Parâmetros Comportamentais Do Danio Rerio Nos Testes De Preferência Claro-Escuro E Esquiva Inibitória Naturalística Em Aquário Claro-Escuro Trilateral Aline Macedo Tavares Amauri Gouveia Jr. Universidade Federal do Pará RESUMO A Preferência Claro-escuro e a Esquiva Inibitória Naturalística são experimentos baseados na aversão ao ambiente claro e utilizados como modelos de ansiedade, entretanto, os aparatos impossibilitam a mensuração de comportamentos no ambiente escuro e comportamentos observados através da lateral deste, e a automatização da análise de dados. Objetivo: Verificar se a modificação do aquário claro-escuro tradicional para o aquário claroescuro trilateral altera o comportamento de preferência claro-escuro e esquiva inibitória naturalística em Danio rerio. Método: Foram utilizados 47 peixes adultos da espécie Danio rerio separados em Grupo Controle e Grupo Experimental, para os testes de Preferência Claro-Escuro e Esquiva Inibitória Naturalística. Resultados: Não foi encontrada diferença significativa dos comportamentos entre grupos Controles e Experimentais de ambos os aparatos. No teste de preferência de claro-escuro foi possível observar os comportamentos de: avaliação de risco, nado errático, tigmotaxia e congelamento, no ambiente escuro e a emissão foi semelhante a emissão no ambiente claro, também foi possível notar que os sujeitos despendiam mais tempo na parte inferior do aquário. No teste de Esquiva Inibitória Naturalística, foi verificada diferença entre as latências da Tentativa 1 e tentativa 5 em ambos os aparatos, neste experimento os sujeitos também permaneceram mais tempo no lado inferior do aquário. Discussão: Os aquários modificados se mostraram aptos a serem utilizados nos respectivos testes com resultados estatisticamente semelhantes, possibilitando a parametria de dados que antes não eram observados. O Zebrafish é um modelo emergente em psicopatologia, farmacologia e neurociências, etc apresentando homologia fisiológica e morfológica com humanos (Kalluef et al, 2014), além de fácil reprodução e armazenamento. Modelos animais são representações em laboratório com animais infra-humanos de fenômenos percebidos em humanos. O Zebrafish apresenta alterações no nível de cortisol em conjunto a alterações comportamentais de ansiedade, sendo assim um modelo válido e confiável de estresse e ansiedade (Egan et al, 2010) Modelos de ansiedade podem utilizar respostas incondicionadas, utilizando-se de estímulos naturais, ou respostas condicionadas. Alguns modelos animais que tradicionalmente utilizam ratos estão sendo adaptados para peixes. A preferência pela escuridão é um comportamento encontrado em diversas espécies, incluindo o Danio rerio, por ser um comportamento natural que sugere um padrão de defesa no qual a preferência pelo ambiente escuro corresponde a um indício de ansiedade baseado no conflito decorrente da tendência natural de exploração do ambiente (Maximino et al, 2010a). O teste de claro-escuro já passou por validação farmacológica com drogas ansiolíticas e ansiogências (Maximino et al, 2010c). A esquiva inibitória naturalística é um teste no qual uma resposta terá sua emissão diminuída, suprimida ou com a latência aumentada a fim de evitar a estimulação aversiva, no qual o ambiente claro também funciona como aversivo natural. Há validação farmacológica com drogas ansiolíticas, antidepressivas e estimulantes (Santos, 2013) Entretanto, os aparatos impossibilitam a mensuração de comportamentos no ambiente escuro e de comportamentos observados através da lateral do aquário como o nado acima ou abaixo da linha média da água, e também impedem a automatização da análise de dados, logo o aquário trilateral forneceria dados novos e importantes acerca da parametria do Danio rerio em ambos os experimentos. MÉTODO Sujeitos: 47 peixes da espécie Danio rerio, de