2. o sintagma verbal

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SINTAGMAS
Estimado(a) Aluno(a),
Muita gente costuma pensar que estudar português é estudar análise sintática. E como
o estudo da análise sintática na escola é desvinculado do uso real da língua e apresentado
como uma verdadeira charada a ser decifrada pelo aluno, é natural uma certa rejeição quanto
ao estudo da nossa língua. Mesmo os alunos dos cursos de letras de nossas universidades
vêem no estudo da sintaxe um verdadeiro "bicho papão" e insistem em desvendar os seus
segredos como o principal objetivo de estudar português.
Neste tema e nos seguintes (Sintagma verbal, Coordenação e Subordinação), vamos
trabalhar alguns aspectos da sintaxe da língua portuguesa, do ponto de vista produtivo —
quanto maior o conhecimento e o domínio das estruturas frasais do português, mais eficiente
será o desempenho oral e escrito do aluno.
A fonologia, a morfologia, a sintaxe e a semântica constituem o estudo da estrutura
interna de uma língua — aquilo que a distingue das outras línguas do mundo — e que não é
resultado diretamente de condições da vida social ou do conhecimento do mundo. Já o léxico
se distingue da gramática propriamente dita: nele estão colocadas as informações que não se
reduzem a regras gerais. Temos que pensar também no aspecto pragmático da linguagem,
que, diferentemente do aspecto sintático (propriedades formais das construções lingüísticas)
e do aspecto semântico (relação entre as unidades lingüísticas e o mundo), se relaciona à
situação concreta de uso e à influência do contexto na interação falante-ouvinte (motivações
psicológicas do falante, reações dos ouvintes ou leitores).
Para um ensino produtivo da língua e da literatura, nas atividades de leitura,
compreensão e produção de textos, consideramos essencial que o estudante perceba que:
• existe uma hierarquia na estrutura da oração, isto é, a oração apresenta constituintes e
estes contêm outros constituintes;
• cada constituinte oracional apresenta uma estrutura interna própria;
• os constituintes da oração têm comportamento sintático variado, apresentando relações
de ordem, de concordância e de regência;
• a partir de estruturas sintáticas simples (núcleo + elementos adjacentes), é possível
produzir estruturas mais complexas, com base em processos de ampliação.
1. A classe dos sintagmas
Sintagma é uma unidade formada por uma ou várias palavras que, juntas,
desempenham uma função na frase.
A combinação das palavras para formarem as frases não é aleatória: precisamos
obedecer a determinados princípios da língua. As palavras combinam-se em conjuntos, em
torno de um núcleo. E é esse conjunto (o sintagma) que vai desempenhar uma função no
conjunto maior, que é a frase. Exemplos:
O turista
viajou.
O jovem turista estrangeiro
viajou.
Aquele jovem turista
viajou.
Nenhum turista
viajou de trem.
O turista estrangeiro
viajou de trem para São Paulo.
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
O turista estrangeiro
viajou de trem para São Paulo ontem.
O turista e sua família
viajaram.
Por unidade sintagmática deve ser entendido um agrupamento intermediário entre o
nível do vocábulo e o da oração. Dessa maneira, um ou mais vocábulos unem-se (em
sintagmas) para formar uma unidade maior, que é a oração.
Os vocábulos que compõem a unidade sintagmática se organizam em torno de um
núcleo. Dependendo do núcleo, podemos falar em sintagma nominal e sintagma verbal.
Chama-se sintagma uma seqüência de palavras que constituem uma unidade (sintagma
vem de uma palavra grega que comporta o prefixo “sin-“, que significa “com”, que
encontramos, por exemplo, em simpatia e sincronia). Um sintagma é uma associação de
elementos compostos em um conjunto, organizados em um todo, funcionando
conjuntamente. (…) sintagma significa, por definição, organização e relações de
dependência e de ordem à volta de um elemento essencial.
(Dubois-Charlier. Bases de Análise lingüística)
Diferentes vocábulos que pertencem a um mesmo sintagma desempenham, dentro
dele, funções distintas: no sintagma nominal, por exemplo, o nome “substantivo”, que
funciona como núcleo, pode ser determinado por artigos, pronomes e numerais e modificado
por adjetivos, locuções adjetivas e ou orações subordinadas adjetivas. Desse modo, é
evidente que existe, dentro do sintagma, uma organização em que os vocábulos, dependendo
de sua posição e da relação que estabelecem entre si, desempenham diferentes funções.
Os princípios sintáticos da língua (sistema de unidades hierarquizadas) apresentamse sob a forma de palavras, sintagmas, orações e são relacionadas por um conjunto de
mecanismos formais. Conforme Azeredo (1990), "a estrutura gramatical do português
comporta vários níveis. O morfema é a menor unidade dessa estrutura; e o período, a maior.
Acima do nível dos morfemas acha-se o dos vocábulos; acima do dos vocábilos, o dos
sintagmas, a que se superpõe o das orações. Esquematicamente, temos:
PERÍODO
ORAÇÃO
SINTAGMA
VOCÁBULO
MORFEMA
Vamos ler o poema de Cecília Meireles e observar os níveis de estruturação do
enunciado:
Texto 1
Colar de Carolina
Com seu colar de coral,
Carolina
corre por entre as colunas
da colina.
O colar de Carolina
colore o colo de cal,
torna corada a menina.
E o sol, vendo aquela cor
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
do colar de Carolina,
põe coroas de coral
nas colunas da colina.
(Cecília Meireles)
Comentário sobre o texto 1
Nesse poema, a autora faz um jogo de palavras, tirando proveito principalmente do
aspecto sonoro. Os diversos níveis a que nos referimos acima podem ser apontados no texto:
nível do período:
nível da oração:
O colar de Carolina
colore o colo de cal,
torna corada a menina.
O colar de Carolina
colore o colo de cal /
torna corada a menina.
nível dos sintagmas:
O colar de Carolina/
SN
colore o colo de cal,
SV
torna corada a menina.
SV
nível dos vocábulos:
Com/ seu/ colar/ de/ coral / Carolina / corre /
por/ entre/ as/ colunas / de/ a /colina.
nível dos morfemas:
O / colar / de / Carolina /
color/e / o / col/o / de / cal /,
torn/a / corad/a / a / menin/a.
As gramáticas descrevem os níveis da oração e do período dentro da sintaxe e os
níveis do morfema e do vocábulo, dentro da morfologia. No entanto, geralmente não tomam
conhecimento do nível do sintagma - intermediário entre vocábulos e oração. E, como
mostra Azeredo (1990):
"... os vocábulos não se unem para formar a oração do mesmo modo que os
gomos se unem para formar uma laranja. Os vocábulos não formam a oração senão
indiretamente. Eles se associam em grupos, os sintagmas, que são os verdadeiros
constituintes da oração."
Com o poema "Colar de Carolina", podemos exemplificar as palavras citadas acima;
temos diversos vocábulos que se organizam em blocos, os sintagmas, para então
formarem orações.
O que nos interessa mais de perto é exatamente esse nível intermediário, o sintagma,
essa espécie de ponte entre os vocábulos e a oração. Surgem então algumas perguntas:
Como podemos reconhecer um sintagma?
Basta haver mais de um vocábulo para existir sintagma?
Como são formados os sintagmas?
Há mais de um tipo de sintagma ou apenas um?
Todas as classes podem formar sintagmas?
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
Outras perguntas podem surgir, mas, por enquanto, vamos tentar responder a essas que
nos parecem mais prováveis de ocorrer. Vejamos.
Em primeiro lugar, encontramos também no livro “Iniciação à sintaxe” (Azeredo,
1990), uma boa resposta para a primeira questão: Como podemos reconhecer um sintagma?
Segundo o autor, três são as maneiras de isolar as unidades que constituem a oração, ou seja,
os sintagmas: o deslocamento, a substituição e a coordenação.
Lemos logo no início do livro A hora dos ruminantes, de José J. Veiga:
"A noite chegava cedo em Manarairema. Mal o sol se afundava atrás da serra - quase que
de repente, como caindo — já era hora de acender candeeiros, de recolher bezerros, de se
enrolar em xales. A friagem até então contida nos remansos do rio, em fundos de grotas,
em porões escuros, ia se espalhando, entrando nas casas, cachorro de nariz suado
farejando."
A primeira frase vai nos servir para explicar com clareza a questão levantada.
A noite chegava cedo em Manarairema.
Qualquer um de nós rejeitaria ou perceberia como estranhas as seqüências formadas
pelos mesmos vocábulos, porém agrupados assim:
*Noite a chegava cedo em Manarairema.
*Em chegava noite a cedo Manarairema.
No entanto, podemos trocar a posição de alguns grupos de vocábulos da frase inicial,
sem prejuízo da compreensão:
Chegava cedo em Manarairema a noite.
Em Manarairema a noite chegava cedo.
Essa inversão da ordem é possível porque nós mantivemos os grupos (A noite, em
Manarairema), apenas mudamos sua posição. Essa possibilidade de deslocamento prova que
cada grupo é um sintagma. Além disso, podemos fazer substituição de seqüência por unidade
simples:
A noite chegava cedo em Manarairema.
Ela chegava cedo em Manarairema.
A noite chegava cedo em Manarairema.
A noite chegava cedo lá.
Aqui também estamos diante de sintagmas: a possibilidade de substituição por
unidades simples.
Finalmente, podemos usar um elo coordenativo e que vai mostrar a união de duas
unidades do mesmo nível. (Como professor e aluno, serra e mar...) Teremos então:
A noite e a escuridão chegavam cedo em Manarairema.
em que "a escuridão" é equivalente a "a noite" e por isso pode substituí-la:
A escuridão chegava cedo em Manarairema.
Assim, reconhecemos um sintagma através do deslocamento ou mobilidade, da
substituição por unidades simples e da coordenação. Por outro lado, apesar de nos referirmos
a "grupo de vocábulos", o sintagma pode também ser formado de um só vocábulo, como em:
Manarairema vai sofrer a noite.
Manarairema esperou impaciente.
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
Portanto não basta haver um vocábulo para existir sintagma, nem é nessário mais de
um vocábulo para haver sintagma.
Como são formados os sintagmas?
Há mais de um tipo de sintagma ou apenas um?
Todas as classes podem formar sintagmas?
As três perguntas acima estão intimamente relacionadas, por exemplo, se alguém
pergunta: "Como são formados os sintagmas?" - a resposta provavelmente será: - Depende
do tipo de sintagma. Daí concluímos que há mais de um tipo. Ou então, se a pergunta é:
"Todas as classes podem formar sintagmas?" - responderíamos que as classes de vocábulos
entram na formação dos sintagmas, mas a participação não é igual; há classes que são
núcleo, outras determinantes, outras modificadores, depende do tipo... e assim por diante.
Por tudo o que foi dito até agora, é possível afirmar que:
• podemos reconhecer a classe dos sintagmas;
• há procedimentos para provar a sua existência;
• há mais de um tipo de sintagma;
• os vocábulos se unem para formar sintagmas;
• os sintagmas formam a oração.
Convém lembrar que a natureza do sintagma depende do seu núcleo. Assim, temos,
em português, duas classes de sintagmas: o sintagma nominal (SN) — que tem o nome como
núcleo — e o sintagma verbal (SV) — que tem o verbo como núcleo. Funcionando como
modificador de um ou de outro, temos o sintagma preposicionado.
2. O sintagma nominal
As reflexões feitas até agora nos levam a afirmar, com Koch e Silva (1986), que o
sintagma consiste num conjunto de elementos que constituem uma unidade significativa
dentro da oração e que mantêm entre si relações de dependência e de ordem. Organizam-se
em torno de um elemento fundamental, denominado núcleo, que pode, por si só, constituir o
sintagma.
A natureza do sintagma depende do seu núcleo. Neste texto trataremos mais
especificamente do sintagma nominal (SN), cujo núcleo é um nome, considerando seus
constituintes.
