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CONDUTA ANESTÉSICA PARA PROCEDIMENTO DE CORREÇÃO
DE ESTENOSE PULMONAR EM CÃES - REVISÃO
ANESTHETIC CONDUCT FOR PROCEDURE OF CORRECTION OF
PULMONARY ESTENOSIS IN DOGS - REVIEW
Fabíola Niederauer Flôres1; Aury Nunes de Moraes2
RESUMO
A estenose da valva pulmonar é uma doença cardíaca congênita, considerada de
ocorrência comum em cães, acometendo, com maior freqüência, algumas raças em especial
schnauzer miniatura, beagle, terriers, boxer, buldogue, chihuahua e cocker spaniel. Este artigo
tem por objetivo o esclarecimento desta cardiopatia, quanto as alterações hemodinâmicas e
fisiopatológicas que ocasiona, além de elucidar as necessidades especiais que estes pacientes
apresentam em relação a realização de procedimentos anestésicos para correção da estenose
pelo método da cateterização cardíaca. O diagnóstico desta cardiopatia, muitas vezes se torna
difícil ao clínico, devido ao escasso material bibliográfico, principalmente nacional,
disponível.
Palavras chave: anestesia, congênita, cateterismo.
ABSTRACT
The stenosis of the pulmonary valve is a congenital cardiac disease commonly
affecting dogs with more frequency in some breeds specially schnauzer miniature, beagle,
terriers, boxer, bulldog, chihuahua and to cocker spaniel. This article has for objective the
clarification of this cardiopathy, how much the hemodynamic and physiopathological
alterations that it causes, and to elucidate the necessities special that these patients present in
relation the accomplishment of procedures anaesthetics for correction of estenosis by the
cardiac cateterism method. The diagnosis of this disease is often difficult to be done by the
veterinary because of the poor national bibliographic material available.
Key words: anesthesia, congenital, cateterism.
1
2
Méd. Vet., MsC., Prof. UDESC, CAV, HCV, Lages, SC. [email protected]
Prof., Dr. UDESC/CAV/HCV, Lages, SC; [email protected]
Revista da FZVA.
Uruguaiana, v.15, n.1, p. 141-151. 2008
Flores, F.N. & Moraes, A.N.
não se observou-se sexo predominante
INTRODUÇÃO
A
142
estenose
pulmonar
é
uma
malformação congênita valvar caracterizada
aparentemente (TIDHOLM, 1997).
DISCUSSÃO: FISIOPATOLOGIA
por lesões morfológicas que podem incluir
combinações
de
espessamento
separação
hipoplasia
da
valva,
folhetos
da
valva,
dos
incompleta
comissural
dos
folhetos e folhetos das valvas assimétricos
(DARKE et al., 2000). É uma cardiopatia
bastante
freqüente
em
caninos,
(BELERENIAN, 2003) sendo considerada
o segundo defeito cardíaco congênito mais
comum em cães, embora seja de aparição
ocasional em felinos (BEDFORD, 1991;
DARKE et al., 2000; BELERENIAN,
2003) e potros (DARKE et al., 2000).
Estenose pulmonar ocorre em 10% de todos
os
pacientes
com
doença
cardíaca
congênita, sendo valvular em 90% dos
casos
e
infundibular
nos
demais
raças
caninas
schnauzer
miniatura, beagle, terriers, boxer, buldogue,
chihuahua e cocker spaniel apresentam
estenose pulmonar com maior freqüência,
(DARKE et al., 2000; BELERENIAN,
2003). Em estudo retrospectivo de 151
casos
de
cães
com
doença
estenose
consiste
em
um
estreitamento localizado em qualquer ponto
desde o trato de saída do ventrículo direito
até a artéria pulmonar principal, sendo mais
comum a estenose valvar ou subvalvar
(BELERENIAN,
2003).
A
estenose
supravalvar é menos freqüente e a valvar ou
infundibular
é
um
componente
da
Tetralogia de Fallot (DARKE et al., 2000).
