cidade virtual

Propaganda
XX ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS
GT ESTUDOS URBANOS
CIDADE VIRTUAL
TAMARA TANIA COHEN EGLER
PROF. IPPUR/UFRJ
Código Arquivo: 96GT0723.DOC
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL
PRÉDIO DA REITORIA, SALA 543
CIDADE UNIVERSITÁRIA
RIO DE JANEIRO - RJ
Caxambu, outubro de 1996
CIDADE VIRTUAL
O advento de novas tecnologias de informação e comunicação se
desenvolve rapidamente e atinge amplas esferas do processo social.
Estamos observando uma transformação no que se refere a produção
das formas materiais, da cultura , da política , da vida cotidiana.
Essencialmente podemos observar uma ampliação da virtualidade
onde formas materiais dão lugar a formas imateriais. Elas se
constituem em representações imagéticas da produção cultural,
econômica e social.
Cada vez mais a interação do processo social se faz intermediar pela
ação da imagem virtual. O indivíduo defronte da tela do computador e
através das redes pode acessar um conjunto de processos que o
colocam em comunicação imediata com um grande leque de
oportunidades de trocas materiais, de apropriação de processos
culturais, de saber científico, de negócios, e inclusive de relações
afetivas.
Esse movimento de virtualização incide sobre a vida cotidiana onde já
podemos observar o resultado desse processo na ampliação do número
de horas em que o sujeito , permanece defronte da tela do computador
. O correio, as compras de supermercado, a vista ao museu, a ida ao
cinema, são e estão sendo substituídas pela imagem digital. Hoje já é
possível fazer uma visita virtual ao Louvre de muitos lugares do
planeta, ao acesso já se faz possível das favelas da cidade do Rio de
Janeiro, que dispõem de um computador apropriado e de uma linha
telefônica.
Quais são os efeitos desse processo na construção da materialidade
urbana e sobre a justiça social?
Ao analisar o processo de virtualização em curso Pierre Levy mostra
que se trata de uma transformação de um modo de ser em outro, se
verifica um movimento que vai do real para o virtual, e se observa uma
transição cultural acelerada. Para compreender no que concerne a
virtualização ele trabalha com os conceitos de realidade, de
possibilidade, de atualidade e virtualidade, onde ira observar os
movimentos de desterritorialização em curso e outras transformações
nas relações espaço- temporais.
O desenvolvimento da análise parte da noção de virtual como a pura e
simples ausência de realidade , que supõe uma efetiva materialidade.
Na filosofia escolástica o virtual é aquilo que existe em potência , em
força e não em atos, com todo rigor filosófico o virtual não seria uma
oposição ao real, mas ao atual, e assim virtualidade e atualidade
seriam duas maneiras de ser diferentes. É aquilo que pode acontecer no
futuro. Trata-se pois de uma relação temporal. Define a virtualização
como um movimento inverso à atualização.. É uma passagem que se
realiza do atual ao virtual
O exemplo utilizado por Levy é a virtualização de uma empresa, onde
o centro do processo não é mais a organização espacial de um
conjunto de estabelecimentos e postos de trabalho interligados
espacialmente, mas um processo de coordenação espaço-temporal de
um coletivo de trabalho interligado comunicativamente. A
virtualização coloca novas questões na medida em que ela dissolve
hierarquias anteriormente estabelecidas, aumenta a liberdade dos
membros desse coletivo de trabalho. Ela implica em irreversibilidade
nos seus efeitos, indeterminação no seu processo e invenção no seu
esforço do que a atualização. A virtualização é criação da realidade.
(Levy,P,1995)
Real e virtual na cidade
A história do processo de urbanização torna clara como o advento da
cidade industrial estava associado ao desenvolvimento do trabalho
fabril, fundado na cooperação do trabalho, e no coletivo de
trabalhadores organizados no interior do estabelecimento em torno de
uma forma específica de divisão do trabalho. O conjunto de fábricas
localizadas na mesma proximidade respondia a uma determinada
divisão técnica na sociedade do trabalho. As formas de organização do
trabalho, a divisão das atividades econômicas, a dinâmica do processo
industrial, colocam o processo de urbanização e a proximidade
espacial das atividades materializadas como fundamento das formas de
organização do trabalho e da sociedade.
A passagem da sociedade do trabalho para a sociedade da
comunicação , coloca novas questões sobre as formas de produção da
riqueza , interação no trabalho, trocas entre os diferentes capitais , e
suas resultantes a nível espacial. Trata-se pois de um profundo
movimento de transformação que subtrai a materialidade espacial
como elemento fundante para a produção da riqueza. Na medida em
que é possível substituir uma comunicação corporal por uma
eletrônica. Não é preciso mais estar no mesmo lugar, é suficiente estar
conectado em rede. A subtração da proximidade espacial altera a
lógica das formas de organização espacial da sociedade.