Ao abordar a noção de classe, Perini (1985) observa:
"Admite-se sempre a necessidade de classificar as palavras, e a doutrina
fornece nomes para essas classes ("verbos", "advérbios", "pronomes" etc). Além
dessas classes, existem outras, que não são explicitamente reconhecidas como tais,
mas que também recebem nomes: termos como "oração", "frase", "oração
subordinada" se referem na verdade a classes de formas, ou a suas subclasses. E,
como quaisquer outras classes, podem ser definidas pela sua distribuição sintática,
sua estrutura interna, ou ( com as limitações que conhecemos) suas propriedades
semânticas. No entanto, nem todas as classes são explicitadas. Vejamos o caso de
uma classe extremamente freqüente e importante, mas que não é em geral
reconhecida pela gramática tradicional (salvo em raríssimas exceções): a dos
sintagmas nominais".
Em seguida mostra que, mesmo apresentando grandes diferenças estruturais,
elementos como:
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
•
substantivo próprio: Júlio, Maria, Joaquim Santos, Brasil, França, África
artigo + substantivo próprio: o Lula, a Petrobrás, o Brasil
pronome + substantivo:- esta terça-feira, meu avô, algum país
artigo + substantivo + oração adjetiva: o país em que eu vivo, o livro que você leu, a
escola em que você estuda
têm comportamento sintático semelhante, isto é, são portadores de “traços sintáticos
comuns”:
• podem ser sujeito de uma oração
• podem ser objeto direto
• podem vir precedidos de preposição e funcionar como adjunto adnominal ou objeto
indireto.
Perini acrescenta:
"Uma das funções essenciais das classes de formas (por exemplo, das classes de
palavras) é justamente permitir a descrição compacta do comportamento sintático das
formas. As quatro formas (dos exemplos acima) deveriam, pois, ser colocadas em uma
classe, o que a gramática tradicional não faz; não existe sequer um termo tradicional
para essa classe. Aqui utilizaremos o termo “sintagma nominal”, designação consagrada
em Lingüística."
A inexistência de uma noção clara do sintagma nominal deixa de considerar uma
generalização importante da língua, tratando como coincidência um aspecto estrutural da
maior importância: a mesma classe de formas (o sintagma nominal) pode aparecer em
diversas funções sintáticas.
Considerando o sintagma nominal como uma classe de formas, podemos analisar e
verificar a sua estrutura interna: o sintagma nominal (SN) compõe-se de um substantivo, ou
de artigo + substantivo, ou de pronome pessoal, etc., e podemos afirmar que o sujeito é
sempre formado de um SN, assim como o objeto direto, e que o objeto indireto compõe-se
de preposição + SN (a não ser o objeto indireto representado por “lhe”).
Leia este trecho do romance de João Ubaldo Ribeiro, “Viva o povo brasileiro”.
Texto 2
Viva o povo brasileiro
(João Ubaldo Ribeiro)
Dia lavadíssimo, esta terça-feira, véspera de Santo Antônio, em que Perilo
Ambrósio estuprou a negra Daê, mais chamada por Venância. Lavado mesmo, porque
choveu até de manhãzinha, chuva grossa, chuvarada como os aguaceiros de verão, nada
dessas brueguinhas regelantes que nunca vão embora e ficam ensopando os ossos das
criaturas durante os meses de junho e julho, muitas vezes passando por agosto, quantas e
quantas vezes entrando mais ou menos por setembro, vindo as primeiras águas desde
abril, chuvas mil. E esta ilha, já diziam os antigos, é verdadeiramente o bispote do céu,
por assim falar, um ponto que as nuvens escolhem para arrebanhar-se antes de seguir
viagem. Desde segunda-feira pelas onze da noite que bateu uma pancada, bateu outra,
bateu mais outra, chuva mesmo, das que fazem aluviões, das que levantam um cheiro de
terra tão safado que muita gente fica perturbada, os comedores de barro não se
agüentando e metendo os dentes até em telhas e cacos de moringa molhados. Logo depois
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
o tempo clareia de repente, o céu aparece com um azul muito levinho, o sol vai
esquentando sem ficar tão quente como em fevereiro e o dia nasce desse jeito lavado que
todo mundo conhece, a terra e a areia assentadas, as folhas com lustro, o ar limpíssimo,
muitas novidades em cada canto, grande movimentação de bichos e uma certa alegria
despropositada, uma certa crença em que, lavado assim, luminoso assim, o universo não é
indiferente, mas propício.”
Pesquise sobre João Ubaldo Ribeiro na Internet.
Comentário sobre o texto 2
No nosso contato com um texto, é importante perceber não só o assunto tratado, mas
também como o texto é estruturado. Assim, podemos observar que essa descrição poética de
um dia de chuva está organizada em cinco períodos (lembre-se de que período é uma
unidade gramatical que contém uma ou mais orações e que pode funcionar como frase.)
No primeiro período temos a introdução do tempo, do tema e dos personagens:
“Dia lavadíssimo, esta terça-feira, véspera de Santo Antônio, em que Perilo Ambrósio
estuprou a negra Daê, mais chamada por Venância.”
O segundo período detém-se na descrição da chuva:
“Lavado mesmo, porque choveu até de manhãzinha, chuva grossa, chuvarada
como os aguaceiros de verão, nada dessas brueguinhas regelantes que nunca vão
embora e ficam ensopando os ossos das criaturas durante os meses de junho e julho,
muitas vezes passando por agosto, quantas e quantas vezes entrando mais ou menos
por setembro, vindo as primeiras águas desde abril, chuvas mil.”
No terceiro período, aparece a justificativa para tanta chuva, fornecendo argumentos, a
razão para o período anterior:
“E esta ilha, já diziam os antigos, é verdadeiramente o bispote do céu, por assim falar,
um ponto que as nuvens escolhem para arrebanhar-se antes de seguir viagem.”
No quarto período, de conotação negativa, temos a repercussão, os efeitos da chuva
nas pessoas e na terra:
"Desde segunda-feira pelas onze da noite que bateu uma pancada, bateu outra,
bateu mais outra, chuva mesmo, das que fazem aluviões, das que levantam um cheiro
de terra tão safado que muita gente fica perturbada, os comedores de barro não se
agüentando e metendo os dentes até em telhas e cacos de moringa molhados."
E, finalmente, no quinto período, há uma espécie de corte introduzindo o aspecto
positivo da chuva:
"Logo depois o tempo clareia de repente, o céu aparece com um azul muito
levinho, o sol vai esquentando sem ficar tão quente como em fevereiro e o dia nasce
desse jeito lavado que todo mundo conhece, a terra e a areia assentadas, as folhas com
lustro, o ar limpíssimo, muitas novidades em cada canto, grande movimentação de
bichos e uma certa alegria despropositada, uma certa crença em que, lavado assim,
luminoso assim, o universo não é indiferente, mas propício."
Cada período assim estruturado vai apresentar também a sua feição, a sua organização.
Como já foi dito, o primeiro período traz a introdução do tempo, do tema e dos personagens.
Nele encontramos vários SN, na verdade ele é formado basicamente de SN.
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
"Dia lavadíssimo, esta terça-feira, véspera de Santo Antônio, em que Perilo
Ambrósio estuprou a negra Daê, mais chamada por Venância.
2.1 Constituintes do sintagma nominal
O sintagma nominal apresenta um núcleo, que pode ser um substantivo (próprio ou
comum); pode ser ainda um pronome substantivo (pessoal, demonstrativo, indefinido,
interrogativo, possessivo ou relativo). No exemplo acima, cada núcleo de SN marcado em
negrito é representado por substantivo próprio ou comum. No segundo período, encontramos
que nunca vão embora , no terceiro, que as nuvens escolhem; nesses casos o núcleo é um
pronome relativo. Já no quarto período, temos: bateu outra, bateu mais outra, chuva mesmo,
das que fazem aluviões, das que levantam um cheiro de terra tão safado... em que o núcleo é
um pronome indefinido outra, um pronome demonstrativo as, ou pronome relativo que. No
quinto período... desse jeito lavado que todo mundo conhece, a terra e a areia assentadas,
encontramos núcleos representados por um substantivo comum jeito, por pronome relativo
que e ainda o caso de dois núcleos terra / areia, dois substantivos comuns.
Quando o núcleo for um pronome substantivo, este por si só representará o SN. Pode
acontecer também o caso da ausência do SN, como em “Lavado mesmo, porque choveu até
de manhãzinha”, no segundo período. Dizemos que nesse caso o SN sujeito não se atualiza
ou que sua posição não está lexicalmente preenchida.
Além do núcleo, o SN pode apresentar determinante(s), e/ou modificador(es). Os
determinantes antecedem o núcleo e os modificadores são antepostos ou pospostos.
Voltemos ao texto:
Dia lavadíssimo, esta terça-feira, véspera de Santo Antônio, em que Perilo
Ambrósio estuprou a negra Daê, mais chamada por Venância. Lavado mesmo, porque
choveu até de manhãzinha, chuva grossa, chuvarada como os aguaceiros de verão, nada
dessas brueguinhas regelantes que nunca vão embora e ficam ensopando os ossos das
criaturas durante os meses de junho e julho, muitas vezes passando por agosto, quantas e
quantas vezes entrando mais ou menos por setembro, vindo as primeiras águas desde
abril, chuvas mil. E esta ilha, já diziam os antigos, é verdadeiramente o bispote do céu,
por assim falar, um ponto que as nuvens escolhem para arrebanhar-se antes de seguir
viagem. Desde segunda-feira pelas onze da noite que bateu uma pancada, bateu outra,
bateu mais outra, chuva mesmo, das que fazem alviões, das que levantam um cheiro de
terra tão safado que muita gente fica perturbada, os comedores ( ... ) ...e o dia nasce
desse jeito lavado que todo mundo conhece, a terra e a areia assentadas, as folhas com
lustro, o ar limpíssimo, muitas novidades em cada canto, grande movimentação de
bichos e uma certa alegria despropositada, uma certa crença em que, lavado assim,
luminoso assim, o universo não é indiferente, mas propício.
Como podemos observar, as marcações em negrito indicam que artigo, numeral e
pronome adjetivo podem funcionar como determinantes do núcleo e que alguns podem vir
juntos, outros, não. Assim, em esta ilha, esta terça-feira temos um único determinante, o
pronome demonstrativo; já em uma certa alegria despropositada, uma certa crença temos
dois determinantes. Isto porque o artigo e o pronome demonstrativo se excluem, mas o
mesmo não acontece entre os artigos e os pronomes indefinidos, nem entre artigos e
numerais, como em: as primeiras águas; o mesmo se dá entre pronomes possessivos e
numerais e entre pronomes demonstrativos, possessivos e numerais.
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
Dissemos que o SN pode ainda apresentar modificador ou modificadores. Retomando
o texto, percebemos logo no início o SN Dia lavadíssimo, em que o núcleo Dia está sendo
modificado por lavadíssimo. O mesmo vai acontecer em vários SN deste texto, isto é, vários
núcleos serão "modificados" por adjetivos ou por locuções adjetivas; em certos casos, o
modificador pode ser um advérbio ou locução adverbial.
Podemos então afirmar que o SN apresenta mais de uma possibilidade de estruturação,
isto é, o SN não é fixo, imutável. Ele é formado ora por determinante ( Det ) + núcleo ( N ) +
modificador (Mod); ora por N + Mod; ora por Det+ Mod + N + Mod; ora por Det + N.
Enfim, não há grande rigidez na sua formação.
