam
antígenos de origem linfóide e mielóide
concomitantemente.
Apresenta-se com aumento de células
leucêmicas com marcadores específicos para
células T. E na neoplasia de NK madura ocorre
aumento crônico e indolente da contagem de
células NK, com difícil diagnóstico diferencial
utilizando os processos reacionais.
Acomete os linfonodos (gânglios) do sistema
linfático
Apresenta-se como neoplasias hematológicas,
porém, envolve linfonodos, pele, pulmão e tecidos
de outros sistemas.
Doença hematológica decorrente de doença
autoimune primária, ao HIV, pós- transplante.
Fonte: ZERBINI et al. (2011a ); INCA (2014). PDGFRA: Receptor do Fator de Crescimento Derivado de
Plaquetas, Alfa polipéptido; PDGFRB: Receptor do Fator de Crescimento Derivado de Plaquetas, Beta
polipéptido; FGFR1:Fator de Crescimento de Fibroblastos Receptor 1;MO: Medula óssea; SP: Sangue
periférico.
24
3.4 LEUCEMIA
As leucemias são neoplasias do sistema hematopoiético, resultantes das
alterações do mecanismo de controle da divisão celular.
A leucemia tem como
principal característica o aumento do número de células imaturas na medula óssea
que compromete o processo de maturação e funcionalidade na corrente sanguínea
(CHIARETTI et al., 2014). São classificadas de acordo com a célula de origem, e seu
grau de maturação em quatro categorias, leucemia mielóide e linfóide, forma aguda
ou crônica. A busca pela etiologia das leucemias ainda deve continuar, pois não se
sabe ao certo a origem da doença. Vários autores correlacionam a leucemia a diversos
fatores ambientais e hereditários. As interações complexas entre características
genéticas do hospedeiro a agentes físicos, químicos, biológicos e ambientais são mais
propicio a causar as leucemias agudas (MICHEL, 2008).
Acredita-se que modelos de estudos de experimentação animal possa ajudar
no entendimento leucemogênese, pois, a exposição da espécie animal a agentes
ionizantes e carcinógeno químico causa aumento nos casos de leucemias. Assim,
Larson (2010), sugere que fusão dos genes BCR/ABL em células germinativas de
origem animal não humanos podem ser experimentalmente analisados. Sobre tudo a
translocação do gene ABL no cromossomo 9 ao gene BCR no cromossomo 22,
produza uma proteína ausente em células normais. Essa translocação t(9; 22) dar
origem ao cromossomo Philadelphia (Ph). Está presente em todos os pacientes com
leucemias mielóide crônica (LMC) e em cerca de 1/3 dos adultos com LLA (HALLEK
et al., 2008).
Em relação aos dados epidemiológicos, foram registradas mais de 149.858
internações de pacientes com leucemias - no período de 2010 a junho 2015, no Brasil.
As análises epidemiológicas registraram maiores incidências em homens com
estimativas de 5 casos/100 mil homens e 4 casos/100 mil mulheres. A relação sexo
masculino por região do Brasil, no Norte ocupa a quinta neoplasia mais freqüente, nas
regiões Sul e Sudeste a décima primeira posição e as regiões Nordeste e CentroOeste, encontra-se na oitava e décima posição de neoplasias, respectivamente. Em
relação ao sexo feminino, nas mulheres da região Norte a leucemia é a sétima
neoplasia mais frequente, a décima no Centro-Oeste e Nordeste, no Sudeste é a
décima segunda e no Sul a décima terceira (MS/INCA, 2014).
25
3.5 LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA E LEUCEMIA LINFOCÍTICA CRÔNICA
A leucemia linfoblástica aguda é um distúrbio maligno das células progenitoras
das linhagens linfóides (HARSINI et al., 2014). É subdividida em tipo T e tipo B e tem
como característica principal o aumento das células jovens estagnadas em um dos
estágios da maturação celular. Os principais indicativos são elevações no número de
blastos na medula óssea e sangue periférico, prejuízo na produção das hemácias,
plaquetas e glóbulos brancos maduros (HAMERSCHLAK, 2008).
Geralmente apresenta anemia normocítica/normocrômica, baixa produção de
neutrófilos (neutropenia), plaquetopenia e aumento no número de blastos, o
mielograma apresenta células jovens difusas. Corresponde a 80% das leucemias
aguda na infância (entre 2 a 5 anos de idade) e 20% nos adultos, entretanto, as
crianças apresentam taxa de sobrevida excelente (MICHEL, 2008; ZANICHELLI et al.,
2010; MAUDE, 2015).
As crianças do sexo masculino e indivíduos com ataxia-telangiectasia, trissomia
do cromossomo 21, síndrome de Bloom e neurofibromatose tipo I tem maior
susceptibilidade de desenvolver a doença (MICHEL, 2008; HAMERSCHLAK, 2012;
MS/INCA, 2014; SILVA et al., 2014). As características imunofenotípicas e
morfológicas são importantes fatores para leucemia, pois determina a classificação
em tipo T ou B e seus subtipos (Figura 1).
