XI Congresso Brasileiro de Sociologia 1 a 5 de setembro de 2003, UNICAMP, Campinas, SP 1968: imaginários sociais e utopias Gisele Maria Ribeiro de Almeida Resumo Este trabalho pretende realizar uma reflexão sobre imaginários sociais e utopia, tendo como referência empírica o "revolucionário" ano de 1968. A concepção de utopia utilizada distingue-se de sua noção mais difundida (sonho, fantasia) e alcança o status de paradigma, tal como concebeu o pensador polonês Bronislaw Baczko (1991). A opção pelo objeto empírico se justifica em função do período em questão ter sido marcado por uma intensa criatividade utópica, quando as utopias travaram relações de intimidade com os movimentos sociais, o que garantiria uma especificidade e uma particularidade tanto do discurso utópico como da função social da utopia. A idéia é lançar algumas contribuições para o debate sobre a influência do pensamento utópico, no âmbito da imaginação social, no que se refere aos processos sociais que visam transformar uma dada realidade. Para tanto, através de diversas fontes bibliográficas (textos, entrevistas e colóquios) que abordam esse tema, pretende-se apreender o “contexto 1968” principalmente a partir da compreensão do sentido que lhe é conferido, destacando a relação desse sentido com a memória instituída por aqueles que viveram o “sonho”. Trabalho a ser apresentado no Grupo de Trabalho intitulado "Práticas culturais e imaginários" que está programado pelo XI Congresso Brasileiro de Sociologia que realizar-se-á nos dias 1 a 5 de setembro de 2003, na UNICAMP em Campinas, São Paulo. Aluna do programa de mestrado em sociologia do IFCH/Unicamp. 1968: imaginários sociais e utopias Gisele Maria Ribeiro de Almeida O objetivo deste trabalho é realizar uma breve análise sobre as relações entre imaginários sociais e utopias, tendo como referência empírica o "revolucionário" ano de 1968. O propósito não é construir uma avaliação que consiga mostrar o que "realmente" aconteceu e, sim, lançar algumas luzes sobre a influência do pensamento utópico na constituição da imaginação social. Para tanto, pretende-se reunir algumas das reflexões e dos depoimentos de cunho memorialístico sobre o período em questão com o intuito de apreender a memória registrada, bem como desvelar alguns sentidos que orienta a constituição dessa memória. Os Conceitos e os direcionamentos teóricos/metodológicos Em primeiro lugar, torna-se necessário evidenciar as dificuldades e as principais diretrizes teóricas que o estudo das significações sociais coloca. Um destes aspectos diz respeito às representações sociais. A seguir pode-se destacar a questão dos imaginários sociais e a relação destes com os conceitos de ideologia e utopia. Quanto às representações e particularmente às significações sociais 1, é um pressuposto deste trabalho que há em qualquer sociedade um conjunto social de representações. Dentro deste será destacado, para fins da análise proposta, os imaginários sociais. Para Castoriadis, a categoria do imaginário é central para a compreensão da história humana, pois toda forma de organização social depende deste imaginário, inclusive a instituição da sociedade se confunde com a "instituição de um magma de significações imaginárias sociais, que podemos e devemos denominar mundo de significações" (CASTORIADIS, 1995: 404). De acordo com este autor, é apenas em correlação a este mundo de significações que se pode encontrar a unidade e a identidade de uma sociedade cujas especificidades, como a organização 1 Não é possível incorporar neste trabalho a problemática que envolve a questão da representação em seu aspecto filosófico, considerando sua relação com a consciência e, as várias "correntes" que advém deste debate. Mas mesmo as diferentes formulações e posicionamentos sobre as representações sociais não poderiam aqui se esgotar. Incorpora-se neste estudo algumas concepções sobre o imaginário e a instituição social de Cornelius Castoriadis (1995); e as formulações elaboradas por Bronislaw Baczko (1991) sobre as relações entre os imaginários sociais e a utopia. 2 do mundo e do mundo social são: a realidade, a linguagem, os valores, as necessidades, o trabalho e a forma como uma sociedade se refere a si mesma, a seu próprio passado e presente, e ao devir. As reflexões sobre o imaginário social são bastante antigas. O papel, a natureza e o seu funcionamento foram tratados pelos autores considerados clássicos pela sociologia, a partir da segunda metade do século XIX. Na obra marxista, a ideologia engloba as representações que uma classe social formula para si mesma, para as suas relações com as classes antagônicas, assim como para a estrutura da sociedade. As representações ideológicas de uma classe social expressam suas aspirações, além de justificar moralmente seus objetivos, concebendo seu passado e imaginando seu futuro através destas representações. Desta forma, a luta de classes se dá em um campo ideológico: a ideologia pode ser vista como um fator real de produção de conflito2. A correlação entre as estruturas sociais e os sistemas de representações coletivas ocupa posição central no pensamento de Durkheim, já que, para a