Bragantia Print ISSN 0006-8705 Table of contents Bragantia vol.63 no.2 Campinas 2004 Editorial • text in portuguese • pdf in portuguese Basic Areas • The effect of carbon source on in vitro organogenesis of chrysanthemum thin cell layers Silva, Jaime A. Teixeira da • abstract in english | portuguese english • text in english • pdf in • Characterization of Coffea arabica cultivars by minimum descriptors Aguiar, Adriano Tosoni da Eira; Guerreiro-Filho, Oliveiro; Maluf, Mirian Perez; Gallo, Paulo Boller; Fazuoli, Luiz Carlos • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in • Light, temperature and potassium nitrate in the germination of Hypericum. perforatum L. and H. Brasiliense Choisy seeds Faron, Maria Luisa Bertelle; Perecin, Maria Beatriz; Lago, Antonio Augusto do; Bovi, Odair Alves; Maia, Nilson Borlina • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in • Somaclonal variation event on micropropagated Pacovan banana seedling (Musa spp. AAB group) Santos, Cynthia Christina Carvalho dos; Rodrigues, Paulo Hercílio Viegas • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in Plant Breeding • Evaluation of coffee progenies from crosses of Catuaí Vermelho and Catuaí Amarelo with "Hibrido de Timor" descents Bonomo, Paulo; Cruz, Cosme Damião; Viana, José Marcelo Soriano; Pereira, Antonio Alves; Oliveira, Valter Rodrigues de; Carneiro, Pedro Crescêncio Souza • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in • Cyanide acid content in progenies from crosses of bitter and sweet cassava cultivars Valle, Teresa Losada; Carvalho, Cássia Regina Limonta; Ramos, Maria Teresa Baraldi; Mühlen, Gilda Santos; Villela, Omar Vieira • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in Plant Protection • Effect of inseticides at sowing on seedling pests and yield off-season maize crop under no-tillage system Ceccon, Gessi; Raga, Adalton; Duarte, Aildson Pereira; Siloto, Romildo Cássio • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese Soil Fertility and Plant Nutrition • pdf in • Coffee nutrition as a function of plant density and NPK fertilization Prezotti, Luiz Carlos; Rocha, Aledir Cassiano da • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in • Nutrient diagnosis of coffee-tree by DRIS using different sensitivity constants according to the nutrient yield response Bataglia, Ondino Cleante; Quaggio, José Antonio; Santos, Wagner Rodrigues dos; Abreu, Mônica Ferreira de • abstract in english | portuguese portuguese • Fate of crop 15N-urea • text in portuguese • pdf in applied to wheat-soybean succession Boaretto, Antonio Enedi; Spolidorio, Eduardo Scarpari; Freitas, José Guilherme de; Trivelin, Paulo Cesar Ocheuze; Muraoka, Takashi; Cantarella, Heitor • abstract in english | portuguese english • text in english • pdf in Crop Production and Management • Behavior of coffee intercropped with annual crops Paulo, Edison Martins; Berton, Ronaldo Severiano; Cavichioli, José Carlos; Kasai, Francisco Seiiti • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in • Weed control in table beet with metamitron and its persistence in Ultisol-Kandiucults Deuber, Robert; Novo, Maria do Carmo de Salvo Soares; Trani, Paulo Espíndola; Araújo, Ronaldo Tavares de; Santini, Ademir • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.63 no.2 Campinas 2004 EDITORIAL Bragantia publica neste número o artigo "Diagnose nutricional do cafeeiro pelo DRIS variando-se a constante de sensibilidade dos nutrientes de acordo com a intensidade e freqüência de resposta na produção", assinado pelo Pesquisador Científico Ondino Cleante Bataglia. Primeiro aluno da turma de Engenheiros Agrônomos formados em 1967, pela Escola Superior de Agricultura 'Luiz de Queiroz" (ESALQ/USP), foi contatado já no ano seguinte pelo Instituto Agronômico (IAC) para desenvolver pesquisa na área de Ciência do Solo, Nutrição de Plantas, Fertilidade do Solo e Adubação. Doutorou-se em 1973 pela ESALQ/USP e obteve em 1980 o título de PhD pela Universidade da Califórnia (Davis, EUA). Durante sua vida profissional especializou-se em nutrição mineral de plantas, com destaque às culturas da soja, milho, café, citros e seringueira. Contribuiu de forma marcante no desenvolvimento e adaptação de métodos de análise química de plantas e no diagnóstico de nutrição mineral com ênfase no Sistema Integrado de Diagnose e Recomendação (DRIS) para as culturas do cafeeiro, citros e seringueira. Atuou intensamente na difusão de conhecimentos científicos mediante participações em inúmeros cursos de treinamento para produtores rurais, extensionistas e profissionais dos setores públicos e privado, além de colaborar como orientador e docente de cursos de pós-graduação da USP, UNESP e IAC. Ondino Bataglia ocupou diversos cargos administrativos na Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, como Encarregado do Setor de Análise de Solo e Plantas, Chefe da Seção de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas e Diretor Geral do IAC. Foi Coordenador da Pesquisa Agropecuária do Estado de São Paulo e um dos importantes articuladores do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café implementado em 1998. Prestou assessoria técnico-científica ao CNPq, à EMBRAPA, FAPERGS, FAPESP e UNICAMP e participou como líder de importantes colegiados como o Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia (CONCITE) e Conselho Nacional dos Sistemas Estaduais de Pesquisas Agropecuárias (CONSEPA). Recebeu diversos prêmios de destaque como a Medalha Fernando Costa (AEASP), Personalidade da Tecnologia-Agricultura (Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo) e Medalha Paulista do Mérito Científico e Tecnológico. O trabalho publicado neste número de Bragantia é um dos 85 artigos científicos da extensa produção bibliográfica do Doutor Ondino Bataglia, que também assinou seis livros e 20 capítulos de livros, além de inúmeros textos em jornais, revistas e anais de eventos científicos. Ondino Cleante Bataglia aposentou-se em novembro de 2003 e Bragantia tem a honra de publicar seu último texto, como Pesquisador Científico, na ativa, do Instituto Agronômico. Oliveiro Guerreiro Filho Editor-Chefe Editorial Bragantia publica neste número o artigo “Diagnose nutricional do cafeeiro pelo DRIS variando-se a constante de sensibilidade dos nutrientes de acordo com a intensidade e freqüência de resposta na produção”, assinado pelo Pesquisador Científico Ondino Cleante Bataglia. Primeiro aluno da turma de Engenheiros Agrônomos formados em 1967, pela Escola Superior de Agricultura ‘Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP), foi contatado já no ano seguinte pelo Instituto Agronômico (IAC) para desenvolver pesquisa na área de Ciência do Solo, Nutrição de Plantas, Fertilidade do Solo e Adubação. Doutorou-se em 1973 pela ESALQ/USP e obteve em 1980 o título de PhD pela Universidade da Califórnia (Davis, EUA). Durante sua vida profissional especializou-se em nutrição mineral de plantas, com destaque às culturas da soja, milho, café, citros e seringueira. Contribuiu de forma marcante no desenvolvimento e adaptação de métodos de análise química de plantas e no diagnóstico de nutrição mineral com ênfase no Sistema Integrado de Diagnose e Recomendação (DRIS) para as culturas do cafeeiro, citros e seringueira. Atuou intensamente na difusão de conhecimentos científicos mediante participações em inúmeros cursos de treinamento para produtores rurais, extensionistas e profissionais dos setores públicos e privado, além de colaborar como orientador e docente de cursos de pós-graduação da USP, UNESP e IAC. Ondino Bataglia ocupou diversos cargos administrativos na Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, como Encarregado do Setor de Análise de Solo e Plantas, Chefe da Seção de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas e Diretor Geral do IAC. Foi Coordenador da Pesquisa Agropecuária do Estado de São Paulo e um dos importantes articuladores do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café implementado em 1998. Prestou assessoria técnico-científica ao CNPq, à EMBRAPA, FAPERGS, FAPESP e UNICAMP e participou como líder de importantes colegiados como o Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia (CONCITE) e Conselho Nacional dos Sistemas Estaduais de Pesquisas Agropecuárias (CONSEPA). Recebeu diversos prêmios de destaque como a Medalha Fernando Costa (AEASP), Personalidade da Tecnologia-Agricultura (Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo) e Medalha Paulista do Mérito Científico e Tecnológico. O trabalho publicado neste número de Bragantia é um dos 85 artigos científicos da extensa produção bibliográfica do Doutor Ondino Bataglia, que também assinou seis livros e 20 capítulos de livros, além de inúmeros textos em jornais, revistas e anais de eventos científicos. Ondino Cleante Bataglia aposentou-se em novembro de 2003 e Bragantia tem a honra de publicar seu último texto, como Pesquisador Científico, na ativa, do Instituto Agronômico. Oliveiro Guerreiro Filho Editor-Chefe Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.63 no.2 Campinas 2004 ÁREAS BÁSICAS The effect of carbon source on in vitro organogenesis of chrysanthemum thin cell layers Efeito de carbono na organogênese de camadas celulares finas de crisântemo Jaime A. Teixeira da Silva Faculty of Agriculture, Kagawa University, Miki-cho, Kagawa, 761-0795, Japan. E-mail: [email protected] ABSTRACT Carbon source is an indispensable factor for the development of an in vitro morphogenic program of chrysanthemum micropropagation. The choice of carbon source affects the qualitative and quantitative outcome, and also the response of thin cell layers when these are placed onto morphogenic (callus, root, shoot, somatic embryo) media. Threshold survival levels (TSLs) could not be obtained for sucrose, fructose or glucose. TSLs together with organ differentiation were, however, obtained for mannose (60-80 g.L-1), xylose and lactose (40 g.L-1) and cellulose (60-80 g.L-1), making these carbon sources suitable as potential carbon sources for positive selection systems for chrysanthemum genetic transformation. Key words: Dendranthema X grandiflora, phytotoxicity, regeneration capacity, threshold survival level. RESUMO A fonte de carbono é factor indispensável no sucesso de um programa de desenvolvimento morfogênico in vitro de crisântemo. A escolha da fonte de carbono afeta a resposta qualitativa e quantitativa de camadas celulares finas, quando são colocadas em meios de desenvolvimento morfogênico (calo, raiz, eixo caulinar, embrião somático). Não se estabeleceram níveis de sobrevivência quando sucrose, frutose ou galactose foram usados, mas sim para manose (60-80 g.L-1), xilose e lactose (40 g.L-1), e celulose (60-80 g.L-1), sugerindo o potencial dessas fontes de carbono em sistemas de seleção positivas em programas de transformação genética de crisântemo. Palavras-chave: Dendranthema X grandiflora, fitotoxicidade, capacidade regenerativa, nível de sobrevivência. Abbreviations: 2,4-D, 2,4-dichlorophenoxyacetic acid; BA, 6-benzyladenine; ES, explant survival; IAA, indole-3-acetic acid; NAA, α-naphthalene acetic acid; PGR, plant growth regulator; SE, somatic embryo; tTCL, transverse thin cell layer; TDZ, thidiazuron; TSL, threshold survival level. 1. INTRODUCTION Sugars control the expression of many plant genes and their connection to metabolic and developmental processes is unequivocal (KOCH, 1996). Plant genetic transformation systems still require the use of antibiotics for the selection of cells or tissues that contain an antibiotic-degrading gene, such as nptII (kanamycin and other aminoglycoside antibiotics) and hptII (hygromycin), inter alia. This selection system is gradually being replaced by a positive (REED et al., 2001) selection system, since in the former there is the risk of resistance build-up to a selective substance by microbes, and a concern for potential negative environmental impacts (USFDA, 2002). Xylose, like mannose (a glucose epimer at the second carbon), is a carbohydrate that many plant species cannot metabolise, unless transformed by a xylose isomerase (EC 5.3.1.5) gene. Xylose isomerase converts xylose to xylulose, which is then metabolised through the pentose phosphate pathway. Mannose can be metabolised by phosphomannose isomerase (EC 5.3.1.8; PMI), which catalyses mannose-6-phosphate and fructose-6-phosphate (REED et al., 2001). Using the xylose isomerase gene as a selector gene, transformation efficiencies were shown to be higher in potato and tomato, but lower in tobacco compared to kanamycin-based selection systems (HALDRUP et al., 1998a,b, 2001). The PMI gene has already been successfully utilized for the genetic transformation of sugar beet, potato, oil seed rape and maize (JOERSBO, 2001). This study investigates the use of various carbon sources that may be potential selective agents for positive selection systems. The rationale behind the experiments within this study lies in the fact that the plant cannot use or metabolise all carbon sources effectively, and thus these can be used as limiting factors to regeneration, growth and development. Using this principle it is possible to establish threshold survival levels (TSLs) in response to varying concentrations of different carbon sources, since when using a non-antibiotic marker gene, a low level of nutrient medium is utilized, making the explant highly dependent (or heterotrophic) on the carbon source. To further enhance medium-dependence of explants, thin cell layers (TCLs) are utilized. TCLs, derived from tissues or organs, are small in size, and are excised either a) longitudinally (lTCL), being thus composed of a few tissue types or b) transversally (tTCL), thus composed of several tissue types, which are, however, normally too small to separate, as in the case of chrysanthemum. In the TCL system, the morphogenic and developmental pathways of specific organs may be clearly directed and controlled (NHUT et al., 2003). Chrysanthemum (Dendranthema grandiflora (Ramat.) Kitamura) cv. 