VINHO E SUSTENTABILIDADE

Propaganda
ANAIS
VINHO E SUSTENTABILIDADE: CARACTERÍSTICAS DA
SUSTENTABILIDADE DAS VINÍCOLAS DO VALE DO SÃO FRANCISCO
NATALIA MARY OLIVEIRA DE SOUZA ( [email protected] )
UFPE - Universidade Federal de Pernambuco
CARLA PASA GÓMEZ ( [email protected] )
UFPE - Universidade Federal de Pernambuco
Resumo:
Considerando-se que a Região do Vale do São Francisco apresenta condições sociais e
ambientais frágeis e, por outro lado, riqueza econômica, principalmente, dada a exploração da
fruticultura, este artigo objetiva caracterizar a sustentabilidade das vinícolas da Região a partir
da abordagem da California Sustainable Winegrowing Alliance. Trata-se de um estudo
descritivo e exploratório e, de múltiplos casos. Os resultados mostram que as empresas ainda
tem muito para melhorar em termos de sustentabilidade, alem disso foram encontradas
evidências de isomorfismo coercitivo relacionados às questões ambientais e trabalhistas e, de
isomorfismo mimético no âmbito social nos casos das empresas A e D.
Palavras-chave:
sustentabilidade
sustentabilidade
empresarial,
empresas
vinícolas,
indicadores
de
Introdução
Em vista da dependência que as empresas possuem em relação à sociedade e aos
recursos naturais, elas devem buscar a “sustentabilidade empresarial”, a qual abrange
elementos econômicos, sociais e ambientais como forma de desenvolver práticas em direção
às metas de desenvolvimento sustentável, e, dessa forma, garantir o uso dos recursos naturais
e uma sociedade saudável no futuro.
Labuschagne, Brent e Van Erck (2004) definem sustentabilidade empresarial como
sendo a elaboração e utilização de estratégias e atividades que atendam às necessidades
presentes da empresa e dos demais atores sociais envolvidos, e também protejam, mantenham
e desenvolvam os recursos humanos e naturais. Callado (2010, p. 80), contudo, define
sustentabilidade empresarial como sendo “o comportamento empresarial em relação à
sustentabilidade a partir de ações e programas desenvolvidos e mensurados por meio de
aspectos econômicos, sociais e ambientais”.
O desenvolvimento de estratégias, programas e ações de sustentabilidade empresarial
deve ser também o foco das empresas vinícolas, pois, além de depender de elementos da
sociedade e do meio ambiente, a sustentabilidade pode representar um elemento de vantagem
competitiva para a empresa vinícola, principalmente no âmbito internacional (RENTON;
MANKTELOW; KINGSTON, 2002). Os autores ainda afiançam que a sustentabilidade
empresarial é uma exigência em alguns mercados de exportação de vinhos, e provavelmente
no futuro a falta de sustentabilidade se tornará uma barreira ao comércio.
1/16
ANAIS
Marshall, Cordano e Silverman (2005) apregoam que a indústria do vinho enfrenta
uma série de problemas ambientais, tais como a utilização excessiva de água no processo
produtivo, o despejo de resíduos no ambiente, o desperdício de recursos naturais, de insumos
de produção, e, as práticas ambientais insustentáveis.
De acordo com Renton, Manktelow e Kingston (2002), uma vinícola sustentável é
aquela que garante produtos que não agridem a saúde dos consumidores, fornece um lugar
seguro e saudável para aquelas pessoas que trabalham na propriedade e forneça uma
oportunidade de negócio economicamente viável.
O setor vinícola vem contribuindo positivamente para a economia do Brasil,
exportando vinhos para vinte e dois países, dentre eles Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha
(IBRAVIN, 2011). Já os vinhos do Vale do São Francisco são consumidos em diversas
regiões brasileiras e em países como Portugal, França, Alemanha, Itália, Inglaterra e Holanda
(CODEVASF, 2005).
Estudar as vinícolas do Vale do São Francisco torna-se relevante no momento em que
a atividade, segundo Vital, Moraes Filho e Ferraz Filho (2005) e CODEVASF (2012), tem
ganhado destaque com uma participação cada vez maior no mercado nacional, sendo
responsável por cerca de 15% da produção nacional de vinhos. Além disso, os autores
apregoam que a atividade é considerada uma das mais promissoras para geração de renda e de
empregos no Vale do São Francisco, podendo permitir melhor condição de vida para a
população local, pois a produção de vinhos interage com outras atividades, como a produção
de uvas e o turismo do vinho (enoturismo).
Na região do Vale do São Francisco, a utilização de uma boa estrutura de irrigação, a
qual fornece a quantidade ideal de água para as diferentes variedades de uvas viníferas,
permite que as cinco vinícolas ativas na região utilizem uvas que atendem ao padrão de
qualidade estipulado pela indústria do vinho em seu processo produtivo (CODEVASF, 2005).
Outra vantagem, destacado pela CODEVASF (2005), é que as vinícolas do Vale
precisam da metade da capacidade física de estocagem do vinho em comparação à de outras
regiões, além de possuir uma ociosidade baixa dos equipamentos industriais, reduzindo, dessa
forma, o custo de produção. Esses benefícios de que as empresas desfrutam são justificados
pelo fato de a região permitir colher da mesma videira duas ou três vezes ao ano, enquanto em
outras regiões do mundo a colheita ocorre apenas uma vez.
Há de se considerar que o Vale do São Francisco está localizado no sertão nordestino,
região coberta por caatingas e banhada pelo Rio São Francisco, com clima semiárido. O clima
é quente e seco, com temperaturas médias variando entre 22ºC e 34ºC, tendo uma precipitação
pluviométrica média anual de 350 mm. No geral, o solo é pobre em nutrientes e matéria
orgânica, com exceção dos solos de classe “Bruno” não cálcicos, que possuem reservas
nutricionais e favorecem o enraizamento.
Diante das condições físicas e climáticas adversas da região, a construção de um
sistema de irrigação implementado pelo Governo Federal e pelo Governo Estadual, foi um
dos fatores determinantes para a expansão e diversificação agrícola na região, principalmente
para o desenvolvimento da fruticultura. Segundo Terragraph (2010), ainda que a infraestrutura
de irrigação que favorece o pólo de produção agrícola com alto valor agregado, não inclui a
população de baixa renda, que, consequentemente, emprega formas incorretas de uso e
exploração dos recursos naturais e da flora e fauna como formas alternativas de subsistência.
