SINTAGMAS Estimado(a) Aluno(a), Muita gente costuma pensar que estudar português é estudar análise sintática. E como o estudo da análise sintática na escola é desvinculado do uso real da língua e apresentado como uma verdadeira charada a ser decifrada pelo aluno, é natural uma certa rejeição quanto ao estudo da nossa língua. Mesmo os alunos dos cursos de letras de nossas universidades vêem no estudo da sintaxe um verdadeiro "bicho papão" e insistem em desvendar os seus segredos como o principal objetivo de estudar português. Neste tema e nos seguintes (Sintagma verbal, Coordenação e Subordinação), vamos trabalhar alguns aspectos da sintaxe da língua portuguesa, do ponto de vista produtivo — quanto maior o conhecimento e o domínio das estruturas frasais do português, mais eficiente será o desempenho oral e escrito do aluno. A fonologia, a morfologia, a sintaxe e a semântica constituem o estudo da estrutura interna de uma língua — aquilo que a distingue das outras línguas do mundo — e que não é resultado diretamente de condições da vida social ou do conhecimento do mundo. Já o léxico se distingue da gramática propriamente dita: nele estão colocadas as informações que não se reduzem a regras gerais. Temos que pensar também no aspecto pragmático da linguagem, que, diferentemente do aspecto sintático (propriedades formais das construções lingüísticas) e do aspecto semântico (relação entre as unidades lingüísticas e o mundo), se relaciona à situação concreta de uso e à influência do contexto na interação falante-ouvinte (motivações psicológicas do falante, reações dos ouvintes ou leitores). Para um ensino produtivo da língua e da literatura, nas atividades de leitura, compreensão e produção de textos, consideramos essencial que o estudante perceba que: • existe uma hierarquia na estrutura da oração, isto é, a oração apresenta constituintes e estes contêm outros constituintes; • cada constituinte oracional apresenta uma estrutura interna própria; • os constituintes da oração têm comportamento sintático variado, apresentando relações de ordem, de concordância e de regência; • a partir de estruturas sintáticas simples (núcleo + elementos adjacentes), é possível produzir estruturas mais complexas, com base em processos de ampliação. 1. A classe dos sintagmas Sintagma é uma unidade formada por uma ou várias palavras que, juntas, desempenham uma função na frase. A combinação das palavras para formarem as frases não é aleatória: precisamos obedecer a determinados princípios da língua. As palavras combinam-se em conjuntos, em torno de um núcleo. E é esse conjunto (o sintagma) que vai desempenhar uma função no conjunto maior, que é a frase. Exemplos: O turista viajou. O jovem turista estrangeiro viajou. Aquele jovem turista viajou. Nenhum turista viajou de trem. O turista estrangeiro viajou de trem para São Paulo. Sintagmas — Professora Ana Vellasco O turista estrangeiro viajou de trem para São Paulo ontem. O turista e sua família viajaram. Por unidade sintagmática deve ser entendido um agrupamento intermediário entre o nível do vocábulo e o da oração. Dessa maneira, um ou mais vocábulos unem-se (em sintagmas) para formar uma unidade maior, que é a oração. Os vocábulos que compõem a unidade sintagmática se organizam em torno de um núcleo. Dependendo do núcleo, podemos falar em sintagma nominal e sintagma verbal. Chama-se sintagma uma seqüência de palavras que constituem uma unidade (sintagma vem de uma palavra grega que comporta o prefixo “sin-“, que significa “com”, que encontramos, por exemplo, em simpatia e sincronia). Um sintagma é uma associação de elementos compostos em um conjunto, organizados em um todo, funcionando conjuntamente. (…) sintagma significa, por definição, organização e relações de dependência e de ordem à volta de um elemento essencial. (Dubois-Charlier. Bases de Análise lingüística) Diferentes vocábulos que pertencem a um mesmo sintagma desempenham, dentro dele, funções distintas: no sintagma nominal, por exemplo, o nome “substantivo”, que funciona como núcleo, pode ser determinado por artigos, pronomes e numerais e modificado por adjetivos, locuções adjetivas e ou orações subordinadas adjetivas. Desse modo, é evidente que existe, dentro do sintagma, uma organização em que os vocábulos, dependendo de sua posição e da relação que estabelecem entre si, desempenham diferentes funções. Os princípios sintáticos da língua (sistema de unidades hierarquizadas) apresentamse sob a forma de palavras, sintagmas, orações e são relacionadas por um conjunto de mecanismos formais. Conforme Azeredo (1990), "a estrutura gramatical do português comporta vários níveis. O morfema é a menor unidade dessa estrutura; e o período, a maior. Acima do nível dos morfemas acha-se o dos vocábulos; acima do dos vocábilos, o dos sintagmas, a que se superpõe o das orações. Esquematicamente, temos: PERÍODO ORAÇÃO SINTAGMA VOCÁBULO MORFEMA Vamos ler o poema de Cecília Meireles e observar os níveis de estruturação do enunciado: Texto 1 Colar de Carolina Com seu colar de coral, Carolina corre por entre as colunas da colina. O colar de Carolina colore o colo de cal, torna corada a menina. E o sol, vendo aquela cor Sintagmas — Professora Ana Vellasco do colar de Carolina, põe coroas de coral nas colunas da colina. (Cecília Meireles) Comentário sobre o texto 1 Nesse poema, a autora faz um jogo de palavras, tirando proveito principalmente do aspecto sonoro. Os diversos níveis a que nos referimos acima podem ser apontados no texto: nível do período: nível da oração: O colar de Carolina colore o colo de cal, torna corada a menina. O colar de Carolina colore o colo de cal / torna corada a menina. nível dos sintagmas: O colar de Carolina/ SN colore o colo de cal, SV torna corada a menina. SV nível dos vocábulos: Com/ seu/ colar/ de/ coral / Carolina / corre / por/ entre/ as/ colunas / de/ a /colina. nível dos morfemas: O / colar / de / Carolina / color/e / o / col/o / de / cal /, torn/a / corad/a / a / menin/a. As gramáticas descrevem os níveis da oração e do período dentro da sintaxe e os níveis do morfema e do vocábulo, dentro da morfologia. No entanto, geralmente não tomam conhecimento do nível do sintagma - intermediário entre vocábulos e oração. E, como mostra Azeredo (1990): "... os vocábulos não se unem para formar a oração do mesmo modo que os gomos se unem para formar uma laranja. Os vocábulos não formam a oração senão indiretamente. Eles se associam em grupos, os sintagmas, que são os verdadeiros constituintes da oração." Com o poema "Colar de Carolina", podemos exemplificar as palavras citadas acima; temos diversos vocábulos que se organizam em blocos, os sintagmas, para então formarem orações. O que nos interessa mais de perto é exatamente esse nível intermediário, o sintagma, essa espécie de ponte entre os vocábulos e a oração. Surgem então algumas perguntas: Como podemos reconhecer um sintagma? Basta haver mais de um vocábulo para existir sintagma? Como são formados os sintagmas? Há mais de um tipo de sintagma ou apenas um? Todas as classes podem formar sintagmas? Sintagmas — Professora Ana Vellasco Outras perguntas podem surgir, mas, por enquanto, vamos tentar responder a essas que nos parecem mais prováveis de ocorrer. Vejamos. Em primeiro lugar, encontramos também no livro “Iniciação à sintaxe” (Azeredo, 1990), uma boa resposta para a primeira questão: Como podemos reconhecer um sintagma? Segundo o autor, três são as maneiras de isolar as unidades que constituem a oração, ou seja, os sintagmas: o deslocamento, a substituição e a coordenação. Lemos logo no início do livro A hora dos ruminantes, de José J. Veiga: "A noite chegava cedo em Manarairema. Mal o sol se afundava atrás da serra - quase que de repente, como caindo — já era hora de acender candeeiros, de recolher bezerros, de se enrolar em xales. A friagem até então contida nos remansos do rio, em fundos de grotas, em porões escuros, ia se espalhando, entrando nas casas, cachorro de nariz suado farejando." A primeira frase vai nos servir para explicar com clareza a questão levantada. A noite chegava cedo em Manarairema. Qualquer um de nós rejeitaria ou perceberia como estranhas as seqüências formadas pelos mesmos vocábulos, porém agrupados assim: *Noite a chegava cedo em Manarairema. *Em chegava noite a cedo Manarairema. No entanto, podemos trocar a posição de alguns grupos de vocábulos da frase inicial, sem prejuízo da compreensão: Chegava cedo em Manarairema a noite. Em Manarairema a noite chegava cedo. Essa inversão da ordem é possível porque nós mantivemos os grupos (A noite, em Manarairema), apenas mudamos sua posição. Essa possibilidade de deslocamento prova que cada grupo é um sintagma. Além disso, podemos fazer substituição de seqüência por unidade simples: A noite chegava cedo em Manarairema. Ela chegava cedo em Manarairema. A noite chegava cedo em Manarairema. A noite chegava cedo lá. Aqui também estamos diante de sintagmas: a possibilidade de substituição por unidades simples. Finalmente, podemos usar um elo coordenativo e que vai mostrar a união de duas unidades do mesmo nível. (Como professor e aluno, serra e mar...) Teremos então: A noite e a escuridão chegavam cedo em Manarairema. em que "a escuridão" é equivalente a "a noite" e por isso pode substituí-la: A escuridão chegava cedo em Manarairema. Assim, reconhecemos um sintagma através do deslocamento ou mobilidade, da substituição por unidades simples e da coordenação. Por outro lado, apesar de nos referirmos a "grupo de vocábulos", o sintagma pode também ser formado de um só vocábulo, como em: Manarairema vai sofrer a noite. Manarairema esperou impaciente. Sintagmas — Professora Ana Vellasco Portanto não basta haver um vocábulo para existir sintagma, nem é nessário mais de um vocábulo para haver sintagma. Como são formados os sintagmas? Há mais de um tipo de sintagma ou apenas um? Todas as classes podem formar sintagmas? As três perguntas acima estão intimamente relacionadas, por exemplo, se alguém pergunta: "Como são formados os sintagmas?" - a resposta provavelmente será: - Depende do tipo de sintagma. Daí concluímos que há mais de um tipo. Ou então, se a pergunta é: "Todas as classes podem formar sintagmas?" - responderíamos que as classes de vocábulos entram na formação dos sintagmas, mas a participação não é igual; há classes que são núcleo, outras determinantes, outras modificadores, depende do tipo... e assim por diante. Por tudo o que foi dito até agora, é possível afirmar que: • podemos reconhecer a classe dos sintagmas; • há procedimentos para provar a sua existência; • há mais de um tipo de sintagma; • os vocábulos se unem para formar sintagmas; • os sintagmas formam a oração. Convém lembrar que a natureza do sintagma depende do seu núcleo. Assim, temos, em português, duas classes de sintagmas: o sintagma nominal (SN) — que tem o nome como núcleo — e o sintagma verbal (SV) — que tem o verbo como núcleo. Funcionando como modificador de um ou de outro, temos o sintagma preposicionado. 