26
Figura1 - Representação esquemática da leucemia linfóide- tipos e subtipos
Fonte: adaptado INCA (2014). LLA-T: Leucemia linfoblásticaAguda-T; LLA-B: Leucemia linfoblástica
Aguda-B; LLC-B: Leucemia Linfocítica Crônica-B; LLC-T: Leucemia Linfocítica Crônica-T.
3.5.1 Leucemia linfoblástica aguda-T
A Leucemia Aguda Linfoblástica- T (LLA-T) é uma consequência das alterações
nos mecanismos de regulação da divisão celular das células hematopoiéticas das
linhagens linfóide das células precursoras dos linfócitos T. O processo de maturação
é interrompido e condiciona aumento significante de células imaturas na medula óssea
(MO), liberação de blastos imaturos na corrente sanguínea, prejuízos ao sistema
imunológico do indivíduo e diminuição na produção de glóbulos vermelhos e plaquetas
(SILVEIRA, 2008; MICHEL, 2008; REGO et al., 2009; LOPES, 2010).
3.5.2 Marcadores da leucemia linfoblástica aguda-T
A LLA-T é uma neoplasia que pode ser diagnosticada e classificada por um
conjunto de marcadores imunológicos expressos durante seu estágio de maturação
(MICHEL,
2008;
PIER,
2008;
CHIARETTI
et
al.,2014;
DORGEN
et
al.,
2014;SUKUMARAN et al., 2015). Segundo Dorgen e colaboradores (2014), os
principais marcadores que podem ser utilizados para diagnosticar e classificar a LLAT são CD1a, CD2, CD4, CD45, CD45RA, CD99, HLADR, TCRαβ, TCRβcy, TCRγδ,
porém, outros marcadores (CD3 Cit/Sm, CD5, CD33, CD34, CD44, CD56, CD117 e
TdTNu) são indicados para determinação da LLA-T (Quadro 2). Esses marcadores
27
fazem parte do painel para determinação da LLA-T criado pelo grupo Euroflow,
atualmente referência para os casos de neoplasias hematológicas da linhagem T.
O marcador CD2 faz parte do grupo de marcadores para LLA-T e é considerado
um marcador de células imaturas (PIER, 2008; DORGEN et al., 2012; CHIARETTI et
al.2014), especificamente está presente em células leucêmicas da LLA-Pré-T
(CHIARETTI et al.,2014). No entanto, apenas sua positividade não define o
diagnóstico, sendo necessário associar a outros marcadores (p.e. CD7) para
confirmação.
O CD3Cit/Sm é apontado como um importante marcador para investigação das
leucemias de células T (MICHEL, 2008; PIER, 2008; LOPES, 2010; CHIARETTI et al.,
2014; SUKUMARAN et al., 2015). Para Ikoma (2015), o CD3 Cit/Sm são marcadores
que podem ser utilizados na quantificação de blastos T, sobre tudo a sua utilização
deve estar associada ao marcador CD7, pois as células NK também o expressam. Por
sua vez, Rawstron (2015), sugere que os marcadores CD3 Cit/Sm devem ser
utilizados como forma de exclusão de neoplasias relacionadas as células B. Larson
(2010) aprova o CD3 cit/Sm para fazer parte do painel de marcadores controle na
determinação da leucemia mielóide aguda (LMA), uma vez que esses marcadores são
próprios dos linfócitos T (LOPES, 2010), assim permitirá a imunofenotipagem correta
da amostra. Por fim, o CD3 cit/Sm foi inserido no painel de marcadores validados pelo
grupo EuroFlow, orientado por Dorgen e colaboradores (2012), para diagnóstico da
LLA-T.
O CD3 citoplasmático foi incluído no painel de marcadores para o diagnóstico
das LLA-T, pois demonstrou positividade para 10 casos (1 caso de B / T e 9 casos de
T/mielóide) dos 506 casos de leucemias submetidos a imunofenotipagem
(SUKUMARAN et al., 2015). Por sua vez, o CD5 está presente na maioria das células
imaturas e é utilizado em painéis para classificação das leucemias da linhagem
linfóide, porém, sua expressão não é especifica das células T, contudo, outros blastos
(p.e. NK) também expressam esse marcador.
Segundo REGO et al (2009), o CD45 é bastante utilizado na imunofenotipagem
visto que os blastos apresentam baixa expressão desse marcador. No entanto, CD34
apresenta-se com alta intensidade, assim é utilizado como marcador de células
imaturas, porém não faz parte do painel do grupo Euroflow para investigação da LLAT. Entretanto, Béné (2011), sugerem que o CD34 e o CD45 devem fazer parte dos
painéis para determinação das LLA-T através da imunofenotipagem.
