O Impacto Econômico das Grandes Guerras Mundiais e as Manifestações de Crise do Sistema Capitalista no Século XX André Cutrim Carvalho1 RESUMO: O objetivo fundamental do presente artigo é destacar de forma sucinta, porém, objetiva, os principais aspectos econômicos envolvendo as duas grandes guerras mundiais, e seus impactos iminentes na dinâmica estrutural do sistema capitalista no século XX. É preciso observar que depois do fim da 1ª Guerra Mundial, a economia norte-americana, a partir de 1922, ingressou em um ciclo virtuoso que teve seu término de forma abrupta no que ficou conhecido como a Grande Crise de 1929. No período de 1929-1937, apesar da profundidade da depressão e da enorme fuga de capital internacional, diversos países puderam contar com maiores graus de liberdade em termos externos. Além disso, fica nítido que o envolvimento das grandes potências na 2ª Guerra Mundial, as políticas de defesa da economia, e o novo manejo da política econômica geraram um aprendizado de uma futura burocracia planejadora, e de um Estado intervencionista. Palavras-Chave: Grandes Guerras Mundiais, Sistema Capitalista, Grande Crise de 1929. THE ECONOMIC IMPACT OF THE GREAT WORLD WARS AND EXPRESSIONS OF CRISIS OF CAPITALIST SYSTEM IN THE TWENTIETH CENTURY ABSTRACT: The primary goal of this article is to highlight briey, but objectively, the main economic issues involving the two world wars, and its imminent impact on the structural dynamics of the capitalist system in the twentieth century. It should be noted that after the end of World War 1, the U.S. economy, in 1922, entered a virtuous cycle that had its ending abruptly in what became known as the Great Depression of 1929. In the period 1929-1937, despite the depth of the depression and the huge drain on foreign capital, many countries could rely on greater degrees of freedom in external terms. Moreover, it becomes clear that the involvement of the great powers in World War 2, the defense policies of the economy, and the new management of economic policy led to an apprenticeship for a future planner bureaucracy, and an interventionist state. Keywords: World Wars, Capitalist System, Great Crash of 1929. ¹ Economista e Engenheiro de Computação. Mestre em Economia pela UNESP e Doutor em Desenvolvimento Econômico pela UNICAMP. Professor-pesquisador Adjunto I da Faculdade de Economia da Universidade Federal do Pará – UFPA. e-mail: [email protected] Em Foco - Ano 11 • nº 21 • 2014 - 43 1 INTRODUÇÃO A primeira década do século XX foi caracterizada por um período de consolidação do modo de produção capitalista. Carneiro (2008, p. 01) observa esse contexto da seguinte maneira: Em 1900, o capitalismo parecia completamente realizado, tendo sido estendido a todas as partes do globo, constituindo uma área central de mercado consumidor forte, baseado em população assalariada em crescimento e uma vasta área periférica sujeita a trocas desiguais. Ele, ainda, acrescenta que o período que vai de 1914 a 1950, no entanto, submeteria o sistema econômico mundial a provas muito duras quanto à sua solidez. Foram duas guerras mundiais, no centro das economias europeias; dois períodos de reconstrução; longa década de depressão econômica geral e diminuição de seu espaço geográfico pela implantação de sistemas alternativos. Além do mais, o referido período representou, também, o fim da hegemonia europeia e a mudança da estrutura financeira para o que veio a se tornar o epicentro do capitalismo mundial: os Estados Unidos da América (EUA). O período compreendido desde a 2ª Grande Guerra Mundial até o seu fim, pode ser caracterizado, em suma, por um rápido e prolongado crescimento das economias capitalistas avançadas deste período. O setor responsável por esse rápido crescimento econômico, na época, foi o setor industrial, principalmente se for levado em conta o dinamismo do mesmo, bem como da difusão da lógica industrial em vários setores, tais como: construção civil, transporte, serviços financeiros, agricultura e outros serviços públicos. A questão mais pertinente que se encontra na análise da evolução industrial no período das duas grandes guerras mundiais, principalmente, a partir da II Guerra Mundial (II GM) está relacionada à estrutura e à dinâmica intersetorial dos países envolvidos. Nesse aspecto, há uma grande semelhança entre as indústrias que cresceram mais rapidamente nos diversos países mundo a fora, bem como entre as que cresceram de forma mais lenta, já que nenhum outro país cresceu em decorrência do desempenho acima da média de um ou de outro. Percebe-se que as variações da taxa de lucro e suas implicações sobre os processos de acumulação de capital representam uma importante fonte explicativa dos ciclos econômicos. É preciso ressaltar que as utuações dos negócios econômicos nas economias capitalistas são de várias espécies e têm causas múltiplas. Algumas são súbitas, isoladas, descontinuas e de curta ou média duração. Já outras podem ser prolongadas e causadoras de mudanças estruturais. Na verdade, os ciclos econômicos possuem uma dinâmica que se manifesta em forma de ondas. É possível identificar o crédito e o endividamento como fatores alimentadores da especulação. Pode-se dizer que uma bolha financeira especulativa tende a crescer sempre que a mesma é oxigenada por uma ampliação do crédito, numa espiral de concessões, que somente termina