A PESQUISA COMO FERRAMENTA PARA A PROFISSÃO DE ASSISTENTE SOCIAL: ABORDAGEM SÓCIO-HISTÓRICA ROCHA, L.M1; FERREIRA, C.M.A2; SANTOS,W.S.A3 ; SOUZA, M. do S. P.4 1 Graduanda em Serviço Social UEPB, graduanda em Letras UEPB,Endereço Rua Arruda Câmara, 151, 1º andar, CEP 58406-020 Santo Antonio-Campina Grande/PB, e-mail: [email protected] 2 Aluna do Curso de Ciências Sociais, UACS/UFCG, Campus CG/PB, extensionista CNPq, Graduanda em Serviço Social, CCSA/UEPB, Endereço: Rua João da Mata, 620, apt 701CEP 58400-245 Centro-Campina Grande/PB, e-mail: [email protected] / [email protected] 3 Graduanda em Serviço Social UEPB, Endereço: Rua Epitácio Pessoa, 115, apt 301, CEP 58102-400 Centro-Campina Grande/PB,e-mail: [email protected] 4 Mestra em Serviço Social-UFPB, Professora do Departamento de Serviço Social da UEPB, Endereço: Rua Vigário Calixto, 1194, CEP58410-340, Catolé-Campina Grande/PB,e-mail: [email protected] Resumo: Este artigo é resultado de uma pesquisa bibliográfica, a partir da qual procuramos traçar uma abordagem histórica e atual do processo de organização política do Serviço Social. Posteriormente, buscamos analisar como se deu a aproximação do Serviço Social com a ferramenta pesquisa e a relevância que esta adquire no processo de formação e consolidação da prática profissional. Em sua origem a profissão estava vinculada às classes dominantes contribuindo apenas para a produção e reprodução do capital. Na década de 80, a categoria passa a colocar-se numa outra perspectiva, culminando no processo de intenção de ruptura com o conservadorismo, buscando romper com as amarras tradicionais que enviesam a profissão desde a sua gênese. Desse modo, foi possível depreender a importância adquirida pela pesquisa, enquanto instrumento fundamental para a produção do conhecimento e para os avanços significativos nos diferentes campos da ação profissional, no sentido de desenvolver um profissional qualificado a atender as necessidades postas cotidianamente. PALAVRAS-CHAVE: Serviço Social; Organização Política; Pesquisa. ÁREA DE CONHECIMENTO: CIÊNCIAS DA SAÚDE 1. Abordagem histórica do Serviço Social: do surgimento à intenção de ruptura O Serviço Social caracterizou-se historicamente como uma profissão, eminentemente interventiva, reconhecida e inscrita na divisão sócio-técnica do trabalho, mantendo tradicionalmente estreita ligação com o cotidiano de vida da classe trabalhadora. O surgimento do Serviço social no Brasil se deu no contexto da década de 30, no âmbito do processo histórico de modernização e desenvolvimento do capitalismo, onde as contradições advindas da relação capital e trabalho se acirravam. Inicialmente, o Serviço Social encontrava-se estritamente vinculado com a Igreja Católica, utilizando uma prática assistencialista e caritativa como instrumento de intervenção profissional. Esta prática era desenvolvida pelas “damas de caridade”, ou seja, mulheres burguesas, que buscavam garantir a partir de ações de benevolência, como a caridade, a ajuda visando controlar os conflitos que poderiam perturbar os valores da ordem burguesa. A Igreja age visando racionalizar e normatizar a prática do assistencialismo e, na tentativa de ajustar os indivíduos à sociedade pregando a “reforma de caráter”. Com a consolidação do capitalismo surge o fenômeno da questão social. Esta diz respeito às contradições gestadas ou proeminentes do próprio sistema, como a crescente desigualdade social, o desemprego estrutural, a pobreza generalizada, entre outras mazelas sociais que dele decorrem. A questão social ganhou dimensões profundas, à medida que o sistema capitalista acentuou suas contradições. Cabe destacar que a emergência e a visibilidade da questão social estão vinculadas à constituição da classe trabalhadora como sujeito sócio-político que torna publico e politiza as contradições decorrentes da relação capitaltrabalho. Portanto ressalta-se que o Serviço Social institucionaliza-se enquanto profissão, à medida que é chamado para o controle da questão social, passando a integrar os mecanismos de execução das políticas sociais do Estado burguês. No tocante à relação entre o Serviço Social e a autocracia burguesa, na década de 60, o Serviço Social, apesar do processo de renovação que se XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 inicia na profissão, põe-se como tradicional, a partir de uma prática empirista, burocratizada e funcionalista, reforçando os aspectos subalternos da profissão. Nesta perspectiva, os Assistentes Sociais deveriam se configurar como meros executores de políticas sociais, com o intuito de manter o “status quo” da autocracia burguesa. Todavia, a dinâmica da sociedade brasileira demandava uma nova postura profissional, pois com o desenvolvimento das forças produtivas, houve um aumento da demanda para o Serviço Social, assim como um novo padrão de exigências a partir da necessidade de uma nova postura profissional dotada de um conjunto de procedimentos administrativos “modernos”. Segundo Netto (2001, p.123), exigia-se um Assistente Social “moderno” com um desempenho onde traços “tradicionais” são deslocados e substituídos por