Ano 2014, Agosto, nº 2 Informativo do Departamento de Estimulação Cardíaca Artificial Dia do Portador de Marcapasso acontece em 23 de setembro em mais de 30 cidades brasileiras Simpósio Internacional de Belém terá 13 aulas com renomados estimulistas do Brasil e convidados internacionais PRONEs de Recife e Palmas reúnem mais de 560 alunos Pág. 4 Pág. 5 Peculiaridades da estimulação cardíaca em crianças e Anticoagulação na Fibrilação Atrial são temas de artigos científicos Págs. 8 e 10 1 Editorial Expediente Departamento de Estimulação Cardíaca - DECA Gestão 2014 Caros colegas, Nesta edição o Jornal do DECA dará ênfase ao Simpósio Internacional de Arritmias que ocorrerá em Belém-PA e será coordenado pelo Dr. Luiz Paulo Rangel. Também destacaremos a campanha do “Dia do Portador de Marcapasso”, criada pelo DECA e que visa dar mais atenção e suporte para os portadores de marcapasso no Brasil. O dia escolhido foi em homenagem ao mês do nascimento do Dr. Décio Kormann, que é reconhecido por todos como o pioneiro da estimulação cardíaca brasileira. O Dr. José Carlos Pachón que, gentilmente, atendeu nossa solicitação, prestigia-nos com comentários sobre o atual cenário da estimulação cardíaca brasileira e o legado do Dr. Décio Kormann. Na seção Esquina Científica, convidamos a Dra. Cecília Monteiro Boya Barcellos e o Dr. Fernando Mello Porto que abordaram, respectivamente, temas relevantes como as peculiaridades da estimulação cardíaca em crianças e o uso dos anticoagulantes orais na fibrilação atrial. Gostaria também de chamar a atenção para o sucesso do Programa Nacional de Ensino do DECA - PRONE, que ocorreu nas cidades de Palmas e Recife. Presidente Cláudio José Fuganti Vice-Presidente Luiz Paulo Rangel Gomes da Silva Secretária Cecília Monteiro Boya Barcellos Diretor Financeiro Antonio Malan Cavalcanti Lima Diretor Administrativo Álvaro Roberto Barros Costa Diretor Científico Antônio Vítor Moraes Júnior Diretora de Comunicação Stela Maria Vitorino Sampaio Diretor de Defesa Profissional Emanoel Gledeston Dantas Licarião Diretor de Eventos Giancarlo Grossi Mota Diretor de Memórias Genildo Ferreira Nunes Diretor de Registros Silas dos Santos Galvão Filho Diretor de Relação Institucional Eduardo Rodrigues Bento Costa Diretor da Relampa Celso Salgado de Melo Boa leitura. Genildo Ferreira Nunes Conselho Deliberativo Wilson Lopes Pereira Antonio Carlos Assumpção (Caio) Antônio Macedo do Nascimento Junior Cândido Rodrigues Martins Gomes José Carlos Pachón Mateos Comunicação: Débora Valejo Assessoria de Imprensa: DOC PRESS Diagramação: Rudolf Serviços Gráficos Impressão: Graftipo Canal aberto com o DECA: Compartilhe sua opinião sobre esta publicação e contribua para torná-la cada vez mais agradável, abrangente e útil. Envie elogios, críticas e sugestões para: [email protected]. Ou entre em contato conosco pelo endereço: Rua Beira Rio, 45 - conj. 73 - Vila Olímpia São Paulo (SP) - CEP 04548-050. Tels.: (11) 3842-1352 / 3044-4139. Visite nosso site: www.deca.org.br 2 Palavra do Presidente Índice Caros Colegas, Nesta edição do Jornal, dando sequência à Esquina Científica, teremos revisões interessantes sobre estimulação cardíaca em pacientes pediátricos e também atualização em como e quando anticoagular portadores de fibrilação atrial. Vocês poderão acompanhar tam­­­bém a programação do Simpósio Internacional de Estimulação Cardíaca em Belém, já na sua quarta edição. No próximo ano a cidade sede será Fortaleza, que já está se organizando para realizá-lo. Programe-se!!! E para nossa felicidade estamos terminando os preparativos para a Campanha do DIA DO PORTADOR DE MARCAPASSO, a ser realizada em 23 de setembro de 2014, uma homenagem ao mês de nascimento do Dr. Décio Silvestre Kormann, pioneiro da Estimulação Cardíaca Brasileira. A