Rev i sta El etr ôn ic a Ge st ão & Soc i ed ad e v. 11 , n . 2 8 , p . 1 54 0 -1 55 7 | Jan e iro /Ab ri l – 20 17 IS SN 1 9 80 - 57 56 | D OI: 1 0. 21 17 1/ g e s. v 11 i2 8. 19 2 0 Ap ro v ad o e m De z em b ro d e 20 16 Si st e ma d e a val ia ção d o u b l e b l in d re v i ew | 1 Rev i sta El etr ôn ic a Ge st ão & Soc i ed ad e v. 11 , n . 2 8 , p . 1 54 0 -1 55 7 | Jan e iro /Ab ri l – 20 17 IS SN 1 9 80 - 57 56 | D OI: 1 0. 21 17 1/ g e s. v 11 i2 8. 19 2 0 D OMINAÇÃO NAS O RGANIZAÇÕES : U MA A NÁLISE 1 NA 1 E MPRESA T RAMONTINA TEEC S.A. 1 Patr ic i a B oar i a T o m a ze l , Sim o n e Fo n s eca D e A n d r ad e , Al ex an d r a An d r ei s , Er ic Ch ar l es H en r i 1 1 1 Do r io n , P e la yo M u n h o z O le a , P au la P atr ic ia Gan z er 1 – Un i ver s id ad e d e Ca x ia s d o Su l R E SU M O O tema da dominação acompanhou o desenvolvimento histórico do universo organizacional e, ao longo dos século s, diferentes pensadores expuseram suas concepções a respeito da dominação, cada qual enfatizando uma perspectiva, seja de ordem econômica, administrativa, política ou sociológica. A partir dos conceitos de Maquiavel, Adam Smith, Marx e Weber, este artigo analiso u a percepção da gestão industria l da Tramontina TEEC S.A., sobre o tema da dominação na organização. Realizou -se um estudo caso de caráter qualitativo explorató rio, com entrevistas semiestruturadas desenvolvidas em novembro de 2013, na referida empresa. As entrevistas foram gravadas, tra nscritas e os dados analisados com as metodologias de m apas de associação de ideias e análise de conteúdo. A pesquisa apontou que os gestores não percebem a dominação como forma de exploração, havendo consenso de que a racionalidade, manifestada pelo poder , pode inibir a criatividade dos colaborado res. Palavras -chav e: Dominação. Organizações. Tramontina ABSTRACT The theme of domination followed the historical develo pment of organizational universe and, over the centuries, different thinkers expressed their co nceptio ns of domination, each of them emphasizing some perspective, whether economic, administrative, political or socio logical. Based on Machiavelli, Adam Smith, Marx and Weber concepts, this article analy zed the perceptions of Tramontina TEEC S.A. ind ustrial management about domination in the organization. We conducted a qualitativ e exploratory case study, with semistructured interviews, conducted in November 2013, in this company. The interviews were recorded, transcribed and analy zed by the methods o f ideas map association and content analy sis. The investigation showed that managers do not realize the domination as a form of exploitation, however there was consensus that ratio nality manifested by the power can inhibit the employees creativity. Keywords : Domination. Organizations. Tram ontina . Ap ro v ad o e m De z em b ro d e 20 16 Si st e ma d e a val ia ção d o u b l e b l in d re v i ew | 1540 Rev i sta El etr ôn ic a Ge st ão & Soc i ed ad e v. 11 , n . 2 8 , p . 1 54 0 -1 55 7 | Jan e iro /Ab ri l – 20 17 IS SN 1 9 80 - 57 56 | D OI: 1 0. 21 17 1/ g e s. v 11 i2 8. 19 2 0 De acordo com Silva et., al (2004) a noção INTRODUÇÃO da palavra dominação refere -se à relação O mundo empresarial vem se transformando estabelecida entre dois ou mais indivíduo s ao ou longo de décadas em diferentes grupos sociais co m vontades ou conceitos e formas de gestão. Desde a interesses divergentes. Assim, não existe migração grandes dominado sem dominador, nem dominador parques fabris até a revolução industrial e a sem dominado . Assim , se po de inferir que globalização organizações atuais pensadores que se detiveram em entender o características que, processo de formação das empresas e da abrangem a dominação. Desde o líder mais reação do ser humano nesse contexto. democrático, a uma estrutura rigidamente do artesanato moderna, para vários foram os hierarquizada, ainda de possuem alguma retratam form a, traços de Ao longo da história, o tema da dominação dominação. Ao vincular as ideias de Weber foi retratado por autores como Ni co lau com a sociedade atual, evidencia -se que o Maquiavel, com sua interpretação sobre o processo de dominação existente tem base poder, aconselhando o príncipe de que era na racionalização, ou seja, quando um grupo preferível ser temido que amado se fosse fica cada vez mais d ependente de uma necessário administração regrada. abdicar de uma das duas situações; a continuação do pensar por Smith com a menção de que a riqueza não Neste recorte temático, o presente estudo era advinda de Deus, mas sim do trabalho teve por objetivo analisar a percepção de produtivo dos homens, ou seja, do capital; três gestores da empresa Tramontina TEEC Karl Marx com sua noção da mais -valia e S.A., de Carlos Barbo sa, Rio Grande do Sul, exploração dos operários por parte dos sobre grandes industriários; e Max Weber, co m organizacio nal na atualidade. Para tanto , sua conceituação de racionalidade. Esses, buscou-se embasamento teórico nas visões dentre o utros pensadore s, explicitaram, ao de autores como Maquiavel, que traz a longo do tempo, a relação do homem e do dominação como exercício do po der, Adam meio Smith, organizacional dominação. sob o enfoque da como que perspectiva se apresenta trata do da capital, a dominação dominação Karl Marx, na que retrata a dominação como uma explo ração do homem pelo próprio homem e, por fim, Max Weber, que propõe a administração | 1541 Rev i sta El etr ôn ic a Ge st ão & Soc i ed ad e v. 11 , n . 2 8 , p . 