'Shuhou-nochikara' is an economically valuable ornamental crop that is difficult to transform (TEIXEIRA DA SILVA and FUKAI, 2002). Among other potentially important applications of chrysanthemum transformation, the most vital is that of engineering virus/viroid resistance (TEIXEIRA DA SILVA, 2003c). Furthermore, the shoot regeneration capacity of chrysanthemum is severely hampered by the presence of antibiotics in the selective caulogenic medium, which, despite optimisation for maximum shoot production in a caulogenic program, is disturbed at higher antibiotic concentrations (TEIXEIRA DA SILVA et al., 2003). Thus, the search for alternative selection systems using other carbon sources may benefit the outcome and efficiency of chrysanthemum genetic transformation. The aim of this study was test the applicability of various carbon sources to chrysanthemum transformation, and provide a simple and practical methodology of choosing appropriate positive selection agents by establishing growth and development threshold levels in vitro for all morphogenic programs. 2. MATERIAL AND METHODS Plant material: in vitro and greenhouse culture conditions In vitro plantlets of 'Shuhou-no-chikara' chrysanthemum (Dendranthema X grandiflora (Ramat.) Kitamura), a disbud-type cultivar (and the leading Japanese cut-flower market cultivar), were used for initial explant material. All in vitro cultures were maintained under a 16 h light period and 20 µmol/m2/s1 (PGF lamps: Homo-Lux, National Electric Co., Tokyo, Japan) at 25 ºC. tTCLs (~200-500 µm thick and 1-1.5 mm in diameter) containing all cell types, were prepared from stem internode tissue of in vitro mother-stock plantlets. Shoots, having at least 2 nodes and 4 leaves, regenerated from tTCLs were harvested and rooted in 1L plant boxes on Hyponex® (soluble liquid fertilizer, HYPONeX, Co. Ltd., Japan; N:P2O5:K2O = 6.5:6:19; 3 g.L-1) medium containing 20 g.L-1 sucrose. Plantlets were sub-cultured twice and acclimatized to greenhouse conditions in Metromix® potting soil for two weeks, then re-planted at a density of four plants per pot, into 70:30 Masa (sandy) soil:organic compost under greenhouse conditions. Chrysanthemum plantlets were acclimatized at 90% relative humidity and maintained in the greenhouse under long-day (4 hour light induction from 10 p.m. to 2 a.m.) conditions before transfer to short-day (13-14 hours continual darkness) conditions for flower induction. The normality of acclimatized plants was checked by observing vegetative (length of stem, number of leaves, mass) and flowering (number of ray and disk florets, flower colour) characteristics. Effect of carbon source on morphogenesis (callogenesis, rhizogenesis, caulogenesis and somatic embryogenesis) To test the effect of carbon source, treatment media were maintained at 25ºC, both in the light (16 h light period, 20 µmol/m2/s1; PGF lamps: Homo-Lux, National Electric Co., Tokyo, Japan) and in the dark, without sucrose, but containing 0 (control), 20, 40, 60 or 80 g.L-1 of one of the following: monosaccharides (fructose, galactose, glucose, mannose, all hexoses, and xylose, a pentose); oligosaccharides (lactose, maltose, sucrose, all disaccharides, turanose, a rare disaccharide and raffinose, a trisaccharide); polysaccharides (cellulose, starch); polyols or sugar alcohols (mannitol, sorbitol). In these treatments, together with control treatments in which carbon sources were not included, tTCLs were cultured on the following media under light (20 µmol/m2/s1; PGF lamps: Homo-Lux, National Electric Co., Tokyo, Japan) and dark conditions at 25 ºC using a methodology described elsewhere (TEIXEIRA DA SILVA, 2003a): 1) callus induction: MS medium (mineral salts only; Murashige and Skoog, 1962) + 2 mg.L-1 TDZ, 20 g.L-1 sucrose; (2) root induction: MS + 1 mg.L-1 NAA, 20 g.L-1 sucrose; (3) shoot regeneration: MS + 2 mg.L-1 BA, 0.5 mg.L-1 NAA, 40 g.L-1 sucrose and (4) somatic embryo induction: MS + 1 mg.L-1 IAA or 2 mg.L-12,4-D, 20 g.L-1 sucrose. Morphological scoring All explants were scored for the percentage of tTCLs forming shoots, roots, callus or somatic embryos, explant survival in the caulogenic program (shoots being the most important morphogenic product for micropropagation and genetic transformation) and total fresh mass (caulogenic program) after 6 weeks in culture. Plant threshold survival level (TSL), defined as the physiological state of the tTCL in which no morphogenic development (shoot, root, callus or somatic embryo) occurs, was also determined. Histological analyses Some of the explants from all of the treatments were observed under light microscopy and scanning electron microscopy. For the latter, samples were fixed in formalin: acetic acid: ethanol (70: 20: 10), dehydrated in an ethanol series (50-100% ethanol for at least 6 h each), critical point-dried, sputter-coated with platinum and viewed under a Hitachi-2150 SEM microscope. Flow cytometry Nuclei were isolated from about 500 mg of material (shoot or callus) by chopping in a few drops of Partec Buffer A, according to manufacturer's instructions. Nuclear fluorescence was measured using a Partec® Ploidy Analyser after filtering the nuclear suspension through 30 ìm mesh size nylon filter (CellTrics®) and adding five times of DAPI solution (2 mg.L-1 4,6-diamidino-2-phenylindole (DAPI), 2 mM MgCl2, 10 mM Tris, 50 mM sodium citrate, 1% (w/v) PVP K-30, 0.1% Triton-X, pH 7.5; MISHIBA and MII, 2000) for 1 min. Three samples were measured, and relative fluorescence intensity of the nuclei was analysed when the coefficient of variation was <4%. A total of 2.500 nuclei were counted for any sample. Statistical analyses Experiments were organized according to a complete randomised block design (CRBD) with three blocks of n=20 each per treatment. Data were analysed for significance by ANOVA with the mean separation by Duncan's New Multiple Range test (DMRT). 3. RESULTS Results reveal that the addition of different carbon sources to the culture media affected total fresh mass of chrysanthemum tTCLs and the quantitative production of callus (Figure 1 K), roots (Figure 1 B), shoots (Figure 1 A), and to a lesser extent, somatic embryos (Figure 1 E, L) after 6 weeks of incubation. In vitro culture was best supported by sucrose (Table 1; Figure 2 O, P), although sucrose concentration higher than 60 g.L-1 was inhibitory to shoot development. Sucrose can be substituted by glucose or fructose, which gave a similar high total fresh mass (Table 1), but showed significantly reduced (P < 0.001) callus, and root and shoot numbers (Figure 2 A, B and E, F for fructose and glucose, respectively) in both the light and the dark conditions. tTCL cultures showed the following gradient in the total shoot fresh mass according to the kind of carbon source: sucrose>glucose>fructose>>maltose> mannose>galactose>raffinose>sorbitol> turanose>starch~cellulose>xylose~lactose>mannitol (Table 1). However, a similar gradient was not found when observing the different morphogenic programs (callogenic, rhizogenic, caulogenic, somatic embryogenic). TSL is defined as the concentration of a carbon source at which any growth (including differentiation) is completely repressed. In principle, growth at concentrations much above the TSL can occur if the plant is endowed with a transgene allowing not only for the metabolic breakdown of the carbon source, but also its utilization in different growth and developmental programs. TSLs were obtained for galactose, glucose, mannose, xylose, lactose, turanose, raffinose, cellulose, starch, mannitol and sorbitol, but none were obtained for fructose, maltose or sucrose, in the latter three growth and/or differentiation occurring at or above 80 g.L-1 of the carbon source (Table 1). The effect of TDZ on callus formation occurred independently of the presence of a carbon source, and also independently of light conditions, although in quantitatively different amounts, although most (except for low levels for maltose and cellulose in both the light and the dark) carbon sources at 80 g.L-1 inhibited callus formation completely (Figure 2), and resulted in tTCL death. In the case of mannitol or sorbitol, the presence of TDZ was insufficient to support the formation of callus at any concentration of these two carbon sources, suggesting a synergistic interaction between this cytokinin-like substance and the carbon source in the medium. In stark contrast, the formation of roots (Figure 1 B) was highly dependent on the carbon source and on light conditions. Highest root-forming tTCLs occurred when sucrose was used as the carbon source, in both the light and the dark (Figure 2 O, P). Roots could also form, albeit in a lower number of tTCLs when fructose, galactose, glucose, mannose or maltose were utilized, in the light or the dark, except for mannose which produced no roots in the dark. No roots were formed when xylose, lactose, turanose, raffinose, cellulose, starch, mannitol or sorbitol were used, in both the light and the dark, despite the use of IBA or coconut water, also strong stimulators of root formation in chrysanthemum (TEIXEIRA DA SILVA, 2003b). The formation of shoots (Figure 1 A) was also highly dependent on the carbon source and on light conditions. Highest shoot formation occurred when sucrose was utilized (Figure 2 O, P). The use of raffinose at any concentration produced shoots in at least 43% of the explants (Figure 2 S, T), but at higher concentrations ( >60 g.L-1) these were abnormal. Maltose also resulted in high shoot numbers (Figure 2 M, N), but these were abnormal (but not etiolated) when developed in the dark. Smaller amounts of shoots were formed when either fructose, galactose, glucose or sorbitol were utilized as the carbon source, primarily in the light, while no shoots were formed when xylose, lactose, cellulose, starch or mannitol were used in either light or dark conditions (Figure 2). Somatic embryogenesis (Figure 1 E) could be achieved at low concentrations, independent of the carbon source or light. A maximum of 4% of explants could form somatic embryos when glucose, sucrose or fructose were used, the differences not being significant (P<0.001), although light resulted in higher levels than in the dark. Of the explants with globular somatic embryos that were transferred to hormone-free, sucrose-supplemented (60 g.L-1) MS medium, 100% formed multiple shoot clusters with rooting. Flow cytometry results (Table 2) indicate that the highest 2C:4C ratios were obtained in carbon sources that are more readily metabolised by the plant such as sucrose, glucose and fructose, even when in the dark. Lower 2C:4C ratios were observed in more difficult to metabolise carbon sources, and this ratio remained low in both the dark and the light. A low level of endoreduplication or polysomaty could be observed (8C values) in callus cultures derived from TCLs grown on mannose (light), maltose (light and dark) and raffinose (light and dark) supplemented media (Table 2). Leaf tissue of in vitro plants derived from any carbon source treatment did not demonstrate any endoreduplication, with 2C relative values being >94 in any case, independent of light or dark conditions. Plants that were acclimatized following the harvest of shoots derived from any carbon source treatment were not significantly different (P<0.001) in both vegetative growth and flower characteristics from control plants (Table 3; Figure 1 C). 4. DISCUSSION The applicability of a sugar as a selective agent in transformation systems depends on: 1) the capacity of the in vitro plant to metabolise, assimilate and thus utilize the carbon source at a low concentration and 2) the C-source to be "toxic" at higher concentrations, inhibiting thus normal development, defined here as the TSL. TSL levels could be achieved in 64% of the carbon sources tested (Table 1; Figure 2), suggesting their potential practical utilization, provided that genes coding for their respective degrading enzymes (Table 4) can be cloned into an established vector system. When medium-dependent tTCLs (with limited sugar reserves and no defined sinksource) are used, heterotrophy or mixotrophy is forced by the addition of sugar to the culture medium (NHUT et al., 2003). Depending on the light intensity, temperature and carbon dioxide concentration in the Petri-dish air, in vitro plant growth and development can be totally dependent on an external source of carbohydrates (tTCL cultures in the dark) or partly covered their needs by limited photosynthesis (tTCL cultures in the light; NHUT et al., 2003). TSLs could not be clarified when fructose (light or dark), galactose (light), glucose (light), maltose (light or dark) or sucrose (light or dark) were added to the different morphogenic program media, suggesting that since these carbon sources can be effectively utilized in growth (without inhibiting it at any "toxic" concentration), which continues to occur at or above 80 g.L-1 (Table 1). In-built metabolic systems thus are capable of effectively metabolising these carbohydrate sources, even at high concentrations, without reaching a saturation level, the TSL. Moreover, these carbon sources would not be suitable as selective agents in positive selection systems since both transgenic and control plants would grow equally well (not being easily distinguishable and leading to many escapes) at high concentrations of the carbon source. Although a TSL (80 g.L-1) was established for galactose and glucose in the dark, the fact that some growth and differentiation occurred in the light would make them unsuitable candidates as selective agents in positive selection systems. The incapacity of tTCLs to use all carbon sources may result in cellular and DNA degradation resulting in increased variation in the ploidy (Table 2). A high 2C value with low 4C and 8C values indicates increased degradation products (MISHIBA and MII, 2000). A low 2C, with an increase in 4C or 8C values can be found in callus, suggesting the occurrence of polyploidy and/or endoreduplication. Other carbon sources such as mannose, xylose, lactose, turanose, raffinose, cellulose, starch, mannitol and sorbitol could be effectively used as selective agents in positive selection systems since growth and/or differentiation