finalidade da campanha é esclarecer a opinião pú­­blica e imprensa sobre os dispo­­sitivos cardíacos eletrônicos implantáveis (marcapassos, ressincronizadores e cardiodesfibriladores) - quando são indicados, como são implantados e quais a principais dúvidas dos pacientes e leigos em relação a esses dispositivos. Também é o momento de colocarmos para a imprensa os problemas enfrentados por médicos, pacientes e hospitais para oferecer acesso a esses dispositivos a todos aqueles que deles necessitam, no âmbito do SUS e da saúde complementar. Finalizando, gostaria de comunicar a todos os nossos associados, com muita honra, que fomos convidados pela Dra. Amanda Guerra de Moraes Rego Souza, diretora do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, a levar o “Museu do Mar­­capasso” para sua casa definitiva, já em construção, ao lado do Auditório Décio Silvestre Kormann, no andar da diretoria do Instituto Dante Pazzanese. A inauguração do museu coincidirá com o encerramento do JUBILEU de DIAMANTE do Instituto, em novembro de 2014. Isso vem coroar os esforços do Dr. Celso Salgado de Melo, idea­ lizador e curador de nosso museu, e de todas as diretorias recentes do Departamento que vinham incansavelmente procurando um local adequado para o nosso brilhante museu. Isso é mais uma prova de que, quando lutamos as brigas justas, os resultados positivos podem demorar, mas sempre aparecem. IV Simpósio Internacional de Arritmias e Estimulação Cardíaca de Belém reúne os principais e mais conceituados estimulistas do Brasil 4 PRONEs realizados em Recife e Palmas reúnem mais de 560 participantes 5 Marcapasso: Campanha do DECA vai tirar dúvidas da população e chamar a atenção da opinião pública para a falta de investimento na área 6 Mês de setembro é homenagem ao pioneiro da Estimulação Cardíaca nacional 7 Peculiaridades da Estimulação Cardíaca em crianças 8 Anticoagulação na FA: Quando e como anticoagular 10 Simpósio Décio Kormann é sucesso em Porto de Galinhas (PE) 11 Enfim, é o Departamento cumprindo com a sua função e levando o tema “Estimulação Cardíaca Artificial” para todos os recantos do nosso imenso Brasil. Boa leitura a todos!!! Cláudio Fuganti 3 Acontece IV Simpósio Internacional de Arritmias e Estimulação Cardíaca de Belém reúne os principais e mais conceituados estimulistas do Brasil Tudo pronto para o IV Simpósio Internacional de Arritmia e Estimulação Cardíaca Artificial, que acontece dentro do XVII Congresso Médico Amazônico, nos dias 15 e 16 de agosto. Durante os dois dias de evento, os inscritos terão a oportunidade de assistir 13 aulas ministradas por 16 convidados criteriosamente escolhidos pela dire­ toria do DECA para trazer as abordagens mais atualizadas do mundo sobre estimulação cardíaca artificial. O convidado internacional deste ano será o Dr. Raul Garillo, que vai falar sobre o Futuro da Estimulação Cardíaca Artificial. Ele é autor ou co-autor de mais de 100 resumos apresentados em Congressos Mundiais, autor ou co-autor de 72 publicações da especialidade e co-autor de seis livros. Os temas estão divididos em dois módulos: “Estimulação Cardíaca Artificial” e “Insuficiência Cardíaca e TRC”. Ao final, haverá discussão de casos. PROGRAMAÇÃO COMPLETA: 15/08/2014 - SEXTA-FEIRA MÓDULO I: ESTIMULAÇÃO CARDÍACA ARTIFICIAL Coordenador: Dr. Silas dos Santos Galvão Filho (SP) Moderador: Dr. Cláudio José Fuganti (PR) 13h30-13h45 Conferência: Ressonância magnética e estimulação cardíaca Dr. Eduardo Rodrigues Bento Costa (SP) 13h45-14h00 Principais fontes de interferência na vida cotidiana do portador de MP/CDI Dr. Emanuel Gledston Dantas Licarião (RR) 14h00-14h15 O monitoramento remoto nos dispositivos cardíacos implantáveis Dr. Wilson Lopes Pereira (SP) 14h15-14h30 Atividade física e laborativa no portador de MP/CDI Dr. Antonio