08 - Cegos Adventistas

Propaganda
LIVRO ATOS DOS APÓSTOLOS.
Escritora Ellen G. White.
TÍTULO UM.
O Cristianismo em Jerusalém.
CAPÍTULO OITO.
Perante o Sinédrio.
Foi a cruz, esse instrumento de vergonha e tortura, que trouxe esperança e salvação
ao mundo. Os discípulos não passavam de homens humildes, sem dinheiro e com
nenhuma outra arma que não a Palavra de Deus; entretanto, na força de Cristo eles
saíram para contar a maravilhosa história da manjedoura e da cruz e para triunfar
sobre toda a oposição. Sem honra ou reconhecimento terrestres, foram heróis da fé.
De seus lábios saíam palavras de divina eloqüência que abalaram o mundo.
Em Jerusalém, onde existia o mais profundo preconceito, e onde prevaleciam as
mais confusas idéias com respeito Àquele que havia sido crucificado como
malfeitor, os discípulos continuaram a falar com ousadia as palavras da vida,
expondo perante os judeus a obra e a missão de Cristo, Sua crucifixão, ressurreição
e ascensão. Sacerdotes e príncipes ouviam pasmados o claro, ousado testemunho
dos apóstolos. O poder do Salvador ressurgido tinha sem dúvida alguma caído
sobre os discípulos, e sua obra era acompanhada por sinais e milagres que
aumentavam diariamente o número de crentes. Ao longo das ruas por onde deviam
passar os discípulos, o povo trazia seus enfermos "para as ruas e os punham em
leitos e em camilhas para que ao menos a sombra de Pedro, quando este passasse,
cobrisse alguns deles". Atos 5:15. Traziam também os que estavam tomados de
espíritos imundos. As turbas aglomeravam-se-lhes em torno, e os que eram curados
prorrompiam em louvores a Deus, glorificando o nome do Redentor.
1
Os sacerdotes e príncipes viram que Cristo era mais enaltecido do que eles.
Ouvindo os saduceus, que não criam na ressurreição, os apóstolos declararem que
Cristo ressuscitara dos mortos, ficaram enraivecidos, compreendendo que se aos
apóstolos fosse permitido pregar um Salvador ressuscitado e operar milagres em
Seu nome, a doutrina de que não haveria ressurreição seria rejeitada por todos e a
seita dos saduceus logo se extinguiria. Os fariseus ficaram irados ao perceberem
que a tendência do ensino dos discípulos era solapar as cerimônias judaicas e
tornar de nenhum valor as ofertas sacrificais.
Até ali todos os esforços feitos para suprimir este novo ensino tinham sido em vão;
mas agora, tanto fariseus como saduceus decidiram que a obra dos discípulos devia
ser contida, pois estava demonstrando serem eles os culpados da morte de Jesus.
Cheios de indignação, os sacerdotes violentamente lançaram mãos de Pedro e João
e os encerraram na prisão comum.
Os guias da nação judaica tinham assinaladamente deixado de cumprir o propósito
de Deus para Seu povo escolhido. Aqueles a quem o Senhor tinha feito
depositários da verdade provaram-se infiéis a seu legado, e Deus escolheu outros
para fazerem Sua obra. Em sua cegueira, esses guias davam agora amplo impulso
ao que chamavam justa indignação contra aqueles que estavam pondo de lado suas
acariciadas doutrinas. Não podiam sequer admitir a possibilidade de não haverem
entendido devidamente a Palavra, ou que tivessem interpretado mal ou mal
aplicado as Escrituras. Agiam como homens que houvessem perdido a razão. Que
direito têm esses ensinadores, diziam, alguns deles meros pescadores, para
apresentar idéias contrárias às doutrinas que temos ensinado ao povo? Estando
determinados a suprimir o ensino dessas idéias, aprisionavam os que o estavam
apresentando.