É o texto que vai nos ajudar a entender bem todas essas siglas:
os aguaceiros de verão
essas brueguinhas regelantes
as folhas com lustro
o ar limpíssimo
muitas novidades em cada canto
Det + N + Mod
chuva grossa
N + Mod
uma certa crença
Det + Det + N
a terra e a areia assentadas
Det + N + Det +N + Mod
grande movimentação de bichos
Mod + N + Mod
uma certa alegria despropositada
Det + Det + N + Mod
Vamos ler o texto em que Jorge Amado descreve as roças de cacau:
Texto 3
São Jorge de Ilhéus
(Jorge Amado)
A sombra das roças é macia e doce, é como uma carícia. Os cacaueiros se fecham
em folhas grandes que o sol amarelece. Os galhos se procuram e se abraçam no ar,
parecem uma árvore subindo e descendo o morro, a sombra de topázio se sucedendo por
centenas e centenas de metros. Tudo nas roças de cacau é em tonalidades amarelas, onde,
por vezes, o verde rebenta violento. De um amarelo aloirado são as minúsculas formigas
pixixicas que cobrem as folhas dos cacaueiros e destroem a praga que ameaça o fruto. De
um amarelo desmaiado se vestem as flores e as folhas novas que o sol pontilha de
amarelo queimado. Amarelos são os frutos precoces que pecaram ao calor demasiado. Os
frutos maduros lembram lâmpadas de oiro das catedrais antigas, fulgem com um brilho
resplandecente aos raios do sol, que penetram a sombra das roças. Uma cobra amarela uma papa-pinto - acalenta o sol na picada aberta pelos pés dos lavradores. E até a terra,
barro que o verão transformou em poeira, tem um vago tom amarelo, que se prende e
colore as pernas nuas dos negros e dos mulatos que trabalham na poda dos cacaueiros.
Dos cocos maduros se derrama uma luz doirada e incerta que ilumina suavemente
pequenos ângulos das roças. O sol que se filtra através das folhas desenha no ar colunas
amarelas de poeira, que sobem para os galhos e se perdem além, por cima das folhas mais
altas. Os juparás, macacos plantadores de cacau, pulam de galho em galho, numa
algazarra, sujando o oiro dos cacaueiros com o seu amarelo fosco e sujo. A papa-pinto
desperta, estira seu dorso cor de gema de ovo, parece uma vara de metal que fosso
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
flexível. Seus olhos amarelos de cobiça fitam os macacos que passam, bando buliçoso e
alegre. Caem gotas de sol através dos cacaueiros. Vão rebentar em raios no chão, quando
batem nas roças de água lhe dão um colorido de rosa-chá. Como se houvesse uma chuva
de topázio caindo do céu, virando pétalas de rosa-chá no chão de poeira ardente. Há todos
os tons de amarelos na traqüilidade da manhã nas roças de cacau.
E, quando corre uma leve brisa, todo aquele mar de amarelo se balança, as
tonalidades se confundem, criam um amarelo novo, o amarelo das roças de cacau, ah! O
mais belo do mundo! Um amarelo como só os grapiúnas vêem nos dias de verão do
paradeiro. Não há palavras para descrevê-lo, não há imagem para compará-lo, um
amarelo sem comparação, o amarelo das roças de cacau!
Comentário sobre o texto 3
Para descrever as roças de cacau, o autor coloca-se em íntimo contacto com a
natureza, em uma descrição afetiva, pessoal, atribuindo características humanas a seres
inanimados, personificando elementos da natureza: “De um amarelo demasiado se vestem as
flores e as folhas novas...” Encontramos também muitas imagens baseadas nos sentidos,
principalmente impressões visuais: “Tudo nas roças de cacau é de tonalidades amarelas...”
O texto é extremamente rico em metáforas, que ajudam a construir a descrição,
essencial ao desenvolvimento da narrativa.
Vamos agora examinar o sujeito da frase:
Uma cobra amarela acalenta o sol.
Nesse sujeito, a palavra mais importante é cobra, o seu núcleo. As palavras uma e
amarela limitam o sentido do núcleo cobra, são seus determinantes — os determinantes do
sujeito. Quando construímos nossos textos, usamos esses elementos determinantes para
limitar, como em uma cobra, ou para dar mais um sentido aos substantivo, como em cobra
amarela.
Assim, algumas palavras e expressões servem para limitar ou dar mais um sentido aos
substantivos que acompanham:
Os cacaueiros se fecham em folhas grandes.
Quando corre uma leve brisa, aparece um amarelo novo.
Veja só a frase:
Os frutos maduros lembram lâmpadas de ouro de catedrais antigas.
Para descrever os substantivos frutos, catedrais e lâmpadas, o autor empregou
adjetivos e locuções adjetivas:
substantivos
adjetivos/locuções
frutos
maduros
catedrais
antigas
lâmpadas
de ouro
olhos
amarelos
gotas
de sol
Podemos concluir, portanto, que o texto é todo construído com elementos que vão
caracterizando, descrevendo as roças de cacau. Além de adjetivos e locuções adjetivas, o
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
autor usou também várias orações que têm o valor de um adjetivo: são as orações adjetivas.
Elas se referem ao termo anterior e vêm sempre introduzidas por um pronome relativo:
Amarelos são aqueles frutos precoces que pecaram ao calor demasiado.
aqueles
frutos
precoces
que pecaram ao calor demasiado.
Nestas outras frases também se realiza esse processo de detalhamento do substantivo:
O sol que se filtra através das folhas desenha colunas no ar.
As colunas amarelas de poeira que sobem para os galhos.
A "papa-pinto" que parece uma vara de metal.
Usamos as orações subordinadas adjetivas para ampliar o sentido dos nomes. Observe:
Os juparás pulam de galho em galho.
Os juparás, que são macacos plantadores de cacau, pulam de galho em galho.
Dos cocos maduros se derrama uma luz doirada e incerta.
Dos cocos maduros se derrama uma luz doirada e incerta que ilumina suavemente pequenos
ângulos das roças.
O sol desenha no ar colunas amarelas de poeira.
O sol que se filtra através das folhas desenha no ar colunas amarelas de poeira.
O sol que se filtra através das folhas desenha no ar colunas amarelas de
poeira que sobem para os galhos e se perdem além.
2.2 O nome como núcleo funcional
No nosso dia-a-dia, fazemos um uso muito freqüente de nomes, para dois tipos de
função:
a) identificar seres e objetos (substantivos);
b) caracterizar, especificar, especializar seres e objetos (adjetivos).
Substantivos e adjetivos fazem parte da ampla classe dos nomes. Existe uma diferença
entre eles, mas essa diferença só se evidencia funcionalmente, quando aparecem combinados
no sintagma nominal, numa ordem linear, o substantivo funcionando como núcleo, e o
adjetivo como modificador. Quando isolados, nem sempre é possível uma distinção nítida
entre substantivos e adjetivos, porque eles têm características mórficas semelhantes, isto é,
flexionam-se para expressar as categorias de gênero e número.
Percebemos que os substantivos podem ser modificados por adjetivos, elementos
capazes de precisar o seu sentido, e que esse processo constitui um mecanismo produtivo na
língua, dada a capacidade dos adjetivos de expandir a idéia básica definida pelos
substantivos.
Texto 4
Rios de Petrópolis
A poluição faz rios coloridos.
Não é tão feia assim. Como atração
reproduz, em matizes escolhidos,
as belas cores da televisão.
(Carlos Drummond de Andrade)
Comentário sobre o texto 4
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
Neste texto podemos observar a relação núcleo (termo determinado) e modificador
(termo determinante) de maneira muito clara.
modificador
(adjetivos)
núcleo
(substantivos)
feia
poluição
belas
cores
núcleo
(substantivos)
modificador
(adjetivos)
rios
coloridos
matizes
escolhidos
O nome substantivo é, por excelência, o núcleo do sintagma nominal.
Os pronomes pessoais têm, como uma de suas características básicas, a possibilidade
de constituírem, sozinhos, um SN.
Exemplo: Ele chegou atrasado.
Outros pronomes podem também funcionar como núcleos de SN ou constituírem,
sozinhos, um SN.
Exemplos: Tudo era silêncio em Manarairema.
“Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.” (Cecília Meieles)
Qualquer vocábulo de outra classe, que ocupe a função de núcleo do sintagma
nominal, será entendido como um substantivo.
Exemplos: "Viver é muito perigoso …" (Guimarães Rosa)
Recebi um sonoro não como resposta ao meu pedido.
Os elementos determinantes do sintagma nominal são representados pelos artigos,
pelos pronomes, e pelos numerais.
Texto 5
O engenheiro
(João Cabral de Mello Neto)
A luz, o sol, o ar livre
envolvem o sonho do engenheiro.
O engenheiro sonha coisas claras:
superfícies, tênis, um copo de água.
O lápis, o esquadro, o papel;
o desenho, o projeto, o número:
o engenheiro pensa o mundo justo,
mundo que nenhum véu encobre.
(Em certas tardes nós subíamos
ao edifício. A cidade diária,
como um jornal que todos liam,
ganhava um pulmão de cimento e vidro).
A água, o vento, a claridade,
de um lado o rio, no alto as nuvens,
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
situavam na natureza o edifício
crescendo de suas forças simples.
Comentário sobre o texto 5
Esse poema focaliza a função do engenheiro, que é dar forma à matéria. O substantivo
é a classe que indica a corporificação da matéria representada. Por isso, na construção do
poema, o autor privilegiou a seqüência de substantivos (as palavras destacadas).
Como podemos perceber, há inúmeros SN com seus núcleos substantivos,
determinados por artigos e pronomes, como destacamos nos quadros abaixo:
Sintagma nominal
Determinante
Núcleo
a luz
a (artigo)
luz
o sol
o (artigo)
sol
o ar livre
o (artigo)
ar
o engenheiro
o (artigo)
engenheiro
a água
a (artigo)
água
as nuvens
as (artigo)
nuvens
um jornal
um (artigo)
jornal
um copo d' água
um (artigo)
copo
nenhum véu
nenhum (pronome)
véu
certas tardes
certas (pronome)
tardes
suas forças simples
suas (pronome)
forças
Texto 6
Trecho de entrevista
“(...) a sala, apesar de não ser grande, dá dois ambientes perfeitamente separados. O primeiro
ambiente da sala de estar tem um sofá de couro, uma forração verde, as almofadas verdes,
ladeado com duas mesinhas de mármore, abajur, um quadro, reprodução de Van Gogh. Em
frente tem uma mesinha de mármore e em frente a esta mesa e portanto defronte do sofá tem
um estrado com almofadas areia, o aparelho de som, um baú preto. À esquerda desse estrado
tem uma televisão enorme, horrorosa, depois tem em frente à televisão duas poltroninhas
vermelhas, de jacarandá, e aí termina o primeiro ambiente. Depois, então, no outro, no
alargamento da sala tem uma mesa grande com seis cadeiras com um abajur em cima...”
(Projeto NURC/RJ - entrevista sobre o tema Casa, informante do sexo feminino, com idade
entre 25 e 35 anos)
O nome adjetivo, do ponto de vista funcional, ocupa a posição de modificador do
núcleo do sintagma nominal.
Sintagma nominal
Determinantes
Núcleos
dois ambientes
dois
ambientes
o primeiro ambiente
o, primeiro
ambiente
duas mesinhas de mármore
duas
mesinhas
duas poltroninhas vermelhas
duas
poltroninhas
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
seis cadeiras
seis
cadeiras
Em alguns casos, como nos exemplos destacados do Texto 4 (Rios de Petrópolis), a
relação entre núcleo e modificador do sintagma nominal pode ser facilmente observada. Em
outros, verifica-se uma forte semelhança entre o adjetivo e o substantivo, por isso é preciso
recorrer ao critério funcional para perceber qual é o vocábulo determinado (substantivo) e
qual é o vocábulo determinante (adjetivo). Observe estas frases:
O campeão da Copa de 94 foi o Brasil.
O time campeão marcou muitos gols.
Quando dizemos "O campeão da Copa de 94 foi o Brasil", a palavra campeão é o
núcleo do sintagma, a base, o centro da informação contida em o campeão da Copa de 94.
Estamos falando do campeão. Quando dizemos "O time campeão marcou muitos gols", o
centro da informação contida no sintagma o time campeão é a palavra time. Estamos falando
do time.
No trabalho com a produção de textos, é importante mostrar a semelhança de função
entre o adjetivo e a locução adjetiva, ambos modificadores do núcleo do sintagma nominal.
A locução é formada por uma preposição mais um substantivo (sintagma preposicionado).
