Paciente com insuficiência respiratória na urgência Sessões Clínicas línicas em Rede nº 07 | 19/11/2012 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Introdução Fisiopatologia Manifestações clínicas Diagnóstico Classificação da gravidade e critérios para indicação de antiveneno Tratamento Prevenção Bibliografia Introdução Os acidentes causados por escorpião ocorrem em quase todos os Estados do Brasil, sendo mais frequentes em Minas Gerais e São Paulo, Paulo onde configuram um problema de saúde pública. A maioria dos casos tem curso benigno, situando-se situando se a letalidade média nacional em 0,28%1, com variações para cima nas regiões onde predomina o T. serrulatus, serrulatus podendo chegar nestas regiões, até 10 vezes mais em crianças. Os escorpiões são artrópodes pertencentes à classe Arachnida e ordem Scorpiones. Scorpiones Hoje são reconhecidas, cerca de vinte famílias, 165 gêneros e 1500 espécies, sendo que apenas cerca de vinte e cinco têm toxina com importância médica.2 Abaixo, observam-se se dados da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais, colocando os escorpiões como responsáveis pelo maior número de acidentes causado por animais peçonhentos em Minas Gerais, Gerais de janeiro de 2007 a abril de 2012. Eles são responsáveis por mais de três vezes o número dos acidentes provocados por serpentes, serpentes que estão em segundo lugar. lugar 3 1 Gráfico 1 - Acidente por animais peçonhentos Fonte: Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais Diretoria de Vigilância Ambiental De janeiro de 2007 a abril de 2012 foram notificados 239 óbitos causados por acidentes provocados por animais peçonhentos, sendo que destes, 63,6% estão relacionados ao escorpionismo.3 Gráfico 2 – Óbitos, por tipo de acidente por animal peçonhento. peçonhento Fonte: Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais Diretoria de Vigilância Ambiental 2 Algumas espécies, especialmente o T. serrulatus,, são partenogenéticos, não necessitando do macho para a reprodução, o que facilita ainda mais sua proliferação. proliferação 4 O aumento do número de acidentes nos últimos anos pode estar influenciado pela diminuição da subnotificação (melhoria das informações e campanhas educativas realizadas pelos órgãos de saúde), urbanização das zonas rurais e alterações climáticas devido a fenômenos enômenos da natureza ultimamente observados. Os escorpiões possuem hábitos noturnos e são encontrados dentro de casas, galerias ga de água pluvial, esgotos e porões. A maior parte das picadas ocorre nas extremidades dos membros, mas podem ocorrer em qualquer qualquer parte do corpo ao serem comprimidos sobre esta. Os principais escorpiões envolvidos nestes acidentes, no Brasil, são do gênero Tityus. Os gêneros mais relacionados a acidentes graves são os T. serrulatus, T. Bahiensis e T. Stigmurus. Em Minas Gerais predomina o T. Serrulatus,, conhecido por escorpião amarelo, que possui a toxina mais potente entre os escorpiões encontrados no Brasil. Brasil 2 Fisiopatologia O veneno do escorpião é uma mistura complexa de proteínas associadas a aminoácidos e sais, sem atividade coagulante ou hemolítica. hemolítica 5 A toxina age nos canais de sódio, causando a despolarização das membranas das células de todo o organismo. Ocorre liberação liberação maciça de adrenalina, noradrenalina e acetilcolina, que são responsáveis pelas principais manifestações clínicas do escorpionismo.5 A seguir é mostrada uma tabela com os efeitos mais frequentemente observados nos acidentes escorpiônicos. 