2011 Nome: _________________________ RA: __________ •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• . •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• ,• ,,• ,, ,, , t ~".' ' o ria. europeia nos ván'os dom{nlos - económfco, pollllco, SO~ial, relIgioso, cultural-, ~poiando-se na longa tradição hlstoriográfica que vaI de Heródoto até ás novas concepções que foram elaboradas na Europa durante o século xx, nomeadamente nos ultlmos decénios, e que renovaram profundamente a cIência histórica. Graças ao seu desejo de clarem estes ensafos são tamb. im acessíveis a um l'IJStO público. ' . , É "ossa ambição proporcionar eleme"tos de resposta ás grandes quesl~es c~m que se defrontam aqueles que constroem e cons/nu/'ao U curopu, e u<fueles que, 110 mundo IllIe/ro, se in/eressam pela Europa: ·Quem somo.s? Donde vimos? Para onde vamos?Jacqtlcs I.C! Ci()ff :r O'. ) 1 A ÉPOCA -,..-m •. 'I' ' \. Xero~ áo Cfzúeno Rualoguó, '~7·ObWQOde soo Po.JQ • SP r_I. 3277 .. ' 255 # 'I , 1, O Iluminismo e as novas Luzes I , I , l.:..~i / lIumllllsmo é o título de uma gravur:: de Daniel Cho<!owiecki, fecundo urtL~ta ulcmilo do século XVIII . Nela pode ver-se, num primeiro plano, uma carruagem isolada que, alrás de um caminhante e de um cavaleiro, se desloca ao longo de uma eSlradu campeslre, na sombra de uma escura noresta e em direcçào a uma povoação acastelada, da qual são visíveis, sobressaindo dus árvores que as ocultam, uma torre maior e uma mais pequena. A povouçào já está mergulhada numa luz clam, vinda do 501 que irrompc por detrjs du linha mont'lOllosu do horizonle. Um sol matutino, cujos ralos penetram profundamente num céu ainda de alvorada, prestes a dissipar o véu de neblina que ainda paira alrás da povoação, Chodowiecki comenla a sua representação do iluminismo com as seguintes palavras: ·Esta obm suprema da r:17.:10 , .. não encontrou afé HgOr"J nutro s~mh()l() :1!cgôrko Iln'pkio . ao entendimento gel\erJlizado (talvez, po'rque o'faclo em si "io<];! seja novidade) senão a imagem do Sol nascente. E é cerlO que será ainda por muito tempo mais adequado, por t':1usa das brutIlas que Irão continuar a ergue-se dos aloleiros, luríbulos e holocaustos nos altares dos ídolos, e que tão f:1cihnenlc o podem encobrir, Porém, quando nasce o Sol , :IS névoas nada podem contra ele .• ' COlHO comenHírlo .Ididou:11 n ('sl:! f(nlVllla nlll1 .'iol dll Ihlllll nlsmo, podemos reCOrrer a uma outra formulação desse lempo I Em rela~o :lOC'.lpítulo.A ê.poca., Das Zefla/ler, 1m Hor, Ucht, pp. 119·121 . li, , - .•• ------------------------------~, ~- . onoe se faz referência à actividade reformista oa época . ·Estamos profundamente convencidos que, num primeiro momento, o Sol produz luz - uma luz que, frequentes vezes, parece trazer consigo um frio de aurora e, só posteriormente, gera um calor benfazejo. Podemos então comparar esta afirmação com uma formulação em língua inglesa onde a razão é comparada ao sol, ·of which the Iight is constant , uniform and lasting· - .cuja luz é constante, unifo mle e duraooura·. O conceito de luz vai adquirindo ao longo do século XVIII, um novo e importante sentido, A imagem da luz é, agor:l sempre solicitada, de todas <1S vezes que se fala de rn"o liberoaoe ou relidoaoe ref1ectinoo-se nos termos utilizaoos p;ra oefinir este século. E, ~o entanto, o termo Enllghten~lenr, versão inglesa do conceito s6 aparece, nesta acepção , durante o século XIX, concorrenoo com a expressão Age of Reason. Na época em estuoo, o filósofo BerkeJey refere, por exemplo, ·Ihat ocean of Iight, which has broken in and made his way, in spite of slavery and superstition, (esse mar oe Luz, que nos lomou de assalto c segu iu o seu curso, apesar da escrdvatllra e <.1.1 su persti ç:1o), lIm' o ulrn inglês vê este século COI11O Ol:lllightcn'd bcyol1d the hopes ano imaginations of former times· (iluminado para além das esperanças e capacidade imaginativa oas épocas passadas). E, para finalizar, dtcmu~ a referência soherana do poeta Alexander Pope ã grande síotese da totalidade que abarca a filosofia e as ciências da natureza: ·Nature and Nature's laws lay hid in night. God sa id, le Newton be! and ali was Jight.. 2 ·A Na tureza na noile as suas leis ocultou Deus disse, faça·se Newton; tudo em luz se tomou .· Desde então, é lícito afirmar: Ex occideme I=! Porque é do Ocidente, e já não do Oriente que vem a Luz; nào apenas da liberal Grã-Bretanha, mas também de uma França em plena emancipação do absolutismo. O termo francês é Lumlêres. Lumiêre (luz) quer dizer ·intelligence, connaissance, c1arté d'esprit., ou seja, -inteligência, conhe- ; Wtllc=y, Background, p. S. 12 ~ I::.\ _.' '" cimento, clareza de espírito., Lwnieres CQ nvet1e·se num conceito epoca l especíllco: ·Les seules lumieres de la raison nalur~J1e sont capables de condu ire les hommes à la pcrf~ction de la_SClcnce el de la sagesse humainc.- (S6 as Lu zes da cazao naNcal sao caraz~s de conduzir os homens à perfeição da ciência e da s~lbcdona humana .) Por volta de 1750, diz Turgol, fil ósofo e polílico: ·Enfin toutes les ombres sont dissipées; quelle: lumi"re de toules parts ... quelle perfcelion de la sagesse humaine.· (Finalmente todas ,IS sombras se dissip:mun; e que lu z, vinda de toda a p~lrIC .. , que perfeição oa saheooria humaml.) A ideia é também Irabalhaoa em termos poéticos: .Et cc qu'avail prouuit I'ignora ncc grossierc Disparail au grand jour d'un siccle de lumiêre.' .E tudo o que a ignorância grosseira produz Esvai-se :10 c1:1ror ele um século ele l.u z.· A maiuria dJS dtações a este respeito sào posteriores às in· glesas. O que não é mero acaso, pois só quando junto ao líl~l1ltlO oe Luís XIV se extinguiu a palavra 00 grande pregaoor Masstllon, .SÓ Deus é grande-, brotou tudo aquilo que a graça divina conce· oida aos monarcas houvera desejado refrea r. A Europa, que tinha começado a imitar a língua, a elegância e os costu mes fran ceses, era agora iluminada nesses mesmos camin hos por uma lu z, ext remamente fria , pelo menos em part e, que nào se detinha peran te reca nto algum, que ainda permanecesse obscuro. As COiS;l S mais graves e mais irreverentes passaram a ser expressas em língua francesa e a seguir o modelo francês, quer se tratasse da Atarresse (amante) alemã de um príncipe, quer de um abbé (abade) ita · Iiano. O termo alemão Aujk/tJntng, que tem de início um signi- Hcado exclusivamente meteorológico, começa a ser usado no sentido de ~i1uminar· e empregue em oturas expressões verbais afins. A partir da década de 80, evidencia-se o seu emprego na definição de uma época - ·Im Zeitalt'.r der Aufkltirung. (Na era 00 Iluminismo). No entanto, só é delinitivamcnte adoptado no decurso do século XIX. Paralelamente, o tenno Lichl (luz) é utili zado em diversas combinações: AlIfklanmg ,md Lichl, Freiheit lInd Liclzt Ollllni· nismo e Im, Iiherdadc e Im). ·I1uminar (t1,!/klan'") signinc:l.. . ? •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •, •• •, • n' , • 13? • ---remover os invólucros e capas várias , que impedem a visão; dar ~ •• •• •· •• •• •• a •• •• •• •• •• •• I t • • ',t, ". " desnecessárias, as coisas continuam a ser e xplicadas segundo Aristóteles. Esta situação verifica -se, aliás, em vários países católicos. Contudo, Rousseau verifica que, em comparação com os lugar à luz no entendimento e no coração, para que aquele ilumine e este aqueça; entrar no território da Verdade e da Ordem, onde reina a verdadeira felicidade, que é o destino do ser humano.' Wieland fala da liberdade do pensamento e da imprensa, -que sào para o entendimento humano, o que a luz é para os quatro que, uma vez regressado à sua terra, faz frut ificar num sentido útil à pátria , as observações que teve ocasião de levar a franceses, os ingleses e os alemães, ·0 espânhol é o único dos nossos olhos·o Quando o jo vem Herder caracteriza a sua época, ca bo. chama,lhe umer erleuchleles jahrlundert, dieses liclllesle jallrhunder1 (o no!'iSO século esclarecido, este século intensamente O Iluminismo, a Luz da Razão, pro pag:l-se também nalllralmente a outras áreas linguísticas, incluindo a nação lusa de um luminoso). Marquês O termo ilaliano Iluminismo é, soh esta forma, uma novidade, e t! predso chegarmos ao século XX para que se converta numa expressão corrente. O século XVIII teve de se contentar com Podemos falar da Suíça, que no âmbito das reformas realizadas em nome da Razão, joga com as duas opções, francesa e alemã; ou dos Países Baixos, que havia já muito tempo, mesmo antes da o que parece ser um galicismo: luce / lum/ IlIt,mina/o. •Un seculo Inglaterra, se tinham tomado um mundo de intensa liherdade a partir dos estímulos franceses e alemães desenvolvef'Jm fórmulas dotadas de autonomia; ou a Polónía, influenciada pela franco-maço- COSI illuminalo come iI nostro· (um século tão iluminado como o nosso) ou ·La legislazione, iI commercio, la puhhlica gloria e sicurezza dispendono da'lumi delle nazioni ... - (A legislação, o comércio, a pública fama e a segurança dercndem do estado de esclarecimento -Iumi das nações). Será lícito coloc,1f a Itália, ao mesmo nível da Inglaterra , da França e da Alemanha durante este século da ~azão e das Luzes? É uma questão a ponderar, uma vez que o italiano ainda é uma língua que o europeu culto deve conhecer e que, por conseguinte, domina melhor do que o idioma inglês. Em Itália , os tempos livres do Renascimento ainda não foram esqlle~jdos! Em Espanha adopta-se um novo termo, II/us/ración, como substituto de um mais an tigo, Iluminismo. Embora, aos olhos da ElIropa deste tempo a Espanha seja o exemplo acabado do país retrógrado, aí se encontrJl1l , nu entanto, ulguns nomt!~ distintos do Iluminismo e algumas tentativas de reforma por parte de homens inteligentes, a quem foram confiados cargos administrativos na monarquia dos Uourbons. Um espanhol vê-se, contudo, forçado a caracterizar a situação dos intelectuais desse tempo afirmando, ·que ... estudiam a Newton en su cuarto y explican a Aristóteles en su catedra·. 3 Em casa, na esfera privada, investiga-se segundo o método que o inglês Newton aplicou ao estudo da Natureza; mas, na esfera oficial universitária, para não criar dificuldades I 14 Lof>t.'. Madncl. p. jH. d~ Pombal, o primeiro a fazer o processo dos Jesuítas. espiritual. Mencionemos ainda os reinos nórdicos que, naria ou, por fim, a Rtlssia dt! Catarina 11. Convém não esquecer as duas Américas, onde as Luzes se começam a propagar segundo o modelo espanhol, português e anglo-saxónico. Trata-se do mundo do homem branco, apoiado sobre uma dupla base: cristianismo e antiguidade clássica. Mundo esse, porém, que havia já vários séculos apresentava profundas diferenciações em termos nacionais e confessionais. Com as novas Luzes, e retomamo~ aqui a expressão já citada, ·remover os invólucros e capas várias·, converte-se no objectivo do momento. As Luzes deverão vencer·a escravatura e a superstiçãu' C dissip<.lr as snmhr;Js. Os fanúti<.:os, porém, n;IS pal:wras do italiano anticlerical Pilati -pretendem manter as trevas, a cegueira, a ignorância e odeiam o advento da luz·. Se olharmos para trás , em direcção às épocas anteriores ao !'il."'Culo XV1I1, parece ser óbvio que essas épocas tcriam perfei- tamente dispensado tais Luzes. Foi só lentamente que se construiu a História da Humanidade, desde os começos primitivos até chegar a uma existência cada vez mais elaborada e liberta do caminho inexorável que conduzia :l decadência do mundo e ao Juízo Final. Em meados do século, Volta ire, Fcrguso n e Isdin meteram omhros à tarefa de desenvol ve r lima rcrspcctiva da Ilistúria ha seada no pro gn:sso da Ilul11aniuaue. Eles s.io os pioneiros de uma longa série de empreendimentos que se orit:ntam 15 (S 3 ../1... - .• -~ ! ) -) -) pc..:I<)S 111c..:Sll1<)S prillcípi()s 11istôrk'()-fi!c)sófic()s, c..: <1\le P;ISS;1111 p( )r \X'ieland, Home, Herder, Lessing, Mably, Kant até chegarem a Condorcet. M<ts às luzes nào <:ompctc apenas iluminar de uma furma nova as concepções espirituais do sécu lo: cabe-lhes também intervir em todas as áreas do comportamento humano. Já houve ocasião de citar aquele italiano segundo o qual, a legislação, o comércio e a segurança pública estariam dependentes das 111m; das nações. Atitude semelhante é a de Wieland, elogiando todos os contributos nas áreas d. ·economia política, organização,civil e militar, religião, usos e costumes, educação pública, ciências e artes, oficios e economia rural, que nas diversas partes que cons- tituem a nossa pátria, difundem uma Luz autónoma., Wieland dá-nos aqui realmente uma visão global dos domínios, nos quais uma luz própria deve ser propagada , O s{mbolo aleg6rico estabelecido por Chodowiecki para caracterizar uma atmosfera auroral já tinha feito os deleites de Montesquieu : ·Acordo de manhã com uma ~ecreta alegria: ver a luz, Contemplo-a com uma espécie de arrebatamento e isso enche de felicidade o resto do meu dia .• ' 2, O século XVIII co mo pano de fundo do I1umini~mo O movimento do Iluminismo enquadra-se numa época determinada, Todo e qualquer movimento tem de contar com as realidades d~ tlmH época histórica, peranre a qual, muitas vezes, se situa numa rela ção antagônica: o humanismo, com a omnipresença ,.' , ' da Igreja e as concepções religiosas; o liberalismo, com a eclosão violenta de fo rças militaristas e nacionalistas; e o próprio Ilu- " minismo com a herança das tradições senhoriais, nos domínios I , 'I material e espiritual. Seja como fo r, o Iluminismo deixa a sua marca neste século criando como que uma atmosfera , uma disposição. Fala-se e cs: creve-se de forma diversa da dos tempos anteriores, e dur.mte algum tempo ainda, assim se continuará a falnr e a escrever. Um príncipe, de actuação algo despótica esforça-se por se mostrar escl:trecido e prefere a imagem púhlica de ·metitre-escola· à de 4 16 Monlesqulcu, Ca ractêre, p_1 -lir:.1I10·. O llumini!il11o opera :l transit,;:io da teori a .1 pdti c l, d:1 críti Gl à acção reformadora, dirigidn r ara o ilperfci~'u~lml'l1to: isto acontece tanto na educação como na gestão doméstica, no convívio socia l como na políti<:a. Torna o absolutismo iluminado e produz as duas grandes repúblicas, a norte-a merica na C a fran cesa. movimento das lu zes é reacção ao Barroco, à Orlodoxi~l , à COnlra-Re form :t. O humanismo de cariz er:tsmiano, :I liht:rd:I<.It: •• •• •• •• •• •• •• •• • o da pa lavra falada e escrita e a crítica segundo o modelo dos clássicos, nunca deixaram de existi r enquanto corrente~ su htcrr;jneas, mas agora ascendem, renovadrs, à superfície. É este o for- mulário de um Albrecht von H.ller: ·Quem pode pensar livremente, pensa bem.- O Iluminismo imp ime um dinnmismo invulg:1f a formas que lhe foram transmitidas t que tinham perdido toda a capacidade de actuação no imobilismo. Olha-se em frenle, não para trás, ou , qua ndo se olha para trá s é para O Rena scimcnto, época modela r de ruptura, ou para a Antiga Gréda, na mira de uma redcscoberta ou em busca do idílio feliz do bom se!t lagef}l, Mas também se procura uma nova estabilidade, p"""das as crises do sécu lo XVII, após as últimas epidemias de peste ou as derradeiras expu lsões em massa de crentes de Outras con fissões rcligio!ias. In kia-se .;1 procura de lImJ nova cstahilidadc, com base CIl'l rcgra!i radoni.lis que urientem a vida sodal l' polí tica, desde a moral individua l até às relações interestados. Os passos recomendados, plane:'ldos e já efectuados nem sempre têm lugar no sen tido de um rrogr~lma illl mlni~ta explicito, rna s s:io dados em funçào de um melhor con hecimento c da crítica da trad iç::ic) . Só a multiplicidade de tais passos, ligados 3 motivações di versas, o seu concurso rico em tensões e o dinamismo d3í resulti.lnte constitu em o processo do I1uminismo-. s ' O pensamento, o estilo, a atitude (li.! era iluminista n ~io Se exprimem exclusivamente na e!:)crita ou t:: l'n formul ações ideológicas e literárias, mas são igualmente visíveis e audíve is nas arte~ da época. Ainda hoje mais do que nunca está viva a música des!ic tempo, todos os :1I1 0S, algures numa bihliotcci.I, se voltam :I lk:s~ cobrir notas OCltlWS deste século: as obras de Corelli, Vivaldi, Alhinoni , Handel , Ba ch e os seus dcscendcl1tcs , Tdcl1I:lnn , '. \ Vierhaus, ProlCJ~, p. 6 17 •• • •• •• • ~ .,; • •• • •• •• •• •• •• • •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• • t t '~ ----..... -_ ._--:,:",, ' ~-------~~"="".':"_=--r.-~ r ccc'· C)C(, OOO OOO Hamcau, 5tamitz, Haydn, MOlart, Gluck t! Bocchcrini, pam SÓ c.; ilar algúns. Atmvés do concerto, da sinfonia e do minuetc, com a 8ua modulaç-do Iigeim e frequentemente cantávcl, com 38 suas estruturas claras, encontra-se o acesso mais directo à magia desta época. Por outro lado, a pintura deste período pode ser encarada como precursora dos Impressionistas, quer se trate das naturezas-mortas de um Chardin, quer dos retratos de Lawrence, Gainsboroug!1 t, Latour ou GrafT, ou ainda d~s paisagens Com a sua minúcia despreocupada, quando não das cenas joviais de um Watteau ou de um Eragonard. O mundo representado não é sombrio e misterioso, violento e exacerbado como nos tempos da :pinrura barro()a. :Simultaneamente, o estilo rococ6 transforma a arquitectura: a forma s6 em aparência é barroca. Na sua estrutura básica, os espaços das igrejas são os mesmos, mas a impressão que provocam é de uma maior levezaj estão pintadas com cores mais leves, ~omo' um céu ao entardecer, eternamente banhado de sol e sem ameaçadoras nuvens negras. E os pulll rodopIam ligeiros, malici()~.os ·e folgazõe8 em torno dos doul"dd08 arabescos. Brincam, " [úteis,) c~m o livro, a trompete e a harpaj e também com as insíg- nias do príncipe, a coroa e,o ceptro. I .) I '" ;.. .1 18 s , •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• • •• •• •• •• t I. •• •• •• •• •• •= ~ •• •• •• •• •• •• •• •• •• , •• •• •• •• o. •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •,• •• •• •• •• ~ Segundo Capitulo A REVPL UÇÁO INDUSTRIAL e ~cv'"L U5 ,..~o -r:.llo/t;C>A ruis l,bnH.. 'llluifquer que sejam seUl !lIndonamrn'os, caUSQj t caruc- qüinriOJ, lino .lnJln/lo mhllO, e dão grande crldllO ao' ,alen'o, dult ho",e", ",ui <ng,"ho,o • úlil, que Itrd o n.trllo de , onde quer que ,d, raler com que os homens pensem, .. Livre·" dUla Indlf.,ença ."úpl· da, ,,,,roltlllae prtglllço,a, d."a lIegUgênela Indolenft, que prende o. ho",em ao' OI.,n.o, caminho, de seu' anltpa"ados, "m indagação, "", radoeillio, e wn ambição, e com CUltza voei ."ará fa%tndo o bem, Qu' ,tqüência de i#las, que tfplrilO de "pllcação, que massa e poder dt uforço brolaram, em ,odos o, caminho, da vida, da, obras de ho",erl' como Brlndley, 11'011, rrlesr/ey, A ·kwrlghl". Em que oáo co· minha da vida pude ,,'ar um homem qll' nãO,. slnla mlmll/ ao I'tr a ",áqulna ri vapor de 11'0117 i\tlhm YOUlIg, Vla,ell.. lia lll,/alura e IIU 1'0" de G% I ,,,/ / ! - I, \ x.c. / \,..l1 i"SO: •••.•• · •••• • .. •• •• •• •• · ••• • .. .. •• Nome: .....······ ··········· ···· ·· ·····, tA3ti; i8: •.6 .0c.;.oL.õÚI. A se~e':\::~:· · ·· · · · · · · ··· ··· · · .. ·.. ·· .. \ Data: _ ......,,(_.1- \ !II" P.~G:cLi- p"su;;..QL. ; "'",__~7 DUla ,'ulo ;"'UI.da a ma;oreo"enlt da IndÚfl,la humana flui paraftr· Ii/;zar U //Iurido lodo. D."e ",010 Imundo Jorra ouro puro. Aqui a h~· I "","1,1",/, : •, '''',,~r ,I " " ,,,,,{, ",,,,,,1,'0 ,(,,,IIV"""""'"'" , "li' "'.,"' ",II,,~"'·" 1,"11111111,,,1<, " 'I"'" ,h'IIIIII",I" 1'" 11",,,.,,, .1".11 ... ,/" '"', PlCJ.Jt quase uni ltlVoKtm , A, de Toqueville a respeito de Manchestel em '18l5', Xerox.áo Cfii{cno I Ruo 10gu6. 15'7 . l iOeldOde Sôo """" ' SI' Tel. 3277·125 5 Comecemos com a revolução indUSlrlal, is10 ti com a Inglaterra , Este, l plimeira vista, ~ um ponto de partida caprichoso, pois as reper· cussoes. desta revolução não sefiieram sentir de óbvia e b'em o final do inconfumllvel _ pelo ,nenos for. da Inglatelra nossa ped ; certamente nlo ar.tes de 18l0, provavelmente nllo an· lldo por essa te. de 1840011 foi somente na dtcada de 1810 que .Ii· terutura c as .rtes con,eçalam • ser abertamente obsedadas pelo "I' tensão da sueiedade capitalistl, por um mundo no qual todos os laçol sociaia se desintes(avam e.ceto os laços entre o ouro e o papel. moeda Ino diter de Carlyle). A ç'omldlt Humaln< d. Ualtac, o mlia e.traordi. n'rio monulllento literário d.... a"enalo, pertoncc' est. dtcadl . u 81ande corrente de Iiteralur·1 oficiai o nlo'oroci.l.obrc o. erei· ~poç., 18~0 uma'man~ila at~ At~ (J 4J j J di! re:"'olu~Jl} InduslriôJl ainda não começara a nuir ' os BJril" J~ <Jverlgu<J~úe~ t~t.llistic.as n.a Ingla terra, o Tabll'GIJ de /'élal p}!l'jl'lUl '. I " morul Jt'\ OIlI 'r{t ' Tj de Vlllerme, a obra de Engels A CUI/d,to) SÚI.:I;II~ ImoÁ\ C ,·a." da (lu.Ht' Trahalhadoru "u II/glatt'rra . o tra balho dI! Ducpellaux na Be lgu.:a, c uClcnas c Ut/cn.l\ de nhservadores surpresos ou assu.!l t:Jdns da Ah:III,lnhil:i Espanha e EI IA. Sú a p:Jrtlr da dêcada de I B40 c que o proletarltu.Jo, r.e bento da rc\'úlu~ão Industrial, e com Uni smo, que se u~~avit u?ora h~ado ao) ~e.u) mO"'lmGntll~ sociais - o espc::ctro do Manllesto Comunista -, abriram caminho pelo continente. O pr óp ri o nome de revolução industri a l renete seu impacto rt:lativamGntc tardio sobre a Europa. A coisa exislla na Inghiterra antes do term o . Os !-Iodali stas ingleses e rranceses - eles próp rios um grupo sem antel.:essore~ SÓ? in vc:n taram por volla da dêcaJa de IH20, provavelment e por ~Ina­ logl:l com a re ... o lução politica na França J. Aindil assim. sc: ria de bom alvitre considerá-Ia primeiro. por duas ralões Primeiro, por4ue de rato d a "explodiu" - usando a Gxprc~~;,jo COllllJ um .axioma - antes quc a Basti lha rosse assaltada; c, segundo, por4l1C sem clJ nào podemos entender o vulcão impessoal da hi stôria sohrc o 4u.a1 n ~l)l.:e ram os homens c iH:on tecilllGntôs mais importantes de nosso periôJu e a complexidade: desigual Je se u ritmo . O que significa a rrase "a revulut.;Jo industrial explodiu "? Significa qua ti certa altura da decada de 17HO. G pela pril1leira ... ez n<l hist ória da !lumanidaJe, ro ram r e tir ado~ ()) grilhões do poder produtivo das so.c ,ed:de~ h.umanas, que dai em diante ~e tornaram capazes da multipltcaç.ao rapld ~, constante, e até o presente ilimit ada, de homens, mercadorias c serviços. Este rat o e hoje tecnicamente conhecido pelos econ o mi s ta ~ como a "partida para o crescimento auto-sustentá ... el" . Nenhuma sociedade anterior tinha sido capaz de tran spor o tet o que uma est rutura social pre-indu stri al. um:.1 tecn o logia e urna ciência deficientes, e cu nseqüentemente o cola pso , a rome e a morte periódicas, impunham à prod ução , A "partida" nãe foi logicamente um desses fen ômenos que, como os terremot os e os cometas, assaltam o mundo nàotécnico de surpresa , Sua pré-história na Europa pode ser traçada, dependendo do gosto do historiador e do seu particular interesse, até cerca do ano 1000 de nossa era, se não a ntes, e tentati ... as anteriores de a lçar vôo, lk sajeitada s como as primeiras experiên cias dos patinhos, roram exaltadas com O nome de "revolução'industrial" - no século XIII , no XVI e nas últimas décadas do XVII. A partir da metade do século XVIII , u processo de acumulação de velocidad e para partida ~ tào nltido q ue historia dores mai s velhos tenderam a datar a rev o lução industrial de 1760. Mas uma in vestigação cuidadosa levou a ma io ri a dos estudiosos a loca lizar como decisiva a década de 1780 e nâo a de 1760, pai) fui então que, ate onde se pode distinguir, to dos os ín di ces estatísticos rt:le va ntes dera m uma gu inada repent ina, brusca e quase vertical para a "pa rtida" . A economi a, por assi m diLer, voava. C hamar este processo de revolução Ind ustrial é lóg tc,o e está e m conrormidade! com uma tradição bem est3belecid<l, embora tenha sido ° ~~ moJa entre os hi storiadores conser ... adores - talvez de ... ido a urna cert~1 tIIll1del fil..:e a conceitos 1I1cendiâr"J~ - negar sua cxlstcnCl<l c substitu ila por ter mos banaiS como "evolução JccJcrJd,I" . Se a tr<lnsCormação rápida, rundamental e qualluuiva ljue se dGU po r ... olta dJ del.:ada de: 17MU não foi uma re ... o lução, então a raIJ ... r,t n.iu tem qu alquer slgnlficadll prático . De rato, a rc\olução Indu~triJI nào roi um eplsôdio com um prllH.:ipio e um fim . Nàu tem sentido perguntar quando ~e "completou", pois sua essê ncl<I Coi a de lJuc a rnud~IIl~'a reyoluclon:.iri<l ~e tornuu no rma deste ent ào. Ela alnu ... pru~scgue; lJuando muito podemos pe rgun tar q uando as transrorma~ õcs e..:onômica~ chega ram longe o bastante para estabelecer uma econ omia sub~tançla ll1le nle induSlrlalilada, capaz de produzir, em termo~ amp l o~. tudo que desejasse dentro dos limites das lecnicas disponí ... el). uma "economia industrial amadurecida" para usarmos o termo tccnil.:o . Na Grã- Bretanha, e por · tanto no mundo, este perí odo de indu ~ trialilação inicial prova ... elmente coincide qu ase que exatamente com o periodo de que trata este: li· vro, pois se ele começou com a "partida" na década de 1780, pode·,e dizer com certa acuidade 4ue lernllnDu com a construção das ferrovia~ e da industria pesada na Gí~- Uretanhtl na década de 1840. Mas a revo, lução mesma, o "ponto de partida". pode provavelmen te ser situada. com a precisão possí ... el em tais assuntos, em certa altu ra dentro dos 20 anos que: ... ão de 1780 li IHOO: contelllpor.illca da Revolu ção Francclia . ell1lwra um pouco anteri or a ela Sob qualquer aspecto, este Coi pro\avelmcnte o mais importante: acontecimento na his tó ria do mundo, pdo menos desde a in ... enção da agricultu ra e das cidades E foi inidadu peIa G rã-Bretanha . t evidente que is to não roi acidental. Se ti ... esse que haver uma dispu ta pelo PIOneirismo da re volução industrial no scculo XV III. só haveria de ratu um conco rrente a dar a largada: O grande avanço comercia l e in du ~­ tria l de Po rtugal à Rússia, fo ment ado pelos inteligentes e nem um pau· co ingênuos ministros e servido res civis de tlHhl S as monarquias ilumina das da Europa, lodos eles tã o preocu pad os com o cre scimen to econô mico quanto os administradores de hoje em dia , Alguns pequen os Estados e regiões de rato se indu st ri alizaram de maneira bem impressionante, como por ex.elllplo H Sax.