Assim podemos pensar que no futuro próximo deverão coexistir um
conjunto de processos de produção que tem formas materiais e formas
imateriais. Quais são os processos da cidade virtual?
Pensar a cidade é pensar a forma particular de organização da
produção e da sociedade, são as formas materializadas desse processo.
Assim a história da urbanização é contada pela cidade colonial,
comercial industrial, e será que podemos falar em cidade virtual?
Estamos diante de um novo momento histórico onde iremos observar
mudanças no padrão de urbanização?
A passagem da cidade comercial para a cidade industrial , implica em
uma sobreposição de processos espaciais, onde ao lado do entreposto
comercial é construída a fábrica então moderna. A cidade é a
temporalidade de processos históricos espacializados é tempo no
espaço. Podemos ler o espaço através das diferentes espacialidades
temporalmente definidas.
A primeira questão é saber se a cidade virtual vai se sobrepor na
mesma espacialidade da cidade que a antecede? Em outras palavras o
advento das novas tecnologias e suas formas imateriais libera a cidade
virtual de sua forma anterior?
O primeiro conjunto de diferenças pode ser encontrado na
materialidade/imaterialidade. Na sociedade industrial moderna, são
constituídas formas materializadas de trabalho , consumo ou lazer.
Como ir ao supermercado, ao escritório, ao cinema. Na sociedade da
informação eletrônica essas atividades podem ser substituídas por uma
tela onde se faz compras de supermercado, se trabalha , se assiste um
filme., sem sair de casa.
A noção de lugar também muda podemos imaginar um processo de
transformação nas formas de circulação. Ir ao trabalho, cinema ou
teatro, implica na existências de diferentes espacialidades como uma
fábrica, uma sala de projeção, ou representação. É necessário um meio
de transporte individual ou coletivo, e realizar esse processo de
circulação entre as diferentes espacialidades .A cidade virtual muda a
noção de lugar. No mesmo lugar é possível acessar um conjunto de
processos de trabalho e consumo..
Muda a noção de lugar na medida em que trabalhar, fazer compras, ou
assistir a um filme se constitui em uma ação que elimina o
deslocamento espacial . Defronte da tela do computador é possível
acessar a rede das atividades econômicas, navegar por atividades
culturais e adquirir bens e serviços.
É uma profunda alteração na concepção de lugar, de edificação de
espaço. O escritório, a sala de cinema, o museu podem ser substituídos
pela tela do computador. Quais são os efeitos desse processo sobre a
materialidade urbana, e sobre o processo social.
A noção de espaço se transforma para uma condição aespacial. Nessa
direção, atividades que anteriormente requeriam formas espaciais são
substituídas pela representação imagética. Para cada movimento do
desenvolvimento tecnológico, temos diferentes formas de organização
do espaço. Na sociedade informacional o espaço é virtual.
As implicações desse movimento sobre a espacialidade urbana nos
permitem pensar que a ampliação da interação humana por redes, tende
a substituir edifícios por informação eletrônica. Assim no lugar de
processos de construção do espaço temos projeções imagéticas no
espaço cibernético.
O projeto de arquitetura é substituído pelo programa de computador
que permite a interação via rede eletrônica. Pensar a arquitetura virtual
é pensar em novas formas de organização do acesso à informação.
Pensar a organização do espaço material é ocupar o espaço , organizar
fluxos de circulação ,propor formas de vida. Para realizar o projeto é
necessária a interação de um coletivo de profissionais em engenharia e
arquitetura. O projeto virtual responde a uma outra lógica, trata-se de
propor uma nova espacialidade , onde o deslocamento do corpo é
substituído pela navegação eletrônica. A organização do espaço
arquitetônico é substituída pela proposta de navegação cibernética.
A construção de um supermercado exige a participação de um conjunto
de trabalhadores que exercem um sem número de atividades
,engenheiros, mestres, pedreiros, serventes que em processo
cooperativo constroem a materialiade da edificação. A matéria-prima
componente representa, toneladas de cimento, de madeira de ferro.
Trata-se de um esforço de trabalho e de alocação de capitais que se
sustentam na transformação de materiais primas naturais em produtos
industrializados que por sua vez respondem também ã processos de
produção específicos, nos quais estão implicados um conjunto de
saberes e especialidades.