28
Quadro 2- Principais marcadores imunológicos das leucemias linfoblástica aguda
elinfocítica crônica de células T
LLC-T
LLC-T
LLA-T
LLA-T
MARCADORES IMUNOLÓGICOS DAS LEUCEMIAS LINFOBRÁSTICAS E LINFOCITICAS T
LLA
CDs
Autor (es)
LLC
CDs
Autor (es)
CHIARETTI et al.,
CD3cit/Sm
CD4
LOPES, 2010
2014; DORGEN et
CD7
al., 2014; MICHEL,
CD8
LOPES, 2010
2008; PIER, 2008;
CD3
SUKUMARAN et
TCR alfa e beta
al., 2015
DORGEN et al.,
CD2
2014
CD5
CD10
SAULO, 2011
CHIARETTI et al.,
CD5
TdT
2014; DORGEN et
al., 2014
CD1a
CD103
LOPES, 2010
CD34
SAULO, 2011
CD14,
CD1a
FMC 7
CD4
CD8
CD10
CD33
CD44
DORGEN et al.,
CD45
CD45RA
2014
CD56
CD99
CD117
HLADR
TCRαβ
TCRβcy
TCRγδ
TdTNu
LLA-T- Leucemia linfoblástica Aguda-T; LLC-T- Leucemia Linfocítica Crônica-T.
3.5.3 Marcadores dos subtipos da leucemia linfoblastica da linhagem-T
A LLA-T apresenta subtipos que estão relacionados aos estágios de maturação
que ocorre estagnação de clones leucêmicos. Esses clones expressam marcadores
imunológicos que são usados como parâmetro para determinar os subtipos. Assim, a
LLA-T é subclassificadas em LLA-Pró-T, LLA- Pré-T, LLA-T cortical e LLA- T maduros
(Quadro 3).
29
Quadro 3- Marcadores imunológicos dos subtipos da leucemia linfoblástica e
linfocítica de células T
LLA-T
SUBTIPOS DAS LEUCEMIAS LINFÓIDES T AGUDAS E CRÔNICAS
CDS
Autor (s)
LLC-T
CDs
Pró-T
CD3cit+
CD7+
CD2+
CD3cit+
CD5+
CD7+
Pré-T
LLA-T Cortical
CD1a+
CD3c+
CD3Sm
CHIARETTI et
al.,2014
CHIARETTI et
al.,2014;
SUKUMARAN
et al., 2015;
BÉNÉ et al.,
2011
CHIARETTI et
al.,2014
Pró-linfocítica T
CD3+
CD2+
CD4+
CD5+
CD7+
CD8CD16CD25-/+
CD56CD57-
Autor (s)
PIER, 2008
(fraco)
T- Maduros
CD3cit+
CD1aCD3Sm
CHIARETTI et
al.,2014,
SUKUMARAN
et al., 2015
(fraco)
Cit- citoplamático; Sm- superfície de membrana; + (presença); -/+ ( presença ou ausência)
Na LLA-Pró-T são observados os marcadores CD3Cit+ e CD7+ (CHIARETTI et
al.,2014). Entretanto, na LLA-Pré-T são observados blastos poucos diferenciados que
segundo Chiaretti (2014) e Sukumaran (2015), apresentam os marcadores CD2+,
CD3Cit+, CD5+, CD7+ determinantes na subclassificação. Para a LLA-T cortical os
CDs utilizados são CD1a+, CD3cit+, CD3Sm (fraco). Na LLA- T maduros foram
observados CD3Cit+, CD1a- e CD3Sm (fraco) (CHIARETTI et al., 2014;
SUKUMARAN et al., 2015). É observado que esses marcadores estão presentes nos
mais variados subtipos de LLA-T, por tanto, a aplicação da técnica da citometria de
fluxo para sua determinação deve ser cuidadosa para evitar resultados falsos ou
indeterminados.
3.5.4 Leucemia linfoblástica aguda-B
Assim como a LLA-T, a LLA-B é resultante do descontrole da proliferação de
células jovens na medula óssea e liberadas para corrente sanguínea, acarretando
infiltrações em sítios extramedulares (ZANICHELLI et al., 2010). É mais comum em
crianças, entre 2 a 5 anos de idade com 85% dos casos e nos adultos com 75%
(INCA,2014).
A identificação da linhagem é fundamental e de grande relevância para o
diagnóstico, classificação, terapia dos pacientes e prognósticos (MICHEL, 2008;
LOPES, 2010; BERTHO et al., 2013).
30
3.5.5 Marcadores da Leucemia Linfoblástica Aguda da linhagem- B
Os principais marcadores imunológicos das células da linhagem B que
permitem diagnóstico e classificação da LLA-B são HLA-DR, TdT, CD10, CD19,
CD20, CD21 e CD22c (imunocitopasmático), CD34, CD79 e IgS (imunoglobulina de
superfície) Kappa ou Lambda (Quadro 2). Para que o caso seja definido da linhagem
B, é preciso que seja encontrado os marcadores CD19 e CD79a. Com esses achados
as leucemias linfoblásticas agudas de tipo B podem ser subclassificadas em leucemia
linfoblástica aguda Pró-B, leucemia linfoblástica aguda tipo comum, leucemia
linfoblástica aguda Pré-B ou leucemia linfoblástica aguda B- maduro (MICHEL, 2008).
O quadro 4 demonstra uma síntese dos principais marcadores utilizados para
o diagnóstico da leucemia de células B. Esses achados remetem a criação de painéis
de anticorpos monoclonais para o diagnóstico por imunofenotipagem dessa neoplasia.