ambos os sexos, adultos, ingênuos e adquiridos em pet shops locais. O armazenamento foi feito agrupando-os em grupos de no máximo 10 sujeitos em aquários com capacidade de 3,5l (Sistema Aquático Autonomo/ ZEBTEC) com areação constante, ph e temperatura controlados (8,75 / 27,9 ºC), alimentados uma vez ao dia com ração Tetra Color. Material: 1 aquário claro / escuro tradicional (15 x 10 x 45 cm) dividido em dois compartimentos de mesmo tamanho, um com lados e fundo branco e o outro com lados e fundo preto, com uma área central de 5 cm delimitada por portas corrediças. Figura 1. Aquário tradicional para teste de claro/escuro 1 aquário claro / escuro trilateral com mesmas dimensões e características do anterior, porém com uma das lateriais de 15 cm transparente. Figura 2. Aquário trilateral para teste de claro/escuro 1 aquário de esquiva naturalística tradicional (45 x 15 x 10 cm), em que a metade escura terá 10 cm e a metade clara 35 cm de comprimento, sendo elas divididas por uma porta guilhotina Figura 3. Aquário Tradicional para Teste de Esquiva Naturalística Inibitória 1 aquário de esquiva naturalística trilateral que possui as mesmas dimensões e características do aquário anterior, porém com uma das laterais de 15 cm transparente. 2 Filmadoras Procedimento: Experimento I: Preferência Claro-Escuro Os sujeitos foram separados em Grupo Controle (n=12), exposto ao aquário tradicional, e Grupo Experimental (n=11), exposto ao aquário trilateral, o teste originalmente utilizaria 12 sujeitos em ambos os grupos, porém o Sujeito 12 do aquário trilateral não se expôs à contingência, permanecendo os 900 segundos no ambiente escuro, provavelmente a alto nível de estresse ou dificuldade motora. O teste consistiu em colocar os sujeitos individualmente na área central do aquário correspondente ao seu grupo por 300 segundos, e após este período as portas corrediças foram retiradas, deixando os animais para livre exploração de 900 segundos. Para evitar a influência de lateralidade, os aquários foram girados 180º para cada novo sujeito. Registrou-se os 900 segundos de livre exploração, a fim de observar-se: (1) Tempo no compartimento branco: Tempo total de permanência na porção branca por mais de 1 segundo. (2) Número de entradas no compartimento branco (3) Duração das entradas no compartimento branco: média do tempo de permanência no compartimento branco pela quantidade de entradas (4) Avaliação de risco: número de eventos de avaliação de risco, sendo estes as entradas rápidas (menores que 1 segundo), no compartimento branco, seguidas de retorno à porção preta, ou como entradas parciais no compartimento branco. (5) Tigmotaxia: duração de eventos de tigmotaxia, definidos como o nado a uma distância de no máximo 2 cm das paredes do compartimento branco, e registrada em segundos. (6) Congelamento: A duração proporcional de eventos de congelamento, sendo estes a cessação completa de movimentos, com exceção de operáculos e olhos. (7) Nado Errático: duração de eventos de tigmotaxia, definidos como o nado a uma distância de no máximo 2 cm das paredes do compartimento branco, e registrada em segundos (8) Nado na linha média Superior e Inferior: Observa-se a posição do sujeito em comparação a linha média do nível da água, podendo ele estar na porção superior ou inferior. Sendo que no aquário tradicional, as medidas 4, 5, 6, 7 e 8 foram feitas quando o animal esteve no compartimento claro, já no aquário trilateral, essas medidas também foram feitas no compartimento escuro. Os dados foram transcritos pelo programa X-plo-rat. Experimento II; Esquiva Inibitória-Naturalística Os sujeitos também foram separados em Grupo Controle (n=12) e Grupo Experimental (n=12). Cada sujeito é colocado no compartimento preto fechado pela porta corrediça durante 300 segundos, então a porta é retirada e inicia-se uma tentativa