UNIVERSIDADE FUMEC FACULDADE DE CIÊNCIAS EMPRESARIAIS – FACE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO GUILHERME JULIANI DE CARVALHO A IMPORTÂNCIA DAS MENSAGENS DAS MÍDIAS CONVENCIONAIS COMPARADAS AS MÍDIAS INTERATIVAS NO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR DE AUTOMÓVEIS ZERO QUILÔMETRO Belo Horizonte/MG 2013 GUILHERME JULIANI DE CARVALHO A IMPORTÂNCIA DAS MENSAGENS DAS MÍDIAS CONVENCIONAIS COMPARADAS AS MÍDIAS INTERATIVAS NO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR DE AUTOMÓVEIS ZERO QUILÔMETRO Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Administração da Universidade FUMEC como requisito para a obtenção do título de Mestre em Administração. Área de concentração: Estratégia Tecnologias em Marketing. e Orientador: Prof. Dr. Plínio Rafael Reis Monteiro. Belo Horizonte/MG 2013 GUILHERME JULIANI DE CARVALHO A IMPORTÂNCIA DAS MENSAGENS DAS MÍDIAS CONVENCIONAIS COMPARADAS AS MÍDIAS INTERATIVAS NO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR DE AUTOMÓVEIS ZERO QUILÔMETRO Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Administração da Universidade FUMEC como requisito para a obtenção do título de Mestre em Administração. Área de concentração: Estratégia Tecnologias em Marketing. e Orientador: Prof. Dr. Plínio Rafael Reis Monteiro. BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Plínio Rafael Reis Monteiro Universidade Fumec Prof. Dr. José Marcos Carvalho de Mesquita Universidade Fumec Profª. Dra. Áurea Puga Ribeiro Fundação Dom Cabral Data de Aprovação: _____/_____/_____ Belo Horizonte 2013 A Deus, por me mostrar o caminho certo. Léo, pela paciência e incentivo. Minha mãe, por ser minha maior admiradora. AGRADECIMENTOS Ao Leonardo Augusto: sem você, nada disso seria verdade. À minha mãe, por ser meu exemplo de pessoa e de profissional. A meu pai que, de sua forma, sempre me incentivou. À Dindinha Suzana, obrigado por cada incentivo e palavra de força. À Rafaela Coelho e à Maria Lígia, por sempre expressarem seu orgulho pela minha profissão. A Deus, minha família, amigos, colegas de trabalho e orientadores pelo apoio, força, incentivo, companheirismo e amizade. Obrigado por estarem sempre ao meu lado. Ao professor e orientador Dr. Plinio Rafael Reis Monteiro: a virtude da docência não é para todos, são apenas para aqueles que acreditam em seus ideais e acreditam no potencial de seus alunos. A todos os professores do curso, obrigado por compartilharem conhecimento e experiências. Júlio, Alessandra, Evelyn e Jéssica (secretaria FUMEC): a equipe perfeita para um trabalho de sucesso. Obrigado a vocês pela disponibilidade de sempre! Briza Martins, Stella Safar, Silvana Chiaretto: a perseverança e a certeza de que eu iria até o fim devo a vocês! Obrigado por existirem e terem entrado em minha vida. A cada um dos entrevistados que dispuseram de tempo e atenção para as pesquisas. Aos profissionais que fizeram a análise técnica e contribuíram com suas ricas opiniões. Fabricio Ziviani e Flavio Tofani (Tio Flávio): profissionais/amigos exemplos. Mary Elizabeth, Andrea Silva, Daniele Tomaz e Catherine Margoni: obrigado por acreditarem em minhas competências e em meu trabalho. Tenho a impressão de ter sido uma criança brincando à beira-mar, divertindo-me em descobrir uma pedrinha mais lisa ou uma concha mais bonita que as outras, enquanto o imenso oceano da verdade continua misterioso diante de meus olhos. Isaac Newton RESUMO Em um contexto marcado pelo desenvolvimento da indústria automobilística no Brasil, pelo surgimento e expansão de novas mídias para comunicação com seus públicos-alvo, as montadoras precisam adaptar seus canais de comunicação e a mensagem transmitida, de forma a envolverem os consumidores em seus processos de comunicação. Mídias interativas, fortalecidas pela popularização da internet, ganham espaço na comunicação de marketing e disputam a atenção do consumidor com as mídias tradicionais. No processo de aquisição de um veículo novo, as pessoas estão sujeitas a diferentes tipos de influências e diferentes informações oriundas de vários tipos de mídias. Esta dissertação teve como objetivo avaliar o papel e a utilização das mídias pelos consumidores no processo de comunicação e influência na decisão de compra de automóveis. A metodologia utilizada para a realização deste trabalho foi de natureza qualitativa, utilizando o roteiro estruturado como instrumental principal de coleta de dados. Os roteiros foram aplicados a trinta consumidores que compraram um carro zero quilômetros nos últimos vinte e quatro meses. Após aplicação dos roteiros, foi solicitado a cinco profissionais da área de comunicação e marketing que analisassem, tecnicamente, algumas peças de comunicação tradicional e interativa. Como resultado principal tem-se que as mídias interativas e tradicionais exercem papéis diferentes no comportamento do consumidor, porém, estas mídias não são excludentes e sim complementares, apesar de algumas exercerem maior poder de persuasão que outras. Mostra-se, aí, a importância de uma empresa utilizar múltiplas plataformas de comunicação com seus consumidores e possíveis consumidores. Já na análise técnica das peças foi possível perceber que existe uma forte sintonia entre o que as empresas estão comunicando e a interpretação dos receptores das mensagens. Por fim, os resultados obtidos neste estudo caminham junto à Teoria Estruturalista de Giddens, em que o autor afirma que a interação e a recepção da informação irão depender da situação, do contexto e das necessidades do consumidor e, por isso, o desempenho de cada mídia pode variar em diferentes momentos. Palavras-chave: Comportamento do Consumidor, Mídias Tradicionais, Mídias Interativas, Influência, Comunicação, Marketing. ABSTRACT In a context marked by the development of the automotive industry in Brazil and the emergence and expansion of new media to communicate with their target audiences, makers must adapt their communication channels and the message conveyed in order to engage consumers in their process of communication. Interactive media, strengthened by the popularization of the internet, has gained ground in marketing communications, and has been battling traditional media over consumers´ attention. In the process of purchasing a new vehicle, people are subject to different influences and different information from various types of media. This thesis aims to evaluate the role and use of media by consumers in the process of communication and its influence on the decision of buying a car. The methodology used to conduct this study was qualitative, using a structured questionnaire as the main instrument for data collection. The questions were applied to thirty consumers who had bought brand new cars over the last twenty-four months. After the questionnaire had been answered, some pieces of traditional and interactive communication were analyzed technically by five communication and marketing experts. The main result is that interactive and traditional media play different roles in consumers´ behavior, since instead of excluding each other they are complementary, although some may be more persuasive than others. Hence, the importance for a company to use multiple platforms to communicate with their consumers and prospects. As far as the technical analysis of the pieces is concerned, it was revealed that there is a strong alignment between what companies are communicating and the interpretation targets give it. Finally, the results of this study comply with Giddens´ Structuration Theory, in which the author states that the interaction and reception of information will depend on the situation, the context and the needs of the consumers, and therefore the performance of each media may vary at different times. Keywords: Consumer Behavior, Traditional Media, Interactive Media, Influence, Communication, Marketing. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Decisões de compra .................................................................................. 23 Figura 2 - Influências no comportamento do consumidor ....................................... 26 Figura 3 - Processo cognitivo e afetivo no comportamento do consumidor ......... 29 Figura 4 - Processo de comunicação de marketing ................................................ 35 Figura 5 - Página inicial site Fiat................................................................................ 83 Figura 6 - Página inicial site Volkswagen ................................................................. 84 Figura 7 - Fun Page (Facebook) Fiat ........................................................................ 84 Figura 8 - Blog de lançamento Chevrolet ONIX ....................................................... 85 Figura 9 - Panfleto Fiat ............................................................................................... 90 Figura 10 - Comercial de TV Ford ............................................................................. 91 Figura 11- Comercial de TV VW ................................................................................ 92 Figura 12 - Anúncio de revista Chevrolet ................................................................. 93 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Comunicação de marketing na visão de alguns autores ...................... 31 Tabela 2 - Busca por informações e suas fontes..................................................... 39 Tabela 3 - Mídias interativas: aspectos positivos e negativos ................................ 46 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Perfil dos entrevistados ........................................................................... 58 Quadro 2 - Categoria 1 - Definição ........................................................................... 60 Quadro 3 - Subcategorias 1 - Definições.................................................................. 60 Quadro 4 - Categoria 1 ............................................................................................... 61 Quadro 5 - Categoria 2 - Definição ........................................................................... 66 Quadro 6 - Subcategorias 2 - Definições.................................................................. 66 Quadro 7 - Categoria 2 ............................................................................................... 67 Quadro 8 - Categoria 3 - Definição ........................................................................... 70 Quadro 9 - Subcategorias 3 - Definições.................................................................. 70 Quadro 10 - Categoria 3 ............................................................................................. 71 Quadro 11 - Categoria 4 - Definição ......................................................................... 74 Quadro 12 - Subcategorias 4 - Definições ............................................................... 75 Quadro 13 - Categoria 4 ............................................................................................. 75 Quadro 14 -Diferenças percebidas entre os tipos de mídias.................................. 80 Quadro 15 - Perfil dos especialistas entrevistados.................................................. 81 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 13 1.1 Objetivo geral 16 1.2 Objetivos específicos 17 1.3 Justificativa 17 2 REFERENCIAL TEORICO 19 2.1 Comportamento do consumidor: histórico, definições, fases e influências 19 2.1.1 Fases do comportamento do consumidor 21 2.1.2 Influências no processo de compra 25 2.1.3 Conhecimento cognitivo e afeto 27 2.1.4 Comunicação de marketing 29 2.1.4.1 Comunicação de marketing: do planejamento ao entendimento da mensagem 32 2.1.4.2 Comunicação de marketing: influências em cada fase do comportamento do consumidor 37 2.2 Mídias: tradicionais e interativas 41 2.2.1 Mídias tradicionais ou off-line 41 2.2.2 Mídias Interativas ou online 43 2.2.3 Mídias on e off-line: um comparativo 46 2.3 Giddens, McLuhan, suas teorias e a relação com a comunicação de marketing.48 2.3.1 Transporte, convergência e persuasão..............................................................51 3 METODOLOGIA 54 4 ANALISE DAS ENTREVISTAS 58 4.1 Compreensão da mensagem da comunicação pelo público receptor 59 4.2 Transporte e convergência; o comportamento do receptor 65 4.3 Influências das mídias em diferentes momentos da comunicação de marketing.69 4.4 Meios de comunicação e sua influência em etapas do comportamento do consumidor 74 4.5 Considerações gerais 78 4.6 Entrevista com especialistas 80 4.6.1 Mídias Interativas...............................................................................................85 4.6.2 Mídias Tradicionais............................................................................................89 5 CONCLUSÕES.......................................................................................................96 5.1 Limitações e sugestões para estudos futuros REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 98 100 APENDICES ............................................................................................................108 13 INTRODUÇÃO Nos corridos anos de 1900, até meados de 1950, eram raros os automóveis que circulavam pelas cidades do Brasil (GROHMANN; SCHAEDLER, 2007). Para elucidar essa ideia, o registro do primeiro carro a circular pela cidade de Belo Horizonte é datado de 1905 (FENABRAVE, 2011). O século XX estava começando e comprar um carro naquela época era uma verdadeira aventura – a distância da fábrica, os altos preços, a demora na entrega e as comunicações precárias criavam sérios problemas para a compra de veículos. A economia começou a se estabilizar e desenvolver durante o período do governo JK (1956 – 1961), e para ampliar o desenvolvimentismo econômico brasileiro, JK considerava impossível o progresso da economia sem a participação do capital estrangeiro. O desenvolvimento que o país vivia neste período priorizou os setores de transporte e energia, bases para o crescimento de um país. JK estabeleceu ainda um programa de substituição das importações, o que acalorou a instalação de indústrias automobilísticas no Brasil. Para isso foi criada o Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA) que desenvolveu uma política de incentivo fiscal para a implantação deste segmento no país (SAMPAIO, et al., 2004). Os anos se passaram, a economia começou a estabilizar, a moeda nacional se fortaleceu e indústrias mundiais optaram por se instalar no Brasil, favorecendo o emprego formal, o aumento da renda e baseando suas logísticas no transporte rodoviário, o que contribui para crescimento e melhoria de ruas e rodovias. Ainda nesse contexto de crescimento, o então presidente do país, Fernando Collor de Melo, promoveu a abertura econômica no início da década de 1990, sendo que os pacotes econômicos desenvolvidos na época contribuíram para o aumento da frota automobilística (SAMPAIO, et al., 2004). Ainda na década de 1980 no Brasil, o mercado de automóveis era composto, basicamente, por quatro marcas: Volkswagen, General Motors, Ford e Fiat. Esse cenário tem se transformado de forma drástica e, ainda em meados da primeira década do segundo milênio, observa-se que o mercado automobilístico é composto por dezenove marcas representadas legalmente no país (DIAS; JOIA, 2006). É inconteste a inserção de novas marcas no mercado nacional no período recente. A entrada de novas marcas no Brasil acontece desde o início dos anos 90 quando Collor, afirmando que o país só produzia carroças, acabou com a reserva de 14 mercado para automóveis, reduzindo as tarifas de importação (GROHMANN; SCHAEDLER, 2007). A entrada de novas marcas e o interesse da população em adquirir um veículo fez com que políticas econômicas que favorecessem o setor fossem instauradas no Brasil. O país, após a implantação do Plano Real, adquiriu uma solidez econômica e passou a crescer, contribuindo para que o acesso ao crédito fosse facilitado. É comum ver montadoras oferecendo planos de financiamento em até 72 vezes, com uma entrada simbólica (FENABRAVE, 2012). Outro fator que tem colaborado para a competitividade do setor são as constantes políticas de subsídios oferecidas pelo governo à indústria automobilística, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Assim, o aumento da renda per capita do brasileiro, a facilidade de obtenção de crédito para financiamento (SAMPAIO et al., 2004; GROHMANN; SCHAEDLER, 2007) e o aumento do prazo de pagamento fizeram com que o consumo de veículos zero quilômetro atingisse as classes sociais C e D e escrevesse os melhores anos da indústria de automóveis do país (MATTAR, 2007) . Em 2011, o Brasil passou a ocupar a quarta posição no ranking de maiores mercados automobilísticos do mundo (ANFAVEA, 2011). Com um aumento de 10,5% no volume de vendas, comparado ao ano de 2010, foram comercializados, em 2011, 2.757.390 unidades, o que gerou uma movimentação financeira maior que oitenta bilhões de dólares, ou quase 20% do Produto Interno Bruto (PIB). Nos três primeiros meses de 2012, segundo a ANFAVEA (2011), foram emplacadas 601.201 unidades de veículos zero quilômetro. Além das marcas tradicionais disponíveis, os consumidores têm à sua disposição, desde 2010, as marcas chinesas (Cherry, JAC, Lifan, Effa), que chegam ao país trazendo veículos com diversos acessórios de série e preços reduzidos, em uma época na qual o consumidor se torna mais exigente para a aquisição de um automóvel. A busca por carros mais potentes e o lançamento da categoria de utilitários esportivos, os chamados SUV’s, e carros mais completos de acessórios caracterizam uma mudança no comportamento de consumo de veículos (FENABRAVE, 2012). Outra mudança que merece destaque é a venda de veículos com motor 1.0 (FENABRAVE, 2011) que, apesar de ainda representarem mais de 50% das vendas do mercado, estão perdendo espaço. A participação nas vendas, especialmente nas capitais, vem caindo. Se antes era 70% para carros 1.0 e o 15 restante para as demais motorizações, agora o modelo 1.0 deve responder por cerca de 50% nas regiões metropolitanas, segundo o Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (SINCODIV-MG, 2012). Essas mudanças são motivadas por uma modificação nas posturas das montadoras que, pressionadas pela concorrência do setor, viram-se obrigadas a importar tecnologia e aproximar a qualidade produto final nacional à qualidade do produto importado. A melhoria na mecânica, a inserção de novos itens de série e novos opcionais e a modernização dos modelos foram formas encontradas para que a indústria brasileira apresentasse ao seu consumidor um produto diferenciado e com maior valor agregado. Frente ao maior valor agregado nos automóveis no Brasil, ao padrão de consumo correspondente e a agressiva concorrência entre as marcas, torna-se cada vez mais premente questionamentos acerca de como as montadoras e revendedoras irão conquistar consumidores. Dessa forma, estratégias que visam construir marcas fortes, gerar percepção de valor agregado e diferenciar o produto da concorrência têm ganhado importância de destaque no setor. Nickels e Wood (1999) já afirmavam que não existe venda sem conhecimento e que não existe conhecimento sem informação e que não existe informação, sem comunicação. Por isso, a indústria automobilística está entre as maiores investidoras em publicidade e marketing do país. Segundo o Conselho de Autorregulamentação Publicitária (CONAR, 2012), em 2011 foram gastos quase oito bilhões de reais em investimentos publicitários pelas marcas de carros, um aumento de 27% em relação ao ano anterior, com tendências de aumento de 22% para 2012. Esse investimento faz-se importante porque o consumo de veículos é fortemente influenciado pelas informações que chegam até o consumidor. Durante o processo de decisão de compra, o cliente analisa informações disponíveis de várias fontes, sofre influência da sociedade, da família e de amigos que também buscam informações sobre o produto (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2000). Os consumidores estão cercados por diversas alternativas de compra e diversas fontes influenciadoras, tornando mais complexo o processo de decisão de compra. Segundo Karsaklian (2000, p.18), “o estudo do comportamento do consumidor diz respeito à elucidação das razões que fazem com que o indivíduo compre e consuma um produto em vez de outro, em determinada quantidade, em um momento especifico e em certo lugar”. Blackwell, Miniard e Engel (2000, p. 6) ainda afirmam 16 que “é mais fácil desenvolver estratégias de marketing para influenciar o consumidor depois que se entende por que e como as pessoas compram certos produtos ou marcas”. O consumidor a ser analisado compõe o mercado que deve ser focado pelas empresas de carros, fazendo com que ele seja o ponto de referência para as decisões estratégicas das empresas (RICHERS, 1986). Concentrando as atenções no comportamento dos consumidores, suas fontes de informações, seus fatores influenciadores e suas preferências, as empresas conseguem lapidar maneiras de criar estratégias de marketing, relacionamento e comunicação com seus públicosalvo, que podem gerar melhores resultados. Visando se comunicar mais direta e objetivamente com seus consumidores, as indústrias automobilísticas têm gastado muito nos investimentos em comunicação de marketing. A intenção é fazer com que as informações cheguem às diversas localidades onde estão seus clientes, e que cheguem antes de seus concorrentes, por isso as montadoras de automóveis investem pesado em comerciais de TV, inserções de merchandising em novelas e séries, propagandas em revistas e jornais e spots em rádio. Além disso, trabalham bastante com patrocínio de esportes e eventos culturais. Naturalmente, nos últimos vinte anos, os meios de comunicação de marketing passaram por uma revolução com a chegada das mídias interativas. Redes sociais, canais interativos, e-mail, marketing e sites chegaram para criar uma nova maneira de as empresas se comunicarem com seus clientes (JAFFE, 2008). Logo que surgiram, as mídias interativas ganharam espaço e importância na comunicação entre as empresas automobilísticas e seus clientes. Liberdade de montar seu próprio carro por meio do site, capacidade de um dialogo de mão dupla entre organização e consumidor, campanhas criativas e interativas são alguns dos aspectos nessa nova forma de comunicação. Dentro desse contexto, este trabalho objetivou analisar o papel e a importância das mensagens das mídias convencionais comparadas às mídias interativas no comportamento do consumidor de automóveis. Este estudo buscou, então, responder à seguinte pergunta central: qual o papel das mídias – tradicionais e interativas – na transmissão de informações, formação de significados e influências no comportamento de decisão de compra do consumidor de automóveis? 17 1.1 Objetivo geral O objetivo principal deste estudo foi avaliar o papel e a utilização das mídias pelos consumidores no processo de comunicação e influência na decisão de compra de automóveis. 1.2 Objetivos específicos - Estudar as propostas das mensagens dos meios de comunicação interativos e convencionais a partir da opinião do público-alvo; - Investigar a importância de cada meio de comunicação para o consumidor nos momentos de reconhecimento da necessidade, busca de informações e decisão de compra; - Explorar quanto cada mídia contribui para o resultado de todo o esforço de comunicação e sua capacidade de influência e persuasão; - Analisar o comportamento dos receptores ao terem contato com a mensagem; - Avaliar a proximidade entre as peças de comunicação e o entendimento dos receptores. 