Todavia a presença de CDs (CD5+, CD19+, CD23+, CD20 fraco, CD79b fraco ou
ausente), imunoglobulina de superfície monoclonal cadeia leve Kappa e Lambda fraca
são importantes achados (GARCÍA-CANDEL et al., 2012; KERN et al., 2012). A
monoclonalidade de linfócitos que apresentam CD5 na ausência de marcadores T
(CD19, CD20, CD22, CD79b e IgS é sugestivo a LLC-B (REGOet al., 2009).
A LLA-B apresenta marcadores característicos (CD19, CD79a, CD10, HLA-DR
e TdT+) que devem ser considerados na investigação da doença, podendo ser
também inserido ao painel de investigação os CD20 e CD22. No entanto, nota-se que
o CD5+, CD23+, na presença de IgM e IgDlow e na ausência de marcadores de
linfócitos T, são importantes para a investigação diferencial desse tipo de leucemia
(LOPES, 2010). Para Craig (2008), o marcador CD5+ deve ser associado a outro
marcador (p.e. CD10) devido a sua expressão em células B normais.
31
Quadro 4 - Principais marcadores imunológicos das leucemias linfoblástica aguda e
linfocítica crônica de células B.
MARCADORES IMUNOLÓGICOS DAS LEUCEMIAS LINFOBRÁSTICAS E LINFOCITICAS B
LLA
CDs
Autor (es)
LLC
CDs
Autor (es)
CD10, CD19 PIER, 2008;
CD5
PIER, 2008; GARCÍACHIARETTI et al.,
CANDEL,et al.,2012; KERN,
CD20,
CD23
CD79a
2014;
2012; LOPES, 2008
REICHARD et al.,
2011
CD24
LLA-B
LLA-T
CD34, CD45
Kappa ou
Lambda sup
REICHARD et al.,
2011
IgMcit
FALCÃO, 2009
IgMem
CD38
CD13
Legenda: TdT-
SAKUMARAN et
al., 2015
PIER, 2008, GARCÍACANDEL,et al.,2012; KERN,
2012; LOPES, 2008
HLA-DR
LOPES, 2010
CD22 (fraco)
PIER, 2008; GARCÍACANDEL,et al.,2012
LLC-T
TdT+
CD19
CD20(fraco)
PIER,2008;CHIAR
ETTI et al., 2014;
REICHARD et al.,
2011
PIER, 2008;
REICHARD et al.,
2011
CHIARETTI et
al.,2014;
LLC-B
CD22c
CD11c
FMC7(fracoo
uausente)
CD25
PIER, 2008; GARCÍACANDEL,et al., 2012
PIER, 2008; GARCÍACANDEL,et al.,2012
PIER, 2008
CD10
PIER, 2008
CD79b
(fracoouause
nte)
TdT, CD24
CD56, CD38
CD103,
CD16
Kappa ou
lambda
PIER, 2008;GARCÍACANDEL,et al.,2012; KERN,
2012;
FALCÃO, 2009
LOPES, 2010; GARCÍACANDEL et al.,2012
desoxinucleotidil-transferase, cit- citoplamático,
3. 5.6 Marcadores dos subtipos da leucemia linfoblástica e linfocítica da
linhagem-B
O quadro 5 apresenta a relação de marcadores imunológicos utilizados para
determinação e subclassificação das leucemias aguda e crônicas da linhagem células
B.
Vários autores apontam tais marcadores como determinantes para as
subclassificações dessas leucemias (MICHEL, 2008; PIER, 2008; CHIARETTI et al.,
2014).
32
Quadro 5 - Marcadores imunológicos dos subtipos da leucemia linfoblástica e
linfocítica de células B
SUBTIPOS DAS LEUCEMIAS LINFÓIDES B AGUDAS E CRÔNICAS
CDs
Autor (s)
LLC-B
CDs
CD19+
Ig sup +
CD10+
PIER, 2008,
CD19+
MICHEL,2008;CHIARETTI
CD20/CD22 +
et al.,2014
CD23 CD5-/+
PIER, 2008, CHIARETTI et
CD34Pré-B
CD11c al.,2014
FMC7+
CHIARETTI et al.,2014
TdT+
PróCD25 -/+
CD22
linfocítica CD10CD79aCy+
B
CD79b+
CHIARETTI et al.,2014
CD19+
CD34
Pró-B
CD22
TdT+
CD79aCy+
CD10Legenda: Ig- imunoglobulina, sup- superfície, positivo (+), negativo (-)
LLA-B
Autor(s)
PIER,
2008
Todos os CDs utilizados para montagem do painel são importantes, no entanto,
os marcadores CD19+ e CD79+ são característicos desse tipo de leucemia aguda, e
por ser quase que exclusivo de células B e permanecer durante o processo de
desenvolvimento, diferenciação, são necessários estarem presentes no painel para
determinação dessa neoplasia (MICHEL, 2008; PIER, 2008; CHIARETTI et al.,2014).