No poema “O Engenheiro” temos: o sonho do engenheiro, um pulmão de cimento e vidro,
um copo de água. No texto retirado da entrevista temos: sofá de couro, mesinha de mármore,
duas poltroninhas vermelhas de jacarandá.
Na função de modificadores, os adjetivos e as locuções adjetivas podem especificar,
caracterizar ou expressar uma avaliação do falante sobre os substantivos. Para especificar e
caracterizar os substantivos, usamos, com maior freqüência, as locuções adjetivas; para
avaliar, são mais freqüentes os adjetivos simples.
Especificação
bola
de futebol
de basquete
de gude
panela
de arroz
de feijão
de pipoca
forma
de bolo
de queijo
de pudim
de pizza
pista
de corrida
de atletismo
de dança
Caracterização
bola
de plástico
de couro
de meia
santo
de barro
de madeira
de gesso
panela
de barro
de ferro
de alumínio
Avaliação
bola
estragada
velha
nova
bonita
juiz
educado
honesto
ladrão
trabalhador
É muito importante que o usuário da Língua Portuguesa do Brasil perceba essas
diferenças para aplicá-las na produção de sintagmas mais complexos.
2.3 Processos de ampliação do sintagma nominal
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
Os processos de ampliação do SN compreendem, além do acréscimo de adjetivos, as
locuções adjetivas e as orações adjetivas.
Para refletir um pouco mais sobre essa questão, vamos examinar esses trechos,
publicados no Jornal do Brasil:
Texto 7
a) “A história do brasileiro pobre que ficou rico fazendo
gols, do garoto talentoso que virou ídolo internacional e do
craque rebelde que virou herói nacional já não nos pertence
mais, é do mundo.”
(JB, 18/7/94 - p.24)
b) “As dúvidas e os atrasos
estão levando o clube à
falência.”
JB, 11/12/93)
Comentário sobre texto 7
Enquanto no texto a os núcleos são especificados por adjetivos, os substantivos do
texto b não apresentam um único adjetivo. Há, portanto, textos em que substantivos se
bastam (texto b), enquanto em outros o centro da expressão é especificado, especializado,
precisado, embelezado, caracterizado, enfim, por adjetivos.
A adjetivação do substantivo pode se dar também por meio:
a) de uma locução (expressão):
Enquanto houver um passe de calcanhar, um gol de placa, um drible de craque, valerá
a pena torcer pelos campeões do mundo.
b) de uma frase:
O público que lota os estádios vibra com os lances.
O time que jogou contra o Brasil era muito bom.
Vejamos outros exemplos:
Aquele time europeu virou um verdadeiro balcão de negócios.
O técnico da seleção brasileira não ouve os apelos que a torcida faz.
O jogador, que ontem se apresentou nas Laranjeiras, custou duas vezes o valor do
passe.
Desde que assumiu a direção técnica do Milan, conquistando dois títulos de campeão
italiano, foi o mais aplicado e bem sucedido adepto da marcação por zona. Seu prestígio
continua intacto : além do convite para dirigir a seleção japonesa, nos últimos meses Telê
recebeu convites de times de Roma e da Arábia Saudita.
Em 94, pelo menos três seleções surpreenderam : Nigéria e Arábia Saudita, além dos
Estados Unidos, que eliminaram a Colômbia, que foi apontada como uma das favoritas e que
se revelou a grande decepção do torneio.
O futebol alegre dos nigerianos é uma das atrações da Copa.
Vimos que é através do acréscimo de adjetivos, locuções adjetivas e orações
subordinadas adjetivas que se dá a expansão do substantivo - base, núcleo da expressão.
Observe o texto abaixo:
Texto 8
Bola Carijó
Já estou começando a ficar encafifado com essa pelota malhada,
com esse couro branco, pintalgado de preto ou preto, salpicado de branco,
que os altíssimos mentores da FIFA oficializaram para o Mundial de 66.
Embora corintiana também como eu, olho-a com suspeição e
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
desconfiança a rolar enganosamente pelo gramado: bola-não-bola, brancanão-branca, preta-não-preta, branca-ou-preta, preta-ou-branca, branca-epreta, preta-e-branca, prenca, branta. E cinza quando em alta rotação. Que
diabo de nem-bola é essa afinal? Caleidoscópica, hipócrita, camuflada,
mesmérica-bola-de-Tróia?
(Décio Pignatari)
Pesquise sobre Décio Pignatari na Internet, na
(Décio
Pignatari)
Comentário sobre o texto 8
Nesta crônica, o autor descreve a bola de futebol que foi usada na Copa do Mundo de
66. Ela era bicolor, com gomos pretos e brancos. A presença da adjetivação contribui para a
ampliação dos núcleos substantivos (especificando, especializando, precisando,
caracterizando, enfim) pelota malhada couro branco, pintalgado de preto ou preto, salpicado
de branco altíssimos mentores da FIFA (bola) Caleidoscópica, hipócrita, camuflada (bola)
corintiana
Texto 9
Os Tubarões
(Revista Ciência Hoje das Crianças)
Os tubarões são bichos interessantíssimos. Infelizmente, não são tão conhecidos
pelo público, que acha que eles são assassinos cruéis e devoradores de homens.
Os estudiosos acreditam que os primeiros tubarões surgiram há mais ou menos
300 milhões de anos. Isso é muito tempo. Os dinossauros surgiram há cerca de 220
milhões de anos e desapareceram há 65 milhões. Quer dizer, os tubarões apareceram
bem antes deles e ainda continuam nadando por oceanos e mares do mundo.
Os tubarões têm esqueleto feito de cartilagem e não de ossos. São parentes das
arraias e das quimeras, que também têm esqueleto cartilaginoso.
O maior tubarão do mundo é o tubarão-baleia, que pode medir até 18 metros de
comprimento e só come peixes pequenos.
Muito interessante é a gestação dos tubarões. Há algumas espécies, como o caçãogata, que botam um "ovo" na vegetação marinha. Dentro dele o filhote se desenvolve até
o momento de romper a casca. Na maioria das outras espécies, o filhote passa toda a
gestação dentro do útero materno. O olfato dos tubarões é tão desenvolvido que muitos
pesquisadores os apelidaram de "narizes nadadores". Experiências comprovam que o
tubarão consegue localizar, pelo cheiro, uma gota de sangue misturada em um milhão e
meio de gotas de água, e isso a uma distância de 30 metros. Seria assim como pingar
uma gota de sangue numa piscina olímpica.
Uma coisa que quase ninguém fala é que os homens estão matando muitos
tubarões. Hoje em dia já existem pesquisadores preocupados com este problema, porque
os tubarões comem uma grande quantidade de animais marinhos, ajudando a manter o
equilíbrio do ecossistema. Mas não é só por isso que devemos proteger os tubarões. Eles
são também uma rica fonte de proteína animal, que é muito útil na medicina.
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
Comentário sobre o texto 9
O texto explica, em uma linguagem acessível, como são os tubarões, o seu processo de
gestação, o seu tempo de vida na Terra, os seus sentidos, e principalmente o olfato.
Apresenta ainda algumas razões para justificar a preocupação com a matança e a extinção
dos tubarões, alertando para o papel dos tubarões na manutenção do equilíbrio ecológico do
ecossistema.
Muitos sintagmas nominais foram empregados pelo autor para descrever os tubarões,
os substantivos (núcleos) os substanivos nomeando algumas partes do tubarão, os adjetivos
(modificadores) fornecendo detalhes sobre essas partes do animal.
substantivos
adjetivos
bichos
interessantíssimos
esqueleto
cartilaginoso
olfato
desenvolvido
narizes
nadadores
proteína
animal
assassinos
cruéis
peixes
pequenos
piscina
olímpica
animais
marinhos
pesquisadores
preocupados
Além dos adjetivos, podemos combinar uma preposição e um substantivo (sintagma
preposicionado) quando queremos descrever as características de algum objeto, de algum
animal ou pessoa.
locução adjetiva = preposição + substantivo
substantivo
adjetivo
locução adjetiva
proteína
animal
dos animais
bichos
interessantíssimos
de muito interesse
esqueleto
cartilaginoso
de cartilagem
útero
materno
da mãe
pesquisadores
preocupados
com preocupação
animais
marinhos
do mar
Veja outros exemplos de locuções adjetivas no texto:
substantivo
adjetivo
mares
do mundo
oceanos
do mundo
gestação
dos tubarões
olfato
dos tubarões
gota
de sangue
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
gota
de água
equilíbrio
do ecossistema
fonte
de proteína
Existe uma outra maneira de incluir informações novas em nossos textos, além do uso
de adjetivos e locuções adjetivas:
assustador
Esse é um filme
que assusta
O tubarão é fonte de proteína animal
útil na medicina
que é útil na medicina
Os adjetivos podem ser substituídos por orações completas, chamadas de orações
subordinadas adjetivas. Isso é muito comum tanto na nossa linguagem do dia-a-dia quanto na
linguagem formal escrita.
É fácil entender como essas orações são formadas:
o rapaz é meu amigo + o rapaz subiu no ônibus
o rapaz que subiu no ônibus é meu amigo - oração adjetiva
Essa combinação das duas frases só foi possível porque usamos o pronome relativo
que. Ele tem a função de substituir o vocábulo repetido, quando uma frase se encaixa na
outra.
O tubarão-baleia pode medir até 18 metros de comprimento.
+
O tubarão-baleia só come peixes pequenos
que
=
O tubarão-baleia, que só come peixes pequenos, pode medir até 18 metros de
comprimento.
ou
O tubarão-baleia só come peixes pequenos.
O tubarão-baleia pode medir até 18 metros de comprimento.
que
=
O tubarão-baleia, que pode medir até 18 metros de comprimento, só come peixes
pequenos.
Texto 10
De onde vem o ouro
(Revista Ciência Hoje das Crianças)
O ouro é um dos metais mais valiosos e procurados em todo o mundo. Tamanho
sucesso se deve principalmente a dois motivos: seu brilho tão bonito e sua resistência à
corrosão, isto é, o ouro não enferruja. Essas características o tornam muito bom para a
fabricação de diversos objetos, desde jóias e moedas até peças de aparelhos eletrônicos e
blocos para obturações de dente.
As pessoas se sentem atraídas pelo ouro há muito tempo. Cerca de 3.200 anos antes
de Cristo, os egípcios já se serviam dele — acredita-se que como dinheiro. Mais tarde, a
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
corrida em busca desse metal, que foi chamada "febre do ouro", levou os homens a
explorar outros lugares do mundo, como as Américas e a África. O Brasil é um dos países
que mais têm ouro no mundo.
Mas, afinal, onde está o ouro e como podemos consegui-lo?
O ouro, assim como outros metais, fica escondido em muitos lugares do nosso
planeta. Pode estar em uma enorme montanha, embaixo da terra, na praia ou no fundo do
mar. O ouro e outros metais ficam dentro de um material, chamado minério. A área que
reúne os minérios é denominada reserva mineral. Ele está espalhado em pequenas
quantidades no meio do minério: é preciso explorar aproximadamente uma tonelada de
minério para conseguir não mais do que 4 ou 5 gramas de ouro no final!
Depois de encontrado, o ouro precisa passar por um tratamento industrial para que
tenha alguma utilidade.
A primeira etapa do processo é quebrar o minério em pedaços menores, para que o
ouro se solte. Esta etapa é feita com a ajuda de equipamentos chamados britadores e
moinhos. Também são usadas peneiras, que ajudam a separar o ouro do minério.
Após a quebra, o minério é levado a tanques enormes, com uma solução que é
capaz de dissolver o ouro. Essa solução é feita da mistura de água com cianeto de sódio,
um sal venenoso, parecido com o sal que usamos na cozinha (cloreto de sódio). Forma-se
uma polpa e o ouro vai se soltando do minério e se misturando à solução.
Depois disso, a solução passa por um filtro e é misturada então com pedaços de
carvão ativado. O ouro fica grudado nesse carvão e passa novamente pelo cianeto de
sódio para desgrudar-se do carvão.