1 54 0 -1 55 7 | Jan e iro /Ab ri l – 20 17 IS SN 1 9 80 - 57 56 | D OI: 1 0. 21 17 1/ g e s. v 11 i2 8. 19 2 0 burocrática, capaz racionalidade, de dominar estrutura pela hierarquizada e em liberdade, escreveu sua o bra mais conhecida: “O Príncipe” (SOBOLESKI, 2011). defesa às regras. Considerado o fundador da ciência política Sob essas quatro perspectivas teóricas, moderna, Maquiavel também é responsável realizaram -se as entrevistas, envolve ndo o por ter emancipado o Estado da religião diretor da (LUX, 1993). A obra de Maquiavel traz à produção e o supervisor do setor de seleção tona o tema da dominação sob a ótica do e embalagem da referida empresa. A seleção exercício do poder soberano, ou seja, de dos a que forma o Príncipe deveria conquistar, possível manter, aumentar e não perder o poder diferença de percepção quanto ao tema da sobre seus súditos. Ao abor dar o uso do dominação, poder industrial, entrevistados intenção de ocupada o coordenador também considero u identificar de aco rdo pelo uma com a entrevistado posição dentro da estrutura organizacio nal. NICOLAU como forma de exploração e dominação, Maquiavel defende que a meta é o poder, que significa dominar os outros, e MAQUIAVEL E A DOMINAÇ ÃO os vencedores saboreando COMO EXERCÍCIO DO PODER SOBERANO nele a se doçura da refestelam, dominação (AMORIM et al., 2006). Nascido em Florença, em 1469, época da Dei Em um dos trechos mais emblemático s de “O Machiavelli, hoje conhecido como Nicolau Príncipe”, Maquiavel (1515) questiona se é Maquiavel, teve seu primeiro contato co m melhor ser amado do que ser temido ou o as obras de história, política, jurisprudência inverso, e na afirmando que, ao príncipe, é preciso ser biblioteca de seu pai, um jurista de pouco ambos, mas se for necessário abdicar de um destaque (SOBOLESKI, 2011). Aos vinte e dos dois, é muito mais seguro ser temido do nove anos, Maquiavel se tornou estadista, que amado, pois, segundo ele, “dos homens nomeado Segunda se Dez ingratos, Renascença, leis Niccolò italianas, Liberdade desde como Chancelaria e e di bem secretário secretário da Paz, conhecimentos sobre Maquiavel acusado foi Bernardo jovem, da dos ampliando política. de Em da pode e o dizer auto r em mesmo geral volúveis, que responde, eles são simuladores e seus dissimuladores, covardes diante do perigo, e 1513, ávidos de ganhos” (MAQUIAVEL, 1515 p. co nspiração , preso e torturado e, pouco tempo depois, já 109-110). Nessa passagem, Maquiavel evidencia o exercício da d ominação através | 1542 Rev i sta El etr ôn ic a Ge st ão & Soc i ed ad e v. 11 , n . 2 8 , p . 1 54 0 -1 55 7 | Jan e iro /Ab ri l – 20 17 IS SN 1 9 80 - 57 56 | D OI: 1 0. 21 17 1/ g e s. v 11 i2 8. 19 2 0 do temor das pessoas que, segundo ele, são liberalismo guiadas se Geiger, tradutor da obra “A mão invisível” esquecer mais depressa da morte de seus de Adam Smith, o autor nasceu em 1723, em pais, do que da perda de seu patrimônio Kirkaldy, na Escócia, e studou no Ballio l (MAQUIAVEL, 1515). College, na Universidade de Oxford e foi, pela ambição, capazes de econômico. Segundo por muitos anos, professor de Embora não precise ser amado, cabe ao Príncipe não ser odiado Maquiavel (1515) e, para tanto, recomenda que o soberano mantenha distância dos bens e das mulheres de seus súditos, a fim de não lhes ferir a honra. Mesmo sob a ênfase do poder do Estado, o liberdade autor na intro duz ideias iniciativa de privada, mencionando que o Príncipe deve animar Paulo filosofia moral na Universidade de Glasgow, tendo falecido em conhecido, publicado 1790. “A em Em riqueza 1776, no seu livro das auge mais nações”, da era industrial, Smith procurou demonstrar que a prosperidade dos países resultava da atuação de indivíduo s que, movidos pelo interesse próprio, pro movem o crescimento econômico da sociedade em geral. seus cidadãos a po derem tranquilamente exercer suas profissões no comércio, na Na obra de Smith (1776), a dominação é agricultura, e em todas as outras profissões, exercida sem temer que seus bens sejam subtraído s, excedentes produtivo s, alcançados com a e um destreza, aptidão e perícia dos indivíduo s impostos, industriosos, após a divisão do trabalho na que também negócio, sem devendo o possam ter empreender medo soberano dos recompensar quem pense em engrandecer, de alguma forma, as produção pelo capital, manufatureira, resultad o assim do s explicada pelo autor: cidades ou seu Estado (MAQUIAVEL, 1515). Tais ideias foram ampliadas e reformuladas, séculos mais tarde, po r Adam Smith. ADAM SMITH E A DOMINAÇÃO E XERCIDA P E LO C A P I T A L De acordo com Lux (1993), Adam Smith é considerado moderna o e fundador importante da economia teórico A divisão do trabal ho, da qual derivam tantas v antagens não é originari amente um efeito de qual quer sabedoria humana, que pr evê e tem como i ntenção a ri queza g eral que el a propicia. Ela é a necessária, embor a muito lenta e gradual, consequênci a de certa pr opensão da natureza humana que não vi sa a tão ampla utilidade; a pr opensão de escambar , do | 1543 Rev i sta El etr ôn ic a Ge st ão & Soc i ed ad e v. 11 , n . 2 8 , p . 1 54 0 -1 55 7 | Jan e iro /Ab ri l – 20 17 IS SN 1 9 80 - 57 56 | D OI: 1 0. 21 17 1/ g e s. v 11 i2 8. 