ANAIS VINHO E SUSTENTABILIDADE: CARACTERÍSTICAS DA SUSTENTABILIDADE DAS VINÍCOLAS DO VALE DO SÃO FRANCISCO NATALIA MARY OLIVEIRA DE SOUZA ( [email protected] ) UFPE - Universidade Federal de Pernambuco CARLA PASA GÓMEZ ( [email protected] ) UFPE - Universidade Federal de Pernambuco Resumo: Considerando-se que a Região do Vale do São Francisco apresenta condições sociais e ambientais frágeis e, por outro lado, riqueza econômica, principalmente, dada a exploração da fruticultura, este artigo objetiva caracterizar a sustentabilidade das vinícolas da Região a partir da abordagem da California Sustainable Winegrowing Alliance. Trata-se de um estudo descritivo e exploratório e, de múltiplos casos. Os resultados mostram que as empresas ainda tem muito para melhorar em termos de sustentabilidade, alem disso foram encontradas evidências de isomorfismo coercitivo relacionados às questões ambientais e trabalhistas e, de isomorfismo mimético no âmbito social nos casos das empresas A e D. Palavras-chave: sustentabilidade sustentabilidade empresarial, empresas vinícolas, indicadores de Introdução Em vista da dependência que as empresas possuem em relação à sociedade e aos recursos naturais, elas devem buscar a “sustentabilidade empresarial”, a qual abrange elementos econômicos, sociais e ambientais como forma de desenvolver práticas em direção às metas de desenvolvimento sustentável, e, dessa forma, garantir o uso dos recursos naturais e uma sociedade saudável no futuro. Labuschagne, Brent e Van Erck (2004) definem sustentabilidade empresarial como sendo a elaboração e utilização de estratégias e atividades que atendam às necessidades presentes da empresa e dos demais atores sociais envolvidos, e também protejam, mantenham e desenvolvam os recursos humanos e naturais. Callado (2010, p. 80), contudo, define sustentabilidade empresarial como sendo “o comportamento empresarial em relação à sustentabilidade a partir de ações e programas desenvolvidos e mensurados por meio de aspectos econômicos, sociais e ambientais”. O desenvolvimento de estratégias, programas e ações de sustentabilidade empresarial deve ser também o foco das empresas vinícolas, pois, além de depender de elementos da sociedade e do meio ambiente, a sustentabilidade pode representar um elemento de vantagem competitiva para a empresa vinícola, principalmente no âmbito internacional (RENTON; MANKTELOW; KINGSTON, 2002). Os autores ainda afiançam que a sustentabilidade empresarial é uma exigência em alguns mercados de exportação de vinhos, e provavelmente no futuro a falta de sustentabilidade se tornará uma barreira ao comércio. 1/16 ANAIS Marshall, Cordano e Silverman (2005) apregoam que a indústria do vinho enfrenta uma série de problemas ambientais, tais como a utilização excessiva de água no processo produtivo, o despejo de resíduos no ambiente, o desperdício de recursos naturais, de insumos de produção, e, as práticas ambientais insustentáveis. De acordo com Renton, Manktelow e Kingston (2002), uma vinícola sustentável é aquela que garante produtos que não agridem a saúde dos consumidores, fornece um lugar seguro e saudável para aquelas pessoas que trabalham na propriedade e forneça uma oportunidade de negócio economicamente viável. O setor vinícola vem contribuindo positivamente para a economia do Brasil, exportando vinhos para vinte e dois países, dentre eles Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha (IBRAVIN, 2011). Já os vinhos do Vale do São Francisco são consumidos em diversas regiões brasileiras e em países como Portugal, França, Alemanha, Itália, Inglaterra e Holanda (CODEVASF, 2005). Estudar as vinícolas do Vale do São Francisco torna-se relevante no momento em que a atividade, segundo Vital, Moraes Filho e Ferraz Filho (2005) e CODEVASF (2012), tem ganhado destaque com uma participação cada vez maior no mercado nacional, sendo responsável por cerca de 15% da produção nacional de vinhos. Além disso, os autores apregoam que a atividade é considerada uma das mais promissoras para geração de renda e de empregos no Vale do São Francisco, podendo permitir melhor condição de vida para a população local, pois a produção de vinhos interage com outras atividades, como a produção de uvas e o turismo do vinho (enoturismo). Na região do Vale do São Francisco, a utilização de uma boa estrutura de irrigação, a qual fornece a quantidade ideal de água para as diferentes variedades de uvas viníferas, permite que as cinco vinícolas ativas na região utilizem uvas que atendem ao padrão de qualidade estipulado pela indústria do vinho em seu processo produtivo (CODEVASF, 2005). Outra vantagem, destacado pela CODEVASF (2005), é que as vinícolas do Vale precisam da metade da capacidade física de estocagem do vinho em comparação à de outras regiões, além de possuir uma ociosidade baixa dos equipamentos industriais, reduzindo, dessa forma, o custo de produção. Esses benefícios de que as empresas desfrutam são justificados pelo fato de a região permitir colher da mesma videira duas ou três vezes ao ano, enquanto em outras regiões do mundo a colheita ocorre apenas uma vez. Há de se considerar que o Vale do São Francisco está localizado no sertão nordestino, região coberta por caatingas e banhada pelo Rio São Francisco, com clima semiárido. O clima é quente e seco, com temperaturas médias variando entre 22ºC e 34ºC, tendo uma precipitação pluviométrica média anual de 350 mm. No geral, o solo é pobre em nutrientes e matéria orgânica, com exceção dos solos de classe “Bruno” não cálcicos, que possuem reservas nutricionais e favorecem o enraizamento. Diante das condições físicas e climáticas adversas da região, a construção de um sistema de irrigação implementado pelo Governo Federal e pelo Governo Estadual, foi um dos fatores determinantes para a expansão e diversificação agrícola na região, principalmente para o desenvolvimento da fruticultura. Segundo Terragraph (2010), ainda que a infraestrutura de irrigação que favorece o pólo de produção agrícola com alto valor agregado, não inclui a população de baixa renda, que, consequentemente, emprega formas incorretas de uso e exploração dos recursos naturais e da flora e fauna como formas alternativas de subsistência. 