R. Periodontia - Junho 2009 - Volume 19 - Número 02 INFECÇÃO DE SÍTIOS PERIIMPLANTARES POR MICRORGANISMOS PERIODONTOPATOGÊNICOS RELATO DE CASO Peri-implant site infection by periodontopathogenic microorganisms - A case report José Ricardo M. Ferreira1, Márcio Barcelos2, Guaracilei Maciel Vidigal Jr3 RESUMO A colonização do sítio periimplantar por microrganismos periodontopatogênicos está relacionada à inflamação da mucosa na região, condição denominada mucosite, que pode evoluir para periimplantite em caso de perda óssea ao redor do implante, sendo considerada a causa mais frequente de perda de implantes. O objetivo deste trabalho é, através de uma revisão de literatura e da descrição de um caso clínico, identificar os prováveis nichos destes microrganismos. UNITERMOS: periimplantite, microrganismos, implantes dentários. R Periodontia 2009; 19:45-53. 1 Especialista em Periodontia, Mestre em Implantologia Oral pela UNIGRANRIO Especialista e Mestre em Implantologia Oral pela UNIGRANRIO 3 Professor Adjunto Doutor e Coordenador do curso de Mestrado em Implantologia Oral da UNIGRANRIO 2 Recebimento: 14/10/08 - Correção: 13/01/09 - Aceite: 19/03/09 INTRODUÇÃO Os implantes osseointegrados, após os trabalhos de Brånemark somente com pacientes edentados totais, passaram a ser utilizados também em casos de edentulismo parcial. Nesse momento, a estética tornou-se um novo parâmetro a ser considerado no resultado final. O sucesso deste tipo de tratamento passou a depender, a partir de então, da obtenção e manutenção da osseointegração em curto, médio e longo prazo de maneira assintomática e com tecidos mucosos circunjacentes saudáveis. Contudo, os insucessos nos tratamentos com implantes poderão ocorrer a par tir de uma periimplantite, que se caracteriza pela perda de suporte ao redor do implante através de um processo inflamatório. Ainda hoje, os mecanismos associados às perdas dos implantes não estão bem esclarecidos. Os dois principais fatores etiológicos relacionados à periimplantite são: o biofilme bacteriano e as cargas oclusais excessivas. Estes fatores etiológicos apresentam semelhanças e diferenças quando comparada a sua ação na periodontite. As principais diferenças estão relacionadas às superfícies dos implantes e sua relação com o biofilme bacteriano e com o tecido conjuntivo, além da ausência do ligamento 45 periojun2009 08-06-10.pmd 45 6/8/2010, 10:38 AM R. Periodontia - 19(2):45-53 periodontal. Consequentemente, torna-se fundamental o estudo microbiológico do biofilme perimplantar para o entendimento da etiopatogenia da periimplantite. REVISÃO DE LITERATURA A correlação entre o acúmulo de biofilme bacteriano e o estabelecimento de uma reação inflamatória foi inicialmente estabelecida por Löe et al. (1965). No complexo dente-gengiva, essa condição é denominada gengivite e na mucosa periimplantar, mucosite (Lang et al., 2000). Na década passada, o estudo da gengivite experimental em humanos foi reproduzido abordando sítios periimplantares. Vinte pacientes reabilitados com próteses fixas instaladas sobre implantes osseointegrados foram instruídos a interromper as medidas de higiene oral durante três semanas. O índice de placa, índice gengival, sangramento à sondagem, profundidade de sondagem, perda de inserção e a análise da microbiota supra e subgengivais, por microscopia de contraste de fase, foram acompanhados durante o estudo. Os valores desses parâmetros sofreram alterações em sítios periimplantares e dentais de forma similar e proporcional, não havendo diferenças estatisticamente significantes (Pontoriero et al., 1994). Procurando avaliar o desenvolvimento do infiltrado inflamatório, decorrente do acúmulo de biofilme bacteriano, 12 pacientes parcialmente edentados foram selecionados para receber implantes Brånemark System®. Aproximadamente sete meses após a conexão dos implantes aos pilares protéticos, foram realizadas duas biópsias em cada paciente; uma em tecido periodontal e outra em tecido periimplantar. As biópsias foram realizadas de forma quadrangular com 4 mm de lado e a