A etapa seguinte é a eletrólise, que é feita numa banheira com chapas de metal
eletrificadas. Quando a solução é colocada sobre as chapas, forma-se uma fina camada
sólida de ouro, que fica grudada na chapa e pode ser retirada como se fosse uma fita
adesiva.
A seguir, ele é derretido e solidificado, ficando pronto para ser vendido.
Comentário sobre o texto 10
O texto, além de fornecer informações de ordem geral sobre o ouro, como as suas
características, os lugares onde é encontrado, as razões pelas quais é considerado um metal
valioso, etc., descreve com detalhes as diversas etapas de tratamento desse metal.
Observe com cuidado os sintagmas nominais utilizados no texto para descrever o ouro
e o processo de tratamento:
substantivos
adjetivos
metal
valioso
metal
procurado
brilho
bonito
Os vocábulos que aparecem na coluna substantivos se referem ao ouro, enquanto os
que aparecem na coluna adjetivos descrevem avaliações sobre seu valor. Outros sintagmas
nominais ocorreram no texto:
Sintagmas nominais
substantivos
adjetivos
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
aparelhos
eletrônicos
montanha
enorme
reserva
mineral
quantidades
pequenas
tratamento
industrial
pedaços
menores
tanques
enormes
sal
venenoso
carvão
ativado
chapas
eletrificadas
fita
adesiva
Além dos adjetivos, podemos combinar uma preposição e um substantivo (sintagma
preposicionado) quando queremos descrever as características de algum objeto, de algum
animal ou pessoa.
locução adjetiva = preposição + substantivo
substantivo
adjetivo
locução adjetiva
reserva
mineral
de minério
tratamento
industrial
da indústria
sal
venenoso
com veneno
chapas
eletrificadas
com eletricidade
fita
adesiva
com adesivo
Veja outros exemplos de locuções adjetivas do texto:
substantivo
adjetivo
febre
do ouro
lugares
do mundo
fundo
do mar
tonelada
de minério
cianeto
de sódio
cloreto
de sódio
chapas
de metal
Existe uma outra maneira de incluir informações novas em nossos textos, além do uso
de adjetivos e locuções adjetivas. Podemos empregar orações subordinadas adjetivas.
Essa é uma história
assustadora
que assusta
O ouro é um metal
muito valorizado
que é muito valorizado
Observe como essas orações são formadas:
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
o ouro atrai muito os homens + o ouro é um metal valorizado
o ouro que é um metal valorizado atrai muito os homens — oração adjetiva
A combinação das duas frases foi possível porque usamos o pronome relativo que. Ele
tem a função de substituir o vocábulo que se repete, quando uma frase se encaixa na outra.
Observe:
A corrida em busca do ouro enlouquece os homens.
A corrida em busca do ouro é chamada "febre do ouro".
que
=
A corrida em busca do ouro, que é chamada "febre do ouro", enlouquece os homens
ou
A corrida em busca do ouro é chamada "febre do ouro".
+
A corrida em busca do ouro enlouquece os homens.
que
=
A corrida em busca do ouro, que enlouquece os homens ,é chamada "febre do ouro".
2.4 Funções do sintagma nominal
Retomando o trecho extraído do romance Viva o povo brasileiro, de João Ubaldo
Ribeiro, vamos agora avançar um pouco mais no nosso estudo do SN: considerar a
possibilidade que ele tem de exercer diversas funções sintáticas.
Consideremos o quinto período em que há uma espécie de corte introduzindo o
aspecto positivo da chuva:
Logo depois o tempo clareia de repente, o céu aparece com um azul muito levinho,
o sol vai esquentando sem ficar tão quente como em fevereiro e o dia nasce desse jeito
lavado que todo mundo conhece, a terra e a areia assentadas, as folhas com lustro, o ar
limpíssimo, muitas novidades em cada canto, grande movimentação de bichos e uma
certa alegria despropositada, uma certa crença em que, lavado asssim, luminoso assim, o
universo não é indiferente, mas propício.
O assunto aqui gira em torno do universo - tempo, céu, sol, dia e exatamente esses são
os núcleos dos SN na função de sujeito. Vejamos:
o tempo
clareia de repente
o céu</TD>
aparece com um azul muito levinho,
o sol
vai esquentando
o dia
nasce desse jeito lavado
o universo
não é indiferente, mas propício
Ainda neste período, vamos encontrar o SN como modificador nominal aposto:
a terra e a areia assentadas,
as folhas com lustro,
o ar limpíssimo,
muitas novidades em cada canto,
grande movimentação de bichos
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
e uma certa alegria despropositada,
uma certa crença ... [ em que, lavado asssim, luminoso assim, o universo não é indiferente,
mas propício.]
O SN na função de predicador vai aparecer no terceiro período:
E esta ilha, já diziam os antigos, é verdadeiramente o bispote do céu, por assim falar,
um ponto que as nuvens escolhem para arrebanhar-se antes de seguir viagem.
No primeiro período, em que temos a introdução do tempo, do tema e dos
personagens, vamos encontrar o SN na função de objeto direto:
"Dia lavadíssimo, esta terça-feira, véspera de Santo Antônio, em
que Perilo Ambrósio estuprou a negra Daê, mais chamada por Venância."
Também o segundo período, que se detém na descrição da chuva, vai apresentar o SN
na função de objeto direto:
... essas brueguinhas regelantes (...) ficam ensopando os ossos das
criaturas
durante
os
meses
de
junho
e
julho,
Portanto, o SN pode ser sujeito, objeto direto, predicativo, aposto ...
Além disso, é preciso considerar as orações subordinadas substantivas, que são
verdadeiros SN formados pelas conjunções integrantes que ou se + oração. Nesse caso, essas
orações exercem, no período composto, as mesmas funções que o SN no período simples.
Esse assunto será abordado com mais detalhes nos próximos temas - Coordenação e
Subordinação.
3. A questão da transitividade
Transitividade: Caráter dos nomes e verbos que exigem algo para lhes integrar o
sentido. É o que ocorre com os verbos transitivos. Também substantivos, adjetivos e
advérbios podem exigir complemento: necessidade de, necessário a, referente a, etc. A
transitividade admite graus, indo do zero (intransitividade) à necessidade absoluta: Pedro
dançava. Maria dançava uma valsa. Ela é útil ao pai. Tem precisão de assistência.
(Zélio dos Santos Jota - Dicionário de Lingüística)
A transitividade costuma ser tratada em nossas gramáticas somente quanto aos verbos.
Ora, é preciso considerar também a transitividade nominal. Vejamos o texto abaixo,
adaptado de matéria publicada na Revista Veja (29/07/98).
Texto 11
O outro vestibular
A disputa por um emprego nas maiores empresas brasileiras está começando para
os estudantes que concluirão a faculdade no final do ano. Quem já passou pela
experiência sabe que, perto dela, o funil do vestibular parece brincadeira. Dos numerosos
jovens que se candidataram a uma vaga da firma Cargill, que atua no ramo de alimentos,
apenas uma pequena parcela revelou inclinação para o tipo de trabalho a ser
desenvolvido. Em todas as grandes companhias que adotam a política de recrutar
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
profissionais recém-formados, a disputa por uma vaga é mais pesada do que nas mais
concorridas universidades brasileiras. Durante o programa de treinamento, o jovem
trainee terá acesso a diferentes departamentos da empresa. Se ele tiver domínio do uso de
computadores, suas chances de ser escolhido aumentarão. "Hoje as empresas querem
pessoas com senso crítico, que saibam apontar problemas e sugerir soluções", afirma a
responsável pelo programa de treinamento da Gessy Lever. A primeira triagem é feita
entre os currículos que chegam às empresas. Nesta fase, mais da metade dos candidatos é
eliminada. A capacidade para trabalhar em equipe e a desenvoltura para lidar com
problemas serão muito úteis ao candidato que estiver lutando por uma vaga como jovem
trainee. (…)
Comentário sobre o texto 11
Nesse texto, o assunto abordado é a dificuldade de conseguir uma vaga como trainee
em uma grande empresa. Existe uma diferença entre ser estagiário e ser trainee: o estágio
pressupõe uma permanência curta na empresa, com data para começar e terminar, enquanto
para os trainees a proposta é ficar. A concorrência é muito grande, pois as empregadoras
oferecem pouquíssimos postos em relação ao número de candidatos que se apresentam. O
salário inicial é atraente; além disso, existe a chance de fazer carreira.
Escolhemos esse texto, escrito em linguagem clara, para mostrar a questão da
transitividade de verbos e de nomes. Para isso, fizemos algumas modificações no que foi
originalmente publicado na revista.
Como lemos na definição, existem “verbos que exigem algo para lhes integrar o
sentido”. Isso acontece com os seguintes verbos do texto:
• concluirão (verbo transitivo direto)
• a faculdade (SN - objeto direto)
• se candidataram (verbo transitivo indireto)
• a uma vaga da firma Cargill (SP - objeto indireto)
• querem (verbo transitivo direto)
• pessoas (SN - objeto direto)
• apontar (verbo transitivo direto)
• problemas (SN - objeto direto)
• sugerir (verbo transitivo direto)
• soluções (SN - objeto direto)
• lutar (verbo transitivo indireto)
• por uma vaga (SP - objeto indireto)
Existem também nomes (substantivos, adjetivos e advérbios) "que exigem algo para
lhes integrar o sentido". As expressões abaixo servem para comprovar essa afirmação.
disputa
(substantivo)
por um emprego
inclinação
(substantivo)
para o tipo de trabalho
acesso
(substantivo)
a diferentes departamentos da empresa
domínio
(substantivo)
do uso de computadores
responsável
(adjetivo)
pelo programa de treinamento da Gessy Lever
capacidade
(substantivo)
para trabalhar em equipe
desenvoltura
(substantivo)
para lidar com problemas
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
úteis
(adjetivo)
ao candidato
Nos exemplos acima, os termos que completam o sentido dos substantivos e adjetivos
(por um emprego, para o tipo de trabalho, a diferentes departamentos da empresa, etc) são
sintagmas preposicionados que recebem o nome de complemento nominal.
Embora com menor freqüência na língua, os advérbios também podem ser
complementados por sintagmas preposicionados. Exemplos:
A oposição votou favoravelmente ao governo.
SP - complemento nominal
Nada será resolvido relativamente a esse problema.
SP - complemento nominal
2. O SINTAGMA VERBAL
Sintagma verbal (SV) é o conjunto de elementos que se organizam em
torno de um verbo.
O SN e o SV são os elementos básicos, obrigatórios de uma oração. Enquanto o SN,
como vimos, pode desempenhar funções diferentes (sujeito, objeto direto, objeto indireto,
por exemplo) o SV desempenha sempre a função de predicado.
Texto 2
Meninos carvoeiros (Manuel Bandeira)
Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
- Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho enorme.
Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.
(Pela boca da noite vem uma velhina que os
recolhe, dobrando-se com um gemido.)
- Eh, carvoero!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles …
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se
brincásseis!
- Eh, carvoero!
Quando voltam , vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,
Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados!
Comentário sobre o texto 2
Este poema, que faz parte do livro "Ritmo dissoluto", escrito em 1924, se caracteriza
pelo emprego de versos livres, isto é, versos em que o autor não se prende a um número préestabelecido de sílabas, a um esquema conhecido.
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
Estão presentes no poema as cenas do cotidiano, descritas em uma linguagem simples
e acessível. Manuel Bandeira, nesses versos livres, está mais próximo do ritmo da prosa,
evidenciando o caráter afetivo da linguagem.
As orações que compõem os versos do poema, sobretudo as da primeira estrofe, são
orações curtas, em que os elementos constituintes, o SN e o SV, podem ser identificados
com facilidade.
Sintagma nominal
Sintagma verbal
Os meninos carvoeiros
passam a caminho da cidade.
(Os meninos carvoeiros)
vão tocando os animais com um relho enorme.
Os burros
são magrinhos e velhos.
Cada um
leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem
é toda remendada...
Os carvões
caem.
Uma velhinha
vem pela boca da noite.
Estas crianças raquíticas
vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua
parece feita para eles.