Carlos Assumpção (SP) 14h30-14h45 Informações da telemetria úteis no seguimento do cardiopata Dr. Luiz Paulo Rangel Gomes da Silva (PA) 14h45-15h00 Arritmia ventricular na cardiomiopatia hipertrófica e canalopatias Dr. Paulo de Tarso Jorge Medeiros (SP) 15h00-15h30 Discussão 16h00-16h15 Estratificação de risco na miocardiopatia chagásica Dra. Katia Couceiro (AM) 16h15-16h30 Arritmia ventricular no atleta Dr. Stela Maria Vitorino Sampaio (CE) 16h30-17h00 Discussão SESSÃO DE CASO CLÍNICO 17h00-18h00 Apresentador: Dr. Eduardo Rodrigues Bento Costa (SP) Debatedores: Dr. Antonio Carlos Assumpção (SP), Dra. Cecília Monteiro Boya Barcellos (SP), Dr. Luiz Paulo Rangel Gomes da Silva (PA), Dr. Genildo Ferreira Nunes (TO) 4 16/08/2014 - SÁBADO 9h00-10h00 Caso clínico Interativo Apresentadora: Dra. Cecília Monteiro Boya Barcellos (SP) Debatedores: Dr. Antonio Vitor Moraes Junior (SP), Dr. Eduardo Rodrigues Bento Costa (SP), Dr. Rufino Costa dos Santos (PA), Dr. Paulo de Tarso Jorge Medeiros (SP) MÓDULO II: INSUFICIÊNCIA CARDÍACA E TRC Coordenador: Dr. Raul Garillo (USA) Moderador Dr. Luiz Paulo Rangel Gomes da Silva (PA) 10h30-10h45 TRC-D X TRC-P - Como escolher a melhor modalidade de TRC? Dr. Cláudio José Fuganti (PR) 10h45-11h00 CDI subcutânea - estado atual Dr. Genildo Ferreira Nunes (TO) 11h00-11h15 FA no portador de IC: controle do ritmo x controle da FC Dr. Silas dos Santos Galvão Filho (SP) 11h15-11h30 TRC no portador ou candidato a MP convencional Dr. Antonio Vitor Moraes Júnior. (SP) 11h30-11h45 Abordagem do portador de CDI com choques do dispositivo Dra. Stela M.Vitorino Sampaio (CE) 11h45-12h00 Discussão 12h00-12h30 CONFERÊNCIA MAGNA II: Futuro da estimulação cardíaca artificial Dr. Raul Garillo (USA) PRONE PRONEs realizados em Recife e Palmas reúnem mais de 560 participantes As duas últimas edições do Programa Nacional de Ensino do DECA, realizadas em Recife (PE) e Palmas (TO), foram um sucesso de público. Na capital de Pernambu­­­co, o PRONE aconteceu nos dias 16 e 17 de maio e 101 pes­­­ soas assistiram as aulas dos Drs. Cláudio José Fuganti (PR), Antônio Macedo do Nascimento Jr. (PE), Alberto Gonçalves Escarião (PE), Eduardo Rodrigues Bento Costa (SP), Gustavo Sérgio La­­certa Santiago (PE),Alberto Nicodemus Gomes Lopes (PE), André Rezende (PE), Silas dos Santos Galvão Filho (SP), Paulo Mabesone (PE) e Dras.Tricia Souto Cysneiros (PE) e Maria das Neves Dantas (PE). Já em Palmas, o evento foi no dia 30 de maio, inserido na programação científica do Congresso Tocantinense de Cardiologia e contou com a presença de 360 pessoas. As aulas PRONE Recife foram ministradas pelos médicos Silas dos Santos Galvão Filho (SP), Celso Salgado de Melo (MG) e Genildo Ferreira Nunes (TO). O PRONE tem o objetivo de levar mais conhecimento sobre temas relacionados a Estimulação cardíaca, Arritmias, Insuficiência Cardíaca e Morte Súbita para os profissionais que atuam no interior do país e que nem sempre têm a possibilidade de participar de Congressos e cursos de reciclagens. Em seis anos, mais de 2500 profissionais em 25 cidades, já participaram do Programa Nacional de Ensino do DECA. “Reunimos os maiores especialistas da área para apresentar o que há de mais moderno no combate às doenças”, afirma o diretor de eventos da entidade, Giancarlo Mota. PRONE Palmas PRÓXIMOS EVENTOS: • PRONE Salvador - dias 26 e 27 de setembro Local: Associação Bahiana de Medicina Rua Baependi, 162, Ondina, Salvador • PRONE São José dos Campos - dias 10 e 11 de outubro • PRONE Belo Horizonte - dias 07 e 08 de novembro Os interessados já podem se inscrever pelo site www.deca.org.br 5 Capa Marcapasso: Campanha do DECA vai tirar dúvidas da população e chamar a atenção da opinião pública para a falta de investimento na área No dia 23 de setembro estimulistas e