Complexidade Do Ser E Definição De Mundo No Pensamento Eco-filosófico De Heráclito "A guerra é a origem de todas as coisas. E de todas, ela é soberana. A uns ela apresenta-os como deuses, a outros, como homens; de uns ela faz escravos de outros, homens livres." HERÁCLITO, Frag.53, Hipólito O debate sobre a verdade, a essência e o fundamento último da vida e o sentido do existir das coisas e do mundo, tem sido uma preocupação do pensar filosófico desde a antiguidade, até os nossos dias. É obvio, que, durante essa longa história de conquistas do desenvolvimento da razão, acirradas foram as buscas pelo entendimento dessa questão e inúmeros são os posicionamentos. No entanto, é possível perceber, sem muitas dificuldades, que se trata de uma situação delicada e em sua complexidade, extremamente atual. Tal fato leva o pensar filosófico a voltar-se, sem medir esforços, para a discussão de questões tão pertinentes. Hoje, ao trabalharmos com o paradigma da visão holística, presenciamos o forte retorno daquilo que podemos intitular de "EcoFilosofia" vivenciada por uma série de autores, ao resgatar o sentido filosófico da natureza e a origem da vida como também, o sentido ecológico de mundo. Assim, Hutchison, (2000), afirma que "a visão holística da educação surge dentro do contexto perene da filosofia que apresenta uma visão ecológica do mundo" e mais do que nunca, emergem as interrogações num mundo quase dividido em dois pólos: um mundo do bem e um mundo do mal (para Heráclito, a valorização dos contrários). Mas, o que seria o mundo? Como entender a relação entre o "ser" e o "não-ser"? O mundo é o "vir-a-ser" ou o "devir"? Levando em consideração os questionamentos, acima mencionados, a idéia de mundo, para Heráclito, se sustenta na teoria dos contrários do ser e do não-ser que nada é ou que tudo é. De acordo com o pensamento do extraordinário filósofo Nietzsche, a noção de mundo de Heráclito, que é justificada no campo metafísico, o qual é por ele interpretado, na obra: "A Filosofia na Idade Trágica dos Gregos", apresenta de alguma maneira, uma afirmação da vida e o tecer da existência. Quando Nietzsche se depara com a análise da sociedade grega, parte de um princípio: a valorização da realidade cultural e valorização da vida. Ele acredita que o homem tem a tarefa de dar um objetivo à existência, lutando por uma verdadeira cultura, capaz de gerar homens fortes, possuidores de espírito verdadeiramente nobre e original. Essa imagem do homem, em suas afirmações, nada mais é do que uma ponte e não um simples fim, e esse homem, por sua vez, é um criador e, ao mesmo tempo, em que cria, dá valor às coisas, como também, norteia sua vida com um quadro de valores e crenças. Nesse sentido, ele acredita ser Heráclito um homem desse tipo que conseguiu, em uma noite escura, oferecer a "luz" para a humanidade em trevas. A definição de Nietzsche, quanto à sociedade, do extraordinário Heráclito, passa por três aspectos éticos que podemos traduzir em uma linguagem Eco-filosófica: o racionalismo que define que a vida virtuosa é agir conforme a razão e essa não pode ser contraditória, ao reconhecer a natureza humana como um bem; o naturalismo: a vida virtuosa é agir conforme a natureza – que, em sua essência, não pode ser traduzida só como natureza humana mas em um sentido complexo de ecos-mundos – onde vivenciamos todo o discurso do ser enquanto ser e do não-ser, e um terceiro aspecto da inseparabilidade entre ética e política, ou seja, entre a conduta do indivíduo e o bem da sociedade, já que, somente na existência compartilhada com os outros, encontramos liberdade, a justiça pode ser praticada e, assim, chegamos à felicidade. Quanto ao mundo, está em constante movimento, eterno mover-se, um constante vir-aser. Um mundo de instabilidade, da impossibilidade de afirmações absolutas onde os fatos do dia-a-dia dão rumos totalmente diferentes a existência do homem como ser de criação de valores, como define Nietzsche. Assim, como a vida apresenta-se dinâmica, a eco-pedagogia e os valores complexos do tecido social, aluno professor, estão em