Estenose do tipo supravalvar foi descrita
em cão schnauzer gigante, porém é
considerada
de
ocorrência
rara
(BELERENIAN, 2003). Estenose da valva
pulmonar promove obstrução do fluxo de
saída
do
ventrículo
direito
e
causa
hipertrofia ventricular direita (FANTONI,
2002). O aumento da resistência ao fluxo
(STOELTING et al., 1988).
As
A
cardíaca
congênita, observou que os casos de
estenose pulmonar são o segundo defeito
mais comum, representando 20% dos casos.
As raças de maior predominância foram
golden retriever, boxer e pastor alemão, e
no trato de saída do ventrículo direito
produz a elevação da pressão sistólica do
ventrículo direito, além de hipertrofia
concêntrica. Se o volume diastólico se
reduz, o débito cardíaco pode diminuir.
Também se afeta a irrigação coronária
direita, podendo terminar em arritmias e
morte súbita (BELERENIAN, 2003). O
débito cardíaco é dependente do aumento
da
freqüência
taquicardia
cardíaca.
pode
No
entanto,
comprometer
o
enchimento ventricular (FANTONI, 2002).
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143 Conduta anestésica...
ventricular
são iguais aos da insuficiência cardíaca
direita pode ser observada se existir
direita, com desenvolvimento de dispnéia e
displasia tricúspide associada, pois é rara na
cianose com esforço, como resultado do
estenose pulmonar isolada. A hipertrofia
reduzido fluxo pulmonar e do aumento da
infundibular pode piorar rapidamente após
extração
o nascimento se houver estenose valvar
(FANTONI, 2002).
A
insuficiência
congestiva
de
oxigênio
Estenose
importante (BELERENIAN, 2003).
pelos
pulmonar
tecidos
ocorre
O aumento da rigidez do ventrículo
geralmente em animais jovens, nos casos
direito faz com que os átrios se contraiam
graves apresentam intolerância ao exercício
vigorosamente. A dilatação do átrio direito
e síncope, ao exame físico ausculta-se um
ocorre provavelmente por vários fatores,
sopro forte de ejeção na base esquerda que
como obstrução ao fluxo, elevada pressão
irradia para o tórax direito cranial. O
diastólica do ventrículo direito e disfunção
eletrocardiograma em casos leves pode ser
diastólica, regurgitação da valva tricúspide
normal, já em casos graves pode-se
secundária às alterações estruturais do
observar padrão sugestivo de aumento de
ventrículo direito, diminuição do débito
ventrículo direito, bloqueio do ramo direito
cardíaco com retenção de água e sódio. Se a
ou de ambos. O exame radiológico pode se
pressão do átrio se mantém muito alta, há o
apresentar normal, mas nos casos graves
desenvolvimento de insuficiência cardíaca
observa-se cardiomegalia ventricular direita
congestiva (FANTONI, 2002).
e
dilatação
pós-estenótica
da
artéria
pulmonar. Com presença ou não de
DIAGNÓSTICO
hipoperfusão
pulmonar.
Através
da
A correção do defeito cardíaco é
ecocardiografia bidimensional observa-se
necessária para prevenir falência cardíaca
hipertrofia concêntrica e dos músculos
quando o paciente demonstra sinais clínicos
papilares do ventrículo direito, além de
de doença cardíaca ou se o gradiente de
hipertrofia septal. No eixo curto da janela
pressão entre o pico de pressão sistólica
paraesternal direita, pode-se apreciar a
pulmonar e o pico de pressão sistólica
dilatação
ventricular
70mmHg
pulmonar. A valva pulmonar é de difícil
(BEDFORD, 1991). Animais com pequeno
visualização, portanto a lesão estenótica
grau de obstrução podem atingir a idade
nem sempre é bem demarcada (DARKE et
adulta sem apresentarem sinais clínicos,
al., 2000; BELERENIAN, 2003).
direita
excede
pós-estenótica
da
artéria
porém nos casos graves os sinais clínicos
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Flores, F.N. & Moraes, A.N.