margem superior correspondendo à margem gengival livre. Os pacientes foram instruídos a suspender a higienização por 21 dias. No 21º dia novas biópsias foram colhidas. O infiltrado inflamatório tecidual apresentou, em média, 0,03 mm² no início do estudo. Houve, em média, um aumento para 0,26 mm² na gengiva e para 0,14 mm² na mucosa periimplantar ao final do estudo (Zitzmann et al., 2001). A periimplantite inicia-se sob a forma de inflamação superficial da mucosa perimplantar (mucosite). Caso permaneça sem tratamento o processo pode se tornar progressivo e irreversível, levando a uma perda óssea vertical e horizontal, comprometendo a longevidade dos implantes (Baron et al., 2000). As falhas podem ser divididas em: precoces, quando o processo de osseointegração não é completo; e tardias, quando um implante não se mantém osseointegrado (Vanden Bogaerde et al., 1999). As falhas precoces também podem estar relacionadas a outros fatores, como o tabagis- mo (Bain & Moy, 1993; Oates et al., 2004), densidade óssea (Jaffin & Berman, 1991), doenças sistêmicas, trauma cirúrgico e contaminação bacteriana no trans-operatório (Esposito M. et al., 1998). As causas das falhas tardias são menos compreendidas e parecem estar relacionadas com o meio periimplantar e com parâmetros gerais relacionados ao hospedeiro (Quirynen et al., 2002). Lesões como periimplantite, hiperplasia gengival, fístulas e perdas ósseas estão relacionadas ao acúmulo de biofilme bacteriano. Por isso, o controle do biofilme bacteriano assume uma importância ímpar na manutenção da homeostase periimplantar (De Lorenzo et al., 1997). É importante o correto diagnóstico do agente etiológico da periimplantite para que seja instituído um tratamento mais eficaz. Além do acúmulo de biofilme bacteriano, a sobrecarga oclusal também é um fator que deve ser considerado nesse diagnóstico (Leung et al., 2001). Além do acúmulo do biofilme bacteriano, o conjunto pilar-implante oferece novos nichos de retenção para microrganismos. Outro ponto a ser abordado diz respeito à existência de meios físicos em reabilitações implantosuportadas que favoreçam a colonização bacteriana. Valores elevados de rugosidade da superfície dos implantes podem facilitar o estabelecimento de uma determinada população bacteriana no meio subgengival, onde condições de anaerobiose favorecem o surgimento de espécies patogênicas. A rugosidade do implante não influencia o aumento do risco para o aparecimento de alterações patológicas em condições onde o implante esteja localizado totalmente intra-ósseo. Porém, tornando-se supragengival, essas propriedades contribuem para o aumento da retenção do biofilme bacteriano, sobretudo em pacientes portadores de má higiene bucal (Quirynen & Bollen, 1995). A falta de adaptação entre os componentes protéticos e o topo do implante também é responsável pela infiltração bacteriana e, consequentemente, colonização bacteriana no aspecto interno dos implantes (Jansen et al., 1997). Além do acúmulo do biofilme e dos nichos existentes no conjunto pilar-implante, os dentes remanescentes também podem se constituir numa fonte de microrganismos para as áreas periimplanteres. Os tecidos periodontais em estado de normalidade são colonizados por bactérias gram-positivas, aeróbias ou anaeróbias facultativas, enquanto em bolsas periodontais, há predominância de espécies gram-negativas anaeróbias estritas. Esta característica também é observada no sulco perimplantar. Em pacientes edentados totais, a microbiota bacteriana ao redor dos implantes se origina dos tecidos circunjacentes, enquanto em pacientes parcialmente edentados é proveniente do sulco periodontal, que funciona como um “reservatório” bacteriano. Portanto, um 46 periojun2009 08-06-10.pmd 46 6/8/2010, 10:38 AM R. Periodontia - 19(2):45-53 correto programa de redução do número de microrganismos previamente à instalação de implantes torna-se fundamental (Mombelli, 1998). A presença de microrganismos no dorso da língua também consiste numa importante fonte de contaminação dos implantes, independente do grau