UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM METODOLOGIA DO ENSINO SUPERIOR KARINA BIFF PAULINO ESTUDO DESCRITIVO OBSERVACIONAL DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTRIBUIÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES MORADORES NA CASA DE SAÚDE RIO MAINACRICIÚMA/BRASIL/2005-2006 CRICIÚMA, MARÇO DE 2006 1 KARINA BIFF PAULINO ESTUDO DESCRITIVO OBSERVACIONAL DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTRIBUIÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES MORADORES NA CASA DE SAÚDE RIO MAINACRICIÚMA/BRASIL/2005-2006 Monografia apresentada à Diretoria de PósGraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, para obtenção do título de especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior. Orientadora: Profª. Dra. Rosemeri Oliveira Duarte CRICIÚMA, MARÇO DE 2006 2 Dedico este trabalho as minhas filhas, Marina e Lívia, pela inocência da infância demonstrada pelo amor e carinho, e especialmente ao meu esposo Giovani que sempre esteve ao meu lado e por tudo que abdicou em meu nome. 3 AGRADECIMENTOS Muitos foram os que contribuíram para o meu crescimento e o desenvolvimento desta pesquisa, no entanto, muitos foram os que se destacaram, e neste momento merecem todos os méritos e agradecimentos. Em especial neste momento, quero agradecer à Deus pela presença constante, permitindo-me vencer estas etapas importantes da minha vida. As minhas filhas Marina e Lívia, que na simplicidade e alegria da infância muito me ajudaram na compreensão do mundo, todo meu amor e carinho. Ao meu esposo Giovani, que é uma pessoa maravilhosamente especial, pelo afeto, amor compreensão e durante todo tempo me fez sentir uma pessoa muito amada, respeitando minhas ausências e contribuindo para o meu crescimento....e pelo amor que um dia nos uniu. Meu sincero amor. Ao meu pai Vilson, pela história de luta e vontade de vencer, e mesmo não estando presente neste mundo, sua luz me guiou em muitos momentos de minha vida, tornando-se a luz da minha existência. A minha mãe Rosa Maria, que no decorrer de minha vida se fez importante, pela coragem, renúncia, amor e amizade dedicados durante nossas vidas. A Doutora Rosemeri Oliveira Duarte, pela orientação desta pesquisa, pela credibilidade e pelas palavras de estímulo e apoio que contribuíram em minha vida pessoal e acadêmica, pelo exemplo de força e determinação, meu afeto e gratidão. Aos pacientes psiquiátricos e suas respectivas famílias, que lidam constantemente com o descaso e a ignorância social. 4 As amizades que fizemos no decorrer do curso, trocando experiências e contribuindo para meu amadurecimento pessoal e profissional. Por fim, a todos os amigos que fizeram parte, de alguma forma, desta caminhada, colaborando para a realização desta VITÓRIA. 5 “Nada está errado conosco, pois o que chamamos de “imperfeição” no mundo são apenas lições não aprendidas ou não entendidas, que precisam ser recapituladas”. (Hammed, 2001) 6 RESUMO Esta monografia teve por objetivo discutir as contribuições do Serviço Social para a promoção da qualidade de vida dos pacientes moradores da Casa de Saúde Rio Maina. Para isto, parte de um ponto ambivalente: o de que o Serviço Social tanto pode ser uma fonte de aumento para a qualidade de vida (por proporcionar ao paciente psiquiátrico morador da instituição estímulo para a atividade intelectual), como ser agravante da qualidade de vida (pois quanto pior, mais dilapidadora e degradante as condições de tratamento institucional, pior a qualidade de vida do paciente psiquiátrico institucionalizado). Neste sentido, este trabalho apresenta, num primeiro momento, a relevância de estudar e contextualizar estudos que abordem a origem institucional de pessoas portadoras de doenças mentais a nível mundial e nacional; as considerações sobre o termo qualidade de vida; e a evolução das relações entre Serviço Social e os pacientes moradores da Casa de Saúde Rio Maina. Esta pesquisa teve o respaldo de um estudo detalhado através da observação sistemática de seis pacientes moradores da Casa de Saúde Rio Maina. O trabalho de campo apontou algumas inter-relações existentes entre esses três temas estudados (qualidade de vida, doença mental e serviço social), como também o prazer e o desprazer proporcionados pela institucionalização e as relações entre paciente e família. Por fim, esta monografia conclui que o Serviço Social pode ser um elemento importante para gerar qualidade de vida, desde que seja associado ao prazer. Palavras-chave: Paciente Psiquiátrico; Qualidade de Vida; Doença Mental; Serviço Social. 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................09 1.1 Tema ................................................................................................................10 1.2 Objeto de estudo ............................................................................................10 1.3 Problema .........................................................................................................10 1.4 Objetivos .........................................................................................................12 1.4.1 Objetivo geral...............................................................................................12 1.4.2 Objetivos específicos..................................................................................12 1.5 Justificativa .....................................................................................................13 1.6 Apresentação do documento ........................................................................15 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..........................................................................16 2.1 Contextualizando a saúde mental a nível mundial e nacional....................16 2.1.1 A nível mundial ............................................................................................16 2.1.2 A nível nacional ...........................................................................................19 2.2 O doente psiquiátrico e seu meio .................................................................23 2.2.1 Doença mental no contexto familiar ..........................................................27 2.2.2 O estigma do sofredor psíquico.................................................................30 2.2.3 O sofredor psíquico e o direito à cidadania ..............................................32 2.3 Representação do serviço social ..................................................................36 2.3.1 Qualidade de vida ........................................................................................40 2.3.2 O binômio serviço social x qualidade de vida ..........................................45 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................49 3.1 Hipóteses ........................................................................................................49 8 3.2 Delimitação do estudo ...................................................................................49 3.3 Delineamento do estudo ................................................................................49 3.4 Instrumento de pesquisa ...............................................................................50 3.5 População e amostragem ..............................................................................53 3.6 Caracterização da instituição ........................................................................53 3.7 O Serviço social na casa de saúde Rio Maina .............................................54 4 EXPERIÊNCIA DE PESQUISA...........................................................................57 4.1 Observação do paciente J .............................................................................60 4.1.1 Análise da observação do paciente J ........................................................61 4.2 Observação do paciente Z .............................................................................62 4.2.1 Análise da observação do paciente Z........................................................62 4.3 Observação do paciente M ............................................................................64 4.3.1 Análise da observação do paciente M .......................................................65 4.4 Observação do paciente A.............................................................................66 4.4.1 Análise de observação do paciente A .......................................................67 4.5 Observação paciente T ..................................................................................68 4.5.1 Análise da observação do paciente T........................................................70 4.6 Observação paciente N ..................................................................................71 4.6.1 Análise da observação do paciente N .......................................................72 4.7 Relação qualidade de vida e serviço social .................................................73 5 CONCLUSÃO .....................................................................................................76 REFERÊNCIAS ......................................................................................................79 REFERÊNCIAS COMPEMENTARES....................................................................82 ANEXOS ................................................................................................................83 APÊNDICES...........................................................................................................88 9 1 INTRODUÇÃO A assistência ao ser humano com transtornos mentais tem a sua trajetória histórica marcada por processos de isolamento, segregação, exclusão, anulação do indivíduo enquanto portador de direitos. Os grandes manicômios, construídos de preferência afastados dos centros urbanos guardaram a imagem do “louco” e o estigma do medo longe dos cidadãos “normais” por um longo tempo. Assim, torna-se de suma importância enfocar o espaço familiar e a cidadania no universo da saúde mental, buscando as múltiplas determinações que permeiam a realidade do indivíduo portador de um sofrimento mental na busca pela melhoria da qualidade de vida destes. Nas contradições entre saúde/doença, encontram-se as representações sociais a cerca da “loucura”, que desafia a construção de um novo olhar diferenciado do senso comum. Pelo senso comum, a sociedade é dada como uma realidade estática, onde as regras e os valores que se apresentam são reproduzidos como se fosse imutável. Assim os indivíduos devem se comportar dentro dos padrões estabelecidos. Dessa forma, estar por fora das regras significa estar dentro de um processo de segregação, de isolamento do convívio social. Neste trabalho, partilha-se o comprometido e a real eficácia do Serviço Social na busca da cidadania e garantia dos direitos do portador de transtorno mental, ampliando, assim, a qualidade de vida dos pacientes moradores da Casa de Saúde Rio Maina. 10 1.1 Tema Qualidade de vida dos pacientes moradores na Casa de Saúde Rio Maina. 1.2 Objeto de estudo Pacientes psiquiátricos moradores da Casa de Saúde Rio Maina 1.3 Problema O ser humano vive constantes mudanças, sendo que o novo hoje passa a ser ultrapassado amanhã. A busca pela inovação movimenta à todos; e apesar da multiplicidade de conhecimentos científicos e tecnológicos apreendidos pela humanidade, despreza-se os indivíduos que em sua singularidade, diferenciam-se do padrão referencial adotado pela maioria. Os componentes deste grupo situado a margem da sociedade são vários, sendo representados por diversas facções. Distingui-se em meio a grande massa social, uma ampla gama de associações, cada qual com objetivos distintos e múltiplos interesses. Dentre estes grupos distintos e marginalizados, o que desperta maior interesse neste momento é o conjunto de indivíduos conhecido como “loucos”, sendo que o cerne deste interesse advém da identificação sistemática com a qualidade de vida que este indivíduo inserido, dentre tantos outros interesses maiores, pode conquistar na sociedade. 11 Rotulado e estigmatizado por grande porcentagem da população, encarado como alienado, insano, em outras palavras, como a imagem temida e repugnante da desrazão, eis que o sofredor psíquico passa então a ser receado e excluído do convívio com os ditos “sadios” da sociedade. Em conseqüência dessa situação os familiares sentem-se incapazes de lidar com o doente mental, e muitas vezes, deixa-se levar pela influência do meio social. A família não terá que lidar apenas com a pressões internas referentes a doença, mas também com aquelas exercidas por forças sociais externas. A prática da exclusão permanente atrelada a muito tempo ao diagnóstico, cristalizado em uma forma de tratamento deficitária, tornando cada vez mais difícil o retorno do indivíduo ao seu contexto social. Para isentar-se da presença e da permanência constante destes indivíduos, a sociedade encontrou e encontra uma solução cômoda e agradável de se livrar do “problema”, no afastamento dos pacientes psiquiátricos de seu convívio familiar e social, mantendo-os isolados nos Hospitais Psiquiátricos. Os hospitais por sua vez, perdem sua função primordial e passam a ser literalmente depósito de loucos, pois cada dia cresce o número de doentes psiquiátricos abandonados pelas famílias e entregues a própria sorte. Enfrentar os problemas da doença mental é um aspecto primordial para uma melhoria da qualidade de vida do paciente psiquiátrico e suas relações sociais. Os princípios ético-políticos do Serviço Social estabelecem métodos de enfrentamento dos problemas sociais, bem como, a busca de meios que venham garantir um atendimento digno e efetivo para os pacientes institucionalizados, focalizando a promoção da qualidade de vida destes indivíduos. 12 Somado a isso, deve-se buscar inovações terapêuticas, sem radicalismos ou posições simplistas, para que os portadores de transtornos mentais tenham uma melhor qualidade de vida. Visando abrandar as dificuldades enfrentadas por estes indivíduos esquecidos pela sociedade e tendo visto a real situação em que se encontram, propõe-se realizar um estudo, com a finalidade de conhecer e apresentar meios que o Serviço Social utiliza para elevar a qualidade de vida destes pacientes institucionalizados. Diante dos motivos descritos acima se dispõem investigar qual a contribuição do serviço social para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes moradores da Casa de Saúde Rio Maina? 1.4 Objetivos 1.4.1 Objetivo geral Conhecer a contribuição do serviço social na melhoria da qualidade de vida dos pacientes adultos moradores na Casa de Saúde Rio Maina. 1.4.2 Objetivos específicos • Realizar estudo conceitual sobre qualidade de vida; • Apresentar historicamente a evolução dos conceitos das classificações dos transtornos psiquiátricos; 13 • Identificar técnicas teórico-práticas do serviço social que podem contribuir na melhoria da qualidade de vida dos pacientes moradores da Casa de Saúde Rio Maina; • Relacionar o contexto da qualidade de vida diante dos desafios identificados pelo serviço social. 