2/16
ANAIS
Nesse cenário, é perceptível a existência de características distintas entre territórios
próximos. Por um lado, há ricas propriedades empresariais que desfrutam de um sistema de
irrigação que favorece o plantio e o desenvolvimento da vegetação. Por outro lado, há
territórios secos, sem a infraestrutura de irrigação e com baixa probabilidade de se
desenvolver culturas agrícolas.
Nos municípios que integram a Região Integrada de Desenvolvimento (RIDE) do pólo
Juazeiro-Petrolina (municípios pernambucanos de Lagoa Grande, Orocó, Petrolina, Santa
Maria da Boa Vista e, na Bahia, pelos municípios de Juazeiro, Casa Nova, Curaçá e
Sobradinho), onde a população estimada totaliza 704.582 habitantes a pobreza e a
desigualdade de renda são problemas que afligem a população. Os índices Gini1 dos
municípios da RIDE excedem o valor de 0,55 (IBGE, 2010).
O total de analfabetos acima de 15 anos é equivalente a 151.700 pessoas. Esse
contingente representa 21,53% da população da RIDE apesar de Petrolina e Juazeiro
apresentarem os melhores desempenhos quanto às taxas de analfabetismo e de educação.
Além dos problemas que envolvem a educação, ainda existem problemas com
habitações e saúde na localidade. Em relação ao primeiro, merecem destaque a presença de
favelas e loteamentos irregulares e clandestinos em sete municípios da RIDE e de cortiços e
casas de cômodos em quatro municípios da região. Além disso, nas áreas rurais as habitações
são precárias, com alto grau de insalubridade e espaços extremamente pequenos. Em relação à
saúde, Casa Nova, Curaçá e até mesmo Sobradinho têm uma quantidade reduzida de pessoal
especializado na área de saúde. Ademais, todos os médicos que trabalham na região habitam
em apenas três municípios da RIDE: Petrolina, Orocó e Juazeiro. Não há médicos que
residam nas demais regiões (TERRAGRAPH, 2010).
Diante do exposto, fica evidente que é importante estudar a sustentabilidade
empresarial em regiões que exploram recursos naturais escassos como os do sertão brasileiro,
principalmente dada a desigualdade do acesso à água nos municípios do Pólo PetrolinaJuazeiro. Dessa forma esse artigo tem como objetivo discutir a sustentabilidade das vinícolas
do Vale do São Francisco a partir da abordagem da sustentabilidade empregada pela
California Sustainable Winegrowing Alliance.
2. A sustentabilidade empresarial
Independente da motivação para o desenvolvimento sustentável, hoje a
sustentabilidade corporativa em alguns setores é condição sine qua non para fazer negócios.
Nesse sentido, alguns tipos de empresas investem em programas de sustentabilidade
corporativa, porque esses investimentos ajudam a manter a posição competitiva da empresa
(ARTIACH et al., 2010). Ademais, a sustentabilidade empresarial, conforme argumentam
Aras e Crowther (2009), deve ser levada em consideração devido ao fato de as empresas
fazerem parte de um amplo sistema social e econômico, e práticas sustentáveis podem afetar
positivamente os custos empresariais, o valor criado no presente e também o futuro do
negócio.
A busca por oportunidades de mercado é um dos principais objetivos das empresas
vinícolas, as quais têm tentado reduzir problemas ambientais, como, por exemplo, o
desperdício de água e a produção de resíduos sólidos a partir do benchmarking das práticas
1
O índice pode variar de 0 a 1, sendo que quanto mais próximo do valor 1, maior a desigualdade de renda.
3/16
ANAIS
sustentáveis utilizadas por algumas das principais vinícolas, como as do estado da Califórnia,
nos Estados Unidos, e as da Nova Zelândia.
Corroborando esse pensamento, Baughman et al. (2000, apud MARSHALL;
CORDANO; SILVERMAN, 2005, p. 93) afirmam que uma indústria de vinho sustentável é
aquela que “limita o uso de agrotóxicos, herbicidas e fertilizantes, do abastecimento de água
escassa e de energia, tentando reduzir a quantidade de águas contaminadas por resíduos,
resíduos orgânicos e materiais de embalagem não perigosos”.
2.1 A sustentabilidade do setor vinícola na abordagem da California Sustainable
Winegrowing Alliance (CAWG)
O código do Wine Institute e da CAWG reúnem um conjunto de práticas sustentáveis
para a indústria de vinho (MARSHALL; CORDANO; SILVERMAN, 2005; CALIFORNIA
SUSTAINABLE WINEGROWING ALLIANCE, 2012) com o objetivo de auxiliar os
gestores das vinícolas a prestar atenção em questões sociais, econômicas e ambientais,
estando organizado em 13 capítulos ou categorias de análises: viticultura, manejo do solo,
gestão da água no vinhedo, gestão de pragas, qualidade do vinho, gestão de ecossistemas,
eficiência energética, conservação e qualidade da água na vinícola, manuseio de materiais,
redução e gestão dos resíduos sólidos, compras ambientalmente preferíveis, recursos
humanos, e, vizinhos e comunidades. Desses capítulos, os quatro primeiros são destinados
apenas para os vinhedos (CALIFORNIA SUSTAINABLE WINEGROWING ALLIANCE,
2009) e os demais estão apresentados a seguir.
Quadro 01: Categorias de análise de sustentabilidade em vinícolas e descrições das categorias
Categorias
Descrição
Qualidade do vinho
Apesar de ser uma medida subjetiva, pode envolver alguns requisitos de padronização, bem
como análise sensorial (olfativa, visual etc.) e química. A qualidade do vinho é um dos
aspectos que colaboram diretamente com a dimensão econômica, uma vez que implica
custos de investimentos de qualidade e potencial retorno financeiro a longo prazo, podendo
contribuir indiretamente com as demais dimensões da sustentabilidade por meio de práticas
ambientais e sociais desempenhadas pelas vinícolas.
