UFPE – CCEN – DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA – ÁREA II CÁLCULO 3 - 1o¯ Semestre de 2009 Notas de curso: Séries Numéricas e Séries de Taylor Professor: Sérgio Santa Cruz Estas notas têm o objetivo de auxiliar o aluno no estudo dos tópicos da terceira unidade do curso. Como uma fonte adicional de exercı́cios, e para um tratamento mais completo, o aluno pode recorrer ao capı́tulo 11 do segundo volume de Cálculo de James Stewart. I. POLINÔMIOS DE TAYLOR Começamos nossa investigação com a seguinte questão: Q. Dada uma função f (x), qual o polinômio de grau n (onde n ≥ 0 é um inteiro fixado) que melhor aproxima f perto de x = 0? O aluno atento percebe que a resposta a esta pergunta depende da interpretação de “melhor aproximação”. Reformulamos a pergunta de modo mais preciso a seguir. Q. Dada uma função f (x), qual o polinômio Pn (x) de grau n que tem as mesmas derivadas que f (x) na origem, até a ordem n? Assim, de acordo com nosso ponto de vista, podemos chamar P1 (x) de melhor aproximação linear para f (x) perto de x = 0; P2 (x) é a melhor aproximação quadrática, e assim por diante. Em geral, chamamos Pn (x) o polinômio de Taylor de grau n para f (x) perto de x = 0. Chame por um momento Pn = P . Então P (x) = a0 + a1 x + a2 x2 + · · · an xn deve satisfazer P (0) = f (0), P 0 (0) = f 0 (0), · · · P (n) (0) = f (n) (0). Aqui, adotamos a notação f (k) (x) para denotar a k-ésima derivada de f (x) - também chamada de derivada de k-ésima ordem de f (x). Note que por convenção f (0) (x) = f (x). Observe que para a questão acima fazer sentido, temos de supor que f admite derivadas (na origem) até ordem n. Agora, ao derivarmos P (x) k vezes (onde 0 ≤ k ≤ n), observamos que P (k) (x) é da forma k!ak + (termos em x, x2 , · · · xn−k ), (verifique isto!) e assim P (k) (0) = k!ak . Como devemos impor que P e f tenham as mesmas derivadas na origem, até ordem n, obtemos que os coeficientes do polinômio Pn são dados por f (k) (0) , ak = k! e assim o n-ésimo polinômio de Taylor é dado por Pn (x) = f (0) + f 0 (0)x + f 00 (0) 2 f (n) (0) n x + ··· + x . 2! n! 1 Em particular, quando n = 1, y = P1 (x) nada mais é que a equação da reta tangente à curva y = f (x) no ponto (0, f (0)). O gráfico de y = P2 (x) pode ser interpretado como a parábola que melhor aproxima o gráfico de y = f (x) perto do ponto (0, f (0)), e assim por diante. Observe que, estritamente falando, Pn (x) pode ter grau ≤ n. Exercı́cio. Se f (x) = cos(x), calcule P0 (x), P1 (x), P2 (x), P3 (x), P4 (x) e plote os gráficos de cada um destes polinômios num mesmo sistema de eixos, juntamente com o gráfico de f (x). Depois de fazer este exercı́cio, o aluno provavelmente terá notado que, à medida que n aumenta, o polinômio Pn (x) aproxima cada vez melhor o gráfico de cos x perto de x = 0. Um dos nossos objetivos será tornar precisa uma tal afirmação, e até estimar o erro da aproximação. Exercı́cio. Prove que o polinômio de Taylor Pn (x) em torno de x = 0 para f (x) = ex é xn x2 x3 + + ··· . 2! 3! n! Exercı́cio. Calcule Pn (x) para: (a) f (x) = cos x; (b) f (x) = sen x. Pn (x) = 1 + x + Para cada um dos exemplos acima, gostarı́amos de provar a seguinte afirmação: para cada x fixado, Pn (x) converge para f (x) quando n → ∞. A próxima etapa do nosso estudo consiste em formalizar tal tipo de afirmação, para então investigar formas de prová-la. II. SEQUÊNCIAS E SÉRIES Chamamos sequência (infinita) a uma coleção de números reais a0 , a1 , a2 , · · · , an , · · · indexados pelos números inteiros n ≥ 0 (mas observe que também consideramos sequências que têm como ı́ndice inicial n = 1, ou n = 2, etc). Denotamos esta sequência por {an } ou (an ). Dizemos que a sequência (an ) é convergente se existe um número real L de modo que a seguinte propriedade vale: Qualquer intervalo centrado em L contém todos os termos da sequência, exceto possivelmente um número finito deles. Neste caso dizemos que (an ) converge para L, e que L é o limite da sequência; escrevemos então lim an = L. n→∞ Intuitivamente, os números an na reta “se acumulam” em torno do número L. Exercı́cio. Prove, usando esta definição, que a sequência (an ) definida por an = n−1 converge para 0. Idem para an = n−p , onde p > 0. Observe que as seqüências abaixo não convergem: 1, −1, 1, −1, . . . = ((−1)n ); 2 1, 2, 3, 4, 5, . . . = (n). Muitas vezes, os an são dados por uma expressão da forma an = f (n), onde f é uma função definida para todos os números reais positivos. Por exemplo, se an = 1/n, então podemos tomar f (x) = 1/x. Nem sempre reconhecemos os termos de uma sequência sob esta forma, como no caso das sequências {(−1)n } e { nn!n }; no entanto, muitas vezes isto é possı́vel, e então é útil observar o seguinte fato, relacionando limites de sequências a limites no infinito de funções: • Se lim f (x) = L, então lim f (n) = L x→∞ n→∞ Isto é consequência direta das definições de limite para funções e para seq uências. Exercı́cio. Calcule o limite das seguintes sequências: an = 1 sen n ln(n) ; an = n1/n ; an = ; an = (1 + 1/n)n ; an = p n n n (no último item, p é um número positivo fixado.) Exercı́cio. Prove que se a é um número real qualquer, a n lim 1 + = ea . n→∞ n Como no caso de limites de funções, com muita frequência se calculam limites de sequências a partir de limites já conhecidos, utilizando as propriedades do limite em relação às operações elementares. Listamos abaixo estas propriedades; as demonstrações serão omitidas. Se lim an e lim bn existem, então n→∞ n→∞ • lim (an + bn ) = lim an + lim bn n→∞ n→∞ n→∞ • lim (an bn ) = ( lim an )( lim bn ) n→∞ n→∞ n→∞ lim an an = n→∞ lim bn n→∞ bn n→∞ • Se lim bn 6= 0 então lim n→∞ Sequências crescentes e decrescentes: No caso em que a sequência {an } é crescente, isto é, an ≤ an+1 para todo n, temos o seguinte critério para convergência: • Uma sequência crescente é convergente se e somente se ela é limitada superiormente. Por sequência limitada superiormente entendemos uma sequência para a qual existe uma constante M tal que an ≤ M para todo n. Se a sequência é crescente, o menor de tais números M é precisamente o limite desta sequência - faça uma figura para se convencer disto; a demonstração formal deste fato será omitida. Temos um resultado análogo para sequências decrescentes (enuncie-o). OBS. No livro de James Stewart há uma terminologia usada incorretamente, que aproveitamos para corrigir: uma sequência é dita monótona se é crescente ou decrescente. 3 Assim, reformulamos os resultados anteriores como: “uma sequência monótona é convergente se e somente se é limitada.” Note também que em alguns textos chama-se (an ) de sequência crescente se an < an+1 para todo n; aqui preferimos chamar tais sequências de estritamente crescentes. Exercı́cio. Dê exemplo de: (i) sequência limitada que não é convergente; (ii) sequência crescente que não é convergente; (iii) sequência convergente que não é crescente nem decrescente. Por outro lado, justifique: toda sequência convergente é limitada. q p √ √ p √ Exercı́cio. Prove que a sequência 2, 2 2, 2 2 2, . . . é crescente e limitada superiormente, e portanto convergente.√A seguir, use o fato que os termos da sequência são dados recursivamente por an+1 = 2an para calcular o limite da sequência. (Note que para uma sequência convergente (an ) qualquer, lim an+1 = lim an .) n→∞ n→∞ Séries numéricas. Voltamos agora ao problema de aproximar uma função por seu polinômio de Taylor Pn (x) = a0 + a1 x + a2 x2 + . . . + an xn . Para cada x fixado, nos perguntamos se a sequência (sn ) = (Pn (x)) converge para f (x). Por sua vez, cada termo da sequência (sn ) pode ser construı́do a partir da sequência bn = an xn : temos sn = b0 + b1 + . . . bn . Isto P motiva, mais geralmente, a seguinte definição: Dada uma sequência (bn ), escrevemos ∞ 0 bn para denotar o limite das somas parciais sn = b0 + b1 + . . . bn . Portanto ∞ X bn = lim sn . n→∞ n=0 P∞ Caso este limite não exista, dizemos que 0 bn diverge. P b como uma série infinita, ou “soma infinita”. Sem dúvida Nos referimos a ∞ 0 n isto é um abuso de notação: esta expressão é definida como um limite de somas (as somas parciais), visto que não faz sentido somar uma quantidade infinita P∞de números. O número bn é chamado n−ésimo coeficiente ou n−ésimo termo da série 0 bn . Usando esta nova terminologia, repomos nossa questão central da seguinte forma: a série ∞ X f (n) (0) n x , n! 0 chamada série de Taylor de f (x) em torno de x = 0, converge para f (x)? Antes de tratarmos do assunto especı́fico de séries de Taylor, consideraremos inicialmente as séries numéricas gerais. De importância fundamental no nosso estudo são as séries geométricas ∞ X rn . n=0 Aqui, r é um número real fixado. Para investigarmos a convergência desta série, consideramos a n-ésima soma parcial sn = 1 + r + r2 + . . . rn . Como rsn = r + r2 + . . . + rn + rn+1 , então subtraindo estas relações obtemos (para r 6= 1) sn = 1 − rn+1 . 1−r 4 Usando esta fórmula, podemos concluir: P∞ • Se |r| < 1, a série geométrica converge e rn = n=0 1 ; 1−r • Se |r| ≥ 1, a série geométrica diverge. Propriedades elementares de séries convergentes. A partir do conhecimento de algumas séries convergentes, é possı́vel construir várias outras em vista das seguintes propriedades: I. Se P∞ n=0 an e P∞ n=0 bn convergem, então P∞ n=0 (an + bn ) também converge, e vale ∞ ∞ ∞ X X X (an + bn ) = an + bn . n=0 II. Se P∞ n=0 n=0 n=0 an converge e c é uma constante, então ∞ X can = c n=0 ∞ X P∞ n=0 can converge e an . n=0 Vamos verificar P∞propriedade; a verificação da segunda é deixada como exercı́cio. P a primeira a e Suponha que ∞ n n=0 bn convergem. Se sn = a0 + . . . + an e tn = b0 + . . . bn são as n=0 sequências de somas parciais destas séries, então por definição de convergência de séries, ∞ X ∞ X an = lim sn , n→∞ n=0 Mas a n-ésima soma parcial da série P∞ bn = lim tn . n→∞ n=0 n=0 (an + bn ) é un = (a0 + b0 ) + (a1 + b1 ) + . . . + (an + bn ) = (a0 + a1 + . . . an ) + (b0 + b1 + . . . + bn ) = sn + tn , e assim lim un = lim sn + lim tn , n→∞ isto é, ∞ X n→∞ (an + bn ) = n=0 ∞ X n=0 n→∞ an + ∞ X bn n=0 . Uma condição P necessária para a convergência de uma série. Observamos agora que para uma série ∞ n=0 an ser convergente, é necessário que o termo geral convirja para zero. P • Se ∞ n=0 an converge, então limn→∞ an = 0. P De fato, podemos escrever o termo geral an como an = sn − sn−1 . Se ∞ n=0 an converge, então por definição limn→∞ sn existe; chame este limite L. Então também temos limn→∞ sn−1 = L, e portanto limn→∞ an = L − L = 0. 