Mariana Mazolli Diabetes Mellitus Felina: Resistência e remissão São Paulo/SP 2015 Mariana Mazolli Diabetes Mellitus Felina: Resistência e remissão Monografia apresentada como requisito final à obtenção do Título de Especialista no Curso de Pós-Graduação, em Clínica Medica em Felinos, do Centro Educacional Equalis, orientada pela Dra. Veter. Amanda Resende Duarte. São Paulo/SP 2015 Mariana Mazolli Diabetes Mellitus Felina: Resistência e remissão Monografia apresentada como requisito final à obtenção do Título de Especialista no Curso de Pós-Graduação, em Clínica Medica em Felinos, do Centro Educacional Equalis, orientada pela Dra. Veter. Amanda Resende Duarte. São Paulo/ SP, 20 de Março de 2015. _____________________________________________________________ – Orientadora – Dra. Veter. Amanda Resende Duarte São Paulo/SP 2015 RESUMO A diabetes mellitus, é uma doença endócrina, cuja prevalência em gatos vem aumentando bastante durante os últimos anos. Tem uma etiologia multifatorial e apresenta diversos fatores que podem atrapalhar tanto o diagnóstico quanto no tratamento da diabetes, entre eles a obesidade, a deposição de substância amiloide no pâncreas, a pancreatite, entre outros. Sendo assim é fundamental o conhecimento destes fatores a fim de melhorar tanto o diagnóstico quanto o tratamento, favorecendo assim o desaparecimento dos sinais clínicos, gerando a normoglicemia, e fornecendo a melhor chance do paciente apresentar a remissão deste quadro, ou ainda apresentar uma melhor qualidade de vida. O tratamento é baseado numa dieta adequada, insulinoterapia, e o paciente deve ser acompanhado rigorosamente, principalmente nos primeiros. Apesar da remissão não ocorrer em todos os felinos, vem sendo pesquisado em muitos trabalhos, que estes animais quando tratados corretamente, e no início do quadro aumentam e muito a chance de apresentarem remissão. Este trabalho vem acrescentar novas informações, numa pequena revisão para auxiliar os clínicos no tratamento da forma mais correta possível. Palavras-chave: Diabetes Mellitus. Obesidade. Remissão. LISTA DE ABREVIATURAS: siglas, símbolos e acrônimos CAD Cetoacidose Diabética CH Hidratos de carbono DM Diabetes Mellitus DMF Diabetes Mellitus Felina DMT1 Diabetes Mellitus tipo 1 DMT2 Diabetes Mellitus tipo 2 GH Hormônio do crescimento (Somatotrofina) GLUT-1 Transportador 1 da glicose CSG Curva de glicêmica GLUT-4 Transportador 4 da glicose IGF-1 Fator de crescimento (Somatomedina) Kcal/dia Quilocalorias dia Mg/dL Miligramas por decilitros Mg/gato Miligramas por gato Mg/kg Miligramas por quilo TNF alfa Fator de Necrose Tumoral alfa UI Unidades Internacionais μmol/L Milimols por litro > Maior SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 5 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................. 7 1.1 O Pâncreas ......................................................................................................................... 7 1.2 A Insulina ........................................................................................................................... 8 1.2.1 Mecanismo de ação, ações biológicas e transporte de membrana da insulina ............. 8 1.3 Diabetes .............................................................................................................................. 9 1.3.1 Sinais clínicos ............................................................................................................. 10 1.3.2 Diagnóstico ................................................................................................................. 11 1.3.3 Tratamento.................................................................................................................. 13 1.3.4 A Insulinoterapia ........................................................................................................ 14 1.3.5 Manejo alimentar ........................................................................................................ 15 1.3.6 Os Hipoglicemiantes .................................................................................................. 17 1.4 A REMISSÃO .................................................................................................................. 17 1.4.1 O controle ................................................................................................................... 19 1.4.2 Fatores de resistência.................................................................................................. 20 1.4.3 Diabetes mal controlada ............................................................................................. 23 1.4.4 A Acromegalia ........................................................................................................... 24 1.4.5 A Pancreatite .............................................................................................................. 25 CONCLUSÃO......................................................................................................................... 27 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 28 5 INTRODUÇÃO A Diabetes Mellitus é uma endocrinopatia muito comum em gatos. O aumento na população de gatos considerados obesos e uma maior inatividade física dos mesmos pode justificar o aumento da prevalência desta endocrinopatia nos últimos anos. A Diabetes Mellitus pode ser classificada como tipo 1 ou tipo 2, sendo que a tipo 1 é muito mais frequente nos cães, e extremamente rara nos gatos, e a tipo 2 mais frequente nos gatos, ocorrendo em 80-95% dos gatos diagnosticados com diabetes mellitus. Esta doença apresenta etiologia multifatorial, e nos gatos incluem a amiloidose das ilhotas pancreáticas, obesidade, redução da atividade física praticada, genética, enfermidades que ocorrem de forma concomitante, medicamentosa (como exemplo medicamentos progestágenos), entre outras. Na diabetes do tipo 2 que ocorre nos felinos, existe a possibilidade de remissão, sobretudo nos 3 primeiros meses logo após ser introduzida a prática terapêutica, esta remissão no entanto continua a exigir que, mesmo sem a necessidade de aplicação de insulina exógena, o controle de peso, a dieta apropriada e uma maior pratica de exercícios. Nem todos os gatos, no entanto, apresentam a remissão. Quando o controle da diabetes se torna difícil, é preciso pesquisar a presença de doenças concomitantes ou fatores que possam causar resistência à insulina. Aproximadamente 20% dos gatos doentes desenvolvem a diabetes de forma secundária, como uma sequela de outra doença, como a acromegalia, e pancreatite. Em cães o hiperadrenocorticismo contribui frequentemente para que o animal se torne diabético, porém esta outra endocrinopatia é extremamente rara no gato, sendo relevante apenas nos cães. O diagnóstico é realizado através da união da clínica que o paciente apresenta em conjunto com exames laboratoriais como a glicemia e frutosamina, e a exclusão de outras possíveis causas de uma hiperglicemia persistente. Deve-se também nos casos dos felinos diagnosticar uma possível causa primária para o desenvolvimento da diabetes, ou ainda tentar avaliar a existência de fatores que possam levar a uma resistência insulínica. 