2/16 ANAIS Nesse cenário, é perceptível a existência de características distintas entre territórios próximos. Por um lado, há ricas propriedades empresariais que desfrutam de um sistema de irrigação que favorece o plantio e o desenvolvimento da vegetação. Por outro lado, há territórios secos, sem a infraestrutura de irrigação e com baixa probabilidade de se desenvolver culturas agrícolas. Nos municípios que integram a Região Integrada de Desenvolvimento (RIDE) do pólo Juazeiro-Petrolina (municípios pernambucanos de Lagoa Grande, Orocó, Petrolina, Santa Maria da Boa Vista e, na Bahia, pelos municípios de Juazeiro, Casa Nova, Curaçá e Sobradinho), onde a população estimada totaliza 704.582 habitantes a pobreza e a desigualdade de renda são problemas que afligem a população. Os índices Gini1 dos municípios da RIDE excedem o valor de 0,55 (IBGE, 2010). O total de analfabetos acima de 15 anos é equivalente a 151.700 pessoas. Esse contingente representa 21,53% da população da RIDE apesar de Petrolina e Juazeiro apresentarem os melhores desempenhos quanto às taxas de analfabetismo e de educação. Além dos problemas que envolvem a educação, ainda existem problemas com habitações e saúde na localidade. Em relação ao primeiro, merecem destaque a presença de favelas e loteamentos irregulares e clandestinos em sete municípios da RIDE e de cortiços e casas de cômodos em quatro municípios da região. Além disso, nas áreas rurais as habitações são precárias, com alto grau de insalubridade e espaços extremamente pequenos. Em relação à saúde, Casa Nova, Curaçá e até mesmo Sobradinho têm uma quantidade reduzida de pessoal especializado na área de saúde. Ademais, todos os médicos que trabalham na região habitam em apenas três municípios da RIDE: Petrolina, Orocó e Juazeiro. Não há médicos que residam nas demais regiões (TERRAGRAPH, 2010). Diante do exposto, fica evidente que é importante estudar a sustentabilidade empresarial em regiões que exploram recursos naturais escassos como os do sertão brasileiro, principalmente dada a desigualdade do acesso à água nos municípios do Pólo PetrolinaJuazeiro. Dessa forma esse artigo tem como objetivo discutir a sustentabilidade das vinícolas do Vale do São Francisco a partir da abordagem da sustentabilidade empregada pela California Sustainable Winegrowing Alliance. 2. A sustentabilidade empresarial Independente da motivação para o desenvolvimento sustentável, hoje a sustentabilidade corporativa em alguns setores é condição sine qua non para fazer negócios. Nesse sentido, alguns tipos de empresas investem em programas de sustentabilidade corporativa, porque esses investimentos ajudam a manter a posição competitiva da empresa (ARTIACH et al., 2010). Ademais, a sustentabilidade empresarial, conforme argumentam Aras e Crowther (2009), deve ser levada em consideração devido ao fato de as empresas fazerem parte de um amplo sistema social e econômico, e práticas sustentáveis podem afetar positivamente os custos empresariais, o valor criado no presente e também o futuro do negócio. A busca por oportunidades de mercado é um dos principais objetivos das empresas vinícolas, as quais têm tentado reduzir problemas ambientais, como, por exemplo, o desperdício de água e a produção de resíduos sólidos a partir do benchmarking das práticas 1 O índice pode variar de 0 a 1, sendo que quanto mais próximo do valor 1, maior a desigualdade de renda. 3/16 ANAIS sustentáveis utilizadas por algumas das principais vinícolas, como as do estado da Califórnia, nos Estados Unidos, e as da Nova Zelândia. Corroborando esse pensamento, Baughman et al. (2000, apud MARSHALL; CORDANO; SILVERMAN, 2005, p. 93) afirmam que uma indústria de vinho sustentável é aquela que “limita o uso de agrotóxicos, herbicidas e fertilizantes, do abastecimento de água escassa e de energia, tentando reduzir a quantidade de águas contaminadas por resíduos, resíduos orgânicos e materiais de embalagem não perigosos”. 2.1 A sustentabilidade do setor vinícola na abordagem da California Sustainable Winegrowing Alliance (CAWG) O código do Wine Institute e da CAWG reúnem um conjunto de práticas sustentáveis para a indústria de vinho (MARSHALL; CORDANO; SILVERMAN, 2005; CALIFORNIA SUSTAINABLE WINEGROWING ALLIANCE, 2012) com o objetivo de auxiliar os gestores das vinícolas a prestar atenção em questões sociais, econômicas e ambientais, estando organizado em 13 capítulos ou categorias de análises: viticultura, manejo do solo, gestão da água no vinhedo, gestão de pragas, qualidade do vinho, gestão de ecossistemas, eficiência energética, conservação e qualidade da água na vinícola, manuseio de materiais, redução e gestão dos resíduos sólidos, compras ambientalmente preferíveis, recursos humanos, e, vizinhos e comunidades. Desses capítulos, os quatro primeiros são destinados apenas para os vinhedos (CALIFORNIA SUSTAINABLE WINEGROWING ALLIANCE, 2009) e os demais estão apresentados a seguir. Quadro 01: Categorias de análise de sustentabilidade em vinícolas e descrições das categorias Categorias Descrição Qualidade do vinho Apesar de ser uma medida subjetiva, pode envolver alguns requisitos de padronização, bem como análise sensorial (olfativa, visual etc.) e química. A qualidade do vinho é um dos aspectos que colaboram diretamente com a dimensão econômica, uma vez que implica custos de investimentos de qualidade e potencial retorno financeiro a longo prazo, podendo contribuir indiretamente com as demais dimensões da sustentabilidade por meio de práticas ambientais e sociais desempenhadas pelas vinícolas. Avaliar como as vinícolas têm definido a gestão dos recursos de base, o