Os discípulos não se intimidaram nem esmoreceram com tal tratamento. O Espírito
Santo lhes trouxe à mente as palavras proferidas por Cristo: "Não é o servo maior
do que o seu Senhor. Se a Mim Me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se
guardaram a Minha palavra, também guardarão a vossa. Mas tudo isto vos farão
por causa do Meu nome; porque não conhecem Aquele que Me enviou." João
2
15:20 e 21. "Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que qualquer
que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus." "Tenho-vos dito isto, a fim de
que, quando chegar aquela hora, vos lembreis de que já vo-lo tinha dito." João 16:2
e 4.
O Deus do Céu, o poderoso Governador do Universo, tomou em Suas mãos a
questão do aprisionamento dos discípulos; pois homens estavam a guerrear contra
a Sua obra. À noite, o anjo do Senhor abriu as portas da prisão e disse aos
discípulos: "Ide e apresentai-vos no templo, e dizei ao povo todas as palavras desta
vida." Atos 5:20. Esta ordem era diretamente contrária à ordem dada pelos chefes
judeus; porventura disseram os apóstolos: Não podemos fazer isto sem ter
consultado os magistrados e recebido deles permissão? Não! Deus dissera: "Ide", e
eles obedeceram. "Entraram de manhã cedo no templo, e ensinavam." Atos 5:21.
Quando Pedro e João apareceram entre os crentes e contaram como o anjo os havia
guiado diretamente através do grupo de soldados que guardavam a prisão,
ordenando-lhes retomar a obra interrompida, os irmãos se encheram de espanto e
alegria.
Nesse ínterim, o sumo sacerdote e os que com ele estavam convocaram o conselho,
"e a todos os anciãos dos filhos de Israel". Os sacerdotes e príncipes resolveram
atribuir aos discípulos a acusação de insurreição, acusando-os do assassínio de
Ananias e Safira e de conspiração para despojarem os sacerdotes de sua autoridade.
Esperavam despertar a turba de tal maneira que esta decidisse tomar a questão nas
mãos e tratar com os discípulos como haviam feito com Jesus. Eles sabiam que
muitos que não haviam aceitado os ensinos de Cristo estavam cansados do
arbitrário governo das autoridades judaicas, e ansiosos por alguma mudança. Os
sacerdotes temiam que se esses descontentes fossem levados a aceitar as verdades
proclamadas pelos apóstolos e a reconhecer a Jesus como o Messias, a ira de todo
o povo se levantaria contra os guias religiosos, fazendo-os responder pelo
assassínio de Cristo. Decidiram então tomar medidas drásticas para prevenir isto.
Quando mandaram trazer os prisioneiros a sua presença, grande foi o seu espanto
ante a resposta de que as portas da prisão foram encontradas seguramente fechadas
3
e a guarda estacionada perante elas, mas não se encontravam os prisioneiros em
parte alguma.
Logo chegou a estranha notícia: "Eis que os homens que encerrastes na prisão
estão no templo e ensinam ao povo. Então foi o capitão com os servidores, e os
trouxe, não com violência (porque temiam ser apedrejados pelo povo)." Atos 5:25
e 26.
Embora os apóstolos tivessem sido miraculosamente libertados da prisão, não
escaparam ao interrogatório e castigo. Cristo dissera, quando estava com eles:
"Mas olhai por vós mesmos, porque vos entregarão aos concílios." Mar. 13:9.
Enviando um anjo para os livrar, Deus lhes dera um sinal de Seu amor e certeza de
Sua presença. Tocava-lhes agora sofrer por amor dAquele cujo evangelho estavam
pregando.
Na história dos profetas e apóstolos, existem muitos nobres exemplos de lealdade
para com Deus. As testemunhas de Cristo têm suportado a prisão, tortura e a
própria morte, de preferência a violar os mandamentos de Deus. O relatório
deixado por Pedro e João é tão heróico como qualquer da dispensação cristã.