3.5.7 Leucemia linfocítica crônica
A leucemia linfocítica crônica também denominada leucemia linfoproliferativa
crônica é uma neoplasia que apresenta malignidade e afeta as células maduras da
linhagem linfóide (GARCÍA-CANDEL et al., 2012). É uma doença heterogênea com
aumento gradativo do número de linfócitos no sangue periférico e órgãos do sistema
imunológico, é considerada a leucemia mais vistas pelos hematologistas e sua
prevalência aumenta com a idade (BYRD, 2015). Apresenta baixa incidência em
indivíduos <50 anos (5 casos/100.000 habitantes, 20% de todo diagnóstico) e maior
incidência acima dos 70 anos (30 casos/100.000) com média de diagnóstico entre 6470 anos, geralmente os homens são mais acometidos pela a LLC (2:1)
(LAKOUMENTAS et al., 2012). A etiologia é desconhecida até o presente momento,
pois não foi demonstrada relação com radiações e poucos casos apresentaram
relação com o meio ambiente, vírus ou agentes tóxicos (MARCO et al., 2013)
Na LLC, alguns pacientes podem sem assintomáticos sem necessidade de
tratamentos, enquanto outros podem evoluir com sinais e sintomas agressivos antes
33
ou após o diagnóstico (VERONESE et al., 2015). A patologia cursa geralmente com
linfocitose (>5.0x109/dL) por pelo menos 90 dias, esplenomegalia, adenopatias,
infecções de repetições, infiltração tissular ou insuficiência medular, não sendo regra,
pois alguns pacientes encontram-se assintomáticos (KERN et al., 2012).
3.5.8 Marcadores da leucemia linfocítica crônica da linhagem-T
Na LLC-T são observados os marcadores CD1a, CD3, CD4, CD5, CD7, CD8,
TCR alfa/bet, CD10, CD14, CD103, TdT e FMC7 (Quadro 1) (LOPES, 2010; SOUTO,
2011).
3.5.9 Marcadores dos subtipos da leucemia linfocítica da linhagem-T
Os marcadores imunológicos característicos das leucemias linfocíticas de
células T estão descritos no quadro 4. São marcadores importantes na determinação
e subclassificação das LLC-T, a depender da sua expressão nas células T maduras
determina-se o subtipo da LLC-T (CHIARETTI et al., 2014).
3.6 CARACTERÍSTICAS CLINICAS DAS LEUCEMIAS
Mesmo apresentando características imunofenotípicas distintas as leucemias
podem apresentar características clínicas peculiares comuns entre si. Os indivíduos
com leucemia apresentam quadro clinico característico, tais como, aumento de
blastos leucêmicos na medula óssea que dificulta a produção de células normais
capazes de desempenhar as funções imunológicas (leucócitos) e nas trocas gasosas
(eritrócitos) (MARCO et al., 2013; KERN et al., 2012).Apresenta-se leucocitose com
febre, anemia com queixas de fadigas constante, e baixa produção de plaquetas, na
maioria das vezes podendo apresentar sangramento cutaneomucoso. A depender do
tipo de leucemia o paciente ainda pode apresentar quadro clinico com infiltração de
outros tecidos (fígado, baço, linfonodos, meninges e boca (MARCO et al., 2013; KERN
et al., 2012; INCA, 2014).
34
3.7 DIAGNÓSTICO DAS LEUCEMIAS DE ORIGEM LINFÓIDE
O grupo FAB determina que indivíduos com blastos acima de 30% é sugestivo
a um quadro leucêmico, entretanto, a OMS sugere 20% de blastos em sangue
periféricos ou medula óssea como alerta para suspeita da leucemia (BRAND et al.,
2009). Para o diagnóstico da leucemia é necessário hemograma, esfregaço
sanguíneo e da medula óssea, biópsia medular ou mielograma, citogenética, biologia
molecular e imunofenotipagem por citometria de fluxo para diferenciação das
linhagens leucêmicas (DONGEN et al., 2012).
Os resultados dos exames
hematológicos (hemograma, leucograma,
plaquetograma, esfregaço sanguíneo e medular), citogenética, biologia molecular e
atualmente a imunofenotipagem por citometria de fluxo, são necessários para a
classificação da leucemia linfóide (Brand et al., 2009). Cada um apresenta sua
peculiaridade para o diagnóstico, classificação, prognóstico e monitoramento da
doença (SILVEIRA et al., 2008).
Os exames hematológicos apontam os primeiros achados para suspeita das
doenças, irá sinalizar eventos importantes, por ex.: presença ou ausência de
leucocitose, linfocitose, neutropenia ou plaquetopenia (BEZERRA et al., 2011). O
microscopista ao analisar o esfregaço sanguíneo e/ ou medular deverá fazer uma
descrição das características morfológicas das células observadas indicando se há
presença de blastos granulares ou agranulares, essa descrição é importante para que
o médico hematologista solicite exames mais específicos.
Mesmo sendo acessível e rápido, o hemograma é considerado um exame
relativamente simples não é possível dizer através dele o fenótipo necessário para
determinação da leucemia linfoide necessitando de exames complementares de
citogenética e imunofenotipagem para o diagnóstico correto (SOULIER et al., 2015).
