ESTUDO DA VIABILIDADE DO AUMENTO DA DENSIDADE DE PLANTAÇÃO, EM 5 CULTIVARES DE FEIJÃO VERDE, INSTALADAS EM SUBSTRATO DE LÃ DE ROCHA Rosa, A., Sousa, J. Direcção Regional de Agricultura do Algarve Apto 282, 8000 Faro Caço, J. HUBEL - Electrotecnia e Bombagem, Lda. Apto 408, 8004 Faro CODEX INTRODUÇÃO Em complemento do trabalho com feijão verde, iniciado em 1993/94 na época de Outono/Inverno, cujos resultados foram publicados no Anuário de Horticultura de 1992/93 1993/94, retomamos este assunto, numa época mais favorável, no sentido de estudar o comportamento de cinco cultivares de feijão verde, implantadas em substrato de Lã de rocha, tendo em vista avaliar em simultâneo as possíveis vantagens de um adensamento superior, em comparação com o usual na região. MATERIAL E MÉTODOS Localização - O ensaio decorreu numa estufa de madeira, com 1200 m2, coberta com filme de polietileno térmico, instalada no Centro de Experimentação Horto-Frutícola do Patacão. O chão da estufa foi coberto com filme branco/preto, a fim de evitar as infestantes e o contacto das placas de Lã de rocha com o solo. Substrato - Lã de rocha (GRODAN), tendo-se utilizado na sementeira cubos de 7.5 cm * 7.5 cm e na plantação placas de 1 m * 0.1 m * 0.1 m. Sistema de rega e fertilização - Estas operações foram comandadas por intermédio de um sistema de fertirrigação "Volmatic AMI 1000" com possibilidade de controlo do pH e da CE da solução nutritiva, cujo funcionamento foi já referido em trabalhos anteriores (ROSA et al, (1994). Dados culturais Distância entre linhas Distância entre cubos na linha - 1º Tratamento - 2º Tratamento Área da parcela Nº de plantas/parcela - 1º Tratamento - 2º Tratamento Sistema de sementeira Data de sementeira Data de plantação Início da produção Final da produção Nº total de colheitas Nº de utilizações das placas de Lã de rocha 2.0 m (2 plantas/cubo) 0.33 m 0.50 m 8.0 m2 24 pl 16 pl Cubos de Lã de rocha 27/01/96 05/02/96 08/04/96 1/06/96 21 4 O delineamento estatístico foi um "Split-Plot" com dois tratamentos e quatro repetições. No primeiro tratamento a densidade de plantação foi de 3 plantas/m2 e no segundo de 2 2 plantas/m . Em cada tratamento foram testadas cinco cultivares, resultando um total de 40 parcelas. As principais características das cultivares estudadas resumem-se no Quadro I. Quadro I - características das cultivares em estudo Cultivar Música Origem Nickerson Zwaan Tipo / Planta Planta aberta , colheita fácil e muito precoce; De trepar Mantra Rijk Zwaan Planta muito rústica, com vigor médio e grande capacidade de rebentar; Muito precoce; De trepar Bonex JAD Sementes Planta com grande porte, vigor e precocidade; De trepar Kwintus Nickerson Zwaan Apresenta crescimento muito vigoroso; Muito precoce; De trepar Sabinal Numhems Planta aberta de desenvolvimento rápido e vigoroso; De trepar Vagens Planas com 2226 cm de comprimento, 19-24 mm de largura e cor verde média Apresenta cachos e 5-6 vagens planas, com 23-26 cm de comprimento e cor verde média brilhante De cor verde, planas e direitas, com cerca de 22 cm de comprimento e 20 mm de largura De cor verde brilhante, planas com cerca de 22 cm de comprimento e 21 mm largura De cor verde intensa, planas mas ligeiramente ovais e, muito carnudas. O desenvolvimento do grão é lento Resistências Ao vírus do mosaico comum e ao excesso de água Observações Cultura em estufa ou ao ar livre, de rápido desenvolvimento Ao vírus do mosaico comum Cultura em estufa ou ar livre; Grande facilidade de vingamento mesmo em condições adversas de temperatura e humidade Recomendada para estufa; Apresenta boa conservação após colheita Ao vírus do mosaico comum Cultura em estufa ou ar livre, para consumo em fresco ou para a indústria Muito produtiva com bom poder de conservação Ao vírus do mosaico comum Fonte: Catálogos das firmas fornecedoras da semente Equilíbrio da solução nutritiva - As quantidades de adubo a utilizar na preparação das