existência de uma sociedade, para um mínimo de coesão, é preciso que o social prevaleça sobre o individual, que haja uma consciência coletiva. Um dos aspectos básicos do fato social é seu aspecto simbólico. As representações coletivas expressam o "estado" de um grupo social já que refletem a estrutura e o posicionamento dos indivíduos frente aos fatos. Estas representações estão intimamente ligadas aos comportamentos3. No pensamento weberiano, os imaginários sociais recebem outro enfoque. Para o autor, a estrutura inteligível de toda atividade humana surge do fato de que os homens orientam suas condutas em função de um sentido e seria em relação a esse sentido que os comportamentos se regulamentariam. O social neste aspecto, torna-se fruto de uma rede de sentido, como por exemplo as referências pelas quais os indivíduos se comunicam e têm uma identidade comum. A 2 Baczko destaca o esquema de abordagem dos imaginários sociais na teoria de Marx cf Baczko, op. cit.: 19-21. Também sugere-se o texto Marx, Karl e Engels, Friedrich (1999). 3 Baczko também expõe as formas de apreensão do imaginário social na obra de Durkheim cf Baczko, op. cit.: 21-22. Na própria obra de Durkheim pode-se consultar a coletânea organizada por José Albertino Rodrigues (1993). 3 vida social é então produtora de valores e normas e, por consequência, de um sistema de representações que consegue fixar e traduzir estes mesmos valores e normas4. Estas rápidas referências apontam as dificuldades de se adotar os imaginários sociais como objeto de estudo, dado a amplitude de sua concepção e abordagens. Contudo, o que interessa aqui é apenas a relação entre estes imaginários e as representações ideológicas e as representações utópicas. Desta forma, ainda que de forma resumida, se poderia pensar os imaginários sociais tal como Baczko sugere: como referências pontuais, contidas em um sistema simbólico que produz o coletivo. Esta identificação coletiva tem funções diversas, mas a mais relevante para este trabalho, se refere à composição das memórias, e às projeções no futuro das esperanças e dos medos: A lo largo de la história, las sociedades se entregan a una invención permanente de sus proprias representaciones globales, otras tantas ideas-imágenes através de las cuales se dan una identidad, perciben sus divisiones, legitiman su poder o elaboran modelos formadores para sus ciudadanos (...). Estas representaciones de la realidad social (y no simples reflejos de ésta), inventadas e elaboradas con materiales tomados del caudal simbólico, tienen una realidad específica que reside en su misma existencia, en su impacto variable sobre las mentalidades y los comportamientos colectivos, en las múltiples funciones que ejercen en la vida social (Baczko, 1991: 8). Por outro lado, haveria o problema da construção dos símbolos e das formas simbólicas. Os símbolos mais estáveis seriam confrontados com um sentido de existência e sinalizariam para os indivíduos e para os grupos possibilidades de mudança ou de estabilidade histórica. Estes sistemas simbólicos - sobre os quais apoiam-se e através dos quais trabalha-se a imaginação social - seriam pautados pelas experiências dos agentes sociais e também por seus desejos e interesses, um campo que envolveria expectativas e memórias. O dispositivo do imaginário asseguraria então um esquema coletivo de interpretação das experiências individuais, a codificação das expectativas e a fusão com a memória coletiva. Assim, o imaginário provocaria adesões a um sistema de valores, moldaria condutas e conduziria os indivíduos a uma ação comum (BACZKO, 1991). 4 cf Max Weber (1991). Em Baczko também é possível encontrar referência mais completas sobre a forma como os imaginários sociais foram compreendidos e incorporados pela obra do pensador alemão cf Baczko, op. cit.: 22-23. 4 E é exatamente isto que deve ser analisado e resgatado quando se pretende pensar a "influência" deste sistema simbólico para a imaginação social, no que tange às ideologias e, em particular às utopias. Uma noção primária de ideologia a considera um sistema de idéias e representações que conseguiria moldar e constituir os comportamentos, “recomendar” as normas e os valores aceitos socialmente. Por isso, a relação entre os imaginários sociais e as ideologias não poderia ser desconsiderada. Em seu trabalho, Ricardo da Silva (1998) desenvolve uma discussão sobre o conceito de ideologia e, um dos aspectos abordados refere-se às relações entre ideologia e dominação. Nesta concepção a força material das ideologias residiria no fato de que conseguiriam mobilizar significados que favoreceriam poderes instituídos. Para Silva, o interessante desta perspectiva é permitir a compreensão dos fenômenos ideológicos como fenômenos do poder, um caminho já percorrido por Thompson (1995): o conceito de ideologia pode ser usado para se referir às maneiras como o sentido (significado) serve, em circunstâncias particulares, para estabelecer e sustentar relações de poder que são sistematicamente assimétricas – que eu chamarei de relações de dominação (...) A análise da ideologia pode ser vista como uma parte integrante de um interesse mais geral