Como podemos ver, os sintagmas verbais podem apresentar diferentes constituições.
Podem ter somente a forma verbal, como em
Os carvões caem.
ou serem formados de verbos combinados com outros elementos, como em:
leva + seis sacos de carvões de lenha
vão tocando + os animais com um relho enorme
vem + pela boca da noite
passam + a caminho da cidade
A presença ou não de outros termos no SV, termos que completam ou modificam o
sentido do verbo, vai depender do tipo de verbo que ocorrer. A estas diferentes
possibilidades de se constituir o sintagma verbal, em função do verbo, damos o nome de
predicação verbal.
2.1 Constituintes do sintagma verbal
Como anteriormente dito, a presença do verbo é o que caracteriza o sintagma verbal.
Além do verbo, outros termos podem fazer parte do SV, dependendo do verbo que funciona
como núcleo. Esses outros elementos são, por sua vez, sintagmas - nominais ou
preposicionados. Esses sintagmas desempenham diferentes funções no SV: complementos
diretos, indiretos, adjuntos adverbiais, agentes da passiva …
Texto 3
O anjo das pernas tortas
(Vinicius de Moraes)
A um passe de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.
Vem-lhe o pressentimento; ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés --- um pé-de-vento!
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
Num só transporte a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.
Garrincha, o anjo, escuta e atende: --- Gooooool!
É pura imagem: um G que chuta um O
Dentro da meta, um L. É pura dança!
Comentário sobre o texto 3
Esse poema de Vinicius de Moraes conta um pouco da arte de Garrincha, lendário
jogador de futebol brasileiro. Com as pernas tortas, Garrincha era considerado um gênio do
futebol, driblando todos os seus adversários.
O futebol é o esporte mais amado pelos brasileiros. Para narrar seus jogos, os
locutores esportivos usam diversas palavras estrangeiras, inventam novas palavras, criam
apelidos para os jogadores e para as jogadas. Tudo isso para atrair a atenção do público e
tornar a narração do jogo mais interessante.
No poema que você leu, encontramos vários verbos que exigem a presença de
sintagmas nominais para completarem seu sentido.
Garrincha
Garrincha
Garrincha
A multidão
Garrincha
dribla
mede
faz
grita
escuta
um jogador
o lance
um gol
um canto de
o grito
driblar => quem? = um jogador
medir => o quê? = o lance
escutar => o quê? = o grito
fazer => o quê? = um gol
gritar => o quê? = um canto
Todos os termos que serviram para responder as perguntas quem?, o quê? vieram
acrescentar uma informação aos verbos driblar, medir, escutar, fazer, gritar, completando
o sentido do verbo. Repare ainda que todos esses complementos ligaram-se diretamente ao
verbo, isto é, não foi usada nenhuma preposição entre o verbo e seu complemento. São
sintagmas nominais que funcionam como objeto direto. E o verbo é transitivo direto.
Há no poema vários verbos que não exigem qualquer sintagma para completar seu
sentido. Veja só:
Garrincha avança.
avançar
Garrincha descansa.
descansar
A multidão grita.
gritar
Dizemos que os verbos que não precisam de nenhuma espécie de complemento são os
verbos intransitivos.
Texto 4
Plantas Carnívoras
Uma joaninha aproxima-se inocentemente da planta. Dá umas rodeadas e
pousa. A planta é um tanto peluda, e nos pêlos há gotas que parecem de
orvalho, brilhando à luz do sol. As cores são bonitas e a joaninha acha lindos os
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
pêlos. Mas o que a joaninha não sabe é que eles soltam uma substância viscosa
na qual ela vai ficar presa. A joaninha pousou numa 'planta carnívora'.
Diferentemente das que aparecem no cinema, as plantas carnívoras de
verdade são pequenas e delicadas. Elas têm em média 15 centímetros. As
maiores podem chegar a medir dois metros de altura. Só têm capacidade de
capturar e digerir animais miúdos, em geral insetos. Por isso, os pesquisadores
preferem chamar essas plantas de insetívoras.
As plantas carnívoras não dependem somente dos insetos para se
alimentar: elas também fabricam seu próprio alimento. Mas como vivem em
locais úmidos, em terrenos pantanosos, o alimento que produzem não é
suficiente para suprir suas necessidades vitais. Os insetos que elas capturam e
digerem com auxílio de uma substância viscosa são um complemento
alimentar.
Existem, no mundo, 450 espécies de plantas carnívoras, divididas em
seis famílias diferentes. No Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, existe uma
estufa de plantas insetívoras. Lá estão exemplares das seis famílias dessas
plantas que, na estufa, são cultivadas em condições especiais para se adaptarem
ao clima carioca.
(por Vera L.G.Klein e L.Massarani, Revista Ciência Hoje das Crianças)
Comentário sobre o texto 4
Neste texto, as autoras procuram explicar, numa linguagem bastante acessível, o que
são plantas carnívoras, quais são suas características, por que podem ser chamadas de plantas
insetívoras, quantas espécies existem de plantas carnívoras.
Agora vamos observar melhor a estrutura de algumas frases do texto. Encontramos
verbos que exigem a presença de um substantivo para completar seu sentido. É uma relação
diferente entre o verbo e o substantivo que funciona como núcleo do SN.
As plantas carnívoras
As plantas carnívoras
As plantas carnívoras
As plantas maiores
O Jardim Botânico
capturam
digerem
produzem
medem
coleciona
os insetos
insetos miúdos
uma substância viscosa
dois metros de altura
plantas carnívoras
capturar => quem? = os insetos
produzir => o quê? = uma substância viscosa
colecionar => o quê? = plantas carnívoras
Esses verbos pertencem a um grupo de verbos que, como vimos anteriormente, têm
seu sentido complementado por sintagmas nominais que funcionam como objeto direto.
Vamos ler agora as seguintes frases:
Uma joaninha
As plantas carnívoras
As plantas carnívoras
aproxima-se
não dependem
se adaptam
aproximar-se => de quem? = da planta
da planta
dos insetos
ao clima carioca
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
depender => de quem? = dos insetos
adaptar-se => a quê? = ao clima
Esses verbos têm seu sentido complementado por sintagmas preposicionados
(sintagmas nominais introduzidos por preposição) que funcionam como objeto indireto.
Dizemos, neste caso, que o verbo é transitivo indireto.
Vamos agora observar com cuidado estas outras frases retiradas do texto:
As plantas
A planta
As cores
As plantas carnívoras
O alimento
Os insetos
são
é
são
são
não é
são
insetívoras
peluda
bonitas
pequenas e delicadas
suficiente
um complemento alimentar
Estas frases têm a mesma estrutura:
substantivo
sujeito
verbo ser
cópula
sintagma
nominal
sintagma verbal
adjetivo ou substantivo
predicativo do sujeito (descreve características do sujeito)
sintagma nominal
Texto 5
A televisão
(Chico Buarque de Holanda)
O homem da rua
Fica só por teimosia
Não encontra companhia
Mas pra casa não vai não
Em casa a roda
Já mudou, qua a roda muda
A roda é triste a roda é muda
Em volta lá da televisão
No céu a lua
Dá uma volta graciosa
Pra chamar as atenções
O homem da rua
Que da lua está distante
Por ser nego bem falante
Fala só com seus botões
O homem da rua
Com seu tamborim calado
Já pode esperar sentado
Sua escola não vem não
A sua gente
Está aprendendo humildemente
Um batuque diferente
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
Que vem lá da televisão
No céu a lua
Que não estava no programa
Cheia e nua, chega e chama
Pra mostrar evoluções
O homem da rua
Não percebe o seu chamego
E por falta doutro nego
Samba só com seus botões
Os namorados
Já dispensam o seu namoro
Quem quer riso, quem quer choro
Não faz mais esforço não
E a própria vida
Ainda vai sentar sentida
Vendo a vida mais vivida
Que vem lá da televisão
O homem da rua
Por ser nego conformado
Deixa a lua ali de lado
E vai ligar os seus botões
No céu a lua
Encabulada e já minguando
Numa nuvem se ocultando
Vai de volta pros sertões.
Comentário sobre o texto 5
Na letra de música que Você leu, Chico Buarque critica o enorme espaço que a
televisão vem ocupando, cada vez mais, na vida das pessoas: afastando da música, afastando
das conversas, afastando da natureza, afastando das relações sociais. As conversas, o
namoro, a dança, atividades que pressupõem mais de uma pessoa, são substituídas pela tela
da televisão, numa atividade isolada e solitária.
Encontramos no texto inúmeras formas verbais. Elas podem ser agrupadas, de acordo
com o tipo de sintagma com que se combinam.
Grupo 1 : verbos que têm seu sentido complementado por sintagmas nominais.
encontrar => o quê?
O homem da rua não encontra companhia.
ligar => o quê?
O homem da rua vai ligar os seus botões.
perceber => o quê?
O homem da rua não percebe o seu chamego.
Grupo 2: verbos que têm o seu sentido complementado por dois tipos de sintagmas:
nominais e preposicionados.
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
ganhar
o quê ?
de quem?
A garota ganhou um livro de seu padrinho
vendeu
o quê ?
para quem?
O comerciante vendeu muitas bandeiras do Brasil para os torcedores
Grupo 3: verbos que têm seu sentido complementado por preposicionados.
falar => com quem?
O homem da rua fala com seu botões.
ansiar => pelo quê?
Estamos todos ansiando por um Brasil mais justo.
Grupo 4 : verbos que não precisam de complemento.
chegar
dormir
gemer
A lua, encabulada, chega.
O bebê fechou os olhos e dormiu.
O acidentado não parava de gemer.
2.2 Processos de ampliação do sintagma verbal
Além de os sintagmas que servem como complementos dos verbos (objetos diretos e
indiretos), há também inúmeros sintagmas que expressam as circunstâncias da ação: onde?,
quando?, por quê?, como?, com quem? Essas informações sobre as circunstâncias da ação
verbal são expressas por advérbios, por expressões adverbiais, ou por orações adverbiais.
cair
quando?
onde ?
como ?
O jogador caiu antes do término do primeiro tempo.
O jogador caiu na porta do gol.
O jogador caiu rapidamente.
Antes do término do primeiro tempo, o jogador caiu, rapidamente, na porta do gol.
chorou
quando?
onde ?
por quê?
Garrincha chorou ao final do jogo.
Garrinha chorou nos vestiários.
Garrincha chorou de dor.
Ao final do jogo, Garrincha chorou de dor nos vestiários.
brilhar
onde?
como
por quê ?
As gotas de água brilham à luz do sol.
As gotas de água brilham intensamente.
As gotas brilham por causa do sol.
viver
onde?
como?
As plantas carnívoras vivem em locais úmidos.
As plantas carnívoras vivem constantemente com fome.
acordar
quando?
onde ?
João acordou às dez horas.
João acordou no meio da praça.
João acordou com o barulho das crianças.
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
por quê ?
sair
quando?
onde ?
como ?
João saiu às dez horas.
João saiu de casa.
João saiu com pressa.
Texto 6
As praias e as ondas
Praia não serve apenas para tomar banho de mar. Serve também de defesa para
os terrenos do continente, continuamente atacados pelo mar. Embora não reparemos
nisso, os grãos de areia estão sempre em movimento, levados de um lado para outro
pelas ondas. Mas enquanto as ondas fazem isso, elas deixam de destruir casas,
avenidas, jardins que ficam logo depois da faixa de areia. Deve haver, portanto,
espaço suficiente para as ondas se esparramarem sem alcançar as construções.
Durante as ressacas, ou tempestades do mar, as ondas sobem mais do que o
habitual e acabam carregando mais areia do que quando o mar está fraquinho. Essa
areia toda é levada da parte alta da praia para dentro do mar, sendo depositada ao
largo da zona de arrebentação.
Passada a tempestade, voltam as ondas características de tempo bom e o nível
médio do mar desce. A areia passa a ser depositada na parte alta da praia,
recompondo sua forma original. As ondas são capazes também de levar os grãos de
areia de um lado para o outro, ao longo do comprimento da praia.