Todos esses processos podem agora ser substituídos por uma “home
page“ que através de um sistema multimídia, para manter o exemplo do
supermercado, pode trazer um conjunto de informações relativas aos
produtos que estão disponíveis para a venda naquele lugar do espaço
cibernético. Trata-se de substituir um prédio por um sistema se
informação organizada por um movimento de navegação.
A dinâmica do processo espacial está ancorada no avanço das
atividades econômicas , para cada momento da história podemos
observar as atividades que se posicionam à frente do desenvolvimento
econômico e à frente do processo espacial. Podemos ler essa história
nas formas da arquitetura e da cidade.
Para cada momento histórico uma função dominante da arquitetura. Por
exemplo, no início do processo de industrialização, a fábrica e a vila
operária, com o avanço da industrialização, a verticalização e o
complexo industrial, depois com o capital financeiro os grandes bancos
e monumentais edifícios de negócios. São processos, formas materiais,
atividades econômicas que se sobrepõem.
A cidade virtual é uma resultante da cidade industrial. A transformação
da espacialidade material está ancorada na existência de uma forma
urbana que a precede. A rede de computadores se sobrepõe a estrutura
espacial , composta por um conjunto de outras redes, unidades
habitacionais e outras edificações. Pensar o futuro é construir o
presente (Santos ,M. 1996). Hoje a construção da cidade virtual se
realiza sobre a espacialidade historicamente dada.
A cidade moderna é a forma material de processos econômicos e
sociais, é composta por ruas, praças edifícios. Conhecer a cidade é
andar, deslocar o corpo no espaço. Nesse movimento é possível
descobrir, viver a cidade. Os cidadãos são as pessoas que habitam um
determinado espaço e estabelecem um sentimento de pertencencimento
e de identidade. Está associado a memória individual e coletiva. O
espaço é capaz de produzir essa memória nos indivíduos, o lugar é
exatamente essa relação de pertencer porque faz parte do nosso corpo,
em forma de memória. Quando as pessoa se deslocam no espaço vivem
um determinado fato, um encontro, um lugar, que produz uma vivência
e uma história.
Existe uma forma urbana a ser conhecida, descoberta. Quem conhece a
cidade , conhece suas oportunidades de vida e de trabalho. Conhecer a
cidade é permitir uma interação positiva com o espaço no qual se vive.
Existe uma lógica cartesiana para se deslocar no espaço material, com
algumas dificuldades é possível reconhecer os espaços de uma nova
cidade em poucos dias.
A cidade virtual responde a uma nova lógica. Hoje ela está inscrita nas
estruturas informatizadas das novas formas de representação dos
espaços, nas novas escrituras de navegação multimediática, nas
infovias, no mundo cibernético. É um novo espaço, e a sua lógica está
em elaboração, se constitui em uma reunião de diferentes linguagens.
Informática, imagética e textual, são as novas formas da cidade virtual.
Navegar no mundo virtual pressupõe uma outra lógica para o processo
de apropriação dessa nova espacialidade. Formas espaciais edificadas,
são substituídos por espaços imagéticos, nomes de ruas e números por
endereços eletrônicos personalizados, portas por home page, quer dizer
exatamente página da casa. Trata-se de substituir o espaço pela
imagem.
A home page é a porta de entrada da casa, da instituição, do autor, do
supermercado. A cidade real é o lugar onde se encontram um conjunto
de atividades industriais, comercias, de habitação, onde os homens
realizam um conjunto de trocas que resultam na dinâmica do processo
econômico e social. A construção dessa materialidade está ancorada
numa lógica espacial que aproxima a igualdade de atividades ,como é o
caso de construção de distritos industriais, ruas comerciais, bairros
residenciais. É a divisão territorial do espaço. Para cada lugar uma
determinada forma de uso do espaço.
A construção de uma espacialidade requer um conjunto de processos
que vão desde disponibilidade de terra, de capital e de processos
construtivos para construir os lugares na cidade edificada. Por exemplo,
para construir uma fábrica é necessário um capital inicial que permita
adquirir o lugar, pagar a renda, além daquele necessário para dar início
às atividades.
Ocupar um lugar na cidade virtual requer um equipamento eletrônico
apropriado, e informação organizada. São substituídos formas materiais
e objetos pôr formas imateriais , criatividade imagética e saberes.
Novas lógicas imateriais no espaço cibernético. (Mitchell, W., 1995).
Existe uma divisão social no espaço virtual?
O essencial nas novas formas sociais é a valorização do singular.