3 Quadro 1 - Efeitos provocados pela toxina escorpiônica. Efeitos simpáticos Midríase, sudorese, taquicardia, vasoconstrição, broncodilatação, palidez cutânea, piloereção, agitação psicomotora, hiperglicemia e hipocalemia. Efeitos parassimpáticos Miose, sialorreia, broncorreia, bradicardia, vasodilatação, broncoconstrição, tremores, hiperamilasemia e aumento de secreção de adrenalina. Fonte:: Adptado de Cupo P, Azevedo-Marques Azevedo MM, Hering SE, 2003 Acredita-se se que nos casos moderados ou graves ocorra alteração de permeabilidade capilar em todo o organismo, sendo possivelmente uma das causas causa da hipovolemia observada nesses casos, potencializada otencializada pelos vômitos e sudorese que são outras manifestações frequentemente observadas. observadas 6 No coração produz efeito cronotrópico positivo, alterando a contratilidade miocárdica e o fluxo coronariano.7,8 Técnicas de monitoração (como o cateter de Swan-Ganz), Swan Ganz), exames complementares (como cintilografia, ecocardiograma e troponina) e achados de necrópsia, necrópsia, demonstraram, ao longo dos anos, o acometimento cardíaco nos casos mais graves de escorpionismo. Foram descritas elevação da pressão de capilar pulmonar, necrose miocárdica, focal e segmentar, alteração da perfusão e da função miocárdica e elevação de troponina. Muitas das alterações foram f atribuídas principalmente à espasmos das coronárias pela descarga adrenérgica. adrenérgica 4 O tamanho e a espécie do escorpião, a quantidade de veneno inoculada, o local da picada, a sensibilidade individual e existência de doenças cardíacas influenciam na gravidade do quadro clínico. 4 Manifestações anifestações clínicas O quadro clínico provocado pelo acidente escorpiônico é variado e depende de uma série de especificidades já discutidas anteriormente. Na maioria das vezes as primeiras manifestações ocorrem nos primeiros minutos após a picada. Uma das manifestações mais comuns e precoces é a dor, dor que pode ser mais ou menos intensa de acordo com a sensibilidade de cada paciente. Geralmente a dor irradia até a raiz do membro me acometido. Caracteriza-se se como ardor, queimação e em ferroadas. A dor pode durar até 24 horas após o acidente e, eventualmente, exigir analgesia durante todo este período. Pode ocorrer hiperemia em torno da picada. Não se espera fenômeno inflamatório inflamatóri intenso no local da picada. O que se observa é edema discreto, piloereção, sudorese e hipotermia (secundária a vasoconstrição local) no local ou no trajeto de vasos que drenam a região. Alguns pacientes referem aparecimento de hiperestesia alternando com parestesia.9 Na maioria dos casos, casos o quadro clínico se resume a esse quadro álgico. Na fase aguda do acidente não se observam observa bolhas, equimoses, sangramentos ou necrose no local atingido pelo aguilhão do escorpião, exceto se houver alguma manobra como espremedura, perfuração com estilete ou garroteamento – procedimentos contraindicados, mas que ainda são feitos por alguns pacientes. pacien Apesar da maioria dos casos ser classificada como leve, cerca de 3% dos pacientes evoluem como casos moderados ou graves. Deste percentual predominam as crianças menores de sete anos. No entanto, entanto não se devem subestimar os acidentes em adultos e, e especialmente, em idosos e/ou cardiopatas que podem, mais raramente, apresentar complicações graves. A mortalidade observada em Minas Gerais no período de 2001 a 2005 foi de 0,7%.10 Neste estudo foram identificados como fatores relacionados à maior chance de evoluir para óbito a demora para o primeiro atendimento, ser classificado como grave, a menor idade e estar hipotenso e ou com insuficiência respiratória no momento da admissão.10 5 Gráfico 3 – Óbitos causados por picada de escorpião Fonte: Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais Diretoria de Vigilância Ambiental A tabela acima mostra concentração dos óbitos na faixa etária de 1 a 9 anos (52%), mas em todas as faixas foram registrados óbitos neste período. período 3 Nos casos moderados observam-se, observam se, além das manifestações locais, sinais e sintomas sistêmicos, tais como: náuseas, vômitos, dor abdominal, sialorreia, ansiedade, sonolência, taquicardia, hipertensão arterial e taquipneia. A detecção precoce destas alterações torna o tratamento mais eficaz com neutralização do veneno circulante. Nos casos graves, os sinais e sintomas acima se agravam. Surgem sudorese profusa, agitação psicomotora, hipotermia, convulsões, arritmias cardíacas (bradicardia, taquicardia, extrassistolia e bloqueio bloqueio atrioventricular), edema agudo de pulmão, insuficiência cardíaca congestiva, choque, coma e óbito. óbito 4,10 As manifestações sistêmicas são tão exuberantes que as alterações locais não são destacadas pelos pacientes. pacientes 5 O edema agudo de pulmão, as arritmias arritmias cardíacas e o choque estão relacionados aos desfechos fatais. 