5 Note entretanto que a recı́proca do resultado que acabamos de provar não é verdadeira. A série harmônica ∞ X 1 n=0 n fornece um exemplo de uma série divergente, apesar do termo geral convergir para zero. (A divergência desta série será provada em aula.) O resultado anterior é útil como uma condição suficiente para provar que uma série diverge, pois podemos reformulá-lo como segue: P • Se limn→∞ an 6= 0, então ∞ n=0 an diverge. Exercı́cio. Verifique que as seguintes séries divergem: ∞ X n=0 1/n n ; ∞ X 1 n sen . n n=0 Séries com termos positivos P Suponha agora que ∞ n=0 an é uma série com an ≥ 0 para todo n. Então a sequência de somas parciais s = a0 + a1 + . . . + an é crescente, e portanto a condição para que n P∞ n=0 an convirja é que a sequência de somas parciais seja limitada. Expressamos isto mais informalmente do seguinte modo: P • Se an ≥ 0 para todo n, então ∞ n=0 an é convergente se e somente se é limitada. Observe que neste enunciado basta supor que an ≥ 0 para n suficientemente grande; pois se an ≥ 0 para n ≥ N , então podemos escrever cada soma parcial sn (n ≥ N ) sob a forma k + aN + aN +1 + . . . + an , onde k = a0 + . . . + aN −1 , e P a convergência da série original é equivalente à convergência da série de termos positivos ∞ n=N an . Em vários resultados que enunciaremos a seguir, que dizem respeito a convergência de séries, podemos substituir uma frase do tipo “an satisfaz a propriedade P para todo n” por “an satisfaz a propriedade P para todo n suficientemente grande.” Deixamos a cargo do aluno fazer estas generalizações em cada caso. Exemplo. A série P∞ n=1 1/n2 é convergente. Como os termos são positivos, basta ver que a soma é limitada. Para ver isto, agrupe os termos da seguinte forma: 1 + 1/22 + (1/32 + 1/42 ) + (1/52 + 1/62 + 1/72 + 1/82 ) + (1/92 + . . . + 1/162 ) + . . . . Como todos os termos em cada parêntesis são menores que o termo precedendo imediatamente o parêntesis, vemos que esta soma é menor que 1 + 1/4 + 2.1/22 + 4.1/42 + 8.1/82 + . . . = 1/4 + 1 + 1/2 + 1/22 + 1/23 + . . . = 1/4 + 2 = 9/4; na penúltima desigualdade usamos que a série geométrica para r = 1/2 vale 2. Assim, a série P 2 de termos positivos ∞ n=1 1/n é limitada e conseqüentemente convergente. Observe que este método de provar convergência é indireto: não nos indica o valor da série, mas apenas uma estimativa superior (9/4 neste caso.) 6 P∞ OBS. O valor desta série foi calculado pela primeira vez por Euler: n=1 1/n 2 = π 2 /6. O teste da comparação. Podemos provar a convergência de uma série de termos positivos “comparando” com uma série convergente conhecida. Mais precisamente temos o “teste da comparação”: P P∞ • Suponha que ∞ 0 bn converge. Se 0 ≤ an ≤ bn para todo n, então 0 an converge. Isto é uma consequência imediata do resultado anterior; pois como an ≤ bn , temos para as somas P parciais a0 + a1 + . . . + an ≤ b0 + b1 + . . . + bn e então ∞ 0 an é uma série de termos positivos P∞ P∞ limitada pelo número 0 bn ; portanto, 0 an converge. Temos o seguinte resultado para verificar que uma série de termos positivos diverge: P P∞ • Suponha que ∞ 0 an diverge. Se 0 ≤ an ≤ bn para todo n, então 0 bn diverge. Isto claramente é equivalente ao teste da comparação enunciado acima. Exercı́cio. Verifique se as seguintes séries são convergentes ou divergentes, e prove a sua afirmação: ∞ X arctg n 1 n4 ; ∞ X 2 1 ; (ln n)2n ∞ X 2 ∞ X n1/n ; (ln n)2n 1 1 ; (2n)! ∞ X ln n 1 n3 ; ∞ X ln n 1 n ; ∞ X 1 √ . n 1 Exercı́cio. Defina uma expansão decimal da forma n. a1 a2 a3 · · · (onde n, ai são números inteiros e 0 ≤ ai ≤ 9) em termos de uma série, e prove que esta série é convergente, por meio de comparação com uma série geométrica. Portanto a expressão acima de fato define um número real. Exercı́cio. (a) Prove que 0, 333 · · · = 1/3; (b) Prove que 0, 999 · · · = 1; (c) Expresse 2, 13271271271271 · · · como uma fração. Convergência absoluta. O critério da comparação se aplica apenas para série de termos positivos. Quando a série não é desta forma, muitas vezes (mas nem sempre!) podemos reduzir o problema de convergência da série a um problema de convergência de séries de termos positivos, em vista do resultado seguinte: Teorema. Se P∞ 0 |an | converge, então P∞ 0 an converge. P P∞ P∞ Quando uma série ∞ 0 an é tal que 0 |an | converge, dizemos que 0 an converge absolutamente. Em vista desta definição, podemos reenunciar o teorema como se segue: Teorema. Se P∞ 0 an é absolutamente convergente, , então Demonstração. Observe que 0 ≤ an + |an | ≤ 2|an |. 7 P∞ 0 an é convergente. P Assim, como por hipótese P ∞ da comparação para 0 |an | converge, temos pelo testeP ∞ séries com termos positivos que 0 (an +|an |) converge. Mas então ∞ 0 an é convergente, pois podemos expressar esta série como soma de duas séries convergentes: ∞ X ∞ ∞ X X an = (an + |an |) − |an |. 0 0 0 Exercı́cio. Prove que as seguintes séries são convergentes: ∞ X (−1)n+1 1 n2 ; ∞ X cos n n2 1 ; ∞ X ln n + (−1)n+1 n 1 n3 Observamos, entretanto, que uma série pode convergir sem que convirja absolutaP (−1)n converge, embora não convirja mente. Mostraremos adiante, por exemplo, que ∞ 1 n absolutamente. P∞ O teste da raiz. Um método importante para provar 0 an converge P∞que uma série absolutamente consiste em tentar comparar a série 0 |an | com uma série geométrica P∞ n r com 0 < r < 1. 0 Em suma, se conseguirmos mostar que para uma certo r com 0 < r < 1, |an | ≤ rn , P∞ então como aquela série geométrica converge, vemos pelo teste da comparação que 0 |an | P∞ converge, isto é, 0 an converge absolutamente. De fato, basta que a desigualdade acima valha P para n suficientemente grande (pois como já observamos, verificar a convergência de ∞ 0 |an | é P∞ equivalente a verificar a convergência de k |an |.) Podemos reformular nossa conclusão do seguinte modo: 1 • Se |an | n ≤ P r para todo n suficientemente grande, onde r é uma constante positiva < 1, então ∞ 0 an converge absolutamente. No entanto, este resultado é mais facilmente aplicado sob a seguinte forma, usualmente chamado “teste da raiz”: 1 Teorema. Suponha que L = lim |an | n existe. Então: n→∞ P (a) Se L < 1, a série P∞ 0 an converge absolutamente (em particular, ela converge); (b) Se L > 1, a série ∞ 0 an diverge. 