Teoricamente, todos aqueles que detêm um computador conectado à
uma rede poderá emitir e receber mensagens. A interatividade é uma
das condições do espaço informático. Receber e emitir mensagens
textuais e imagéticas é uma possibilidade dada pelas novas formas da
comunicação. Entretanto, essa condição por si só é insuficiente para o
exercício desse processo de democratização dos meios de comunicação.
É necessário exercer um domínio sobre um processo de comunicação.
Já podemos observar que o espaço cibernético de alguma forma
reproduz o espaço real É a grande imprensa que mantêm seu domínio
sobre a comunicação cotidiana, as redes de super -mercados já
constituem processos de informação para clientes preferenciais, as
universidades se organizam para irradiar saber pela rede.
A produção do conhecimento, da informação e da tecnologia
informática é a .que permite o exercício do domínio sobre a cidade
virtual. O poder muda de donos. A dominação sobre os sistemas de
informação associadas ao desenvolvimento da tecnologia digital é o
lugar que credencia para as novas formas de exercício do poder. A
literatura sobre o tema é bem ampla, , onde são conhecidos as relações
entre poder e comunicação. Se compreendemos o poder como a
capacidade de conduzir a ação do outro na direção do nosso próprio
desejo (Arendt, 1994), podemos imaginar a importância dos meios de
comunicação na condução de uma ação coletiva. Conhecemos a
capacidade dos meios de comunicação de produzir a informação e
práticas sociais coletivas, em direção à um projeto exógeno. O
exercício do poder hoje está nas mãos de quem domina as novas
estruturas comunicativas .
Esta questão está associada ao espaço da comunicação digital , na
medida em que o desenvolvimento da comunicação numerizada é que
irá determinar espaços de dominação no mundo virtual. A dominação
no espaço virtual deverá se constituir nos próximos anos no lugar mais
valorizado do exercício do poder. É por essa razão que observamos um
conjunto de processos associados ao desenvolvimento de políticas para
o desenvolvimento das infra-estruturas comunicativas no Brasil.
Pensar a nova ordem da cidade virtual nos leva a identificar processos
associados a relação do homem no espaço. O desenvolvimento dos
meios de informação via rede produz a desmaterialização de diferentes
espacialidades. Lugares de trabalho, de lazer, de atividades culturais, de
transporte podem ser substituídos pela representação de processos na
rede. A cidade virtual desmaterializa a cidade real. Entretanto, não a
elimina, verifica-se um processo de transformação das espacialidades.
As atividades anteriormente desenvolvidas em espacialidades definidas
passam a ser desenvolvidas dentro de casa. Não é mais necessário sair
de casa para trabalhar, usufruir de atividades de lazer, ou consumir
mercadorias. Observamos então , uma revalorização dos espaços de
habitação e do bairro. O lugar se revaloriza como espaço de
sociabilidade e de vida.
Novas formas da relação público/privado. A cidade moderna foi
pensada e concebida como uma espacialidade onde se estabelecia
profunda separação entre as atividades concebidas como públicas e as
privadas. A carta de Atenas referência básica da ação urbanista e
planejadora segmentava a cidade nas suas múltiplas atividades,
basicamente dividida em espaços públicos e privados. Pensar o uso do
solo foi desenhar sobretudo essa separação em zonas industriais, para
atividades de trabalho, residências para habitação, cidades
universitárias para a produção e transmissão do conhecimento. Para
cada lugar uma atividade definida entre público e privado.
Na cidade virtual: trabalhar, estudar, comprar são atividades que podem
ser realizadas dentro da casa. Muda a relação público/privado, nas
concepções espaciais. Assim, os espaços de trabalho que eram
desenvolvidos em espaços públicos específicos passam a se realizar do
interior do espaço privado. O que transforma as formas de apropriação
do espaço.
Quais são os efeitos desse processo sobre
comunidade.?
o sujeito, a família, a
COMUNIDADES VIRTUAIS
A relação entre dois sujeitos face a face, passa por uma interação que se
compõe de múltiplas percepções e identificações. Que podem ser
traduzidos por gestos , lugares , posicionamentos. A formação de um
sujeito passa por um incessante movimento de interação com o outro.
Olhar para o outro é identificar-se e constituir-se a si próprio (Rath,
s/d). É nesse movimento de interação com o outro que se estabelecem
as relações individuais, afetivas, e de trabalho. Limites e integrações
são constituídas no interior desse movimento, individual, familiar e
comunitário.
A interação por sinais eletrônicos deve mudar substancialmente a
relação do sujeito na comunidade que passa a ser virtual. No lugar do
outro, a sua mensagem, e no futuro próximo a ampliação da
transmissão de imagens através da já desenvolvida tecnologia de vídeo
conferência.