6 Quadro 2 - As manifestações sistêmicas estão descritas no quadro abaixo, distribuídas por sistemas. Manifestações gastrintestinais Sialorreia, náuseas, vômitos e dor abdominal. Manifestações respiratórias Rinorreia, tosse, espirros, broncoespasmo, crepitações pulmonares e taquipneia. Manifestações cardiovasculares Inicialmente cialmente taquicardia, bradicardia (sinal de mau prognóstico), hipertensão alternando com hipotensão, arritmias cardíacas e choque. Manifestações neurológicas Tremores, contrações musculares, agitação psicomotora, cefaleia, convulsões e hemiplegias relacionadas a acidente vascular isquêmico (mais raros). O edema pulmonar é acompanhado, em alguns pacientes, de alterações no miocárdio, sugerindo a participação de mecanismo cardiogênico. Vários mecanismos fisiopatológicos têm sido propostos para justificar este quadro. Porém, trabalhos trabalh recentes demonstraram casos de edema pulmonar agudo sem evidência de lesão miocárdica ou comprometimento da função sistólica esquerda. Constataram ainda, aumento de permeabilidade alvéolo-capilar alvéolo capilar e edema unilateral e/ou periférico, com alterações histológicas ógicas compatíveis com mecanismo não cardiogênico. cardiogênico 6 Alguns autores consideram um componente cardiogênico como causa predominante. predominante 7,11 A falência do ventrículo esquerdo seria a principal causa. O veneno levaria a uma miocardite tóxica, associada a áreas de necrose e a aumento da demanda de oxigênio secundária à descarga maciça de catecolaminas. A hipertensão arterial sistêmica, quando presente, agravaria o quadro pelo aumento da pós-carga pós carga do ventrículo esquerdo.8 Outros consideram que ocorra alteração da permeabilidade capilar, semelhante ao que ocorre na síndrome de angústia respiratória aguda (SARA). Acredita-se Acredita se que esta alteração ocorra em todo o organismo, levando a um extravasamento de líquido generalizado. Isto to explicaria o fato de muitos pacientes, que chegam em poucos minutos à sala de emergência, apresentarem-se apresentarem em edema agudo de pulmão e, ao mesmo tempo, 7 hipovolêmicos. Nestes, as perdas por vômito ou sudorese não justificariam tal gravidade. Acidente vascular ular cerebral e insuficiência renal aguda são complicações pouco frequentes.12,13 Diagnóstico O diagnóstico é feito com base na história clínica. Como o acidente produz dor de início in imediato, parte considerável dos pacientes identifica o momento em que ocorreu a picada e identificam o animal. No entanto, entanto em crianças, a identificação pode não ser feita, o que dificultará o diagnóstico. Os exames laboratoriais disponíveis nos serviços de urgência são inespecíficos e devem ser solicitados para casos moderados moderad ou graves. Alguns exames são fundamentais para o diagnóstico e principalmente para o acompanhamento dos casos moderados e graves: • O eletrocardiograma (ECG) que deve ser solicitado à admissão de pacientes sintomáticos. Pode mostrar taquicardia ou bradicardia bradicardia sinusal, extra-sístoles extra ventriculares, distúrbios da repolarização ventricular como inversão da onda T em várias derivações, presença de ondas U proeminentes, alterações semelhantes às observadas no infarto agudo do miocárdio (presença de ondas Q e supra upra ou infradesnivelamento do segmento ST), marca passo mutável, prolongamento de QT corrigido e bloqueios bloqueio de condução diversos. • A radiografia de tórax pode evidenciar aumento da área cardíaca, cardíaca sinais de edema pulmonar agudo, uni ou bilateral. A maioria dos casos moderados a graves já podem apresentar inicialmente sinais