status do desenvolvimento da estratégia de sustentabilidade (a partir da incorporação da mesma na Gestão de ecossistemas visão, missão e valor da empresa), a integração dos processos da natureza com os processos produtivos e, como as práticas do vinhedo e da vinícola afetam a qualidade ambiental. Eficiência energética Mensurar a quantidade de energia utilizada para, a partir disso desenvolver estratégias de conservação. É necessário saber quanta energia cada operação utiliza. Isso pode ser mensurado por meio de uma auditoria energética. Essa categoria de análise é composta por 10 critérios de avaliação, dentre eles: o planejamento, o monitoramento, as metas e os resultados relacionados à eficiência energética; o total de energia consumida por tonelada de uva ou galão de vinho produzido; a extensão da eficiência energética da maior operação; a extensão da gestão de recursos humanos, incluindo os esforços de treinamento para a implantação de projetos de eficiência energética. Conservação e qualidade da água na vinícola Reúne 16 critérios para avaliação, que abrangem planejamento, monitoramento, metas e resultados relacionados à conservação e qualidade da água; total de água consumida por galão de vinho produzido; a extensão das práticas de conservação da maior operação; extensão da gestão de recursos humanos, incluindo os esforços de treinamento para a implantação de projetos de conservação de água. 4/16 ANAIS Manuseio de materiais Formas de avaliação de aspectos como planejamento e movimentação de materiais, monitoramento, materiais tóxicos produzidos pela adega, nível de poluição, e correta manipulação dos materiais, dentre outros. Redução e gestão dos resíduos sólidos Diz respeito as práticas de gestão, monitoramento e redução dos resíduos sólidos produzidos pela vinícola, além de treinamento dos funcionários no que se refere à redução dos resíduos. Recursos humanos Engloba critérios que permitem avaliar a existência de princípios da sustentabilidade na cultura da empresa, o planejamento e monitoramento dos recursos humanos, a presença de treinamentos e programas formais ou informais de capacitação para realizar o trabalho de maneira eficaz e um treinamento que estimule a adoção de práticas sustentáveis pelos funcionários. Fonte: California Sustainable Winegrowing Alliance (2009) Hughey, Tait e O’Connell (2005) afiançam que o uso de manuais, códigos e sistemas de gestão ambiental, a exemplo da ISO 14001 permitem definir e manter uma relação harmoniosa com o meio ambiente. Além disso, os autores salientam que essas ferramentas são úteis para monitorar e modificar ações na indústria do vinho e, principalmente no caso das certificações ISO 14001, para transmitir uma imagem distintiva de “limpa e verde” aos consumidores. 3. Procedimentos metodológicos Do ponto de vista dos objetivos da pesquisa, o artigo classifica-se como descritivo e exploratório, tendo utilizado como meios de investigação, a pesquisa de campo e, bibliográfica, e, como estratégia de pesquisa o estudo de múltiplos casos. Quanto aos instrumentos de coleta de dados, foram utilizados o levantamento bibliográfico, questionário com perguntas abertas e fechadas e entrevista estruturada, sendo realizada a coleta entre 10/07/2012 e 20/10/12. Os sujeitos entrevistados foram: o responsável pela produção da empresa A, a proprietária da empresa B, o diretor da empresa C, e, o coordenador enoturístico da empresa D. Durante a pesquisa e análise bibliográfica se identificou que os indicadores propostos pela CAWG apresentavam algumas lacunas que podem ser supridas pela Agenda 21 (UNITED NATIONS, 1992) e que pode ser considerada um dos principais instrumentos de planejamento para a consecução do desenvolvimento sustentável, uma vez que nele foram propostos planos de ação, assim como o uso de indicadores de sustentabilidade para monitorar o progresso rumo ao desenvolvimento sustentável e para fornecer bases sólidas para a tomada de decisões (MITCHELL; MAY; MCDONALD, 1995). Além disso, que o Global Report Initiative que traz um conjunto de indicadores para a elaboração de relatórios de sustentabilidade permitiria o preenchimento de uma lacuna identificada. Parte dos dados foram analisados por meio de análise de conteúdo, especificamente por análise temática (Quadro 02) realizada a partir dos dados transcritos das entrevistas. Quadro 02: Categorias e critérios de análise da sustentabilidade em vinícolas Categoria Parcerias Base téorica Critérios Parcerias com outras empresas, governo ou instituições de ensino e pesquisa Agenda 21 Apoio governamental para participar de programas de sustentabilidade Agenda 21 5/16 ANAIS Incentivos governamentais, como redução de carga tributária Prestação de contas da sustentabilidade Divulgação relatórios de prestação de contas da sustentabilidade Prêmios Procedimentos de qualidade e higiene dos produtos Qualidade dos vinhos Ferramentas de avaliação da qualidade dos vinhos Agenda 21 GRI California Sustainable Winegrowing Alliance Ferramentas de avaliação da qualidade das uvas compradas e/ou produzidas Monitoramento da maturação das uvas Gestão de Ecossistemas Eficiência Energética Registro químico do mosto (líquido extraído da uva) Estratégia de sustentabilidade contemplam os princípios de sustentabilidade presentes na visão, missão e valores da empresa Registro da fronteira física da propriedade; registro dos recursos naturais Estratégias desenvolvidas para evitar a perda de nutrientes do solo Monitoramento da fauna e flora existente na propriedade Conhecimento das características únicas físicas, biológicas e climáticas da localidade Auditoria Energética Existência de programa de gestão energética e de conservação de energia Monitoramento da água utilizada na indústria Teste de qualidade da água Conservação e Qualidade da água Fonte de água alternativa existente na empresa California Sustainable Winegrowing Alliance CSWA California