ligado às características da ação e interação, às formas de poder e de dominação, à natureza da estrutura social, à reprodução e à mudança social, às qualidades das formas simbólicas e a seus papéis na vida social (Thompson, 1995: 16). Para o autor inglês, compreender a utilização social das formas simbólicas é um caminho para investigar o processo pelo qual estas formas simbólicas servem para estabelecer e sustentar relações de dominação nos contextos sociais em que elas são produzidas, transmitidas e recebidas. Thompson discorda da corrente que vê a racionalização que advém com o capitalismo como uma contrapartida decorrente da diminuição do papel das crenças e da magia; pois estes autores ao se fixarem na racionalização, perderiam de vista um processo muito maior, como por exemplo, a proliferação rápida dos meios de comunicação e crescimento das redes de transmissão através das quais as formas simbólicas mercantilizadas se tornam acessíveis a um grupo cada vez maior. Baczko também se preocupa com essa questão levantada por Thompson, ainda que o objeto do autor polonês não seja as representações ideológicas; este reforça a idéia de que os imaginários continuam a ter forte influência sobre a realidade material, na medida em que estes 5 podem provocar adesões a determinados valores e a determinadas formas de agir. Uma das funções do imaginário social consiste na organização e no domínio do tempo coletivo sobre o plano simbólico. Os imaginários sociais operam vigorosamente na produção de visões sobre o futuro, em projetar os sonhos e esperanças coletivos. Os imaginários sociais e os símbolos construídos a partir destes imaginários, formam partes dos sistemas complexos e compostos das crenças, das utopias e das ideologias. O impacto desta construção imaginária sobre as mentalidades depende da difusão e dos meios que dispõe. A dominação simbólica implica no controle destes mesmos meios e também de outros instrumentos de persuasão e controle. Baczko remete aos usos da propaganda e dos meios de comunicação de massa para o enquadramento das relações entre informação e imaginação, bem como suas consequências sob os imaginários sociais. Estes aspectos denunciam a "materialidade" que estes conceitos teriam (como o caso do conceito de ideologia e de utopia) para a definição do "campo" social. Essa materialidade reforça princípios de conflitos sociais, interesses que se opõem, sentidos que são dominantes vis-à-vis sentidos que são dominados. Essa oposição é assumida em Mannheim (1986) no plano do pensamento, quando as idéias se distinguem entre aquelas que seriam situacionalmente congruentes (que correspondem à ordem de fato) e idéias e interesses que são situacionalmente transcendentes. Os estados de espíritos que rompem com a ordem existente podem ser, segundo o autor alemão, ideológicos ou utópicos. Os representantes da ordem vigente tendem a controlar essas idéias, de maneira que o limite situacional seja substituído pela avaliação de que estas referencias transcendentes são socialmente impotentes porque se referem a um mundo situado além da história e da sociedade: Todos os períodos da história contiveram idéias que transcendiam a ordem existente, sem que, entretanto, exercessem a função de utopias; antes, eram as ideologias adequadas a este estágio de existência, na medida em que estavam "organicamente" e harmoniosamente integradas na visão de mundo características do período ou seja, não ofereciam possibilidade revolucionárias (Mannheim, 1986: 217). Ainda segundo Mannheim, o significado dado à existência ou àquilo que é "concretamente efetivo" se refere à ordem social dentro do qual os indivíduos realmente atuam e, 6 por isso não estaria relegado ao plano imaginário5. Segundo este autor, o pensamento utópico é diferente do ideológico porque através da contra-atividade é possível transformar a realidade histórica em outras realidades, mais semelhantes às concepções de cada um. Assim sendo, a utopia só seria irrealizável do ponto de vista da ordem vigente. É a partir desta relação entre utopia e a ordem existente é que Mannheim encontra uma perspectiva dialética entre utopia e ideologia: Cada época permite surgir (em grupos sociais diversamente localizados) as idéias e valores em que se acham contidas, de forma condensada, em tendências não-realizadas que representam as necessidades de tal época (...). A ordem existente dá surgimento a utopias que, por sua vez, rompem com os laços de ordem existente, deixando-a livre para evoluir em direção à ordem de existência seguinte (Mannheim, 1986: 222-223). O filósofo francês Paul Ricoeur (1991) também trabalha com a polaridade entre ideologia e utopia. Contudo a preocupação deste difere-se consideravelmente do pensador alemão. No caso de Mannheim, a hipótese é que os conceitos de utopia e ideologia, bem como a dialética entre estes, funcionaria como instrumental para analisar o pensamento social, conferindo uma epistemologia e uma ontologia que compõem a sociologia do conhecimento. Entretanto, Ricoeur busca inserir os conceitos de ideologia e utopia no mesmo quadro teórico por acreditar que essa conjunção tipifica a imaginação social e cultural6. A hipótese é que a relação dialética entre os conceitos, poderia ajudar a resolver a questão da imaginação como problema filosófico. Haveria na opinião de Ricoeur muitos pontos de afinidade entre ideologia e utopia. Em primeiro lugar seriam conceitos altamente ambíguos já que apresentam aspectos positivos e negativos, construtivos e destrutivos, constitutivos e patológicos. O segundo traço comum é que nos dois casos o aspecto patológico do conceito apareceria primeiro do que o constitutivo. Para o autor são alguns traços estruturais da imaginação social que explicariam a polaridade entre ideologia e utopia, e dentro de cada uma delas. 