6 O principal, quando se pensa na terapia, ou seja, os principais objetivos que devem ser alcançados na terapêutica da diabetes, devem ser a manutenção dos níveis glicêmicos entre 90-270 mg/dL através da aplicação de insulina exógena, e o tratamento adequado para controle ou resolução da possível doença concomitante, ou diminuição ou eliminação dos possíveis fatores que causem resistência à insulina. Este trabalho tem como principal objetivo realizar uma revisão sobre a diabetes mellitus felina, focando principalmente nos fatores que causam resistência a insulina e em como estes fatores podem afetar os gatos impedindo ou atrasando uma possível remissão da doença. A estrutura do trabalho está organizada, assim sendo: A Introdução, abordando o tema, o problema, a teoria, a hipótese o objetivo e os procedimentos metodológicos; A Revisão Bibliográfica, predominando o trabalho com conteúdo teórico acerca dos felinos, sob a ótica de diversos autores renomados. A conclusão do assunto. 7 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1 O Pâncreas O pâncreas é um órgão glandular que possui funções endócrinas e exócrinas, e é constituído por dois lobos, um direito duodenal e um esquerdo esplênico, e os dois lobos se unem no corpo pancreático, cujo ápice se encontra localizado caudo-medial ao piloro (SADLER, 2005). Diferentes dos cães, onde o pâncreas tem 2 ductos excretores o pancreático menor e o ducto pancreático acessório, a maioria dos felinos penas um ducto excretor, que é chamado de ducto pancreático principal, esse ducto se funde ao ducto biliar e se abre ao nível da papila duodenal maior. Cerca de 20 % dos felinos apresentam o ducto pancreático acessório (REUSCH; ROBEN & KOOISTRA, 2010). É um órgão muito bem irrigado através de ramos das artérias celíaca e mesentérica cranial, ambas provenientes da artéria aorta. A sua função exócrina está ligada a função gastrointestinal, na secreção de enzimas digestivas essenciais para digestão de alimentos bem como outras substancias. A maioria destas enzimas está armazenada na forma intacta, em pré-enzimas, que são ativadas somente no lúmen do intestino delgado após sua secreção. Isto ocorre como uma forma de proteção do pâncreas contra a ação das próprias enzimas. Já a porção endócrina é composta por grupos celulares no que chamamos ilhotas de langerhans, e esse grupo tem 4 principais tipos de células as quais tem diferentes propriedades, morfologia e produção hormonal. As células alfa, que compõem cerca de 20 a 30% das células das ilhotas, são responsáveis por secretar glugagina, as células D, que são cerca de 5-10% produzem somastatina, as células F ou PP são raras, e secretam o polipeptideo pancreático, já as células beta estão presentes em maioria numérica (sendo 60-80% das células que compõem as ilhotas), e são responsáveis pela produção de insulina e amilina. (BONNER-WEER, 2005; NELSON & COX, 2005; MARTIN & CRUMP, 2003). 8 1.2 A Insulina Trata-se de um hormônio de composição proteica. As moléculas de insulina dos mamíferos são extremamente semelhantes na sua estrutura e na sua composição. Dentre as espécies domesticas a insulina dos felinos se assemelha a insulina bovina, diferente da insulina canina, que tem maior semelhança com a insulina humana e suína (ANDRADE & MARCO, 2006; REUSCH, 2010). Essas semelhanças e diferenças são extremamente importantes principalmente na escolha da terapia com a insulina que será instituída em animais com a diabetes mellitus. A síntese e a secreção da insulina pelas células beta é estimulada pelo aumento das concentrações sanguíneas de glicose no plasma que passa a atingir as ilhotas de langerhans. A homeostase da glicose se dá por um sistema de fatores neurais, hormonais com ação reguladora e moduladora, destes a insulina é considerada o mais importante (BONNERWEER, 2005; REUSCH; et al, 2010). 1.2.1 Mecanismo de ação, ações biológicas e transporte de membrana da insulina Com o aumento das concentrações de glicose sanguínea, começa o estimulo para a síntese e a secreção de insulina pelas células beta numa relação onde existe o feedback positivo, quando estas concentrações diminuem, portanto ocorre o feedback novamente e a síntese e secreção cessa. Quando existe uma alteração nas funções das células beta, gera como consequência um impacto nas homeostase da glicose, podendo haver excessiva secreção da insulina causando hipoglicemia, ou secreção insuficiente de insulina causando a hiperglicemia (ANDRADE & MARCO, 2007; GRECO & STABENFEDT, 2007). O mecanismo de ação da insulina não é totalmente conhecido, sabe se que praticamente todas as células dos mamíferos apresentam receptores de membrana específicos com alta afinidade para a insulina (AZEVEDO, 2006; STABENFELDT, 2007; MARTIN & CRUMP, 2003). 9 A insulina tem um papel crucial no equilíbrio de diferentes vias metabólicas dos hidratos de carbono, de proteínas e dos lipídios, sendo considerado um agente anabólico fisiológico dos muito potentes (AZEVEDO, 2006). Como efeito da ação da insulina, resulta a diminuição das concentrações sanguíneas de glicose, dos ácidos graxos e aminoácidos, além da conversão intercelular destes compostos nas suas formas de armazenamento, o glicogênio no fígado e no músculo, os triglicerídeos no tecido adiposo, e das proteínas no tecido muscular. A presença da insulina é extremamente importante, pois facilita a movimento da glicose através de membranas plasmática nas células do tecido adiposo e muscular. No entanto existem alguns órgãos e células onde é vital um acesso continuo a glicose, e precedem a ação da insulina, entre eles o cérebro, o fígado os rins, os testículos os intestinos e órgãos linfoides, e algumas células como os eritrócitos (MARTIN & CRUMP, 2003; REUSCH; et al., 2010). 