São novas formas de integração social, onde o sujeito de sua tela em
sua casa pode estabelecer conexões interativas com sujeitos de outros
lugares do planeta. Novas identificações deverão se estabelecer ao
longo desse movimento de interconexão. Experiências em curso em
diferentes lugares do planeta podem ser conhecidas , apropriadas e
reconhecidas em curto espaço de tempo. Comunidades anteriormente
separadas por relações espaciais podem se intercontactar , constituir e
manter elos apesar das distâncias físico espaciais.(Palácios, 1996).
É preciso que se constituam identidades do lugar, étnica, do interesse
profissional, de idade para que se construam comunidades virtuais. No
lugar do gesto e do corpo, textos e imagens. Novas interações na
comunidade virtual.
Esse movimento não elimina formas de interações que o precedem.,
isso quer dizer que se mantém e se ampliam as oportunidades de trocas
entre os sujeitos sociais. As comunidades que já existem e se
estruturam nas suas formas tradicionais , que são constituídas de forma
onde são dadas identificações de natureza religiosa, intelectual, política
se mantêm ampliando suas bases de interação. As comunidades virtuais
, buscam realizar formas corporais de interação.
Haverá uma alteração na subjetividade dos sujeitos? Os sentimentos
são processos que se realizam e se transformam na base do
desenvolvimento do processo social. As formas da subjetividade são
socialmente e historicamente determinadas,. As práticas sociais são
dadas a partir de um conjunto de idéias que valorizam processos sociais
e que resultam em subjetividade específicas.
Na cidade virtual o processo de identificação e de formação de
comunidades corresponde a um novo conjunto de valorizações que
reúnem um grande número de processos identificatórios. As
comunidades virtuais são redes que podem se estruturar de forma
mundial reunindo sob um mesmo manto um conjunto de pessoas que se
identificam entre si, por razões econômicas , científicas e
culturais.(Palácios,1996). A cidadania virtual é justamente essa
capacidade de pertencer ao maior número de redes. O cidadão virtual é
aquele que ocupa lugares eletrônicos no ciberespaço
Formas avançadas de sociabilidade e cidadania que se sobrepõem, à
outras formas anteriores de realização da condição cidadã. Os mais
críticos devem dizer : mas como pensar em cidadania virtual se as
condições elementares de conexão por exemplo à rede de esgoto, e
água ainda não se realizarem para grande parte da população urbana do
Brasil?
O traço mais marcante da sociedade brasileira passa exatamente por
essa questão: por um lado formas às mais avançadas de
desenvolvimento e riqueza e, por outro lado, processos arcaicos e de
pobreza. A virtualização da economia, da sociedade, e do território é
um fato real que conduz a sociedade a movimentos de transformação
que deverão ser construtivos para o processo social como um todo. Não
se trata de negar a sua importância mas de estabelecer esferas de
resistência que conduzam os sujeitos sociais à lutarem para a sua
inclusão na esfera desse novo mundo e de suas múltiplas possibilidades
de vida, trabalho e de lazer.
A constituição de comunidades auto organizadas comunicativamente,
como é proposto por Haberamas (1988), como o caminho para a
produção da riqueza social ,ancorada em formas solidarias de ação
,encontra nas redes de comunicação informatizada a oportunidade de
sua concretização.
Compreendemos então que a virtualização pode ser uma alavanca para
impulsionar um conjunto de processos para o seu desenvolvimento
social. A utilização das redes se constitui numa possibilidades
tecnológica que permite a concretização desse ideário de auto
organização e autodeterminação de sujeitos sociais e comunidades.
A Internet é uma comunidade de computadores que se comunicam
entre si , é uma rede que interconecta redes de todos os tamanhos, é a
rede das redes. O seu sucesso se deve a que se trata de um lugar aberto,
é possível paticipar dela sem pedir autorização à ninguem. É um lugar
igualitário onde cada ponto da rede tem o mesmo estatuto que todos os
outros, é econômico cada um pode transmitir informação a um preço
muito baixo, sem precedentes históricos. É um sistema que permite a
conectividade , onde todas as pessoas que tem um computador , podem
dispor de um endereço eletrônico que os coloca em igualdade de troca
com todos os outros participantes da rede (Aftel,1996). Certamente é
preciso ter alguma coisa para trocar., uma informação, um saber, uma
história, uma obra de arte, ou um afeto.
