Edmund Husserl e a fenomenologia Edmund Husserl nasceu em

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Edmund Husserl e a fenomenologia 1
Iely Castelo Sampaio
Wellington Trotta *
Resumo: Este texto aborda a fenomenologia como ciência filosófica que, pela critica à Teoria
do Conhecimento, desvela que este ato psíquico tem contorno lógico. Ressalta-se que o
fenômeno é expressão da coisa mesma. Assim, a fenomenologia, contrária ao positivismo, não
tem como propósito a explicação, mas a descrição da coisa pela consciência.
Palavras-chave: Fenomenologia – consciência – essência – subjetividade – apoditicidade.
Edmund Husserl nasceu em Prossnitz, na Morávia, no antigo Império AustroHúngaro em 1859 e morreu em Freiburg, no ano de 1938 na Alemanha. Husserl estudou
inicialmente matemática nas Universidades de Leipzig (1876) e Berlin (1878), seguindo
as lições de Karl Weierstrass e Leopold Kronecker. Em 1881 segue para Viena com o
intuito de tomar lições de Leo Königsberger, doutorando-se por volta de 1883, com a
tese Contribuições ao cálculo das variações. No ano de 1884 Husserl passa a
frequentar, na Universidade de Viena, o curso de filosofia ministrado por Franz
Brentano, cujas teses o impressionam de tal maneira que se dedica intensamente ao
estudo da filosofia. Em 1886, Husserl, aconselhado por seu mestre, transfere-se para a
Universidade de Halle com o fim de estudar com Carl Stumpf. Logo depois escreve sua
obra Sobre o conceito do número em 1887, seguida por outra intitulada Filosofia da
Aritmética de 1891 (MORA, 1964, p. 882).
Nesse caso, Husserl relaciona matemática com filosofia, elaborando um
conjunto de princípios que pudesse contribuir no fornecimento de fundamentos sólidos
para a ciência matemática. O tema de sua investigação é a análise dos processos mentais
necessários para a formação do conceito de número. Todavia, a partir da publicação de
Investigações lógicas entre 1900 e 1901, Husserl entende o conhecimento sob nova
óptica, colocando-se contra o psicologismo ao asseverar que o “saber, no sentido mais
próprio da palavra, é a evidência de um certo estado de coisas ‘existe ou não existe’;
e.g., que S P é ou não é; logo, é também um saber em sentido próprio a evidência de
que um certo estado de coisas é provável neste ou naquele grau ” (2005, p. 57).
Duas obras são importantes nos desenvolvimento e aprofundamento da
fenomenologia: A ideia da fenomenologia de 1907, e Filosofia como ciência de rigor,
publicada em 1910-11. Mais tarde, com a publicação de Ideias para uma fenomenologia
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Este texto foi elaborado pelas mãos do Prof. Wellington Trotta e de Iely Castelo Sampaio, estudante do
quinto período de Direito, por ocasião da abertura do “Seminário de Filosofia e Ciência, segundo a
Conferência de Husserl em 1935” no dia 07.11.2013.
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pura em 1913, Husserl consagra a fenomenologia como uma ciência filosófica capaz de
resolver as aporias da Teoria do Conhecimento, concentrando-se na pesquisa das
estruturas ideais (essenciais) da consciência. Nesse sentido, o método e o sistema
empregados por Edmund Husserl nas investigações acerca do conhecimento vigoram
até os dias de hoje como fenomenologia, consistindo na descrição daquilo que
imediatamente é dado pela consciência como vivência, pois a consciência é puramente
descritiva quanto aos fenômenos em cuja descrição o eu não interfere.
Para Husserl, a psicologia é ciência de dados de fato, ao passo que a
fenomenologia pura ou transcendental é ciência das essências, que pela solução eidética
(relativo à essência das coisas) pretende purificar os fatos e dados psicológicos em
ideias, isto é, em essencialidades necessárias e universalmente válidas. Segundo
Husserl, a psicologia é uma ciência empírica dos fatos e dados do conhecimento, ao
contrário da lógica e da teoria do conhecimento que são ciências normativas do
conhecimento, porque buscam o necessariamente universal (HUSSERL, 2006, p. 3338). Desse modo, a premissa husserliana parte da tese segundo a qual, sendo a
psicologia uma ciência presa ao dado empírico, não pode vislumbrar a apoditicidade
que constitui a evidência ou indubitabilidade absoluta, o universalmente necessário
como validade do conhecimento. Assim Husserl afirma que:
Em contrapartida, uma evidência apodíctica tem essa particularidade
de não ser somente, de maneira geral, certeza da existência das coisas
ou ‘fatos’ evidentes; ela se revela ao mesmo tempo à reflexão crítica
como uma impossibilidade absoluta de que se concebeu a sua nãoexistência e, portanto, exclui de antemão toda dúvida imaginável
como desprovida de sentido (HUSSERL, 2000, p. 33).