Avaliar como as vinícolas têm definido a gestão dos recursos de base, o status do
desenvolvimento da estratégia de sustentabilidade (a partir da incorporação da mesma na
Gestão de ecossistemas
visão, missão e valor da empresa), a integração dos processos da natureza com os processos
produtivos e, como as práticas do vinhedo e da vinícola afetam a qualidade ambiental.
Eficiência energética
Mensurar a quantidade de energia utilizada para, a partir disso desenvolver estratégias de
conservação. É necessário saber quanta energia cada operação utiliza. Isso pode ser
mensurado por meio de uma auditoria energética. Essa categoria de análise é composta por
10 critérios de avaliação, dentre eles: o planejamento, o monitoramento, as metas e os
resultados relacionados à eficiência energética; o total de energia consumida por tonelada de
uva ou galão de vinho produzido; a extensão da eficiência energética da maior operação; a
extensão da gestão de recursos humanos, incluindo os esforços de treinamento para a
implantação de projetos de eficiência energética.
Conservação e
qualidade da água na
vinícola
Reúne 16 critérios para avaliação, que abrangem planejamento, monitoramento, metas e
resultados relacionados à conservação e qualidade da água; total de água consumida por
galão de vinho produzido; a extensão das práticas de conservação da maior operação;
extensão da gestão de recursos humanos, incluindo os esforços de treinamento para a
implantação de projetos de conservação de água.
4/16
ANAIS
Manuseio de materiais
Formas de avaliação de aspectos como planejamento e movimentação de materiais,
monitoramento, materiais tóxicos produzidos pela adega, nível de poluição, e correta
manipulação dos materiais, dentre outros.
Redução e gestão dos
resíduos sólidos
Diz respeito as práticas de gestão, monitoramento e redução dos resíduos sólidos produzidos
pela vinícola, além de treinamento dos funcionários no que se refere à redução dos resíduos.
Recursos humanos
Engloba critérios que permitem avaliar a existência de princípios da sustentabilidade na
cultura da empresa, o planejamento e monitoramento dos recursos humanos, a presença de
treinamentos e programas formais ou informais de capacitação para realizar o trabalho de
maneira eficaz e um treinamento que estimule a adoção de práticas sustentáveis pelos
funcionários.
Fonte: California Sustainable Winegrowing Alliance (2009)
Hughey, Tait e O’Connell (2005) afiançam que o uso de manuais, códigos e sistemas
de gestão ambiental, a exemplo da ISO 14001 permitem definir e manter uma relação
harmoniosa com o meio ambiente. Além disso, os autores salientam que essas ferramentas são
úteis para monitorar e modificar ações na indústria do vinho e, principalmente no caso das
certificações ISO 14001, para transmitir uma imagem distintiva de “limpa e verde” aos
consumidores.
3. Procedimentos metodológicos
Do ponto de vista dos objetivos da pesquisa, o artigo classifica-se como descritivo e
exploratório, tendo utilizado como meios de investigação, a pesquisa de campo e,
bibliográfica, e, como estratégia de pesquisa o estudo de múltiplos casos.
Quanto aos instrumentos de coleta de dados, foram utilizados o levantamento
bibliográfico, questionário com perguntas abertas e fechadas e entrevista estruturada, sendo
realizada a coleta entre 10/07/2012 e 20/10/12. Os sujeitos entrevistados foram: o responsável
pela produção da empresa A, a proprietária da empresa B, o diretor da empresa C, e, o
coordenador enoturístico da empresa D.
Durante a pesquisa e análise bibliográfica se identificou que os indicadores propostos
pela CAWG apresentavam algumas lacunas que podem ser supridas pela Agenda 21
(UNITED NATIONS, 1992) e que pode ser considerada um dos principais instrumentos de
planejamento para a consecução do desenvolvimento sustentável, uma vez que nele foram
propostos planos de ação, assim como o uso de indicadores de sustentabilidade para monitorar
o progresso rumo ao desenvolvimento sustentável e para fornecer bases sólidas para a tomada
de decisões (MITCHELL; MAY; MCDONALD, 1995).
Além disso, que o Global Report Initiative que traz um conjunto de indicadores para a
elaboração de relatórios de sustentabilidade permitiria o preenchimento de uma lacuna
identificada.
Parte dos dados foram analisados por meio de análise de conteúdo, especificamente
por análise temática (Quadro 02) realizada a partir dos dados transcritos das entrevistas.
Quadro 02: Categorias e critérios de análise da sustentabilidade em vinícolas
Categoria
Parcerias
Base téorica
Critérios
Parcerias com outras empresas, governo ou instituições de ensino e pesquisa
Agenda 21
Apoio governamental para participar de programas de sustentabilidade
Agenda 21
5/16
ANAIS
Incentivos governamentais, como redução de carga tributária
Prestação de contas da
sustentabilidade
Divulgação relatórios de prestação de contas da sustentabilidade
Prêmios
Procedimentos de qualidade e higiene dos produtos
Qualidade dos vinhos
Ferramentas de avaliação da qualidade dos vinhos
Agenda 21
GRI
California
Sustainable
Winegrowing
Alliance
Ferramentas de avaliação da qualidade das uvas compradas e/ou produzidas
Monitoramento da maturação das uvas
Gestão de Ecossistemas
Eficiência Energética
Registro químico do mosto (líquido extraído da uva)
Estratégia de sustentabilidade contemplam os princípios de sustentabilidade
presentes na visão, missão e valores da empresa
Registro da fronteira física da propriedade; registro dos recursos naturais
Estratégias desenvolvidas para evitar a perda de nutrientes do solo
Monitoramento da fauna e flora existente na propriedade
Conhecimento das características únicas físicas, biológicas e climáticas da
localidade
Auditoria Energética
Existência de programa de gestão energética e de conservação de energia
Monitoramento da água utilizada na indústria
Teste de qualidade da água
Conservação e
Qualidade da água
Fonte de água alternativa existente na empresa
California
Sustainable
Winegrowing
Alliance
CSWA
California
Sustainable
Winegrowing
Alliance
Tratamento da água antes de ser utilizada
Tratamento da água antes de ser despejada no meio ambiente
Manejo de Material
Tratamento e armazenamento dos materiais perigosos
Tratamento e eliminação dos resíduos e materiais tóxicos
Manutenção de máquinas e equipamentos
Gestão e Redução de
Resíduos Sólidos
Recolhimento de embalagens para reuso
Políticas ou diretrizes para controle de resíduos
Funcionários Especializados em sustentabilidade
Recursos Humanos
California
Sustainable
Winegrowing
Alliance
CSWA
Programas de educação, assistência à saúde e lazer
Registros de lesões, doenças ocupacionais, absenteísmo e turnover
California
Sustainable
Winegrowing
Alliance
Apoio e incentivo a igualdade de gêneros, faixa etária, raças e etnias
Por fim, a fase de tratamento dos resultados envolveu a categorização (classificação ou
agrupamento de ideias, conceitos ou temas), descrição (resumo das características do
conteúdo transcrito), inferência (fase intermediária da descrição e interpretação) e
interpretação (atribuição de significados às características) (MINAYO; DESLANDES;
GOMES, 2009).