1.5 Justificativa Ao trabalhar com pacientes psicóticos em estrutura hospitalar, há o questionamento sobre a origem da doença mental e procura-se compreender o que pode influenciar para o desenvolvimento da doença: a carga genética, questões neuroquímicas ou o meio social que o paciente convive. Sabe-se que a família tem um papel fundamental no tratamento de pacientes com transtornos psiquiátricos, podendo contribuir ou não para a evolução da doença. A sociedade tem dificuldade em conviver com certas diferenças, como, por exemplo, a doença mental, pois são considerados por ela elementos estranhos sem condições de viver em sociedade. Esses sentimentos da sociedade têm seus efeitos sobre toda a família e sua relação com o membro doente. Os motivos que levam a discriminação destes indivíduos são diversas e não passíveis de generalização, porém a falta de informação prevalece tanto no âmbito familiar quanto no social. Diante da dificuldade encontrada em conciliar uma convivência familiar saudável relacionado-a com a doença mental, assim como, o comprometimento do paciente diante da evolução da doença, alguns pacientes encontram-se 14 institucionalizados em hospitais psiquiátricos, este se tornando, por sua vez, a residência do doente. Esta realidade pode ser visualizada na Casa de Saúde Rio Maina, que atende pessoas portadoras de transtornos psiquiátricos desde 1969, com a função de tratar pacientes em “surto”, propriamente dito, retornando ao convívio familiar e social após o tratamento hospitalar concluído. Porém, alguns pacientes psiquiátricos residem no hospital, na qual, tornam-se dependentes de uma rotina monótona e, na maioria das vezes, sem perspectivas de mudanças, ameaçando a qualidade de vida destes seres humanos. A Casa de Saúde oferece aos pacientes internados na instituição um Plano Terapêutico que presta serviço de psicologia, terapia ocupacional, nutrição e serviço social para contribuir no tratamento hospitalar com maior eficácia. Nesta perspectiva, o serviço social tem interesse em compreender sobre o prisma da qualidade de vida, como se dá este processo de desenvolvimento social dos pacientes adulto moradores da Casa de Saúde e como a categoria pode contribuir no quadro diagnosticado pela Medicina. Percebe-se no meio hospitalar que parte dos profissionais considera apenas o aspecto neuroquímico para o tratamento destes pacientes não avaliando o homem como um todo, suas relações sociais, seus vínculos e aspirações. A busca de modelos que integre aspectos psicossociais ainda está apenas nos discursos, porque na prática ainda é um desafio. Desta forma, torna-se importante um estudo sistemático, sobre o nível de qualidade de vida que estes indivíduos enquanto institucionalizados, bem como fornecer conhecimentos teóricos que possibilitem contribuir com o conjunto de conhecimentos desenvolvidos nesta área. 15 1.6 Apresentação do documento No primeiro capitulo, o enfoque é direcionado a introdução geral, tema, objeto de estudo, problema, objetivos e justificativa do presente estudo. No segundo capítulo, é abordado o contexto histórico nacional e mundial da saúde mental, a relação entre o indivíduo e a sociedade, na construção da subjetividade e da cidadania. A promoção da saúde mental, o espaço familiar e as condições de cidadania, também são tratados neste capítulo, onde se tentará problematizar a forma singular da qualidade de vida, particularizando o universo da saúde mental e a representação do Serviço Social. No terceiro capítulo, encontram-se os procedimentos metodológicos da pesquisa. Ao considerar-se a relevância do Serviço Social na saúde mental, no quarto capítulo, será enfatizado as observações e analises realizada entre o indivíduo com sofrimento mental e a instituição acerca da melhoria da qualidade de vida dos pacientes moradores, através da experiência de pesquisa. A seguir segue a conclusão, as referências usadas para nortear o estudo e os anexos. 16 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Contextualizando a saúde mental a nível mundial e nacional A representação social da loucura não pode ser explicada sem que se retome acontecimentos passados; estes serviram ao seu modo e em seu tempo, de base na constituição de um movimento globalizante, que gerou por conseqüência a atual representação social da loucura. Este “mal” está inserido na sociedade desde os tempos remotos, vez por outra, transfigurando-se em uma nova forma de expressão. Portanto, torna-se necessário tomar conhecimento da trajetória histórica da loucura e suas instituições através da história, a nível mundial e nacional, como será visto a seguir. 2.1.1 A nível mundial As explicações sobre a história da Psiquiatria refletem distintos modos de pensamento acerca da sua origem. Algumas das concepções sobre a doença mental são atribuídas a crenças do imaginário coletivo que explicava o transtorno mental como algo maligno ou conseqüência de uma ação sobrenatural como manifestações inexplicáveis. A Psiquiatria é uma prática antiga, com registros de patologias psiquiátricas cerca de 2.000 anos a.C., porém embasadas em teorias e crenças. 17 “A terapêutica antiga é obscura, de efeito duvidoso, embasada em teorias que carecem de cientificidade, contaminada pelas ideologias ou crenças do grupo naquele momento histórico” (LOUZÃ NETO et al., 1995, p. 10). Em seu livro “Elogio da Loucura” (1509) Erasmo Rotterdam sugere que existiu um dia, um tempo e uma sociedade na qual, a loucura aparecia diluída imprecisamente em todos os homens, era, por assim dizer, natural. Ao fim do século XV, na Europa, o advento da manufatura inicial (industrialização/sociedade pré-capitalista), com o fim do campesinato como classe e o decline dos ofícios artesanais vieram selar a sorte do louco e elevar a loucura à categoria de problema social. A organização do trabalho passa a ser mais discriminativa para as diferenças individuais; muitos que, anteriormente se adaptavam ao ritmo exigido passam a não se adaptar frente a nova ordem estabelecida. Diante desta Reforma Industrial, a palavra de ordem era a produção em série, as pessoas que apresentavam características diferenciadas do padrão estabelecido para a época eram excluídas deste novo meio social que surgi, ficando a mercê do abandono e descaso. As cidades então se regurgitaram de desocupados, mendigos e “vagabundos” que perambulavam pelas ruas. Assim surge a necessidade da criação de instituições que destinavam-se a limpar as cidades que abrigavam estes mendigos, promovendo trabalho para os desocupados, punindo a ociosidade e reeducando para a moralidade mediante instrução religiosa e moral. É neste contexto que a loucura foi “varrida” da cena social, os doentes mentais vivendo confinados em porões das Santas Casas e Hospitais Gerais, partilhando com os demais deserdados, de toda forma de punição e tortura. 18 No final do século XVIII com as idéias iluministas, os princípios da Revolução Francesa e a Declaração dos Direitos Humanos, os loucos seriam separados dos seus colegas de infortúnio e passariam a receber cuidados psiquiátricos sistemáticos (tratamento moral - substituição da violência franca pela violência velada da ameaça e privações). A primeira compreensão científica da doença mental vem do médico francês Philipe Pinel (1765-1826). A partir do século XVII, criaram-se os primeiros locais para cuidar de enfermos, que conseqüentemente começou o processo de reconhecimento de caráter médico destas doenças, iniciando assim a classificação das doenças mentais que se tornaram objeto de estudo da Psiquiatria. No mesmo século, trinta anos após a morte de Pinel, nasceu Freud. Assim como Pinel, Freud também desenvolveu seus conhecimentos científicos no campo da neuropatologia, que os levaram à ampla compreensão de que insanidade seria proveniente de doença no cérebro e de seus distúrbios. “A introdução do caráter médico que tratavam os doentes com mais dignidade, gerou um novo momento denominado de Primeira Revolução Psiquiátrica” (LOUZÃ NETO et al., 1995, p.71). Ao longo do tempo classificações da doença mental começaram a ser estudadas. Em 1860, Morel (apud LOUZÃ NETO et. al., 1995), um dos mais importantes estudiosos do gênero, faz a descrição de uma nova doença, colocando o nome demencé precoce. Esta doença ficou conhecida como esquizofrenia. A partir desta época, outras classificações das doenças psíquicas são estudadas como doenças do cérebro e a insanidade um sintoma da patologia cerebral. 19 A teoria de Kretshemer (apud LOUZÃ NETO et al., 1995), propôs uma compreensão do delírio particular da paranóia1 defendendo a existência de uma “disposição caracterial sensitiva” onde fatores podem ser desencadeantes deste processo, como humilhação e fracasso na própria vida social. Ernest foi quem melhor integrou os fatores biológicos com os psicossociais, sendo considerada psiquiatria multidimensional. Meados do século XIX é extinto o tratamento moral entrando em cena as modernas teorias das origens heredobiológicas da loucura (de origem de hereditariedade), instaurando as funções sociais pertinentes que aquele momento histórico exigia da Psiquiatria. Dentro desta perspectiva social, cresceram os estudos relacionados ao desenvolvimento do paciente com transtorno psiquiátrico no meio social. Grupos estudados começam a mostrar a importância das relações familiares e suas comunicações contraditórias de duplo vínculo, como fatores significantes nos transtornos psiquiátricos em especial a esquizofrenia. Esta visão tem uma grande repercussão até nos dias de hoje. 2.1.2 A nível nacional Seguindo a tendência globalizante da discriminação, a história da loucura no Brasil, passa por uma mera repetição de métodos e técnicas experimentados em países vizinhos, e como relata Amarante (1994), é somente com a chegada da 1 FERREIRA (1995, p. 514). Paranóia: Psicopatia crônica, de evolução lenta e progressiva, caracterizada por delírios de grandeza e/ou perseguição, estruturados de modo lógico de outros que serviram e servem ainda hoje de modelo. Neste sentido, surge um movimento que tem a finalidade de buscar alternativas que possam ser explicadas no contexto atual. 20 Família Real ao Brasil que a loucura passa a ser objeto de intervenção específica por parte do Estado. De acordo com o manual de Temas de Saúde Mental (BRASIL, 1998, p. 11), “o Brasil passa a seguir a tendência européia, vinda principalmente da França, onde a loucura é entendida como doença e desta forma merecedora de tratamento médico específico”. Deste modo, “a loucura é apropriada conceitualmente pelo discurso médico, tornando-se, a partir de agora, única e exclusivamente doença mental” (AMARANTE, 1996, p. 39). Em conformidade com o manual citado acima, registra-se o início da assistência psiquiátrica no Brasil, com a criação e inauguração do Hospício D. Pedro II em 1841 e 1852 com 350 leitos. Já em 1890 é criada e elaborada a AMLA (Associação Médico-Legal a Alienados), compreendendo o hospício D. Pedro II, agora denominado Hospital Nacional, juntamente com as colônias de alienados da ilha do governador. Depois surgiram outras instituições como São Pedro em Porto Alegre (1884) e Colônia Sant’Ana em Florianópolis (1942). Quando a loucura vira doença, o Estado passa a desenvolver melhores condições para a formação e divulgação de um saber especializado (academias) e cria rapidamente mais locais para o trancafiamento e experimentos de ‘tratamento da doença mental’ (asilos) (SANTOS, 1994, p. 15). A partir deste marco, e sob a égide de uma nova ordem social ainda em constituição, a psiquiatria busca atuar não somente dentro dos muros asilados, mas também em nível social. Com a finalidade de servir de parâmetro a este propósito, busca-se o espaço de vivência e moradia destes indivíduos, indo ao encontro do local de estruturação das ditas “doenças”. A idéia principal destas instituições seria 21 remover e excluir da sociedade este público, alimentando, vestindo e tratando a doença, porém era realizada apenas a exclusão do doente mental escondendo-o dos olhos da sociedade. Para o autor “este conjunto de medidas caracterizaram a primeira reforma psiquiátrica no Brasil, que tem como escopo a implantação do modelo de colônias na assistência aos doentes mentais” (AMARANTE, 1995, p. 76). Em todos os lugares do país, houve circunstâncias que determinaram a emergência do doente mental, enquanto problema social e trouxeram consigo a necessidade de instituições controladoras. As Santas Casas de Misericórdia prestam tratamento diferenciado dos demais pacientes, amontoando-os em porões sem assistência médica. No Brasil a assistência ao doente mental gira em torno do Hospital Psiquiátrico, ignorando-se as práticas extra-hospitalares, demonstrando um caráter antiterapêutico assinalando a inefetividade do papel da instituição sendo um agente patogênico e cronificante, estabelecendo, assim, relações de submissão e violência afetiva. O tratamento oferecido aos pacientes, segundo Santos (1994, p. 46), revela que constavam como práticas vigentes a clinoterapia (o vulgar repouso no leito), a meloterapia (terapia alternativa, reconhecida pela Organização Mundial de Saúde), a praxiterapia e o open-door. Nos primeiros tratamentos listados não creio que possa reconhecer valor terapêutico. Restavam a praxiterapia e o chamado open-door, em outras palavras, o trabalho, seja em instituição fechada seja em ambientes abertos, onde se pretendia reproduzir a vida de uma comunidade rural (SANTOS, 1994, p. 46). 22 Com a evolução das práticas e das técnicas utilizadas no tratamento dos doentes mentais, a psiquiatria nos anos 30 vislumbra, a tão sonhada cura. “É contagiada pelo entusiasmo da descoberta do choque insulínico, do choque cardiasólico, da eletroconvulsoterapia e das lobotomias” (AMARANTE, 1994, p. 78). A partir destas novas descobertas, a psiquiatria se fortalece e o asilamento passa a ser mais freqüente. “Na década de 50 fortalece-se este processo de psiquiatrização, com o aparecimento dos primeiros neurolépticos” (AMARANTE, 1994, p. 78). Diante do desenvolvimento das drogas, outro autor expõe que: Até o desenvolvimento das drogas psicotrópicas, particularmente dos agentes antipsicóticos que alteraram a química cerebral e, portanto, as emoções e o comportamento daqueles que as tomam, não houve grandes avanços no atendimento às pessoas com doenças mentais graves e crônicas (TAYLOR, 1992, p. 07). Na década de 60, segundo Amarante (1994), é criado o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), através da unificação dos institutos de aposentadorias e pensões. O autor também coloca que o estado precisa então comprar serviços psiquiátricos do setor privado, assim ocorre um enorme aumento do número de vagas, leitos e internações nos hospitais psiquiátricos privados. Chega-se ao ponto de ser destinado 97% do total de recursos da Previdência Social para a saúde mental. “A doença mental torna-se, definitivamente, um objeto de lucro, uma mercadoria” (AMARANTE, 1994, p. 79). Em 06 de abril de 2001, a Lei número 10.216 “dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental” (BRASIL, LEI Nº 10.216, 2001) (Anexo 1). 23 Imersos em um emaranhado de teorias, busca-se atualmente um ponto de equilíbrio. Verdadeiras guerras intelectuais são travadas diariamente, o que pode ser considerado um marco para os tempos atuais. Assim, anormalidade está submetida ao conceito de normal, do mesmo modo que irracionalidade e a doença estão subordinadas ao conceito de racionalidade e saúde, respectivamente. Ou seja, uma depende diretamente da coexistência da outra e necessitam de amparo. É do contexto social que emana esta proteção, caracterizando-se desta forma, como berço de preconceitos, nascedouro do anormal, do louco, do alienado e dos desviantes de todo tipo diante de uma sociedade seletiva. 2.2 O doente psiquiátrico e seu meio A interação do homem ao meio pode ser compreendida dentro do processo de construção de determinada sociedade. Pode-se lançar mão, neste primeiro momento, da visão antropológica que busca dar conta da relação homemmeio, onde este intervém no meio de modo a modificá-lo, constituindo meios de satisfação das suas necessidades. As mutações bio-genéticas combinam-se a um sistema de intercâmbio com o meio, estabelecendo formas de sociabilidade (condições objetivas que influenciam a distribuição e organização no espaço). O que faz considerar que, frente as possibilidades impostas e interesses coletivos, uma mesma espécie (a humana especificamente) pode desenvolver várias formas de organização. Esta propriedade do homem faz supor que ele interfere nas condições materiais que lhe são postas pelo meio social, em vista de sua própria sobrevivência. Ao interferir na natureza e ao criar formas de organização coletiva, o homem 24 desenvolve técnicas para se apropriar dela. Reconhece-se o grau de dependência na interação homem-natureza. Na busca pela adaptação ao meio, o homem constrói um universo próprio, onde além dos recursos materiais outros recursos são criados e passam a fazer parte deste universo. A técnica, a linguagem, as transações coletivas, interferem nos relacionamentos na comunicação dos homens entre si mesmos e com a natureza. Se apropriando deste universo o homem se reconhece naquilo que vê e no que faz. A ação humana é permeada de significados. Nas relações, no desenvolver da aprendizagem, na prática do trabalho, o homem vai construindo sua identidade. A ação do homem que compreende mudanças, transformações, intervindo no meio e promovendo um tipo de produto, esta ação dá significado, estabelece relevâncias, diferencia o sujeito e o objeto, vai redefinindo as coisas, os homens o mundo que os cercam. Para Velho (1979, p. 11) “o problema do desviante é, no nível do senso comum, remetido a uma perspectiva de patologia [...]”