Com quem se troca dentro da rede , essa é outra questão. Reune então
as comunidades virtuais, novas formas de sociabilidade e de
comunicação. É possível encontrar seus iguais dentro da rede e com ele
se comunicar, através de novos processos de identificação.
Ela não impõe normas .Foram os usuários que criaram o correio
eletrônico, os fóruns de debates, o protocolo de transferência de
arquivos., e mais recentemente, a World Wide Web. Não existe coação,
o que se assegura é o poder de se comunicar com o maior número de
pessoas no mundo. (Aftel,1996)
O coletivo de usuários detêm o poder sobre as instâncias de
funcionamento das trocas entre os internautas, não se trata de uma
autoridade mais de um lugar eletrônico onde se desenvolve um debate
continuo aberto para todos. Não há autoridade superior, são dadas
novas estruturas de poder no espaço cibernético. (Aftel,1996)
A comunicação via Internet não é gratuita, são os usuários que pagam
pelo uso dos serviços para os operadores, a um baixo custo de
operação. É um momento de estruturação do processo onde os atores
estão se posicionando no espaço virtual da cidade mundial. Que pode
interconectar internautas localizados em muitas cidades do mundo.
Novas identidades globais.
Está claro que estamos diante de um momento onde os atores estão se
posicionando, quando num futuro próximo, deverá se constituir uma
redefinição das relações econômicas entre os navegadores do
ciberespaço. Estão inventando formas e possibilidades de interagir para
realizar ganhos através da rede mãe. É um lugar onde deverá se realizar
com intensidade um conjunto de processos associados a atividades
econômicas, de educação e de lazer, a custos excepcionalmente baixos.
Hoje já é possível acessar o Louvre de favelas das cidades brasileiras
equipadas para tanto, a um custo de uma carta de correio. Já foram
realizadas milhões de visitas ao Louvre via Internet. É um acesso que
pode levar para todas as salas de aula do mundo, a história da arte
universal em amplo processo de democratização da cultura.
Recentemente no Estados Unidos foi desenvolvida uma política social
de combate a pobreza , ancorada no uso da Internet. Foi realizado um
treinamento com os moradores que possibilitou a apropriação de
procedimentos técnicos e que resultou no desenvolvimento de
atividades econômicas. Sendo que as micro empresas que se
constituíram possibilitaram um faturamento da ordem se Cr 50000,00.
(Jornal do Brasil, 7/1996). No Brasil a Linck, organização não
governamental, está desenvolvendo uma ação de constituir nas favelas,
de diferentes cidades do Brasil, escolas de informática.. As escolas são
auto gestionadas e pagas ,as mensalidades são de baixo custo em torno
de Cr 10,00. O resultado desse processo é que as escola se mantêm de
forma autônoma e podem realizar investimentos inclusive na
ampliação de equipamentos. Para a comunidade local é um universo
que estimula a população jovem para atividades de trabalho intelectual.
Os computadores se constituem
num imaginário socialmente
valorizado e podem oferecer constituir novas oportunidade de vida e de
trabalho.
O argumento de que a informática seria mais uma forma da
desigualdade social, onde as formas da exclusão social se reproduzem
na mesma dinâmica de outros processos históricos pode ser debatido. A
nossa análise indica que os baixos custos da sociedade informacional,
se constituem em uma oportunidade histórica para iniciar um resgate
com a histórica dívida social, que as elites brasileiras tem com as
classes populares do país.
Em primeiro lugar podemos pensar nas escolas. É bem conhecida a
observação sobre a fascinação que uma tela é capaz de exercer sobre a
atenção das crianças. O olhar da criança fica fixo na tela sobre as
formas oníricas e estimula a ação imaginária. Com o desenvolvimento
da tecnologia numerizada. e da telemática, será possível irradiar
imagens que permitem manipulação. Isso quer dizer que estão sendo
geridos um conjunto de processos tecnológicos que poderão
transformar profundamente a dinâmica da educação A imagem
televisiva, é analógica, não aceita interatividade, a imagem numerizada
permite interatividade. A diferença entre uma televisão e um
computador é exatamente essa possibilidade de entrar dentro da tela e
interagir criativamente com a imagem . Assim podemos imaginar a
intensidade dos processos de transformação em curso, que deverão
colocar em disponibilidade um conjunto de novas possibilidades para
produção e apropriação de saberes. A um preço de produção muito
baixo.
São outros processos que requerem, novas estratégias de produção da
educação. , que deve levar para os professores e alunos as múltiplas
possibilidades de uso da informática para a produção e apropriação do
saber.