de edentulismo (Lee et al., 1999). Uma correlação entre a condição periodontal da dentição natural pré-operatória e a composição do biofilme bacteriano em um total de 300 implantes de titânio comercialmente puros, instalados em 159 pacientes parcialmente edêntulos, foi sugerida pelo estudo de Quirynen et al. (1996). O estudo apresentou como resultado um aumento do número de espiroquetas e microrganismos móveis, com relevância estatística, quando os implantes e dentes estavam situados no mesmo quadrante, além de uma diminuição do número de cocos. A composição do biofilme na dentição natural influenciou os resultados, pois quando observados mais de 20% de organismos móveis e espiroquetas, ao redor dos dentes, os implantes apresentaram uma população maior desses mesmos microrganismos, em detrimento do número de cocos. Em um segundo momento do estudo, 31 pacientes foram categorizados em três diferentes grupos: o grupo 1 formado por indivíduos saudáveis (n = 17); o grupo 2, por indivíduos portadores de periodontite crônica do adulto (n = 11); e o grupo 3, por indivíduos portadores de periodontite refratária (n = 3). O estudo mostrou uma correlação positiva entre os parâmetros clínicos de inflamação (sangramento à sondagem, perda de inserção e acúmulo de biofilme) e a presença de patógenos periodontais (espiroquetas e microrganismos móveis). Em pacientes portadores de periodontite crônica na dentição natural, os implantes exibiram uma concentração de espiroquetas e bastões móveis de, respectivamente, 0,6 e 1,8% em bolsas rasas, porém alcançaram uma concentração de 20% em bolsas superiores a 4 mm. Em indivíduos portadores de periodontite refratária, não houve diferença considerável na composição da microbiota presente em dentes e implantes, composta por mais de 20% de espiroquetas e microrganismos móveis em qualquer profundidade de bolsa. A microbiota periimplantar estabelecida em pacientes edentados totais, com história pregressa de periodontite, foi avaliada em um estudo que envolveu a participação de 20 pacientes que possuíam implantes previamente instalados há, pelo menos, um ano (Danser et al., 1997). Com a eliminação dos microrganismos presentes no meio subgengival, através da exodontia, houve uma diminuição do número de Actinobacillus actinomycetemcomitans e Porphyromonas gingivalis presentes no sulco periimplantar, criando um ambiente compatível com o estado de saúde. Um estudo semelhante, realizado por Van Winkelhoff et al. (2000), envolveu 20 pacientes edentados parciais que receberam implantes de titânio comercialmente puro. As exodontias foram realizadas entre 9 e 19 meses previamente à instalação dos implantes, e envolveram as regiões de pré-molares e molares superiores ou inferiores. Amostras de biofilme bacteriano foram colhidas, na fase pré-operatória e no momento da cirurgia, nos sítios dentais remanescentes. Nos pilares protéticos, as amostras foram colhidas 6 e 12 meses após o estabelecimento das conexões dos pilares protéticos. As amostras foram submetidas à cultura em meios específicos para seis espécies bacterianas. Os autores constataram que houve uma colonização inicial dos sítios perimplantares por bastões gram-negativos anaeróbios, e em dois pacientes os implantes foram afetados por uma infecção associada à Porphyromonas gingivalis. Esse resultado corrobora outro estudo realizado em macacos (Eke et al., 1997). Utilizando sondas de DNA específicas para sete espécies (Actinobacillus actinomycetemcomitans, Porphyromonas gingivalis, Prevotella intermedia, Eikenella corrodens, Fusobacterium nucleatum, Treponema denticola e Campylobacter recta), foi realizado um estudo com a intenção de avaliar a transmissão de microrganismos periodontopatogênicos da dentição residual para os implantes (Gouvoussis et al., 1997). Em nove pacientes estudados, cinco apresentaram essa transmissão. Esse resultado também sugere que os dentes residuais, em pacientes parcialmente edentados, podem funcionar como um “reservatório” de microrganismos patogênicos, cuja transmissão pode estar relacionada