. A sociedade com a “lógica” de suas regras não comporta uma explicação para a falta desta “lógica” e assim todo aquele que é “diferente” que expressa a sua suposta falta de “lógica” sofre um processo de segregação. No universo dos indivíduos portadores de sofrimento mental, a relação entre o objetivo e o subjetivo é permeada de conflitos. O que reflete na maneira divergente de “ler” a realidade e agir de frente as regras estabelecidas. Desmistificando as representações em torno da loucura, procura-se compreender as mediações existentes na construção dessas representações. Ao longo deste trabalho busca-se a relação entre o objetivo e o subjetivo, a realidade e a fantasia, o que está fora e o que está dentro, enfim, a relação indivíduo e 25 sociedade. A história humana confirma a possibilidade de o homem conviver com a multiplicidade e as contradições da realidade, construindo mecanismos de apropriação do meio. Mas, vale ressaltar o que coloca Castoriadis (1991), que diz que as perspectivas ‘psicogenéticas e sociogenéticas’ 2 são inseparáveis e reconduzem uma à outra: “[...] elas são inelimináveis, não podemos pensar o sujeito, as coisas, o mundo separando-os ou esquecendo-os [...]” (CASTORIADIS, 1991, p. 381). O estudioso Vygotsky em estudos sobre o funcionamento dos aspectos cognitivos, mais precisamente as funções mentais e a consciência. “Vygotsky usa o termo função mental para referir-se a processos como: pensamento, memória, percepção e atenção” (DE LA TAILLE, 1992, p. 11). Para Vygotsky, o funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações entre o individuo e o mundo exterior, as quais desenvolveram-se num processo histórico.Isso quer dizer que tanto deve considerar as ressonâncias de uma singularidade no meio em que, quanto, prestar atenção nas determinantes do meio sobre o comportamento dos indivíduos. “É porque há mundo comum e mundos privados que há mundo e problema de mundo [...]” (CASTORIADIS, 1991, p. 382). Cada indivíduo tem resguardado suas singularidades, suas peculiaridades, em seu mundo privado, o que o torna único e diferente. Mas a identidade de cada um também é uma construção social-histórica, da qual nenhum indivíduo pode estar separado. Assim as coisas, o mundo, o indivíduo, o pensamento, a linguagem, são partes da construção humana de significações e representações. E percorrer a problematização do mundo comum, leva a considerar que uma está no outro, que um depende do outro. 2 Castoriadis (1991). Psicogenéticas e sociogeneticas: relacionadas ao cognitivo psicossocial do sujeito. 26 [...] E sua relação não pode ser denominada nem antinomia, nem complementaridade, nem circularidade; ela é o que é, modelo de si mesma, pensável a partir de si mesma. Ela é o modo de ser do pensamento como pensamento histórico e como fazer pensante (CASTORIADIS, 1991, p. 383). Todo indivíduo que se comporta fora das regras estabelecidas pela sociedade, é identificado como alguém “diferente”, criando-se a necessidade do afastamento e do isolamento tendo como finalidade manter a ordem social. Assim, na relação entre o indivíduo portador de transtorno psiquiátrico e seu meio social, pode-se perceber que o sofrimento, as atribuições, o desamparo, o medo, a injustiça, a desigualdade social, enfim, a conduta humana pode ser dada como doença, se tornando uma prisão. Falar em doença significa pensar em promoção da saúde mental, que implica pensar no homem como totalidade, isto é, como ser biológico, psicológico e sociológico e ao mesmo tempo, em todas as condições de vida que visam proporcionar-lhe bem estar físico, mental e social (BOCK; BAHIA; TEIXEIRA, 1995, p. 305). Ao situar a relação cotidiana no universo da saúde mental, depara-se com questões que extrapolam o sentido do que foi dado como senso comum. Contextualizando o indivíduo em seu sofrimento mental, dentro do movimento que constitui o ambiente familiar e social, bem como sua própria singularidade, onde percebe-se um espaço para promover uma discussão sobre saúde mental, desvelando as representações sociais acerca da “loucura”, desmistificando o imaginário social. No Brasil, a assistência voltada para os doentes mentais, teve um caráter de segregação, ao passo que se compreende a privação do convívio social, o que veio se agravando com o passar do tempo. E no caminho que se percorre para desvelar as representações a cerca do sofrimento mental, no Brasil e no mundo, 27 pode-se defrontar com várias explicações que buscam dar conta da “loucura”, ou “doença” mental, ou como prefere: sofrimento mental. 2.2.1 Doença mental no contexto familiar A família é uma estrutura social tão antiga quanto a própria historia da humanidade. Através dos tempos tem assumido formas e mecanismos de funcionamento dos mais diversos. A compreensão deste processo da construção social das mais variadas formas e organizações familiares, desde as suas origens, têm na antropologia, principalmente através dos estudos realizados por Thomas Hunt Morgan (18661945) fundador da teoria cromossômica, escreveu sobre o Mecanismo da Hereditariedade “culturalismo”; (1909); Claude Branislaw Lévi-Strauss Malinowsky (1908) (1883-1942) escreveu sobre percussor a do Antropologia Estruturalista em meados de 1950, sua maior expressão. A família antes de ser uma estrutura rigidamente delineada, é processo, é relação, é movimento, tem ritmo próprio de apropriações dos valores, crenças, hábitos e atitudes ordenadores das relações e praticas nesta esfera, em acordo com o meio social e a época histórica. Desta maneira, considerando famílias, no “plural” suas praticas, consequentemente, não poderiam deixar de ser heterogêneas. Neste segmento social médio urbano, a família apresentou-se ora fortalecendo, ora fragilizando os vínculos, seja nas suas relações de consangüinidade quanto nas relações de afinidade. Essa dinâmica das relações familiares sustenta-se, por um lado, na valorização dos afetos, sentimentos e emoções e, por outro lado, na ansiedade/angustia e desestruturação desta relação. 28 Para conviver com sua nova realidade, a família necessita fazer um rearranjo do sistema e, como conseqüência familiar, construir um novo nível de equilíbrio. Assim sendo, é importante considerar que a noticia da doença, é imediato a descoberta do problema, podendo ser encontrado em outros momentos do ciclo vital do individuo e da família em diferentes comportamentos ou formas de reações (ASSUMPÇÃO, 1991, p. 113). Para processar e elaborar as mudanças, cada ser humano tem seu próprio ritmo e lida, ainda, com a influência de fatores sociais refletidos em seu contexto. Estes fatores externos e desconhecidos leva as famílias a romper vínculos com sua geração de origem. As limitações teóricas e a influência dos valores e crenças sociais têm sustentado uma ação de controle, de manipulação e de repressão sobre as famílias vitimadas com seus entes portadores de transtornos mentais. Elas são transformadas em objetos passivos da “ditadura” fundamentada na idéia de que a realidade tem que se adequar ao modelo idealizado, pórem, enraizadas pelo principio de excluir o individuo “anormal” e “perigoso” do convívio social. O número de famílias que enfrentam diariamente confusão, frustração e dor por ter um membro familiar com quadro de transtorno psiquiátrico é cada vez mais significativo em todos os países. Para Mcelroy (1996), para essas famílias a luta é solitária, pois elas estão isoladas numa sociedade que geralmente não tem oferecido o devido auxílio. A gravidade desse problema tem sido, muitas vezes, desconsiderada. Atribuídas a fase de crescimento da infância ou de descuido no comportamento do filho por parte dos pais. Os pais, porém, costumam saber intuitivamente quando há algo errado com seu filho mesmo que tenham dificuldade para se expressar o que seja. “Começar, uma busca de respostas, uma odisséia que pode levar as famílias a percorrer um trajeto sem fim de clínicas, escolas e centros de serviço social” (MCELROY, 1996, p. 11). 29 Em alguns casos, os estágios da doença mental acontecem lentamente, no decorrer de um longo período de tempo, e os pais tem dificuldade de discernir se seu filho está se comportando dentro dos limites do comportamento “normal” ou não. Em outros casos, os estágios iniciais se manifestam repentinamente, e os sintomas se mostram suficientemente evidentes para provocar preocupação imediata. Segundo Knobel (1992), o impacto da doença dos filhos sobre os pais provoca uma demanda sistêmica na família de ordem emocional e relacional, além daquilo que a mesma acredita que pode dar conta, sem que seja preciso recorrer a ajuda externa, que, na maioria das vezes acarreta uma desestruturação no ambiente familiar devido a doença mental. Para Riviere (1981, p. 55) “uma determinada insegurança social instala-se no seio do grupo. Essa insegurança está ligada a ansiedade diante da mudança”. A família de pessoas mentalmente enfermas, antigamente era considerada secundária do ponto de vista de tratamento, sendo inclusive, afastada de todo processo terapêutico. A unidade de diagnóstico de tratamento era o indivíduo por se partir do princípio de que a pessoa podia “curar-se” quando afastado do seu contexto social e tratada isoladamente, no entanto hoje, os problemas do doente mental, são vistos não só como problema do doente, mas sim também de sua família e comunidade, influenciado na sociedade por toda as conseqüências, Não se pode negar que a família é a base de qualquer indivíduo, onde ele precise de apoio em todos os momentos. Pode-se considerar os transtornos afetivos de uma pessoa como sintoma de um conflito familiar, também se pode fazer a mesma analogia da família em relação à sociedade. A sociedade funciona como reguladora das condutas individuais e grupais. 30 Segundo Assumpção (1991), é de suma importância elaborar um tratamento com a família. Pois a família, além de ter que lidar com seu familiar doente, tem que enfrentar o estigma que a doença provoca perante a sociedade, portanto, há uma adesão crescente de profissionais neste campo, o que reflete uma mudança de orientação, principalmente nas instituições de saúde mental, que se preocupam em cumprir as várias funções sociais, inerentes, por definições, a sua própria estrutura. Neste contexto, o serviço social apresenta-se para a família como mediador, num posicionamento pautado pela aceitação realística da situação, aprendendo a conviver com um membro da família com transtorno psiquiátrico, assim, a família conhece a doença e começa a mobilizar-se em busca de alternativas de tratamento que torne menos doloroso enfrentar este problema. 2.2.2 O estigma do sofredor psíquico Os pacientes psiquiátricos são pessoas marcadas pela sociedade. A doença mental dá a essas pessoas um status inferior e uma imagem pública desfavorável. Ninguém sente-se ofendido ou diminuído por ser chamado de asmático ou diabético, mas ser lembrado como doente mental, não deixa ninguém se sentir bem. Segundo Goffman (1995, p. 115) “o estigma revela que o indivíduo está inabilitado para a aceitação social plena”. O estigma é tão degradante e tão forte, que uma vez rotulada, mesmo as particularidades positivas de uma pessoa não são levadas em consideração, reduzindo suas oportunidades de vida. 31 Esse tipo de atitude gera nessas pessoas um sentimento de rejeição, discriminação e ridicularização, sentimentos esses que tornam-se visíveis no paciente. O paciente sente-se excluído e não respeitado enquanto ser humano. Vários aspectos da sua vida são abalados, principalmente sua auto-estima, que aos poucos essas pessoas entram num processo de desvalorização pessoal, conseqüentemente diminuindo sua qualidade de vida social e familiar. Vive-se numa sociedade nas quais as pessoas valem pelo que elas têm ou pela profissão que exercem, e não pelo que elas são. Aos olhos da sociedade, o sofredor psíquico nada mais tem a oferecer e a proporcionar, muito pelo contrário, eles servem apenas para despertar curiosidade e aproximam-se para saber como se comporta um “louco”. Todo ser humano realiza sua existência assumindo vários compromissos sociais: o de pai, de filho, marido, vizinho, colega de trabalho e quando essa pessoa é rotulada como um doente mental, todos esses papéis lhe são vetados, e assim ela passa então a experimentar sensações de angústia, revolta e solidão. Historicamente a pessoa com problemas mentais é considerada perigosa e este mito acarretou outras rotulações como: “o paciente é agressivo e violento”, “o paciente é sempre incoerente na sua forma de pensar e agir”, “esta pessoa tem cara de doente mental”, “o paciente é incapaz e inútil” e muitos outros mitos que apontam aos sofredores psíquicos. Essa estigmatização é fruto de alguns mitos que ao longo dos anos foram se criando em torno de sofredores psíquicos, mitos esses que só colaboram ainda mais para seu isolamento social. 32 2.2.3 O sofredor psíquico e o direito à cidadania As condições de vida na sociedade moderna e a concepção de cidadania, comumente pensada, fazem refletir sobre o sofrimento mental como um fator que denuncia algo que extrapola o sentido de doença, por não caracterizar apenas “disfunções físicas” ou “desvios comportamentais” devendo ser “combatido” por meras “manipulações técnicas”. A saúde é tema que causa grande preocupação na população em geral, e o descaso por parte do governo, coloca esta preocupação na população num plano mais objetivo, o que nos remete ao questionamento condições de vida e de cidadania nestes tempos modernos. Cidadania é comumente pensada e operacionalizada como a relação existente entre uma pessoa e o Estado, na qual a pessoa deve obediência, e o Estado, proteção. Relação qualificada pela homogeneização: cidadania afirma o mesmo e nega a diferença e só pode ser realizada pela destruição das singularidades e pela heteronomia: cidadania é colocar-se sob a tutela de outrem, para, paradoxalmente, ter garantido seus direitos e sua liberdade (SAWAIA apud SPINK, 1994, p. 147). Descristalizando este sentido dado à cidadania, nos coloca Spink (1994, p. 148) que a “cidadania pressupõe igualdade de direitos, sendo que um dos mais importantes é o direito de viver a própria vida e ser único e diferente dos demais”. Cidadania é algo a ser construído, mas é também um espaço de conquistas de direitos, participação, emancipação, autonomia, enfim, é o espaço onde os homens têm a possibilidade de exercerem escolhas. Ao discutir a saúde e a cidadania é levado a repensar as condições de vida da população em seus vários aspectos. Por exemplo; quando dados estatísticos demonstram o aumento de indivíduos com hipertensão, o que leva à refletir os hábitos e o ritmo de vida na sociedade moderna, na quantidade de produtos químicos produzidos pelas indústrias de alimentos. Quando depara-se com altas taxas de mortalidade infantil, em determinadas regiões, 33 pode-se deparar com um alto grau de desnutrição. E ainda quando se fala em fracasso escolar, distúrbios na aprendizagem, questiona-se o sistema educacional. Dessa forma, livra-se daqueles tipos de explicações que buscam individualizar, ou reduzir os problemas ao nível individual. O que propõe-se é entender tais problemáticas em suas multideterminações. No final do século XIX, houve uma mudança no modo de tratar a “loucura”. Assim, o “desviante” deixa de ser um problema meramente social e a psiquiatria passa a se ocupar deste campo. Enquanto Pinel marcou pela luta por avanços na forma de tratamento, Freud traz novos conceitos teóricos e a loucura passa a enquadrar-se nos estudos científicos. Legitimando o “desvio” como patologia, torna-se viável a construção de hospitais psiquiátricos, para dar conta da conduta humana. No Brasil, os abusos e violações dos direitos dos pacientes têm sido objeto de denúncias e de protestos. Muitos ainda concordam com a ausência e a incapacidade de legislações que reconheçam os direitos das pessoas que padecem de sofrimentos psíquicos. A implementação de medidas protetoras dos direitos dos pacientes seja talvez a área mais delicada dentro das legislações psiquiátricas. Porém, em qualquer momento desta caminhada deve-se ter como regra básica que o saber, inclusive o saber psiquiátrico, não pode contribuir para o desrespeito, a discriminação, a subjugação do ser humano. É evidente que ainda há um longo caminho a percorrer, para que a consolidação da cidadania da pessoa com transtorno psiquiátrico venha contribuir para a melhoria da qualidade de vida destas pessoas. Mas para isso é preciso mudar o modo de pensar a pessoa doente mental em sua existência e não a partir do seu diagnóstico. Para isso, torna-se necessárias ações de saúde mental que integrem outras políticas sociais como educação, 34 cultura, esporte e lazer, seguridade social e habitação. Este modelo de multidisciplinaridade tem a capacidade de substituir o “hospitalocêntrico” em uma rede de serviços qualificado e diversificado, que tenha como princípio a integridade do doente mental como cidadão, vindo a garantir a qualidade de vida do paciente mesmo estando hospitalizado. A dimensão social da vida é construída no cotidiano. Onde os homens vivem suas vidas e realizam suas atividades, dando, à vida humana uma dimensão de perenidade e prolongamento, possibilitando a construção do mundo e da sua própria identidade “A vida cotidiana é a vida de todo homem. Todos a vivem sem nenhuma exceção [...]” (HELLER, 1992, p. 17). O cotidiano é também o espaço da particularidade, o que caracteriza os modos pessoais, a forma singular de cada indivíduo viver a sua própria vida e constituir-se enquanto sujeito histórico. Em geral, o tratamento dispensado ao doente mental após a ocorrência do surto psicótico é uma espécie de readaptação ao convencional. Porém, essa readaptação não é tão simples, pois a pessoa teve rompido seus vínculos com o mundo convencional como, por exemplo, chegam a serem demitidos dos empregos ou são rejeitados pela família e/ou sociedade. O estigma de ser ou ter sido um paciente psiquiátrico tem desdobramentos que podem ser analisados sob vários aspectos. Podem remeter a uma discussão sobre projeções da sociedade acerca da loucura. Ainda sob tais projeções subtrai-se dos “anormais” a condição de cidadania, prerrogativa dos “ajustados”. No que tange a cidadania, deixa-se vislumbrar por trás da constatação da amputação da dignidade humana, perda progressiva da auto-estima e da autonomia 35 individual e coletiva, a conseqüência central do alijamento dos direitos de cidadania dos doentes mentais em seu dia-a-dia. O direito de cidadania do doente mental deve ser o direito de receber assistência adequada, a garantia de participar da sociedade e de não ser puramente encarcerado em hospícios. É nesta insignificatividade que seja vida privada e vida pública, cidadania e vida política que se abriga o mal-estar que sente-se contemporaneamente diante do que se chama inospitalidade do humano, ou seja, a inospitalidade do homem em sua humanidade em sua singularidade. Tal insignificatividade atua como uma estrutura objetiva que dá contorno de nosso atual modo– de–ser-no-mundo, nos identificando historicamente (CRITELLI apud MARTINELLI; RODRIGUEZ; MUCHAIL 1995, p. 88). A dificuldade de aceitar o diferente, de compreender o outro, de respeitar a singularidade de cada ser humano, são marcas de uma sociedade massificada, onde todos devem ser iguais, enquanto deve-se ter, resguardada, a igualdade. E a cidadania vai se construindo a partir de um jogo social em que o indivíduo, marcado pelo individualismo, empreende-se à conquistas a partir do outro, ou contra o outro e não com os outros. Lutar pela cidadania das pessoas com transtornos psíquicos, buscando harmonizar a ciência e a moral, colaborar para que o ser humano cresça e alcance, em toda plenitude, sua liberdade, realizando sua dimensão humana enquanto membro desta sociedade. Na luta por cidadania, a prática do serviço social é revigorada. É revigorada, também, o cotidiano “bagunçado” pelo sofrimento mental na busca de novos horizontes. E desconstruindo as representações a cerca do sofrimento mental, o indivíduo se revigora na busca pela saúde mental. 