1.3 Justificativa Os executivos da indústria automobilística são constantemente desafiados pelo mercado agressivo em que atuam a inovarem e conquistarem a atenção do consumidor. Com cerca de dezenove players no setor com representação legal no país (DIAS; JOIA, 2006), segundo a Fenabrave (2011), a manutenção de sua parcela de mercado e sua ampliação depende cada vez mais de estratégias eficientes de marketing. Há alguns anos, tendo como referência o período anterior à abertura econômica de 1990, existiam menos de seis marcas de automóveis no país: menos alternativas de compra resultam em uma facilidade maior de comunicação entre empresas e clientes. Também os meios de comunicação eram restritos à TV, jornal, rádio e revistas. Hoje, a variedade de opções de consumo, associada à ampliação dos canais de comunicação, tem exigido dos profissionais de marketing muita 18 criatividade e flexibilidade para que suas marcas estejam nas diversas mídias (tradicionais e interativas) e atinjam o maior número possível de receptores. As montadoras de automóveis gastam bilhões de reais, anualmente, em publicidade por meio dos diversos canais de comunicação disponíveis. Há pouco (até o final do século XX), a relação das montadoras com os consumidores limitavase aos comerciais televisivos, anúncios em rádios e jornais. Atualmente, com a chegada das mídias interativas, novas formas de se comunicar com os consumidores surgiram, as organizações passaram a investir nas diversas mídias sem realmente saberem o papel de cada uma delas. Pesquisas que busquem investigar a função das mídias na comunicação com o cliente são importantes, porque também buscam conhecer o público-alvo, as necessidades e as informações procuradas pelos consumidores na decisão de compra. Em virtude disso, justifica-se investir nesses estudos para que estratégias de comunicação de marketing mais efetivas sejam desenvolvidas, fornecendo informações mais precisas, que atendam à real busca do consumidor, utilizando a mídia e a linguagem apropriada para cada estágio do comportamento de compra. Já para o meio acadêmico entender a relação entre comunicação de marketing e o comportamento do consumidor favorece a melhor compreensão de teorias, desenvolvimento de novos conceitos e interação dos estudiosos com a realidade. 19 2 REFERENCIAL TEORICO Neste capítulo são apresentados conceitos, definições, históricos e teorias que embasam este estudo. Aqui se encontram descritos conceitos, históricos, fases e influências do comportamento do consumidor, aspectos do conhecimento cognitivo e afeto, definições e características de mídias online e off-line, planejamento, conceitos e influências da comunicação de marketing e as teorias de Giddens e McLuhan, associados ao tema desta pesquisa. Além disso, foram definidos os conceitos de convergência, transporte e persuasão dentro do processo de comunicação. 2.1 Comportamento do consumidor: histórico, definições, fases e influências Comportamento do consumidor, segundo Solomon (2004), é o estudo de processos físicos e psicológicos que envolvem as pessoas quando estas despertam o interesse em consumir um novo produto ou serviço para satisfazer suas necessidades e desejos, buscam informações sobre as opções disponíveis, selecionam seus fornecedores, compram, usam. Para Pinheiro e Castro (2006), o estudo do comportamento do consumidor firma-se como uma área interdisciplinar, envolvendo conceitos e técnicas de diferentes áreas do conhecimento e pesquisa: psicologia, sociologia, administração, marketing, semiótica, demografia, antropologia. Blackwell, MIniard e Engel (2008, p. 6) definem o comportamento do consumidor como “as atividades com que as pessoas se ocupam quando obtêm, consomem e dispõe de produtos e serviços” e defendem que seu estudo é vantajoso por permitir que as organizações entendam as tendências de consumo. Para grande parte dos autores da disciplina de comportamento (RICHERS, 1984; KOTLER; KELLER, 2006; BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2008) o consumidor se submete a vários estágios que antecedem o consumo, prevalecem durante a compra e influenciam após o uso. São estes estágios que compõem o chamado comportamento do consumidor. Para Blackwell, Miniard e Engel (2008) o sucesso de um produto ou serviço depende da habilidade e atitudes dos envolvidos no processo de aquisição e uso dos bens adquiridos. Conforme estes autores, o comportamento do consumidor é a 20 analise de por que, quando e onde compram e ainda as atitudes que desempenham para poderem adquirir um produto ou serviço. Conhecer este comportamento é um facilitador para as empresas desenvolverem suas estratégias de marketing. Essa ideia é corroborada por Kotler e Keller (2006, p. 46), que afirmam que, “uma vez que o propósito do marketing centra-se em atender e satisfazer as necessidades e aos desejos dos consumidores, torna-se fundamental conhecer o seu comportamento de compra”. Richers (1984) e Sheth, Mittal e Newman (2001) compartilham a opinião de que o comportamento do consumidor caracteriza-se pelas atividades mentais e emocionais (afeto e cognição) realizadas na seleção, compra e uso de produtos serviços para a satisfação de necessidades e desejos. Durante o século XIX, até meados do século XX, a decisão do que deveria ser produzido, as cores, embalagens, onde seria vendido partia dos próprios produtores. Indiferente de qual seria a oferta, todas as decisões partiam de dentro das fábricas. A mudança nesse paradigma começou a acontecer logo após a Segunda Guerra, quando o sistema atacadista, orientado para a produção, deu lugar ao sistema varejista, orientado para vendas. Os varejistas começaram a se manifestar sobre o processo de produção e vendas, e mantinham esse poder por serem a ponte entre o fabricante e o consumidor. No final do século XX, por sua vez, o ponto principal de estudo sobre consumo passou a ser o consumidor, justamente em uma época em que a concorrência aumentava e as empresas tinham que buscar novos consumidores no mercado (BLACWELL; MINIARD; ENGEL, 2008). O consumo não é um ato meramente individual e racional, mas também um processo essencialmente social, possibilitando o posicionamento do indivíduo em relação ao seu contexto social e cultural. Entender como o consumidor se comporta no processo de compras ganhou maior ênfase nos estudos de marketing a partir dos anos 70 (VALENTIM; SALDANHA; FERRASSO, 2011), quando a capacidade de produção excedeu a procura por bens de consumo. Foi quando, então, ampliaramse os estudos sobre o comportamento do consumidor. Segundo Minor e Mowen (2003), nos primeiros anos do século XX os escritores iniciavam debates sobre a utilização dos princípios psicológicos na elaboração dos anúncios publicitários. Pouco tempo depois, muitas das ideias da teoria freudiana foram popularizadas pelos pesquisadores de motivação e usadas por anunciantes. O pensamento sobre o homem econômico permaneceu até metade 21 do século XX, quando as empresas supunham, ainda, que as decisões de compra seriam basicamente racionais, sem influências emocionais (SAMARA; MORSCH, 2005). Empresas de todos os portes e negócios estão procurando conhecer quem são seus clientes e o que pensam quando estão consumindo. Esse interesse tem se dado devido à mudança que ocorreu nos modos de consumo, desde os anos 20, quando a filosofia de mercado mudou da fabricação de mercadorias para como comercializar as mercadorias (VALENTIM; SALDANHA; FERRASSO, 2011). Logo em seguida veio Maslow e a hierarquia das necessidades, que incentivou mais os estudos sobre o comportamento do consumidor. Assim nasceram outros estudiosos – Blackwell, Miniard, Engel, Pinheiro, Richard - que enxergavam que o comportamento do consumidor era o envolvimento de todos os fatores relacionados ao indivíduo, que os levava a uma atitude de interesse ou desinteresse perante um produto ou serviço (SAMARA; MORSCH, 2005). Para entender melhor o comportamento de compra, pode-se levar em conta a Psicanálise, teoria elaborada por Freud no fim do século XIX, que estuda o consciente e o inconsciente dos indivíduos (FRAGA; SERRALVO, 2006). Esta teoria afirma que os comportamentos expressos na consciência são uma expressão distorcida de desejos não satisfeitos localizados no inconsciente. Essa ideia de necessidades não supridas, desejos que se manifestam no inconsciente até migrarem para o consciente são pilares também dos estudos da Antropologia, Sociologia e da Psicologia Social, que analisam o ser humano e a relação dele com o meio em que está inserido. A análise do comportamento do consumidor começa quando manifestações do inconsciente se transformam em ações de consumo (FRAGA; SERRALVO, 2006), com a primeira fase conhecida como reconhecimento da necessidade. 2.1.1 Fases do comportamento do consumidor Blackwell, Miniard e Engel (2008) afirmam existir sete estágios que envolvem o consumidor antes, durante e após a compra. Outros autores, como Kotler e Keller (2006) acreditam existir apenas cinco estágios para o consumo. Os dois autores concordam que existe o reconhecimento do problema, a busca de informações sobre o produto, a avaliação das alternativas disponíveis para consumo, a compra e 22 o resultado pós-compra. Blackwell, Miniard e Engel (2008), acrescentam nesse processo o consumo e o descarte do que não foi consumido. Segundo Blackwell, Miniard e Engel (2008) e Kotler e Keller (2006), o processo de consumo inicia-se no momento que o consumidor reconhece uma necessidade ainda não satisfeita – migração de um desejo do inconsciente para o consciente. Para Blackwell, Miniard e Engel (2008), nesse momento de reconhecimento da necessidade o indivíduo percebe a diferença entre aquilo que julga ser ideal para viver e sua real situação. Em outras palavras, o consumidor percebe que é necessário comprar algo para voltar ao estado normal de conforto (SAMPAIO et al., 2004). Nessa fase de reconhecimento do problema há a incidência de estímulos internos e externos que motivam o consumidor a abandonar o status quo1 e partir em busca de algo que o faça retornar à sua posição de conforto. Após ter o problema como reconhecido, o consumidor busca informação para resolver tal problema (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2008). Os compradores buscarão informações sobre as marcas que já conhecem, ou de marcas lembradas ou não, no momento da decisão. A busca por informações pode ser interna ou externa, de acordo com Blackwell, Miniard e Engel (2008) e Kanuk e Schiffman (2000). As internas são as experiências já vividas e a memória de cada um. As externas são as publicidades, mercados, grupos sociais. A velocidade com que esta busca é feita está diretamente ligada ao interesse em obter o produto. Com esse conhecimento o consumidor distingue uma marca da outra e conhece, mais detalhadamente, o produto. Quanto mais o alto o valor do bem, maior será a associação a experiências e lembranças positivas e maior será a busca por informações pré-consumo (KEINAN; KIVETZ, 2007). Quando já estão munidos de informações suficientes para embasar sua decisão de compra, os consumidores passam para a fase de avaliação das alternativas. Para Kotler e Keller (2006), é nesse momento que o consumidor faz comparações entre os vários produtos existentes, enaltecendo os atributos que atendam ao interesse de compra da pessoa (interesse este vinculado à necessidade do estágio um). Para Sampaio et al. (2004), é na fase de avaliação de alternativas que os consumidores destacam os pontos fortes e fracos dos produtos ou serviços disponíveis. 1 Expressão latina para designar o estado atual de um sujeito. 23 “Comprar ou não comprar? Esta é a questão respondida na quarta fase do processo de compra” (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2008, p. 133). Nas fases anteriores os consumidores perceberam a necessidade de consumo, buscaram informações e avaliaram as alternativas disponíveis, escolhendo a opção que melhor atendessem o seu desejo e, na fase de decisão de compra, o consumidor irá, segundo Blackwell, Miniard e Engel (2008), escolher um ponto de venda, um vendedor, a quantidade, a forma de pagamento e entrega do produto. Segundo Kotler e Keller (2006) e Salomon (2002), compras frequentes (produtos do dia a dia) envolvem menos decisões e deliberações (como pode ser visto na Figura 1). Com base em Keinan e Kivetz (2007), pode-se afirmar que a quantidade de informações obtidas antes da avaliação das alternativas é fundamental para a decisão de compra. Schiffman e Kanuk (2000, p. 412) confirmam a existência de três tipos de comportamento de compra: compras experimentais (aquelas com caráter de experiência); compras repetidas (baseadas em uma recompra de produto já experimentado) e compras de longo prazo (bens duráveis). Segundo Semenik e Bamossy (1995, p. 215), “é importante que as organizações conheçam quais atributos os consumidores julgam fundamentais no momento da decisão de compra para captarem seu interesse”. Figura 1 - Decisões de compra Alto Envolvimento Baixo TIPO DE DECISÃO EXEMPLO Extensiva Casa, automóvel Limitada Chocolates Rotineira Arroz, leite FONTES INFORMAÇÃO CARACTERISTICAS Externas e algumas internas Muitas marcas e muitos vendedores Internas e algumas externas Várias marcas e vários vendedores Internas TEMPO INVESTIDO Muito Fonte: Adaptado de Schiffman e Kanuk (2000). Algum Poucas marcas em um mesmo ponto de venda e poucos vendedores Pouco Compra feita: é hora de consumir o produto ou serviço adquirido. Muitas empresas têm negligenciado o processo pós-compra, pois ainda acreditam que sua relação com o cliente acaba no momento da entrega do produto (MACINNIS; FOLKES, 2010). Somente após o consumo é que o indivíduo irá avaliar a qualidade 24 do que foi consumido e se suas expectativas foram ou não atendidas. Nessa situação podem surgir questionamentos de arrependimento, o que é conhecido como dissonância cognitiva (“Eu comprei um bom produto?”), tanto quanto afirmações de felicidade (“Eu fiz a melhor escolha?”). Satisfazer-se ou não com a aquisição relaciona-se, também, aos fatores sociais que influenciam nesse processo, tais quais as opiniões de amigos, familiares, grupos sociais (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2008). Nesse momento é que o cliente manifestará sua intenção de recompra ou abandono da marca adquirida. Fraga e Serralvo (2006) mostram que, nessa fase, as pessoas aderem a uma marca caso tenham ficado satisfeitas durante o consumo. Por outro lado, a compra em que o cliente acredita ter sido fortemente influenciado pela empresa pode gerar uma insatisfação pós-aquisição, devido à alta expectativa, e o indivíduo tende a associar esse aspecto negativo à imagem da organização (KEINAN; KIVETZ, 2007). A informação sobre produtos, obtida na segunda fase do processo, irá interferir em todo o comportamento de compra de um cliente. Como visto no início deste capítulo, Kotler e Keller (2006), embora sejam seguidores dos conceitos de Blackwell, Miniard e Engel sobre comportamento do consumidor, discordam do número de estágios a que um consumidor está submetido durante o consumo. Blackwell, Miniard e Engel (2008) defendem a ideia de sete etapas no processo de compra, mas Kotler e Keller (2006) acreditam que o estudo de apenas cinco deles é suficiente para entendimento das ações do consumidor no momento de compra. Segundo Blackwell, Miniard e Engel (2008), entre a fase de compra e póscompra existe um estágio de consumo, que consiste na utilização do produto adquirido. Este consumo pode ser feito de forma imediata ou posterior, mas nesse momento o produto deverá surpreender o cliente para que ele seja um consumidor satisfeito. Caso contrário, o indivíduo poderá ficar insatisfeito, o que dá maiores chances de atuação da concorrência. Estes mesmos autores afirmam que, após a fase de pós–consumo, existe o estágio de descarte que, como o próprio nome diz, é a eliminação de partes do produto que não foram utilizadas. Esta eliminação pode se dar de três formas segundo Blackwell, Miniard e Engel (2008) – descarte completo, reutilização ou reciclagem. Lauterborn (1993 apud BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2008) afirma que o processo de descarte também está ligado ao processo de 25 comunicação entre empresas e clientes. Para o autor, pessoas mais informadas tendem a ser mais conscientes na eliminação das sobras de produtos adquiridos. Kotler e Keller (2006), Solomon (2002), Schiffman e Kanuk (2000), Blackwell, Miniard e Engel (2008) e Mowen e Minor (2003) afirmam que, em cada um dos estágios acima, o consumidor é influenciado tanto por fatores culturais, sociais e pessoais quanto pela urgência, motivação, desejo e envolvimento do consumidor na aquisição do bem ou serviço. 2.1.2 Influências no processo de compra Solomon (2002), Schiffman e Kanuk (2000) e Mowen e Minor (2003) compreendem que o indivíduo, como consumidor, sofre influências psicológicas, pessoais, sociais e culturais durante todas as fases do processo de decisão de compra (pré, durante e pós-compra). Kotler (2003), corroborando com essas definições, reestruturou os conceitos definidos por estes autores ao inserir, nas influências no processo de compra, fatores internos e externos que geram impactos sobre as decisões de compra (como pode ser visto na Figura 2). A perspectiva psicológica, o meio em que vive (pessoal e profissional), a situação financeira, aspectos neurológicos, aspectos históricos/experiências, as influências do marketing e informações da empresa, aspectos econômicos, influências comunicacionais e postura da empresa perante o mercado são algumas das influências a que o consumidor está sujeito durante o processo de compra (MACINNIS; FOLKES, 2010). Toda decisão de consumo conta com a influência de fatores sociais que, segundo Kotler e Keller (2006), representam grupos de referência como família, status, reputação, papel, posição e grupos sociais em que o consumidor está inserido. Estes grupos aos quais o comprador pertence são responsáveis por definir um estilo de vida, por gerarem aceitação ou repúdio conforme os hábitos de consumo de uma pessoa. Com base em Blackwell, Miniard e Engel (2008), as influências sociais se dão pela cultura em que vive o cliente, pela classe social e pela situação social e econômica em que se encontra o consumidor. Para estes autores, tais fatores contribuem para que a pessoa obtenha e utilize produtos e serviços visando, além dos benefícios reais do produto, a uma integração social, ou 26 seja, são fatores que estabelecem os padrões de consumo de determinados grupos sociais. Figura 2 - Influências no comportamento do consumidor Fatos Culturais Fatos Sociais Cultura Sub cultura Grupos de referência Classes sociais Família Posição social Fatos Pessoais Idade Ocupação Condições econômicas Estilo de vida/Personali dade Fatores Psicológicos Motivação Percepção CONSUMIDOR Experiências Fonte: Adaptado de Kotler e Keller (2006); Blackwell, Miniard e Engel (2008); Schiffman e Kanuk (2000). Compras também são influenciadas por características pessoais que, de acordo com Kotler e Keller (2006), pode ser a idade, a condição financeira, o estilo de vida, a personalidade, os valores de criação, a maturidade, as experiências de vida e consumos anteriores. Blackwell, Miniard e Engel (2008) complementam essa definição com a motivação para compra, o conhecimento do produto e as atitudes sobre uma determinada marca ou produto. Estes autores definem tais pontos como influências pessoais, por considerarem que são variáveis diretamente ligadas ao consumidor e que só podem ser alteradas conforme interesse e empenho da pessoa, indiferente da relação que este estabelece em seus grupos de relacionamento. As influências pessoais, segundo Sheth, Mittal e Newman (2001) e Mowen e Minor (2003), processam-se de forma integrada, ou seja, a associação de informações do produto às experiências já vividas. Estas variáveis pessoais incidem diretamente sobre o processo de motivação do consumidor, e é esta motivação que irá gerar as compras baseadas nas necessidades reais, no impulso e no desejo (quanto mais motivado, menor é a análise de riscos por parte do consumidor Sheth, Mittal e Newman, 2001). Crenças próprias de um consumidor definem um 27 comportamento padrão e aceitável para a pessoa (individualmente), enquanto crenças e normas partilhadas por grupos de referência dos quais o indivíduo faz parte definem uma forma de comportamento aceitável para um grupo, o que resulta em interferência social na decisão de compra. “Cultura, subcultura e classe social são fatores particularmente importantes no comportamento de compra” (SHETH; MITTAL; NEWMAN, 2001, p. 29). Segundo Kotler e Keller (2006), esta cultura vem com a pessoa desde o seu nascimento e, à medida que os anos vão passando, novos valores, percepções e preferências vão sendo agregados à sua personalidade. A influência externa é adquirida na família, na escola, com os amigos. Alguns fatores que também influem nesse comportamento estão ligados à cidade natal, aos pais, ao estilo de vida que pretendem seguir. Além destes, a religião, raça, opção sexual e visão de futuro incidem sobre os hábitos de compra. 2.1.3 Conhecimento cognitivo e afeto Dois outros fatores que também influenciam o comportamento do consumidor são o afeto e a cognição. Para Peter e Olson (2009), não basta apenas que a mensagem da comunicação de marketing chegue até o receptor, a informação tem que ser interessante o suficiente para que desperte o interesse do cliente em interpretar e dar sentido à informação recebida. Eles ainda afirmam que o processo de interpretação exige uma exposição à informação, por isso, a necessidade de uma comunicação clara e objetiva. Quando a informação é interpretada, ela imediatamente é armazenada na memória e pode ser usada a qualquer momento no processo de decisão de compra. Quando o conhecimento é recuperado na memória, há uma junção entre sentimentos e experiências e a informação que está sendo exposta, compondo o que Peter e Olson (2009) chamam de conhecimento cognitivo. Cognição refere-se a conhecimentos e significados que ficam na memória, a partir de uma informação recebida e experiência com algum produto ou serviço. O conhecimento cognitivo (interpretação, significado e crença) tem como base dois principais pilares: a interpretação e a integração entre informação recebida e a guardada na memória (PETER; OLSON, 2009). 28 O afeto, por sua vez, corresponde aos sentimentos cultivados por consumidores em relação à determinada marca ou produto, e sua aceitação ou não por parte do cliente. O afeto (sentimentos, emoções, avaliações), segundo Peter e Olson (2009), é uma reação às experiências e conhecimento em relação ao produto. O conhecimento cognitivo também está ligado a crenças e estas crenças também interferem no afeto. Se a crença (cognição) não for verdadeira mudará o afeto em relação ao produto (expectativa não atendida gera insatisfação). O conhecimento cognitivo é capaz de influenciar os momentos de avaliação e decisão por meio de experiências pessoais (PETER e OLSON, 2009). O comportamento do consumidor envolve interações entre o pensamento, conhecimento, experiências e sentimentos, por isso as mensagens transmitidas pela comunicação de marketing são responsáveis pela formação do conhecimento cognitivo, do afeto e influenciam o interesse ou a rejeição por um produto, o que reflete no sucesso ou não de uma marca (como pode ser visto na Figura 3). Todas essas influências – pessoais, sociais, culturais, afeto e cognição estão diretamente ligadas à informação que o consumidor recebe de uma empresa ou de um produto/serviço. A credibilidade da informação, a consistência do conteúdo das mensagens, o impacto gerado no cliente, os meios utilizados para divulgação da informação e a percepção/entendimento do cliente após receber a informação são responsáveis por ativar o reconhecimento da necessidade, a preferência por alguma marca e, principalmente, pela decisão de compra (MANGOLD; FAULDS, 2009). A forma como as empresas se comunicam com seus públicos, os meios utilizados e o resultado gerado são o foco desta pesquisa, e serão discutidos nos próximos capítulos. 29 Figura 3 - Processo Cognitivo e afetivo no comportamento do consumidor Informação Processo de Interpretação Cognição Afeto Interpretação + Cognição + Afeto Comportamento de consumo Fonte: Peter e Olson (2009, p. 19). 