à perda precoce do implante (Rosenberg et al., 1991). RELATO DE CASO CLÍNICO Um paciente do sexo masculino, com 62 anos de idade (F.P.), não fumante, sem alterações sistêmicas significativas, sem presença de hábitos parafuncionais, manifestou o desejo em substituir o elemento dentário perdido (47) durante o tratamento periodontal, por um implante (fig. 1; 2 e 3). O tratamento periodontal instituído na época envolveu remoção mecânica do biofilme em todos os elementos dentários presentes através da raspagem e alisamento radicular, exodontia dos elementos 26 e 47 em razão do grau de comprometimento periodontal seguindo os critérios de avaliação propostos por Lindhe J., 2006, e acesso cirúrgico em algumas áreas como, por exemplo, no elemento 46, que, em razão da boa condição do suporte periodontal remanescente, altura do tronco radicular e grau de divergência das 47 periojun2009 08-06-10.pmd 47 6/8/2010, 10:38 AM R. Periodontia - 19(2):45-53 Figura 1 – RX1 panorâmico inicial antes da terapia periodontal, onde pode ser observada a extensão da perda de suporte periodontal envolvendo o elemento 47 e envolvimento de furca no 46. Figura 3 – RX3 periapical feito 6 meses após a extração do elemento 47. Figura 2 – RX2 periapical inicial, evidenciando o envolvimento de furca do 46 e perda de suporte com defeito mesial vertical no 47. raízes, foi submetido à um procedimento de tunelização (Hamp et al., 1975; Lindhe J., 2006). Para realização da cirurgia de instalação do implante na posição correspondente ao elemento 47 foi prescrito um protocolo medicamentoso profilático incluindo o digluconato de clorexidina 0,12% como solução para bochecho duas vezes ao dia até o retorno para remoção das suturas e Amoxicilina 1g uma hora antes da cirurgia e 500 mg após seis horas (Resnik et al., 2008), por se tratar de um paciente com histórico de doença periodontal. Foi instalado um implante Mk III Tiunite® (NobelBiocare, Yorba Linda, CA, USA) com 11,5 mm de comprimento e 4 mm de diâmetro em um osso com densidade favorável, tipo 2 da classificação de Jaffin& Berman (1991). Após um mês da cirurgia para instalação do implante, foi constatada a perda precoce do implante, indicada pela mobilidade associada a dor espontânea (fig. 4). A remoção do implante foi realizada de modo que pudesse ser feita a coleta de material do terço apical do Figura 4 – RX4 periapical feito 30 dias após a instalação do implante na região 47, onde podemos observar o implante sendo expulso. implante para análise microbiológica (descrito adiante), assim como da região de furca do elemento dental adjacente (46) que após terapia periodontal incluindo a tunelização para melhor exposição da área de furca, de modo a permitir uma melhor higienização local, respondeu positivamente deixando de apresentar sangramento espontâneo ou mesmo à sondagem, assim como marcação de profundidade de sondagem não superior a 1,5 mm em todas as faces do elemento dental. Foi identificada a presença do microrganismo Prevotella intermedia, tanto no terço apical do implante quanto na furca do dente 46, o que pode ser justificado, por se tratar de uma espécie bacteriana pertencente ao grupo laranja segundo Socransky et al. (1998), considerada periodontopatogênica e que pode se manter em níveis semelhantes tanto na ausência de doença, quanto em pre- 48 periojun2009 08-06-10.pmd 48 6/8/2010, 10:38 AM R. Periodontia - 19(2):45-53 Figura 5 – RX5 periapical feito 3 meses após a instalação de um novo implante. sença da doença periodontal, diferente da microbiota pertencente ao grupo vermelho, que tende a diminuir significativamente após terapia periodontal (Máximo et al., 2009). Juntamente com o Fusobacterium nucleatum, a Prevotella intermedia é a primeira espécie bacteriana gram-negativa a participar da constituição do biofilme, se aderindo aos microrganismos gram-positivos subjacentes (Lindhe J., 2006). No antibiograma foi constatada a resistência do microrganismo à amoxicilina e sensibilidade ao metronidazol. Com este resultado, foi planejada a instalação de novo implante, após