36 2.3 Representação do serviço social O trabalho social no campo da saúde, dentro do atual contexto dos anos 90, coloca diante de medidas políticas de cunho neoliberal que com um discurso de defesa e incentivo ao mercado financeiro, promovem cortes nas políticas sociais. Portanto as políticas de saúde sofrem restrições impostas pelas condições econômicas e sociais. O que se vê não é apenas uma crise social, é também uma crise do Estado. Com a crise do capitalismo o neoliberalismo surge para garantir a supremacia dos grupos dominantes. Se antes o Estado se transforma em elemento de dinamização, intervindo para resolver a crise burguesa, no neoliberalismo o Estado aplica políticas sociais nas situações mais imediatas, nos setores mais carentes e em tempo limitado. Ações tópicas para conter a pobreza e a miséria, que ameaçariam e trariam conseqüências, prejudicando e desestimulando o capital privado. Dentro desse contexto, encontra-se o resgate da questão do acesso e da qualidade dos serviços de saúde, especificamente no campo da saúde mental. Este cenário exige respostas do serviço social, frente as demandas colocadas. A intervenção nas instituições de saúde na esfera pública, perpassa por questões tangentes às políticas sociais. “Ao implantar políticas sociais com intenção de reintegrar os desviados sociais, estes são marcados pela própria existência dessa política social em relação ao desvio, agora definido oficialmente como anormal” (FALEIROS, 1995, p. 57). A saúde é um dos valores mais importantes na sociedade, logo quem não dispõe de saúde será negativamente valorizado. É importante ressaltar uma das 37 diferenças básicas entre doença física e doença mental: diversamente da primeira, que geralmente causa solidariedade, a segunda causa medo e repulsão. Os doentes mentais são marcados pela sociedade, tornam-se estigmatizados e inabilitados para a aceitação social, reduzindo, assim, sua qualidade de vida. Com a expansão das Santas Casas de Misericórdia na década de 80, a adesão do Assistente Social às novas práticas do setor de saúde assume um papel importante diante das propostas éticas centrais, favorecendo a universalização das ações deste público-alvo. No campo da saúde mental, a segregação, a desigualdade, a injustiça é reforçada dentro e fora das instituições de saúde. Ao passo que se individualiza o problema, o caráter corretivo e ajustador das práticas, que reproduzem as ideologias de classes dominantes, acaba por contribuir para o afastamento, o isolamento do convívio social e, conseqüentemente, para o confinamento institucional. Ao compreender o processo saúde-doença como decorrência das condições sociais, amplia-se nossa visão para a magnitude da problemática da doença mental na sociedade, sobretudo na discriminação e exclusão dos segmentos sociais para com esta demanda. Neste contexto cultural, o serviço social teve inserção em instituições psiquiátricas, sem relação direta com as concepções patológicas. O Serviço Social enquanto uma prática engajada na divisão sócio-técnica do trabalho reconhece a importância da pesquisa social e do compromisso com a promoção da qualidade de vida de pessoas portadoras de transtornos psiquiátricos. Para isso, a proposta do serviço social nos exige uma postura pluralista, trabalhando com equipes interdisciplinares. 38 Entendendo-se a interdisciplinariedade como postura profissional e princípio constitutivo da diferença e da criação compreender-se-á que o Serviço Social [...] é uma profissão interdisciplinar Por exelência [...] A interdisciplinariedade Enriquece-o e flexiona-o [...] (RODRIGUES apud MARTINELLI, 1993, p. 157). A inserção do serviço social nesta área de atuação impõe um desafio, o de construir uma intervenção qualificada e adequada para a saúde mental. O assistente social insere-se na equipe interdisciplinar como um profissional que articula o recorte social, tanto no sentido das formas de promoção, bem como nas causalidades das formas de adoecer, intervindo em todos os níveis dos programas de saúde. O assistente social tem competência para atuar junto aos fenômenos sócio-culturais e econômicos. Esta intervenção do serviço social na prática hospitalar psiquiátrica adere um posicionamento de mediação enquanto facilitador da integralidade das ações, para que a saúde mental possa ser percebida como produto das condições da qualidade de vida do cidadão. A instrumentalidade do exercício profissional pode ser pensada como uma mediação do serviço social no processo de conquistas das condições especiais dos pacientes baseada nas relações sociais instauradas. “A mediação sempre envolve a busca de alternativas que devam considerar os diferentes interesses dos indivíduos e das relações” (IAMAMOTO, 1992, p. 41). Sem dúvida o profissional do Serviço Social está apto a trabalhar com esse público alvo na dinâmica de resgate e compromisso social, através da confiança estabelecida, criando mecanismos de resgate do bem-estar do paciente morador caminhando para a melhoria da qualidade de vida. Adotar uma postura teórico-metodológica para contribuir no processo de desvelamento e desconstrução das representações sociais ao longo do período profissional. 39 O assistente social deve saber avaliar a influência dos fatores sociais na situação do paciente, possibilitando ao médico uma visão mais ampla do quadro clinico e tornando possível um melhor planejamento terapêutico. É neste espaço de intervenção que o serviço social busca subsídios técnicos para sua prática profissional, proporcionando ao paciente a interação e reflexão de suas relações existentes com o seu meio social, podendo conquistar uma melhoria na qualidade de vida do cidadão. Cabe, ao serviço social, enquanto facilitador da mediação entre paciente psiquiátrico e o meio social, proceder de forma a minimizar os efeitos deletérios sociais causados pelos transtornos mentais, tentando impedir a institucionalização e proporcionando uma maior reintegração social durante a internação, melhorando, assim, a qualidade de vida do paciente. Ao trabalhar com pacientes psicóticos em estrutura hospitalar, começa os questionamentos sobre a origem da doença mental e procura compreender o que pode influenciar para o desenvolvimento da doença: a carga genética, questões neuroquímicas ou o meio social que o paciente convive. Sabe-se que o Serviço Social tem um papel fundamental no tratamento de pacientes com transtornos psiquiátricos, podendo contribuir ou não para a evolução da doença. Diante da dificuldade encontrada em conciliar uma convivência familiar saudável relacionado-a com a doença mental, assim como, o comprometimento do paciente diante da evolução da doença, alguns pacientes encontram-se institucionalizados em hospitais psiquiátricos, este se tornando, por sua vez, a residência do doente. Esta realidade pode ser visualizada na Casa de Saúde Rio Maina, que atende pessoas portadoras de transtornos psiquiátricos desde 1969, com a função de tratar pacientes em “surto”, propriamente dito, retornando ao convívio familiar e 40 social após o tratamento hospitalar concluído. Porém, alguns pacientes psiquiátricos residem no hospital, na qual, tornam-se dependentes de uma rotina monótona e, na maioria das vezes, sem perspectivas de mudanças, ameaçando a qualidade de vida deste ser humano. A Casa de Saúde oferece aos pacientes internados na instituição um Plano Terapêutico que presta serviço de psicologia, terapia ocupacional, nutrição e serviço social para contribuir no tratamento hospitalar com maior eficácia. A respeito da qualidade de vida, pode-se entender que ela tem uma relação direta com o bem-estar, ou seja, quanto maior for o bem-estar sentido por determinada pessoa, melhor será sua qualidade de vida. Entretanto, a forma como este bem estar vai ser sentido pela pessoa não depende unicamente, de uma dimensão subjetiva, mas está também relacionada a uma dimensão histórico-social. Nesta perspectiva, o serviço social tem interesse em compreender sobre o prisma da qualidade de vida, como se dá este processo de bem-estar social dos pacientes adulto moradores da Casa de Saúde e como a categoria pode contribuir no quadro diagnosticado pela Medicina. Percebe-se no meio hospitalar que parte dos profissionais considera apenas o aspecto neuroquímico para o tratamento destes pacientes não avaliando o homem como um todo, suas relações sociais, seus vínculos e aspirações. A busca de modelos que integre aspectos psicossociais ainda está apenas nos discursos, porque na prática ainda é um desafio. 2.3.1 Qualidade de vida A busca pela melhoria da qualidade de vida é uma procura incessante do ser humano. Ao afirmar isso, está-se partindo da tese de que uma das características fundamentais da nossa espécie, é a eterna necessidade de querer 41 viver bem, de constantemente vislumbrar novas condições para a melhoria do cotidiano. Para Buarque (1993, p. 159), “talvez nenhum conceito seja mais antigo, antes mesmo de ser definido, do que “qualidade de vida”. Talvez nenhum seja mais moderno do que a busca da qualidade de vida”. Contextualizando o significado da palavra “qualidade” encontra-se que esta é definida como “aquilo que caracteriza uma coisa” (BUENO, 1992, p. 931), que adjetiva e possibilita a designação de uma determinada particularidade, de um valor. Ou seja, na maioria das vezes interpreta-se sobre o termo um julgamento valorativo em relação ao que seja uma boa, regular ou péssima qualidade de vida. “Vida” é o movimento de troca socialmente construído, movimento esse que expressa energias, crenças, valores, conhecimentos, sentimentos, desejos, sonhos e práticas, que produz o espírito humano na sua historia individual/coletivo. “Vida é expressão, é comunicação, é ruído, é presença sentida de varias formas, como odores, palavras, gestos, toques, escritas... e toda forma de energia expressa nos processos de produção humana dos mais simples às mais avançadas formas” (PATRÍCIO, 1999, p. 48). A vida é construída em toda sua existência através de interações de diferentes dimensões e padrões, de acordo com sua particularidade cultural. A medida que se entende a vida como processo de interação, mantém-se que, viver é estar em constante processo de possíveis transformações, ou seja, possíveis mudanças de qualidade de vida. Portanto, qualidade de vida, enquanto produto e processo, diz respeito aos atributos e as propriedades que qualificam essa vida e ao sentido que tem cada indivíduo dentro de seu contexto. 42 A qualidade de vida do ser humano expressa a qualidade de sua saúde, suas possibilidades e limitações individuais e coletivas. Neste sentido, ser saudável é ter a qualidade de vida que satisfaça o indivíduo enquanto cidadão, no que diz respeito às necessidades de ser, ter, fazer e estar no convívio familiar. Processo de viver significa estar no mundo, constantemente interagindo, conhecendo, produzindo, participando efetivamente, compartilhando, sentindo, criando, ensinando, aprendendo, morrendo [...] e participando, consciente ou não disso, da construção da vida do outro (PATRÍCIO, 1999, p. 50). Entende-se que estar presente na promoção da qualidade de vida significa participar da construção da vida com um olhar crítico, ético e humanitário, sendo menos individualista e estigmatizante, aceitando alguns princípios básicos que possam medir a transformação da realidade social de um sofredor psíquico. Desta forma, a busca por uma definição meramente quantitativa, pautada em indicadores pré-estabelecidos, mostra-se insuficiente, pois omite dados importantes referentes às percepções, julgamentos e valores que cada indivíduo possui em relação ao termo “qualidade”. A caracterização social e o meio social que o indivíduo convive podem forjar os padrões de entendimento do que seja considerada uma vida com qualidade. Estes padrões dependem da inserção do indivíduo em determinada classe social, comunidade ou grupo, estão também intimamente relacionadas a época e cultura social como um todo. Num artigo escrito por Crocker (1993), nos fornece alguns subsídios para análise ao destacar um ponto de partida importante para a definição deste termo: deve-se perguntar quais as coisas que nos cercam, que são tão importantes, tão 43 relevantes a ponto de que se elas não existissem, não pode-se considerar um indivíduo como pessoa. O ser humano somente se desenvolve como pessoa através da cultura. E ainda necessita principalmente de carinho, de amor, de contato com o outro para seu desenvolvimento emocional e psíquico. Em resposta, pode-se afirmar que tudo que se refira ao ganho de bemestar, conseqüentemente, com a melhoria da qualidade de vida, estará proporcionando melhores condições de saúde para os pacientes psiquiátricos. Neste sentido, Dejours (1986, p. 9) destaca que “quando temos uma doença, esta tem momentos de evolução, de crises, que não acontecem a qualquer momento da vida. Elas ocorrem justamente em momentos precisos, quando se passa alguma coisa no plano psíquico, no plano mental, no plano afetivo”. Em contrapartida deste pressuposto o ganho de bem-estar pode proporcionar a diminuição das doenças psicossomáticas (relacionadas à tristeza, à melancolia, ao stress, etc.) traduzindo-se, assim, numa melhoria da qualidade de vida do indivíduo. Devido à doença mental, muitos indivíduos têm sua maneira de viver diferenciado do seu ambiente natural. Na maioria das vezes passam a viver parte de suas vidas em tratamento, dependendo da rede de atendimento em saúde mental, na maioria das vezes rompendo laços de afetividade com seu meio social. Diante deste contexto, a área da saúde buscou o estado de bem-estar destas pessoas, almejando possibilitar a melhora da qualidade de vida dos pacientes com transtornos psiquiátricos. As novas políticas de saúde mental propõem o tratamento ambulatorial para pacientes psiquiátricos em substituição do modelo manicomial. Diante desta 44 reestruturação, o impacto da doença sobre a qualidade de vida dos pacientes tem sido objeto de escuta e avaliações. A necessidade de melhor entender as limitações e o sofrimento ligado as doenças mentais tem motivado vários estudos desta população, e os resultados tem influenciado a intencionalidade de algumas prestadoras de serviços da área de saúde mental, que passam a considerar a efetividade dos tratamentos do ponto de vista dos usuários, bem como da eficácia e eficiência que estão sendo proporcionadas pelo serviço. A área da saúde mental precisou de muito tempo para compreender a totalidade do indivíduo como um ser biopsicossocial, bem como, aliar a importância dos medicamentos, com moradia, o resgate de habilidades sociais, educação, lazer, resgate da auto-estima e percepção de bem-estar psicológico, como um conjunto de fatores necessários para a melhoria da qualidade de vida dos portadores de transtornos psiquiátricos. Segundo Roeder (2003, p. 35), de acordo com o relatório final da 2º Conferência Nacional de Saúde Mental (1994), “a saúde mental deve propor um conjunto de dispositivos socioculturais que partam de uma visão integrada das várias dimensões da vida do paciente.” Pode-se dizer que qualidade de vida reflete a satisfação harmoniosa dos objetivos e desejos de alguém, como também, o grau de percepção que as pessoas têm diante da capacidade de satisfazer suas necessidades psicobiológicas. Avaliar a qualidade de vida de pessoas portadoras de transtornos psiquiátricos pode ser uma maneira de determinar o impacto do cuidado e tratamento para cada tipo de patologia. Ela tem sido objeto de estudo na área da saúde, por ser considerada importante aspecto na avaliação dos resultados de 45 diferentes procedimentos terapêuticos usados nessa população. Não apenas os aspectos relacionados à redução dos sintomas e prolongamento da vida estão sendo investigados, mas, também, a sobrevida do doente e como a qualidade de vida se apresenta para ele próprio e para a sociedade. 