de congestão pulmonar. É extremamente importante, importante também, o acompanhamento dos processos infecciosos que podem se instalar nos pacientes graves. • O ecocardiograma pode ser útil para acompanhamento das formas graves onde poderão ser observadas: hipocinesia transitória do septo interventricular e da 8 parede posterior do ventrículo esquerdo, diminuição da fração de ejeção, regurgitação ão da válvula mitral e câmaras cardíacas dilatadas. • Os exames do laboratório de análises clínicas ajudarão no diagnóstico, classificação da gravidade e acompanhanmento dos casos graves. Os exames que podem trazer mais informações são: glicemia, amilase, hemograma, hemograma, creatinofosfoquinase, ionograma, urina rotina, uréia, creatinina, troponina e gasometria arterial. glicemia: geralmente apresenta-se apresenta se elevada nas formas moderadas e graves nas primeiras horas após a picada. amilasemia: elevada em metade dos casos casos moderados e em cerca de 80% dos casos graves. hemograma: leucocitose com neutrofília, presentes nas formas graves e em cerca de 50% das moderadas. Potássio e sódio: usualmente há hipopotassemia e hiponatremia, que normalizam geralmente em dois dias. troponina: roponina: marcador sensível e específico de lesão cardíaca. É um instrumento importante para indicar necessidade de monitorização e/ou tratamento de isquemia miocárdica. Sua elevação pode ser mais tardia (cerca de 4 horas após a lesão do miocárdio) e seu valor valor máximo encontrado 24 a 36 horas após a picada. picada 14 Portanto, deve--se dosá-la seriadamente (no mínimo, duas vezes) para descartar acometimento cardíaco. uréia e creatinina: utilizados para monitorizar a função renal, são úteis também no controle hidroeletrolítico hidroel e ácido-básico básico junto com o ionograma e gasometria. • A tomografia cerebral computadorizada é importante para diagnóstico dos pacientes com suspeita de acidente vascular cerebral. O emprego de técnicas de imunodiagnóstico (ELISA) para detecção de veneno do escorpião pode identificar e quantificar o veneno no sangue da vítima, no entanto, ainda não está disponível para utilização rotineira. 9 Classificação lassificação de gravidade e critérios para indicação de antiveneno Os acidentes são classificados quanto à gravidade gravidade baseado nas manifestações clínicas. Esta classificação é dinâmica, ou seja, um paciente classificado, à admissão, como um quadro leve pode se transformar em caso moderado ou grave, grave caso evolua com outras manifestações. Tabela 1 - Classificação dos acidentes escorpiônicos quanto à gravidade, manifestações clínicas e tratamento específico Classificação Manifestações clínicas Soro antiescorpiônico Leve Dor e parestesia locais Não indicado Moderado Dor local associada a uma 2 a 3 ampolas por via ou mais manifestações, intravenosa (IV) como náuseas, vômitos, sialorreia, sudorese discretos, agitação, taquipneia e taquicardia. Grave Manifestações citadas na 4 a 6 ampolas (IV). forma moderada associadas a uma ou mais das seguintes manifestações: vômitos profusos e incoercíveis, sudorese profusa, sialorreia intensa, prostração, convulsão, coma, bradicardia, edema agudo de pulmão e choque. Fonte: Adaptado de Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos, 2001.16 10 O soro antiescorpiônico é heterólogo (origem equina), sendo assim poderá induzir a reações anafiláticas, que são raras quando administrado em pacientes com quadro moderado ou grave. Este pequeno percentual de reações reações adversas pode ser explicado pela própria fisiopatologia do envenenamento que leva a liberação maciça de catecolaminas que, de certa forma, forma protege o paciente de reações de hipersensibilidadde tipo I.16 Tratamento A pedra angular do tratamento do acidente escorpiônico é a administração de soro específico. No entanto só será administrado nos casos classificados como moderado ou grave. Todas as vítimas de picada por escorpião devem permanecer pelo menos seis horas em m observação hospitalar em caso de adultos e 12 