FIM DE PAPO Fala sobre a Concreto www.otempo.tom.br Ocupação exige mais debate Seminário na FGV/IBS levanta discussões sobre o cenário atual e o futuro imobiliário • JULIANA DAPIEVEGROSSI ESPECIAL PARA O TEMPO • Os impactos económicos e legislativos no atual mercado imobiliário foram discutidos por especialistas do setor durante um seminário promovido pela Fundação Getúlio Vargas/IBS Business School (FGV/IBS), em Belo Horizonte. "A estabilidade da moeda e o controle da inflação, associados ao crescimento do poder de compra das classes C e D, são fatores económicos que têm impactado diretamente no aquecimento do mercado imobiliário. Não podemos esquecer também das questões legislativas, que interferem diretamente no crescimento do setor", afirma o professor de MBA em Gestão de Negócios Imobiliários e da Construção Civil da Fundação Getúlio Vargas, Fábio Lopes Soares. Os aspectos legais ganharam destaque na discussão, principalmente no que tange à Lei de Uso e Ocupação do Solo, Lei do Inquilinato e arbitragem como solução de conflitos. Segundo Soares, a outorga onerosa na atual Lei de Uso e Ocupação do Solo de Belo Horizonte gera dois pontos críticos: o primeiro seria en- carecer o custo da construção civil, o que pode prejudicar o consumidor final. O segundo diz respeito a uma reivindicação das entidades do setor, que acreditam ser necessário voltar a discutir a lei que, da forma como foi aprovada, pode gerar um problema na gestão dos negócios imobiliários. "Ao publicar a nova lei de uso e ocupação do'solo, o Executivo limitou o espaço de construção e obrigou o construtor a pagar pelo excedente, caso queira construir mais do que o permitido", explica Soares. Segundo ele, engenheiros, advogados, arquitetos e professores que participaram do seminário têm críticas a esse modelo, uma vez que ele é "contrário à função social da propriedade e pode prejudicar uma visão sistémica do plano diretor". Apesar de os especialistas debaterem sobre a positividade da publicação da lei, há um consenso de que pontos como o que determina os limites construtivos têm que ser revistos. "O ideal é que construtores e sindicatos de classe se reunam com o Executivo para mudar alguns pontos ou para criar mecanismos para que a lei não prejudique os consumidores". A médio e longo prazos, esses "E preciso ter alternativas legais para solução dos conflitos. A arbitragem não só nasceu de uma lei, como é uma importante ferramenta de rápida sol ução" Fábio Soares PROFESSOR DA FGV pontos vão basear o sucesso do crescimento do mercado imobiliário que, se não for planejado e praticado da forma correta, poderá prejudicar o cenário económico e sustentável da capital. "Não há como as cidades comportarem seu crescimento sem constantes atualizações do siste- ma elaborado e discussão entre as áreas envolvidas, desde o aspecto legislativo até o de infraestrutura", ressalta o professor Fábio Soares. Procurada pela reportagem, a representante da Secretaria Municipal de Políticas Urbanas (Smurb) da Prefeitura de Belo Horizonte, não foi encontrada para falar sobre o assunto. NA PRATICA. Dentre os pontos positivos e que já podem ser postos em prática a partir do seminário promovido pela FGV/IBS estão a discussão de maior respeito ao Código de Defesa do Consumidor, o uso da arbitragem como solução de conflitos e controvérsias e a atenção dos investidores para a construção de imóveis que possam também ser alugados como forma de investimento, em decorrência da nova Lei do Inquilinato. Para isso, a Câmara de Arbitragem de Minas Gerais (Caminas), juntamente com a Ordem dos Advogados do Brasil em Minas (OAB-MG) já estão realizando treinamentos, difusão e cultura da arbitragem, em uma tentativa de evitar conflitos judiciais. "Acredito também que o ní- vel de discussão da FGV em MBAs próprios tem trazido um novo perfil de construção civil, com negócios sustentáveis, lucrativos e possíveis a quaisquer empreendedores. Existe um m o v i m e n t o g r a n d e de profissionalização que atinge positivamente toda a cadeia de construção", diz Soares. NÚMEROS DO SETOR. Um estudo recente da consultoria MB Associados mostra que a classe média popular irá dominar o mercado residencial brasileiro nos próximos anos, gerando uma demanda habitacional potencial por 10,4 milhões de imóveis até 2016. Brasileiros de todo o país estão investindo em imóveis e incentivando a construção de cada vez mais empreendimentos. A pesquisa aponta, ainda, que a demanda potencial do mercado vem das novas famílias (recém-casados, pessoas que vão morar sozinhas etc). Soares acredita que esse crescimento contribui para o desenvolvimento de todos os estágios da cadeia produtiva, desde o operário até as empresas de marketing.