quando, por algum motivo inesperado, a desconfiança e a incerteza aumentam quanto aos lucros futuros espe- 44 - Em Foco - Ano 11 • nº 21 • 2014 rados, como o que aconteceu na Grande Crise de 1929 ou Crash de 1929. O crédito concedido praticamente desaparece, os preços caem e o pânico domina os mercados manifestando a instabilidade. Marx (1982, p. 26) retratou essa instabilidade deste modo: A sociedade burguesa moderna, que conjurou gigantescos meios de produção e de troca, assemelha-se ao feiticeiro que já não pode controlar as potências internas que pôs em movimento com suas palavras mágicas. Basta mencionar as crises comerciais que, repetindo-se periodicamente, ameaçam cada vez mais a existência da sociedade burguesa. Cada crise destrói regularmente não só uma grande massa de produtos já fabricados, mas também uma grande parte das próprias forças produtivas já desenvolvidas. Uma epidemia, que em qualquer época teria parecido um paradoxo, desaba sobre a sociedade – a epidemia da superprodução. E por quê? Porque a sociedade possui demasiada civilização, demasiados meios de subsistência, demasiada indústria, demasiado com comércio. O sistema burguês tornou-se demasiado estreito para conter as riquezas criadas em seu seio. De que modo consegue a burguesia vencer essas crises? De um lado, pela destruição violenta de grande quantidade de forças produtivas; de outro lado, pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos. A que leva isso? Ao preparo de crises mais extensas e mais destruidoras e à diminuição dos meios de evitá-las. Fica claro, por essa citação, que Marx foi um dos grandes pensadores a perceber que o sistema capitalista moderno era inerentemente instável e sujeito a intermitentes crises econômicas ou financeiras. Marx (1982) se afastou da geração dos economistas políticos que encaravam o capitalismo como constituído por um sistema de mercados autorreguladores e sem falhas. Keynes (1982) legou às novas gerações de economistas uma nova teoria econômica capaz de explicar as crises econômicas e financeiras do capitalismo contemporâneo. Crise e ciclos são estados da economia que guardam entre si relações complexas quanto ao movimento do capital. Keynes não quer dizer apenas que as tendências ascendentes e descendentes, uma vez iniciadas, não persistam indefinidamente na mesma direção, mas sim que acabam por inverter-se. A inexão da fase de auge econômico para a fase de recessão é o momento de crise. “Por crise deve ser compreendido o fato de que a substituição de uma fase ascendente por outra descendente geralmente ocorre de modo repentino e violento, ao passo que, como regra, a transição de uma fase descendente para uma fase ascendente não é tão repentina”, Keynes (1982, p. 244). Nesse sentido, o presente artigo foi organizado em três seções, além desta introdução e da conclusão. Na primeira seção são debatidas as principais características que motivaram o processo de eclosão da 1ª Grande Guerra Mundial e, principalmente, seu rebatimento financeiro no sistema capitalista. Na segunda seção são conhecidas as causas da grande depressão econômica da década de 30, e seus impactos na dinâmica capitalista vigente. E, por fim, os fatos mais importantes da 2ª Guerra Mundial e suas consequências econômicas no sistema capitalista. 2 A ECLOSÃO DA 1ª GUERRA MUNDIAL E SEU REBATIMENTO NO SISTEMA CAPITALISTA De acordo com Carvalho (1994, p. 11), “o despontar da I Guerra Mundial (I GM), pode-se dizer, demarca o virtual fim da hegemonia inglesa. Durante a I GM - no período de 1914 até 1918 - a Grã-Bretanha resolveu retirar o seu apoio do sistema financeiro internacional vigente, ao desvincular a libra esterlina do ouro”. Nesse intervalo, os EUA começam a assumir, com a retração dos empréstimos pela Inglaterra, o papel de grande credor internacional. Desta forma, os EUA transformaram-se no maior produtor de base industrial do mundo por diversos motivos. Carvalho (1994, p. 11) enumera alguns: Mercado interno em proporções continentais; poderoso parque industrial; imensas riquezas naturais; vasta extensão de terras ricas agricultáveis; e, por fim, abundante disponibilidade da mão-deobra oriunda da imigração de trabalhadores europeus. Mesmo assim, os EUA, embora possuíssem uma balança comercial favorável, era considerado um país importador de capitais. Carvalho (1994, p. 11-12) faz a seguinte ponderação: Durante a I GM, tanto a França como a Inglaterra acabaram se envolvendo numa complexa rede de endividamento, cujo desfecho leva a Inglaterra, credora da França, a recorrer a um vultoso empréstimo norte-americano contra a garantia do ouro inglês e francês. Como resultado dessa operação, os EUA tornaramse credores unilaterais, já que os países devedores aplicavam a maior parte de suas reservas em dólares na compra de mercadorias norte-americanas, enquanto os demais países europeus ficaram como credores e devedores entre si. Tal ambiente vislumbrou uma situação que aconteceria (e, aconteceu) no imediato período pós-I GM, quando as necessidades de bens agrícolas e industriais para a reconstrução dos países europeus foram amplamente financiadas por créditos dos EUA. “Esta forma de exportação de riqueza servia para potenciar a riqueza real norte-americana, uma vez que os empréstimos alimentavam a demanda de mercadorias dos EUA e assim contribuíam para expandir a capacidade produtiva