ônla e a diocese de Liege, embo ra seus complexos indu stria is rossem mult o pequenos e localizados para exercer a mesma influên cia re ... olucionária mundia l dos comp le: xos britânicos. Mas parece claro que até mesmo antes da rev o lução a GràBretanha já estava, no comércio e na produção per capita , bastante à rrente de seu maior compet ido r em pote ncial , embora ainda co mpará... el a ele em termos de come rci o c produção totais . Qualquer que tenha sido a razão do a ... anço britânico. ele nào se deveu à superioridade tecn o lógica e cientlfica . Nas ciências naturais os rranceses estavam seguramen te à rr ente d os ing leses, · ... antagem que a Revolução Francesa veio acen tuar de ro rm a marcante, pd o menos na matemática e na risica, pois ela incenti ... ou as ci ências na França enquanto que a re<lç ~o suspl!itava de las na Ingla terra . Até mesmo nas , (i) ,(7-9:, '(ft" f- 4' ,2 , •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• ,• c!ên.ci~s sociais os britânicos ainda esta~am muito longe daquela supe- soFisticada,a máquina a vapor rotativa de James Wan (1784), necessitava de maIS conheCimentos de flslca do que os dlsponfveis então há quase um século - a teoria adequada das máquinas a vapor s6 roi desenvolvida ex pOSI faclo pelo rrancês Carnot na década de 1820 - e podia contar com várias geraçõcs de utilização , prática de máquinas a vapor, principalmente nas minas. Dadas as condições adequadas, as inovações técnicas da revoluçào industrial praticamente se fizeram por si mesmas, exceto talvez na indústria quimica . lsto nào significa que os primeiros industriais não estivessem constantemente interessados na ciência e em busca de seus benencios práticos . • rioridade .q ue fez - c em grande: parte amdu faz - da economia um as!tunto emin entemen te anglo-saxão; mas a rC'wo Juçào industrial colo- cou-o~ c:~ um inquest,ionáveI primeiro lugar . O economista da década de 1780 IJa Adam Smuh,. mas também - e talvez com mais proveito _ os fis!Ocralas e os conta~II.lstas fiscais franceses, Quesnay, Turgot , Du- pon t de t:.mour~. LavoIsier. e talve1 um ou dois italianos. Os france- ses produziram Jnvento ~ mais originais, como o tear de Jacquard (1804) _- um aparelho maIS complexo do que qualquer o utro projetado na Gr,a-Brctanha .- e. melhores navios, Os alemães possuíam instituições de , Irelnamento tecnlC~, como a Bergakademie prussiana, que não ti. nham paralelo na Gra-Bretanha, e a Revolução Francesa criou Um corpo único e i~pressionante. a tcaJe Po/yrechnique. A educação inglesa era uma piada de mau gosto, embora suas deficiências fossem um tanto com~~nsadas pelas duras escolas do interior e pelas universi- dad:s democratlcas, turbul~ntas c au~teras da Escócia calvinista, que lança vam uma corrente de Jovens racionalistas , brilhantes e trabalha- dores, em busca de uma carreira no sul do pais: James Wan, Thomas Telroru, Loudon McAdam, James Mill. Oxrord e Cambridge, as duas UOIcas universidades Inglesas, eram intelectualmente nulas. como o era":l também as sonolentas escolas públicas, com a exceção das Academ~a s rundadas pelos "Dissidentes" (Dissemers) que roram excluídas do Sistema educacIOnal (anglicano). Até mesmo as ramilias aristocráti. ca~ qu~ desejavam educação para seus filhos confiavam em tutores e unl ~ers ldades escocesas . Nào havia qualquer sistema d~ educação primária notes que o Quaker Lancaster (e, depois dele, seus rivais anglici. lnos) lançasse uma espécie de alrahetização em massa, elementar e realizada por volunt ários, no principio do século XIX, incidentalmente selando para sempre a educação inglesa com controvérsias sectárias. Temores sc;>ciais desencorajavam a educação dos pobres. r-ellzmente poucos refinamentos intelectuais roram necessários para :)e razer a revolução industrial·. Suas invenções técnicas roram bastante modestas, e sob hipótese algum. estavam além dos limites de artesãos que trabalhavam em suas oficinas ou das capacidades 90nstrutivas de carpinteiros, lT,oleiros e serralheiros: a lançadeira, o tear, a tiadeira automática. Nem mesmo sua máquina cientificamente mais "Por um lado, e gratificante perceber que OI insleses obtem um rico tesouro para sua Ylda po lh ica ao estudar 05 autores antisos , emborl às Yelt.S de maneira pedante; tanto que ~s uradores parlamentarC5 (rcqDentemente eitnlm os an1 ilOl para conseguir seus antent os, prática esta que era (avoravelmente rcabida pela Assembléia c surtia deito . Por ou tro lado, é surpreendente que num pais onde do predominantes as tendências manufalureiras. sendo portanto evidente a necessidade de se familiarizar o povo com as ciências e as arles que fazem prosrcdir atei objetivos, passe quase deuperceb ida a ausência destas disciplinas no curtlculo da cducaçJo da juventude . J:. Igu.ilm'i lt c sur pr~ndcmc o 4uanto, nâo obstantc, é conseguid o, por homens carC'nlC' ~ de qUJI4uer formação aC<l.demictl. para suas profissões ." W . Wachsmuth. Ellropaâ~t'ht! Srllr'ngt'Jl'h i l'hlt j, ) {LC:lpzig, H09), p. 136. 46 ,, Mas as condições adequadas estavam visivelmente presentes na Grã-Bretanha, onde mais de um século se passara desde que o primeiro rei tinha sido rormalmente julgado e execu'tado pelo povo e desde que o lucro privado e O desenvolvimento econômico tinham sido acei. tos como os supremos objetivos da polltica governamental. A solução britânica do problema agrário, singularmente revolucionária, já tinha sido encontrada na prática. Uma relativa quantidade de proprietários com espírito comercial já quase monopolizava a terra, que era cultiva. da por arrendatários empregando camponeses sem terra ou pequenos agricultores . Um bocado de resqulcios, verdadeiras rellquias da antiga economia coletiva do interior, ainda estava para ser removido pelos Decretos das Cercas (Enc/os"" AclS) e as transações particulares, mas quase praticamente não se podia ralar de um "campesinato britânico" da mesma maneira que um campesinato russo. alemão ou rrancês. As atividades agrlcolas já estavam pred ominantemente dirigidas para o mercado; as manuraturas de há muito tinham-se disseminado por um interior não reudal. A agricultura já estava preparada para levar a termo suas três runções fundamentais numa era de industrialização: aumentar a produção e a produtividade de modo a alimentar uma população não agrícola em rápido crescimento; rornecer um grande e. crescente exce· dente de recrutas em potencial para as cidades e as indústrias; e rornecer um mecanismo para o acúmulo de capital a ser usado nos setores mais modernos da economia. (Duas outras runções eram provavelmente menos importantes na Grã·Bretanha: a criação de um mercado suficiente· mente grande entre a população agrícola - normalmente a grande mass.a do povo - e o rornecimento de um excedente de exportação que contnbuísse para garantir aS importações de capitaL) Um considerável volume de capital social elevado - o caro equipamento geral necessário para toda a economia progredir suavemente - já eslava send? ,criada, princf· palmeme na construção de uma frota mercante e de factlldades portuarias e na melhoria das estradas e vias navegáveis. A polltica já estava engatada ao lucro. As exigências específicas dos hom~ns de negócios podiam encontrar a resistência de outros interesses estabelecidos; e, como veremos, os proprietários rurais haviam de erguer uma última barreir~ para impedir o avanço da mentalidade industrial entre 1795 e 1846. No geral, todavia, o dinheiro não só ralava como governava. Tudo que os ) (j) 41 3 '-- mtlu::atrlJIS prC!.:b<.lv<l1l1 P,Hil ::aerelll aceihh e:nlre os go\ernantes da sociedade er.1 ba::atJllte I.hnhe:lro O homem de ne:g oclos e::a ta va sem dú vida engajado no processo de con::ae:gUl r mJi~ dinheiro, pois a maior parte do sé!.:ulo XVIII foi para grande partt: Lhl l.:.uropa um pcriodo dc prosperidade e de cõmoda ex. pan!<.nll c:co nômu.:a; o verdadeiro pano de: fundo para o alegre otimismo do Jr . Panglo!<. ~, de VoltJirc: Pode-se: muito bem argumentar que mais ced o ou mais tarde esta e>.pansào, a!.:ompanh ada de uma pequena inn'.h;ão, teri a empurrad o algum país através do portal que separa a economia pré·i ndustrial da industrial. Ma~ o problema nã o é tão sim· plc::s. " mai or parte da cxpansã o industrial do sec ulo XVIII não levou de: rato t: imcdiatamç::nte:, ou dentr o de um futur o previsível, a uma reI"IJlurlio InJus tr i:.li, is to é, à criaçã o de um "sistcma fabril" mecanizado que pur :lo ua VCl produ.! cm quantidades tào grandes e a um custo tão rJpllJalllcllte dt:crcsccrlle a po nt o de não mai s dcpc nd t:r da demílnda c:d:..tcl1tc, mas de criar o seu próprio mercado · . PlH exemp lo, a indústr ia de cons truç õt:s, ou a~ inumeras indústri as de pt:queno po rte produ to ra :.. de ohje tos de l1\t:t al para uso do rn êstico - allinetes, vasilhas, ra\..":as, tc:: ~o ura ~ e1\.:. -, na Inglaterr.1 ct:ntral t: na rc gii.io de Yorkshire, expandiram·se grandemente neste período, mas sempre em runçã o do mt:rcado e!xistcnte . Em 1850, em bo ra tivessem produzi do bem mais do que em 1750, o fi/eriltll sub sta nt.:ialmente de maneira an tiqu ada . O que era nece:":lo;lriu não era UI11 tipo qUJI4Uer d, e!xpan:..;io, mas sim o tipo espt:cial de expansão que produ llu Mandleste r <lU in vés de Birmingham . , Alêm disso, as revolu~' ões in du:lotn ais pinncir.l~ oco rreram em um a situ ação histó ric a espel:lal, elll 4ue o creSClIllent o econômico su rge! de um acúmulo de decisões de: inco ntá veis .~m prt: sâ rios e investidores part ic ulares, cada um deles go\'ernadn pel o primeiro mandamento da é:poca, comp rar no mercdd o Ill i..ds ba rat o e vender no mais caro . Co mo poderiam eles descobrir que o lucro máxim o devia ser detido cum a organização da revolução industrial e não com atividades coIllt:r...:iui:lo mais conhecidas (e mais lucrativas no passado)? Como poderi am saber, o que ninguém sabia iHe então, que a revolução industrial produliria uma aceleração Impar na expansão dos seus mercados? [)i..Idll que as principais ba ses socii..lb de uma sociedade industrial tinham sido li..Inçi..ldas, como quase! ce rtamente já acon tecera na Inglaterra de fins do sécu l" XVIII, duas coisas eram necessárias: primeiro, uma indú stria que jã oferecesse recompt:nsas excepcionais para o rabri ca nte qut: pudesse expandir sua produção rapidamente, se neces· sá riu atra vés de inovações simples e ral oavelmente baratas, e, segun· A mdulolflli au ltl mo bLlblu':iI lII odern ... t um hum eAcmplo disto. Não foi a demanda de ..: ... rru) C\ I~lelllc~ na Llc:ca Lla de: I IN O 4 uC -.: rt\IU u ma Indus tri a de porte atual, .mas a · capa dd:'HJe de pr odul lr C..Hro~ b ... r ... to ~ e "lue fOfHCnloJU a alual demanda em massa . do, UI11 mercado mundial amplamente monopolizado por uma única Ilação prod utora . • Estas considerações se aplicam em certos aspectos a todos os paises nessi..l época . Por exemplo, em todos eles a dianteira no crescim ento industria l foi tomada por fab ricantes de me rca do rias de cons uma de massa - principalmente, ma s não exclusiva mente, produt os têxteis' _ porque o mercado para tais mercado ri as já exist ia e os homens de negócios podiam ver claramente suas possibi lidades de e),pansão. Sob ou tr os aspectos, entretanto, eles se aplicam somente à Grã-Breta nh a, pois os industriais pioneiros enfrentaram os problemas mais dinceis . Uma vez iniciada a industri alizaçã o na Grã-Bretanha, o utros pafses podiam começar a gozar dos benencios da rápida expansã o eco nômica que a revolução industrial pioneira estimula va . Além do mais, o sucesso britânico provou o que se podia conseguir com ela, a técnica britã· nit:a podia ser imitada, o capital e a habilidade britânicJ podia m ser impu rtad os . A indústria têxtil saxõnica, incapaz de cri ar seus pró prios in ve nt os , copiou os modelos ingleses, às vezes com a supervisão de mecâ ni cos ingleses; os ingleses que tinh am um cerlO gosto pelo con tinente, como os Cockerill, estabcleceram·se na Bélgica e em vá ri as partes da Alemanha. Entre 1789 e 1848, a Europa e a América foram inundadas po r especialistas. máquinas a vapor, maquinaria para (processamento e transformatào do ) algodão e investiment os bntânicos. A Grã-Bretanha não gozava de.,sas vantagens . Por oulro lad o, poss uía uma economia bast ante forte e um Esta do suficientemente agressivo para conquistar os mercados de seus competido res. De rato, as guerras de 1738-18 15, a última e decisiva fase do secula r duelo anglo· fran cês, virtualmente eliminaram do mundo não eur opeu todos os rivais dos britãnicos, exceto até certo ponto osjOVC'l> EUA, Além do mais, a Grã· Bretanha possuía uma indústria admiravelmente ajus tada à revolução industrial pioneira sob condições capitalistas c uma coo· jun tu ra econômica que permitia que se lançasse à indústria algodoeira e à expansão colonial. II , (- < A indústria algodoeira britânica, comd todas as outras indústrias algodoeiras, tinha originalmente se desenvolvido como um subproduto do comércio ultramarino, que produzia sua matéria-prima (ou melhor, uma de suas matérias· primas. pois o produto original era o fUs/ão , uma mistura de algodão e linh o) e os tecidos indianos de al• "S6 muito vagarosamente o poder aquislI lvo se eK.pa ndiu com 11 popu laçã o, a renda pu ('apita. os custos dos transportes e as rcslru.;ões ao com ercio . Mas o mcrcado se eK.pandia , e a pergunta vilal era : quando u m produtor de algu·ma mercadoria de co nsumo de musa conseguiria uma fatia do me)lIlI) 5ufictéfllcmenle grande para perm itir uma upansão rápida e continua de su a proJuç~u " , ~9 •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• • •• •• •• •• •• • .• •• •• •• • •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• • t • godão, ou chi~a. que conquistaram os mercados que os fabricantes CU~ ropcus tentariam ganhar com suas imitações. In icialmente eles não roram muito bem sucedidos, embora melhor capacilados a reproduzir competttJvam e~te as mercadorias grosseiras e baratas do que as finas e elaboradas. Fehzmc.nle, enlrelanlo, o velho e poderoso inleresse eslabelCCldo do _comércIO lanlr~ro periodicamenle assegurava proibições de Imporlaçao de chuas. tnd .. ~as (9ue o tnleresse puramenle mercantil da CompanhIa das In dIas OnentalS procurava exportar da lndia nas matOre' quanudades posslveis), dando assim uma chance aos substitu10~ da indúslria alg.odoeir2 n.ativa. Mais baralo que a lã , o algodão e as mlS ~ur a~ de algodao co~qulSlar~m um mercado doméslico pequeno porem uu!. Mas suas maIOres chances de expansão rápida estavam no ultramar. O comércio colonial tinha criado a indústria algodoeira, e cOIHinua va a allmenlá-Ia . No séc~lo XVIII ela se desenvolvera perto dos maIOres portos coloOlalS: B"'tol, Glasgow c, especialmente, Liverpool. o grande centro do comércio de escravos. Cada rase deste comércio desumano, manempre em rápida e.pansão, a estimulava . De rato, d~ranl e todo o ~errodo de que trata este livro, a escravidão c O algodao marcllaram Juntos . Os escravos arricanos eram comprados, pelo menos em parte, com produtos de algodão indianos, mas, quando o forneCim ento destas mercadOrias era interrompido pela guerra ou uma revolta na Jndia ou arredores, enlrava em jogo a região de Lancashire. As plantações das In dias Ocidentais, onde os escravos eram arrebanhados. forneciam o grosso do algodão para a indústria britânica, e em troca os plan lado res compravam tecidos de algodã o de Manchesler em apreciáveis qu an lidades. Até pouco antes da "partida", quase o 10la l das exporlações de algodão da região de Lancas hire ia para os mercados ame ricano e africano ,. Mais tarde a regiã o de Lancashire vi ria a pagar sua dívida com a escravidão preservando-a; pois depois da docada de 1790 as plantações estravagistas do sul dos Estados Unidos fora m aumentadas e man tidas pelas insaciáveis e vertiginosas demandas Jas rábricas de Lancashire, às quais rorneciam o grosso da sua produção de algodã o bruto . A indústria algodoeira roi assim lançada, como um planador, pelo empuxo do comércio colonial ao qual estava ligada; um comércio que promet ia uma e"pansão não apenas grande, mas rápida e sobretudo imprevisível , que encorajou o empresário a adotar as t~cnicas revolucionárias necessárias para lhe razer face. Entre 1750 e 1769, a exportação britânica de tecidos de algodão aumentou mais de dez vezes. Assim , a recompensa para o homem que entrou primeiro no mercado com as maiores quantidades de algodão era ast ronômica e valia os ris. cos da aventura tecnológica. Mas o mercado ultramarino, e especial. menle as suas pobres e atrasadas "áreas subdesenvolvidas", não s6 se expandia de forma fantástica de tempos em tempos, como também o ralia conslanlemenle sem um limite apa renle. Sem dúvida, qualquer 50 pedaço dele, considerado isoladamente , era pequeno pelos padrões industriais, e a competição de diferentes "economias adiantadas" o fez ainda menor. Mas, como já vimos , supondo que qualquer uma das economias adiantadas conseguisse, por um penado suficientemente longo, monopolizar lodos ou quase lodos os seus setores, então suas perspectivas seriam realmente ilimitadas. Foi precisamente o que conseguiu a indústria algodoeira britânica , ajudada pelo agressivo apoio do governo nacional. Em termos de vendas, a revolução industrial pode ser descrita, com a exceção dos primeiros anos da década de 1780, como a vitória do mercado e.portador sobre o doméSlico: por volta de 1814, a Grã-Bretanha exportava cerca de quatro jardas de tecido de algodão para cada três usadas internamenle, e, por volta de 1850, treze para cada oito ' . E dentro deste mercado exportador em expansão, por sua vez, os mercados colonial e semicolonial, por muito tempo os maiores pontos de vazão para os produtos britânicos, triunraram. Durante as guerras napoleônicas, quando os mercados europeus roram grandemente interrompidos pelas guerras e bloqueios econômicos , iSlo era bastante natural. Mas até mesmo depois das guerras, eles conlinuaram a se afirmar. Em 1820, a Europa, mais uma vez aberta às livres importações da ilha, adquiriu 12g milhões de jardas de tecidos de algodão britânicos; a América, rora os EUA, a Arrica e a Asia adquiriram 80 milhões; mas por volta de 1840 a Europa adquiriu 200 milhões de jardas, enquanto as áreas "subdesenvolvidas" adquiriram 529 milhões . Pois dentro destas áreas a indústria britânica tinha cstabclççido um monopól io por meio de guerras, revoluções locais c de seu próprio domíni o imperial. Duas regiões merecem particular atenção. A América Latina veio realmente depender de importações britânicas durante as guerras napoleónicas, e, depois que se separou de Portugal e Espanha (vide capltulos 6-1 c 13-1 adiante), tornou-se quase que totalmente dependente economicamente da Grã-Bretanha, sendo arastada de qualquer interrerência polltica dos seus posslveis competidores europeus. Por volta de 1820, as importações de tecidos de algodão ingleses rei tas por este empobrecido eontinentejá equivaliam a mais de úmquarto das importações européias do mesmo produto britânico; por volta de 1840, adqui riu o equivalente quase à metade do que importou a Europa. As !ndias Orienlais haviam sido, como vimos, o exportador tradicional de tecidos de algodão, encorajada pela Companhia das Indias Orientais. Mas como o interesse industrial estabelecido prevaleceu na Grã-Bretanha, os interesses mercantis da !ndia Oriental (para não mencionar os dos próprios indianos) roram empurrados para trá •. A lndia roi sistematicamenle desindustrializada c passou de exportador a mercado para os produ tos de algodão da região de Lancashire: em 1820, o subeonlinente adquiriu somente 11 milhões de jardas; mas por volla de 1840 já adquiria 145 milhões. Isto não era meramente uma extensão gratificante dos mercados de Lancashire. Era um grande marco na história mundial. Pois desde a aurora dos tempos a Europa 51 s s tinha st:lllprt: importado mais do Oriente do que cxportado para lá; rhHqul! h.l vla pouca coisa que o Orien te necessitava do Ocidente em tro<.:a da~ e~pecia r ias, seúas, chitas, jóias ctc . que lhe enviava . Os panos de algodão da re volução industrial inverteram pela primeira vez esta rela .;ã o, que linha até então se mantido em equillbrio por uma nllsturJ de t:.xportaçõcs de Ilngott:~ e roubo . Som ente os autosuficientcs e conservadores chineses ainda se recusavam a comprar o que o O":ldente, ou as economias controladas pelo Ocidente, oferecia, a té qut: e:lltrc I ~ 15 I:! 1842 comerciantes ocidentais, auxiliados pelas ca· nhoneira~ ocidentais, descobrissem uma mercadoria ideal que pod Ia ser export.Jda em massa da India para o Extremo Oriente: o ópio . O algndão, portanto, fornecia possibilidades suficientemente asIronômi c.J::I para tentar os empresários privados 3. se lançarem na aventura lI.J rcvoluç:.io industrial e também urna expansão suficientemente rápida para torná-Ia uma exigencia . Felizmente ele também fornecia U!'I OUlras condições qut: a tornaram possível. Os novOS inventos que o revulurionaram - a máquina de fiar, o tear movido a água, a fiadeira automátil.:a e, um pouco mais tarde , O te ar a motor - eram suficientcmente: simples e barato) e SI:! pagavam quase que imediatttmenlc em lermo~ dt: maior produção. PodIam ser instalad os , se n':'CI! );'1I1 rio peça por peça, por homens que come~av·am com algumas libra~ emprestadas, já qut: os homens que contro lavam as maiores falias da ri queza do século XV III n'ãu I!slavam mullO inclinados a investir grandes soma~ na indústria . A e'pansiio da indústria podia ser facilmente financiada atraves dos lu..:ros l.:orrentl:!S, puis <I combinação de suas vastas conquistas de mt:rciH.lo I.:um uma cons tante innação dos preços produzia lucros fa·nt:ísticos . "Nào foram os 5 ou lOu~ ", diria mais tarde um polltico inglês, com justiça, "rn:Js as centenas ou os milhares por cenlO que fizeram as fo rtunas Jc Lancashlre ." Em 1789, um exajudante de um vendedor dt: tecidos, ~umo Rubert Owen, podia iniciar cum UI11 cmpréstimo de 100 li bras 1:!1I1 Man("heslcr; por volta de 1809, ele comprou a purte dt: scus sócios nás fjbricas de New Lanark por 84 mil libra) ('UI dinheiro vi\'o. E seu sucesso nos negócios foi relati vamente mod<stu. Deve-se lembrar que por volta de 1800 menos de 15% das familias britânicas tinham uma renda superior a 50 libras por ano, e, destas, StJ111entc um-quarto ganhava mais de 200 libras por ano '. Mas a indústria do algodão tinha outras vantagens . Toda a sua , matériu-prima vinha do exteri or, e seu suprimento podia portanto ser . expandido pelos drásticos métodos que se ofereciam aos brancos nas colônias - a escravidão e a abertura de novas áreas de cultivo - em vez dos métodt,)s mais Il:!ntos úa agricultura européia; nem era tampouco atrapalhudíi pelos Itltl:!resses agrários estabelecid os dd Eurona • . A partir da década de 1790, o algodão britânico enco ntrou SI!U suprimento ,:JO qual permaneceram ligadas suas fortunas até a de..:ada de 1860, nos novos estados sulis tas dos EUA . De novo, em pontos cruciais da indústria (notadamente na fiaçào), o algodão sofreu uma escassez de mào-dc:-o~Ha eficiente e barata, e foi portanto Ic:vado à mecanização. Uma indústria como a do linho. que inlcialml:!lltc tinha <.:hances bem melhores de expansão colonial do que:: o algodão, passou d sofrer com o co rrer do tempo da própria facilidade com que a produção não mecanizada e barata podia ser expandida nas empobrecidas regi ões camponesas (principalmente na Europa Cent ral. mas também na Irlanda) onde basicamente havia norescido . Pois a maneira óbvia de se expandir a indústria no século XVIII, tanto na Saxônia e na Normandia como na Inglaterra. não era construir fábricas, mas sim o chamado sistl!lll<:l "doméstico", no qual os trabalhadores - em alguns casos, antigos a rtesãos independentes, em outros, antigos camponeses com lempo de sobra nas estações estéreis do ano - traba lhavam a matériaprima em suas próprias casas, com ft:rramentas próprias ou alugadas, recebendo-a e entregando-a de volta aos mercadores que estavam a caminho de se tornarem patrões· . De fala, tanto na Grã-Bretanha como no resto do mundo economicamente progressisla, o grosso da expansão no perlodo inicial da industrial ilaçãu continuou a ser desle tipo . Até mesmo na indústria algodot:ira, processos do tipo tecelagem eram expandidos pela criação de multidões de teares manuais domésticos para servir aos núcleos de fiações mecanizados, sendo que o primitivo tear manual era um dispositivo mais eficiente que a roca . Em toda parte a tecelagem foi mecanizada uma geração após a- fiação, e em toda parte, incidentalmente, os teares manuais foram morrendo vagarosamente, ocasionalmente se rebelando contra seu terr(vel destino, quando a indústria não mais necessitava deles. III A perspectiva tradicional que viu a história da revolução industrial britânica primordialmente em termos de algodão é portanto correta _A primeira indústria a se revolucionar foi a do algodâo, e é dincil perceber que outra indústria poderia ter empurrado um grande número de empresários particulares rumo à revolução_ Até a década de 1830, o algodão era ,a única indústria britânica em que predominava a fábrica ou o "engenho" (o nome c;lerivou-se do mais difundido estabelecimento pré-industrial a empregar pesada maquinaria a motor); a o "sistema doméstico", que é um estAgio universal do desenvolvimento manufatu• Os furn(':lIlIenlu) uhrólllldrlllUS d~ lã , pl.H nemplll. tl\c:ral1l puuqulS)lma impo rtA0 . cia dUf4l1le tudu I) nOnu pe:nudo , )..; se: lornoln du um (.!.I ú r importante na década de IK70 ;2 reiro da produçlo caseira para a indústria moderna, pode tomar inúmeras formas, algumas eventualmente muito prÓximas da râbrica. Se um ucritor do .tculo XVIII fala de: "manuraturas" . t isto que invariavelmente ele quer dizer em todos os palscs ocidentais . 