144
Para confirmação do diagnóstico é
convencional (digitálicos, diuréticos) pode
necessário a cateterização cardíaca ou
ser empregado, mas as taxas de mortalidade
ecocardiografia Doppler, ambas as técnicas
são altas. Para cães com estenose pulmonar
permitem medir o gradiente de pressão, útil
moderada
para avaliar o prognóstico (DARKE et al.,
comparativos da eficiência do tratamento
2000). Manifestações clínicas de estenose
médico convencional a longo prazo e do
pulmonar congênita variam de acordo com
procedimento
o grau de obstrução. Hipoxemia arterial e
(BELERENIAN, 2003).
a
grave
faltam
estudos
cirúrgico
corretivo
Como opções cirúrgicas, existem a
falência cardíaca congestiva pode ser
manifestação de severa estenose pulmonar
dilatação
em
valvulotomia sob visão direta, dilatação
neonato.
Estenose
pulmonar
é
com
via
cateter
de
balão,
considerada severa quando os gradientes de
fechada
pressão através da valvula durante a
transpulmonar, enxerto de pericárdio ou
cateterização cardíaca são maiores que
prótese sobre uma artério-ventriculotomia e
50mmHg (STOELTING et al., 1988). Com
a implantação de um conduto ventrículo-
o emprego do Doppler pulsátil pode-se
arterial
identificar a localização da estenose e o
(BELERENIAN, 2003).
(com
transventricular
ou
sem
ou
valva)
Doppler contínuo pode ser utilizado para
Em estudo retrospectivo em que 40
determinar a velocidade máxima do fluxo
cães com estenose pulmonar severa, foram
sangüíneo e, assim classificar a estenose
submetidos a valvuloplastia com balão
conforme
(dilatação
sua
gravidade
em:
leve
com
balão),
37
cães
(velocidade menor a 3,5m/s ou gradiente de
sobreviveram ao procedimento, e obtiveram
pressão de 40 a 50 mmHg); moderada
uma redução média no gradiente de pressão
(velocidade entre 3,5 a 4,5m/s ou gradiente
transestenótica de 46%. O valor médio pré-
de pressão entre 50 e 80mmHg) e grave
operatório era 120mmHg e a média com 24
(velocidade maior a 4,5m/s ou gradiente de
horas do pós-operatório foi de 55mmHg
pressão
mantendo esta média seis meses depois do
maior
a
80mmHg)
(BELERENIAN, 2003).
procedimento (JOHNSON et al., 2004).
OPÇÕES DE TRATAMENTO
CONDUTA ANESTÉSICA
Cães com estenose dos graus leve a
Para
pacientes
com
estenose
moderado podem viver por longo tempo
pulmonar, é importante ser meticuloso na
sem tratamento. O tratamento médico
escolha
da
técnica
anestésica
e
dos
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145 Conduta anestésica...
A
cardíaca e do volume de ejeção de sangue
estabilização pré-operatória do animal é
no coração. Drogas que alteram qualquer
necessária e deve ser realizada sempre que
desses
possível. Os agentes anestésicos de escolha
grandemente a pressão arterial e o fluxo
são
mínima
sangüíneo tecidual (PADDLEFORD &
depressão cardiovascular ou que mantém ou
HARVEY, 1996). O manejo anestésico em
ainda melhoram o estado hemodinâmico do
pacientes com estenose pulmonar consta em
paciente.
ecocardiografia,
evitar as complicações como arritmias e
avaliação eletrocardiográfica, mensuração
hipotensão. Uma complicação fatal é a
da
angiografia
parada cardíaca, e quando acontece, a
promovem informações importantes sobre o
ressuscitação é muito difícil, pois a
estado geral de saúde do animal. Exames
massagem cardíaca normalmente não é
laboratoriais de rotina devem ser avaliados
efetiva em bombear sangue através da valva
cuidadosamente, assim como, a avaliação
pulmonar estenosada. Reduções na pressão
de função renal e eletrólitos séricos
sangüínea devem ser prontamente tratadas
(BEDFORD, 1991).
