/FEVEREIRO, 2012 Volume 3, Edição 1 NÚCLEO HOSPITALAR DE EPIDEMIOLOGIA HUGO Editorial Nesta edição, o Núcleo Hospitalar Epidemiológico – HUGO, aborda temas de grande relevância, especialmente para o período do carnaval, no qual a evolução sexual e o uso abusivo de bebidas alcoólicas favorecem a contaminação da população pelas doenças sexualmente transmissíveis, como o HIV e Hepatites virais. HOSPITAL DE URGÊNCIAS DE GOIÂNIA – Valdomiro da Cruz AIDS/HIV Seja um beijo ou a própria relação sexual, tudo deve ser realizado com cuidado e consciência, para que não se corram riscos sem motivos. Sabemos que as doenças de transmissão sexual foram se modificando ao longo dos anos, sendo que umas persistem até os dias atuais e outras, infelizmente, apareceram. Desde o final da década de 80, inúmeras doenças transmitidas por meio do ato sexual, vêm sendo identificadas em todo o mundo. Tais doenças foram sendo “incrementadas” e até modificaram seus nomes. De venéreas, dos tempos das marchinhas, agora são denominadas de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), dentre as quais, a mais amedrontadora e de maior disseminação tem sido a AIDS ou SIDA. Na década de 70, a faixa etária de pacientes com DSTs encontrava-se acima dos 30 anos. Atualmente, a média baixou para 12 anos! A estimativa da Organização Mundial de Saúde é que surjam 30 milhões de novos casos de DSTs por ano na América Latina. Só no Brasil, esta estimativa está em 15 milhões. Mas esse número pode estar aquém do real, já que as únicas doenças de notificação compulsória (que devem ser comunicadas, obrigatoriamente, ao Governo) são a sífilis congênita, AIDS e hepatites virais. As DSTs são um grande problema de saúde pública mundial, todavia, podem ser prevenidas e controladas. A AIDS, por sua vez, é uma doença que se manifesta após a infecção do organismo humano pelo Vírus da Imunodeficiência Humana, HIV, sigla proveniente do inglês (Human Immunodeficiency Virus). Este vírus ataca as células de defesa do organismo, linfócitos, tornando o indivíduo vulnerável a outras infecções e doenças oportunistas. Indefeso, o organismo fica sujeito a vários tipos de infecções (pneumonia, diarréia, toxoplasmose, etc.) e doenças (alguns tipos de câncer, como o linfoma). O HIV invade o CD4 (um tipo de linfócito) e começa a se replicar. Após, centenas de vírus rompem o linfócito, espalhando várias cópias virais na corrente sanguínea que passam a atacar outros linfócitos, dando continuidade à replicação e aumento do HIV. Com o passar do tempo, o indivíduo fica indefeso. O HIV pode ser transmitido pelo sangue, sêmen, secreção vaginal e pelo leite materno, ou seja, por relações sexuais vaginal, anal ou oral desprotegidas, objetos sexuais contaminados, compartilhamento de seringas e agulhas contaminadas com sangue, pela gestação (via placentária), pela amamentação, em equipamentos cirúrgicos, odontológicos e alicates de unha não esterilizados. A AIDS não se manifesta da mesma forma em todas as pessoas. Contudo, os sintomas iniciais são geralmente semelhantes e comuns a várias outras doenças. Aparecem de 2 a 4 semanas após a infecção e são: febre, calafrios, dor de cabeça, dor de garganta, dores musculares, manchas na pele, gânglios ou ínguas embaixo do braço, no pescoço ou na virilha. Mesmo que uma pessoa infectada não desenvolva os sintomas citados, ela é capaz de transmitir o vírus para outras pessoas, enquanto o HIV se multiplica e ataca o sistema imunológico. A AIDS propriamente dita pode levar mais de 10 anos para aparecer e manifestar os primeiros sinais e sintomas. Com a progressão da doença e com o comprometimento do sistema imunológico do indivíduo, começam a surgir doenças oportunistas e outros sintomas, tais como: Emagrecimento, Tuberculose; Pneumonia; Diarréia crônica; alguns tipos de câncer, como o sarcoma de Kaposi e o linfoma; Candidíase e Infecções do sistema nervoso (como toxoplasmose e meningites). Além disto, em todos os países, foi se identificando que o aumento da transmissão heterossexual do HIV era facilitado pela infecção anterior ou concomitante de outras DST. Assim, as autoridades sanitárias tiveram evidências incontestáveis de que o controle abrangente e consistente das DST na comunidade prevenia, dentre outras, a transmissão do HIV. A prevenção da AIDS é feita pelo uso de camisinha em todas as relações sexuais, mesmo com parceiro único e de muito tempo de relacionamento, uma vez que não se conhece a vida passada e extradomiciliar do seu parceiro atual. Em caso de gravidez, deve-se realizar o pré-natal corretamente. Caso seja um usuário de drogas injetáveis, não se deve compartilhar seringa ou agulhas, além de dever sempre optar por materiais descartáveis. Aos profissionais da saúde, a proteção vem do cuidado com o descarte dos materiais perfurocortantes, do uso de luvas de procedimento em todos as atividades que envolvem sangue e fluidos corporais. Para o combate específico contra o HIV, são usadas drogas chamadas de anti-retrovirais. Tais drogas inibem o crescimento e a replicação do vírus. No Brasil, todo