horas para crianças menores de sete anos. Casos graves devem ser tratados em unidade de terapia intensiva. Bases do tratamento da vítima de picada por escorpião: suporte avançado de vida para pacientes graves. gr administração do soro antiescorpiônico visando a neutralização do veneno inoculado, o mais rápido rápid possível. alívio da dor. Tratamento sintomático A dor pode ser muito intensa e a escolha do analgésico deve levar em conta a intensidade, história de alergia medicamentosa e manifestações associadas. A maioria dos pacientes pode ser tratada com dipirona ou paracetamol, mas, mas eventualmente, eventualmente recorre-se se ao uso de opioides. O bloqueio local com lidocaína sem vasoconstritor também é uma alternativa para casos com dor muito intensa. Utiliza-se Utiliza se lidocaína a 2% sem vasoconstritor. A dose é de é 2 a 5 ml em adultos e 1 a 2 ml em crianças e pode ser repetida epetida até três vezes, respeitando um intervalo de uma hora entre as infiltrações. Os distúrbios hidroeletrolíticos devem ser controlados de acordo com as alterações. Em caso de vômitos freqüentes, freqüentes recomenda-se o uso de metoclopramida. 11 Tratamento específico ecífico O soro antiescorpiônico está indicado para casos moderados ou graves e deve ser administrado o mais precocemente possível. possível 17 Cada ampola de 5 ml neutraliza, no mínimo, 7,5 DMM (dose Mínima Mortal) de veneno de Tytius serrulatus. serrulatus O número de ampolas que deve ser administrado por via intravenosa é definido de acordo com a classificação da gravidade e quadro do acidente. acidente 13,15 Alguns autores4,18,19, considerando o risco-benefício, risco indicam administração de duas ampolas de soro antiescorpiônico para acidentes envolvendo criança menor de três anos,, comprovadamente picada por escorpião da espécie T. serrulatus, com menos duas horas de evolução,, mesmo que oligossintomática.. Após este período, a decisão da administração de antiveneno deve ser sustentada pelas manifestações clínicas como já apresentado anteriormente. Nos casos moderados aplicam-se aplicam de duas a três ampolas e nos graves de quatro a seis, por via intravenosa em 200 minutos. A dose de soro não tem relação com idade, peso ou superficie corporal e sim com a gravidade do caso. Quando ocorre reação de hipersensibilidade ao soro, que é raro, suspende-se suspende a infusão e trata-se se a anafilaxia com drogas usuais (antihistamínicos, (antihistamínicos, adrenalina, p.ex.) e suporte clínico. A administração do soro específico deve recomeçar logo após o controle da reação. A administração deste antiveneno é segura, sendo pequena a frequência e a gravidade das reações de hipersensibilidade graves. Não existem estudos clínicos controlados que atestem a eficácia de medicações para prevenir reações de hipersensibilidade. hipersensibilidade. Para essas reações, que são raras, não há indicação de corticoides e/ou ou antihistamínicos profiláticos. Tratamento do paciente grave Os pacientes que já apresentam arritmias cardíacas, convulsões e ou edema agudo de pulmão devem m receber o antiveneno o mais rápido rá possível, mas o suporte avançado de vida é decisivo para a boa evolução do paciente. paciente 20 12 A oferta de oxigênio suplementar deve acontecer para todo paciente com valores de oximetria de pulso menores es que 94%. A entubação ntubação endotraqueal e a ventilação pulmonar mecânica (VM), instituídas precocemente, são de grande valor. A pressão positiva, principalmente almente com níveis mais elevados de pressão expiratória positiva final, minimiza o extravasamento de líquido pulmonar, contribuindo para melhores trocas gasosas.4 A entubação em sequência rápida é preconizada. Drogas de ação rápida são utilizadas para facilitar ilitar o procedimento, cuidando-se cuidando se para que seus efeitos não agravem o quadro hemodinâmico.4 As vítimas de acidente escorpiônico podem apresentar-se se hipovolêmicas devido à sudorese, vômitos e aumento de permeabilidade vascular. Na maioria dos casos a reposição