americana”, lembra Carvalho (1994, p. 12). Entretanto, como observa Moffitt (1984, p. 18-19), “a ascensão dos EUA, como poder econômico dominante, não coincidiu com o desejo americano de desempenhar a função de nação hegemônica que a Inglaterra tinha exercido no século XIX”. Há, nesse período, uma forte disputa entre os grupos políticos nacionalistas - que defendiam os interesses do mercado nacional - e os internacionalistas que lutavam pela abertura da economia americana para o mercado internacional. Lênin (1985), escrevendo no último quartel do século XIX, destaca que a característica deste período é a divisão final da terra, [mas] final não no sentido de que uma nova partilha seria impossível – pelo contrário, novas divisões são possíveis e inevitáveis – porém, no sentido de que a política colonial dos países capitalistas completou a tomada das terras não ocupadas pelo mun- do. Pela primeira vez o mundo está dividido, de forma que no futuro só serão possíveis redivisões, isto é, a transferência de um “dono” para outro, e não de um território sem “dono” para um “dono”. Percebe-se, portanto, que o capitalismo, pela sua própria natureza, não se pode deter, já que necessita continuar expandindo-se, e, como os vários setores da economia capitalista mundial se expandem em ritmos diferentes, segue-se que o equilíbrio de forças está sujeito a ser perturbado de modo que um ou mais países julguem tanto possível como vantajoso desafiar o status quo relativo aos limites territoriais. As classes capitalistas nacionais rivais mostram, pela sua preocupação com exércitos, armadas, bases estratégias e aliadas o quanto e o quão bem compreendem esse fato básico do período imperialista, pois é evidente que uma redivisão do mundo só pode ser realizada pela força armada. De um lado, as pequenas nações industriais relativamente avançadas, algumas com impérios próprios, outras sem eles. De outro, os países atrasados formalmente independentes, que na verdade ocupam uma posição semicolonial em relação às grandes potências. De acordo com Sweezy (1986), em ambos os casos, a independência que essas áreas possam desfrutar é essencialmente resultado da rivalidade entre as principais nações imperialistas. Quando o equilíbrio de forças desaparece e as armas da diplomacia são substituídas pelas armas da força, formam os principais campos de batalha das guerras de redivisão. A primeira guerra de redivisão foi uma guerra de coalizão em que os maiores adversários eram respectivamente, Inglaterra e Alemanha, as duas nações capitalistas mais poderosas e avançadas na Europa ocidental. Desde o início, nela se envolveram todas as nações imperialistas europeias, com exceção da Itália, que entrou na guerra logo que seus estadistas julgaram prever qual o lado seria vitorioso. As duas maiores potências imperialistas não europeias, como os Estados Unidos e o Japão, também foram arrastadas para a I GM. Em 1917, o colapso do regime czarista na Rússia foi seguido da revolução bolchevista e o estabelecimento da primeira sociedade socialista no mundo, retirando a Rússia da arena imperialista. No ano seguinte, a guerra chegou ao fim com o colapso da resistência austro-húngaro e alemã. Importantes áreas produtoras de matérias-primas, em ambos os lados da Alemanha foram dadas a uma Polônia restabelecida e a França e Bélgica. A Alemanha perdeu a sua armada e sua marinha mercante, e seu exército foi reduzido ao tamanho considerado suficiente para manter o sistema de relações de propriedade capitalistas dentro das novas fronteiras. O império Austro-Húngaro foi reduzido a pedaços, e um anel de novos Estados se estabeleceu no sudeste e leste da Europa para isolar a URSS, além de agir como contrapeso de um possível ressurgimento alemão. Os EUA, embora não tivesse lucro com a guerra no sentido territorial, dela saíram como a economia mais poderosa do mundo, credora em vasta escala das nações europeias exportadoras de capital, das quais alguns Em Foco - Ano 11 • nº 21 • 2014 - 45 anos antes foram grande devedora. A Itália estava muito enfraquecida no final da guerra para tomar o que lhe fora prometido pela participação na luta ao lado dos Aliados. Finalmente, o Japão aproveitou-se da preocupação das potências ocidentais para ampliar seu território, e a esfera de inuência no Extremo Oriente. 3 A GRANDE DEPRESSÃO DE 1929 E AS SUAS REPERCUSSÕES NO CAPITALISMO A Grande Depressão teve como ponto de origem e propagação os EUA. O colapso da bolsa de valores, em outubro de 1929, arruinou muitas pessoas que tomaram crédito a fim de comprar ações na expectativa de ganhos de capital, mas no período de 1930 até 1933 que a recessão profunda se revelou uma crise fora do comum. Uma das principais características da Depressão de 1929 foi à queda do investimento, sobretudo o investimento líquido que se tornou negativo. A taxa de desemprego alcançou 25% da força de trabalho, e a produção industrial de 1932 estagnou em 53% do nível de 1929. Segundo Carvalho (1994, p. 12): Quando a crise atingiu o seu ponto crítico em 1929, o FED (o Banco Central dos EUA), não tomou nenhuma medida prática para frear a dramática queda dos preços e do nível da produção que, em última instância, era a manifestação causal da depressão. Ao contrário, o "Federal Reserve", aparentemente muito mais preocupado com a possibilidade de uma alta inação do que com a depressão