1 O item (a) é consequência do resultado enunciado anteriormente; de fato, se limn→∞ |an | n = L < 1, e se r é qualquer número tal que L < r < 1, então a definição de limite implica que 1 |an | n < r para n suficientemente grande (por quê? justifique!) e então podemos usar o resultado anterior. 1 O item (b) segue do fato que, se L > 1, temos similarmente que |an | n > 1 para n suficientemente grande, ou seja |an | > 1; em particular não pode ser verdade que limn→∞ an = 0, e portanto a série diverge. P∞ 1 P∞ 1Observe que o teorema não nos dá informação quando L = 1, como as séries 0 n e 0 n2 mostram: para ambas as séries, obtemos L = 1 (verifique isto), mas a primeira di1 verge e a segunda converge. O teorema também não dá nenhuma informação se lim |an | n n→∞ 8 não existir. Exercı́cio. Use o teste da raiz para verificar se as seguintas séries convergem: n ∞ ∞ ∞ X X X (−2)n (−2)n 3n − 5 ; ; n2 nn 7n − 8 1 1 1 O teste da razão. Outro teste muito importante, e muitas vezes mais facilmente aplicável que o teste da raiz, é o teste da razão enunciado a seguir. Teorema. Suponha que a série P∞ 0 an é tal que L = lim | n→∞ an+1 | an existe. Então: (a) Se L < 1, a série converge (absolutamente); (b) Se L > 1, a série diverge. Como no teste da raiz, o caso L = 1 não nos dá nenhuma informação. Demonstração do teste da razão. (a) Suponha L < 1, e seja r um número satisfazendo L < r < 1. Para n suficientemente grande | < r, isto é, |an+1 | < r|an |. Por simplicidade suponha que isto vale para todo n temos |a|an+1 n| (senão, P se isto vale a partir de n = k, observe que basta verificar a convergência ou divergência de ∞ k an , e então podemos P∞ reindexar os ı́ndices desta série: b0 = ak , b1 = ak+1 , . . . e aplicar o argumento abaixo para 0 bn .) Portanto |a1 | < r|a0 |, |a2 | < r|a1 | < r2 |a0 |, . . . , |an | < rn |a0 |. P∞ n P∞ n P Assim, a série ∞ 0 r (que é uma 0 r |a0 | = |a0 | 0 |an | pode ser comparada com a série série geométrica convergente, já que tomamos r com 0 ≤ r < 1.) O teste da comparação agora P nos garante que ∞ 0 |an | converge. A demonstração do item (b) é similar àquela para o teste da raiz e será omitida. Exercı́cio. Use o teste da razão para verificar se as seguintes séries são convergentes ou divergentes: ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ X X X X X n! en n2 an nn ; ; ; ; . n n e n! 2 n! n! 0 0 0 0 0 No penúltimo item, a é uma constante qualquer. Você verificará que esta série converge, qualquer que seja a constante a. Se lembrarmos agora que a série de Taylor para ex em torno de x = 0 é dada por ∞ X xn n=0 n! , concluı́mos o seguinte: a série de Taylor de ex é convergente para todo x ∈ R. Observe que não mostramos ainda, no entanto , que a soma da série é de fato igual a ex . 9 Ainda estudaremos, ao longo destas notas, outros testes de convergência para séries numéricas: o teste para séries alternadas (teste de Leibniz), o teste da integral e o segundo teste da comparação. Porém, o que aprendemos até o momento já é suficiente para analisarmos as séries de potências, um capı́tulo de suma importância em nosso estudo, e em especial as séries de Taylor. III. SÉRIES DE POTÊNCIAS Uma série de potências é uma expressão da forma ∞ X an x n , n=0 onde a0 , a1 , a2 , . . . são constantes. Por exemplo, a série de Taylor em torno da origem de uma função f (x) é uma série de potências. A pergunta relevante aqui é a seguinte: Q. Para que valores de x a série de potências P∞ n=0 an xn converge? É óbvio que a série converge quando x = 0; portanto é natural perguntar se a série de potências converge para algum x 6= 0, e em caso afirmativo qual é o conjunto de todos os tais números (a “região de convergência” da série.) Por exemplo, já vimos que a série geométrica ∞ X xn n=0 converge para |x| < 1, e a série de Taylor de ex converge para todo x. Exercı́cio. Verifique para que valores de x as seguintes séries de potências convergem: P n nx ; (a) P∞ n=0 ∞ n (b) P n=0 x /n2 ; n n (c) P∞ n=0 n x ; n! (d) P ∞ n=0 x ∞ (e) n=0 (−1)n xn (f) A série de Taylor para f (x) = cos x em torno da origem. Sugestão: primeiro veja que informação podemos obter pelo teste da razão ou da raiz; a seguir, examine separadamente a convergência para aqueles valores de x tais que o teste usado não dá informação. P n Teorema. Dada uma série de potências ∞ n=0 an x , uma das seguintes situações ocorre: (a) A série de potências diverge para todo x 6= 0, ou (b) A série de potências converge (absolutamente) para todo x, ou (c) Existe uma número R > 0 tal que a série converge (absolutamente) para |x| < R e diverge para |x| > R. O número R é chamado raio de convergência e o intervalo (−R, R) é o intervalo (aberto) de convergência da série de potências. No caso (a) pomos R = 0, e no caso (b) 10 R = ∞. Assim, o raio de convergência da série geométrica é R = 1, e o da série de Taylor para ex é R = ∞. Note que no caso (c) acima, o conjunto de todos os pontos em que a série converge pode ser da forma (−R, R), [−R, R), (−R, R] ou [−R, R]. Exercı́cio. Qual é o raio de convergência de cada série no exercı́cio anterior? Diferenciação e integração de séries de potências. Se uma série tem raio de convergência R > 0, podemos considerar a função f (x) = ∞ X P∞ n=0 an xn de potências an xn para |x| < R. n=0 O resultado a seguir (cuja demonstração técnica é omitida) nos diz que a derivada de f (x) é