Dessa maneira, pode-se considerar que Husserl assinala a impossibilidade de se
conhecer alguma coisa fora da esfera da idealidade das significações. No espaço e no
tempo os fenômenos psíquicos são acontecimentos relacionados, objetivamente, ao
sujeito. Para a fenomenologia, a representação psicológica é particular, empírica e
subjetiva, pois ela apresenta juízo de fato, ao passo que o pensamento na perspectiva do
conhecer deve ter a lógica como modelo por fundamento universal, ideal e objetivo ao
mesmo tempo. Portanto, as proposições gerais e necessárias são condições que tornam
possível uma teoria, e não a experiência. Mesmo que nosso conhecimento comece com
a experiência, ainda assim é particular porque é dado de fato e acaba sendo oriundo das
impressões do eu. Ao contrário desse entendimento, a fenomenologia amparada pela
dedução lógica afasta “toda determinação que não seja de-monstrativa [...] Só poderá
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ser estabelecido a partir da ‘própria coisa’ que deve ser descrita, ou seja, só poderá ser
determinado cientificamente segundo o modo em que os fenômenos vêm ao encontro”
(HEIDEGGER, 2005, p. 65).
Para exemplificar, a fenomenologia como ciência das essências prima pela
relação sujeito-objeto cujo enfoque está no fato da consciência ser doadora de sentidos,
com isso superando as perspectivas empirista – que privilegia a experiência em relação
ao objeto – e a racionalista que tomam o sujeito como centro do conhecimento. A
fenomenologia, como ciência das essências, tem os fenômenos como expressão das
essências, isto é, constitui-se numa orientação filosófica específica que busca o sentido
dos fenômenos como essência. Segundo Martin Heidegger, a fenomenologia expressa
um conceito de método, e, ao determinar-se como tal, instiga a manifestação do que está
escondido. A fenomenologia é a única ontologia possível em razão da superação do
dualismo parecer e ser. Logo:
A expressão fenomenológica diz, antes de tudo, um conceito de
método [...] A palavra ‘fenomenologia’ exprime uma máxima que se
pode formular na expressão: ‘As coisas em si mesmas’ por oposição
às construções soltas no ar, às descobertas acidentais, à admissão de
conceitos só aparentemente verificados (HEIDEGGER, 2005, p. 57).
A fenomenologia pode ser tomada como um retorno às próprias coisas mesmas
porque parte do principio de que sem evidência não há ciência, pois as evidências
ensejam a manifestação de algo que não pode ser negado, por isso as evidências são
manifestações de si mesmas: os fenômenos. A fenomenologia anseia descrever os
fenômenos apresentados à consciência depois que colocamos todos os nossos juízos
entre parênteses, isto é, o reduzimos à suspensão – epoché – até que os dados sejam
irrefutáveis. Sendo assim, a fenomenologia não é ciência de fato, mas sim de essência.
A fenomenologia como ciência das essências estuda os fenômenos como algo que
encerra em si aquilo que aparece como a própria essência de si. A “fenomenologia diz,
então: deixar e fazer ver por si mesmo aquilo que se mostra, tal como se mostra a
partir de si mesmo [...] A ciência dos fenômenos significa: apreender os objetos de tal
maneira que se deve tratar de tudo que está em discussão” (HEIDEGGER, 2005, p. 65)
Conforme Husserl, “a fenomenologia é a doutrina universal das essências, em
que se integra a ciência da essência do conhecimento” (HUSSERL, 1989, p. 22). A
pesquisa, segundo esse método, consiste na descrição daquilo que imediatamente é dado
na consciência como vivência, e assim a fenomenologia tem dois objetivos capitais, a
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saber: a - descrição do que a consciência é (intencionalidade), e b - compreensão dos
significados dos atos psíquicos, ou seja, o sentido ontológico expresso pelas evidências.
Assim, a consciência é puramente descritiva. A consciência é intencionalidade por ser
fluxo de movimento (SALAHSKIS, 2006, p. 59).
Referências Bibliográficas:
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Parte I. Petrópolis: Vozes, 2005. Tradução de
Márcia Sá Cavalcante Schucack.
HUSSERL, Edmund. Filosofia como ciência de rigor. Coimbra: Atlântida, 1952.
Tradução de Albin Beau.
______. A ideia da fenomenologia. Lisboa: Edições 70, 1989. Tradução de Artur
Mourão.
______. Conferências de Paris. Lisboa: Edições 70, 1990. Tradução de Antônio Fidalgo
e Artur mourão.
______. Meditações cartesianas: introdução à fenomenologia. SP: Madras, 2000.
Tradução de Frank de Oliveira.
______. Investigações lógicas: Prolegómenos à lógica pura. Vol. I. Centro de Filosofia
da Universidade de Lisboa: 2005. Tradução de Diogo Ferrer.
______. Ideias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica.
Aparecida: Ideias e Letras, 2006. Tradução de Márcio Suzuki.
MORA, J, Ferrater. Diccionario de filosofia. Buenos Aires: Editorial Sudamericana,
1964.
SALANSKIS, Jean-Michel. Husserl. SP: Estação Liberdade, 2006. Tradução de Carlos
Alberto Ribeiro de Moura.
* Os autores Wellington Trotta é Doutor em Filosofia pelo IFCS-UFRJ e Iely Castelo Sampaio,
estudante do quinto período de Direito, ambos pertencem ao Núcleo de Pesquisa de Ciências
Jurídicas e Sociais-NPCJS da UNESA-Cabo Frio.
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