soluções nutritivas foram estabelecidas em função das necessidades da cultura, tendo em conta as diferentes fases de desenvolvimento, as análises da água de rega, as análises da solução drenada, sem esquecer uma observação constante e atenta da evolução da cultura. Nos quadros II e III apresentam-se os valores da análise química da água de rega e os valores de referência, para preparação das soluções nutritivas, utilizadas nesta cultura. Quadro II - Análise química da água de rega (mg/l) Nutriente N K Ca SO4 Mg Cl Na pH = 7,30 mg / litro 1.02 2.00 97.00 20.00 31.00 82.00 46.00 Nutriente Cu HC03 Fe Mn Zn B mg / litro 0.01 421.00 0.01 0.01 0.01 0.03 CE = 0,84 Mmhos/cm Quadro III - Valores de referência das soluções nutritivas Nutriente (mmol/l) Nutriente (mmol/l) ----------------------------------------------------------------------------------------------------------NO3 10.0 - 11.0 Mg 1.5 - 2.0 NH4 0.5 SO4 1.5 - 2.0 H2P04 1.3 - 1.5 Na < 6.0 K 5.0 - 5.5 Cl < 6.0 Ca 4.0 - 5.0 HCO3 0.5 pH = 5.5 (*) CE = +1.0 a +1.5 (mmol/l) Microelementos - 20 - 30 g/m3 de um complexo de micronutrientes (Horti-Micro A-Z). (*)- Valores a somar à condutividade (CE) da água de rega RESULTADOS No quadro IV apresentam-se os valores das leituras do pH e da CE da solução nutritiva, consumos de água, % de solução drenada e temperaturas do ar registadas ao longo do ciclo cultural. No quadro V, VI, VII e no gráfico 1 apresentam-se os resultados da produção obtida pelas cinco Cultivares nos dois Tratamentos em estudo e no quadro VIII algumas das principais características das vagens, observadas nas colheitas de 18/04/96 e 06/05/96. Quadro IV - Quadro resumo dos registos de pH e CE da solução nutritiva, consumos de água, % de solução drenada e temperaturas do ar. DATA Solução do gotejador Solução das placas 11/Fev - 29/Fev 01/Mar - 15/Mar 16/Mar - 31/Mar 01/Abr - 15/Abr 16/Abr - 30/Abr 01/Mai - 15/Mai 16/Mai - 31/Mai 01/Jun - 12/Jun 11/Fev - 10/Jun (mmhos/cm) pH (mmhos/cm) pH l/m2/dia Rega Drenagem Temperatura 2.15 2.23 2.66 2.42 2.28 2.36 1.79 2.29 2.27 6.6 6.4 6.6 6.6 6.7 6.6 5.1 6.6 6.4 2.19 2.10 2.32 2.51 2.80 2.04 2.31 2.07 2.29 6.6 6.4 6.7 6.7 6.7 6.5 5.3 6.6 6.4 0.62 0.91 2.49 2.76 5.90 4.51 5.74 7.34 3.78 63 49 25 28 46 42 31 42 40 6.3 30.3 10.1 29.3 11.5 30.0 11.7 28.8 11.7 27.3 12.4 27.3 14.0 31.3 15.7 32.3 11.7 29.5 % min. Máx. Quadro V - Resultados da produção (Cultivar/Tratamento) em g/m2 e % do TOTAL. Cultivar Incomer. Classe II Classe I Total (Comer.) TOTAL Musica / T1 0,66 (11%) 1,10 (18%) 4,21 (71%) 5,31 (89%) 5,97 Musica /T2 0,79 (12%) 1,29 (19%) 4,78 (69%) 6,07 (88%) 5,97 Mantra / T1 0,55 (9%) 1,08 (19%) 4,23 (72%) 5,31 (91%) 5,86 Mantra / T2 0,45 (8%) 0,99 (17%) 4,27 (75%) 5,26 (92%) 5,71 Bonex / T1 0,91 (16%) 0,99 (18%) 3,61 (66%) 4,60 (84%) 5,50 Bonex / T2 0,61 (11%) 1,00 (18%) 4,04 (71%) 5,04 (89%) 5,65 Kwintus / T1 0,54 (10%) 0,90 (17%) 3,82 (73%) 4,72 (90%) 5,26 Kwintus / T2 0,69 (10%) 1,25 (19%) 4,80 (71%) 6,05 (90%) 6,74 Sabinal /T1 0,31 (7%) 0,97 (22%) 3,09 (71%) 4,06 (93%) 4,37 Sabinal / T2 0,31 (5%) 1,06 (19%) 4,35 (76%) 5,41 (95%) 5,71 Quadro VI - Resultados da produção comercializável nas 5 cultivares em estudo (média dos 2 tratamentos). CULTIVAR Produção Comercializável (g/m2) (*) MUSICA MANTRA BONEX KWINTUS SABINAL 5,69 5,29 4,82 5,38 4,74 (*) Não existem diferenças significativas entre as cultivares, para um nível de significância de 5 % Quadro VII - Resultados da produção comercializável nos 2 tratamentos em estudo (média das 5 cultivares) Produção Comercializável (g/m2) (*) TRATAMENTO 1º TRATAMENTO (3 Pl / m2) 2º TRATAMENTO (2 Pl / m2) 4,80 5,57 (*) Existem diferenças significativas entre os dois tratamentos, para um nível de significância de 5 % Quadro VIII - características das vagens Polpa (1-9) Saliência das sementes (1 - 9) Cor (1 verde claro) (5 verde) (9 verde escuro) Curvatura da vagem (1 pouco) (9 muito) 1 3 3 5 1 5 1 5 4 5 2 1 5 1 4 4 5 3 1,88 1 5 1 