quatro meses, quando foi realizada nova sessão de terapia periodontal que incluiu além de sessões para remoção mecânica do biofilme com raspagem e alisamento radicular, antibioticoterapia com uso do Metronidazol na dose de 400mg administrado em intervalos de 8 horas, durante 14 dias (Resnik et al., 2008). Nova coleta de material da região de furca do elemento dental 46 foi feita e submetida à análise microbiológica, dessa vez, com resultado negativo para presença do microrganismo Prevotella intermedia. O procedimento para instalação do novo implante foi realizado seguindo a mesma configuração do implante anteriormente instalado, e aguardado o período de osseointegração de quatro meses para a cirurgia de reentrada e confecção do trabalho protético, com sucesso (Figuras 5-9). Teste Microbiológico A amostra obtida do biofilme, após isolar a área da presença da saliva com rolos de algodão e sugador de saliva, com auxílio de uma sonda periodontal estéril, foi transferida para 100 µL de Fluido de Transporte Reduzido (RTF) e homogeneizada. A amostra com RTF não diluída foi sedimentada por centrifugação a 15.000 x g/4ºC por 10min. A detecção de bactérias periodontopatogênicas foi feita através da Reação em Cadeia de Polimerase (PCR) utilizando Figura 7 - RX7 periapical 12 meses após conclusão da etapa protética. primers catalizadores, segundo Ashimoto et al. (1996), específicos baseados em sequências de 16S RNA ribossômico: as amostras obtidas foram examinadas quanto à presença de bactérias periondontopatogênicas via reação de PCR. Os primers catalizadores foram utilizados para detectar Porphyromonas endodontalis, Porphyromonas gingivalis, Prevotella denticola, Porphyromonas assaccharolytica, Prevotella intermedia, Prevotella melaninogenica, Prevotella oralis, Veillonella spp., Actinobacillus actinomycetemcomitans, Eikenella corrodens, Capnocytophaga spp. e Kingella kingae. Os microrganismos sedimentados foram suspensos em 100µL de tampão a quente (20 mM Tris-HCl, pH 8,0, 2 mM EDTA, 1% Triton X100), e levado a uma temperatura de 100°C por 10 minutos. Após a remoção dos excedentes de células por centrifugação a 15,000 x g a 4°C por 15 min, o DNA bacteriano foi extraído com fenol e precipitado com etanol. Em resumo, 5µL da amostra foram adicionados a 45µL da mistura reativa, que foi incluída no tampão de PCR (Takara Co., Shiga, Japan) contendo 2 mM dNTP, 50µM de pares de primers catalizadores específicos, e 0,25U Taq DNA polimerase (Syed & Loesche,1972). Os ensaios para bactérias periodontopatogênicas foram realizados utilizando-se ciclos térmicos, como a seguir: 36 ciclos de desnaturação a 95°C por 30 segundos, mantendo 55°C por 1 min, e mais uma etapa extra de 1 min a 72°C. Os produtos da reação de PCR foram submetidos à electroforese sobre placa de agarose gel 2% e reveladas sobre luz ultravioleta seguindo as manchas reveladas com brometo de ethidio. Bandas mostrando uma intensidade de manchas maior que as do controle para cada espécie demonstrando pelo menos 5 x 102 células foram consideradas positivas para bactéria. Apenas sequências de Prevotella intermedia foram detectadas, o que sugere que a única sequência genética 49 periojun2009 08-06-10.pmd 49 6/8/2010, 10:38 AM R. Periodontia - 19(2):45-53 Figura 8 - Coroa sobre implante (47) e dente tratado periodontalmente (46) após 12 meses da instalação da prótese. Figura 6 – RX6 periapical mostrando a adaptação do transferente de moldagem, durante o processo de confecção da prótese, após 4 meses. íntegra encontrada no material foi a que se igualou ao padrão de Prevotella intermedia, ou seja, somente esta bactéria estava viável (viva) naquele momento, provavelmente sendo o único patógeno em atividade nos sítios avaliados. DISCUSSÃO A composição do biofilme bacteriano tem sido estudada ao longo de décadas, com o intuito de identificar os agentes causadores da doença periodontal e também para avaliação sistemática do paciente com relação aos fatores de risco microbiano. Até o presente momento, mais de 400 espécies bacterianas são conhecidas. A