1.3 Diabetes A Diabetes Mellitus (DM) é como já foi dito, uma endocrinopatia que tem etiologia multifatorial e é resultante de uma deficiência relativa ou absoluta de insulina, ou de uma incapacidade dessa insulina de exercer suas funções de forma adequada, ou ainda, ambas as situações. Isso resulta na queda da utilização de aminoácidos, ácidos graxos e principalmente da glicose por todos tecidos periféricos, portanto a glicose obtida através da dieta consumida pelo animal e a da produzida pela neoglicogênese hepática, (que pode passar a ocorrer de forma modesta devido a um quadro de hipoinsulinemia), passa a se acumular na circulação, conduzindo este animal ao quadro de hiperglicemia persistente e uma alteração no metabolismo proteico, lipídico e dos hidratos de carbono (NELSON; COUTO, 2011). A diabetes, nos felinos é considerada a segunda doença endócrina mais frequente e sua incidência é de cerca de 0,5% em felinos (REUSCH, 2010). Sua prevalência em felinos vem aumentando nos últimos anos, ao mesmo tempo, no entanto a mortalidade de gatos que apresentam esta doença vem diminuindo (PRAHL; et al,; & GLICKMAN, 2007). 10 A DM, pode ser dívida em Diabetes Mellitus do tipo 1 (DMT1) e Diabetes Mellitus do tipo 2 (DMT2) (NELSON; COUTO, 2011). A DMT1 é caracterizada pela destruição irreversível das células beta presentes no pâncreas, levando o animal a apresentar uma progressiva deficiência que muitas das vezes se torna absoluta, da secreção de insulina, tornando então o paciente dependente de insulinoterapia exógena para que exista normoglicemia. É extremamente rara em gatos, sendo mais comum sua ocorrência na espécie canina (REUSCH; et al, 2010). Já a DMT2, pode ser caracterizada como uma doença heterogênea, e se apresenta principalmente pela combinação de dois fatores, a alteração da função das células beta, que leva a uma menor produção de insulina pelo pâncreas, em simultâneo a uma ação reduzida da insulina pela diminuição da sensibilidade dos tecidos periféricos a ação deste hormônio (RAND, 2012; REUSCH; et al, 2010). Ocorre com maior frequência em gatos machos castrados acima dos 6 anos de idade, em animais que estão com sobrepeso ou ainda obesos, com pouca atividade física relatada em sua maioria, não parece ter predisposição racial (ROYAL CANIN, 2010; FENNER, 2000; NELSON; COUTO, 2011). 1.3.1 Sinais clínicos Os sintomas mais frequentemente descritos são poliúria e polidipsia (80% dos gatos), perda de peso (70%) e polifagia (20% dos gatos), além disso, os responsáveis pelo paciente também relatam que alguns animais passam a abandonar os hábitos de higiene, passando a apresentar pelagem opaca, secas e sem brilho. Alguns relatam também que o animal tem dificuldade de locomoção, descrevem fraqueza em membros posteriores e dificuldade de saltar, caracterizando assim, a neuropatia (RAND, 2012). Em um exame físico podemos observar a hepatomegalia, e a neuropatia periférica, que se manifesta por uma fraqueza dos membros posteriores, onde muitas vezes esses animais apresentam dificuldade de andar e assumem postura plantígrada (REUSCH, 2010). Os indivíduos com alguma outra doença concomitante ou subjacente como os exemplos como a pancreatite, ou a acromegalia, podem manifestar sinais clínicos adicionais ou ainda exacerbar outros (NELSON, 2010; RAND & MARSHALL, 2004). 11 O aparecimento de sintomas ocorre de forma gradual, e tem início quando as concentrações plasmáticas da glicose na corrente sanguínea começam a aumentar, até que chega um ponto onde essa concentração excede a capacidade de reabsorção das células tubulares presentes nos rins, resultando em glicosúria. Como já foi dito, isto passa a ocorrer devido ao excedente do limiar médio, que nos gatos normais é em torno de 290 mg/dL, no entanto pesquisas demonstram que em gatos diabéticos este limiar renal para a glicose é subjetivamente menor, ficando em torno de 200240 mg/dL. Com toda essa glicosúria, causa-se uma diurese osmótica, justificando a poliúria e gerando uma polidipsia compensatória, a mesma muitas das vezes é o que impede que o paciente num primeiro momento chegue a desidratar. Como a glicosúria, também representa uma perda calórica, e como o paciente tem um menor metabolismo dessa glicose ingerida pela dieta e produzida pela neoglicogênese hepática pelos tecidos periféricos, o animal passa a apresentar perda de peso (MACINTERE; et al, 2007; FENNER, 2000; NELSON; COUTO, 2011). A quantidade de glicose que ingressa nas células localizadas na região ventromedial do hipotálamo, é responsável pelo controle da quantidade de alimento ingerido, é região é denominada centro da saciedade. Quanto mais glicose entrar nestas células menores é a sensação de fome, e quem influência a quantidade de glicose que ingressa nestas células é a insulina, portanto no animal diabético, tanto com ausência relativa quanto absoluta de insulina, a glicose passa a não ingressar para dentro das células presentes no centro da saciedade, o mesmo não é inibido, tornando o animal polifágico (FENNER, 2000; NELSON; COUTO, 2011). 1.3.2 Diagnóstico É baseado num conjunto dos sinais clínicos, somada a uma hiperglicemia persistente e a presença de glicosúria (NELSON, 2010; RESCH, 2010). O valor da concentração de glicose plasmática sanguínea acima do qual podemos passar a considerar um gato diabético é vago e muito discutível, no entanto glicemias acima 12 de 270 mg/dL é em regra um valor em que o paciente inicia a sintomatologia do DM. (REUSCH; et al., 2010). Deve ficar claro que a glicosúria por si só não é diagnostico da diabetes mellitus, afinal a mesma pode estar presente caso o animal apresente defeito nos túbulos renais, em quadros onde existe stress ou ainda quando aconteceu a administração de certos fármacos (GOUGH; 2007; RESCH; et al., 2010). A espécie felina em especial pode estar susceptível a sofrer uma hiperglicemia que seja induzida pelo stress, chamada de hiperglicemia transitória (que ocorre pela liberação de catecolaminas), e a mesma pode ser difícil de diferenciar da hiperglicemia diabética. No entanto sabe se que a hiperglicemia por stress na maioria dos felinos é geralmente de leve a moderada e não vem acompanhado da glicosúria. No entanto existem casos onde o paciente apresenta a hiperglicemia por stress em níveis mais altos que podem chegar a 270 mg/dL e podem vir sim acompanhados de glicosúria, mesmo não sendo