ARTIGO ORIGINAL COLONIZAÇÃO POR Pseudomonas aeruginosa EM PACIENTES COM FIBROSE CÍSTICA NA REGIÃO AMAZÔNICA: EFEITO NA FUNÇÃO RESPIRATÓRIA COLONIZATION BY Pseudomonas aeruginosa IN PATIENTS WITH CYSTIC FIBROSIS IN AMAZON REGION: EFFECT ON RESPIRATORY FUNCTION Edilene do Socorro Nascimento FALCÃO SARGES2; Valéria de Carvalho MARTINS3; Rita Catarina Medeiros de SOUSA4; Lorena Salgado Sodré GATTI5 e Irna Carla Souza CARNEIRO6 RESUMO Objetivo: descrever as características espirométricas e clínicas dos pacientes com fibrose cística colonizados por Pseudomonas aeruginosa atendidos no Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), no estado do Pará, Brasil. Método: estudo retrospectivo nos prontuários de 44 pacientes, período de 1997-2007, que atenderam aos critérios de inclusão, sendo 14 colonizados por P. aeruginosa. Resultados: no grupo colonizado 10 eram do sexo feminino; a idade média dos sintomas iniciais foi de 0.3±0.6 anos, com diferença significativa quando comparado com pacientes não colonizados (p<0.05). A idade média ao diagnóstico foi de 13.1±10.8 nos colonizados, todos apresentando sintomas respiratórios persistentes ao diagnóstico. A média dos valores percentuais preditos das espirometrias, referentes à avaliação inicial e final, do grupo colonizado foi VEF1(60.0± 25.0%) e (47,82±16.1%) e FEF25-75%(42.5± 22.9%) e (26,5±17.9%) e no grupo não colonizado foi VEF1(79.2± 21.0%) e (79,6±18.0%) e FEF25-75%(69.2± 26.7%) e (68,9±26.8%), respectivamente (p<0.005). A média do escore de Shwachman inicial nos colonizados foi de 42.9±13.5 e nos não colonizados foi de 68.4±15.1(p<0.0001) e na avaliação final foi de 36.6±18.7 e 73.6±12.3 (p<0.0001), respectivamente. Os fatores relacionados aos óbitos foram: colonização por P. aeruginosa, estado nutricional deficiente e VEF1 reduzido. Conclusões: o comprometimento da função pulmonar foi maior entre os pacientes com fibrose cística colonizados por P. aeruginosa, apresentando idade média mais elevada ao diagnóstico do que em outros estados brasileiros. Há necessidade de ações para diagnóstico precoce no estado do Pará, propiciando abordagem terapêutica eficaz com aumento da sobrevida e qualidade de vida destes indivíduos. DESCRITORES: fibrose cística, Pseudomonas aeruginosa, espirometria INTRODUÇÃO A fibrose cística (FC) é um distúrbio hereditário autossômico recessivo, incide na população européia de 1:2.500 nascidos vivos, de evolução muitas vezes letal. É ocasionada por mutações no gene responsável pela produção da proteína CFTR (cystic fibrosis transmembrane regulator), reguladora do canal de cloro, alterando a função das glândulas exócrinas, com produção de muco espesso, determinando doença obstrutiva crônica nos pulmões, pâncreas, glândulas sudoríparas e aparelho reprodutor.1,2 Duas hipóteses parecem favorecer o início da infecção e inflamação pulmonar nestes pacientes: a primeira é o aumento da concentração de sal no líquido da superfície das vias aéreas (ASL), resultando in vitro na inativação de peptídeos antibacterianos neste meio; a segunda é a depleção do volume de água no ASL, tornando o meio isotônico, aumentando a viscosidade do líquido e fluído 1 Pesquisa realizada no ambulatório de fibrose cística do Hospital Universitário João de Barros Barreto 2 Fisioterapeuta da UFPA, docente UEPA, mestre em patologia das doenças tropicais 3 Médica da UFPA, docente da UEPA, mestre em doenças tropicais 4 Médica, docente da UFPA, doutora em virologia 5 Fisioterapeuta da SESPA, mestre em patologia das doenças tropicais 6 Médica da Santa Casa de Misericórdia, docente da UEPA e da