evolução científica e tecnológica certamente contribuirá para o aumento desse número, na medida em que se observa um crescimento exponencial do número de espécies identificadas com o desenvolvimento de métodos bioquímicos mais sensíveis e precisos (Song et al., 2001; Paster et al., 2001). O conhecimento adquirido com a prática da Implantodontia, nas suas fases cirúrgica e protética, nos permite identificar e lidar com perdas precoces e tardias. A periimplantite está relacionada com perdas tardias de implantes e tem um caráter multifatorial sendo descrita como um processo inflamatório destrutivo que afeta os tecidos mole e duro ao redor de implantes osseointegrados (Mombelli et al., 1999). O risco do estabelecimento de um quadro de periimplantite está relacionado a fatores individuais do hospedeiro, como a microbiota bacteriana periodontopatogênica, hábitos parafuncionais gerando sobrecargas oclusais, falta de assentamento passivo das próteses e respostas imunológicas individuais (Behneke et al., 2000). O estabelecimento de um biofilme bacteriano patogênico intimamente relacionado à superfície dos componentes protéticos constitui um fator local predisponente à perda precoce e tardia do implante. Existem cinco linhas de pesquisa para justificar essa teoria: experimentos em humanos com indução de mucosite periimplantar (Pontoriero et al., 1994); demonstração das diferenças qualitativas e quantitativas entre sítios saudáveis e sítios de implantes que estão falhando; a colocação de ligaduras em torno de implantes a partir de modelos de estudo em animais, levando a uma alteração da microbiota bacteriana e ao estabelecimento de um quadro de periimplantite (Machado et al., 2000); a terapia antimicrobiana alterando a microbiota bacteriana de pacientes com periimplantite (Van Winkelhoff & Wolf, 2000); e a evidência de que o nível de higiene oral tem impacto no sucesso dos implantes em longo prazo (Mombelli et al., 1998). Uma classificação quanto ao risco de infecção da ferida cirúrgica em procedimentos médicos e odontológicos foi proposta pelo Colégio Americano de Cirurgia, e a partir desta é definido o protocolo medicamentoso a ser seguido. Para procedimentos que incluem a instalação de implantes com abertura de retalho e colocação ou não de enxertos em pacientes saudáveis, o risco de infecção é de 10 a 15%. Entretanto, com o uso do antibiótico profilático este risco pode diminuir para 1% (Resnik et al., 2008). Em razão do risco periodontal apresentado pelo paciente, no caso clínico foi usada profilaticamente amoxicilina na instalação do implante. Entretanto, como identificado posteriormente através do antibiograma, o microrganismo Prevotella intermedia se mostrou resistente ao antibiótico usado. Zambon & Haraszthy (1995) realizaram uma revisão da literatura sobre os métodos diagnósticos laboratoriais disponíveis naquele momento (microscopia, culturas bacterianas, testes imunológicos, testes por sondas de DNA, PCR e testes enzimáticos). O método de cultura foi considerado referencial para os outros métodos porque possui um amplo espectro de análise e também por poder determinar 50 periojun2009 08-06-10.pmd 50 6/8/2010, 10:38 AM R. Periodontia - 19(2):45-53 Figura 9 – Vista lateral da prótese sobre implante (47) em oclusão. a resistência e sensibilidade aos antibióticos. Suas desvantagens incluem o alto custo, o tempo necessário para os resultados (1 a 3 semanas) e o fato de não identificar células inviáveis. Culturas seletivas são capazes de detectar uma concentração de 103 células, e meios não seletivos, de 104 a 105 células. Os métodos de microscopia de campo escuro e de contraste de fase detectam bactérias envolvidas em processos patológicos, e em estado de saúde por forma, tamanhos e mobilidade. Sua desvantagem é que não identificam espécies individualmente. Os testes imunológicos e os testes de sondas de DNA são específicos para determinados microrganismos, são rápidos, relativamente baratos e podem ser feitos em diversos ambientes (consultório/laboratório). Além disso, os métodos imunológicos