a maioria devemos investigar muito bem caso por caso, e diferenciar uma doença da outra de forma adequada para a melhor instituição de uma terapia correta (BORRETI & REUSCH, 2004). A hiperglicemia por stress pode ser identificada após diversas medidas repetidas de glicemia séricas, que neste caso, devem divergir entre normais e elevadas. Porém alguns felinos que estão sofrendo stress permanente como pode vir a acontecer quando os mesmos estão internados, esta pode não ser uma medida a ser levada em consideração em nos casos onde nota se que o animal não fica à vontade internado (RAND & MARSHALL, 2004). A medição da frutosamina sérica é um exame que pode auxiliar no diagnóstico e também funciona como um auxiliar que demonstra se o controle da diabetes com a terapia administrada está sendo bom. Este exame pode também auxiliar no diagnostico diferencial da hiperglicemia por stress, já que o mesmo pode detectar hiperglicemia antiga, já que reflete a concentração media da glicose sérica das últimas três semanas (BENNET, 2002). Porém esse método como diagnóstico único não deve ser levado em consideração, alguns estudos demonstram que os animais que adquiriram a doença recentemente podem apresentar valores normais ou no limite superior da normalidade de frutosamina (LINK & RAND, 2008). 13 Outra limitação da frutosamina pensando tanto no diagnóstico quanto na monitoração posterior da DMF, é um fato dele depender dos valores séricos tanto das proteínas plasmáticas quanto do tumover proteico. Deste modo, alguns estudos vem mostrar que nos gatos que apresentam hipertireoidismo os níveis de frutosamina se apresentam inferior ao considerado fisiológico, mesmo que este animal não esteja num quadro de hipoproteinemia e hipoalbuminemia, portanto este não é um exame que possa ser levado em conta neste tipo de paciente (GRAHAM; MOONEY & MURRAY, 1999; REUSCH & TOMSA, 1999). Qualquer que seja o paciente devemos também pesquisar a presença de doenças concomitantes ou subjacentes que podem estar contribuindo ou exacerbando a resistência à insulina, e se as mesmas não forem devidamente diagnosticadas podem acabar prejudicando o tratamento, portanto o indicado seria sempre solicitar exames de rotina como hemograma, perfil bioquímico e urinálise para início da investigação (GRAVES, 2010; HESS, 2010). No hemograma do animal diabético podemos encontrar leucograma de stress, ou em casos de infecção (como a cistite) ou pancreatite, por exemplo, alguma leucocitose e pode se notar a presença de bastões e neutrófilos tóxicos, porém, quando não existe nada concomitante ao quadro de diabetes os hemogramas destes pacientes se encontram normais (RESCH, 2010; NELSON, 2010). No caso da bioquímica sérica a hiperglicemia estará presente sempre e pode estar acompanhada pela hipertrigliceridemia, hipercolesterolemia, aumento da fosfatase alcalina, e também da alanina aminotransferase (NELSON, 2010). Na urinálise podemos notar uma densidade superior a 1020-1025, e vir acompanhados da presença de corpos cetônicos mesmo na diabetes mellitus não complicada. Alguns felinos (cerca de metade deles) apresenta proteinúria ligeira a moderada e relação proteína creatinina urinaria inferior a 2,0. A infecção do trato urinário é frequente (RESCH, 2010; MONROE, 2009; NELSON, 2010). 1.3.3 Tratamento O principal objetivo é a normalidade da glicemia, e a tentativa de que o animal atinja a remissão, buscando isto se deve tentar eliminar os sinais clínicos, atingir e manter um 14 peso adequado, e evitar as complicações da doença e do seu tratamento como a cetoacidose a síndrome hiperosmolar e hipoglicemia, e em longo prazo permitindo assim uma boa qualidade de vida, e até quem sabe como já foi dito acima, que o animal apresente a remissão da diabetes. Para manter o bom controle glicêmico, preza-se um nadir até os 90 mg/dL e um zênite até aos 270 mg/dL (RAND, 2012). A terapia é baseada na insulinoterapia, e auxiliada por dietas especificas (comerciais ou caseiras), da redução de peso nos animais com sobrepeso ou obesos, na remoção de fármacos diabetogênicos, e também o controle de doenças concomitantes, sejam elas endócrinas oncológicas, infecciosas ou inflamatórias que estejam por impedir o sucesso do tratamento. 1.3.4 A Insulinoterapia Nesta espécie em especifico é recomendado iniciar o tratamento com a insulina lenta, na dose inicial de 1UI por gato em animais até 4 kg duas vezes ao dia, e 1,5-2 UI por gato em animais acima de 4 kg, também duas vezes ao dia. Nos animais que durante o diagnóstico da doença não apresentaram glicemia superior a 360 mg/dL, não se deve introduzir a insulina numa dose maior que 1UI por gatos duas vezes por dia, independente do peso (RAND & MARSHALL, 2004; REUSCH, 2010). A Glargina (de nome comercial Lantus) é um análogo da insulina e vem sendo cada vez mais utilizada em quadros de DMF. Um estudo com um número pequeno de felinos foi realizado comparando as insulinas lente porcina e glargina em animais com DM. Neste estudo pode-se notar que a taxa de remissão foi de 25% com a insulina lente porcina (envolvendo 2 de 8 gatos avaliados) enquanto a remissão em animais em que vinha sendo administrada a insulina glargina foi de 100%, ou seja, 8 de 8 animais avaliados (MARSHALL; RAND & MORTON, 2009). Outros dados pesquisados em diversos artigos também demonstram que as taxas de remissão são mais altas para gatos diabéticos recentemente diagnosticados e tratados com insulinoterapia utilizando a glargina. 15 Outra condição que auxilia no tratamento e no controle da diabetes é a dieta. (MARSHALL; et al., 2009; ROOMP & RAND, 2009; WEAVER; ROZANSKI; MAHONY; CHAN & FREEMAN, 2006). 