19 2 0 permutar, trocar uma coisa por outr a (SMITH, 1776 p. 17). As ideias trabalho, de Smith se entendido originaram como a do medida observações de Karl Marx um século mais tarde, percebeu-se a existência de duas classes sociais: industriosos, a que dos indiv íduos só tem a força das mãos e que para viver, e a e a verdadeira do valor de troca de todos o s habilidade precisam bens, ou seja, segundo ele, esse valor trabalha r corresponde ao esforço, tempo e fadiga que proprietários do capital, que podem viver é necessário dispender para obter to das as sem trabalhar. classe dos coisas. Conforme o autor, não foi com ouro ou com prata, mas com trabalho, que toda a riqueza do mundo foi originariamente adquir ida, e o seu valor é exatamente igual à quantidade de trabalho que ela lhes permitir comprar ou dominar (SMITH, 1776). Corroborando com essa visão, Lux (1993, p. 138) explica que a teoria do valor -trabalho propõe que todo valor produzido na economia provém do trabalho e que é, no mínimo duvidoso, o papel do proprietário de terra e talvez também o do comerciante ou empresário (o capitalista) na produção desse valor, pois, assim como afirma Smith, estes têm a oportunidade de “colher o nde nunca semearam”. riqueza determinadas acumulada pesso as, nas mãos algumas de delas utilizarão, naturalmente, desse capital para assalariar indivíduos pela não intervenção do Estado, confiando na “mão invisível”, uma espécie de força auto reguladora intrínseca aos agentes do sistema capitalista que garantiria o funcionamento equilibrado do mercado e a alocação eficiente acreditava interesse, que, cada dos recursos. buscando cidadão seu Smith próprio frequentemente promovia o interesse e a prosperidade da sociedade, mais efetivam ente do que quando realmente tinha a intenção de fazê lo (LUX, 1993). Quanto às desigualdades entre as classes, Smith (1776) argumentava que, de princípio, Conforme Smith (1776), logo que começa a existir Defensor do liberalismo, Smith argumentava a quem fornecerão matérias-primas e a subsistência, a fim de obterem um lucro com a venda do seu trabalho. Nesse sentido, e antecipando as todos tiveram a mesma probabilidade de enriquecer, mas as diferenças decorreram do fato de alguns trabalhadores, enquanto frugais que preguiçosos, outros perdulários i ndivíduos e são e serem inteligentes, indolentes, incapazes de gerir bem o dinheiro que ganham . A partir dessa visão, emergiu a tese da preguiça | 1544 Rev i sta El etr ôn ic a Ge st ão & Soc i ed ad e v. 11 , n . 2 8 , p . 1 54 0 -1 55 7 | Jan e iro /Ab ri l – 20 17 IS SN 1 9 80 - 57 56 | D OI: 1 0. 21 17 1/ g e s. v 11 i2 8. 19 2 0 natural das 1993). Às classes (LUX, e política que o inspiraria para os anos que classes, se sucederiam. Ao analisar a realidade em dedicaram -se mais profundamente autores que se enco ntrava a sociedade da época, como Karl Marx. Karl Marx queria entender o processo por relações trabalhadoras entre as KARL MARX E A DOMINAÇÃO VI STA COMO EX P L O R A Ç Ã O D O H O M E M P E L O H O M E M meio do qual a essência humana do s operários se objetivava nos produtos do seu trabalho tornando -os assim alienados ao Dominação, que possui como significado capital (GORENDER, 1983). Marx pode ser domínio, subjugação, o ato de ter domínio considerado o pensador mais radical dentre sobre algo ou algué m, vem, ao longo da os que o seguiram e que o antecederam. história empresarial, sendo associada ao domínio de grupos so ciais com a imposição Associando as ideias de Marx (1867) com o de termo uma vontade alheia. Fatores como dominação nas organizações, ele exploração, mais -valia, busca co ntínua pelo evidencia que a alma d o capitalista é a alm a lucro, são do capital, co nsidera que o próprio capital evidenciadas no decorrer da história , por tem seu impulso para sobreviver, de criar diferentes óticas e pensadores. mais-valia e de absorver com sua parte racio nalidade, burocracia constante, com os meios de produção a Pode-se mencionar, nesse contexto, após o maior quantidade possível de trabalho . Para enfoque de Adam Smith, do poder produtiv o Marx, a sociedade só poder ia evoluir, se a do trabalho, Karl Marx. Nascido em 5 de classe o perária, aquela que era explorada, maio de 1818, na província de Trier na se revoltasse contra a classe dominante dos Alemanha Romana, M arx era o segundo filho industriais. de uma famíli a judia. Filho de advogado e de uma filha de rabinos judeus, Marx teve Em presente, em sua infância, o forte impasse operários, a ideia da mais -valia possui como entre a religião judaica e o cristianismo, po r significado seu pai ter se convertido ao cristianismo e organizações, sua exploravam seus trabalhadores, dentre eles mãe ser contra a essa conversão (VILLAVERDE, 19 86). consonância mulheres o e com lucro a exploração em sagazes crianças, si, po r com que dos as acumular, jornadas desumanas e exaustivas de trabalho para o Durante o curso de direito, Marx encontro u aumento da sua riqueza. A exploração é um ambiente de grande vivacidade cultural frequente no pensamento de Karl Marx, | 1545 Rev i sta El etr ôn ic a Ge st ão & Soc i ed ad e v. 11 , n . 2 8 , p . 1 54 0 -1 55 7 | Jan e iro /Ab ri l – 20 17 IS SN 1 9 80 - 57 56 | D OI: 1 0. 21 17 1/ g e s. v 11 i2 8. 