Achando-se eles pela segunda vez perante os homens que pareciam empenhados
em efetuar a sua destruição, nenhum temor ou hesitação se poderia divisar em suas
palavras e atitudes. E quando o sumo sacerdote disse: "Não vos admoestamos nós
expressamente que não ensinásseis nesse nome?
E eis que enchestes Jerusalém dessa vossa doutrina, e quereis lançar sobre nós o
sangue desse homem", Pedro respondeu: "Mais importa obedecer a Deus do que
aos homens." Atos 5:28 e 29. Foi um anjo do Céu que os livrou da prisão e os
mandou ensinar no templo. Seguindo suas instruções estavam obedecendo à ordem
divina; e isto deveriam continuar a fazer, custasse o que custasse.
Então o Espírito de Inspiração sobreveio aos discípulos; os acusados se tornaram
os acusadores, denunciando como assassinos de Cristo aqueles que compunham o
concílio. "O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus," declarou Pedro, "ao qual vós
matastes, suspendendo-O no madeiro. Deus com a Sua destra O elevou a Príncipe e
Salvador, para dar a Israel o arrependimento e remissão dos pecados. E nós somos
4
testemunhas acerca destas palavras, nós e também o Espírito Santo que Deus deu
àqueles que Lhe obedecem." Atos 5:30-32.
Tão enraivecidos ficaram os judeus com estas palavras que se decidiram a fazer
justiça pelas próprias mãos, e, sem mais processo, ou sem autoridade dos oficiais
romanos, matar os presos. Já culpados do sangue de Cristo, estavam agora ávidos
de manchar as mãos com o sangue de Seus discípulos.
Mas no concílio houve um homem que reconheceu a voz de Deus nas palavras
proferidas pelos discípulos. Este homem foi Gamaliel, fariseu de boa reputação e
homem de saber e alta posição. Seu claro intelecto viu que o passo violento que
tinham em vista os sacerdotes, traria terríveis conseqüências. Antes de se dirigir
aos presentes, pediu que os presos fossem afastados. Bem conhecia os elementos
com quem tinha de tratar; sabia que os assassinos de Cristo em nada hesitariam a
fim de levar a efeito o seu propósito.
Falou então com grande ponderação e calma, dizendo: "Varões israelitas,
acautelai-vos a respeito do que haveis de fazer a estes homens. Porque antes destes
dias levantou-se Teudas, dizendo ser alguém: a este se ajuntou o número de uns
quatrocentos homens; o qual foi morto, e todos os que lhe deram ouvidos foram
dispersos e reduzidos a nada. Depois deste levantou-se Judas, o galileu, nos dias do
alistamento, e levou muito povo após si; mas também este pereceu, e todos os que
lhe deram ouvidos foram dispersos. E agora digo-vos: dai de mão a estes homens,
e deixai-os, porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará. Mas, se
é de Deus, não podereis desfazê-la; para que não aconteça serdes também achados
combatendo contra Deus." Atos 5:35-39.
Os sacerdotes viram a racionalidade destas opiniões, e foram obrigados a
concordar com Gamaliel. Contudo seu preconceito e ódio dificilmente se podiam
restringir. Muito relutantemente, depois de castigarem os discípulos, e ordenandolhes de novo, sob pena de morte, a não mais pregarem no nome de Jesus, soltaramnos. "Retiraram-se pois da presença do conselho, regozijando-se de terem sido
julgados dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus. E todos os dias, no templo
e nas casas, não cessavam de ensinar, e de anunciar a Jesus Cristo." Atos 5:41 e 42.
5
Pouco tempo antes de Sua crucifixão, Cristo tinha garantido a Seus discípulos um
legado de paz. "Deixo-vos a paz," disse Ele, "a Minha paz vos dou; não vo-la dou
como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize." João 14:27.
Esta paz não é a paz que se obtém mediante a conformação com o mundo. Cristo
jamais comprou a paz condescendendo com o mal. A paz que Cristo deixou a Seus
discípulos é antes interna que externa, e sempre devia permanecer com Suas
testemunhas nas lutas e contendas.