que s encerra com a passagem completa do animal para o lado branco ou com a permanência dele no lado preto por 300 segundos, após isso o animal é retirado do aparato e recolocado no ambiente escuro para o início de uma nova tentativa, sendo 5 tentativas no total. Os comportamentos analisados serão: (1) Tempo de permanência no compartimento preto (2) Avaliação de risco: as entradas rápidas (menores que 1 segundo), no compartimento branco, seguidas de retorno à porção preta, ou como entradas parciais no compartimento branco (3) Nado errático: eventos nos quais os sujeitos apresentam múltiplos surtos de alta aceleração com variações na direção do movimento de modo aparentemente aleatório (4) Tigmotaxia: duração de eventos de tigmotaxia, definidos como o nado a uma distância de no máximo 2 cm das paredes do compartimento branco, e registrada em segundos (5) Congelamento: a cessação completa de movimentos, com exceção de operáculos e olhos (6) Nado na linha média Superior e Inferior: Observa-se a posição do sujeito em comparação a linha média do nível da água, podendo ele estar na porção superior ou inferior. Sendo que no aquário tradicional apenas as medidas 1 e 2 foram analisadas e no aquário trilateral todas as medidas foram realizadas. A filmagem dos Grupos Controles foi superior e dos Grupos Experimentais foi superior e lateral. Os dados foram transcritos pelo programa Xplo-rat. Análise estatística Anova (one-way) para comparação entre grupo experimental e grupo controle. RESULTADOS 900 20 800 18 700 16 Frequência de Entradas no Compartimento Branco Tempo de Permanência no Compartimento Branco Experimento I: Preferência Claro-Escuro 600 500 400 300 200 100 14 12 10 8 6 4 2 0 0 Controle Experimental Controle Experimental Figura 4. Tempo médio em segundos no compartimento branco [1] e Frequência ( numero) de entrada no compartimento branco [1] (, para os Grupos testados nos aparatos clássicos e modificado A analise estatística não indicou diferenças. Não houve diferença significativa entre os comportamentos de permanência e entradas no ambiente branco, a média da duração das entradas também não apresentou valor significativo (H = 0,307; p = 0,580). 10 9 9 Frequência do Comportamento de Avaliação de Risco Frequência do Comportamento de Nado ERrático 10 8 7 6 5 4 3 2 1 8 7 6 5 4 3 2 1 0 0 Controle Controle Experimental Experimental Figura 5. Comportamentos de Nado Errático (H = 1,885; p = 0,170) e Avaliação de Risco (F = 1,216; p = 0,283) 15 13 200 Duração do Comportamento de Congelamento (s) Duração do Comportamento de Tigmotaxia (s) 250 150 100 50 11 9 7 5 3 1 0 Controle Experimental -1 Controle Experimental Figura 6. Duração dos Comportamentos de Tigmotaxia e Congelamento (H = 1,466; p = 0,226) e a Duração Média de Congelamento (F = 0,391, p = 0,538). No aquário modoficado podemos observar o comportamento em ambos os laods, no Claro e no Escuro, como se segue, algumas diferenças nos comportamentos de Nado errático, Avaliação de Risco, Tigmotaxia e Congelamento foram observadas no aquário modificado, porém nenhuma com valor estatisticamente significativo. Tabela 1. Médias dos Comportamentos de Avaliação de risco, Tigmotaxia (%), Nado Errático e Congelamento para os ambientes claro e escuro Avaliação de Risco Tigmotaxia % Tigmotaxia Nado Errático Congelamento Ambiente Claro Média 4,455 Desvio 1,9164360 86 0,5532274 45 Erro 179,82 56,054 5,27 8,55 138,202 10,18 6,4 19,41 39,9 2,94 1,85 5,6 Ambiente Escuro Média 0 330,64 57,83 5,18 78 Desvio 0 153,35 20,14 5,69 124,82 Erro 0 44,27 5,81 1,64 36,03 A emissão de comportamentos no ambiente escuro foi semelhante à emissão no ambiente claro, sem diferença estatística ente as médias Duração Média no Ambiente Escuro (s) Duração Média no Ambiente Claro (s) 300 250 200 150 100 50 700 600 500 400 300 200 100 0 0 Linha Média Superior Linha Média