UFPA, doutora em doenças infecciosas e parasitárias periciliar, prejudicando o clearance mucociliar e aprisionando a bactéria neste muco espesso. Tais mecanismos proporcionariam a infecção crônica.7 Shwachman-Kulckycki, acompanhados em hospital de ensino referência no estado do Pará. A Pseudomonas aeruginosa na FC é um patógeno oportunista e principal agente etiológico das pneumonias, contribuindo para morbimortalidade. É comumente isolada no escarro, com índices de 80%-83%, havendo um aumento na prevalência com a idade, favorecendo o declínio da função pulmonar e aumento no risco de morte em 2.6 vezes. 5,6 Trata-se de uma coorte histórica, com avaliação de 44 prontuários de pacientes cadastrados no Programa de Assistência Multidisciplinar aos Pacientes com FC do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), sendo 14 pacientes colonizados por P. aeruginosa (grupo 1) e 30 pacientes não colonizados por P. aeruginosa (grupo2), classificados conforme os resultados da cultura de escarro ou swab de orofaringe. A P. aeruginosa aderida, produz uma cápsula de alginato, fixando–a e protegendo-a dos fatores imunes do hospedeiro, como: mecanismo mucociliar do pulmão, fagocitose celular, anticorpos e complemento. Posteriormente, há a formação de microcolônias encapsuladas (biofilme) que contribuem para a habilidade da espécie mucóide persistir nas vias aéreas destes pacientes.6,10 A persistência da P. aeruginosa no pulmão do fibrocístico ocorre em decorrência da: 1) liberação de exoprodutos (elastase, proteases, hemolisinas, fosfolipase C termolábil, um glicolipídio termoestável e exotoxina que protegem a bactéria da resposta imune do hospedeiro; 2) resistência antibiótica, devido à insuficiente permeabilidade da membrana externa e a liberação de β lactamases; 3) mudança fenotípica frente a sua grande flexibilidade genética e metabólica com conversão para o fenótipo mucóide e formação de biofilme; 4) repressão da expressão de flagelos (imunoestimuladores) evitando o reconhecimento imune. Esta repressão genética deve ser em resposta às mutações ocorridas e que resultam em permanente adaptação.6,8 Além disso, a P. aeruginosa secreta um fator que reduz a expressão da CFTR, conhecido como fator inibitório da CFTR (Cif), contribuindo para exacerbação do quadro pulmonar.11 Este estudo descreve a função pulmonar dos pacientes com fibrose cística colonizados por P. aeruginosa, baseado nos achados espirométricos e do escore de MÉTODO Os critérios de inclusão foram: pacientes tratados no HUJBB, com diagnóstico de FC, atendidos no período entre janeiro de 1997 a dezembro de 2007, independente da idade e sexo, capazes de realizar a espirometria, com exames radiológicos de tórax e bacteriológicos do escarro. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi assinado pelo paciente ou por seu responsável aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HUJBB, conforme protocolo nº 3680/06. As variáveis estudadas foram: idade, sexo, procedência, início dos sintomas, sintomas iniciais, idade ao diagnóstico, número de hospitalizações, duração da colonização, valores da prova de função respiratória considerando as seguintes variáveis: de VEF1, CVF, VEF1/CVF, FEF25 – 75%, com o laudo espirométrico e o grau de gravidade clínica dos pacientes em relação ao Escore de Shwachman – Kulckycki. Os testes de função pulmonar foram realizados dentro das normas estabelecidas para aceitabilidade e reprodutibilidade técnica de acordo com as diretrizes para testes de função pulmonar do protocolo do serviço de espirometria do HUJBB, que utiliza o espirômetro da marca Vitalograph, modelo IV 2170, os quais foram registrados na ficha de avaliação e acompanhamento. Foram colhidos os dados da espirometria do ingresso no programa e da última avaliação realizada. 