is completely suppressed at low (20-60 g.L-1) concentrations of the carbon source under light and dark conditions, the latter usually effecting a more negative impact, that is greater heterotrophy and/or reduced metabolism (Table 1; Figure 2). The data within this study is encouraging for mannose and xylose since positive selection systems for them have already been established and can be applied to the genetic engineering of chrysanthemum, while for other carbon sources potential positive selection systems would still have to be devised (Table 4). Mannose and raffinose, however, despite exhibiting TSLs in both the light and the dark, and despite the former having an already existent positive selection system, both show abnormal shoot formation at >40 g.L-1 (Figure 2). Mannose was also shown to negatively affect Arabidopsis root elongation and development (BASKIN et al., 2001). Starch and mannitol completely inhibit any growth and/or differentiation in the dark, and despite having a reasonable TSL in the light, they may not be so suitable as selective agents in positive selection systems. Another factor determining the use of a carbon source as a selective agent in a positive selection system is cost. Turanose, a rare disaccharide, can be costly as compared to other carbon sources, despite exhibiting TSLs in both the light and the dark (Table 1). Moreover, there is no available degrading enzyme (Table 4). Consequently carbon sources that may potentially serve as selective agents in positive selection systems (determined by both the existence of TSLs and normal morphology) are: xylose, lactose, cellulose and sorbitol. Sucrose, like fructose and galactose were the only three hexoses with which somatic embryogenesis resulted (Figure 2 A-D, O, P). Spinach somatic embryogenesis could only occur when glucose or fructose, and to a lesser extent, galactose were utilized, the optimum being at 29 mM of any of the three hexoses (KOMAI et al., 1996). Starch is a homopolysaccharide that cannot be utilized by glycolysis before it is degraded into glucose, so the quantitative effect on any morphogenesis (callus, root, shoot or somatic embryo production) decreases when only glucose is used (Table 1; Figure 2) as a result of energetic requirements to degrade the polymer into glucose monomers. Starch is broken down into maltose by partial hydrolysis, and into glucose by full hydrolysis. In a similar manner, cellulose is partially reduced to cellobiose, then fully into glucose, explaining the better utilization of glucose than cellobiose by chrysanthemum tTCLs (Table 1; Figure 2) also due to energetic requirements. Glucose is reduced into sorbitol while mannose is reduced to mannitol, the sugar alcohols being reduced products from the aldehydes, also explain why mannose results in higher tTCL fresh mass and morphogenic reaction (callus, root, shoot) than when mannitol is used (Table 1; Figure 2). Galactose, glucose and fructose (or levulose) are monosaccharides and should be more easily decomposed than sucrose, a disaccharide consisting of glucose and fructose. Galactose is an epimer of glucose, and its utilization in morphogenesis may depend on the endogenous levels of galactokinase (HISAJIMA and THORPE, 1985). The same effect could be observed when glucose and fructose were joined together (sucrose>glucose+fructose>glucose>fructose; data nor shown). Fructose is an intermediary product of glucose catabolism, and the slow growth of tissue cultures on a fructose-containing medium is as a result of the inhibition of glycolysis by fructose or its degradation products. Glucose promotes root growth, fructose promotes shoot development and sucrose promotes both shoot development and root growth in asparagus (LI and WOLYN, 1997), although this was not quantitatively discriminated as in this study. No study exists on the effect of turanose, a glycosylated fructose and rare disaccharide, on any aspect of plant tissue culture. The lack of any differentiation (and limited growth i.e. tTCL fresh mass increase) in both the light and the dark suggests that there are no native pathways existent within the plant to metabolise this carbon source. Both mannitol and sorbitol could not be used effectively in chrysanthemum callogenic, rhizogenic and somatic embryogenic programs and had limited effect on the successful outcome of the caulogenic program (Figure 2 W-Z). Sugar alcohols in barley, tobacco and tomato induce molecular and physiological responses that do not belong to primary carbon metabolism, indicating that they are metabolised to some degree. Moreover, sugar alcohols are perceived by cells as chemical signals, with very high in vitro concentrations acting as chemical stress agents (STEINITZ, 1999). When sugar concentrations in the plant increase, there is a repression of genes involved in mobilization of stored reserves and photosyntheis. At the same time, genes required for metabolism and storage of carbon metabolites for future use are induced (KOCH et al., 2000). Carbon metabolite (hexose)-mediated regulatory mechanisms regulate photosynthesis and provide the necessary integration with plant metabolism and the genes encoding them (PEGO et al., 2000). Gene regulation by hexoses occurs when the depletion of sugars results in activation of gene expression and to an increase in photosynthetic capacity. When output exceeds the plant's capacity to metabolise or export sugars (limited in the case of heterotrophic tTCLs), increasing sugar concentrations repress the same photosynthetic and/or metabolic genes. The down regulation of photosynthetic genes (PEGO et al, 2000) may account for the TSLs and for the observable decrease in adventitious shoot formation, despite the continued increase in tTCL fresh mass (Table 1). The choice of carbon source for chrysanthemum in vitro culture, independent of the morphogenic program (callogenic, caulogenic, rhizogenic and somatic embryogenic) induced by tTCLs, has an effect on the quantitative and qualitative outcome of each program. In conclusion, of fourteen carbon sources tested, mannose and xylose showed the greatest potential to be used as selective agents in positive selection systems in chrysanthemum genetic transformation. ACKNOWLEDGEMENTS Thanks to Prof. Seiichi Fukai for initial plant material and use of laboratory facilities. REFERENCES BASKIN, T.I.; REMILLONG, E.L.; WILSON, J.E. The impact of mannose and other carbon sources on the elongation and diameter of the primary root of Arabidopsis thaliana. Australian Journal of Plant Physiology, Sydney, v.28, p.481-488, 2001. HALDRUP, A.; NOERREMARK, M.; OKKELS, F.T. Plant selection principle based on xylose isomerase. In Vitro Cellular and Developmental Biology - Plant, Largo, v.37, p.114-119, 2001. 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USFDA. http://www.fda.gov/oc/opacom/hottopics/anti_resist.html, 2002. The effect of carbon on in vitro organogenesis of chrysanthemum 165 ÁREAS BÁSICAS THE EFFECT OF CARBON SOURCE ON IN VITRO ORGANOGENESIS OF CHRYSANTHEMUM THIN CELL LAYERS (1) JAIME A. TEIXEIRA DA SILVA(2) ABSTRACT Carbon source is an indispensable factor for the development of an in vitro morphogenic program of chrysanthemum micropropagation. The choice of carbon source affects the qualitative and quantitative outcome, and also the response of thin cell layers when these are placed onto morphogenic (callus, root, shoot, somatic embryo) media. Threshold survival levels (TSLs) could not be obtained for sucrose, fructose or glucose. TSLs together with organ differentiation were, however, obtained for mannose (60-80 g.L -1 ), xylose and lactose (40 g.L -1) and cellulose (60-80 g.L-1), making these carbon sources suitable as potential carbon sources for positive selection systems for chrysanthemum genetic transformation. Key words: Dendranthema X grandiflora, phytotoxicity, regeneration capacity, threshold survival level. RESUMO EFEITO DE CARBONO NA ORGANOGÊNESE DE CAMADAS CELULARES FINAS DE CRISÂNTEMO A fonte de carbono é factor indispensável no sucesso de um programa de desenvolvimento morfogênico in vitro de crisântemo. A escolha da fonte de carbono afeta a resposta qualitativa e quantitativa de camadas celulares finas, quando são colocadas em meios de desenvolvimento morfogênico (calo, raiz, eixo caulinar, embrião somático). Não se estabeleceram níveis de sobrevivência quando sucrose, frutose ou galactose foram usados, mas sim para manose (60-80 g.L-1), xilose e lactose (40 g.L-1), e celulose (60-80 g.L -1), sugerindo o potencial dessas fontes de carbono em sistemas de seleção positivas em programas de transformação genética de crisântemo. Palavras-chave: Dendranthema X grandiflora, fitotoxicidade, capacidade regenerativa, nível de sobrevivência. Abbreviations: 2,4-D, 2,4-dichlorophenoxyacetic acid; BA, 6-benzyladenine; ES, explant survival; IAA, indole-3-acetic acid; NAA, α-naphthalene acetic acid; PGR, plant growth regulator; SE, somatic embryo; tTCL, transverse thin cell layer; TDZ, thidiazuron; TSL, threshold survival level. ( 1) Received in March 26 th and approved in December 10 th, 2003. ( 2) Faculty of Agriculture, Kagawa University, Miki-cho, Kagawa, 761-0795, Japan. E-mail: [email protected] Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.165-177, 2004 166 J.A.T. Silva 1. INTRODUCTION Sugars control the expression of many plant genes and their connection to metabolic and developmental processes is unequivocal (KOCH, 1996). Plant genetic transformation systems still require the use of antibiotics for the selection of cells or tissues that contain an antibiotic-degrading gene, such as nptII (kanamycin and other aminoglycoside antibiotics) and hptII (hygromycin), inter alia. This selection system is gradually being replaced by a positive (R EED et al., 2001) selection system, since in the former there is the risk of resistance build-up to a selective substance by microbes, and a concern for potential negative environmental impacts (USFDA, 2002). Xylose, like mannose (a glucose epimer at the second carbon), is a carbohydrate that many plant species cannot metabolise, unless transformed by a xylose isomerase (EC 5.3.1.5) gene. Xylose isomerase converts xylose to xylulose, which is then metabolised through the pentose phosphate pathway. Mannose can be metabolised by phosphomannose isomerase (EC 5.3.1.8; PMI), which catalyses mannose-6phosphate and fructose-6-phosphate (REED et al., 2001). Using the xylose isomerase gene as a selector gene, transformation efficiencies were shown to be higher in potato and tomato, but lower in tobacco compared to kanamycin-based selection systems (HALDRUP et al., 1998a,b, 2001). The PMI gene has already been successfully utilized for the genetic transformation of sugar beet, potato, oil seed rape and maize (JOERSBO, 2001). This study investigates the use of various carbon sources that may be potential selective agents for positive selection systems. The rationale behind the experiments within this study lies in the fact that the plant cannot use or metabolise all carbon sources effectively, and thus these can be used as limiting factors to regeneration, growth and development. Using this principle it is possible to establish threshold survival levels (TSLs) in response to varying concentrations of different carbon sources, since when using a non-antibiotic marker gene, a low level of nutrient medium is utilized, making the explant highly dependent (or heterotrophic) on the carbon source. To further enhance medium-dependence of explants, thin cell layers (TCLs) are utilized. TCLs, derived from tissues or organs, are small in size, and are excised either a) longitudinally (lTCL), being thus composed of a few tissue types or b) transversally (tTCL), thus composed of several tissue types, which are, however, normally too small to separate, as in the case of chrysanthemum. In the TCL system, the morphogenic and developmental pathways of specific organs may be clearly directed and controlled (NHUT et al., 2003). Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.165-177, 2004 Chrysanthemum (Dendranthema grandiflora (Ramat.) Kitamura) cv. ‘Shuhou-no-chikara’ is an economically valuable ornamental crop that is difficult to transform (TEIXEIRA DA SILVA and FUKAI, 2002). Among other potentially important applications of chrysanthemum transformation, the most vital is that of engineering virus/viroid resistance ( TEIXEIRA DA SILVA , 2003c). Furthermore, the shoot regeneration capacity of chrysanthemum is severely hampered by the presence of antibiotics in the selective caulogenic medium, which, despite optimisation for maximum shoot production in a caulogenic program, is disturbed at higher antibiotic concentrations (T EIXEIRA DA S ILVA et al., 2003). Thus, the search for alternative selection systems using other carbon sources may benefit the outcome and efficiency of chrysanthemum genetic transformation. The aim of this study was test the applicability of various carbon sources to chrysanthemum transformation, and provide a simple and practical methodology of choosing appropriate positive selection agents by establishing growth and development threshold levels in vitro for all morphogenic programs. 