Falando de Si, Cristo disse: "Não cuideis que vim trazer a paz à Terra; não vim
trazer paz, mas espada." Mat. 10:34. Príncipe da paz, era Ele não obstante causa de
divisão. Aquele que veio proclamar alegres novas e promover a esperança e alegria
no coração dos filhos dos homens, abriu uma controvérsia que arde profundamente
e desperta intensa paixão no coração humano. E Ele adverte Seus seguidores: "No
mundo tereis aflições." João 16:33. "Lançarão mão de vós, e vos perseguirão,
entregando-vos às sinagogas e às prisões, e conduzindo-vos à presença de reis e
presidentes, por amor do Meu nome." "E até pelos pais, e irmãos, e parentes, e
amigos sereis entregues; e matarão alguns de vós." Luc. 21:12 e 16.
Essa profecia tem sido marcadamente cumprida. Toda indignidade, toda injúria,
toda crueldade que Satanás podia instigar o coração humano a imaginar, têm
recaído sobre os seguidores de Jesus. E isso será de novo notadamente cumprido;
pois o coração carnal está ainda em inimizade com a lei de Deus, e não se sujeitará
a Seus mandamentos. O mundo não está hoje em maior harmonia com os
princípios de Cristo, do que esteve no dia dos apóstolos. O mesmo ódio que
motivou o clamor: "Crucifica-O! Crucifica-O!" (Luc. 23:21), o mesmo ódio que
levou a perseguição aos discípulos, ainda opera nos filhos da desobediência. O
mesmo espírito que nos séculos escuros enviou homens e mulheres à prisão, ao
exílio, e à morte; que concebeu as atrozes torturas da inquisição; que planejou e
executou o massacre de São Bartolomeu e acendeu as fogueiras de Smithfield, está
ainda agindo com maligna energia em corações não regenerados. A história da
verdade tem sido sempre o relato da luta entre o direito e o erro. A proclamação do
6
evangelho sempre tem sido levada avante neste mundo em face de oposição,
perigos, perdas e sofrimentos.
Em que consistia a força daqueles que no passado sofreram perseguição por amor a
Cristo? Era a união com Deus, união com o Espírito Santo, união com Cristo. A
acusação e a perseguição têm separado muitos de seus amigos terrestres, mas
nunca do amor de Cristo. Nunca a alma, provada pela tempestade, é mais
encarecidamente amada por seu Salvador do que quando sofre a perseguição por
amor à verdade. "Eu o amarei", disse Cristo, "e Me manifestarei a ele." João 14:21.
Quando, por causa da verdade, o crente se acha perante os tribunais terrestres,
Cristo Se acha a seu lado. Quando é encerrado entre as paredes da prisão, Cristo Se
lhe manifesta e com Seu amor lhe anima o coração. Quando sofre a morte por
amor a Cristo, o Salvador lhe diz: Eles podem matar o corpo, mas não podem
matar a alma. "Tende bom ânimo, Eu venci o mundo." João 16:33. "Não temas,
porque Eu sou contigo; não te assombres, porque Eu sou teu Deus: Eu te esforço, e
te ajudo, e te sustento com a destra da Minha justiça." Isa. 41:10.
"Os que confiam no Senhor serão como o Monte de Sião, que não se abala, mas
permanece para sempre. Como estão os montes à roda de Jerusalém, assim o
Senhor está em volta do Seu povo desde agora e para sempre." Sal. 125:1 e 2.
"Libertará as suas almas do engano e da violência, e precioso será o seu sangue aos
olhos dEle." Sal. 72:14.
"O Senhor dos exércitos os amparará." "E o Senhor seu Deus naquele dia os
salvará, como ao rebanho do Seu povo; porque como as pedras de uma coroa eles
serão exaltados na sua terra." Zac. 9:15 e 16.
FIM DO CAPÍTULO OITO.
7
Download