Sustainable Winegrowing Alliance Tratamento da água antes de ser utilizada Tratamento da água antes de ser despejada no meio ambiente Manejo de Material Tratamento e armazenamento dos materiais perigosos Tratamento e eliminação dos resíduos e materiais tóxicos Manutenção de máquinas e equipamentos Gestão e Redução de Resíduos Sólidos Recolhimento de embalagens para reuso Políticas ou diretrizes para controle de resíduos Funcionários Especializados em sustentabilidade Recursos Humanos California Sustainable Winegrowing Alliance CSWA Programas de educação, assistência à saúde e lazer Registros de lesões, doenças ocupacionais, absenteísmo e turnover California Sustainable Winegrowing Alliance Apoio e incentivo a igualdade de gêneros, faixa etária, raças e etnias Por fim, a fase de tratamento dos resultados envolveu a categorização (classificação ou agrupamento de ideias, conceitos ou temas), descrição (resumo das características do conteúdo transcrito), inferência (fase intermediária da descrição e interpretação) e interpretação (atribuição de significados às características) (MINAYO; DESLANDES; GOMES, 2009). 3.1 Caracterização dos casos estudados Na região, existem 05 vinícolas ativas. No entanto, por questão de acessibilidade das empresas, 04 empresas existentes foram estudadas. A quinta empresa negou participação por estar, no período da coleta de dados, em processo de colheita e produção. As quatro empresas estudadas foram denominadas de empresa A, B, C e D e estão brevemente descritas a seguir. A empresa A está instalada no município pernambucano de Lagoa Grande e, foi fundada em 2003, quando a propriedade onde está localizada foi adquirida por um grupo 6/16 ANAIS português. O grupo do qual a empresa faz parte possui cerca de seis unidades de produção localizadas em Portugal e apenas uma instalação no Brasil. A propriedade da empresa tem uma área total equivalente a 1600 hectares, sendo 200 hectares plantados de uvas viníferas. Essa área plantada é responsável pela produção de todas as uvas utilizadas na elaboração dos vinhos. A empresa B foi fundada em 1993 por um enólogo italiano e sua esposa. Trata-se de uma pequena empresa familiar, constituída de 14 empregados. A empresa localiza-se em Lagoa Grande, e não possui outra unidade de produção. A propriedade da empresa tem aproximadamente 212 hectares, sendo responsável pela produção de parte das uvas utilizadas na elaboração de vinhos sendo que ela adquire outra parte de uvas de outros produtores. A empresa C atua desde junho de 1984 e está localizada no município de Santa Maria da Boa Vista e tem uma área total de 550 hectares. Produz todas as uvas que utiliza na produção de vinhos, sendo responsável pela produção de aproximadamente 1 milhão e 100 mil litros de vinho em 2011. A empresa D faz parte de um grupo que conta com seis projetos em cinco regiões vitivinícolas brasileiras, além de possuir seis acordos joint ventures com empresas da Argentina, Chile, Espanha, Itália e França. A empresa, localizada no município de Casa Nova, Bahia, foi fundada em 2001. Possui uma estrutura societária do tipo capital fechado e tem 160 empregados atuando na unidade de produção do Vale do São Francisco. 4 Apresentação e dicussão dos resultados As características da sustentabilidade das vinícolas estão apresentadas e organizadas nas seguintes categorias de análise: parceria, prestação de contas da sustentabilidade, qualidade do vinho, gestão de ecossistemas, eficiência energética, conservação e qualidade da água, manuseio de materiais, redução e gestão dos resíduos sólidos e recursos humanos. As características da sustentabilidade e as categorias de análise estão descritas a seguir. 4.1 Parceria As parcerias ocorrem de diferentes formas e especialmente no caso da Embrapa, que, juntamente com as empresas, desenvolve estudos tecnológicos como da propriedades das uvas, do vinho, e, do solo. Outro exemplo é a parceria com o SEBRAE que fornece apoio à empresa A em cursos aos funcionários e à diretoria. Já as parcerias com institutos de ensino superior (empresa A) envolvem oportunidades fornecidas aos alunos das faculdades, por meio de aulas práticas e da possibilidade de estágios na área. A empresa B teve o apoio financeiro da FACEPE para um projeto de pesquisa de vinhos orgânicos coordenado em parceria com a Embrapa. Quadro 03: Parcerias realizadas pelas empresas estudadas Empresa A Parcerias e Apoio Empresa B Fundação de Amparo a Ciência e SEBRAE, Embrapa Tecnologia de e institutos de ensino Pernambuco superior (FACEPE), SENAI e Embrapa 7/16 Empresa C Empresa D Embrapa, Instituto de Tecnologia de Empresas Pernambuco (ITEP) internacionais e o Instituto do Vinho ANAIS Incentivo econômico Isenção do ICMS Isenção do ICMS Isenção do ICMS Isenção do ICMS Quando questionados sobre a existência de apoio do governo para participar de programas de sustentabilidade, os entrevistados afirmaram não existir apoio para tal fim. No entanto, através da pesquisa documental evidencia-se a existência de apoio do governo principalmente no âmbito econômico, como o investimento no canal de irrigação, dentre outros. 4.2 Prestação de Contas em Sustentabilidade As empresas estudadas não divulgam relatórios de prestação de contas da sustentabilidade empresarial nem demonstram conhecimento sobre guias de relatórios como o Global Report Initiative (GRI). Quando questionados sobre a possibilidade de virem a utilizar esse tipo de relatório para prestação de contas, os entrevistados foram unânimes em dizer que não possuem interesse em utilizá-los no futuro. O desinteresse das empresas em elaborar e divulgar relatórios para prestação de contas da sustentabilidade pode constituir em um fator negativo para a empresa, uma vez que tais relatórios são úteis para informar aos stakeholders sobre os impactos positivos e negativos das práticas empresariais sobre a sociedade e sobre o meio ambiente. 