2. O sintagma nominal As reflexões feitas até agora nos levam a afirmar, com Koch e Silva (1986), que o sintagma consiste num conjunto de elementos que constituem uma unidade significativa dentro da oração e que mantêm entre si relações de dependência e de ordem. Organizam-se em torno de um elemento fundamental, denominado núcleo, que pode, por si só, constituir o sintagma. A natureza do sintagma depende do seu núcleo. Neste texto trataremos mais especificamente do sintagma nominal (SN), cujo núcleo é um nome, considerando seus constituintes. Ao abordar a noção de classe, Perini (1985) observa: "Admite-se sempre a necessidade de classificar as palavras, e a doutrina fornece nomes para essas classes ("verbos", "advérbios", "pronomes" etc). Além dessas classes, existem outras, que não são explicitamente reconhecidas como tais, mas que também recebem nomes: termos como "oração", "frase", "oração subordinada" se referem na verdade a classes de formas, ou a suas subclasses. E, como quaisquer outras classes, podem ser definidas pela sua distribuição sintática, sua estrutura interna, ou ( com as limitações que conhecemos) suas propriedades semânticas. No entanto, nem todas as classes são explicitadas. Vejamos o caso de uma classe extremamente freqüente e importante, mas que não é em geral reconhecida pela gramática tradicional (salvo em raríssimas exceções): a dos sintagmas nominais". Em seguida mostra que, mesmo apresentando grandes diferenças estruturais, elementos como: Sintagmas — Professora Ana Vellasco • substantivo próprio: Júlio, Maria, Joaquim Santos, Brasil, França, África artigo + substantivo próprio: o Lula, a Petrobrás, o Brasil pronome + substantivo:- esta terça-feira, meu avô, algum país artigo + substantivo + oração adjetiva: o país em que eu vivo, o livro que você leu, a escola em que você estuda têm comportamento sintático semelhante, isto é, são portadores de “traços sintáticos comuns”: • podem ser sujeito de uma oração • podem ser objeto direto • podem vir precedidos de preposição e funcionar como adjunto adnominal ou objeto indireto. Perini acrescenta: "Uma das funções essenciais das classes de formas (por exemplo, das classes de palavras) é justamente permitir a descrição compacta do comportamento sintático das formas. As quatro formas (dos exemplos acima) deveriam, pois, ser colocadas em uma classe, o que a gramática tradicional não faz; não existe sequer um termo tradicional para essa classe. Aqui utilizaremos o termo “sintagma nominal”, designação consagrada em Lingüística." A inexistência de uma noção clara do sintagma nominal deixa de considerar uma generalização importante da língua, tratando como coincidência um aspecto estrutural da maior importância: a mesma classe de formas (o sintagma nominal) pode aparecer em diversas funções sintáticas. Considerando o sintagma nominal como uma classe de formas, podemos analisar e verificar a sua estrutura interna: o sintagma nominal (SN) compõe-se de um substantivo, ou de artigo + substantivo, ou de pronome pessoal, etc., e podemos afirmar que o sujeito é sempre formado de um SN, assim como o objeto direto, e que o objeto indireto compõe-se de preposição + SN (a não ser o objeto indireto representado por “lhe”). Leia este trecho do romance de João Ubaldo Ribeiro, “Viva o povo brasileiro”. Texto 2 Viva o povo brasileiro (João Ubaldo Ribeiro) Dia lavadíssimo, esta terça-feira, véspera de Santo Antônio, em que Perilo Ambrósio estuprou a negra Daê, mais chamada por Venância. Lavado mesmo, porque choveu até de manhãzinha, chuva grossa, chuvarada como os aguaceiros de verão, nada dessas brueguinhas regelantes que nunca vão embora e ficam ensopando os ossos das criaturas durante os meses de junho e julho, muitas vezes passando por agosto, quantas e quantas vezes entrando mais ou menos por setembro, vindo as primeiras águas desde abril, chuvas mil. E esta ilha, já diziam os antigos, é verdadeiramente o bispote do céu, por assim falar, um ponto que as nuvens escolhem para arrebanhar-se antes de seguir viagem. Desde segunda-feira pelas onze da noite que bateu uma pancada, bateu outra, bateu mais outra, chuva mesmo, das que fazem aluviões, das que levantam um cheiro de terra tão safado que muita gente fica perturbada, os comedores de barro não se agüentando e metendo os dentes até em telhas e cacos de moringa molhados. Logo depois Sintagmas — Professora Ana Vellasco o tempo clareia de repente, o céu aparece com um azul muito levinho, o sol vai esquentando sem ficar tão quente como em fevereiro e o dia nasce desse jeito lavado que todo mundo conhece, a terra e a areia assentadas, as folhas com lustro, o ar limpíssimo, muitas novidades em cada canto, grande movimentação de bichos e uma certa alegria despropositada, uma certa crença em que, lavado assim, luminoso assim, o universo não é indiferente, mas propício.” Pesquise sobre João Ubaldo Ribeiro na Internet. Comentário sobre o texto 2 No nosso contato com um texto, é importante perceber não só o assunto tratado, mas também como o texto é estruturado. Assim, podemos observar que essa descrição poética de um dia de chuva está organizada em cinco períodos (lembre-se de que período é uma unidade gramatical que contém uma ou mais orações e que pode funcionar como frase.) No primeiro período temos a introdução do tempo, do tema e dos personagens: “Dia lavadíssimo, esta terça-feira, véspera de Santo Antônio, em que Perilo Ambrósio estuprou a negra Daê, mais chamada por Venância.” O segundo período detém-se na descrição da chuva: “Lavado mesmo, porque choveu até de manhãzinha, chuva grossa, chuvarada como os aguaceiros de verão, nada dessas brueguinhas regelantes que nunca vão embora e ficam ensopando os ossos das criaturas durante os meses de junho e julho, muitas vezes passando por agosto, quantas e quantas vezes entrando mais ou menos por setembro, vindo as primeiras águas desde abril, chuvas mil.” No terceiro período, aparece a justificativa para tanta chuva, fornecendo argumentos, a razão para o período anterior: “E esta ilha, já diziam os antigos, é verdadeiramente o bispote do céu, por assim falar, um ponto que as nuvens escolhem para arrebanhar-se antes de seguir viagem.” No quarto período, de conotação negativa, temos a repercussão, os efeitos da chuva nas pessoas e na terra: "Desde segunda-feira pelas onze da noite que bateu uma pancada, bateu outra, bateu mais outra, chuva mesmo, das que fazem aluviões, das que levantam um cheiro de terra tão safado que muita gente fica perturbada, os comedores de barro não se agüentando e metendo os dentes até em telhas e cacos de moringa molhados." E, finalmente, no quinto período, há uma espécie de corte introduzindo o aspecto positivo da chuva: "Logo depois o tempo clareia de repente, o céu aparece com um azul muito levinho, o sol vai esquentando sem ficar tão quente como em fevereiro e o dia nasce desse jeito lavado que todo mundo conhece, a terra e a areia assentadas, as folhas com lustro, o ar limpíssimo, muitas novidades em cada canto, grande movimentação de bichos e uma certa alegria despropositada, uma certa crença em que, lavado assim, luminoso assim, o universo não é indiferente, mas propício." Cada período assim estruturado vai apresentar também a sua feição, a sua organização. Como já foi dito, o primeiro período traz a introdução do tempo, do tema e dos personagens. Nele encontramos vários SN, na verdade ele é formado basicamente de SN. Sintagmas — Professora Ana Vellasco "Dia lavadíssimo, esta terça-feira, véspera de Santo Antônio, em que Perilo Ambrósio estuprou a negra Daê, mais chamada por Venância. 2.1 Constituintes do sintagma nominal O sintagma nominal apresenta um núcleo, que pode ser um substantivo (próprio ou comum); pode ser ainda um pronome substantivo (pessoal, demonstrativo, indefinido, interrogativo, possessivo ou relativo). No exemplo acima, cada núcleo de SN marcado em negrito é representado por substantivo próprio ou comum. No segundo período, encontramos que nunca vão embora , no terceiro, que as nuvens escolhem; nesses casos o núcleo é um pronome relativo. Já no quarto período, temos: bateu outra, bateu mais outra, chuva mesmo, das que fazem aluviões, das que levantam um cheiro de terra tão safado... em que o núcleo é um pronome indefinido outra, um pronome demonstrativo as, ou pronome relativo que. No quinto período... desse jeito lavado que todo mundo conhece, a terra e a areia assentadas, encontramos núcleos representados por um substantivo comum jeito, por pronome relativo que e ainda o caso de dois núcleos terra / areia, dois substantivos comuns. Quando o núcleo for um pronome substantivo, este por si só representará o SN. Pode acontecer também o caso da ausência do SN, como em “Lavado mesmo, porque choveu até de manhãzinha”, no segundo período. Dizemos que nesse caso o SN sujeito não se atualiza ou que sua posição não está lexicalmente preenchida. Além do núcleo, o SN pode apresentar determinante(s), e/ou modificador(es). Os determinantes antecedem o núcleo e os modificadores são antepostos ou pospostos. Voltemos ao texto: Dia lavadíssimo, esta terça-feira, véspera de Santo Antônio, em que Perilo Ambrósio estuprou a negra Daê, mais chamada por Venância. Lavado mesmo, porque choveu até de manhãzinha, chuva grossa, chuvarada como os aguaceiros de verão, nada dessas brueguinhas regelantes que nunca vão embora e ficam ensopando os ossos das criaturas durante os meses de junho e julho, muitas vezes passando por agosto, quantas e quantas vezes entrando mais ou menos por setembro, vindo as primeiras águas desde abril, chuvas mil. E esta ilha, já diziam os antigos, é verdadeiramente o bispote do céu, por assim falar, um ponto que as nuvens escolhem para arrebanhar-se antes de seguir viagem. Desde segunda-feira pelas onze da noite que bateu uma pancada, bateu outra, bateu mais outra, chuva mesmo, das que fazem alviões, das que levantam um cheiro de terra tão safado que muita gente fica perturbada, os comedores ( ... ) ...e o dia nasce desse jeito lavado que todo mundo conhece, a terra e a areia assentadas, as folhas com lustro, o ar limpíssimo, muitas novidades em cada canto, grande movimentação de bichos e uma certa alegria despropositada, uma certa crença em que, lavado assim, luminoso assim, o universo não é indiferente, mas propício. Como podemos observar, as marcações em negrito indicam que artigo, numeral e pronome adjetivo podem funcionar como determinantes do núcleo e que alguns podem vir juntos, outros, não. Assim, em esta ilha, esta terça-feira temos um único determinante, o pronome demonstrativo; já em uma certa alegria despropositada, uma certa crença temos dois determinantes. Isto porque o artigo e o pronome demonstrativo se excluem, mas o mesmo não acontece entre os artigos e os pronomes indefinidos, nem entre artigos e numerais, como em: as primeiras águas; o mesmo se dá entre pronomes possessivos e numerais e entre pronomes demonstrativos, possessivos e numerais. Sintagmas — Professora Ana Vellasco Dissemos que o SN pode ainda apresentar modificador ou modificadores. Retomando o texto, percebemos logo no início o SN Dia lavadíssimo, em que o núcleo Dia está sendo modificado por lavadíssimo. O mesmo vai acontecer em vários SN deste texto, isto é, vários núcleos serão "modificados" por adjetivos ou por locuções adjetivas; em certos casos, o modificador pode ser um advérbio ou locução adverbial. Podemos então afirmar que o SN apresenta mais de uma possibilidade de estruturação, isto é, o SN não é fixo, imutável. Ele é formado ora por determinante ( Det ) + núcleo ( N ) + modificador (Mod); ora por N + Mod; ora por Det+ Mod + N + Mod; ora por Det + N. Enfim, não há grande rigidez na sua formação. É o texto que vai nos ajudar a entender bem todas essas siglas: os aguaceiros de verão essas brueguinhas regelantes as folhas com lustro o ar limpíssimo muitas novidades em cada canto Det + N + Mod chuva grossa N + Mod uma certa crença Det + Det + N a terra e a areia assentadas Det + N + Det +N + Mod grande movimentação de bichos Mod + N + Mod uma certa alegria despropositada Det + Det + N + Mod Vamos ler o texto em que Jorge Amado descreve as roças de cacau: Texto 3 São Jorge de Ilhéus (Jorge