2.1.4 Comunicação de marketing Pasquale, Neto e Gomes (2012) afirmam que a comoditização de produtos e serviços tem levado os consumidores a escolherem suas compras com base em ponto de venda, entrega e, principalmente, no menor preço. Para não caírem no ostracismo e perderem participação no mercado, muitas empresas estão valorizando, cada vez mais, a comunicação de marketing que, de acordo com Ogden e Crescitelli (2009), tem como papel principal atrair a atenção dos consumidores para os produtos e serviços de uma determinada empresa. A comunicação é uma ferramenta que se aloca dentro do composto promoção do mix de marketing – quatro P’s: preço, praça, produto e promoção – desenvolvido pelo Prof. Jerome McCarthy, no início dos anos 60 (OGDEN; CRESCITELLI, 2007). Produto se refere ao bem físico ou serviço que está sendo oferecido ao cliente. Preço se refere ao custo necessário para obtenção do produto. Praça é também 30 conhecida como os canais de distribuição ou pontos de distribuição, refere-se aos meios utilizados para fazer chegar o produto até ao cliente. Promoção está relacionada aos meios utilizados para dar conhecimento, informar, lembrar e convencer os clientes sobre o produto. O “P” de promoção, segundo Las Casas (2010), é uma variável do composto de marketing que, nos dias atuais, recebe o significado de comunicação, pois este objetiva informar com eficiência a respeito dos produtos e serviços, estimulando o interesse dos consumidores, bem como atuar na construção da imagem da empresa. Shimp (2002), diz que a comunicação é o processo final do esquema de marketing de Jerome McCarthy, pois tem como objetivo a apresentação e a promoção do produto ao consumidor. A comunicação de marketing age na formação e apresentação de um mundo diferente, novo e melhor, criando o desejo em uma pessoa (RANDAZZO, 1997). Para Shimp (2002), processos comunicacionais mercadológicos têm um papel persuasivo no comportamento do consumidor, ou seja, exercem uma função argumentativa com o cliente para que o desejo por determinado produto se torne ação de consumo e os pontos positivos de uma marca sejam enaltecidos. “A comunicação de marketing é um aspecto fundamental da missão geral de marketing de uma empresa e um dos principais determinantes do sucesso” (SHIMP, 2002, p.31). A importância da comunicação de marketing tem crescido nos últimos anos. Mais e mais produtos e serviços são vistos como sendo a paridade, tendo chegado ao estágio de maturidade do seu ciclo de vida ou com substitutos atraentes disponíveis no mercado. As ações de comunicação de marketing podem fornecer informações para criar pontos de diferença, que de outra forma não seria possível. Em um mercado complexo, como o atual, ações de comunicação podem permitir que marcas se destaquem e ajudem os consumidores a apreciar as vantagens do produto (KELLER, 2001; SANTIAGO, 2008; PASQUALE; NETO; GOMES, 2012; WILKEN; SINCLAIR, 2011). Comunicação de marketing, para Santiago (2008, p. 62), “é a comunicação organizacional, voltada para o mercado, promovendo, posicionando e divulgando produtos, marcas, serviços, benefícios e soluções.” Para este autor, uma comunicação feita de forma correta com o mercado tende a integrar a empresa e seus consumidores. Keller (2001, p. 823) diz que “comunicações de marketing 31 representam a voz de uma marca e os meios pelos quais as empresas podem estabelecer um diálogo com os consumidores quanto à suas ofertas de produtos”. O objetivo da comunicação, com base em Keller (2001) e Santiago (2008), é lembrar, persuadir e informar. Para isso, a mensagem deve chamar a atenção, gerar interesse despertar o desejo. Ações de comunicação de marketing são uma extensão do elemento promoção, do composto de marketing (promoção, praça, produto e preço). A promoção tem ganhado espaço nas empresas desde a década de 20, mas sua força maior foi expressa na década de 80, quando a criatividade e a adoção de vários canais de relacionamento com os públicos tomaram frente nas ações estabelecidas pelas empresas (WILKEN; SINCLAIR, 2011). Para Madhavaram, Badrinarayanan e McDonald (2005), nos últimos 30 anos o processo de comunicação tem sofrido uma forte mudança e deixado de ser um planejamento operacional para ocupar um lugar de destaque no planejamento estratégico. Ikeda, Chiusoli e Pacahanhan (2003, p. 7) definem a comunicação de marketing como um processo de negócio "estratégico usados para planejar, desenvolver, executar e avaliar programas de comunicação persuasivos que influenciem consumidores, clientes e prospects”. Como resultado dessas mudanças um programa de comunicação moderna tipicamente emprega uma série de opções de comunicação (PASQUALE; NETO; GOMES, 2012; KELLER, 2003; PERCY, 1987): promoção de vendas, eventos, feiras, relações públicas, marketing direto, marketing interativo, venda pessoal e outros (como pode ser visto na Tabela 1). Tabela 1 - Comunicação de marketing na visão de alguns autores Pasquale, Neto e Keller Kotler Nickles e Wood Gomes Vendas pessoais Vendas pessoais Propaganda Venda Pessoal Vendas não pessoais Venda em massa Promoção de Vendas Propaganda Propaganda Propaganda e Relações Públicas e Relações Públicas Promoções de Publicidade Publicidade Malas Diretas Displays de lojas Vendas Promoção de vendas Vendas Pessoais Marketing Direto Sites na internet Relações Públicas Fonte: Ikeda, Chiusoli e Pacanhan (2003, p. 14). Ogden e Crescitelli (2009) e Ikeda, Chiusoli e Pacanhan (2003) argumentam que os instrumentos utilizados nas ações de promoção são responsáveis por reverter o processo de relacionamento entre empresas e consumidores. No passado 32 o propósito das organizações era desenvolver produtos ou serviços que satisfizessem a necessidades dos clientes. Hoje, o mais importante é gerar valor para os produtos e serviços que satisfaçam a necessidade dos consumidores. Esses instrumentos, para estes autores devem criar expectativas para os clientes capazes de serem supridas e, dessa forma, chamar a atenção para a marca e o produto. “... comunicação de marketing permite que os comerciantes vejam além da natureza física de seus produtos ou as especificações técnicas de seus serviços para apresentar ao mercado produtos e serviços com significado adicional e valor” (KELLER, 2003, p. 11). Madhavaram, Badrinarayanan, e McDonald (2005) apontam, em estudos recentes, os vários benefícios de um bom processo de comunicação de marketing para as empresas. Estes autores indicam que a comunicação de marketing ajuda as empresas na construção e na consolidação da marca e de seus produtos e serviços, utilizando a sinergia (junção de vários instrumentos de comunicação em prol de um mesmo objetivo). Da mesma forma, Ikeda, Chiusoli e Pacanhan ( 2003) fornecem suporte para a afirmação de que a integração de comunicações de marketing pode gerar respostas desejáveis dos clientes. Portanto, estes autores destacam que potencialmente a comunicação pode tornar as empresas mais eficientes e/ou eficazes com o seu alvo e, por sua vez, podem ajudar estas empresas na obtenção de melhores desempenhos financeiros, por meio da consolidação da marca. 2.1.4.1 Comunicação de marketing: do planejamento ao entendimento da mensagem O processo de comunicação tradicional (LASSWELL, 1948 apud KUNSCH, 1999), que descreve o fluxo de mensagens de remetentes para os receptores tendo como base elementos como codificação, mídia e decodificação, enfrentou mudanças significativas na forma como a academia e as empresas estudam e desenvolvem seus processos comunicacionais, evoluindo para uma forma mais interativa e um processo dinâmico (KOTLER; KELLER, 2006). Embora tenha passado por mudanças significativas (que serão vistas mais à frente), a essência de um plano de comunicação mantém a mesma base, facilitando o seu planejamento. É importante destacar os principais elementos do processo de comunicação: emissor, canal, receptor. O planejamento da comunicação de marketing consiste em identificar, 33 analisar, estruturar, implementar e coordenar ações de promoção de um produto ou serviço (PASQUALE;; NETO; GOMES, 2012; MADHAVARAM; BADRINARAYANAN; McDONALD, 2005). Segundo Kotler (2003), para desenvolver uma campanha de marketing, primeiro deve-se conhecer o produto, logo após identificar o mercado-alvo e os motivos que levariam os consumidores a adquirirem determinado produto. Em seguida são tomadas cinco decisões principais na elaboração da campanha de propaganda, chamada pelo autor de “os cinco M’s”, que são: missão, moeda/dinheiro, mensagem, mídia, mensuração. Cada “M” tem como objetivo estabelecer os propósitos da propaganda, definir quanto pode ser gasto, escolher o que será divulgado, decidir o tipo de veículo de comunicação mais adequado e avaliar os resultados obtidos, respectivamente. Para cada tipo de produto ou serviço é necessário um plano de comunicação. Diferentes produtos atendem a diferentes necessidades e devem ser apresentados aos consumidores de formas adequadas a cada público. Por isso, o primeiro passo para o planejamento de uma boa comunicação de marketing é o conhecimento profundo do produto ou serviço que será ofertado (PASQUALE; NETO; GOMES, 2012). Após a fase de conhecimento do produto, vem a definição do público-alvo. Saber identificar o público-alvo é e grande importância para melhor executar o processo de comunicação de marketing (SANTIAGO, 2008). Selecionado o público-alvo, é hora de determinar o objetivo da mensagem e desenvolver o conteúdo da comunicação (conforme Figura 4). O responsável por essa tarefa tem como missão desenvolver uma mensagem que desperte a atenção, “reduza a dispersão e anule os ruídos, buscando uma resposta positiva dos consumidores” (SANTIAGO, 2008, p. 61). A mensagem deve atrair a atenção e manter o interesse do receptor, para isso é necessário o uso de uma linguagem dirigida para cada audiência-alvo. Wilken e Sinclair (2011) defendem que as mensagens devem ter um mínimo de padronização para poderem remeter à marca da empresa, mas devem prezar pela personalização para cada público, facilitando o entendimento do conteúdo, buscando despertar o interesse do cliente potencial (SANTIAGO, 2008; PASQUALE; NETO; GOMES, 2012). Como toda e qualquer decisão do planejamento estratégico, a comunicação de marketing está submetida à aprovação de um orçamento (OGDEN; 34 CRESCITELLI, 2007). O planejamento estratégico deve reservar verbas para a execução de estratégias de promoção dos produtos e serviços da empresa. Esse orçamento pode modificar todo o planejamento de comunicação, caso não seja suficiente para cobrir os custos das ações. Após aprovação do orçamento, vem a escolha dos canais em que a mensagem será transmitida. Alguns autores (PASQUALE; NETO; GOMES 2012; SANTIAGO, 2008; MADHAVARAM; BADRINARAYANAN; McDONALD, 2005) acreditam que a fase de escolha dos canais venha antes da aprovação do orçamento, porém neste trabalho será adotada a definição de Wilken e Sincali (2011), Ikeda, Chiusoli e Pacanhan (2003), Ogden e Crescitelli (2007), que dizem que, se a comunicação de marketing é um elemento do planejamento estratégico, a ação deve estar dentro do orçamento pré-aprovado, ou seja, o orçamento não deve ser flexível para cada ação. A seleção do canal, segundo Santiago (2008), deve ser feita com base nos objetivos do emissor e com base no grau de entendimento do público alvo. Todo o mix de comunicação pode ser utilizado, uns elementos com mais intensidade, outros com menos. “O emissor pode ter em vista o objetivo de sua mensagem, e, para melhor entendimento do conteúdo é necessário que este objetivo seja condizente com o público alvo e que a escolha do canal onde será divulgada a mensagem consolide o que pretende o emissor” (PASQUALE; NETO; GOMES, 2012, p. 12). De uma forma geral, se o meio escolhido para veiculação do conteúdo for apropriado para o público-alvo e trabalha junto aos objetivos do emissor, a comunicação de marketing pode antecipar o desejo de consumo do cliente (SANTIAGO, 2008). 35 Figura 4 - Processo de comunicação de marketing Produto – Serviço Público alvo Objetivo/desenvolvimento da mensagem Escolha de canais Mensuração de resultados Orçamento Consumidor Fonte: Adaptado de Pasquale, Neto e Gomes (2012); Madhavaram, Badrinarayanan e McDonald (2005) e Kotler (2003). Segundo Rice (1987), Burgoon e outros (1999), os canais de comunicação se diferem em três pontos principais: a) Velocidade de transmissão da informação: velocidade com que a mensagem chega até o receptor; b) Utilização de símbolos: variedade de linguagens na transmissão da informação; c) Paralelismo: transmissão simultânea de vários emissores (mídias online). Essas diferenças são importantes no momento de decisão do canal a ser utilizado, pois cada tipo de canal pode facilitar ou dificultar o alcance do objetivo do 36 emissor. As diferenças, se analisadas de forma correta, podem contribuir consideravelmente para uma melhor escolha da mídia a ser utilizada. A última fase do planejamento da comunicação de marketing e uma das mais importantes é quando a mensagem chega até o consumidor (SANTIAGO, 2008; OGDEN; CRESCITELLI, 2007), pois é nesse momento que acontece a recepção, o processamento e a compreensão da mensagem (por isso os dizeres têm que ser adaptados a cada público-alvo e devem ser de fácil compreensão). O papel do consumidor quando recebe a mensagem é compreender o conteúdo, associar o conteúdo a uma variedade de formatos e fontes (símbolos, escritas, fotos, organizações, sites, pessoas) e formar um significado para a mensagem obtida. Para isso, precisam de tempo para processar a informação obtida (processo cognitivo) e depois gerar uma compreensão individual da mensagem e a divulgação para outras pessoas do grupo social (Convergência da mensagem) (DENNIS et al., 1987). Por essas razões a mensagem da comunicação tem que ser adaptada a cada público, facilitando e agilizando o seu entendimento. O desenvolvimento de um significado pressupõe que os indivíduos não somente compreendam a informação, mas também compreendam o significado que cada participante do processo de comunicação construiu (ROGERS, 1986; TE’ENI, 2001). Existem diferentes estágios de entendimento do consumidor, os quais pressupõem que o receptor passe por um processo cognitivo, afetivo e comportamental (SANTIAGO, 2008). O estágio cognitivo é a formação de pensamentos e o conhecimento adquirido por meio de uma associação da experiência guardada na memória com as informações disponíveis. O componente cognitivo considera o passado dos consumidores com o produto. O estágio afetivo refere-se às emoções ou sentimentos do consumidor quanto a um produto ou marca, gerados a partir da experiência emocional da situação. E, por fim, o componente conativo está relacionado à tendência de o indivíduo transformar a intenção em ação, ou seja, em comportar-se de uma maneira específica na compra do produto (ESPINOZA, 2003). Em suma, o efeito comportamental ocorre a partir de uma associação entre o estímulo (mensagem) e uma representação cognitiva. Porém, a sequência de receber a mensagem, entender e agir varia de acordo com o envolvimento. Segundo Espinoza (2003) e Santiago (2008): 37 a) Quanto maior for o valor da aquisição, maior será o envolvimento do consumidor que, por isso, irá buscar mais informações, referências, compreensão e, posteriormente, ação; b) Quando há pouco envolvimento com o consumo e não há distinção entre as marcas, a ordem de processamento da mensagem é agir, sentir e aprender; c) Se não há envolvimento no consumo e faz-se pouca distinção entre as marcas, o processo se inverte para aprender, agir e sentir. O processo de comunicação de marketing tem como objetivo principal influenciar as atitudes e o comportamento do consumidor (PASQUALE; NETO; GOMES, 2012). A influência em cada estágio do processo de compra e como ela altera o comportamento do consumidor será vista no próximo tópico. 2.1.4.2 Comunicação de marketing: influências em cada fase do comportamento do consumidor Para análise de como a comunicação de marketing e suas mensagens influenciam no comportamento do consumidor, serão adotados os sete estágios discutidos por Blackwell, Miniard e Engel (2008): reconhecimento da necessidade, busca por informações, analise das alternativas, compra, consumo, avaliação e descarte. Kotler e Keller (2006) apresentam alguns aspectos que mostram por que a informação pode influenciar tanto no processo de compra. Para os autores, devido à quantidade de produtos disponíveis para escolha, os consumidores acabam optando pela busca de informações para decidirem a melhor opção de compra. Estas informações podem trabalhar alguns pontos, enumerados por Kotler e Keller (2006), que conquistem a decisão do cliente. Os estudiosos afirmam que os consumidores: a) Estão cada vez mais sensíveis às ofertas; b) Dispõem de menos tempo para análise e decisão; c) Querem mais conveniência; d) Buscam melhor custo beneficio; e) Têm alta expectativa em relação ao atendimento 38 f) São menos fieis às marcas. Por estas e outras razões é importante que a empresa tenha um processo de comunicação de marketing eficaz e eficiente para conquistar os compradores. As fases de processamento e convergência da mensagem sofrem fortes influências das mídias (fontes), uma vez que são responsáveis pela facilidade de transmissão, recebimento e compreensão da mensagem transmitida (DENNIS et al., 2008). Para Blackwell, Miniard e Engel (2008) e Ferreira, Reis e Serra (2010) o reconhecimento da necessidade sofre influências de vários aspectos internos e externos ao consumidor. Internamente, o indivíduo percebe que sua situação real não condiz com o que considera ser sua situação ideal, por isso busca mudanças. Externamente, propagandas, grupos sociais, vendedores e outras fontes de informação estimulam o sentimento de falta e mostram ao consumidor que uma situação melhor pode existir caso obtenha um produto ou serviço. Quando a necessidade é sentida, o indivíduo sai em busca de referências e tende a ficar mais sensível às informações sobre as opções disponíveis para compra. Paralelamente à variedade de produtos disponíveis, existe uma quantidade grande de fontes de informações para que o cliente possa buscar referências sobre suas intenções de consumo. Ferreira, Reis e Serra (2010) afirmam que nessa fase a comunicação de marketing deve destacar os diferenciais, a facilidade de consumo e acesso e a relação custo beneficio de seus produtos e serviços. Nesse período do processo de compra, a comunicação de marketing irá apresentar o mix de produtos e dar relevância às características que diferem uma marca da outra. É o momento em que o consumidor obtém conhecimento sobre suas intenções de compra e começa a se interessar por determinada empresa. Quanto maior o envolvimento e o valor despedido para a aquisição do bem, maior será a necessidade de informações. Ferreira, Reis e Serra (2010) apresentam algumas fontes de informações relevantes (conforme Tabela 2): 39 Tabela 2 - Busca por informações e suas fontes Tipo de informação Fontes Pessoal Família, amigos, vizinhos, colegas de trabalho, pessoas que já consumiram o produto. Comercial Propaganda, vendedores, relações públicas. Pública Mídias em massa, comunidades de discussões. Experimental Feiras, testes pré-consumo, degustações. Fonte: Ferreira, Reis e Serra (2010, p. 75). O consumidor está sujeito a uma quantidade muito grande de informações diárias e sua capacidade de processamento destas informações é reduzida, por isso a mensagem a ser transmitida deve ser (MOURA, 2009): a) Criativa: para chamar a atenção e ganhar mais a confiança do consumidor; b) Intensa: para não ser esquecida quando o cliente ler sobre os concorrentes; c) De fácil acesso: quanto mais complexo o acesso à informação, maior será o desinteresse pelo produto; d) Verídica: informações falsas destroem a imagem de uma empresa; e) Adaptada para cada público: o canal e a mensagem devem ser adaptados para o público-alvo, facilitando o processamento e o entendimento do conteúdo. Depois de estar de posse das informações das diferentes marcas de um produto almejado, o consumidor fará a avaliação de suas características individuais, e escolherá a que melhor satisfaça suas expectativas. Como visto anteriormente, a comunicação de marketing tem o papel de criar expectativas corretas para o cliente. Esse estágio é fundamental para a decisão de compra, pois é tomada a partir da avaliação dos atributos oferecidos por cada marca avaliada, optando pela que mais se aproxime de seus desejos (KOTLER, 2003). Ao encontro dessas afirmações, Gade (1998) diz que, na avaliação das alternativas, são observados dois fatores básicos: a memória e o nível motivacional. O motivacional direciona o consumidor aos produtos identificados como indicadores de proporcionar maior contentamento, enquanto a memória direciona o cliente para a avaliação por meio de comparação dos atributos oferecidos pelos produtos. Nesses dois pontos as informações obtidas facilitarão a decisão do consumidor, uma vez que a comunicação de marketing pode gerar uma associação do conteúdo da mensagem a uma situação específica, pessoas, lugares, experiências (KELLER, 2003). 40 Na fase de decisão de compra o consumidor terá se baseado em todas as informações obtidas até o momento e seu grau de envolvimento será proporcional ao valor do bem a ser adquirido e suas expectativas em relação à aquisição. Nesse estágio, uma fonte de informação da comunicação de marketing é de suma importância para a concretização da compra: o vendedor. O profissional será responsável por fornecer as últimas informações antes da aquisição do produto ou serviço e um vendedor que não saiba os detalhes de aquisição, funcionamento e consumo do produto poderá espantar o cliente. A informação fornecida via vendedor - o contato face a face - tende a aumentar a confiança do consumidor e finalizar a venda (MEDEIROS; CRUZ, 2005). Podem surgir questionamentos de como a informação pode influenciar no consumo de um produto ou serviço. Para isso, vale lembrar que a comunicação de marketing deve criar expectativas corretas, pois quanto maiores forem as expectativas, maior será o entusiasmo para consumo e maior será o senso critico para posterior avaliação. Informações podem contribuir para um melhor manuseio e consumo do produto ou serviço. Produto consumido, é hora de avaliar a aquisição. Os consumidores, nesse momento, deixam de ser clientes e se tornam fontes de informações para novos consumidores. Se satisfeitos, tornam-se referências positivas e transmitirão mensagens a favor da empresa. Se insatisfeitos, serão fontes de informações negativas, podendo atrapalhar o negócio da organização. As organizações são, cada vez mais, responsáveis pelos dejetos oriundos do consumo de seus produtos. Informações sobre descarte seguro, reaproveitamento e reciclagem são mensagens positivas para a imagem e para a percepção (e influência) do consumidor, na última fase do processo de compra, que é a fase de descarte. Assim sendo, é uma certeza que informações claras, verídicas, criativas e persuasivas atuam em todas as fases do comportamento do consumidor. Porém, os processos de comunicação de marketing têm enfrentado uma reestruturação nos últimos vinte anos (KELLER, 2003). O surgimento da comunicação online e a variedade de títulos de jornais, revistas e canais fazem com que a audiência se divida entre esses vários meios (KLASSEN, 2006). Além disso, tendem a reduzir a frequência de exposição das mensagens e a gerar alta variabilidade da audiência- 41 alvo, além de exigirem dos profissionais de marketing novos linguajares e novas formas de se interagir com os públicos. Algumas formas de comunicação se sustentam mais em mídias de massa e outras se baseiam predominantemente em mídias interativas de comunicação (CANNON; PERREAULT,1999). Sendo assim, apesar de a mídia de massa ser relevante para o conhecimento da marca e suas vendas, nesses novos tempos de comunicação é necessário considerar a influência e a relevância das mídias interativas. 2.2 Mídias: tradicionais e interativas Este tópico disserta acerca dos conceitos de mídias tradicionais e interativas. Seu objetivo é apresentar o contexto em que se inserem as características e as aplicações de cada uma destas mídias. Por último, é feito um comparativo entre as duas mídias e a contribuição de cada uma delas à comunicação de marketing. 