e, consequentemente, com o (des)emprego, nada fez para "abortar" a crise. Carvalho (1994, p. 13) vai além ao lembrar que os responsáveis pelas diretrizes políticas-econômicas (policy makers), apegados à ortodoxia financeira, nem abriram o mercado interno americano aos produtos estrangeiros, nem facilitaram novos créditos aos países que deles necessitavam para evitar uma contração das suas atividades econômicas. Assim, o FED, ao se recusar de atuar como emprestador de ultima instância acabou propagando para o resto do mundo uma crise de "escassez do dólar", manifestada nos demais países pela incessante procura por dólares via exportações que implicava numa contração da demanda agregada interna - ou via empréstimos em Wall Street - que resultava no agravamento da dívida externa - para sustentar suas atividades econômicas. Marx sempre esteve consciente de que o movimento contraditório da sociedade capitalista se manifesta nas modificações do ciclo periódico (fases) a que está sujeita o capitalismo industrial. Percebe-se, portanto que essa manifestação de crise no sistema monetáriofinanceiro norte-americano revelou-se uma crise de superacumulação de capital decorrente da desenfreada e generalizada concorrência entre as várias empresas monopolistas e oligopolistas. O Presidente dos EUA, Harry S. Truman sintetizava essa condição da seguinte forma: “Uma recessão é quando o seu vizinho perde o emprego, uma depressão é quando você perde o seu”. De fato, recessão é um declínio do Produto Interno Bruto (PIB) por dois ou mais trimestres consecutivos, já a depressão está relacionada 46 - Em Foco - Ano 11 • nº 21 • 2014 com outros aspectos mais amplos, como níveis de emprego, produção industrial, rendimento real. Qualquer explicação satisfatória para os acontecimentos de outono de 1929, e os posteriores, deve destacar a importância do boom especulativo e o colapso que se seguiu. Até setembro de 1929 o declínio da economia real era moderado. Assim, esperava-se que uma inversão dessa tendência pudesse anular os efeitos da bolsa. Na verdade, ninguém podia esperar que, além da queda dos preços dos ativos do mercado financeiro, os preços, as rendas e outros indicadores do mercado de bens e serviços fossem retrair-se cada vez mais, durante três longos e calamitosos anos. A opinião geral sobre os acontecimentos de outono de 1929 era de que a economia norte-americana já estava plena depressão quando houve o estouro da bolha especulativa no dia 24 de outubro de 1929, isto é, o Grande Colapso da Bolsa de Valores de Nova Iorque. Em junho de 1929, a produção de aço e o transporte das cargas ferroviárias declinaram. A construção civil, um dos mais ativos setores da economia, teve o seu nível de atividade muito reduzido. Logo, os meses que antecederam o Colapso davam claros sinais de uma recessão. Por fim, chegou à vez do mercado acionário. Thomas Wilson declarou que a quebra ou crash da bolsa de Wall Street seria um reexo da transformação que estava ocorrendo na economia industrial. Para Galbraith (1988, p. 79-80): Por esta visão, o mercado acionário seria apenas uma imagem da economia real: causas e efeitos uem da economia real para a economia financeira (mercado acionário). Em 1929, portanto, estaria a caminho uma crise que veio culminar no Grande Colapso da Bolsa de Wall Street. Havia boas razões, inclusive doutrinárias, para fundamentar essa tese. Em Wall Street, como de resto em todas as atividades, nenhum americano desejava uma depressão profunda. Quando o mercado caiu, muitas pessoas em Wall Street ficaram apreensivas porque sabiam das consequências do colapso da bolsa sobre a economia real em termos de queda da renda e do emprego. Por isso era preciso que as figuras mais ilustres repetissem – como medida de encantamento preventivo – que o colapso da economia não aconteceria. Tais figuras “explicaram que o mercado acionário era apenas a espuma da vida econômica, cuja substância verdadeira repousava na produção, no emprego e na procura de bens e serviços – produção, emprego e procura essas que não seriam atingidas” por um colapso da bolsa. Entretanto, ninguém tinha certeza disso, além do mais, como instrumento da política econômica, o encantamento não admite pequenas dúvidas ou escrúpulos. Nos anos de grande depressão foi conveniente continuar repetindo a irrelevância do mercado acionário. Havia o receio que uma explicação que atribuísse importância à bolsa de valores pudesse ser levada a sério a ponto de trazer problemas de descrédito a Wall Street. Sem dúvida, Wall Street sobreviveria, mas guardaria cicatrizes. Além disso, “que fique claro que não houve uma conspiração premeditada para reduzir os efeitos do Colapso da Bolsa sobre a economia dos EUA: simples- mente parecia às pessoas precavidas que o melhor a fazer era deixar Wall Street fora daquilo, pois ela era vulnerável”, destaca Galbraith (1988, p.80-81). De fato, nenhuma depressão, séria ou não, poderia ter sido prevista no momento em que a bolsa caiu. Resta ainda a possibilidade de que o declínio dos índices tenha assustado os especuladores (criando um pânico) levando-os a descarregar suas ações, antecipando assim o estouro da bolha especulativa. Tal explicação já é mais plausível, contudo, não se deve atribuir grande importância a essa explicação, pois é da própria natureza do boom especulativo entrar em colapso por qualquer