TCD - FILOSOFIA GERAL: PROBLEMAS METAFÍSICOS I A SUBSTITUIÇÃO DA METAFÍSICA TRADICIONAL DOGMÁTICA, POR UMA METAFÍSICA DA NATUREZA, COM KANT, EM SUA ESTÉTICA TRANSCENDENTAL E ANALÍTICA TRANSCENDENTAL. Segundo Kant, em sua Crítica da Razão Pura, para nós humanos, somente são possíveis duas formas de conhecimento: conhecimentos "a priori " e conhecimentos "a posteriori" . Ainda conforme o autor, os nossos conhecimentos começam com a experiência dos sentidos (visão, audição, , olfato, paladar e tato) , por onde conhecemos os objetos da natureza, que excitando os sentidos, produzem representações na mente, surgindo assim, os conceitos (pensamentos, ideias, formas, etc.). Dessa forma, é mais fácil definir primeiro os conhecimentos "a posteriori", como aqueles que começam com a experiência dos sentidos, isto é, dependem dos mesmos . Sendo portanto, os conhecimentos "a priori ", aqueles que independem completamente da experiência dos sentidos. Nesse sentido, os conhecimentos "a priori" transcendem a realidade objetiva , quer dizer, a forma como percebemos os objetos, através dos sentidos, o que ele chama de intuição empírica (impura) , ou sensibilidade, sensações causadas pela experiência. Kant define os conhecimentos absolutamente "a priori" , como intuição pura, aqueles que antecedem a experiência dos sentidos ao contato com os objetos. Mas, alerta que ao pensarmos sobre essa experiência, desenvolvemos representações (conceitos, ideias, formas, etc.) , e assim, exercitamos a faculdade (intelectual) de conhecer "a priori" , independentemente da experiência dos sentidos, o que ele chama de conhecimentos sintéticos "a priori" . Para kant, somente ao Criador (Deus), é possível conhecer a essência dos objetos ("ä coisa em si") , intuição pura, juízos analíticos, "a priori", independentes da experi6encia, e antecedentes à esta, uma vez que os criou, sendo possível para nós, criaturas humanas, apenas conhecimentos sintéticos "a priori", porque são pensamentos, idéias, juízos formados à partir da experiência dos sentidos; intuições impuras. Abstendo-se de chamar a suja obra de Filosofia Transcendental , aquela que trataria dos conhecimentos absolutamente puros "a priori' , cuja extensão seria infinita, sendo assim, tal tarefa impossível, dedica-se, humildemente, a estabelecer os limites , até então, confusos desta ciência chamada Metafísica, como nas seguintes passagens: " Esses inevitáveis temas da razão pura são: Deus, liberdade e imortalidade. A ciência cujo fim e processos tendem à resolução dessas questões denomina-se Metafísica. Sua marcha, é no princípio dogmática; quer dizer, ela enceta confiadamente o seu trabalho sem Ter provas na potência ou impotência de nossa razão para tão grande empresa." 1 E mais diante: "A crítica da razão conduz, por fim, necessariamente, à ciência; o uso dogmático da razão sem crítica conduz, pelo contrário, a afirmações infundadas, que sempre podem ser contraditadas por outras não menos verossímeis, o que conduz ao ceticismo" (...)" Pode-se e deve-se, portanto, considerar como ineficaz todo ensaio feito até aqui para construir uma metafísica dogmática, porque o que neles existe de analítico, a saber; a simples decomposição dos conceitos que "a priori" se encontram em nossa razão, não é seu fim total, senão somente um meio preliminar da Metafísica, cujo objeto é estender nossos conhecimentos científicos "a priori." (...) Não se necessita grande abnegação para renunciar a todas essas pretenções, posto que as evidencias e inevitáveis contradições da razão consigo mesma no processo dogmático, causaram por largo tempo o descrédito da Metafísica"2. Segundo JAPIASSÚ-MARCONDES ( 2006, p.78 ) , em sua definição: "É dogmática, por oposição a crítica, diz kant, toda pretenção do conhecimento de atingir o absoluto. Ex.: a metafísica dogmática." Ao perguntar: "Como é possível uma Matemática pura?" e: "Como é possível uma Física pura?", Kant estabelece os Juízos Matemáticos, como todos sintéticos "a priori", esclarecendo os abusos, confusões e incertezas dos Metafísicos, que ao utilizarem proposições matemáticas, com 1 KANT, Immanuel, Crítica da Razão Pura., Edição: Série Ouro, São Paulo, Martin Claret, 2006, p 05. 