2.2.1 Mídias tradicionais ou off-line Mídia tradicional ou off-line2 é uma forma técnica de se referir aos principais veículos de um sistema de comunicação tradicional – canais de televisão, revistas, jornais, emissoras de rádio e outros. Até vinte anos atrás essas mídias dominavam o mercado publicitário (PETRECA, 2006; JAFFE, 2008; LAS CASAS, 2010), com vídeos publicitários de trinta segundos, anúncios, jingles e spots. Para Jaffe (2008), a influência de programas de TV (filmes, novelas, seriados) é maior do que a influência de comerciais e exerce um papel de relevante importância na decisão de compra. A influência da mídia tradicional depende da quantidade de exposição do comercial, pois a audiência tende a associar as imagens e mensagens divulgadas à sua realidade (LAUTERBORN, 1993; KANG, 2009; HOOLEY; SAUNDERS; PIERCY, 2 Off-line, em sua tradução literal, quer dizer desconectado. Online, por sua vez, significa conectado. Mídias off-line são aquelas que não estão diretamente conectadas à internet e não permitem interação com os receptores. Mídias online estão conectadas à internet e permitem interação (diálogo em mão dupla) com os receptores (CIRIBELLI; PAIVA, 2011). 42 2005). Mensagens de mídia off-line atingem melhor o consumidor, pois têm maior facilidade de tocarem no ego, virilidade, aceitação social e orgulho do ouvinte. Vários aspectos positivos e negativos das mídias tradicionais podem ser apontados para caracterizar esses canais de comunicação que reinaram durante muitos anos na comunicação de marketing das organizações. O primeiro deles é a quantidade de pessoas ligadas nas televisões e rádios. Segundo Telles (2010), em 2010 99% das residências brasileiras tinham televisão com canais abertos e 78% tinham um aparelho de rádio. Além disso, sinais de TV e rádio têm chegado aos mais remotos pontos do país, ou seja, o alcance da informação aumentou. Estas mídias fornecem informações que não necessitam da pró-atividade do espectador para serem acessadas: caso o rádio e a TV estejam ligados, a mensagem será transmitida independentemente da vontade da audiência (GENTILE, 2003). Jornais e revistas ganham pontos positivos na perpetuação da mensagem. Esses materiais impressos tendem a serem lidos por várias pessoas e em diferentes locais, perpetuando a marca e a mensagem do anunciante. Jaffe (2008) apresenta uma estatística que anima estas mídias convencionais: no Brasil, 67% da população nunca navegou na internet. Apenas cinco milhões de casas estão conectadas à internet. Por outro lado, o alto custo de inserção de anúncios e comerciais nesses canais dificultam o acesso de muitas organizações menores a esses meios (JAFFE, 2008). Outro ponto negativo a ser destacado é o limite de tempo e espaço para as comunicações, o que faz com que as mensagens sejam unilaterais, não permitindo a interação entre emissor e receptor. As mensagens das mídias de massa são inflexíveis e desenvolvidas para atingirem o maior numero possível de pessoas. A programação da televisão e as matérias em jornais são elaboradas para que o entendimento seja geral. As mensagens não se modificam, pois não têm interatividade e são recebidas sem a participação dos usuários (AGUIAR, 2007). É a mensagem feita para todos. As mídias de massa se difundiram de tal forma que hoje se pode afirmar que elas atingem quase toda a humanidade, tornando-se universais (HOOLEY; SAUNDERS; PIERCY, 2005; ILFELD; WINER, 2002). Estas mídias, que reinavam absolutas há até pouco tempo, vêm perdendo espaço para as chamadas mídias interativas (JAFFE, 2008). Muitos fatores podem ser apresentados para defender essa afirmação de Jaffe (2008): 43 a) 67% das pessoas assistem à televisão, ouvem rádio ou leem jornais e revistas, fazendo, paralelamente, outra atividade (refeições, conversas, direção) e os anúncios publicitários acabam despercebidos (JAFFE, 2008). b) Antes eram poucas fontes de informação, por isso a audiência era mais alta. Com o surgimento de novas fontes a audiência se desmembrou (JAFFE, 2008). c) Os consumidores deixaram de ser tão ingênuos como antes e buscam mais detalhes e informações: eles questionam, contestam e rejeitam abertamente tudo que é irrelevante, desnecessário e insultuoso (JAFFE, 2008). d) A influência de uma mensagem pode não agir imediatamente à sua exposição. Ela fica armazenada no subconsciente e será 'ativada' no momento de compra. Muitas vezes, devido ao alto custo, a frequência de divulgação de uma mensagem é pequena, dificultando essa ativação (JAFFE, 2008). A maior critica feita aos meios de comunicação tradicionais é a passividade a que o receptor está sujeito (JAFFE, 2008). Se antes as pessoas eram apenas receptores passivos, hoje é possível comentar notícias, postar vídeos, criar conteúdos e debater em fóruns e redes sociais. A crise na mídia tradicional pode ser comparada com a perda do monopólio da Igreja na idade Média. Deixa de ser única, de pregar a verdade inquestionável e não consegue controlar a crescente atuação de novos canais de comunicação de marketing. Os meios off-line de comunicação estão fadados a conviver com outras fontes de informação. A divulgação de produtos e informação, que nasceu desde os primórdios com as mais antigas técnicas de comércio e ganhou maiores proporções com a mídia em massa, começa a conviver com um novo tipo de mensagem, sendo esta direta, segmentada e participativa: a mensagem coletiva e colaborativa do mundo interativo (RECUERO; ZAGO, 2009; TELLES, 2010) 2.2.2 Mídias interativas ou online Mídias tradicionais têm suas origens na era pós-Revolução Industrial, um período em que era necessário vender tudo o que era produzido. Advindos alguns anos, a sociedade passou a ser regida pelas revoluções informativas, o que fez com que a relação entre consumidor e empresa mudasse, porém a comunicação da 44 empresa mudou pouco, e começou tarde essa mudança, deixando um desnível que deve ser consertado. Para reparar este desnível deixado na comunicação de marketing, ganharam espaço no mercado da promoção as chamadas mídias interativas ou mídias online: blogs, microblogs, sites, redes sociais, SMS. (DAMBRÓS; REIS, 2008; JAFFE, 2008; LAS CASAS, 2010; MOURA, 2009; TELLES, 2010; BAREFOOT; SZABO, 2010). O surgimento da internet proporcionou que as pessoas pudessem difundir as informações de forma mais rápida e mais interativa. Tal mudança criou novos canais e, ao mesmo tempo, uma pluralidade de novas informações nos grupos sociais (RECUERO; ZAGO, 2009). As atuais possibilidades oferecidas pela informática – na rapidez da comunicação e na estocagem de informação – podem proporcionar agilidade e rapidez na circulação de informações (WHITAKER, 1993). O aumento do uso de mídias online no mundo dos negócios é favorecido pelo aumento da média de idade de pessoas que estão conectadas e se informando mais pela internet. A confiança em mídias interativas cresceu nos últimos anos, se comparada à confiança em mídias tradicionais (RUMPZA; BELLMONT, 2009). Esse crescimento das mídias interativas também é amparado pela liberdade de expressão e realidade dos conteúdos que são postados a cada minuto. “Por não estarem trocando informações pessoalmente, há uma sinceridade maior dos usuários nos diálogos em exporem suas opiniões e nas discussões estabelecidas na rede” (CIRIBELI; PAIVA, 2011, p. 65). Barefoot e Szabo (2010) definem interatividade como a facilidade de indivíduos e organizações em comunicar-se diretamente um com o outro sem levar em conta a distância ou tempo: característica das novas tecnologias de comunicação, pois proporciona a criação de relacionamentos bilaterais com os clientes, possibilitando a empresa receber feedback sobre o desempenho do produto ou sobre problemas, assim como sugestões de como resolver estes problemas (HOOLEY; SAUNDERS; PIERCY; 2005). As novas tecnologias da informação estão integrando o mundo em redes globais de instrumentalidade. A comunicação mediada por computadores gera uma quantidade enorme de comunidades virtuais e pode haver discussões sobre produtos, serviços e marcas por intermédio das organizações (CASTELLS, 1999). Os instrumentos modernos de comunicação proporcionam trocas em que as pessoas participam com experiências, criticas e sugestões e as empresas interferem nas discussões, fornecendo dados e 45 informações sobre algum produto/serviço. A consequência disso é um consumidor que confia e acredita na reputação da organização (DEIGHTON; KORNFELD, 2009). Na interatividade, como acontece nos fóruns, blogs e redes sociais, as mensagens são criadas e se modificam rapidamente através de um processo de colaboração e distribuição coletiva. Grande parte das mensagens é produzida para atender a um determinado grupo, mas não de forma maçante e sim atendendo às necessidades informacionais deste grupo (DEIGHTON, 1997; CIRIBELLI; PAIVA, 2011). As mídias interativas são instrumentos construídos para permitirem a criação colaborativa de conteúdo, a interação social e o compartilhamento de informações em diversos formatos. Nessas categorias estão incluídos os blogs, as redes sociais, os sites de conteúdo colaborativo e diversos outros modelos de sites que abrangem comunicação, relacionamento, colaboração, multimídia e entretenimento. As mídias sociais, assim como outras mídias, são muito importantes para qualquer estratégia ou ação de marketing. No Brasil, mais de 80% dos internautas participam de alguma rede social, de modo que elas devem ser entendidas e consideradas em qualquer atividade empresarial (TORRES, 2009). As redes sociais foram desenvolvidas focalizando o relacionamento perene e intenso dos usuários com as comunidades e páginas em que estão envolvidos. Este relacionamento é responsável por propagar a informação, pois o receptor tende a divulgar a mensagem recebida aos seus amigos e a outras comunidades que, por sua vez, irão transmiti-la a outros grupos. Esse é o chamado efeito viral da comunicação (DEIGHTON, 1997), conforme Tabela 3. O mercado de comunicação precisará adaptar-se à comunicação entre consumidores, tendo a marca como suporte, e não apenas com os consumidores, tendo a marca como veículo de interação entre a empresa e seus mercados. Já não se trata de fazer consumidores comprarem uma marca, mas se organizarem ao seu redor (DAMBRÓS; REIS, 2008, p. 6). 46 Tabela 3 - Mídias interativas: aspectos positivos e negativos Mídias interativas – características Aspectos negativos Acesso a internet ainda é pequeno no país, devido a alcance do sinal e custo Capacidade viral de proliferação Excesso de mensagens que se tornam invasivas Baixo custo Para ter conhecimento da comunicação é necessário a pro atividade do consumidor Capacidade de diálogos Excesso de informação pode confundir o consumidor. Não existe limite de tempo e espaço, Devido a quantidade de páginas virtuais e possibilitando maiores detalhes da velocidade de propagação, é difícil para as informação e mensagens segmentadas organizações manterem o controle sob sua marca. Capacidade de múltiplas fontes simultâneas Fonte: Adaptado de Torres (2009) e Jaffe (2010). Aspectos positivos Instantaneidade 2.2.3 Mídias on e off-line: um comparativo Alguns autores têm defendido o fim da mídia em massa (AGUIAR, 2007; JAFFE, 2008; LAS CASAS, 2010), enquanto outros ainda veem um fôlego nos canais de TV, emissoras de rádio, jornais e revistas como fonte de informações publicitárias (ESPINOZA, 2003; PASQUALE; NETO; GOMES, 2012; MADHAVARAM; BADRINARAYANAN; McDONALD, 2005). Se antes as empresas se comunicavam com seus públicos unicamente por meio de mídias off-line, que traziam resultados em longo prazo e grande alcance, hoje a internet proporcionou que as pessoas formem comunidades de interesses específicos e troquem informações entre si, apresentando resultados mais rápidos e reais. Na discussão a seguir, será feito um comparativo entre os instrumentos de comunicação on e off-line, com intuito de apresentar o papel de cada uma no mix de comunicação de marketing. O primeiro aspecto a ser discutido é o composto gerencial que influencia as decisões dos gestores de marketing. Mídias tradicionais objetivam divulgar os quatro P’s – preço, praça, produto, promoção -, enaltecendo o acesso ao produto, as características primárias, preços e formas de pagamento. De uma forma geral, empresas que trabalham com essa perspectiva objetivam tornar o produto e sua marca conhecidos juntos aos diversos públicos (KOTLER, 2003). Por outro lado, as novas tecnologias colocam em evidência os quatro C’s criados por Lauterborn (1993) – cliente, custo, conveniência e comunicação. Elas focam o cliente, 47 fornecendo informações específicas a cada público-alvo, têm baixo custo de investimento, são convenientes para o consumidor porque podem ser acessados em qualquer lugar, a qualquer horário, com acesso ilimitado e sem restrições a diversos segmentos e culturas, além de conseguirem estabelecer uma comunicação específica para cada grupo (LAS CASAS, 2010). Mais que isso, criam formas de comunicação bilaterais, já que o receptor não é apenas o fim da mensagem, mas um ator ativo do processo. A tecnologia permite que a informação flua bilateralmente entre o cliente e a empresa. Cria um relacionamento que integra cliente e empresa e permite que a empresa estabeleça um diálogo, customizando a informação a ser divulgada. Porém, as mídias tradicionais trabalham com mensagens mais curtas e imediatistas, gerando curiosidade no espectador. O que chama a atenção nesse caso é a interatividade (JAFFE, 2008): Mídias Tradicionais: Som + Movimento + Imagem Mídias Interativas: Som + Movimento + Imagem + Capacidade rápida de respostas Mídias off-line apresentam mensagens em massa, para diversos públicos, com conteúdos menos específicos e, por isso, menos invasivos. Já mídias online tendem a ser mais segmentadas, com contato direto entre as empresas e seus públicos, todavia o excesso de mensagem virtual tem sido considerado invasivo pelos usuários (TELLES, 2010). As ações nas mídias sociais visam promover experiências e interações diretas entre a marca e o usuário, fortalecendo na mente do consumidor conceitos ou reforços intangíveis que venham à tona no momento de decisão (MOURA, 2010). Moura (2010) mostra que as mídias tradicionais geram forte influencia no comportamento de consumo. Tudo o que o receptor gera sobre marcas, produtos e serviços, indiferentemente do meio em que recebeu informação, é bastante valorizado pelas empresas e pode ser integrado como forma de estratégia empresarial. Publicidade off-line favorece a divulgação e o alcance de mídias interativas, principalmente as via internet. Já a publicidade online favorece a sensibilização do consumidor. Uma aumenta o tráfego nos sites, outra aumenta e consolida vendas. Marketing via mídias tradicionais visa ao alcance. E marketing via mídias interativas 48 visa à rapidez na divulgação e consistência das informações (MAURYA, 2008). A velocidade de propagação da informação em mídias interativas é grande, e não se tem controle sob a marca, o que resta fazer é influenciar os diálogos e as informações que circulam na rede. Em mídias tradicionais, a vagarosidade na divulgação facilita a correção de possíveis erros e problemas (TELLES, 2010). No entanto, não é a quantidade e a velocidade a que o consumidor é submetido que consolida a marca, e sim o uso das mídias certas e a credibilidade das informações. As mensagens publicitárias vindas de mídias tradicionais tendem a ser absorvidas com baixo grau de envolvimento, porém geram sensibilização para busca de mais informações. Geram sensibilização, mas não atitudes. Informações obtidas via mídia interativa, devido à credibilidade e rapidez das informações, geram atitudes de consumo (ILFELD; WINER, 2002; CHIANG; HSIEH, 2011). Muitos estudos mostram que o valor da marca é construído ao longo do tempo, por meio da exposição da marca, e não diretamente a partir de qualquer publicidade off-line ou online. Ao longo do tempo e experiência de uso é que se fortalece uma marca e só assim é possível a gestão da marca (ILFELD; WINER, 2002; CHIANG; HSIEH, 2011). É necessário que formadores de opinião e pessoas influentes tenham acesso à mensagem, e que esta tenha veracidade e credibilidade. Para isso é fundamental que, no processo de comunicação de marketing, a escolha do canal pelo qual a mensagem será transmitida seja feita com foco no receptor, de modo que a informação chegue da forma mais clara e objetiva, gerando uma reação. Marchiori (2001, p. 38) diz que “é preciso saber utilizar a comunicação para criar signos e significados junto ao receptor, se não criar estes elementos, ela terá sido em vão”. 2.3 Giddens, McLuhan, suas teorias e a relação com a comunicação de marketing A Teoria Estruturalista, proposta por Giddens (2003), é uma tentativa de reconciliar as teorias sociais, tais como agência/estrutura, subjetivo/objetivo e micro/macro perspectivas. Giddens (2003) localiza sua análise na ação individual e discute as peculiaridades da noção de agenciamento. Ele apresenta uma interpretação distinta da intencionalidade das ações. Diferenciando propósitos, motivações, intenções e razões, Giddens (2003) define os seres humanos como 49 agentes intencionais e explica como as ações podem produzir consequências não intencionais. Logo, sustenta que toda ação humana que é realizada no contexto de uma estrutura social pré-existente, que é regida por um conjunto de normas e/ou leis distintas das de outras estruturas sociais (GIDDENS, 2003). Portanto, toda ação humana é, ao menos parcialmente, pré-determinada com base nas regras variáveis do contexto em que ela ocorre. No entanto, a estrutura e as regras não são permanentes, mas sustentadas e modificadas pela ação humana e o contexto em que estão inseridas (CASALI, 2007). Giddens mostra a organização como sendo um sistema aberto que se relaciona com o ambiente e com outras organizações (GIDDENS, 2003). A Teoria Estruturalista baseia-se no conceito de estrutura, que é um todo composto por partes que se inter-relacionam. Portanto, o todo é maior do que a simples soma das partes. O que significa que os sistemas organizacionais não são a mera justaposição das partes (GIDDENS, 2003). Giddens identifica três tipos de estruturas em sistemas sociais, os de significação, legitimação e dominação (STEWART; PAVLOU, 2002). Estas são distinções analíticas que mobilizam e reforçam-se mutuamente: Significado: produz sentido por meio de redes organizadas de linguagem; Legitimação: produz uma ordem moral por meio de normas sociais, valores; Dominação: produz energia, proveniente do controle dos recursos. Originalmente criada para descrever comportamento social, esta teoria foi aplicada a uma variedade de situações envolvendo a interação dinâmica dos atores ao longo do tempo, e não poderia deixar de ser utilizada nos estudos que envolvam as mídias tradicionais e as mídias interativas, uma vez que o contexto estrutural é muito importante na formação da interação e influência a eficácia das comunicações de marketing. (CASALI, 2007). Defende-se que uma das principais contribuições da Teoria Estruturalista aos estudos da comunicação e do marketing era reconhecer que as abordagens funcionalistas, interpretativas e criticas eram complementares, segundo Stewart e Pavlou (2002). O estruturalismo enfatiza a importância da comunicação de marketing, não apenas como elemento da interação social na dualidade da estrutura, mas também como elemento essencial na produção e reprodução da realidade social. Na 50 dimensão da significação, Giddens reinterpreta conceitos sociológicos e inspira leituras inovadoras do fenômeno comunicacional (CASALI, 2007). Para os autores Stewart e Pavlou (2002), a chave da compreensão da Teoria Estruturalista e sua relação com a comunicação de marketing é como consumidores e comerciantes interagem diante das mudanças nas relações mercadológicas e tecnológicas. Assim, a Teoria Estruturalista mostra que a interação com as diferentes mídias, sejam elas interativas ou tradicionais, depende do contexto estrutural e situacional em que estão inseridos (STEWART; PAVLOU, 2002). Em seus estudos, Giddens focaliza as formas em que a interações dos atores (organizações e consumidores) se desenvolvem e evoluem ao longo do tempo (CASALI, 2007). Aplicada a comunicações de marketing, esta teoria rejeita a noção de que o consumidor e o comerciante estão sujeitos a interações pré-determinadas, mas sim à ação do consumidor diante a situação/contexto em que a comunicação é recebida e decodificada (STEWART; PAVLOU, 2002). Esta é a ação que recriará a estrutura das mídias e seus papéis no comportamento do consumidor. Outro estudo que reafirma os estudos da Teoria Estruturalista em relação à comunicação de marketing é a teoria de McLuhan. Em sua teoria, este pesquisador afirma que “o meio é a mensagem”, ou seja, ele transmite a ideia de que os conteúdos se modificam em função dos meios que os veiculam (PEREIRA, 2006). McLuhan mostra que o meio é a “mensagem porque é o meio que configura e controla a proporção, a forma das ações e associações humanas e sua influência em seus comportamentos” (PIGNATARI, 2002, p. 87). Se Giddens diz que contexto estrutural é muito importante na formação da interação e influencia a eficácia das comunicações de marketing e que a interação com as diferentes mídias, sejam elas interativas ou tradicionais, depende deste contexto em que estão inseridos e se McLuhan afirma que o meio é a mensagem, sendo este meio responsável pelas influências resultantes da comunicação de marketing, pode-se inferir que, sejam mídias tradicionais ou interativas, o que altera o comportamento de consumo, visto a partir da comunicação de marketing, é o contexto em que o consumidor está inserido e obtém aquela mensagem, bem como seu engajamento no processo de compra. 51 2.3.1 Transporte, convergência e persuasão Com base nas teorias expostas no tópico anterior é possível inferir que a escolha da mídia no momento da comunicação com o consumidor é fundamental para a influência da mensagem no comportamento de consumo. Três aspectos fundamentais envolvem o consumidor quando ele recebe a mensagem: transporte da informação, convergência da mensagem e persuasão no momento de compra (CRUZ, 2001). Ao emitir uma mensagem, o propósito é que se construa um relacionamento com o público-alvo. No processo de consumo, o relacionamento construído é o mercadológico, que é regido pela necessidade de ambos os lados fazerem uma negociação satisfatória a partir da credibilidade que se instaurou por meio da comunicação (NICOLAU, 2008). Uma pessoa quer comprar o produto ou serviço de sua necessidade e a empresa quer vender o que produz. A partir do acesso às informações que cada um tem sobre o outro vai se aumentando o grau de confiança, o respeito às necessidades e aos direitos (IACOBUCCI; CALDER; BEZJIAN- AVERY, 1998). A todo o momento são elaboradas e enviadas informações para mídias diversas, ou seja, é visível um sistema comunicacional integrado por diferentes meios com participação ativa dos usuários. E esta participação está sendo otimizada graças às ações de interatividade proporcionadas pelas novas tecnologias (GIULIANI, 2006). Enquanto as mídias tradicionais se constituíram em um modelo essencialmente linear de comunicação, com as informações sendo expostas diariamente junto ao público receptor ou mesmo em um modelo circular a partir de retornos estabelecidos por cartas e telefonemas, as mídias da atualidade baseiam suas atuações, cada vez mais, em diálogos constantes, participações e ações interativas (NICOLAU, 2008; IACOBUCCI; CALDER; BEZJIAN-AVERY, 1998). Nas mídias interativas o cliente pode controlar a ordem de apresentação das informações e opções indesejadas podem ser eliminadas. O consumidor poderá solicitar que as informações sejam apresentadas em diferentes formatos. As mídias interativas são abertas à influência ambiental com intenso poder de adaptação a partir da capacidade de acumulação de conhecimento coletivo e diversidade de perfis individuais (GIULIANI, 2006). Em um contexto interativo, os consumidores têm 52 mais influência sobre o processo e sobre comunicações de marketing, procurando, selecionando, processando, utilizando e respondendo à informação (STEWART; PAVLOU, 2009; IACOBUCCI; CALDER; BEZJIAN-AVERY, 1998). O processo de transporte, por sua vez, traduz as ações de transmissão daquela informação que o receptor decodificou, interpretou, revisou e pretende compartilhar. Para que seja realizado o transporte é necessário que o receptor busque uma série de informações em diferentes fontes (DENNIS et al., 1987). O processo de convergência foca na discussão sobre as mensagens obtidas, na sua compreensão e entendimento comum coletivo de todos os participantes do processo da comunicação (DENNIS et al., 1987). Para o processo de convergência a mensagem deve ter transmissão rápida, com pequena quantidade de informações, objetiva, com formatos limitados e direcionados e devem ser apresentados de forma ordenada (CRUZ, 2001). A convergência requer menos processamento de informação, porque há discussão sobre a mensagem. Para alcançar a similaridade no entendimento entre diferentes pessoas é necessário que a transmissão da informação seja rápida, sem complexidade e subjetividade (CRUZ, 2001). A informação tem que ser detalhada, com conteúdo farto e disponível para repetidas consultas. A mensagem deve oferecer um embasamento que facilite a convergência e discussão do conteúdo (PEREIRA, 2006). As informações vêm de diferentes fontes e em diferentes formatos (foto, som, número, texto, imagem), para melhor compreensão. Para processar a informação, antes de transmiti-la, é necessário que ela esteja disponível para consultas constantes, o que gera agilidade na compreensão, na análise, na cognição e na construção do seu entendimento (STEWART; PAVLOU, 2009). Por isso o tipo de mídia e a forma como ela se relaciona com cada público é muito influente em cada um desses processos, pois, como diz McLuhan, a mensagem é o meio (PIGNATARI, 2002). Considerando que, em publicidade tradicional, a apresentação é linear e que o consumidor é exposto para informações sobre o produto de forma reativa, para a publicidade interativa o consumidor age de foram pró-ativa (PEREIRA, 2006). A forma como o receptor irá reagir e interagir com a comunicação de marketing, depende do seu envolvimento com o processo de compra e o valor percebido no produto/serviço a ser consumido (PIGNATARI, 2002). 