com drogas simpatomiméticas. Disritmias
fármacos
a
aqueles
serem
que
empregados.
produzem
Radiografia,
pressão
sangüínea
e
O manejo anestésico esta designado
parâmetros
cardíacas
ou
aumento
podem
de
afetar
freqüência
em evitar aumento no requerimento de
cardíaca devem ser rapidamente corrigidos,
oxigênio no ventrículo direito. No entanto,
com o uso de drogas como lidocaína ou
aumento excessivo na freqüência cardíaca e
propranolol (STOELTING et al., 1988).
são
Medicação pré-anestésica (MPA)
indesejáveis (SAVINO et al., 2003; DAY,
deve ser empregada, em pacientes com
2004). Um dos principais objetivos, na
doença cardíaca, com o objetivo de reduzir
conduta anestésica, é a manutenção da
a ansiedade, dor ou estresse no pré-
frequência cardíaca normal ou levemente
operatório, para reduzir a atividade do
aumentada, aumentar a pré-carga e evitar
sistema nervoso simpático e minimizar a
todos os fatores que possam aumentar a
liberação excessiva de catecolaminas, e
resistência vascular pulmonar (FANTONI,
assim, evitar a deterioração do status
2002).
hemodinâmico do paciente (BEDFORD,
na
contratilidade
do
miocárdio
A mensuração da pressão sangüínea
1991).
do animal é o produto da resistência
Anticolinérgicos produzem aumento
vascular periférica e do débito cardíaco.
da demanda de oxigênio pelo miocárdio e
Débito cardíaco é o produto da freqüência
devem ser evitados, a menos que seja
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freqüência
HARVEY, 1996). Já a administração pré-
cardíaca dentro dos parâmetros normais
operatória do agonistas alfa-2-adrenérgicos
(BEDFORD,
clonidina
necessário
para
manter
a
1991;
CORNICK-
em
pacientes
submetidos
a
SEAHORN, 1994). Os fenotiazínicos são
cirurgia cardíaca diminui o requerimento de
comumente
como
agentes narcóticos e promove estabilidade
tranqüilizantes, porém apresentam potencial
hemodinâmica durante a cirurgia, outro
hipotensor, por produzir diminuição da
fármaco desta classe que vem sendo
resistência
periférica,
empregado em infusão contínua para
(PADDLEFORD & HARVEY, 1996) por
cirurgias cardíacas com sucesso é a
outro lado protegem o miocárdio das
dexmedetomidina (SAVINO et al., 2003).
empregados
vascular
disritmias
ventriculares
adrenalina
(BEDFORD,
induzidas
Os
pela
agentes
opióides
podem
Doses
provocar alterações dose-dependentes no
sido
sistema cardiovascular, principalmente na
empregado em associação com opióides em
freqüência cardíaca e no ritmo (FANTONI,
cães excitados (BEDFORD, 1991). Os
2002). A meperidina, é o único analgésico
benzodiazepínicos
mínimos
que promove acréscimo na freqüência
sistema
cardíaca devido a ocorrência de bloqueio
cardiovascular, (DARKE et al., 2000) o
vagal (CODA, 1996 apud FANTONI &
midazolam, pelo seu veículo aquoso, pode
CORTOPASSI, 2002). Porém, os opióides
ser empregado pela via intramuscular, sem
oferecem a vantagem de profunda analgesia
provocar o desconforto que o diazepam
durante a anestesia, também atenuam os
causa quando utilizado por esta via, além da
reflexos
absorção do midazolam por esta via ser
simpateticamente em resposta a dor, e
mais
parecem não ter efeitos diretos sobre a
reduzidas
efeitos
de
1991).
fenotiazínicos
apresentam
depressores
rápida
tem
no
(CORNICK-SEAHORN,
cardiovasculares
mediados
contratilidade do miocárdio ou o tônus
1994).