As técnicas mais usadas para determinar o padrão genético das leucemias
são:
citogenética
convencional,
citogenética
molecular
(FISH:
hibridização
fluorescente in situ; CGH: hibridização genômica comparativa), além dos métodos de
biologia molecular (Southern blotting, PCR), entre outras (HALLEK et al., 2008;
QUIXABEIRA et al., 2008). As analises citogenéticas são preconizadas pela OMS
para confirmação das leucemias. Através dessas análises é realizado prognóstico e a
estratégia para o tratamento.
35
A citogenética é importante para determinar o genótipo das amostras com
suspeitas de leucemia e fornece várias informações, tais como: confirmação do
diagnóstico, informação sobre a classificação e estadiamento da doença, clonalidade
celular do clone leucêmico, evidencias da linhagem celular do clone leucêmico,
indicação dos mecanismos de leucemogênese, demonstração de fatores etiológicos
implicado no processo neoplásico e monitoramento de transplante medular (HALLEK
et al., 2008; OLIVEIRA et al., 2014).
Geralmente cerca de 80% das leucemias agudas apresentam anormalidades,
sua determinação é fundamental para estratégia do tratamento. As alterações
cromossômicas e aquelas associadas a alterações de expressão gênica são as duas
principais categorias genéticas estudadas nas leucemias através da citogenética
(QUIXABEIRA et al., 2008)
A citogenética convencional ainda é caracterizada uma das principais técnicas
utilizadas para determinação das anormalidades cromossômicas das células
hematopoiéticas, permite a análise global do cariótipo com informações genômicas
importantes relacionadas à deleção, inserção ou translocação dos cromossomos (
OLIVEIRA et al., 2014). As desvantagens estão relacionadas ao uso do material
retirado diretamente da medula óssea tornando uma técnica indiretamente invasiva, o
material colhido deve está em processo de metáfase, além do mais, é importante que
os cromossomos alcancem o máximo de condensação e alinhamento, caso contrário
é difícil a visualização das anormalidades (HARRISON et al., 2010).
Cerca de 80% das alterações citogenéticas presente na LLC podem ser
identificadas pela técnica de FISH. Essa técnica é utilizada para a análise das
anormalidades genéticas moleculares e tem papel importante nas classificações das
leucemias linfóides. A análise tem valor no prognóstico e na decisão terapêutica do
paciente. Por tanto, recomenda-se que a citogenética pode ser realizada antes e
depois do tratamento. Apresenta vantagens quando comparada a citogenética
convencional, apresentando uma maior sensibilidade, no entanto, é uma técnica
relativamente com custo elevado. (HALLEK et al., 2008).
As evidências apontam que a imunofenotipagem por citometria de fluxo
complementa os achados do estudo anatomopatológico/imunoistoquímico, permitindo
um diagnóstico hematopatológico rápido e preciso das doenças linfoproliferativas.
Bezerra
e
colaboradores
(2011),
afim
de
evidenciar
e
correlacionar
a
Imunofenotipagem por citometria de fluxo ao exame de anatomia patológica de
36
doenças linfoprolifetivas avaliou 157 amostras de biopsias e punções aspirativas de
gânglios ou nódulos de 142 pacientes durante 10 anos (1999 -2009). As
concordâncias entre os resultados dos exames alcançaram 81% entre as duas
técnicas.Os resultados apontados pela citometria de fluxo elevaram essa técnica
como
uma
das
melhores
para
estudos
imunohematológicos,
tornando
a
imunofentotipagem mais especifica e sensível na classificação e monitoramento das
leucemias (SILVEIRA et al., 2008).
3.8 IMUNOFENOTIPAGEM POR CITOMETRIA DE FLUXO
3.8.1 Princípios técnicos da imunofenotipagem por citometria de fluxo
O aparelho citômetro de fluxo surge de uma variedade de ferramentas e
tecnologias desenvolvidas na área da computação, biotecnologia, tecnologia de raios
laser e da eletrônica que utiliza o princípio físico, químico e biológico para identificação
celular. É formado por uma fonte de luz (laser) que incide sobre as células marcadas
por fluorocromos para excitação dos mesmos; sistema de fluxo continua
hidrodinâmico; câmara de fluxo; sistema ótico; fotosensores e um sistema de software
para visualização e interpretação dos resultados, conforme demonstrado na figura 2
(BERTHO et al., 2013).
Por meio de um sistema fluídico as células em suspensão são transportadas
para dentro de uma câmera de fluxo para serem interceptadas pelo sistema de laser.
O sistema fluídico é composto basicamente por compressor de ar que determina a
passagem da amostra em diferentes velocidades, podendo ser ajustada em baixa,
média ou alta (BERTHO et al., 2013).
A câmara de fluxo é determinante para a análise da amostra pois permite que
as células passem em fileira, em um fluido de revestimento, individualmente para
serem interceptadas pelo laser (QUIXABEIRA et al., 2008).
O sistema óptico é composto por filtros e espelhos com a capacidade de captar
e direcionar a luz emitida pelos fluorocromos e pela dispersão da luz do laser. A
dispersão da luz tem propriedade de classificar as células de acordo a sua morfologia
e granulosidade, baseado no sistema de lente frontal (Forward Scatter- FSC) que
capta a dispersão ou espalhamento da luz para determinar a morfologia celular e outra
lateral (Side Scatter-SSC) com a capacidade de terminar as características
intracitoplasmáticas (granulosidade celular) (WILKERSON, 2012).