53 •• •• • •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• b • 6 • • • •• •• •• •• •• •• •• •• •• •,• ,• Ii •• I I •• I •• • principI o ( 17 80-1815). principalmente na fiaçã o, na cardação e em algum as operações aux iliares, depois (de 1815) lambém cada vez mai, na lecelagem . As " fábricas" de que tratavam os novos Decretos Fabris eram, a lé a docada de 1860, entendidas exclusivamente em termos de fábricas têxte is e predominantemente em lermos de engenhos algo. doeiros. A produção fabril em outros ramos têxteis tc:ve: desenvolvi. menta Icnlo anles da década de 1840, e em outras manufaturas seu desenvolv imento foi desprezível. Nem mesmo a máquina a vapor, embo· ra apl icada a numerosas outras indústrias por volta de 1815, era usada fora da mineração, que a tinha empregado pioneiramente_ Em 1830, a "indústria" e a "fábri .. " no sentido moderno ainda significavam quase que exclusivamente as áreas algodoei ras do Reino Unido. Com isto não se prelende subest imar as forças que introduziram a inovação industrial em outras mercadorias de consumo, notadamente oulros produtos téxteis·, alimentos c: bebidas, cerâmica c outros produto s de us o domésti co, grandemente estimuladas pelo rápido cresci- mento das cidades . Mas, para começar, estas indústrias empregavam muit o men os pessoal : nenhuma se aproximava sequer remotamente do milhã o e me io de pessoas emp rega das diretamente na indústria algodoeira ou dela dependentes em 1833 ;'_ Em segundo lugar, seu poder de tr ansform ação era muito menor: a ctfyejaria, que era em muitos as· pec los um negócio técnica e cientificamente muito mais avançado e mecanizado, e que se revolucionou muito antes da indústria algodoeira, pouco aretou a economia à sua volta, como pode ser provado pela gr~nde cervejaria Guinness em Du.b lin, que deixou O resto de Dublin e da economia irlandesa (embora não o paladar local) idênticos ao que eram a ntes de sua construção OI _ As exi8ências que se derivaram do al godão - mais construções e todas as atividades nas novas áreas industriais, máquinas, inovações qulmicas, eletrificação industrial, uma frota mercanle e uma serie de outras atividades - foram bastantes para que se credite a elas uma grande proporção do crescimento econÔmico da Grã-Brela nha ate a década de 1830. Em terceiro lugar, a expansão da industria algodoeira foi tão vasta e seu peso no comercio exterior da Grã-Brel anha tão grande que dominou os movimentos de toda a economia. A quantidade de algodão em bruto importada pela GrãBrtlanha subiu de II milhões de libras-peso em 1785 para 588 milhões em 1850; a produção de te cidos, de 40 milhões para 2,025 bilhões de já rd as OI. OS produtos de algodão constitulam entre 40 e 50% do valor a nual declarado de rodas as exportações britânicas entre 1816 e 1848. Se o algodão no rescia. a economia florescia , se ele cala , também caia a econ omia . Suas osCilações de preço determinavam a balança do comércio n acional. S6 a agricultura tinha um poder comparável, e no enlant o estava em visível declínio. , Em todns os pa; !oCs qu e pr"duzlam qualquer espécie de ma nufaturas ven dáveis. as 1e:.:h:1 5 ICll diil.m a prcdom inu: na SUésia (1800). const ilu la m 74 % do va lo r de tod as as ma nu(Uluras '" S4 .. .' I , " Não obstante, embora a expansão d. indústria algodoeira e da eco nomia industrial dominada pelo algodão zombasse de tudo O que a mais romântica das imaginações poderia ter anteriormente concebido sob qualquer circunstância 16 , seu progresso estava longe de .er trao. qUilo , e por volta da década de 1830 e principias de 1840 produzia grandes problemas de crescimento, para não mencionarmos a agitaç!o revolucionária sem paralelo em qualquer outro perlodo da hist6ria britânica recente. Esse primeiro tropeço geral da economia capitalilla industrial reflete-se numa acentuada desaccleração no crescimento, talvez até mesmo um decllnio, da renda nacional britânica nesse perlodo OI . Essa primeira crise geral do capitalismo não foi puramente um fenômeno britânico. Suas mais sérias conseqüências foram sociais: a transição da nova economia criou a miséria e o descontentamento, os ingredientes da rc'volução social. E, de fato, a revolução social eclodiu na forma de levantes espontâneos .d os t[ab alhadores da indústria e das populaçÔe. pobres das cidades, produzindo as revoluções de 1848 no continente e os amplos movimentos cartistas na Grã-Bretanha . O descontentamento não estava ligado apenas aos trabalhadore, pobres_ Os pequenos comerciantes, sem salda, a pequena burguesia, setores especiais da economia eram também vitimas da revolução industrial e de lual ramificações . Os trabalhadores de esplrito simples reagiram ao novo liltema destruindo as máquinas que julgavam ser responsáveis pelo. problemas; mas um grande e surpreendente número de homens de negócios e fazendeiros ingleses simpatizava profundamente com e.t81 atividades dos seus trabalhadores luditas· porque também elel se viam como vitimas da minoria diabólica de inovadQres egolst .. _A exploração da mão-de-obra, que mantinha sua renda a nfvel de .ubli.tência, possibilitando aos ricos acumularem os lucros que financiavam a industrialização (e seus próprios c amplos confortos), criava um conflito com O pr.oletariado _ Entretanto, um outro aspecto desta diferença de renda nacional entre pobres c ricos, entre o consumo e o investimento, também trazia contradições cpm o pequeno cmpresário_ OI grandes financistas, a fechada comunidade de capitalistas nacionais c estrangeiros que embolsava o que todos pagavam em impostaI (cf. capitulo sobre a guerra) - cerca de 8% de toda a renda nacional" -, eram talvez ainda mais impopulares entre os pequenos homenl de negócios, fazendeiros e outras categorias semelhantes do que entre OI . trabalhadores, pois sabiam o suficiente sobre dinheiro e cr~dito par. sentirem uma ira pessoal por suas desvantagens. Tudo corria muito bem para os ricos, que podiam levantar todos os créditos de que neccl- • Gr upQ.li de trabalhadores insleses que, entre 18B c 1816. se rebelaram c dcatru1ram máqu inas te~teis, pois 'acreditavam que elal eram rcsponsbciJ pelo dcac:mprcao. O IIder ou iniciador desses movimentos chama .... ·se. provavelmente, Ncd ou Kin, l udd. Dal. s up6e-s.e. deriva o vocábulo ingl!. Luddllt.(N.T.} 55 sitav<.ll1l r.H<.I prúvul.:ar na tCllnomia uma denação rigida e uma orto· dox~a nll)ne:tjria depoi!) das guerras napoleônicas: era o pequeno que sorrl.a c .yu.c, em tod?s os países e: durante todo o século XIX, exigia cred it o lacll e financli.llnento nexívc:l • . Os trabalhadores e a queixosa pC4l1ena hurguesia, preste:s a desabar no abismo dos destituídos de proprie:dade. partilhavam pllrtanto dos mesmos descontentamentos. Estc~ dt:~t.:ontentamentos por sua vez uniam·nos nos movimentos de maSSiJ do "radicalismo", da "democracia" ou da "república", cujos t!x,mp larts mais formidávd!:l. entre: 1815 e: 1848, foram os radicais bri· t~ll.icos, os republi canos frllncesc!:I e os democratas jacksonianos amerlL:<Jnos. Dn ponto de vista dos capit<Jlistas, entre:tanto. estes problemas sod(:ll ~ só t:r~m relev~ntes para o progrt!sso da economia se, por algum ttrrlvcl llcldente, vle:ssem a dl!Trubar a ordem social. Por outro lado, parecia haver certas falhas inerentes ao processo econômico que ameaçavam seu objetivo fundamental : o lucro . Se a taxa de retorno do ciJpi· 1<11 se reduzisse. a ze ro, uma economia e:1l1 que os homens produziam apenas para ler lucro diminuirill o passo até um "estágio estacionário" que os economistas pressentiiJm e temiam 11. Destas, as três falhas mais óbvias eram o ciclo comercial de boorn e depressão, a tendência de dil1linui!;ãt> diJ taxa de lucro e (o que vinha a dar no mesmo) a escassez de opununidatles de Investimento lucrati· vo. A primeira não era considerada seria. exce to pelos criticas do capi· talismo como tal, que foram os primeiro!'> a investigá-Ia e a considerála pane integrante do processo econôrnko capit;Jli!:ltiJ e C0l110 sintoma de suas contradições inerentes·· . As crise;:s peri ódicas da economi a , que levavam ao dese:mprt!go, quedas na produção, bancarrotas etc ., eram bem conhecidas, No século XVIII eliJS geralmente renetilJm alguma catástrofe agrária (fracassos na colhdta etc .) e já se provou que no continente europeu os distúrbios agrários foram a causa primordial das maiores depressôes até o fin ..!! Je;: nOS)ll período . As crises pc:ri6di· caS nos pequenos setores manufaturciros e linancc::iros da economia eram também conhecidas, na .Grà·llretanha pelo menos desde 1793 . Depois das guerras napoleônicas, o drama periódico do boom e da de· pressão - em 1825-6, em 1836-7, em 1839-42, em 1846-8 - dominou c1uramc::ntt! a vida econômica da naçãll em tempos de paz. Por volta da dé,"d" de 1830, uma época crucial no periodo hist órico que estudamos, mais ou me;:n os se reconhecia que as crises eram fenômenos peri6· dicos regulares, ao menos no comén.. io e nas finanças li . Entretanto, os Do radicalismo pós-napoleõnico r.:\ Grã . 8retanha ao populismo n05 EUA, todos os mOVi mentos de protesto que indula.ll faI~ndeiros e pequenos empresáriOS podem ser re cún he":ldos pelas $UItS eJ; igencias contra a orlod oJ;ia financeira : eranl lodos "mania· eas da moeda co rrenté" . •• O s ulço Slmonde de Sismondi e o ,onservadot Malthu$ foram os primeIros a usarem e51es argumentos, mesmo antes de 1825. Os novos sociali sta s fiz.eram da leoria da crise a pedra fundamental d e sua critica ao capitalis mo humen s de negócios comumente consideravam que as crises eram cau· sadas uu por enganos particulares - p. ex . superespeculação nas bolsas americanas - ou então por interferência externa nas tranqOilas ativida· des da economia capitalista . Não se acreditava que ela s reOetissem quaisque r dificuldades fundamentais do sistema. O mesmo não ocorria com a decrescente margem de lucros, que a indústria •.Ilgodoeira ilustrava de maneira bastante clara. In icial mente esta indústria beneficiou-se de imensas vantagens. A mecanização aumentou muito a produtividade (isto é, redu ziu o custo por unidade produzida) da mão-de-obra, que de qcalquer forma recebia salários abominaveisjá que era formada em grande parte por mulheres e crianças • . Dos 12 mil trabalhadores nas indústrias algodoeiras de Glasgow em I ~33 . somente 2 mil ganhavam uma média de mais de 11 shillings por semana , Em 131 fábricas de Manchester os salários médios eram de menos de 12 shillings, e somente em 21 eram mais altos lo, E a cons· trução de fábricas era relativamente barata : em 1846, uma fábrica inteifiJ de tecelagem, com 410 máquina s, incluind o o custo do terreno e dos prédios, podia ser construída por aproximadamente 11 mil libras l U. Mas acima de tudo o maior gasto, rel<ltivo à matéria-prima. foi drasticamente diminuido pela rápida expansão do cultivo do algodão no sul dos EUA depois da invenção do descaroçador de algodão de lli Whitney, em 1793 . Se acrescentarmos que os empresários goza· vam do benel1cio de uma in nação sobre o lucro (isto é, a tendência gerai dos preços de serem mais altos quando vendiam seus produtos do qUI! 4uando os faliam), comp reenderemos porque as classes manufatureiras se sentiam animadiJs. Depois de 1815, estas vantagens começaram a diminuir cada VeL mais devido à redução da margem de lucros. Em primeiro lugar, a revOlução industrial e a competição provoc,uam uma queda dram áti ca c constante no preço dos artigos acabados mas não em vários custos de produç:io 1 1 . Em segundo lugar, depois de 181 5. a situação geral dos pre· ços cra de denaçào e não de innaçào, ou seja. os lucros, longe de um imo pulso extra, sofriam um leve retrocesso . Assim, enquanto em 17~4 o preço de vend" de uma libra-peso de fio duplo fora de lO shi llings e 1i pence e o custo da matéria-prima 2 shilli ngs (margem: 8 shi llings e Ii pence), em 1812 seu preço era de 2 shillings c 6 pence c o custo da materia-prima I shilling e 6 pence (margem de I shilling), caindo em 1832 respectivamente para 1i 1/ 4 pence e 7 1/ 2 pence, reduzindo a 4 pence a margem p"ra outros custos e lucros ". Claro, a situação, que era geral em toda a indústria, tanto a britânica como as outras. nào era muito tui· gica. "Os lucros ainda são suficientes", escreveu em 1835 o historiador e campeão do "Igodão, em mais do que um eufemismo, "para permitir 1.111 1!I H . E. 8ainc:. estimava em 10 shillings por semana a media salarial de todos os oper;Jdores de maquina~ de lecel.<lgem e liação - cujas férias anuais de duas semanas niio er:lm remune radas - e em 7 shillings a dos lecc:!ões manuais . 57 56 • , •• •• •• •• •• •• •• • •• •• •• •• •• • b • •• • 41 41 <I 8 •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •. •• • ~ um gran.de acúmulo de capital na manufatura." H Assim como as vend~s totaIs cresceram vertiginosamente, também cresceram os lucros totaiS me~mo em s~as. taxas decrescentes. Tudo o que se precisava era uma C.ltpan sao astronomlca c: continua . Não obstante, parecia que o encolhimento das margens de lucro linha que ser contido ou ao menos desaeelerado. Isto não podia ser feito através do cOrle nos custos. E de todos os custos. os salários - que McCulloch calculou em três vezes ~ montante étnual da matéria-prima - eram os mais comprimlveis. . . ~Ies podiam ser comprimidos pela simples diminuição, pela sub.Iltulçao de trabalhadores qualificados, mais caros, e pela competição da máqu~na com a mão-de-obra que reGuziu o salário médio semanal dos teceloes manu.,~ em Bohon de 33 shillings em 1795 e 14 shillings em 1815 para 5 shllllngs e 6 pence (ou mais precisamente uma renda Iiq.Uida de 4 shillings I 1/ 2 pence) em 1829-34 " . E de fat~ os salários ca!ra,;, brlltalmente no período pós-napoleônico. Mas havia um limite fiSlologlco nessas reduções. caso contrário os trabalhadores mOrreriam de fome. como de fato aconteceu com 500 mil tecelões manuaIS. Somente se o custo de vida calsse podiam também os salários Cair além daquele limite. Os fabricantes de algodão partilhavam o ponto de vISta de que o custo de vida era mantido artificialmente alto pelo monop6110 da propriedade fundiária, piorado ainda pelas pesadas tarifas protetoras que um Parlamento de proprietários de terra tinha asseg"rado às atividades agrlcolas britânicas depois das guerras _ as Lm do Trigo (Com-LalVs). ·éssa legislação protecionista tinha ainda a desvantagem adicional de ameaçar o crescimento essencial das exportações britânicas. Pois se o resto do mundo ainda não industrializado era impedido d~ vender seus produtos agrlcolas, como poderia paga~ pelas mercadorias manufaturadas que s6 a Grã-Bretanha podia - c linha para - fornecer? O mundo empresarial de Manchester tornou-se portanto o centro da oposição, cada vez mais d•.sesperada e militante, aos proprietários de terras em geral e às Leis do Trigo em parti-, cular, conslllulOdo a coluna vertebral da Liga Contra as Leis do Trigo de 1838·46. Mas as Leis só foram abolidas em 1846 c sua abolição não levou imediatamente a uma queda no custo de vida, sendo duvidoso que antes da era das ferrovias c dos navios a vapor mesmo importações livres de alirnenlos o tivessem feito baixar. A indústria estava assim sob uma enorme pressão para que se mecanizasse (ISto é, baixasse os custos através da diminuição da mão-deobra), racionalizasse c aumentasse a produção e as vendas, compensando com uma massa de pequenos lucros por unidade a queda nas margens . Seu sucesso foi variável. Como vimos, o crescimento real da produção c das exportações foi gigantesco; bem como, depois de Igl5, a mecanização das ocupações até então ma.nuais ou parcialmente me· canizadas, notadamente a tecelagem . Isto tomou a forma principalmente de uma adoção geral da maquinaria já existente ou ligeiramente melhorada. ao in ves de uma revolução tecnol6gica adicionai. Embora 58 a pressão r uma inovação técnica aumentasse significativamente havia 39 p"entes novas na fiação e em outros processos da indústria do algodão em IgOO-20, SI na década de 1820,86 na década de 1930 e 156 na de Ig40" -, a indústria algodoeira britânica se achava tecnicamente estabilizada por volta da década de I g30. Por outro lado, embora a produção por trabalhador tivesse aumentado no perlodo pósnapoleônico, isto não se deu em uma' escala revolucionária. A aceleraçã.o realmente substancial das operações da indústria iria ocorrer na segunda metade do século . Havia uma pressão semelhante sobre o Indice de rentabilidade do capital. que a teoria contemporânea tendeu a identificar com o lucro. Mas esta consideração leva-nos à fase seguinte do desenvolvimento industrial - a construção de uma indústria bâsica de bens de capital. IV ,I" ., .~ J:: evidente que nenhuma economia industrial pode-se desenvolver além de um certo .ponto se não possui uma adequada capacidade de bens de capital. Eis por que, até mesmo hoje, O mais abalizado Indice isolado para se avaliar o potencial industrial de qualquer pais é • quantidade de sua produção de ferro e aço. Mas é também evidente que, num sistema de empresa privada, o investimento de capital extremamente dispendioso que se faz necessário para a maior parte deste de~envolvimento não é assumido provavelmente pelas mesmas razões que a industrialização do algodão ou outros bens de consumo. Para estes já existe um me rcado de massa, ao menos potencialmente: mesmo os homens mais primitivos usam camisas ou equipamentos domésticos e alimentos. O problema resume-se meramente em como colocar um mercado suficientemente vasto de ma~çi ra suficientemente rápida ao alcance dos homens de negócios. Mas não existe um mercado desse tipo, por exemplo, para pesados equipamentos de ferro ou vigas de aço. Ele só passa a çxistir no curso de uma revolução industrial, e os que colocaram seu dinheiro nos altlssimos investimentos exigidos a t~ por metalúrgicas bem modestas (em comparação com enormes engenhos de algodão) são antes especuladores, aventureiros c sonhadores do que verdadeiros homens de negócios. De fato, na França, uma seita de aventureiros desse tipo, que especulavam em tecnologia, os saintsimonianos (cf. capltulos 9-11 c 13-11), agia como principal propagadora do tipo de industrialização que necessitava de pesados investimen· tos a longo prazo. Estas desvantagens aplicavam-se particularmente à metalurgia e especialmente à do ferro. Sua capacidade aumentou, graças a algumas inovações simples como a pudelagem· c a laminação na década de • Processo metalúrgico utilizado outro ra para obter o ferro, o u um aço pouco carreia- . (!Ô 59 .3 9 1 7~U. IIl..l ~ a dC:Il1JnuJ civil da metalurgia permanecia relativamente m 0 de ~ tJ , lo! <i militar, embora compensadorarnente vasta graças a uma suCCü;j() ue guc:rras entre 1756 e 1815, diminuiu vertiginosamente dc& poi~ de \Valc:rlo o. Cert amente nào era grande ti bastante para fazer da Gr;i·Brct<illha um enOrme produtor de ferro . Em 1790, a produção britânica ~upl<J ntou a da França em somente 40~~. se tanto, e mesmo em USOU era c.:ullsiuc:ravc!mente OIenor que a metade de toda a produ. ção do continente, chegando, segundo padrões posteriores, apenas à diminula ~uanlidade de 250 mil loneladas . Na verdade, a produção brit~nica ue: ferro, comparada à produção mundial, tendeu a afundar nas décadu!'o. ~eguintes. Fclllllh::nte: e ~~as desvantagens afetavam menos a mineração, quc era principalmente a do r an'ãv, pois o carvão tinha a vantagem de ser nào ~Umcn[e a rrinl' jpal fonte de energia industrial do século XIX , como t'lIllbclll UI11 impurtante cllmbustlvel doméstico, graças em gran. de parte à rel ativa e:scas"c:L de norestas na Grã· Bretanha . O crescimen. to da s cic.bJe:~, espe:~I ,.dme:llte de Londres, tinha causado uma rápida expan s;io ua miner i.H,:ào do car"ão desde o final do século XVI. Por vo lta de prindpius do sél.:ulo XVIII, a indúst ria do carvào era substan& c;almentt: uma moderna inuústria primitiva . mesm o empregando as mai s reCentc::s máquinas a vapo r (projetadas para fins semelhantes na miner;Jçàu de metais não&ferrosos. principalmente na Co rnuália ) nos processos de bombeamento. Portant o. a mine ri.lçà o do carvão qua~t: nà o exigiu nem sofreu uma impo rtante revolul,: óio te cno lógica no pe:río. do qUI! focalizamos . Suas inovaçõe:s foram antes mdhoriJs do que tran sformações da produção. Mas Sua capacidade já era imensa c, pelos padrões mundiais, ast ronômica . Em umo, a Grã·Bretanha deve ler pro. duzido peno de 10 milhões de IOndadas de ca rvão, ou cerca de 90% da produção mundial. Seu competidor mais próximo, a França, produziu menos de um milhão. Esta imensa indústria. embora provavelmente não se expandin.do de forma suficientemente rápida rumo a uma industrialização real. mente: 1TI<.Iciça em escala moderna, era 'grande o bastante para estimu . lar a invclh,:ã o básica que iria transformar as indústrias de bens de capital : a ferrovia . Pois as rilinas nà o s6 necessitavam de máq uinas a vapor <111 grande qu an lidade e de grande pOlência , mas lambém de meios de transporte eficientes para trazer grandes qu antidades de car& vào do fundo tias minas até a superficie e especialmente para levá-Ias dJ supcrfkie aos po ntos de embarque. A linha férrea ou . os trilhos soh rc~ os 4uaiS corriam os carros era uma resposta óbvia; acionar estes carro) po r mei o de máquinas era tentador; acioná·los ainda por meio de f1l ;iqu lIlas móve is não parecia muito impossfvel. Finalmente, os cu~tus uo tran ~ porte terrestre de grandes quantidade:s de mercadoria do cm ~.Hhu th'). IHH .:unloilO dc Ullloi mana de rerro rundido com uma escória oAldan. le no forlll.J dc rcvúbero (t'nn.-lu,,;Jla llr/la·1 .lfOWJt. nota da edição brasilei ra ) 60 •• •• •• •• • provavelmente os donos de II1ln aS de car vâo locali aalll la'" u..,1( 0) flue '1 d& inll:rior percebe ram que o uso dc:~~c meio de I transporte e podIa se r estendido lu crativamen te pa~a ongas percur. l (St oc kt o n& ~us , I \ 1II Ih ,t • entre o campo de cilrvão de: Durfl.tlll e o litora " l)arlln gtoll I M25) fo i a primeir~ das modernd~ ferr OVias . Tecnolog lca . lIlentc , li faroviJ e filha das nllnas e cspc:c.:I..IlllIentt: das mln~S de carV3 d do nurte ua Inglaterra . George Stephenso n ~umeçou a 'ilda como " nwquini!ltil " e:rn Tyneside, e durante alhJ!'I tuJos u~ condu tures de lo. l· omot i \'.I~ fo ram recrutad os ne s~ e: campo d.e: c.t r v~o. . . Nenhuma outra in ovação da rev olução IIHJustmd 1I1cendlou ~anto J imaginul,:ão quanto a ferro viJ. co mu t.e:~Ie:IlIUllhd o fato de: ter sldo .o urlico produto da indus trialil :.u;ào do ~C:L'u l o XIX to tal mente absorvl& do rda ima gis ti ca d~ poesia erudita e: ~)lllllIIJr Mal tin ham as ferro& vias provado ser tecnicamcntc vlave:ls e: IlI~~dtl\: as na In~lale:rra ( ~or vo llti de 182 5.)0) e planos p;Jr a sua construIo"au Ja eram f~eil Os na mala' ria d o~ pàises do mund o oci de nt al, embora Sua execuçao fos se gerallIlen te rewrdada , As primeir as pequcna s lInhas foram abertas ~os ~1I!\ em IH27, na Fran ça 01 11 IH2B e IB35, no Alemanha ': n~ BélgIca elll I ~J5 e a te! na Russia em ItU7. Indu bll...Ivellllen tc . a r?zao c que ne. nhuma outra in\'enção re vel .I\'1 para o leigo de: forma lao .c ab al o pa· der e a velOCIdade da nova era ; i.I revcl aç;i? fel·~ e ain da ma~s su.rpreen· de:nte pc l.1 In compiHa\el lllatuf uJ ade téclllca ~l.esmo das pnrnelfas (er. rLl Vla:'I. (Vel ocidades de até 60 r1ll1l~it~ - 96 qutl?metros - por hora, por cxcmplo , eram perfei tamente pratlcavels li a deyada de 18~O, e nào foram ~ubs t anc lalmente mc:lhoradas pelas pLl~teflores ferr OVias a va poL) A e~trada de ferro, arrastandu sua enorme se rpe nte e.r nplumada de fu& maça, d vt:loci dade do vento , através de palses e continentes, ~om suas ob ras de engenharia, eSlações e ponles formando um conJunlo de co nstruç ôes que fazia as pirâm ides do Egito e os aquedutos r om~no,s e até mesmo a Grande Muralha da China empa lidecerem de prov,"~la& nismo, era o próprio símbo lo l10 triun fo do homem pela tecnolog ia . De fat o, sob um pont o de vista econômico. seu grande custo er.a Sua prin cipal van ta ge m . Sem d~vida, no final das contas, ~ua capacl& dado para abrir paises alé enlão ISolados d o mercado mundia l pelos ai, tos custos de transporte, assi m co mo o en o rme, au!nento da velOCidad e e 11" ma ssa de comunicaçã o por terr~ que p.oss.l blhtou aos homens e às merc:tdorias, vieram a ser de grande IInport ancla . Antes de 1848, as fero ro vias eram economicamente men os importantes : fora da Grã. Urctanhi1 porque as ferrovias eram poucas ; na Grã· Bretanha porq~e, devil10 a razõcs geográlicas. os probl~ma s de tran sporte era,m ~UI~O mai s fáceis de resolver do que em palses co m e.n o rrnes ternt6r.lOs , f\ 1as , na persp~c ti v a dos estudi osos do desenvo lVi mento econôm iCO, a .. 11"v lau.l~ (urw i ; 1 dl~t"tn~la Nellhum r ,lnl~ 1 d.L Grà- HreIJnh :1 dhlJ mai, de 1U mllh i:l) (t t 2 L.jLIIIOmetrol) do Inoral. e t!..ldJ' .IS pnu ":Lpais .ire .. ~ induSlnal) do secutu XIX. úlm apeni:l~ umll n ceçAo. rlca\ :lm ,\ bCH.I·m.H ÜU bCL1l pr Ú\LtIIJ.\ dele . 