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Formação Continuada – FOCO IAS 2011
Ensino e aprendizagem na rotina escolar
A aprendizagem é o ponto de convergência para o sucesso do aluno. Mas,
como sua qualidade está intrinsecamente ligada à qualidade do ensino, este texto
destacará a gestão escolar voltada para a garantia de um ensino de qualidade,
percebido a partir da aprendizagem dos alunos.
A mutação da agenda educacional brasileira: evolução ou involução?
Durante décadas, a instituição escolar foi compreendida como o lócus
responsável pela transmissão dos saberes historicamente construídos e acumulados
pela humanidade às futuras gerações, garantindo assim a preservação e a
continuidade desses saberes e culturas.
Até meados do século XX a escola era um dos poucos espaços de informações
disponibilizados para a população. Naquele período não se efetivava, ainda, o
princípio de educação para todos. Segundo as palavras de Cervi: A proclamação do
direito à educação, o progresso tecnológico, a especialização científica, o
desenvolvimento cultural, o crescimento econômico, as migrações populacionais, entre
outras
expressões
da
modernização
da
indiscutivelmente contundente, o cenário escolar.
vida
social,
afetaram,
em
grau
1
A partir da Constituição Federal (CF) de 1988, do movimento internacional de
Educação para Todos (EPT), Jomtien 1990, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB) de 1996, foram estabelecidas as bases para a universalização da
educação básica no Brasil, sob a égide da democratização da gestão educacional e da
garantia do acesso ao ensino fundamental como direito público subjetivo. A matrícula
nesse nível de ensino, então obrigatório, chegou a 97% da população na idade
obrigatória, ainda na década de noventa.
Essa expansão do acesso ao Ensino Fundamental afetou negativamente a
qualidade do atendimento escolar, do ensino e da aprendizagem dos alunos,
expressas nos baixos resultados da aprendizagem. Em suma, a boa qualidade para
poucos se transformou em má qualidade para muitos, e a questão do acesso foi
substituída pelas questões da permanência e do sucesso na pauta da educação
nacional.
1
CERVI, Rejane M. Planejamento e avaliação educacional. 2 ed. ver. atual e amp. CURITIBA-PR. Ed. IBPEX. p.49, 2008.
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Em busca da solução
Na última década, iniciativas institucionais e legais revelaram a busca por
decisões e ações que agreguem qualidade à educação e melhorem os indicadores
educacionais brasileiros:

Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e o Plano de Metas
Compromisso todos pela Educação – 2007;

A construção do índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB);

Plano de Ações Articuladas (PAR) - 2007;

Ampliação do Ensino Fundamental para nove anos

Ensino obrigatório estendido à educação básica com acesso dos 4 aos 17 anos
(EC 59/2009), e