37
Após a excitação dos fluorocromos os sinais emitidos são captados pelo
sistema óptico e direcionado para os fotomultiplicadores (FL1,FL2, FL3, FL4), que
detectam a intensidade de fluorescência das células marcadas, identificando em uma
mesma amostra populações celulares distintas através de software específico
(QUIXABEIRA et al., 2008).
Figura 2- Representação esquemática do funcionamento do citomêtro de fluxo
Fonte: Bertho et al., (2014). FSC - dispersão frontal; SSC – dispersão lateral; PMT – fotomultiplicador;
dotplot – gráfico de pontos.
3.9 A IMPORTÂNCIA DA IMUNOFENOTIPAGEM POR CITOMETRIA DE FLUXO NO
DIAGNÓSTICO DA LEUCEMIA LINFÓIDE
Este é um método diagnóstico de extrema importância porque permite
diferenciação dos clones leucêmicos através das características fenotípicas, sendo
indispensável para o entendimento, tratamento, prognóstico e acompanhamento da
doença, que eleva a determinação para 99% dos casos (REGO et al., 2009; SILVEIRA
et al., 2008; PAIVA et al., 2010). O quadro 6 se refere aos principais materiais
38
biológicos utilizados no diagnóstico através da imunofentotipagem por citometria de
fluxo.
Para a realização da técnica da imunofenotipagem por citometria de fluxo é
necessário um painel de anticorpos monoclonais criados a partir da suspeita
diagnósticos
dos
especialistas
no
intuito
de
analisar
qualitativamente
e
quantitativamente as populações e características celulares. Segundo Chiaretti
(2014), a imunofenotipagem por citometria de fluxo tornou-se um importante
procedimento padrão para determinação das leucemias devido a sua alta
sensibilidade e especificidade.
Vários estudos têm demonstrado resultados satisfatórios na utilização da
citometria de fluxo para caracterização imunofenotípica da clonalidade celular para
diagnóstico das leucemias. Um estudo desenvolvido por Lopes (2010), a fim de avaliar
os padrões de expressões de antígenos procedentes de células leucêmicas analisou
amostras de 80 pacientes (45 homens e 35 mulheres, média de idade 65 anos) pelo
método da imunofenotipagem, tendo como resultado a detecção dos marcadores
monoclonais para células B (CD5+, CD19+, CD20+, CD23+ e HLADR+), sendo que
na maioria dos casos (59,7%) as células leucêmicas dos pacientes expressaram IgM
e IgD de baixa intensidade e cadeia leve Kappa. Esse estudo demonstrou através
imunofenotipagem importantes marcadores para o diagnóstico da leucemia linfocítica
crônica-B, evidenciando marcadores específicos.
Iwamoto e colaboradores (2011), utilizaram a citometria de fluxo para avaliar a
expressão de antígenos em crianças com leucemia linfoblástica aguda em um grupo
de 1.774 crianças. Foram observados que os marcadores CD3Cit e CD7
apresentaram positividades para todos os casos. Do total, foram encontrados 87% na
LLA-B e 13% na LLA-T. Os antígenos CD2, CD5 e TdT corresponderam a 80% das
LLA-T.
39
Quadro 6 - Forma de uso e características das amostras biológicas na
imunofenotipagem por citometria de fluxo
CARACTERÍSTICA DA AMOSTRA BIOLÓGICA, ENVIO, E VIABILIDADE NA
IMUNOFENOTIPAGEM POR CITOMETRIA DE FLUXO
Tipo da amostra
Anticoagulant
e usado
Volume
(mL)
Tempo útil
(horas)
Temperatura
para o envio
Conservação
Aspirado de
gânglio ou
tumores
Líquidos
biológicos (Líquor,
L. Pleural,
ascético, etc)
Massas tumorais
(gânglio, baço,
etc)
Medula óssea
NA
NA
2-3
Temp.
ambiente
NA
10-20
2-3
Temp.
ambiente
Em solução SF
0,9% ou meio
RPMI
NA
NA
NA
2-3
Temp.
ambiente
EDTA ou
Heparina
EDTA ou
Heparina
2-3
24
5-10
24
Temp.
ambiente
Temp.
ambiente
Sangue
Em solução SF
0,9% ou meio
RPMI
NA
N
Fonte: Adaptado de Souto (2011) - NA - Não atribuído, SF- Soro fisiológico, EDTA- ácido
etilenodiamino tetra-acético , RPMI- Roswell Park Memorial Institute Medium
3.9.1 Avanços, vantagens e limitações da citometria de fluxo
Após o advento da citometria de fluxo ocorreu uma melhora considerável na
identificação e analises das estruturas biológicas. A incorporação dos diversos
hardwares e softwares para estudar e analisar melhor a natureza celular, bem como,
o desenvolvimento de lasers cada vez mais sofisticados, produção de sondas
fluorescentes e reagentes, automação, gerações de sinais digitais mais claros tem
permitido com precisão a análiseda região intra e extracitoplasmática das células,
assim como, a caracterização mais adequada dos eventos imunológicos e
moleculares fundamentando a saúde e a doença (O’DONNELL et al., 2013).