volêmica é necessária, mas deve ser criteriosa. O limite entre a hipovolemia e a sobrecarga de volume, com piora da função pulmonar, é tênue.4 Recomenda-se Recomenda reposição com cristalóides no volume de 5 a 10ml/kg de peso para crianças e de 200 a 500 ml em adultos. Daí para frente a necessidade de volumes adicionais vai sendo tateada de acordo com quadro clínico e resposta à infusão infusão de expansores de volume. Algumas vezes, a piora súbita da função pulmonar associada à hipotensão é a primeira manifestação de sobrecarga volêmica observada. observada 4 A monitoração da pressão venosa central (PVC), apesar de suas limitações, auxilia na avaliação da reposição volêmica. Nos casos muito graves, pode-se pode se considerar a monitoração por meio de cateter na artéria pulmonar (cateter de Swan--Ganz). A função de bomba mba cardíaca pode ser melhorada com medicamentos de infusão contínua, como por exemplo, a dobutamina. O diurético de alça pode ser usado nos pacientes que apresentem sinais de hipervolemia (edema agudo de pulmão, com hipoxemia grave). O uso indiscriminado indiscriminado e “automático” de diuréticos agrava a hipovolemia e compromete ainda mais a perfusão tecidual. tecidual 4 13 Vasodilatadores devem ser considerados na presença de hipertensão arterial ou comprometimento da função cardíaca, mesmo nos casos moderados. Os pacientes que evoluam com choque não responsivo à administração de volume se beneficiarão de aminas vasoativas: dopamina ou noradrenalina. noradrenalina 21 A monitorização eletrocardiográfica contínua deve ser instituída à admissão. Variadas arritmias rritmias cardíacas podem surgir subitamente e devem ser tratadas de acordo com as repercussões que produzem. m. Prognóstico O prognóstico é bom para a maioria absoluta dos casos. As complicações podem ocorrer nos casos moderados ou graves (mais frequentes em crianças menores de 9 anos)3,21 nas primeiras 24 horas do acidente. A precocidade da administração do antiveneno é determinante na boa evolução, especialmente em crianças. Guerra et al10 demonstrou que o atraso de cada hora na aplicação do soro antiescorpiônico representou aumento dee 9% na razão de chance de morte das crianças picadas em Minas Gerais, Gerais entre 2001 a 2005. Prevenção revenção do acidente escorpiônico 1- Manter limpos domícilos e peridomicílios; 2- Combater baratas e insetos (alimentos dos escorpiões); 3- Cuidado ao calçar sapatos, sempre sacudi-los antes de usar; 4- Vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos e soleiras de portas. Colocar telas em ralos de pias e esgotos; 5- Não colocar as mãos em buracos, sob pedras e troncos; 6- Afastar camas e berços das paredes, evitando que as roupas encostem no chão e paredes. 14 Referências 1. Sinitox – Sistema Nacional de Informações Toxico Farmacológicas - Casos registrados de intoxicação e/ou envenenamento, 2009. [Acesso em 02 jul. 2012]. Disponível em:http://www.fiocruz.br/sinitox_novo/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=349. clínico 2. Campolina D, Rocha MOC. Georeferenciamento e estudo clínicoepidemiológico dos acidentes escorpiônicos atendidos em Belo Horizonte no Serviço de toxicologia de Minas Gerais. 2006. 2006 Teses (Mestrado do em Medicina Tropical) - Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006. 3. Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (Diretoria de Vigilância Ambiental). Acidentes por animais peçonhentos em Minas Gerais, Gerais, videoconferência, 2012. 4. Dias MB, Campolina D, Guerra SD, Andrade Filho, A. Escorpionismo. In: Andrade Filho A, Campolina D, Dias MB. Toxicologia na prática clínica. Belo Horizonte: Folium Comunicação. 2001. p.153-166. p.153 5. Cupo P, Azevedo-Marques Marques MM, Hering SE. Escorpionismo. In: Cardoso JLC, França FOS, Fan HW, Málaque CMS, Haddad Jr V. Animais peçonhentos do Brasil: biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. São Paulo: Sarvier, 2003 p.198-208. 