19 2 0 evidenciando estava entendia que a dominação era um conceito alienado, devido à obsessão de riqueza da mais importante da ação social, um tipo classe dominante, e não trabalhava por sua especial de poder. Dominação pode ser própria vontade. O trabalho do o perário era explicada, conforme Weber (1920), por um a forçado, não lhe satisfazendo necessidades situação em que uma vontade manifesta internas, para (mandado) do dominador quer influenciar as satisfazer necessidades fora dele (MARX, ações de outras pessoas (dominados) e, de 1867). fato, influencia de tal modo que essas mas que o trabalhador somente um meio MAX WEBER E A DOMINAÇÃO SOB A FO RMA DA RACIONALIDADE ações, num grau socialmente relevante, se realizam como se os dominados tivessem feito do pró prio conteúdo do mandado a Diferentemente de M arx, que possuía como máxima de suas a ções (obediência). preocupação principal as relações sociais de A dominação, de acordo com Weber (1920), produção, surge Max Weber, com os estudo s era dividida em três tipos: a tradicional, da ação social e a conduta humana. vinculada à crença em santidades, cuja decorrentes do modo capitalista fidelidade era o fator de obediência a Max Weber nasceu e teve sua formação carismática, que estava vinculada à devoção intelectual no período em que as primeiras afetiva disputas sobre a metodologia das ciências obediência baseada na crença ou na fé, e a sociais começavam a surgir na Europa. Filho dominação de uma família da alta classe média, seu pai empresas capitalistas, nas quais as regras era um conhecido adv ogado, que o orientou são estatuídas e a o bediência é evidenciada desde pela disciplina ou serv iço. cedo no sentido das ciências à pessoa do senhor, racio nal -legal se ndo vinculada a às humanas. Formado em economia, história, na A dominação racio nal -legal possui, em sua universidade de Berlim como livre -docente essência, a racio nalidade e a burocracia. (TRAGTENBERG, 1980). Racionalidade, segundo o autor é a ló gica filosofia e direito, trabalhou que move a sociedade moderna, lógica que Weber mencio na que a sua profissão era fica cada vez mais dependente de uma enxergar e entender o fenômeno social, administração, extraindo o conteúdo simbóli co da ação o u benefícios. ações que o configuravam. Weber (1920) weberiana, a dominação “é a p ossibilidade por regras, custos e Desse modo, ainda na visão | 1546 Rev i sta El etr ôn ic a Ge st ão & Soc i ed ad e v. 11 , n . 2 8 , p . 1 54 0 -1 55 7 | Jan e iro /Ab ri l – 20 17 IS SN 1 9 80 - 57 56 | D OI: 1 0. 21 17 1/ g e s. v 11 i2 8. 19 2 0 de impor ao comportamento de terceiros a distanciamentos de cada autor frente ao vontade própria” (WEBER, 1920, p. 188). tema. Maquiavel trata da dominação pelo poder soberano, a fim de manter, aumentar A burocracia, de acordo com Weber (1920), é a forma mais pura de dominação legal racional. A burocracia confere à pessoa e não perder o poder sobre os subordinados. Sendo assim, o objetivo é o poder de dominar os outros. investida com autoridade e o poder de coação sobre que Machiavel pregava que a prosperidade do s da países derivava da atuação de indivíduos racionalidade. Ou seja, burocracia é um que, motivados por interesse próprio, geram sistema social em que a divisão de trabalho o crescimento econômico da sociedade em é racionalmente realizada (MOTTA, 2004). geral. Smith na mesma linha confirmava a reivindica para os si subordinados, o monopólio dominação exercida pelo capital, resultado Em consonância co m essas definições e ajustando a temática da do minação com Weber (1920, p. 193), este menciona que da produção a mais, obtidos com a agilidade, competência e habilidade dos indivíduos da indústria. “toda a dominação m anifesta -se e funciona como administração . E toda a administração Marx abordou fatores como exploração e necessita de algum tipo de dominação, pois busca contínua pelo lucro, racionalidade, para dirigi-la é imprescindível que certo s burocracia, o que vai de encontro com as poderes de mando se encontrem nas mãos ideias de Machiavel e Smith. No entanto , de alguém.” Assim, corroborando com o diferentemente de Marx, que se preocupava mencionado por Weber, pode -se afirmar que com as relações sociais do modo capitalista mesmo uma liderança liberal, democrática de produção, Weber estudou a ação social e ou carismática dentro de uma organização a conduta humana. pode ser considerada uma forma de Weber classificou a domina ção em três dominação. tipos: a) tradicional, que trata a crença em CONEXÕES E DISTANCIAM ENTOS ENTRE santidades, em que a fidelidade era o fato r de obediência; b) carismática, em que a AUTORES obediência é baseada na crença ou na fé; c) A partir das manifestações dos autores sobre a dominação nas organizações, nesta seção são destacadas as conexões e dominação racional -legal, relacionada às empresas capitalistas, em que a obediência é comprovada pela disciplina ou serviço . | 1547 Rev i sta El etr ôn ic a Ge st ão & Soc i ed ad e v. 11 , n . 2 8 , p . 1 54 0 -1 55 7 | Jan e iro /Ab ri l – 20 17 IS SN 1 9 80 - 57 56 | D OI: 1 0. 21 17 1/ g e s. v 11 i2 8. 19 2 0 Tragtenberg (1989) afirma que, adiante de METODOLOGIA DA PESQUISA teoria e prática, as relações humanas nas organizações são como uma ideologia. Na Com área da administração, ideologias têm sido entendimento conquistadas pelos famosos manuais, que se dominação tornam este best sellers, promovidos a um o objetivo de dos compreender gestores organizacional estudo elegeu, sobre na como o a atualidade, ambiente de pela pesquisa, a empresa Tramontina TEEC S.A. A ilusória isenção, mas que, na verdade, levam empresa foi fundada em 1º de setembro de regras 1996 e inaugurada em 1º de setembro de “caráter sagrado”, ao se caracterizam cotidiano organizacional (GAULEJAC, 2007). Essas regras objetivam 1998, alcançar acalmar cubas e 10 mil pias por mês, sendo essas questionamentos, são vistas como verdades suas principais lin has de produção inicial. incondicio nais. No ano de 2005, ela inicio u a fabricação de apoio e, ao produzindo, fogões de inicialmente, superfície, 20 mil denominados O conhecimento de poder disciplinar de cooktops. Foucault (2012), elevada no gerencialismo à importações e a