Para Craig e colaboradores (2008), a citometria de fluxo se tornou uma
ferramenta de grande importância para a imunofenotipagem nessas últimas décadas
e ressalta a importância dos profissionais possuírem conhecimentos elevados sobre
as características da linhagem celulares em estudo. Assim, dentre as vantagens
apresentadas pela imunofenotipagem por citometria de fluxo a mais notada é a
capacidade de possuir uma ampla aplicação para o diagnóstico e nas investigações
para fins de resultados de pesquisas (SILVEIRA et al., 2008)
Entretanto, a técnica também possui algumas desvantagens, dentre elas,a
variabilidades das expressões antigênicas, perda celular (por fragilidade no momento
40
da preparação) e trabalhar com material a fresco com um número considerável de
células neoplásicas (BEZERRA et al., 2011). Outra limitação da técnica é manter as
células em suspensão para não ficarem presas nas placas de culturas (ROBINSON
et al., 2012). Um dos grandes desafios ainda é padronizar os protocolos entre os
laboratórios e tornar o prognóstico menos confuso.
A tabela 1 faz uma breve
comparação entre as principais vantagens e desvantagens da imunofenotipagem por
citometria de fluxo multiparamétricas.
Tabela 1 - Principais vantagens e desvantagens da imunofenotipagem por citometria
de fluxo
Imunofenotipagem por Citometria de Fluxo
Vantagens
Analise
diferencial
de
células
Desvantagens
normais
e
Variabilidades das expressões antigênicas.
anormais em MO ou SP.
Perda celular.
Análise heterogênea e clonalidade das células
Material a fresco.
malignas.
Número considerável de células neoplásicas.
Análise multiparamétricas das amostras em
Manter as células em suspensão.
único tubo.
Encontrar profissional treinados.
Alto grau de especificidade e sensibilidade.
Custo elevado.
Detecção simultânea de marcadores múltiplos
em população de células distintas.
Identificação objetiva de antígenos mutados coexpressos.
Resultados rápidos.
Fontes: Craig (2008); Quixabeira (2008); Silveira et al. (2008); Bezerra et al. (2011); Robinson et al.
(2012); Bertho et al. (2014);
41
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O avanço técnico-científico no diagnóstico das doenças imunohematológicas é
inegável e sem dúvida a imunofenotipagem por citometria de fluxo transformou o
padrão do diagnóstico das leucemias.
A etiopatogenia da leucemia linfóide ainda não está completamente elucidada,
entretanto, fatores ambientais, genéticos, físicos, químicos, biológicos e infecções por
alguns tipos de vírus podem desencadear esse tipo de neoplasia. Acredita-se que as
alterações fenotípicas apresentadas pelas células da origem linfóide são
consequências dessas interações. Os estudos epidemiológicos, análise citogenética
molecular em conformidade com a imunofenotipagem podem ajudar nesta
compreensão.
A literatura mostra que o painel para fenotipagem das células leucêmicas varia
entre os laboratórios e que o entendimento da fisiopatologia da doença é fundamental.
No entanto, alguns marcadores são essenciais para determinação da linhagem
leucêmica envolvida. Os marcadores CD1a, CD2, TCRαβ, TCRγδ, CD3 Cit/Sm
definem LLA-T, enquanto CD10, CD19, CD20 , CD22c, CD79a/b, Kappa ou Lambda
e IgM determina LLA-B. Para LLC-T, os marcadores CD4, CD7, CD8, CD3, TCR
alfa/beta, CD1a , foram os mais indicados, enquanto para a LLC-B, CD23, CD20,
CD19, CD22 (fraco), CD10, CD79b(fraco ou ausente), FMC7 (fraco ou ausente).
Muitos dos resultados apontaram que essa técnica apresenta alta especificidade,
sensibilidade, confiança, resultados rápidos e precisos. Assim, pode ser usada nos
grandes centros de oncologia para as análises de marcadores imunológicos para
confirmação, classificação e monitoramento das leucemias linfoides de células B e T
com resultados em um curto intervalo de tempo para favorecer tratamentos imediatos
aos pacientes.
Neste estudo não avaliamos como ocorre à acessibilidade dos pacientes usuários
do sistema único de saúde- SUS à imunofenotipagem por citometria de fluxo.
Indagações do tipo, quantos aparelhos de citometria de fluxo existem no Brasil e
quantos são disponibilizados para o uso dos pacientes do SUS ainda estão sem
reposta. Esse tipo de questionamento é necessário e importante para as políticas de
saúde pública do Brasil, pois, deve-se avaliar a importância e inserção dessa técnica
nos centros de oncologia imunohematológica para o diagnóstico correto da doença.
42
Por fim, observa-se e sugere-se a necessidade de um consenso nacional para o
uso de painéis de marcadores monoclonais para classificação e diagnostico
diferencial das leucemias linfóides através da imunofenotipagem por citometria de
fluxo.
43
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