61 •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• JO •• • )D •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• esta altura era~ mais imJ?0rt~nlC o imenso apetite das ferrovias por fer~ co e aço, carvao, maquinaria pesada, mão-dt- o bra e investimentos de cap it:.II . Pois propicia va justamente a demanda maciça que se fazia nccessâ ria para as ind ústrias de bens-de-capital se transformarem tAo pr ofu nda mente quanto a indústria algodoeira . Nas primeiras duas d~­ cad as das ferrovias ( 1830-50), a produção de ferro na Grã-Bretanha subiu de 680 mil para 2,250,000 toneladas, em outras palavras, triplicou , A produção de carvào, entre 1830 e 1850, também triplicou de 15 milhões de toneladas para 49 milhões , Este enorme crescimento deveus. prioritariamente à ferrovia, pois em média cada milha de linha exigia 300 toneladas de ferro s6 para os trilhos , ,. Os avanços industriais que pelaprimeira vez tornaram pf'sslvel a produção em massa de aço: decorreriam naturalmente nas décadas 'ieguintes. A razão para esta expansão rápida, imensa e de fato essencial estava na paixão aparentemente irracional com que os homens de negócios e os investidores atiraram-se à construção de ferrovias , Em 1830 havia cerca de algumas dezenas de quilômetros de ferrovias em todo o mundo - consistindo basicamente na linha Liverpool-Manchester. Por volta de 1840 havia mais de 7 mil quilômetros, por volta de 1850 mais de 37 lTjil. A maioria delas foi projetada numas poucas explosões de loucura especulativa conhecidas como as "coqueluches ferroviárias" de 1835-7. especialmente de 1844-7; e a maioria foi construlda em grande parte com capital , ferro, máquinas e tecnologia britânicos·, Estas explosões de investimento parecem irracionais, porq~e de fato poucas ferrovias eram muito mais lucrativas pars 'o investidor do que outra s fo rmas de empresa, a maioria produzia lucros bem modestos e muitas nem chegavam a dar lucro: em 1855, a rentabilidade média do capit"1 aplicado nas ferrovias britânicas era de apenas 3,7%, Sem dúvi. da, os agentes financeiros, especuladores e outros se saíram muito bem, mas não o investidor comum , E ainda assim , por volta de 1840, 28 mi:~ões de libras foram esperançosamente investidas em ferrovias e, por volta de 1850, 240 milhões de libras, " Por quê? O fato fundamental na Grã-Bretanha nas primeiras duas gerações da revolução industrial foi que as classes ricas acumulavam renda tã o rapidamente c em tão grandes quantidades que excediam todas as possibilidades disponlveis de gasto e investimento, (O excedente anual aplicável na aécada de 1840 foi calculado em cerca de 60 milhôcs de libras, lO) Sem dúvida, as sociedades aristocráticas e feudais teriam conseguido gastar uma parte considerável desse excedente em uma vida desregrada, prédios luxuosos e outras atividades nilo económicas·· , Até mesmo na Grã-Bretanha, o sexto Duque de Devonshire, cuja renda normal era realmente principesca, conseguiu deixar para • Em 18-1 8. um-te rço do cap ital n"s re:rrovias franc(:.Ils e:ra ingles . •• Clar o que: e.s~e: desperdlcio também c$limula a e:conomia , mas de: rorma muito i ndi c h~n t c ; c mu ito pouco em funçã o do cre:scimento induu na l. 62 seu herdeiro dividas de I milhão de libras em meados do século XIX (que ele pagou tomando emprestado mais I milhão e 500 mil libra. e especulando sobre os valores de terrenos,) ,. Mas o grosso das classes médias, que constitulam o principal público investidor, ainda era do. que economizavam e não dos que gastavam, embora haja muitos .inais de que por volta de 1840 eles se sentissem suficientemente rico. tanto para gastar como para investir. Suas esposas se transformaram em "madames" instruldas pelos manuais de etiquetas que se multiplicavam neste perlodo, suas capelas começaram a ser reconstruidas em estilos grandiosos e caros, e começaram mesmo a celebrar sua gl6ria col';tiva construindo monstruosidades c!vicas como esses horrendo. lown ha/ls imitando os estilos g6tico e renascentista, cujo custo exato e napoleOnico os historiadores municipais registraram com orgulho ~ , Uma moderna sociedade de bem-estar soclOl (welfare) ou soclahsta teria sem dúvida distribuldo alguns destes vastos acúmulos para fins sociais, No período que focalizamos nada era menos provável. Virtualmente li vres de impostos, as classes médias continuaram portanto a acumular em meio a um populacho faminto, cuja fome era o reverso daquela acumulação. E como não eram camponeses, satisfeitos em socar suas economias em meias de lã ou convertê-las em braceletes de ouro, tinham que encontrar investimentos lucrativos . Mas onde? As indústrias existentes, por exemplo, tinham -se tornado dem~siadamenle b~ratas. para absorver mais que uma fração do excedente dlSponlvel para IOveSllmento: mesmo supondo que o tamanho da indústria algodoeira fosse duplicado, o custo do capital absorveria s6 uma parte dele , Era necessáflo uma esponja bastante grande para absorver t~d~,, · , , O investimento estrangeiro era uma posSlbtlldade 6bvla, O resto do mundo - para começar, basicamente velhos governos em busca de uma recuperação das guerras napoleOnicas e novos g~vernos tomando emprestado, com seus costumeiro~ Impetos e IIber~lIda~e,s, para fina indeterminados - estava muito anstOSO por e,nprésllmos tllm!tados. O investidor inglês ,emprestava prontamente, Mas os emprésttmos aos sul-americanos, que pareciam tão promissores na década de 1820, e aos norte-americanos, que acenavam na década de 1830, transfonn~­ ram-se freqUentemente em pedaços de papel sem valor: de 25 emprésttmos a governos estrangeiros concedid~s entre 1818 e 1831, 16 (correspondendo a cerca da metade dos 42 mIlhões de libras estedlOas a preços de emissão) estavam sem pagamento em 1831, Em teor~a, estes empréstimos deviam ter rendido aos investidores 7 ou 9% de Juros, quando, na verdade, em 1831, rendiam uma média de apenas 3,1 %' Quem Algu mas cidadel com tradições do século XVIII jamais cessaram de ergue: r COnltruçõc:s publicas, mas uma me:trópole nova , tipicamente: industrial. COnlO Bolton, em La ncashire, praticamente nào con struiu qualquer edincio grandioso c inutil antel de t847-8 , li . "O capital lOlal- fixo e de giro - da indústri~ algodoeira foi estimado por McCulloch em )4 milhOes de libras e:m 1835 e: 47 milhôcs de libras em 1845 . 63 )1 -li nà,) SI! ~cllliria desenclJraja do ror e'lpeuên das I:UI11U a dos emprtsti. mus. a 5" .. feitos 110$ gregos em HI24 e Ig~5 e que só cum eçaram ti plt . gJr )uro~ na dt~adü de I g7U'! I: LO~ll. é n!tluf,,1 que u cupi tal investido no ~Xlefltlr IIO~ hdtmlJ especuluti\'os de 1825 e 1835·7 procurasse umü ur lica ç3u aparentem(nte menos deccpcionanle . John Fruncis, obscrvundo li maniu de 1851, assim descreveu o ho. l11.en ~ ricu : ele "via o ucúmulo da ri4uel8 , com o qual um povo indus. tnalr/allt) sempre sobrepuja 05 m~tt)c.J()s co muns de investimento, em. , ~ rc~;!J~) de rorma legitima e jus ta ... O dinh ei ro que em sua juventude 11I.lh ~t "'Ido ~ast~ em emprestltllos Je guerra e, el1l sua maturidade, nas 11l~"a~ liul-a mer~ c~lna s , es ti1 "'iJ agora construindo estradas, empregando 1l1:IU . dc·~)hra e IlIcre~l~ntand o os negócios. A absorção de capital (p c. la f~rrovla) e~a nu n~"lIm O u~l a a~sor~' ào, se 111 a I sucedida, no pais que a clelu :n4.l . Co ntrarWlnenle as flllOuS estrangeira s e aos empréstimos e"lrangc lros, n:1 o pod ia Se r exaurida o u fi ca r to talmente se m valor" , " Se UlIla nutra form:J de in..,eslimenlO doméstico podia ler 'iido cn . ~\llI tr ,lf.b - pnr e'lempl u, na cons lruç;.iô - é uma questão aca dêmica jl.lr<l a ljll:J1 ;1 rc)pU~{;I perll1:JlleL"C em cJUvidi1 . De falO, o c<.lpi tal encon. Irl)U .1) k.rruvias. que nà ô podiam ter sido construidas t;io rapidamente e em tOlO grande escala sem e S~iI torren te de cari tal. e"pcclalmen te lia 1I1l'l.tdc da dé l'a d ~1 ue IH-10 Era uma CCllljUIIIUf.1 fcli/, pOIS de illlc. d.I:JIt I"'''' !ctroviLlS rcsul"eram virtuLllll1ellte todos os prllbJeIlli:tS do cres. CII11el1t o cl:onômico. v 1 r;t\'a~ o ímpe to d 'l indu'itrialiwçào e somellte urna parte da tare. fLI dc"tc hislur iLldo r. A ou tra é truçar a rnobilizução e a trans fer~lIciu de rccur .. us econômicos, a IIdaptaçào da econ omia e da socied ad e ne. cc . . ,,;hia~ para manter o novo .cu rsu revol ucio nário . () pril~lc.ir o ·e tillvez mais trul'ial fi1t o r que tinha que Ser mob iliza. ti\) c. ~r. 'l1 s lerld o era o da mão·de·obra, pois uma economia industrial ~ l gllilrL"il um brusco declínio proporcional da po pulaçã o agrlcola (isto e, rura l) e.Um hrusco aumento d a pop ulat;ào n:10 agrlcola (isto é, cres. l't'lItt:I,"~I H t' urb:JIla). e quase certamente (como no perlodo em apreço) um rapu lu aumento gcr . .1I da po pulaçã o, o que portanto implica em prllllC lf il ill!'i t:i nci:t , III1l hrusco crescimento 110 for necimento de alil;len. lu". /lI in ••:ip.tllllcllte du IIgriculturu dOIll~sticu _ u u seja. urna "re..,olu. 1;:1U ag I icolJ" . , () f.ipidll crescim ento das cid ades e dos agrupamentos nAo IIgrlco. I:t~ li a (ir ;l · Brclanha ti nhn há mui to tcmp o estimulad o n3turalme~te a '\l1te' .1., c,,, J.J kfl,hl" r: J ., n~vlo LI \L1 P"" _ ou seJ", .ntu do fim de no$So pcrh>d o.J , .. ,,,,I'lhJ.JJe Jc '"'r""'" g l"nJ(~ 4U.WtldilJcs de altmentos do.&;ucrio r eu timita . lIJ . clllh,"a " lir~ · H let iln h" ttvn~e )c: lransroflnado em um livre. Ijppor lad or de ali. '!lCUh" " p"n., d" Jê ~ "J" dr: 11110 '. \', ,., 'I f ~ I ~gricul~ura, que feli~ente ~ tão ineficiente em suas fonnu pr~. IndustriaiS que melhOrias multo pequenas - como uma racional aten. çêozinha é criação doméstica, ao revezamento das safras, • fertUba. ção c à disposição dos terrenos de cultivo, ou a adoçlo de novlll8fras - podem produzir resultados desprop orcionalm ente ,randes. E... mudança "grlcol. tinha precedido a revolução industrial e tornou poulveIos primeiros estágios de répid os aumentos populacionais, e o únpe. to naturalmente continuou, embora as atividades agrlcolas britAn'ca. tivessem sofrido pesadamente co m A queda que Se seguiu aos preço! anormalmente altos das gtlerras nap o leónicas. Em termos de tccnolo. gia e de investimento de capital, as mudanças de nosso perlodo foram pro..,a ..,elmente bastante modest as até a déca da de 1840, o pedodo em que se pode di ze r que a ciência e a engenharia agrlcolas atingiram 8 maturidade. O vasto aumento na produção, que capacitou as atividades agrlcolas britânicas na década de 1830 a rornecer 98%o do. cereais • consumIdos por uma população duas a três vezes maior que a de mea. dos do sécul o XVIII," ro i obtido pela adoção geral Ce métodos desco bertos no inicio do século XVIII, pel a r1cionalização e pela expansão da á rea cultiva da. Tudo isto, po r sua Vel, foi oh tid o pela transformaçã o socia l e não tecnológica: pela li4uida,,'Jo (COIII o "Moviltl ent o das Cercus") do culti. vo comu na I da Idade Média com seu ca mpo ab erto e Seu pasto comum, da cultura de subsistência e de velhas a titudes não comerciais em rel a. ção à tcrra . Graças. evolução preparatória dos séculos XVI a XVIII . estH solução rad ica l ún ica do problema agrário, que fez da Grã . Bretanha um pais de alguns grandes proprietários. um númer o modera. do de arrendatários come rciais e um grande núme ro de trabalhad o res con tr atados, foi conseguida com um mlnimo de problemas, embora in termitentemente sorrc s~c 3 re sis tência nao s6 dos infelizes camponeses pobres como tamb élO da pequena nobreza tradi cionalista do interior. O "sistema Speenhi..lmland " de ajuda aos pobres, espontaneamente ad o ta . do por juIzes-cavalhe iros em vários condados durante e depois da fome ~e 1795, roi analisado C0l110 a últ ima tentativa sistemática para salva . guardar a velha soci edade rural Contra a corrosão do vinculo monetá ri o · . As. ~e;5 do l'ril!0' com as qu ais.o interesse agrário busca..,a prOle. ger as atl.., ldades agncolas contra a Cri se posterior a 1815, eram em parte um manifesto contra a ten dê ncia de Se tratar a agricultura Como uma indústriu igual a qu ~lIqllcr oll trll, a ~ er ju lguda pelos critérios de lucro. Mus cst ns rcuçücs cuntra a inlrodu<;i\o final do capitalismo no inte ri or estllvam condenadas e for am finalmente derrotadas na onda do avanço radicol da classe média depois de 1830, pelo novo Decreto dos Pobres de 1834 e pela aboliç,o da, Vis do 7'ri~o em 1846. i I • Segundo use sistem a, os pobres tcriam 8arantido um .. Iário de lubsitllncia aU.vb de. sublldios quando nc:ce.ss6rio; o sistema, embora bem in te.n cio nado, f\'clltualrne.nte. le vou a uma pobr cza ainda maior do que anlu , 65 )2 -i2 •• •• •• •• •• •• •• • •• •• •• •• •• •• •• •• •• • •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• I , Em termos de produtividade econômica, esta transformação social fOI um Imenso sucesso; em termos de sofrimento humano uma tragédia, aprofundada pela depressão agrlcola depois de 181 5, q~e re. _ duzIU os camponeses pobres a uma massa destituída e desmoralizada Depois de 1800, até mesmo um campeão tão entusiasmado do pro: gresso agricola e do "movimento das cercas" como Arthur Young fi. cou abalado com seus efeitos sociais H, Mas do ponto de vista da industrialização, esses efeitos também eram desejáveis; pois uma econo. mia In~uslnal neceSSlta de mão-de-obra, e de onde mais poderia vir esta mao·de-obra senão do antigo setor não industrial? A população rural domestica ou estrangeira (esta sob a forma de imigração, principalmente "Iandesa) era a fonte mais óbvia, suplementada pela mistura de pequenos produtores e trabalhadores pobres' , Os homens tinham . que ser alraldes para as novas ocupações. ou - como era mais provável - forçados a elas, pois inicialmente estiveram imunes a essas atraçôcs ou relutantes em abandonar seu modo de vida tradicional lO. A diriculdade social e econômica era a arma mais eficiente; secundado pelos salários mais altos c a liberdade maior que havia nas cidades. Por várias razões, as forças capazes de desprender os hom ens de seu passado sócio·histórico eram ainda relativamente fracas em nosso perlodo, em comparação com a segunda metade do século XIX . Foi necessária um~ catástrofe realmente gigantesca como a fome irlandesa para produ,:" o tipO de emigração em massa (um milhão c meio de uma populaça0 total de 8,5 mIlhões em 1835-50) que se tornou comum depois de 1850. Não obstante, essas forças eram mais fortes na Grã-Bretanha que em outras partes. Se não o fossem, o desenvolvimento industrial britânico poderia ter sido tão dificultado como o foi o da França pela estabilidade c relativo conforto de seu campesinato c de sua pequena burguC'.sia, que destitulram a indústria da necessária injeção de mão4 dC obra·· , Conseguir um número suficiente de trabalhadores era uma coisa' outra coisa era conscguir um número suficiente de trabalhadores co~ as necessárias qualificações e habilidades, A experiência do século XX tem demonstrado que este problema é tão crucial c mais diOcil de rc4 solver do que o outro. Em primeiro lugar. rodo operário tinha que aprender a trabalhar de uma maneira adequada à indústria, ou seja, num ritmo regular de trabalho diário ininterrupto, o que é inteiramente diferente dos altos e baixos provocados pelas diferentes estaçôes no trabalho agrlcola ou da intermitência autocontrolada do artesão independente, A mãe>-de-obra tinha também que aprender a responder aos incentivos monetários. Os empregadores britânicos daquela época, como os suJ·africanos de hoje em dia, constantemente reclamavam da "preguiça" do operário ou de sua tendência para trabalhar até que ti- vessc ganho um salário tradicional de subsistência semanal, e então parar. A resposta foi encontrada numa draconiana disciplina da mãode-obra (multas, um código de "senhor e escravo" que mobilizava as leis em favor do empregador etc.), mas acima de tudo na prática, sem. pre que possivel, de se pagar tão pouco ao operário que ele tivesse que trabalhar incansavelmente durante toda a semana para obter uma ren. da mini ma (cf. capItulo IO-Ill). Nas fábricas onde a disciplina do ope- rariado era mais urgente, descobriu-se que era mais conveniente em· pregar as dóceis (e mais baratas) mulheres e crianças: de todos os trabalhadores nos engenhos de algodão ingleses em 1834·47, cerca de um. quarto eram homens adultos, mais da metade era de mulheres e meni. nas, e o restante de rapazes abaixo dos 18 anos. " Outra maneira comun de assegurar a disciplina da mãe>-de·obra, que reOetia o processo fragmentário e em pequena escala da industrialização nesta fase iniciai, era o subcontrato ou a prática de fazer dos trabalhadores qualificados os verdadeiros empregadores de auxiliares sem experi! ncia . Na indústria algodoeira, por exemplo, cerca de dois· terços dos rapaz .. e um · terço das meninas estavam assim "sob o emprego direto de tra balhadores" c eram portanto mais vigiados, c fora das fábricas propriamente ditas tais acordos eram ainda mais comuns. O subempregador, é claro, tinha um incentivo financeiro di reto para que seus auxilia re. contratados não se distraissem. Era bem mais diOcil recrutar ou treinar um número suficiente de trabalhadores,qualificados ou tecnicamente habilitados, pois que pou· cas habilidades pré-industriais tinham alguma utilidade na moderna indústria, embora, é claro, muitas ocupações, como a construção, • Um outro ponto de vista sUilenta que o suprimento da mlo·de.obra vem n40 de lIi. tra~sfertnclíu, mas sIm dg aumento da populaçlo 101al , qu e, como sabemos, crescia rapIdamente. Mas isto t um erro. Em uma economia industrial, nlo s6 os nUmeras mas também a pTOpOTrào da força de trabalho nlo a,rlcola deve crescer vertiginosamente IsIO quer dizer que os homens e as mulheres que de outra maneira teriam permanC\;ldo em SUIS aldeias e \ivido como $C U' a:Olepauados têm que $e mudar para outra parte em um certo estágio de suas vidas, pois as cidades 'crescem mais rápido do que sua própria lua natural de crescimento, que em qualquer caso tendia normalmente iI Jer menor do que iI das vllu. Isto é verldico lanlO para o caso em que a população agricola realmente diminui. mantém seu número ou até mesmo aumenta . •• Caso cOOlrário. como os EUA, a Gr~.Brelanha teria udo que depender da imigração em massa . Na verdade , apoiou-se em parte na imjgraç~o irlandesa . 66 continuassem praticamente inalteradas. Felizmente, a vagarosa semi· industrialização da Grã·Bretanha nos séculos anteriores a 1789 tinha produzido um reservatório bastante grande de habilidades adequadas. tanto na técnica têxtil quanto no manuseio dos metais. Assim é que, no continente, o serralheiro, ou chaveiro, um dos poucos artesãos acostumados a um trabalho de precisão com metais, tornou-se O ano cestral do montador·fresador e por vezes deu-lhe O nome, enquanto que na Grã-Bretanha o construtor de moinhos e o "operador de máquinas" ou "maquinista" (já comum nas minas c à sua volta) foi quem desempenhou este papel. Não é um mero ac:dente que a palavra inglesa engineer descreva tanto o trabalhador qualificado em metal quanto (0) ../ t ______________________________________________________________________________ 67 o desenhi stJ Ou planejCldur: pois o grosso do pessoa l tecnico de um nível mais iJlto podiCl ser. e era , recrut ado entre estes homens com qULIlirieaçõcs Illcdnicas e Hut oco nfiantcs , De fiJto, a indus tri ali zação brItânica Cl poiiJ va -se neste fornecimento não planejado das qualificações mais altas, enquanto a indústTla co nllnent(:ll nào podia fazê-lo , Isto ex plicil a chocot nte ntgligêm:ia com a educação têcn ica e geral neste piJis, cujo prcço !>cria pago mai s tarde , Ao lado desse problema de fornecimento dc mão-de-obra, os de fornecimento de capital eram insignifica ntes, In VerS;lnlente à mai oria dos outros países europeus, nào havia escassez de cLlpital aplicável na Grã-Bretanha , A maior dificuldade era que os que cont rolavam i.I mai or parte desse capital no sécu lo XVIII - proprietários de terra, mcrc:.1d ore!>, :..trmadores, financistas etc , - relutavLlm em investi-lo lia s nOvas inulJ!>trias, lIue portanto freqüentemente tinh am 4ue ser Inicia das com p~4uenas economias ou empréstimos c dcscnvolvidJs pela la vra dos lucros, A escassez de capita l local fêz com que os primeiros indU!> lriai s - especia lmente os ho men s que se fizeram por si mesnws (sd(- madt'-mefl) - fo ssem mais duros, mais parcos e mais ávidos. e seu s trabulhadort!s portanto proporcionalmente mais expl orad os; mas isto reneti a O nuxo imperfeito do excedente de investimento naci ona l e nã o sua inadequação, Por outro lado. os ricos do século XVII I estavam preparados para investir seu dinheiro em ce rtas empresas que beneficiavam a in dustr ia ll lação: mais notadamente nos transportes (canais. flicilidades port uárias. estradas e mais tarde também na s ferrovias) e nas nllnas, das quais os proprietários de terras tiravam rn,l'nlll eç lTlesmo quando eles própri os nà o as ge re nciavam, Nem ha via qua lquer dificuldade quant o ã tecnÍl:a cUlllc rcla l c fi. nanceira pública ou privada , Os bancos e o papcl -moedi..l, iH letra!> de câmbio, apólices e ações, as técnicas do comercio ulLri..ll11arino e ataci..ldista, assim como o marketing, eram bastante conhecidos e us hom en s que os con trolavam ou facilmente aprendiam a r<tLê-l o eram em número ab undante. Além do mais, por volta do final do séc ul o XVIII, a polftica governamental estava firmemente comprometida com a supremacia dos negócios , Velhas leis em contr~rio (tais com o o código socia l dos Tudor) tinham de há muit o caído em desuso e foram fin<Jlmenle abolidos - exceto quando envolvia m a agricultura - em 181335 , Na teoria, as leis e as instituições comerciais e financeiras da GrãBretanha eram ridículas e destinadas antes a obstaculizar do que a ajudar o desenvolvimento econômico; por ex~mplo. elas tornavam necessária a promulgaçào de caros "decretos privados" do Parlamento toda vez que se desejasse formar uma sociedade anônima , A Revoluçã o Francesa fo rneceu aos france!>cs - e, através de su a mfluência, ao resto do continente - meca nismos muito mais racionais e eficientes para tais propósitos, Na pr átlC~I, os britânicos se suiram perfei tamente bem e, de fat o, consideravelmente melhor que seus riva IS, Deste modo bastante empírico, nào planificado e acidental, construiu-se a primeira economia industrial de vulto, Pelos padrões moder- ' 6S nos, ela cra pequena e arcaica, e seu arcaísmo ainda marca a GrãBretanha de hoje, Pelos padrões de 1848, ela era monumental. em bo ra também chocasse bastante, pois suas novas cidades eram ma is fe ias e seu proletariado mais pobre d o que em OUlros países· , ~ a tmosfera envolta em neblina e saturada de fumaça. na qual as pálidas massas operárias se movimentavam, perturbava o vi sitante estrangeiro . Mas essa economia utilizava a força de um milhão de cavalos em suas máquinas a vapor, produzia dois milhôes de jardas (ap ,roximada~ente 1.800 mil melros) de tecido de algodão por ano em maIS de 17 milhões de fu sos mecânicos, recolhia quase 50 milh ôes de toneladas de carvão, importava c exportava 170 milhões de libras esterlinas em mercadorias em um só ano , Seu comércio era duas vezes supe rio r ao de seu mais próximo competidor, a Franp, e apenas el1\ 1780 a. havia ullrap_"ssado, Seu consumo de algod:l0 era duas veles superior aos dos EUA, quatro vezes su perior ao da França , Pr,oduzia mais da met,a de do total de lingotes d~ ferro do mundo economicamente desenvolVido ~ ~onsu­ mia duas vezes mais por habi tante do que O segundo pais maIS industriali zado (a Bélgica), três vezes mais que os EUA, e quatro vezes mais que a França, Cerca de 200 a 300 milh ões de libras de ,investiment,o ,de capi tal britânico - um-quart o nos EUA, quase um-qUInto na Amerlca Latin a - trazi am dividend os e encomendas de todas as partes do mun do It , Era, de fato, a "oficina do mundo" , E tanto a Grã-Bretanh a qu an to o mundo sabiam que a revoluçào industria l lançada nestas ilh as nào s6 pelos comerciantes e empresários como através deles, cuja únic:.! lei era comprar no mercado ma is barato e vender sem restrição no mais caro, estava transformando o mundo . Nada poderia detê-Ia . Os deuses e os re is do passado eram im potentes diante dos homens de negócios e das máquinas a vapor do presente, "No gc:ral. li condição da classe tnlbalhadora parece nit idam ente pior na Ing laterra do que na I-=-rança em Itl 30-48", conclui um moderno tll sloriad or. " 69 •• •• •• •• • •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• • •• •• •• •• •• •• •• •• •• •,• ,• •• •• •• ,• • t Terceiro Capítulo A REVOLUÇÃO FRANCESA Um inglês que nâo se .rima cheio de estima e admiraçào pela maneira sublime com que está agora se efeluando uma das mais IM PORTANTES REVOLUÇOES que o mundo jamais viu deve eSlar morto para lodos os senlidos da I'irlude e da liberdade: nenhum de meus patrícios que tenha tido a sorte de presenciar as ocorrências dos últi· moS três dias nesta grande cidade fará mais que testemunhar que minha linguagem não é hiperbólica. The Morning POSI (21 de julho de 1789) sobre a queda da Bastilha . Brevemenle as nações esclarecidas colocarão em julgam eniO aqueles que têm até aqui governado os seus destinos. Os reú fugirão para os desertos, para a companhia dos animais ui vagens que a eles se assemelham; e a Nalureza re cuperará os seus direitos. Saint-Just; Sur La Constirucion de la Fronce, Discours prononcé à la Convenlion, 24 de abril de 1793 . t: , 1 Se a economia do mundo do século XIX foi formada principalmente sob a innuência da revolução industrial britânica, sua polltica e ideologia foram formadas fundamentalmente pela Revolução Francesa. A Grã-Bretanha forneceu o modelo para as ferrovias e fábrica s, o explosivo econômico que rompeu com as estruturas s6cio·econômicas tradicionais do mundo não europeu; mas foi a França que fez suas re· voluçães e a elas deu suas idéias, a ponto de bandeiras tricolares de um tipo ou de outro terem-se tornado o emblema de praticamente tod .. as nações emergentes. e a política europeia (ou mesmo mundial) entre 1789 e 1917 foi em grande parte a luta a favor e contra os principios de 1789, ou os ainda mais incendiários de 1793. A França forneceu o vocabulário e os temas da politica liberal e radical-democrática para a maior parte do mundo. A França deu o primeiro grande exemplo. o conceito e o vocabulário do nacionalismo. A França forneceu os códigos legais, o modelo de organização técnica e cientifica e o sistema métrico de medidas para a maioria dos paises. A ideologia do mu" do mo- derno atingiu as antigas civilizações que tinham até então resistido as (0) 71 idéi~s. européias inicialmente através da I' obra da Revolução FrancesíJ • . ., influência francesa. Esta foi a revoluç ão americana foi um acontecimento crucial na hlstóri(t americana, mas (exceto nos países diretamente envolvidos nela ou po r ela) deix ou poucos Iraços relevantes em outras partes , A Revolução Francesa é um marco em todos os países. Suas repercussões, ao contrário daquelas da re volução americana, ocasionaram os levantcs que levaram à libertaçã o da Amêrica Latina depois de 1808. Sua innuéncia di. O filiai d,a século XVIII, como vimos. Coi uma época d~ crise para os vd~o~ regimes da Europa e seus sistemas econômicos, e sUas últi. mas dCCCldLls foram cheias agitaçõC's pOlíticas, :1S vezes chegando a ~Onto da ~ev~lta, ?e e de mOVimentos coioniais em busca de autonomia, as ve~es atingindo Oponto d. secessão: não só nos EUA (1776-83) mas '."m bem na Irlanda (1782-4), na, Bélgica e em Liégc (1787-90), na Holanda (1783-1). em Genebra e ate mesmo - conformej. se discutiu _ na Inglaterra (1779), A quantidade de agitações politicas é tão grande que alguns 1~1~ 1 f)~,ladu rcs mUI) recentes falaram de um(J "era da revolução democ,fíHlca ', em que, ~ Rc:volução Francesa foi apenas um exemplo, embora o m~IS dramatlco e de maior alcance e repercussão I, ~ Na medida ~m q~e a crise do velho regime não foi puramente um fenomenu frances, ha algum peso neslas observações. Igu allllenle, pod.e-::'ie arg~menlét~ q~e a Revoluçã o Russa de 1917 (que OCUpét uma ~os.H;ao de .I~portancla análoga em nosso século) foi meramente o mms dramatlco de toda uma série de movimenlos semelhantes, tais con,lO os. que, -. alguns anos antes de 1917 - finalmC!n1c puseram fim aos antigos l!nperJ os turco e chinês . Aind:1 assim, há aí um equívoco. A Re~oluça~l Francesa pode não ter sido um fenômeno Isolado, mas foi multo mais fU.~_da,:"cntal uo que os olltros fenômenos contemporâneos e suas consequcnclas ~or'lJll portanto muis profundas . Em primeiro lu- ga r, ela <e deu no ,m~,s populo,o e podero," Estado da Europa (n,i o conSiderand o ét R Ussla) , Em 1789. cerca de um em cada cinco europeus er~ francês. Em segundo lugar, ela foi, diferentemente de todas as rcvoluç oe.s que a precederí.JOl e a ~eguiralt1, uma revolução JOe/al de massa, e Inco~en~uravelmente mais radil.:al do que qualquer levante c.ompará~el. Nao e um fato meramente acidental que os revolucionú_ fiOS u~eflcanos c .os jacob inos britânicos que emigraram para a Fl'an. ça deVido a SUas Simpatias politicils tenham sido vistos Como modera. dos .n~ França. Tom Paint era um cxtrenll!>la na Gr;i.Bretanhil e lia A.mcflcil: mas em Paris cle estava tntr~ os mais moderados dos giron. dlllos .. R~sulLaram .das revoluções amtricanas. grosseiramente falan. uo,.