2.3.2 O binômio serviço social x qualidade de vida A vida do ser humano tem sido um movimento constante de busca pela satisfação. Viver cuidando-se das próprias necessidades (de ser, agir, pensar, conhecer, fazer) é estar intervindo nas próprias necessidades. A busca, enquanto processo, é mediada por interações culturais como crenças, valores, conhecimentos, normas, práticas e, principalmente, sentimentos. Este processo se expressa na qualidade de vida do indivíduo enquanto cidadão inserido numa sociedade. Diante dessa busca pela qualidade de vida, aspectos como sobrevivência e melhorias físicas aliam-se a condições básicas para se viver bem no meio social que o indivíduo está inserido. Portanto, qualidade de vida, enquanto produto e processo, diz respeito aos atributos e às propriedades que qualificam esta vida e ao sentido que tem cada indivíduo. Porém, com o empenho da sociedade em suprimir a manifestação da loucura, ela passa a ser vista como mais um elemento colaborador na discriminação da mesma; e, conseqüentemente, contribui para o agravamento da qualidade de vida do paciente psiquiátrico. Para perpetuarem-se os rótulos precisam ser sustentados, por este motivo, surge a necessidade de melhor elaborar a opinião social sobre o estigma 46 associado ao fenômeno loucura, assim, percebe-se a atribuição do serviço social para este processo de reflexões sobre a realidade do sofredor psíquico, criando condições para o enfrentamento dos interesses sociais vigentes. Qualidade de vida tem sido tema de interesse na área da saúde, porém pouco explorado entre sofredores psíquicos. Considerando tópicos que a definem como, por exemplo, saúde física, emocional e social, o serviço social vem para contribuir para a conquista melhoria da qualidade de vida de pacientes psiquiátricos institucionalizados, promovendo a ampliação da cidadania e uma consciência menos estigmatizada do meio social. Segundo Iamamoto (1992, p. 69), o serviço social tem por objetivo “remediar as deficiências dos indivíduos e das coletividades, quando se dirige ao ajustamento de um determinado quadro, decorrentes de certas circunstâncias e não de defeito estrutural”. A perspectiva do serviço social é de poder contribuir para uma mudança dos paradigmas impostos pela estrutura social, estigmatizando e traumatizando esses indivíduos marginalizados pela sociedade, criando condições essenciais para o alcance da qualidade de vida tão almejada pelos envolvidos neste processo. São múltiplas as mediações que constituem o tecido das relações sociais que envolvem este processo de produção e reprodução social da vida do sofredor psíquico em suas expressões materiais e espirituais. Serviço social é o conjunto de conhecimentos científicos e técnicas psicológicas e sociológicas aplicadas através do processo de ajuda social humana em suas esferas sócio-econômicas, sóciocultural e societal. A instrumentalidade do exercício profissional pode ser pensada como uma mediação do serviço social, que é o espaço para se pensar nos valores subjacentes 47 às ações, no nível e na direção das respostas que se esta dando, bem como no processo de conquista da qualidade de vida baseada nas relações instauradas entre o serviço social e o paciente morador. Para tanto, exige processualidade da ação que é dinâmica do exercício profissional voltada para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes moradores da Casa de Saúde Rio Maina, que é o foco central deste estudo direcionado. Esta processualidade encarrega-se em estreitar a relação entre o plano ideário e o plano concreto ou que se projeta enquanto analise e compreensão para o que se fará diante da atuação do assistente social, buscando maior efetividade para se alcançar os resultados esperados. Os princípios básicos de instrumentalidade para a intervenção do assistente social apontam a observação como instrumento preciso neste processo Vislumbrando a realidade e percebendo-se como integrante de uma sociedade distintiva; enquanto classes são privilegiadas outras são “castradas” do livre direito de expressão, surge a necessidade de elaborar um estudo com intuito de esclarecer e abrir caminhos a uma nova forma de viver enquanto paciente psiquiátrico. Porém vale ressaltar que, a realidade não se modifica com a rapidez com que se concebe uma mudança. São ações continuadas e sucessivamente realizadas que vão construindo as modificações de amanha, com tempo e perspicácia, para assim, chegar-se numa mudança significativa e geradora da melhoria na qualidade de vida dos pacientes moradores. Partindo destes princípios é que se propõe realizar uma investigação a respeito da contribuição do serviço social no tratamento do sofredor psíquico, mais 48 especificamente, de que maneira a profissão pode trazer melhoria para a qualidade de vida destes pacientes moradores da Casa de Saúde Rio Maina. Apresenta-se a seguir os procedimentos metodológicos que irão nortear a experiência de pesquisa a ser realizada. 49 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 3.1 Hipóteses • Os pacientes carregam consigo o estigma da doença mental; • A intervenção do Serviço Social oportuniza meios para elevar a autoestima dos pacientes psiquiátricos moradores da instituição, consequentemente melhorando a qualidade de vida destes e o direito da cidadania. 3.2 Delimitação do estudo O presente estudo foi realizado na Casa de Saúde Rio Maina, situado no município de Criciúma, tendo como sujeitos de estudo os pacientes com transtornos psiquiátricos moradores da Casa de Saúde Rio Maina. 3.3 Delineamento do estudo Este estudo foi parte de uma investigação que avaliou a contribuição do serviço social para a promoção da qualidade de vida dos pacientes moradores da Casa de Saúde Rio Maina em Criciúma, Santa Catarina. Os familiares e/ou responsáveis pelos pacientes foram convidados a participar da pesquisa e esclarecidos quanto aos objetivos do presente estudo. Com a concordância dos familiares e/ou responsáveis, o termo de consentimento livre e esclarecido foi assinado por eles, pelo pesquisador e pelo Diretor Técnico da instituição, conforme modelo (Anexo 02). 50 Para preservar o sigilo, não serão citados os nomes dos pacientes, a identificação será feita por letras do alfabeto de acordo com o protocolo de observação. 3.4 Instrumento de pesquisa Para obter-se o conhecimento científico, faz-se necessário conhecer as construções mentais que possibilitam alcançar os objetivos almejados. Isso significa a determinação do método que, segundo Leopardi (2002, p. 98), "é o caminho para se chegar a determinado fim. É o método científico como o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicas adotados para se atingir o conhecimento". Esta pesquisa classifica-se também como descritiva, tendo como objetivo prioritário propor possíveis intervenções que procurem ampliar o nível de conhecimento sobre a qualidade de vida do paciente psiquiátrico morador da Casa de Saúde Rio Maina. Segundo Leopardi (2002), a pesquisa descritiva tem por objetivo básico descrever as características de determinada população ou fenômeno e estabelecer possíveis relações entre variáveis. O presente estudo obteve caráter descritivo e observacional, por se tratar de pacientes com transtornos psiquiátricos agudos e crônicos, não capacitados à responderem questionários. Segundo Leopardi (2002, p. 129), pesquisa documental é aquela que se utilizam documentos para sua descrição, assim como: “[...] os documentos considerados fontes de informação são os que ainda não receberam organização, 51 tratamento analítico e publicação. [...] A avaliação desses documentos deve provar sua autenticidade, assim como a validade de seu conteúdo [...]”. A observação é o ato de apreender coisas e acontecimentos, comportamentos e atributos pessoais e inter-relações concretas. É mais do que ver e ouvir: é seguir atentamente o fenômeno, selecionando o que o torna mais importante e significativo, a partir de intenções específicas. Na observação procurou-se avaliar o que ocorria e como ocorria de maneira sistemática e objetiva. A autora apresenta seu parecer sobre observação sistemática: [...] este é o caso em que se deseja uma descrição precisa do evento investigado. Neste caso, o pesquisador deverá utilizar um instrumento previamente definido, contendo categorias necessárias ao estudo. Para isto, deverá fazer um estudo exploratório prévio e uma sistemática de reorganização do instrumento à medida que seus achados forem sendo bem discriminados (LEOPARDI, 2002, p. 174). A observação científica se distingue da observação comum, espontânea, que todo o indivíduo humano realiza a todo instante de sua vida, por ser uma observação controlada. Constitui-se em elemento fundamental para a pesquisa. Nos estudos observacionais o investigador observa de uma forma relativamente livre e natural o comportamento de alguém, com ou sem o conhecimento de quem está sendo observado. Para se diferenciar a observação que normalmente se realiza em muitas outras atividades daquela que visa à obtenção de dados cientificamente significativos, pode-se denominar a esta última de observação sistemática. A observação nada mais é que o uso dos sentidos com vistas a adquirir os conhecimentos necessários para o cotidiano. Pode, porém, ser utilizada como procedimento científico, à medida que: 52 • Serve a um objetivo formulado de pesquisa; • É sistematicamente planejada; • É sistematicamente registrada e ligada a proposições mais gerais; e • É submetida a verificação e controles de validade e precisão. Na observação sistemática, o investigador elabora um plano para a organização e o registro das informações, observando todos os aspectos que envolvem o assunto. Os dados foram coletados através de protocolos de observação (Anexo 3) que relacionam itens presentes na rotina hospitalar dos pacientes como: alimentação, repouso, vestuário, relacionamento com equipe de saúde, relacionamento com outros internos, comportamento e atividades sociais, sendo identificados por letras do alfabeto, preservando, assim, a identidade dos pacientes. O protocolo de observação foi uma descrição exata do que aconteceu na sessão. Nele foi transcrito a fala do sujeito e do facilitador exatamente como aconteceu. O protocolo não deve ser uma interpretação da sessão, é a simples transcrição fiel do que aconteceu. A análise acontece posteriormente a partir dos dados do protocolo, por esse motivo ele deve ser fiel ao que foi dito, das expressões, das ações e da produção do sujeito. Os protocolos receberam códigos de acordo com a seguinte disposição e exemplo: POA • P – Protocolo • O – Observação • A – Letra do alfabeto correspondente ao sujeito observado e analisado 53 3.5 População e amostragem A população é de 15 pacientes moradores, sendo que o estudo foi realizado com 6 pacientes moradores a mais tempo na instituição, que não apresentam vínculo familiar e social fora da instituição e que permanecem a mais de 10 anos institucionalizados. 3.6 Caracterização da instituição A Casa de Saúde Rio Maina foi fundada em 10 de outubro de 1968 por Dr. Lúcio Gonçalves Lima, que resolveu fundar a clínica psiquiátrica após fazer uma pesquisa das necessidades do local mais apropriado. É localizada no bairro pelo qual originou o nome da instituição, no município de Criciúma em Santa Catarina. É uma clínica psiquiátrica privada e também atende convênio pelo SUS apenas para internação. Possui um total de 202 leitos assim distribuídos: 12 leitos em apartamentos privados e 190 leitos de enfermaria, sendo 122 leitos masculinos e 68 leitos femininos. A equipe em atividade é multidisciplinar e composta pelos seguintes profissionais: • 05 Médicos Psiquiatras credenciados pelo SUS; • 02 Médicos Clínicos Gerais contratados pela instituição; • 08 Médicos Plantonistas contratados pela instituição para atendimento das urgências e intercorrências; • 04 Enfermeiras contratadas pela instituição; 54 • 02 Assistentes Sociais contratadas pela instituição; • 01 Psicóloga contratada pela instituição; • 01Terapeutas Ocupacionais contratadas pela instituição; • 01 Nutricionista contratada pela instituição; • 01 Farmacêutica contratada pela instituição; • 05 Técnicos de enfermagem; • 36 Auxiliares de enfermagem • 04 Atendentes de enfermagem. É trabalhado com pacientes psicóticos agudos, depressão, esquizofrenia e dependência química. A clientela é constituída de pacientes psiquiátricos na fase aguda da doença no momento de crise. 3.7 O Serviço social na casa de saúde Rio Maina O Serviço Social da Casa de Saúde Rio Maina atende a todos os pacientes internados e seus familiares ou responsáveis, durante toda sua permanência, cabendo as assistentes sociais os procedimentos necessários para minimizar os efeitos deletérios sociais causados pelo transtorno psiquiátrico, tentando impedir a institucionalização e proporcionando uma maior reintegração social, melhorando a qualidade de vida do paciente. Na admissão do paciente na instituição a família ou responsável pelo paciente é entrevistado pela assistente social que colhe os dados necessários para a identificação e história social do paciente. 55 A família é orientada a respeito de normas e regras da rotina hospitalar através de um texto explicativo “O que a família precisa fazer para ajudar no tratamento” (Anexo 4), assim como, auxiliada a superar dificuldades e obstáculos que estas famílias enfrentam diariamente por ter um doente mental como membro familiar. O serviço social fornece informações para o diagnóstico médico psiquiátrico, pesquisando dados juntos aos familiares sobre o comportamento do paciente no convívio sócio familiar. São realizadas visitas diárias aos setores das enfermarias visando atendimento individual de pacientes encaminhados pelo médico assistente ou que solicitam pessoalmente contato com familiares para reforço do vínculo, já que estes se sentem, muitas vezes, desamparados e excluídos do contexto familiar. Faz parte do tratamento médico-hospitalar a realização de atividades em grupos de acordo com cada patologia diagnosticada, nas enfermarias feminina e masculina: • Recepção: semanalmente todos os pacientes internados neste período são reunidos em grupos para informações sobre normas e regras da rotina hospitalar, esclarecendo dúvidas que surgem; • Seminários: duas vezes na semana os pacientes dependentes químicos participam de seminários com o serviço social onde são apresentados e discutidos temas relativos ao problema; • Visitas: nos dias e horários de visitas são reunidos os visitantes dos pacientes internados com o objetivo de informar sobre a importância das visitas e esclarecer dúvidas a respeito das rotinas e tratamento; 56 • Assembléias de pacientes: com os demais técnicos são realizadas assembléias periódicas em ambos os setores, dando espaço para os pacientes opinarem sobre seu tratamento; • Atividades Sociais: o serviço social, junto com a equipe de saúde programa as comemorações de datas festivas em atividades internas como bailes e gincanas com a participação de todos os pacientes internados. São também organizados passeios e atividades extras hospitalares, principalmente com pacientes moradores da instituição. Por ocasião da alta médica, o serviço social é responsável pela comunicação à família. Pacientes e familiares, ou responsáveis recebem em atendimentos individualizado ou em grupo, por ocasião da alta, dependendo do número de pessoas a serem atendidas. As orientações da alta são centradas na importância da continuidade do tratamento e de consultas periódicas, participação em CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), Serviços de Apoio a Saúde Mental, AA (Alcoólicos Anônimos), NA (Narcóticos Anônimos) e outra entidades que oferecem atendimento a portadores de transtorno psiquiátrico. A seguir, apresenta-se o detalhamento da experiência de pesquisa realizada com os pacientes moradores da Casa de Saúde Rio Maina. 