5 Mannheim usa a expressão "ordem operante da vida" que para ele seria uma decorrência de uma específica estrutura política e econômica que a instituí. Contudo, deve-se ressaltar que essa "ordem" extrapola os planos da política e da economia para a totalidade das formas de vida social humana (tal como as formas do amor e do conflito) que são necessárias e que combinam com essa organização. 6 Segundo Ricoeur, a imaginação social se refere aos papéis atribuídos aos indivíduos dentro das instituições, enquanto que a imaginação cultural seria dada pela produção de obras da vida intelectual (Ricoeur, 1991: 65). 7 Para o filósofo francês, a função da utopia se expressa pela capacidade de conceber um lugar vazio de onde olhamos para nós mesmos: O que há que se acentuar é a vantagem desta extraterritorialidade especial. Deste "lugar nenhum" é lançado um olhar exterior à nossa realidade, que repentinamente parece estranha, nada sendo já tido como certo. O campo do possível está agora aberto para além do atual; trata-se, portanto, de um campo para maneiras alternativas de viver. Este desenvolvimento de novas perspectivas alternativas define a função básica da utopia. Não podemos então dizer que a imaginação em si - através da sua função utópica - tem um papel constitutivo ao ajudar-nos a repensar a natureza da nossa vida social? (Ricoeur, 1991: 88). Paradigma utópico As utopias sofrem mudanças e alterações pelos homens e travam uma relação de dependência com as formas de organização social e de poder. Assim como transformam-se essas formas organizacionais, alteram-se significativamente os anseios e os desejos utópicos da sociedade. As utopias possuem estreita vinculação com os mitos e as crenças. Antes de serem denominadas de “utopias”, já existiam. Como por exemplo A República de Platão que é uma cidade perfeita, idealizada pelo autor. A transformação paradigmática, no entanto, é feita por Morus, o “inventor” da palavra utopia e, depois dele a utopia nunca mais foi a mesma. A Utopia de Morus além de constituir-se em um modelo literário de narração de lugares imaginados de perfeição, permite - na opinião de Baczko - a emergência de um paradigma do discurso utópico e, principalmente do surgimento da utopia como um conjunto do imaginário social. Manifesta-se então o grande “salto” que a forma de compreensão da utopia exprime: se antes as utopias se limitavam às representações de lugares perfeitos - sem erros e sofrimento, mas também dado e definido -, com a perspectiva moderna inauguram-se utopias que representam lugares construídos, modificados pela ação humana e instituídos pelos indivíduos que habitam estes lugares. É a partir deste momento que a utopia se separa do mito e da religião e, segundo Baczko, é essa separação que faz emergir o paradigma utópico, no qual as utopias representam formulações ideais produzidas pela razão: La mejor comunidad no tiene otra legitimidad más que la de la racionalidad del proyecto que la fundó y que coincide con las finalidades mismas de la naturaleza humana. Por conseguiente, esta representación construida racionalmente constituye 8 una alternativa, desde luego ficticia, pero alternativa apesar de todo, para las sociedades que se sustraen a esta legitimidad. Por esto, la sociedad gana independencia en relación con toda realidad transhistórica, en relación con lo sagrado y el mito. Dicho de otro modo, las condiciones de possibilidad de la invención del paradigma utópico quedan definidas por el surgimiento de un lugar específico en el que se instala el intelectual que reinvidica su derecho a pensar, a imaginar y a criticar lo social, y en especial lo político (Baczko, 1991: 67). Baczko aponta cinco linhas de investigação no que tange ao paradigma utópico: 1. análises sobre o gênero literário utópico (novelas utópicas); 2. reflexões sobre o pensamento utópico, sua evolução e temas de direção, etc.; 3. trabalhos sobre as utopias praticadas, sobre a história e sociologia das comunidades exemplares buscando imagens de alteridade social em suas instituições, modo de vida e relações sociais e humanas; 4. pesquisas sobre os materiais simbólicos colocados em práticas pelas utopias (relações variáveis entre as utopias e os mitos sociais: milenarismo, messianismo, etc.); e por último, 5. estudos sobre as utopias em períodos marcantes, quando a criatividade utópica se acentua e as utopias mantém relações particularmente intensas com os movimentos sociais, com o imaginário coletivo que dá origem a linhas de forças da