2. MATERIAL AND METHODS Plant material: in vitro and greenhouse culture conditions In vitro plantlets of ‘Shuhou-no-chikara’ chrysanthemum (Dendranthema X grandiflora (Ramat.) Kitamura), a disbud-type cultivar (and the leading Japanese cut-flower market cultivar), were used for initial explant material. All in vitro cultures were maintained under a 16 h light period and 20 µmol/ m2/s 1 (PGF lamps: Homo-Lux, National Electric Co., Tokyo, Japan) at 25 oC. tTCLs (~200-500 µm thick and 1-1.5 mm in diameter) containing all cell types, were prepared from stem internode tissue of in vitro motherstock plantlets. Shoots, having at least 2 nodes and 4 leaves, regenerated from tTCLs were harvested and rooted in 1L plant boxes on Hyponex® (soluble liquid fertilizer, HYPONeX, Co. Ltd., Japan; N:P2O5:K 2O = 6.5:6:19; 3 g.L-1) medium containing 20 g.L-1 sucrose. Plantlets were sub-cultured twice and acclimatized to greenhouse conditions in Metromix® potting soil for two weeks, then re-planted at a density of four plants per pot, into 70:30 Masa (sandy) soil:organic compost under greenhouse conditions. Chrysanthemum plantlets were acclimatized at 90% relative humidity and maintained in the greenhouse under long-day (4 hour light induction from 10 p.m. to 2 a.m.) conditions before transfer to short-day (13-14 hours continual darkness) conditions for flower induction. The effect of carbon on in vitro organogenesis of chrysanthemum 167 The normality of acclimatized plants was checked by observing vegetative (length of stem, number of leaves, mass) and flowering (number of ray and disk florets, flower colour) characteristics. dehydrated in an ethanol series (50-100% ethanol for at least 6 h each), critical point-dried, sputter-coated with platinum and viewed under a Hitachi-2150 SEM microscope. Effect of carbon source on morphogenesis (callogenesis, rhizogenesis, caulogenesis and somatic embryogenesis) Flow cytometry To test the effect of carbon source, treatment media were maintained at 25°C, both in the light (16 h light period, 20 µmol/m2/s1; PGF lamps: Homo-Lux, National Electric Co., Tokyo, Japan) and in the dark, without sucrose, but containing 0 (control), 20, 40, 60 or 80 g.L-1 of one of the following: monosaccharides (fructose, galactose, glucose, mannose, all hexoses, and xylose, a pentose); oligosaccharides (lactose, maltose, sucrose, all disaccharides, turanose, a rare disaccharide and raffinose, a trisaccharide); polysaccharides (cellulose, starch); polyols or sugar alcohols (mannitol, sorbitol). In these treatments, together with control treatments in which carbon sources were not included, tTCLs were cultured on the following media under light (20 µmol/m 2/s 1 ; PGF lamps: Homo-Lux, National Electric Co., Tokyo, Japan) and dark conditions at 25 °C using a methodology described elsewhere (T EIXEIRA DA S ILVA , 2003a): 1) callus induction: MS medium (mineral salts only; Murashige and Skoog, 1962) + 2 mg.L-1 TDZ, 20 g.L -1 sucrose; (2) root induction: MS + 1 mg.L-1 NAA, 20 g.L1 sucrose; (3) shoot regeneration: MS + 2 mg.L -1 BA, 0.5 mg.L -1 NAA, 40 g.L -1 sucrose and (4) somatic embryo induction: MS + 1 mg.L-1 IAA or 2 mg.L -12,4D, 20 g.L-1 sucrose. Morphological scoring All explants were scored for the percentage of tTCLs forming shoots, roots, callus or somatic embryos, explant survival in the caulogenic program (shoots being the most important morphogenic product for micropropagation and genetic transformation) and total fresh mass (caulogenic program) after 6 weeks in culture. Plant threshold survival level (TSL), defined as the physiological state of the tTCL in which no morphogenic development (shoot, root, callus or somatic embryo) occurs, was also determined. Histological analyses Some of the explants from all of the treatments were observed under light microscopy and scanning electron microscopy. For the latter, samples were fixed in formalin: acetic acid: ethanol (70: 20: 10), Nuclei were isolated from about 500 mg of material (shoot or callus) by chopping in a few drops of Partec Buffer A, according to manufacturer’s instructions. Nuclear fluorescence was measured using a Partec® Ploidy Analyser after filtering the nuclear suspension through 30 ìm mesh size nylon filter (CellTrics ®) and adding five times of DAPI solution (2 mg.L-1 4,6-diamidino-2-phenylindole (DAPI), 2 mM MgCl 2, 10 mM Tris, 50 mM sodium citrate, 1% (w/v) PVP K-30, 0.1% Triton-X, pH 7.5; MISHIBA and MII, 2000) for 1 min. Three samples were measured, and relative fluorescence intensity of the nuclei was analysed when the coefficient of variation was <4%. A total of 2.500 nuclei were counted for any sample. Statistical analyses Experiments were organized according to a complete randomised block design (CRBD) with three blocks of n=20 each per treatment. Data were analysed for significance by ANOVA with the mean separation by Duncan’s New Multiple Range test (DMRT). 3. RESULTS Results reveal that the addition of different carbon sources to the culture media affected total fresh mass of chrysanthemum tTCLs and the quantitative production of callus (Figure 1 K), roots (Figure 1 B), shoots (Figure 1 A), and to a lesser extent, somatic embryos (Figure 1 E, L) after 6 weeks of incubation. In vitro culture was best supported by sucrose (Table 1; Figure 2 O, P), although sucrose concentration higher than 60 g.L -1 was inhibitory to shoot development. Sucrose can be substituted by glucose or fructose, which gave a similar high total fresh mass (Table 1), but showed significantly reduced (P < 0.001) callus, and root and shoot numbers (Figure 2 A, B and E, F for fructose and glucose, respectively) in both the light and the dark conditions. tTCL cultures showed the following gradient in the total shoot fresh mass according to the kind of carbon source: sucrose>glucose>fructose>>maltose> mannose>galactose>raffinose>sorbitol> turanose>starch˜cellulose>xylose˜lactose>mannitol (Table 1). Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.165-177, 2004 168 J.A.T. Silva Figure 1. In vitro growth of chrysanthemum plantlets exposed to different carbon treatments. A) Control plantlets on BA- and sucrose-supplemented caulogenic medium; B) Control roots formed on NAA- and sucrose-supplemented medium; C) Greenhouse plantlets derived from different carbon-supplemented treatments; D) Abnormal somatic embryos formed on mannose-supplemented somatic embryogenic medium; E) Control somatic embryos on IAAand sucrose-supplemented somatic embryogenic medium. Abnormal shoot formation on F) maltose- G) mannoseand H) raffinose-supplemented caulogenic medium; I) Modification in shoot morphology in the dark when on control caulogenic medium. J) Scanning electron microscopy of control root; K) callus (light microscope); L) shoots and M) somatic embryos Bar scale: 1 cm = 50 µm (J, L, M) 10 µm (K). Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.165-177, 2004 The effect of carbon on in vitro organogenesis of chrysanthemum However, a similar gradient was not found when observing the different morphogenic programs (callogenic, rhizogenic, caulogenic, somatic embryogenic). TSL is defined as the concentration of a carbon source at which any growth (including differentiation) is completely repressed. In principle, growth at concentrations much above the TSL can occur if the plant is endowed with a transgene allowing not only for the metabolic breakdown of the carbon source, but also its utilization in different growth and developmental programs. TSLs were obtained for galactose, glucose, mannose, xylose, lactose, turanose, raffinose, cellulose, starch, mannitol and sorbitol, but none were obtained for fructose, maltose or sucrose, in the latter three growth and/or differentiation occurring at or above 80 g.L-1 of the carbon source (Table 1). The effect of TDZ on callus formation occurred independently of the presence of a carbon source, and also independently of light conditions, although in quantitatively different amounts, although most (except for low levels for maltose and cellulose in both the light and the dark) carbon sources at 80 g.L-1 inhibited callus formation completely (Figure 2), and resulted in tTCL death. In the case of mannitol or sorbitol, the presence of TDZ was insufficient to support the formation of callus at any concentration of these two carbon sources, suggesting a synergistic interaction between this cytokinin-like substance and the carbon source in the medium. In stark contrast, the formation of roots (Figure 1 B) was highly dependent on the carbon source and on light conditions. Highest root-forming tTCLs occurred when sucrose was used as the carbon source, in both the light and the dark (Figure 2 O, P). Roots could also form, albeit in a lower number of tTCLs when fructose, galactose, glucose, mannose or maltose were utilized, in the light or the dark, except for mannose which produced no roots in the dark. No roots were formed when xylose, lactose, turanose, raffinose, cellulose, starch, mannitol or sorbitol were used, in both the light and the dark, despite the use of IBA or coconut water, also strong stimulators of root formation in chrysanthemum (TEIXEIRA DA SILVA, 2003b). The formation of shoots (Figure 1 A) was also highly dependent on the carbon source and on light conditions. Highest shoot formation occurred when sucrose was utilized (Figure 2 O, P). The use of raffinose at any concentration produced shoots in at least 43% of the explants (Figure 2 S, T), but at higher concentrations ( ≥60 g.L -1) these were abnormal. 169 Maltose also resulted in high shoot numbers (Figure 2 M, N), but these were abnormal (but not etiolated) when developed in the dark. Smaller amounts of shoots were formed when either fructose, galactose, glucose or sorbitol were utilized as the carbon source, primarily in the light, while no shoots were formed when xylose, lactose, cellulose, starch or mannitol were used in either light or dark conditions (Figure 2). Somatic embryogenesis (Figure 1 E) could be achieved at low concentrations, independent of the carbon source or light. A maximum of 4% of explants could form somatic embryos when glucose, sucrose or fructose were used, the differences not being significant (P<0.001), although light resulted in higher levels than in the dark. Of the explants with globular somatic embryos that were transferred to hormonefree, sucrose-supplemented (60 g.L -1) MS medium, 100% formed multiple shoot clusters with rooting. Flow cytometry results (Table 2) indicate that the highest 2C:4C ratios were obtained in carbon sources that are more readily metabolised by the plant such as sucrose, glucose and fructose, even when in the dark. Lower 2C:4C ratios were observed in more difficult to metabolise carbon sources, and this ratio remained low in both the dark and the light. A low level of endoreduplication or polysomaty could be observed (8C values) in callus cultures derived from TCLs grown on mannose (light), maltose (light and dark) and raffinose (light and dark) supplemented media (Table 2). Leaf tissue of in vitro plants derived from any carbon source treatment did not demonstrate any endoreduplication, with 2C relative values being ≥94 in any case, independent of light or dark conditions. Plants that were acclimatized following the harvest of shoots derived from any carbon source treatment were not significantly different (P<0.001) in both vegetative growth and flower characteristics from control plants (Table 3; Figure 1 C). 4. DISCUSSION The applicability of a sugar as a selective agent in transformation systems depends on: 1) the capacity of the in vitro plant to metabolise, assimilate and thus utilize the carbon source at a low concentration and 2) the C-source to be “toxic” at higher concentrations, inhibiting thus normal development, defined here as the TSL. TSL levels could be achieved in 64% of the carbon sources tested (Table 1; Figure 2), suggesting their potential practical utilization, provided that genes coding for their respective degrading enzymes (Table 4) can be cloned into an established vector system. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.165-177, 2004 170 J.A.T. Silva Table 1. Total fresh mass of chrysanthemum stem tTCLs (n=60) after 6 weeks in response to various carbon sources C-source g.L -l Light Dark Control § Control * Control † Fructose Hexose 0 40 40 20 40 60 80 20 40 60 80 20 40 60 80 20 40 60 80 20 40 60 80 20 40 60 80 20 40 60 80 20 40 60 80 20 40 60 80 20 40 60 80 20 40 60 80 20 40 60 80 20 40 60 80 20 40 0.05±0.00 6.87±1.35 a 4.17±1.62 d 5.11±1.38 c 3.25±0.86 e 3.24±0.71 e 1.24±0.16 g 1.23±0.38 g 1.57±0.81 fg 1.68±0.48 fg 0.24±0.08 gh 5.47±0.32 bc 6.06±0.38 b 6.12±0.46 b 3.41±0.38 de 1.31±0.06 g 1.68±0.41 fg 1.28±0.26 g 0 h 0.76±0.61 gh 0 h 0 h 0 h 0.68±0.08 gh 0 h 0 h 0 h 2.19±0.78 f 1.83±0.62 fg 1.82±0.44 fg 1.21±0.57 g 6.03±1.54 b 5.68±1.04 bc 5.49±0.34 bc 4.76±0.62 cd 0.67±0.18 gh 0.31±0.07 h 0 h 0 h 1.67±0.28 fg 0.68±0.08 gh 0.36±0.07 h 0 h 0.72±0.13 gh 0.68±0.08 gh 0.62±0.27 gh 0 h 0.25±0.06 h 0.18±0.03 h 0.12±0.05 h 0 h 0.09±0.01 h 0 h 0 h 0 h 0.92±0.15 gh 0.68±0.18 gh 0.05±0.00 3.71±0.82 a 3.01±0.73 b 2.06±0.33 c 1.98±0.39 c 1.74±0.76 c 0.54±0.16 e 0.34±0.06 ef 1.23±0.18 d 0.26±0.02 ef 0 f 1.76±0.43 c 0.51±0.06 e 0.26±0.02 ef 0 f 0.26±0.06 ef 0.16±0.04 f 0 f 0 f 0.62±0.31 e 0 f 0 f 0 f 0.26±0.02 ef 0 f 0 f 0 f 0.11±0.06 f 0.16±0.04 f 0.15±0.02 f 0.28±0.09 ef 2.29±0.23 bc 0.26±0.02 ef 0.61±0.16 e 0.42±0.13 ef 0.14±0.02 ef 0 f 0 f 0 f 0.34±0.07 ef 0.26±0.02 ef 0.08±0.00 f 0 f 0.32±0.06 ef 0.26±0.02 ef 0 f 0 f 0 f 0 f 0 f 0 f 0 f 0 f 0 f 0 f 0.11±0.03 ef 0 f 60 0.81±0.15 gh 80 0 h Galactose Hexose Glucose Hexose Mannose Hexose Xylose Pentose Lactose Disaccharide (Glu + Gal) Maltose Disaccharide (Glu + Glu) Sucrose Disaccharide (Glu + Fru) Turanose Rare Disaccharide Raffinose Trisaccharide Cellulose Polysaccharide Starch Polysaccharide Mannitol Sugar alcohol Sorbitol Sugar alcohol ‡ ‡ ‡ ‡ ‡ ‡ ‡ ‡ ‡ ‡ ‡ ‡ ‡ ‡ ‡ ‡ ‡ ‡ ‡ 0 f ‡ 0 f § Initial fresh mass (mean g ± SD) of stem tTCL; * Full MS + sucrose 40 g/l; † = ½ MS + sucrose 40 g/l; ‡ = TSL; Different letters within a column indicate significant differences at P<0.001 using Duncan’s New Multiple Range Test. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.165-177, 2004 171 The effect of carbon on in vitro organogenesis of chrysanthemum Callus Roots Shoots SE Morphogenic response (%) 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 A Fructose light c bc0 B a20 cA a b40 BC b a60BC d 80 bc B C Galactose light c a0A b 20 aA a a40A a 60 aA 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 ES Glucose light b ab 0A a 20 aA b ab 40A a 60 bA c80 bA b aA b a AB baB aaA caC G Mannose light 20 40 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 d80 aA E 0 Callus 60 C-source concentration (g.L-1) 80 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Roots Shoots SE ES B Fructose dark c0a A a20a A b40 aA b60 aA d80 aA D Galactose dark d0a A c20a A b40 aA a60 aA e80 aA F Glucose dark c0a A b aA b20a A b aA a40 aA aaB b60 aA aaA d80 aA caC H Mannose dark 0 20 40 60 80 C-source concentration (g.L-1) Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.165-177, 2004 172 J.A.T. Silva Callus Morphogenic response (%) 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Roots Shoots SE ES I Xylose light aaA 0 bc a A 20 baA 40 bc a A 60 c aA 80 K Lactose light b a0 A b20 aA ab 40 aA a a60A c a80A a bc D ab b D acA ab c B baC M Maltose light c d0 C b20 aA a a40A ab 60 bB d c80C O Sucrose light 0 20 40 60 C-source concentration (g.L-1) Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.165-177, 2004 80 Callus 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Roots ES SE Shoots J Xylose dark a a0A bc20 aA b 40 aA ab60 aA c80 aA L Lactose dark a a0 A abC N ab20 aA b bA a 40 aA a b AB ab60 aA a a AB b 80 aA bbB Maltose dark c c0D ab 20 ab A a 40 aB b60 bC d 80 bD P Sucrose dark 0 20 40 60 C-source concentration (g.L-1) 80 173 The effect of carbon on in vitro organogenesis of chrysanthemum Callus Roots Shoots SE Morphogenic response (%) 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Q Turanose light a0 aB bc20a A b 40 aA ab60a B c80 aB S Raffinose light b 0a D a20a B a40 aC b60 aA c80 aA U Cellulose light a 0a A c20a A b40 aA ab60a A d80a A W a aA baA ab a A baA c aA Starch light 0 20 40 60 Callus ES 80 C-source concentration (g.L-1) 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Roots Shoots SE ES R Turanose dark c0a A d20a A b40a A a60a A e80 aA T Raffinose dark a0c C ab 20b C a40 cA b60c B c 80 a BC V Cellulose dark a0a A ab 20a A b40 aA ab60a A c80 aA b aA aaA baA c aA X aaA Starch dark 0 20 40 60 80 C-source concentration (g.L-1) Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.165-177, 2004 174 J.A.T. Silva Morphogenic response (%) Callus 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Roots Shoots SE ES Y a aA baA baA baA b aA Sorbitol light 0 20 40 60 Callus 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 80 Shoots SE ES Z aaA b aA baA b aA b aA Sorbitol dark 0 C-source concentration (g.L-1) Roots 20 40 60 80 C-source concentration (g.L-1) Figure 2. Morphogenic response of chrysanthemum tTCLs on callus, root, shoot and somatic embryo media to different carbon sources in the light and dark conditions. SE = somatic embryo; ES = explant survival. Sugar sources: fructose in the light (A) and dark (B); galactose in the light (C) and dark (D); glucose in the light (E) and dark (F); mannose in the light (G) and dark (H); xylose in the light (I) and dark (J); lactose in the light (K) and dark (L); maltose in the light (M) and dark (N); sucrose in the light (O) and dark (P); turanose in the light (Q) and dark (R); raffinose in the light (S) and dark (T); cellulose in the light (U) and dark (V); starch in the light (W) and dark (X); sorbitol in the light (Y) and dark (Z); Values for mannitol not represented since all morphogenic responses were 0; Different letters indicate significant differences at P<0.001 using Duncan’s New Multiple Range Test: lower case, non italics (e.g. a) = % explants forming callus; lower case, italics (e.g. a) = % explants forming roots; upper case, non italics (e.g. A) = % explants forming shoots. Table 2. Ploidy ratios in ‘Shuhou-no-chikara’ tTCL-derived callus and in vitro plant leaf tissue from different carbon sources after 6 weeks culture Light Carbon source Control § Control * Control † Fructose Galactose Glucose Mannose Xylose Lactose Maltose Sucrose Raffinose Cellulose Starch Mannitol Sorbitol Dark Callus Leaf Callus Leaf 97:1:0 92:7:0 94:4:0 88:6:0 87:7:0 91:6:0 76:4:2 71:1:0 70:1:0 74:4:1 89:10:0 82:4:2 76:4:0 69:3:0 76:2:0 79:4:0 96:1:0 98:1:0 98:0:0 96:2:0 97:2:0 98:0:0 96:2:0 nsf nsf 94:2:0 97:1:0 95:1:0 nsf nsf nsf 94:2:0 92:6:0 89:8:0 91:3:0 86:1:0 78:1:0 85:1:0 69:2:0 71:1:0 60:1:0 66:2:2 88:1:0 66:1:4 64:2:0 68:1:0 63:1:0 68:1:0 95:1:0 98:1:0 97:1:0 95:1:0 nsf 95:2:0 nsf nsf nsf 96:0:0 98:0:0 nsf nsf nsf nsf nsf § Initial fresh mass of stem tTCL; * Full MS + sucrose 40 g/l; † = ½ MS + sucrose 40 g/l; Relative C ratios as 2C:4C:8C, measured after 2 weeks in culture; remaining C (i.e. 100% - other C values) = DNA fragments or other ploidy levels; nsf = no shoots formed. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.165-177, 2004 175 The effect of carbon on in vitro organogenesis of chrysanthemum Table 3. Characteristics (mean ± SD) of greenhouse-acclimatized plantlets Treatment Length stem (cm) # Leaves Mass (g) # Ray florets # Disk Florets Control 34.1±0.9 a 31.2±0.6 a 45.2±1.8 a 283.8±7.9 a 6.2±0.9 a Carbon-plantlets 36.6±1.1 a 30.6±0.4 a 44.8±2.3 a 278.4±9.3 a 6.6±1.2 a Different letters within a column are significantly different (P<0.001) using Duncan’s New Multiple Range test. Table 4. Potential enzymes for existing or future transformation systems Carbon source Common enzyme name EC number Fructose Glucose-fructose oxidoreductase 1.1.99.28 Galactose Galactose 1-dehydrogenase 1.1.1.120 Glucose Glucose oxidase 1.1.3.4 Mannose Mannose 6-phosphate isomerase 5.3.1.8 Xylose Xylose isomerase 5.3.1.5 Lactose Lactase 3.2.1.108 Maltose Maltose phosphorylase 2.4.1.8 Sucrose Sucrose á-glucosidase 3.2.1.48 Turanose Unknown - Raffinose Raffinose-raffinose á-galactotransferase 2.4.1.166 Cellulose Cellulase 3.2.1.4 Starch Glucan 1,4-á-glucosidase 3.2.1.3 Mannitol Mannitol dehydrogenase 1.1.1.255 Sorbitol L-iditol 2-dehydrogenase 1.1.1.14 When medium-dependent tTCLs (with limited sugar reserves and no defined sink-source) are used, heterotrophy or mixotrophy is forced by the addition of sugar to the culture medium (N HUT et al., 2003). Depending on the light intensity, temperature and carbon dioxide concentration in the Petri-dish air, in vitro plant growth and development can be totally dependent on an external source of carbohydrates (tTCL cultures in the dark) or partly covered their needs by limited photosynthesis (tTCL cultures in the light; NHUT et al., 2003). TSLs could not be clarified when fructose (light or dark), galactose (light), glucose (light), maltose (light or dark) or sucrose (light or dark) were added to the different morphogenic program media, suggesting that since these carbon sources can be effectively utilized in growth (without inhibiting it at any “toxic” concentration), which continues to occur at or above 80 g.L-1 (Table 1). In-built metabolic systems thus are capable of effectively metabolising these carbohydrate sources, even at high concentrations, without reaching a saturation level, the TSL. Moreover, these carbon sources would not be suitable as selective agents in positive selection systems since both transgenic and control plants would grow equally well (not being easily distinguishable and leading to many escapes) at high concentrations of the carbon source. Although a TSL (80 g.L -1) was established for galactose and glucose in the dark, the fact that some growth and differentiation occurred in the light would make them unsuitable candidates as selective agents in positive selection systems. The incapacity of tTCLs to use all carbon sources may result in cellular and DNA degradation resulting in increased variation in the ploidy (Table 2). A high 2C value with low 4C and 8C values indicates increased degradation products (M ISHIBA and MII , 2000). A low 2C, with an increase in 4C or 8C values can be found in callus, suggesting the occurrence of polyploidy and/or endoreduplication. Other carbon sources such as mannose, xylose, lactose, turanose, raffinose, cellulose, starch, mannitol and sorbitol could be effectively used as selective agents in positive selection systems since growth and/ or differentiation is completely suppressed at low (2060 g.L-1 ) concentrations of the carbon source under light and dark conditions, the latter usually effecting a more negative impact, that is greater heterotrophy and/or reduced metabolism (Table 1; Figure 2). Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.165-177, 2004 176 J.A.T. Silva The data within this study is encouraging for mannose and xylose since positive selection systems for them have already been established and can be applied to the genetic engineering of chrysanthemum, while for other carbon sources potential positive selection systems would still have to be devised (Table 4). Mannose and raffinose, however, despite exhibiting TSLs in both the light and the dark, and despite the former having an already existent positive selection system, both show abnormal shoot formation at ≥40 g.L -1 (Figure 2). Mannose was also shown to negatively affect Arabidopsis root elongation and development (BASKIN et al., 2001). Starch and mannitol completely inhibit any growth and/or differentiation in the dark, and despite having a reasonable TSL in the light, they may not be so suitable as selective agents in positive selection systems. Another factor determining the use of a carbon source as a selective agent in a positive selection system is cost. Turanose, a rare disaccharide, can be costly as compared to other carbon sources, despite exhibiting TSLs in both the light and the dark (Table 1). Moreover, there is no available degrading enzyme (Table 4). Consequently carbon sources that may potentially serve as selective agents in positive selection systems (determined by both the existence of TSLs and normal morphology) are: xylose, lactose, cellulose and sorbitol. Sucrose, like fructose and galactose were the only three hexoses with which somatic embryogenesis resulted (Figure 2 A-D, O, P). Spinach somatic embryogenesis could only occur when glucose or fructose, and to a lesser extent, galactose were utilized, the optimum being at 29 mM of any of the three hexoses (KOMAI et al., 1996). Starch is a homopolysaccharide that cannot be utilized by glycolysis before it is degraded into glucose, so the quantitative effect on any morphogenesis (callus, root, shoot or somatic embryo production) decreases when only glucose is used (Table 1; Figure 2) as a result of energetic requirements to degrade the polymer into glucose monomers. Starch is broken down into maltose by partial hydrolysis, and into glucose by full hydrolysis. In a similar manner, cellulose is partially reduced to cellobiose, then fully into glucose, explaining the better utilization of glucose than cellobiose by chrysanthemum tTCLs (Table 1; Figure 2) also due to energetic requirements. Glucose is reduced into sorbitol while mannose is reduced to mannitol, the sugar alcohols being reduced products from the aldehydes, also explain why mannose results in higher tTCL fresh mass and morphogenic reaction (callus, root, shoot) than when mannitol is used (Table 1; Figure 2). Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.165-177, 2004 Galactose, glucose and fructose (or levulose) are monosaccharides and should be more easily decomposed than sucrose, a disaccharide consisting of glucose and fructose. Galactose is an epimer of glucose, and its utilization in morphogenesis may depend on the endogenous levels of galactokinase (HISAJIMA and T HORPE, 1985). The same effect could be observed when glucose and fructose were joined together (sucrose>glucose+fructose>glucose>fructose; data nor shown). Fructose is an intermediary product of glucose catabolism, and the slow growth of tissue cultures on a fructose-containing medium is as a result of the inhibition of glycolysis by fructose or its degradation products. Glucose promotes root growth, fructose promotes shoot development and sucrose promotes both shoot development and root growth in asparagus (LI and W OLYN, 1997), although this was not quantitatively discriminated as in this study. No study exists on the effect of turanose, a glycosylated fructose and rare disaccharide, on any aspect of plant tissue culture. The lack of any differentiation (and limited growth i.e. tTCL fresh mass increase) in both the light and the dark suggests that there are no native pathways existent within the plant to metabolise this carbon source. Both mannitol and sorbitol could not be used effectively in chrysanthemum callogenic, rhizogenic and somatic embryogenic programs and had limited effect on the successful outcome of the caulogenic program (Figure 2 W-Z). Sugar alcohols in barley, tobacco and tomato induce molecular and physiological responses that do not belong to primary carbon metabolism, indicating that they are metabolised to some degree. Moreover, sugar alcohols are perceived by cells as chemical signals, with very high in vitro concentrations acting as chemical stress agents (STEINITZ, 1999). When sugar concentrations in the plant increase, there is a repression of genes involved in mobilization of stored reserves and photosyntheis. At the same time, genes required for metabolism and storage of carbon metabolites for future use are induced (KOCH et al., 2000). Carbon metabolite (hexose)-mediated regulatory mechanisms regulate photosynthesis and provide the necessary integration with plant metabolism and the genes encoding them (PEGO et al., 2000). Gene regulation by hexoses occurs when the depletion of sugars results in activation of gene expression and to an increase in photosynthetic capacity. When output exceeds the plant’s capacity to metabolise or export sugars (limited in the case of heterotrophic tTCLs), increasing sugar concentrations repress the same photosynthetic and/or metabolic genes. The effect of carbon on in vitro organogenesis of chrysanthemum The down regulation of photosynthetic genes (PEGO et al, 2000) may account for the TSLs and for the observable decrease in adventitious shoot formation, despite the continued increase in tTCL fresh mass (Table 1). The choice of carbon source for chrysanthemum in vitro culture, independent of the morphogenic program (callogenic, caulogenic, rhizogenic and somatic embryogenic) induced by tTCLs, has an effect on the quantitative and qualitative outcome of each program. In conclusion, of fourteen carbon sources tested, mannose and xylose showed the greatest potential to be used as selective agents in positive selection systems in chrysanthemum genetic transformation. ACKNOWLEDGEMENTS Thanks to Prof. Seiichi Fukai for initial plant material and use of laboratory facilities. REFERENCES 177 KOMAI, F.; OKUSE, I.; SAGA, K.; HARADA, T. Improvement of the efficiency of somatic embryogenesis from spinach root tissues by applying various sugars. Journal of the Japanese Society for Horticultural Science, Okayama, v.65, p.67-72, 1996. LI, B.; WOLYN, D.J. Interactions of ancymidol with sucrose and á-napthaleneacetic acid in promoting asparagus (Asparagus officinalis L.) somatic embryogenesis. 