Elaboração do novo PNE- 2010, com foco na alfabetização e na qualidade do
ensino.
O país vive, hoje, uma grande mobilização nacional pela qualidade da
educação, impulsionado pelas inúmeras avaliações de aprendizagem que insistem em
revelar que praticamente 50% das crianças chegam ao 4º ano / 3ª série sem sequer
ter desenvolvido a leitura e a escrita, além de conhecimentos mínimos dos cálculos
matemáticos.
Assim, para metade das crianças matriculadas nas redes públicas de ensino, a
permanência de três anos na escola não lhes garantiu sequer o uso efetivo da língua e
as noções básicas de matemática, portanto um direito constitucional não respeitado e
cumprido.
Cabe, então, uma pergunta: essas iniciativas chegaram realmente à escola,
uma vez que é lá que a educação formal se processa?
As transformações no espaço escolar
Não se trata mais de uma simples vontade de “querer mudar“, mas sim de uma
indeclinável “exigência de mudanças” de uma sociedade em constante transformação,
que nos conecta, em tempo real, em interações físicas e digitais a um mundo sem
fronteiras. Não há mais tempo para retórica sobre a abertura da escola para um
incrível mundo novo. O momento exige ações refletidas, mas rápidas, definidas e
construídas democraticamente sob a liderança do diretor.
Segundo Cervi, a preocupação com a produtividade pedagógica e com os
ideais da democratização escolar somou-se à complexidade do processo cooperativo
que dá sustentação à vida escolar, [...] é preciso acreditar que há uma margem de
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liberdade para a escola se mover, dar respostas, introduzir mudanças, revigorar o
trabalho pedagógico2.
É nessa perspectiva que a comunidade escolar precisa responsabilizar-se
perante a sociedade pelo desenvolvimento de todos os alunos, pois certamente as
cobranças pela qualidade da educação já estão batendo às suas portas.
Os profissionais que integram a equipe escolar, sem qualquer exceção, devem
estar a serviço da promoção do desenvolvimento de todos, e de cada aluno, unidos
em torno do Plano Municipal de Educação e da Proposta Pedagógica. Quanto mais
coesa for essa equipe, maior será sua possibilidade de sucesso.
Resistências fazem parte de processos democráticos, mas sua força será
consideravelmente reduzida à medida que os diretores escolares inspirem e
incentivem a equipe a praticar o respeito às diferenças individuais, e que garantam o
foco do trabalho no sucesso do aluno.
Libâneo, refletindo a respeito da escola, como organização humana e espaço
de desenvolvimento, destaca:
A organização é um espaço de aprendizagem profissional, na medida
em que os professores participam ativamente da organização do
trabalho escolar, formando com os demais colegas uma equipe de
trabalho, aprendendo novos saberes e competências, assim como um
modo de agir coletivo, em favor da formação dos alunos.3
Também Márcia Di Palma4, referindo-se à organização do trabalho pedagógico
na instituição escolar, registra: a organização (escolar) é um espaço de aprendizagem
profissional [...]. Essa aprendizagem profissional não se restringe apenas à figura do
professor, como responsável pela ação docente, mas envolve todos os membros da
equipe da escola, já que eles participam ativamente da organização do trabalho
escolar.
O resultado do ensino, traduzido no sucesso do aluno, não é, então, uma
missão solitária do professor, mas sim a responsabilidade compartilhada de todos que
interagem, nas mais diversas funções no ambiente escolar.
2
IDEM, ibidem, p. 161.
LIBÂNEO, J.C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 4. ed. São Paulo: Alternativa,2004. apud DI PALMA,M.S. in
Organização do trabalho pedagógico. Curitiba-PR p.78, ed. IBPEX, 2008.
4
DI PALMA, M.S. Organização do trabalho pedagógico. Curitiba-PR. p. 79, ed.IBPEX, 2008.
3
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Como conduzir a gestão do ensino na escola?
O que se coloca neste espaço de gestão é o indiscutível relacionamento do
diretor com o fazer pedagógico da escola e mais, como ressalta Marins, (citando
Myrtes Alonso)5: esse diretor deve se preocupar com os aspectos materiais da
organização e funcionamento da escola, com seus aspectos psicológicos e sociais,
que permitam uma condição de trabalho adequada aos professores e melhor
aproveitamento dos alunos. Enfatiza que esse clima de harmonia e participação é
essencial para a eficiência do trabalho educativo. [...] esse papel do diretor só será
realidade quando ele for “percebido” como um ”tomador de decisões”, e não como
mero executor de ordens superiores. Na verdade, quando assumir a efetiva liderança
do trabalho escolar.
A partir desse cenário, começa então o movimento de transformação nos
planos individual, coletivo e institucional, impulsionado pelo diretor escolar, um
articulador de ações de cooperação recíproca e responsabilização solidária.
É responsabilidade do diretor mobilizar, prover e articular condições técnicas,
físicas, materiais e práticas na escola para apoiar as atividades do ensino:
equipamentos, biblioteca organizada, instalações físicas adequadas, organizadas e
limpas, ambiência pedagógica estimuladora e agradável, apresentação de resultados
dos indicadores educacionais, organização de estudos e seminários, sempre, a partir
da análise dos resultados de avaliações processuais e formativas, e demandas do
coordenador pedagógico e o corpo docente.
É pertinente destacar o papel do diretor escolar no que diz respeito ao fazer
docente, na relação com a aprendizagem dos alunos, ao aprofundar conhecimentos
sobre as didáticas e os tempos pedagógicos vivenciados na escola. Observar, avaliar,
monitorar, intervir, aprimorar e rever a prática de ensino e a dinâmica desenvolvida
nas salas de aula, os métodos e as tecnologias utilizados no ensino, entre outros
