A língua de Baudelaire O fim do ano chegou e espero que 2012 tenha sido de muitos estudos e de bastante prosperidade! Tenho certeza que o próximo ano será excelente, com muitos projetos e realizações. Gostaria de agradecer aos meus leitores, que tanto me apoiam e me dão forças para continuar a escrever os artigos, mesmo tendo um tempo tão reduzido. Depois de tantos clichês, vamos fazer algo diferente em nosso texto: será uma mensagem de fim de ano e uma lição de gramática ao mesmo tempo. Há um poema de Baudelaire que tem se tornado cada vez mais o meu lema; neste momento ele servirá apenas como um déclencheur para um breve estudo de dois tópicos gramaticais: o modo imperativo e os pronomes relativos que e qui. Ei-lo aqui: Enivrez-vous Charles Baudelaire Il faut être toujours ivre. Tout est là: c'est l'unique question. Pour ne pas sentir l'horrible fardeau du Temps qui brise vos épaules et vous penche vers la terre, il faut vous enivrer sans trêve. Mais de quoi? De vin, de poésie, ou de vertu, à votre guise. Mais enivrez-vous. Et si quelquefois, sur les marches d'un palais, sur l'herbe verte d'un fossé, dans la solitude morne de votre chambre, vous vous réveillez, l'ivresse déjà diminuée ou disparue, demandez au vent, à la vague, à l'étoile, à l'oiseau, à l'horloge, à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui roule, à tout ce qui chante, à tout ce qui parle, demandez quelle heure il est; et le vent, la vague, l'étoile, l'oiseau, l'horloge, vous répondront: "Il est l'heure de s'enivrer! Pour n'être pas les esclaves martyrisés du Temps, enivrez-vous; enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise." 1. O modo imperativo Logo no título do poema já temos a atuação do modo imperativo: o poeta simbolista do século XIX, considerado como criador da tradição moderna em poesia, nos dá uma ordem ou conselho: Enivrez-vous! Ele nos pede para que nos embriaguemos, para que o fardo do tempo não nos pese sobre os ombros. Um pouco mais à frente, no poema, ele nos sugere perguntar a diversos elementos que horas são, utilizando o verbo conjugado demandez. Deixando um pouco a poesia de lado, vamos ver como se dá a formação do modo imperativo: a. Para os verbos terminados em -ER, a formação é bastante simples. A única alteração quando comparamos com o indicativo presente será na segunda pessoa do singular: VERBO DEMANDER MODO INDICATIVO MODO IMPERATIVO Tu demandes Demande Nous demandons Demandons Vous demandez Demandez Percebam que o s anteriormente existente na segunda pessoa do singular não tem mais lugar mais no modo imperativo. Isso funcionará para todos os verbos terminados em ER, incluindo o verbo aller. b. Para transformar uma afirmativa imperativa em uma negativa imperativa é muito fácil, basta adicionar o ne...pas, assim como fazemos com o indicativo presente: Imperativo afirmativo: Demandez au vent! Imperativo negativo: Ne demandez pas au vent! c. No título do poema há um verbo no modo imperativo, o Enivrez-vous. Mas por que ele é seguido de um pronome? A resposta é uma só: ele é pronominal. Com os verbos desse tipo, os pronomes vêm ligados ao verbo pelo hífen: Enivrez-vous! Lave-toi, tu es sale! Allons-nous! Nous sommes tous fatigués... d. Para verbos não terminados em -ER, a conjugação será a mesma do indicativo presente, excluindo-se, como sempre, o sujeito: Sors d'ici! Prends un café! Mets au four pour 15 minutes. e. Mas é preciso fazer atenção à dupla irregular être e avoir e aos outros dois verbos savoir e vouloir, que também possuem formas irregulares: ÊTRE AVOIR SAVOIR VOULOIR Sois Aie Sache Veuille Soyons Ayons Sachons Voulons Soyez Ayez Sachez Veuillez Finalizamos, assim, nosso breve estudo do imperativo. Façamos agora um sobrevoo no tópico seguinte: a utilização dos pronomes relativos que e qui. 2. Pronomes relativos que e qui. (...) demandez au vent, à la vague, à l'étoile, à l'oiseau, à l'horloge, à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui roule, à tout ce qui chante, à tout ce qui parle, (…) Nesse extrato do poema, podemos perceber a presença do pronome relativo qui. Por que devemos utilizá-lo em detrimento ao que? Qual seria a verdadeira diferença? Muitos alunos, quando começam a estudar o tópico, desenvolvem a seguinte teoria: se tiver verbo em seguida, utilizaremos o qui; caso não haja verbo, o que será usado. Mas gostaria de alertá-los que essa regra não funciona sempre! É uma boa dica, mas não é a regra que devemos aprender. A regra é clara: o pronome relativo tem a função de unir duas frases e substituir um elemento anterior. Vejamos três exemplos: Je fais un exercice. L'exercice est difficile. L'exercice que je fais est difficile. J'ai lu un livre. Le livre est intéressant. J'ai lu un livre qui est intéressant. Je travaille avec une femme. Elle est blonde. La femme avec qui je travaille est blonde. A partir dessas três frases e pensando sempre que elemento da frase foi substituído pelo pronome relativo, podemos montar o seguinte esquema: Pronome Relativo → Substitui QUE Objeto direto QUI Sujeito ou, em alguns casos, quando há preposição, Objeto indireto - Pessoa) Assim finalizamos nosso artigo, com essas duas dicas gramaticais importantes. Espero ter podido colaborar bastante com seus estudos de língua francesa neste ano! O próximo nos reserva agradáveis surpresas e ainda mais trabalho a ser desenvolvido e aprimorado! Desejo a todos: Bonne année! E nunca esqueçam: Enivrez-vous, de vin, de poésie, de vertu ou d'études, à votre guise! Igor Barca Professor do Estude Idiomas