obtida derivando a série termo a termo, e que a integral indefinida é obtida integrando termo a termo. P n Teorema. Suponha que a série de potências ∞ n=0 an x tem raio de convergência R > 0. Então ! ∞ ∞ X d X nan xn−1 para |x| < R. an x n = dx n=0 n=1 ! Z X ∞ ∞ X an an x n = xn+1 + C para |x| < R. n + 1 n=0 n=0 Além disso, os raios de convergência das séries ∞ X nan xn−1 e n=1 ∞ X an n+1 x n + 1 n=0 são iguais a R. Como uma consequência da diferenciação termo a termo, obtemos o seguinte fato: se uma função é definida em um certo intervalo por uma série de potências, então os coeficientes desta série de potências são unicamente determinados. Teorema. f (x) admite duas representações como séries de potências, f (x) = PSe ∞ e f (x) = n=0 bn xn , então an = bn para todo n. De fato, temos an = P∞ n=0 an x n f (n) (0) . n! A demonstração é similar à que demos, no inı́cio das notas, para a determinação dos coeficientes para polinômios de Taylor. Vamos mostrar agora uma aplicação destes dois teoremas na determinação das séries de Taylor de algumas funções básicas. Primeiro note que podemos interpretar a igualdade 1 + x + x2 + x 3 + . . . + xn + . . . = 11 1 1−x para |x| < 1 P 1 n como o fato que a série de Taylor para f (x) = 1−x em torno de x = 0 é ∞ n=0 x . Você pode verificar isto calculando os coeficientes da série de Taylor em termos das derivadas 1 , mas é mais simples observar que como a série geométrica é uma série de potências de 1−x 1 que é igual a 1−x (no intervalo (−1, 1)), então pelo teorema anterior ela é necessariamente 1 . a série de Taylor para 1−x P P∞ 1 1 n n n n Segue que a série de Taylor para 1+x é ∞ n=0 (−1) x e vale 1+x = n=0 (−1) x para | − x| < 1, isto é, |x| < 1. Similarmente, calculando esta expressão em x2 , vemos que ∞ X 1 = (−1)n x2n para |x| < 1 1 + x2 n=0 (pois a condição |x2 | < 1 é equivalente a |x| < 1. ) Agora, se integrarmos termo a termo, obtemos ∞ X (−1)n 2n+1 x3 x5 x7 x =x− + − + ... arctgx = 2n + 1 3 5 7 n=0 para |x| < 1. (a constante de integração deve ser nula pois arctg 0 = 0.) Note que não só calculamos a série de Taylor para arctgx, mas também provamos que a série converge para a função no intervalo (−1, 1) (o intervalo de convergência da série.) Compare isto com o que provamos até o momento para a série de Taylor de ex : vimos que ela converge, mas não obtivemos ainda que a soma é igual a ex . Atenção. Observe que, apesar da função arctgx estar definida para todo x, não temos a igualdade desta função com sua série de Taylor para todo x; de fato, como o raio de convergência da série de potências obtida é 1, a série diverge para |x| > 1 e a identidade vale apenas para |x| < 1. Muita atenção ao manipular com séries de potências como fizemos acima: em cada etapa, é necessário entender para que valores de x a identidade considerada é válida. Na verdade pode-se provar que a igualdade x− x3 x5 x7 + − + . . . = arctgx 3 5 7 também vale para x = 1, −1. (Isto não é óbvio, e omitiremos a explicação.) Como arctg 1 = π/4, obtemos a notável identidade π 1 1 1 = 1 − + − + ... 4 3 5 7 Exercı́cio. Raciocinando nas mesmas linhas, obtenha a série de Taylor para ln(1 + x) em torno de x = 0. Qual é o raio de convergência R desta série? Prove, usando os teoremas anteriores, que a série de Taylor para ln(1 + x) converge para esta função no intervalo (−1, 1). Admitindo que a expansão também vale para x = 1 (o que é válido, mas não será provado aqui), obtenha uma expressão para ln 2 como uma série numérica. Exercı́cio. Calcule o valor das séries (para |x| < 1): ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ X X X X n X n2 − n X n2 nxn−1 ; nxn ; n(n − 1)xn ; ; ; . n n n 2 2 2 n=1 n=1 n=1 n=1 n=1 n=1 12 Exercı́cio. Calcule a série de Taylor em torno de x = 0 para as funções abaixo, assim como o raio de convergência da série: Z x ln(1 + x) x3 2 e−t dt; h(x) = ; f (x) = x arctgx; g(x) = . p(x) = 1+x x 0 (Com respeito a esta última função, que a princı́pio não está definida em x = 0, observe que é natural defini-la aı́ pondo h(0) = 1; por quê?) Séries de potências centradas em x = c. Mais geralmente, uma expressão da forma ∞ X an (x − c)n n=0 (onde c é uma constante) é chamada uma série de potências centrada em x = c. O raio de convergência da série é o número R com a seguintes propriedade: a série converge (absolutamente) para |x−c| < R e diverge para |x−c| > R. Portanto o intervalo (aberto) de convergência agora é (c − R, c + R), isto é, o intervalo de raio R centrado em c. Se f (x) é uma função infinitamente diferenciável, podemos definir sua série de Taylor em torno de x = c de modo análgo ao que fizemos no caso c = 0: ∞ X f (n) (c) n=0 n! (x − c)n Para justificar esta definição, o aluno deve verificar a seguinte propriedade: a nésima soma parcial desta série é o polinômio de grau n que tem as mesmas derivadas em x = c que f (x), até a ordem n. (Repita o procedimento usado na primeira seção.) Assim como no caso c = 0, se uma função pode ser escrita como uma série de potências centrada em x = c, então esta representação da função é única, isto é, a série de potências considerada é necessariamente a série de Taylor da função em torno de x = c. Exercı́cio. Seja a um número real fixado. Calcule a série de Taylor de: (i) f (x) = ex 1 em torno de x = a; (ii) f (x) = em torno de x = a, para a 6= 0. Qual é o intervalo de x convergência da série? IV. APROXIMAÇÕES DE TAYLOR Dada uma função f (x), nos perguntamos se sua série de Taylor em torno de x = c coincide, no seu intervalo de convergência, com a função f . f (x) = ∞ X f (n) (c) n=0 n! (x − c)n ? P (k) Escrevendo Pn (x) = nk=0 f k!