14 Realizado um levantamento dos dados relativos ao escore de Shwachman – Kulczycki, levando-se em consideração a avaliação da atividade geral (0-25), achados radiológicos (0-25), exame físico (0-25) e nutrição (0-25). Um total entre 86-100 pontos expressa uma clínica excelente, de 71-85 bom, de 70-56 leve, de 55-41 moderado e, grave quando abaixo de 40 pontos. O dado nutricional foi modificado para os pacientes adultos com o uso do índice de massa corpórea (IMC).15,16 Na análise das variáveis categóricas, foi aplicado o teste Binomial para comparar as duas amostras independentes. O teste t de Student para comparar as diferenças entre as médias de variáveis quantitativas dos dois grupos. Para avaliação interna de cada grupo, onde a pontuação obtida nas 4 categorias do Escore de Shwachman foram comparadas pela análise de variância (ANOVA). A avaliação dos fatores que interferem na mortalidade no grupo Colonizado, foi avaliada pelo teste U de Mann-Whitney, visto não apresentarem características de normalidade. 18 O nível de significância adotado foi de 5% para rejeição da hipótese de nulidade. Os valores significativos (p<0,05) foram assinalados com asterísticos. Os softwares utilizados para os resultados do estudo foram o Bioestat 5.0, MSExcel e o Prism 4. Caso confirmado: paciente com clínica sugestiva de fibrose cística, dois testes do suor positivo através da iontoforese com pilocarpina (>60mE/l) e /ou teste genético positivo para FC, realizado no Laboratório de Genética Humana da Universidade Federal do Pará. Colonização por P. aeruginosa: o paciente que apresentou cultura de escarro positiva para esta bactéria por duas ou mais ocasiões por mais de seis meses. RESULTADOS Tabela I: Características gerais dos pacientes com fibrose cística colonizados e não colonizados por P. aeruginosa, no Pará / 1997-2007 Colonizados(n=14) Variáveis n % Não Colonizados(n=30) n % Total p-valor Sexo Masculino (%) 4 28.6 20 66.6 24 0.0181* Feminino (%) 10 71.4 10 33.4 20 0.0181* Idade (média±dp) 17.5±10.0 6 42.9 18.7±13.2 27 90.0 44 44 0.3863 0.0008* 8 57.1 3 10.0 Região Metropolitana (%) Interior (%) Idade Média dos Sintomas Iniciais (anos) Idade Média ao Diagnóstico (anos) Adesão (n, %) Óbitos (n, %) Idade média óbito Tempo médio espirometrias (meses) 0.3 ± 0.6 1.4 ± 2.4 0.0273* 13.1 ±10.8 12.3 ±15.0 0.8454 7 Número Médio de Internações Fonte: Pesquisa de campo, 2007 50 10.6 ±6.5 9 (14.8 ±5.3) entre 0.0008* (38.1 ±24.5) 23 52.3 44 0.0 44 5.2 ±7.0 35.7 0 (0) (46.7 ±27.4) 0.0769 0.0173* 0.3185 Tabela II: Valores espirométricos dos pacientes com fibrose cística colonizados e não-colonizados por P. aeruginosa, no Pará/ 1997-2007 Inicial Categoria VEF1 (média, dp) CVF (média, dp) VEF1/CVF (média, dp FEF 25-75% (média, dp) Final Colonizados (n=14) Não Colonizados (n=30) p-valor Colonizados (n=14) Não Colonizados (n=30) p-valor 60.0 ± 25.0 79.2 ± 21.0 0.0191* 47.8 ± 16.1 79.6 ± 18.0 < 0.0001* 65.9 ± 21.7 83.2 ± 19.4 0.0249* 62.1 ± 21.2 85.9 ± 15.4 0.0006* 83.4 ± 12.7 90.1 ± 11.4 0.0989 74.7 ± 10.4 89.6 ± 9.4 0.0003* 42.5 ± 22.9 69.2 ± 26.7 0.0050* 26.5 ± 17.9 68.9 ± 26.8 < 0.0001* Fonte: Pesquisa de campo, 2007 Tabela III- Comparação das categorias do escore de Shwachman dos pacientes com fibrose cística, no Pará/ 1997-2007 Inicial Categoria Atividade Geral (média, dp) Exame Físico (média, dp) Estado Nutricional (média, dp) Raio X (média, dp) Toatal Final