53 Com as mídias tradicionais os consumidores não têm controle sobre a ordem na qual as informações serão expostas. Anúncios de produtos são apresentados um após o outro num fluxo linear, em sequencias ordenadas que possibilitem seu entendimento rápido (PEREIRA, 2006). Já nas mídias interativas os consumidores têm mais controle sobre a apresentação da informação do que na mídia tradicional. Na condição interativa é possível que o conteúdo a ser visto seja selecionado, o que faz com que uma ordem linear de apresentação não seja necessária (PEREIRA, 2006). Assim sendo, o uso de imagens, sons, desenhos, movimentos é pensado para envolver um processo de compreensão relativamente mais complexo, dando suporte para a convergência da informação. E o uso de pequenas figuras, textos de fácil entendimento são voltados para o processo de transporte (PEREIRA, 2006; CRUZ, 2001). O poder de persuasão é pensado como um processo de apresentação e atenção, geração de compreensão, recuperação de cognições relacionadas e produção de efeito sobre o comportamento de compra (NICOLAU, 2008). O poder de persuasão de cada mídia está, então, na capacidade de transmitir informações ao consumidor, de forma eficaz e eficiente. Consumidores com perfil de convergência, que buscam entender com mais profundidade as mensagens recebidas, por meio de diferentes linguagens, não se limitando à linguagem textual, envolvem-se mais com as mídias interativas. Já as pessoas com perfil de transporte, que pretendem entender rapidamente a mensagem, são mais textuais, necessitam de informações mais rápidas, objetivas e organizadas (linearidade) (NICOLAU, 2008). 54 3 METODOLOGIA DE PESQUISA A metodologia é uma explicação sobre todo o processo utilizado na pesquisa de um trabalho (SAMARA; BARROS, 2007). Para Samara e Barros (2007), no capítulo de metodologia deve ser apresentado o tipo de pesquisa, a amostragem, a equipe de entrevistadores, a forma de tratamento dos dados, enfim, tudo aquilo que se utilizou no trabalho de pesquisa. A pesquisa realizada para este trabalho foi qualitativa, com amostragem por conveniência. Malhotra (1999) define a classificação de pesquisas quanto aos meios e fins do trabalho. Quanto aos meios, segundo Malhotra (1999), este trabalho contou com levantamentos em fontes secundárias, tais como bibliografias, bem como levantamento em fontes primárias – pesquisa de campo, com a realização de entrevistas semiestruturadas. Quanto aos fins, esta é uma pesquisa com caráter descritivo, que têm como objetivo principal a descrição de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre as variáveis, utilizando técnicas padronizadas de coletas de dados (SAMARA; BARROS, 2007). Bicudo e Espósito (1997) dizem que os métodos de pesquisa qualitativos são usados para definir um problema, gerar hipóteses e identificar determinantes. A pesquisa descritiva, de acordo com Gil (1996, p. 59), “é amplamente utilizada nas ciências comportamentais.” De acordo com Malhotra (1999), a pesquisa qualitativa baseia-se em amostras pequenas e proporciona uma melhor compreensão do contexto do problema. Essa facilidade de compreensão e explanação do evento estudado é possível devido à riqueza de detalhes fornecida pelos dados obtidos nas entrevistas e nas observações situacionais que fornecem maiores horizontes de entendimento. Segundo Alves (1997, p. 23), pesquisas qualitativas “estimulam os consumidores a revelar seus processos de pensamento e detectam sua relação emocional com produtos e marcas”. Pesquisas qualitativas e exploratórias têm por objetivo entender, explicar e expressar os sentidos dos fenômenos do mundo social; sugerem a tomada de um determinado fenômeno em um corte temporal. Dados qualitativos trazem como contribuição ao trabalho procedimentos racionais e intuitivos capazes de contribuir para melhor compreensão do referido fenômeno (BICUDO; ESPÓSITO, 1997). 55 Para este trabalho a amostra de pesquisa foi composta por trinta pessoas, que adquiriram um carro zero quilômetro de qualquer marca entre janeiro de 2010 e janeiro de 2012. Os entrevistados foram escolhidos por conveniência, desde que se adequassem ao perfil previamente estabelecido (proprietários de carros zero quilômetro, adquiridos nos últimos doze meses). Amostragem não probabilística por conveniência consiste em escolher indivíduos para participarem da pesquisa devido à facilidade de acesso a eles (BICUDO; ESPÓSITO, 1997). Esse tipo de amostragem não adota nenhuma forma criteriosa de sorteio dos participantes, apenas que o entrevistado se enquadre no perfil da pesquisa. O roteiro foi dividido em cinco eixos, sendo: 1) Um eixo composto por sete questões que analisaram o conhecimento sobre o mercado automobilístico nacional; 2) Um segundo eixo composto por quatro questões que estudaram o reconhecimento da necessidade de troca do veículo (relacionar a importância de cada meio de comunicação para o consumidor no reconhecimento da necessidade); 3) No terceiro eixo quatro perguntas investigaram a busca de informações do consumidor antes da avaliação de alternativas ( entender a proposta dos meios de comunicação) ; 4) No quarto eixo, mais quatro questões buscaram entender a avaliação das alternativas de compra, com base em comunicação de marketing (identificar a efetividade de cada mídia na formação do construto marca e resultados os esforços de comunicação); 5) E o quinto e último eixo trouxe dezesseis questões que avaliaram as mídias e comunicações utilizadas pelas montadoras de veículos automotivos (avaliar a convergência entre as peças de comunicação e o entendimento dos receptores). No total, o questionário apresentou trinta e seis questões discursivas, além da identificação do entrevistado, como nome, telefone, modelo do veículo, ano, finalidade do veículo, grau de instrução, sexo, estado civil e renda (Ver APÊNDICE 1). Dos trinta questionários que foram analisados para este estudo, quinze foram aplicados pelo autor da pesquisa e os outros quinze por três alunas do curso de 56 graduação em Administração, devidamente treinadas para essa atividade. As entrevistas foram gravadas para audição e transcrição. Para análise dos dados obtidos o autor deste trabalho ouviu todas as trinta entrevistas e fez destaque para os dados mais importantes, informações mais citadas e particularidades que pudessem enriquecer este estudo. Visando afunilar as informações, comentários e respostas semelhantes foram agrupados em categorias similares. Essa técnica de agrupamento é conhecida como categorização de dados (MORAES, 1994). A categorização de textos é uma ferramenta utilizada para classificar um conjunto de informações em uma ou mais categorias pré-determinadas pelo autor do trabalho, que agrupe informações similares e apresentem uma parte comum existente entre elas (BARDIN, 1977), possibilitando uma redução dos dados disponíveis e facilitando a interpretação da pesquisa (PEIXOTO; BATISTA; CAPELO, 2009). A categorização é uma operação de classificação dos elementos de uma mensagem seguindo determinados critérios que devem estar alinhados ao problema de pesquisa, atendendo aos objetivos (KRIPPENDORFF, 2004). As categorias classificam-se por semelhança, segundo critérios e objetivos previamente definidos pelo pesquisador, visando atender aos propostos da pesquisa (BARDIN, 1977). As categorias representam o resultado de um esforço de síntese de uma comunicação, destacando, nesse processo, seus aspectos e dados mais relevantes (KRIPPENDORFF, 2004). Quando se trata de uma pesquisa numa abordagem qualitativa, a descrição é geralmente feita em três etapas: 1) pré-analise, 2) exploração do material e interpretação, 3) inferências e conclusões. (PEIXOTO; BATISTA; CAPELO, 2009; BARDIN, 1977). A interpretação de dados na pesquisa qualitativa é feita por meio de uma exploração dos significados expressos nas categorias da análise, seguindo os conceitos estabelecidos no referencial teórico (BARDIN, 1977) e o trabalho de categorização é uma interpretação pessoal por parte do pesquisador com relação à percepção que ele tem dos dados, seguindo os conceitos e ideias trabalhadas no referencial teórico (PEIXOTO; BATISTA; CAPELO, 2009). Para se criar categorias, o autor de um trabalho pode escolher diferentes critérios de categorização e, para este trabalho, o critério escolhido foi o léxico, por possibilitar a criação de categorias com base nos sentidos (KRIPPENDORFF, 2004). percebidos pelas respostas dos questionários 57 Para cada uma das categorias foi produzido um texto-síntese, em que se expressasse o conjunto de significados presentes nas diversas unidades de analise incluídas em cada uma delas. Geralmente é recomendável que se faça uso intensivo de citações diretas dos dados originais (MORAES, 1994). Após a categorização foi feita uma entrevista com especialistas que explicaram diferentes canais e peças de comunicação. A escolha das peças foi feita por conveniência, buscando destacar os objetivos propostos para esta pesquisa, levando em consideração, apenas, o valor médio dos veículos adquiridos pelos trinta entrevistados e as montadoras mais citadas por eles. As entrevistas buscaram entender o que os profissionais, tidos como especialistas/profissionais de comunicação, entendem como valioso no processo e forma de comunicação de marketing e o que as montadoras estão ofertando aos seus consumidores nessa seara. Foram escolhidas oito peças, sendo quatro tradicionais e quatro interativas, de três montadoras diferentes, com critérios de julgamento. 58 4 ANÁLISE DE ENTREVISTAS Serão apresentadas, a seguir quatro categorias (Quadros 4, 5, 6 e 7) desenvolvidas pelo autor deste trabalho para agrupar e interpretar os dados obtidos nos questionários aplicados aos 30 entrevistados (ver Quadro 1) neste estudo. Como já visto no capítulo de metodologia, a categorização é um processo de interpretação de dados em que prevalecem as percepções que o pesquisador tem das entrevistas durante sua audição (PEIXOTO; BATISTA; CAPELO, 2009), embasado pelas teorias e conceitos discutidos no referencial teórico. Quadro 1 - Perfil dos entrevistados Entrevistado 3 Veículo adquirido S.Q, masculino, 24 anos. Graduando em Direito Fiat Pálio – 2011 A.M., feminino, 36 anos. Graduação em Administração, Pósgraduação em Gestão de Negócios Graduação em Jornalismo, Pósgraduação em Comunicação Corporativa Graduação em Psicologia, Pósgraduação em Psicopedagogia, Mestrado em Educação. Graduação em Administração e Pósgraduação em Gestão Sustentável. Graduando em Medicina. Graduação em Secretariado Executivo. Graduação em Direito. Fiat Novo Uno - 2011 Graduação em Turismo, Mestrado em Desenvolvimento Sustentável. Graduação em Enfermagem. Graduação em Relações Públicas, Pósgraduação em Gestão do Terceiro Setor. Cherry Face – 2011 B.G.M, feminino, 28 anos. K.A., feminino, 39 anos. S.G.L., 29 anos. J.H.C., masculino, 23 anos. A.R., feminino, 42 anos. C. M., masculino, 37 anos. M. B., feminino, 49 anos. S.S., feminino, 36 anos. S.C., feminino, 51 anos 3 Formação Volkswagen Gol - 2012 Fiat Ideia Adventure - 2011 Ford Ka - 2010 Fiat Punto - 2011 Chevrolet Agile - 2011 Fiat Pálio – 2010 Ford Ka - 2011 Volkswagen Fox - 2011 Foram usadas apenas as iniciais dos nomes para manter a privacidade dos entrevistados. 59 Quadro 1 - Perfil dos entrevistados (CONTINUAÇÃO) L.A., masculino, 36 anos. I.J., masculino, 28 anos. R.C., feminino, 32 anos. H. P., masculino, 30 anos. A. P., masculino, 30 anos. V. M., masculino, 28 anos. G. B., masculino, 27 anos. C.A., masculino, 62 anos Graduação em Medicina. Graduação em Administração. Graduação em Recursos Humanos. Graduação em Jornalismo, Pósgraduação em Jornalismo Esportivo. Não informado. Volkswagen Cross Fox 2011 Volkswagen Gol - 2011 Graduação Arquitetura. Não informado. Ford Fiesta - 2011 em Chevrolet Classic – 2010. Ford Fiesta - 2010 Fiat Pálio - 2010 Chevrolet Celta - 2011 Honda Civic - 2011 M.A., feminino, 27 anos. Graduação em Engenharia Civil. Graduação em Administração e Direito. Não informado. A.M., feminino, 31 anos. Não informado. Fiat Ideia - 2011 V.J., masculino, 66 anos. Graduação em Engenharia Civil. Graduanda em Administração. Graduação em Farmácia. Graduanda em Enfermagem. Graduação em Direito. Volkswagen Golf - 2011 Graduando Administração. Graduação Jornalismo. Graduação Contabilidade, graduação Controladoria. em Fiat Uno - 2010 em Volkswagen Cross 2010 Fiat Bravo - 2011 R. C., masculino, 30 anos. N.P., feminino, 21 anos. W.M., masculino, 39 anos. A.S., feminino, 21 anos. I.B., masculino, 28 anos. T.F., masculino, 25 anos. M.L, feminino, 56 anos. M.A., feminino, 47 anos. - em Pósem Fiat Punto - 2010 Ford Ka - 2010 Fiat Novo Uno - 2011 Chevrolet Agile - 2011 Chevrolet Celta - 2011 Volkswagen Fox - 2010 Fox - Fonte: Dados da pesquisa, 2012. 4.1 Compreensão da mensagem da comunicação pelo público receptor A primeira categoria busca entender as propostas e objetivos das mensagens das montadoras a partir do ponto de vista dos receptores e perceber o resultado do esforço de comunicação junto aos consumidores, atendendo a dois objetivos específicos deste estudo (entender as propostas das mensagens dos meios de comunicação interativos e convencionais a partir da opinião do público-alvo; identificar quanto cada mídia contribui para o resultado de todo o esforço de comunicação). São analisadas, nesta categoria, as mídias pelas quais os 60 entrevistados percebem quais meios fornecem mais informações visuais ou textuais e em quais percebem a intenção de venda e a intenção de comunicação informativa (ver Quadro 2). Quadro 2 - Categoria 1 - Definição Categoria Transmissão da informação Definição Realizada por meio da passagem de sinais, símbolos e significados através dos meios físicos de comunicação. Fonte: Elaborado pelo autor. Segundo Costa e Duarte (2007), a transmissão da informação consiste em transmitir sinais, símbolos e significados de uma fonte emissora para uma receptora. Esta transmissão pode ser feita de diferentes formas, que compreendem sons, imagens, textos, tabelas, gestos. A transmissão pode ser feita em diferentes canais, com diferentes objetivos. As autoras afirmam ainda, que entender os objetivos e o conteúdo das mensagens facilita na atuação das mídias e otimiza os resultados obtidos com a comunicação de marketing (conforme Quadro 3). Subcategoria Informações Textuais Informações Visuais Objetivo de informação Objetivo de venda Fonte: Elaborado pelo autor. Quadro 3 - Subcategorias 1 - Definições Definição Informação em que há predominância de textos para transmissão da mensagem e facilidade de entendimento através de conteúdo escrito. Informação em que há predominância de imagens e figuras, quadros e tabelas, cores, movimentos. Neste tipo de informação a facilidade de entendimento é através das cores, imagens e pouco texto. Uma mensagem que objetiva informar é aquela mensagem que apresenta detalhes, informações técnicas, textos rápidos. Uma mensagem que objetiva a venda é aquela que tem poder de persuasão em sua informação, com textos mais longos, descreve valores, formas de pagamento. 61 Para categorizar as respostas, foram analisados os eixos dois, três, quatro e cinco do roteiro aplicado aos 30 entrevistados. Essa categoria foi dividida em duas subcategorias: tipo de informação e objetivo da informação e para cada uma destas duas subcategorias foram apresentadas duas alternativas de enquadramento da resposta (textuais e visuais para a primeira e informativa e venda para a segunda). O tipo de informação busca entender em qual meio de comunicação o receptor percebe mais informações textuais (informação com predominância de textos) e informações visuais (mensagens com uso de imagens, cores e movimentos). Já o objetivo da comunicação foi avaliado a partir de dois aspectos: informativo e venda. O primeiro analisa quais mídias dispõem de mais mensagens informativas, com intenção de formar opinião e o segundo mostra quais mídias os entrevistados perceberam com objetivo claro de vendas, ou seja, aquelas mídias que tentam convencer o consumidor da compra. Para realizar essa categorização os meios de comunicação referidos pelos entrevistados em cada uma das situações foram classificadas as subcategorias desenvolvidas pelo autor do trabalho (conforme Quadro 4). Entrevistado 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Quadro 4 - Categoria 1 Categoria 1: Transmissão de Informação Tipo de informações Objetivo Textuais Visuais Informativa Venda Sites, revistas Televisão, sites, Test drive, Revistas e jornais (matérias), blogs. (anúncios), televisão, anúncios, redes concessionárias, site. vídeos, panfletos. sociais. Site, blogs, redes Televisão, e-mail, Site, mecânico. Televisão, anúncios, sites. sociais. E-mail, Test drive, Revistas (matérias). Televisão, redes sociais. televisão, rádio. concessionárias e mecânico. E-mail. Televisão, e-mail, Televisão, Concessionárias, rádio, e-mail. site, test drive. E-mail. Redes sociais. Televisão, mala Informações de direta, rádio. proprietários de veiculo semelhante. Site, Rádio. Revistas e jornais Redes sociais, (anúncios). televisão. concessionárias e família. Blogs. Redes sociais. Panfleto, Concessionárias, família, site. anúncios. Revista (matérias) Redes sociais. Panfleto, rádio, Concessionárias, mecânico, site. redes sociais. Site. E-mail, redes Mecânico, site, Redes sociais, sociais, rádio, televisão. proprietários de veículo semelhante. Site. Televisão, site e Site, Revistas e jornais 62 Quadro 4 - Categoria 1 (CONTINUAÇÃO) (anúncios). panfleto. Televisão, rádio, panfleto, e-mail. Televisão, rádio. 11 Site, Rádio. Televisão. 12 Propaganda boca a boca. 13 Rádio. 14 Site e rádio. Revistas e jornais (anúncios), televisão, vídeos, panfletos. Redes Sociais, panfletos. Televisão, e-mail. 15 Site, e-mail. Televisão, e-mail. 16 Site, revistas (matérias). Site, revistas (matérias), e-mail. Televisão e outdoor. 17 18 Site. Revistas e jornais (anúncios), televisão, vídeos, panfletos. Televisão. 19 Site. Televisão. 20 Televisão, Revistas e jornais (anúncios), 21 Sites, revistas (matérias), blogs, site da montadora. Revistas (matérias). 22 Site. Televisão. 23 Site. Televisão. 24 Site, e-mail. Televisão. 25 Site, e-mail. Televisão. 26 Sites, revistas (matérias), blogs, site da montadora. Site, e-mail, revista (matéria). Televisão. 28 Site, revistas (matérias). Televisão. 29 Site, revistas (matérias),e-mail. Sites, revistas (matérias), blogs, site da montadora. Televisão e panfletos. Revistas e jornais(anúncios), televisão, vídeos, panfletos. 27 30 Fonte: Elaborado pelo autor. Televisão, e-mail, panfletos. Televisão. Panfleto, redes sociais e e-mail. Sites, televisão, rádio, anúncios. Panfletos, rádio, sites. Rádio, sites, redes sociais. Televisão, rádio e e-mail. Televisão, rádio, panfletos, e-mail, sites. Panfleto, redes sociais e e-mail. Redes sociais, televisão, rádio, mala direta. Televisão, rádio, mala direta. Panfleto, redes sociais e e-mail. Redes sociais, e-mail, panfleto. Panfleto, redes sociais, televisão, rádio. Redes sociais, televisão, rádio, mala direta. Televisão, rádio, mala direta. Televisão, rádio, panfleto, e-mail. Panfletos, anúncios, rádios, sites. Panfleto, e-mail, anúncios. Televisão, rádio, panfleto, e-mail. concessionárias, test drive. Concessionárias, test drive, mecânico. Matérias de revistas especializadas, concessionárias. Concessionárias, site, família. Concessionárias e test drive. Família, site, mecânico. Concessionárias. Site, mecânico, família. Concessionárias e test drive. Concessionárias e test drive. Concessionárias, família, mecânico. Concessionárias e test drive. Concessionárias. Família, site e mecânico. Família, concessionárias e site. Concessionárias e família. Concessionárias. Concessionárias e mecânico. Concessionárias e test drive. Concessionárias e família. Concessionárias e site. 63 Durante todo o questionário os participantes foram arguidos sobre as mídias utilizadas no dia a dia, quais geravam mais influências em seu cotidiano, bem como quais informações geravam mais impactos e quais ficavam por mais tempo na memória do receptor. No geral, as respostas dos entrevistados mostraram congruência entre elas, sendo que as fontes de informação percebidas como textuais foram, principalmente, site (21 citações), matérias em revistas (12 citações) e e-mail (oito citações). Informações textuais, segundo Cruz (2001), são informações com maior quantidade de detalhes, mensagens mais profundas e mais esclarecedoras. Informações textuais priorizam os textos e colocam imagens em segundo plano. Esse tipo de informação é lembrada pelo receptor devido aos textos e detalhismo da informação disponibilizada. Outras fontes textuais citadas foram blogs, rádio e propaganda boca a boca. Já as informações visuais são aquelas que transmitem a mensagem principal por meio de imagens e captam a atenção do receptor por meio de cores, pouco texto e outros estímulos perceptuais. Os entrevistados apresentaram como principais fontes de informações visuais a televisão (24 citações), panfletos (oito citações) e anúncios em revistas e jornais (sete citações). Outras fontes também foram citadas tais como rádio, e-mail e redes sociais. Em relação ao objetivo da transmissão da informação em informativo ou venda as respostas principais foram: 22 citações para televisão, 18 citações para panfletos e 12 citações para redes sociais para as fontes que objetivam informar. Essas fontes apresentam pouco texto, mensagens rápidas que despertam a curiosidade do receptor e de fácil entendimento. Já as fontes que objetivam a venda são as concessionárias e vendedores (27 citações), site da montadora (13 citações) e test drive (11 citações). Essa informação que objetiva venda fornece informações mais detalhadas, seguras e técnicas. Como as fontes textuais tendem a serem mais detalhadas, elas têm um objetivo maior de vendas e as informações visuais, objetivam transmissão rápida da informação, ou seja, conhecimento primário do produto. Televisão, panfletos e anúncios em revistas, bem como redes sociais, que foram classificadas pelos entrevistados como visuais e informativas, apresentam pouco texto, mais movimento, mensagens curtas e poucos detalhistas e capacidade de despertar a curiosidade do receptor para buscar mais informações (CRUZ, 2001). 