Amado) A sombra das roças é macia e doce, é como uma carícia. Os cacaueiros se fecham em folhas grandes que o sol amarelece. Os galhos se procuram e se abraçam no ar, parecem uma árvore subindo e descendo o morro, a sombra de topázio se sucedendo por centenas e centenas de metros. Tudo nas roças de cacau é em tonalidades amarelas, onde, por vezes, o verde rebenta violento. De um amarelo aloirado são as minúsculas formigas pixixicas que cobrem as folhas dos cacaueiros e destroem a praga que ameaça o fruto. De um amarelo desmaiado se vestem as flores e as folhas novas que o sol pontilha de amarelo queimado. Amarelos são os frutos precoces que pecaram ao calor demasiado. Os frutos maduros lembram lâmpadas de oiro das catedrais antigas, fulgem com um brilho resplandecente aos raios do sol, que penetram a sombra das roças. Uma cobra amarela uma papa-pinto - acalenta o sol na picada aberta pelos pés dos lavradores. E até a terra, barro que o verão transformou em poeira, tem um vago tom amarelo, que se prende e colore as pernas nuas dos negros e dos mulatos que trabalham na poda dos cacaueiros. Dos cocos maduros se derrama uma luz doirada e incerta que ilumina suavemente pequenos ângulos das roças. O sol que se filtra através das folhas desenha no ar colunas amarelas de poeira, que sobem para os galhos e se perdem além, por cima das folhas mais altas. Os juparás, macacos plantadores de cacau, pulam de galho em galho, numa algazarra, sujando o oiro dos cacaueiros com o seu amarelo fosco e sujo. A papa-pinto desperta, estira seu dorso cor de gema de ovo, parece uma vara de metal que fosso Sintagmas — Professora Ana Vellasco flexível. Seus olhos amarelos de cobiça fitam os macacos que passam, bando buliçoso e alegre. Caem gotas de sol através dos cacaueiros. Vão rebentar em raios no chão, quando batem nas roças de água lhe dão um colorido de rosa-chá. Como se houvesse uma chuva de topázio caindo do céu, virando pétalas de rosa-chá no chão de poeira ardente. Há todos os tons de amarelos na traqüilidade da manhã nas roças de cacau. E, quando corre uma leve brisa, todo aquele mar de amarelo se balança, as tonalidades se confundem, criam um amarelo novo, o amarelo das roças de cacau, ah! O mais belo do mundo! Um amarelo como só os grapiúnas vêem nos dias de verão do paradeiro. Não há palavras para descrevê-lo, não há imagem para compará-lo, um amarelo sem comparação, o amarelo das roças de cacau! Comentário sobre o texto 3 Para descrever as roças de cacau, o autor coloca-se em íntimo contacto com a natureza, em uma descrição afetiva, pessoal, atribuindo características humanas a seres inanimados, personificando elementos da natureza: “De um amarelo demasiado se vestem as flores e as folhas novas...” Encontramos também muitas imagens baseadas nos sentidos, principalmente impressões visuais: “Tudo nas roças de cacau é de tonalidades amarelas...” O texto é extremamente rico em metáforas, que ajudam a construir a descrição, essencial ao desenvolvimento da narrativa. Vamos agora examinar o sujeito da frase: Uma cobra amarela acalenta o sol. Nesse sujeito, a palavra mais importante é cobra, o seu núcleo. As palavras uma e amarela limitam o sentido do núcleo cobra, são seus determinantes — os determinantes do sujeito. Quando construímos nossos textos, usamos esses elementos determinantes para limitar, como em uma cobra, ou para dar mais um sentido aos substantivo, como em cobra amarela. Assim, algumas palavras e expressões servem para limitar ou dar mais um sentido aos substantivos que acompanham: Os cacaueiros se fecham em folhas grandes. Quando corre uma leve brisa, aparece um amarelo novo. Veja só a frase: Os frutos maduros lembram lâmpadas de ouro de catedrais antigas. Para descrever os substantivos frutos, catedrais e lâmpadas, o autor empregou adjetivos e locuções adjetivas: substantivos adjetivos/locuções frutos maduros catedrais antigas lâmpadas de ouro olhos amarelos gotas de sol Podemos concluir, portanto, que o texto é todo construído com elementos que vão caracterizando, descrevendo as roças de cacau. Além de adjetivos e locuções adjetivas, o Sintagmas — Professora Ana Vellasco autor usou também várias orações que têm o valor de um adjetivo: são as orações adjetivas. Elas se referem ao termo anterior e vêm sempre introduzidas por um pronome relativo: Amarelos são aqueles frutos precoces que pecaram ao calor demasiado. aqueles frutos precoces que pecaram ao calor demasiado. Nestas outras frases também se realiza esse processo de detalhamento do substantivo: O sol que se filtra através das folhas desenha colunas no ar. As colunas amarelas de poeira que sobem para os galhos. A "papa-pinto" que parece uma vara de metal. Usamos as orações subordinadas adjetivas para ampliar o sentido dos nomes. Observe: Os juparás pulam de galho em galho. Os juparás, que são macacos plantadores de cacau, pulam de galho em galho. Dos cocos maduros se derrama uma luz doirada e incerta. Dos cocos maduros se derrama uma luz doirada e incerta que ilumina suavemente pequenos ângulos das roças. O sol desenha no ar colunas amarelas de poeira. O sol que se filtra através das folhas desenha no ar colunas amarelas de poeira. O sol que se filtra através das folhas desenha no ar colunas amarelas de poeira que sobem para os galhos e se perdem além. 2.2 O nome como núcleo funcional No nosso dia-a-dia, fazemos um uso muito freqüente de nomes, para dois tipos de função: a) identificar seres e objetos (substantivos); b) caracterizar, especificar, especializar seres e objetos (adjetivos). Substantivos e adjetivos fazem parte da ampla classe dos nomes. Existe uma diferença entre eles, mas essa diferença só se evidencia funcionalmente, quando aparecem combinados no sintagma nominal, numa ordem linear, o substantivo funcionando como núcleo, e o adjetivo como modificador. Quando isolados, nem sempre é possível uma distinção nítida entre substantivos e adjetivos, porque eles têm características mórficas semelhantes, isto é, flexionam-se para expressar as categorias de gênero e número. Percebemos que os substantivos podem ser modificados por adjetivos, elementos capazes de precisar o seu sentido, e que esse processo constitui um mecanismo produtivo na língua, dada a capacidade dos adjetivos de expandir a idéia básica definida pelos substantivos. Texto 4 Rios de Petrópolis A poluição faz rios coloridos. Não é tão feia assim. Como atração reproduz, em matizes escolhidos, as belas cores da televisão. (Carlos Drummond de Andrade) Comentário sobre o texto 4 Sintagmas — Professora Ana Vellasco Neste texto podemos observar a relação núcleo (termo determinado) e modificador (termo determinante) de maneira muito clara. modificador (adjetivos) núcleo (substantivos) feia poluição belas cores núcleo (substantivos) modificador (adjetivos) rios coloridos matizes escolhidos O nome substantivo é, por excelência, o núcleo do sintagma nominal. Os pronomes pessoais têm, como uma de suas características básicas, a possibilidade de constituírem, sozinhos, um SN. Exemplo: Ele chegou atrasado. Outros pronomes podem também funcionar como núcleos de SN ou constituírem, sozinhos, um SN. Exemplos: Tudo era silêncio em Manarairema. “Mas não consegui entender ainda qual é melhor: se é isto ou aquilo.” (Cecília Meieles) Qualquer vocábulo de outra classe, que ocupe a função de núcleo do sintagma nominal, será entendido como um substantivo. Exemplos: "Viver é muito perigoso …" (Guimarães Rosa) Recebi um sonoro não como resposta ao meu pedido. Os elementos determinantes do sintagma nominal são representados pelos artigos, pelos pronomes, e pelos numerais. Texto 5 O engenheiro (João Cabral de Mello Neto) A luz, o sol, o ar livre envolvem o sonho do engenheiro. O engenheiro sonha coisas claras: superfícies, tênis, um copo de água. O lápis, o esquadro, o papel; o desenho, o projeto, o número: o engenheiro pensa o mundo justo, mundo que nenhum véu encobre. (Em certas tardes nós subíamos ao edifício. A cidade diária, como um jornal que todos liam, ganhava um pulmão de cimento e vidro). A água, o vento, a claridade, de um lado o rio, no alto as nuvens, Sintagmas — Professora Ana Vellasco situavam na natureza o edifício crescendo de suas forças simples. Comentário sobre o texto 5 Esse poema focaliza a função do engenheiro, que é dar forma à matéria. O substantivo é a classe que indica a corporificação da matéria representada. Por isso, na construção do poema, o autor privilegiou a seqüência de substantivos (as palavras destacadas). Como podemos perceber, há inúmeros SN com seus núcleos substantivos, determinados por artigos e pronomes, como destacamos nos quadros abaixo: Sintagma nominal Determinante Núcleo a luz a (artigo) luz o sol o (artigo) sol o ar livre o (artigo) ar o engenheiro o (artigo) engenheiro a água a (artigo) água as nuvens as (artigo) nuvens um jornal um (artigo) jornal um copo d' água um (artigo) copo nenhum véu nenhum (pronome) véu certas tardes certas (pronome) tardes suas forças simples suas (pronome) forças Texto 6 Trecho de entrevista “(...) a sala, apesar de não ser grande, dá dois ambientes perfeitamente separados. O primeiro ambiente da sala de estar tem um sofá de couro, uma forração verde, as almofadas verdes, ladeado com duas mesinhas de mármore, abajur, um quadro, reprodução de Van Gogh. Em frente tem uma mesinha de mármore e em frente a esta mesa e portanto defronte do sofá tem um estrado com almofadas areia, o aparelho de som, um baú preto. À esquerda desse estrado tem uma televisão enorme, horrorosa, depois tem em frente à televisão duas poltroninhas vermelhas, de jacarandá, e aí termina o primeiro ambiente. Depois, então, no outro, no alargamento da sala tem uma mesa grande com seis cadeiras com um abajur em cima...” (Projeto NURC/RJ - entrevista sobre o tema Casa, informante do sexo feminino, com idade entre 25 e 35 anos) O nome adjetivo, do ponto de vista funcional, ocupa a posição de modificador do núcleo do sintagma nominal. Sintagma nominal Determinantes Núcleos dois ambientes dois ambientes o primeiro ambiente o, primeiro ambiente duas mesinhas de mármore duas mesinhas duas poltroninhas vermelhas duas poltroninhas Sintagmas — Professora Ana Vellasco seis cadeiras seis cadeiras Em alguns casos, como nos exemplos destacados do Texto 4 (Rios de Petrópolis), a relação entre núcleo e modificador do sintagma nominal pode ser facilmente observada. Em outros, verifica-se uma forte semelhança entre o adjetivo e o substantivo, por isso é preciso recorrer ao critério funcional para perceber qual é o vocábulo determinado (substantivo) e qual é o vocábulo determinante (adjetivo). Observe estas frases: O campeão da Copa de 94 foi o Brasil. O time campeão marcou muitos gols. Quando dizemos "O campeão da Copa de 94 foi o Brasil", a palavra campeão é o núcleo do sintagma, a base, o centro da informação contida em o campeão da Copa de 94. Estamos falando do campeão. Quando dizemos "O time campeão marcou muitos gols", o centro da informação contida no sintagma o time campeão é a palavra time. Estamos falando do time. No trabalho com a produção de textos, é importante mostrar a semelhança de função entre o adjetivo e a locução adjetiva, ambos modificadores do núcleo do sintagma nominal. A locução é formada por uma preposição mais um substantivo (sintagma preposicionado). No poema “O Engenheiro” temos: o sonho do engenheiro, um pulmão de cimento e vidro, um copo de água. No texto retirado da entrevista temos: sofá de couro, mesinha de mármore, duas poltroninhas vermelhas de jacarandá. Na função de modificadores, os adjetivos e as locuções adjetivas podem especificar, caracterizar ou expressar uma avaliação do falante sobre os substantivos. Para especificar e caracterizar os substantivos, usamos, com maior freqüência, as locuções adjetivas; para avaliar, são mais freqüentes os adjetivos simples. Especificação bola de futebol de basquete de gude panela de arroz de feijão de pipoca forma de bolo de queijo de pudim de pizza pista de corrida de atletismo de dança Caracterização bola de plástico de couro de meia santo de barro de madeira de gesso panela de barro de ferro de alumínio Avaliação bola estragada velha nova bonita juiz educado honesto ladrão trabalhador É muito importante que o usuário da Língua Portuguesa do Brasil perceba essas diferenças para aplicá-las na produção de sintagmas mais complexos. 