Fármacos, como a xilazina e outros
vasomotor (SAVINO et al., 2003). Além de
agonistas alfa-2-adrenérgicos, depressores
possuírem
potentes
específico, capaz de neutralizar os possíveis
do
(provocando
sistema
cardiovascular
bradicardia,
atrioventriculares,
bloqueios
hipertensão
inicial
seguida de hipotensão) devem ser evitados
(BEDFORD,
SEAHORN,
1991;
1994;
CORNICK-
PADDLEFORD
&
efeitos
um
agente
adversos
destes
antagonista
fármacos
(CORNICK-SEAHORN,
1994;
PADDLEFORD & HARVEY, 1996).
Agentes
narcóticos
podem
ser
usados em combinação com acepromazina
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ou com um benzodiazepínico para que se
colocação de cateter nasal ou máscara facial
obtenha sedação adicional (PADDLEFORD
para a oxigenação antes da indução
& HARVEY, 1996). Neuroleptoanalgesia
(CORNICK-SEAHORN, 1994). Técnicas
como fentanil-droperidol ou oximorfona-
de indução incluem agentes injetáveis,
diazepam, além de outras associações entre
como
fármacos
narcóticos
sedativos,
hipnóticos
e
os
tiobarbituratos
ou
agentes
e
agentes
inalatórios
analgésicos tem sido usada como MPA ou
(BEDFORD, 1991). Os efeitos circulatórios
empregada via IV para induzir a anestesia
dos agentes são considerações importantes
(BEDFORD, 1991; SAVINO et al., 2003).
para pacientes com doença cardiovascular.
Para realização de reparação de laceração
Os agentes sedativos-hipnóticos tem efeito
na orelha de um filhote beagle com
direto na contratilidade cardíaca e no tônus
estenose pulmonar, recomendou-se uma
vascular em adição a efeitos indiretos no
sedação
tônus autônomo (SAVINO et al., 2003).
com
combinação
ou
Os tiobarbituratos permitem rápida
midazolam e butorfanol. O uso de agonista
indução, mas são contra-indicados para
(oximorfona ou hidromorfona) poderia
pacientes com severa doença cardíaca,
causar bradicardia e o emprego de atropina
devido ao seu grande potencial depressor
para combater esta bradicardia provocaria
cardiovascular (BEDFORD, 1991). Indução
uma taquicardia que aumenta o consumo de
da anestesia geral com tiopental está
oxigênio pelo miocárdio ventricular. Para a
associada com diminuição da pressão
manutenção deste rápido procedimento o
arterial e do débito cardíaco. O propofol,
autor recomenda um bolus de cetamina,
em comparação com o tiopental, produz
diazepam ou propofol (DAY, 2004).
menor depressão do miocárdio, porém
neuroleptoanalgésica
de
diazepam
pré-
também provoca vasodilatação e queda da
oxigenação dos animais por pelo menos
pressão sanguínea, (PADDLEFORD, 2001;
cinco minutos antes da indução com agente
SAVINO et al., 2003) embora proporcione
injetável, ou mesmo antes da indução com
rápida indução e recuperação da anestesia
isofluorano
máscara
com mínimos efeitos residuais. Desta
(BEDFORD, 1991; PADDLEFORD &
forma, deve ser empregado com cautela em
HARVEY, 1996). A sedação antes da
pacientes com doença cardíaca, pois além
indução anestésica, além de diminuir o
de ser um profundo depressor respiratório,
requerimento de anestésicos para indução e
exacerba
manutenção da anestesia, também facilita a
catecolaminas (PADDLEFORD, 2001). O
É
muito
importante
através
da
a
a
arritmogenicidade
das
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Flores, F.N. & Moraes, A.N.
apresenta
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propofol tem sido muito usado em infusão
zolazepam
intravenosa contínua para sedação, por seu
semelhantes as da cetamina para pacientes
curto efeito de duração de ação (SAVINO
cardíacos,
et al., 2003). O suporte ventilatório do
empregada
paciente deve ser avaliado depois da
pacientes (CORNICK-SEAHORN, 1994).
portanto
com
características
também
muita
deve
cautela
ser
nestes
Indução com anestésico inalatório
administração de propofol (CORNICK-
através de máscara facial é recomendada
SEAHORN, 1994).