motivo. Diante de qualquer abalo sério na confiança geral, os especuladores costumam desfazer-se de suas ações, mas sem antes colher o máximo de lucro possível. O grau de pessimismo contagia as pessoas mais ingênuas, que achavam que os preços do mercado acionário subiriam sempre, mas diante daquela situação mudaram de ideia a ponto de vender seus títulos e ações. Galbraith (1988, p.81-82) recorda que “em pouco tempo a boataria se espalha, haverá novas chamadas para complementação das margens, como que mais pessoas serão obrigadas a vender os seus papéis – e assim a bolha especulativa arrebenta”. De onde tem início esse tipo de boato para plantar essas dúvidas não se sabe e nem tampouco é importante sabê-lo. O fato é que o estado de confiança pode, a qualquer tempo, se desintegrar não só uma vez, mas diversas vezes. Porém, Galbraith (1988, p. 83-96) afirma que “as notícias ruins de negócios nos jornais podem ser a pequena centelha para explodir uma grande bolha especulativa, como estão demonstradas nos vários exemplos”. Carvalho (1994, p. 14) conclui que nas décadas posteriores à Grande depressão dos anos 30, “houve o fortalecimento e a expansão do capitalismo monopolista de Estado para quase todos os países avançados”. A partir daí, a intervenção estatal, para enfrentar as grandes dificuldades de acumulação de capital, passou, como se sabe, a ser realizada à base das medidas de políticas keynesianas de gastos governamentais que tiveram o efeito de engendrar uma nova forma de compromisso social tácito entre os interesses da burguesia, voltados para uma adequada valorização do capital, e os interesses dos trabalhadores voltados para o pleno emprego sustentado por programas de bem-estar-social. Entretanto, a essa altura, a economia norte-americana com uma indústria e uma agricultura competitiva e com uma moeda forte - estava predestinada a assumir um novo papel no contexto da economia mundial. Depois do fim da Primeira Grande Guerra Mundial, a economia norte-americana, a partir de 1942, entrou em um ciclo virtuoso que durou até o final da década de 1960. Os anos de ciclo virtuoso dos EUA repousaram sobre dois pilares: a expansão do crédito bancário; e a efetivação de gastos em bens de investimentos e em bens de consumo. Além disso, a efetivação dos gastos de investimentos se deu envolvendo várias indústrias de bens de capital fixo, de bens de consumo duráveis, e dos investimentos em infraestrutura como: rodovias, energia elétrica e portos. As condições favoráveis do crédito para financiar os investimentos industriais foram importantes. As famílias não encontraram restrições para o financiamento da compra de suas casas, automóveis e eletrodomésticos. Ademais, a redução dos juros favoreceu a concessão de créditos não apenas para os investidores industriais, mas também para os especuladores financeiros profissionais tanto nacionais quanto internacionais. Nesse ambiente de expansão econômica e ampla fartura de crédito ninguém se importava com o aumento de dívidas e sinais de queda dos preços até a data fatal. Os indicadores macroeconômicos da Tabela 1 revelam a tendência do desempenho da economia norte-americana até 1929, ano do estouro da bolsa de valores de Nova Iorque. Tabela 1: Indicadores da economia norte-americana: 1921-1929 Ano Índice de Evolução do PIB Taxa de Desemprego(%) Evolução dos Preços dos Bens de Consumo Receitas Públicas (Em US$ Bilhões) Gastos Públicos (Em US$ Bilhões) Variação da Dívida Pública (%) 1921 1922 1923 1924 1925 1926 1927 1928 1929 100,00 105,50 119,40 123,10 126,00 134,20 135,50 137,00 145,50 11,40 7,20 3,00 5,30 3,80 1,90 3,90 4,30 3,10 100,00 97,60 99,40 99,40 102,40 101,20 98,80 97,60 97,60 5,6 4,0 3,9 3,9 3,6 3,8 4,0 3,9 3,9 5,1 3,3 3,1 2,9 2,9 2,9 2,9 3,0 3,1 -1,3 -4,2 -2,7 -4,9 -3,5 -4,3 -5,8 -4,9 -3,8 Fonte: Mazzucchelli (2009, p. 201). Antes dessa data, era generalizada a ideia do espírito empreendedor e otimista dos homens de negócios americanos os quais reproduziam um regime de acumulação ampliada de capita intensivo – centrado fundamentalmente nos gastos em consumo de massa (pelas famílias) e investimento industrial (pelas grandes empresas) definido pelo regime de acumulação fordista – que proporcionava um alto padrão de bem estar social as famílias americanas. Contudo, a “onda destruidora” – que teve como epicentro o maior e mais poderoso centro do capitalismo financeiro mundial, Wall Street – não somente causou as falências dos bancos e outras instituições financeiras, mas também atingiu a indústria, a agricultura, o setor de serviços e a sociedade norte-americana na forma de desemprego, baixas nos preços, falências de bancos e execução de dívidas de empresas e famílias. Em termos sociais, segundo Galbraith (1988, p. 116), antes de 1929 a estatística do índice de suicídios nos EUA vinha se elevando gradativamente. Mas essa tendência continuou em 1929 e se acentuou muito em 1930, 1931 e 1932 – anos da fase mais intensa da crise em que os fatores sociais associados ao aumento do desemprego, alheios aos fatos do mercado financeiros – levaram muita gente a concluir que não valia mais a pena viver. Ele observa que a taxa média de suicídios por cada 100.000 habitantes em Nova Iorque subiu de 15,70 (1925-1928) para 17,70 (1929-1934). Na verdade, o que tornou inevitável o Colapso da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em outubro de 1929, foi o aumento da especulação insensata e desenfreada. Por trás da explosão especulativa estavam às forças econômicas, políticas, psicológicas e culturais que tornaram os norte-americanos susceptíveis ao maior desastre Em Foco - Ano 11 • nº 21 • 2014 - 47 econômico que pôs em risco a própria sobrevivência do capitalismo – a grande depressão dos anos 30. Além disso, a queda generalizada dos preços nos mercados financeiros, de fatores e de mercadorias, tornou-se mais grave o processo depressivo nos EUA. A quase paralisia do comercio internacional só foi suspensa nos primeiros meses de 1933 com a volta da concessão de crédito para alguns países da periferia e da Europa. 