4.3 Qualidade do Vinho A definição de padrões e critérios de qualidade permite atribuir credibilidade e confiabilidade a um produto, dentre esses critérios os prêmios permitem assegurar que os avaliadores creditam qualidade aos vinhos, já as ferramentas e o monitoramento da maturação das uvas que serão utilizadas para produzir o vinho são úteis para manter um padrão estabelecido pelas indústrias do vinho. Em 2012, uma das marcas de vinho da empresa A ganhou uma medalha de prata no concurso internacional de vinhos do Brasil, realizado em Bento Gonçalves. Em 2011, outra marca de vinho tinto ganhou o prêmio de terceiro melhor vinho brasileiro pelo Instituto Brasileiro do Vinho e, no mesmo ano, outro vinho tinto foi premiado com medalha de ouro pelo prêmio Mundial de Bruxelas, realizado na Bélgica. A empresa C possui apenas uma das marcas de vinho premiadas com o título do vinho mais representativo da categoria Branco Fino Aromático, em avaliação da Associação Brasileira de Enologia. Quase todos os produtos da empresa D já ganharam algum prêmio como o brand que ganhou o prêmio prata no concurso International Spirits Award, realizado na Alemanha, outro prata no concurso Mundial de Bruxelas de 2009 e, um de ouro no concurso Mundus Vini, ocorrido em 2007, na Alemanha. Dois vinhos espumantes da safra 2010 também foram ganhadores dos prêmios ouro no VI Concurso Internacional de Vinhos do Brasil e no VII Concurso Espumantes Brasileiros; dentre outros prêmios. 8/16 ANAIS Empresa A Prêmios Empresa B 80% do portfólio de Nunca participou marcas da empresa nem ganhou prêmios detêm prêmios Empresa C Uma das marcas recebeu premiação em 2004 Empresa D A maioria das marcas da empresa obteve prêmios nacionais ou internacionais controle microbiológico na água que vai ser usada; utilização de vidros novos para o envase das garrafas; limpeza das garrafas e equipamentos Manual de Boas práticas; utilização de Procedimentos de materiais qualidade e esterilizados; higiene garrafas para envase devem ser novas, limpas e esterilizadas utilização de boas práticas de fabricação do vinho utiliza todos os protocolos previstos na indústria; controles de temperatura, limpeza das garrafas Ferramenta de avaliação da qualidade nas uvas e em todo o processo produtivo do vinho Análises sensoriais e laboratoriais (químicas, biológicas) Análises sensoriais e laboratoriais (químicas, biológicas) Análises sensoriais e laboratoriais (químicas, biológicas) Análises sensoriais e laboratoriais (químicas, biológicas) Controle de maturação da uva Controle realizado pelos enólogos Controle realizado pelos enólogos, exceto nos casos das uvas compradas Controle realizado pelos enólogos. Controle enólogos, exceto nos casos das uvas compradas Registro químico do mosto Sim Sim Sim Sim As análises sensoriais e laboratoriais realizadas pelas quatro empresas estudadas, avaliam o padrão de qualidade das uvas que serão utilizadas no processo produtivo assim como avaliam o padrão do próprio vinho, permitindo verificar se as características do que está sendo analisado condiz com o que é necessário para se produzir o vinho. O entrevistado 1 argumenta que, no caso das uvas, é feito um controle de maturação por meio de uma colheita aleatória de cerca de 400 bagos (frutos do cacho de uva) por lote; nesses bagos são feitas análises químicas para verificar aspectos como acidez total, peso, volume e teor alcoólico provável e, depois, faz a prova para decidir se é hora de iniciar a colheita. Após essas análises, as uvas serão processadas apenas quando atingirem o parâmetro de qualidade que é exigido pela vinícola. Dependendo dos resultados da análise, é possível determinar o potencial que a uva terá e daí fazer a seleção para compor o vinho. 4.4 Gestão de Ecossistemas Entende-se que para gerir o ecossistema é necessário inicialmente conhecê-lo; é a partir do conhecimento sobre a propriedade e suas condições, bem como sobre seus recursos naturais são desenvolvidas as estratégias de sustentabilidade direcionadas à redução dos impactos ambientais. Em se tratando do comportamento das empresas em relação à categoria gestão de ecossistemas, identificou-se que a empresa B não possui registro da fronteira física e dos 9/16 ANAIS recursos naturais, bem como não monitora a fauna e flora existentes na propriedade. Esse comportamento pode ser vistos de forma negativa por indicar que a empresa não conhece e não acompanha os impactos no ecossistema. Estratégia de sustentabilidade Fronteira física e dos recursos naturais Solo Fauna e flora Características físicas, biológicas e climáticas da localidade Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D Não Não Não Não Possui Não possui Possui Possui análise do solo para ter conhecimento dos nutrientes que devem ser repostos; alterna o terreno para descanso análise do solo para ter conhecimento dos nutrientes que devem ser repostos; alterna o terreno para descanso análises periódicas análises periódicas para avaliar se é para avaliar se é preciso fazer a preciso fazer a reposição dos reposição dos nutrientes nutrientes Monitora Não monitora Monitora Monitora Conhece Conhece Conhece Conhece Nenhuma das empresas desenvolve estratégias de sustentabilidade e não menciona o desenvolvimento sustentável na visão, missão e valores. No que diz respeito ao registro das fronteiras físicas da propriedade e dos recursos naturais da propriedade, as empresas possuem documentos que informam o tamanho da propriedade, quais as espécies vegetais que lá existem, as características do solo, do clima e da água da região. Todas elas fazem análises periódicas que visam conhecer todos os nutrientes que o solo tem e o que foi perdido, com vistas a avaliar se é preciso fazer a reposição artificial dos nutrientes do solo. A empresa A também tem o registro diário de amplitude térmica, de precipitação pluviométrica e de temperatura, que são mensuradas por uma estação financiada pela empresa, juntamente com a Embrapa. 