~,uses que .C?n~Jnu3ram ti ser o que ~ram, somente scm o conlrole pol~tlCo dos bntanlcos, espanhóis e pOrtugueses. O resultado da Revo- luçao Francesa fOI que a era de !lalzac substituiu a era de Mme . Dubarry. . . ,I . Em terceiro lugar. entre todas as re voluções contt:mporãneas, (t Revolução ~rancesa foi a única ecumênica. Seus exércitos partiram para re voluclon,u o mundo; suas idéias de fato o revoluci onaram. A Esta diferença enlre as ionuêoclas britaoi, ... (. fraocesõ! n50 deve ser lev.tda mUito lon. Nenhum dos dois 'eot ros di! revolução dupla confioou sua Innuência a Quõ!lqucr c<impo doi at"' ~dadc humana. e o:. dOIS eram anle~ complemenlares que compelHlvoS . I-:lIt rCI"nlU, ate mesmo quando ambos convergia'lI mais clilramcnte _ como no Jo/'la fumu . que f~j quase simultaneamente Inventado e ballll.' do nos dOI S países _, com' cr . glam .. pafllf de dlrc .. ck) um lanlo diferentes . g~ . 72 reta se espalhou até Bengala, onde Ram Mohan Roy foi inspirado por , .• " ela a fundar o primeiro movimento de refo rma hindu, predecessor do moderno nacionalismo indiano. (Quando viFitou a Inglaterr a em 1830, ele insistiu em viajar num navio francês para demonstrar o entusiasmo que tinha pelos principias da Revolução .) A Revolução Francesa foi, como sc disse bem, " 0 primeiro grande movimento de idéias da cris. tandade ocidental quc tCl,le qualquer efeito real sobre o mundo islâmi • co" l, e ist o quase que de imediato , Por volta da metaue: do sécu lo XIX, a palavra turca valDn, que até então simp lesmente descrel,lia o locál de nascimento ou a residência de um homem, tinha comtçado a se transformar, sob sua innuência, em algo parecido com par fie, o termo "liberdade", antes de 1800 sobret ud o u ma expressão legal que denotava O oposto de "escravidão", tinha começado a adquirir um novo conteúdo político. Sua innuência direta é universal, pois ela rorneceu O padrão para todos os movimentos revolucionários subseqüentes, suas lições (interpretadas segundo o gOsto de cada um) tendo sido Incorporadas ao socia lismo e ao comunismo modernos • . A Revolução Francesa é assim a rel,lolução do seu tempo, c não apenas uma, embora a mais proeminente, do Seu tipo . 1:. suas o rigens devem portanto ser procuradas não meramente em condIções gerais da Europa, mas sim na situação especffica da França . Sua peculiaridade é talvez melhor ilustrada em termos internacionais . Durantt! todo o século XVIII a Françli foi o nalior rival econômico da Grã-Bretanha . Seu comércio externo, que se multiplicou quatro vezes entre 1720 e 1780, causava ansiedade; seu sistema colonial foi em ce rtas área s (como nas fndia s Ocidentais) mais dinâmico que o britânico. Mesmo assim a França não era uma potência como a Grã-Bretanha, cuja politica externa já era substancialmente determ inada pelos interesses da ex- pansão capitalista. Ela era a mais poderosa, e sob vários aspectos a mais tfpica, das velhas e aristocráticas monarquias absolutas da Europa. Em outras palal,lra s, o connilo entre a estrutura oricial e os inte resses estabelecidos do velho regime e as novas forças sociais as«ndentes era mais agudo na França do que em outras partes. As novas forças sabiam muito precisamente o que queriam , Turgot, O economista fisiocrata, lutou por uma exploração eficiente da Com isto não queremos subestim:.lr a innuência da revolução americana . Sem dUVida ela ajudou a estimular a Revolução Francesa. e, num Sent ido maiS estreit o, rorneceu modelos constitucionais - competindo e às vezes se Itlternando com a Revolução Francesa - pata vários Estados lat ino·americanos e a inspiração para movimentos de . mocnhico·radicais de tempos em tempos . 7J •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• • •• •• •• •• •• •• •• terra, por um comércio e uma empresa livres. por uma administração eficiente ~ padronizada de um único território nacional homogêneo, pela abolição de todas as restrições e desigualdades sociais que impediam o desenvolvimento dos recursos nacionais e por uma administração e taxação racionais e imparciais. Ainda assim sua tentativa de aplicação desse programa como primeiro.minj~lro no perfodo 1774-6 fracassou lamentavelmente, e O fracasso é caraclerlstico. Reformas dess~ tipo. em doses modestas, não eram incompatlvcis com as monarquias absolutas nem tampouco mal recebidas. Pelo contrário, uma vez que as fortaleciam, tiveram, como já vimos, uma ampla difu- são, n~ss a época entre os chamados "déspotas esclarecidos", Mas na maIOria dos países de "despotismo esclarecido" essas reformas ou era~ inaplicheis, e portanto meros floreios teóricos, ou então impro. vávets de mudar o canlter geral de suas estruturas polltico-sociais; ou ainda fracassaram em race da resistência das aristocracias locais e de outros interesses estabelecidos, deixando o país recair em uma versão um p'ouco mais limpa do seu antigo Estado . Na França elas fracassa~am mais rapidümenle do que em outras partes, pois a resistência dos Interesses estabelecidos era mais efetiva. Mas os resultados deste fracasso roram mais catastróficos para a monarquia; e as forças da mu. dança burguesa eram fortes demais para cair na inatividade. Elas simplesmente transferiram suas esperanças de uma monarquia esclarecida para O povo ou a "nação" . Não obstante, uma generalização desta ordem não nos leva muito longe na compreensão de por que a revolução eclodiu quando eclodiu, e por que tomou aquele curso notável. Para isso, é mais útil considerarmos a chamada "reação feudal" que realmente forneceu a centelha que fez explodir o barril de pólvora da França. As 400 mil pessoas aproximadamente que, entre os 23 milhões de franceses, formavam, a nobreza, a inquestionável "primeira linha" da nação, embora não tão absolutamente a salvo da intromissão das linhas menores como na Prússia e outros bgares, estavam bastante seguras. Elas gozavam de consideráveis privilégios, inclusive de isenção de vários impostos (mas não de tantos quanto o clero, mais bem organizado), e do direito de receber tributos feudais. Politicamente sua situação era menos brilhante .A monarquia absoluta, conquanto inteiramente aristocrática e até mesmo feudal no seu tlhos, tinha destituldo os nobres de su a independência política e responsabilidade e reduzido ao mínimo suas velhas instituições representativas "estados"· e parlemenlS. O rato continuou a se agravar e!ltre a mais a.lta aristoc~a. eia e entre a noblesse de robe mais recente, cnada pelos reis para váriOS rins, principalmente · financeiros e administrativos; uma classe m~dia governamental enobrecida que expressava tanto quanto podia o duplo nu origIna I. Em Inglês -b rilâ nico, a palavra t .UlJlt desig na. quer os bens excep· cio nais que definem um "status". que uma "ordem" ou "classe" SOCial do Ant igo Regi· me td . "Terceiru E::.t.Jd o"). quer uma Corte ou Assemblc ia (nesse caso, ao plural. cf. "O~ bt.Jdl,)::, (jcrals") ~ lrala-s!! port ant o aq ui das Assemblêias ou COfles da Nobreza . ··tsllJles·· 74 descontentamento dos aristocratas e dos burgueses através das as· sem bléías e cortes de justiça remanescentes. Economicamente as preo· cupações dos nobres não eram absolutamente desprezlveis . Guerreiro. e não profissionais ou empresários por nascimento e tradiçilo - os nobres eram até mesmo formalmente impedidos de exercer um olIcio ou profissão -, eles dependiam da renda de suas propriedades, ou, ,e pertencessem 11 minoria privilegiada de grandes nobres ou cortesãos, de casamentos milionários, pensões, presentes ou ' sinecuras da corte. Mas os gastos que exigia o status de nobre eram grandes e cada vez maiores, e suas rendas calam - já que eram raramente administradores inteligentes de suas fortunas, se é que de alguma forma as conseguiam administrar. A innação tendia a reduzir o valor de rendas fixas, como aluguéis. Era portanto natural que os nobres usassem seu bem principal, OI privilégios reconhecidos. Durante todo o século XVIII, na França como em tantos outros palses, eles invadiram decididamente os postOI oficiais que a monarquia absoluta preferira preencher com homens da classe média·, politicamente inorensivos e tecnicamente competentes. Por volta da década de 1780, eram necessários quatro graus de nobreza até para comprar uma patente no exército, todos os bispos eram nobres e até mesmo as intendências, a pedra angular da administração real, tinham sido retomadas por eles. ConseqUentemente, a nobreza não só exasperava os sentimentos da classe média por sua bemsucedida competição por postos oficiais, mas também corroia o próprio Estado através da crescente tendência de assumir a admi~istração central e provinciana . De maneira semelhante, eles - e especialmente os cavalheiros provincianos mais pobres que tinham poucos outros re· cursos - tentaram neutralizar o decllnio de suas rendas usando ao máximo seus consideráveis direitos feudais para extorquir dinheiro (ou mais raramente, serviço) do campesinato. Toda uma profissão, a dOI jeudislas", nasceu para reviver os direitos obso.letos desse tipo ~u então para aumentar ao máximo o lucro dos extstentes. Seu mats celebrado membro, Gracchus Babeuf, viria a se tornar O IIder da primeira revolta comunista da história moderna , em 1796. Conseqüentemente, a nobreza não só exasperava a classe média mas também o campesinato. . A situação desta classe enorme, compreendendo talvez 80% de todos os franceses, estava longe de ser brilhante. De fato os camponeses eram em geral livres e não raro proprietários de terras. E~ quantidade efetiva, as propriedades nobres cobriam somente um-quinto da terra, as propriedades do clero talvez cobrissem out r o~ 6%, com variaçõ~s regionais '. Assim é que na diocese de Montpelher os camponeses Já possulam di: 38 a 40% da terra, a burguesia de 18 a 19%, os nobre. de 15 a 16% e o clero de 3 a 4%, enquanto um-quinto era de terra, co- I I J~ i • cL p. 17. •• Especialistas em direito feudal. (N. T.) ® 75 J~ muns '. Na verdade, entretan1.O, a grande maioria nào tinha terras ou tinhê.l umu quantidade insuficiente, deficiência esta aumen tada pelo atraso técnico dOllllnante; e a fome geral de terra foi intensificada pelo aumento diJ população. Os tributos feudais, os dizimas e as taxas tiraV<lnl uma grande e cada vez maior proporçã o da renda do camponês, e a innaçào rt.:duzia o valor do resto. Pois só a minoria dos camponeses que tinha um constante excedente para vendas se beneficiava dos preços crescentes; o resto, de lima maneira ou de outra, "ofria, especialmente em tempos de má colheita, quando dominavam os. preços de fome. Há pouca dúvida de que nos 20 anos que precederam a Revolução a situação dos camponeses tenha piorado por essas razões. Os problemas financeiros da monarquia agravaram o quadro. A estrutura fiscal e administrativa do reino era tremend amen te obsoleta, c, como vimos, a tentativa de remediar a situação através das reformas de 1774 ·6 fracassou, derrotada pela resistência dos interesses estabelecidos encabeçados pelos parlemellfs. Então a França envolveu·se na guerra da independência ame ri cana. A vit6ria contra a Inglaterra foi obtida ao custo da bancarrota final, e assim a revolução americana pôde proclamar·se a causa direta da Revolução Francesa . Vários expedientes foram tentad os COI11 sucesso t;ada vez menor, mas sempre longe de uma reforma fundamental que, mobiliwnd o a considerável capaçidadc: tributá vel do pais, pudesse enfrentar uma situação em que os gastos excediam a renda em pelo menos 20~~ e nà o havia quaisquer possibilidades de economias efetivas. Pois embora a extravagância de Versailles tenha sido constantemente culpada pel:t crise, os gastos da conto: sô significavam 6% dos gastos totais em 17 88. A guerra, a m~ri. nha e a diplomacia constitulam um-quarto, e metade era consumida pelo serviço da divida existente . A guerra e a divida - ti guerra ameri· cana e sua divida - partiram a espinha da l1lonarquia . A crise do governo deu à aristocracia e aos parlelllf'f/ls a sua chan· ce . Eles sr recusavam a pagar pela crise se seus pri vilégios não fossem estendidos . A primeira brecha no fronte do absolutismo foi uma "as· sembléia de notáveis" escolhidos a dedo, mas assim mesmo rebeldes, convocada em 1787 para satisfazer as exigências governamentais. A se-gunda e decisiva brecha foi a desesperada decisão de convocar os Estados Gerais, 1 velha assembléia feudal do reino, enterrada desde 1614 . Assim, a Revolução começou como uma tentativa aristocrática ,de recapturar o Estado. Esta tentativa foi mal calculada por duas ra. zôes: ela subestimou as intenções independentes do "Terceiro Estado" _ a entidade fictícia destinada a representar todos os que nào eram nobres nem membros do clero, mas de fato dominada pela classe média - e desprelou a profunda crise s6cio-çconômica no meio da qual lançava suas exigências políticas . A Revolução Francesa não foi fe ita ou liderada por um partido ou movimento organizado , no sentido moderno, nem por homens que estivessem tentando levar a cabo um programa estruturado . Nem mesmo cbegou a ter "lideres" do tipo que as revoluções do século XX nos 76 têm apresentado, até o surgimento da figura pós-revo l~ cio nâria de Napoleão. Não obstante, um surpreendente consen~o de Idéias ger~u entre um grupo social bastante coerente deu ao movl"'.ent o revo~uc~.o­ nário uma unidade efetiva . O grupo era a "burgueSia"; suas Idéia! eram as do liberalismo clássico, conforme formuladas pelos "filósofos" e "economistas" e difundidas pela maçonaria e associações informais. Até este ponto os "filósofos" podem ser, com justiça, considera· dos responsáveis pela Revolução. Ela teria ocorrido sem eles; mas eles provavelmente constitulram a ?if~rença e~tre um s.imples colapso de um velho regime e a sua substItuIção rápIda e efellva por um novo . 'Em sua forma mais geral, a ideologia de 1789 era a maçônica, .. pressa com tão sublime inocência na F/aUla Mágica de MOla rt (1791), uma das primeiras grandes obras de arte propagandlsllcas de uma época em que as mais altas realizações artlsticas .p~rte.nceram tant~s ve~ zes' li propaganda. Mais especificamente, as e~lg~nclas do burgul'J foram delineadas na famosa Declaração dos Dlrellos do Hom em e do Cidadão, de 1789. Este documento é um manifesto contra a sociedade hierárquica de privilégios nobres, mas não um manifesto a fav~r de uma sociedade democrática e igualitária . "Os homens nascem e vivem livres e iguais perante as leis", dizia seu primeiro artigo; mas ela também prevê a existência de distinções s~ciais, ain?a que "somen~e ~o terreno da utilidade comum". A propriedade privada era um direIto natural , sagrado, inalienável e inviolável. Os homens eram iguais perante a lei e as profissões estavam igualme~te abertas ao tale~to; mas, se a corrida começasse sem handicapJ, era Igualmente entendido como fato consumado que os corredores não terminariam juntos. A declaração afirmava (como contrário à hierarquia nobre ou absolutISmo) que " todos os cidadãos têm o direito de colaborar na elaboração das lei,"; mas "pessoalmente ou através de seus representantes". E a assembléia representativa que ela vislumbrava como o órgão fundament.al de governo não era necessariamente uma assemb léia democraticamente eleita, nem o regime nela implícito pretendia . e1imi~ar os re.is. Uma monarquia constitucional baseada em uma oligarqUia pOSSUIdora de terras era mais adequada à maioria dos liberais burgueses do que ,a re· pública democrática que poderia ter parecido uma expressão maIS lógica de suas aspirações teóricas, embora algun~ também advogassem esta causa, Mas no geral, o burgues liberal cláSSICO de 1789 (e o Ilb~ral de 1789-1848) não era um democrata mas sim um devoto do conslltucionalismo, um Estado secular com 1iberdades civis e garantias para a empresa privada e um governo de contribuintes e proprietãrios. Entretanto, oficialmente esse regime expressaria não apenas seus interesses de classe mas também a vontade geral do "povo" , que era por sua vez (uma si'gclificativa identificação) "a nação francesa". O rei não era mais Luís, pela Graça de Deus, ReI de França e Navarra, ma~ Luís, pela Graça de Deus e do direito constitucional do Es'tado, ReI dos franceses . "A fonte de toda a soberania", dizia a Declaração, "re77 •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• sidc essencialmente na nação" . E a nação, confo-rme disse o Abade Sieyes, não reconhecia na terra qualquer direito acima do seu próprio e não aceitava qualquer lei ou autoridade que nio 8 sua - nem a da humanidade como um todo, nem a de outras nações , Sem dúvida, a nação francesa, como suas subseqOentes imitadoras, não concebeu inicialmente que seus interesses pudessem se chocar com os de outros po. V?S, mas, pelo contrário, via a si mesma como inauguradora ou participante de um movimento de libertação geral dos povos contra a tirania , Mas de fato a rivalidade nacional (por exemplo, a dos homens de negócIos franceses com os ingleses) e a subordinação nacional (por exem plo , a das nações conquistadas ou libertadas face aos interesses da g~ande lIarion) estavam impllcitas no nacionalismo ao qual a burgueSia de 1789 deu sua primeira expressão oficial. "O povo" identifica do com "a nação" era um conceito revolucionário· mais revolucionário do que o programa liberal-burguês que prete~dia expressáclo. Mas era também uma faca de dois gumes , Visto que os camponeses e os trabalhadores pobres eram analfabetos, politicamente simples ou imaturos, e o processo de eleição, indi. reto, 610 hom ens, a maioria desse tipo, foram eleitos para representar o Terceiro Estado . A maioria da assembléia era de advogados que desempenhavam um papel econômico importante na França provinciana ; cerca de 100 representantes eram capitalistas e homens de negócios , O Terceiro Es tado tinha lutado ac irradamentc, e com sucesso, para obter uma represen tação tão grande quanto a da nobreza e a do clero juntas, uma ambição moderada para um grupo que oficialmente represelltava 95 ~~ do povo. E agora lutava com igu al determinação pelo direito de explorar sua maioria potencial de votos, transformando os Estados Gerais numa asse mbléia de deputados que vo ta riam individualmente, ao contrá ri o do corpo feudal tradicional que deliberava e vota va por "ordens" o u " estados", uma situação em que a nobreza e o clero podiam :iemp re derrotar o Terceiro Estado , Foi ai que se deu a primeira vitória revo lucioná ria. Cerca de seis Semanas apus a abertura dos Estados Gerais, os Com uns, ansiosos por evitar a açào do rei, dos nobres e do clero, constitu íram-se eles mesmo, e todos os que: estavam preparados para se juntarem a eles nos termos que ditassem, em Assembléia Nacional com o direito de reformar a constituição , Foi feita uma tentativa cont ra-revolucioná ria que os levou a formular su as exigências praticamente nos termos <1-. Câmara dos Comuns inglesa , O absolutismo atingia seus ex tertores, conforme Mirabeau, um brilhante e desacreditado ex-nobre. disse ao Rei : "Majestade, vós sois um estranho nesta as- sembléia c: nào tendes o direito de se pronunciar aqui", ) O Terceiro Estado obteve sucesso, contra a rc;sistência unificada do rei e das ordens privilegiadas, porque representava não apena, as opiniões de uma minoria militante c instrufda, mas também as de for· ças bem mais poderosas: os trabalhadores pobres das cidades, e especialmente de Paris, e em suma, .também, o campesina to revolucioná· ri o. O que tran sfo rm ou uma limitada agi\acão reformista em uma re~ n volução foi o fato de que a conclamação dos Estados Gerais coincidiu 'co m uma profunda crise sócio-econÔmica , Os últimos anos da década de 1780 tinham sido, por uma complexidade de razões, um perlodo de grandes dificu ldades praticamente para todos os ramos da economia francesa_ Uma má safra em 1788 (e 1789) e um inverno muito difiéil to~naram aguda a crise, As más safras faziam sofrer o campesinato, poIS Significavam que enquanto os grandes produtores podiam vender cereais a preços de fome, a maioria dos homens em suas insuflciente, propriedades tin ha provavelmente que se alimentar do trigo reservado para o plantio ou comprar alimentos àqueles preços, especialmente nos meses imediatamente anteriores à nova safra (maio-julho). Obviamente as más safras faziam sofrer também os pobres das cidades, cujo custo de vida - o pão era o principal alimento - podia duplicar. Faziaos sofrer ainda mais, porque o empobrecimento do campo reduzia o mercado de manufaturas e portanto também produzia uma depressão industrial. Os pobres do interior ficavam assim desesperados e envolvidos em distúrbios e banditismo; os pobres das cidades ficavam duplamente desesperados já que o trabalho cessava no exato momento em que o custo de vida subia vertiginosamente. Em circunstâncias normais, teria ocorrido provavelmente pouco mais que agitações cegas. Mas em 1788 e 1789 uma convulsão de grandes proporções no reino e uma cam panha de propaganda e eleição deram ao desespero do povo uma perspectiva polltica. E lhe apresentaram a tremenda e abaladora idéia de se libertar da pequena nobreza e da opressão. Um povo turbulento se colocava por trás dos deputados do Terceiro Estado. A contra-revolução transformou um levante de massa em potencial em um levante efetivo. Sem dúvida era natural que o velho regime oferecesse resistência, se necessário com força armada, embora o ex6r· cito não fosse mais totalmente de confiança. (Só sonhadores irrealistas suporiam que Luis XVI pudesse ter aceito a derrota e imediatamente se transformado em um monarca constitucional, mesmo que ele tives· se sido um homem menos desprezlvel e estúpido do q ue era, casado com uma mulher menos irresponsável e com menos miolos de galinha, e preparado para escutar conselheiros menos desastrosos.) De fato a contra-revolução mobilizou contra si as massas de Paris, já famintas, desconfiadas e militantes. O resultado mais sensacional de sua mobilização foi a queda da Bastilha, uma prisão estatal que simbolizava a autoridade real e onde os revolucionários esperavam encontrar armas_ Em tempos de revolução nada é mais poderoso do que a queda ae sim bolos, A queda da Bastilha, que fez do 14 dejulho a festa nacional francesa, ratificou a queda do despotismo e foi saudada em todo O mundo como o principio de libertação _ Até mesmo o austero filósofo Emanuel Kant, de Koenigsberg, de quem se diz que os hábitos eram tão regra dos que os cidadãos daquela cidade acertavam por ele os seu' relógios, postergou a ho ra de seu passeio vespertino ao receber a noticia, de modo que convenceu a cidade de Koenigsberg de que um fato que sacudiu o mundo tinha deveras ocorrido , O que é mais certo é que 79 I I i.I 4ucd:.J da Ha~lIlha le vou a revolução para a~ ddadts prov in ciana s e para o ~<Jl1lpo . Francesa é que uma facção da classe média liberal estava pronta a continuar revolucionária até o, e mesmo além d? , limiar da re~?lução an- As rt:voluções cl.Imponesi.ls sào movimentos vastos, disformes . anônimo:-., mas irresistí veis . O qUI! transfo rm o u uma epidt:mia lh: in· tiburguesa : eram os jacobin os. cUJo nome vela a SignIficar revolução radical" em toda parte. quielação cam po nesa em Por quê? Em parte, é claro, porque a burguesia francesa não ~inha ainda para temer, como os liberais posteriores, a terrlvel memóna da Revolução Francesa . Depois de 1794, Gcaria claro para os m.oderados que o regime jacobino tinha le vado a revoluçilo longe demats .para os objetivos e comodidades burgueses, exatamente como fica na claro UOlí..l co ",,'uls5.o irreversív el foi a combinação dos levantes das cidades pro . . incianas com uma onda de pãnico de massa, que se espalhou de forma o bscura mas r3pidamentc.: por grandes regiões do pais: o chamado Grande Med o ( Grande Peur), de Gns dejulho e princípio de agosto de 17 89 . Três se manas após 014 deju. lho, ti est rutura socia l do feudalismo rural francês c a mjquina estatal da França Real ruiam em pedaços . Tudo o que restou do poderio CSl:.!· tal foi uma dispersão de regi mentos pouco confiávei s. uma Asscrnblêii.l Nacional sem força coercitiva e uma multiplicidade dt.: administrações municipai~ ou provincianas da classe média· que logo montaram "G uarda s Nacionais" burguesas segu ndo o modelo dt! Paris . A classe média e a aristocracia im ediat:.llllcntc aceilarunl o incviüivel : todos os privilégios feudais fo ram oficialmente abolidos embora, quando a situaçào política se aca lmo u, fosse fixado um preço rígido para sua remis· são. O feudalismo só foi finalmente abo lid o em 1793. No final de agos· to, a revo lução tinh a tamb ém adq uir ido seu manifesto formal, a Decla· ra ção dos Direitos do Il omern e do Cida dã o . Em contrapartida, o rei re· sistiu co m suu costumeira estupidez, e set0rcs rev olucioná ri os da classe média, amedrontados com as implicações sociais do levante de massa, começa ram a pensa r que era chegada a ho ra do conservadorismo . Em resum o, a principa l forma da polít;ca rcvolll cion:iria hurgut!S3 fr ancesa e de todas as subseq~enles esla va ago ra bem clara . Esta dram ática d a nça dialética dominaria as gerações futuras . Re petidas veze.s veremos moderados reformadores da classe média mobilil ... nd o as massas contra a resislencia obs tinada ou a contra- revolução . Veremos as massas indo além dos obje tivos dO!l modcrados rum o a !llIi.I !I própri as revoluções socia is, e os mode rados, por sua vez, dividindo-se em um prupo cons:rvador, daí em dian te fatendo causa comum cOln os reacioná rios , e um grupo de esquerda, determinado a perseguir O rest o dos objetivos moderad os, ai nda não alca nçados, com o auxil io das massas , mesmo com o risco de perdrr o controle sobre el as . E assim por diante, com repetições e va riações do modelo re ~istência - mobilização de mass a - inclinaçã o para a esquerda - rompiment o entre os moderados - inclinação para a direita - até que o grosso da classe mê· . dia passe dai em diante para o campo conse rvador ou seja derr otad o pela revolução social. Na maior ia das revoluç ões burguesas subs.