3.1 Caracterização dos casos estudados
Na região, existem 05 vinícolas ativas. No entanto, por questão de acessibilidade das
empresas, 04 empresas existentes foram estudadas. A quinta empresa negou participação por
estar, no período da coleta de dados, em processo de colheita e produção. As quatro empresas
estudadas foram denominadas de empresa A, B, C e D e estão brevemente descritas a seguir.
A empresa A está instalada no município pernambucano de Lagoa Grande e, foi
fundada em 2003, quando a propriedade onde está localizada foi adquirida por um grupo
6/16
ANAIS
português. O grupo do qual a empresa faz parte possui cerca de seis unidades de produção
localizadas em Portugal e apenas uma instalação no Brasil. A propriedade da empresa tem
uma área total equivalente a 1600 hectares, sendo 200 hectares plantados de uvas viníferas.
Essa área plantada é responsável pela produção de todas as uvas utilizadas na elaboração dos
vinhos.
A empresa B foi fundada em 1993 por um enólogo italiano e sua esposa. Trata-se de
uma pequena empresa familiar, constituída de 14 empregados. A empresa localiza-se em
Lagoa Grande, e não possui outra unidade de produção. A propriedade da empresa tem
aproximadamente 212 hectares, sendo responsável pela produção de parte das uvas utilizadas
na elaboração de vinhos sendo que ela adquire outra parte de uvas de outros produtores.
A empresa C atua desde junho de 1984 e está localizada no município de Santa Maria
da Boa Vista e tem uma área total de 550 hectares. Produz todas as uvas que utiliza na
produção de vinhos, sendo responsável pela produção de aproximadamente 1 milhão e 100
mil litros de vinho em 2011.
A empresa D faz parte de um grupo que conta com seis projetos em cinco regiões
vitivinícolas brasileiras, além de possuir seis acordos joint ventures com empresas da
Argentina, Chile, Espanha, Itália e França. A empresa, localizada no município de Casa Nova,
Bahia, foi fundada em 2001. Possui uma estrutura societária do tipo capital fechado e tem 160
empregados atuando na unidade de produção do Vale do São Francisco.
4 Apresentação e dicussão dos resultados
As características da sustentabilidade das vinícolas estão apresentadas e organizadas
nas seguintes categorias de análise: parceria, prestação de contas da sustentabilidade,
qualidade do vinho, gestão de ecossistemas, eficiência energética, conservação e qualidade da
água, manuseio de materiais, redução e gestão dos resíduos sólidos e recursos humanos. As
características da sustentabilidade e as categorias de análise estão descritas a seguir.
4.1 Parceria
As parcerias ocorrem de diferentes formas e especialmente no caso da Embrapa, que,
juntamente com as empresas, desenvolve estudos tecnológicos como da propriedades das
uvas, do vinho, e, do solo. Outro exemplo é a parceria com o SEBRAE que fornece apoio à
empresa A em cursos aos funcionários e à diretoria. Já as parcerias com institutos de ensino
superior (empresa A) envolvem oportunidades fornecidas aos alunos das faculdades, por meio
de aulas práticas e da possibilidade de estágios na área.
A empresa B teve o apoio financeiro da FACEPE para um projeto de pesquisa de
vinhos orgânicos coordenado em parceria com a Embrapa.
Quadro 03: Parcerias realizadas pelas empresas estudadas
Empresa A
Parcerias e Apoio
Empresa B
Fundação de
Amparo a Ciência e
SEBRAE, Embrapa
Tecnologia de
e institutos de ensino
Pernambuco
superior
(FACEPE), SENAI
e Embrapa
7/16
Empresa C
Empresa D
Embrapa, Instituto
de Tecnologia de
Empresas
Pernambuco (ITEP)
internacionais
e o Instituto do
Vinho
ANAIS
Incentivo
econômico
Isenção do ICMS
Isenção do ICMS
Isenção do ICMS
Isenção do ICMS
Quando questionados sobre a existência de apoio do governo para participar de
programas de sustentabilidade, os entrevistados afirmaram não existir apoio para tal fim. No
entanto, através da pesquisa documental evidencia-se a existência de apoio do governo
principalmente no âmbito econômico, como o investimento no canal de irrigação, dentre
outros.
4.2 Prestação de Contas em Sustentabilidade
As empresas estudadas não divulgam relatórios de prestação de contas da
sustentabilidade empresarial nem demonstram conhecimento sobre guias de relatórios como o
Global Report Initiative (GRI). Quando questionados sobre a possibilidade de virem a utilizar
esse tipo de relatório para prestação de contas, os entrevistados foram unânimes em dizer que
não possuem interesse em utilizá-los no futuro.
O desinteresse das empresas em elaborar e divulgar relatórios para prestação de contas
da sustentabilidade pode constituir em um fator negativo para a empresa, uma vez que tais
relatórios são úteis para informar aos stakeholders sobre os impactos positivos e negativos das
práticas empresariais sobre a sociedade e sobre o meio ambiente.
4.3 Qualidade do Vinho
A definição de padrões e critérios de qualidade permite atribuir credibilidade e
confiabilidade a um produto, dentre esses critérios os prêmios permitem assegurar que os
avaliadores creditam qualidade aos vinhos, já as ferramentas e o monitoramento da maturação
das uvas que serão utilizadas para produzir o vinho são úteis para manter um padrão
estabelecido pelas indústrias do vinho.