57 4 EXPERIÊNCIA DE PESQUISA De acordo com o protocolo de observação sistemática utilizado para a realização da pesquisa, utilizou-se como elementos de referência aspectos como: alimentação, repouso, vestuário, relacionamento com a equipe de saúde, relacionamento com outros internos, comportamento e atividades sociais. Assim como cada membro enquanto participante de uma comunidade, cada paciente da instituição se apresenta de um modo muito especifico e peculiar, levando em consideração que cada paciente desenvolveu tipos de patologias diferenciadas. “A doença não é uma essência contra a natureza, ela é a própria natureza, mas num sentido invertido; a história natural da doença só tem que restabelecer o curso da história natural do organismo são” (FOUCAULT, 1984, p. 26). Com as freqüentes discussões sobre o caráter discriminatório e segregador da sociedade, pode-se vislumbrar de que forma este movimento se estrutura e toma vultos, articulando-o, assim, com o fenômeno da loucura. Impregnada por uma visão discriminatória e estigmatizadora, a sociedade elabora estereotipo e chavões de comportamentos que visem suavizar o contato com os excluídos: “Assim, deixamos de considerá-lo criatura comum e total, reduzindo-o a uma pessoa estragada e diminuída” (GOFFMAN, 1995, p. 12). A partir da observação realizada, os dados analisados apresentam diferenciados aspectos de satisfação entre os pacientes moradores estudados. Cada qual com sua singularidade apresentou aspectos que lhe proporcionam prazer, 58 emoção ou alegria, fator determinante sendo, considerado a elevação da autoestima. Falando de um modo geral, segundo observado o item alimentação, todos pacientes internados possuem uma refeição elaborada e balanceada por uma nutricionista, de acordo com as necessidades nutricionais para o bom funcionamento físico e orgânico. São realizadas quatro refeições diárias contando com: café da manha, almoço, lanche e janta. Quando necessário uma dieta regrada devido diagnostico médico, este recebe tratamento alimentar complementar. Enquanto ao item repouso, cada setor é regido por horários distintos de repouso. O setor masculino realiza a “cesta” das 11h30min às 13h30min retornando ao descanso noturno as 22h00min. No setor feminino, a “cesta” é realizada no mesmo horário das 11h30min às 13h30min, e voltam a se recolher as 20h00min. Pela manha o despertar acontece as 6h00min. Alguns pacientes moradores usufruem de um horário prolongado de repouso ou conforme a necessidade. Para pacientes que fazem tratamento de curta permanência, o serviço social solicita que a família se responsabilize em providenciar roupas e calçados, mas o hospital conta com a colaboração de doações de ONGs e comunidade civil. Estas doações são repassadas para pacientes moradores e outros pacientes necessitados. Existe, na instituição, um serviço de reforma e reparação das roupas, lavação, passadeira e, então, distribuídas aos pacientes. Falar de relacionamento com indivíduos institucionalizados e esquecidos pela sociedade é difícil e doloroso, principalmente para estes que foram excluídos e rotulados por uma sociedade preconceituosa e seletiva. Os pacientes moradores da instituição acabam criando vínculos afetivos e de confiabilidade por determinados 59 membros da equipe de saúde, na maioria das vezes com funcionários de mais tempo de instituição e, consequentemente, de convivência. Como a Casa de Saúde Rio Maina é o lar destes pacientes, a rotina diária é regrada por normas, regras e horários assim como para outros pacientes que estão fazendo tratamento a curto prazo. Seus comportamentos diferem de acordo com cada patologia, as vezes, se identificando mais com pacientes novos que chegam na instituição, relembrando de quando iniciou seu tratamento. Assim como em toda “família”, alguns pedem mais atenção para si e contestam alguns direitos: “eu posso fazer porque moro aqui e ela não” (M.) O serviço social juntamente com a equipe multidisciplinar, realiza atividades sociais como bailes e passeios com todos pacientes possibilitados a estarem participando destas atividades, para manter a socialização entre pacientes, tendo a função terapêutica, fazendo o paciente estar situado em datas comemorativas e importantes. “A heterogeneidade e a cooperação entre os membros de uma equipe terapêutica deverão ser mantidas. Elas são os fatores fundamentais que permitirão operar ao longo do processo de cura do paciente” (KALINA, apud QUEIROZ FILHO, 1993, p. 472). Os pacientes moradores participam de um “lanche da tarde especial”, todas as quartas-feiras, enquanto dia destinado à visitação de familiares aos pacientes internados por curta permanência. Como a maioria dos familiares distribui lanches e guloseimas para seus pacientes, os pacientes institucionalizados, que, por sua vez, foram esquecidos e abandonados pela família recebem esta atenção especial em prol da realização de sua satisfação. 60 Como fora citado, cada paciente difere de acordo com sua patologia, portanto, uns são mais atuantes que outros. 4.1 Observação do paciente J Segundo o POJ elemento de referencia comportamento, nota-se um discurso limitado, com respostas breves, porém sua expressão corporal melhorou significativamente com tentativas insistentes de participação nas atividades sociais. Interage bem com os outros pacientes, diminuindo o isolamento que apresentava anteriormente. No elemento de referência vestuário, utiliza as roupas da instituição provenientes de doações, não apresenta crítica diante deste item. Participa com muito entusiasmo das atividades sociais como nos bailes e passeios, análise feita pelo elemento de referencia atividades sociais, porem, não consegue permanecer por muito tempo numa atividade estruturada e sempre sai antes do desfecho do grupo. No item relacionamento com outros internos, apresenta grande sociabilidade e interação com os demais pacientes internados. Também apresenta fácil manejo para com a equipe de saúde, e, diante da observação realizada, nota-se fragilidade e carência, pedindo atenção com freqüência, segundo analisado pelo POJ, elemento de referência relacionamento com equipe de trabalho. No POJ analisando o elemento de referência alimentação, nota-se progresso neste quesito. Anteriormente não aceitava alimentar-se no refeitório junto com os demais, sentava no chão, permanecendo por muito tempo se não retirado do ambiente, não utilizava a colher, se alimentava apenas com as mãos. Como é um 61 paciente muito hiperativo, às vezes, não participa das refeições, por isso recebe reforço alimentar. 4.1.1 Análise da observação do paciente J Conforme Braghirolli (1995), a cultura do meio social de um indivíduo tem influência marcante em suas características de personalidade, seus motivos, suas atitudes e seus valores. As prescrições culturais são ensinadas, inicialmente pela família. “A família se constitui no maior agente socializante, isto é, a família tem uma grande importância na determinação do comportamento do individuo, em relação aos outros” (BRAGHIROLLI, 1995, p. 62). Suas lembranças de juventude e infância estão preservadas, as cantigas e músicas do seu tempo de adolescência estão mantidas em sua memória e cantadas com animação quando ouvidas: “água mineral, água mineral” (J.) O POJ demonstrou grande avanço no que diz respeito a socialização do paciente. Segundo estudo social realizado na época de sua internação, paciente era pouco estimulado pelos familiares, causando um “atrofiamento” de seu potencial. O assistente social se insere neste âmbito, proporcionando ao paciente psiquiátrico morador, ações que possibilitem seu despertar para este mundo, que por um período de tempo pode ter inexistido para ele, mas continua a ser seu contexto enquanto cidadão. 62 4.2 Observação do paciente Z Referindo-se aos elementos de referência comportamento e atividades sociais, não gosta de participar das atividades, principalmente quando é necessário se ausentar-se das dependências da instituição. Quando vai aos bailes realizados, não participa, apenas fica olhando de longe e logo pede para voltar para a enfermaria. Diante do elemento de referência observado alimentação, paciente segue a dieta normal (cardápio da casa), mesmo tendo vontade de uma alimentação diferente não exige por medo de ter que se ausentar do hospital para obter o desejado. Não apresenta crítica no discurso, portanto, segundo POZ – vestuário, não opina no seu vestuário. Utiliza roupas recebidas por doações e zeladas pelo hospital. Seu repouso, conforme elemento de referência acontece das 21h00min. ate 06h00min. quando medicada. Não descansa após o almoço. Citando o elemento de referência relacionamento com equipe de saúde, mostra-se muito dependente da atenção da equipe, tendo estes como referência de segurança. Tem bom relacionamento com os demais colegas no que diz respeito ao elemento de referencia relacionamento com outros internos. 4.2.1 Análise da observação do paciente Z Analisando o POZ é uma das pacientes citadas nesta pesquisa com maiores reflexos da institucionalização causadas pela sua patologia e fatores sociais externos. Sentimento de medo em ausentar-se da instituição. 63 Um fator interessante analisado foi a falta de interesse em outros tipos de alimentos, prefere não pedir comida diferenciada por conta de sua insegurança de ausentar-se da instituição e ter que voltar ao convívio familiar e social. Diante da análise do POZ referindo-se aos elementos de referência comportamento e atividades sociais, pode-se notar negação em relação sua participação à estes itens, pois esta sempre muito apática, por isso o serviço social procura estar sempre estimulando a paciente nas atividades socializantes. Não aceita participar dos passeios ao ar livre, fora das dependências do hospital, e, quando convencida da necessidade de sair deste ambiente institucional, aceita apenas se tiver companhia de um membro da equipe de saúde da instituição, assim, sente-se mais “segura”. Além de mostrar-se insegura e dependente da equipe institucional, também se apresenta infantilizada. “O hospício é um lugar para se isolar doentes (exclusão), incapacita-los de viver com os normais (reclusão) e vigiar suas atitudes, a fim de não oferecerem perigo a si ou a outros (custodia)” (SERRANO, 1992, p. 32). Segundo Basaglia (apud SERRANO, 1992, p. 77), este fenômeno observado pela paciente ocorre devido a atmosfera permeada de regras e privações do hospício, onde predomina a inflexibilidade e a rigidez na conduta. O doente fechado no espaço augusto da sua individualidade perdida, condicionado oprimido pelos limites impostos pela doença, é forçado, pelo poder institucionalizante da reclusão, a objetivar-se nas regras próprias que o determinam, em um processo de redução e de restrição de si que, originariamente sobreposto à doença, não é sempre reversível (BASAGLIA apud AMARANTE, 1996, p. 89). A institucionalização resulta numa legião de indivíduos dependentes, que desconhecem sua liberdade devido ao tempo que permanecem em cativeiro, onde 64 eram privados dos direitos de pensar, optar e interagir livremente. Esta realidade pode ser observada diante da análise do POZ, desenvolvendo um quadro de condicionamento diante de suas atitudes, não desenvolvendo criticidade, portanto, não possuindo nenhuma qualidade de vida dentro de sua realidade. Como citado anteriormente, cada sujeito desenvolve uma maneira especifica e peculiar de se apresentar diante da doença. Quando analisado o POM, nota-se que, diante por parte de alguns, acostumando-se com a situação, mas não deixando de lado o sentido da vida. 4.3 Observação do paciente M Segundo o POM item comportamento, tem “picos” de instabilidade, principalmente quanto à imposição de limites. Segundo a análise do POM elemento de referência relacionamento com equipe de saúde, apresenta-se muito egocêntrica requerendo a atenção de todos funcionários da instituição. O elemento de referência relacionamento com outros internos demonstra isso, não aceita competições: “você chegou agora e não sabe de nada, mas eu sei”. Na maioria das vezes se demonstra muito participativa, apenas quando está nos seus momentos depressivos, procura isolamento. No item atividades sociais, o POM mostra que a paciente é participativa, porém demonstra preferência pelas revistas sobre moda e famosos. Esta parece ser uma das formas que a paciente estabelece contato com a realidade, visto sobre os comentários que faz sobre as figuras que observa. Gosta muito de ir aos bailes realizados mensalmente, assim como, ir nos passeios e atividades extra- 65 hospitalares. Parte de seu tempo é destinado ao cuidado com sua aparência, principalmente no quesito vestuário, pois gosta de estar sempre vestida de acordo com as tendências da moda. Portanto coloca sua melhor roupa para participar das atividades sociais. Segundo o POM elemento de referência alimentação, desenvolve uma alimentação normal, sem restrições nutricionais. Paciente apresenta-se exigente, porém, muito coerente com seus discursos “to cansada de comer sempre isso, quero um bolinho de carne e um guaraná”, às vezes o serviço de nutrição do hospital diferencia seu cardápio. Pode-se ser observado segundo o POM, item repouso, que esta paciente faz repousos mais prolongados, seu sono matinal é mais prolongado. 4.3.1 Análise da observação do paciente M Diferente do POZ, este paciente analisado pelo POM, mostra evolução em nível de discurso verbal e argumentações coerentes. Noções de realidade preservada no que se refere a moda e sua aparência, demonstra-se muito vaidosa. Enquanto se observava a paciente M., era perceptível a exigência em estar sempre chamando a atenção da equipe de saúde, principalmente quando se sente “ameaçada” em perder os “mimos” que conquistou devido seu carisma para com as pessoas. Este comportamento é reflexo de estigmas e preconceitos sofridos pelo paciente psiquiátrico, é a insegurança que a sociedade provoca diante da exclusão deste individuo. Para isso, ao longo dos tempos e na atualidade, fatos e acontecimentos demonstram a existência de diversos tipos de sociedades, como descreve Foucault 66 (1999a, p. 259) “As [...] que exilam, a saber, aquelas que massacram, sociedades que torturam, que replicam a esses indivíduos com a tortura ou a pena de morte. Depois, há as sociedades que internam”. Nas atividades sociais, o serviço social esta sempre presente, buscando uma maior interação e participação de todos pacientes, interagindo, assim, para uma melhoria na qualidade de vida destes que não lembram mais do que é estar inserido na sociedade como um membro atuador. Com o grupo interagindo entre si, torna-se um meio, dentro do processo profissional, para se chegar aos fins desejados como instrumento de intervenção do assistente social. “A função do assistente social é permitir que o grupo se torne um apoio e deixar que os processos de grupo eduquem e ajudem cada membro” (KLEIN, 1970, p. 55). Diante do exposto é possível notar como estes pacientes moradores pesquisados criam meios próprios de viver de bem consigo, mesmo encontrando-se em ambiente institucionalizador. A equipe multidisciplinar busca sempre meios para garantir esta de atenção, significa muito prazer e satisfação. 4.4 Observação do paciente A Diante do POA, elemento de referência repouso, este apresenta horários regrados, seguindo sempre as normas estabelecidas. No item comportamento, o POA demonstrou uma pessoa pouco crítica e de fácil aceitabilidade das situações impostas, dificuldade em verbalizar seus sentimentos. Diante das técnicas aplicadas para uma melhor socialização do paciente com os outros membros internados, observa-se grande progresso no item 67 relacionamento com outros internos, sendo que o mesmo demonstrava-se em situações de isolamento total, não correspondendo aos estímulos induzidos. Neste aspecto, o paciente desenvolveu maior sociabilidade entre internos e equipe de saúde, conforme elemento de referência relacionamento com equipe de saúde, apesar de suas respostas serem breves e superficiais. O POA, elemento de referência alimentação, demonstra que o paciente é bem nutrido, alimentando-se de acordo com o cardápio geral e relata satisfação com a dieta recebida. Mesmo sendo um paciente isolado, quando estimulado corresponde adequadamente, melhorando consideravelmente os cuidados com sua aparência, como observado no POA item vestuário. Porém, no elemento de referência atividades sociais, quando participa procura manter-se distante, mesmo estando presente nos bailes e passeios. 