· qOentes, os liberais mode ra do ~ vi riam a retroceder, ou transferir-se pa ra a ala conservadora, num estágio bastante inicial. De fato , no século XIX vemos de modo crescente (m ais notadamente na Alemanha) que eles se tornaram absol ut amente relutantes em começar um a revoluçâo, por medo de suas incalculáveis- conseqüencias, prderindo um compromisso com o re i e a aristocracia. A pcculiaridade da Re volução • Cf p 17 MO para os revolucionários que "o sol de 1793" , se fosse nascer de novo, teria que brilhar sobre uma sociedade não burguesa . Por outro lado, os jacobinos podiam sustentar o radicalismo porque em su~ época nilo existia uma classe que pudesse fornecer uma solução SOCial coerente como alternativa à deles. Esta classe só surgiu no curso da revolução industrial, com o "proletari ado" ou , mais precisa mente. com as ideologias e movimentos baseados nel~. Na Re~olução .Francesa. a classe openlria L e mesmo esta é uma deSignação Imprópna para a ma~s~ de assalariados contratados, mas fund a me nta lmente não Industnats ainda não desempenh a va qu alquer papel independente . Eles tinham fome fa zia m agitações e talvez sonhassem, mas por motivOS pr áticos segui~m os lideres não proletários, O campesinato nunca fornece uma alternativa polltic. para ninguém; apenas, de acord o. com a ocasião uma força quase irresistivel ou um obstáculo quase Irremovlve!. A ú~ica alternativa para o radicalismo burguês (se e~cetuarmo'. pequeno!i grupos de ide610gos ou militantes impotentes quan~o destltl:'f- dos do apoio das massas) eram os "sansco.lottes". um movimento dtsforme, sobretudo urbano, de traba lhadores pobres, pequenos artesãos, loj is tas, artlfices, pequenos empresá nos etc . Os sansculottes eram organizados, principalm ente nas "seções" de Parrs e nos clu.bes pollticos locais, e forneciam a principal força de choque da revolução _ etam eles os verdadeiros mamfestantes, agitadores, construtores de ba rricadas . Através de jornalistas como Mara t e H tbert , através de porta.vozes locais, eles também formularam uma polltlca, por trás da qual estava um ideal social contraditório .e vagam~nte definido, que combinava O respeito pela (pequena) propnedade pnvada com a hostl' lidade aos ricos, trabalho gara ntido pelo governo, salános e ~egurança social para o homem pobre, uma democracia extremada, de tgualdade e de liberdade, localizada e direta. Na verdade, .os san~culottes eram um ramo daquela importante e universal tendência polltlca que procu· rava expressar os interesses da grande massa de "pequenos homens" que existia entre os pólos do "burguês" e do "proletário". freqDentc.mente talvez mais próximos deste do que daquele porque eram, afinal, na maioria pobres. Esta tendência pode .ser obse~vada ~os Estados Unidos (sob a forma de uma democracJa)effersonlana e jacksonlana, ou populismo), na Grã·Bretanha (radlcahsm.o),. na F:a~ça (com os a~· tecessores dos futuros "republicanos" e rad,ca,s-soc,ahstas), na Báha (com os mazzi nianos e os garibaldinos) e em toda parte . Na malona 81 •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •.' •• :1 •• •• •• • .-----------------------------------------------------------------------------, •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• • das vezes, ela COSlUn;lOU se colocar, nas épocas pós-revolucionárias como uma ala csquerdi~ta do liberalismo da classe média, mas relutan~ te em abandonat o antigo principio de que não há inimigos na esquer- da, ~ pronta, em tempos de crise, a se rebelar contra nheiro" , "os ?lonarquistas econômicos" ou "3 "3 muralha de di- cruz de ouro que cruci. fica a humanidade" , Mas o movim ento dos sansculottes também não fornece~ nenhuma alternativa real. O Seu ideal, um passado dourado de aldeoes e pe,quenos_ artesãos ou um futuro dourado de pequenos fa~ende.lros e arufices nao perturbados por banqueiros e milionários era Irre:ll!závcl. A história se movia silenciosamente contra eles. O m'áximo ~ue po~iam razer - c isto eles ~on.seguiram em 1793-4 _ era erguer o~slaculos a sua passagem, os quais dificultaram o crescimento econômico rrancês ~aquela ~poca atê quase a atual. De rato, o sansculotism~ fOi um fenomeno tao dc~amparado que seu próprio nome estã praticamente esquecido, ou só c lembrado como sinônimo do jacobinismo que lhe deu hderança no Ano 11. i ~l II , Entre 1789 e 1791,'a vitoriosa burguesia moderada, atuando atraves do que tinha a esta altura se transrormado na Assembléia ConstitUinte, tomou providências para a gigantesca racionalização e rerorma da Franç~, que era seu objetivo , A maioria dos empreendimentos ins- tl1~ClOnals ?uradouro~ ~a , revoluçào datam deste periodo, assim como o~ seus mais extraordmanos resultad os internacionais, o sistema mêtnc~ e a emancipaçã?, pioneir~ d?s judeus, Economicamente as perspec~I ,vas da Assemblela Constituinte er3m inteiramente liberais: sua pohtlc,a em relação aos camponeses era o cerco das terras comuns e O I~centlvo,ao~ empresários rurais; para a classe trabalhadora, a interdi- çao dos Sindicatos; para os pequenos artesãos, a abolição dos grêmios e corpora,ções , Dava pouca satisração concreta ao povo comum, exce- to, a partir de 1790, com a secularização c venda dos terrenos da Igreja (bem como des terrenos da nobreza emigrante) que tinha a tripla vantagem de enrraquecer oclericalismo, rortalecer o empresário rural e provlOcH,lno e dar a, mUitos camponeses uma retribuição mensurável por suas alividades revolucionárias, A Constituição de 1791 rec~açou ,a, democracia excessi~a ~través de um sistema de monarquia cor,stituclonal ~aseada num dlfelto de voto censitário dos "cidadãos ativos" re- -, .,," vil do Clero (1790), uma má concebida tentativa de destruir não a Igreja, mas a lealdade romana absolutista da Igreja, lev?u a maioria do clero e de seus fiéis à oposição, c ajudou a levar o rei à desesperada c afinal suicida tentativa de fugir do país, Ele foi recapturado em VarenneS Uunho de 1791) c daí em diante o republicanismo tornou-se uma força de massa; pois os reis tradicionais que abandonam seus pov~s perdem o direito à lealdade, Por outro lado, a Inconu?lada cc?nom,. de livre empresa dos moderados acentuou as nutuaçoes no nlvel dos preços dos alimentos c conseqüentemente a militânda dos pobres das cidades, especialmente em ParIS, O preço do pão regIStrava a tempera- iI''I tura política de Paris com a exatidão de um termômetro e as massas de Paris eram a rorça revolucionária decisiva: não por ,mero acaso, a nova bandeira nadonal rrancesa foi uma combinação do velho branco real com as cores vermelha c azul de Paris, . . A eclosão da guerra agravou a situação; isto ~u~r dizer q,ue ela ocasionou uma segunda revoluçào em 1792, a Repubhca Jacobina do Ano 11, e, conseqüentemente, Napoleão, Em outr~s pala vras, ela transrormou a história da Revolução Francesa na hlStona da Europa , Duas forças levaram a França a uma guerra geral: a extrema di- , reita c a esquerda moderada, O rei, a nobreza francesa, c a crescente emigração aristocrática c eclesiáslica, ac~mpados ~m vánas Cidades da Alemanha Ocidental, achavam que só a Intervençao estrangeira poderia restaurar o velho regime', Esta ,intervençã? nã~ f~1 mUlt~ facilmente organizada, dadas as compleXidades da sltuaçao internaCIOnal c a, relativa tranqUílidade polltica de outros palses, Entr.ta~to, ~ra cada vez mais evidente para os nobres c os governantes por d"e~to diVinO de outros países que a restauração do poder de Luis X VI n!o era meramente um ato de solidariedade de classe, mas uma proteçao Importanlo contra a dirusão de idêias perturbadoras vindas da França, Conseqüentemente, as forças para a reconquista da França concentraram-se no exterior. , , I Ao mesmo tempo, os próprios liberais moderados, e pnnclpamente um grupo de politicos que se aglomerava em torno dos de,putados do departamento mercantil de Gironda, eram u.ma forç,a behcosa, Isto se devia, em parte, ao rato de que toda revoluçao genulna tende a scr ecumênica , Para os franceses , bem como para s~us numerosoS SH~. patizantes no exterior, a liberl,ação da França era slmples~ente o pn- conhecidamente bastante amplo, Esperava-se que os passivos honras- meiro passo para o triunfo Universal da hberdade: u~a atitude que I~­ vou facilmente à convicção de que era dever da patna da revolução hberlar todos os povos que gemiam debaixo da opressão c da t,,~n~a , bora a esta altura fortemente apoiada por uma poderosa facção bur- generosa e genuinamente exaltada em. dlfu~d" a hberdade; uma inabilidade genuina para separar a causada naçao rra~cesa daquela de toda sem sua denominação, Na verdade, isto não aconteceu , Por um lado, a monarquia , em- " Havia entre os revolucionários, modera,dos e, extr~mlstas, uma p,alxa? guesa ex-revolucionária , nào podia se conformar com o novo regime, A. corte sonhava e conspirava por uma cruzada de primos reais que ba-' nlSse a c,a~alha governante de plebeus c restituisse o ungido de Deus, o a humanidade cscravizada. O movimento rrances, assim como todos mUI catohco rei da França, a seu lugar de direito, A Constituição Ci82 • ('orca. de )UO 0111 franceses emigraram entre 1789 e 1195' 83 I I 1 I I 1 I! os outros movimentos revolucionários. viriam a aceitar este ponto Oe vista, ou a adaptá-lo, dai at~ pelo menos 1848. Todos os planos para a dos povos, sob a liderança dos franceses, para derrubar a reação curo. péia; e, depois de 18JO, outros movimentos de revolta nacional e libe- rai. como o italiano c o polones. também tenderam a ver suas nações em certo sentido como o Messias destinado por sua própria liberdade a iniciar os planos liberlários de lodos os outros povos. Por Oulro lado, considerada menos idealislicamenle, a guerra lambém ajudaria a solucionar numero,os problemas dom~slicos. Era tentador e óbvio atribuir as dificuldades do novo regime às conspira. I 'I I l' " çôes dos emigrantes c dos tiranos estrangeiros, e lanç;u contra eles os populares desconlenles . Mais especificamenle, os homens de negócios argumentavam que as perspectivas econômicas incertas, a desvaloriza. ção da moeda e oulros problemas só podiam ser remediados se a ameaça de inlervenção fosse dissipada. Eles e seus ideólogos deviam pensar, com uma olhadela na experiência britânica, que a supremacia econômica era filha da agressividade sislemálica. (O século XV 111 não foi um século em q~e o homem de negócios bem·sucedido estivesse: ab. solulamenle casado com a paz ,) Além do mais, como logo se veria, a guerra podia ser Ceita para dar lucros , Por todas estas razões, a 'maio. ria da nova Assembléia Legislativa, exceto uma pequena ala direitista e uma pequena ala esquerdista sob o comando de Robespierre, prega. va a guerra . Por eslas razões lamb~m, quando a guerra chegou, as conquist~s da revolução viriam a combinar a libertação. a exploração e a digressão polftica , ' A guerra foi declarada em abril de 1792. A derrola, que o povo (bem plausivelmente) atribuiu à sabotagem e à traição real, trouxe a radicalização. Em agoslo-selembro, a monarquia foi derrubada, a República eslabelecida e 'uma nova era da hislória humana proclamada, com a insliluição do Ano I do calendário revolucionário, pela ação armada das massas sansculOlles de Paris, A heróica idade de ferro da Revolução Francesa começou entre os massacres dos prisioneiros POlílicos, as eleições para a Convenção Nacional - proyavelmenle a mais nOlável assembl~ia na hislória do parlamentarismo _ e a conclamação para a resistência total aos invasor~s, O rei Cai Ccito prisionciro e a invasão estrangeira sustada por um nada dramático duelo dc arti. Iharia em Valmy. As guerras revolucionárias impõem sua própria lógica. O partido dominante na nova Convenção era o dos girondinos, belicosos no cx. tcrior e moderados em casa, um corpo de oradores parlamentares com charme e brilho que represenlava os grandes negócios, a burguesia provinciana e muita distinção intelectual. Sua política era inteiramente impossível, pois somente ESlados em campanhas mililares limiladas e Com forças regulares estabc:lc:ddas poderiam ter esperanças de mantc:r a guerra e os problemas domésticos em compartimentos estanques. como fazian'l exatamente nesta época as senhoras e cavalh~jros briu\. 84 •• •• •• •• •• •• •• • •• ~:voOI~~~a: :i~~t~~:~~~~~e~~tra~i'i~i~~:~~a:a:~redt~~~~a~a:j:;:~i~~a~: •• •• •• •• •• n •. m • . os dos romances de Jane Austen , A revolução não, estava em uma nlC panha limitada nem tinh a Corças estabelecida s. pOIS '\ua guerra os· ~~I~va entre a vitória tala I da revolução mun~ial, c a derrotas~o~~o'uq~~ significava a total contra·rev?lução, e ~eu exerclt~ -:o~~fel o maior velho exército Crancês - era Incapaz c Insegu~o : ,u . éto. general da Republica, logo desertaria p~ra" o 1n~:I~e~' uS~~~~~~r~ des. dos revOIU~iOq::r~o~i~~~aP:~ecs~~e;~~~~i~C~~I:i:Plesment~ a derrotaNda sas. mesm , C i métodos roram encontrados , o intervenção eSlran,gelra : De ma~~~~~lica Francesa descobriu ou invendec~rrer de, s~Oal~rl~e~:l;f:obilização dos recursoS de uma,nação atra: libertação européia até 1848 giravam em torno de um levante conjunto , . •• ~~~ ~~~~~~~lame~lO, do racion,amenlo e ?e~ uma e~~~~~I~od:x~~:i~r~ rigidamenle conlrolada, e da VlrlU;l ;bo~~anO~s~~ própria época hislóda distinção entr~ soldados e CIVIS, da~1 implicações desta descoberta , rica que se manlCestaram ~s t, re~~ra de 1792.4 permaneceu por muito Uma vez que,a g~erra rev~ uC,l~na maioria dos observadores do século tempo um eplsódl,o eXcepCI?n,a 'mas uando muito observar (c mesmo XIX nào conseguIu entendrl": . d fi;" da era vitoriana) que as guerras isso Coi esqueCido até a opu en cla o '"es vencem guerras de outro modo levam a revoluções e qu~ as rc;,oIUÇ~emos ver quanto do que se passou invenciveis , Somente hOJe e~'TIa po "d 1793-4 faz sentido apenas nos na Republica Jacobina e no errar e I d forço de guerra lola . termoOS de um r~le~rs~~J~ram um governo rc vo lucio.ná ri ~ de guerra. e , mente deCendiam que so assim a contras sansCU o bém porque seus meto os mo o Cato de que nenhum esCorço cial .mais para perto , ~Ele~ ~esP~~~~~~1 com a democracia direta, vo. eCetlvo de guerra m~ erna e c~ . nlavam) Os girondinos, por oulro luntária e. descentrahza~~ qu.: acal~ticas da' combinação de uma revo. lado, temiam as conseqUencl,is po I s provocaram Nem estavam pre. com a guerra que e c ',. - d luçao e massa . rd 'l Eles não queriam Julgar ou com a esque ',' , " "a MontaParados para , competir . h' compelir com seus rlV.IIS, executar o rei, mas lIn am q~c I v lucion:irio' a Monta. nha" (os jacobinos),. por :sle s~bo~~~e ~~ro:~lr~ lado, os girondinos nha ganhou presllglo, nao, a IrO . ara um. cruzada ideológica gequeria~ real~ente ~xpandl~ as:~~~~r~lO ao grande rival econômico, a ral de hberlaçao e para um ~ . . m sucesso . Por voha de março Grã·Bretanha, Neste parucu ar tivera ntra a maior parte da Europa e 1 I. ~i~~:9~~~oFr~í~7~ ~st:~:x:~Õ~~e::I~;~~ei~as (Iegitimad:s ~i~~~) r~:~~ inventada do~trina do ~ir~ito Crances l~~n~~o~~c::a~~~ ~~ rort~leceu a expansão da guerra, Prtndclpalmencl~ qla Balendo em ret'i rada e derrota. nica que po Cria ven c- , I' d, esque: a,' u _ . d' f ' fi -Imenle levada a alaques mal caleu ada taticamente. a Glron a 0 1 \na se transrormariam em uma revolta dos conlra a esquerda, que 1~gpo. . Um rápido golpe dos san,culotprovinciana orgunllada contra afls . ~5 22. • er------------------------------------------------• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• tes derrubou-a em 2 de'Jun h o de 17 93 . Tmha . cabina. chegado a República Ja- 1II Quando o leigo instruido pensa na R 1 acontecimentos de 1789 mas . I evo ução Francesa, são os Ano 11. que vêm à sua ~ente ~~~,a ~ente a RepCtblica Jacobina do co e dissoluto Danton, a gélida elegfcrtlgado robesPI~rre, o ~,gantes­ , o gordo Marat, o Comitê de Salvaçã~~~~~'vo uClO,nbána de Samt~Just, no e a guilhotina são as lmá ens Ica, ~ tn unal revolucIOná. prios nomes dos revolucionfri que vemos maIS claramente. Os próbeau e Lafayelte (1789) e os I'd os mode~~dos que surgem entre MiramemÓria de todos exceto I deres~~co !n~s (1793) desapareceram da lembrados apenas c~mo um os Istotla ores. Os girondinos são politicamente sem im t- ,grupo, e t~lv~z por causa das mulheres eles _ MOle. Roland :"o~~~~I:t~~ rodmanQtlcas que estavam ligadas a cializado. conhece s e ar ay" uem, fora do campo espedo resto? Os conser~i~~~e~sc;;~~es de B~lssot, Vergniaud, Guadet e ror da ditadur d h' . . m uma Imagem duradoura do Terpel~s padrões "é~ul~st~r~ca e desenfreada sanguinolência, embora conservadoras con tra as rev~I:;~smo p~los padrões das repressões que se seguiram à Comuna de Pari:d~of~~IS, taIS como os massacres fossem relativamente modestas' 17 'I I, su~s matanças em massa I" . . ml execuçoes ofiCIaIS em 14 me ses ' Os pri~ira ~:v~bulf~~narJosl es~ecia.lme!1te na França. viram-na como ~ Pois esta nlo era u~~ rp~vc~' ~~~~lraç~,odde tal da 8.'~volta subseqOente. dianos. me I a pe os cruenos humanos coti- :0 Isto é verdade Mas para o f . d órd tava por trás do Te'rror ele ã rances a s I ~ classe média que esmas primeiramente e s~bret~d~ e~aún~m patológICO nem apocallptico, seu pais, Isto a República J b' OICO método efetIVO de preservar foi sobre-humano. Em junh~~e '~~9~0~~~ulu~ ~eu empreendimento ceses estayam em I ,,os eparlamentos franmães estavam inva~~~~aac;ntra par;s; os exércitos dos prlncipes aleatacavam I I rança pe o norte e pelo leste; os britânicos Quatorze ~e~e~um~i~e;~r~~ste: o pais achava-se desamparado e falido. os invasores tinham sido e~ t~~a a Franç~ estava sob firme controle, ocupavam B' I' P os, os extrcltos franceses por sua vez a e glca e estavam perto de começar um I d d 20 anos de quase ininterrupto e fácil triunfo militar Ai ~er O ~ e volta de março de 1794 é" . n a aSSIm, por ~rafmantido pela metad~ ~:C~:t~~~o~~~~~~~~ 7~;i~ro;::.~o~ ~nterior a rancesa (ou melhor, do papeld .' . a moe- i~:::c~en:~~~t~uldo) er~ mantir~~~o:v~~~~::~tá;.~~ :~'~~~t~:: SI André o pas~a o e o uturo. Não é de admirar que Jeanbon en;bora f~s~e ~~m~~~~a~~pb~~~·cdO Comitê dedSalvação Pública que, 86 I ano, maIS lar c se tornaria um dos I mais eficientes prefeitos de Napoleão, olhasse para a França imperial com desdém quan do ela cambaleava sob as d~rrotas de 1812-3. A República do Ano 11 tinha enfrentado com sucesso crises piores e çom menos recursos . . I Para estes ho mens, como de fato para a maioria da Co.nvençlo Nacio nal que na fu ndo deteve o controle duran te todo este penado, a escolha er.' simples: ou o Terror, com todos 0$ seu defeitos do ponto de vIS ta da clas~e médIa, ou a des truição da Revolução, a desintegração do Estado nacional e prov avelmente - Já não havia o exem plo da polônia? - o desaparecimento do pais. Muito provavel mente, exceto pela desesperada crise da França, muitos deles teriam preferido um regime menos ferrenho e certamente uma economia controlada com menos rigor: a queda de Robespierre levou a uma epidemia de descontrole econômico, rraudes e corrupção que incidentalmente culminou numa inDação galopante e na bancarrota nacional de 1797. Mas melmo do ponlo de vista mais estreito, as perspectivas da classe média rrancesa dependiam das de um Estado nacional centralizado, forte e unificado. E, de qualquer forma, poderia a Revolução que tinha praticamente criado os termos "nação" e "patriotismo" em seus sentidos modernos, abandonar a grande narion ? A primeira tarefa do regime jacobino foi mobilizar o apoio da massa contra a dissidência dos notáveis e girondinos provincianos. preservar Ojá mobilizado apoio da massa dos sansculottes de Paris, algumas de cujas exigências por um esforço de guerra revolucionário recrutamento geral (o le vé< e/l masse), terrorismo contra os "traidores" e controle geral dos preços (o "maximum") - coincidiam de qualquer forma com o senso comum jacobino, embora suas outras exig!ncias viessem a se mostrar problemáticas. Uma nova constituição um tanto radicalizada, e até então retardada pela Gironda, foi proclamada. De aco rd o com este nobre documento, todavia acadêmico, dava-se ao povo o sufrágio universal, o direito de insurreição, trabalho ou subsistência, e _ o mais significativo - a declaraçlo oficial de que a felicidade de todos era o objetivo do governo e de que os direitos do povo deveriam ser não somente acccsslveis, mas também operantes. Foi a primeira constituição genuinamente democrática proclamada por um Estado moderno. Mais concretamente, os jacobinos aboliram sem indenização todos os direitos feud'ais remanescentes, aumentaram aI oportunidades para o pequeno comprador adquirir as terras confiscadas dos emigrantes e - alguns meses., mais tarde - aboliram a escravi- • "Vós sabcis que espécie de governo (saiu vi1orioso)? .. Um l overn o da Convençlo. Um governo de jacobinos apai~onados, com bonés vermelhos, roupas grosseiras de 11 e tamancos de madeira. que viviam de pão puro c cerveja barata e dormiam em colchões atirados sob re o chão de seus locais de rcuniJo. quando citavam de.nasíadamente cansados para se levantar e contínuar com as deliberações. Eu rui um deles, CIvalheiros. E Ilqui. como n05 aposentos do Imperador em que eSlOu a pon lo de entrar. gloririCo este rato." Citado em J . Savant. L~J Pr~f~lS d~ Nopolto" ( 1958), 111·2. 87 ~ I 23 dão nas colóni,s francesas, a fim de estin;ular os negros de São Domingos, lutarem pela República contra os ingleses . Estas medidas obtiveram os mais amplos resultados. Na América, ajudaram a criar o primeiro g rande lider revoluciunário independente. Toussaint· Louverture • . Na França, estabeleceram essa cidadela inexpugnável de pequenos c médios proprietários camponeses, pequenos artesãos e lojistas, economicamente retrógrados. mas apaixonadamente devotados à Revolução e á República, que tem dominado a vida do pais desde então. A transrormação capitalista da agriculLura e da pequena empresa, 8 condi!;ào essencial para um rápido desenvolvimento econômico, foi redUlida a um rastejo, c com tia a ve locidade da urbanização, a expan· são du mercado doméstico, a multiplicação da classe trabalhadora e, conseqüentemente, o ulterior avanço da revolução proletária. Tanto os grandes negócios quanto os movimentos trabalhistas foram longa· mentI! condenados a permanecer fenômenos minoritários na França, ilhas ccrcad:.Js por um o~eano de donos de mercearia vendedores de cereais, pequen os proprietários camponeses e donos de ca fé~ (cf. car ítu· lo 9). O centro do novo governo, representando uma aliança dejacobi· nos e sansculottes, inclinou·se, portanto, claramente para a esquerda . Isto se renetiu no reconstruído Comite de Salvação Pública, que rapi. dal11ente se transformou no efetivo Minis1crio da Guerra francês . O Comitê perdeu Danton, um revoluc ionário poderoso, dissoluto e provave lmente cor rupt o, mas imensamente t::.lentoso e mais moderado do que aparentavéJ (tinha sido ministro na última administração real), e ganhou Maxirnilien RobesP!erre, que: se torn ou seu membro mais in· fluente . Poucos historiadores tem sido desapaixonados TI respeito deste advogado fanático, frio e afetado, com seu senso um tanto excessivo de monopólio privado da virtude, porque ele: ainda encarna o terrlvel e glorioso Ano 11 a respeito do qual ninguém é neutro . Ele não era uma pessoa agradável; até mesmo os que acham que ele estava certo ten· dem hoje em dia a preferir o brilhante rigor matemático daquele arquiteto de paraísos espartan os , o jovem Saint-Jus!. Não foi também um grande homem , e sim muitas vezes limitado . Mas é o único individuo projetado pela Revolução (com a exceção de Napoleão) sobre o qual se desenvolveu um culto . Isto porqu e, para ele, como para a história, a Rerúblic~ Ja cobina não era um instrumento para ganhar guerras, mas sim um ideal : o terrível e glorioso reino da justiça e da virtude, quando todos os bons cidadãos fossem iguais perante a nação, e o povo tivesse' liquidado com os Iraidores. Jean Jacques Rousseau (cf. adiante capitulo 13-IV) e a cristalina convicção de justiça deram-lhe sua força . Ele o {racas)o da Fr!lnça napoleônic3 em retomar o Haili foi uma du pn nClpalS razões p"rêl ·a h4uidao.;ão d~ toJo o remanescente Impt no Americano da França, que foi ven· dido pelo Termo de Cllmrra d .. Louisl ana (em 180l) 80S EU~ . A~slm , um a conse· 4ilélllo:ld ~"tra da dlfus,lo du jacoblnl)ll1o na Arnerica foi a transformêlçà o dos I!.UA numa púlênl:la de dlnl~nSÕ~ s connnentalS ~~ não tinha poderes ditatoriais fo rmais nem mesmo U~1 cargo, sendo simplt:smente um membro do Com itê de Sal vação ~ubllca, que era por sua vez um mero subcomite da Convenção - maiS poderoso, emb~­ ra jamais tudo-poderoso. Seu poder era o do povo - aS massas ~an­ sien ses : seu terror, o delas . Qu an do elas o abandona~am, ~Ie caIu . ° A tragédia de Robespierre e da República Jacobina fOi que eles mesmOS foram obrigados a afastar este apoIo . O regime: era u~a aliança entre a classe média· e: as massas trabalhadoras, mas voltaCJo para a c1<Jsse média . As concessões jacobi nas e sansculolles er~m toleradas s6 porque, e: na medida em que, liga v a~ as ma ssas a~ regIme sem <.Ite~r?­ ril<.lr os proprictârios; e dentro. da a ll an~a ~sJ acobln~s da c\as~e media eram decisivos. Além do mai S, as pr.oprl as n~ce.ss ,dade s. da guerra obrigav<J1ll qUillquer govern o a cl: lltrallz.ar e <.I. dl ,sclpllnar ...a~.cu.stas .d a livre democracia direta e loca l dos clubes e grem.\Os, as mllt clas ocasIonais e as renhidas eleições livres t.:rt\ que n orC~CléJll1 os sans cuhHtes. O mesmu processo que, durante" Guerra CIVil Espanhola de 1936-9, rorwleceu os co muni sta s à custa dos anéJrqulslaS, ro rtal~ce u os Ja,coblnos do tipo l!t! Sairll·Just à cu sta dos .san~cu l o ttes dO.I~pO de He ~ert. Po r volta de 1794, o governo c li política eram. ~lOn o lttlC Os e dom~lna. 'dos ferreamente por agentes diretos d o Comlte ou da Co nvenç.a? atravcs de ddegados ell ,,"SS;Ofl - e po r U111 amplo ~uadro de Onclals .e funclOnúrios jacobinos juntame nte com organlzaçocs locaiS do par~l' do, Por r·im, aS necessidades econômicas da guerra ~fas1ar.11ll o apoIo popular . Nas cidades, o controle de preços e o racIOnamento b~nefl­ ciav<.illl <.