pleno vir-a-ser e por isso, não é possível consideramos o conhecimento como absoluto, imutável. A eco-filosofia da existência humana se dá no campo das possibilidades da relação homem-natureza e, da mesma forma, os valores vão surgindo dentro desta relação. Nietzsche tem como precaução apontar a realidade heraclitiana de mundo, levando em conta o aspecto histórico grego, afirmando que os deuses chegavam a corresponder a cada necessidade dos homens. Na antiguidade grega, se desconhecia o papel da natureza sobre as ações humanas, com a desvinculação de qualquer política ecológica.Não havia qualquer noção de causalidade natural. E assim, se prestava culto ao deus da caça, ao deus da pesca etc. A crença nas divindades estava no fato de que, os mais simples gestos, à medida que o homem não conhecia as leia da física, da natureza, só poderiam derivar de um ser superior.Nesse sentido, as idéias de Heráclito têm aqui sua origem, quando valoriza os elementos naturais. Assim, Heráclito, em seus fragmentos, faz uma definição da realidade de mundo, baseado nas experiências da antiga Grécia. Ele faz a constatação do incessante devir, ou seja: a mudança das coisas. O mundo é um contínuo movimento: "Não é possível descer duas vezes ao mesmo rio, nem tocar duas vezes numa substância mortal, no mesmo estado; pela velocidade do movimento, tudo se dissipa e se recompõe de novo, tudo vem e vai". Ele elabora uma definição do ser e do não-ser de forma a afirmar que o "ser não é mais do que o não-ser e também não é menos, pois, na verdade, o ser e o nada são a mesma coisa".Assim, percebemos que, em sua definição de ser e não-ser, está inserida a idéia de complexidade do ser enquanto existente. Sua definição de ser e do não-ser enquanto existência revela-se na natureza que aparece e desaparece, em uma constante mudança. Mudança da "borboleta que quer romper seu casulo, ela o puxa e o rasga: então a luz desconhecida a cega e a inebria, o império da liberdade." (NIETSZCHE, p. 93 - 2006) Para Morin, (1997), filósofo e pensador da contemporaneidade, o homem tem como característica essencial, a capacidade de transformar a natureza em cultura. Essa conjuntura do homem na busca do saber e do conhecer, que gera encontro e desencontros, se fundamenta numa complexidade existencial onde, o homem segundo a metáfora da borboleta, citada acima, também quer irromper seu casulo – a sede de liberdade o cega na cultura da pós-modernidade. Heráclito define a idéia de mundo a partir do momento que afirma que o cosmos, como totalidade, poderia ser descrito como fogo no sentido de que, quando uma determinada quantidade se extingue, se volta a acender uma parte proporcional ao extinguido, em outra parte. Todo o cosmos estaria ardendo ao mesmo tempo, sempre o esteve e sempre o estará. O fogo é a fonte contínua dos processos naturais: de sua região parece proceder a chuva que é fonte do mar. Este se converte em terra, e, esta, em lugares e momentos diferentes, converte-se em água. São as três massas (fogo-terra-água) mais importantes do mundo. Pois bem, num momento concreto, esses elementos seriam estáticos (como o eram a rocha e a montanha dos exemplos anteriores) e estáveis. Nietzsche considera Heráclito um homem capaz de agir dentro da legalidade e pelas vias imutáveis do direito natural. É justamente a profundidade dos princípios heraclitianos que chama a atenção de Nietzsche, em se tratando de reverenciar a cultura grega. Ele não se distancia dos fragmentos de Heráclito, por achar que esse filósofo continua a dar respostas plausíveis à realidade contemporânea, legitimando os fundamentos para a compreensão, discussão e reflexão sobre o processo de ensino de uma eco-filosofia. Dado que a idéia de mundo, em Heráclito, coincide com a aceitação alegre da existência, e esta consciente de que não dispõe de nenhum sentido pré-existente que não o criado por ela mesma, então se pode dizer que foi exatamente isso que Nietzsche perseguiu em todo o seu pensamento: o prazer da afirmação da vida, que busca tecer a existência como nos afirma CAPRA, (2001) de que os seres