4.5 Eficiência Energética As empresas procuram ter conhecimento da quantidade de energia por elas gasta, bem como procuram reduzir o consumo, isso porque essa preocupação está relacionada aos custos diretos que a energia acarreta para a empresa. Empresa A Auditoria energética Sim Empresa B Não, mas sabe a quantia de energia gasta em todo o processo produtivo 10/16 Empresa C Sim, por meio de medidores espelhados pela empresa e indicadores da qualidade de energia Empresa D Sim ANAIS Programa de gestão energética e conservação de energia não tem um não tem um programa formal, programa formal, mas realiza algumas mas realiza algumas ações com o intuito ações com o intuito de economizar de conservação energia energia Desenvolve um programa de conservação de energia não tem um programa formal, mas realiza algumas ações com o intuito de reduzir o uso de energia A empresa A realiza auditoria energética. Segundo o entrevistado 1, “é uma empresa externa que faz a auditoria e que tenta ver a melhor forma de reaproveitarmos a energia que está sendo utilizada”. Assim, a empresa A, apesar de não ter um programa formal e abrangente de gestão energética, realiza algumas ações com o intuito de economizar a energia utilizada na empresa. Apesar de ter uma noção de quanta energia é utilizada em cada processo, os entrevistados das empresas B, C e D afirmam não ter nenhum programa de gestão energética formalizado na empresa, mas desenvolvem ações informais nesse sentido, como reduzir o consumo e instruir os funcionários a evitar o desperdício. 4.6 Conservação e Qualidade da Água A preocupação das empresas com o monitoramento da água é um fator bastante compreensível, principalmente em termos econômicos. Como o desperdício de água pode ser custoso para a empresa, monitorar e economizar a água são alternativas que possibilitam a redução dos gastos. Além disso, a qualidade da água afeta a qualidade e higiene dos produtos, uma vez que essa matéria-prima é utilizada para lavar os equipamentos e, as embalagens dos produtos. Dessa forma, as análises química e microbiológica da água e seu tratamento, processos realizados pelas quatro vinícolas estudadas, são necessários para evitar contaminações que podem afetar a credibilidade das empresas. Toda a água utilizada nas empresas A, C e D vem do rio São Francisco e passa por um tratamento de purificação, permitindo que possa ser utilizada nos processos produtivos. Os representantes das empresas A e D afirmam que, depois de utilizada, a água sofre tratamento e, posteriormente, grande parte dela é reutilizada para irrigação. Já na empresa C o descarte da água se dá no sistema de esgoto próprio e não há programa de reutilização da água. Dentro da empresa B existe um poço que se constitui em uma das principais fontes de água utilizada na propriedade, mas a empresa utiliza também a água do rio São Francisco. A água utilizada na vinícola não passa por um tratamento antes de ser utilizada, pois, conforme afirma a entrevistada 2, não há necessidade de tratamento de água do poço. Para testar a qualidade da água que entra na vinícola é feita duas vezes por ano uma análise microbiológica pelo SENAI. Depois de utilizada a água passa por um pequeno tratamento para ser reutilizada na irrigação de cultivos domiciliares (horta) e de pastagem para animais. Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D Monitoramento da água sim Não Sim sim Teste de qualidade análise microbiológica antes de utilizá-la análise microbiológica duas vezes por ano 11/16 mensalmente são análises químicas e realizadas análises controle químicas na água microbiológico ANAIS Fonte alternativas Não Poço como fonte de água alternativa Não Não Tratamento antes do consumo Sim A água do poço não passa por tratamento Sim Sim Tratamento depois do consumo Sim Sim Não Sim 4.7 Manejo de Materiais No que concerne ao manejo de materiais perigosos, é importante atentar para a necessidade de armazenamento, e de uso de equipamentos e de descarte adequados, a fim de evitar acidentes de trabalho ou ambientais. Para essas questões citadas, há legislações e organismos governamentais de fiscalização do trabalho e do meio ambiente que atentam para todos os requisitos e regulamentos de segurança. As vinícolas agem corretamente ao tratarem os materiais perigosos conforme as regras de segurança, pois evitam acidentes, multas e problemas com a imagem organizacional diante dos consumidores. A manutenção dos equipamentos também é um importante fator para atender o critério econômico de sustentabilidade, uma vez que ajudam a manter a vida útil do equipamento e, principalmente no caso da manutenção preventiva, evitam falhas futuras e evitam que outros equipamentos que dependam deles fiquem ociosos. Empresa A Os materiais perigosos são armazenados em Tratamento e zonas diferenciadas e os armazenamento de funcionários que os materiais perigosos manipulam usam equipamentos adequados Empresa B Empresa C Empresa D Não utiliza materiais perigosos Os materiais Os materiais perigosos são armazenados em perigosos são armazenados e zonas diferenciadas e os manipulados de funcionários que os manipulam usam acordo com as normas de segurança equipamentos adequados As embalagens dos são guardados em postos defensivos agrícolas de coleta e recolhidas retornam para o pelos fornecedores fornecedor Tratamento e eliminação de resíduos e materiais tóxicos são guardados em sacos específicos e depois vão para uma central de coleta e tratamento não utiliza materiais tóxicos Manutenção de máquinas e equipamentos manutenção preventiva e corretiva manutenção corretiva manutenções preventivas e corretivas manutenção preventiva e corretiva A empresa B não usa nenhum tipo de material perigoso, uma vez que os produtos da empresa são orgânicos. Existem apenas materiais de limpeza que ficam isolados em uma sala de despensa. Como a empresa não utiliza materiais tóxicos nem gera resíduos tóxicos, não há necessidade de armazenamento e tratamento para eliminar as embalagens de materiais tóxicos. Apenas é solicitada a manutenção das máquinas e equipamentos da empresa quando são necessários pequenos consertos ou revisões. 