3.1 Escapando da Grande Crise de 1929: EUA, Suécia, França e Alemanha A década de 30 é a década da Grande Depressão, mas corresponde aos anos de não estagnação da política econômica dos governos. Esse fato chama atenção porque a doutrina liberal sempre negou qualquer tipo de intervenção do Estado na economia de mercado. Bleaney (1985), por exemplo, observa que outro fato surpreendente, é o de que, quando Keynes estava escrevendo sua Teoria Geral (TG), já havia vários países fazendo experiências com políticas não-ortodoxas, inclusive políticas fiscais expansionistas. No capítulo 2 do seu livro sobre a ascensão e queda da economia keynesiana, Bleaney (1985) resolve discutir as experiências das medidas não-ortodoxas aplicadas contra a Grande Depressão dos anos 30 adotadas por quatro importantes países: EUA, Suécia, Alemanha e França. A grave situação exigia uma política econômica de recuperação, e o New Deal (ou Novo Acordo) do Presidente Roosevelt buscou combinar uma abordagem dinâmica e criativa para problemas econômicos com a aprovação de algumas atrasadas reformas sociais. No período anterior, a reação de Hoover contra o Crash da bolsa foi tentar convencer os empresários a manterem os níveis de salários e preços para prevenir uma queda nos seus níveis, pois era isso que era amplamente considerada como sintomas de recessão. Hoover anunciou um corte dos impostos em 1930, sobre um orçamento superavitário e outras medidas paliativas que não tiveram sucesso, como pode ser visto na Tabela 2. Porém, com a eleição do Presidente Franklin Roosevelt, em 1932, o governo federal lançou o New Deal como um novo experimento que rompia com o conservadorismo de Hoover. O New Deal não consistiu de políticas econômicas claras, mas de algum investimento público, sendo que os aspectos mais importantes foram medidas como: desvalorização do dólar; empréstimos a juros baixos, programa de recuperação da indústria nacional, e a lei de administração da agricultura. No entanto, apesar dessas e outras medidas, a recuperação econômica moveu-se muito lentamente, sobretudo a do setor privado de investimento. A relutância para investir era entendida devido à enorme choque de demanda negativa. Os investimentos públicos também não ocorreram num nível esperado para movimentar a gigantesca máquina industrial norte-americana. Se a política fiscal impulsionou a economia dos EUA até 1936, sua contribuição para a inesperada, mas temporária reversão de 1937-1938 ficou mais evidente. “Essa fragilidade decorreu da ideologia do orçamento-equilibrado enraizada na mente dos norte-americanos e do próprio Presidente Roosevelt”, observa Bleaney (1985, p.41-51). 48 - Em Foco - Ano 11 • nº 21 • 2014 Tabela 2: Taxa de Desemprego durante o New Deal Fonte: U.S. Census Bureau; Bureau of Labor Statistics; Global Insight. Na Suécia, em setembro de 1932, o governo trabalhista eleito iniciou um programa de investimento público a fim de superar a depressão da economia. Como resultado da impressionante recuperação econômica, a Suécia tem sido considerada um exemplo das poderosas medidas keynesianas para superar a depressão sem recorrer ao militarismo ou a um controle excessivo do Estado sobre a economia. É preciso adiantar que a escola de Estocolmo, sobretudo Myrdal com a distinção ex ante e ex post, ajudou, de certo modo, Keynes na preparação da sua Teoria Geral. Cabe ressaltar, de acordo com Bleaney (1985, p. 52-56), que “a política fiscal ativa adotada pelo governo Sueco foi muito mais transparente do que a norte-americana”. Na França, a economia não se recuperou virtualmente nos anos 30 e o Estado ficou mais debilitado no final da década do que no início. A estagnação econômica prevaleceu. As dificuldades começaram não com a depressão, mas com as medidas tomadas por outros países para competir com a França. Além disso, o déficit orçamentário (causado pela forte queda da renda nacional) e o déficit no balanço de pagamento agravaram mais ainda a crise econômica francesa. Deação de preços e salários e a tentativa de enfrentar a concorrência internacional, combinada com as tentativas de construir um orçamento equilibrado, devem explicar o insucesso de recuperação econômica da França. Depois do fracasso tem início uma estratégia de inspiração da esquerda keynesiana: 1) aumento da demanda do consumidor pelo aumento do poder de compra da classe trabalhadora; instituição do programa de trabalho público para ser financiado por empréstimos; e redução das horas de trabalho, a fim de difundir mais trabalho. A recuperação industrial só veio ocorrer em meados de 1936. As políticas econômicas do keynesianismo de esquerda eram vistas com certo receio de se