(c) (x − c)k (o n-ésimo polinômio de Taylor para f (x) em torno de x = c), definimos o resto de ordem n como Rn = f (x) − Pn (x). Portanto, f (x) = Pn (x) + Rn (x). 13 Para provar que a série de Taylor centrada em x = c de f (x) converge para f (x) num intervalo |x − c| < R, temos de provar que para cada x neste intervalo a sequência Pn (x) converge para f (x), e isto a equivalente a provar que lim Rn (x) = 0 para |x − c| < R. n→∞ Vamos procurar desenvolver métodos para tratar esta questão, dando estimativas para o resto. O seguinte resultado é bastante importante: ele expressa o resto por meio de uma integral. Aqui, supomos que f é uma função que admite derivadas de todas as ordens. Teorema de Taylor. Temos f (x) = f (c) + f 0 (c)(x − c) + f 00 (c) f (n) (c) (x − c)2 + . . . + (x − c)n + Rn (x), 2! n! onde Z x Rn (x) = c f (n+1) (t) (x − t)n dt. n! Ou seja, f (x) = Pn (x) + Rn (x), onde Rn (x) é dado pela expressão acima (chamada fórmula integral do resto.) A demonstração deste fato é obtida através de repetido uso de integração por partes; iniciamos observando, pelo teorema fundamental do cálculo, que Z x f 0 (t) dt. f (x) − f (c) = c Integramos por partes pondo u = f 0 (t), dv = 1 dt; porém tomamos v = t − x = −(x − t) em vez de v = t, e obtemos assim a igualdade expressa no teorema para n = 1. Integrando por partes novamente, obtemos a fórmula com n = 2, e assim sucessivamente. O aluno deverá completar os detalhes. A importância do teorema de Taylor está no fato que a expressão obtida para o resto nos permite muitas vezes estimar este resto. Vamos ilustrar isto para a expansão da função f (x) = ex em torno de x = 0 Exemplo. Seja f (x) = ex , c = 0. Então como f (n+1) (t) = et , temos Z x t e Rn (x) = (x − t)n dt. 0 n! Suponha por simplicidade que x > 0 (o caso x < 0 será omitido; procure completar o argumento neste caso). Como o integrando é positivo, temos Rn (x) > 0; além disso, como et ≤ ex para t ≤ x, temos Z x x Z x e (x − t)n n x Rn (x) ≤ (x − t) dt = e dt; n! 0 n! 0 calculando esta última integral, obtemos 0 ≤ Rn (x) ≤ 14 ex xn+1 . (n + 1)! Agora observe o seguinte limite: para qualquer x, xn = 0. n→∞ n! lim n (De fato, xn! é o termo geral da série de Taylor de ex , cuja convergência você provou, para todo x, em uma exercı́cio anterior; agora use o fato que se uma série é convergente, seu termo geral tem limite nulo.) Voltando à desigualdade para o resto, usando o limite acima e o teorema do confronto para limites, obtemos limn→∞ Rn (x) = 0. Assim provamos: ex = 1 + x + xn x2 + ... + ... 2! n! para todo x : A série de Taylor de ex em torno de 0 converge para ex para todo número real x. Observe ainda que, dado n, somos capazes de estimar o erro ao aproximar ex por Pn (x). Por exemplo: temos, pondo x = 1, a fórmula ∞ X 1 e= . n! 0 Se agora tomamos uma soma parcial sn = 1 + 1 + 1 1 1 + + ... , 2! 3! n! temos, pela desigualdade acima para o resto, 0 < e − sn < e (n+1)! < 3 . (n+1)! Exercı́cio. (Use uma calculadora - mas apenas para fazer somas, multiplicações e divisões...) Calcule e com um erro menor que 10−7 . Usando como modelo nosso estudo de ex acima, faça os exercı́cios seguintes: Exercı́cio. Prove que para as seguintes funções f (x) a série de Taylor em torno de x = 0 converge para f (x): (a) f (x) = cos x; (b) f (x) = sen x. Exercı́cio. Obtenha uma cota superior para o maior erro possı́vel do polinômio de Taylor de grau n (em torno de x = 0) que aproxima cos x no intervalo [0, 1]. Exercı́cio. Qual é o grau do polinômio de Taylor que você precisa para calcular cos 1 com precisão de quatro casas decimais? E com seis casas decimais? Séries alternadas. Uma série é dita alternada se seus termos são alternadamente positivos e negativos. Portanto uma série alternada pode ser da forma b0 − b1 + b2 − b3 + . . . onde bn ≥ 0 para todo n, ou da forma −c0 + c1 − c2 + c3 + . . . onde cn ≥ 0 para todo n. 15 No que segue, vamos supor que a série é do primeiro tipo; note que o termo geral da série é an = (−1)n bn . Obviamente, uma série do segundo tipo é o negativo de uma série do primeiro tipo. Observe que várias das séries de Taylor que você calculou são alternadas: as séries para cos x, sen x são alternadas para todo x, enquanto que a série para ex é alternada apenas para x negativo; a série de arctg x é alternada (mas convergente apenas para |x| ≤ 1), etc. Teorema (Teste de Leibniz). Suponha que uma série alternada ∞ X (−1)n bn (bn ≥ 0) 0 satisfaz : (i) bn ≥ bn+1 para todo n (ou para n suficientemente grande); (ii) limn→∞ bn = 0. Então a série converge. Exemplo. A série ∞ X (−1)n 0 1 1 1 1 1 = 1 − + − + − ... n+1 2 3 4 5 cumpre os requisitos deste teorema, portanto converge. Observe que temos então um exemplo de uma série que é convergente mas não é absolutamente convergente, tendo em vista que a série harmônica diverge. A demonstração do teorema se baseia no fato que as somas parciais de ordem ı́mpar s1 , s3 , s5 , . . . formam uma sequência crescente e limitada superiormente, enquanto as somas parciais de ordem par s0 , s2 , s4 . . . formam uma sequência decrescente e limitada inferiormente. De fato, para verificar a segunda afirmação, por exemplo, observe que s2n+2 −s2n = −b2n+1 +b2n+2 ≤ 0, tendo em vista que os bn formam uma sequência decrescente, por hipótese. Logo s2(n+1) ≤ s2n . Além disso, observe que s2n = (b0 − b1 ) + (b2 − b3 ) + . . . (b2n−2 − b2n−1 ) + b2n ≥ 0 + 0 + . . . + 0 + 0 = 0; assim, {s2n } é decrescente e limitada inferiormente (por 0, por exemplo). Similarmente, as somas parciais s2n+1 formam uma sequência crescente limitada superiormente (por b0 , por exemplo). Ambas as sequências acima portanto convergem, digamos para limites L1 e L2 . Como todos os somas parciais do tipo s2n+1 estão à esquerda das somas parciais do tipo s2n (por quê?), devemos ter s2n+1 ≤ L1 ≤ L2 ≤ s2n . Mas a diferença entre s2n e s2n+1 tende a zero, pois s2n+1 − s2n = −b2n+1 → 0 (pela hipótese do teorema); assim, como 0 ≤ L2 − L1 ≤ s2n − s2n+1 , devemos ter L2 = L1 . Portanto a sequência sn converge para L = L1 = L2 , isto é, a série P∞ n CQD. 0 (−1) bn converge. O resultado seguinte nos dá uma maneira simples de estimar o resto da aproximação de certas séries alternadas por meio de suas somas parciais. Estimativa do resto para série alternadas. Considere uma série alternada satisP∞ fazendo as hipóteses do teorema anterior. Então, se 0 (−1)n bn = L, temos a seguinte 16 estimativa para o resto Rn = L − sn da aproximação de L pela n-ésima soma parcial sn : |Rn | ≤ bn+1 . Suponha, por exemplo, que n é par. Então, como observamos antes, sn+1 ≤ L ≤ sn , e portanto |Rn | = |sn − L| ≤ |sn − sn+1 | = bn+1 . O caso n ı́mpar é similar. Exemplo. Estime e−1 com erro inferior a 10−3 . Solução. Expressando a igualdade de ex com sua série de Taylor para x = −1, obtemos e −1 = ∞ X (−1)n n! 0 =1−1+ 1 1 1 − + − .... 2! 3! 4! Observe que se trata de uma série alternada com bn = de Leibniz são satisfeitas (verifique!). Temos b7 = 1 , n! e que as hipóteses do teste 1 1 1 = < = 0, 0002. 7! 5040 5000 Assim, a diferença entre e−1 e s6 é menor, em valor absoluto, que 0, 0002: |e−1 − s6 | ≤ b7 < 0, 0002. Calculando s6 , temos s6 = 1 1 1 1 1 − + − + = 0, 3680 . . . ; 2 6 24 120 720 assim, este é o valor aproximado para e−1 com erro menor que 0, 0002 (em particular, menor que 10−3 ). Exercı́cio. Calcule ln(3/2) com erro inferior a 0, 01 (sugestão: considere a série de Taylor para ln(1 + x) que você calculou anteriormente.) R1 2 Exemplo. Calcule 0 e−x dx com erro menor que 0, 001. Solução. Usando a expansão de Taylor de ex calculada em −x2 , obtemos 2 e−x = 1 − x2n x2 x4 x6 + − + . . . + (−1)n + ... 1! 2! 3! n! Esta expansão é válida para todo x (por quê?) Integrando termo a termo, obtemos Z x x3 x5 x7 x2n+1 2 e−t dt = x − + − + . . . + (−1)n + .... 3.1! 5.2! 7.3! (2n + 1).n! 0 Pondo x = 1, obtemos Z 1 1 1 1 (−1)n 2 e−t dt = 1 − + − + ... + + .... 3.1! 5.2! 7.3! (2n + 1).n! 0 Esta é uma série alternada com bn = 1 . (2n + 1)(n!) 17 Como 0 < bn < n1 , claramente temos limn→∞ bn = 0; além disso, como (2n + 3).(n + 1)! > (2n + 1).n!, temos bn+1 < bn . Assim, as hipóteses do teorema para séries R 1 alternadas 2 são todas satisfeitas, e podemos concluir que o erro da aproximação de 0 e−x dx pela n-ésima soma parcial da série acima é menor que bn+1 . Portanto, se consideramos a soma parcial para n = 6, por exemplo: 1 1 1 1 + − + = 0, 7475 . . . 3.1! 5.2! 7.3! 9.4! 1 1 temos que o erro é menor que 11.5! = 1320 < 0, 001, como desejamos. R1 2 (Observe que podemos concluir, por exemplo, que a expansão decimal de 0 e−x dx R1 2 começa com 0, 74 . . .; isto é, este é o valor de 0 e−x dx com precisão de duas casas decimais.) 1− Exercı́cio. Calcule R1 0 sen (x2 ) dx com precisão de três casas decimais. A série binomial. Concluiremos nossas notas com um exemplo muito importante: a série binomial, descoberta por I. Newton. De fato, estamos aqui revertendo a ordem histórica: originalmente, a série binomial foi descoberta por Newton sem fazer uso da série de Taylor (então desconhecida). De certa forma, foi o estudo da série binomial uma das motivações de Newton no desenvolvimento do cálculo, daı́ sua importância histórica. Com o nosso conhecimento de séries de Taylor, porém, obteremos um caminho mais rápido e simples que o de Newton para expandir a função (1 + x)k em série de potências. Aqui, não estamos supondo que k é uma inteiro positivo! O argumento a seguir funciona para qualquer valor real de k (podendo ser inclusive negativo.) Teorema. Seja k um número real. A série de Taylor para f (x) = (1 + x)k em torno de x = 0 (chamada série binomial) é 1+ ∞ X k(k − 1) . . . (k − n + 1) n! n=1 xn ; seu raio de convergência é R = 1, e a série de Taylor converge para f (x) no intervalo (−1, 1). Observe que quando k é um inteiro positivo, podemos escrever o n-ésimo coeficiente da série acima como k! = kn . (k − n)!n! Neste caso, os termos da série são todos nulos para n > k,e a igualdade de (1 + x)k com sua série de Taylor nada mais é do que a fórmula do binômio de Newton aprendida na escola. Note que se definirmos, motivados pelo caso que acabamos de discutir, k n = k(k − 1) . . . (k − n + 1) n! 18 para n ≥ 1; k 0 =1 qualquer queP seja aconstante real k, então a série binomial do teorema pode ser escrita k n sob a forma ∞ n x . 