Esse exemplo da educação é importante na nossa análise porque se
refere a novas possibilidades de acesso ao saber e à cultura. A
compreensão é um momento que antecipa a ação., quem sabe é capaz
de fazer. E estamos convencidos de que a justiça social passa por uma
equidade na apropriação da informação e no acesso à educação. Sair de
um plano que conduz a ação do outro , para um plano na relação social
que respeite, e valorize a autodeterminação dos sujeitos sociais. Para
tanto, é necessário pensar em formas que se traduzem na formação de
sujeitos sociais capazes de lidar com as dificuldades e possibilidades da
vida, de forma autônoma.
Essa possibilidade se torna mais real, quando sabemos que está sendo
desenvolvida uma nova tecnologia de produção de computadores ,por
um pull de grandes empresas como IBM e MICROSOFT, que até o
final do próximo ano deverá colocar no mercado um computador a um
preço de CR 500,00. E que no futuro próximo não se pagará pelo
computador , mas apenas pelo uso dos serviços.
A questão da democratização e da justiça social na cidade virtual passa
por essa questão. A forma de garantir às populações pobres o acesso a
informação e à educação (Ribeiro,1995). Estamos pois diante da
questão do papel do Estado.
ESTADO E GESTÃO VIRTUALIZADA
Pensar a questão do Estado em relação s políticas sociais , foi pensar
numa ação que valorizava a intervenção estatal no sentido de produzir
um conjunto de políticas de bem estar, como, saúde, educação e
habitação para as populações pobres que não tinham condições de
participar do mercado capitalista desses bens.
Foi montada uma máquina burocrática que tinha por responsabilidade
gerir políticas públicas setoriais que organizada de forma centralizada e
burocratizada respondeu por resultados parciais e muitas vezes
clientelistas e corporativistas. (Draibe,1988).
A crise do Estado no Brasil, abre um debate que busca caminhos de sua
superação. Basicamente, as propostas caminham no sentido de se
valorizar um processo de singularização. Mais claramente são
realizados movimentos no sentido da privatização, da descentralização
das máquina burocrática do Estado e da implicação dos sujeitos na
gestão de suas necessidades
A questão do desenvolvimento se desloca de uma interpretação de
natureza econômica para uma, análise que valoriza a questão social e
cultural. Pensar a pobreza não significa apenas uma referência salarial,
mas de um conjunto de processos históricos que passam pela exclusão
das classes populares dos direitos fundamentais de cidadania. Como o
direito à cidade, educação, cultura, e política.
São dois movimentos em curso, um primeiro de crise e um segundo de
mutação, é no interior dessa complexidade de retrocesso e avanço que
se redefine a ação do Estado. Pensar o Estado social é compreender a
importância de uma ação que valorize o acesso das populações pobres
aos meios de comunicação. Não se trata de eliminar o Estado mas de
reinventa-lo (Egler,1994).
Esse Estado deve gerenciar um conjunto um conjunto de processos
associados à acessibilidade das classes populares a informação e a
comunicação (Ribeiro, 1993). Para tanto deve se pensar em um
conjunto de políticas que permitam a difusão do conhecimento de
equipamentos e meios de trabalho de informática, de financiamento da
aquisição de equipamentos ,e de democratização da informação e
comunicação. Podemos pensar então num Estado Informacional.
São duas formas de cidade que se sobrepõem e interagem uma sobre a
outra. O processo de virtualização age nas seguintes direções:
desmaterializando formas edificadas, singularizando processos
econômicos, e constituindo formas de individuação social.
Cada vez mais as pessoas se voltam para os espaços privados , onde
defronte da tela do computador se entretêm com um representação
imagética que se torna mais interessante do que a própria realidade.
Trabalhando, assistindo a uma programação cultural , ou simplesmente
navegando no ciberespaço, as pessoas optam pela virtualidade espacial.
Por outro lado, observamos um abandono de espacialidades que
anteriormente eram ocupadas por atividades econômicas industriais ou
e de serviços, bem como um processo de depauperação do espaço.
Podemos portanto, observar um movimento de valorização do virtual e
de abandono do real. Cada vez mais os processos se virtualizam, levam
a transformação das necessidades espaciais, os espaços materiais
passam a ser ocupados por processos virtuais, é um movimento que se
inicia e que deverá se ampliar no desenvolvimento das trocas virtuais.
As novas formas de realizar políticas de gestão dos espaços , devem
refletir sobre a dupla dimensão desse movimento de espacialização. A
sobreposição de uma cidade sobre a outra, e a proposição de políticas
de gestão apropriados a essa dupla determinação.