Na verdade, quando um banco de areia cresce quase a olhos vistos, ou quando
uma mancha de óleo passa pela embocadura de um rio, ou ainda quando sai de uma
lagoa um cheiro forte e desagradável, estamos diante de diversos processos que
resultam tanto da ação da própria natureza -- tamanho das ondas, nível do mar,
correntes marinhas, tipo de sedimentos etc. -- quanto da ação do homem.
Deve haver um equilíbrio entre a capacidade que as ondas têm de transportar
areia e a quantidade de grãos disponíveis para serem transportados. Se alguma coisa
interferir nesse processo, pode haver desequilíbrio, isto é, erosão (falta de areia) ou
assoreamento (sobra de areia).
(Texto extraído da Revista Ciência Hoje das Crianças)
Comentário sobre o texto 6
O texto acima faz uma análise da ação das ondas do mar. Explica por que a praia é
considerada uma defesa para os terrenos no litoral de uma região, informa como é que as
ondas atuam sobre a areia das praias. Além disso, apresenta as etapas do processo de erosão.
Uma característica interessante do texto é forma como foram usados os vocábulos, de
acordo com suas semelhanças de sentido. Observe os grupos abaixo:
mar
onda, corrente marinha, praia, banho de mar, ressacas, arrebentação,
rio, lagoa
terra
terrenos, continente, sedimentos, casas, avenidas, jardins,
construções, banco de areia, grãos de areia
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
Quando damos uma explicação científica sobre algum fenômeno da natureza ou sobre
o funcionamento do nosso corpo, por exemplo, precisamos fornecer algumas informações
essenciais para que todos possam entender os detalhes da nossa explicação:
. onde acontece?
. quando acontece?
. como acontece?
. por que acontece?
. para que acontece?
Na nossa língua, essas informações podem ser expressas por advérbios, expressões
adverbiais ou orações adverbiais.
Os advérbios informam o lugar, a época, o modo, a causa dos acontecimentos. As
expressões adverbiais e as orações adverbiais são sintagmas que têm a mesma função dos
advérbios nas frases. A única diferença é que as orações adverbiais contêm um verbo e
permitem passar uma informação mais completa e detalhada.
Estas são algumas orações adverbiais que aparecem no texto. Repare como ajudam a
explicar o funcionamento das ondas:
enquanto as ondas fazem isso,
tempo
elas deixam de destruir casas e avenidas
quando um banco de areia cresce a olhos
vistos,
quando uma mancha de óleo passa pela
embocadura de um rio,
quando sai de uma lagoa um cheiro forte e
desagradável,
tempo
estamos diante de diversos processos que
resultam da ação da natureza e do homem.
praia não serve apenas
para tomar banho de mar
finalidade
deve haver espaço suficiente
para as ondas se esparramarem
finalidade
se alguma coisa interferir nesse processo
condição
pode haver desequilíbrio
embora não reparemos nisso
contradição
os grãos de areia estão sempre em movimento
Além das circunstâncias expressas nas orações anteriores — o tempo, a finalidade, as
condições e as contradições — podemos também expressar as causas e as conseqüências:
os grãos de areia se movimentam
constantemente
porque são impulsionados pelas ondas do
mar
causa
água mole em pedra dura tanto bate
até que fura
conseqüência
Texto 7
As três mortes das estrelas
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
As estrelas parecem ser eternas mas não são. Elas nascem, vivem e morrem. Até
mesmo o Sol, que é uma estrela ( e não das maiores), um dia também vai acabar. Um dia,
daqui a dez milhões de anos ...
Com telescópios poderosos e a ajuda de observatórios espaciais, os astrônomos
conseguem ver as transformações das estrelas. E descobriram, entre outras coisas, que,
quando olhamos para o céu, uma parte das estrelas que vemos já morreram há muito
tempo. A sua distância de nós era tão grande que, quando a luz que emitiram chega até
aqui, elas mesmas já não existem.
As estrelas 'nascem', ou seja, formam-se quando uma enorme nuvem de gás
começa a se concentrar, ficando cada vez menor e mais quente. As partes mais externas
da nuvem começam, então, a cair em direção ao centro. Esse 'nascimento' pode levar um
milhão de anos, o que não é muito tempo quando se fala em estrelas.
Depois disso, a parte interna da nuvem fica tão quente que se transforma num
enorme reator nuclear, uma verdadeira fábrica de luz, composta principalmente de
hidrogênio, responsável pela produção de energia.
Começa aí a parte mais longa da vida da estrela. É um período que pode durar
muitos bilhões de anos. Depois desse tempo, o combustível acaba e a estrela começa a
'morrer'. Ela ainda pode usar outros combustíveis, como o hélio, aquele gás que faz os
balões ficarem bem leves. Mas isso só aumenta um pouquinho a vida das estrelas.
As estrelas não 'morrem' todas do mesmo jeito, nem a duração da 'vida' é a mesma
para todas elas. As maiores e mais pesadas gastam mais rapidamente seu combustível e
por isso duram muito menos, apenas alguns milhões de anos. 'Desligado o reator' (
quando acaba o hidrogênio), a estrela não consegue suportar mais o peso das camadas
que estão perto do centro. Essas camadas começam a desabar sobre o centro, aumentando
a temperatura e empurrando para fora as camadas externas da estrela, que fica inchada e
menos quente na superfície.
Se a estrela for das mais 'magrinhas', como o Sol, ela começa a tremer, até
expulsar de uma só vez a sua camada externa, que se espalha pelo espaço. A parte interna
vai ficando cada vez menor e mais fria, virando uma espécie de cinza de estrelas.
Se a estrela for mais 'gordinha', oito vezes mais pesada que o Sol, sua morte é mais
violenta e espetacular. Ela também começa a tremer, mas a matéria é tanta que a queda
sobre o núcleo é muito violenta. A estrela pode até acabar explodindo, formando uma
supernova.
Se a estrela for muito maior, trinta vezes mais pesada que o Sol, quando acaba o
combustível as partes externas caem sobre o núcleo de uma forma violentíssima. A
atração é tão grande, que nada consegue escapar, nem mesmo a luz. Como a luz não
escapa, esse corpo é escuro. Por isso recebe o nome de buraco negro.
(Versão resumida de texto de Walter Junqueira Maciel, Revista Ciência Hoje das
Crianças, nº 20)
Comentário sobre o texto 7
O texto explica, de uma maneira muito interessante, como 'nascem' e 'morrem' as
estrelas. Ele faz comparações entre as estrelas e coisas das quais ouvimos falar em nosso diaa-dia, como um reator nuclear, um balão de gás. De forma bastante acessível, o autor procura
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
nos familiarizar com fatos que, apesar de estarem presentes na nossa vida, são, muitas vezes,
ignorados por nós.
Essa explicação científica sobre o nascimento e a morte das estrelas foi acompanhada
de informações relevantes para entendermos o conteúdo do texto. A respeito do fato, temos
os seguintes dados:
. onde acontece?
. quando acontece?
. como acontece?
. por que acontece?
. para que acontece?
Na nossa língua, essas informações podem ser expressas por advérbios, expressões
adverbiais ou orações adverbiais.
Os advérbios são vocábulos que informam o lugar, a época, o modo, a causa dos
acontecimentos. As expressões adverbiais e as orações adverbiais têm a mesma função
dos advérbios nas frases, com a seguinte diferença: as orações adverbiais contêm um verbo e
nos permitem passar uma informação mais completa e detalhada.
As orações adverbiais que aparecem no texto contribuíram para ajudar a explicar o
nascimento e a morte das estrelas:
quando olhamos para o céu,
tempo
quando uma enorme nuvem de gás
começa a se concentrar
tempo
como a luz não escapa
causa
a parte interna da nuvem fica tão quente
se a estrela for das mais magrinhas
condição
a matéria da estrela é muito pesada
+
a morte da estrela é muito violenta
a atração em direção ao núcleo é muito
grande
+
a luz não consegue escapar
uma parte das estrelas já morreram há
muito tempo
as estrelas nascem
esse corpo é escuro
que se transforma num enorme
reator nuclear
conseqüência
ela começa a tremer
a matéria da estrela é tão pesada que
a sua morte é muito violenta.
conseqüência
a atração em direção ao núcleo é tão
grande que nem mesmo a luz
consegue escapar.
conseqüência
No desenvolvimento do texto, é extremamente importante relacionar e encadear as
idéias de maneira inteligível para o leitor. Podemos estabelecer relações de oposição, causa,
contradição, conclusão, condição, fim.
Para exemplificar essas correlações, vamos combinar as idéias: "conseguir emprego" e
"morrer de fome":
 causa - No Brasil, muitos homens morrem de fome porque não conseguem um
emprego.
 finalidade - No Brasil, os homens deveriam ter emprego para que não morressem de
fome.
Sintagmas — Professora Ana Vellasco

conseqüência - No Brasil, muitos homens ficam tanto tempo desempregados que
terminam morrendo de fome.
 condição - Se os homens tivessem sempre emprego, não morreriam de fome.
Veja as relações entre as idéias: "tomar uma decisão" e "conhecer todas as
possibilidades"
 finalidade - Para tomar uma decisão, é preciso conhecer todas as possibilidades.
 condição - Se não conhecermos todas as possibilidades, não poderemos tomar uma
decisão.
 causa - É preciso conhecer todas as possibilidades, porque temos de tomar uma
decisão.
Essas relações estão sempre presentes quando falamos e quando escrevemos. Na fala,
muitas vezes não é preciso utilizar as conjunções, porque o nosso interlocutor pode perceber
isto, segundo a situação. Mas, quando estamos escrevendo um texto, uma carta ou um
requerimento, por exemplo, precisamos ser bem claros para sermos corretamente entendidos.
Resumindo:
1. relação de causa - efeito: expressa pelas conjunções porque, pois, como, visto que, já
que, uma vez que, por causa de, por, em conseqüência de, por motivo de, devido a,
em virtude de. Ex: O nazismo foi responsável por um dos regimes mais bárbaros já
vistos porque se apoiou na idéia que existem homens superiores e homens inferiores.
2. relação de condição: expressa pelas conjunções se, caso, contanto que, desde que, a
menos que, a não ser que. Ao expressar a condição, existe uma exigência de que os
tempos verbais das duas orações se relacionem. Ex: Se tudo isso que foi previsto pela
cartomantes se realizasse (imperfeito do subjuntivo) de fato, o mundo já teria (futuro do
pretérito do indicativo) acabado algumas centenas de vezes.
3. relação de finalidade: expressa pelas conjunções para, a fim de, com o propósito de,
com a intenção de, com o objetivo de. Ex: É preciso enviar a carta o mais cedo
possível, para que se possa ter certeza de que ela chegará no prazo previsto.
4. relação de conseqüência: expressa pelas conjunções tanto...que, tão ... quanto. Ex:
Mandei tantas cartas para o concurso, que minhas chances de ganhar são muitas.
5. relação de oposição: expressa pelas conjunções embora, apesar de. Ex: O computador
não está funcionando, apesar de ter acabado de chegar do conserto.
Texto 8
Como se conjuga um empresário
(Mino)
Acordou. Levantou-se. Aprontou-se. Lavou-se. Barbeou-se. Enxugou-se.
Perfumou-se. Lanchou. Escovou. Abraçou. Beijou. Saiu. Entrou.
Cumprimentou. Orientou. Controlou. Advertiu. Chegou. Desceu. Subiu.
Entrou. Cumprimentou. Assentou-se. Preparou-se. Examinou. Leu. Convocou.
Leu. Comentou. Interrompeu. Leu. Despachou. Conferiu. Vendeu. Vendeu.
Ganhou. Ganhou. Ganhou. Lucrou. Lucrou. Lucrou. Lesou. Explorou.
Escondeu. Burlou. Safou-se. Comprou. Vendeu. Assinou. Sacou. Depositou.
Depositou. Depositou. Associou-se. Vendeu-se. Entregou. Sacou. Depositou.