4.8 Redução e Gestão dos Resíduos Sólidos É possível observar que todas as empresas entrevistadas promovem o controle de seus resíduos, mesmo que em alguns casos seja informalmente. Esse controle é positivo para as 12/16 ANAIS empresas, pois muitas vezes permite evitar desperdícios e garantir a eficiência dos recursos. Aproveitar os resíduos sólidos da uva oriundos do processo produtivo representa redução das despesas com insumos (empresas A, B e D), ou a redução das despesas com ração animal (empresa C). As 4 empresas entrevistadas afirmaram só usar garrafas novas para o envase, pois, segundo elas, é uma questão de qualidade e higiene. Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D Recolhimento para reuso de embalagem não não não não Políticas ou diretrizes para controle dos resíduos sólidos Sim Não Sim Sim Na empresa A, C e D a quantidade de materiais que entra e que sai é controlada, bem como a quantidade de material que é processado, de vinho que é engarrafado e do volume de perdas e dos resíduos que são descartados. Na empresa C existe coleta seletiva de resíduos, enquanto que na empresa D se aproveita a solução alcoólica residual do brandy (conhaque produzido pela empresa) para esterilizar garrafas e limpar alguns equipamentos. Na empresa B não há política formal, mas informalmente existem práticas de controle de resíduos, como a coleta seletiva e o reaproveitamento de alguns resíduos sólidos. 4.9 Recursos Humanos Todas as empresas afirmaram não fazer distinção entre os funcionários, independentemente de raça, cor, religião ou etnia, o que demonstra uma preocupação com o tratamento igualitário dos funcionários. Com exceção da empresa B, as demais empresas estudadas praticam a responsabilidade social, realizando ações de assistência à saúde, lazer e educação para os funcionários e familiares. Essas ações são positivas, pois se constituem motivação para os funcionários, além do que contribuem para uma boa imagem organizacional. As práticas de Responsabilidade Social (RSE) das empresas A e C merecem destaque. Estas empresas possuem em suas propriedades escola e templo religioso. A empresa A realiza torneio de futebol, jantar e almoço convívio entre os funcionários e, outras atividades de socialização. A empresa C possui um complexo esportivo que pode ser utilizado pelos seus funcionários. A empresa D também realiza algumas atividades de socialização, além de possibilitar o financiamento de cursos. A empresa foi precursora do tratamento igualitário entre funcionários do sexo masculino e funcionários do sexo feminino no município pernambucano de Santa Maria da Boa Vista, principalmente em termos de salários. Segundo o entrevistado, na região onde a empresa está instalada a mulher ganhava menos que o homem e não havia benefícios como 13º salário e férias, sendo atualmente uma das contribuições da empresa para o município. Apesar de garantir que não há distinções entre os funcionários, a empresa C, assim como a empresa A, oferece planos de saúde para apenas alguns funcionários, o que por si só já se constitui em um tratamento desigual. A empresa B não desenvolve nenhum programa destinado aos funcionários e seus familiares. Todavia, de acordo com a entrevistada 2, a empresa repreende qualquer forma de preconceito dentro da propriedade, tratando todos de forma semelhante, apesar de não 13/16 ANAIS existirem programas, ferramentas ou indicadores formalizados sobre isso. O apoio e incentivo à igualdade de gêneros, raças e etnias é uma questão de valor e cultura da empresa. Funcionários especializados em sustentabilidade Programas de educação, assistência à saúde e lazer Lesões, doenças ocupacionais, absenteísmo e turnover Apoio e incentivo igualdade de gêneros, raças e etnias Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D Não Não Não Não Existem algumas ações para os funcionários e seus familiares Não desenvolve nenhum programa de educação, assistência à saúde e lazer Sim, mas são índices baixos Existem registros de demissões e faltas, mas não ocorreram lesões ou doenças por conta do trabalho Sim, mas são índices baixos Sim, mas são índices baixos Sim Sim Sim Sim Existem algumas Existem algumas ações ações para os para os funcionários e funcionários e seus familiares seus familiares No que tange às avaliações descritas acima, são necessárias duas ressalvas. A primeira delas diz respeito ao fato de que as avaliações refletem a percepção dos respondentes. Dessa forma, alguma informação pode ter sido subestimada respondentes e, portanto, não representar fielmente a realidade (ex. lesões e doenças ocupacionais). A segunda ressalva refere-se à pesquisa em fontes secundárias para triangulação dos dados. Utilizando-se de fontes secundárias para triangulação dos dados foram consultados sites de organismos de fiscalização do trabalho e, ambiental para compará-los com as respostas dos entrevistados. Foi encontrada a informação de que em 2011 o Ministério Público do Trabalho identificou irregularidades na empresa C, dentre as quais funcionários aplicando agrotóxicos sem a devida utilização de EPIs, unidades de trabalho sem instalações sanitárias em condições de uso, atraso no pagamento de salários, não-realização de exames médicos nos trabalhadores, falta do número adequado de extintores, entre outras (MPU, 2011). Apesar disso, não foi encontrada nenhuma irregularidade recente na empresa C e também não foi encontrada nenhuma outra informação que pudesse contradizer as respostas dos entrevistados. 