1.3.5 Manejo alimentar É uma parte extremamente importante no tratamento da DM, e tem como principal objetivo garantir o aporte alimentar diário, de forma a cobrir todas as necessidades calóricas e nutricionais de cada espécie, dependendo dos seus hábitos alimentares, atingindo uma boa condição corporal (LAFLAMME, 2005). Os gatos são uma espécie estritamente carnívora, a sua dieta natural apresenta grandes quantidades de proteína, moderada concentração de gordura e menos de 10% de hidratos de carbono em matéria seca enquanto na maioria das dietas comerciais para esta espécie contêm mais de 50% de hidratos de carbono (REUSCH; et al., 2010). Devemos levar em conta que na espécie felina, o metabolismo de CH é diferente das outras espécies, neles uma pequena quantidade de amílase (enzima que é responsável por iniciar a digestão do amido) é produzida nas glândulas salivares e é liberado na saliva, já o pâncreas dos felinos produz pouca quantidade de amílase e isoamílase e nenhuma lactase e sacarase (KIENZLE, 1993; MCGEACHIN & AKIN, 1979). O fígado dos felinos tem uma maior capacidade para produzir glucose por gliconeogenese hepática que as espécies omnívoros, no entanto possui menor capacidade para remover a glicose circulante. Alguns fatores como um colon mais curto, um ceco considerado mais rudimentar e uma maior microbiota vem demonstrar que esta espécie não está bem adaptada para metabolizar amido mal digerido e fibra (VERBRUGGHE; HESTA; DAMINET & JANSSENS, 2012). Alguns estudos foram pesquisados quanto à influência da dieta no controle da diabetes, em um deles dois grupos de gatos diabéticos foram avaliados, num grupo os animais se alimentavam com dietas pobres em hidratos de carbono e fibras, enquanto o outro grupo se alimentava com dietas com quantidades altas de fibras e quantidades moderadas de hidratos de carbono. 16 No grupo que se alimentava com a dieta pobre 81% doa animais estavam bem controlados da diabetes, e 68% apresentaram a remissão da doença, enquanto o grupo que se alimentava com a dieta com maior conteúdo de fibras e hidratos de carbono, apenas 56% conseguiram manter um bom controle glicêmico, e apenas 41% chegaram a remissão. (BENNETT; et al., 2006). Em outro estudo, eles submeteram os animais primeiro a uma dieta com maior teor de fibra e moderado teor de gordura, e posteriormente a uma dieta pobre em hidratos de carbono e rica em proteínas. Após três meses da mudança, a dose de insulina passou a ser reduzida na metade destes animais avaliados e alguns chegaram até a atingir a remissão (FRANK; et al., 2001). Deve-se, portanto, fornecer uma dieta que contribua para minimizar a hiperglicemia pós prandial, de acordo com as peculiaridades da espécie em questão. Em casos onde se prefere as dietas comercias, deve-se dar preferência as dietas enlatadas, pois quando as mesmas são comparadas com as secas, apresenta menor quantidade de hidratos de carbono, menor densidade calórica e também possuem maior quantidade de água (RUCINSKY; et al., 2010). A energia de manutenção para um felino de vida interior é de cerca de 40-60 Kcal/kg/dia, e pode ser oferecida uma ou duas vezes ao dia, pois a quantidade de vezes que os felinos são alimentados não tem mostrado diferenças no sucesso do tratamento, e em estudos os animais avaliados apresentavam curvas glicêmicas semelhantes, desde que a quantidade seja devidamente calculada (RAND, 2012). Também não notaram grandes variações em animais que são alimentados durante a administração de insulina ou 45 minutos após sua administração (ALT, 2006). Portanto além da composição da dieta, é importante garantir também uma rotina onde o aporte calórico seja devidamente seguido (NELSON, 2010; REUSCH, 2010; ZORAN, 2009). É de fundamental importância o combate a obesidade e preveni-la nos animais que apresentam peso normal (FRANK; et al., 2001; BENNET; et al., 2006; ZORAN, 2009). 17 1.3.6 Os Hipoglicemiantes Hoje em dia existem ainda alguns hipoglicemiantes orais disponíveis no mercado, no entanto alguns destes fármacos não foram devidamente testados, e os que foram não demonstraram resultados interessantes no sucesso da terapia da DMF. Um dos hipoglicemiantes que tem relatos de ser mais utilizado é a glipizida, que atua estimulando a secreção de insulina pelas células beta, porém sua atuação está limitada aos animais em que se tem certeza que possuam alguma atividade de células beta, que não estejam acima do peso, e que não apresentem as complicações do quadro como pancreatite, cetoacidose ou síndrome hiperosmolar (REUSCH, 2011). A administração deste fármaco se dá por via oral, e recomenda-se em literatura a dose de 2,5 mg/gato duas vezes ao dia. Deve ficar atento a sinais de que o animal não esteja em CAD, pois o mesmo deve ser então suspenso para que se entre com a insulinoterapia (REUSH, 2010a). Está descrito um sucesso terapêutico de apenas 30% dos animais tratados com essa terapia dos hipoglicemiantes. Recomenda se que esta terapia possa ser justificada apenas em animais cujos responsáveis não consigam administrar a insulina (FELDMAN; NELSON & FELDMAN, 1997). 1.4 A REMISSÃO A remissão foi primeiramente descrita em literatura há 14 anos, em 10 gatos, onde 3 deles recidivaram com o quadro de DM após algum tempo (NELSON; GRIFFREY; FELDMAN & FORD, 1999). A remissão é definida como a capacidade de normalizar e manter a normoglicemia, e a frutosamina, dentro dos parâmetros fisiológicos, deve haver também a resolução da glicosúria e de todos os sintomas referentes ao quadro de diabetes sem o uso de fármacos antidiabetogênicos. É algo exclusivo da espécie felina. Geralmente ocorre a maior taxa de remissão nos três primeiros meses após o início do tratamento instituído, porém, 18 existem relatos de animais que até um ano depois apresentam a remissão do quadro. É descrita a remissão de 20 % dos gatos que apresentam a DMT2 (REUSCH, 2010). O seu mecanismo ainda não é totalmente compreendido, mais se sabe que está baseado na retirada dos fatores que antagonizam a insulina. Animais que possuem a DMT2 de transição possuem algumas alterações na histologia das ilhotas de langerhans, ou ainda possuem algum déficit no número de células beta, o que acaba prejudicando a capacidade de compensar o antagonismo da insulina, e a intolerância aos hidratos de carbono (Nelson, 2006). Outros estudos dizem ainda, que a diabetes de transição pode ser uma fase subclínica da doença, que se torna clínica a medida que alguma intercorrência como pancreatite, outras doenças, presença de fármacos diabetogênicos como o glicocorticoides e o acetato de megestrol. Ao contrário do que se vinha propondo, fatores como idade, peso a CAD, ou as hipoglicemias que o animal apresenta, não tem relevância quanto ao índice de remissão. O início de uma terapia precoce pode ser importante, pois diminui o tempo e glicotoxicidade e lipotoxicidade e os efeitos maléficos que ambas causam nas células beta, aumentando assim a chance de remissão da DMF. Como os animais que apresentam a neuropatia por outro lado, é provavelmente, um sinal de que o quadro vem ocorrendo por um período de tempo mais prolongado, então a neuropatia está relacionada a índices de menores de remissões (RAND, 2012). Quando se trata de tipo de insulina e dieta