Despachou. Repreendeu. Suspendeu. Demitiu. Negou. Explorou. Desconfiou.
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
Vigiou. Ordenou. Telefonou. Despachou. Esperou. Chegou. Vendeu. Lucrou.
Lesou. Demitiu. Convocou. Elogiou. Bolinou. Estimulou. Beijou. Convidou.
Saiu. Chegou. Despiu-se. Abraçou. Deitou-se. Mexeu. Gemeu. Fungou. Babou.
Antecipou. Frustrou. Virou-se. Relaxou-se. Envergonhou-se. Presenteou. Saiu.
Despiu-se. Dirigiu-se. Chegou. Beijou. Negou. Lamentou. Justificou-se.
Dormiu. Roncou. Sonhou. Sobressaltou-se. Acordou. Preocupou-se. Temeu.
Suou. Ansiou. Tentou. Despertou. Insistiu. Irritou-se. Temeu. Levantou.
Apanhou. Rasgou. Engoliu. Bebeu. Rasgou. Engoliu. Bebeu. Dormiu. Dormiu.
Dormiu. Acordou. Levantou-se. Aprontou-se...
Comentário sobre o texto 8
Nesse texto, o autor mostra o dia-a-dia de um empresário, utilizando uma seqüência
ordenada de verbos: acordou, levantou... Uma pequena história é contada, e por meio dela
podemos descobrir as alegrias e tristezas de uma pessoa, envolvida nas diferentes situações
cotidianas.
A ocorrência de todos os verbos no pretérito perfeito do indicativo dá um certo caráter
narrativo ao texto, como se fosse uma seqüência de ações em um dia de trabalho já
concluído. Dessa forma, a presença de elementos coesores (conectivos e advérbios) pode ser
dispensada.
No texto, não aparecem substantivos, adjetivos, artigos, pronomes, preposições,
conjunções. Só aparecem verbos. Entretanto, a coerência é depreendida da seqüência
ordenada dos verbos com os quais o autor mostra o dia-a-dia de um empresário. Verbos
como lesou, burlou, explorou, safou-se... transmitem um julgamento de valor do autor do
texto em relação à figura de um empresário.
Os verbos do texto podem ser arrumados em grupos, de acordo com as atividades
descritas.
1. ações cotidianas - ao sair de casa
preparação do corpo para sair
alimentação
gestos sociais
locomoção
acordou
lanchou
abraçou
saiu
levantou
beijou
entrou
aprontou-se
cumprimentou
chegou
2. ações profissionais
atos profissionais
atos de poder
atos ilegais
leu
orientou
vendeu
despachou
controlou
ganhou
examinou
advertiu
lucrou
3. ações cotidianas - noturnas
ações amorosas
ações físicas
insônia
dificuldades
bolinou
saiu
apanhou
lamentou
beijou
chegou
rasgou
justificou-se
convidou
despiu-se
bebeu
negou
abraçou
deitou-se
engoliu
lamentou
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
Se Você prestar bastante atenção nos grupos de verbos que aparecem no texto, poderá
constatar que eles foram reunidos de acordo com suas semelhanças de sentido. Observe:
cuidados higiênicos
com o corpo lavou-se, barbeou-se, enxugou-se, perfumouse, escovou
operações
financeiras vendeu, comprou, depositou, sacou
ato de dormir
deitou-se, relaxou-se, dormiu, roncou, sonhou, acordou,
despertou, levantou
Vamos agora fazer o inverso do autor do texto. Vamos ampliar as frases, anexando
sintagmas que complementem o sentido dos verbos. Para fazer isso de maneira organizada,
você precisará, inicialmente, separar os verbos em grupos, dependendo do tipo de sintagma
que será utilizado.
Vamos ver como podemos ampliar frases que tenham os seguintes verbos:
Grupo 1 : verbos que têm seu sentido complementado por sintagmas sem o auxílio de
uma preposição.
sacar => o quê?
O empresário sacou o dinheiro.
cumprimentar => quem?
O empresário cumprimentou a secretária.
Grupo 2 : verbos que têm seu sentido complementado por sintagmas nominais ou
preposicionados.
=> o quê ?
ganhar
=> de quem?
O empresário ganhou muito dinheiro dos seu sócios.
=> o quê ?
vendeu
=> para quem?
O empresário vendeu ações às pessoas interessadas.
Grupo 3: verbos que têm seu sentido complementado sintagmas preposicionados.
telefonar => a quem?
A secretária telefonou ao empresário.
ansiar => pelo quê?
O empresário anseia por lucros cada vez maiores.
associar-se => a quem?
O empresário associou-se a pessoas desonestas.
Grupo 4 : verbos que não precisam de complemento.
acordar
O empresário acordou cedo.
sair
Depois de pronto, ele saiu.
dormir
Chegando em casa, dormiu.
3. A questão da transitividade
Transitividade - Caráter dos nomes e verbos que exigem algo para
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
lhes integrar o sentido. É o que ocorre com os verbos transitivos.
Também substantivos, adjetivos e advérbios podem exigir
complemento: necessidade de, necessário a, referente a, etc. A
transitividade admite graus, indo do zero (intransitividade) à
necessidade absoluta: Pedro dançava. Maria dançava uma valsa. Ela
é útil ao pai. Tem precisão de assistência.
(Zélio
dos
Santos
Jota
-
Dicionário
de
Lingüística)
A transitividade costuma ser tratada em nossas gramáticas somente quanto aos verbos. Ora, é
preciso considerar também a transitividade nominal. Vejamos o texto abaixo, adaptado de
rmatéria publicada na Revista Veja (29/07/98).
Texto 9
O outro vestibular
A disputa por um emprego nas maiores empresas brasileiras está
começando para os estudantes que concluirão a faculdade no final do
ano. Quem já passou pela experiência sabe que, perto dela, o funil do
vestibular parece brincadeira. Dos numerosos jovens que se
candidataram a uma vaga da firma Cargill, que atua no ramo de
alimentos, apenas uma pequena parcela revelou inclinação para o tipo
de trabalho a ser desenvolvido. Em todas as grandes companhias que
adotam a política de recrutar profissionais recém-formados, a disputa
por uma vaga é mais pesada do que nas mais concorridas
universidades brasileiras. Durante o programa de treinamento, o
jovem trainee terá acesso a diferentes departamentos da empresa. Se
ele tiver domínio do uso de computadores, suas chances de ser
escolhido aumentarão. "Hoje as empresas querem pessoas com senso
crítico, que saibam apontar problemas e sugerir soluções", afirma a
responsável pelo programa de treinamento da Gessy Lever. A
primeira triagem é feita entre os currículos que chegam às empresas.
Nesta fase, mais da metade dos candidatos é eliminada. A capacidade
para trabalhar em equipe e a desenvoltura para lidar com problemas
serão muito úteis ao candidato que estiver lutando por uma vaga
como
jovem
trainee.
(…)
Comentário sobre o texto 9
Neste texto, o assunto abordado é a dificuldade de conseguir uma vaga como trainee em uma
grande empresa. Existe uma diferença entre ser estagiário e ser trainee: o estágio pressupõe
uma permanência curta na empresa, com data para começar e terminar, enquanto para os
trainees a proposta é ficar. A concorrência é muito grande, pois as empregadoras oferecem
pouquíssimos postos em relação ao número de candidatos que se apresentam. O salário
inicial é atraente; além disso, existe a chance de fazer carreira.
Escolhemos esse texto, escrito em linguagem clara, para mostrar a questão da transitividade
de verbos e de nomes. Para isso, fizemos algumas modificações no que foi originalmente
publicado na revista.
Como lemos na definição, existem "verbos que exigem algo para lhes integrar o sentido".
Isso acontece com os seguintes verbos do texto:
concluirão (verbo transitivo direto)
a faculdade (SN - objeto direto)
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
se candidataram (verbo transitivo indireto)
a uma vaga da firma Cargill (SP - objeto indireto)
querem (verbo transitivo direto)
pessoas (SN - objeto direto)
apontar (verbo transitivo direto)
problemas (SN - objeto direto)
sugerir (verbo transitivo direto)
soluções (SN - objeto direto)
lutar (verbo transitivo indireto)
por uma vaga (SP - objeto indireto)
Existem também nomes (substantivos, adjetivos e advérbios) "que exigem algo para
lhes integrar o sentido". As expressões abaixo servem para comprovar essa afirmação.
disputa
(substantivo)
por um emprego
inclinação
(substantivo)
para o tipo de trabalho
acesso
(substantivo)
a diferentes departamentos da empresa
domínio
(substantivo)
do uso de computadores
responsável
(adjetivo)
pelo programa de treinamento da Gessy
Lever
capacidade
(substantivo)
para trabalhar em equipe
desenvoltura
(substantivo)
para lidar com problemas
úteis
(adjetivo)
ao candidato
Nos exemplos acima, os termos que completam o sentido dos substantivos e adjetivos
(por um emprego, para o tipo de trabalho, a diferentes departamentos da empresa, etc.)
são sintagmas preposicionados que recebem o nome de complemento nominal.
Embora com menor freqüência na língua, os advérbios também podem ser
complementados por sintagmas preposicionados. Exemplos:
A oposição votou favoravelmente ao governo.
SP - complemento nominal
Nada será resolvido relativamente a esse problema.
SP - complemento nominal
4. Perspectivas quanto ao ensino
E o ensino, como será que o estudo do sintagma nominal e do sintagma verbal pode
contribuir para o aperfeiçoamento da expressão oral e escrita do aluno?
Antes de mais nada, precisamos acreditar realmente que as aulas de português e de
literatura podem ser prazerosas e que, para um ensino produtivo, podemos apontar caminhos,
não necessariamente novos.
Ao examinar mais detalhadamente o SN e o SV, a sua estrutura e a sua função, ocorre
a pergunta: E o aluno, como fica? Como trabalhar essas questões tendo em vista o
“desligamento” do Marcos, a falta de atenção da Agatha, ou a motivação dessa meninada
despertada por concorrentes tão empolgantes à nossa volta? Essa não é uma pergunta fácil de
Sintagmas — Professora Ana Vellasco
responder e nem poderia ser, uma vez que estamos frente a constatações do tipo: “só
aprendemos o que é do nosso interesse” ou “sem motivação não há disponibilidade para o
aprendizado”. Apesar de muitas teorias a respeito, na verdade, sabemos que na prática isso
acontece mesmo, principalmente em se tratando de adolescentes.
De uns tempos para cá, os livros didáticos têm procurado incentivar os estudantes por
meio de ilustrações interessantes; é claro que isso pode ajudar, mas não basta. O aluno
precisa descobrir o que há de importante no material ou na “matéria” que lhe está sendo
apresentada. E é aí que, no caso do SN e do SV, temos a grande chance de mostrar como um
texto se organiza em torno de núcleos, de idéias centrais, inclusive fazendo “ganchos” com o
seu dia-a-dia, com os seus assuntos preferidos, a sua leitura do mundo.
Pensando nessas questões, inúmeras atividades de sala de aula podem ser propostas
pelo professor, de modo a que o aluno compreenda e exercite a capacidade de criar estruturas
mais complexas a partir de estruturas mais simples, reconhecendo a função de cada elemento
dentro do conjunto em que ele se insere. Isso possibilitará ao aluno aprimorar a sua produção
de textos.
Perceber como um texto se constrói, como os vocábulos se organizam, é uma aventura
diante de qualquer texto, seja ele oral ou escrito, literário ou não literário, popular ou culto,
específico de uma área ou mais geral. Enfim, qualquer que seja a mensagem compreensível,
ela é estruturada na base de seu vocabulário e dos seus sintagmas.
A possibilidade de ampliação dos sintagmas também constitui uma fonte para que o
estudante exercite a sua linguagem e vai se refletir na sua produção dos textos. Como vimos,
as locuções, as orações substantivas e as orações adjetivas têm a característica de ampliar o
SN e o SV; isto pode auxiliar na produção dos textos dos alunos e pode servir para que ele
compreenda uma das razões para estudar esse tipo de oração, ou seja, as orações
subordinadas.
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