2.3 Processos de ampliação do sintagma nominal Sintagmas — Professora Ana Vellasco Os processos de ampliação do SN compreendem, além do acréscimo de adjetivos, as locuções adjetivas e as orações adjetivas. Para refletir um pouco mais sobre essa questão, vamos examinar esses trechos, publicados no Jornal do Brasil: Texto 7 a) “A história do brasileiro pobre que ficou rico fazendo gols, do garoto talentoso que virou ídolo internacional e do craque rebelde que virou herói nacional já não nos pertence mais, é do mundo.” (JB, 18/7/94 - p.24) b) “As dúvidas e os atrasos estão levando o clube à falência.” JB, 11/12/93) Comentário sobre texto 7 Enquanto no texto a os núcleos são especificados por adjetivos, os substantivos do texto b não apresentam um único adjetivo. Há, portanto, textos em que substantivos se bastam (texto b), enquanto em outros o centro da expressão é especificado, especializado, precisado, embelezado, caracterizado, enfim, por adjetivos. A adjetivação do substantivo pode se dar também por meio: a) de uma locução (expressão): Enquanto houver um passe de calcanhar, um gol de placa, um drible de craque, valerá a pena torcer pelos campeões do mundo. b) de uma frase: O público que lota os estádios vibra com os lances. O time que jogou contra o Brasil era muito bom. Vejamos outros exemplos: Aquele time europeu virou um verdadeiro balcão de negócios. O técnico da seleção brasileira não ouve os apelos que a torcida faz. O jogador, que ontem se apresentou nas Laranjeiras, custou duas vezes o valor do passe. Desde que assumiu a direção técnica do Milan, conquistando dois títulos de campeão italiano, foi o mais aplicado e bem sucedido adepto da marcação por zona. Seu prestígio continua intacto : além do convite para dirigir a seleção japonesa, nos últimos meses Telê recebeu convites de times de Roma e da Arábia Saudita. Em 94, pelo menos três seleções surpreenderam : Nigéria e Arábia Saudita, além dos Estados Unidos, que eliminaram a Colômbia, que foi apontada como uma das favoritas e que se revelou a grande decepção do torneio. O futebol alegre dos nigerianos é uma das atrações da Copa. Vimos que é através do acréscimo de adjetivos, locuções adjetivas e orações subordinadas adjetivas que se dá a expansão do substantivo - base, núcleo da expressão. Observe o texto abaixo: Texto 8 Bola Carijó Já estou começando a ficar encafifado com essa pelota malhada, com esse couro branco, pintalgado de preto ou preto, salpicado de branco, que os altíssimos mentores da FIFA oficializaram para o Mundial de 66. Embora corintiana também como eu, olho-a com suspeição e Sintagmas — Professora Ana Vellasco desconfiança a rolar enganosamente pelo gramado: bola-não-bola, brancanão-branca, preta-não-preta, branca-ou-preta, preta-ou-branca, branca-epreta, preta-e-branca, prenca, branta. E cinza quando em alta rotação. Que diabo de nem-bola é essa afinal? Caleidoscópica, hipócrita, camuflada, mesmérica-bola-de-Tróia? (Décio Pignatari) Pesquise sobre Décio Pignatari na Internet, na (Décio Pignatari) Comentário sobre o texto 8 Nesta crônica, o autor descreve a bola de futebol que foi usada na Copa do Mundo de 66. Ela era bicolor, com gomos pretos e brancos. A presença da adjetivação contribui para a ampliação dos núcleos substantivos (especificando, especializando, precisando, caracterizando, enfim) pelota malhada couro branco, pintalgado de preto ou preto, salpicado de branco altíssimos mentores da FIFA (bola) Caleidoscópica, hipócrita, camuflada (bola) corintiana Texto 9 Os Tubarões (Revista Ciência Hoje das Crianças) Os tubarões são bichos interessantíssimos. Infelizmente, não são tão conhecidos pelo público, que acha que eles são assassinos cruéis e devoradores de homens. Os estudiosos acreditam que os primeiros tubarões surgiram há mais ou menos 300 milhões de anos. Isso é muito tempo. Os dinossauros surgiram há cerca de 220 milhões de anos e desapareceram há 65 milhões. Quer dizer, os tubarões apareceram bem antes deles e ainda continuam nadando por oceanos e mares do mundo. Os tubarões têm esqueleto feito de cartilagem e não de ossos. São parentes das arraias e das quimeras, que também têm esqueleto cartilaginoso. O maior tubarão do mundo é o tubarão-baleia, que pode medir até 18 metros de comprimento e só come peixes pequenos. Muito interessante é a gestação dos tubarões. Há algumas espécies, como o caçãogata, que botam um "ovo" na vegetação marinha. Dentro dele o filhote se desenvolve até o momento de romper a casca. Na maioria das outras espécies, o filhote passa toda a gestação dentro do útero materno. O olfato dos tubarões é tão desenvolvido que muitos pesquisadores os apelidaram de "narizes nadadores". Experiências comprovam que o tubarão consegue localizar, pelo cheiro, uma gota de sangue misturada em um milhão e meio de gotas de água, e isso a uma distância de 30 metros. Seria assim como pingar uma gota de sangue numa piscina olímpica. Uma coisa que quase ninguém fala é que os homens estão matando muitos tubarões. Hoje em dia já existem pesquisadores preocupados com este problema, porque os tubarões comem uma grande quantidade de animais marinhos, ajudando a manter o equilíbrio do ecossistema. Mas não é só por isso que devemos proteger os tubarões. Eles são também uma rica fonte de proteína animal, que é muito útil na medicina. Sintagmas — Professora Ana Vellasco Comentário sobre o texto 9 O texto explica, em uma linguagem acessível, como são os tubarões, o seu processo de gestação, o seu tempo de vida na Terra, os seus sentidos, e principalmente o olfato. Apresenta ainda algumas razões para justificar a preocupação com a matança e a extinção dos tubarões, alertando para o papel dos tubarões na manutenção do equilíbrio ecológico do ecossistema. Muitos sintagmas nominais foram empregados pelo autor para descrever os tubarões, os substantivos (núcleos) os substanivos nomeando algumas partes do tubarão, os adjetivos (modificadores) fornecendo detalhes sobre essas partes do animal. substantivos adjetivos bichos interessantíssimos esqueleto cartilaginoso olfato desenvolvido narizes nadadores proteína animal assassinos cruéis peixes pequenos piscina olímpica animais marinhos pesquisadores preocupados Além dos adjetivos, podemos combinar uma preposição e um substantivo (sintagma preposicionado) quando queremos descrever as características de algum objeto, de algum animal ou pessoa. locução adjetiva = preposição + substantivo substantivo adjetivo locução adjetiva proteína animal dos animais bichos interessantíssimos de muito interesse esqueleto cartilaginoso de cartilagem útero materno da mãe pesquisadores preocupados com preocupação animais marinhos do mar Veja outros exemplos de locuções adjetivas no texto: substantivo adjetivo mares do mundo oceanos do mundo gestação dos tubarões olfato dos tubarões gota de sangue Sintagmas — Professora Ana Vellasco gota de água equilíbrio do ecossistema fonte de proteína Existe uma outra maneira de incluir informações novas em nossos textos, além do uso de adjetivos e locuções adjetivas: assustador Esse é um filme que assusta O tubarão é fonte de proteína animal útil na medicina que é útil na medicina Os adjetivos podem ser substituídos por orações completas, chamadas de orações subordinadas adjetivas. Isso é muito comum tanto na nossa linguagem do dia-a-dia quanto na linguagem formal escrita. É fácil entender como essas orações são formadas: o rapaz é meu amigo + o rapaz subiu no ônibus o rapaz que subiu no ônibus é meu amigo - oração adjetiva Essa combinação das duas frases só foi possível porque usamos o pronome relativo que. Ele tem a função de substituir o vocábulo repetido, quando uma frase se encaixa na outra. O tubarão-baleia pode medir até 18 metros de comprimento. + O tubarão-baleia só come peixes pequenos que = O tubarão-baleia, que só come peixes pequenos, pode medir até 18 metros de comprimento. ou O tubarão-baleia só come peixes pequenos. O tubarão-baleia pode medir até 18 metros de comprimento. que = O tubarão-baleia, que pode medir até 18 metros de comprimento, só come peixes pequenos. Texto 10 De onde vem o ouro (Revista Ciência Hoje das Crianças) O ouro é um dos metais mais valiosos e procurados em todo o mundo. Tamanho sucesso se deve principalmente a dois motivos: seu brilho tão bonito e sua resistência à corrosão, isto é, o ouro não enferruja. Essas características o tornam muito bom para a fabricação de diversos objetos, desde jóias e moedas até peças de aparelhos eletrônicos e blocos para obturações de dente. As pessoas se sentem atraídas pelo ouro há muito tempo. Cerca de 3.200 anos antes de Cristo, os egípcios já se serviam dele — acredita-se que como dinheiro. Mais tarde, a Sintagmas — Professora Ana Vellasco corrida em busca desse metal, que foi chamada "febre do ouro", levou os homens a explorar outros lugares do mundo, como as Américas e a África. O Brasil é um dos países que mais têm ouro no mundo. Mas, afinal, onde está o ouro e como podemos consegui-lo? O ouro, assim como outros metais, fica escondido em muitos lugares do nosso planeta. Pode estar em uma enorme montanha, embaixo da terra, na praia ou no fundo do mar. O ouro e outros metais ficam dentro de um material, chamado minério. A área que reúne os minérios é denominada reserva mineral. Ele está espalhado em pequenas quantidades no meio do minério: é preciso explorar aproximadamente uma tonelada de minério para conseguir não mais do que 4 ou 5 gramas de ouro no final! Depois de encontrado, o ouro precisa passar por um tratamento industrial para que tenha alguma utilidade. A primeira etapa do processo é quebrar o minério em pedaços menores, para que o ouro se solte. Esta etapa é feita com a ajuda de equipamentos chamados britadores e moinhos. Também são usadas peneiras, que ajudam a separar o ouro do minério. Após a quebra, o minério é levado a tanques enormes, com uma solução que é capaz de dissolver o ouro. Essa solução é feita da mistura de água com cianeto de sódio, um sal venenoso, parecido com o sal que usamos na cozinha (cloreto de sódio). Forma-se uma polpa e o ouro vai se soltando do minério e se misturando à solução. Depois disso, a solução passa por um filtro e é misturada então com pedaços de carvão ativado. O ouro fica grudado nesse carvão e passa novamente pelo cianeto de sódio para desgrudar-se do carvão. A etapa seguinte é a eletrólise, que é feita numa banheira com chapas de metal eletrificadas. Quando a solução é colocada sobre as chapas, forma-se uma fina camada sólida de ouro, que fica grudada na chapa e pode ser retirada como se fosse uma fita adesiva. A seguir, ele é derretido e solidificado, ficando pronto para ser vendido. Comentário sobre o texto 10 O texto, além de fornecer informações de ordem geral sobre o ouro, como as suas características, os lugares onde é encontrado, as razões pelas quais é considerado um