evolução do fenômeno utópico, às particularidades históricas de diversas formas de discurso utópico, às várias funções sociais das utopias. Sem dúvida, as alternâncias relativas aos movimentos de florescimento utópico e antiutópico se constituem em fenômenos de interesse sociológico. Para Baczko, essas "flutuações" demonstrariam que as utopias continuam sendo um lugar de confluência dos sonhos e temores, pelo menos para certos grupos intelectuais em suas lutas contra as contradições de seu próprio tempo. As utopias apesar de serem quiméricas (aspiração de uma sociedade indefinidamente transformada) se realizam de outra forma. Na sociologia e na história, a realidade do imaginário está em sua própria existência, nas diversas funções que exercem, assim como na intensidade e nas consequências de seus exercícios. As utopias ganham em realidade e realismo na medida em que se inserem no campo das expectativas de uma época ou de um grupo social, sobretudo 9 quando se impõem como idéias-referências e idéias-forças que orientam ou mobilizam as esperanças e demandam as energias coletivas (Baczko, 1991). Se o século XX foi marcado pela “cientificidade” no campo da utopia política (superação da utopia pelo socialismo científico7), por outro lado os movimentos “revolucionários” dos anos 60 e 70 (como o Maio Francês, a Primavera de Praga, o movimento Hippie, e a contracultura de maneira geral, apenas para citar alguns casos) teriam resgatado a força do imaginário, da liberdade e da realização pessoal, de uma existência que não se limita a reproduzir o sistema e que busca encontrar um sentido capaz de dialogar e responder aos valores que nasciam junto com esses movimentos. Espera-se que essa retomada teórico-metodológica sirva de subsídios para o desenvolvimento do trabalho que aqui se propõe. A discussão desenvolvida nas páginas anteriores devem orientar a reunião de uma série de fenômenos que estariam dispersos, mas que aparecem reunidos pela memória construída e instituída dos anos 60/70, período onde as utopias se constituíram em componentes importantes e, até mesmo estruturantes da imaginação social. 1968 e a utopia Em primeiro lugar, destaca-se que o ano de 1968 é apreendido aqui como um símbolo que sintetiza uma forte agitação política e cultural que teria atingido diversas partes do globo como as obras aqui analisadas poderão demonstrar. Para Baczko, o discurso contestatório de "Maio de 68" pode ser visto como um aspecto que alterou o lugar da "imaginação" no campo do discurso. Desde então, a imaginação deixa de se relacionar com o campo fantasioso das artes apenas, para se inserir na discussão de assuntos 7 Baczko coloca que Marx e Engels teriam trabalhado com a oposição utopia/ciência, ou melhor, socialismo utópico/socialismo científico, e para estes as utopias eram pressentimentos de um saber (limitado pela imaturidade do proletariado) que depois se transformaria em ciência. O marxismo, na opinião de Baczko, reconhece o caráter socialista das idéias utópicas (que até estimulam revoltas do campesinato nos séculos XVI e XVII) tanto que a persistência do fenômeno utópico demonstraria a constante aspiração da classe oprimida a valores imemoráveis como igualdade, liberdade, justiça social, etc. Esta perspectiva pressupõe certa teleologia no desenvolvimento das idéias utópicas que ao longo da história se realizam na direção do marxismo. Outra ênfase dada pelo historiador é que as utopias podem ser vistas na obra marxista como manifestações repetitivas da revolta social e da esperança em um futuro "comunitário". Em relação às utopias, o socialismo "científico" se coloca como continuidade (comunhão 10 considerados sérios e reais. O mais interessante, é que se "1968" foi ou não um ano tão "imaginativo" como se fez pensar, não é tão importante quanto essa memória e essa livre associação verificada em quase todos os estudos sobre o período; isso porque, segundo Baczko, os pensamentos e a mitologia que nasce de um acontecimento aos poucos prevalece sobre o próprio acontecimento. Naquele momento, a imaginação apareceria como um elemento simbólico importante, teria sido através dela que os movimentos poderiam encontrar identidade e coerência, através desta imaginação os grupos se reconheceriam e designariam suas resistências e ilusões8. É possível constatar essa "memória" pelas obras que foram feitas com o objetivo de comemorar o período e a luta, consagrados pelos depoimentos e entrevistas com indivíduos que integraram estes movimentos. A idéia de "ruptura", de que naquele momento algo diferente, novo e radical aconteceu é amplamente difundida. Um outro aspecto que corrobora isso, é que a maioria das publicações que revisitam esta memória se utilizam da força simbólica das imagens (fotografias). Sem dúvida, o período pode ser caracterizado pelo crescimento do mercado e da indústria, que se liga ao fortalecimento da produção de cultura e de bens culturais, o que poderia "explicar" a quantidade de imagens e a importância que estas passam a ter no padrão cultural. Porém, estas idéias-imagens serão apreendidas aqui como símbolos que veiculam mensagens utópicas e, que servem para compor as representações imaginárias daquele momento. As idéias-imagens amplamente utilizadas nestes livros instituem "livre associação" entre o que "1968" e a utopia. Um outro aspecto bastante comum nestas "recapitulações" e "registros" seria uma tentativa de identificar, ou melhor, ligar aquele momento aos dias de hoje. A seguir serão identificados alguns destes livros com o objetivo de ilustrar os aspectos destacados acima, tais como a associação entre "aquele momento" e a utopia bem como a tentativa de resgatar "aqueles sentidos" para o presente. de valores e imagens) e ruptura (houveram muitas utopias, mas há apenas um socialismo científico). Para mais detalhes cf Baczko, op. cit.: 73-75. 