residentes voluntários de todo o Brasil vão promover o Dia do Portador de Marcapasso, uma campanha de utilidade pública que visa dar mais atenção e suporte para os milhares de brasileiros portadores de dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis, seus familiares e amigos. “Através da distribuição de cartilhas e explicações presenciais com o auxílio de painéis ilustrativos, pretendemos esclarecer a população sobre os principais dispositivos eletrônicos implantáveis cardíacos, suas indicações, cuidados pré e pós-operatórios, limitações para prática de esportes e possibilidades de interferências com celulares, e outros aparelhos eletrônicos”, afirma o presidente do DECA, Cláudio Fuganti. Paralelo a isso, a ação também tem o objetivo de alertar a opinião pública sobre a necessidade de melhorar o acesso dos pacientes que precisam desses dispositivos ao profissional médico, principalmente no Sistema Único de 6 Saúde, uma vez que atualmente muitas pessoas morrem na fila de espera por um implante. Segundo dados do Censo Mundial de Marcapassos e Desfibriladores, o Brasil perde nesses procedimentos para países vizinhos, como Argentina, Uruguai e Chile. Por aqui são implantados 190 marcapassos por milhão de habitantes, enquanto no Chile são 216, na Argentina 382, no Uruguai 578 e em Porto Rico 606 marcapassos por milhão de habitantes. Em países desenvolvidos esses números são ainda mais expressivos: 746 na Espanha, 762 em Portugal e 767 marcapassos por milhão de habitantes nos Estados Unidos. Na França são 1.019, na Itália 1.048 e na Alemanha 1.267. Mais de 30 cidades confirmaram participação no evento. “Estamos muito felizes com o empenho e comprometimento dos estimulistas de norte a sul do país. O dia 23 de setembro vai inaugurar um novo tempo de diálogo da nossa especialidade com a sociedade, além de chamar a atenção das autoridades para a necessidade de mais investimentos na área”, conclui Fuganti. Capa Mês de setembro é homenagem ao pioneiro da Estimulação Cardíaca nacional A escolha do mês de setembro para a realização do Dia do Portador de Marcapasso é uma homenagem ao Dr. Décio Kormann, que nasceu no dia 02/09 e é reconhecido por todos como o pioneiro da Estimulação Cardíaca nacional. Em 1974, criou, no Instituto Dante Pazzanese em São Paulo, a primeira residência médica de estimulação cardíaca artificial do Brasil, se tornando assim responsável direto pela formação de quase duas centenas de especialistas em estimulação cardíaca, brasileiros e estrangeiros. O Dr. José Carlos Pachón Mateos, sucessor do Dr. Décio Kormann no Dante Pazzanese, analisa o que mudou e evoluiu nos últimos 40 anos. ⤷Jornal do Deca: A estimulação cardíaca evolui de forma satisfatória no Brasil? José Carlos Pachón Mateos: Apesar do avanço com aumento do número de profissionais qualificados para implante de marcapasso no Brasil, infelizmente, ainda existe grande deficiência de implantes em nosso meio. A estrutura hospitalar tem se mostrado bastante deficiente, em número e na infraestrutura, principalmente nas regiões distantes dos grandes centros. E mesmo nos grandes centros, tem havido grande desinteresse dos hospitais de um modo geral, devido à política de saúde pública e aos convênios de saúde os quais têm reduzido progressiva e drasticamente os valores pagos aos médicos e à rede hospitalar. Desta forma, temos observado nos últimos anos uma rápida e preocupante redução do número de hospitais que realizam implantes de marcapasso. A tecnologia sempre foi um dos pontos fortes da estimulação cardíaca nacional a qual tem acompanhado de perto os países de primeiro mundo. Entretanto, é bastante preocupante as recentes tentativas governamentais para a fabricação de um “marcapasso genérico nacional”. Esta iniciativa pode ser extremamente deletéria