Primeiro: o que fazer dos espaços desmaterializados? Promover uma
intensificação da ação de renovação dos seus usos, e de manutenção do
patrimônio construído. Trata-se de estimular uma ação da política
urbana, no sentido do reinvento do uso de espaços. Dando função
social à espacialidades já construídas. (Adalto, 1996).
Num outro nível, podemos pensar numa ação planejadora associada ao
desenvolvimento de processos virtuais. Aquela que implica o sujeito na
produção de suas própria espacialidade. Educar para a cidade é colocar
em disponibilidade um conjunto de saberes sobre os processos
espaciais, e sobre as possibilidades de sua apropriação. Pode conduzir
a um processo de auto-organização que podem resultar em formas
autônomas de gestão do espaço.
O terceiro nível reflexivo é a gestão referida à própria rede , seus
lugares, suas estruturas de gestão, e da ação dos diferentes agentes
sobre , suas formas de uso e de apropriação. A história da Internet,
criada no âmbito da ciência, estabeleceu fronteiras de gestão auto
organizativas. Nenhum organismo dispõe de poder para fazer a lei
sobre a Internet. Existem no entanto, instâncias de regulação e de
discussão, criadas e geridas pelos autores da rede, e cuja filosofia
reflete as concepções que a geraram. de ser um lugar de produção de
processos apropriados de forma coletiva. (Aftel, 1996)
Manter a autonomia de gestão da rede assegurando a livre conexão, e
navegação, bem como a liberdade de expressão é pensar estruturas de
gestão que valorizam a liberdade como ponto de partida para processos
econômicos, sociais e culturais, onde todos podem participar das
decisões concernentes às formas de sua auto regulação, onde normas e
leis tendem a ser substituídas por um conjunto de ações, ancorados em
uma cultura de valores coletivamente acordada. Preservar essa
democracia do uso virtual do espaço é certamente a fronteira da
resistência aos sempre crescentes interesses daqueles que buscam
estabelecer sua dominação sobre a gestão da rede.
Sonhar a democracia direta ou representativa, foi sempre uma forma de
buscar contrapor interesses coletivos a interesses individuais. A
socialização e democratização da sociedade passou por um processo de
contrapor forças coletivas ao poder dos interesses individuais de
capitais ou sujeitos históricos. Ironia da história? O desenvolvimento
tecnológico dado pelo avanço das relações capitalistas resultou em um
movimento de singularização e democratização de gestão dos novos
espaços da cidade virtual.
BIBLIOGRAFIA
Aftel - Internet, Paris, A Jour, 1996.
Arendt, Hannah - A dignidade da política, Rio de Janeiro,
Relume-Dumará, 1993.
Draibe, Sonia - O Welfare State no Brasil, XII Encontro ANPOCS,
Águas de São Pedro, 1988.
Egler, Tamara Tania Cohen - Saber e Agir. Comunicação e
habitação. Conferência Internacional de Habitação, BEIJING,
1994.
_________________________ - Novas tecnologias da imagem,
sujeito e ação social, V COMPÓS, São Paulo, maio 1996.
Habermas, Jurgen - A nova intransparência. A crise do Estado do
bem estar social e o esgotamento das energias utópicas. Novos
Estudos CEBRAP, N. 18, 1987.
Levy, Pierre - As tecnologias da inteligência, Rio de Janeiro,
Editora 34, 1993.
___________ - Q'uest-ce que le virtuel. Paris, Sciences et Societé,
Editiions la Découverte, 1995.
Mendonça, Adalton da Mota - Projeto de Dissertação de
Mestrado, IPPUR/UFRJ, 1996.
Mitchell, William J. - City of bits: space, place and intobahn,
William J. Mitchell. Massachussets, Mit. Press, 1995.
Rath, Claus Dieter - Labyrinthers du Savoir, Mimeo, s/d.
Ribeiro, Ana Clara Torres - Matéria e Espírito: o poder
personalizador dos meios de comunicação. In Piquet, Rosélia e
Ribeiro, Ana Clara Torres, Brasil: Território da desigualdade
(descaminhos da modernização). Rio de Janeiro, Zaar, FUB, 1981.
________________________ - Mutações na Sociedade Brasileira:
Seletividade em atualizações técnicas, in Santos, Milton et alli. O
novo mapa do mundo, São Paulo, Hucitec, ANPUR, 1993.
Santos, Milton - Palestra proferida no Seminário Espaço e Tempo.
Inovações tecnológicas na vida metropolitana.
Sydensfricker, Iara - Um sonho de lugar: reflexões sobre criança e
cidadania. Tese de Mestrado defendida IPPUR/UFRJ, março 1995.
Download