5 Considerações finais Tendo em vista as características sociais e ambientais da Região do Vale do São Francisco e, a importância econômica que a fruticultura, e mais especificamente, as vinícolas possuem é importante que as mesmas “retribuam” aos stakeholders os ganhos advindos da atividade e a exploração dos recursos naturais e humanos. Por isso, e tendo em vista a visibilidade que as empresas vinícolas do Vale do São Francisco têm ganhado nos últimos anos, é recomendável que elas adotem práticas sustentáveis. Além do mais, o cuidado com os recursos naturais e com os aspectos sociais podem permitir a redução de custos e evitar problemas com a legislação no futuro. 14/16 ANAIS No tocante à promoção do desenvolvimento sustentável nas empresas, o uso de indicadores de sustentabilidade é uma alternativa para a efetivação de práticas sustentáveis de gestão, pois, de acordo com Mitchell (1996), a medição da sustentabilidade por meio do uso de indicadores é um meio eficaz disponível para monitorar o progresso ou retrocesso em direção ao desenvolvimento sustentável. Os resultados mostram que as empresas ainda tem muito para melhorar em termos de sustentabilidade, um dos itens que se pode destacar é o fato de elas não reutilizarem suas garrafas. Como dito anteriormente, apesar de as empresas afirmarem que só utilizam garrafas novas por questão de higiene e qualidade, algumas empresas vinícolas do Estado da Califórnia, localidade que é referência mundial em termos de vinho, se utilizam dessa prática. Ademais, algumas grandes empresas da indústria de bebidas utilizam embalagens retornáveis e conseguem garantir a qualidade dos seus produtos. Outro aspecto que chama atenção é o fato de nenhuma delas se valer de relatórios para a divulgação de suas práticas de sustentabilidade, o que pode ser explicado em parte por que as empresas são de capital fechado e não possuem pressão do mercado acionário. Nas empresas estudadas, é possível encontrar evidências de isomorfismo coercitivo, principalmente nas situações em que os indicadores dizem respeito às questões ambientais e trabalhistas, uma vez que as vinícolas sofrem pressões da legislação ambiental e trabalhista e são fiscalizadas por organismos responsáveis por essas áreas. Evidências de isomorfismo mimético também podem ser observadas principalmente nos casos das empresas A e D, que apresentam algumas características semelhantes, principalmente no âmbito social. Essas empresas sofrem influências da Europa, quer seja por fazerem parte de um grupo europeu (empresa A), quer seja por desenvolver parcerias com alguns países dessa região (empresa D), podendo atribuir-se a semelhança de comportamentos à influência européia. Referências bibliográficas ARAS, G.; CROWTHER, D. Corporate Sustainability Reporting: A Study in Disingenuity?. Journal of Business Ethics, v. 87, p.279-288, 2009. ARTIACH, T.; LEE, D.; NELSON, D.; WALKER, J. The Determinants of Corporate Sustainability Performance. Accounting and Finance, v. 50, p. 31-51, 2010. CALIFORNIA SUSTAINABLE WINEGROWING ALLIANCE. The California Wine Community Sustainability Report. 2009. Disponível em: http://www.sustainablewinegrowing.org/2009sustainabilityreport.php. Acesso em: junho de 2012. ______. Code of Sustainable Winegrowing Practices Self-Assessment Workbook. Disponível em: http://www.sustainablewinegrowing.org/swpworkboos.php. Acesso em: junho de 2012. CALLADO, A. L. C. Modelo de Mensuração de Sustentabilidade Empresarial: uma aplicação em vinícolas localizadas na Serra Gaúcha. Tese de Doutorado. UFRGS, Porto Alegre, 2010. CODEVASF. Investindo no Brasil: Vales do São Francisco e Parnaíba. Disponível em: www.codevasf.gov.br/programas_acoes/codevasf_apresentacao_ai.pdf. Acesso em: 15 de agosto de 2012. ______. Plataforma para o Futuro. Revista Codevasf, 6ª SR, 2005. 15/16 ANAIS HUGHEY , K. F. D.; TAIT, S. V.; O’CONNELL, M. J. Qualitative Evaluation of Three Environmental Management Systems in the New Zealand Wine Industry, Journal of Cleaner Production, Vol. 13, pp. 1175-1187, 2005. IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Indicadores Sociais Municipais: uma análise dos resultados do universo do Censo Demográfico. 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/indicadores_sociais_municipai s/indicadores_sociais_municipais_tab_uf_zip.shtm. Acesso em: novembro de 2012. IBRAVIN. A vitivinicultura brasileira. Disponível http://www.ibravin.org.br/brasilvitivinicola.php. Acesso em: novembro de 2011. em: LABUSCHAGNE, C.; BRENT, A. C.; VAN ERCK, R. P. G. Assessing the Sustainability Performances of Industries. Journal of Cleaner Production, v. 13, p. 373-385, 2004. MARSHALL, R. S.; CORDANO, M.; SILVERMAN, M. Exploring Individual and Institutional Drivers of Proactive Environmentalism in the US Wine Industry. Business Strategy and Environment, 14, 92-109, 2005. MINAYO, M. C. S.; DESLANDES, S. F.; GOMES, R. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Rio de Janeiro: Vozes, 2009. MITCHELL, G. Problems and Fundamentals of Sustainable Development Indicators. Sustainable Development, v. 4, p.1-11, 1996. ______.; MAY, A.; MCDONALD, A. Picabue: a methodological framework for the development of indicators of sustainable Development. Int. J. Sustain. Dev. World Ecol., v. 2, p. 16-123, 1995. RENTON, T.; MANKTELOW, D.; KINGSTON, C. Sustainable Winegrowing: New Zealand’s place in the world. Proceedings of Romeo Bragato Conference, Christchurch, 12 and 14 September 2002. TERRAGRAPH. Plano de Ação Integrada e Sustentável para a RIDE PetrolinaJuazeiro: relatório final. Ministério da Integração Nacional – Brasília / DF. Terragraph, 2010. UNITED NATIONS. Agenda 21 (Conference on Environment and Development). Genebra: United Nations, 1992, 510f. VITAL, T. W.; MORAES FILHO, R. A.; FERRAZ FILHO, Z. E. Vitivinicultura no Nordeste do Brasil: um arranjo produtivo em expansão. In: SOBER – Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural. Anais do XLIII Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural: Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial. Ribeirão Preto: SOBER, 2005. 16/16