Colonizados (n=14) Não Colonizados (n=30) p-valor Colonizados (n=14) Não Colonizados (n=30) p-valor 13.6 ± 4.8 20.9 ± 5.0 < 0.0001* 11.5 ± 7.1 22.8 ± 3.5 < 0.0001* 9.9 ± 3.4 15.6 ± 4.2 < 0.0001* 7.5 ± 3.9 17.7 ± 4.2 < 0.0001* 12.1 ± 5.3 17.8 ± 5.6 0.0029* 11.5 ± 6.9 20.6 ± 4.8 < 0.0001* 7.5 ± 3.0 14.3 ± 4.7 < 0.0001* 6.1 ± 1.8 12.8 ± 4.2 < 0.0001* 42.9 ±13.5 68.4 ± 15.1 < 0.0001* 36.6 ± 18.7 73.6 ± 12.3 < 0.0001* Fonte: Pesquisa de campo, 2007 Tabela IV-: Fatores associados a mortalidade entre os colonizados (n=14) Mortos Sobreviventes VEF1 39.9 8.4 62.0 17.4 Estado Nutricional 6.7 8.4 20.0 3.1 Idade Sintomas Iniciais Idade ao Diagnóstico p-valor 0.0098* 0.0013* 0.33 0.7 0.2 0.4 0.4420 10.8 5.2 17.2 16.9 0.4207 Fonte: Pesquisa de campo, 2007 DISCUSSÃO O programa para assistência a FC do HUJBB foi estruturado em 1997, a partir de casos suspeitos atendidos no ambulatório de pediatria. Até dezembro de 2007, 66 pacientes foram assistidos pelo programa. A erradicação da P. aeruginosa após colonização é improvável e a prevenção deste evento difícil, visto que as infecções iniciais se dão por cepas ambientais, sensíveis à terapia antimicrobiana, ou por infecção cruzada com cepas, geralmente, mais resistentes. O monitoramento por cultura de espécimes do trato respiratório permite a introdução de terapia agressiva na detecção da infecção inicial e intermitente, minimizando os riscos de colonização e previne a infecção cruzada.19 A taxa de pacientes colonizados por P. aeruginosa neste estudo (31,8%) foi menor que as taxas encontradas em um centro no Canadá (58%), na Dinamarca (57%), em crianças na Austrália (43%) e em outras regiões brasileiras como Paraná (80%), Rio de Janeiro (63,3% e Campinas (71%). 1,21,22,23,24 A maioria dos pacientes colonizados por P. aeruginosa é procedente do interior do estado, e na casuística apresentada, seis (42,8%) deles realizaram tratamento para tuberculose, sem investigação prévia de fibrose cística. Cerca de 8% dos casos da Bahia são diagnosticados após 10 anos de idade, diferindo do estudo onde a idade média ao diagnóstico foi de 13,1± 10,8, para colonizados, e de 12,3±15, para não colonizados, sem diferença estatística entre os grupos. Estas médias foram mais elevadas que em outro estado brasileiro como Paraná (1,6 anos), e da cidade de Campinas (4,2 anos). Entretanto, nossos achados aproximaram-se do estado do Rio de Janeiro (11 anos).1,20,21,24 O atraso no diagnóstico da fibrose cística decorre principalmente da superposição de sinais e sintomas de patologias comuns na realidade paraense (diarréias, desnutrição e infecções respiratórias), desinformação sobre a doença entre os profissionais de saúde, a não implantação da triagem neonatal ou presença de mutações menos agressivas. Somado às dificuldades de acessibilidade a centros avançados de diagnóstico e tratamento. No HUJBB dois pacientes colonizados e cinco não colonizados foram diagnosticados na idade adulta. Entretanto, no grupo de colonizados, o diagnóstico tardio não veio acompanhado de um fenótipo leve, frente à gravidade dos casos. A irreversibilidade e progressão da doença pulmonar no 1º ano após o diagnóstico seria um importante fator prognóstico, justificando a grande ocorrência de óbitos no grupo colonizado, visto que os pacientes foram diagnosticados com função pulmonar deteriorada, expressa pela diminuição dos valores do VEF1, CVF, VEF1/CVF, FEF25 – 75%, e do escore de Shwachman, além da associação, em 64,3% dos casos, com déficit pôndero-estatural e pneumonias de repetição.25 O VEF1 é um dos melhores preditores de taxa de mortalidade