aspectos, integram a rotina da gestão do ensino.
No processo de aprendizagem, é necessário destacar a relevância da
responsabilidade do professor na relação com o aluno em sala de aula. Uma relação
que inclui: planejamento das aulas, organização do material de apoio, disposição
adequada do tempo escolar, preparação das atividades de suporte pedagógico e, tudo
5
ALONSO, Myrtes. O papel do diretor na administração escolar, p.154, apud MARINS, H.O. in Gestão
escolar: a complexa relação entre formação e ação. P.225 Formação de professores e escola na
contemporaneidade, org. Feldmann M.G. ed SENAC, São Paulo, 2009.
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o mais para que o ensino alcance seu objetivo em cada aula, que é o aluno se
desenvolver e aprender.
O coordenador pedagógico tem competências específicas, inerentes à sua
função de apoiar, orientar, acompanhar, monitorar e avaliar o processo pedagógico da
escola junto ao professor, oferecendo-lhe oportunidades de reflexão sobre a própria
prática pedagógica e, em cooperação - coordenador/professor/diretor - oportunizar
atividades de estudos e pesquisas que ampliem a formação docente e a respectiva
eficiência.
A equipe precisa estar sintonizada:
(i) com a contemporaneidade do mundo que disponibiliza informações em
tempo real, mudando rumos, processos, pesquisas, enfim, um vasto mundo a ser
conhecido e descoberto a cada dia pelos alunos, dentro ou fora da escola. Nesse
contexto, as práticas de ensino, comprometidas com as transformações sociais e
tecnológicas, precisam estar associadas ao ensino para motivar o aluno e promover a
sua aprendizagem;
(ii) com a democratização das relações escola-comunidade através de
planejamentos participativos, de conselho escolar, de grêmio estudantil, das Unidades
Executoras Próprias (UEX),
Associação
de Pais
e
Mestres
(APM),
numa
responsabilização solidária pelo desenvolvimento da instituição escolar, em que o
sucesso do aluno é compartilhado por todos;
(iii) com o cotidiano escolar, através das necessidades da docência, ou seja,
colocando em pauta as dificuldades, as estratégias de ensino, as dúvidas e as
conquistas dos alunos.
Eu ensino, tu aprendes: ensinar será uma arte ou uma ciência?
Na tentativa de responder se ensinar é uma arte ou uma ciência, Vieira (2008)6,
no texto Educação: ensino e aprendizagem registra “ poderíamos contrapor que
será antes uma ciência. Ou um conjunto de ciências, como é vulgar perceber-se nas
referências feitas às ciências da educação. Arte, ciência, uma ou outra, ou, antes, as
duas juntas, e com outras ainda, afinal o que é ensinar? Por que será que, em
determinadas matérias, há alunos que conseguem ensinar outros alunos, seus
colegas, melhor que os seus próprios professores? Por que será que há alunos que
6
VIEIRA, Ricardo. In texto Educação: ensino e aprendizagem. Revista eletrônica Ensinar e Aprender, 01, 2008.
Disponível em: http//www.revistaensinareaprender.blosgpot/.../ac-processo-educativo-e-contexto.html Acesso em 25.08.2011
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aprendem bem com alguns professores e não tanto com outros? Por que será que
professores da mesma idade, do mesmo gênero, eventualmente formados na mesma
escola, com as mesmas habilitações profissionais, etc. ensinam de forma diferente,
sendo que uns levam a que quase todos aprendam (os alunos, claro) e outros apenas
levam a aprender uma parte reduzida da população escolar que, eventualmente, já
sabia até antes do encontro pedagógico? Como se aprende a ser artista? Como se
aprende a ser educador?
Refletindo com Paulo Freire
Paulo Freire ilustra essa questão com as seguintes afirmações:
“Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para
constatar, constatando intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o
que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade”.7 Continua “...quem forma se
forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. (...) Não há
docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos apesar das diferenças que os
conotam, não se reduzem à condição de objeto um do outro. (...) Quem ensina aprende ao
ensinar e quem aprende ensina ao aprender.”8
Ensinar para além do conceito de dar aula, simplesmente; ensinar com a
missão ética de garantir a aprendizagem; ensinar para o sucesso e o progresso do
aluno no caminho da sua escolarização. Um ensino eficiente, eficaz, bem feito,
responsável, ético, rico em conteúdos/currículo, em atitudes, em competências e
habilidades, em todos os níveis e modalidades educacionais. Um ensino que prepare
o aluno para a vida.
Essa concepção de educação leva o aprender e o ensinar para além do espaço
escolar, e estabelece uma via de mão dupla entre as comunidades intra e
extraescolar, entre demandas e ofertas conduzidas de forma competente pelo diretor.
7
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo, Paz e terra, 39ª
ed. 2009, p. 32.
8
IDEM, ibidem, 2009, p. 23.
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Para refletir
1. Como se dá a relação diretor/coordenador pedagógico/ professor na
perspectiva do acompanhamento e avaliação da aprendizagem dos
alunos?
2. Na sua escola, o ensino é o foco de toda a estrutura escolar?
3. Como a equipe gestora se mobiliza e intervém para assegurar que o
processo pedagógico ocorra em condições adequadas e com qualidade?
4. Como estão os indicadores na sua escola? (Indicadores de Sucesso do
Gestão Nota 10 - SIASI, IDEB, SAEB, Prova Brasil, Provinha Brasil).
 Você analisa as informações e resultados da escola com a
equipe escolar?
 Você divulga e discute com o Conselho Escolar esses
resultados?
 Como são trabalhados esses resultados com a comunidade
escolar?
Equipe da Área de Educação Formal
Instituto Ayrton Senna
Setembro/2011
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