8 Baczko, op. cit.: 11-12 11 Nós que amávamos tanto a revolução: 20 anos depois, de Dany Cohn-Bendit. Editado pela Brasiliense em 1987, a obra foi publicada na França originalmente em 1986. Reúne uma série de depoimentos que traz à cena a memória daquele período de contestação para ser refletido. O autor, se coloca como alguém que continua a ser um contestador "estilo 68". Lamenta porque acha que a "geração 68" tem sido vista ultimamente associada a algo pejorativo, e até ultrapassado. Mas para ele parece ser incontestável: "Em 1968, o planeta todo pegou fogo". O desafio daquele momento era: "O amor pela vida, o sentido da história". 1968: a paixão de uma utopia, de Daniel Aarão Reis Filho com fotos de Pedro de Moraes O livro publicado pela Editora da Fundação Getúlio Vargas saiu em 1998. Daniel Reis Filho começa dedicando o livro para "os que não esqueceram nem se arrependeram". Escrevendo 30 anos depois, o autor fala sobre os "riscos" da memória, mas vê que o que marca a densidade e a história daquele ano "foi uma particular combinação de utopia e de cotidiano". Depois, segue-se uma série de "fotos para a história" de Pedro de Moraes. Além disso, apresenta-se uma série de depoimentos. Curiosamente, há um mapa astral do ano e uma análise do que este prometia. Uma excelente cronologia, de janeiro a dezembro, com referência ao Brasil e ao Mundo. Por último, há referências bibliográficas sobre o período. Utopias e distopias: 30 anos de maio de 68, organizado por Amanda Eloina Scherer, Gisele Marchiori Nussbaumer e Maria da Glória di Fanti. O livro é uma reunião de trabalhos apresentados no evento que teve o mesmo nome, e que aconteceu em maio de 1998 na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Foi editado no ano seguinte pelo Mestrado em Letras da UFSM. A avaliação das autoras é que a partir do "mal-estar estudantil surgido em Nanterre", teria se consolidado um "movimento" capaz de unir diversas tendências com repercussões para as mais diferentes áreas (das artes até a filosofia). Os movimentos sociais que estruturam-se a partir daí teriam questionado as normas da vida social, inclusive do Estado, mas principalmente as da família e da moral tradicional. Para as autoras Maio de 68 teria mudado a França e revolucionado toda a sociedade. 12 Rebeldes e Contestadores - 1968: Brasil, França e Alemanha, organizado por Marco Aurélio Garcia e Maria Alice Vieira A publicação (editada em 1999 pela Fundação Perseu Abramo)contém uma série de artigos que refletem sobre a memória e as influências deste "inesquecível" ano. Na introdução da obra, Marco Aurélio Garcia expõe a necessidade de "localizar" historicamente 1968 para a compreensão do próprio século XX. É o que o autor define como "exigência intelectual", pois 1968 teria combinado várias dimensões de um processo revolucionário sobre o desenvolvimento mundial: a luta anti-imperialismo, a resistência ao capitalismo e um aspecto subjacente a 1968, que foi a crise das experiências socialistas e a (auto)crítica que feita pela própria esquerda. Com base nos livros citado acima, é possível dizer que há uma construção sobre os anos 60/70 que tenta evidenciar (e em alguns caso a generalizar) a constituição de uma contralegitimidade naquele momento. A mensagem é que em "1968" assistiu-se à gênese de uma forma de pensar e sentir distintas e, que não aceitam as normas vigentes na organização social. Esse tipo de recusa expressa uma resistência e, pode acontecer em qualquer momento. Como fruto e sintoma do processo histórico estruturam-se movimentos sociais que resistem e que lutam por modificações. Estes movimentos são criados e concebidos por grupos ou parcelas da sociedade que recusam um certo modelo e, sonham, idealizam ou desejam a vida de uma forma distinta. Neste momento, o “ideal” se torna um objetivo, e o caminho para concretizá-lo é a luta social. Como fruto desta disputa, novos e outros rumos podem ser alternativas concretas para se estruturar em novas e outras formas de organização. A década de 60 ficou marcada por este “sonho”. Neste período, os movimentos sociais de resistência ao predomínio dos valores e do poder instituídos marcaram época. Esta geração tem sido referência para importantes estudos e análises da sociedade em várias áreas do conhecimento. Do sonho à "realidade" Pelas memórias é possível identificar 1968 com um turbilhão de fatos e fotos que impressionam e fazem história, ou melhor, contam uma história que parece atravessar o tempo para dizer que aquele era um momento onde o "mundo estava girando mais rápido do que de costume". Conflitos, sonhos e esperanças de transformação, ações de rebeldia e confrontos de paixões. 