4.4.1 Análise de observação do paciente A Esta dificuldade em verbalizar seus sentimentos e a pouca crítica ao que lhe é imposto, seguindo o POA, elemento de referência comportamento, aponta as conseqüências do asilamento como processo de alienação institucional. O complexo de ‘danos’ derivados de uma longa permanência coagida no hospital psiquiátrico, quando a instituição se baseia sobre os princípios de autoritarismo e coerção. Tais princípios, donde surgem as regras sob os quais o doente deve submeter-se incondicionalmente, são expressão e determinam nele uma progressiva perda de interesse que, através de um processo de regressão e de restrição do Eu, o induz a um vazio emocional (BASAGLIA apud AMARANTE, 1996, p. 89). 68 Estes “danos” são facilmente observados diante da institucionalização, causando redução de suas potencialidades. Pode-se observar que o paciente do POA, preserva suas lembranças da vida escolar em sua infância, sendo que apresenta muitas habilidades e fácil manejo para atividades expressivas como o desenho. A partir disto, resgata aspectos de sua vida social e familiar antes do “surto”. Este resgate presenteia o paciente A. com lembranças concretas de uma felicidade, deixada para trás quando fora internado, e, desde então, institucionalizado. Neste contexto, a equipe multidisciplinar, juntamente com o serviço social faz esta ponte de resgatar o que foi significante para o paciente, e criar meios para que este amplie sua realização pessoal. O exercício crítico do assistente social é um aspecto fundamental para atividade continua do pensamento, fazendo o paciente institucionalizado estar sempre situado no seu contexto “[...] a instrumentalidade do serviço social, enquanto categoria constitutiva do ser social, incorpora o modo de existência e consciência dos homens na sociedade” (GUERRA, 1995, p. 162). Para que o serviço social possa intervir na dada realidade é preciso que o profissional conheça a situação real e busque subsídios para promover a melhoria da qualidade de vida destes pacientes moradores da instituição. 4.5 Observação paciente T Dentro do conhecimento de sua patologia, o POT apresenta permanente delírio de perseguição diante do elemento de referência comportamento. 69 Dando segmento a análise, o POT relata no elemento de referência relacionamento com a equipe de saúde um bom manejo, mas precisa ser estimulada com freqüência para a participação das atividades. Também apresenta socialização para com os demais pacientes internos, conforme item relacionamento com outros internos, sendo que este item se comparado com sua época de internação, representa um considerável progresso no tratamento. Aceita participar dos bailes e passeios realizados, segundo análise do POT item atividades sociais, demonstra-se satisfeita com os passeios realizados fora da instituição, porém, quando convidada a participar do baile, só aceita estar presente: “mas eu não vou dançar.” Também participa do grupo operativo, onde auxilia a camareira. Beneficia-se muito com as atividades propostas pela terapia ocupacional, juntamente com o serviço social. Percebe-se muita felicitação, segundo o POT item alimentação, também diz respeito as refeições realizadas pela paciente, que é obesa, tem compulsão por “comida”, por isso participa de um controle de ingestão de alimentos, mas, atualmente está mais magra. Nota-se a preferência da paciente em estar sempre de casaco, pois relata sentir muito frio, porém, percebe-se o intuito de chamar a atenção da equipe de saúde com esta atitude. Não tem exigência por roupas específicas, utiliza as roupas que a instituição recebe por meio de doações, diante do critério de analise do POT item vestuário. Segundo o elemento de referência repouso, acompanha os demais pacientes nos horários propostos para todos os pacientes internados, porém, gosta de descansar após o almoço. 70 4.5.1 Análise da observação do paciente T Neste contexto de rompimento com a alienação, o serviço social intervém, para que pacientes institucionalizados não se tornem dependentes da equipe de saúde. Pois, é assim que encontra-se uma das pacientes pesquisadas, diante da analise do POT, encontra-se uma pessoa com discurso verbal adequado porém muito queixoso, exigindo atenção de todos para si. Comparando o POZ e o POT, pode-se notar o mesmo nível de institucionalização de ambas pacientes, causados pelo efeito deletério do estigma criado em torno do portador de transtorno mental. Acredita-se que “apenas” sua presença nesta atividade, já possa trazer um nível de satisfação significativa, diante de uma rotina segregada de normas e sem perspectiva de futuro. Seus olhares demonstram alegria e otimismo, num mundo sem esperança para alguns, mas repleto de sonhos e idealizações para outros. Dentro desta perspectiva, o serviço social investe sua processualidade, buscando atividades estimulantes que proporcionem estimativa de ampliação da qualidade de vida destes pacientes. Estes debates fomentam os constitutivos elementos históricos e determinações estruturais, e a sua rede de subjetividade, enquanto espelho das diferenças culturais e sociais apanhadas em nossa sociedade. Segundo Spink (1994, p. 10), “ampliar o conceito de incluir ai não apenas os direitos constitutivos à luz das teorias da igualdade, como também a integração criativa da diferença, da ética e até mesmo, ou, sobretudo, da felicidade”. 71 Complementando a teoria fatalista surge as premissas do pensamento linear, que estabelece uma seqüência lógica e formal para a compreensão das atitudes do paciente, emaranhada à regras morais e padrões sociais. Partindo deste segmento, Szasz (1979, p. 163) relata que “atualmente a noção de doença mental é usada principalmente para obscurecer e invalidar, por meio de explicações, problemas das relações pessoais e sociais”. A especificidade dos indivíduos é marcante neste contexto institucional. Ao analisar-se diferentes pessoas, com as mesmas patologias, nota-se singularidades universais na maioria dos seres humanos como sentimentos, comportamentos e aspirações. Fundamentados nos princípios sociais, sustentados pela experiência pessoal e interação cotidiana com o grupo, os indivíduos estruturam sua personalidade, apropriam-se desta forma, dos paradigmas e ideologias que emanam deste contexto. Segundo Moscovici (1975, p. 8) “essa relação de exclusão que é ao mesmo tempo diferença e negação, autonomia e exterioridade, encontra-se na base de nossas ciências, molda e organiza nossos comportamentos políticos econômicos e ideológicos”. Com base nestes princípios, os indivíduos relacionam-se e interagem com os demais, descortinando e apresentando uma inclinação em desacreditar-se, tal como, o fazem crer, colaborando para que o ciclo permaneça inalterado. 4.6 Observação paciente N Como sombra das conseqüências do asilamento, de acordo com o PON elemento de referência comportamento, ficou evidente as limitações cognitivas da 72 paciente, porém na maior parte do tempo tem discurso coerente estando sempre disposta e cooperativa nas atividades realizadas. Nas fases de agudização da doença, desenvolve períodos de delírios, mesmo estando compensada do seu quadro psicótico. Apresenta solilóquios com freqüência. Neste elemento de referência relacionamento com equipe de saúde do PON, houve melhora considerável na socialização. Interage e até mesmo questiona quando necessário, assim, também relacionado ao item relacionamento com outro internos, segundo o PON, pois não interagia com nenhum outro paciente apresentando apenas “picos” de isolamento. O PON apresenta cuidados com sua aparência, bem como, adequado interesse pela higiene. No elemento de referência vestuário, o PON proporciona observar um aspecto peculiar da paciente, o interesse por estar sempre de colete, este por sua vez, combinado com os brincos: “Gosto de verde”, relata N. Participa com assiduidade das atividades sociais, prefere não se expor, mas está sempre presente, como observado no item atividades sociais do PON. Nesses longos anos de institucionalização, o serviço de nutrição e dietética do hospital possibilita que esta paciente escolha seu cardápio de acordo com as possibilidades da instituição, diante do observável no elemento de referência alimentação, do PON. 4.6.1 Análise da observação do paciente N A exemplo das observações que vem sido realizadas nesta pesquisa, a análise do PON, vem mais uma vez deparar com o processo de institucionalização, como fator degradante diante do amadurecimento pessoal destes pacientes 73 moradores. Das pacientes pesquisadas, N. é a moradora que conta mais tempo de institucionalização na Casa de Saúde Rio Maina. Está sempre auxiliando no serviço das camareiras do hospital por vontade própria, pois sente-se em casa e realiza as tarefas como tal. No inicio do tratamento, apresentava-se agressiva e isolada, sem manter contato verbal com a equipe de saúde. Diante dos inúmeros estímulos que a paciente recebeu da equipe de saúde, durante estes anos de institucionalização, atualmente mostra-se participativa e com iniciativas próprias frente as tarefas propostas. 4.7 Relação qualidade de vida e serviço social A qualidade de vida relacionada à saúde avalia os efeitos que as doenças e os tratamentos têm sobre a vida diária e a satisfação pessoal dos pacientes. A percepção do estigma, discriminação, rejeição e isolamento social, assim como, limitações as atividades cotidianas, influenciam negativamente na melhoria da qualidade de vida dos doentes psiquiátricos. A busca por qualidade de vida insere-se no contexto do assistente social, prática que deve ser incorporada tanto pelas instituições psiquiátricas, quanto pelos próprios profissionais. Assim, para que os programas de qualidade de vida gerem benefícios efetivos, o que vai se propagar para toda a sociedade, o comprometimento deve ser completo: a instituição possibilitar o desenvolvimento de políticas, ações e programas de estímulo a uma vida saudável, e o paciente, por sua vez, deve perceber que seu papel é fundamental para que os objetivos sejam alcançados por ambas as partes. 74 Cuidar dos aspectos emocionais e psicológicos é indispensável para a melhoria da qualidade de vida, o que inclui uma atenção muito especial à questão da auto-estima. Utilizar um tempo para curtir momentos de lazer e diversão. A qualidade de vida é conquistada por meio do comprometimento da instituição, do paciente e do serviço social. A consciência ética é um componente indispensável da prática profissional do assistente social. A sua capacidade de proceder em conformidade com a ética é um aspecto essencial à garantia da qualidade de vida dos serviços prestados aos pacientes. É preciso que pessoas com transtornos mentais sejam reconhecidas como seres integrais, dignos, com direito à liberdade, à integridade física e moral, à reabilitação para o trabalho e à qualidade de vida. Para alcançar esses objetivos, o assistente social deve trabalhar para a abolição do preconceito por parte dos profissionais de saúde, das famílias e das comunidades. Afinal, aceitar e tratar com respeito e afeto o portador de transtorno mental é o melhor caminho para a sua reabilitação e para o fortalecimento de sua cidadania. Diante deste âmbito que o serviço social preconiza seu trabalho com estes pacientes moradores, pessoas estas institucionalizadas, que tornaram-se alienadas num padrão social excludente e que demonstram insegurança e medo da ausência institucional nestes parâmetros que suas vidas delinearam. Finalizando a análise dos dados observados, percebe-se que viver sob os holofotes da estigmatização e preconceito, é uma experiência desagradável e presente, intermitentemente experimenta-se o julgo e a avaliação de atos e atitudes sob constante vigilância social e institucional. 75 Com base na exposição e análise dos resultados, pode-se inferir que o serviço social tem suma importância na elaboração de mecanismos que elevem a auto-estima destes indivíduos, consequentemente, elevando as condições satisfatórias destes e promovendo, assim, a qualidade de vida dos pacientes moradores da Casa de Saúde Rio Maina. 76 5 CONCLUSÃO No desabrochar do século XXI encontram-se pessoas sendo tratadas em condições inconcebíveis, arbitrariamente retira-se delas o direito de escolha sem proporcionar-lhes condições de tratamentos eficazes, mas sim, medidas paliativas, onde o indivíduo é injustamente segregado de seu âmbito familiar e social, sendo entregue aos cuidados de Hospitais Psiquiátricos. Com o empenho da sociedade em suprir a manifestação da loucura, ela passa a ser vista como mais um elemento colaborador na discriminação da mesma, e, consequentemente, contribuiu para o agravamento da atual situação dos manicômios; sendo que os cuidados oferecidos e as condições de tratamento demostram-se insuficientes, devido ao grande número de internos em real situação de abandono. A prática de exclusão permanente atrelada a muito tempo ao diagnóstico, cristalizado em uma forma de tratamento deficitária, tornando cada vez mais difícil o retorno do indivíduo no contexto social. Diante do exposto e analisado é possível observar, de acordo com a primeira hipótese, que ficou comprovado que os pacientes carregam consigo o estigma da doença, concebido pela sociedade e gerando, assim, seu segregamento familiar e social. Atrelado a esse contexto, encontra-se um arsenal de técnicas e tratamentos ultrapassados, onde os pacientes psiquiátricos recebem um tratamento genérico, centralizado em conceitos desprovidos de lógica, que são articulados a uma prática falha e fragmentada. 77 O serviço social não será eximido da sua contribuição frente a atual situação de desrespeito com o ser humano, pois reclama seu título de ciência enquanto distingui formas de intervenção, condicionadas a diversas abordagens sociais. A segunda hipótese coloca que, quanto piores as condições de tratamento e atenção institucional, pior é a qualidade de vida dos pacientes que residem por anos nesta instituição psiquiátrica. Portanto, é neste intuito que o serviço social desta instituição encontra seu respaldo, o de buscar e lutar sempre para que o paciente institucionalizado receba melhores condições de tratamento, dando espaço para que o mesmo possa ser ouvido, enquanto cidadão pactuante da mesma sociedade vigente. Assim como todo cidadão de direitos e deveres, que busca compreender seu contexto. O homem buscou e ainda busca uma explicação para o fenômeno da doença mental, porém seus esforços esbarram contra suas próprias criações. Uma vez que classificou e segregou o normal e o patológico, impossibilitou seu conhecimento. Por este motivo, toda abordagem que vise explicá-la ou reduzi-la a interpretações exteriores, esta fadada ao fracasso. Uma vez que, as dimensões sociais da loucura estabelecem relações entre o indivíduo e sua história. Frente a esses comentários, podem-se articular os resultados obtidos no presente estudo, onde pode ser observada a relação entre e os pacientes psiquiátricos moradores da Casa de Saúde Rio Maina e a instituição, oportunizou conhecer como o serviço social da instituição contribui para a qualidade de vida dos pacientes moradores. 78 Como poder institucionalizante compreendeu-se com este estudo o misto de forças, mecanismos e aparatos institucionais que sucedem, quando o paciente sofre opressão e limites, tendo que se adaptar a uma nova óptica: as imposições do aparato manicomial. Esta alienação institucional por parte dos pacientes moradores da instituição, passa a ser um fator determinante no processo de trabalho do serviço social, competindo ao assistente social atuar neste recorte social buscando formas de promover a qualidade de vida destes indivíduos. Os reflexos desta representação podem ser sentidos na forma como o indivíduo se articula com a instituição, pois sofrem influência desta, na construção de sua identidade. O serviço social, juntamente com a equipe multidisciplinar de saúde, busca o resgate desta identidade perdida, contribuindo significativamente para a ampliação e o direito da cidadania destes pacientes, consequentemente, melhorando a qualidade de vida destes sofredores psíquicos. Portanto, pode-se observar nesta pesquisa, como é importante a atuação do assistente social, bem como de uma equipe multidisciplinar competente, que queira lutar pelos mesmos princípios e com os mesmos objetivos. A luta pela melhoria da qualidade de vida dos sofredores psíquicos será incansável por parte destes profissionais, como o assistente social, que buscam manter a ordem social vigente e a extinção do estigma mantido por uma sociedade elitista e mantedora de padrões que ridicularizam e excluem o indivíduo do seu meio familiar e social. 79 REFERÊNCIAS AMARANTE, Paulo Duarte de Carvalho. (Org.) Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. 2 ed. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1995. ______. O homem e a serpente: outras histórias para a loucura psiquiátrica. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1996. ______. Psiquiatria social e reforma psiquiátrica. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1994. ASSUMPÇÃO, Jr. Francisco B. Introdução ao estudo da deficiência mental. São Paulo: Menmon, 1991. BOCK, Ana; BAHIA, Odair Furtado; TEIXEIRA, Maria de Laidest. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 1995. BRAGHIROLLI, Maria Elaine. Psicologia geral. 