viabilidade concreta de “autonomia controlada”, leva a questionar lucro com tal processo, a Tramontina TEEC até que ponto as organizações se tornaram S.A. iniciou a importação no ano de 1999, prisões sobretudo, das mentes, que são além bloqueadas po r cobranças submersas em também de outros eletrodomésticos, como metas e classificaçõ es, a partir de um a coifas e fornos (TRAM ONTINA, 2013). construção moral invisível e de Com o alguns crescente modelos número de de cooktops, complexa A Tramontina TEEC S.A. possui como missão (GAULEJAC, 2007). desenvolver, produzir e entregar produtos Portanto, influenciar os comportamentos é a de qualidade, que tornem melhor a vida das melhor maneira de desempenhar po der, sem pessoas, ocasionar revolta, e evitar o uso da força consumidores, para conseguir bo ns resultados, além de comunidade que está inserida. Em sua visão , garantir o poder, a supremacia é importante destaca ser a melhor opção de compra para para os movimentar mentes. além de corpos, mas gerando clientes valor funcionários, de pias, para seus acionistas cubas e e eletrodomésticos, alinhados a três pilares: qualidade, tecnologia e segurança . Como valor, apresenta a satisfação do cliente, | 1548 Rev i sta El etr ôn ic a Ge st ão & Soc i ed ad e v. 11 , n . 2 8 , p . 1 54 0 -1 55 7 | Jan e iro /Ab ri l – 20 17 IS SN 1 9 80 - 57 56 | D OI: 1 0. 21 17 1/ g e s. v 11 i2 8. 19 2 0 transparência, trabalho, liderança, entendimento do conteúdo das entrevistas valorização das pessoas e devoção. Este transcritas, primeiro valor, satisfação dos clientes, é criteriosamente, separados em unidades de enfatizado análise, pela empresa como valor cujos de textos acordo são com os lidos objetivos primordial, ocorrendo a busca co nstante em específicos da pesquisa e interpretados. Já estabelece r satisfação empresa um do em alinhamento cliente e o aprimorar conhecimentos e entre a os mapas de associação de ideias conferem empenho da visibilidade ao processo de análise, po r de pessoas tecno logias, (TRAMONTINA, 2013). meio da organização do conteúdo, em colunas que correspondem às categorias temáticas definidas pelo pesquisado r (VERGARA, 2005). A pesquisa se caracteriza por abordagem qualitativa, objetivo exploratório e como Em procedimento técnico foi utilizado o estudo pesquisa, de categorias caso, que abordagem se ideal constitui quando em a uma questão consonância variáveis as com o objetivo unid ades temáticas de desta análise correspondem norteadoras da pesquisa, e às que investigada gira em torno de como e por foram selecionadas pelos autores, por meio quê (YIN, 2010). O estud o também envolveu da investigação de referenciais teóricos, que pesquisa abordam o tema da do minação de diferentes bibliográfica dominação. Visando sobre uma o tema mais perspectivas. Deste aprofundada dos objetos de estudo e suas identificadas foram: particularidades, Capital foram análise da realizadas três (Adam modo, Poder Smith), as va riáveis (Maquiavel), Exploração (Karl entrevistas pessoais semiestruturadas, co m Marx) e Razão (Max Weber). Os métodos os As permitiram analisar de forma completa e entrevistas duraram, em média, 30 minutos. minuciosa o conteúdo das entrevistas, bem Para organização e interpretação dos dado s como das entrevistas, foram utilizados os métodos percepções dos três entrevistados. gestores desta organização. de análise de conteúdo e de mapas de associação de ideias. facilitaram a comparação das RESULTADOS Para cada um dos gestores entrev istados, De acordo com Bardin (2004), a análise de conteúdo presta-se a fins ex ploratórios, o u seja, de desco berta a partir elaborou -se um mapa de associação de ideias, que apresenta excertos das do | 1549 Rev i sta El etr ôn ic a Ge st ão & Soc i ed ad e v. 11 , n . 2 8 , p . 1 54 0 -1 55 7 | Jan e iro /Ab ri l – 20 17 IS SN 1 9 80 - 57 56 | D OI: 1 0. 21 17 1/ g e s. v 11 i2 8. 19 2 0 entrevistas, elencados em colunas, que seja equilíbri o, onde haj a participação, onde as pessoas que estão envolvidas opinem e possam dar sua contribuição, trabalho em equi pe que pr essupõe isso. conforme as variáveis à qual correspondem. Na entrevista com o Diretor Industrial, percebeu-se que o mesmo demonstra um conceito abrange completo três identificadas Poder, de das na Capital dominação, quatro pesquisa e Razão. pois variáveis bibliográfica: A entrev ista evidencio u que, segundo este gestor, a racionalidade é nec essária para Após o mapa, utiliza -se a análise de conteúdo para detalhar características identificadas em cada uma das associações. Segue no Quadro 1, as análises referentes à entrevista do Diretor Industrial da Tramontina TEEC S.A. a administração da empresa, e se manifesta por meio de regras, condutas e padrões estabelecidos, como se pode perceber nos Também fica clara, a presença da variável Capital que, segundo o entrevistado, o papel dos gestores é a busca de retorno financeiro à trechos abaixo: empresa e, principalmente, guiar os funcionários na busca deste sentido em seus Não existe dominação, existe hierar qui a, organizaç ão e busca por objetiv os. Tem que existir regras dentro da empres a, isso é muito fundamental. Eu acho extremamente positivo, no que diz respeito à organiz ação, é necessária uma hierar qui a, é necessário que as pessoas saibam a quem elas dev em se reportar, a quem el as devem buscar orientação. trabalhos, como segue nos trechos abaixo: manifesta nas relações com subordinados, e [...] em primeir o l ugar sempr e vai estar o i nter esse da organiz ação. [...] sinto o seg uinte: eu estou aqui par a