1968 teria começado uma revolução de hábitos e comportamentos que atingiram desde 13 as artes (teatro, cinema, música, literatura) até as relações pessoais. Como lembra Reis Filho, os "revolucionários" tinham como propósito: (...) não apenas de derrubar o poder vigente mas de propor uma relação diferente entre a política e a sociedade. O que se questiona - de modo confuso e vago - é a articulação da sociedade e suas grandes orientações, seus propósitos, seu modo de ser: trata-se de mudar de sociedade e de vida. (Reis Filho, 1998: 11) Manifestava-se o repúdio contra os rumos políticos e sociais que estavam sendo definidos. Questionava-se a "cultura do consumo" e seus mecanismos de acomodação e satisfação. Marcuse (1979), um dos pensadores que marcou o pensamento da época analisou as formas de controle social, e denunciou a irracionalidade da sociedade que se formava, constituída por homens de uma só dimensão. Lutava-se contra o autoritarismo e à imposição de normas, o lema "É proibido, proibir" estava integrando os imaginários daquelas pessoas e sendo incorporado pelas experiências pessoais de cada um. Os aspectos que poderiam explicar o fortalecimento do pensamento utópico bem como as fontes que o alimentaram se mostram como elementos complexos que dificilmente poderiam ser ordenados. Entretanto, é possível apontar algumas referências que nortearam estas construções. A primeira pode ser percebida como uma decorrência do próprio processo histórico considerando que essa geração teria crescido sob o "fantasma" do holocausto e da propagação de um ideário na movimentação pós-segunda guerra mundial onde teria sido privilegiado a intolerância diante da violência do nazi-fascismo. Uma segunda "vertente" associa-se à guerra do Vietnã. A guerra que acontecia desde 1940 teria atingido o ponto alto em 1968, e acabaria por se transformar em um símbolo para o mundo: um "pequeno país teria conseguido vencer a maior potência do mundo. O grande "líder" revolucionário da época, Ernesto Che Guevara, teria difundido no plano simbólico uma referência muito forte para aquele geração. Nas palavras de Cohn-Bendit: Ele [Che Guevara] foi para toda uma geração o símbolo do guerrilheiro construtor de uma nova sociedade, e seu famoso slogan "Criemos um, dois, três Vietnãs" foi para nós uma espécie de religião (Cohn-Bendit, 1987: 107). Em último lugar, cabe destacar a polaridade da guerra fria e à forte recepção do ideário socialista que recebia novos impulsos dados pela experiência da revolução cubana ("guerra de 14 guerrilhas") e da revolução cultural chinesa. Estas concepções favorecem a ascensão das vanguardas como agentes da revolução e do papel fundamental que a ação e a vontade assumem nessa perspectiva em contraposição à teoria. Reis Filho aponta que essa "mensagem era tão forte" que o exemplo das guerrilhas latinoamericanas - liquidadas em muitos países já em 1968 - teria sido desconsiderado por muitos brasileiros que mesmo assim fizeram resistência armada contra a ditadura. O autor chega a usar a idéia de uma "luta apaixonada" porque exigia-se engajamento e dedicação: Bolas de gude contra balas de metralhadoras, atiradeiras contra revólveres, pedras contra cavalos, uma relação de forças tão desequilibrada só poderia ser enfrentada - e o sonho de sua alteração só podia ser sonhado - com muita paixão (Reis Filho, 1998: 47). Figura 1. Washington, 1967. Fonte: Cohn-Bendit, 1987: 8 A fotografia acima (figura 1) também expressa essa mensagem que, ao que tudo indica, vincula-se à essa valorização idealista: "eles", detentores do poder, podiam ter armas e força da técnica, porém "outros", libertários e contestadores, teriam outros recursos tais como a vontade 15 de lutar e a força de seus sonhos. A imaginação utópica abandona as órbitas longínquas do pensamento para se colocar no mesmo nível de realidade e imponência que as estruturas ideológicas em funcionamento. Corações e braços abertos podem indicar que a imaginação também se abria para sonhar e construir o devir histórico. Pode-se dizer ainda com base na bibliografia consultada que em alguns casos essa força da imaginação utópica atingiu um nível tal de idealização que abriram-se brechas manifestações radicais como a entrega da própria vida na luta por uma sociedade nova, que daria espaço ao homem novo, e que se construiriam mutuamente. É em sintonia com esses anseios que os movimentos sociais ganharam força. Destacam-se particularmente o movimento negro e o movimento estudantil. Além dos homossexuais, é claro, que denunciavam a discriminação que sofriam e mostravam a hipocrisia da sociedade. As mulheres faziam renascer o feminismo sob bases mais sensíveis e ao mesmo tempo que o faziam de maneira incisiva. Até o mundo socialista é atacado pelo espírito de revolução daquele momento, os estudantes se manifestam na Polônia, na Iugoslávia. Mas o destaque, que atinge repercussões internacionais, é a Primavera de Praga. A difusão da pílula anticoncepcional teria