Capa Marcapasso: Campanha do DECA vai tirar dúvidas da população e chamar a atenção da opinião pública para a falta de investimento na área No dia 23 de setembro estimulistas e residentes voluntários de todo o Brasil vão promover o Dia do Portador de Marcapasso, uma campanha de utilidade pública que visa dar mais atenção e suporte para os milhares de brasileiros portadores de dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis, seus familiares e amigos. “Através da distribuição de cartilhas e explicações presenciais com o auxílio de painéis ilustrativos, pretendemos esclarecer a população sobre os principais dispositivos eletrônicos implantáveis cardíacos, suas indicações, cuidados pré e pós-operatórios, limitações para prática de esportes e possibilidades de interferências com celulares, e outros aparelhos eletrônicos”, afirma o presidente do DECA, Cláudio Fuganti. Paralelo a isso, a ação também tem o objetivo de alertar a opinião pública sobre a necessidade de melhorar o acesso dos pacientes que precisam desses dispositivos ao profissional médico, principalmente no Sistema Único de 6 Saúde, uma vez que atualmente muitas pessoas morrem na fila de espera por um implante. Segundo dados do Censo Mundial de Marcapassos e Desfibriladores, o Brasil perde nesses procedimentos para países vizinhos, como Argentina, Uruguai e Chile. Por aqui são implantados 190 marcapassos por milhão de habitantes, enquanto no Chile são 216, na Argentina 382, no Uruguai 578 e em Porto Rico 606 marcapassos por milhão de habitantes. Em países desenvolvidos esses números são ainda mais expressivos: 746 na Espanha, 762 em Portugal e 767 marcapassos por milhão de habitantes nos Estados Unidos. Na França são 1.019, na Itália 1.048 e na Alemanha 1.267. Mais de 30 cidades confirmaram participação no evento. “Estamos muito felizes com o empenho e comprometimento dos estimulistas de norte a sul do país. O dia 23 de setembro vai inaugurar um novo tempo de diálogo da nossa especialidade com a sociedade, além de chamar a atenção das autoridades para a necessidade de mais investimentos na área”, conclui Fuganti. Capa Mês de setembro é homenagem ao pioneiro da Estimulação Cardíaca nacional A escolha do mês de setembro para a realização do Dia do Portador de Marcapasso é uma homenagem ao Dr. Décio Kormann, que nasceu no dia 02/09 e é reconhecido por todos como o pioneiro da Estimulação Cardíaca nacional. Em 1974, criou, no Instituto Dante Pazzanese em São Paulo, a primeira residência médica de estimulação cardíaca artificial do Brasil, se tornando assim responsável direto pela formação de quase duas centenas de especialistas em estimulação cardíaca, brasileiros e estrangeiros. O Dr. José Carlos Pachón Mateos, sucessor do Dr. Décio Kormann no Dante Pazzanese, analisa o que mudou e evoluiu nos últimos 40 anos. ⤷Jornal do Deca: A estimulação cardíaca evolui de forma satisfatória no Brasil? José Carlos Pachón Mateos: Apesar do avanço com aumento do número de profissionais qualificados para implante de marcapasso no Brasil, infelizmente, ainda existe grande deficiência de implantes em nosso meio. A estrutura hospitalar tem se mostrado bastante deficiente, em número e na infraestrutura, principalmente nas regiões distantes dos grandes centros. E mesmo nos grandes centros, tem havido grande desinteresse dos hospitais de um modo geral, devido à política de saúde pública e aos convênios de saúde os quais têm reduzido progressiva e drasticamente os valores pagos aos médicos e à rede hospitalar. Desta forma, temos observado nos últimos anos uma rápida e preocupante redução do número de hospitais que realizam implantes de marcapasso. A tecnologia sempre foi um dos pontos fortes da estimulação cardíaca nacional a qual tem acompanhado de perto os países de primeiro mundo. Entretanto, é bastante preocupante as recentes tentativas governamentais para a fabricação de um “marcapasso genérico nacional”. Esta iniciativa pode ser extremamente deletéria para nossa especialidade e, por conseguinte, pode levar a enorme perda de qualidade