64 Já das fontes citadas como textuais e com foco em venda, destacam-se os sites das montadoras, em que são disponibilizadas informações técnicas, detalhadas, pontos de venda, fotos internas e externas dos veículos, informações de manutenção e preços, tal como citada por um dos entrevistados. Não, não compro nada com base em anúncios sem detalhes de informações. Não tenho paciência de ler aquelas letras pequenas dos anúncios em revistas e nem consigo ler as letras pequenas nos comerciais de TV. Eles me mostram um produto, mas não acredito que compraria algo só porque vi na TV ou na página de uma revista. Preciso de mais informações que me convençam a finalizar a compra (S. Q., entrevistado 26). Quando questionados sobre quais comerciais de automóveis tinham mais recordação, os entrevistados citaram, principalmente, as comunicações oriundas de fontes textuais. As campanhas mais citadas foram os vídeos publicados na internet. Esse dado confirma os estudos de Pereira (2006), que diz que comunicações textuais, com maior riqueza detalhes, tendem a ficar mais ‘vivas’ nas mentes dos receptores. Os estudos de Pereira (2006) dizem que a comunicação tradicional é mais eficiente quando tenta estimular a curiosidade do consumidor e a comunicação interativa apresenta melhores resultados quando se dispõe a trabalhar a compreensão da mensagem por intermédio da integração de diversas fontes na concepção de uma avaliação completa que sustente o comportamento de convergência. Trata-se do processo de convergência, que inclui a interação social, facilitada por uma busca ativa em redes sociais virtuais e físicas (círculos sociais). E os resultados obtidos no questionário e apresentados nesta categoria confirmam estes estudos: os participantes desta pesquisa, na maioria, confirmaram que informações que objetivam gerar conhecimento são mais visuais (citaram anúncios) e as que objetivam a venda são mais textuais (citaram sites). Esste dado pode ser confirmado com esta passagem de uma das entrevistas. Televisão, rádio, anúncio em revista, chama a atenção para o produto, desperta o desejo de conhecer melhor aquele veículo, mas quando você quer uma informação mais detalhada, como preço, informações técnicas, opinião de outros proprietários você vai pra internet ou para a concessionária. (...) Em algumas vezes matérias de revistas especializadas também são interessantes, mas após conhecer qualquer produto, se o consumidor quer mais detalhes, ele acaba indo para a internet (A. M, Entrevistada 1). 65 Os estudos de Rice (1987), Burgoon e outros (1999) já apontavam para a utilização de símbolos com variante da linguagem e transmissão da informação. Estes autores mostravam que existe uma diferença na recepção da mensagem com cunho textual daquela de cunho visual, bem como uma diferença de interpretação por parte do receptor a partir do conteúdo de cada mídia. Os dados obtidos nesta entrevista mostram que as mídias interativas são percebidas pelo público-alvo como textuais e informativas, pois apresentam um conteúdo mais extenso, mais detalhado. Já as mídias tradicionais podem ser classificadas como visuais e também informativas. A diferença entre elas é que, enquanto as mídias tradicionais trazem informação sobre promoções e lançamentos, as mídias interativas fornecem mais detalhes técnicos. Vale destacar que, no processo de venda, as mídias não são tão fortes quanto o papel do vendedor. Dessa forma, pode-se inferir que as diferentes mídias exercem seu papel dentro do esforço de comunicação de marketing: enquanto umas despertam o interesse, levam a informação até o consumidor, outras contribuem com informações mais detalhadas. As mídias tradicionais tendem a despertar a curiosidade, enquanto as interativas trabalham o interesse de consumo. 4.2 Transporte e convergência: o comportamento do receptor A segunda categoria (ver Quadro 5) busca responder ao objetivo especifico que se propôs a analisar o comportamento dos receptores ao terem contato com a mensagem. Dessa forma, nesta categoria foi investigado o comportamento do receptor a partir dos processos de transporte e convergência, ao terem contato com a mensagem emitida pelas montadoras e processarem a informação. Para se chegar a essa classificação foram analisados os eixos dois, três e cinco, que permitiram entender onde, como, a quantidade, a influência e a forma como os entrevistados se interagiam com as comunicações. Analisou-se, nessa fase, se o entrevistado desempenhava uma reação de convergência ou transporte ao receber a mensagem da comunicação de marketing. Neste quadro foi apresentado, de acordo com as informações fornecidas pelos entrevistados, se eles, ao receberem uma informação, desenvolvem um comportamento de transporte ou convergência da informação. 66 Quadro 5 - Categoria 2 - Definição Categoria Comportamento do receptor Definição Entender como o receptor da comunicação de marketing reage ao ter contato com a mensagem. Seu comportamento pode ser de convergência ou transporte. Fonte: Elaborado pelo autor. Segundo Curvello (2012), ao ter contato com uma mensagem cada pessoa reage de uma forma, podendo transmitir a mensagem, discutir, criar novas interpretações e influenciar novas comunicações a serem feitas. Ainda segundo o autor, só quando o emissor entende o comportamento de um receptor após receber a informação é que ele consegue desenvolver mensagens e utilizar canais mais apropriados para cada tipo de comportamento (conforme Quadro 6). Quadro 6 - Subcategorias 2 - Definições Subcategoria Definição Transporte Tradução das ações de transmissão daquela informação que o receptor decodificou, interpretou, revisou e pretende compartilhar. Convergência .Foca na discussão sobre as mensagens obtidas, na sua compreensão e entendimento comum coletivo de todos os participantes do processo da comunicação Fonte: Elaborado pelo autor. Como já visto no referencial teórico deste trabalho, o processo de transporte traduz as ações de transmissão daquela informação que o receptor decodificou, interpretou, revisou e pretende compartilhar. Para que seja realizado o transporte é necessário que o receptor busque uma série de informações em diferentes fontes (DENNIS et al., 1987). Já o processo de convergência foca na discussão sobre as mensagens obtidas, na sua compreensão e entendimento comum coletivo de todos os participantes do processo da comunicação (DENNIS et al., 1987). Para o processo de convergência a mensagem deve ter transmissão rápida, com pequena quantidade de informações, objetiva, com formatos limitados e direcionados, e devem ser apresentados de forma ordenada (CRUZ, 2001) (ver Quadro 7). 67 Quadro 7 - Categoria 2 Categoria: Comportamento do receptor Transporte Convergência 1 Sim Não 2 Sim Não 3 Sim Não 4 Sim Não 5 Sim Não 6 Sim Sim 7 Sim Não 8 Sim Não 9 Sim Não 10 Sim Não 11 Sim Não 12 Sim Não 13 Sim Sim 14 Sim Não 15 Sim Sim 16 Sim Não 17 Sim Sim 18 Sim Não 19 Sim Não 20 Sim Sim 21 Sim Sim 22 Não Não 23 Sim Sim 24 Sim Sim 25 Sim Não 26 Sim Não 27 Sim Não 28 Sim Não 29 Não Sim 30 Sim Não Fonte: Elaborado pelo autor. Entrevistado Dennis et al. (1987) mostraram que o papel do consumidor quando recebe a mensagem é compreender o conteúdo, associar o conteúdo a uma variedade de formatos e fontes (símbolos, escritas, fotos, organizações, sites, pessoas) e formar um significado para a mensagem obtida. Do total de entrevistados a maioria está engajada no processo de transporte da informação (28 dos 30 entrevistados). Isso pode ser percebido quando os entrevistados afirmam buscar informações sobre o veículo em mais de uma fonte de informação, além de buscarem detalhes sobre o automóvel e compartilharem estas informações com outras pessoas. Essa busca em diferentes fontes é uma característica marcante do processo de transporte, segundo Dennis et al. (1987). Como já visto, mídias tradicionais transmitem informações mais rápidas e menos 68 detalhadas, o que caracteriza o transporte. Veja o que um dos entrevistados fala a respeito desse assunto: Os meios de comunicação que utilizo para obter informações quando quero adquirir um veículo, variam de acordo com a informação que quero obter. Costumo utilizar mais TV, rádio, sites, blogs, redes sociais e opiniões de pessoas que entendem do assunto ou têm o carro. Uso a internet para comprar preços e informações técnicas, mas acho os sites das montadoras muito confusos.(...) Entrei em um blog de discussão para obter dados sobre o carro que pretendia comprar. A discussão foi muito mais esclarecedora que os sites da montadora (B.G.M., entrevistada 30, processo de transporte). Já quando a análise é sobre o processo de convergência, nove dos entrevistados podem ser classificados como engajados neste processo, pois estes entrevistados afirmaram que não buscam informação de muitas fontes, não buscam nas peças de comunicação detalhes e que as mídias geram pouca ou nenhuma influência na decisão de compra. Se for feito um paralelo com as classificações da categoria um, pode-se perceber que os entrevistados engajados no processo de convergência enumeraram poucas fontes de informação, afirmam que as mídias tradicionais são as mais influentes em suas decisões de compra, como pode ser percebido neste extrato da entrevista. Busco informações em poucas fontes, porque a decisão sobre qual veículo adquirir só é tomada depois que discuto sobre o modelo com meu marido, que é engenheiro mecânico, e entende sobre o assunto (K.A., entrevistada 21, processo de convergência). O comportamento de transporte ou convergência poderá variar, em um mesmo consumidor, dependendo do valor do bem a ser adquirido, do engajamento no processo de compra, da expectativa de compra (CRUZ, 2001). A busca por informações em mais de uma fonte é uma característica do processo de transporte e, segundo muitos dos entrevistados, é para evitar que a informação seja tendenciosa, quando recebida apenas de um meio, como pode ser percebido na passagem da entrevista: Acho importante que busquemos informações em diferentes fontes. Você se deixar guiar por apenas uma ou outra comunicação é muito tendencioso, não sabemos quem ou o que está por trás daquela notícia. Por isso, acho importante buscar informações em sites, parentes, proprietários do veículo, com o vendedor, revistas especializadas (S.G.L., entrevistada 6). 69 A comunicação de marketing pode ser vista como um processo em que os participantes irão emitir ou receber mensagens, interpretar e compartilhar, objetivando um entendimento comum daquela informação. A pessoa que está envolvida em um processo de transporte da informação tende a buscar diferentes fontes, em diferentes momentos. Este processo de transporte também é favorecido pelo conhecimento, pois quando a informação é interpretada, ela imediatamente é armazenada na memória e pode ser usada a qualquer momento para compreensão da mensagem (PETER; OSLON, 2009). Já o processo de convergência requer mais detalhes, requer menor processamento da mensagem, uma vez que acontecerá uma fusão de entendimentos, buscando a similaridade de interpretação dos participantes envolvidos naquele processo. Assim sendo, pôde-se perceber, durante as entrevistas, que as mídias tradicionais exercem maior influência no processo de transporte, enquanto as mídias interativas acompanham os indivíduos envolvidos em um processo de convergência. Acredita-se que o transporte e a convergência serão fases de todos os receptores de uma mensagem, sendo que o transporte aparece em primeiro momento, seguido pela convergência, o que possibilita uma avaliação mais integrada e completa da informação. 4.3 Influências das mídias em diferentes momentos da comunicação de marketing A categoria três pretendeu entender a capacidade das mídias interativas e tradicionais em diferentes momentos da comunicação de marketing. Dessa forma, pode-se apreender o objetivo especifico que buscava identificar quanto cada mídia contribui para o resultado de todo o esforço de comunicação e sua capacidade de influência e persuasão. Para a classificação desta categoria foram levados em consideração os eixos um, dois, três, quatro e cinco do roteiro de entrevista e consideradas as citações feitas pelos entrevistados em cada questão. As citações que foram decisivas para a classificação desta categoria foram aquelas que englobaram lembranças, mídias que mais influenciaram na compra, meios pelos quais conheceram o veículo ou marca, qual mídia gera mais credibilidade e os pontos negativos e positivos de cada mídia (ver Quadro 8). 70 Quadro 8 - Categoria 3 – Definição Categoria Capacidade das mídias Definição Analisar a mídias e sua capacidade de informar em diferentes percepções/momentos dos entrevistados. Fonte: Elaborado pelo autor. Em seus estudos, Leão (2011) mostra que uma das diferenças das mídias é a sua capacidade de informar em diferentes momentos dos entrevistados. Esta mesma autora afirma, também, que as mídias desempenham papeis distintos no envolvimento do receptor com aquela mensagem e no compartilhamento da informação (conforme Quadro 9). Quadro 9 - Subcategorias 3 - Definições Subcategoria Definição Influência/persuasão Entender qual tipo mídia é mais persuasiva e influencia mais na decisão do receptor. Conhecimento primário Entender qual mídia é considerada destaque quando o consumidor tem acesso a novidades. Propagação Entender qual mídia é considerada com mais utilizada para a propagação da mensagem pelos entrevistados. Envolvimento Entender qual mídia é capaz de gerar mais envolvimento do receptor com a comunicação. Fonte: Elaborado pelo autor. No quadro está marcada qual mídia exerce mais influência/persuasão (capacidade de convencimento de compra), fornece informações primárias (conhecimento inicial sobre lançamentos, promoções, modelos), tem facilidade em propagar a informação (capacidade de levar a informação adiante, acessibilidade ao conteúdo) e qual gera mais envolvimento (capacidade de envolver o receptor no processo de comunicação). Foram classificados nesta categoria se foram as mídias tradicionais ou interativas as mais citadas pelos entrevistos como influentes e persuasivas, como aquelas pelas quais tiveram acesso a uma novidade ou conhecerem algum veículo, qual das mídias eles consideram com maior facilidade de se propagar entre os consumidores e, por último, qual mídia gera maior envolvimento (questionamentos, interação, curiosidade) do público-alvo (conforme Quadro 10). 71 Quadro 10 - Categoria 3 Categoria: Capacidade de mídias Influência/ Conhecimento Propagação Persuasão Primário Int.* Trad.** Int.* Trad.** Int.* Trad.** 1 x x x 2 x x x 3 x x x 4 x x x 5 x x x 6 x x x 7 x x x 8 x x x 9 x x x 10 x x x 11 x x x 12 x x x 13 x x x 14 x x x 15 x x x 16 x x x 17 x x x 18 x x x 19 x x x 20 x x x 21 x x x 22 x x x 23 x x x 24 x x x 25 x x x 26 x x x 27 x x x 28 x x x 29 x x x 30 x x x Fonte: Elaborado pelo autor. *Int. = Interativas **Trad. = Tradicionais Entrevistado Envolvimento Int.* x x x x x x x x x x x Trad.** x x x x x x x x x x x x x x x x x x x As mídias interativas têm vantagem em relação à mídia tradicional com base nas respostas dos entrevistados. Esta vantagem pode ser explicada devido à capacidade de estabelecer diálogos em tempo real com os consumidores, armazenamento de informações por longos períodos e a possibilidade de textos maiores, com mais detalhes. Nas subcategorias influência e persuasão, propagação e envolvimento as mídias interativas foram classificadas como as preferidas dos entrevistados. Quando se fala em influência e persuasão, as mídias interativas foram citadas como fonte de mensagens detalhadas, informações completas e capacidade de simulações 72 (modelos, preços, financiamentos). Em suas pesquisas, Iacobucci, Calder e BezjianAvery (1998) já mostravam que as mídias interativas têm maior capacidade de persuasão, o que foi confirmado neste estudo pelas entrevistas aplicadas. Os autores já diziam que “persuasão é pensado como um processo de apresentação, geração de compreensão, cativação, e influencias cognitivas em uma decisão (...). Aparentemente, quando um cliente usa um sistema interativo, a ligação entre recuperação e ceder à persuasão é facilitado” (1998, p. 29). Importante ressaltar que os entrevistados que disseram serem as mídias tradicionais as mais persuasivas, durante as entrevistas, disseram utilizar pouco a internet e não participarem de nenhuma rede social, conforme está explicito nesta passagem: A televisão serve para mostrar o produto, apresentar, mas não tem como obter informação mais detalhada, que seja decisiva para a compra, a não ser preço. Para buscar informação uso a internet ou vou até a concessionária (I.J., entrevistado 18). Já quando o assunto é a propagação da comunicação, a mídia interativa foi citada. De acordo com Giddens (2003), propagar a informação é o mesmo que levar a mensagem adiante, compartilhar a comunicação com outros e dividir o conhecimento de modo a alastrar as mensagens da organização. As mídias interativas favorecem a esta propagação por permitir que a informação fique armazenada por longos períodos, possa ser consultada repetidas vezes e seja mais facilmente encontrada na rede no momento em que o individuo propagador desejar. O fato de o consumidor ter o controle da busca e exibição nas mídias interativas foi determinante para que as classificassem como mais propagadoras que as tradicionais. O envolvimento, por sua vez, é uma característica marcante das mídias interativas e foi bem percebido pelos entrevistados: todos eles apontaram a mídia interativa como a melhor forma de envolvimento do consumidor com a comunicação de marketing. Tal escolha pode ter sido favorecida pelos diálogos em tempo real nas redes sociais, a possibilidade de trocar informações com diferentes pessoas, as ferramentas de simulação nos sites das montadoras. Segundo Giuliani (2006), o grau de envolvimento com uma comunicação está diretamente ligado à expectativa de consumo, à clareza das informações e o tempo de exposição do receptor à mensagem. Este autor afirma que, quanto menor o tempo de exposição ao 73 comunicado, menor será o envolvimento do consumidor, e uma das razões dessa falta de envolvimento seria a pouca lembrança que o público-alvo teria da comunicação. Giuliani (2006) defende as mídias interativas como a que geram mais envolvimento dos receptores e esse dado foi confirmado na entrevista, como pode ser visto nesta fala: Eu me lembro, mais, de propagandas da internet. É complicado você lembrar-se de anúncio de TV ou revista porque não tem nada que prenda a nossa atenção: na internet tem aqueles filmes com músicas, situações engraçadas, daí fica mais fácil você se lembrar delas (J.H.C., entrevistado 19). As mídias tradicionais foram as mais citadas quando o questionamento foi a forma como o consumidor teve conhecimento do veículo, ou seja, a comunicação de apresentação. Televisão, jornais, revistas, rádio são os meios em que os consumidores viram ou ouviram falar sobre um determinado automóvel pela primeira vez. As mensagens rápidas e objetivas destes meios acabam gerando a curiosidade no receptor que busca outros meios para obter maiores informações e detalhes sobre o automóvel visto. Iacobucci, Calder e Bezjian-Avery (1998) já diziam que mídias tradicionais focadas em consumidores reativos focalizam mais a divulgação de um novo produto ou serviço, diferente das mídias tradicionais que trabalham os consumidores de uma forma pró-ativa, fornecendo mais informações e gerando mais envolvimento. Las Casas (2010) arrazoa que nenhuma forma de divulgação é mais interessante que aquela que desperta curiosidade do consumidor, sem oferecer, de uma só vez, todos os detalhes do que está sendo anunciado. Os resultados obtidos junto aos entrevistados para este estudo confirmaram essa ideia e mostram que os consumidores têm percebido as mídias tradicionais como fonte de informação primária, segundo o depoimento de um dos entrevistados: Só busco informação na internet de um produto que eu vi em outro lugar. Como vou procurar informação de um produto que não conheço? Nenhuma fonte me fornece mais informações que o site da montadora, mas só vou até ele quando vejo o modelo em alguma revista ou em comercial de TV (S.C., entrevistada 24). Em sua teoria, Giddens (2003) afirma que a estrutura não é rígida e deve ser flexível para atender aos objetivos das mensagens, por isso o autor defende uma organização como um sistema aberto que deve se relacionar com o ambiente em 74 que está inserida para atingir seus objetivos e McLuhan (PEREIRA, 2006) afiança, em seus estudos, que a mensagem da comunicação de marketing é o meio no qual esta será vinculada. As entrevistas mostram que as empresas devem estar atentas ao seu público-alvo, adaptando a mensagem de acordo com o objetivo a ser alcançado e, principalmente, sempre acompanhando a percepção e reação que este público tem ao receber a mensagem. Para Shimp (2002), processos comunicacionais mercadológicos têm um papel persuasivo no comportamento do consumidor, ou seja, exercem uma função argumentativa com o cliente para que o desejo por determinado produto se torne ação de consumo e os pontos positivos de uma marca sejam enaltecidos. Assim sendo, percebe-se uma necessidade de um trabalho integrado dos meios de comunicação, focando a divulgação e a persuasão e sendo argumentativo o suficiente para gerar o envolvimento do receptor. 4.4 Meios de comunicação e sua influência em etapas do comportamento do consumidor Ao desenvolver a categoria quatro, o objetivo especifico a ser atendido foi relacionar a importância de cada meio de comunicação e suas influências no processo de decisão do consumidor. O propósito foi descobrir qual mídia tem maior influência em cada fase do comportamento de consumo, quais fatores e informações são determinantes para a compra, onde há maior busca por informações e como onde os consumidores sentem mais credibilidade após a aquisição do produto (ver Quadro 11). Quadro 11 - Categoria 4 – Definição Categoria Definição Processo de decisão do consumidor Entender qual mídia exerce um papel de destaque (segundo foram citadas pelos entrevistados) em cada etapa do processo de decisão do consumidor Fonte: Elaborado pelo autor. Para Karsaklian (2000), é necessário que se entenda o papel de cada comunicação nas fases do comportamento do consumidor. Deve-se considerar, segundo a teoria de McLuhan, que a mensagem é o meio, logo a forma como esta mensagem será interpretada está diretamente ligada ao meio em que ela é vinculada. Por isso, é necessário que se entenda a qual mídia é creditada maior 75 confiança e atenção em cada etapa deste processo de decisão, para que mensagens mais incisivas para cada momento sejam elaboradas (conforme Quadro 12). Quadro 12 - Subcategorias 4 - Definições Subcategoria Definição Reconhecimento da necessidade Compreender qual o tipo de mídia que mais influencia no reconhecimento da necessidade, fazendo com que o consumidor perceba que existe uma diferença entre a sua realidade o que se julga ideal. Busca de informações Compreender qual o tipo de mídia que atua como melhor fonte de informação, visando esclarecer dúvidas e fornecer mais detalhes sobre as opções de compra disponíveis. Decisão de Compra Compreender qual o tipo de mídia é mais influente para a decisão e, no momento da compra. Pós consumo Compreender qual o tipo de mídia mais utilizado pelos entrevistados no pós consumo para manifestarem seus sentimentos em relação ao bem adquirido. Fonte: Elaborado pelo autor. Foram agrupadas as respostas dos roteiros que constavam nos eixos dois, três, quatro e, principalmente, eixo cinco, de forma a entender qual o tipo de comunicação interfere mais em cada uma das fases. Foram apresentados os dados fornecidos pelos entrevistados sobre qual tipo de mídia exercem maior influência em cada etapa do processo de consumo (ver Quadro 13). Entrevistado 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Quadro 13 - Categoria 4 Categoria: Processo de decisão do consumidor Reconhecimento Busca de Decisão de Pós-consumo da necessidade informações compra Trad.* Int.** Trad.* Int.** Trad.* Int.** Trad.* Int.