em fibrocísticos, avaliando a obstrução das vias aéreas, mostrando-se descendente por toda a vida destes pacientes. As taxas de declínio no percentual dos valores preditos de VEF1 variaram de 1,79% ao ano no paciente que permanece vivo a um extremo de 9,16% ao ano no paciente que sucumbe ao óbito na 1ª década de vida.26 Foi observada queda nos dados espirométricos do grupo colonizado, ao longo do tempo, sendo significativos os valores referentes aos FEF25 – 75%., refletindo o acometimento inicial das pequenas vias aéreas. O grupo não colonizado mostrou uma redução menor no VEF1, CVF, porém sem significância estatística. O grupo colonizado evoluiu com perda progressiva no escore, diferentemente do grupo 2, que apresentou melhora significativa do estado nutricional, como resultado da intervenção nutricional, reposição enzimática e controle das infecções pulmonares. No entanto, a redução na média dos achados radiológicos, em ambos, é concordante com os relatos da literatura, onde as alterações estruturais no pulmão são mais precoces do que a deterioração das demais categorias. Em Campinas, apenas 15,7% dos pacientes apresentavam escore de Shwachman com grau de gravidade moderado a grave.21 O grupo colonizado apresentou grau de gravidade inicial classificado como moderado e final como grave, representando 31,8% do total de indivíduos estudados. O valor inicial das espirometrias e do escore de Shwachman, do grupo colonizado, não demonstrou mudança do quadro após instituição terapêutica, revelando alterações irreversíveis da função pulmonar. A diferença nos percentuais dos preditos da espirometria e do grau de gravidade, entre os grupos, reforça que há um maior comprometimento pulmonar perante a colonização por P. aeruginosa, com maior índice de morbidade e mortalidade. A idade média dos pacientes colonizados por P. aeruginosa do HUJBB, não difere estatisticamente do grupo de não colonizados, assim como, a mediana. No entanto, foi maior que os estudos realizados em centros como Ribeirão Preto (mediana de 9,5 anos), Porto Alegre (média de 13,04±4,82) e Bahia (10,8±13,5 anos), mas foi semelhante à idade média em Toronto, no Canadá (15,8 anos) e em Copenhagen (15,5 anos).3,22,27,28 Segundo dados da Cystic Fibrosis Foundation, em 2004, a sobrevida mediana, nos Estados Unidos da América, foi de 35,1 anos, e na Europa, em 1998, era de 32 anos. No Pará a expectativa de vida se encontra abaixo da dos países desenvolvidos. Os sintomas iniciais no grupo colonizado (0,3±0,6 ano) foram mais precoces do que no grupo não colonizado (1,4±2,4). Em Campinas há relatos de 16 meses, podendo atingir a idade adulta.24 O grupo 1 apresentou sintomas respiratórios persistentes em 100% dos casos, frequentemente associados com déficit pondero-estatural e pneumonia e repetição. A persistência da inflamação nas vias respiratórias dos fibrocísticos colonizados por P. aeruginosa cursa com a instalação de um quadro obstrutivo ao fluxo aéreo, aprisionamento de ar, doença pulmonar supurativa e ventilação inadequada. Esses dados foram traduzidos pelos achados da espirometria com redução dos valores preditos de VEF1, CVF, VEF1 /CVF e FEF25 – 75% até a insuficiência respiratória. Em conseqüência, houve maior número de internações nos pacientes colonizados, devido ás complicações e exacerbações advindas da presença da P. aeruginosa. Os maiores preditores de mortalidade considerados na literatura são o status nutricional, função pulmonar e colonização por P. aeruginosa, semelhante com nossos achados.25 A idade média ao óbito no Pará foi maior que em Campinas (9,5 anos) e