transformar em algo mais radical. O tamanho do déficit orçamentário, visto como uma irresponsabilidade financeira pelas forças conservadoras acabou reforçando as altas taxas de inação. Por fim, “a principal dificuldade, além do pouco sucesso do programa de trabalho público e as tentativas de estimular a demanda agregada, foi à relutância dos capitalistas para investir”, Bleaney (1985, p.56-66). Na Alemanha, Adolf Hitler, tornou-se chefe do governo alemão em 30 de janeiro de 1933. Nesta data a Alemanha estava ainda vivendo uma profunda depressão econômica que não só era a mais severa da Europa e como rivalizava com a dos EUA. As estatísticas oficiais registravam um desemprego de seis milhões de pessoas. O investimento líquido foi negativo. A produção industrial ficou 40% abaixo do nível de 1929, apesar de uma suave recuperação no outono de 1932. Contudo, em poucos anos os recursos produtivos voltaram a ser plenamente utilizados. Por volta de 1938, a produção industrial ficou 25% acima do nível de produção de 1929 e o nível de desemprego praticamente desapareceu. Não há dúvida que essa recuperação ocorreu como consequência da ação política do governo. O principal problema em debate é se essa recuperação pode ser considerada, pelo menos em parte, como um destacado sucesso da aplicação de um programa de recuperação keynesiano. A história da depressão na Alemanha foi o resultado de uma desanimadora crise financeira e de uma deação dos preços e salários. A crise econômica causou um declínio das receitas tributárias e uma subida na taxa de desemprego. Os empréstimos estrangeiros que vinham financiando os gastos públicos ficaram escassos e o déficit do seguro desemprego passou a preocupar o governo devido à redução dos benefícios. A tentativa do Presidente Hindenburg de reduzir o elevado déficit público através da redução dos gastos do governo só contribuiu para o aumento das contribuições do seguro desemprego, do imposto de renda e de outros impostos; e em especial o aumento de impostos sobre todos os funcionários públicos. Em maio de 1931, o sistema financeiro entrou em crise com o colapso do crédito do mais importante Banco da Áustria. A insolvência gerou pânico entre os credores estrangeiros da Alemanha e precipitou uma retirada massiva de recursos. Isto acabou provocando uma onda generalizada de desconfiança nos bancos alemães que levou o governo a fechar os bancos por várias semanas. Tudo isso só contribui para transformar a recessão numa depressão. O fundo do poço da depressão foi atingido em agosto de 1932. Papen, que substitui Bruening na chefia do governo, criou um mecanismo visando melhorar a liquidez e a confiança por meio da emissão e venda de títulos públicos. Seu efeito recuperou a riqueza dos pagadores de impostos e logo se converteu num ativo muito procurado no mercado financeiro. Papen também desenhou um programa de gastos na construção de casas, melhoramento de terras agrícolas e de investimento nos serviços de correios e estradas de ferro. Mais tarde foi anunciado o programa de Schleicher de gastos públicos dois dias antes de Hitler tornar-se chefe do governo. Essas políticas aplicadas na Alemanha, depois de 1932, são exemplos de respostas keynesianas bem sucedidas de combate à depressão. Como se vê, quando se analisa o caso da Alemanha, o esforço é concentrado apenas na política armamentistas nazista. A atitude de Hitler, depois que assumiu a chancelaria, foi a de tratar o sistema econômico da Alemanha como um meio para os seus objetivos políticos. Os problemas que surgiram foram resolvidos por um estado burocrático que passou a controlar tudo: os preços, os salários, o comércio exterior e a direção dos investimentos privados. O método foi essencialmente keynesiano, mas eles foram perseguidos obstinadamente porque a motivação política era restaurar a Alemanha. 4 A 2ª GUERRA MUNDIAL E SEUS REBATIMENTOS NO SISTEMA CAPITALISTA Em 1930 a Alemanha invadiu a Polônia, proporcionando uma reação imediata por parte da Grã-Bretanha. A união das potências fascistas para conquistar a Europa e a Ásia foi anunciada formalmente em 1940 quando o Japão assinou o Pacto de Berlim. (Alemanha, Itália e Japão). Pouco depois, provocados pelas invasões em diversos territórios: EUA e URSS entram no conito conta o nazifascismo. Em linhas gerais, a soma dos efetivos americanos e soviéticos, dos recursos e batalhões vindos da Américas, África e Ásia levou à rendição da Alemanha em 07 de Maio de 1945. A vitória no extremo Oriente só chegou três meses depois. Em 06 de Agosto de 1945 foi lançada sobre a cidade de Hiroshima uma bomba atômica. A potência efetiva da bomba era de 12.500 toneladas de explosivo e gerou a morte imediata de cerca de 140 mil pessoas. O Japão já estava vencido antes de ser jogada a bomba atômica. Entretanto, os japoneses tinham esperanças de que os seus inimigos se desentendessem e mudassem a sua sorte. Essa esperança foi por terra dois dias depois, quando a URSS declarou guerra ao Japão. Em 08 de Agosto de 1945 foi lançada uma segunda bomba atômica sobre Nagasaki. Esse fator aliado à entrada da União soviética na II Guerra Mundial (II GM) fizeram o Japão aceitar a rendição. Medidas que vinculavam uma firme articulação com o Estado, seja se sustentando nos gastos públicos dos governos, seja na preparação da guerra (armamentos e grandes empresas envolvidas), mantinham