4/4/2017 A ESPONTANEIDADE DOS PROCESSOS Prof. Harley P. Martins Filho • Segunda Lei da Termodinâmica Enunciado de Kelvin: Não é possível um processo no qual calor seja extraido de um reservatório e totalmente transformado em trabalho. Exemplo: Um trem a vapor isolado termicamente do ambiente não funcionaria. Exemplo mais distante: bola quicando no chão até parar. Processo espontâneo: trabalho do campo gravitacional produção de energia térmica nos pontos de choque. Processo não-espontâneo: resfriamento do solo trabalho de elevação da bola. 1 4/4/2017 Tentativa de critério de espontaneidade em termos de energia: Em um sistema isolado composto de um sub-sistema e suas vizinhanças, a energia total deve se conservar. O abaixamento de energia interna do sub-sistema não é critério de espontaneidade porque: Gases se expandem contra o vácuo sem variar energia interna Se a energia do sub-sistema abaixar espontaneamente, energia das vizinhanças tem que aumentar espontaneamente. Critério deve levar em conta natureza das energias: mudanças espontâneas são sempre acompanhadas por uma dispersão da energia em uma forma mais desordenada, em termos da movimentação de partículas que corresponde à energia. Exemplo da bola quicando: Movimento ordenado das partículas da bola Movimento térmico desorganizado Aumento do movimento térmico desorganizado Exemplo: contração de um gás em um canto de um reservatório implicaria em movimento organizado das partículas para o canto a partir de movimento desorganizado não-espontâneo. Exemplo: transmissão de calor de um corpo quente para um corpo frio concentrações de movimento térmico em corpos diferentes são não-espontâneas. 2 4/4/2017 • Entropia Absorção de calor aumenta movimento desordenado das partículas uma propriedade que meça dispersão da energia pode ser baseada no calor trocado. No estudo de máquinas térmicas, caracterizou-se que a quantidade dqrev/T computada em um ciclo qualquer zerava é uma propriedade de estado, relacionada ao calor trocado. Mesmo que o ciclo tenha etapas irreversíveis, a quantidade dqrev/T pode ser computada. Para uma etapa irreversível, imagina-se um processo reversível que leve o mesmo estado inicial ao mesmo estado final e usa-se o calor deste processo imaginado para o cálculo da quantidade. Entropia: dS dqrev T Para processos finitos, S (1) 2 1 dqrev T • Entropia e espontaneidade Vamos verificar como varia a entropia do universo conforme processos aconteçam em um sistema: Suniv = Ssist + Sviz Processo reversível Não pode haver diferença finita entre temperaturasTsist do sistema e Tviz das vizinhanças. dSsist dqrev ( sist) dq ( viz) e dSviz rev Tsist Tviz Mas dqrev(viz) = -dqrev(sist) e Tviz = Tsist: dSuniv dqrev ( sist) dqrev ( sist) 0 Tsist Tsist A entropia do universo não se altera em um processo reversível. 3 4/4/2017 Processo irreversível É possível demonstrar que em um sistema isolado um processo irreversível faz a entropia do sistema aumentar. Se considerarmos o universo como um sistema isolado, isto implica em que a entropia do universo deve aumentar para qualquer processo irreversível acontecendo dentro do universo. Se o processo ocorre em uma parte localizada do universo (o sistema), a variação de entropia do universo deve ser computada como a soma das variações no sistema e em todas as vizinhanças do sistema e esta soma deve resultar positiva. Suniv = Ssist + Sviz > 0 para processos irreversíveis. Virtualmente todos os processos reais são irreversíveis, e portanto o critério de espontaneidade para estes processos será que a entropia do universo deve aumentar. Exemplo: troca infinitesimal de calor entre duas massas de água a temperaturas diferentes colocadas em sistema isolado. H2O (1) H2O (2) dq Tbaixa Imaginando-se o calor sendo trocado reversivelmente com temperatura sempre homogênea nos dois lados, dqrev(2) = dqrev(1). Talta dS (1) dqrev (1) dq (2) e dS (2) rev T (1) T (2) Mas dqrev(2) = -dqrev(1) = -dqrev dSuniv dS (1) dS (2) dqrev dqrev T (1) T (2) Assumindo que T2 > T1, dSuniv só resultará positivo se dqrev for positivo Fluxo de calor espontâneo é o de um corpo quente para um corpo frio. 4 4/4/2017 • Variação