fazer a máquina funcionar eu tenho, é meu papel cobrar é meu papel fazer com que isso funci one eu tenho que tratar as coisas que env olvem o funci onamento dessa empres a como se fossem minhas, como se fossem os olhos do acionista e, acima de tudo, é obvio que deve haver respeito, dev e haver c onvivênci a decente, deve haver um bom ambiente de trabalho, mas acima de tudo nós devemos um bom funci onamento da estrutura par a quem nos paga nosso salário. que isso é um fator normal e necessário no O Quadro 2 retrata o mapa de ideias relativ o trabalho em equipe: à entrev ista do coordenador da produção da Indo ao encontro d a visão maquiavélica, o diretor industrial demonstrou que, em alguns episó dios, a questão do poder se Tramontina TEEC S.A. [...] às vezes oc orre o mando, o poder, e entendo até que em certas ocasiões é necessári o. Eu acho que na mai ori a das vezes a gente pr ocura fazer com | 1550 Rev i sta El etr ôn ic a Ge st ão & Soc i ed ad e v. 11 , n . 2 8 , p . 1 54 0 -1 55 7 | Jan e iro /Ab ri l – 20 17 IS SN 1 9 80 - 57 56 | D OI: 1 0. 21 17 1/ g e s. v 11 i2 8. 19 2 0 Poder Capital (...) às vezes ocorre o mando, o poder, e entendo até que em certas ocasiões é necessário. Eu acho que, na maioria das vezes, a gente procura fazer com que seja equilíbrio, onde haja participação, onde as pessoas que estão envolvidas opinem e possam dar sua contribuição, trabalho em equipe que pressupõe isso. (...) e isso às vezes pode machucar pode ferir pode fazer com que a gente diga o que não quer dizer, e outras pessoas ouçam o que não querem ouvir. Faz parte do negócio. (...) provavelmente eu mesmo como coordenador como diretor já possa até ter tido alguma situação que eu possa ter passado uma situação de abuso ou feito, acho que é uma coisa que pode acontecer. (uso excessivo de poder) (...) sim, mas eventualmente surge, acho que devo ter sofrido como subordinado. (identificação de episódio de uso excessivo de poder) (...) nas situações mais delicadas que às vezes trazem assim uma condição mais difícil, às vezes é necessário uma decisão mais forte, em primeiro lugar sempre vai estar o interesse da organização. (...) sinto o seguinte: eu estou aqui para fazer a máquina funcionar eu tenho, é meu papel cobrar é meu papel fazer com que isso funcione eu tenho que tratar as coisas que envolvem o funcionamento dessa empresa como se fossem minhas, como se fossem os olhos do acionista e, acima de tudo, é obvio que deve haver respeito, deve haver convivência decente, deve haver um bom ambiente de trabalho, mas acima de tudo nós devemos um bom funcionamento da estrutura para quem nos paga nosso salário. Razão Principais tarefas/atribuições como coordenar, sugerir, definir muitas vezes, manter a equipe coesa, estabelecer estratégias de médio e longo prazo essas dentre tantas outras atribuições. Dominação, esse é um termo forte eu entendo assim que ela está ligada à hierarquia (...) pra funcionar tem que ter normas tem que ter regras, tem que ter um líder que comande uma equipe, tem que ter um direcionamento e isso pressupõe dominação, não consigo enxergar uma organização que tivesse uma liberdade 100%, cada um cuida de si. Tem que ter regras e, se isso se entende como dominação, muito bem ela é necessária em qualquer organização, os líderes são necessários; Sim (a hierarquia) pode inibir a criatividade, eu acho esse é talvez um dos aspectos negativos, mas infelizmente não dá pra viver num ambiente de 100% de liberdade, com todo mundo ditando seu próprio rumo, mas efetivamente tenho que reconhecer que ela é um inibidor. Não existe dominação, existe hierarquia, organização e busca por objetivos. Exploração (...) sempre levo como exemplo a nação Alemanha. A Alemanha é um país extremamente criticado pelos outros, porque eles são muito regrados, são muito bitolados, mas funciona. Esse excesso de organização é pra quem vê de fora a coisa mais sensacional porque eles dão o exemplo de como se vive em sociedade, em grupo, tu saber respeitar até aonde vai o teu limite até aonde eu posso ir. Esse senso de respeito é muito maior porque as pessoas já vem, desde o berço, essa mentalidade de vida em organização, vida com ordem, vida com regra, e acho que lá essas coisas entram muito mais fácil, desde as crianças, até adolescente e depois adultos, o cara chega na empresa já sabendo como fazer. Figura 1 - Mapa de associação de ideias conforme entrevista com o diretor industrial Tramontina TEEC SA. Esta entrevista realizada com o coordenador da produção evidenciou sua visão de dominação, abrangendo as quatro variáveis encontradas no referencial. A variável Poder é vista como parte integrante da dominação nas relações entre subordinados dentro da organização. Sua visão é que o poder é necessário, intrínseco à administração, sem o peso pejorativo, que é associado à visão marxista. Conforme ele explica: | 1551 Rev i sta El etr ôn ic a Ge st ão & Soc i ed ad e v. 11 , n . 2 8 , p . 1 54 0 -1 55 7 | Jan e iro /Ab ri l – 20 17 IS SN 1 9 80 - 57 56 | D OI: 1 0. 21 17 1/ g e s. v 11 i2 8. 