\) mas~as, mas o co rrespo ndente congelament~ dos sa Janos as prejudicava . No campo, o confis~o sistem~tic? de alimentos (que os sansculottes das cidades tinham Sido os prunclros a advogar) afastou os camponeses. As massaS portanto re colher.am.se ao. descontentan ~e nlo .ou a uma passividade confusa e ressentida, esp.ecl:::.lmente dep OIS do lul ga · menta e execução dos hébertistas, os mais ardentes porta·voles dos sa nsculottes. Enquanto isso, os defensores mais modc.ra.d os. d~ ~evo. lução estavam alarmados COm ataque contn~ a ~poslçao dlr.eltlsta,.a ° esta altura encabeçada por Danton. Esta facçao linha fornecido refugio para numerosos escroques, especuladores, operadores do me~cado negro c outros elementos corruptos embo~a ~cumulador~s de capital, e isso tão mais prontamente quanto o propTlo Danten IOcorporava a imagem do livre amante e_ gastador al~oral, falstaflano , 4 ue sempre surge no início das re voluçoes SOCiaiS ate que seJ,a suplantad o pelo rlgl· do puritanismo que invariavelmente vem domtná·lo . Os Danlons da história são sempre derrotados pelos Robespierres (ou p~r a~ ueles que fingem se portar como Robespierres), porque a dedlcaçao nglda e estreita pode obter sucesso onde a boêmia não o consegue: Entretanto, se Robespierre conquiS10Y o apoIo dos moderados por elllnlnar a cor- • Cf. p. t1 ~9 •• •• •• •• •• •• • •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• • ·• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• • - rupçào, o que se apresentava afinal de contas no interesse do csfor o Monarquia Constitucional (1830-48), a República (1848-51), e o Im. pério (1852-70) - foram todas tentativas para se manter uma sociedade burguesa evitando ao mesmo tempo o duplo perigo da república de· mocrática jacobina e do velho regime. A grande fraqueza dos termidorianos era que eles não desfruta. vam de nenhum apoio polltico (no máXImo, tolerância), <s primidos l de guerra, as ultenores restrições à liberdade a à ação de ganhar di. nhelro foram maiS desconcertantes para o homem de negócios. Final- }I1ente, nenhum grande corpo de opinião gostava das excursões ideoló. glcas un: l~nt? ex~ravaganles do período - as sistemáticas campanhas d~ des~r.lStlanllaçao (devidas ao zelo dos sansculottes) e a nova reli. glão Clvlca de Robespierre, a do Ser Supremo, cheia de cerimônias, como estavam entre uma revivida reação aristocrática c os pobres que tent ava contrapor-se aos ate,us e levar a termo os preceitos do divino ~~ an J acqu e ~. E o constante Silvo da guilhotina lembrava a todos os sansculoUes jacobinos de Pam, que logu se arrependeram da queda de Robespierre. Em 1795, projetaram uma elaborada const ituição de controles e ba lanços para se resguardarem de ambos, e as periódicas poh tlcos que ninguém estava realmente a salvo. viradas para a direita e a esquerda os mantiveram em precário Po r vo lta de abril de 1794, tan to a direita quanto a esquerda ti. nham Ido pa.r~ a gualho,tlO3 , e C?S seguiJores de Robespierrc estavam equilíbrio; mas cada vez mais tinham que depender do exército para dispersar a oposição. Era uma situaçiio curiosamente. semelhante à da Quarta República, e o resultado foi semelhante: o governo de um ge· neral.· M as o Diretório dependia do exército para algo ma is do que a supressão de golpes e consplfações periódicas (várias em 1795, a de Babeuf em 1796, a do Frutidor em 1797, a de Floreal·em 1798 e a da Pradaria em 1799)" . A inatividade era a única garantia seg<Jra de pe>der para um regime fraco e impopula r, mas a classe média necessitava de iniciativa e de expansão. O exército resolveu este problema aparen· temente insolúvel. Ele conquIStou; pagou·se a si mesmo; e, mais do que istb, suas pilhagens e conquistas resgataram o governo . Teria sido surpreendente que, em conseqOé~cla, o mais inteligente e capaz dos lideres do exército, Napoleão Bonaparte, ti vesse decidido que o exérci· to podia prescindir totalmente do débil regime civil? Este exército revolucionário foi o mais formidável rebento da República Jaco bina. De um I,,'ie en mas.. de cidadãos revolucionários, ele logo se transformou em uma força de combatentes profissionais, pois não houve recrutamento en tre 1793 e 1798, e os que não tinham gosto ou talento para o militarismo deserta ram em massa. Portanto, ele reteve as caracterlsticas da Revolução e adquiriu as caracterfsticas do interesse estabelecido, a tip ica mistura bonapartista. A Revolução deu· lhe sua superioridade militar sem precedentes, que o soberbo gene· ralato de Napoleão viria a explorar. Ele sempre permaneceu uma esp6cie de leva improvisada de soldados, no qual recrutas mal·treinados adquiriam treinamento e moral através de velhos e cansativos exerci· cios, em que era desprezlvel a disciplina formal de casern a, em qu e os soldados eram tratados como homens e a regra absoluta de promoção por méritos (que significavam distinção na batalha) produziu uma hie· rarquia simples de coragem. Isto e o senso de arrogante missão revolu· cionária fizeram o exército francês independente dos recursos sobre os quais se apoiavam forças mais ortod oxas . Ele jamais construiu um siso portanto pohtlcamente Isolados . Somente a crise da guerra os ma"ti. nha no poder. Quando, no final de junho de 1794, os novos exércitos da R~pubhca demonstraram sua firmeza derrotando decididamente os austnacos e!" Fleuru s e ocupando a Bélgica, o fim estava perto. No Nono Ten~ldor pelo calendário re vo lucionário (27 de julho de 1794) a Co nvençao derrubou Robespierre . No dia seguinte, ele, Saint.Just ~ Couthon foram executados, ,e o ~esmo ocorreu alguns dias depois com 87 membros da revoluclOnána Comuna de Paris. IV o Termidor é o fim da heróica e lembrada fase da Revolução: a fase dos esfarrapados sansculottes e dos corretos cidadãos de bonés v:rmelhos que viam·se a ~i mesmos ~omo Brutus c Cato, do pcrlodo das frases generosas, cláSSIcas e grandJioqilentes e também das mortais "Lyon n'est plus", "Dez mil soldados precisam de sapatos. Pegarás os sapatos de todos os aristocratas de Estrasburgo e os entregarás pron. to, par. o transporte até os quartéis amanhã às dez horas da ma. nhã". o Não foi uma fase cômoda para se viver, pois a maioria dos ho. me~s sentia fome e muitos tinham medo, mas foi um fenômeno tão temvel e t~reversl ve l quant.,.~ primeira explosão nuclear, e toda a h is. tó"a tem SIdo permanentemente transformada por ela . E a energia que ela gerou fOI sufiCIente para várrer os exércitos dos velhos regimes da Europa como se fossem feitos de palha . O problema co m que se defronta va a classe média francesa no res. tante do que I I I " ,I e tecnicamente descrito como o perlodo revolucionário (1794-9) aa como alcança r a estabilidade polltica e o avanço econômi. co nas bases do programa liberal de 1789.91. A classe média' jamais conseguIu desde então até hoje solucionar este problema de forma adequada , embora a partir de 1870 conseguisse descobrir na república p~rlamentar u.ma. fórmula exeqUl vel para a maior parte do tempo. As rap ldas al ter~anclas de regime - D iretório (1795-9), Consulado (1799. 18(}4), Impéno (18(}4- I 4), a restaurada Monarquia Bourbon (1815.30), • {I 90 r 17 .. • A Quarta Republica francesa, incapaz de resolver a questão da Independência da AI· gérla. foi derrubada pelo "golpe do 13 de m~io" (de t958) pel~ lencr al ~c ~Iulle. ou· lro ra chefe da Resistência (1940..1945) e cn.dor d•• Iual Quant. Repubhc • . •• Os nomes do os dos meses do calendário reyolucionário . I~ 91 • tema eretivo de suprimento, pois se apoi:wa nos campos. Jamais foi amparado por uma indústria de armamentos minimamente adequada a suas necessldad.es triviais; mas ele venceu suas batalhas tão rapid8~ mente que neceSSitava de poucas armas: em 1806 a grande máquina do exército prussiano ruiu perante um exército em que urna unidade militar intei 'a dISparou somente 1.400 tiros de canhão. Os generais podiam confiar em uma coragem ofensiva ilimitada e em uma quantida. de razoável de inici~tiva loc&l. Reconhecidamente, ele,tambtm tinha a fraqueza de SI!as ongens . Com a exceção de Napoleão e pouqulssimos oU lros, seu generalato e estado~maior eram pobres, pois o general revolucionário ou o marechal napoleõnico era bem provavelmente um duro primciro~sargento ou uma espécie de oficial de companhia promovido antes por bravura e liderança do que por inteligência: o Mare~ chal Ney, heróico, mas tOlalmente imbecil, era O tipo exato. Napoleão venceu batttlhas; seus marechais sozinhos tendiam a perde-Ias . Seu precário sistema de suprimento bastava nos pafses ricos e saqueáveis onde linha SIdo desenvolvido : Bélgica, norte da Itália e Alemanha. Nos espaço!' áridos da Polônia e da Rússia, como veremos, ele ruiu , A ausência lotai de serviços sdflitários multiplicava as bai"as: entre 1800 e 1815 Napoleão perdeu 40u o de suas forças (embora cerca de umterço pela d<serção), mas entre 90% e 98% destas perdas eram de homens que morreram não no campo de combate mas sim devido a rerimentos, doenças, exaustão e frio . Em resumo, roi um exército que con~ quistou toda a Europa em curtas e vigorosas rajadas não apenas porque podia fazê-lo, mas porque tinha que fazê-lo . Por outro lado, o cxércilO era uma carreira cama qualquer outra das muitas abertas ao talento pela revolução burguesa, e os que nele obtiveram Sucesso tinham um interesse investido na estabilidade interna como qualquer outro burguês. Foi isto que fez do exército, a despeito de seu jacobinismo embutido, um pilar do governo póstermidoriano, e de Seu líder Bonaparte uma pessoa adequada para concluir a revolução burguesa e começar o regime burguês . O próprio Napoleão Bonuparte, embora cavalheiro de nascimento pelos padrões de sua bárbara ilha natal da Córsega, era um carreirista tlpico daquela espécie . Nascido em 1769, ambicioso, descontente e revolucio nário, subiu vagarosamente na artilharia, um dos poucos ramos do exército ~eêjl em que a competência técnica era' indispensável. Durante a Revolu ção, e especialmente sob a ditadura jacobina que ele apoiou firmemen . . te, foi reconhecido por um comissário local em um fronte de suma im~ portáncia - por casua lidade, um patrício da Córsega, fato que dificilmente pode ter abalado suas intençôes - como um soldado de dons esplêndidos c muito promissor. O Ano 11 fez dele um general. Sobreviveu à quc:da de Robcspicrn:, e um dom para o c'ultiva de ligações úteis em Paris ajuJou-o em SUa escalada após este momento dilicil. Agarrou a sua çhance na campJnha italiana de 1796, que fez dele o inquestiona. do primeiro soldado da República, que agia virtualmente independente Jas autoridades civIS . O poder foi meio atirado sobre seus ombros c meio aga rrado por ele quando as invasões estrangeiras de 1799 revelaram a fraqueza do Diretório e a sua própria indispensabilidade . Tor~ nou-se primeiro cônsul. depois cônsul vitalicio c Imperador . E com sua chegada, como que por milagre, os Insoltiveis problemas do Dire~ tório se tornaram solúveis. Em poucos anos a Fraoça tinha um Código Civil, uma concordata com a Igreja e até mesmo o mais significativo sim bolo da estabilidade burguesa - um Banco Nacional. E o mundo tinha o seu primeiro mito secular. Os leitores mais velhos ou os de palses antiquados conhecem o mito napoleônico tal como ele existiu durante o stculo em que nenhuma sala da classe média estava completa sem o seu busto, e talentos pannetários podiam alirmar, mesmo como piada, que ele não era um homem mas um deus-sol. O extraordinário poder deste mito não pode ser adequadamente explicado nem pelas vitórias nap ~leô ni ~as. nem pela propaganda napoleônica, ou tampou~o pelo própno gênIO lIIdubitável do Napoleão. Como homem ele era lIIquestlonavelmente ~UltO brilhante, vtrsátil, inteligente e imaginativo, embora o poder o IJvess~ tornado sórdido . Como general, não teve igual; como governante, fOI um planejador, chere e executi vo soberbamentc erjcient~ ~ um inte lec~ tual suficientemente completo para entender e supervIsionar O que seus subordinados faziam. Como individuo parece ter irradi ado um scnso de grandeza, mas a maioria dos que deram esse testemun~o, 'por exemplp, Goethe, viram-no no auge de sua fama, quando o mIto Já o tinha envolvido. Foi, Sem sombra de dúvidas , um grande; homem e talvez com a exceção de Lênin - seu retrato é o que a maioria das pessoas razoavelmente instrufdas, mesmo hoje, reconheceriam mais pron· tamente numa galeria de personagens da história, ainda que somente pela tripla marca registrada do tamanho pequeno, do cabelo escovado para a frente sobre a testa c da mão enliada no colete entreaberto. Talvez não tenha sentido fazer uma comparação dele, em lermos de gran~ deza, com candidatos a esse titulo no século XX . Pois O mito napoleônico baseia-se menos nos méritos de Napoleão do que nos fatos, entlio sem paralelo, de sua carreira . Os homens que se tornaram conhecidos por terem abalado o mundo de forma decisiva no passado tinham começado como reIS, como A lexandre, ou patrícios, como Júlio César, mas Napoleão foi o "pequeno cabo" que galgou o comando de um contin~nte pelo seu puro tal.ento pessoaL (isto não foi estritamente verdadClro, mas sua ascensao fOI suliclentemente meteórica c alta para tornar razoável a descrição .) Todo jovem intelectual que devorasse livros, como o jovem Bonaparte O ~zera. es· crcvesse maus poemas e romances e adorasse Roussea.u poderia, a p~r­ tir dai ver O céu como o limite eseu monograma enfaIXado em lauréIS. Todo homem de negócios dai em diante tinha um nome para sua ambição: ser - os próprios clichés o denunciam - um "Napoleão das Iinanças" ou da indúslria . Todos os homens comuns ficavam eX CItados 92 (z/ 93 •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• • t pela visão, então sem paralelo, de um homem comum que se tornou maior do que aqueles que tinham nascido para usar coroas. Napoleão deu à ambição um nome pessoal no momento em que a dupla revolu_ çâo tinha aberto o mundo aos homens de vontade. E ele foi mais ainda. Foi um homem civilizado do s~culo XVIII, racionalistn, curioso, iluminado, mas também disclpulo de Rousseau o suficiente para ser ainda o homem romântico do século XIX. Foi o homem da Revolução, e O homem que trouxe estabilidade. Em síntese, foi a figura com que todo homem que partisse os laços COm a tradição podia-se identificar em se us sonhos . Para os franceses ele foi também algo bem mais simples: o mais bem-sucedido governante de sua longa história . Triunfou gloriosamente no exterior, mas, em termos nacionais. também estabeleceu ou rc~tnhclccclI o mecani smo d:l~ instituições frances:.!s como existem 8tt hoje. Reconhecidamente, a maioria de suas idéias - tal vez todas _ foram previstas pela Revoluç~o e o Diretório; sua contribuição pessoal foi fazê-Ias um pouco mais conservadoras. hierárquicas e autoritárias. Mas seus predecessores apenas previram: ele realizou . Os grandes mo. numentos de lucidez do direito francês, os Códigos que se tornaram modelos para todo o mundo burguês, exceto o anglo-saxão, foram napoleônicos: A hierar4uia dos funcionários - a partir dos prefeitos, para baixo - , das cortes, das universidades e escolas foi obra SUR. As grandes "carreiras" da vida pública francesa, Oex~rcito, o funcionalismó público , a educação e O direito ainda têm fo rmas napoleônic.s. Ele trouxe o,tabilidade e prusperidade para todos , exceto para os 250 mil franceses que não retornaram de suas guerras, embora mesmo para os ! parentes deles tivesse trazido a glória. Sem dÚ"ida, os britânicos se viam como lutadores pela causa da li.berdade contra a tirania; mas em 1815 a maioria dos ingleses era mais pobre do que o fora em 1800, enquanto que a rr.:tioria dos frànceses era quase que certamente mais ri. ca. 'c ninguém. exccto Os trabalhadores assalariados cujo número era Insignificante, tinha perdido os substanciais beneficios econômicos da Revolução. Há pouco mistério quanto li persistência do bonapartismo como uma ideologia de franceses apollticos, especialmente dos camponeses mais ricos, depois da queda do ditador. Foi necessário um se. gundo Napoleão menor, entre 1851 e 1870, para dissipá-Ia. Ele destrulra apenas uma coisa: a Revolução Jacobina, o sonho de igualdade. liberdade e fraternidade, do povo se erguendo na sua grandiosidade para derrubar a opressão. Este foi um mito mais poderoso do que o dele, pois, após a sua queda, foi isto e não a sua memória que inspirou as revoluções do século XIX, inclusive em seu própric ~Is. . . •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• • •• •• I. •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• • t t -- .•• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• • / " x.c. í{ Curs():....... ......... ··.······· ······ · f ~~~:~~;. &.;.ó·àx~;i.·~ S2;r.L':3~: c:: ..... ...... .... ....... ...... \ \, ~~~:S:~p;;~: o I E las são também conceitos integrais no estudo contemporâneo do coíbportamento humano. Mais de um observador foi recentemente surpreendido pela profunda mudança que ocorreu durante a última geração na orientação geral da sociologia americana. Até a geração1'assada o principal interesse dos sociólogos ameri· canos ICpOUS3V3 no estudo da mudança. Aqueles aspectos da J t) · · " .".<~~/I sociedade que Spenccr e Ward categorizaram como dinâmicos eram os principais objetos . de estudo e em quase todos esses estudos o caráter essencialmente organizacional da mudança hi$tórica era suposto como dado. Aliada a essa fé no caráter benéfico da mudança estav~ a convicção de que a real unidade Xe~áo Clii(eno Ruo , 151 . L'berdode . soa ""'" . Sl' • Tel. 3277 4 ) da investigação sociológica era o indivíduo, tido como tipicamente 255 CONSERVADORISMO'E SOCIOLOGIA( ' RODERT A. NISBET t· Para o cientista social contemporâneo ser tachacjo de conservador 6 mais freqüentemente uma crítica do que um elogio. A!inal o New lnlernational Dict;onary não define "conservado- r'asma': como' a "disposição e tendência para preserv~r o que está estabelecido" e com efeito acusa 'o conservador de "tender a I manter insti\uiçÔes e pontos de vista -existentes," e de ~er .·.·con'trãt:i 0 à mudança ou à inovação"? Nessa perspect.va o c.enlista soc .. l provavelmente conclui que essas quali~a.des. sumam~nte esse~ci~is para o humanista ou cientista orIglOalIdade, ,"dependenc.~, audácia e desdém pela tradição - são exatamente 'o contrárIo do conservadorismo. Mas conservadorismo, em qualquer visão global, n5 0 pode ser restringido aos termos psicológicos de atitudes e respostas avaliativas. Nos tennos contextuais da história há também idéias conservadoras. Idéias tais com status, coesão, ajustamento , função, norma, ritual, símbolo, são idéias conservadoras não apenas no sentido superficiaJ de qu~ cada uma delas t~m como seu referencial um aspecto da sociedade plenamente tnte~essado na manutenção ou na conservação da ordem, mas no Importante sentido de que todas essas palavras são partes integrantes da história intelectual do conservadorismo europeu. (') Robert A. Ntsbe t, Traà!tlon anà Revolt (C.p. 4: "Conservatlsm ond SOctotogy"), Vlntage BOoks, New York, 1970, pp. 73-89. Tradução de Sylvla Lyra. 61 auto-suficiente por natureza e como O mais sólido elemento da realidade social. Com m!lito poucas exceções, problemas e hipó'eses relletem uma convicção moral amplamente difundida da direçüo organizacional da história e da natureza auto-suficiente do indivíduo. . r Hoje, encontramos uma orientação radicalmente dif~rente. A principal orientação não é a mudança, mas a ordem. Está superada a fé racionalista no poder da história em resolver lodos os problemas organizacionais e também está superado o mito racionalista do indivíduo autônomo e auto-estabilizador. No lugar O dessas antigas certezas existe agora uma difundida preocupação , If l:1eom o fenômeno do deslocamento institucional e da insegurança À~ IJ psicológica, Mais do que qualquer outro, foi O conceito de grupo V :, :l! ~il' social que se tornou central na sociologia contemporânea. ComJ ~"" eonce,ito ele :obre tO?O um :onjunto de pro~lemas relacio~ados #. com mtegraçao e desmtegraçao; segurança e Insegurança, aJusta" mento c desajllstamento. Ele contrasta nitidamente com a prima. j'" %ia do indivíduo na socirnogia americana antcrior. Sem dúvida, os presentes interesses teóricos no grupo social e suas propriedades psicoló~icas podem ser viSlos como manifestações dos imperativos morais da comunidade que domina lI) particulannente, na atualidade, diversas áreas da crença e do deseJo. Problemas teóricos nas ciências sociais tem sempre uma rela9~0 significativa com as aspizações . morais de uma época. Quando nos séculos dezgito e dezenove, havia uma fé amplamente difundida no progresso social e moral e na emancipação do indi- ~ t' ..:;, ~ f) ~ víduo d~s velhas formas de zção e crença, os problemas teóricos primordiais das ciências sociais eram os da mudança, processo, educação e variados conceitos do indivíduo autc)(lirigitlo c autô- nomo. Nos nossos dias, quando uma prcocupJção COIU a COD1U- nidade e o medo da insegurança pcrmeia quase todas as áreas da vida civilizada, não é estranho que as ciências ~ociais devam lidar t50 prcpondcralltcmclHe com problclIl;Js teóncos dc intçgração C desin tegraçfio grupaJ . Mas idéias COrrentes estão relacionadas n50 apenas com contex tos' morais correntes: elas tem também ulUa rclaçiio genética com seq üências de idéiíls anteriores. Um sistcma de idéi~'i que 11;10 possui llcnhuma importância dcci~iva em uma gera~ao .ou século, freqüentemente fornece o matcrlal para a ,Perspectiva 111 tclectll al dominante da geração ou sécul o segu mtes. Ta! é o significado histórico do sistema de idéias do conservado f1~mo. Enquanto uma estrutura hiswtórica d~ id~ias, o .c~~servadonsmo recebeu muito menos atençao na blstóna das ldeJas do que o individualismo e o racionalismo, sistemas que tão notavelmente SUSlentaram o ca mpo inlclcctu:J1 no sécu lo dezellove c começo do século vinte. Contudo, de um a posição essencialmen te sel.:u ndária no século dezenove, o conservadorismo veio a exercer UllIa profund a influência sobre a mente contemporânea. Três perspectivas principais originam-se dos escritos dos conservadores do começo do século dezenove na Europa. A primeira é a perspectiva das massas: populações imp laca~elJ~lellte atomizadas, social e moralmente, pelas mesmas Corças economlcas c polflicas que os liberais c radicais do século dezenove proclalllJvnrn Como progressistas. A segunda perspectiva é aquela da (/Iwtl açiio do indivíduo: de crescentes agregados de indivíduos tornados constantcmente mais inseguros e fru strados Como cOllsequência d:Jquelas Ulud:Jnças morais e intelectuais que os rrl cion ~li~tas achavam que conduziriam à libertação do homem, das tr?d.çoes. A terceira é a perspectiva do -poder: do poder monoHt.co que surge e é nutrido pela existência de massa de indivíduos dcsarrai~ gados, voltando-se num crescente de sespero para a autoridade naljdade estão enraizados muito mais profundamente na tradiçiio conservadora do pensa mento moderno europeu do que no sistema Jiberal~radical do século de zenove, que é mais comumcnte tomado como fundamento da sociologia moderna. O conservadorismo, enq uanto uma fil osofia socia l defini da surge como uma resposta dire,ta à Revolução Francesa~ que teve o mesmo impacto. sôbrc a mente dos homens, que tlvcnUll as revoluções comunista e nazista do século vinte. Em cat.I:J caso a tornada do poder, a expropriação dos velhos governantes e o impacto de novos padrões de autoridade sobre ve lhas certczas, levaram a um reexame da s idéias de .tiberdade e ordem. Mas nã o foi somente contra a Revolução Francesa que os conservadores se revoltaram . Foi mais fundamentalment e contra a perda do statlls que podia ser obse rvada por loda parle na E uropa ocidenta l como conseqüência de mudanças econôm icas, secu larização da mor31 e centralização política. Para homens tais como Durke e Bonald, a R evolução Francesa foi apenas o auge do processo histórico de atomização social que remete à origem de doutrinas tais como o nominalismo, a heterodoxia religiosa, o racionalismo científico e à destruição daqueles grupos, instituições e convicções inteJectuais que foram fundamentais na Idade Médin. Num sentido signHicativo, o conservadorismo moderno se volta para a sociedade medieval em busc:J de inspiraç;io c modelos. contra os quais lança o mundo moderno. A crítica conservadora ao capital ismo e à centralização poli ti ca era do meSmo nível das denllJl- cias contra o individualismo, o secularismo e o igualitarismo. Em todas essas forças históricas os conservadores podiam ver, não a emancipação individual e a libertação criativa, mas alienação crescente e insegurança, os inevitáveis produtos da desarticulação dos laços associativos tradicionais do homem. centralizada, como um refúgio para a desarticulação e o vazio Desta visão crítica da história os conservadores foram levados Essas são as principais heranças intelectuais do conservado- a formular certas proposições gerais a respeito da natureza da sociedade e do homem, que divergem radicalmente daquelas moral. IÍSltlo. Mas, denlre elas a,loja-se um certo número de interêsses menores e mais específicos que podem ser considerados como em nítido contr:Jste com as idéias centrais do raciol1:Jlismo individualista do século dezenove e que podcm ser considerados t:Jm bém como tendo contribuído para a essência de boa parte do pensamento sociológico contemporâneo. O argumento deste traba lho é de que os atuais problemas e hipóteses sôbre ordem social, integração e desin teg ração grupal e sôbre a natureza da perso- 64 visões que os racionalistas e individualistas haviam enfatizado. A primeira c mais abrangente proposição diz respeito à natureza da sociedade. A sociedade - o que Burke chamou de sociedade "legítima" e Bonald de sociedade "constituída" _ não é um agregado mecânico de partículas individuais sujeitas a quaisquer arranjos que passem pelas cabeças dos industriais ou fun cionários governamentais. Ela é uma entidade orgânica, com leis internas de desenvolvimento e com relações pessoais e institucionais infinitamente sutis. A sociedade não pode ser criada 65 •• •• •• •• •• • •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• • ª: •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• - - _.. _-- pela razão individual, mas ela pode ser enfraquecida por aqueles que não tem em mellte sua verdadeira natureza, p()i~ ela tem prouas qllai~ o presente nãu pude escapar A sociedade é, partlfraseando as célebres palavras de Burkc. uma associação dos mor,tos, dos funuas raizes alrav~s 110 p.ISSi.uJO, da manipulação radonal. vivos c dos não nascidos. Para os conservadores, especlaJmente na França, a realidade metafísica da sociedade, independentemente de lodos os seres humanos individuais, era inquestionável; e essa foi talvez a principal proposição dirigida contra o nomi- nalismo social do Iluminismo. Em segundo lugar, os conservadores insistiam na primazia da sociedade sôbre o individuo - historicamente, logicamente e eticamente. Bonald foi levado a desenvolver uma complexo tcoria do simbolismo c do desenvolvimento da linguagem a fim de provRr que u humelll c suas idéias jamais poderiam ler precedido as illstituiçc)cs UOI sociedade. instituiçucs estas que haviam ~ icJu criadas diretamenle por Deus. "O homem", escreve Bonald, "existe :lpenas Llcn.trn da socicc.huJc c par ... ela. A sociedade o forma apenas para si . ... Não s6 não 6 verdade que o indivíduo constitua a sociel1aeJe, flUI S, é a sociedade que constitui o illdiv(duo lItrav~s de I'étlllcm;oll s()r:i(JI~." Hegel critica o esforço dos Jla~ ciolla listas CIO tral.u "du indivíduu isolado" e rejeita vigorosamente o que ele chamou de "ponto de vista atomfstico e abstralo Inc.Jepcndclllcmclllc das c.:oaçõcs c