Em 2012, uma das marcas de vinho da empresa A ganhou uma medalha de prata no
concurso internacional de vinhos do Brasil, realizado em Bento Gonçalves. Em 2011, outra
marca de vinho tinto ganhou o prêmio de terceiro melhor vinho brasileiro pelo Instituto
Brasileiro do Vinho e, no mesmo ano, outro vinho tinto foi premiado com medalha de ouro
pelo prêmio Mundial de Bruxelas, realizado na Bélgica.
A empresa C possui apenas uma das marcas de vinho premiadas com o título do vinho
mais representativo da categoria Branco Fino Aromático, em avaliação da Associação
Brasileira de Enologia.
Quase todos os produtos da empresa D já ganharam algum prêmio como o brand que
ganhou o prêmio prata no concurso International Spirits Award, realizado na Alemanha, outro
prata no concurso Mundial de Bruxelas de 2009 e, um de ouro no concurso Mundus Vini,
ocorrido em 2007, na Alemanha. Dois vinhos espumantes da safra 2010 também foram
ganhadores dos prêmios ouro no VI Concurso Internacional de Vinhos do Brasil e no VII
Concurso Espumantes Brasileiros; dentre outros prêmios.
8/16
ANAIS
Empresa A
Prêmios
Empresa B
80% do portfólio de
Nunca participou
marcas da empresa
nem ganhou prêmios
detêm prêmios
Empresa C
Uma das marcas
recebeu premiação
em 2004
Empresa D
A maioria das
marcas da empresa
obteve prêmios
nacionais ou
internacionais
controle
microbiológico na
água que vai ser
usada;
utilização de vidros
novos para o envase
das garrafas;
limpeza
das garrafas e
equipamentos
Manual de Boas
práticas;
utilização de
Procedimentos de
materiais
qualidade e
esterilizados;
higiene
garrafas para envase
devem ser novas,
limpas e
esterilizadas
utilização de boas
práticas de
fabricação do vinho
utiliza todos os
protocolos previstos
na indústria;
controles de
temperatura, limpeza
das garrafas
Ferramenta de
avaliação da
qualidade nas
uvas e em todo o
processo
produtivo do
vinho
Análises sensoriais
e laboratoriais
(químicas,
biológicas)
Análises sensoriais e
laboratoriais
(químicas,
biológicas)
Análises sensoriais e
laboratoriais
(químicas,
biológicas)
Análises sensoriais e
laboratoriais
(químicas,
biológicas)
Controle de
maturação da uva
Controle realizado
pelos enólogos
Controle realizado
pelos enólogos,
exceto nos casos das
uvas compradas
Controle realizado
pelos enólogos.
Controle enólogos,
exceto nos casos das
uvas compradas
Registro químico
do mosto
Sim
Sim
Sim
Sim
As análises sensoriais e laboratoriais realizadas pelas quatro empresas estudadas,
avaliam o padrão de qualidade das uvas que serão utilizadas no processo produtivo assim
como avaliam o padrão do próprio vinho, permitindo verificar se as características do que está
sendo analisado condiz com o que é necessário para se produzir o vinho.
O entrevistado 1 argumenta que, no caso das uvas, é feito um controle de maturação
por meio de uma colheita aleatória de cerca de 400 bagos (frutos do cacho de uva) por lote;
nesses bagos são feitas análises químicas para verificar aspectos como acidez total, peso,
volume e teor alcoólico provável e, depois, faz a prova para decidir se é hora de iniciar a
colheita. Após essas análises, as uvas serão processadas apenas quando atingirem o
parâmetro de qualidade que é exigido pela vinícola. Dependendo dos resultados da análise, é
possível determinar o potencial que a uva terá e daí fazer a seleção para compor o vinho.
4.4 Gestão de Ecossistemas
Entende-se que para gerir o ecossistema é necessário inicialmente conhecê-lo; é a
partir do conhecimento sobre a propriedade e suas condições, bem como sobre seus recursos
naturais são desenvolvidas as estratégias de sustentabilidade direcionadas à redução dos
impactos ambientais.
Em se tratando do comportamento das empresas em relação à categoria gestão de
ecossistemas, identificou-se que a empresa B não possui registro da fronteira física e dos
9/16
ANAIS
recursos naturais, bem como não monitora a fauna e flora existentes na propriedade. Esse
comportamento pode ser vistos de forma negativa por indicar que a empresa não conhece e
não acompanha os impactos no ecossistema.
Estratégia de
sustentabilidade
Fronteira física e dos
recursos naturais
Solo
Fauna e flora
Características
físicas, biológicas e
climáticas da
localidade
Empresa A
Empresa B
Empresa C
Empresa D
Não
Não
Não
Não
Possui
Não possui
Possui
Possui
análise do solo para
ter conhecimento dos
nutrientes que devem
ser repostos;
alterna o terreno para
descanso
análise do solo para
ter conhecimento dos
nutrientes que devem
ser repostos;
alterna o terreno para
descanso
análises periódicas análises periódicas
para avaliar se é
para avaliar se é
preciso fazer a
preciso fazer a
reposição dos
reposição dos
nutrientes
nutrientes
Monitora
Não monitora
Monitora
Monitora
Conhece
Conhece
Conhece
Conhece
Nenhuma das empresas desenvolve estratégias de sustentabilidade e não menciona o
desenvolvimento sustentável na visão, missão e valores. No que diz respeito ao registro das
fronteiras físicas da propriedade e dos recursos naturais da propriedade, as empresas possuem
documentos que informam o tamanho da propriedade, quais as espécies vegetais que lá
existem, as características do solo, do clima e da água da região.
Todas elas fazem análises periódicas que visam conhecer todos os nutrientes que o
solo tem e o que foi perdido, com vistas a avaliar se é preciso fazer a reposição artificial dos
nutrientes do solo. A empresa A também tem o registro diário de amplitude térmica, de
precipitação pluviométrica e de temperatura, que são mensuradas por uma estação financiada
pela empresa, juntamente com a Embrapa.