alguns autores advogam que a instituição de uma alimentação correta é preponderante para atingir a remissão (FELDMAN, 2009). Existem vários estudos realizados com felinos saudáveis não notaram diferenças significativas o bastante nas concentrações de glicose circulante no sangue e os nadires entre animais tratados com a glargina administrada a cada 12 horas ou administrada a cada 24 horas. (MARSHALL; et al., 2008). Porém, outros trabalhos relatam que a taxa de remissão para animais diagnosticados recentemente parece ser maior quando a glargina é administradas duas vezes ao dia (MARSHALL; et al., 2009; ROOMP & RAND, 2009; WEAVER; et al. & FREEMAN, 2006). Contudo, a recidiva pode ocorrer caso os animais que apresentaram a remissão deixarem de serem acompanhadas, essas recidivas podem ocorrer por diversos fatores, dentre 19 eles, a administração de fármacos diabetogênicos, o aumento de peso, descontrole ou surgimento de doenças concomitantes estão entre as principais causas. É aconselhado, portanto, que mesmo após a remissão estes animais permaneçam acompanhados (REUSCH, 2010a). 1.4.1 O controle A monitoração da DMF é de grande importância, deve-se monitorar o paciente com o objetivo de chegar ao um bom controle glicêmico, e deve ser mais rigorosa nos primeiros meses devido a maior chance do animal apresentar hipoglicemia e remissão ter maior chance de ocorrer neste período. Recomendam-se avaliações nas semanas 1, 3, 6, 8, 10 e 12, se o animal mostrar um bom controle da doença, pode-se espaçar essas avaliações a cada 4 meses (REUSCH, 2010a). Como o conhecimento de um valor de glicemia isolado num determinado momento do dia não fornece informação suficiente para um controle correto da DM, é necessário recorrer à curva de glicose sanguínea (CGS) que correspondem a doseamentos de glicose séricas a cada 1/2 horas durante 12 ou 24 horas. É importante saber que a CGS só devem ser interpretada depois da resposta à insulina estar estabilizada no paciente. Este parâmetro permite a analise dos valores de glicemia no nadir e também a duração do efeito terapêutico da insulina exógena. O nadir ideal deverá rondar os 90 - 140 mg/dL, como já foi mencionado, e um nadir superior a 162 mg/dL deverá levantar suspeitas sobre a possibilidade de existir subdosagem de insulina, stress, doença concomitante, problemas técnicos ou efeito de Somogyi (que consiste numa hiperglicemia que ocorre secundariamente a um evento hipoglicemico, por aumento compensatório das concentrações hemáticas de epinefrina e glucagina). Como a frutosamina sérica reflete as concentrações da glucose nos últimos 7 - 21 dias é esperado que estes valores estejam também ligeiramente aumentados em relação aos valores considerados fisiológicos, consideram-se valores entre os 360 e os 450 μmol/L como sinónimos de bom controlo metabólico da DM; valores entre os 450 e os 550 μmol/L como sinal de um controlo moderado da DM; e valores > 600 μmol/L como indício de um difícil controlo da doença (REUSCH, 2010a; SCOTT-MONCRIEFF, 2010). 20 Existem também no mercado, chips adicionados aos litters que indicam a presença de glucose (por exemplo: Purina Glucotest ®) e litters que permitem recolher a urina sem ela ser absorvida pela areia de modo a poder ser facilmente colhida. A utilização destes dois parâmetros parece ser particularmente importante quando a insulina em curso é de longa duração (glargina e detemir), pois as insulinas de média duração podem permitir glicosúria com sobre ou subdosagem (RAND, 2012). Unindo todos estes testes, e a clínica de melhora dos sinais clínicos, podemos avaliar se o paciente vem se adaptando bem ao tratamento, ou se o mesmo possa vir a apresentar a remissão. 1.4.2 Fatores de resistência São definidos como os fatores que diminuem a secreção de insulina levando a um quadro de Diabetes mellitus, e não estão de fato, totalmente conhecidos. Contudo, existem algumas hipóteses propostas, e as principais propostas serão descritas aqui neste trabalho, a glicotoxicidade, deposição de substância amiloide e lipotoxicidade e a obesidade, nas alíneas a seguir: a) Deposição de substância amiloide A substancia amiloide deriva da amilina, um hormônio que é produzido e secretado pelas células beta, em conjunto com a insulina (ADEGHAT & KALASZ, 2011). Nos felinos, (uma das poucas espécies onde isso ocorre), a sequência de aminoácidos da amilina dobra se em estruturas do tipo folha beta pregueadas, que logo depois se depositam como substancia amiloide nas ilhotas (NELSON & COUTO, 2005). Quando os animais entram num quadro de insulino resistência, acontece uma hipersecreção de amilina, e a mesma vem seguida de um aumento de deposição de substancia amiloide pelo processo acima descrito. Isso irá contribuir para a perda das células beta. Nos felinos com DMT2 ocorre a deposição de substancia amiloide em 65-90% dos casos (REUSCH, 2010). No entanto, maiores estudos são necessários na busca por identificar se a deposição de substancia amiloide contribui para a patogenia da diabetes ou se é apenas uma 21 consequência desta doença, pois nem todos os animais com amiloidose nas ilhotas de langerhans desenvolvem DM, sendo esta alteração também frequente em gatos saudáveis de idade avançada (O’BRIEN, 2002). Nos gatos obesos, é a insulino-resistência e a constante estimulação hiperglicémica exercida sobre as células-β do pâncreas que despoletam o acréscimo dos níveis séricos de insulina, mas também, de amilina. Nos gatos com amiloidose pancreática, parece existir ainda, uma alteração na síntese, processamento, transporte, secreção ou catabolismo da amilina nas células-β, que poderá desempenhar um importante papel na patogénese da deposição desta substância amiloide (HOENIG; HALL; et al., 2000; O’BRIEN, 2002). b) Obesidade Apesar de a obesidade induzir insulina resistência, é importante saber que nem todos os gatos obesos irão desenvolver a diabetes. Alguns gatos obesos apresentam células beta saudáveis e normais, e com a obesidade, elas respondem se adaptando a mesma e a insulina resistência, com o aumento de secreção da insulina, dessa forma, mantem a tolerância normal a glicose. Porém, alguns gatos possuem alteração nas funções, ou na morfologia das células betas e isso pode reduzir a tolerância à glicose e levar o animal a entrar num quadro de DMT2. Os gatos obesos, no entanto tem probabilidade 3,9 vezes superior para desenvolver esta doença (SCARLETT & DONOGHUE, 1998). Reusch (2010) descreve