para nossa especialidade e, por conseguinte, pode levar a enorme perda de qualidade para o paciente. Esperamos que as autoridades da saúde em nosso país tenham o bom senso de discutir este assunto com o DECA, que é a entidade legítima para orientar e definir prioridades na estimulação cardíaca nacional. ⤷Jornal do Deca: Como sensibilizar o poder público sobre esta questão? José Carlos Pachón Mateos: Parabenizo a Diretoria do DECA pela importante iniciativa de criar o Dia do Portador de Marcapasso. Isto vai ajudar a todos nós especialistas e habilitados em estimulação cardíaca artificial a justificar perante as autoridades sanitárias a importância do atendimento a esta especialidade. Este pode ser um ponto de partida para expandir a rede de atendimento em que pese a evidente expansão das indicações, o aumento da longevidade e o expressivo aumento populacional. ⤷Jornal do Deca: Qual o legado do Dr. Décio Kormann? José Carlos Pachón Mateos: O Dr. Décio é o pai da Estimulação Cardíaca Nacional e um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento da estimulação cardíaca mundial. Foi o principal idealizador e fundador do DECA e foi para mim uma grande honra dividir com ele este privilégio. O Dr. Décio exercia a medicina com extrema bondade, seja no sentido de ajudar os pacientes ou na sua nobre missão de amparar todos os profissionais que pretendiam conhecer e aprender esta que era, sem dúvida, a mais nova especialidade da medicina. Foi responsável direto pela formação de grande número de especialistas em nosso país e no exterior, entre os quais eu me incluo e um dos principais responsáveis pelo reconhecimento mundial da estimulação cardíaca nacional. Neste sentido gostaria de transcrever uma pequena passagem do livro que acabo de publicar: “Marcapassos, Desfibriladores e Ressincronizadores Cardíacos: Noções Fundamentais para o Clínico”: “...Tudo começou com o brilhante trabalho do Prof. Adib Jatene na década de 60, cujo espírito pioneiro e empreendedor culminaram com a fabricação do primeiro marcapasso nacional totalmente implantável. O Prof. Adib convidou o Dr. Décio Kormann, na época residente de cirurgia cardíaca, para desenvolver esta nova forma de tratamento cirúrgico do bloqueio cardíaco. Em poucos anos a Bioengenharia do Instituto Dante Pazzanese produziu mais de 5.000 aparelhos, implantados em pacientes de nosso país e em muitos outros em toda América Latina. Construir um aparelho que pudesse ser implantado e comandasse de forma segura o ritmo cardíaco por vários anos foi e sempre será um grande desafio, sobretudo na década de sessenta, quando ainda não existia a microeletrônica, tendo surgido os primeiros transistores. Era uma tarefa sobre-humana. Outro enorme obstáculo era a fabricação dos eletrodos que deveriam ser implantados no epicárdio e, posteriormente, por via endovenosa. Mais uma vez, a associação da capacidade empreendora do Prof. Adib Jatene com a habilidade técnica do Dr. Décio foram decisivas na fabricação dos primeiros eletrodos implantáveis nacionais na bioengenharia do Instituto Dante Pazzanese. O Dr. Décio adaptou uma máquina de fabricar cordas de violão para elaborar os condutores e, na oficina metalúrgica do Dante usinou as primeiras pontas de eletrodos e as primeiras formas para vulcanizar o silicone dos cabos-eletrodos. A prótese nacional estava completa. Gerador e eletrodo podiam ser totalmente implantados. Apesar das limitações destes dispositivos primitivos o extraordinário benefício da estimulação cardíaca capaz de mudar em definitivo a história natural dos bloqueios cardíacos, foi rapidamente observado pela comunidade científica. Houve enorme procura por pacientes do nosso país e do exterior e uma demanda crescente por novos profissionais habilitados nestas que seriam novas especialidades da cardiologia - a eletrofisiologia e eletroterapia cardíacas. Desta forma, em 1974 o Dr. Décio Kormann e o Instituto Dante Pazzanese constituem a primeira residência médica de estimulação cardíaca artificial do Brasil, formando ininterruptamente até os dias atuais, uma grande quantidade de especialistas do nosso país e do exterior...”