metal valioso, etc., descreve com detalhes as diversas etapas de tratamento desse metal. Observe com cuidado os sintagmas nominais utilizados no texto para descrever o ouro e o processo de tratamento: substantivos adjetivos metal valioso metal procurado brilho bonito Os vocábulos que aparecem na coluna substantivos se referem ao ouro, enquanto os que aparecem na coluna adjetivos descrevem avaliações sobre seu valor. Outros sintagmas nominais ocorreram no texto: Sintagmas nominais substantivos adjetivos Sintagmas — Professora Ana Vellasco aparelhos eletrônicos montanha enorme reserva mineral quantidades pequenas tratamento industrial pedaços menores tanques enormes sal venenoso carvão ativado chapas eletrificadas fita adesiva Além dos adjetivos, podemos combinar uma preposição e um substantivo (sintagma preposicionado) quando queremos descrever as características de algum objeto, de algum animal ou pessoa. locução adjetiva = preposição + substantivo substantivo adjetivo locução adjetiva reserva mineral de minério tratamento industrial da indústria sal venenoso com veneno chapas eletrificadas com eletricidade fita adesiva com adesivo Veja outros exemplos de locuções adjetivas do texto: substantivo adjetivo febre do ouro lugares do mundo fundo do mar tonelada de minério cianeto de sódio cloreto de sódio chapas de metal Existe uma outra maneira de incluir informações novas em nossos textos, além do uso de adjetivos e locuções adjetivas. Podemos empregar orações subordinadas adjetivas. Essa é uma história assustadora que assusta O ouro é um metal muito valorizado que é muito valorizado Observe como essas orações são formadas: Sintagmas — Professora Ana Vellasco o ouro atrai muito os homens + o ouro é um metal valorizado o ouro que é um metal valorizado atrai muito os homens — oração adjetiva A combinação das duas frases foi possível porque usamos o pronome relativo que. Ele tem a função de substituir o vocábulo que se repete, quando uma frase se encaixa na outra. Observe: A corrida em busca do ouro enlouquece os homens. A corrida em busca do ouro é chamada "febre do ouro". que = A corrida em busca do ouro, que é chamada "febre do ouro", enlouquece os homens ou A corrida em busca do ouro é chamada "febre do ouro". + A corrida em busca do ouro enlouquece os homens. que = A corrida em busca do ouro, que enlouquece os homens ,é chamada "febre do ouro". 2.4 Funções do sintagma nominal Retomando o trecho extraído do romance Viva o povo brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro, vamos agora avançar um pouco mais no nosso estudo do SN: considerar a possibilidade que ele tem de exercer diversas funções sintáticas. Consideremos o quinto período em que há uma espécie de corte introduzindo o aspecto positivo da chuva: Logo depois o tempo clareia de repente, o céu aparece com um azul muito levinho, o sol vai esquentando sem ficar tão quente como em fevereiro e o dia nasce desse jeito lavado que todo mundo conhece, a terra e a areia assentadas, as folhas com lustro, o ar limpíssimo, muitas novidades em cada canto, grande movimentação de bichos e uma certa alegria despropositada, uma certa crença em que, lavado asssim, luminoso assim, o universo não é indiferente, mas propício. O assunto aqui gira em torno do universo - tempo, céu, sol, dia e exatamente esses são os núcleos dos SN na função de sujeito. Vejamos: o tempo clareia de repente o céu</TD> aparece com um azul muito levinho, o sol vai esquentando o dia nasce desse jeito lavado o universo não é indiferente, mas propício Ainda neste período, vamos encontrar o SN como modificador nominal aposto: a terra e a areia assentadas, as folhas com lustro, o ar limpíssimo, muitas novidades em cada canto, grande movimentação de bichos Sintagmas — Professora Ana Vellasco e uma certa alegria despropositada, uma certa crença ... [ em que, lavado asssim, luminoso assim, o universo não é indiferente, mas propício.] O SN na função de predicador vai aparecer no terceiro período: E esta ilha, já diziam os antigos, é verdadeiramente o bispote do céu, por assim falar, um ponto que as nuvens escolhem para arrebanhar-se antes de seguir viagem. No primeiro período, em que temos a introdução do tempo, do tema e dos personagens, vamos encontrar o SN na função de objeto direto: "Dia lavadíssimo, esta terça-feira, véspera de Santo Antônio, em que Perilo Ambrósio estuprou a negra Daê, mais chamada por Venância." Também o segundo período, que se detém na descrição da chuva, vai apresentar o SN na função de objeto direto: ... essas brueguinhas regelantes (...) ficam ensopando os ossos das criaturas durante os meses de junho e julho, Portanto, o SN pode ser sujeito, objeto direto, predicativo, aposto ... Além disso, é preciso considerar as orações subordinadas substantivas, que são verdadeiros SN formados pelas conjunções integrantes que ou se + oração. Nesse caso, essas orações exercem, no período composto, as mesmas funções que o SN no período simples. Esse assunto será abordado com mais detalhes nos próximos temas - Coordenação e Subordinação. 3. A questão da transitividade Transitividade: Caráter dos nomes e verbos que exigem algo para lhes integrar o sentido. É o que ocorre com os verbos transitivos. Também substantivos, adjetivos e advérbios podem exigir complemento: necessidade de, necessário a, referente a, etc. A transitividade admite graus, indo do zero (intransitividade) à necessidade absoluta: Pedro dançava. Maria dançava uma valsa. Ela é útil ao pai. Tem precisão de assistência. (Zélio dos Santos Jota - Dicionário de Lingüística) A transitividade costuma ser tratada em nossas gramáticas somente quanto aos verbos. Ora, é preciso considerar também a transitividade nominal. Vejamos o texto abaixo, adaptado de matéria publicada na Revista Veja (29/07/98). Texto 11 O outro vestibular A disputa por um emprego nas maiores empresas brasileiras está começando para os estudantes que concluirão a faculdade no final do ano. Quem já passou pela experiência sabe que, perto dela, o funil do vestibular parece brincadeira. Dos numerosos jovens que se candidataram a uma vaga da firma Cargill, que atua no ramo de alimentos, apenas uma pequena parcela revelou inclinação para o tipo de trabalho a ser desenvolvido. Em todas as grandes companhias que adotam a política de recrutar Sintagmas — Professora Ana Vellasco profissionais recém-formados, a disputa por uma vaga é mais pesada do que nas mais concorridas universidades brasileiras. Durante o programa de treinamento, o jovem trainee terá acesso a diferentes departamentos da empresa. Se ele tiver domínio do uso de computadores, suas chances de ser escolhido aumentarão. "Hoje as empresas querem pessoas com senso crítico, que saibam apontar problemas e sugerir soluções", afirma a responsável pelo programa de treinamento da Gessy Lever. A primeira triagem é feita entre os currículos que chegam às empresas. Nesta fase, mais da metade dos candidatos é eliminada. A capacidade para trabalhar em equipe e a desenvoltura para lidar com problemas serão muito úteis ao candidato que estiver lutando por uma vaga como jovem trainee. (…) Comentário sobre o texto 11 Nesse texto, o assunto abordado é a dificuldade de conseguir uma vaga como trainee em uma grande empresa. Existe uma diferença entre ser estagiário e ser trainee: o estágio pressupõe uma permanência curta na empresa, com data para começar e terminar, enquanto para os trainees a proposta é ficar. A concorrência é muito grande, pois as empregadoras oferecem pouquíssimos postos em relação ao número de candidatos que se apresentam. O salário inicial é atraente; além disso, existe a chance de fazer carreira. Escolhemos esse texto, escrito em linguagem clara, para mostrar a questão da transitividade de verbos e de nomes. Para isso, fizemos algumas modificações no que foi originalmente publicado na revista. Como lemos na definição, existem “verbos que exigem algo para lhes integrar o sentido”. Isso acontece com os seguintes verbos do texto: • concluirão (verbo transitivo direto) • a faculdade (SN - objeto direto) • se candidataram (verbo transitivo indireto) • a uma vaga da firma Cargill (SP - objeto indireto) • querem (verbo transitivo direto) • pessoas (SN - objeto direto) • apontar (verbo transitivo direto) • problemas (SN - objeto direto) • sugerir (verbo transitivo direto) • soluções (SN - objeto direto) • lutar (verbo transitivo indireto) • por uma vaga (SP - objeto indireto) Existem também nomes (substantivos, adjetivos e advérbios) "que exigem algo para lhes integrar o sentido". As expressões abaixo servem para comprovar essa afirmação. disputa (substantivo) por um emprego inclinação (substantivo) para o tipo de trabalho acesso (substantivo) a diferentes departamentos da empresa domínio (substantivo) do uso de computadores responsável (adjetivo) pelo programa de treinamento da Gessy Lever capacidade (substantivo) para trabalhar em equipe desenvoltura (substantivo) para lidar com problemas Sintagmas — Professora Ana Vellasco úteis (adjetivo) ao candidato Nos exemplos acima, os termos que completam o sentido dos substantivos e adjetivos (por um emprego, para o tipo de trabalho, a diferentes departamentos da empresa, etc) são sintagmas preposicionados que recebem o nome de complemento nominal. Embora com menor freqüência na língua, os advérbios também podem ser complementados por sintagmas preposicionados. Exemplos: A oposição votou favoravelmente ao governo. SP - complemento nominal Nada será resolvido relativamente a esse problema. SP - complemento nominal 2. O SINTAGMA VERBAL Sintagma verbal (SV) é o conjunto de elementos que se organizam em torno de um verbo. O SN e o SV são os elementos básicos, obrigatórios de uma oração. Enquanto o SN, como vimos, pode desempenhar funções diferentes (sujeito, objeto direto, objeto indireto, por exemplo) o SV desempenha sempre a função de predicado. Texto 2 Meninos carvoeiros (Manuel Bandeira) Os meninos carvoeiros Passam a caminho da cidade. - Eh, carvoero! E vão tocando os animais com um relho enorme. Os burros são magrinhos e velhos. Cada um leva seis sacos de carvão de lenha. A aniagem é toda remendada. Os carvões caem. (Pela boca da noite vem uma velhina que os recolhe, dobrando-se com um gemido.) - Eh, carvoero! Só mesmo estas crianças raquíticas Vão bem com estes burrinhos descadeirados. A madrugada ingênua parece feita para eles … Pequenina, ingênua miséria! Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis! - Eh, carvoero! Quando voltam , vêm mordendo num pão encarvoado, Encarapitados nas alimárias, Apostando corrida, Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados! Comentário sobre o texto 2 Este poema, que faz parte do livro "Ritmo dissoluto", escrito em 1924, se caracteriza pelo emprego de versos livres, isto é, versos em que o autor não se prende a um número préestabelecido de sílabas, a um esquema conhecido. Sintagmas — Professora Ana Vellasco Estão presentes no poema as cenas do cotidiano, descritas em uma linguagem simples e acessível. Manuel Bandeira, nesses versos livres, está mais próximo do ritmo da prosa, evidenciando o caráter afetivo da linguagem. As orações que compõem os versos do poema, sobretudo as da primeira estrofe, são orações curtas, em que os elementos constituintes, o SN e o SV, podem ser identificados com facilidade. Sintagma nominal Sintagma verbal Os meninos carvoeiros passam a caminho da cidade. (Os meninos carvoeiros) vão tocando os animais com um relho enorme. Os burros são magrinhos e velhos. Cada um leva seis sacos de carvão de lenha. A aniagem é toda remendada... Os carvões caem. Uma velhinha vem pela boca da noite. Estas crianças raquíticas vão bem com estes burrinhos descadeirados. A madrugada ingênua parece feita para eles. Como podemos ver, os sintagmas verbais podem apresentar diferentes constituições. Podem ter somente a forma verbal, como em Os carvões caem. ou serem formados de verbos combinados com outros elementos, como em: leva + seis sacos de carvões de lenha vão tocando + os animais com um relho enorme vem + pela boca da noite passam + a caminho da cidade A presença ou não de outros termos no SV, termos que completam ou modificam o sentido do verbo, vai depender do tipo de verbo que ocorrer. A estas diferentes possibilidades de se constituir o sintagma verbal, em função do verbo, damos o nome de predicação verbal. 