representaçõcs incorporadus na U , suciedade c suas disciplinas associadas, não há moralidade e o homem está intelectualmente num vácuo. Não há instintos ou reflexos prepolentes no homem pelos quais o pensamento e a moralidade possam ser deduzidos. Somente através da sodedade e de suas manirestações associativas e simbólicas o homcm pode tumar-se realmente homem. Disso decorre, em tcrceiro lugar, que a soeiedade niio pode ser tlcsmelllbrada, IIICSIllU para fins conceituais, em i11lIividu:Js. A unidade irredutível da sociedade é c deve ser em si mesma uma manifestação da sociedade, uma relação, alguma coisa que seja social. O intJivh.luo, Lamellnais declara, é apenas uma fanlôlsia, il sombra de um sOllho. Nós jamais conseguimos tlislillguir o que os racionalistas challlíll11 ue "individuas". Nós vellJos l11el11blOs da sociedade - n50 "individuos", mas, pais, filhos, padres, membros da igrejól , trabalhadorcs, patrões e assim por diante. Hegcl argumentava que nem mesmo por propósitos políticos, a realidade da associação entre indivíduos deve ser obscureciúa. "Os drculos de associôlção na socicdade civil já são comunidades. Represenlar tais comunidades como rragll1ent.mdo-se em UJ~ conglmnenldo llc illlliyíuuo~, .tão logo cI<ls cntralll n~ campo da polftica é . . . deixar esse ultWlO suspenso no ar . '" .. O quarto é o princípio da interdependência uo fcnoJlleno social. Visto que a sociedade é orgânica em su~ nature~, há sempre uma delicada interrelação entr~ crença, háblt~,. as~ocl3ção e instituição na vida de qualquer socIedade.. Cada IIIdlVrd~o . e cada peculiaridade social são partes de um sistema de coe[enCla mais amplo. Esforços, por mais que bem intencionados, para reformar ou refazer uma parte d:1 sociedade, incvitavelmente violam as complexas linhas de relacionamento que existem c devem existir em qualquer sociedade estável. • O quinto é o principio das ncccssidade<. Não direitos naturais fictícius mas IIcrc.uidadts hUlltcr~veis ôo homem, SUaS "vont:Hles", comu Durke as chamou, 550 primordiais, O seu, reco- nhecimclllo, escreycu Durke, "reqper um pro(lInd(~ cOllheClnl~'!h) da natureza e das necessidades humanas e daqUilo que facilita ou obstrui os vários fins que deyem ser perseguidos pelos mecanismos das instituições ciyis.... Cada sociedade e cada uma de suas p:ules é a resposta para cCrtas necessidades eternas dos seres humanos. Dissolva os mecani$mos de satisfação e :1 desordem e a miséria scr50 o resultado. O sexto é o principio da função . To~a pessoa: todo c~s­ tume, toda instituição, serve a alguma neceSSIdade báslc~ da VIda humana, ou contr:bui com alguns serviços indispens~velS par~ :1 existência de outras instituiçôcs c costumes. Até o preconcetto, Burkc insiste em uma passagem surpreemlcnte, tem, a despeito do desdém que provoca na meute do racionalista, a indispensável runção de manter uuida a estrutura da sociedade, d~ rurnecer uma espécie de cimento emucional para crenças e hábitos. Ilá, no preconceito, uma sabedoria intrinseca que é o produto dos sécul,?s c da profunda necessidade de segurança do hom~m: ' Em sétimo lugar, os conservadores, em rcação ao ~1~mIOlsmo indiyidualista, deram ênrase aos pequenos grupos SOCiaiS da sociedade. O grupo social, n30 o indivrduo, é a unidade irrcdut~v~1 da sociedade; é O microcosmo, socíeta.r in parvo. Grupos SOCiaiS internos constiluem as menores lealdades dil socieclóltJc, denll'o <.Ias quais o todo social 10m a-se signiricatiyo. Eles são, escreyeu BurJce, "nossos lugares de re(úgio e de descanso", A Rcvolu~~o usou de seus mais drásticos poderes contra ilS Jealdaúes SOCiaiS tradicionais, contra toda aquela ~rea dc relações inlerpessoais descendentes da menosprezada Idade Média. Mas essas s50 a3 66 67 comunídade corno uma restrição à individu? lidade é un~ c,r~? monstruoso, pois, é apenas dentro da cO ll1uflu.ladc que a IIldl\lverdadeiras fontes da sociedade e da moralidade, "llomcm algum roi jamais conquistado por um senso de orgulho, parcialidade ou real afeição diante de uma descrição de justas medidas", Bu rke escreve numa cdtica hostil aos esforcos dos franceses em criar fiavas áreas de administração e lealdade, "Nós começamos nossoS vínculos sociais nas nossas fammas, . , Passamos em seguida à nO!isa vizinhança e às nossas conexões habituais de prov íncia" , O grupo~ roligiosos, a famma, a vizinhança, as associações ocupacionais - estas, decla.ra Bonald, s50 os suportes necessários para a vida dos homens, Os reformistas estão errados quando lutam para conseguir que os homens esqueçam os valores dessa esCera da sociedade e vivam em lermos de vonlades diladas pela razão, baseadas na informação cientírica, Relações abstratas c impessoais jamais sustentarão uma sociedade; e onde esses princípios tendem a prevalecer na população, encontramos as mais fortes tendências à desorganização social e moral. Enfraquecidas as relações sociais tradicionais, quer seja pelo comércio quer pelas rerormas governamentais, inevitavelmente a sociedade legftima será substituCda por uma massa incoerenle e confusa de átomos individuais, argumentavam os conservadores, Uma vez que os individuas tenham sido desligados dos laços tradicionais, lie tomaram-se livres, não do controle mas da proteção de lodos os princfpios de auloridade nalural c dc subord inação legrtima. eles tornam-se as vítimas naturais dos impostores", escrevcu Burke. Os conscrvadorcs na França Cizeram disso a essência de um princCpio: a razão do homem, suas meta.s, e mesmo a sua individualidade, dependem de lima cstreit:l ligação com outros e dependem da. C!itmtura de valorc!i ex tem os n3 sociedade. Ulmellllais, lIum breve ensaio sobre o suiddio( I), escreve : "Na medida em que o homem se distancia da ordem, a angústia o pressiona por lodos os lados. Ele é o rci de sua própria miséria, um soberano degradado, revoltado contra si mesmo, sem deveres, sem vínculos, sem sociedade. Sozinho, no meio do universo, ele corre, ou melhor procura correr, para o nada", Considerar a Esse notável ensaIo foi publicado em 1819. Ver Oeuvres (Bruxelas, 1839), vol. lI, pp. 150-51. A mesma percepção é encontrada duas décadas mais tarde no grande estudo de Tocquevl';t; sobre o. democracia e no final do século nos trabalhos de Durkhelm. Estou em débito com César Orafia por ter chama(1) Completes do minha atenção para essa passagem. 68 dualidade pode se desenvolver c ser rcCorçada. Em oitavo Jugar, os conservadores foram, leva?os a r~c~­ nhecer a realidade da desorganização social. Libera iS e ~adlca l s não estavam desatentos às misérias e desarticulaçõe.s ocaSIOnadas pelo processo histórico, mas eles in si st ia~ e~ conSiderar a natu reza da história como inerentemente orgal1lzaclonal em seus traços básicos. Do ponto de vista de um Condorcel ou d~ um . Bcnlham (e isso permanece como verdade na tradição ra~lO nahsta tanto para os economistas clássicos como para os marXistas), po~e ter havido desordellS intermitentes, mas nunca desorgal1l zaçao no senlido mais amplo. Mas, os eCeilos da legislação revolucionária sobre as inslitui· ções tradicionais criou na mente dos conservadores uma. profunda preocupação com a desorganização. Isto era, para ~ I es, essen cialmente um fenômeno moral, mas estava Inextncaveln~en~e relacionado com a desarticulação histórica da int erdepcl~,~ en~aa legílima das Cunções e do poder na sociedadc. As conscquencl3s das mudanças revolucionárias não seriam (armas ,maiS altas de organização, mas, antes, uma intensificação dos an~lgo~ processos de desorganização, culminando finalmente na atollllzaçao de toda a moralidade e da sociedade. Foi nesses termos que os conservadores, especialmente na França, eScreveram asperamente sobre o indi v idu ~lismo religioso, Para eles o indivíduo religioso devcria scr conSIderado como o oulro lado da desorganização social. O menosprezo que os Protestantes tinham pelos elementos corporativos. rilll alíslicos, c !ii,1lI b6licos da roligião poderia levar, assil!l como seu ataque lustónco à supremacia de R Ol1la, ap;; IJas à fili ai c!iterili7.~I(;;io UC) impu lso religioso. O sentido essencial da . p~I:\Vra "religião", rJ~c1ara Donald, é social. O que, de Calo, Slglllhca a palavra de ongcm, religare. se não, aglomerar-se? Defender a supre~a.:ia da fé ou da crença do indivCduo é derender o colapso da rcilgl30 enqu.nlo sociedade espirilual. A visão conservadora do urbanismo c do comércio n50 era djferente. Todos os conservadores estavam perplexos com os eCeilos contraslanles da cid3de e do campo sobre as instiluições e os grupos. Burke podia ver no urbanismo e no comércio ~ma certa tendência niveladora que enfraquecia os recursos báSICOS da individualidade. Hegel observou alarmado os eCeilos dcsorganizadores do individualismo inglês sobre a personalidade dos 4 4 •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• 69 ~ . •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• homens, através de sua invasão destruidora sobre a ramília e a comunidade local. Num estudo sistemático dos deitos controstantes sobre a família de condição rural e de condição urbana, Bonald ressaltou o impacto desarticulador d. impessoalidade urbana e do industrialismo sobre os laços de parentesco. A cidade, escreveu ele, tem o efeito de congregar seres humanos, mas não de -uni-los. A (amllia urb::ma é inerentemente uma forma de organização menos estável do que a rural, o mesmo consigo, quando se reconhece ~s diferença~ d.c i~ade e de cap~­ cidade. a necessidade de uma IIlterdependclI~ra SImIlar. dos )~dl­ víduos. E essa interdependência é necessanamente hl,.rárqulca. Em todas as associações o principio da hierarquia se aflrm.ara; e, quando oS homens se dão conta do processo de e?fraqueclI~ento das relações entre eles próprios e seus ;tatus u~uals nessa hlerar· quia social mais ampla, nada resulta alem de tnsteza e desespero. Finalmente, os conservadores en[atlzaram o princípio da se dando com b comunidade urbana. Existe mais solidariedade social genuína em áreas rurais atrasadas, a despeito da grande legitimidade da autoridade. A ~u~oiidade é legítima quando ela provém dos costumes c da> tradlçoes de um povo, quando é di' pcrsao populaciol1al, do que na cidade. U ) Em nono lugar, os conservadores (oram levados a insistir sobre o valor indispensável dos elementos sagrados, irracionais e [armada por inúmeros elos numa corrente que começa co~ a [amma, prossegue através da comur.ida~c e ~a classe e culmln,a não utilitários da existência humana. Argumentar que o homem pode sempre viver exclusivamente da razão, ou de relações fundadas unicamente sohrc a H\zfio, é absurdo, argumentavam os conservadores. Tcntar ' rUIH.Jar a sociedade sobre o meramente secular e sobre motivações meramente individualistas é ruinoso. O homem vive e deve sempre viver através da prática do ritual, da cerimônia e da adornç:i n. O at.que violento da Rcvulilç50 contra o mlele,. r<:gime e a celcbraç50 da razão puro, tanto na ação legislativa C0ll10 no m:lndato popular, enrraqueecu perigosa· mente as bases sagradas da sociedade. As famosas palavras de Burke sobre a visão racionalista do contrato político, que é o estado, sua insistência sobre as bases' sagradas e pré·rncionais de toda associação política, tiveram eco nos trubalhos de outros conservadores. Separado o cardter sagrado de uma instituição ou relilç50, ela não se manterá unida por muito tempo. Apenas racionalidade não é suficiente, Em décimo lugar, estavil o prim:ípio ua hierarquia e 00 sfaltl ,r. A ênfase revolucionária c racionalista sobre a igualdade deveria levar rapidamente, argul11cntava·se, a um nivcl'llnento das di{ercnças sodais que obliterariam os canais nuturais de transmissão dos valores humano:;. Sem hierarquia na sociedade, não pode haver es tabiliJadc. tem a mcsma runç5u tem o qUI! CI ::sses sociais na sociedade mais ampla tem a hierarquia numa instituição, que slalUs desigual de pai e filho numa princípio de int~rde pelldê ncia das instituições família. O próprio na sociedade mais ampla. Através de ,"vasoes nas áreas tradicionais da autoridade e exaltação do estado racional , a Revoluç50 privou os seres humanos das bases seguras que a~vém ~a aut~­ ridade legítima e oS deixou exposlos a compromISsos ms~5.velS entre o caos e o poder extremado. A legitimidade da autondade advém não de axiomas de direito. e razão, mas de crenças e h:íbito~ que são inerentes ~s necessidades, a5 quais são suprid~s pela autoridadc. Longe de ser al&o artineial, UIII mal nccessáno na melhor das hipóteses, como os liJ>erais argumentavam, a ~uto­ ridade é a substância de todas as rormas de rolação. A autondade não degrada; ela reforça. e a rorça que degrada, o tipo. de rorça que deve seguir-se à dissolução das autondades no~alS . U~a geração mais tardc, Tocquevillc 'deu plena expressa0 à teo':.,'a conservadora da autoridade quando escreveu; "Os homens nao são corrompidos pelo exercleio do poder ou aviltados pelo h~bilo da obediência, mas pelo exercício do poder que eles acrcdllal~ ser Icgítimo c pela ubetliência a' UII1 rcgul;.uncnto quc d..:s l:~UISI· deram usurpado e opressivo". Dificilmente pode ser dito que o conservadorismo exerceu alguma influência mais ampla sobre u pensamento no século Xl~, Pois esse foi o século da grande esperança, de (é no que parCCla ser ~ inevitável processo da história, da fé 110 indivíduo l1alural c! no governo de massa. Todas as prin cipais tendências tia his~ória européia - o sistema fabril inclusive - eram amplamente Vistos como (orças essencialmente Iibert~doras . Através delas, oS numa sociedade traz homens se emancipavam dos antigos .sistemas de s/alUs e das co· (l I "De la tamllle agrlcole et de la tamHle lndustrlelle", em Para a maioria das mentes no século XIX, a cOl1servadonsmo, com sua concepção essencialmente trágica da história. seu medo do individuo 4ivre e das massas e sua ênrasc na comullidade, na munidades nas quais a iniciativa e a liberdade estavam sufoe.adas. Oeul1res Complt!t€.! , editado por A:>bé M:gne (p a rl! , 18S9·6·t ) . pp. 238 e 5S, 70 n. 7y;:~ ft. - - ~ hierarquia e nos padrões de crença sagrados, não parecia mais do que uma mnniJeslação final daquele passado do qll:11 a Europa CSI:t\'3 CI1I toda partc se libertando. Não obstante o conservadorismo teve sua inrluência, e é so· mente hoje que estamos nos dando conta ela real cxtcllsiio das idéias conserv1\doras sobre os pensadores c políticos do século XIX. Aqui podemos considera r apenas uma des~as linhas de in· rluênd:l, aquela que raz parI'::: do aparecimento da sociologia siste· mlitica na França. A sociologia pode ser considerada como a. primeira ciência social a lidar diretamente com os problemas da desarticulação envolvidos no aparecimento de uma sociedade de massas. A economia, a ciência política, a psicologia e a antro· pologia permaneceram, por longo tempo, no século XIX, fiéis aos preceitos e perspectivas do mcionalismo do século XVI!. A sociologia, no entanto, desde O começo, usou larg:lmcnte de visões da sociedade fomccidas por homens como Burke, Donald e lIegel. Assim, mesmo na celebmção filosófica do progresso de Comte, há nma profunda nota de veneração pelo passado e de preocupação com processos de sln tus e segurança que falta nos escritos daqueles homens para os quais os raci onalistas do século XVlIl rormavam o próprio ponto de partida, no estudo do homem. A qualidade tradicionalisla dn nova ciência de Com te, não pode ser esquecida. Sua odriliração pela estrutura da Idade Média é quase desmedida e ele nos diz que os tradicionalistas cal6· licos merecem a eterna gra tidão dos positivistas por terem acor· dado a mente dos homens para a grandeza da cultura medieval. AI~m disso, ele elogia os seguidores de Bonald por terem deliva· mente usado princípios positivistas nas suas análises de inslilui· ções. Através do reconhecimento da instabilidade inerente ao individunlismo e da desorganização social conseqüente de dogmas como igualdade, soberania p('pular e direitos do indivfduo, e atra· vés da insistência na prioridade da sociedade sobre o indivíduo e na dependência que tem o homem dos valores c insti tuições sociais, os tradicionalistas ganharam a gratidão de todos os positivistas. O objetivo de Comle era a criação de uma ciência da socie· dode. Ele considerou seu longo estudo Sys/eme de Po/i/iqlle Positive, como um tratado de sociologia, como o compêndio de uma nova ciência da sociedade. Os princípios do positivismo, ele de· c1arou, quando absorvidos por lodos, fariam para sempre t1esne· cessá ria a fé nos dogmas da religião histórica. A ciência das relações humanas deveria ser o grande princípio organizador da sociedade que substiluiria o cristianismo tradicional. O próprio 72 . --- - -------- Cornte não era um cientista; mas atr.lvt,:s ue sua romântica adofa· ção ?t ciência, as estruturas sociais da família, comunidade, lingua· gem, religião e associações culturais eram subtraídas do contexto lrancarnente teológico e reacionário onde repous:\V:UI1, no pens:l· mcnto de DOllald. e Ihe!'i em dado (1 contexto c tClIllillologia. sen50 mesmo a substância, da ciência. Por mais absurdas que v5.rias idéias dc Comle parecesscm, mesmo para alguns dos seus seguido· res na França e na In!!latcrra, e por T1l:lis dirícil que rosse distin· guir cJaremente entre a abordagem positi\'isla c a abordagem con· servadora das relações humanas, o fato importante aqui é que, Iltravés de sua veneração à ciência, o trabalho de Comte foi o meio de traduzir os princípios conservadores em UI113 perspectiva mais aceitável para as gera,ões posteriores de cientistas sociais. Se eomle deu a maior parte da nomenclatura c do apelo COlacionai da ciência ao estudo das relações humanas, foi Picrre Frédéric Le Play, quem, al~un$ anos mai. tarde, lhe deu uma metodologia e um conjunto de técnicas de investigação empírica. Le Play era um católico devoto, um reaci o n~rio segundo todo e qualquer padrão de sua época. Como os primeiros conservado-res, ele achava que a maior parte dos males na Europa Ocidental era produto da Revolução. Ele também estava preocupado com a restauração do prestígio dl famm a, da igreja e da comunidade local e da mesma forma de~reciava o papel do estado e a ação política direta. Idéias de p/ogresso, igualdade, direitos do indivlduo, soberania popular - eram todas tão detest~veis para Le Play como o foram para Bonald e Comte. Entretanto, apesar de seu insuperável tradicionalismo em assuntos econômicos, sociais e espirituais, não se pode evitar a conclusão de que Le Play contribuiu mais para o estudo científico das relações humanas do qu, o fez Comte, um venerador do ciência. irrelevante apontar que a maioria das conclusões que Le Play tirou de seus extensos estudos sobre a Glasse traba lhadora européia era dHicilmentc diferente dos preconceitos básicos que ele havia herdado de seu ambiente anterior, dificilmente dircrente das idéias francamente reacionárias de Donald e De Maistre. O que é importante do ponto de vista da nn5lise histórica é que Le Play transfonnou as percepções morais dos conservadores num conjunto de problemas concretos, c1alllJndo por uma rigorosa investigação de campo. Les Ouvriers Européells é talvez o melhor exemplo, 110 século XIX, de uma real pesquisa de campo sobre os aspectos estruturais e funcionais das instituições humanas. Os famas;; -e •• •• • • • • • • • • • • • • • I • • • • • • • • • • • • • • ®: •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• , pensadores do século XIX - Comtc, Spencer e Ward - ficavam satisfeitos, de um modo geral, em deixar seus leitores nos subúr· bios termi.nológicos da ciência; a nomenclatura da ciência foi o que nos é dado no estudo da natureza humana, como Durkheim estruturada em contextos contrãrios às técnicas de verificação. comunidade local, da ocupação e da associação cultural, dos coo· textos teológico, romântico ou evolutivos nos quais outros os E essa suprema ênfase na sociedade e em todos seus mecanismos de controle que faz da reação de Durkheim contra o racionalismo individualista, uma reação mais fundamental do que a de Freud. E essa ênfase que coloca Durkheim seguramente na tradição conservadora. Se Durkheim não podia aceitar as premissas básicas dos conservadores (ranceses - a primazia de um Deus onipotente para toda a sociedade e toda a cultura - ele estava pelo menos que- haviam localizado, subtraindo·os da realidade. Le Play os colo- rendo, nas fases finais de seu pensamento, imputar à religião uma mais consistente, mais rica de pesquisa influência determinante na vida humana, que nenhum teólogo poderia suplantar. E é diflcil resistir à conclusão de que a sociedade para Durkheim assim como para Bonald, assume caracterís· ticas de exterioridade e poder que a tornam quase indistinguível de uma entidade divina. Assim como Bonald, Durkheim pode declarar que "a sociedade é uma realidade sui g~neris; ela tcm suas próprias caracte. Mas no trabalbo de Le Play temos algo decididamente diferente. Dando ampla margem à influência, sobre seu trabalho de campo, de presunções morais e objetivos que não diziam respeito à dên· cia, precisamente falando , permanece o fato de que foi Le Play, mais que qualquer outro, quem retirou o estudo da família, da cou numa per~pectiva comparativa sobre as vidas efetivas das pessoas. Com eSSa me· todologia comparativa se desenvolveu num complexo de técnicas precisas para o estudo detalhado dos seres humanos nos seus ambicntes institucionais. O que é importante na presente relação é simplesmente notar que no trabalho de Le Play as percepções e hipóteses básicas do conservadorismo filosófico, foram traduzidas num estudo empírico das relações humanas. O conteúdo essencial do conservadorismo permanece; a abordagem metodológica muda significativamente. E nos trabalhos de Durkheim, porém, no final do século XIX, que achamos o mais importante elo de ligação entre o conserva- dorismo e o estudo contemporâneo do comportamento humano. Durkheirn divide com Freud uma grande parte da responsabilidade de ter transformado o pensamento social de categorias racionalis· tas clássicas de volição, desejo e consciência individual naqueles aspectos do comportamento que são em sentido estrito não voliti· vos c não racionais. Até h~ alguns anos n inrluência de Freuu era a mais amplamente reconhecida, a esse respeito. Mas é im ~ possível omitir o fato de que a reação de Durkhcim ao racionalis· mo individualista é l11:Jis radical do que a de Freud. Freuu estava virtualmente com os racionalistas na sua aceitação da primazia do indivíduo e das Corças intr.l·individuais. Influências não racionais sobre o comportamento derivam, no sistema de Freud, de elementos profundamente arraigados no indivíduo, elementos derivados essencialmente do passado racial do homem. O indivíduo conlinua sendo o terminur a quo oas explicações freudiaoas. Para Dud·.. heim, contudo, a principal fonte de motivação, pensamento e conduta humana, r~pousa nas condições sociais externas ao indivíduo; ela repousa na sociedade e na história da sociedade. 74 incansavelmente apregoava, é um conjunto de falOS sociais, fatos estes que se originam da primazia da sociedade sobre o indivíduo. rísticas peculiares, que não são encontradas em nenhum outro lugar e que não podem ser novamente encontradas da mesma forma no resto do universo". Quase nas palavras de Burke, Durkheim escreve sobre representações coletivas dizendo que "são o resultado de uma imensa cooperação, que se estende não apenas pelo espaço, mas também pelo tempo; deve-se torná· los como uma pluralidade de mentes que associaram, uniram e combinaram suas idéias e sentimentos, para elas longas gerações acumularam suas experiências e conhecimentos. Uma atividade intelectual especial, que é infinitamente mais rica e m<lis complexa do que aquela do indivíduo, está portanto concentraua nelas." Quando ele escreve sobre o crime qu~ é necessário, que "está estrcitanlcnte ligado com as condições (undamentais de toda vida social, e por esse fato é útil, porque essas condições das quais é uma parte, são elas mesmas indispensáveis para a evolução normal da moralidade e da lei", ele poderia estar parafraseando os célebres comentários de Burke sobre a necessidade do preconceito na sociedade. Vemos elementos do conservadorismo em toda análise racional de Durkheim sobre controle social; em sua demonstração dos elementos não contratuais do contrato; na sua insistência sobre a irredutibilidade do "dever" moral para considerações utilitárias; na base moral que ele dá a todl organização social; na separação da moralidade em duas categorias (undamentais de disciplina e Iiga- 75 --- --, .. --- Ç"O grupal; na divisão significativa de todo (enômeno social em sngrado e secular. Vemos:ls suposições filosóficas do conservarismo na profunda ênfase que dá sobre a interdependência (uncional de todas as partes da sociedade; na origem social das categorias da razão humana. A visão da história em Durkheim 6 essencialmente a visão conservadora, com a ênfase que dã sobre os aspectos desorganizacionais e alienadores do desenvolvimento europeu moderno e sobre a criação das massas, prostradas inertes ante um estado cada vez mais onipotente. E, finalmente, não podemos perder de vista o caráter conservador de seu programa de cdecmas mais articulado, a criação de novas organizações ocupacionais intermediárias para preencher o vácuo social causado pela eliminação revolucionária das corporações. Nada disso anula de nenhuma forma os empreendimentos científicos de Durkheim . Podc~sc concordar com muitos intérpretes dos trabalhos de Durkhcim, em que dificilmente :l união cienlírica elltre Icoli:, e dados empfricos tenha sido tão rigorosa e produtiva como 110 S"icldio. O que Durkhcim fez foi subtrair a visão conservadora da socied:lde do que era essencialmente um nrcauouço especulativo de illvestigação e traulI zi-la em ;Ilg1l11135 hipóteses, que ele procurou veriricar crucialmente - pclo menos 110 caso dos índices uc suicídio. Nós seguramente não podemos c~qucccr a illtcnção e as perspectivas cientHicns de grande parte do trabalho de Durkheilll ou a cuidadosa relação entre a tcoria c os conjuntos de dados existentes. Mas também nua podemos esquecer a n!tida (ante histórica das hipóteses de Durkheim com relação ao suicídio que é encontrada em escritos anteriores de Lamennais e Tocqucville sobre O assunto e, portanto, em toda n estrutura da visão conservadora da sociedade. Xero.{ áo CfiiCeno Ruo lOOJÓ. 151 . lberdoCle S60 PouIo • SP Tol . 76 32?7' ~ 12e..5 ---- • •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• a;; :. • •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• • •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •• •