. 7 Esquina Científica Peculiaridades da Estimulação Cardíaca em crianças ▸por Cecília Monteiro Boya Barcellos - especialista em estimulação cardíaca pelo DECA/SBCCV e médica ritmologista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo A estimulação cardíaca em crianças é um grande desafio. Normalmente não contamos com centros especializados em arritmias em crianças (existem poucos no país) e esta demanda acaba sendo realizada em centros de estimulação cardíaca de referência em adultos. E como todos sabemos, as diferenças farmacológicas e farmocodinâmicas entre crianças e adultos não devem ser ignoradas. Qual o melhor marcapasso a ser utilizado? A decisão passa, sem dúvida, pelo tamanho dos geradores, que não são feitos pensando em crianças com pesos à vezes inferiores a 2.500g. No entanto, é muito importante salientarmos que crianças com cardiopatias complexas necessitam muito do débito atrial e a decisão por um dupla câmara fará uma grande diferença em sua evolução.2 Perguntas a serem respondidas sempre que estamos diante de uma criança que necessita de um sistema de estimulação cardíaca artificial definitivo são: Qual a melhor técnica cirúrgica a ser empregada? Para esta questão todas as outras acima já devem estar respondidas. Em nossa experiência no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, referência no tratamento de cardiopatias complexas, a decisão pelo Dupla Câmara, via epicárdica, com eletrodos bipolares de contato e com a técnica subxifóide tem sido a mais empregada. Esta técnica também usada por Lania Romanzini e col no Hospital Pequeno Princípe de Curitiba, nos permite o uso do Dupla Câmara em crianças recém nascidas, com resultados a longo prazo muito animadores. Ao preservarmos a harmonia da contração cardíaca, com a contribuição do débito atrial, temos o melhor sensor que é o próprio nó sinusal, além de preservarmos a via endocárdica para procedimentos futuros.3 A distância da localização do gerador subxifóide, permite que a criança se desenvolva sem necessidade de grandes alças para o crescimento, e o resultado estético é muito bom. 1) Quantos anos ou meses tem esta criança? 2) Qual sua expectativa de vida? 3) A indicação de estimulação cardíaca é associada a uma cardiopatia complexa? 4) Quantos eletrodos e geradores essa criança vai necessitar ao longo de sua vida? 5) Quantos acessos tenho até o coração? E qual o melhor neste momento da vida desta criança? Sempre prevendo a preservação de vias para acessos futuros. 6) E não menos importantes: O marcapasso vai ficar visível? Esta criança poderá brincar como toda criança? Estas perguntas respondidas, iremos para novas discussões. Qual o real impacto hemodinâmico dos sintomas de bradicardia numa criança?1 Tabela 1. Frequência Cardíaca de acordo com a idade Repouso (acordada) Repouso (dormindo) Esforço (chorar, mamar...) 0-3 meses 100-190 80-180 > 200 bpm 3 meses-2 anos 80-150 70-120 > 200 bpm 2-10 anos 75-110 60-90 > 180 bpm > 10 anos 55-90 50-90 > 180 bpm Os sintomas de bradicardia em crianças são bastante variados, desde o simples cansaço ao mamar, passando por irritabilidade, sonolência, baixo ganho ponderal e até síncope. 