** x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x 76 Quadro 13 - Categoria 4 (CONTINUAÇÃO) 14 x 15 x 16 x 17 x 18 x 19 x 20 x 21 x 22 x 23 x 24 x 25 x 26 x 27 x 28 x 29 x 30 x Fonte: Elaborado pelo autor. *Trad. = Tradicional **Int. = Interativa x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x Mais uma vez o destaque para mídias tradicionais está na apresentação do produto, nas informações rápidas, por isso a maioria dos entrevistados afirmaram que as mídias tradicionais são responsáveis pelas informações no momento do reconhecimento da necessidade. Os motivos pelos quais entrevistados afirmaram adquirir um veículo foram bem diferentes (desde primeira aquisição, passando por problemas mecânicos, mudança na estrutura familiar, até mesmo simples troca de modelo), mas a primeira informação que fez com que o consumidor percebesse uma diferença entre o mundo real e o mundo ideal - definição de Kotler (2006) para a fase de reconhecimento da necessidade - vem das mídias tradicionais, das quais as mais citadas foram comerciais televisivos e anúncios em revistas. Por isso, as mídias tradicionais foram as mais citadas como influenciadoras no reconhecimento da necessidade. De acordo com os entrevistados, os anúncios rápidos e chamativos da televisão, bem como imagens de anúncios em revistas e jornais, são fatores que despertam a curiosidade do consumidor e os levam a buscar mais informações sobre o modelo pretendido. Nessa fase as mídias mais citadas pelos entrevistados foram televisão, revista e panfletos/mala direta. Nenhum dos entrevistados conseguiu se lembrar com convicção de um comercial vinculado nestas mídias. Já nas fases de busca por informações e decisão de compra os tipos de mídias mais citados foram os interativos. Os entrevistados mostraram que as mídias tradicionais funcionam como uma chamada para o automóvel e que maiores informações, como consumo, manutenção, preço, acessórios, opcionais, fotos 77 internas e externas do modelo são procuradas em mídias interativas. As mídias interativas também foram citadas pela possibilidade de trocar informações com pessoas especialistas na área, proprietários de modelos semelhantes e poder ter acesso à informações positivas e negativas sobre o modelo pretendido. Por esses meios fornecerem maiores detalhes, mais informações técnicas, opiniões de diferentes pessoas, eles acabam tendo mais credibilidade junto ao consumidor e transmitem mais segurança para a decisão de compra, assim, as mídias interativas foram citadas, ainda, como as mais influentes na fase de decisão de compra. É possível perceber que os entrevistados que, na categoria três (3), disseram que as mídias mais persuasivas são as tradicionais, também afirmaram, nesta categoria, que a decisão de compra parte a partir das informações obtidas em mídias tradicionais. Apesar dessa classificação, nenhum dos entrevistados deixou de citar a visita à concessionária e a conversa com o vendedor como um fator decisivo para a finalização da compra. Em tempo, é importante ressaltar que este estudo focalizou a relação do consumo e as mídias, não direcionando a análise para outros aspectos que influenciam o processo de comunicação, tais como vendedores e o ponto de venda. Essa ideia geral pode ser expressa pelos extratos da entrevista seguintes: Não tem como buscar informações senão em sites e redes sociais. Quando estava trocando meu carro, vi uma matéria sobre o modelo em uma revista especializada em carros, mas achei a revista cara, e acabei vendo reportagem semelhante em um site especializado, e vi um blog sobre proprietários do modelo. Estas informações foram extremamente importante, mas a minha decisão só foi tomada mesmo depois que conversei com o vendedor e fiz o test drive (S.S, entrevistada 5). Não tenho redes sociais, só acesso e-mail para receber informações do trabalho, nunca comprei pela internet, e raras vezes acesso algum site de notícias. Ainda sou daquelas que recebe, diariamente, o jornal e leio revistas aos fins de semana. Por isso, não vejo influências, em minhas decisões de compra, das mídias interativas. As informações que leio, quando quero trocar meu carro, são os cadernos especializados do jornal que assino (M.B., entrevistada 12). A fase de pós-consumo, por sua vez, também é influenciada, principalmente, pelas mídias interativas, e os entrevistados que afirmaram sofrer influência das mídias tradicionais (com exceção de dois) também apontaram as mídias interativas como as mais importantes para a fase de pós-consumo. Segundo estes entrevistados, as mídias tradicionais não oferecem espaço ou ferramentas eficientes 78 para que sejam feitas as considerações de utilização de um automóvel. Para grande parte das pessoas que responderam ao questionário, nos sites, redes sociais, blogs é que é possível fazer reclamações, elogios, fornecer opiniões, discutir diferentes pontos de vista e expressar sua satisfação ou insatisfação, conforme destacou a entrevistada abaixo: As montadoras devem administrar muito bem estes canais de pós-consumo, uma vez que se tornam referencias para futuros consumidores. Quem consome hoje, é referência para novos clientes, amanhã (A.M., entrevistada 1). De forma geral, pode-se perceber que as diferentes mídias exercem influências sobre o receptor da mensagem. É possível notar que a persuasão de cada mídia depende do estágio de decisão de compra em que se encontra o consumidor. 4.5 Considerações gerais A partir das entrevistas outras considerações sobre o papel da mídia tradicional e interativa no processo de compra de veículos zero quilômetro podem ser inferidas. Todos os entrevistados perceberam um aumento significativo das comunicações via mídias interativas, e 26 deles afirmaram sofrer influências diárias destas comunicações. Eles defendem a comunicação interativa argumentando que elas facilitaram a busca por informações e aproximaram os consumidores das empresas. Além disso, entendem que o cliente tem acesso a informações positivas e reclamações sobre algum produto ou empresa e compra online traz agilidade. Por outro lado, dizem que produtos de alto valor, como o automóvel, ainda exigem uma proximidade maior com o vendedor e o distribuidor, por isso finalizam suas compras sempre nas concessionárias, e também por isso as informações fornecidas pelo vendedor devem ser precisas e convincentes. Do total de entrevistados 14 apontaram depoimentos de clientes e especialistas como um atrativo e fonte de credibilidade em sites, porém eles só buscam alguma informação na internet após terem conhecimento do veículo por outro meio ou por pessoas conhecidas. A principal fonte de informação na rede, 79 segundo os entrevistados, é o site das montadoras. Nele, 18 dos entrevistados disseram que simulam modelos e preços, além de analisarem cores, acessórios e acabamentos. Entretanto, afirmam que falta uma ferramenta para simular financiamento com valores reais e que, muitas vezes, os sites são lentos e de navegação complexa. Um dos entrevistados sugeriu um site que comparasse modelos de carro, de acordo com a escolha do consumidor. Seria extremamente interessante se fosse criado um site que comparasse os modelos, de forma simplificada. Tipo, a gente escolhe os carros, e o site processa as informações de cada um, criando um comparativo (C.M., entrevistado 17). Quando questionados se lembravam de alguma campanha, 12 entrevistados lembraram-se de campanhas nas mídias tradicionais e apenas dois lembraram mídias tradicionais. As campanhas mais lembradas foram pôneis malditos (Nissan), Estefânie Cross Fox (Volkswagen) e Fiat Mio (Fiat). A semelhança entre estas campanhas é o humor, o excesso de cores, movimentos e música. Porém, pode-se perceber pelas entrevistas que a criatividade desperta a curiosidade, mas não influência, diretamente, na decisão de compra, como pode ser confirmado no trecho da entrevista: Para primeira impressão, comunicação criativa é a que mais chama a minha atenção, mas não compro nada baseado em músicas engraçadas, ou vídeos divertidos. O que me leva a comprar, ou não, alguma coisa, são as informações técnicas que obtenho do produto (A.R., entrevistada 2) As mídias tradicionais ganham espaço quando o alcance é o assunto em questão: a internet no país ainda é lenta, cara e, por mais usuários que tenha ganhado nos últimos anos, ainda está longe de ser tão utilizada quanto a televisão. O sinal televisivo e de rádio tem alcance na grande maioria das cidades do país, enquanto a internet ainda enfrenta obstáculos para atingir as áreas mais remotas das Brasil. As informações rápidas e objetivas desses meios despertam mais a curiosidade do receptor e, segundo 20 dos entrevistados, estas mídias são menos invasivas que as mídias tradicionais. Apesar de as empresas ainda enviarem, em excesso, malas diretas, revistas, jornais, panfletos, os entrevistados consideraram que as mídias tradicionais respeitam mais a privacidade do cliente (ver Quadro 14), conforme relato deste entrevistado: 80 Na TV você muda de canal, pára de comprar uma determinada revista, mas na net onde você for é seguido: e-mails, spams, banners, informações fúteis. Por questão do tempo as informações da TV são mais assertivas, precisas (L.A., entrevistado 10). Estes mesmos entrevistados consideram que as mídias interativas são mais invasivas e que fornecem mais informações desnecessárias. O excesso de informações está na quantidade de e-mails, spams, banners que invadem a tela do computador a todo o momento e a falta de privacidade por parte destes meios está no compartilhamento (e venda) de mailings, na possibilidade de ter o e-mail, rede social invadido, o constante redirecionamento a outras páginas (ver Quadro 14). Quadro 14 - Diferenças percebidas entre os tipos de mídias Interativa Tradicional Alta velocidade de mudança da informação Informações mais detalhadas Informações mais rápidas e sucintas Você vê quando quer O consumidor só reage à informação Maior diálogo com o público Informações superficiais Campanhas mais interativas Só fornece informações, não ouve Mais reais e mais confiáveis Não possibilita avaliação de pontos positivos e negativos Voltada para um público mais jovem Abrangência Desperta mais a curiosidade do consumidor Informações mais atualizadas Fonte: Elaborado pelo autor. 4.6 Entrevista com especialistas Após a análise das respostas dos entrevistados para esta pesquisa, foi realizado um conjunto de entrevistas com especialistas, concretizada por cinco profissionais da área de propaganda e marketing, As entrevistas foram fundamentadas na análise de oito peças de comunicação de algumas das maiores montadoras do Brasil. O objetivo foi avaliar a proximidade entre as comunicações empreendidas pelas empresas e o entendimento dos receptores. Tal assertiva se ligou ao objetivo de verificar o grau de congruência entre as informações apresentadas pelas montadoras e avaliações pelos receptores, traduzindo a solidez das comunicações e o conteúdo transmitido nas peças. 81 Os profissionais que fizeram a análise são graduados há mais de cinco anos, com conhecimento e experiência em redação, criação e direção de arte de peças de comunicação impressas, virtuais e televisivas (ver Quadro 15). Quadro 15 - Perfil dos especialistas entrevistados Profissional 4 L.R.; feminino, 39 anos, 12 anos de atuação profissional. B.V.S, masculino, 45 anos, 15 anos de atuação profissional. C.C.S, feminino, 33 anos, 8 anos de atuação profissional. S.L.G, feminino, 29 anos, 6 anos de atuação profissional. M.A.S, feminina, 51 anos, 19 anos de atuação profissional. Formação Atuação profissional Design Gráfico (2001), especialização em Gestão de Marketing, Mestre em Comunicação Midiática. Publicidade e Propaganda (2000), especialização em Redação Publicitária. Publicidade e Propaganda (2005), especialização em Gestão de Marketing. Diretora de Redação em agência de comunicação integrada. Docente das disciplinas Direção de arte e Marketing Estratégico. Coordenador de marketing de empresa de importação de médio porte. Publicidade e Propaganda (2007), especialização em Direção de Arte Publicitária. Publicidade e Propaganda, especialização em Gestão Estratégica de Marketing. Mestre em Administração. Coordenadora de marketing e novos negócios de empresa de jogos multinacional. Docente da disciplina Gerência de marketing. Analista de Marketing em instituição financeira de grande porte. Coordenadora de curso superior de publicidade e propaganda, diretora de arte em agência de publicidade. Fonte: Elaborado pelo autor. A escolha das peças de comunicação foi por conveniência, tendo como único critério de seleção a média de valor dos carros que os entrevistados declararam ter (R$ 36.000,00) e as marcas mais citadas. A escolha das peças também foi pautada nos objetivos destacados no trabalho, permitindo que peças de diferentes montadoras fossem analisadas, incluindo instrumentos das quatro maiores montadoras do Brasil em volume de vendas. Para as mídias interativas foram analisados: 4 Por privacidade foram usadas apenas as iniciais dos nomes dos profissionais. 82 1 - o site de duas montadoras: o critério de escolha foi analisar a qualidade do conteúdo disponibilizado nos sites, a qualidade do link ‘monte seu carro’, a facilidade de navegação do site e a atratividade deste; 2 - a fun page de uma montadora: o critério de escolha foi a possibilidade de analisar a capacidade de interação por meio da rede social, as respostas da montadora e a participação dos consumidores) e o blog de um lançamento de automóvel (esta peça foi escolhida para mostrar a periodicidade das notícias, a qualidade das informações e a interação com o seguidores). Já para as mídias tradicionais foi solicitado que os profissionais explicassem os objetivos de um anúncio de revista de um lançamento (verificar a capacidade de despertar a curiosidade, a qualidade da informação), um panfleto distribuído nas ruas (peça escolhida com base na ideia de se perceber a qualidade gráfica do material e da mensagem, capacidade de despertar interesse no leitor) e dois comerciais de TV (analisar a criatividade, a capacidade de chamar a atenção do espectador e a capacidade de transmitir informação). Para interligar a análise destas peças às respostas obtidas nas entrevistas o autor deste estudo correlacionou as informações oriundas das entrevistas com as informações fornecidas pelos profissionais de propaganda e marketing. O site hoje é considerado um dos principais meios de comunicação entre empresa e consumidor, permitindo um grande volume de opções e simulações, incluindo a possibilidade de compras. A fun page é a melhor forma de retratar a interação entre empresas e consumidores, possibilitando diálogos instantâneos e o blog mostra uma série de informações de forma linear, interativa e de constante atualização. Foi desenvolvido um roteiro qualitativo com 15 tópicos para os entrevistados dissertarem sobre as peças de comunicação. Neste roteiro foi solicitado que os especialistas avaliassem os pontos negativos e positivos de cada peça, a qualidade e credibilidade das informações, a capacidade de interação e relacionamento com os consumidores, a facilidade de manuseio das mídias e a criatividade (ver APÊNDICE II). Nas mídias interativas foi requerida a análise dos sites das montadoras Fiat (Figura 5) e Volks (Figura 6), da fun page em uma rede social da montadora Fiat (Figura 7), o blog do lançamento Onix da Chevrolet (Figura 8). Foi solicitado aos 83 profissionais que analisassem a qualidade das informações, a capacidade de despertar a curiosidade do receptor, de estabelecer relacionamentos e convencimento de compra, a facilidade no acesso e obtenção de informações, a interação estabelecida entre montadora e consumidor e os pontos positivos e negativos das peças. O site da montadora FIAT foi escolhido pelo fato de a marca ter sido a mais citada pelos entrevistados quando questionados sobre lembrança de alguma peça de comunicação e por ter sido a marca mais adquirida pelos entrevistados (ver Figura 5). Figura 5 - Página inicial site Fiat Fonte: <http://www.fiat.com.br>. Acesso em: 01 de março de 2013. Já o site da montadora Volkswagen foi escolhido por ter sido a segunda marca mais adquirida pelos entrevistados e citado como repleto de informações e facilidade de manuseio. Vale lembrar que a montadora é uma das mais tradicionais do mundo, tendo um dos modelos mais populares do mundo: o fusca5. Pela sua importância no cenário automobilístico, seu site foi escolhido para a análise deste trabalho (ver Figura 6). 5 <http://motorclube.com.br/fotos/volkswagen-fusca-o-carro-popular.aspx>. Acesso em: 01/03/2013. 84 Figura 6 - Página inicial site Volkswagen Fonte: <http://www.vw.com.br>. Acesso em: 01 de março de 2013. A Fun Page da Fiat foi escolhida por ter sido a única citada nas entrevistas. Além disso, esta é a fun page de montadora (entre as quatro maiores do Brasil) com maior números de seguidores, 1.819.346, até o dia 1 de março de 2013 (ver Figura 7). Figura 7 - Fun Page (Facebook) Fiat Fonte: <http://www.facebook.com..br/FIAT>. Acesso em: 01 de março de 2013. 85 O blog de lançamento do Chevrolet Onix foi escolhido devido ao fato de o modelo ter sido considerado como o lançamento do ano de 2012 e por uma tentativa da montadora de alavancar sua venda de populares6. Além disso, não existem muitos blogs de automóveis que são alimentados pelas próprias montadoras (ver Figura 8). Figura 8 - Blog de lançamento Chevrolet ONIX Fonte: <http://www.onixgm.blog.com.br>. Acesso em: 01 de março de 2013. 4.6.1 Mídias interativas Os sites das montadoras foram bem avaliados pelos profissionais, que afirmaram serem eles sites completos, cheios de informações úteis, com diferentes links com informações técnicas, práticas e pontos de venda. As mensagens dos sites, segundo os publicitários, são transparentes e esclarecedoras. Os sites não apresentam uma capacidade de despertar a curiosidade considerável, porque dispõem de muitas informações esclarecedoras, logo já sanam as dúvidas e 6 <http://revistaautoesporte.globo.com/Revista/Autoesporte/0,,EMI310504-10142,00.html>. em: 01/03/2013. Acesso 86 curiosidades dos consumidores. A capacidade de convencer o consumidor de compra está nas informações detalhadas sobre os veículos. Com esses dados, ele pode avaliar mais precisamente e com grande facilidade os valores dos componentes que está adquirindo, de acordo com o que realmente quer e pode pagar. Os sites são fontes confiáveis e, por isso, representam credibilidade nas informações. O problema dos sites está nos links de ‘monte o seu carro’, uma vez que não estão apresentados de forma explicita na página inicial e seu carregamento é lento. A passagem abaixo mostra a visão de um dos profissionais: Acho que a capacidade de convencimento de compra é a informação: o site é muito informativo, busca ser abrangente. Se entender “convencimento” como uma atitude persuasiva, acredito que, o site utiliza uma linguagem clara, técnica, com uso da função conativa (B.V.S., publicitário). Já a fun page na rede social Facebook é uma ferramenta de relevante importância para comunicação com os consumidores, segundo quatro dos cinco profissionais que fizeram a análise das peças. É a mídia mais atual, que está na moda entre os clientes, e as informações chegam com maior rapidez para o consumidor. A página foi analisada com aspectos positivos, uma vez que gera grande interação com a montadora, responde a todos os posts dos usuários, esclarece algumas dúvidas, divulga promoções e lançamentos. O relacionamento com o consumidor se torna mais rápido e eficiente na mídia social e a capacidade de se relacionar com ele se torna mais rápida e dinâmica, permitindo, inclusive, que ele se relacione com outros consumidores de forma mais descontraída. Além disso, a montadora posta e imediatamente os consumidores já começam a interagir. Vale ressaltar que a mídia social, requer um gerenciamento intenso, uma vez que nela também são postadas opiniões e fatos negativos, que podem influenciar outro cliente. Veja o que diz esta profissional: Redes sociais são formas rápidas de manter um relacionamento com o cliente e com isto ter um feedback mais imediato de suas ações (S.L.G, publicitária). Já o blog se mostra uma mídia mais pontual sobre determinado produto, com uma demora mais considerável de atualização das informações. Apresenta bastantes detalhes do carro, mas faltam imagens e algumas informações técnicas. O 87 blog funciona como uma ferramenta que apresenta os aspectos positivos do veículo, mas sua atualização é mais demorada. Os publicitários afirmaram que o blog dificulta a interação com o consumidor, porque nem sempre os comentários são respondidos e, por esse motivo, também não desempenha um papel persuasivo no público-alvo. Um dos profissionais entrevistados afirma: O blog, por si só, não é se faz convincente. Ele apresenta informações interessantes, mas o cliente precisa adquirir informações em outros meios de comunicação, ou em visitas às concessionárias, ou boca à boca, para que aquela informação do blog tenha mais credibilidade (L.R, publicitária). Os profissionais avaliaram as mídias interativas, de forma geral, como bem estruturadas, de fácil usabilidade, com informações claras e transparentes, interativas e completas. Por outro lado, apontaram algumas falhas, como excesso de texto, demora em carregar os sites e atualizar os blogs e pouca atratividade nos layouts das peças. De acordo com as respostas obtidas nas entrevistas e pela análise das peças de comunicação pelos publicitários, pode-se perceber que as montadoras estão desenvolvendo um plano de comunicação que atende às necessidades dos seus clientes. Nas entrevistas o site foi citado quase que por todos como uma fonte segura de busca de informações e os profissionais perceberam que esses instrumentos trazem informações técnicas e detalhadas, bem como a possibilidade de simulações e pontos de vendas, o que gera credibilidade ao receptor da informação. Falta, segundo os publicitários, uma interação maior na página da fabricante. Redes sociais, por sua vez, não funcionam, conforme a análise, como uma ferramenta plena por busca de informações, mas sim como um canal de interação entre a empresa e o consumidor – principalmente aquele que já é proprietário de um veículo da marca. Porém, ao contrário desta análise, os consumidores percebem esta ferramenta como um meio de informação, cabendo às montadoras gerir de forma apropriada esse meio. Os blogs, que não foram citados por muitos durante a entrevista, são os que menos apresentam atrativos para o público-alvo, segundo os especialistas. Essas inferências mostraram que os canais de comunicação têm sido percebidos pelos consumidores com congruência às ações das empresas, devendose ter atenção para as necessidades e formas como as informações são buscadas 88 pelo consumidor. Dennis et al. (1987) já dizia que a convergência da informação é um processo no qual deve haver compreensão e entendimento coletivo entre os receptores e mútuo com os emissores, o que podemos perceber que não está acontecendo no caso das redes sociais e blogs. Merece uma atenção esse fato de não estar havendo sintonia entre os consumidores e as montadoras, priorizando o desafio de tornar eficiente e eficaz o processo de concepção da mensagem, escolha do canal e divulgação da mensagem em diferentes plataformas de comunicação, para que o processo de convergência da informação não fique comprometido. Um fato a ser pensado no processo de comunicação, principalmente interativa, é o controle da informação. Até o surgimento e a popularização das novas mídias o controle da informação estava totalmente nas mãos das empresas, que determinavam os conteúdos das mensagens a serem divulgadas, sem a participação ativa dos consumidores. Com a chegada das mídias interativas, os antigos, apenas, receptores da mensagem, se tornaram também emissores de mensagens e opinião, devido ao acesso a amplo conteúdo e pela facilidade de se expressarem por meio da rede. Esse fato fez com que as montadoras criassem estratégias para controlar sua marca e a opinião de seus consumidores nos sites, blogs e redes sociais, ou seja, existe um dilema na comunicação a ser resolvido: estariam prontas as montadoras para abrirem mão do controle da informação, dando abertura para que esta se origine, cada vez mais, do seu público-alvo? No processo de comunicação, o consumidor é um ator social de grande importância, que interfere diretamente nas ações de comunicação de marketing de uma empresa. As análises prévias demonstram a importância de se entender as implicações do aumento do poder do público-alvo enquanto agente de comunicação e os percalços e paradoxos que emergem nos limites do controle da empresa dos meios de comunicação, visando manter o controle sobre as informações vinculadas. Segundo Kotler, Kartajaya e Setiwan (2010), o público-alvo passou a ditar regras, expor opiniões e forçar mudanças. O antigo one-to-one, característico da relação entre cliente e atendente de call centers deu lugar ao one-to-severals, em que o cliente é seguido por centenas, e até milhares, de pessoas em suas redes sociais. Porém, as montadoras ainda tentam controlar as informações das mídias sociais, como é feito nas mídias tradicionais, gerando um conflito latente entre as fontes emissoras e receptoras da 89 comunicação de marketing. Segundo a profissional e docente de Publicidade e Propaganda, M.A.S, a interação entre montadoras e consumidores via rede social, não só beneficia o público alvo, que exprime sua opinião, seus desejos e sentimentos em relação a marca e ao produto, mas beneficia muito às empresas que mantem controle sobre as mensagens das pessoas e consegue captar informações valiosas sobre seus hábitos, costumes e necessidades. 