humanos estão interligados na teia da vida em um tecer constante que os fazem ser e não-ser, nos turbilhões complexos da existência. Interessa, entretanto, a quem procurar compreender melhor essa ambição de uma existência do ser complexo no mundo dilacerado pelos problemas ecológicos, considerar também, no estudo, as condições para o surgimento da eco-filosofia de Heráclito (sua época, sua reação frente ao seu contexto, sua biografia e suas influências intelectuais), bem como a intenção que Nietzsche teve ao elaborar sua incisiva crítica contra toda rede de valores ocidentais, segundo ele, sustentadora de uma cultura de declínio da vida nos seus elementos mais vitais. BIBLIOGRAFIA CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. 6.ed. São Paulo: Cultrix, 2001. CAVALCANTI, Clóvis. Meio Ambiente, desenvolvimento sustentável e políticas públicas. São Paulo: Cortez, 2002. COMPLESTON, Frederick. Nietzsche: filósofo da cultura. Col. Filosofia e Religião, IX. Porto: Livraria Tavares Martins, 1979. COSTA, Alexandre. Heráclito. Fragmentos contextualizados. Rio de Janeiro, Difel, 2002. 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A data do seu nascimento é desconhecida, existe referencias que pelo ano 500 antes da nossa era, estava em pleno vigor da sua vida física. Ele é considerado o primeiro formulador do pensamento dialético. Entendia toda realidade do mundo, como algo em permanente movimento, a existência do mundo é a sua mudança. Por esse motivo sua concepção de mundo foi denominada de mobilidade, a realidade não tem uma essência definitiva, foi desse entendimento que surgiu, por exemplo, a acepção evolucionista de todas as coisas, particularmente da vida dos animais, incluindo os homens. A vida é um fluxo constante, movimentado por forças contraditórias, a questão da ordem e desordem ou aquilo que chamamos na Física de o principio da entropia, na evolução de algo, existe a contraposição da própria destruição. Dessa forma ele com coerência mostra que a luta uma guerra da própria natureza com ela mesma na sua evolução, a destruição faz parte da evolução o que afirma a ser, desenvolve ao mesmo tempo com seu princípio oposto da destruição. O homem ao mesmo tempo em que desenvolve seu vigor físico perde simultaneamente, dentro dessa perspectiva surge o sentido da contradição, o oposto formula se em tempo semelhante. Isso significa que qualquer principio de matéria deteriora, a realidade é a sua deterioração e reconstituição desse mecanismo pela reformulação por meio do movimento. O mundo é também sua deformação, e, nessa luta constante entre o ser das coisas e o não ser das mesmas coisas constitui a realidade física ou biológica do mundo. Não existe uma identidade a principio fundamentalmente permanente, o que é a essência de uma coisa, a não ser sua mudança, isso significa a não permanência de qualquer forma na aparência da substância. O mundo é a variação das formas. Edjar. Pela força da contradição que o mundo muda, não é ruim a oposição, pelo contrario é necessária ao desenvolvimento de todas as coisas. Sem a contradição a realidade permaneceria eternamente a mesma coisa. O mundo não muda sincronicamente, tudo que existe tem sua contraposição, a dialética serve aos elementos da contraposição, os princípios da dialética de Hegel, fundamentam-se nas ideias de Heráclito. Para defender a ideia do permanente fluxo, ele criou frases interessantes entre elas: o fluxo e a ideia da permanente movimentação de tudo, a natureza é essa força do movimento, o que se determina do constante vir a ser, a realidade é sempre outra no amanha, num futuro muito breve, o conceito da eterna mudança, o que se entende por devir histórico. Concluiu-se Heráclito não se pode tomar banho duas vezes no mesmo rio, isso porque amanha o rio já não será o mesmo, são outras águas, do mesmo modo, quem banhou no dia anterior será também outro homem. O ser modifica constantemente a sua condição de ser. Edjar Dias de Vasconcelos. Leia mais em: http://www.webartigos.com/artigos/a-natureza-do-pensamento-deheraclito-de-efeso/102542/#ixzz2JqJZiNSJ