19 2 0 A gente vem des de que está na Tramonti na, começou como subordinado e isso acabou incorporando na vida da gente, no di a a di a da g ente, par a mim é uma coisa normal eu ter alguém para gerir acima de mim ou alguém que é meu superi or, no caso o dir etor i ndustrial. A variável Capital difundida por Adam Smith (1776) também aparece de maneira sobressalente para e ste gestor, tendo claro em sua visão associar o sentido do seu trabalho com objetivo de atingir trazer retornos à empresa: A questão da racionalidade novamente fica acentuada, como a principal forma de demonstração da do minação e necessária para a administração, pois é a variável que mais agrupo u t rechos das entrevistas: Eu não vej o não que existe a dominação, eu sei que existe a hierar qui a, todos aqui, desde o dir etor até o funcionário que começa a trabalhar conosco hoje, ele s abe que existe essa hier arqui a e a gente sabe que cada um pr ocur a faz er as suas tarefas, funções dentro da sua, do s eu cargo. Eu vejo que é necessário e estabelecer Minha funç ão principal é auxili ar todos os setor es dentro da empresa ligados à pr odução direta, a fim de obter o máximo de produção, tirar o máximo dos equipamentos e das máquinas e evitando também o desperdício. Poder Capital Eu não vejo que existe dominação na TEEC, existe aqui um grupo de trabalho todos cientes de suas funções e posição na empresa, cada um com sua função. A gente vem, desde que está na Tramontina, começou como subordinado e isso acabou incorporando na vida da gente, no dia a dia da gente. Para mim é uma coisa normal eu ter alguém para gerir acima de mim ou alguém que é meu superior, no caso o diretor industrial. Minha função principal é auxiliar todos os setores dentro da empresa ligados à produção direta, a fim de obter o máximo de produção, tirar o máximo dos equipamentos e das máquinas e evitando também o desperdício. regras de conduta e de trabalho válidas. O Quadro 3 retrata o mapa de associação de ideias relativo a entrevista com o Superviso r da Seleção e Embalagem da Tramont ina TEEC S.A. Razão Eu não vejo não que existe a dominação, eu sei que existe a hierarquia, todos aqui, desde o diretor até o funcionário que começa a trabalhar conosco hoje, ele sabe que existe essa hierarquia e a gente sabe que cada um procura fazer as suas tarefas, funções dentro da sua, do seu cargo. Acredito que não iniba (a criatividade), pois temos aqui inclusive o programa de ideias que é usado para sugestões e melhorias. Eu vejo que é necessário e estabelecer regras de conduta e de trabalho válidas. (...) a gente vem de uma cultura na Tramontina existe hierarquia, gostamos respeitar ela e gostamos também que os colaboradores respeitem a mesma, nós não podemos dizer que nós dominamos os funcionários, eu não vejo dessa forma, eu vejo que existe aqui um conjunto de regras e normas a serem seguidas. Exploração Se houve algum episódio desse tipo não é do meu conhecimento. Figura 2 - Mapa de Associação de ideias conforme entrevista com o Coordenador da Produção da Tramontina TEEC. | 1552 Rev i sta El etr ôn ic a Ge st ão & Soc i ed ad e v. 11 , n . 2 8 , p . 1 54 0 -1 55 7 | Jan e iro /Ab ri l – 20 17 IS SN 1 9 80 - 57 56 | D OI: 1 0. 21 17 1/ g e s. v 11 i2 8. 19 2 0 Poder Capital Razão (...) pelo que exerço claro que existem regras que têm que ser seguidas. Mas eu uso, ao invés do poder, o convencimento para as pessoas entenderem os objetivos da empresa. Não vejo isso como dominação; (...) eu vejo que é a organização, as coisas certas, regras que facilitam a organização a se tornar melhor. É preciso regras, senão vira bagunça. O negativo é que como a hierarquia tem muitos níveis, às vezes para tomar uma decisão até ela ser aprovada, tem que passar por 4 ou 5 pessoas, isso desestimula um pouco pode até fazer com que as pessoas não sejam proativas; Não entendo que tem dominação no meu setor. Elas (pessoas) sabem que tem uma hierarquia e respeitam isso. Sabem que tem regras a seguir, claro que algumas vezes quando tem determinada tarefa, algumas não gostam de fazer, ou reclamam, mas isso é devido àquela tarefa. Sim, pode impedir a proatividade. (centralização do poder de mando e o controle como inibidor de criatividade) (...) Eu vejo que hoje não tem como uma empresa viver sem regras. Exploração Todo mundo tem liberdade para dar ideias, a direção até pede isso a todos. Não vejo dominação aqui na TEEC. Não me lembro de ter acontecido isso, pelo menos eu não presenciei. (episódio de uso excessivo de poder) Figura 3 - Mapa de Associação de ideias conforme entrevista com o Supervisor de Seleção e Embalagem Tramontina TEEC S.A. Não entendo que tem domi naç ão no meu setor. Elas (pessoas) sabem que tem uma hi erarquia e respeitam isso. Nesta entrevista, realizada com o Supervisor de Seleção e Embalagem da Tramontina TEEC S.A., suas percepções sobre dominação pairam em torno da variável Razão, defendida por Weber (1920). Esse gestor evidencia o papel da racionalidade como principal manifestação da dominação, sendo vista como um fator essencial e obrigatório nas organizações na consecução de maneira satisfatória de suas a tividades, na busca de suas metas: Eu vejo que hoj e não tem como um a empresa viver sem regras. [...] eu vejo que é a organiz ação, as coisas certas, regras que facilitam a organiz ação a se tornar mel hor. É preciso r egras, senão vira bagunça. Um último aspecto que chama a atenção é que to das as entrevistas demonstraram não visualizar relação entre a dominação e a variável Exploração, defen dida por Karl Marx (1867), talvez isso pode ser atribuído à cultura do grupo Tramontina, que possui políticas de recursos humanos com foco na valorização dos funcionários. Percebeu -se que, na entrevistas, análise os da totalidade gestores das expressaram compreender que não há dominação na empresa Tramontina TEEC S.A., pois, para eles, a palavra dominação ainda denota um | 1553 Rev i sta El etr ôn ic a Ge st ão & Soc i ed ad e v. 11 , n . 2 8 , p . 1 54 0 -1 55 7 | Jan e iro /Ab ri l – 20 17 IS SN 1 9 80 - 57 56 | D OI: 1 0. 21 17 1/ g e s. v 11 i2 8. 