2.1 Constituintes do sintagma verbal Como anteriormente dito, a presença do verbo é o que caracteriza o sintagma verbal. Além do verbo, outros termos podem fazer parte do SV, dependendo do verbo que funciona como núcleo. Esses outros elementos são, por sua vez, sintagmas - nominais ou preposicionados. Esses sintagmas desempenham diferentes funções no SV: complementos diretos, indiretos, adjuntos adverbiais, agentes da passiva … Texto 3 O anjo das pernas tortas (Vinicius de Moraes) A um passe de Didi, Garrincha avança Colado o couro aos pés, o olhar atento Dribla um, dribla dois, depois descansa Como a medir o lance do momento. Vem-lhe o pressentimento; ele se lança Mais rápido que o próprio pensamento Dribla mais um, mais dois; a bola trança Feliz, entre seus pés --- um pé-de-vento! Sintagmas — Professora Ana Vellasco Num só transporte a multidão contrita Em ato de morte se levanta e grita Seu uníssono canto de esperança. Garrincha, o anjo, escuta e atende: --- Gooooool! É pura imagem: um G que chuta um O Dentro da meta, um L. É pura dança! Comentário sobre o texto 3 Esse poema de Vinicius de Moraes conta um pouco da arte de Garrincha, lendário jogador de futebol brasileiro. Com as pernas tortas, Garrincha era considerado um gênio do futebol, driblando todos os seus adversários. O futebol é o esporte mais amado pelos brasileiros. Para narrar seus jogos, os locutores esportivos usam diversas palavras estrangeiras, inventam novas palavras, criam apelidos para os jogadores e para as jogadas. Tudo isso para atrair a atenção do público e tornar a narração do jogo mais interessante. No poema que você leu, encontramos vários verbos que exigem a presença de sintagmas nominais para completarem seu sentido. Garrincha Garrincha Garrincha A multidão Garrincha dribla mede faz grita escuta um jogador o lance um gol um canto de o grito driblar => quem? = um jogador medir => o quê? = o lance escutar => o quê? = o grito fazer => o quê? = um gol gritar => o quê? = um canto Todos os termos que serviram para responder as perguntas quem?, o quê? vieram acrescentar uma informação aos verbos driblar, medir, escutar, fazer, gritar, completando o sentido do verbo. Repare ainda que todos esses complementos ligaram-se diretamente ao verbo, isto é, não foi usada nenhuma preposição entre o verbo e seu complemento. São sintagmas nominais que funcionam como objeto direto. E o verbo é transitivo direto. Há no poema vários verbos que não exigem qualquer sintagma para completar seu sentido. Veja só: Garrincha avança. avançar Garrincha descansa. descansar A multidão grita. gritar Dizemos que os verbos que não precisam de nenhuma espécie de complemento são os verbos intransitivos. Texto 4 Plantas Carnívoras Uma joaninha aproxima-se inocentemente da planta. Dá umas rodeadas e pousa. A planta é um tanto peluda, e nos pêlos há gotas que parecem de orvalho, brilhando à luz do sol. As cores são bonitas e a joaninha acha lindos os Sintagmas — Professora Ana Vellasco pêlos. Mas o que a joaninha não sabe é que eles soltam uma substância viscosa na qual ela vai ficar presa. A joaninha pousou numa 'planta carnívora'. Diferentemente das que aparecem no cinema, as plantas carnívoras de verdade são pequenas e delicadas. Elas têm em média 15 centímetros. As maiores podem chegar a medir dois metros de altura. Só têm capacidade de capturar e digerir animais miúdos, em geral insetos. Por isso, os pesquisadores preferem chamar essas plantas de insetívoras. As plantas carnívoras não dependem somente dos insetos para se alimentar: elas também fabricam seu próprio alimento. Mas como vivem em locais úmidos, em terrenos pantanosos, o alimento que produzem não é suficiente para suprir suas necessidades vitais. Os insetos que elas capturam e digerem com auxílio de uma substância viscosa são um complemento alimentar. Existem, no mundo, 450 espécies de plantas carnívoras, divididas em seis famílias diferentes. No Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, existe uma estufa de plantas insetívoras. Lá estão exemplares das seis famílias dessas plantas que, na estufa, são cultivadas em condições especiais para se adaptarem ao clima carioca. (por Vera L.G.Klein e L.Massarani, Revista Ciência Hoje das Crianças) Comentário sobre o texto 4 Neste texto, as autoras procuram explicar, numa linguagem bastante acessível, o que são plantas carnívoras, quais são suas características, por que podem ser chamadas de plantas insetívoras, quantas espécies existem de plantas carnívoras. Agora vamos observar melhor a estrutura de algumas frases do texto. Encontramos verbos que exigem a presença de um substantivo para completar seu sentido. É uma relação diferente entre o verbo e o substantivo que funciona como núcleo do SN. As plantas carnívoras As plantas carnívoras As plantas carnívoras As plantas maiores O Jardim Botânico capturam digerem produzem medem coleciona os insetos insetos miúdos uma substância viscosa dois metros de altura plantas carnívoras capturar => quem? = os insetos produzir => o quê? = uma substância viscosa colecionar => o quê? = plantas carnívoras Esses verbos pertencem a um grupo de verbos que, como vimos anteriormente, têm seu sentido complementado por sintagmas nominais que funcionam como objeto direto. Vamos ler agora as seguintes frases: Uma joaninha As plantas carnívoras As plantas carnívoras aproxima-se não dependem se adaptam aproximar-se => de quem? = da planta da planta dos insetos ao clima carioca Sintagmas — Professora Ana Vellasco depender => de quem? = dos insetos adaptar-se => a quê? = ao clima Esses verbos têm seu sentido complementado por sintagmas preposicionados (sintagmas nominais introduzidos por preposição) que funcionam como objeto indireto. Dizemos, neste caso, que o verbo é transitivo indireto. Vamos agora observar com cuidado estas outras frases retiradas do texto: As plantas A planta As cores As plantas carnívoras O alimento Os insetos são é são são não é são insetívoras peluda bonitas pequenas e delicadas suficiente um complemento alimentar Estas frases têm a mesma estrutura: substantivo sujeito verbo ser cópula sintagma nominal sintagma verbal adjetivo ou substantivo predicativo do sujeito (descreve características do sujeito) sintagma nominal Texto 5 A televisão (Chico Buarque de Holanda) O homem da rua Fica só por teimosia Não encontra companhia Mas pra casa não vai não Em casa a roda Já mudou, qua a roda muda A roda é triste a roda é muda Em volta lá da televisão No céu a lua Dá uma volta graciosa Pra chamar as atenções O homem da rua Que da lua está distante Por ser nego bem falante Fala só com seus botões O homem da rua Com seu tamborim calado Já pode esperar sentado Sua escola não vem não A sua gente Está aprendendo humildemente Um batuque diferente Sintagmas — Professora Ana Vellasco Que vem lá da televisão No céu a lua Que não estava no programa Cheia e nua, chega e chama Pra mostrar evoluções O homem da rua Não percebe o seu chamego E por falta doutro nego Samba só com seus botões Os namorados Já dispensam o seu namoro Quem quer riso, quem quer choro Não faz mais esforço não E a própria vida Ainda vai sentar sentida Vendo a vida mais vivida Que vem lá da televisão O homem da rua Por ser nego conformado Deixa a lua ali de lado E vai ligar os seus botões No céu a lua Encabulada e já minguando Numa nuvem se ocultando Vai de volta pros sertões. Comentário sobre o texto 5 Na letra de música que Você leu, Chico Buarque critica o enorme espaço que a televisão vem ocupando, cada vez mais, na vida das pessoas: afastando da música, afastando das conversas, afastando da natureza, afastando das relações sociais. As conversas, o namoro, a dança, atividades que pressupõem mais de uma pessoa, são substituídas pela tela da televisão, numa atividade isolada e solitária. Encontramos no texto inúmeras formas verbais. Elas podem ser agrupadas, de acordo com o tipo de sintagma com que se combinam. Grupo 1 : verbos que têm seu sentido complementado por sintagmas nominais. encontrar => o quê? O homem da rua não encontra companhia. ligar => o quê? O homem da rua vai ligar os seus botões. perceber => o quê? O homem da rua não percebe o seu chamego. Grupo 2: verbos que têm o seu sentido complementado por dois tipos de sintagmas: nominais e preposicionados. Sintagmas — Professora Ana Vellasco ganhar o quê ? de quem? A garota ganhou um livro de seu padrinho vendeu o quê ? para quem? O comerciante vendeu muitas bandeiras do Brasil para os torcedores Grupo 3: verbos que têm seu sentido complementado por preposicionados. falar => com quem? O homem da rua fala com seu botões. ansiar => pelo quê? Estamos todos ansiando por um Brasil mais justo. Grupo 4 : verbos que não precisam de complemento. chegar dormir gemer A lua, encabulada, chega. O bebê fechou os olhos e dormiu. O acidentado não parava de gemer. 2.2 Processos de ampliação do sintagma verbal Além de os sintagmas que servem como complementos dos verbos (objetos diretos e indiretos), há também inúmeros sintagmas que expressam as circunstâncias da ação: onde?, quando?, por quê?, como?, com quem? Essas informações sobre as circunstâncias da ação verbal são expressas por advérbios, por expressões adverbiais, ou por orações adverbiais. cair quando? onde ? como ? O jogador caiu antes do término do primeiro tempo. O jogador caiu na porta do gol. O jogador caiu rapidamente. Antes do término do primeiro tempo, o jogador caiu, rapidamente, na porta do gol. chorou quando? onde ? por quê? Garrincha chorou ao final do jogo. Garrinha chorou nos vestiários. Garrincha chorou de dor. Ao final do jogo, Garrincha chorou de dor nos vestiários. brilhar onde? como por quê ? As gotas de água brilham à luz do sol. As gotas de água brilham intensamente. As gotas brilham por causa do sol. viver onde? como? As plantas carnívoras vivem em locais úmidos. As plantas carnívoras vivem constantemente com fome. acordar quando? onde ? João acordou às dez horas. João acordou no meio da praça. João acordou com o barulho das crianças. Sintagmas — Professora Ana Vellasco por quê ? sair quando? onde ? como ? João saiu às dez horas. João saiu de casa. João saiu com pressa. Texto 6 As praias e as ondas Praia não serve apenas para tomar banho de mar. Serve também de defesa para os terrenos do continente, continuamente atacados pelo mar. Embora não reparemos nisso, os grãos de areia estão sempre em movimento, levados de um lado para outro pelas ondas. Mas enquanto as ondas fazem isso, elas deixam de destruir casas, avenidas, jardins que ficam logo depois da faixa de areia. Deve haver, portanto, espaço suficiente para as ondas se esparramarem sem alcançar as construções. Durante as ressacas, ou tempestades do mar, as ondas sobem mais do que o habitual e acabam carregando mais areia do que quando o mar está fraquinho. Essa areia toda é levada da parte alta da praia para