de entropia na expansão isotérmica de um gás ideal Processo a T constante: S 1 Q dqrev rev T T Mas E = 0. Pela Primeira Lei, Q = -W. Para a expansão reversível, temos que V W nRT ln f Vi S nRT ln(V f / Vi ) T V nR ln f Vi (2) Exemplo: mostrar que a expansão de um mol de gás ideal de 1 L a 2 L a 298 K contra pressão constante igual à sua pressão final é espontânea. Para o gás: Ssist = 18,314ln(2/1) = 5,76 J K-1 Vizinhanças são uma massa que faz pressão sobre o gás e uma grande fonte térmica com temperatura só infinitesimalmente mais alta que a do sistema, de modo que transferência de calor para o sistema quase não altera sua temperatura: Sviz Q 1 2 dqviz ,rev viz ,rev T 1 T Mas o calor total que as vizinhanças devem perder para o sistema é independente da troca acontecer reversivelmente ou irreversivelmente, pois o sistema deve realizar uma quantidade definida de trabalho: Qviz,rev = -Qgás. A T constante, E = 0 Qgás = W. A pressão constante, W = -PopV = -PfV Pressão final: Pf = nRT/Vf = 10,08206298/2 = 12,22 atm W = -12,22101325(2 – 1)10-3 = -1238 J 5 4/4/2017 Sviz = -1238/298 = -4,16 J K-1 Suniv = 5,76 + (-4,16) = 1,6 J K-1 Entropia do universo aumentou (expansão espontânea) Casos especiais de expansões isotérmicas: Expansão reversível V S sist nR ln f Vi Suniv = 0 V Sviz nR ln f Vi Expansão livre V S sist nR ln f Vi Qviz = -Qgás = Wgás = 0 Sviz = 0 Vf Vi Suniv nR ln • Variação da entropia com a temperatura S Da definição: i f dqrev T Mudanças a P constante não envolvendo reações ou transições de fase: dqrev,P = CPdT, já que CP (dq/dT) relaciona a quantidade de calor que um sistema recebe com a variação de temperatura que acontece entre dois estados com temperatura homogênea (em equilíbrio termodinâmico), o que corresponde à troca de calor acontecendo reversivelmente. S i f CP dT T Mudanças a V constante: dqrev,V = CVdT S i f CV dT T 6 4/4/2017 Para CP e CV independentes de T, S CP i f T dT CP ln f T Ti T ou S CV ln f Ti a P cte. a V cte. (4) (5) Equações de estado para entropia de um gás ideal: S S dS dT dV T V V T Mas a V constante já determinamos como S varia com T (equação (5)) e na análise da expansão isotérmica determinamos como S varia com V (equação (2)). T S CV ln f Ti V nR ln f Vi (6) S S dT dP T P P T Ou dS Para determinação do segundo termo, na expansão isotérmica já analisada a pressão também varia, assim como o volume. Vf Vi P S nR ln i P f T cte. S nR ln Tf S CP ln Ti P nR ln i P f Mas PfVf = PiVi, se T é cte. (7) 7 4/4/2017 Exemplo: argônio a 25C e 1,00 atm em um recipiente de volume 500 cm3 se expande a 1000 cm3, aquecendo-se também a 100C. Calcular S, considerando o gás como ideal. Quantidade de argônio: n = PV/RT = 1,000,500/(0,082298) = CV,m = (3/2)R = 12,471 J K-1 mol-1 0,0204 mol Usando equação (6): S = 0,020412,47ln(373/298) + 0,02048,314ln(1000/500) = 0,05711 + 0,1176 = 0,17467 J K-1 Usando equação (7): Pressão final: P = nRT/V = 0,02040,082373/1,000 = 0,6244 atm CP,m = CV,m + R = 20,785 J K-1 mol-1 S = 0,020420,78ln(373/298) + 0,02048,314ln(1,00/0,6244) = 0,09516 + 0,07988 = 0,17504 J K-1 • Entropias de transição de fase Processo: fase condensada fase dispersa Fase dispersa tem mais movimento térmico desordenado aumento de entropia. Processos onde partículas se separam ou são subdivididas aumentam entropia. Transições acontecem em T constante, se P for mantida constante As duas fases estão em equilíbrio de P e T É igualmente fácil forçar o processo em uma direção ou outra S Qrev ,P H trans Ttrans Ttrans Processo é virtualmente reversível (3) 8 4/4/2017 Exemplo: entropias de vaporização de líquidos Hovap (kJ mol-1) Tvap (oC) Sovap (J K-1 mol-1) Benzeno 30,8 80,1 (353,3 K) 87,2 H2S 18,7 -60,4 (212,8 K) 87,9 Regra de Trouton: para uma grande variedade de líquidos, Sovap 85 J K-1 mol-1 Grau de organização dos vários líquidos é semelhante, assim como o grau de organização dos gases correspondentes. Medindo Teb para um líquido, é possível estimar sua Hovap. Exceções (exemplo): H2O (Sovap = 109,1 J K-1 mol-1) Pontes de hidrogênio no líquido tornam sua estrutura mais rígida maior organização (S mais baixa) na fase líquida do que para as outras substâncias. 9