19 ed. 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Psiquiatria Hospitalar, Rio de Janeiro, ano I, n. 1, 2004. 83 ANEXOS 84 Anexo 1 - Legislação em Saúde Mental A Lei número 10.216 de 16 de abril de 2001 se divide em treze artigos, que, são eles: Art. 1º Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto a raça, cor, sexos, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou evolução de seu transtorno, ou qualquer outra. Art. 2º Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo. Parágrafo único: São direitos da pessoa portadora de transtorno mental: I – ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo ás suas necessidades; II – ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade; III – ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração; IV – ter garantia de sigilo nas informações prestadas; V – ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária; VI – ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis; VII – receber o maior número de informações a respeito de sua doença e seu tratamento; 85 VIII – ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos evasivos possíveis; IX – ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental; Art.3º É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais. Art. 4º A internação, em qualquer de sua modalidade, só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes. § 1º O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção social do paciente em seu meio. § 2º O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a oferecer assistência integral à pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros. § 3º vedada a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em instituições com características asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos recursos mencionados no § 2º e que não asseguram aos pacientes os direitos enumerados no parágrafo único do art. 2. Art.5º O paciente há longo tempo hospitalizado ou para o qual se caracterize situação de grave dependência institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de ausência de suporte social, será objeto de política específica de alta planejada, e reabilitação psicossocial assistido, sob responsabilidade da autoridade sanitária 86 competente e supervisão de instância a ser definida pelo Poder Executivo, assegurada a continuidade do tratamento quando necessário. Art. 6º A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos. Parágrafo único: São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica: I – internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário; II - internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; III - internação compulsória: aquela que determinada pela justiça. Art. 7º A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a consente, deve assinar, no momento da admissão, uma declaração de que optou pó esse regime de tratamento. Parágrafo único: O término de internação voluntária dar-se-á por solicitação escrita do paciente ou por determinação do médico assistente. Art. 8º A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico devidamente registrado no conselho Regional de Medicina – CRM do Estado onde se localize o estabelecimento. § 1º A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser comunicada ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva alta. § 2º O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do familiar, ou responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável pelo tratamento. 87 Art. 9º A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto á salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários. Art. 10º Evasão, transferência, acidente, intercorrência clínica grave e falecimento serão comunicados pela direção do estabelecimento de saúde mental aos familiares, ou ao representante legal do paciente, bem como à autoridade sanitária responsável, no prazo máximo de vinte e quatro horas da data da ocorrência. Art. 11º Pesquisas científicas para fins diagnósticos ou terapêuticas não poderão ser realizadas sem o consentimento expresso do paciente, ou de seu representante legal, e sem a devida comunicação aos conselhos profissionais competentes e ao Conselho Nacional de Saúde. 88 APÊNDICES 89 Apêndice1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA OS FAMILIARES E PACIENTES PORTADORES DE SOFRIMENTO PSÍQUICO E FUNCIONÁRIOS DA INSTITUIÇÃO CASA DE SAÚDE RIO MAINA EM CRICIÚMA – SC. Meu nome é Karina Biff Paulino, RG 3.470.938, sou acadêmica do Curso de Pós-graduação de Didática e Metodologia do Ensino Superior da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Neste curso que estou realizando, pretendo desenvolver uma pesquisa para verificar quais as contribuições do Serviço Social oferecida na Casa de Saúde do Rio Maina aos pacientes moradores para a promoção da sua qualidade de vida. A pesquisa que estou realizando é intitulada “Contribuição do Serviço Social na Qualidade de Vida dos Pacientes Adultos Moradores da Casa de Saúde do Rio Maina”. Este instrumento tem a intenção de obter o consentimento por escrito para realizar a análise dos prontuários dos internos e a observação que irei desenvolver com usuários e profissionais que realizam o atendimento de saúde, pertencentes à área de abrangência da Instituição, no período de 10 de fevereiro a 20 de fevereiro de 2006, bem como autorizar a utilização das informações em meu projeto pesquisa, e após a análise dos dados, para meu Trabalho de Conclusão de Curso e/ou trabalhos científicos / livros. Comprometo-me a apresentar para você os dados coletados e observados. A qualquer momento você poderá desistir da participação no estudo. Os relatos obtidos serão confidenciais, sendo que os nomes dos participantes não serão utilizados em nenhum momento. Sua decisão quanto à participação ou não do estudo, bem como as informações que você vier a fornecer não influenciarão no seu atendimento na instituição ou no grupo a qual você participa. Sua participação poderá contribuir para o entendimento do trabalho que os profissionais de saúde desenvolvem, assim como para uma melhor assistência para você e os demais usuários do Serviço de Saúde Mental. Desde já agradeço sua colaboração, que poderá contribuir para a aquisição de novos conhecimentos quanto ao trabalho que desenvolvemos na área de saúde. Eu, ___________________________________, consinto em participar desta pesquisa, desde que respeitem as condições acima. Criciúma:____/____/____. Assinatura:_______________________________R.G.______________ Telefones para contato: (48)3433.5754 (residencial) (48)9924.9921 (celular) 90 Apêndice2 - INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS DOS PACIENTES PORTADORES DE TRANSTORNO PSIQUIÁTRICO MORADORES DA INSTITUIÇÃO PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA P.O.J. Elementos de Observação Referência Alimentação Repouso Alimenta-se normalmente. Grande progresso nesse elemento de referência, pois não usava colher e sentava sempre no chão não aceitando sentar junto com os colegas à mesa. Utiliza dos mesmos horários de repouso juntamente com os outros internos, das 22:00 h às 6:00 h. Faz uso das roupas de doação que a Casa de Saúde Vestuário Relacionamento com Equipe de Saúde recebe, não apresenta critica conforme este item. Exige a atenção da equipe de saúde com freqüência, apesar de ter orientação para realizar suas necessidades diárias. Apresenta sociabilização, não se envolve em brigas Relacionamento com Outros internos Comportamentos Atividades Sociais Discurso limitado, resposta breves. Expressão corporal melhorada e maior sociabilização. Não permanece muito tempo em atividade estruturada, porém gosta de ir aos bailes, dança com os colegas e de participar dos passeios extra hospitalares. 91 Apêndice 3 - INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS DOS PACIENTES PORTADORES DE TRANSTORNO PSIQUIÁTRICO MORADORES DA INSTITUIÇÃO PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA P.O.Z. Elementos de Observação Referência Alimentação Repouso Vestuário Relacionamento com Equipe de Saúde Relacionamento com Outros internos Comportamentos Atividades Sociais Cardápio da casa. Não exige uma alimentação diferente por medo de ausentar-se da instituição para obtê-la. Normalmente dorme das 21:00h às 6:00h. Dependendo do período de agudização da doença é preciso dar medicação extra para paciente dormir. Faz uso das roupas de doação que a Casa de Saúde recebe, não apresenta critica conforme sua vestimenta, mas diz ser necessário estar sempre de roupa. Apresenta muita dependência em estar sempre chamando a atenção da equipe de saúde com freqüência. Carência familiar. Tem a equipe como referência à família. Fica mais isolada dos outros colegas, não se envolve em brigas e não apresenta crítica com relação aos colegas. Maioria do tempo é apática, muito institucionalizada devido ao longo tempo de permanência na instituição. Não gosta de ausentar-se do hospital. Com muita dificuldade, vai em alguns bailes acompanhada pela assistente social, mas não participa, apenas observa. Pouco participa dos passeios extra-hospitalares por medo de não retornar à instituição. 92 Apêndice 4 - INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS DOS PACIENTES PORTADORES DE TRANSTORNO PSIQUIÁTRICO MORADORES DA INSTITUIÇÃO PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA P.O.M. Elementos de Observação Referência Alimentação Repouso Vestuário Relacionamento com Equipe de Saúde Relacionamento com Outros internos Comportamentos Atividades Sociais Gosta de comidas diferentes, reclama da comida oferecida pelo hospital. Adora comer lanche como pastéis, risoles e bolinho de carne com refrigerante. Dorme até mais tarde, dependendo do seu estado patológico. Quando necessário recebe medicação extra, principalmente nos estados de manias. É muito exigentes com as roupas que usa e acessórios. Gosta de estar sempre na moda. Apresenta muita crítica com a roupa utilizada pela equipe de saúde. Muito egocêntrica, maneja formas de estar chamando a atenção da equipe de saúde. Tem alguns membros da equipe como referência à família. Apresenta sociabilização, porém, não gosta de competições por outras colegas, sente-se ameaçada. Gosta de impor regras para se impor. Tem seu senso crítico preservado. Apresenta instabilidades de humor, principalmente quando há imposição de limites, deixando a paciente irritada. Participa dos bailes com assiduidade e gosta dos passeios extra-hospitalares. Gosta muito de ver revistas sobre celebridades e moda, sente-se mais socializada. 93 Apêndice 5 - INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS DOS PACIENTES PORTADORES DE TRANSTORNO PSIQUIÁTRICO MORADORES DA INSTITUIÇÃO PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA P.O.A. Elementos de Observação Referência Alimentação Repouso Vestuário Relacionamento com Equipe de Saúde Relacionamento com É um paciente bem nutrido, não apresenta queixas com relação á sua alimentação. Alimenta-se com o cardápio da casa. Seus horários são regrados seguindo as normas da casa, das 22:00 h às 6:00 h, não faz a cesta como outros. Faz uso das roupas de doação que a Casa de Saúde recebe. Melhorou muito seus cuidados com a aparência. Não é muito exigente com suas roupas, mas está sempre com roupas limpas. Apresenta fácil manejo para com a equipe de saúde. Não exige tanto a atenção da equipe como outros pacientes observados. Suas respostas são breves e superficiais. Apresenta-se sociabilizado, não se envolve em brigas, é calmo e passivo. Outros internos Comportamentos Atividades Sociais Discurso limitado, resposta breves. Mais isolado, tem dificuldade em verbalizar seus sentimentos. Fácil aceitabilidade de situações impostas. Gosta dos passeios e atividades estruturadas, expressa seus sentimentos através de desenhos. Vai aos bailes, mas não dança, permanece sempre sentado apenas observando. 94 Apêndice 6 - INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS DOS PACIENTES PORTADORES DE TRANSTORNO PSIQUIÁTRICO MORADORES DA INSTITUIÇÃO PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA P.O.T. Elementos de Observação Referência Alimentação Repouso Vestuário Relacionamento com Equipe de Saúde Relacionamento com Faz parte do programa de controle de ingestão acompanhada pela nutricionista por ser obesa, apesar de estar mais magra atualmente. Tem compulsão por comida. Seu horário de descanso segue o recomendado pelo hospital, das 22:00h às 6:00h. Gosta de descansar após o almoço. Utiliza as roupas da casa. Reclama de estar sempre com frio. Gosta de usar casacos. Exige a atenção da equipe de saúde, tem bom relacionamento com a equipe, mas precisa ser estimulada com freqüência para realizar suas atividades diárias. Apresenta sociabilização, não reclama das colegas, mas se mantém mais isolada do grupo. Outros internos Comportamentos Atividades Sociais Apresenta delírios de perseguição constantemente, tem um discurso queixoso, sempre está com dor, mas é um comportamento típico da carência familiar e institucionalização. Se estimulada, participa dos passeios e bailes, mas não gosta de dançar. Gosta de realizar atividades manuais e auxiliar o serviço de camareira. 95 Apêndice 7 - INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS DOS PACIENTES PORTADORES DE TRANSTORNO PSIQUIÁTRICO MORADORES DA INSTITUIÇÃO PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA P.O.N. Elementos de Observação Referência Alimentação Alimenta-se com o cardápio normal da casa, mas, às vezes, recebe uma alimentação diferenciada à pedido da mesma e diante de longos anos de permanência na instituição. Repouso Utiliza dos mesmos horários de repouso juntamente com os outros internos, das 22:00 h às 6:00 h. Mas não faz o repouso após o almoço. Vestuário Gosta de cuidar de sua aparência, principalmente com sua higiene. È exigente com suas roupas, está sempre usando coletes, gosta da cor verde e de usar brincos compridos. Relacionamento com Equipe de Saúde Relacionamento com Bastante socializada. Gosta de ajudar, principalmente em auxiliar nos cuidados com as roupas e serviço de camareira. Dependendo da fase da doença é mais isolada, não demonstra vínculo afetivo com outras colegas. Outros internos Comportamentos Atividades Sociais Tem limitações cognitivas devido a institucionalização. Discurso coerente e apresenta-se sempre disposta. Quando está na fase aguda da doença tem delírios. Solilóquios freqüentes. Está sempre presente em todas as atividades, mas prefere não se expor muito. Gosta dos passeios extra hospitalares. 96 Apêndice 8 - O QUE A FAMÍLIA PRECISA FAZER PARA AJUDAR NO TRATAMENTO? 1º - LER este documento para se informar; 2º - TRAZER para seu paciente: - Lanches (que não estraguem); - Roupas (marcadas com o nome do paciente); - Desodorante sem álcool (bastão ou creme); - Toalha de banho; - Escova e creme dental; - Shampoo e sabonete; - Calçado (1 par para uso diário); - Pente ou escova para cabelo; - Prestobarba (a ser entregue na recepção); - Cigarros (para os fumantes, a ser entregue na recepção); - Absorventes higiênicos para as mulheres; OBS.: Trazer roupas mais velhas e confortáveis, poucas peças por vez e trocar as sujas por limpas no dia de visita. Lembramos que o próprio paciente irá cuidar de seus pertences. 3º - NÃO PODERÃO TRAZER objetos que ponham em risco a segurança dos pacientes (talheres, canivetes, lâminas, giletes, garrafas ou copos de vidro, tesoura, cortador de unhas, agulhas, garrafas térmicas, bomba e cuia de chimarrão, fósforos, isqueiros, etc.) 4º - VISITAS: Deverão ser feitas nos dias e horários estabelecidos: QUARTAS-FEIRAS e DOMINGOS das 10h00min às 11h00min (manhã)/ 14h00min às 16h00min (tarde). OBS.: Não poderão entrar no pátio de visitas crianças de até 12 anos. NÃO INSISTA. O local não é próprio para crianças. Não trazer notícias ruins para os pacientes. Não orar em voz alta. Não dar documentos para pacientes assinar. 97 5º - ENCOMENDAS para pacientes: - Lanches em embalagens transparentes entrarão direto pelo portão de visitas; - Roupas e outros materiais deverão ser entregues na portaria e somente chegarão ao paciente após vistoria; - Todas as encomendas fora do horário de visitas serão entregues na portaria. 6º - VALORES: documentos, dinheiro, roupas caras, jóias, deverão permanecer com o familiar. - O hospital não se responsabiliza pela guarda de tais objetos e o paciente não vai usa-los aqui dentro. 7º - RECLAMAÇÕES DO ATENDIMENTO PRESTADO: Os pacientes e familiares, deverão encaminhar a DIREÇÃO ADMINISTRATIVA, por escrito as queixas quanto ao atendimento para as devidas providências. Pedimos evitar comunicação verbal às recepcionistas do Hospital das queixas, pois as mesmas não tem função de receber e encaminha-las. “NÃO ATENDER OS CHAMADOS PARA AS REUNIÕES OU ENTREVISTA E A DEMORA EM VIR BUSCAR O PACIENTE DE ALTA, É PARA OS PROFISSIONAIS SINAIS CLAROS DE DESINTERESSE, E PARA O PACIENTE, SINAIS DE DESAMOR”. EQUIPE TÉCNICA