dentro do mar, sendo depositada ao largo da zona de arrebentação. Passada a tempestade, voltam as ondas características de tempo bom e o nível médio do mar desce. A areia passa a ser depositada na parte alta da praia, recompondo sua forma original. As ondas são capazes também de levar os grãos de areia de um lado para o outro, ao longo do comprimento da praia. Na verdade, quando um banco de areia cresce quase a olhos vistos, ou quando uma mancha de óleo passa pela embocadura de um rio, ou ainda quando sai de uma lagoa um cheiro forte e desagradável, estamos diante de diversos processos que resultam tanto da ação da própria natureza -- tamanho das ondas, nível do mar, correntes marinhas, tipo de sedimentos etc. -- quanto da ação do homem. Deve haver um equilíbrio entre a capacidade que as ondas têm de transportar areia e a quantidade de grãos disponíveis para serem transportados. Se alguma coisa interferir nesse processo, pode haver desequilíbrio, isto é, erosão (falta de areia) ou assoreamento (sobra de areia). (Texto extraído da Revista Ciência Hoje das Crianças) Comentário sobre o texto 6 O texto acima faz uma análise da ação das ondas do mar. Explica por que a praia é considerada uma defesa para os terrenos no litoral de uma região, informa como é que as ondas atuam sobre a areia das praias. Além disso, apresenta as etapas do processo de erosão. Uma característica interessante do texto é forma como foram usados os vocábulos, de acordo com suas semelhanças de sentido. Observe os grupos abaixo: mar onda, corrente marinha, praia, banho de mar, ressacas, arrebentação, rio, lagoa terra terrenos, continente, sedimentos, casas, avenidas, jardins, construções, banco de areia, grãos de areia Sintagmas — Professora Ana Vellasco Quando damos uma explicação científica sobre algum fenômeno da natureza ou sobre o funcionamento do nosso corpo, por exemplo, precisamos fornecer algumas informações essenciais para que todos possam entender os detalhes da nossa explicação: . onde acontece? . quando acontece? . como acontece? . por que acontece? . para que acontece? Na nossa língua, essas informações podem ser expressas por advérbios, expressões adverbiais ou orações adverbiais. Os advérbios informam o lugar, a época, o modo, a causa dos acontecimentos. As expressões adverbiais e as orações adverbiais são sintagmas que têm a mesma função dos advérbios nas frases. A única diferença é que as orações adverbiais contêm um verbo e permitem passar uma informação mais completa e detalhada. Estas são algumas orações adverbiais que aparecem no texto. Repare como ajudam a explicar o funcionamento das ondas: enquanto as ondas fazem isso, tempo elas deixam de destruir casas e avenidas quando um banco de areia cresce a olhos vistos, quando uma mancha de óleo passa pela embocadura de um rio, quando sai de uma lagoa um cheiro forte e desagradável, tempo estamos diante de diversos processos que resultam da ação da natureza e do homem. praia não serve apenas para tomar banho de mar finalidade deve haver espaço suficiente para as ondas se esparramarem finalidade se alguma coisa interferir nesse processo condição pode haver desequilíbrio embora não reparemos nisso contradição os grãos de areia estão sempre em movimento Além das circunstâncias expressas nas orações anteriores — o tempo, a finalidade, as condições e as contradições — podemos também expressar as causas e as conseqüências: os grãos de areia se movimentam constantemente porque são impulsionados pelas ondas do mar causa água mole em pedra dura tanto bate até que fura conseqüência Texto 7 As três mortes das estrelas Sintagmas — Professora Ana Vellasco As estrelas parecem ser eternas mas não são. Elas nascem, vivem e morrem. Até mesmo o Sol, que é uma estrela ( e não das maiores), um dia também vai acabar. Um dia, daqui a dez milhões de anos ... Com telescópios poderosos e a ajuda de observatórios espaciais, os astrônomos conseguem ver as transformações das estrelas. E descobriram, entre outras coisas, que, quando olhamos para o céu, uma parte das estrelas que vemos já morreram há muito tempo. A sua distância de nós era tão grande que, quando a luz que emitiram chega até aqui, elas mesmas já não existem. As estrelas 'nascem', ou seja, formam-se quando uma enorme nuvem de gás começa a se concentrar, ficando cada vez menor e mais quente. As partes mais externas da nuvem começam, então, a cair em direção ao centro. Esse 'nascimento' pode levar um milhão de anos, o que não é muito tempo quando se fala em estrelas. Depois disso, a parte interna da nuvem fica tão quente que se transforma num enorme reator nuclear, uma verdadeira fábrica de luz, composta principalmente de hidrogênio, responsável pela produção de energia. Começa aí a parte mais longa da vida da estrela. É um período que pode durar muitos bilhões de anos. Depois desse tempo, o combustível acaba e a estrela começa a 'morrer'. Ela ainda pode usar outros combustíveis, como o hélio, aquele gás que faz os balões ficarem bem leves. Mas isso só aumenta um pouquinho a vida das estrelas. As estrelas não 'morrem' todas do mesmo jeito, nem a duração da 'vida' é a mesma para todas elas. As maiores e mais pesadas gastam mais rapidamente seu combustível e por isso duram muito menos, apenas alguns milhões de anos. 'Desligado o reator' ( quando acaba o hidrogênio), a estrela não consegue suportar mais o peso das camadas que estão perto do centro. Essas camadas começam a desabar sobre o centro, aumentando a temperatura e empurrando para fora as camadas externas da estrela, que fica inchada e menos quente na superfície. Se a estrela for das mais 'magrinhas', como o Sol, ela começa a tremer, até expulsar de uma só vez a sua camada externa, que se espalha pelo espaço. A parte interna vai ficando cada vez menor e mais fria, virando uma espécie de cinza de estrelas. Se a estrela for mais 'gordinha', oito vezes mais pesada que o Sol, sua morte é mais violenta e espetacular. Ela também começa a tremer, mas a matéria é tanta que a queda sobre o núcleo é muito violenta. A estrela pode até acabar explodindo, formando uma supernova. Se a estrela for muito maior, trinta vezes mais pesada que o Sol, quando acaba o combustível as partes externas caem sobre o núcleo de uma forma violentíssima. A atração é tão grande, que nada consegue escapar, nem mesmo a luz. Como a luz não escapa, esse corpo é escuro. Por isso recebe o nome de buraco negro. (Versão resumida de texto de Walter Junqueira Maciel, Revista Ciência Hoje das Crianças, nº 20) Comentário sobre o texto 7 O texto explica, de uma maneira muito interessante, como 'nascem' e 'morrem' as estrelas. Ele faz comparações entre as estrelas e coisas das quais ouvimos falar em nosso diaa-dia, como um reator nuclear, um balão de gás. De forma bastante acessível, o autor procura Sintagmas — Professora Ana Vellasco nos familiarizar com fatos que, apesar de estarem presentes na nossa vida, são, muitas vezes, ignorados por nós. Essa explicação científica sobre o nascimento e a morte das estrelas foi acompanhada de informações relevantes para entendermos o conteúdo do texto. A respeito do fato, temos os seguintes dados: . onde acontece? . quando acontece? . como acontece? . por que acontece? . para que acontece? Na nossa língua, essas informações podem ser expressas por advérbios, expressões adverbiais ou orações adverbiais. Os advérbios são vocábulos que informam o lugar, a época, o modo, a causa dos acontecimentos. As expressões adverbiais e as orações adverbiais têm a mesma função dos advérbios nas frases, com a seguinte diferença: as orações adverbiais contêm um verbo e nos permitem passar uma informação mais completa e detalhada. As orações adverbiais que aparecem no texto contribuíram para ajudar a explicar o nascimento e a morte das estrelas: quando olhamos para o céu, tempo quando uma enorme nuvem de gás começa a se concentrar tempo como a luz não escapa causa a parte interna da nuvem fica tão quente se a estrela for das mais magrinhas condição a matéria da estrela é muito pesada + a morte da estrela é muito violenta a atração em direção ao núcleo é muito grande + a luz não consegue escapar uma parte das estrelas já morreram há muito tempo as estrelas nascem esse corpo é escuro que se transforma num enorme reator nuclear conseqüência ela começa a tremer a matéria da estrela é tão pesada que a sua morte é muito violenta. conseqüência a atração em direção ao núcleo é tão grande que nem mesmo a luz consegue escapar. conseqüência No desenvolvimento do texto, é extremamente importante relacionar e encadear as idéias de maneira inteligível para o leitor. Podemos estabelecer relações de oposição, causa, contradição, conclusão, condição, fim. Para exemplificar essas correlações, vamos combinar as idéias: "conseguir emprego" e "morrer de fome": causa - No Brasil, muitos homens morrem de fome porque não conseguem um emprego. finalidade - No Brasil, os homens deveriam ter emprego para que não morressem de fome. Sintagmas — Professora Ana Vellasco conseqüência - No Brasil, muitos homens ficam tanto tempo desempregados que terminam morrendo de fome. condição - Se os homens tivessem sempre emprego, não morreriam de fome. Veja as relações entre as idéias: "tomar uma decisão" e "conhecer todas as possibilidades" finalidade - Para tomar uma decisão, é preciso conhecer todas as possibilidades. condição - Se não conhecermos todas as possibilidades, não poderemos tomar uma decisão. causa - É preciso conhecer todas as possibilidades, porque temos de tomar uma decisão. Essas relações estão sempre presentes quando falamos e quando escrevemos. Na fala, muitas vezes não é preciso utilizar as conjunções, porque o nosso interlocutor pode perceber isto, segundo a situação. Mas, quando estamos escrevendo um texto, uma carta ou um requerimento, por exemplo, precisamos ser bem claros para sermos corretamente entendidos. Resumindo: 1. relação de causa - efeito: expressa pelas conjunções porque, pois, como, visto que, já que, uma vez que, por causa de, por, em conseqüência de, por motivo de, devido a, em virtude de. Ex: O nazismo foi responsável por um dos regimes mais bárbaros já vistos porque se apoiou na idéia que existem homens superiores e homens inferiores. 2. relação de condição: expressa pelas conjunções se, caso, contanto que, desde que, a menos que, a não ser que. Ao expressar a condição, existe uma exigência de que os tempos verbais das duas orações se relacionem. Ex: Se tudo isso que foi previsto pela cartomantes se realizasse (imperfeito do subjuntivo) de fato, o mundo já teria (futuro do pretérito do indicativo) acabado algumas centenas de vezes. 3. relação de finalidade: expressa pelas conjunções para, a fim de, com o propósito de, com a intenção de, com o objetivo de. Ex: É preciso enviar a carta o mais cedo possível, para que se possa ter certeza de que ela chegará no prazo previsto. 4. relação de conseqüência: expressa pelas conjunções tanto...que, tão ... quanto. Ex: Mandei tantas cartas para o concurso, que minhas chances de ganhar são muitas. 