Inferior Linha Média Superior Linha Média Inferior Figura 7. Duração Média no ambiente claro (F = 5.6382; p = 0.0262) e escuro (F = 30.0023; p = < 0.0001) de acordo com a posição em relação a linha média do nível de água. Foi encontrada diferença entre o tempo o tempo despendido na linha média superior e na linha média inferior, observando maior permanência na parte inferior tanto no ambiente claro quanto no ambiente escuro, como observa-se na Figura 7. Experimento II Experimental 300 Duração Média das Latências de Tentativas (s) Duração Média das Latências de Tentativas (s) Controle 250 200 150 100 50 300 250 200 150 100 0 50 0 T1 T2 T3 T4 T5 T1 T2 Tentativas T3 T4 T5 Tentativas Figura 8. Duração média das Latências de Tentaticas para grupos Controle e Experimental (F = 1,912; p = 0,115) Não houve diferença entre grupos e ambos apresentaram um aumento na latência entre a Tentativa 1 e Tentativa 5. Experimental 6 5 4 3 2 1 0 T1 T2 T3 T4 Blocos de Tentativa T5 Frequência Média do Comporttamento de Avaliação de Risco Frequência Média do Comportamento de Avaliação de Risco Controle 6 5 4 3 2 1 0 T1 T2 T3 T4 T5 Bloco de Tentativas Figura 9. Frequência Média do Comportamento de Avaliação de Risco para grupos Controle e Experimental (F = 1,033; p = 0,326). DISCUSSÃO Experimento I A comparação entre os Grupo controle e experimental não apresentaram diferença significativa em nenhuma das características analisadas (Figura 4, 5 e 6). Segundo Maximino (2010c) os sujeitos permanecem em média 20% do tempo total de teste no ambiente claro, no presente experimento (Figura 4), os sujeitos do grupo controle ficaram 35% e os do grupo experimental 32%. Os comportamentos emitidos no ambiente escuro (Tabela 1) não foram diferentes estatisticamente, a partir disso é possível a utilização dessas medidas como mais um parâmetro para a avaliação de mudanças comportamentais neste teste de ansiedade. Foi possível a análise dos comportamentos de nado acima e abaixo da linha média e os resultados obtidos apontam a permanência na parte inferior por um maior tempo no ambiente claro e escuro (Figura 7), demonstrando mais uma medida comportamental de ansiedade que poderá ser considerada. Portanto, os sujeitos expostos ao teste no aquário trilateral apresentaram comportamentos com parametria semelhante aos do aquário tradicional, isto aponta para a possibilidade deste aparato em pesquisas de claro-escuro. Entretanto, notou-se no teste em aquário trilateral uma possível resposta dos sujeitos ao seu reflexo na lateral transparente, logo para evitar problemas de experimentação como descrito em Maximino (2010a), sugerese uma troca por um material com menor probabilidade de reflexão. Experimento II As medidas de latência e avaliação de risco não se diferenciaram entre os grupos. A duração das latências se mostra com um padrão de aprendizagem tendo um aumento significativo entre a primeira e a última tentativa que é acompanhado de um aumento na avaliação de risco, demonstrando um possível aumento na ansiedade dos sujeitos. O aquário trilateral obteve resultados que permitem a sua utilização no teste de Esquiva Inibitória Naturalística. CONCLUSÃO: Os aquários modificados se mostraram aptos a serem utilizados nos respectivos testes com resultados estatisticamente semelhantes, possibilitando a parametria de dados que antes não eram observados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Egan, R. J.; Bergner, C. L.; Hart, P. C.; Cachat, J. M.; Canavello; Elegante, M. F.; Elkhayat, S. I.; Bartels, B. K.; Tien, A. K.; Tien, D. H; Mohnot, S.; Beeson, E.; Glasgow, E.; Amri, H.; Zukowska, Z. & Kallueff, A. V. (2009) Understanding Behavioral and Phisiological Phenotypes of Stress and Anxiety in Zebrafish. Behavioral Brain Research 205 (1), 38-44. Kallueff, A. V., Stewart, A. 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