Paraná (5,9±7,2 anos). Não foi possível determinar se houve influência do genótipo neste desfecho, assim como do tempo de colonização, visto o grande número de pacientes que já chegaram colonizados.21,24 A média de idade elevada ao diagnóstico dos pacientes com FC reforça a necessidade de implantação da triagem neonatal no Pará, para um diagnóstico mais precoce permitindo um monitoramento pontual da função pulmonar e das infecções pulmonares por P. aeruginosa. Faz-se necessário, ainda, estudos referentes à correlação genótipo e fenótipo na população acompanhada no HUJBB para se conhecer se a mutação genética possa estar influenciando na colonização. SUMMARY COLONIZATION BY Pseudomonas aeruginosa IN PATIENTS WITH CYSTIC FIBROSIS IN AMAZON REGION: EFFECT ON RESPIRATORY FUNCTION Edilene do Socorro Nascimento FALCÃO SARGES2, Valéria de Carvalho MARTINS3, Rita Catarina Medeiros de SOUSA4, Lorena Salgado Sodré GATTI5 e Irna Carla Souza CARNEIRO6 Objective: to evaluate spirometric and clinic characteristics of patients who present cystic fibrosis and who are attended at João de Barros Barreto University Hospital (HUJBB), in the State of Pará, Brazil. Methods: a retrospective study was performed with 44 patient records that were attended at HUJBB during the 1997 to 2007; these patients fit into inclusion criteria, in which 14 presented P. aeruginosa bacteria colony. Results: within the group, who was colonized by P. aeruginosa, ten patients were women and the median age for their initial symptoms was of 0.3 ± 0.6 year which was significantly different when compared with patients who didn’t present the bacteria colony (p‹ 0.05). The median age for diagnosis was of 13.1 ± 10.8 in colonized patients and all of them presented respiratory symptoms pertaining to the diagnosis. The median of the predicted percentage values of spirometries for initial and final evaluation of the colonized group was VEF1 (60.0 ± 25.0%) and (47,82 ± 16.1%) and FEF 25-75% (42.5 ± 22.9%) and (26.5 ± 17.9%), and in the noncolonized group, the median was VEF1 (79.2 ± 21.0%) and (79,6 ± 18.0%) and FEF 25-75% (69.2 ± 26.7%) and (68.9 ± 26.8%), respectively (p‹ 0.005). The median initial Shwachman score in the colonized patients was 42.9 ± 13.5 and in the non-colonized patients it was 68.4 ± 15.1 (p‹ 0.0001), and at the final evaluation the median was 36.6 ± 18.7 and 73.6 ± 12.3 (p‹ 0.0001), respectively. Factors related to deaths found in the study were related to P. aeruginosa colonization, inadequate nutritional status and reduced VEF1. Conclusions: in the studied casuistry, a larger damage to respiratory function in P. aeruginosa colonized group and older median age for diagnosis were found in the State of Pará when compared to other Brazilian States. There is the need for action towards precocious diagnosis in the State of Pará so that an efficient therapeutic approach is put into practice guiding to survival increase and quality of life for these individuals. Keywords: cystic fibrosis, Pseudomonas aeruginosa, spirometry REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Lima,AN; Lopes, AJ; Jansen, U; Capone, D; Jansen, JM. Fibrose cística em adultos: aspectos clínicos, funcionais e tomográficos. Pulmão 2004; 13(2): 90-97. Santos, CIS; Ribeiro, JD; Ribeiro, AF; Hessel, G. Análise crítica dos escores de avaliação de gravidade da fibrose cística: estado de arte. J Bras Pneumol 2004; 30(3): 286-298. Dornelas, EC; Fernandes, MLM; Galvão, LC; Silva, GA. Estudo do quadro pulmonar de pacientes com fibrose cística. 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