2 KANT, Immanuel, Crítica da Razão Pura., Edição: Série Ouro, São Paulo, Martin Claret, 2006, p 11. o intuito de demonstrar a veracidade dos objetos de suas investigações, incidiam, até então, em erros e contradições Nisto, encontra-se o não pequeno valor e a utilidade de seu trabalho. O filósofo define como intuição, qualquer que seja, o modo da relação imediata do conhecimento com os objetos, sendo esta, possível somente quando um objeto dado afeta os sentidos, modificando o nosso espirito de certa maneira, produzindo os pensamentos. Denomina, ainda, como sensibilidade, tal capacidade de receber (a receptividade), representações ou impressões dos objetos, que causam a sensação. Assim, somente a sensibilidade nos fornece intuições, mas "é pelo entendimento que elas são pensadas", e é dele que surgem os conceitos. A Estética Transcendental, é pois, uma ciência de todos os princípios da sensibilidade "a priori". Nisto vê, que existem duas formas puras da intuição sensível: o espaço e o tempo. O tempo não pode ser intuído exteriormente, nem o espaço como algo de interior. Então que são o espaço e o tempo? Conclui-se da Estética Transcendental que toda nossa intuição nada mais é que a representação do fenômeno, também que, nem as coisas em si mesmas, nem suas relações em si mesmas são exatamente como as intuimos. Sem o sujeito, todas as relações dos objetos, espaço e o tempo desapareceriam. Nada sabemos sobre os objetos em si mesmos. Conhecemos apenas nossa maneira de os perceber, que pode não ser a mesma para todos os seres, mesmo que o seja para todos os homens. O espaço e o tempo são as formas puras desse modo de perceber. A Analítica Transcendental, é a decomposição de todo o nosso conhecimento "a priori" nos elementos do conhecimento puro do entendimento. Só é possível mediante uma idéia da totalidade do conhecimento "a priori" do entendimento, e pela divisão, determinada a partir dessa idéia, dos conceitos que o constituem, pela sua interconexão num sistema. O entendimento puro é uma unidade subsistente por si mesma e em si mesma suficiente, nenhum acréscimo do exterior o pode aumentar. Esta é a tarefa de uma Filosofia Transcendental. Segundo a Estética Transcendental, o princípio supremo da possibilidade de toda intuição era que toda diversidade da intuição estivesse submetida às condições formais de espaço e tempo. Em relação ao entendimento, o princípio supremo é, que toda diversidade da intuição esteja submetida às condições da unidade sintética originária da apercepção. Aqui, o entendimento é a faculdade dos conhecimentos A Síntese Transcendental da imaginação é um ato, em virtude do qual, dizemos que o sentido interno foi afetado. A influência sintética do entendimento sobre o sentido interno, chama-se síntese figurada.. Isto, é o que observamos em nós mesmos. O eu penso distingui-se do eu que se percebe. Não conhecemos nosso próprio sujeito mais do que como fenômeno, não como coisa em si. Esta representação é um pensamento, não uma intuição. Não me conheço como sou, mas como ante mim apareço. Com Kant e sua obra, Crítica da Razão Pura, ao criticar toda a ciência humana, observamos a influência da revolução copernicana, em seu esforço de estabelecer os limites e as possibilidades do conhecimento humano, enfatizando o homem (sujeito), que interpreta através do pensamento, característica de sua realidade interna, condição de toda possibilidade de conhecimento, os fenômenos da natureza externa que afetam seu espírito. A crítica de kant, em sua Analítica Transcendental, dirigi-se à lógica em geral, tendo como alvos principais: o Racionalismo de Descartes (eu penso), o Empirismo de Locke, Hume, e ainda, Leibniz, Aristóteles e Platão. Em sua análise, determina como incompleta, a obra de toda a ciência da lógica, até então, e propõe-se, segundo o próprio autor, embora, não acrescentando nada de novo, a ordenar e investigar, de forma sistemática, as possibilidades do conhecimento a priori; bem como, os processos do uso da razão, a partir dos conhecimentos puros a priori, seus princípios e aplicação aos fenômenos, e à possibilidade da experiência Finalmente, funda o princípio da unidade sintética da apercepcção originária (de si mesmo - o sujeito), como forma de entendimento, em relação com o espaço e o tempo, sendo estes últimos, formas originárias da sensibilidade. BIBLIOGRAFIA KANT, Immanuel, Crítica da Razão Pura., Edição: Série Ouro, São Paulo, Martin Claret, 2006, 605 p. JAPIASSÚ, Hilton, MARCONDES, Danilo, Dicionário Básico de Filosofia, 4ª Ed. Rio de Janeiro, Jorge Zaharr, 2006, ISBN 8571100950 , 309 p.