8 Ainda a favor da técnica epicárdica, temos evitarmos a trombose precoce de vasos que tem de suportar eletrodos de tamanhos que variam de 5 a 7 French. A performance a longo prazo dos eletrodos endocárdicos versus epicárdicos com esteroides não se mostraram diferentes como descrito por Cate e cols, tanto em relação a limiares de estimulação e sensibilidade, bem como sua durabilidade.4 Finalizando e não menos importante é qual a programação a ser empregada? Mais uma vez a idade, a cardiopatia de base nos norteiam. A liberação da frequência máxima, com atenção especial para o ajuste do Delay AV dinâmico, ajuste de períodos refratários, evitando o Bloqueio 2:1, tem de fazer parte de nossa preocupação. O Holter de 24 horas é uma ferramenta que nos auxilia Esquina Científica J.A.C., Bloqueio atrioventricular pós correção de Transposição de Grandes Artérias, Marcapasso cardíaco definitivo Dupla câmara, implantado no 18º dia de vida, 10 pós-operatório, técnica epicárdica subxifoide. bastante nestes ajustes. A realização de Raio X de Tórax para o acompanhamento do crescimento da criança e do comportamento do eletrodo diante deste crescimento também faz parte de nossa rotina. Concluindo, a estimulação cardíaca em crianças é um grande desafio que vem sendo vencido com a parceria de equipes multidisciplinares envolvendo pediatras, cardiopediatras, cirurgiões cardíacos pediatras e estimulistas, que não veem esta criança apenas como um adulto pequeno e sim com todas as particularidades que ela possui. Referências Bibliográficas 1. Current Pharmaceutical Design, 2008, 14, 723-728. 2. Hauser, J; Behnke,M.; Zervan,K. Noninvasive Measurement of Atrial Contribution to the Cardiac Output in Children and Adolescents with Congenital Completee Atrioventricular Block Treated With Dual-Chamber Pacemakers. 3. Silvetti,M.S; Drago, F.; Grutter,G.; de Santis, A.; Rav, L. Twenty years of pediatric cardiac pacing: 515 pacemakers and 480 leads implanted in 292 patients. Europace(2006) 8 530-536. 4. Cate, F.U.T.; Breur,J.; Boramanand,J.; Crosson,J.; Friedman,A.; Endocardial and epicardial steroid lead pacing in the neonatal and pediatric age group. Heart (2002) 88 392-396. 9 Esquina Científica Anticoagulação na FA: Quando e como anticoagular ▸por Fernando Porto - coordenador do Grupo de Arritmia Campinas, coordenador do Serviço de Arritmia e Marcapasso da Pontifícia Universidade Católica de Campinas A fibrilação atrial (FA) tem sua prevalência e incidência aumentada de forma significativa após a quinta década de vida, tornando-se a arritmia sustentada mais comum na nossa prática clínica, tendo importante impacto em custos de internações e aumentando risco de mortalidade total, insuficiência cardíaca e principalmente AVC. A estase sanguínea que ocorre no átrio esquerdo e prin­­cipalmente na aurícula esquerda (o seu formato está bastante relacionada à incidência de trombos) pode ocasionar a formação de trombos e consequentemente fenômenos tromboembólicos sistêmicos ou mais comumente cerebrais, caracterizando o AVC isquêmico, com grande impacto familiar e social decorrente desses possíveis episódios, que em muitas vezes podem ser evitados com a estratégia da anticoagulação oral, assim que fazemos o diagnóstico do aparecimento da FA e a estratificação do risco desses pacientes de maneira individual. O AVC tromboembólico da FA costuma ser mais grave e incapacitante do que outras causas isquêmicas, aumentando a mortalidade e sendo extremamente incapacitante. Sendo assim devemos estratificar o risco de embolia e sangramento para decidirmos se podemos iniciar a anticoagulação após expor benefícios e riscos ao paciente e aos familiares. Utilizamos atualmente dois escores, o CHA2DS2-VASc para avaliar o risco de embolia (fig. 1) e o HAS-BLED para avaliar o risco de sangramentos (fig. 2). O escore CHA2DS2-VASc é uma modificação do escore CHADS2, passando a conferir 2 pontos para pacientes com mais de 75 anos e AVC ou AIT prévios, e pontuar com 1 ponto portadores de doença vascular arterial e sexo feminino, ou seja, aumentando o