4.5 Eficiência Energética
As empresas procuram ter conhecimento da quantidade de energia por elas gasta, bem
como procuram reduzir o consumo, isso porque essa preocupação está relacionada aos custos
diretos que a energia acarreta para a empresa.
Empresa A
Auditoria
energética
Sim
Empresa B
Não, mas sabe a
quantia de energia
gasta em todo o
processo produtivo
10/16
Empresa C
Sim, por meio de
medidores
espelhados pela
empresa e
indicadores da
qualidade de energia
Empresa D
Sim
ANAIS
Programa de
gestão
energética e
conservação de
energia
não tem um
não tem um
programa formal,
programa formal,
mas realiza algumas mas realiza algumas
ações com o intuito ações com o intuito
de economizar
de conservação
energia
energia
Desenvolve um
programa de
conservação de
energia
não tem um
programa formal,
mas realiza algumas
ações com o intuito
de reduzir o uso de
energia
A empresa A realiza auditoria energética. Segundo o entrevistado 1, “é uma empresa
externa que faz a auditoria e que tenta ver a melhor forma de reaproveitarmos a energia que
está sendo utilizada”. Assim, a empresa A, apesar de não ter um programa formal e
abrangente de gestão energética, realiza algumas ações com o intuito de economizar a energia
utilizada na empresa.
Apesar de ter uma noção de quanta energia é utilizada em cada processo, os
entrevistados das empresas B, C e D afirmam não ter nenhum programa de gestão energética
formalizado na empresa, mas desenvolvem ações informais nesse sentido, como reduzir o
consumo e instruir os funcionários a evitar o desperdício.
4.6 Conservação e Qualidade da Água
A preocupação das empresas com o monitoramento da água é um fator bastante
compreensível, principalmente em termos econômicos. Como o desperdício de água pode ser
custoso para a empresa, monitorar e economizar a água são alternativas que possibilitam a
redução dos gastos.
Além disso, a qualidade da água afeta a qualidade e higiene dos produtos, uma vez que
essa matéria-prima é utilizada para lavar os equipamentos e, as embalagens dos produtos.
Dessa forma, as análises química e microbiológica da água e seu tratamento, processos
realizados pelas quatro vinícolas estudadas, são necessários para evitar contaminações que
podem afetar a credibilidade das empresas.
Toda a água utilizada nas empresas A, C e D vem do rio São Francisco e passa por um
tratamento de purificação, permitindo que possa ser utilizada nos processos produtivos. Os
representantes das empresas A e D afirmam que, depois de utilizada, a água sofre tratamento
e, posteriormente, grande parte dela é reutilizada para irrigação. Já na empresa C o descarte da
água se dá no sistema de esgoto próprio e não há programa de reutilização da água.
Dentro da empresa B existe um poço que se constitui em uma das principais fontes de
água utilizada na propriedade, mas a empresa utiliza também a água do rio São Francisco. A
água utilizada na vinícola não passa por um tratamento antes de ser utilizada, pois, conforme
afirma a entrevistada 2, não há necessidade de tratamento de água do poço. Para testar a
qualidade da água que entra na vinícola é feita duas vezes por ano uma análise microbiológica
pelo SENAI. Depois de utilizada a água passa por um pequeno tratamento para ser reutilizada
na irrigação de cultivos domiciliares (horta) e de pastagem para animais.
Empresa A
Empresa B
Empresa C
Empresa D
Monitoramento da água
sim
Não
Sim
sim
Teste de qualidade
análise
microbiológica
antes de utilizá-la
análise
microbiológica
duas vezes por ano
11/16
mensalmente são análises químicas e
realizadas análises
controle
químicas na água
microbiológico
ANAIS
Fonte alternativas
Não
Poço como fonte
de água alternativa
Não
Não
Tratamento antes do
consumo
Sim
A água do poço
não passa por
tratamento
Sim
Sim
Tratamento depois do
consumo
Sim
Sim
Não
Sim
4.7 Manejo de Materiais
No que concerne ao manejo de materiais perigosos, é importante atentar para a
necessidade de armazenamento, e de uso de equipamentos e de descarte adequados, a fim de
evitar acidentes de trabalho ou ambientais. Para essas questões citadas, há legislações e
organismos governamentais de fiscalização do trabalho e do meio ambiente que atentam para
todos os requisitos e regulamentos de segurança.
As vinícolas agem corretamente ao tratarem os materiais perigosos conforme as regras
de segurança, pois evitam acidentes, multas e problemas com a imagem organizacional diante
dos consumidores.
A manutenção dos equipamentos também é um importante fator para atender o critério
econômico de sustentabilidade, uma vez que ajudam a manter a vida útil do equipamento e,
principalmente no caso da manutenção preventiva, evitam falhas futuras e evitam que outros
equipamentos que dependam deles fiquem ociosos.
Empresa A
Os materiais perigosos
são armazenados em
Tratamento e
zonas diferenciadas e os
armazenamento de
funcionários que os
materiais perigosos
manipulam usam
equipamentos adequados
Empresa B
Empresa C
Empresa D
Não utiliza
materiais
perigosos
Os materiais
Os materiais perigosos
são armazenados em
perigosos são
armazenados e
zonas diferenciadas e os
manipulados de
funcionários que os
manipulam usam
acordo com as
normas de segurança equipamentos adequados
As embalagens dos
são guardados em postos
defensivos agrícolas
de coleta e recolhidas
retornam para o
pelos fornecedores
fornecedor
Tratamento e
eliminação de
resíduos e
materiais tóxicos
são guardados em sacos
específicos e depois vão
para uma central de
coleta e tratamento
não utiliza
materiais
tóxicos
Manutenção de
máquinas e
equipamentos
manutenção preventiva e
corretiva
manutenção
corretiva
manutenções
preventivas e
corretivas
manutenção preventiva e
corretiva
A empresa B não usa nenhum tipo de material perigoso, uma vez que os produtos da
empresa são orgânicos. Existem apenas materiais de limpeza que ficam isolados em uma sala
de despensa. Como a empresa não utiliza materiais tóxicos nem gera resíduos tóxicos, não há
necessidade de armazenamento e tratamento para eliminar as embalagens de materiais
tóxicos. Apenas é solicitada a manutenção das máquinas e equipamentos da empresa quando
são necessários pequenos consertos ou revisões.