6. Amaral CF, Barbosa AJ, AJ, Leite VH, Tafuri WL, de Rezende NA. Scorpion stinginduced pulmonary oedema: evidence of increased alveolocapillary membrane permeability. Toxicon 1994; 32:999-1003. 32:999 7. Bahloul M, Ben Hamida C, Chtourou K, Ksibi H, Dammak H, Kallel H, et al. Evidence of myocardial ocardial ischaemia in severe scorpion envenomation. Myocardio perfusion scintigraphy study. Intensive Care Med. 2004; 30:461-467. 30:461 15 8. Cupo P, Figueiredo AB, Filho AP, Pintya AO, Júnior GAT, Caligaris F, et al. Acute left ventricular dysfunction of severe scorpion envenomation is related to myocardial perfusion disturbance. International Journal of Cardiology, 2006. 9. Freire-Maia Maia L, Campos JA. Pathophysiology and treatment of scorpion poisoning. Proceeding of the 9th World Congress on Animal, Plant and Microbial Toxins. Oklahoma, 1988. 10. Guerra CM, Carvalho LF, Colosimo EA, Freire HB. Analysis of variables related to fatal outcomes of scorpion envenomation in children children and adolescents in the state of Minas Gerais, Brazil, from 2001 to 2005. J Pediatr. 2008; 84(6):509-515. non cardiogenic factors are 11. Amaral CF, Rezende NA. Both cardiogenic and non-cardiogenic involved in the pathogenesis of pulmonary oedema after scorpion envenoming. Toxicon 1997; 35:997-8. 35:997 12. Andrade Filho A, Lima, HFCA. Acidentes provocados por animais peçonhentos. In: Couto RC, Botoni FA, Serufo JC, et al. Emergências médicas e terapia intensiva. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. p.787-808. p.78 Cháves Méndez A, GarcíaGarcía 13. Boyer LV, Theodororou AA, Berg RA, Mallie J, Cháves-Méndez Ubbelihde W, et al. Antivenom for critically ill children with neurotoxicity from scorpion stings. N Engl J Med 2009; 360:2090-8. 14. Cupo P, Hering SE. Cardiac troponin I release after severe scorpion envenoming by Tityus serrulatus. Toxicon. 2002; 40(6):823-30. 30. 15. Amaral CF, Dias MB, Campolina D, Proietti FA, de Rezende NA. Children with adrenergic manifestations of envenomation after Tityus serrulatus scorpion sting are protected from early anaphylactic antivenom reactions. Toxicon 1994; 32:211-5. 16 16. Ismail M. The treatment of the scorpion envenoming syndrome: the Saudi experience with serotherapy. Toxicon 1994; 32: 1019-1026. 17. Ministério da Saúde/FNS. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. Brasília, 2001. 18. Andrade Filho A, Valente JR. Acidentes provocados por animais peçonhentos In: Nunes TA, Melo MCB, Souza C. Urgência e Emergência Pré-Hospitalar. Pré Belo Horizonte: Folium Editorial, 303-311, 303 2010. 19. Andrade Filho A, Guerra SD. Animais peçonhentos. In: Guerra SD, Hermeto MV, Moura AD, Ferreira FL. Manual de emergências. Belo Horizonte: Folium Editorial, 2010. p.251-268. p.251 20. Gueron M, Sofer S. The role of the intensivist in the treatment of the cardiovascular manifestations of scorpion envenomation. Toxicon 1994; 32:1027-1029. 21. Bellomo R, Cole L, Ronco C. Hemody-namic Hemody namic support and the role of dopamine. Kidney Int 1998; 66:S71-S74. 66:S71 Leitura complementar 1. Boyer LV, Theodorou AA, Berg RA, Mallie J; Arizona Envenomation Investigators, Chávez-Méndez Chávez A. Antivenom for critically ritically ill children with neurotoxicity from scorpion stings. N Engl J Med. 2009; 360(20):2090-8. 360(20):2090 2. Elitsur Y, Urbach J, Hershkovich J, Moses S. S. Localized cerebral involvement caused a yellow scorpion sting on the face: two case reports. repo Irs Med Sci 1984; 20:160-2. 20:160 3. Freire Maia L, Campos JA, Amaral CFS. Approaches to the treatment of scorpion envenoming. Toxicon 1994 ;32: 1009-14, 1994. 17 4. Ismail M, Fatani AJ, Dabees TT. Experi-mental mental treatment protocols for scorpion envenomation: a review of common therapies and an effect of kallikrein-kinin kinin inhibitors. Toxicon 1992; 30:1257-1279. 5. Lourenço WR, Eickstedt VRD. Escorpiões de importância médica. In: Cardoso JLC, França FOS, Fan HW, Málaque que CMS, Haddad Jr V. Animais peçonhentos eçonhentos do Brasil: biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. São Paulo: Sarvier, 2003. p.182-197. 18