O etomidato é uma ótima opção
para
pacientes
com
severo
para indução de pacientes com doença
comprometimento cardíaco (BEDFORD,
cardíaca, pois em doses terapêuticas, devido
1991; PADDLEFORD & HARVEY, 1996).
a manutenção das respostas mediadas pelos
O emprego de óxido nitroso combinado
barorreceptores, não promove alterações na
com agente volátil pode facilitar a indução
freqüência cardíaca, pressão sanguínea ou
em
contratilidade do miocárdio e também não
(BEDFORD,
causa liberação de histamina, mas pode
máscara não deve ser realizada em animais
ocasionar depressão respiratória leve a
agitados, a menos que tenha sido realizada
moderada (CORNICK-SEAHORN, 1994;
adequada
PADDLEFORD, 2001).
(CORNICK-SEAHORN, 1994).
animais
nervosos
1991).
A
ou
ansiosos
indução
tranqüilizarão
com
pré-indução
A cetamina foi empregada como
A manutenção da anestesia pode ser
agente de indução em pacientes cardiopatas
realizada com um agente único ou com uma
por
combinação
muitos
anos,
porém
provocou
de
agentes
injetável,
do sistema nervoso simpático, surgindo
balanceada, através da qual se consegue
então uma série de novos estudos sobre sua
depressão
ação
relaxamento
sistema
cardiovascular,
não
do
sistema
muscular
devendo ser utilizada indiscriminadamente
depressão
em paciente cardiopatas (WHITE et al.,
(BEDFORD, 1991).
1982 apud FANTONI & CORTOPASSI,
uma
e
descompensação em paciente com alteração
no
promovendo
inalatório
do
nervoso
com
sistema
anestesia
e
mínima
cardiovascular
Todos os anestésicos inalatórios
2002). O emprego da cetamina pode
causam
depressão
provocar depressão respiratória transitória,
concentrações necessárias para produzir
podendo, o paciente, necessitar de suporte
anestesia geral. Quando o paciente está
ventilatório depois de sua administração via
submetido a ventilação controlada, ações
intravenosa. A combinação tiletamina -
circulatórias
dos
circulatória
agentes
nas
voláteis
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149 Conduta anestésica...
usualmente podem ser bem toleradas. Por
pode
reduzir
a
pressão
de
esta razão, baixas doses de anestésicos
coronária e o fluxo sangüínea coronariano
inalatórios são combinadas com outros
(SAVINO et al., 2003).
anestésicos para produzir anestesia geral
Agentes
inalatórios
perfusão
são
os
para operações cardíacas (SAVINO et al.,
preferidos para manutenção anestésica de
2003).
pacientes
com
doença
cardíaca.
O
produzem
isofluorano é preferido pois preserva o
graus variados de vasodilatação e redução
índice cardíaco próximo do normal e
da
>
quando comparado ao halotano apresenta
enfluorano > halotano. A diminuição da
chances mínimas de produzir disritmias
pressão causada pelos anestésicos voláteis é
(SAVINO et al., 2003). O halotano deve ser
resultado
e
evitado em pacientes com doença cardíaca,
depressão da contratilidade do miocárdio e
principalmente os que apresentam arritmias
resultado indireto da atenuação da atividade
cardíacas (CORNICK-SEAHORN, 1994).