para o paciente. Esperamos que as autoridades da saúde em nosso país tenham o bom senso de discutir este assunto com o DECA, que é a entidade legítima para orientar e definir prioridades na estimulação cardíaca nacional. ⤷Jornal do Deca: Como sensibilizar o poder público sobre esta questão? José Carlos Pachón Mateos: Parabenizo a Diretoria do DECA pela importante iniciativa de criar o Dia do Portador de Marcapasso. Isto vai ajudar a todos nós especialistas e habilitados em estimulação cardíaca artificial a justificar perante as autoridades sanitárias a importância do atendimento a esta especialidade. Este pode ser um ponto de partida para expandir a rede de atendimento em que pese a evidente expansão das indicações, o aumento da longevidade e o expressivo aumento populacional. ⤷Jornal do Deca: Qual o legado do Dr. Décio Kormann? José Carlos Pachón Mateos: O Dr. Décio é o pai da Estimulação Cardíaca Nacional e um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento da estimulação cardíaca mundial. Foi o principal idealizador e fundador do DECA e foi para mim uma grande honra dividir com ele este privilégio. O Dr. Décio exercia a medicina com extrema bondade, seja no sentido de ajudar os pacientes ou na sua nobre missão de amparar todos os profissionais que pretendiam conhecer e aprender esta que era, sem dúvida, a mais nova especialidade da medicina. Foi responsável direto pela formação de grande número de especialistas em nosso país e no exterior, entre os quais eu me incluo e um dos principais responsáveis pelo reconhecimento mundial da estimulação cardíaca nacional. Neste sentido gostaria de transcrever uma pequena passagem do livro que acabo de publicar: “Marcapassos, Desfibriladores e Ressincronizadores Cardíacos: Noções Fundamentais para o Clínico”: “...Tudo começou com o brilhante trabalho do Prof. Adib Jatene na década de 60, cujo espírito pioneiro e empreendedor culminaram com a fabricação do primeiro marcapasso nacional totalmente implantável. O Prof. Adib convidou o Dr. Décio Kormann, na época residente de cirurgia cardíaca, para desenvolver esta nova forma de tratamento cirúrgico do bloqueio cardíaco. Em poucos anos a Bioengenharia do Instituto Dante Pazzanese produziu mais de 5.000 aparelhos, implantados em pacientes de nosso país e em muitos outros em toda América Latina. Construir um aparelho que pudesse ser implantado e comandasse de forma segura o ritmo cardíaco por vários anos foi e sempre será um grande desafio, sobretudo na década de sessenta, quando ainda não existia a microeletrônica, tendo surgido os primeiros transistores. Era uma tarefa sobre-humana. Outro enorme obstáculo era a fabricação dos eletrodos que deveriam ser implantados no epicárdio e, posteriormente, por via endovenosa. Mais uma vez, a associação da capacidade empreendora do Prof. Adib Jatene com a habilidade técnica do Dr. Décio foram decisivas na fabricação dos primeiros eletrodos implantáveis nacionais na bioengenharia do Instituto Dante Pazzanese. O Dr. Décio adaptou uma máquina de fabricar cordas de violão para elaborar os condutores e, na oficina metalúrgica do Dante usinou as primeiras pontas de eletrodos e as primeiras formas para vulcanizar o silicone dos cabos-eletrodos. A prótese nacional estava completa. Gerador e eletrodo podiam ser totalmente implantados. Apesar das limitações destes dispositivos primitivos o extraordinário benefício da estimulação cardíaca capaz de mudar em definitivo a história natural dos bloqueios cardíacos, foi rapidamente observado pela comunidade científica. Houve enorme procura por pacientes do nosso país e do exterior e uma demanda crescente por novos profissionais habilitados nestas que seriam novas especialidades da cardiologia - a eletrofisiologia e eletroterapia cardíacas. Desta forma, em 1974 o Dr. Décio Kormann e o Instituto Dante Pazzanese constituem a primeira residência médica de estimulação cardíaca artificial do Brasil, formando ininterruptamente até os dias atuais, uma grande quantidade de especialistas do nosso país e do exterior...”. 7