6 4 5 2 1,57 1 5 1 6 3 9 2 Cultivar Fios (1 sem) (9 com) Compri da vagem (cm) Largur. da vagem (cm) Forma (1 plana) (5 oval) (9 redon.) Pergam (1 com) (2 sem) Rugosid. (1 lisa) (9 áspera) Musica 6 23,3 1,76 1 5 Mantra 6 23,3 1,72 1 Bonex 5 22,0 1,80 Kwintus 7 24,2 Sabinal 5 21,7 Gráfico 1 - Produção acumulada (média de 2 tratamentos) 7000 6000 produção (gr/m2) 5000 4000 Musica Mantra Bonex Kwintus Sabinal 3000 2000 1000 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 colheitas DISCUSSÃO E CONCLUSÕES O ensaio decorreu dentro de condições climáticas consideradas normais para a cultura, não tendo havido danos graves devido a pragas ou doenças. Das cinco cultivares em estudo a mais produtiva foi a "Musica" que, na média dos dois tratamentos, (quadro VI) apresentou 5689 g/m2 de produção comercializável, não se registando todavia diferenças significativas em relação às restantes. Verificou-se ainda, (quadro V) que a produção comercializável, em todas as cultivares, foi superior a 80% da produção total tendo a maior % sido obtida com a cultivar “Sabinal” à densidade de 2 plantas/m2. Relativamente à produção incomercializável, constatamos que muita dela se deveu ao facto da produção ser colhida tardiamente, dando origem a vagens duras e fibrosas, tendo-se constatado que a 2 cultivar “Bonex”, plantada à densidade de 3 plantas/m , foi a que apresentou maior percentagem (16%) de vagens nesta categoria. Observaram-se também algumas características ao nível das vagens (quadro VIII), não sendo todavia de assinalar diferenças significativa entre as cinco cultivares em estudo. As cultivares “Mantra” e “Música”, nas primeiras sete colheitas, foram nitidamente mais produtivas que as restantes, o que indicia uma maior precocidade. No extremo oposto aparece a cultivar sabinal, que revelou ser relativamente tardia . 2 Ao nível das densidades de plantação, em que ao 1º tratamento correspondiam 3 plantas/m e 2 ao 2º tratamento 2 plantas/m , verificou-se que o melhor resultado, 5565 g/m2, se registou no 2º tratamento com diferenças de produção estatisticamente significativas para o nível dos 5% (quadro VII). Estes resultados, contrariamente ao que inicialmente prevíramos, mostram que em princípio não se justificará o uso de densidades de plantação superiores ao usual na região. Os consumos de água, bem como a % de solução drenada e os valores de pH apresentaram valores um pouco superiores ao inicialmente programado facto que se ficou a dever a avarias pontuais no equipamento de fertirrigação e algumas falhas humanas ao nível do manuseamento deste equipamento. Os valores de CE registados na solução nutritiva … saída dos gotejadores e na solução recolhida nas placas situaram-se dentro dos limites inicialmente previstos (Quadro IV). A produtividade da cultura de feijão verde em substrato de Lã de rocha, nesta época do ano, tanto a nível produtivo como qualitativo, registou valores bastante encorajadores. Parece ser uma cultura viável não tendo surgido dificuldades além das habituais, às já observadas, noutras culturas realizadas neste tipo de substrato, seguindo metodologias idênticas. Bibliografia - J. COSTA; A.ROSA; M.MENDES, (1994). Culturas Hortícolas em substratos. O Algarve e o Campo, Nº 3. Patacão. Faro. DRAAG/DIRP. - A.ROSA; M.MENDES; A.RODRIGUES; J.CAÇO (1994). Melão em Substrato de Lã de Rocha. Horticultura - Anuário1990/91 e 1991/92. Patacão. Faro. DRAAG/DIRP. - A.ROSA; B.SOUSA; A.RODRIGUES; J.CAÇO (1995). Culturas Hortícolas em Substrato de Lã de Rocha. - Anuário de Horticultura 1992/93 e 1993/94. Patacão. Faro. DRAAG/DIRP. - A.ROSA; C. Pacheco (1987). Rega Localizada do feijão Verde em Estufa - Elementos para a Campina de Faro. - Folhetos de divulgação. DRAAG/IPLA - 1987 FARO. - JOÃO LOPES (1987). DRAAG/IPLA - FARO. Feijão Verde em Abrigo Elevado - Folhetos de divulgação. - Catálogos das firmas fornecedoras da semente - Nunhems; Nickeson/Zwaan; Rijk Zwaan e JAD-Sementes.