procedimentos “racionais”. Houve ainda o rompimento com velhas práticas (confessionalistas, paroquialistas). O processo de renovação do Serviço Social representou um processo de transformação profissional no contexto sócio-político delineado pela autocracia burguesa, momento em que o profissional buscou se renovar do ponto de vista teórico, procurando fornecer respostas às demandas sociais. Esse processo é marcado pela construção de um pluralismo profissional, pela busca de uma fundamentação teóricometodológica direcionada para o desenvolvimento da prática profissional, além da busca da compreensão política inerente à prática, um novo conceito do público atendido (cliente/usuário). Procurou-se um espaço para a interlocução com os problemas e as disciplinas das Ciências Sociais de forma crítica. Com isso, o Serviço Social começa a se auto-analisar e a se auto-questionar, pondo-se como objeto de pesquisa, dando-se por meio do amadurecimento e do trabalho multiprofissional, da laicização e da difusão do movimento estudantil nas escolas de Serviço Social, mesmo nos marcos da ditadura. O processo de renovação deu-se em três momentos: modernização (1965), reatualização do conservadorismo (1975) e intenção de ruptura (1980). A perspectiva modernizadora buscou adequar o Serviço Social, enquanto instrumento de intervenção, o qual utiliza uma série de técnicas advindas de outras profissões que deveriam ser operacionalizadas de forma estratégica, no contexto do desenvolvimento capitalista. A eclosão desta perspectiva pode ser encontrada nos documentos de Araxá (1967) e Teresópolis (1970). O núcleo central da perspectiva modernizadora foi a tematização do Serviço Social, enxergando no mesmo a possibilidade de dinamizar e integrar o processo de desenvolvimento. Um aspecto que caracteriza este momento é a relação de continuidade com o acúmulo teórico obtido nas décadas de 50 e 60(continuidade seletiva), buscando uma nova fundamentação teórica para respaldar o papel da intervenção profissional a partir de uma “roupagem” moderna, capaz de possibilitar a compreensão da sociedade vigente. É nos seminários do Sumaré (1978) e do Alto da Boa Vista (1984), que emerge a vertente renovadora, denominada como reatualização do conservadorismo, devido ao lastro conservador não ter sido excluído pela perspectiva modernizadora, em que, segundo Netto (2001, p.202), explorou particularmente seu vetor reformista e subordinou as suas expressões às condições das novas exigências que a “modernização conservadora” colocou ao exercício profissional. Desse modo, o Serviço Social conviveu com duas variáveis: a laicização e a ponderação de tendências católicas, anticapitalistas, respaldadas no marxismo (sem Marx). A intenção de ruptura consiste no terceiro momento da renovação do Serviço Social no Brasil, possibilitada pelo enfraquecimento do processo da Ditadura Militar que vinha se gestando desde a década de 60 e, também é fruto da incessante luta da categoria profissional, na busca pelo rompimento com o tradicionalismo que perpassa a profissão desde a sua origem. Caracteriza-se como um processo de continuidade em que se põe e repõe eixos teóricometodológicos, sendo marcado a partir da década de 80 pelo viés de conotação marxista, através dos movimentos sociais, movimento estudantil, partidarismo e pelo rompimento com a subalternidade intelectual. Esta perspectiva emerge no quadro da estrutura universitária, na primeira metade da década de 70 na Universidade Católica de Minas Gerais, a qual formulou o Método de Belo Horizonte, caracterizando-se como uma experiência marginal até o final dos anos 70, sem ressonância em outras escolas no Brasil, mas debatida em outros países da América Latina, consolidando-se no âmbito da profissão até os dias atuais. 2. A aproximação do Serviço Social com a Pesquisa A priori, a aproximação do Serviço Social com a pesquisa se deu de forma tímida, superficial. Como afirma Campagnolli (1993, p.132), a pesquisa social consistia em levantamentos efetuados junto às famílias operárias no sentido de investigar as condições de vida, tanto em seus aspectos objetivos como nos aspectos comportamentais. O instrumental utilizado era preponderantemente a visita domiciliar e a aplicação de inquéritos sociais (por meio de XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 entrevistas, com o próprio trabalhador e/ou com familiares, vizinhos e patrões). No entanto, é na transição dos anos 70 aos 80 que essa discurssão vai assumir, no Brasil, uma posição de destaque, devido ao enfrentamento da Ditadura Militar e categoria profissional. De acordo com Iamamoto (1993, p.104), este rumo intelectual e político vêm alimentando a conformação de uma nova face para o Serviço Social, distinta da herança das suas origens, seja no campo da produção teórica, seja no campo do exercício profissional, na busca de ampliação de suas bases de legitimidade para além das esferas patronais, no sentido de incorporar interesses e necessidades dos segmentos populacionais subalternizados que são alvo do seu serviço. Assim, como afirma Soares (1996), a pesquisa passa a constitui-se como