detectam microrganismos em uma concentração de 104 células e o resultado é obtido em minutos. Os testes através de sondas de DNA demandam aproximadamente dois dias e detectam concentrações de até 102 células. Suas desvantagens são: a possibilidade de haver reação cruzada e não determinar resistência e sensibilidade bacteriana aos antibióticos. Os métodos enzimáticos são vantajosos na medida em que são rápidos (aproximadamente 15 min), precisos e de baixo custo. A concentração celular para a detecção é de 104 células e possui a característica de detectar melhor os grupos celulares em detrimento de espécies individuais. O Polymerase Chain Reaction (PCR) foi escolhido para diagnóstico microbiológico do presente caso clínico porque é o método mais sensível (10 células), rápido (2-4 horas) e preciso. Suas desvantagens são: a necessidade de laboratórios especializados e o alto custo. Shibli et al., 2008, observaram diferenças na composição do biofilme supra e subgengival entre sítios periimplantares sadios e doentes. Furst et al., 2007, verificaram diferenças na colonização bacteriana inicial entre implantes e dentes. Entretanto, Salvi et al., 2008, sugeriram que essas diferenças observadas na colonização inicial entre implantes e dentes, tendem a diminuir significativamente em um estudo realizado entre 12 semanas e 12 meses da instalação do implante. Implantes instalados em pacientes edentados parciais poderão ter sua superfície colonizada por microrganismos iguais aqueles presentes na superfície dentária (De Boever & De Boever, 2006; Serino e Ström, 2009). Máximo et al., 2009 sugeriram que uma boa condição periodontal antes do tratamento com implantes, é fundamental para evitar uma infecção cruzada entre o sítio periodontal e o sítio periimplantar, corroborando com o trabalho de Quirynem et al., 2001 e o presente relato, onde pudemos observar a interferência de um microrganismo periodontopatogênico (Prevotella intermedia) pertencente ao grupo laranja (Socransky et al., 1998) capaz de se manter em níveis semelhantes em condição de saúde ou doença no sítio periimplantar (Máximo et al., 2009), para o insucesso do tratamento com implante. CONCLUSÃO Tendo a literatura como referência, pode-se concluir que a condição periodontal pré-existente, mesmo após a realização da terapia periodontal seguida da terapia de suporte, deverá ser considerada como fator de risco para pacientes edentados parciais candidatos ao tratamento com implantes devido à possibilidade de transmissão de mircrorganismos periodontopatogênicos de sítios periodontais para a área periimplantar. Mais estudos devem ser realizados identificando nichos bacterianos periodontopatogênicos e sua relação com a infecção do sítio periimplantar. ABSTRACT Colonization of periimplant sites by periodontopathogens is associated with periimplant mucosa inflammation, denominated mucositis, which can evolutes to periimplantitis when marginal bone loss occurs around the implant. This condition is considered the most frequent cause of implant failure. The aim of this study is, through a literature review and a clinical case presentation, to evaluate the probable originally sites of these microorganisms. UNITERMS: Periimplantitis, microorganisms, dental implants 51 periojun2009 08-06-10.pmd 51 6/8/2010, 10:38 AM R. Periodontia - 19(2):45-53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1- Löe H, Theilade E, Jensen SB. Experimental gingivitis in man. J Periodontol 1965;36:177-87. 2- Lang NP, Wilson TG, Cobert EF. Biological complications with dental implants: their prevention, diagnosis and treatment. Clin Oral Implants Res 2000; 2: 146-55. 3- Pontoriero R, Tonelli MP, Carnevale G, Mombelli A, Nyman SR, Lang NP. Experimentally inducts peri-implant mucositis. A clinical study in humans. Clin Oral Implants Res1994;5: 254-9. 4- Zitzmann NU, Berglundh T, Marinello CP, Lindhe J. Experimental periimplant mucositis in man. J Clin Periodontol 2001;28: 517-23. 5- Baron M, Haas R, Dörtbudak O, Watzek G. 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