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A espécie apresenta base genética estreita sendo as cultivares bastante aparentadas e originárias em sua maioria das tradicionais cultivares Típica e Bourbon. Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de identificar a eficiência de descritores mínimos na caracterização de cultivares de cafeeiros e como diferenciadores entre cultivares a serem submetidas ao processo de proteção de cultivares no Brasil. Foram avaliadas trinta e oito características botânicas ou tecnológicas das plantas, folhas, flores, frutos, sementes, assim como três características agronômicas. Utilizaram-se vinte e nove cultivares de cafeeiros selecionadas pelo Instituto Agronômico, sendo avaliadas trinta plantas de cada cultivar. Os resultados evidenciaram que apenas com a utilização das características porte, cor do fruto, resistência ao agente da ferrugem, Hemileia vastatrix e ciclo de maturação é possível obter uma discriminação eficiente dos diferentes grupos de cultivares avaliadas. A cor das folhas jovens e o diâmetro da copa revelaram-se importantes descritores na discriminação de cultivares do grupo Mundo Novo. Não foi possível, porém, identificar descritores eficientes na discriminação das cultivares dos grupos Catuaí Vermelho, Catuaí Amarelo e Icatu Vermelho. Palavras-chave: base genética, café, DHE, proteção de cultivares. ABSTRACT The species Coffea arabica is responsible for 70% of the world coffee production. The majority of cultivars has a narrow genetic origin, being derived basically from two old cultivars: Tipica and Bourbon. This investigation was carried out aiming at the characterization of selected cultivars of the Instituto Agronomico according to standard descriptors. Thirty five morphological or technological traits of canopy, leaves, flowers, fruits or seeds and three agronomic traits were evaluated in twenty nine cultivar lines of the current breeding program. The variables plant height, fruit color, leaf rust resistance and earliness are sufficient for an efficient identification of groups of cultivars. The color of young leaves and plant diameter are important descriptors for discriminating cultivars of the Mundo Novo group, but they could not identify cultivars of the Catuaí Vermelho, Catuaí Amarelo and Icatu Vermelho groups. Key words: coffee, breeder's right, DUS, cultivar protection. 1. INTRODUÇÃO O cafeeiro, uma das mais importantes espécies do mercado agrícola, tornou-se em 2000, espécie passível de proteção no Brasil. A legislação em vigor a partir dessa data permite a proteção para fins de exploração comercial de novas cultivares das espécies Coffea arabica, C. canephora e também de híbridos entre essas espécies, assim como de cultivares essencialmente delas derivadas. Para tanto, é necessário que determinadas instruções (BRASIL, 2000), em parte comuns às diversas outras espécies já consideradas como passíveis de proteção e em parte específicas à cultura do cafeeiro, sejam devidamente atendidas. Assim, experimentos que possam comprovar a distinguibilidade, homogeneidade e estabilidade (DHE) de uma nova cultivar devem ser realizados mediante adoção de condições estabelecidas pela legislação, tais como número mínimo de dois ciclos de crescimento, apenas um local de avaliação e parcelas experimentais de tamanho suficiente para garantir as observações necessárias. Os descritores mínimos para o registro institucional de cultivares do Instituto Agronômico (IAC) de Campinas (FAZUOLI et al., 1994) e de descritores botânicos para identificação taxonômica de germoplasma de Coffea (IPGRI, 1996) serviram de base para a elaboração dos descritores mínimos visando à caracterização, identificação e discriminação de cultivares de café a serem utilizados nos experimentos de DHE. A relação oficial desses descritores, elaborada em parceria por instituições públicas de pesquisa – IAC, EPAMIG, IAPAR e INCAPER - encontra-se publicada no Diário Oficial da União, 2000. Cerca de 70% da produção mundial de café é oriunda de cultivares de C. arabica, sendo praticamente a mesma proporção observada no Brasil. A espécie é nativa de uma região restrita e marginal às demais espécies do gênero, localizada no Sudoeste da Etiópia, Sudeste do Sudão e Norte do Quênia, entre 1.000 e 3.000 metros de altitude (CARVALHO, 1946). Considerada alotetraplóide do tipo segmental (2n = 4x = 44 cromossomos), autocompatível, multiplica-se essencialmente por autofecundação. As cultivares de C. arabica são bastante aparentadas e em grande maioria, derivam-se das cultivares Típica, originalmente introduzida no Brasil em 1727 e Bourbon Vermelho, oriunda da ilha de mesmo nome (ANTHONY et al., 2001). Embora a base genética da espécie seja bastante estreita (BERTHAUD e CHARRIER, 1988), as cultivares comercializadas apresentam grande variabilidade botânica oriunda de uma série de mutações e de cruzamentos naturais e artificiais realizados (KRUG et al., 1938). Neste trabalho, avaliou-se a eficiência da utilização dos descritores mínimos estabelecidos para o cafeeiro na distinguibilidade de cultivares de C. arabica selecionadas pelo Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, as quais representam cerca de 90% do parque cafeeiro nacional da espécie. 2. MATERIAL -E MÉTODOS 2.1 Material Utilizou-se no estudo, as principais cultivares de C. arabica selecionadas pelo programa de melhoramento do cafeeiro desenvolvido pelo Instituto Agronômico (IAC). O germoplasma avaliado encontra-se em experimentos de progênies presentes em campos experimentais localizados nas Fazendas Monte d´Este e Santa Elisa (Centro Experimental Central) do IAC ambas no município de Campinas (SP), no Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Nordeste Paulista, em Mococa (SP) e na Fazenda Santo Antônio, em Pedregulho (SP). A relação e o número de cultivares avaliadas são apresentados na tabela 1, sendo: Catuaí Vermelho (5), Catuaí Amarelo (5), Ouro Verde (1), Bourbon Amarelo (1), Mundo Novo (5), Acaiá (3), Obatã (1), Tupi (1), Icatu Vermelho (5), Icatu Precoce (1) e Icatu Amarelo (1). 2.2 Metodologia No período de 1999 a 2001 foram avaliadas trinta e oito características, segundo a lista oficial de descritores mínimos para o café compreendendo características associadas às plantas (8) e órgãos como folhas (10), flores (4), frutos (5) e sementes (8). Paralelamente, foram avaliadas três características agronômicas: resistência ao agente da ferrugem (Hemileia vastatrix), ciclo de maturação dos frutos e ciclo até a primeira produção (Tabela 2). As avaliações foram realizadas em trinta plantas de cada cultivar, as quais foram selecionadas com base em sua representatividade e produtividade. As análises referentes às características das folhas tais como comprimento, largura, forma, cor das folhas jovens e adultas, ondulação das bordas, intensidade de ondulação, profundidade da nervura secundária e domácias foram realizadas em amostras de 90 folhas por cultivar – 30 folhas por repetição – coletando-se ao acaso três folhas do quarto par de folhas de cada planta, a uma altura aproximada de 1 m do solo. As avaliações relacionadas ao número de inflorescência por axila e número de flores por inflorescência foram realizadas a partir de 90 contagens por cultivar – 30 contagens por repetição – realizadas no quarto par de inflorescência de cada planta e a uma altura aproximada de 1 m do solo. A compatibilidade e a fertilidade do pólen foram observadas a partir de autofecundações realizadas em cada uma das trinta plantas da cultivar, considerando-se o número de flores dos ramos e o de frutos obtidos. O tamanho, o formato e a coloração dos frutos maduros, assim como a presença de sépalas nos mesmos foram analisados em amostras de 90 frutos por cultivar – 30 frutos por repetição – coletando-se, ao acaso, três frutos na quarta roseta de ramos produtivos localizados a uma altura aproximada de 1 m do solo. O grau de aderência dos frutos aos ramos foi determinado na mesma amostra mediante utilização de um dinamômetro. As características de cor, comprimento, largura e espessura das sementes e a tonalidade e aderência da película prateada foram também determinadas em amostras de 90 sementes por cultivar – 30 sementes por repetição – obtidas dos frutos coletados para avaliação. A massa de cem sementes foi também avaliada em três repetições, sendo as amostras obtidas a partir dos frutos coletados para análise. O mesmo material foi utilizado para dosagem do teor de cafeína em cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE). Quanto às características agronômicas das plantas, o ciclo de maturação foi determinado a partir da contagem em dias do período compreendido entre a antese e a maturação completa dos frutos avaliada visualmente. O ciclo até a primeira produção após plantio foi obtido a partir do número do plantio à primeira colheita das plantas de cada cultivar. Finalmente, a resistência ao agente da ferrugem foi avaliada em condições de campo em período de alta incidência do patógeno. Para efeito de análise foram estabelecidas diferentes classes para cada uma das características avaliadas e atribuindo-se a cada uma delas um número diferente de pontos – códigos – conforme relação de descritores mínimos elaborada para a cultura do cafeeiro (Brasil, 2000). A valoração dos 38 descritores foi realizada com base em avaliações prévias de cultivares usando para cada uma das características, cultivaresreferência (Tabela 2). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO As características qualitativas das plantas, folhas, flores, frutos e sementes de todas as cultivares analisadas são apresentadas nas tabelas 3, 4, 5 e 6. 3.1 Plantas Com relação às características associadas às plantas, somente a altura das plantas, o comprimento dos internódios, o diâmetro da copa e a intensidade de ramificação plagiotrópica foram eficientes na discriminação das cultivares. Observa-se que exceto as cultivares do grupo Acaiá, com formato cilíndrico-cônico, as plantas das demais apresentam formato cilíndrico (Tabela 3). Trata-se de uma característica da espécie C. arabica determinada pelo crescimento proporcional dos ramos ortotrópico – haste – e plagiotrópicos. Cultivares de C. canephora, não avaliadas no presente estudo, são poliortotrópicos (FAZUOLI, 1986), característica que confere formato cônico invertido às plantas devido ao intenso crescimento vegetativo dos ponteiros e conseqüente envergamento das hastes para o exterior. As cultivares de C. arabica apresentam, sem exceção, apenas uma haste de média flexibilidade e ramificação plagiotrópica do tipo horizontal. A intensidade da ramificação plagiotrópica é considerada alta para as cultivares Obatã IAC 1669-20, Tupi IAC 166933, Ouro Verde IAC H5010-5 e aquelas do grupo Catuaí Vermelho, média, para as cultivares dos grupos Mundo Novo e Icatu, baixa para a cultivar Bourbon Amarelo IAC J18 e as do grupo Acaiá. Essa característica é importante critério de seleção no melhoramento do cafeeiro, pois se correlaciona com o potencial produtivo (correlação positiva) e com o porte das plantas (correlação negativa). O crescimento dos cafeeiros é determinado, em sua grande magnitude, por um gene denominado caturra (CARVALHO et al., 1984), sendo sua utilização um marco importante para o melhoramento do cafeeiro no Brasil (CARVALHO e MÔNACO, 1972), uma vez que o desenvolvimento de cultivares de porte baixo contribuiu sobremaneira para a redução do custo de produção das lavouras. Plantas ct ct têm maior crescimento, enquanto plantas Ct Ct ou Ct ct são menores e mais compactas e produtivas. As características altura da planta, diâmetro da copa e comprimento dos internódios são diretamente relacionadas à expressão desse gene e guardam importante correlação entre si, como se pode notar em avaliações realizadas com as diferentes cultivares. As cultivares do grupo Mundo Novo (ct ct) foram classificadas como muito altas; Bourbon Amarelo IAC J18, Icatu Precoce IAC 3282 Icatu Amarelo IAC 2944-6 e as dos grupos Icatu Vermelho, e Acaiá (ct ct) como altas; as cultivares dos grupos Catuaí Vermelho, Catuaí Amarelo e a cultivar Ouro Verde IAC H5010-5 (Ct Ct) como médias e, finalmente, Tupi IAC 1669-33 e Obatã IAC 1669-20 (Ct Ct), como baixas. Classificação semelhante foi observada em relação ao diâmetro da copa e ao comprimento dos internódios. Apesar das cultivares do grupo Mundo Novo serem classificadas como muito largas em relação ao diâmetro da copa, experimentos de campo evidenciam que a saia de cafeeiros de Mundo Novo IAC 388-17 é cerca de 20% mais larga do que as demais cultivares do mesmo grupo (CARVALHO et al., 1984). Diferenças entre cultivares de mesmo genótipo para o caráter, como Ouro Verde IAC H5010-5 (Ct Ct) e Obatã IAC 1669-20 (Ct Ct) ou as cultivares do grupo Mundo Novo (ct ct) e Bourbon Amarelo IAC J18 (ct ct), devem-se à expressão de outros genes menores relacionados também ao crescimento das plantas. É evidente que o desenvolvimento vegetativo das plantas tem também forte componente ambiental, podendo ser bastante influenciado por variações de temperatura, luminosidade, espaçamento de plantio, umidade, adubação, entre outras. Assim, cultivares de porte reduzido (Ct Ct) podem, por exemplo, apresentar maior altura em relação à cultivares de porte normal (ct ct) quando plantadas em regiões de clima mais quente e úmido, quando adubadas em maior proporção ou quando cultivadas em espaçamentos adensados. Deve-se salientar que nenhum desses descritores foi eficiente na discriminação entre cultivares de um mesmo grupo. 