que 50% a 60% dos gatos diabéticos tinham algum sobrepeso, 30% a 40% um peso adequado e 5% a 10% peso inferior ao recomendado em literatura. A fim de demonstrar a importância da obesidade no desenvolvimento da DMF, outro estudo, que utilizou gatos saudáveis, comprovou que por cada 1,9 kg de peso ganho, a sensibilidade à insulina diminuía mais de 50% (APPLETON; RAND & SUNVOLD, 2001). No felino saudável, a insulina tem um importante papel na absorção celular da glicose, aumentando os transportadores de glucose na superfície da célula. No tecido muscular e adiposo, o transportador-4 da glucose (GLUT4) constitui 90% dos transportadores de glucose expressos para a membrana celular (SANTALUC; et al., 1999). Um estudo recente, concluiu que a expressão, no tecido muscular e adiposo, do GLUT4 (insulinodependente) estava diminuída em gatos que se tornaram obesos quando comparada 22 com gatos magros, no entanto nestes animais com excesso de peso, a expressão do transportador-1 da glucose (GLUT1), que não é influenciada pela insulina e tem uma função residual no transporte de glucose, permanecia normal (BRENNAN; HOENIG & FERGUSON, 2004). A leptina é uma hormona libertada pelo tecido adiposo, com capacidade de diminuir a sensibilidade à insulina (MÜLLER; ERTL; GERL & PREIBISCH, 1997; WALDER; et al. & COLLIER, 1997). Por existir em concentrações mais elevadas nos gatos obesos, pode contribuir para a insulino-resistência e desenvolvimento da DM nestes doentes (APPLETON; RAND & SUNVOLD, 2002). Também os níveis de TNF-α são mais elevados em gatos obesos contribuindo para o processo de insulino-resistência (HOENIG; et al.; MCGOLDRICK; DEBEER; DEMACKER & FERGUSON, 2006). Esta citoquina próinflamatória (produzida nos adipócitos, linfócitos e macrófagos) diminui expressão do GLUT4, a auto fosforilação dos receptores de insulina e inibe a subsequente fosforilação dos substratos-1 para o receptor de insulina (COPPACK, 2001). Por outro lado, a adiponectina que, em diferentes animais, está envolvida na inibição das vias inflamatórias, na diminuição da produção de glicose e num aumento da sensibilidade periférica à insulina, parece estar diminuída na DMT2 e em pessoas obesas (STEFAN & STUMVOLL, 2002). Também, em outro estudo descreveu-se como fatores de risco para o desenvolvimento de DMF o excesso de ingestão de alimentos somada a privação do exercício físico. (LEDERER; et al., 2003). De acordo com inquérito, 40% destes animais eram gatos de interior e 55% eram gatos com pouca atividade física e apresentavam diabetes, comprovando assim que tanto a obesidade quanto a falta de exercícios físicos diários aumenta a chance de ocorrer a resistência à insulina (SLINGERLAND; et al. & BEYNEN, 2009). Uma vez que a obesidade, como foi referida anteriormente, é uma importante causa reversível de insulino-resistência nesta espécie, é de extrema importância que se promova uma perda de peso destes doentes, de aproximadamente 1% a 2% por semana (REUSCH; et al., 2010). c) Glicotoxicidade Numa primeira fase, essa supressão é reversível, mas com o passar do tempo elas, se a hiperglicemia se tornar crônica, as lesões adquirem caráter permanente. Ao contrário de uma hiperglicemia transitória que estimula a libertação de insulina, hiperglicémias muito elevadas durante um longo período de tempo (mais de 24 23 horas) estão relacionadas com uma diminuição da secreção de insulina pelas células beta. Alguns estudos experimentais, que foram realizados em gatos saudáveis, demonstraram que num quadro de hiperglicemia permanente, que foi induzida no estudo, funcionou como um potente supressor da secreção de insulina (ZINI; et al., 2009). Esta hiperglicemia prolongada pode resultar de diversas causas primárias, tais como: uma alimentação rica em hidratos de carbono, o ganho de peso, alguma doença concomitante. Portanto, como já foi dito a glicotoxicidade é tanto dose-dependente, porque quanto maior é a hiperglicemia (sustentada no tempo), menor será a produção de insulina pelas células betas das ilhotas de langerhans e, deste modo, a menor produção de insulina, quanto tempo-dependente, já que se no início do fenómeno de glicotoxicidade a supressão da secreção de insulina é reversível e apenas funcional, com os meses e os anos estas alterações tornam-se irreversíveis e resultam em alterações estruturais e perda de células beta. Com isso pode se justificar a probabilidade significativamente reduzida de remissão da DMF se, em 6 meses, não se conseguir o correto controlo da DM e da glicemia (LINK; ALLIO; RAND & EPPLER, 2013; RAND, 2012). d) Lipotoxicidade A lipotoxicidade se refere aos efeitos deletérios dos níveis aumentados de ácidos graxos sobre as células beta. Nenhum estudo ainda conseguiu provar que existe um dano causado nas células beta por ação da lipotoxicidade, contudo alguns estudos conseguiram demonstrar que a hiperlipidemia tem sim um efeito deletério sobre as mesmas (POIOUT & ROBERTSON, 2002; ZINI; et al., 2009). 1.4.3 Diabetes mal controlada Quando não foi possível um bom controle da diabetes, ou quando o animal apresentou remissão e logo após apresentou recidiva, devemos passar a pesquisar outras causas, primarias talvez, que possam estar atrapalhando o controle ou ainda a remissão definitiva do paciente em questão. Dos gatos diabéticos, 5 a 20% apresentam-se com a DM secundária. Esta DMF secundária caracteriza-se por ser uma sequela de uma outra doença. (REUSCH, 2010b). Um estudo que utilizou 104 gatos com DM determinou que destes, 22% apresentavam outras doenças concomitantes (CRENSHAW & PETERSON, 1996). 24 Qualquer doença inflamatória, infecciosa, neoplásica ou endócrina tem potencial para desencadear uma diminuição da sensibilidade à insulina. Sendo assim, as doenças que mais frequentemente são também diagnosticadas em conjunto com DMF pancreatite crónica, hipertireoidismo, e a acromegalia. 