5. relação de oposição: expressa pelas conjunções embora, apesar de. Ex: O computador não está funcionando, apesar de ter acabado de chegar do conserto. Texto 8 Como se conjuga um empresário (Mino) Acordou. Levantou-se. Aprontou-se. Lavou-se. Barbeou-se. Enxugou-se. Perfumou-se. Lanchou. Escovou. Abraçou. Beijou. Saiu. Entrou. Cumprimentou. Orientou. Controlou. Advertiu. Chegou. Desceu. Subiu. Entrou. Cumprimentou. Assentou-se. Preparou-se. Examinou. Leu. Convocou. Leu. Comentou. Interrompeu. Leu. Despachou. Conferiu. Vendeu. Vendeu. Ganhou. Ganhou. Ganhou. Lucrou. Lucrou. Lucrou. Lesou. Explorou. Escondeu. Burlou. Safou-se. Comprou. Vendeu. Assinou. Sacou. Depositou. Depositou. Depositou. Associou-se. Vendeu-se. Entregou. Sacou. Depositou. Despachou. Repreendeu. Suspendeu. Demitiu. Negou. Explorou. Desconfiou. Sintagmas — Professora Ana Vellasco Vigiou. Ordenou. Telefonou. Despachou. Esperou. Chegou. Vendeu. Lucrou. Lesou. Demitiu. Convocou. Elogiou. Bolinou. Estimulou. Beijou. Convidou. Saiu. Chegou. Despiu-se. Abraçou. Deitou-se. Mexeu. Gemeu. Fungou. Babou. Antecipou. Frustrou. Virou-se. Relaxou-se. Envergonhou-se. Presenteou. Saiu. Despiu-se. Dirigiu-se. Chegou. Beijou. Negou. Lamentou. Justificou-se. Dormiu. Roncou. Sonhou. Sobressaltou-se. Acordou. Preocupou-se. Temeu. Suou. Ansiou. Tentou. Despertou. Insistiu. Irritou-se. Temeu. Levantou. Apanhou. Rasgou. Engoliu. Bebeu. Rasgou. Engoliu. Bebeu. Dormiu. Dormiu. Dormiu. Acordou. Levantou-se. Aprontou-se... Comentário sobre o texto 8 Nesse texto, o autor mostra o dia-a-dia de um empresário, utilizando uma seqüência ordenada de verbos: acordou, levantou... Uma pequena história é contada, e por meio dela podemos descobrir as alegrias e tristezas de uma pessoa, envolvida nas diferentes situações cotidianas. A ocorrência de todos os verbos no pretérito perfeito do indicativo dá um certo caráter narrativo ao texto, como se fosse uma seqüência de ações em um dia de trabalho já concluído. Dessa forma, a presença de elementos coesores (conectivos e advérbios) pode ser dispensada. No texto, não aparecem substantivos, adjetivos, artigos, pronomes, preposições, conjunções. Só aparecem verbos. Entretanto, a coerência é depreendida da seqüência ordenada dos verbos com os quais o autor mostra o dia-a-dia de um empresário. Verbos como lesou, burlou, explorou, safou-se... transmitem um julgamento de valor do autor do texto em relação à figura de um empresário. Os verbos do texto podem ser arrumados em grupos, de acordo com as atividades descritas. 1. ações cotidianas - ao sair de casa preparação do corpo para sair alimentação gestos sociais locomoção acordou lanchou abraçou saiu levantou beijou entrou aprontou-se cumprimentou chegou 2. ações profissionais atos profissionais atos de poder atos ilegais leu orientou vendeu despachou controlou ganhou examinou advertiu lucrou 3. ações cotidianas - noturnas ações amorosas ações físicas insônia dificuldades bolinou saiu apanhou lamentou beijou chegou rasgou justificou-se convidou despiu-se bebeu negou abraçou deitou-se engoliu lamentou Sintagmas — Professora Ana Vellasco Se Você prestar bastante atenção nos grupos de verbos que aparecem no texto, poderá constatar que eles foram reunidos de acordo com suas semelhanças de sentido. Observe: cuidados higiênicos com o corpo lavou-se, barbeou-se, enxugou-se, perfumouse, escovou operações financeiras vendeu, comprou, depositou, sacou ato de dormir deitou-se, relaxou-se, dormiu, roncou, sonhou, acordou, despertou, levantou Vamos agora fazer o inverso do autor do texto. Vamos ampliar as frases, anexando sintagmas que complementem o sentido dos verbos. Para fazer isso de maneira organizada, você precisará, inicialmente, separar os verbos em grupos, dependendo do tipo de sintagma que será utilizado. Vamos ver como podemos ampliar frases que tenham os seguintes verbos: Grupo 1 : verbos que têm seu sentido complementado por sintagmas sem o auxílio de uma preposição. sacar => o quê? O empresário sacou o dinheiro. cumprimentar => quem? O empresário cumprimentou a secretária. Grupo 2 : verbos que têm seu sentido complementado por sintagmas nominais ou preposicionados. => o quê ? ganhar => de quem? O empresário ganhou muito dinheiro dos seu sócios. => o quê ? vendeu => para quem? O empresário vendeu ações às pessoas interessadas. Grupo 3: verbos que têm seu sentido complementado sintagmas preposicionados. telefonar => a quem? A secretária telefonou ao empresário. ansiar => pelo quê? O empresário anseia por lucros cada vez maiores. associar-se => a quem? O empresário associou-se a pessoas desonestas. Grupo 4 : verbos que não precisam de complemento. acordar O empresário acordou cedo. sair Depois de pronto, ele saiu. dormir Chegando em casa, dormiu. 3. A questão da transitividade Transitividade - Caráter dos nomes e verbos que exigem algo para Sintagmas — Professora Ana Vellasco lhes integrar o sentido. É o que ocorre com os verbos transitivos. Também substantivos, adjetivos e advérbios podem exigir complemento: necessidade de, necessário a, referente a, etc. A transitividade admite graus, indo do zero (intransitividade) à necessidade absoluta: Pedro dançava. Maria dançava uma valsa. Ela é útil ao pai. Tem precisão de assistência. (Zélio dos Santos Jota - Dicionário de Lingüística) A transitividade costuma ser tratada em nossas gramáticas somente quanto aos verbos. Ora, é preciso considerar também a transitividade nominal. Vejamos o texto abaixo, adaptado de rmatéria publicada na Revista Veja (29/07/98). Texto 9 O outro vestibular A disputa por um emprego nas maiores empresas brasileiras está começando para os estudantes que concluirão a faculdade no final do ano. Quem já passou pela experiência sabe que, perto dela, o funil do vestibular parece brincadeira. Dos numerosos jovens que se candidataram a uma vaga da firma Cargill, que atua no ramo de alimentos, apenas uma pequena parcela revelou inclinação para o tipo de trabalho a ser desenvolvido. Em todas as grandes companhias que adotam a política de recrutar profissionais recém-formados, a disputa por uma vaga é mais pesada do que nas mais concorridas universidades brasileiras. Durante o programa de treinamento, o jovem trainee terá acesso a diferentes departamentos da empresa. Se ele tiver domínio do uso de computadores, suas chances de ser escolhido aumentarão. "Hoje as empresas querem pessoas com senso crítico, que saibam apontar problemas e sugerir soluções", afirma a responsável pelo programa de treinamento da Gessy Lever. A primeira triagem é feita entre os currículos que chegam às empresas. Nesta fase, mais da metade dos candidatos é eliminada. A capacidade para trabalhar em equipe e a desenvoltura para lidar com problemas serão muito úteis ao candidato que estiver lutando por uma vaga como jovem trainee. (…) Comentário sobre o texto 9 Neste texto, o assunto abordado é a dificuldade de conseguir uma vaga como trainee em uma grande empresa. Existe uma diferença entre ser estagiário e ser trainee: o estágio pressupõe uma permanência curta na empresa, com data para começar e terminar, enquanto para os trainees a proposta é ficar. A concorrência é muito grande, pois as empregadoras oferecem pouquíssimos postos em relação ao número de candidatos que se apresentam. O salário inicial é atraente; além disso, existe a chance de fazer carreira. Escolhemos esse texto, escrito em linguagem clara, para mostrar a questão da transitividade de verbos e de nomes. Para isso, fizemos algumas modificações no que foi originalmente publicado na revista. Como lemos na definição, existem "verbos que exigem algo para lhes integrar o sentido". Isso acontece com os seguintes verbos do texto: concluirão (verbo transitivo direto) a faculdade (SN - objeto direto) Sintagmas — Professora Ana Vellasco se candidataram (verbo transitivo indireto) a uma vaga da firma Cargill (SP - objeto indireto) querem (verbo transitivo direto) pessoas (SN - objeto direto) apontar (verbo transitivo direto) problemas (SN - objeto direto) sugerir (verbo transitivo direto) soluções (SN - objeto direto) lutar (verbo transitivo indireto) por uma vaga (SP - objeto indireto) Existem também nomes (substantivos, adjetivos e advérbios) "que exigem algo para lhes integrar o sentido". As expressões abaixo servem para comprovar essa afirmação. disputa (substantivo) por um emprego inclinação (substantivo) para o tipo de trabalho acesso (substantivo) a diferentes departamentos da empresa domínio (substantivo) do uso de computadores responsável (adjetivo) pelo programa de treinamento da Gessy Lever capacidade (substantivo) para trabalhar em equipe desenvoltura (substantivo) para lidar com problemas úteis (adjetivo) ao candidato Nos exemplos acima, os termos que completam o sentido dos substantivos e adjetivos (por um emprego, para o tipo de trabalho, a diferentes departamentos da empresa, etc.) são sintagmas preposicionados que recebem o nome de complemento nominal. Embora com menor freqüência na língua, os advérbios também podem ser complementados por sintagmas preposicionados. Exemplos: A oposição votou favoravelmente ao governo. SP - complemento nominal Nada será resolvido relativamente a esse problema. SP - complemento nominal 4. Perspectivas quanto ao ensino E o ensino, como será que o estudo do sintagma nominal e do sintagma verbal pode contribuir para o aperfeiçoamento da expressão oral e escrita do aluno? Antes de mais nada, precisamos acreditar realmente que as aulas de português e de literatura podem ser prazerosas e que, para um ensino produtivo, podemos apontar caminhos, não necessariamente novos. Ao examinar mais detalhadamente o SN e o SV, a sua estrutura e a sua função, ocorre a pergunta: E o aluno, como fica? Como trabalhar essas questões tendo em vista o “desligamento” do Marcos, a falta de atenção da Agatha, ou a motivação dessa meninada despertada por concorrentes tão empolgantes à nossa volta? Essa não é uma pergunta fácil de Sintagmas — Professora Ana Vellasco responder e nem poderia ser, uma vez que estamos frente a constatações do tipo: “só aprendemos o que é do nosso interesse” ou “sem motivação não há disponibilidade para o aprendizado”. Apesar de muitas teorias a respeito, na verdade, sabemos que na prática isso acontece mesmo, principalmente em se tratando de adolescentes. De uns tempos para cá, os livros didáticos têm procurado incentivar os estudantes por meio de ilustrações interessantes; é claro que isso pode ajudar, mas não basta. O aluno precisa descobrir o que há de importante no material ou na “matéria” que lhe está sendo apresentada. E é aí que, no caso do SN e do SV, temos a grande chance de mostrar como um texto se organiza em torno de núcleos, de idéias centrais, inclusive fazendo “ganchos” com o seu dia-a-dia, com os seus assuntos preferidos, a sua leitura do mundo. Pensando nessas questões, inúmeras atividades de sala de aula podem ser propostas pelo professor, de modo a que o aluno compreenda e exercite a capacidade de criar estruturas mais complexas a partir de estruturas mais simples, reconhecendo a função de cada elemento dentro do conjunto em que ele se insere. Isso possibilitará ao aluno aprimorar a sua produção de textos. Perceber como um texto se constrói, como os vocábulos se organizam, é uma aventura diante de qualquer texto, seja ele oral ou escrito, literário ou não literário, popular ou culto, específico de uma área ou mais geral. Enfim, qualquer que seja a mensagem compreensível, ela é estruturada na base de seu vocabulário e dos seus sintagmas. A possibilidade de ampliação dos sintagmas também constitui uma fonte para que o estudante exercite a sua linguagem e vai se refletir na sua produção dos textos. Como vimos, as locuções, as orações substantivas e as orações adjetivas têm a característica de ampliar o SN e o SV; isto pode auxiliar na produção dos textos dos alunos e pode servir para que ele compreenda uma das razões para estudar esse tipo de oração, ou seja, as orações subordinadas. Bibliografia AZEREDO, J.Carlos. Iniciação à sintaxe do português. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1990. BENVENISTE, E. 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