na opinião de Reis Filho alterado comportamentos e revolucionado relações afetivas e familiares. Em 1968 a revolução sexual se torna mais intensa. Naquele momento, a utopia como horizonte daquilo que está por vir amplia-se e dá origem a outras tantas possibilidades de existência e de sentido; no próprio presente sentemse seus ecos. Estas "novas fronteiras" que se abrem para a ação humana, também parecem se abrir para as percepções humanas, inclusive no relacionamento com o consumo de drogas que se colocava como um exercício de prazer e de liberdade. Reis Filho enfatiza que essa postura não deve ser confundida com um "sinal aberto" para a utilização de maconha e LSD, posto que essa força libertária residia na busca de novas formas de existência: Ampliar a percepção e encorajar a sensibilidade eram propostas que se situavam no contexto da crítica e do questionamento de uma sociedade rotinizada, coagulada, cujos dirigentes estavam apenas comprometidos com a reprodução de um mundo que não mais satisfazia. (Reis Filho, 1998: 45) 16 Considerações finais: para um recomeço Neste pequeno artigo mais do que respostas esperou-se apontar alguns possíveis caminhos para futuras análises, bem como perguntas que mereceriam um pouco mais de reflexão. Um "mito revolucionário"9 não pode desvincular-se da produção particularmente intensa de seu próprio imaginário, da confecção de seus próprios mitos. Este tipo de acontecimento histórico, onde a relação entre as utopias e os mitos ficam extremamente associadas, é marcado por um imaginário que envolve a instituição de uma ruptura, um marco que representa uma distinção entre o antes e o depois. Neste sentido, cabe questionar se 1968 pode ser visto como um "mito revolucionário" não realizado, já que a representação da ruptura não é materializada, pois a destruição do antigo não se completa. Contudo, por outro lado, as reflexões-memórias e as idéias-imagens associadas com o período indica que a "promessa" desta ruptura precisa acontecer e se radicalizar cada vez mais, ainda que seja hoje, 30 anos depois. Ao que parece os motivos que levaram as pessoas a lutar contra o poder que se institucionalizava naquele período ainda persistem (a repressão, a violência, a desigualdade, etc.) e, por isso mesmo as "idéias" de 1968 não parecem ter perdido seu sentido, mas será que aquele ideário continua fazendo sentido para as concepções de mundo hoje? A dimensão política e social parecem cada vez mais distantes da existência de cada um. Se os franceses se recusavam a viver a infeliz rotina pequeno-burguesa (metrô-trabalho-casa) em 1968, hoje é praticamente impossível escapar desta armadilha. O que teria acontecido? Não há mais motivos para se resistir? Será que a utopia do mercado se coloca com uma alternativa adequada e suficiente para a "solução" dos problemas sociais? A produção cultural crítica hoje ganha espaço na indústria cultural e, inclusive é recebida com destaque em espaços alternativos, transformados em "nichos de consumo" de grande potencial para a obtenção de lucros. Como entender um modelo de sociedade que vende a crítica dirigida a ele como qualquer outra mercadoria? Será que realmente há caminhos remanescentes dos movimentos sociais dos anos 60/70 que continuam traçando rumos "revolucionários"? Será que essa volta ao passado não expressa 9 Para melhor precisão e consideração do termo cf Baczko, op. cit.: 96-99. 17 uma imobilidade frente ao presente, e entender esse passado, buscar essas referências passam a ser as únicas formas de se agarrar às esperanças que já não são mais produzidas? Cioran (1992) define a importância da utopia em uma sociedade, como uma forma de impedi-la de se transformar em ruínas. A busca de uma "felicidade imaginada" é que faz do homem uma criatura histórica. O fascínio que este ano rebelde exerce parece estar ligado a isso. A sociedade - ou parcelas desta sociedade - continua carregando em seu imaginário, a memória de que uma revolução quase foi possível. A crença de que sonhos devem ser "levados a sério". A esperança de que mesmo o impossível pode ser conquistado. É essa idéia que permite pensar no conceito de utopia como uma ferramenta para analisar fenômenos sociais. Contudo, ainda é preciso testar a adequação deste instrumento. Esse trabalho é apenas um começo. Bibliografia BACZKO, Bronislaw. Los imaginarios sociales: memorias y esperanzas colectivas. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visión, 1991. CASTORIADIS, Cornelius. A instituição imaginária da sociedade. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 1995. CIORAN, Emile. Mecanismo da utopia. In: História e utopia. Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1992. COHN-BENDIT, Dany. Nós que amávamos tanto a revolução: 20 anos depois. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1987. ENGELS, Friedrich. Do socialismo utópico ao científico. Rio de Janeiro: Vitória, 1962. FALCON, Francisco José Calazans. Utopia e modernidade. In: BLAJ, Ilana e MONTEIRO, John M. (orgs.) Histórias e utopias. Coletânea de textos apresentados no XVII Simpósio Nacional de História. ANPUH, 1996. 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