1.4.4 A Acromegalia Deve-se suspeitar de felinos que sejam muito grandes, pesados e que apresentem aumento do tamanho da cabeça, patas e abdômen e ainda prognatismo. É uma síndrome que resulta do excesso de produção de GH. Nos gatos é provocado por um processo tumoral na hipófise anterior, normalmente um adenoma acidófilo produtor de GH (NIESSEN, 2010), existe também a possibilidade de um pequeno número de pacientes possuir a acromegalia secundária a hiperplasia acidófila hipofisária o que levanta dúvidas sobre qual a relação entre estes dois fatores etiológicos e sobre se a hiperplasia eventualmente poderá na verdade ser uma primeira fase do adenoma hipofisário (NIESSEN; PETRIE; et al., 2007; NIESSEN; et al., 2013). Ao contrário das cadelas, não estão descritos nos gatos casos de acromegalia secundários à administração de progestagéneos (NIESSEN, 2010). Pensava-se até pouco tempo atrás que a prevalência da acromegalia era muito reduzida. Contudo, estudos demonstram que não é tão reduzida como se pensava, um terço dos 184 gatos diabéticos analisados em um estudo apresentava valores aumentados de IGF-1 (NIESSEN, PETRIE; et al., 2007). Outro estudo mais recente utilizou 1222 felídeos com DM parece indicar uma prevalência semelhante de felídeos com valores de IGF-1 compatíveis com acromegalia. Neste estudo, apenas em 24% destes 323 animais, o clínico assistente suspeitava de acromegalia concomitante a DM demonstrado que esta doença pode estar a ser subdiagnosticada (NIESSEN; FORCADA; GLANEMANN & CHURCH, 2011). O seu diagnóstico é difícil, se baseia no histórico de difícil controle da diabetes, em alterações clínicas, no doseamento da somatomedina (IGF1) combinada com meios de imagens, como a tomografia, a ressonância magnética, e ainda caso seja possível o dosar a somatotrofina (GH) (NIESSEN; CHURCH & FORCADA, 2013; NIESSEN; PETERSON & CHURCH, 2012). 25 O seu tratamento é dirigido ao adenoma da hipófise é a radioterapia. Esta permite a melhoria ou resolução dos sintomas neurológicos (com redução do tamanho do adenoma na adenohipófise) e resolução da DM ou diminuição da dose de insulina requerida (BREARLEY; POLTON; LITTLER & NIESSEN, 2006; MAYER; GRECO & LARUE, 2006). No entanto, apesar de a radioterapia parecer diminuir os valores de GH (já que os efeitos diabetogénicos não são mais evidentes) os valores da IGF-1 permanecem elevados assim como os sintomas associados à acromegalia (LITTLER; POLTON & BREARLEY, 2006). 1.4.5 A Pancreatite A pancreatite crónica pode ser definida por uma predominante infiltração linfocítica, podendo existir um ligeiro grau de necrose e processos supurativos (HILL & VAN; WINKLE, 1993; WASHABAU, 2010). Nos gatos a pancreatite é iniciada na maioria dos casos sem causa aparente por um processo de auto aglutinação com ativação das enzimas digestivas do tecido pancreático. (CANEY, 2013; ZORAN, 2006). Os sintomas mais comumente relatados são letargia, anorexia, desidratação vomito, diarreia, algumas vezes com presença de vômitos, dor abdominal, e algumas vezes perdas de peso. Nos pacientes que apresentam a doença concomitante a DM, o apetite, a insulinoresistência e as necessidades de insulina vão ser flutuantes de acordo com o grau de inflamação pancreática. Deste modo, geralmente, a relação destas duas doenças caracteriza-se por um controle ruim da DM, com grande variação das concentrações de glicose sanguínea (CANEY, 2013; REUSCH, 2010a; SCOTT-MONCRIEFF, 2010). O diagnóstico é a soma dos sinais clínicos, com a mensuração da lipase específica para a espécie, além de exames de rotina, como hemogramas e bioquímicos, o mesmo, no entanto, não altera o tratamento da DM conferindo apenas uma importante explicação para as necessidades flutuantes de insulina do paciente em causa (GUNN-MOORE & REED, 2012). 26 Num quadro agudo da pancreatite estes felídeos necessitam de doses maiores de insulina que, que, podem ser prejudiciais e induzir uma hipoglicemia mais tarde quando a pancreatite estabilizar, portanto deve se monitorar muito bem estes pacientes (CANEY, 2013). O tratamento varia de acordo com o estado geral do paciente e os sinais clínicos que o mesmo apresenta. É necessário muitas vezes que este paciente permaneça internado enquanto apresentar perdas por vômitos e diarreias, para repor fluidos e para aplicação de fármacos que cessem tais sintomas (SCHMIDT; et al., 1993; ZORAN, 2006). Sempre que houver hipocalemia, a mesma deve ser reposta por via oral, ou nos casos mais graves por via endovenosa (SCHENCK & CHEW, 2012; WASHABAU, 2010). Não é recomendado o jejum nos gatos com pancreatite, já que hoje em dia muito se sabe sobre esse jejum ser muito mais maléfico ao organismo felino, provocando a mobilização de gorduras, podendo culminar num processo indesejado de lipidose hepática. O jejum, portanto só deve existir se o paciente estiver com um quadro emético importante e até que o mesmo seja controlado (WASHABAU, 2010; ZORAN, 2006). Se o animal não estiver aceitando alimento pode se optar por passagem de sonda nasoesofágica ou mesmo esofágica. (CANEY, 2013; ZORAN, 2006). Portanto, assim que o paciente apresentar melhora do quadro, deve se ficar atento as possíveis hipoglicemias que o animal pode vir a apresentar devido ao uso de maior quantidade de insulina durante o quadro de pancreatite. 27 CONCLUSÃO Com base nos recentes trabalhos podemos resumir que a prevalência da diabetes mellitus felina, vem aumentando, e com base nisso, vemos cada vez mais pesquisas de como melhorar o diagnóstico e tratamento, a fim de poder acompanhar melhor estes felinos que apresentam esta endocrinopatia. Podemos entender melhor que existem diversos fatores a serem pesquisados em animais que não tem um bom controle glicêmico, entre eles a obesidade se destaca cada vez mais, a importância da alimentação estar correta, desde seus cálculos de quanto de kcal o animal precisa, até em calcular o quanto este paciente deve perder de peso por semana, nestes casos, é fundamental para o sucesso do tratamento. Deve-se também pesquisar a possibilidade de o animal apresentar outras doenças de forma concomitante, e as mesmas estarem impedindo o sucesso do tratamento. Também ficou evidente que a Diabetes recém-descoberta, deve ser tratada corretamente o mais depressa possível, pois isto também influencia nas chances do animal apresentar ou não a remissão. Ao estar ciente disso o clínico pode dar a chance aos seus pacientes diabéticos de atingir a remissão, ou mesmo não chegando a atingi-la, melhorar sua qualidade de vida, com a normoglicemia, evitando as alterações sintomáticas da diabetes, e seus efeitos deletérios no organismo como a glicotoxicidade. Novos trabalhos vêm sendo avaliados a fim de melhorar ainda mais a qualidade de vida destes felinos. 28 REFERÊNCIAS ADEGHATE, E. & KALÁSZ, H. (2011), Amylin analogues in the treatment of diabetes mellitus: medicinal chemistry and structural basis of its function. Open Medicinal Chemistry Journal, 5 (2), 78-81. ALT, N. 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