4.6.2 Mídias tradicionais Para as mídias tradicionais, a análise se baseou na qualidade das informações, na capacidade de despertar a curiosidade, relacionar-se e motivar a compra do receptor da mensagem, a criatividade e os pontos positivos e negativos das peças. Foram apresentadas aos profissionais que fizeram a análise as seguintes comunicações: panfleto Fiat (Figura 9), comercial de TV (30 segundos) Ford (Figura 10), comercial de TV (28 segundos) Volks (Figura 11) e anúncio de revista Chevrolet (Figura 12) Mais uma vez, a escolha da Fiat foi baseada no número de citações feitas pelos entrevistados deste estudo. Outro fato que levou à escolha de um panfleto da Fiat foi o fato de a ideia inicial de escolha das peças ter sido exatamente de um feirão de montadora (ver Figura 9), para que não existisse intermediação na comunicação (entre montadora e concessionária) e, segundo a SINDICOV/MG, a Fiat foi a montadora que mais realizou feirões em 2012 (foram realizados 13 feirões). 90 Figura 9 - Panfleto Fiat Fonte: Panfleto do dia 20/02/2012. A escolha do comercial da Ford foi baseada em dois fatores principais: primeiro o fato de ser um comercial que está sendo vinculado atualmente e o outro foi o fato de a montadora também ter sido citada durante as entrevistas (ver Figura 10). O comercial mostra um homem se afogando na praia, resgatado do mar por um salva-vidas. Na hora da respiração boca a boca, ele pensa que a situação poderia 91 ser melhor e, para sua surpresa, no lugar do atleta musculoso aparece uma linda mulher. Imediatamente, ele pensa que o cenário poderia ficar ainda melhor e surge a atriz Pamela Anderson, com o sensual maiô vermelho da sua personagem em SOS Malibu ("Baywatch" no título original). Figura 10 - Comercial de TV Ford Fonte: <http://www.ford.com.br>. Acesso em: 01 de março de 2013. Quando o comercial do VW Fox foi ao ar, gerou bastante polêmica pelo conteúdo transmitido. Dessa forma, a escolha desta peça baseou-se nesse fato e também nas entrevistas, pois o modelo da VW mais citado foi exatamente o Fox (ver Figura 11). Nesse comercial uma senhora evita uma discussão com seu marido, quando ela é questionada sobre fidelidade, convidando-o a conhecer as novidades do novo Fox. O marido, por sua vez, ao adentrar o veículo, esquece-se de toda a conversa que estavam tendo e se encanta pelo novo modelo do VW Fox. 92 Figura 11- Comercial de TV VW Fonte: <http://www.vw.com.br>. Acesso em: 01 de março de 2013. O anúncio de revista da Chevrolet foi escolhido pelo fato de a montadora trazer informações sobre a sua linha 2013 de veículos populares (média de preço que foi critério na seleção das peças) e não apenas de um modelo. Esse anúncio é vinculado em um momento que a Chevrolet passa por uma renovação de toda a sua linha, com novos modelos e novos designs. 93 Figura 12 - Anúncio de revista Chevrolet Fonte: Revista Exame, janeiro – 2013, p. 18. Os comerciais de televisão são ótimos instrumentos para despertar a curiosidade do consumidor, segundo os profissionais que analisaram as peças. Os vídeos lançam mão da criatividade e das promoções para chamar a atenção do receptor, mas não são convincentes a ponto de convencê-lo a comprar o produto 94 baseado apenas nestes comerciais. Para os publicitários, os comerciais funcionam como uma eficiente ferramenta de apresentação de algum novo veículo, serviço ou promoção. Não existem informações detalhadas, que descrevam bem o veículo para o cliente. Detalhes são pouco destacados, objetivando forçar o cliente a buscar uma concessionária. Dizem os especialistas: Ao observarmos que 80% da peça conta uma estória que serve apenas para consolidar o conceito da campanha, podemos concluir que a “informação” não é o fundamental (C.C.S., profissional de marketing). São bem produzidos, apostam em criar cenas inusitadas, usam artistas famosos; mas são um pouco apelativas, deixam de lado a informação e vendem carros! (S.L.G, publicitária). O anúncio de revista traz um convite para o test drive, uma visita à concessionária. Para os publicitários o anúncio feito em revista funciona muito bem como um ativador da curiosidade, apesar de não usar tanta criatividade e ter o convencimento de compra como sua principal função. Os anúncios não trazem informações técnicas importantes, mas apresentam preço da versão básica, motorização e o site da montadora. Essa informação pode ser percebida no relato do profissional: Os anúncios de revista funcionam, normalmente, como um convite ao test drive, uma visita à concessionária, mas poderiam ser mais criativos, diferenciados (C.C.S., profissional de marketing). Os panfletos, por sua vez, trazem o padrão de venda produto-preçocondições de pagamento, mas as informações ainda são insuficientes para convencer a compra. Seu atrativo é o preço em fontes maiores e as condições de pagamento, contudo não funcionam sem o papel do vendedor quando o cliente faz uma visita à concessionária. As artes desse material, normalmente, são simples, limpas e pouco criativas, o que pode afastar a atenção do receptor, conforme podemos ver na passagem da entrevista: Mídias tradicionais funcionam como um convite à concessionária. Elas despertam no receptor uma atitude reativa, de ligar para algum especialista no assunto, entrar no site, visitar a concessionária (B.V.S., publicitário). 95 Para os profissionais que analisaram as mídias tradicionais selecionadas estas apresentam, no geral, uma função de convite, de apresentação de um novo produto, uma novidade. Têm um alcance muito amplo e não dependem de busca para chegar até o receptor. Porém, as mídias tradicionais pecam por não serem direcionadas, não fornecerem informações completas e convincentes e, principalmente, por serem uma comunicação de mão única, em que o receptor exerce apenas um papel reativo. Os participantes da pesquisa também apontaram que as mídias sociais são os primeiros meios pelos quais recebem novidades e tomam conhecimento de um produto ou serviço, mas questionaram a falta de informação destes meios, justamente o que foi apontado pelos profissionais. Outro ponto em que publicitários e entrevistados concordaram foi a pouca criatividade destas mídias e a falta de interação entre as partes envolvidas no processo, o que pode limitar o entendimento da mensagem. Em uma visão geral, foi possível notar que a percepção dos consumidores está condizente com o que as empresas pretendem com cada instrumento de comunicação. Alguns canais não estão alinhados entre emissor e receptor, mas, de forma ampla, as informações têm sido fornecidas e recebidas com clareza e credibilidade. 96 CONCLUSÕES O presente estudo buscou responder qual seria o papel das mídias tradicionais e interativas na transmissão de informações, formação de significados e influências no comportamento de decisão de compra do consumidor de automóveis. Com isso seria possível contribuir para o enriquecimento dos estudos sobre o papel de cada mídia e sua relação com o consumo enquanto processo social, em uma época em que o uso de mídias interativas cresce, incentivado pela popularização e aumento significativo do uso da internet no Brasil. Para atender o problema de pesquisa proposto, o objetivo principal deste estudo foi avaliar o papel e a utilização das mídias tradicionais e interativas pelos consumidores e montadoras no processo de comunicação. Para isso foram entrevistados 30 proprietários de carro, escolhidos por conveniência, sendo o único critério que os entrevistados tivessem adquirido um carro zero quilômetro nos últimos 24 meses. Os dados obtidos nesses roteiros foram categorizados em quatro grupos diferentes. Ainda foram escolhidos oito canais de comunicação estabelecidos pelas montadoras, analisados por especialistas por meio de entrevista qualitativa, a fim de assimilar as informações obtidas na análise das entrevistas com as mensagens divulgadas pelas montadoras em cada canal. Isso possibilitou entender se a comunicação entre empresa e público está acontecendo de forma clara e sem ruídos entre emissão e recepção. A partir da análise das entrevistas com consumidores e profissionais da área percebeu-se que existe uma sintonia entre o que as empresas estão objetivando com seus canais de comunicação e a percepção, bem como a compreensão dos consumidores. Entretanto, observou-se um pequeno conflito nas mídias interativas pelo controle de emissão da informação. Os consumidores buscam cada vez mais o controle da comunicação nos meios interativos e as montadoras não se estruturaram, completamente, para ter domínio sobre o que circula na rede. As mídias, sejam elas tradicionais ou interativas, desempenham, cada uma com sua mensagem e sua forma de atingir o público, o seu papel na formação de significados e a capacidade de influenciar a decisão de compra. Não se pode defender o uso de uma ou outra mídia como mais eficiente na formação de signos e significados, porque cada uma exerce uma influência, que vai desde conhecimento primário até a pós-aquisição do veículo, porém a complementaridade das mídias tem 97 objetivos diferenciados. Isso se evidenciou na literatura (IACOBUCCI; CALDER; BEZJIAN-AVERY, 1998) e nas entrevistas algumas mídias visam informar, despertar curiosidade, levar o consumidor até meios de comunicação com mais detalhes, com maior poder de persuasão. Outro fator que favorece a integração dos meios de comunicação são os dados mostrados por Braga (2008), que apontam que 53% dos internautas acessam a rede, enquanto, simultaneamente, assistem à televisão. Por isso, em seus estudos a autora levantou a hipótese de que existe um processo de complementaridade das redes, e não de exclusão. “Por isso, é importante para os anunciantes pensarem sempre em estratégias que envolvam multiplataformas, aproveitando a atenção dividida do usuário” (BRAGA, 2008, p. 9). Os resultados obtidos neste estudo, associados às entrevistas com especialistas de comunicação e marketing, apontam que a hipótese levantada por Braga (2008) encontra respaldo nos dados, ou seja, os receptores das mensagens estão conectados, simultaneamente, a diferentes mídias. Outros autores que já apontavam para essa complementaridade de mídias são Iacobucci, Calder e Bezjian-Avery (1998), que defendiam que as mídias tradicionais não iriam ser substituídas pelas interativas. Percebe-se, por meio dos estudos destes autores e do presente trabalho, que as diferentes mídias se encontram em um universo cada vez maior e mais variado da comunicação. O estudo suporta, também, a Teoria Estruturalista de Giddens, especialmente em relação ao conhecimento de que a interação e a recepção da informação dependem da situação, do contexto e das necessidades do consumidor (STEWART; PAVLOU, 2002). Isso implica que o desempenho de cada mídia pode variar em diferentes momentos, ponto também conexo à teoria de McLuhan, informando que o meio é a mensagem. Com isso, esta pesquisa reforça a proposição de que a mensagem pode se modificar, dependendo do meio em que foi veiculada, mesmo transmitindo a informação em mídias distintas. A amplitude dos canais de comunicação, sejam eles tradicionais ou interativos, faz com que os profissionais responsáveis por essa atividade se reinventem a cada momento, em cada situação. O estudo revela que as mídias são acionadas para atender a demandas distintas e fornecem informações úteis nas várias etapas do processo do comportamento de compra. Tal noção, aliada à 98 complementaridade dos meios de comunicação, revela a oportunidade de envolver o consumidor por meio do processo de comunicação empresarial. 5.1 Limitações e sugestões para estudos futuros Esta pesquisa conclui que as mídias interativas e tradicionais desempenham um papel complementar, e não excludente, na comunicação. Este estudo inferiu, ainda, que o receptor da mensagem pode manifestar-se de diferentes formas ao ter contato com a comunicação e que a forma como as montadoras estão se comunicando com seu público-alvo tem gerado resultados satisfatórios. Finalmente, trechos e ideias apontadas nas entrevistas com especialistas e consumidores revelam dilemas e conflitos inerentes à emergência das mídias interativas, em que as organizações, tradicionalmente dominadoras do conteúdo e formato da comunicação, têm observado o consumidor ganhar espaço como fonte emissora e influenciadora na formação de opiniões. Esse é um ponto que merece maiores evidências e foco de investigação no futuro. Quanto às limitações, destaca-se que parte considerável delas referem-se à natureza qualitativa da pesquisa. Assim, este estudo abre margem para dúvidas, questionamentos, impasses e diferentes possibilidades de entendimento. Com vistas a minimizar possíveis dúvidas na interpretação, seria possível submeter os entrevistados a um grupo focal, de testes com as peças de comunicação e, possivelmente, ouvir os criadores destas peças, buscando compreender o real objetivo da comunicação. Outro aspecto a ser explorado para sobrepujar as limitações do estudo seria a aplicação de um método etnográfico, possibilitando acompanhar o entrevistado desde o momento do reconhecimento da necessidade, passando pela busca de informação e presenciando sua visita às concessionárias e sua conversa com os vendedores. No método etnográfico, segundo Travancas (2006), ocorrem múltiplas interações entre as personagens envolvidas no processo social de consumo, o que facilita a observação e a coleta de dados. Nessa modalidade o pesquisador pode conhecer melhor os comportamentos que o público desenvolve de acordo com cada situação e momento, o que possibilita a atribuição de diferentes significados ao contexto de consumo. Outra abordagem complementar seria empregar a netnografia, que consiste na aplicação do método etnográfico no mundo virtual e na cibercultura (BELK, 2008), 99 visando acompanhar o público-alvo por meio dos links acessados, de sua postura de compra via e-commerce, de reações ao terem contato com conteúdos virtuais e sua postura de aceitação daquela informação. Belk (2008) defende o uso dessa técnica para compreender as necessidades e influências dos grupos online. Sugere-se, para continuidade deste estudo e para nova pesquisa, que uma pesquisa quantitativa acompanhe a qualitativa, obtendo dados mais objetivos e conclusivos, apresentando padrões de comportamento que possam apresentados por meio de números, com uma quantidade maior de participantes. ser 100 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, Sonia. Redes sociais na internet: desafios à pesquisa. Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – Intercom. XXX CONGRESSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO. Anais... Santos – SP. 29 de agosto a 2 de setembro de 2007. p. 1-15. ALVES, I.C.B. As técnicas projetivas no psicodiagnostico e sua função na psicoterapia. I ENCONTRO SOBRE PSICOLOGIA CLINICA. Anais... Universidade Mackenzie, São Paulo, 1997. p. 36-49. AMOSSY, R. (org). Imagens de si no discurso. São Paulo: Contexto, 2005. ANFAVEA – ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE FABRICANTES DE VEÍCULOS AUTOMOTORES. Anuário da Indústria Automobilística Brasileira 2011. 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Meu nome é (seu nome) e estou fazendo uma pesquisa, em nome da Fundação Dom Cabral e da Universidade FUMEC, para saber o que as pessoas pensam sobre a publicidade feita por empresas de automóveis. Será que você poderia me ceder 10 minutos de sua atenção e participar da pesquisa? Filtro 1 Você é proprietário de um automóvel? Filtro 2) – Se ninguém for dono agradeça e termine a entrevista) Filtro 2 Qual é o modelo, marca e ano dos automóveis que você possui? MODELO MARCA FIAT ANO 2011-2009 (vá para Filtro 3) MODELO MARCA (anotar) ANO 2011-2009(vá para Filtro 3) MODELO MARCA (anotar) ANO (finalize) Filtro 3 Esse veículo é usado como táxi ou veículo comercial? (veiculo usado por empresas) Sr(a), eu posso gravar sua entrevista para nos ajudar a lembrar do que conversamos aqui? Garanto que sua identidade não será revelada e manteremos suas respostas sob sigilo. (se não aceitar anotar telefone de contato) (__) _______________________ Eixo 1 – Cenário automobilístico brasileiro 1. Você notou mudanças nas opções de automóveis vendidos no Brasil nos últimos anos? O que tem mudado? O que melhorou? E o que piorou? 2. Cite duas marcas de automóveis que você considera como tradicionais no mercado brasileiro: 3. Cite duas marcas de automóveis que você considera como novas no Brasil (que entraram no mercado a pouco tempo no mercado) 4. Fale a primeira coisa que lhe vem a cabeça quando você pensa na marca X. 5. Quais são os pontos positivos que você acha que a marca X tem? 6. Quais são os pontos negativos que você acha que a marca X tem? 7. Como você descreveria a comunicação da marca X? O que lhe é mais marcante nesta comunicação ? Você consegue se lembrar de alguma campanha desta marca? Alguma coisa te marcou nesta comunicação? Comente. MARCAS PRIMEIRA COISA PONTOS POSITIVOS PONTOS COMUNICAÇÃO QUE LHE VEM A NEGATIVOS CABEÇA Eixo 2 – Reconhecimento do problema 8. Você já tinha um automóvel antes de comprar seu veículo atual? (em caso positivo fazer a questão 9a) 109 a. Quais eram seus sentimentos em relação ao seu automóvel anterior? Comente. O que levou você a pensar na aquisição de um novo veículo? Aconteceu algo que lhe fez pensar em trocar de automóvel (ou comprar um automóvel)? Exemplifique. 10. Onde você se lembra de ter visto informações sobre veículos na época em que estava pensando em trocar/comprar de automóvel? 11. Você se lembra de ter visto esta campanha em alguma mídia eletrônica, isto é, em algum lugar na internet? Como foi? Onde? (se preciso, exemplificar). 9. Eixo 3 – Busca de informação 12. Quais foram as fontes de informação consultadas para obter mais detalhes veículos quando você adquiriu seu automóvel? 13. Quais informações você buscou sobre as opções disponíveis em cada mídia antes de ir a concessionária? FONTES DE INFORMAÇÃO INFORMAÇÕES LEVANTADAS COMENTÁRIOS 14. Você considera que as informações destes meios eram confiáveis ou úteis? Quais fontes foram mais úteis na sua decisão? E quais você confiou mais? 15. Você participa de alguma rede social? Qual/is? Esta participação lhe influenciou de alguma forma quando foi comprar o automóvel? Como? Eixo 4 – Avaliação das alternativas com foco em comunicação 16. Quando você decidiu adquirir um novo veículo, quais as marcas e modelos despertaram seu interesse? 17. Você viu alguma campanha ou buscou informação na internet dos veículos concorrentes? 18. Como você avalia estas campanhas ou informações? O que elas têm de melhor ou pior em relação ao veiculo adquirido? 19. Algumas das informações obtidas na internet foram decisivas na compra do veiculo? Quais? Como elas foram decisivas? Eixo 5 – Avaliação das mídias e comunicação 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. Quais são os meios em que você recebe comunicados e campanhas das empresas no dia-a-dia? Como você avalia as comunicações que as empresas fazem com a população? Você acha que as comunicações são criativas? Cite uma que considera especialmente criativa. Em quais destes meios você costuma ter acesso a inovações, lançamentos e novos produtos? Cite exemplos. Em quais destes meios você costuma ter acesso a campanhas de diferentes produtos e serviços de forma conjunta? Cite exemplos. Você acha que as empresas tem abusado na comunicação? Em que sentido? Se lembra de alguma comunicação que considerou especialmente abusiva? Comente Você utiliza internet? Utiliza Redes sociais? Como você vê a influência da internet no seu dia a dia. Você acessa a algum blog, site, de empresa buscando informações sobre algum produto ou serviço? Você analisa as propagandas (banners) que surgem ou estão nos sites que você visita? Você já comprou alguma coisa influenciado por estas propagandas. 110 29. Você acredita mais (credibilidade) em mídias tradicionais (TV, radio, jornal) ou nas mídias virtuais (sites, redes sociais, móbile marketing) quando a idéia é comprar um veiculo? Explique. 30. Você conhece algum site que permite simular a montagem de veículos? Quais você conhece? O que estes sites tem de interessante? O que eles poderiam melhorar? 31. Você considera que as mídias virtuais sejam menos invasivas a sua privacidade que as tradicionais (como a televisa, o rádio, etc...)? Por que? Para você qual delas traz maior número de informações desnecessárias? 32. Você conhece alguma site, comunicação ou campanha na internet que achou especialmente atraente ou interessante? Qual era a campanha/site/comunicação? O que ela tinha de especial? Como você interagiu ou se portou perante a campanha? 33. Nos últimos anos você acha que tem visto mais comunicações das empresas na internet? Estas comunicações tem lhe influenciado nas suas decisões de compra no dia a dia? No caso específico de automóveis, você acha que isto tem te influenciado? 34. O que você acha que difere as mídias tradicionais das mídias virtuais e interativas? 35. Quais características (positivas e negativas) você atribuiria as mídias tradicionais? 36. Quais características (positivas e negativas) você atribuiria as mídias interativas? Questão 1 Não sabe/não respondeu9 Sr.(a). Qual é sua data de nascimento? (anotar) _________/__________/______ Questão 2 Qual é seu maior grau de instrução? (confirmar antes de marcar) Analfabeto / Primário incompleto1 Colegial completo / Superior incompleto4 Primário completo / Ginásio incompleto2 Superior completo5 Ginásio completo / Colegial incompleto3 Pós-Graduação / Mestrado / Doutorado6 Não sabe/não respondeu9 Questão 3 Solteiro(a) Qual é seu estado civil? 1 Viúvo(a)4 Casado(a)2 Outros4 Desquitado(a)/separado(a)/divorciada(a)3 Não sabe não respondeu9 Questão 4 Qual é a sua renda média mensal em Reais (R$)? (anotar) Muito obrigado por participar da pesquisa. Tenha um bom dia (boa tarde/noite)! Masculino1 SEXO DO ENTREVISTADO: (somente marcar) Feminino2 DADOS IDENTIFICAÇÃO Muito obrigado por participar dessa pesquisa. Tenha um bom dia (boa tarde/noite)! CLASSIFICAÇÃO CLIENTE1 (Marca FIAT) PROSPECT2 (Outras marcas) NOME DO ENTREVISTADO NOME DO ENTREVISTADOR Data de entrevista Dia ( )/Mês ( )/ (2006) HORA DE TÉRMINO:___________:__________ 111 APÊNDICE II -ROTEIRO DE ENTREVISTA QUALITATIVA Especialistas da área de comunicação e marketing. Das mídias interativas deverá ser avaliado: 1 – Qualidade das informações. 2 – Capacidade de despertar a curiosidade do receptor. 3 – Capacidade de relacionamento com o consumidor (antes, durante e póscompra). 4 – Facilidade de buscar informações nos sites das montadoras e utilizar o link “monte seu veículo”. 5 – Capacidade de convencer o receptor de compra. 6 – Credibilidade das informações. 7 – Interação entre montadora e consumidor nas redes sociais. 8 – Pontos positivos e negativos de cada peça. Das mídias tradicionais deverá ser avaliado: 1 – Qualidade da informação fornecida. 2 – Capacidade de despertar a curiosidade do receptor. 3 – Capacidade de convencimento de compra. 4 – Credibilidade de informações. 5 – Capacidade de relacionamento com o receptor (antes, durante e pós-compra). 6 – Capacidade de chamar a atenção a partir da criatividade. 7 – Pontos positivos e negativos de cada peça.