0 Para verificarmos o teorema, primeiro calculamos as derivadas de f (x): f (n) (x) = k(k − 1) . . . (k − n + 1)(1 + x)k−n . Obtemos então para os coeficientes da série de Taylor: f (n) (0) k(k − 1) . . . (k − n + 1) an = = . n! n! Assim, obtemos a fórmula para a série de Taylor dada no enunciado do teorema. Para calcular o raio de convergência, usaremos o teste da razão. Observe que o termo geral xn+1 da série é an xn , logo para aplicarmos este teste temos de estudar o limite de | an+1 |= an xn | an+1 x|. Temos an |an+1 | |k(k − 1) . . . (k − n)| n! |k − n| |x| = |x| = |x|; |an | (n + 1)! |k(k − 1) . . . (k − n + 1)| n+1 Como k é uma constante, vemos que o limite desta expressão quando n → ∞ é L = |x|. O teste da razão nos diz que a série converge se L < 1 e diverge se L > 1; ou seja: a série binomial converge para |x| < 1 e diverge para |x| > 1. A convergência da série nos casos em que o teste não dá informação, ou seja, para x = 1 e x = −1, depende do valor de k e não será tratada aqui. A demonstração de que a série binomial de fato converge para (1 + x)k para |x| < 1 será omitida; a estimativa do resto pela fórmula integral é mais técnica que aquela feita para ex nas notas. Exercı́cio. Expanda (8 + x)1/3 em série de potências. Então use-a para calcular (8, 2)1/3 com erro menor que 0, 0001. Exemplo. Como Newton calculava... Newton fez uso extensivo da série binomial; a partir desta série ele calculou expansões para diversas funções. Vamos exemplificar o método de Newton calculando a série de Taylor de f (x) = arcsenx (−1 < x < 1) em torno de x = 0. Primeiro notamos que f 0 (x) = √ 1 = (1 − x2 )−1/2 , 2 1−x que é uma função da forma estudada anteriormente com k = −1/2, mas calculada em −x2 . P 2 n Assim, f 0 (x) pode ser expandida numa série da forma ∞ 0 an (−x ) , onde a0 = 1 e, para n ≥ 1, an = (−1/2)(−1/2 − 1)(−1/2 − 2) . . . (−1/2 − n + 1) , n! ou seja an = (−1/2)(−3/2)(−5/2) . . . ((−2n + 1)/2)(−1)n . n! 19 Esta expansão é válida para | − x2 | < 1, isto é, para |x| < 1. Como (−x2 )n = (−1) x , obtemos n 2n (1 − x2 )−1/2 = 1 + ∞ X 1.3.5 . . . (2n − 1) n!2n n=1 x2n para |x| < 1. Agora, observando que Z arcsenx = x (1 − t2 )−1/2 dt, 0 e integrando termo a termo a expressão acima, obtemos arcsenx = x + ∞ X 1.3.5 . . . (2n − 1) n=1 n!2n (2n + 1) x2n+1 para |x| < 1. Os primeiro termos desta expansão são: arcsenx = x + x3 3 15 7 + x5 + x + ... 6 40 336 Observe que a partir desta fórmula, podemos obter as derivadas de qualquer ordem para arcsenx em x = 0. Por exemplo, comparando o sétimo coeficiente da série acima com a expressão geral dos coeficientes dados pela expansão de Taylor, obtemos que se f (x) = arcsen x, então 15 f (7) (0) = , 7! 336 e portanto f (7) (0) = 15.7! . 336 Exercı́cio. Calcule a série de Taylor de f (x) = para calcular f (10) (0). √ 1 + x2 em torno de x = 0. Use-a V. TESTES ADICIONAIS DE CONVERGÊNCIA PARA SÉRIES NUMÉRICAS Temos ainda os seguintes testes adicionais para verificar a convergência ou divergência de séries numéricas de termos positivos. O teste da integral • Se f : [k, ∞) → R é uma função P∞ contı́nua positiva e decrescente, então pondo an = f (n),R temos que a série n=k an é convergente se e somente se a integral ∞ imprópria k f (x) dx é convergente. Exercı́cio. Seja p > 0. (i) Prove que (ii) Investigue a convergência de ∞ X n=1 ∞ X 1 converge se p > 1 e diverge se p ≤ 1. p n n=1 1 na dependência de p. n(ln n)p 20 O teste da integral pode ser explicado por meio de um argumento geométrico; o aluno deve acompanhar o argumento a seguir por meio de figuras. Suponha que no enunciado k = 1, para fixar as idéias. Segue do fato que f é decrescente que o retângulo sobre o intervalo [n, n + 1] de altura an+1 = f (n + 1) está situado abaixo do gráfico de f . Comparando áreas, temos Rn a2 + a3 + · · · an ≤ 1 f (x) dx. Similarmente, o retângulo sobre o intervalo [n, n + 1] de altura Rn an = f (n) está situado acima do gráfico de f , e portanto a1 + a2 + · · · an−1 ≥ 1 f (x) dx. Se R∞ P mostra que as somas parciais de ∞ n=1 an são limi1 f (x) dx converge, a primeira desigualdade R∞ tadas superiormente (pelo número a1 + 1 f (x) dx, por exemplo) e portanto a série de termos R∞ P outro lado, se 1 f (x) dx diverge, a segunda desigualdade positivos ∞ n=1 an é convergente. Por P P∞ mostra que as somas parciais de n=1 an tendem a ∞ quando n → ∞, e portanto ∞ n=1 an diverge. P∞ EstimativaPdo erro. Suponha agora que n=1 an é convergente e aproximamos o seu ∞ valor s = n=1 an por uma soma parcial sn = a1 + a2 + · · · an ; queremos estimar o erro Rn = |s − sn | de tal aproximação. Sob as mesmas hipóteses exigidas no teste da integral, temos: R∞ • Rn ≤ n f (x) dx. Justificativa: Argumentando de modo similar à demonstração do teste da integral, observe (comR∞ parando áreas) que Rn = an+1 + an+2 + · · · ≤ n f (x) dx. Exemplo. RAo aproximarmos ∞ 1 ultrapassa 10 x14 dx = 3000 . P∞ 1 1 n4 por 1 + 1 24 + 1 34 + ··· + 1 , 104 o erro cometido não O “segundo teste da comparação” P∞ P∞ P • Sejam ∞ 0 bn converge. 0 bn séries de termos positivos. Suponha que 0 an e P∞ an Se lim = c para algum número real c, então 0 an converge. n→∞ bn A justificativa é baseada no fato que, como abnn está próximo de c para n grande, então se tomarmos um número M maior que c seguirá que para n suficientemente grande abnn < M , ou seja an < M bn . O resultado agora segue do teste da comparação usual. an bn = c e c 6= 0, então lim = 1/c e podemos concluir, n→∞ bn P∞ n→∞ an P pelo resultado anterior, que a convergência de 0 an implica na convergência de ∞ 0 bn . Assim: P P∞ an • Se ∞ lim = c para algum número 0 an e 0 bn são séries de termos positivos e n→∞ bn c 6= 0, então ambas as séries convergem ou ambas as séries divergem. ∞ ∞ X X n+3 1 √ Exercı́cio. Verifique se a série converge: (i) ; (ii) sen( ). Em cada 3 7 2 n n −n n=2 n=1 caso, perceba primeiro que não é claro como usar o (primeiro) teste da comparação; você então deve procurar uma série de termos positivos, cuja convergência ou divergência já seja conhecida, que possa ser comparada com a série dada no sentido do segundo teste da comparação. Por exemplo, para a série (i) deve ser útil comparar com a série ∞ ∞ X X n 1 √ = . Complete o argumento. 3 4/3 7 n n n=2 n=2 Note ainda que se lim 21