dimensão da prática do Assistente Social e como um instrumento fundamental para a construção de um corpo teórico-metodológico, no sentido de atender as novas exigências da atuação profissional, consubstanciando-se como atividade intrínseca ao Serviço Social, a partir da inclusão da disciplina pesquisa no processo de formação profissional, além da criação de cursos de pós-graduação e strictu-sensu (mestrado, 1970 e doutorado, 1980). É sabido que a pesquisa tem uma relevante importância para a formação profissional em Serviço Social, pois proporciona o conhecimento da realidade do mundo contemporâneo, além de dar um suporte, um direcionamento às ações profissionais do Assistente Social. A pesquisa tem progredido bastante, no sentido de articulação de políticas sociais públicas, em especial desentranhando, sob um ângulo crítico os fios que articulam o Serviço Social com a assistência, para mais além de sua versão assistencialista (Iamamoto2003, p.106). Nos últimos tempos, a pesquisa tem ocupado papel de grande relevância para o desenvolvimento da profissão, pois confere a esta um cunho científico, na medida em que investiga para intervir. Segundo Cardoso (1997, p.27), Na proposta curricular de 1982, a pesquisa já é incluída como matéria básica no âmbito da graduação. Na proposta curricular atual, configurada nas “Diretrizes gerais para o curso de Serviço Social”, em tramitação no MEC, para a aprovação, a pesquisa é exigida não apenas como matéria. Ela se constitui num dos princípios e numa condição de formação profissional. Portanto, a formação de uma postura investigativa permanente é uma exigência fundamental que deve perpassar todo o processo de formação profissional. Mas a pesquisa é, essencialmente, o desenvolvimento de processos globais e sistemáticos de produção de conhecimento. Esta nova proposta de currículo encontra-se estruturada em núcleos temáticos, como o núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social, o núcleo de fundamentos particulares da formação sócio-histórica da sociedade brasileira, o núcleo de fundamentos do trabalho profissional, direcionando a pesquisa numa perspectiva formativa, enquanto síntese de tais núcleos. Somente no ano de 1998 que houve a mudança da nomenclatura de ABESS (Associação Brasileira de Serviço Social) para ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social), inserindo dessa forma a pesquisa no âmbito da formação, contituido-se não apenas como uma mudança de nomenclaturas, mas trazendo embutida a preocupação com a garantia da indissociabilidade entre o tripé: ensino, pesquisa e extensão. Buscando, desta maneira garantir e avaliar a implementação das diretrizes curriculares, a partir das discussões que vem se efetivando à nível local, regional e nacional. Portanto, percebe-se que a aproximação do Serviço Social com a Pesquisa vem fortalecer o desenvolvimento do saber profissional, fazendo com que a profissão ganhe cada vez mais um cunho de cientificidade, a partir da investigação e produção do conhecimento. Bourguignon (2007) afirma que a profissão em sua trajetória histórica, avançou quanto ao acúmulo de conhecimentos sobre o seu objeto de intervenção e sobre a natureza da própria profissão, deixando de ser consumidor do saber produzido por outras áreas de conhecimento das ciências humanas e sociais, passando a ser protagonistas da realidade social. Porém, ao mesmo tempo em que se identificam avanços no âmbito da relação do Serviço Social com a pesquisa, é possível ainda perceber a persistência da dicotomia entre teoria e prática nos meios profissionais, exigindo se ainda a consolidação da pesquisa como elemento constitutivo e constituinte do exercício profissional. O propósito deste estudo foi investigar a importância da ferramenta pesquisa para o curso de Serviço Social numa perspectiva histórica e atual, enfatizando-se a extrema relevância da pesquisa para a formação e consolidação da prática profissional dos Assistentes Sociais, no sentido de aprimorar os conceitos teóricos, a linguagem e a pesquisa como prática diária de trabalho destes profissionais. REFERÊNCIAS -BOURGUIGNON, Jussara Ayres. A particularidade histórica da pesquisa no Serviço Social. In: Katálysis, v.10, 2007. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 - CAMPAGNOLLI, Sandra Regina de Abreu Pires. Uma relação complexa: o Serviço Social e seu instrumental técnico. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Pontifícia Universidade Católica (PUC). Campinas – SP, 1993. - CARDOSO, Franci Gomes. A pesquisa na formação profissional do assistente social: algumas exigências e desafios. In: Cadernos ABESS, nº08, 1997. projeto de formação profissional. In: Cadernos ABESS, nº06, São Paulo, Cortez, 1993. - NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós 64. 5ªed.. São Paulo, Cortez, 2001. - SOARES, Maria de Lourdes. O percurso da pesquisa no âmbito do Serviço Social. João Pessoa: UFPB, Departamento de Serviço Social, 1996 (texto didático). - IAMAMOTO, Marilda Vilela. Ensino e pesquisa no Serviço Social: desafios na construção de um XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 4