Anestésicos
pós-carga
voláteis
cardíaca:
direto
da
isofluorano
vasodilatação
do sistema nervoso simpático. Overdose de
O isofluorano é o agente de escolha
anestésicos inalatórios se manifesta por
para a manutenção anestésica de pacientes
hipotensão, arritmias e bradicardia, que
com estenose pulmonar, considerando-se o
pode
seu custo e o fato de produzir mínimo efeito
levar
ao
choque
circulatório
na
(SAVINO et al., 2003).
performance
ventricular
e
débito
Halotano e enfluorano são os mais
cardíaco, além de ocasionar leve aumento
potentes depressores diretos do miocárdio,
de freqüência cardíaca, que influencia na
seguidos pelo isofluorano, desfluorano e
manutenção do débito cardíaco. Também
sevofluorano.
de
sensibiliza minimamente o miocárdio a
anestésicos inalatórios em pacientes com
ação das catecolaminas circulantes e,
doença
tem
portanto representa chances menores de
vantagens, a propriedade de inotropismo
produção de arritmias. Porém, deve-se
negativo diminuem a demanda de oxigênio
entender que os anestésicos inalatórios não
no miocárdio e pode produzir um balanço
são desprovidos de efeitos deletérios no
de oxigênio no miocárdio mais favorável. A
sistema
vasodilatação e ações antihipertensivas
halogenado deprime, em maior ou menor
efetivamente controlam o aumento da
grau,
pressão sangüínea em resposta a dor
proporcionalmente a concentração inspirada
cirúrgica, mas a indução de hipotensão
(FANTONI, 2002).
A
cardíaca
administração
pré-existente
cardiovascular
a
e
contratilidade
todo
agente
cardíaca
Revista da FZVA.
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Flores, F.N. & Moraes, A.N.
REFERÊNCIAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante
a
realização
de
BEDFORD,
procedimento para correção de estenose
patients
pulmonar,
BEDFORD,
o
risco
150
de
parada
P.G.C.
with
Anaesthesia
cardiac
P.G.C.
for
disease.
Small
In:
Animal
cardiocirculatória em animais submetidos a
Anaesthesia The Increased-risk Patient.
cateterização cardíaca deve sempre ser
Philadelphia: Bailliére Tindal, 1991, cap.5,
considerado, principalmente devido aos
p.72-91.
riscos de surgimento de possíveis arritmias
devido a introdução do cateter no coração
BELERENIAN, G.C. Estenose Pulmonar.
ou mesmo no momento em que o balão do
In: BELERENIAN, G.C.; MUCHA, C.J.;
cateter é inflado, devido as mudanças
CAMACHO,
hemodinâmicas
a
Cardiovasculares em Pequenos Animais.
fluxo
São Paulo: Interbook, 2003. cap.11, p.126-
interrupção
que
ocorrem
momentânea
com
do
sanguíneo cardíaco. Neste momento do
procedimento,
considerado
crítico,
A.A.
Afecções
129.
o
anestesista deve estar atento para detectar
CORNICK-SEAHORN,
precocemente qualquer anormalidade ou
Management
mesmo uma parada cardíaca, pois de uma
Cardiovascular
Disease.
intervenção precoce dependerá a chance de
Compendium.v.16,
n.9,
recuperação do animal.
setembro, 1994.
No
pós-operatório
de
of
J.L.
Anesthetic
Patients
with
The
p.1121-1144,
cirurgia
cardíaca, a monitoração do paciente é muito
DAY, T.K. Anestesia do Paciente com
importante, pela possibilidade de haver
Doença Cardíaca. In: GREENE, S.A.
instabilidade
Segredos
hemodinâmica.
sedativo-hipnóticos
Fármacos
(propofol)
ou
analgésicos são administrados no pósoperatório
imediato,
para
em
Anestesia Veterinária
e
Manejo da Dor. Porto Alegre:Artmed cap.
27, p.201, 2004.
promover
analgesia e recuperação tranqüila se pode
DARKE, P.; BONAGURA, J.D.; KELLY,
fazer uso desses fármacos em infusão
D.F. Estenose Pulmonar. In: DARKE, P.;
contínua durante o período pós-operatório,
BONAGURA, J.D.; KELLY, D.F. Atlas
permitindo que a recuperação anestésica
Ilustrado de Cardiologia Veterinária. São
ocorra de forma segura para o paciente
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