19 2 0 peso pejorativo vinculado à exploração. [...] pode ini bir a criatividade, eu ac ho esse é talvez um dos as pectos negativos, mas infel izmente não dá pra viver num ambiente de 100% de liberdade, c om todo mundo ditando seu pr ópri o rumo, mas efetivamente tenho que r econhecer que ela é um inibidor. Sim, pode impedir a proatividade. (Dir etor Industri al Tramonti na TEEC S.A). Como seguem trechos: Todo mundo tem liberdade par a dar ideias, a dir eção até pede isso a todos. Não vejo dominação aqui na TEEC. (Supervisor Seleção e Embal agem Tramonti na TEEC S.A.). Eu não vej o que exis te dominação na TEEC, existe aqui um grupo de trabalho todos cientes de suas funções e posição na empres a, cada um com sua função. (Diretor Industri al Tramonti na TEEC S.A.). [...] a gente vem de uma cultur a na Tramonti na existe hier arquia, gostamos res peitar ela e g ostamos também que os colaboradores respeitem a mesma, nós não podemos dizer que nós dominamos os funci onários, eu não vejo dess a forma, eu v ejo que existe aqui um c onjunto de regr as e normas a serem segui das. (Coordenador da Produção Tramontina TEEC S.A.). CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo permitiu ampliar o conhecimento sobre as formas com que a dominação se faz presente na vida das organizações na atualidade. A partir da investigação sobre o tema da dominação organizacional, foram identificadas quatro variáveis principais, surgidas da literatura, ao longo da história da dominação, sendo elas: Poder, Capita l, Exploração e Razão . Alguns desafios perm earam essa pesquisa. Ficou evidente a visão de to dos os entrevistados, pois demonstraram entender a necessidade da racio nalidade na organização, que se manifes ta por meio de regras, procedimentos, estruturas definidas e claras de hierarquia. Encontro u -se um ponto que se mostrou repetitivo nas entrevistas, tanto na percepção do direto r industrial, quanto na do supervisor de embalagem, as estruturas centralizadas e com hierarquia acabam por inibir criativ idade dos funcionários. Como segue: a Um deles foi trazer para a atualidade cada uma dessas dominação, variáveis que vinculadas foram abordadas à por autores clássicos e cuja o bra retrata o tempo em experiências, que eles dilem as viveram e suas características daquelas épocas. Tais variáveis parecem estar presentes organizações, no contexto porém , com atual um das formato brando, com contornos menos rígidos ou radicais. Outro abertamente o desafio tema foi abordar “dominação”, geralmente um assunto polêmico, sem que | 1554 Rev i sta El etr ôn ic a Ge st ão & Soc i ed ad e v. 11 , n . 2 8 , p . 1 54 0 -1 55 7 | Jan e iro /Ab ri l – 20 17 IS SN 1 9 80 - 57 56 | D OI: 1 0. 21 17 1/ g e s. v 11 i2 8. 19 2 0 houvesse constrangimento ou retração por pela parte dos entrevistados. desperdícios. Acredita-se, porém, que houve superação de A tais desafios já que, de um modo geral, evidenciada nos relatos dos gestores que, todas pelo contrário, reiteram a liberdade que as variáveis foram abordadas. produtividade exploração foi a a variável menos presente organização participar dos processos e propor ideias à investigada, não na essência maquiavélica, organização. Entretanto, dois entrevistados onde o temor era o que regia as relações, assumiram mas sim pela importância do respeito ao centralização cargo, hierarquizadas e co m regras de conduta às funções organizacional. Essa da e à hierarquia constatação vai ao encontro do predo mínio da racio nalidade, como principal variável encontrada podem que , do inibir de empresa de cada cotidiano da redução Observou-se que o exercício do pode r é no funcionário e certa poder, a em tem para forma, a estruturas criativ idade do s colaboradores. na organização, segundo a visão dos gestores. Nesse sentido, e procurando superar uma das limitações da presente investigação, que Todas as entrevistas enfatizaram, de um foi modo ou outro, a im portância da empresa gestores, em estudo futuro será realizada dispor de uma regras, normas, resguardar o coletar os dado s pesquisa apenas quantitativa junto aos sobre a respeito à hierarquia e à lider ança, não percepção que os colaboradores do setor de apenas para coordenar esforços rumo a seleção objetivos Tramontina comuns, mas também como e embalagem TEEC S.A. da possuem empresa sobre a requisito para o conv ívio, a manutenção da dominação organizacional, permitindo assim ordem e do funcio namento da empresa uma comparação dos resultados com este como um todo. estudo realizado . A variável capital também surgiu ao longo da pesquisa, mas de forma sutil, ou s eja, ela não foi relatada sob o s termos “riqueza” ou “lucro”, recorrentes nos textos de Adam Smith (1776) e Karl Marx (1867), mas sim, mencionada como “os interesses da organização”, que envolve também a busca | 1555 Rev i sta El etr ôn ic a Ge st ão & Soc i ed ad e v. 11 , n . 2 8 , p . 1 54 0 -1 55 7 | Jan e iro /Ab ri l – 20 17 IS SN 1 9 80 - 57 56 | D OI: 1 0. 21 17 1/ g e s. v 11 i2 8. 19 2 0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMORIM, Wilson Antunes; MARIOTTO, Joselito; MATTOS, M anoel Salésio; OLIVEIRA, Jayr Figueiredo de. Empresa: a quem e a que serve? XIII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 3. ed. Lisboa: Edições 70, 2004. FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 40. ed. Petró polis: Vo zes, 2012 . GAULEJAC, V. Gestão como doença social: ideologia, poder gerencialista e fragmentação social. 3. ed. São Paulo: Ideias & Letras, 2007. 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