cidadão tem direito ao acesso gratuito aos anti-retrovirais. A boa adesão ao tratamento é condição indispensável para a prevenção e controle da doença, com efeitos positivos diretos na melhora da qualidade de vida da pessoa com HIV/AIDS. Página 2 NHE-HUGO HEPATITE VIRAIS “Das antigas marchinhas de carnaval até os trios elétricos de hoje, correu muita água debaixo da ponte. Antes os jovens flertavam e hoje a galera fica. O ficar depende de cada um, mas é importante conscientizar -se dos riscos para FICAR TRANQUILO”. . O carnaval é época de alegria, diversão, mas também de prevenção. A hepatite é uma das doenças infectocontagiosas que mais se transmite e adquire nesta época do ano. Hepatite é toda e qualquer inflamação do fígado e que pode resultar desde uma simples alteração laboratorial (portador crônico que descobre por acaso a sorologia positiva), até doença fulminante e fatal (mais frequente nas formas agudas). São doenças provocadas por diferentes agentes etiológicos (causadores), com tropismo primário (“atração”) pelo tecido hepático. Pode ser classificada em: A, B, C, D e E. As hepatites A e E são transmitidas por via fecaloral. As dos tipos B, C e D por via sexual, sanguínea e fluidos corporais, agulhas e seringas contaminadas, alicates de unha, de mãe para filho, matérias de tatuagens e piercings, e acidentes profissionais com material contaminado. As hepatites B e C são de grande preocupação para os profissionais de saúde, porque a maioria torna-se crônica, evoluindo para a destruição do fígado até a morte. A hepatite C torna-se crônica em 80% dos casos e a B em 10%. Os sintomas que caracterizam o quadro clínico de hepatites agudas virais são bastante semelhantes e independem do tipo de vírus envolvido. Na fase inicial, o paciente apresenta um quadro de mal-estar geral, que pode ser acompanhado de febre baixa, dores nas articulações, náuseas, vômitos e perda de apetite. Algumas vezes, manifesta-se com sinais de infecção das vias respiratórias superiores que se assemelha a um estado gripal. Em alguns pacientes, a doença manifesta-se por icterícia clássica, evidenciada pela coloração amarelada dos olhos, da pele e mucosas, pela urina escura, fezes mais claras (descoradas), com exame físico evidenciando fígado aumentado e doloroso à palpação. O período de icterícia dura, em geral, de quatro a seis semanas. Na fase de convalescença, os sintomas desaparecem e os exames laboratoriais tendem à normalização, que ocorre, em média, até o quarto mês. Feito o diagnóstico de uma hepatite aguda, cabe ao médico realizar uma avaliação clínica e laboratorial da função hepática. Não havendo sinais de comprometimento importante do fígado, a conduta médica consiste em orientação, tratamento dos sintomas e acompanhamento, baseado na avaliação clínica e laboratorial periódica até a completa recuperação do paciente. Ocorrendo algum sinal de evolução desfavorável ou tendência à cronificação são adotadas condutas terapêuticas específicas. No caso da hepatite aguda pelo vírus C, pela sua alta taxa de cronificação, preconiza-se tratamento antiviral desde o início. No tipo B, pela disponibilidade de drogas cada vez mais eficientes, de fácil administração e com poucos efeitos colaterais, está cada vez mais próxima a padronização e difusão de seu uso também nas infecções agudas. Estima-se que 2 bilhões de pessoas no mundo já tenham entrado em contato com o vírus. O Ministério da Saúde acredita que no Brasil existam, atualmente, cerca de três milhões de pessoas com hepatite B. Há vacinas disponíveis contra as hepatites A e B, mas não contra a hepatite C! A vacina para a hepatite B é APLICADA GRATUITAMENTE NAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE OU EM QUALQUER POSTO DE SAÚDE, PERTO DA SUA RESIDÊNCIA OU TRABALHO, durante o ano todo, para qualquer pessoa com até 19 anos completos. Deve-se lembrar, entretanto, que são três as doses de aplicação da vacina para que ela consiga o efeito de imunizar o indivíduo. Contando a partir da primeira dose, a segunda é aplicada 30 dias após, e a terceira, a de reforço, importantíssima, deve ser aplicada seis meses após a primeira dose. A vacina para a Hepatite A é recomendável para todas as crianças a partir de 1 ano de idade. Indivíduos não vacinados na infância e que viajem ou vivam em áreas onde a Hepatite A é muito frequente, como o norte do Brasil e países tropicais não desenvolvidos, ou que, eventualmente, consumam água não tratada, devem ser vacinados. Grupos de alto risco como crianças e adultos que vivem em creches, asilos ou prisões, homo e bissexuais, usuários de drogas, pacientes com doença hepática crônica, portadores do HIV ou doenças da coagulação também devem ser vacinados. Textos e Revisão: Enfº Renata Vieira da Mata Rafaela Troncha Camargo Referências Bibliográficas 1- www.reservaer.com.br/saude/hepatites.html 2- http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/hepatites virais brasil atento.pdf 3- www.aids.gov.br 4- Boletim Informativo da Boa Saúde. Publicação 238-16/02/2006. 5- www.hepatites.com.br 6- www.saude.gov.br