4.8 Redução e Gestão dos Resíduos Sólidos
É possível observar que todas as empresas entrevistadas promovem o controle de seus
resíduos, mesmo que em alguns casos seja informalmente. Esse controle é positivo para as
12/16
ANAIS
empresas, pois muitas vezes permite evitar desperdícios e garantir a eficiência dos recursos.
Aproveitar os resíduos sólidos da uva oriundos do processo produtivo representa redução das
despesas com insumos (empresas A, B e D), ou a redução das despesas com ração animal
(empresa C).
As 4 empresas entrevistadas afirmaram só usar garrafas novas para o envase, pois,
segundo elas, é uma questão de qualidade e higiene.
Empresa A
Empresa B
Empresa C
Empresa D
Recolhimento para reuso de embalagem
não
não
não
não
Políticas ou diretrizes para controle dos resíduos
sólidos
Sim
Não
Sim
Sim
Na empresa A, C e D a quantidade de materiais que entra e que sai é controlada, bem
como a quantidade de material que é processado, de vinho que é engarrafado e do volume de
perdas e dos resíduos que são descartados. Na empresa C existe coleta seletiva de resíduos,
enquanto que na empresa D se aproveita a solução alcoólica residual do brandy (conhaque
produzido pela empresa) para esterilizar garrafas e limpar alguns equipamentos.
Na empresa B não há política formal, mas informalmente existem práticas de controle
de resíduos, como a coleta seletiva e o reaproveitamento de alguns resíduos sólidos.
4.9 Recursos Humanos
Todas as empresas afirmaram não fazer distinção entre os funcionários,
independentemente de raça, cor, religião ou etnia, o que demonstra uma preocupação com o
tratamento igualitário dos funcionários.
Com exceção da empresa B, as demais empresas estudadas praticam a
responsabilidade social, realizando ações de assistência à saúde, lazer e educação para os
funcionários e familiares. Essas ações são positivas, pois se constituem motivação para os
funcionários, além do que contribuem para uma boa imagem organizacional.
As práticas de Responsabilidade Social (RSE) das empresas A e C merecem destaque.
Estas empresas possuem em suas propriedades escola e templo religioso. A empresa A realiza
torneio de futebol, jantar e almoço convívio entre os funcionários e, outras atividades de
socialização.
A empresa C possui um complexo esportivo que pode ser utilizado pelos seus
funcionários. A empresa D também realiza algumas atividades de socialização, além de
possibilitar o financiamento de cursos. A empresa foi precursora do tratamento igualitário
entre funcionários do sexo masculino e funcionários do sexo feminino no município
pernambucano de Santa Maria da Boa Vista, principalmente em termos de salários. Segundo o
entrevistado, na região onde a empresa está instalada a mulher ganhava menos que o homem e
não havia benefícios como 13º salário e férias, sendo atualmente uma das contribuições da
empresa para o município. Apesar de garantir que não há distinções entre os funcionários, a
empresa C, assim como a empresa A, oferece planos de saúde para apenas alguns
funcionários, o que por si só já se constitui em um tratamento desigual.
A empresa B não desenvolve nenhum programa destinado aos funcionários e seus
familiares. Todavia, de acordo com a entrevistada 2, a empresa repreende qualquer forma de
preconceito dentro da propriedade, tratando todos de forma semelhante, apesar de não
13/16
ANAIS
existirem programas, ferramentas ou indicadores formalizados sobre isso. O apoio e incentivo
à igualdade de gêneros, raças e etnias é uma questão de valor e cultura da empresa.
Funcionários especializados
em sustentabilidade
Programas de educação,
assistência à saúde e lazer
Lesões, doenças
ocupacionais, absenteísmo e
turnover
Apoio e incentivo igualdade
de gêneros, raças e etnias
Empresa A
Empresa B
Empresa C
Empresa D
Não
Não
Não
Não
Existem algumas
ações para os
funcionários e
seus familiares
Não desenvolve
nenhum
programa de
educação,
assistência à
saúde e lazer
Sim, mas são
índices baixos
Existem registros
de demissões e
faltas, mas não
ocorreram lesões
ou doenças por
conta do trabalho
Sim, mas são
índices baixos
Sim, mas são índices
baixos
Sim
Sim
Sim
Sim
Existem algumas
Existem algumas ações
ações para os
para os funcionários e
funcionários e
seus familiares
seus familiares
No que tange às avaliações descritas acima, são necessárias duas ressalvas. A primeira
delas diz respeito ao fato de que as avaliações refletem a percepção dos respondentes. Dessa
forma, alguma informação pode ter sido subestimada respondentes e, portanto, não
representar fielmente a realidade (ex. lesões e doenças ocupacionais).
A segunda ressalva refere-se à pesquisa em fontes secundárias para triangulação dos
dados. Utilizando-se de fontes secundárias para triangulação dos dados foram consultados
sites de organismos de fiscalização do trabalho e, ambiental para compará-los com as
respostas dos entrevistados. Foi encontrada a informação de que em 2011 o Ministério
Público do Trabalho identificou irregularidades na empresa C, dentre as quais funcionários
aplicando agrotóxicos sem a devida utilização de EPIs, unidades de trabalho sem instalações
sanitárias em condições de uso, atraso no pagamento de salários, não-realização de exames
médicos nos trabalhadores, falta do número adequado de extintores, entre outras (MPU,
2011). Apesar disso, não foi encontrada nenhuma irregularidade recente na empresa C e
também não foi encontrada nenhuma outra informação que pudesse contradizer as respostas
dos entrevistados.
5 Considerações finais
Tendo em vista as características sociais e ambientais da Região do Vale do São
Francisco e, a importância econômica que a fruticultura, e mais especificamente, as vinícolas
possuem é importante que as mesmas “retribuam” aos stakeholders os ganhos advindos da
atividade e a exploração dos recursos naturais e humanos.
Por isso, e tendo em vista a visibilidade que as empresas vinícolas do Vale do São
Francisco têm ganhado nos últimos anos, é recomendável que elas adotem práticas
sustentáveis. Além do mais, o cuidado com os recursos naturais e com os aspectos sociais
podem permitir a redução de custos e evitar problemas com a legislação no futuro.