universo de pacientes de alto risco tromboembólico de acordo com o novo escore. Ponderando-se sobre o escore HAS-BLED, se a pontuação do paciente for maior ou igual a 3, deve-se considerar não anticoagular e também não utilizar antiagregação plaquetária, pelo alto risco de sangramento, porém se a pontuação no CHA2DS2-VASc for maior, deve-se utilizar estratégia de anticoagulação, com maior cuidado ou dependendo do caso, utilizando anticoagulantes novos com potencial menor de sangramento. Em relação à drogas disponíveis para terapia de anticoagulação, temos a varfarina (antagonista da vitamina K), utilizada há mais de meio século, aonde devemos manter o RNI entre 2,0 e 3,0, ainda sendo indicada para portado- 10 res de FA valvar e portadores de próteses valvares, principalmente metálicas, pois nenhum novo anticoagulante ainda apresenta segurança e estudos nesses grupos. Já existem no Brasil três novos agentes farmacológicos anticoagulantes: a Dabigatrana (inibidor direto da trombina), a Rivaroxabana e a Apixabana (ambos bloqueadores do Fator Xa), com estudos comparativos de eficácia e segurança em relação à Varfarina, sendo respectivamente os estudos RE-LY, ROCKET-AF e ARISTOTLE, com aproximadamente 50.000 pacientes sendo envolvidos nesses estudos. Existem amplas vantagens no uso desses novos anti­coa­ gulantes, como início e término de ação da droga rápi­dos, não há necessidade de monitorização laboratorial, melhor atividade antitrombótica, taxas similares ou menores de sangramentos grandes e pequenos, farmacocinética previsível, meia-vida curta e mínima interferência em relação a medicações e alimentos.A limitação do uso dos novos anticoagulantes ainda são os portadores de FA valvar e portadores de próteses valvares, e também econômica, pois alguns pacientes não tem condição financeira para adquirir tais drogas. Outra limitação é em relação ao fato de não haver ainda antídotos para essas novas drogas, porém estudos em fase avançada estão em andamento para tal finalidade. A escolha de qual desses novos agentes devemos utilizar em cada paciente apenas a vivência clínica trará evidências, porém devemos individualizar cada caso tendo em vista o risco de sangramento, a função renal e a disciplina posológica de cada paciente para escolher qual agente anticoagulante devemos prescrever. C H A2 D S2 V A Sc H A S B L E D CHA2DS2-VASc CHF = ICC HAS Age (idade) > 75 anos Diabetes mellitus Stroke = AVC ou AIT pregresso Doença vascular Age (idade entre 65-74 anos) Sex category (sexo feminino) =1 =1 =2 =1 =2 =1 =1 =1 Figura 1 Escore de HAS-BLED Hipertensão Anormalidade renal/hepática Stroke (AVC) Bleeding (sangramento = história ou predisposição) Labilidade de RNI Elderly (idade > 65) Drogas/álcool =1 = 1 ou 2 =1 =1 = 1 =1 = 1 ou 2 Figura 2 Aconteceu Simpósio Décio Kormann é sucesso em Porto de Galinhas (PE) O auditório Francisco Brenand 1 do Enotel Resort & SPA, em Porto de Galinhas (PE), ficou lotado durante o Simpósio Décio Kormann. O evento aconteceu dentro do 41º Congresso da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, no dia 4 de abril. Dr. Luiz Paulo Rangel. Prof. Dr. Roberto Costa no Simpósio Décio Kormann. Presidente da SBCCV Dr. Marcelo Cascudo e Presidente do DECA Dr. Claudio Fuganti. Dr. Luiz Antonio Castilho Teno, Celso Salgado de Melo, Jayme Arnez, Antonio Malan, Antonio Macedo e Emanoel Licarião. Processo de Prova para Membro Habilitado do DECA. Simpósio Décio Kormann. 11 Museu do Marcapasso ganha endereço próprio A convite da Dra. Amanda Guerra de Moraes R. Souza, o Museu do Marcapasso do DECA será sediado no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, com inauguração prevista para acontecer próximo ao Jubileu de Diamante do IDPC, em novembro. Avenida Dr. Dante Pazzanese, 500 Vila Mariana, São Paulo - SP