a efervescência econômica capitalista viva, mas não geravam nenhum tipo de distribuição e produção de renda, mas protegiam em demasia o grande capital, e não proporcionaram melhorias significativas de vida para os trabalhadores afetados pela crise. Longe de contribuir para reduzir a concentração econômica, a II GM tornou-a bem maior. Truman (1947): A despeito de vigorar a 50 anos a lei antitruste, uma das mais graves ameaças ao nosso bem-estar é a crescente concentração de poder nas mãos de um pequeno número de organizações gigantescas. Durante a guerra, esta tendência para a concentração econômica foi acelerada. Como consequência, agora descobrir que, mais do que nunca, setores industriais inteiros estão dominados por uma ou por algumas organizações grandes, que conseguem limitar a produção para conseguir maiores lucros e, assim, reduzir a oferta de empregos e de poder aquisitivo. A produção industrial de armamentos duplicou em cinco anos, beirando 45% do total da produção; os em- Em Foco - Ano 11 • nº 21 • 2014 - 49 pregos industriais passaram de 10 para 17 milhões, entre 1939 e 1943. O Produto Nacional Bruto (PNB) aumentou em 150%, e apenas 20 grandes empresas industriais controlavam 66,5 da produção total, enquanto antes do conito 75 mil empresas respondiam por um percentual equivalente. Nos países libertados e entre os ocupados pelos Aliados o quadro era caótico. O fato da URSS, antes isolada política e economicamente, ter saído do confronto bastante fortalecida politicamente agrava o cenário do ponto de vista do capital monopolista. Ao ingressar no conito ao lado dos Aliados, ela acabou demonstrando um vigor surpreendente, além da sua capacidade militar que levaria à derrota o exército alemão, libertando o território que separava Moscou de Berlim. Para Beaud (1989, p. 301): Apesar do que possam pensar aqueles que veem em cada guerra, e em cada crise, em cada indício de crise, um novo agravamento da “crise geral do capitalismo”, é principalmente um novo boom do capitalismo que se realiza no período atual. [...] Mas a Segunda Guerra Mundial, a reconstrução e o período de prosperidade que a seguiu, a descolonização, a internacionalização do capital e as novas industrializações do Terceiro Mundo marcam um novo surto do capitalismo em escala mundial Esse sucesso militar procurava expressar a eficácia do planejamento estatal na condução da economia. Afinal, o desenvolvimento industrial dos soviéticos havia resultados dos planos para a industrialização elaborados pela Comissão Estatal de Planejamento – GOSPLAN. Tanto o combativo patriotismo quanto a capacidade bélica eram atribuído ao novo regime implantado pela Revolução de 1917. 5 CONCLUSÃO Sampaio (1995, p.09) afirma que do ponto de vista da estrutura do imperialismo mundial, os resultados da primeira grande guerra de redivisão podem ser resumidos da seguinte forma: I) O poderio germânico foi temporariamente esmagado e seu império colonial tomado pelas nações vitoriosas, principalmente, Inglaterra e França; II) O império Austro-Húngaro foi eliminada do cenário imperialista; III) Os EUA surgiram como a economia mais forte do mundo; IV) A Rússia retirou-se inteiramente da arena da rivalidade imperialista e deu início à tarefa de construir a primeira sociedade socialista do mundo. Sobre a Grande Crise de 1929, é preciso entender que a crise é o ponto culminante da expansão e o momento da reversão da expansão capitalista para uma recessão ou mesmo uma depressão. A Grande Depressão da década de 30 recebeu, inicialmente, um diagnóstico de que a crise da Bolsa de Valores de Wall Street tinha origem no excesso de capital redundante, isto é, seria uma crise de oferta resultante de uma superacumulação de capital ou de subconsumo. A conexão entre os mercados financeiros e os mercados de bens que deu origem a Grande Depressão era, em parte, devido à perda no estado de confiança nos negócios, mas também do elevado grau de endividamento gerado pela inadimplência devido a travagem do crédito num exato momento em que os bancos e empresas mais precisavam de liquidez que não foi fornecida pelo FED. Por fim, cabe dizer que II GM desorganizou de forma drástica a economia mundial e produziu algumas mudanças estruturais importantes, sendo a maior delas a consolidação dos Estados Unidos como a maior potência econômica mundial. No entanto, ao contrário da experiência do período entre guerras, os Estados Unidos desta vez assumiriam a responsabilidade de formulação e implementação de uma nova ordem internacional, perdoando dívidas de guerra e evitando outras medidas que pudessem desestabilizar a economia mundial. Referências BEAUD, Michel. (1989). História do Capitalismo: de 1500 até nossos dias. 2ª Ed. São Paulo: Brasiliense. BLEANEY, Michael. (1985). The Rise and Fall of Keynesian Economics: An investigation of its contribution to capitalist development. London, MacMillan. CARVALHO, David Ferreira. (1994). Crises de hegemonia e globalização na ordem mundial. Papers do NAEA (UFPA), Belém, v. 31, p. 1-34. GALBRAITH, John Kenneth. (1988). 1929: O Colapso da Bolsa. São Paulo. KEYNES, J. M. (1982). A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. São Paulo, Atlas. LÉNIN. Vladimir Ilitch. (1985). Imperialismo, fase superior do capitalismo. 3 ed. São Paulo, Global. MARX, Karl. (1982). 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