14/16
ANAIS
No tocante à promoção do desenvolvimento sustentável nas empresas, o uso de
indicadores de sustentabilidade é uma alternativa para a efetivação de práticas sustentáveis de
gestão, pois, de acordo com Mitchell (1996), a medição da sustentabilidade por meio do uso
de indicadores é um meio eficaz disponível para monitorar o progresso ou retrocesso em
direção ao desenvolvimento sustentável.
Os resultados mostram que as empresas ainda tem muito para melhorar em termos de
sustentabilidade, um dos itens que se pode destacar é o fato de elas não reutilizarem suas
garrafas. Como dito anteriormente, apesar de as empresas afirmarem que só utilizam garrafas
novas por questão de higiene e qualidade, algumas empresas vinícolas do Estado da
Califórnia, localidade que é referência mundial em termos de vinho, se utilizam dessa prática.
Ademais, algumas grandes empresas da indústria de bebidas utilizam embalagens retornáveis
e conseguem garantir a qualidade dos seus produtos.
Outro aspecto que chama atenção é o fato de nenhuma delas se valer de relatórios para
a divulgação de suas práticas de sustentabilidade, o que pode ser explicado em parte por que
as empresas são de capital fechado e não possuem pressão do mercado acionário.
Nas empresas estudadas, é possível encontrar evidências de isomorfismo coercitivo,
principalmente nas situações em que os indicadores dizem respeito às questões ambientais e
trabalhistas, uma vez que as vinícolas sofrem pressões da legislação ambiental e trabalhista e
são fiscalizadas por organismos responsáveis por essas áreas. Evidências de isomorfismo
mimético também podem ser observadas principalmente nos casos das empresas A e D, que
apresentam algumas características semelhantes, principalmente no âmbito social. Essas
empresas sofrem influências da Europa, quer seja por fazerem parte de um grupo europeu
(empresa A), quer seja por desenvolver parcerias com alguns países dessa região (empresa D),
podendo atribuir-se a semelhança de comportamentos à influência européia.
Referências bibliográficas
ARAS, G.; CROWTHER, D. Corporate Sustainability Reporting: A Study in Disingenuity?.
Journal of Business Ethics, v. 87, p.279-288, 2009.
ARTIACH, T.; LEE, D.; NELSON, D.; WALKER, J. The Determinants of Corporate
Sustainability Performance. Accounting and Finance, v. 50, p. 31-51, 2010.
CALIFORNIA SUSTAINABLE WINEGROWING ALLIANCE. The California Wine
Community
Sustainability
Report.
2009.
Disponível
em:
http://www.sustainablewinegrowing.org/2009sustainabilityreport.php. Acesso em: junho de
2012.
______. Code of Sustainable Winegrowing Practices Self-Assessment Workbook. Disponível
em: http://www.sustainablewinegrowing.org/swpworkboos.php. Acesso em: junho de 2012.
CALLADO, A. L. C. Modelo de Mensuração de Sustentabilidade Empresarial: uma
aplicação em vinícolas localizadas na Serra Gaúcha. Tese de Doutorado. UFRGS, Porto
Alegre, 2010.
CODEVASF. Investindo no Brasil: Vales do São Francisco e Parnaíba. Disponível em:
www.codevasf.gov.br/programas_acoes/codevasf_apresentacao_ai.pdf. Acesso em: 15 de
agosto de 2012.
______. Plataforma para o Futuro. Revista Codevasf, 6ª SR, 2005.
15/16
ANAIS
HUGHEY , K. F. D.; TAIT, S. V.; O’CONNELL, M. J. Qualitative Evaluation of Three
Environmental Management Systems in the New Zealand Wine Industry, Journal of Cleaner
Production, Vol. 13, pp. 1175-1187, 2005.
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Indicadores Sociais Municipais: uma
análise dos resultados do universo do Censo Demográfico. 2010. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/indicadores_sociais_municipai
s/indicadores_sociais_municipais_tab_uf_zip.shtm. Acesso em: novembro de 2012.
IBRAVIN.
A
vitivinicultura
brasileira.
Disponível
http://www.ibravin.org.br/brasilvitivinicola.php. Acesso em: novembro de 2011.
em:
LABUSCHAGNE, C.; BRENT, A. C.; VAN ERCK, R. P. G. Assessing the Sustainability
Performances of Industries. Journal of Cleaner Production, v. 13, p. 373-385, 2004.
MARSHALL, R. S.; CORDANO, M.; SILVERMAN, M. Exploring Individual and
Institutional Drivers of Proactive Environmentalism in the US Wine Industry. Business
Strategy and Environment, 14, 92-109, 2005.
MINAYO, M. C. S.; DESLANDES, S. F.; GOMES, R. Pesquisa Social: teoria, método e
criatividade. Rio de Janeiro: Vozes, 2009.
MITCHELL, G. Problems and Fundamentals of Sustainable Development Indicators.
Sustainable Development, v. 4, p.1-11, 1996.
______.; MAY, A.; MCDONALD, A. Picabue: a methodological framework for the
development of indicators of sustainable Development. Int. J. Sustain. Dev. World Ecol., v.
2, p. 16-123, 1995.
RENTON, T.; MANKTELOW, D.; KINGSTON, C. Sustainable Winegrowing: New
Zealand’s place in the world. Proceedings of Romeo Bragato Conference, Christchurch, 12
and 14 September 2002.
TERRAGRAPH. Plano de Ação Integrada e Sustentável para a RIDE PetrolinaJuazeiro: relatório final. Ministério da Integração Nacional – Brasília / DF. Terragraph, 2010.
UNITED NATIONS. Agenda 21 (Conference on Environment and Development). Genebra:
United Nations, 1992, 510f.
VITAL, T. W.; MORAES FILHO, R. A.; FERRAZ FILHO, Z. E. Vitivinicultura no Nordeste
do Brasil: um arranjo produtivo em expansão. In: SOBER – Sociedade Brasileira de
Economia e Sociologia Rural. Anais do XLIII Congresso Brasileiro de Economia e
Sociologia Rural: Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial.
Ribeirão Preto: SOBER, 2005.
16/16
Download