3.2 Folhas A descrição das cultivares com base em características das folhas jovens e adultas é apresentada na tabela 4. Seis das dez características avaliadas foram bastante homogêneas e pouco eficientes na diferenciação das 29 cultivares de C. arabica utilizadas no estudo. Pode-se dizer que esse conjunto de cultivares apresenta, sem qualquer variação, folhas adultas de coloração verde-escura, formato elíptico, bordas onduladas, nervuras secundárias de pequena profundidade e domácias glabras e parcialmente desenvolvidas. O tamanho das folhas, caracterizado pelo comprimento e largura máxima da lâmina foliar, apresentou apenas pequena variação entre o germoplasma avaliado. Folhas da cultivar Bourbon Amarelo IAC J18 são mais curtas e estreitas, enquanto as folhas das cultivares Obatã IAC 1669-20 e Tupi IAC 1669-33 são longas e largas, certamente em função do parentesco com a espécie C. canephora. As cultivares Icatu Amarelo IAC 2944-6, Icatu Precoce IAC 3282 e do grupo Icatu Vermelho, também obtidas a partir da hibridação entre as espécies C. arabica e C. canephora, apresentaram, assim como as cultivares dos grupos Acaiá, Catuaí Vermelho, Catuaí Amarelo, Mundo Novo e Ouro Verde IAC H5010-5, folhas de tamanho médio. A cor das folhas jovens, determinada pela expressão de um gene com dominância incompleta (KRUG e CARVALHO, 1942), é importante descritor para as cultivares do grupo Mundo Novo. Por meio dela, foi possível separar as cultivares Mundo Novo IAC 376-4 e Mundo Novo IAC 388-17, que possuem brotos verdes (br br), das cultivares Mundo Novo IAC 501, Mundo Novo IAC 515 e Mundo Novo IAC 379-19, com folhas novas de coloração bronze (Br Br). As cultivares Icatu Amarelo IAC 2944-6, Icatu Precoce IAC 3282 e as do grupo Icatu Vermelho não possuem essa característica fixada e são de difícil discriminação partindo dessa característica. Da mesma maneira, a cultivar Bourbon Amarelo IAC J18 que tem sua origem mais provável no cruzamento natural das cultivares Amarelo de Botucatu (Br Br) e Bourbon Vermelho (br br), também segrega para a coloração das folhas jovens (CARVALHO et al., 1957). As cultivares Obatã IAC 1669-20 e Tupi IAC 1669-33 apresentam folhas com forte intensidade de ondulação, semelhantes às de cultivares de C. canephora (CHEVALIER, 1947); o mesmo não ocorre com as cultivares Icatu Amarelo IAC 2944-6, Icatu Precoce IAC 3282 e aquelas do grupo Icatu Vermelho, também obtidas a partir de cruzamentos de C. arabica com essa espécie diplóide. 3.3 Flores As características das flores foram pouco eficientes na discriminação do germoplasma. Somente o número de inflorescência por axila e o número de flores por inflorescência apresentaram poucas variações (Tabela 5). Como a produção de frutos é definida por uma equação complexa, cujas duas características têm um peso bastante importante (MÔNACO et al., 1965), e as cultivares são selecionadas, em princípio, pelo nível de produtividade das plantas, a classificação alta atribuída a todas elas era bastante previsível. Apenas a cultivar Bourbon Amarelo IAC J18 apresentou índice médio para essas características. Convém salientar que se trata da mais antiga das cultivares avaliadas neste estudo, e que um ganho significativo de produção foi acumulado no desenvolvimento das cultivares mais recentes (CARVALHO et al., 1964). Todas as cultivares de C. arabica apresentaram pólen fértil, sendo autocompatíveis, embora a taxa de polinização cruzada varie ligeiramente, sobretudo nas cultivares do grupo Icatu Vermelho, Icatu Amarelo IAC 2944-6, Icatu Precoce IAC 3282, Tupi IAC 1669-33 e Obatã IAC 1669-20 que apresentam origem interespecífica (FAZUOLI, 1991; FAZUOLI et al., 2000). 3.4 Frutos Os dados referentes às características dos frutos encontram-se na tabela 5. Os frutos das cultivares de C. arabica possuem formato oblongo e não apresentam sépalas desenvolvidas (sd sd), como as presentes na variedade botânica denominada goiaba (KRUG e CARVALHO, 1946). Nas cultivares comerciais (Sd Sd) as sépalas são reduzidas a dentículos bem pouco aparentes nos frutos maduros (CARVALHO et al., 1991). Por sua vez, a cor dos frutos no cafeeiro é determinada pela expressão de um gene recessivo de dominância incompleta denominado xanthocarpa (KRUG e CARVALHO, 1940). Plantas xc xc produzem frutos de exocarpo amarelo, enquanto em plantas de constituição genética Xc Xc, o exocarpo dos frutos é de coloração vermelha. Embora apenas duas classes de cultivares possam ser estabelecidas a partir dessa característica, a cor dos frutos foi considerada um importante descritor por permitir a distinção entre as cultivares dos grupos Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo, assim como, dos grupos Icatu Vermelho e Icatu Amarelo. Os frutos das cultivares avaliadas apresentam, em geral, tamanho médio. Apenas as cultivares do grupo Acaiá e Bourbon Amarelo IAC J18 têm, respectivamente, frutos de tamanho grande e pequeno. A aderência dos frutos aos ramos tem fundamental importância para a colheita dos frutos, principalmente para a colheita mecânica. Essa característica separa as cultivares em apenas dois grupos: alta, para as cultivares de origem interespecífica como Obatã IAC 1669-20, Tupi IAC 1669-33, Icatu Amarelo IAC 2944-6, Icatu Precoce IAC 3282 e as do grupo Icatu Vermelho, e média para as demais. Naquelas cultivares, a queda de frutos maduros ou secos é bastante reduzida. Se essa característica pode resultar em menor rendimento da mão-de-obra na colheita (FAZUOLi et al., 2001), frutos que permanecem por mais tempo na planta têm maior potencial para a produção de cafés de qualidade. 3.5 Sementes O tamanho das sementes tem também importante componente ambiental, e pode variar em função do local de cultivo, das condições de manejo e climáticas presentes durante o ciclo produtivo anual (Tabela 6). No entanto, em condições uniformes, as cultivares do grupo Acaiá apresentam sementes maiores e a cultivar Bourbon Amarelo IAC J18 possui sementes menores que as demais cultivares avaliadas, tanto em relação ao comprimento quanto à largura. Todas as cultivares apresentaram sementes de espessura média, endosperma de coloração verde, película prateada clara e ligeiramente aderida ao endosperma e médio teor de cafeína. Quantitativamente, esse teor varia em torno de 1,0% na espécie C. arabica (ASHIRHARA e CROZIER, 2001). A densidade dos grãos é uma característica de grande importância para as cultivares comerciais de café, uma vez que apresenta relação inversa com o número de sementes por unidade de massa, guardando estreita correlação com o tamanho – comprimento, largura e espessura – das sementes. Observa-se, no entanto, que a massa de cem sementes é bastante uniforme entre as cultivares avaliadas, sendo considerada alta apenas para as cultivares do grupo Acaiá e média para as demais (Tabela 6). 3.6 Características agronômicas A duração do ciclo de maturação (Tabela 6) - período compreendido entre a antese e a maturação completa dos frutos - contribui eficazmente para a distinção de algumas cultivares, como Icatu Amarelo IAC 2944-6 e Icatu Precoce IAC 3282 ou Obatã IAC 1669-20 e Tupi IAC 1669-33. No primeiro caso, ambas têm porte alto, são resistentes a H. vastatrix e produzem frutos de coloração amarela e segregam para a cor das folhas jovens. No entanto, a cultivar Icatu Precoce IAC 3282 tem, como o próprio nome indica, ciclo mais curto de maturação do que a cultivar Icatu Amarelo IAC 29446. Situação bastante parecida é observada em relação às cultivares Tupi IAC 1669-33 e Obatã IAC 1669-20: ambas têm porte baixo, são resistentes ao agente da ferrugem e produzem frutos com exocarpo vermelho. Todavia, a cultivar Tupi IAC 1669-33 é mais precoce do que a Obatã IAC 1669-20. Convém ressaltar que a cor das folhas jovens cumpre a mesma função do ciclo de maturação para distinguir as duas cultivares, com a vantagem de permitir a identificação ainda na fase de muda em viveiro. Com relação ao período até a primeira produção após o plantio, ou precocidade produtiva (Tabela 6), as cultivares dos grupos Acaiá e Mundo Novo foram classificadas como tardias; Bourbon Amarelo IAC J18, média e as demais, precoces. Sua utilização, entretanto, é pouco útil para identificar as cultivares de cada um dos grupos. Este estudo foi desenvolvido visando à identificação dos descritores mínimos eficientes na caracterização de cultivares de cafeeiros. A opção pela utilização de cultivares selecionadas pelo IAC deve-se, sobretudo à certificação de origem genética do material avaliado e também à sua representatividade no cenário agrícola nacional, uma vez que cerca de 90% do parque cafeeiro de C. arabica é composto por cultivares selecionadas pelo Instituto Agronômico (IAC), de Campinas. Embora parte importante das 38 características qualitativas utilizadas nesse estudo tenha revelado certa eficácia na diferenciação de cultivares de C. arabica, seis delas – altura das plantas, resistência a H. vastatrix, cor dos frutos, ciclo de maturação dos frutos, cor das folhas jovens e diâmetro da copa – foram selecionadas para a rápida discriminação dos diferentes grupos de cultivares e em alguns casos, na distinção entre cultivares de um mesmo grupo (Tabela 7). À exceção do ciclo de maturação e diâmetro da copa a expressão das demais características sofre pouco influência ambiental e parte delas pode ser avaliada ainda na fase de mudas em viveiro. Em síntese, os descritores avaliados podem ser considerados eficientes na identificação de grupos distintos de cultivares, mas pouco úteis na discriminação entre cultivares de um mesmo grupo, como Catuaí Vermelho, Catuaí Amarelo e Icatu Vermelho. Quanto às cultivares do grupo Mundo Novo, o descritor cor das folhas novas, pode separá-las em dois grupos: Mundo Novo IAC 376 e Mundo Novo IAC 388-17 – brotos verdes – e as demais cultivares – brotos bronzes. Embora o diâmetro da copa tenha sido considerado como "muito grande" para todas as cultivares do grupo Mundo Novo, a cultivar Mundo Novo IAC 388-17 tem diâmetro da copa 20% maior que Mundo Novo IAC 376-4 e as demais cultivares do grupo. Assim, propõe-se uma nova classe – extremamente grande – para essa característica na relação dos descritores oficiais para a proteção de cultivares de café, utilizando-se a cultivar Mundo Novo IAC 388-17-8 como referência. Se o diâmetro da copa pode separar as cultivares Mundo Novo IAC 376 e Mundo Novo IAC 388-17, as cultivares Mundo Novo IAC 379-19, Mundo Novo IAC 501 e Mundo Novo IAC 515 continuam agrupadas e de difícil identificação a partir dos descritores utilizados no estudo. A utilização de marcadores moleculares ou de descritores bioquímicos poderá auxiliar sobremaneira na identificação de diferenças entre cultivares semelhantes de um mesmo grupo ou entre as já registradas e as novas a serem protegidas. Diversas pesquisas já vêm sendo desenvolvidas nessa direção e certamente poderão enriquecer qualitativamente a atual lista de descritores mínimos para a proteção de cultivares de cafeeiros. 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Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor. * Com bolsa de Mestrado da FAPESP ** Com bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq Caracterização de cultivares de Coffea arabica 179 CARACTERIZAÇÃO DE CULTIVARES DE COFFEA ARABICA MEDIANTE UTILIZAÇÃO DE DESCRITORES MÍNIMOS (1) ADRIANO TOSONI DA EIRA AGUIAR(2,5); OLIVEIRO GUERREIRO-FILHO (2,6), MIRIAN PEREZ MALUF(3); PAULO BOLLER GALLO(4); LUIZ CARLOS FAZUOLI(2,6) RESUMO Cerca de 70% do café produzido e comercializado mundialmente é oriundo de Coffea arabica. A espécie apresenta base genética estreita sendo as cultivares bastante aparentadas e originárias em sua maioria das tradicionais cultivares Típica e Bourbon. Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de identificar a eficiência de descritores mínimos na caracterização de cultivares de cafeeiros e como diferenciadores entre cultivares a serem submetidas ao processo de proteção de cultivares no Brasil. Foram avaliadas trinta e oito características botânicas ou tecnológicas das plantas, folhas, flores, frutos, sementes, assim como três características agronômicas. Utilizaram-se vinte e nove cultivares de cafeeiros selecionadas pelo Instituto Agronômico, sendo avaliadas trinta plantas de cada cultivar. Os resultados evidenciaram que apenas com a utilização das características porte, cor do fruto, resistência ao agente da ferrugem, Hemileia vastatrix e ciclo de maturação é possível obter uma discriminação eficiente dos diferentes grupos de cultivares avaliadas. A cor das folhas jovens e o diâmetro da copa revelaram-se importantes descritores na discriminação de cultivares do grupo Mundo Novo. Não foi possível, porém, identificar descritores eficientes na discriminação das cultivares dos grupos Catuaí Vermelho, Catuaí Amarelo e Icatu Vermelho. Palavras-chave: base genética, café, DHE, proteção de cultivares. ABSTRACT CHARACTERIZATION OF COFFEA ARABICA CULTIVARS BY MINIMUM DESCRIPTORS The species Coffea arabica is responsible for 70% of the world coffee production. The majority of cultivars has a narrow genetic origin, being derived basically from two old cultivars: Tipica and Bourbon. This investigation was carried out aiming at the characterization of selected cultivars of the Instituto Agronomico according to standard descriptors. Thirty five morphological or technological traits of canopy, leaves, flowers, fruits or seeds and three agronomic traits were evaluated in twenty nine cultivar lines of the current breeding program. The variables plant height, fruit color, leaf rust resistance and earliness are sufficient for an efficient identification of groups of cultivars. The color of young leaves and plant diameter are important descriptors for discriminating cultivars of the Mundo Novo group, but they could not identify cultivars of the Catuaí Vermelho, Catuaí Amarelo and Icatu Vermelho groups. Key words: coffee, breeder’s right, DUS, cultivar protection. ( 1) Trabalho parcialmente financiado pelo Consórcio Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras. Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor. Recebido para publicação em 14 de julho de 2003 e aceito em 7 de abril de 2004. (2) Centro de Análise e Pesquisa Tecnológica do Agronegócio do Café “Alcides Carvalho”. Instituto Agronômico, Caixa Postal 28, 13001-970, Campinas (SP). E-mail: [email protected] ( 3) Embrapa/Café ( 4) Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Nordeste Paulista, Mococa (SP). ( 5) Com bolsa de Mestrado da FAPESP. ( 6) Com bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.179-192, 2004 180 A.T.E. Aguiar et al 1. INTRODUÇÃO O cafeeiro, uma das mais importantes espécies do mercado agrícola, tornou-se em 2000, espécie passível de proteção no Brasil. A legislação em vigor a partir dessa data permite a proteção para fins de exploração comercial de novas cultivares das espécies Coffea arabica, C. canephora e também de híbridos entre essas espécies, assim como de cultivares essencialmente delas derivadas. Para tanto, é necessário que determinadas instruções (BRASIL , 2000), em parte comuns às diversas outras espécies já consideradas como passíveis de proteção e em parte específicas à cultura do cafeeiro, sejam devidamente atendidas. Assim, experimentos que possam comprovar a distinguibilidade, homogeneidade e estabilidade (DHE) de uma nova cultivar devem ser realizados mediante adoção de condições estabelecidas pela legislação, tais como número mínimo de dois ciclos de crescimento, apenas um local de avaliação e parcelas experimentais de tamanho suficiente para garantir as observações necessárias. Os descritores mínimos para o registro institucional de cultivares do Instituto Agronômico (IAC) de Campinas (F A Z U O L I et al., 1994) e de descritores botânicos para identificação taxonômica de germoplasma de Coffea (IPGRI, 1996) serviram de base para a elaboração dos descritores mínimos visando à caracterização, identificação e discriminação de cultivares de café a serem utilizados nos experimentos de DHE. A relação oficial desses descritores, elaborada em parceria por instituições públicas de pesquisa – IAC, EPAMIG, IAPAR e INCAPER - encontra-se publicada no Diário Oficial da União, 2000. Cerca de 70% da produção mundial de café é oriunda de cultivares de C. arabica, sendo praticamente a mesma proporção observada no Brasil. A espécie é nativa de uma região restrita e marginal às demais espécies do gênero, localizada no Sudoeste da Etiópia, Sudeste do Sudão e Norte do Quênia, entre 1.000 e 3.000 metros de altitude (C ARVALHO, 1946). Considerada alotetraplóide do tipo segmental (2n = 4x = 44 cromossomos), autocompatível, multiplica-se essencialmente por autofecundação. As cultivares de C. arabica são bastante aparentadas e em grande maioria, derivam-se das cultivares Típica, originalmente introduzida no Brasil em 1727 e Bourbon Vermelho, oriunda da ilha de mesmo nome (ANTHONY et al., 2001). Embora a base genética da espécie seja bastante estreita (B ERTHAUD e C HARRIER, 1988), as cultivares comercializadas apresentam grande variabilidade botânica oriunda de uma série de mutações e de cruzamentos naturais e artificiais realizados (KRUG et al., 1938). Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.179-192, 2004 Neste trabalho, avaliou-se a eficiência da utilização dos descritores mínimos estabelecidos para o cafeeiro na distinguibilidade de cultivares de C. arabica selecionadas pelo Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, as quais representam cerca de 90% do parque cafeeiro nacional da espécie. 2. MATERIAL -E MÉTODOS 2.1 Material Utilizou-se no estudo, as principais cultivares de C. arabica selecionadas pelo programa de melhoramento do cafeeiro desenvolvido pelo Instituto Agronômico (IAC). O germoplasma avaliado encontrase em experimentos de progênies presentes em campos experimentais localizados nas Fazendas Monte d´Este e Santa Elisa (Centro Experimental Central) do IAC ambas no município de Campinas (SP), no Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Nordeste Paulista, em Mococa (SP) e na Fazenda Santo Antônio, em Pedregulho (SP). A relação e o número de cultivares avaliadas são apresentados na tabela 1, sendo: Catuaí Vermelho (5), Catuaí Amarelo (5), Ouro Verde (1), Bourbon Amarelo (1), Mundo Novo (5), Acaiá (3), Obatã (1), Tupi (1), Icatu Vermelho (5), Icatu Precoce (1) e Icatu Amarelo (1). 2.2 Metodologia No período de 1999 a 2001 foram avaliadas trinta e oito características, segundo a lista oficial de descritores mínimos para o café compreendendo características associadas às plantas (8) e órgãos como folhas (10), flores (4), frutos (5) e sementes (8). Paralelamente, foram avaliadas três características agronômicas: resistência ao agente da ferrugem (Hemileia vastatrix), ciclo de maturação dos frutos e ciclo até a primeira produção (Tabela 2). As avaliações foram realizadas em trinta plantas de cada cultivar, as quais foram selecionadas com base em sua representatividade e produtividade. As análises referentes às características das folhas tais como comprimento, largura, forma, cor das folhas jovens e adultas, ondulação das bordas, intensidade de ondulação, profundidade da nervura secundária e domácias foram realizadas em amostras de 90 folhas por cultivar – 30 folhas por repetição – coletando-se ao acaso três folhas do quarto par de folhas de cada planta, a uma altura aproximada de 1 m do solo. 181 Caracterização de cultivares de Coffea arabica Tabela 1. Relação de cultivares de C. arabica avaliadas e localização dos ensaios experimentais Cultivar Local Cidade Catuaí Vermelho IAC 44 Fazenda Santo Antônio Pedregulho Catuaí Vermelho IAC 46 Fazenda Monte d‘Este Campinas Catuaí Vermelho IAC 81 Fazenda Monte d‘Este Campinas Catuaí Vermelho IAC 99 Fazenda Monte d‘Este Campinas Catuaí Vermelho IAC 144 Fazenda Monte d‘Este Campinas Catuaí Amarelo IAC 47 Fazenda Monte d‘Este Campinas Catuaí Amarelo IAC 62 Fazenda Monte d‘Este Campinas Catuaí Amarelo IAC 74 Fazenda Monte d‘Este Campinas Catuaí Amarelo IAC 86 Pólo Regional do Nordeste Paulista Mococa Catuaí Amarelo IAC 100 Fazenda Monte d‘Este Campinas Ouro Verde IAC H5010-5 Fazenda Monte d‘Este Campinas Bourbon Amarelo IAC J18 Fazenda Monte d‘Este Campinas Pólo Regional do Nordeste Paulista Mococa Mundo Novo IAC 379-19 Fazenda Santa Elisa Campinas Mundo Novo IAC 388-17 Fazenda Monte d‘Este Campinas Mundo Novo IAC 501 Fazenda Santa Elisa Campinas Mundo Novo IAC 515 Fazenda Santa Elisa Campinas Acaiá IAC 474-4 Fazenda Santa Elisa Campinas Acaiá IAC 474-16 Pólo Regional do Nordeste Paulista Mococa Acaiá IAC 474-19 Fazenda Monte d‘Este Campinas Mundo Novo IAC 376-4 Obatã IAC 1669-20 Pólo Regional do Nordeste Paulista Mococa Tupi IAC 1669-33 Fazenda Santa Elisa Campinas Icatu Vermelho IAC 2945 Fazenda Santo Antônio Pedregulho Icatu Vermelho IAC 4040 Pólo Regional do Nordeste Paulista Mococa Icatu Vermelho IAC 4042 Pólo Regional do Nordeste Paulista Mococa Icatu Vermelho IAC 4045 Fazenda Monte d‘Este Campinas Icatu Vermelho IAC 4046 Icatu Precoce IAC 3282 Icatu Amarelo IAC 2944-6 Fazenda Monte d‘Este Campinas Fazenda Santo Antônio Pedregulho Fazenda Monte d‘Este Campinas As avaliações relacionadas ao número de inflorescência por axila e número de flores por inflorescência foram realizadas a partir de 90 contagens por cultivar – 30 contagens por repetição – realizadas no quarto par de inflorescência de cada planta e a uma altura aproximada de 1 m do solo. A compatibilidade e a fertilidade do pólen foram observadas a partir de autofecundações realizadas em cada uma das trinta plantas da cultivar, considerando-se o número de flores dos ramos e o de frutos obtidos. O tamanho, o formato e a coloração dos frutos maduros, assim como a presença de sépalas nos mesmos foram analisados em amostras de 90 frutos por cultivar – 30 frutos por repetição – coletando-se, ao acaso, três frutos na quarta roseta de ramos produtivos localizados a uma altura aproximada de 1 m do solo. O grau de aderência dos frutos aos ramos foi determinado na mesma amostra mediante utilização de um dinamômetro. As características de cor, comprimento, largura e espessura das sementes e a tonalidade e aderência da película prateada foram também determinadas em amostras de 90 sementes por cultivar – 30 sementes por repetição – obtidas dos frutos coletados para avaliação. A massa de cem sementes foi também avaliada em três repetições, sendo as amostras obtidas a partir dos frutos coletados para análise. O mesmo material foi utilizado para dosagem do teor de cafeína em cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE). Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.179-192, 2004 182 A.T.E. Aguiar et al Quanto às características agronômicas das plantas, o ciclo de maturação foi determinado a partir da contagem em dias do período compreendido entre a antese e a maturação completa dos frutos avaliada visualmente. O ciclo até a primeira produção após plantio foi obtido a partir do número do plantio à primeira colheita das plantas de cada cultivar. Finalmente, a resistência ao agente da ferrugem foi avaliada em condições de campo em período de alta incidência do patógeno. Para efeito de análise foram estabelecidas diferentes classes para cada uma das características avaliadas e atribuindo-se a cada uma delas um número diferente de pontos – códigos – conforme relação de descritores mínimos elaborada para a cultura do cafeeiro (Brasil, 2000). A valoração dos 38 descritores foi realizada com base em avaliações prévias de cultivares usando para cada uma das características, cultivares-referência (Tabela 2). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO As características qualitativas das plantas, folhas, flores, frutos e sementes de todas as cultivares analisadas são apresentadas nas tabelas 3, 4, 5 e 6. 3.1 Plantas Com relação às características associadas às plantas, somente a altura das plantas, o comprimento dos internódios, o diâmetro da copa e a intensidade de ramificação plagiotrópica foram eficientes na discriminação das cultivares. Observa-se que exceto as cultivares do grupo Acaiá, com formato cilíndricocônico, as plantas das demais apresentam formato cilíndrico (Tabela 3). Trata-se de uma característica da espécie C. arabica determinada pelo crescimento proporcional dos ramos ortotrópico – haste – e plagiotrópicos. Cultivares de C. canephora, não avaliadas no presente estudo, são poliortotrópicos (F AZUOLI , 1986), característica que confere formato cônico invertido às plantas devido ao intenso crescimento vegetativo dos ponteiros e conseqüente envergamento das hastes para o exterior. As cultivares de C. arabica apresentam, sem exceção, apenas uma haste de média flexibilidade e ramificação plagiotrópica do tipo horizontal. A intensidade da ramificação plagiotrópica é considerada alta para as cultivares Obatã IAC 1669-20, Tupi IAC 1669-33, Ouro Verde IAC H5010-5 e aquelas do grupo Catuaí Vermelho, média, para as cultivares dos grupos Mundo Novo e Icatu, baixa para a cultivar Bourbon Amarelo IAC J18 e as do grupo Acaiá. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.179-192, 2004 Essa característica é importante critério de seleção no melhoramento do cafeeiro, pois se correlaciona com o potencial produtivo (correlação positiva) e com o porte das plantas (correlação negativa). O crescimento dos cafeeiros é determinado, em sua grande magnitude, por um gene denominado caturra (CARVALHO et al., 1984), sendo sua utilização um marco importante para o melhoramento do cafeeiro no Brasil (CARVALHO e MÔNACO, 1972), uma vez que o desenvolvimento de cultivares de porte baixo contribuiu sobremaneira para a redução do custo de produção das lavouras. Plantas ct ct têm maior crescimento, enquanto plantas Ct Ct ou Ct ct são menores e mais compactas e produtivas. As características altura da planta, diâmetro da copa e comprimento dos internódios são diretamente relacionadas à expressão desse gene e guardam importante correlação entre si, como se pode notar em avaliações realizadas com as diferentes cultivares. As cultivares do grupo Mundo Novo (ct ct) foram classificadas como muito altas; Bourbon Amarelo IAC J18, Icatu Precoce IAC 3282 Icatu Amarelo IAC 2944-6 e as dos grupos Icatu Vermelho, e Acaiá (ct ct) como altas; as cultivares dos grupos Catuaí Vermelho, Catuaí Amarelo e a cultivar Ouro Verde IAC H5010-5 (Ct Ct) como médias e, finalmente, Tupi IAC 1669-33 e Obatã IAC 1669-20 (Ct Ct), como baixas. Classificação semelhante foi observada em relação ao diâmetro da copa e ao comprimento dos internódios. Apesar das cultivares do grupo Mundo Novo serem classificadas como muito largas em relação ao diâmetro da copa, experimentos de campo evidenciam que a saia de cafeeiros de Mundo Novo IAC 388-17 é cerca de 20% mais larga do que as demais cultivares do mesmo grupo (CARVALHO et al., 1984). Diferenças entre cultivares de mesmo genótipo para o caráter, como Ouro Verde IAC H5010-5 (Ct Ct) e Obatã IAC 1669-20 (Ct Ct) ou as cultivares do grupo Mundo Novo (ct ct) e Bourbon Amarelo IAC J18 (ct ct), devem-se à expressão de outros genes menores relacionados também ao crescimento das plantas. É evidente que o desenvolvimento vegetativo das plantas tem também forte componente ambiental, podendo ser bastante influenciado por variações de temperatura, luminosidade, espaçamento de plantio, umidade, adubação, entre outras. Assim, cultivares de porte reduzido (Ct Ct) podem, por exemplo, apresentar maior altura em relação à cultivares de porte normal (ct ct) quando plantadas em regiões de clima mais quente e úmido, quando adubadas em maior proporção ou quando cultivadas em espaçamentos adensados. Devese salientar que nenhum desses descritores foi eficiente na discriminação entre cultivares de um mesmo grupo. Caracterização de cultivares de Coffea arabica 183 Tabela 2. Características avaliadas, respectivas classes e códigos atribuídos segundo lista oficial de descritores mínimos para a cultura do cafeeiro Planta/orgão Característica Classes (códigos atribuídos) Planta Formato Cilíndrico (1); cônico (2); cilíndrico-cônico (3); cônico invertido (4) Altura da planta Muito baixa (1); baixa (3); média (5); alta (7); muito alta (9) Diâmetro da copa Muito pequeno (1); pequeno (3); médio (5); grande (7); muito grande (9) Comprimento do internódio Curto (3); médio (5); longo (7) Ramificação plagiotrópica: tipo Ereta (1); semi-ereta (2); horizontal (3); semipendente (4) Ramificação plagiotrópica: intensidade Baixa (3); média (5); alta (7) Ramo ortotrópico: quantidade Baixa (3); média (5); alta (7) Ramo ortotrópico: flexibilidade Baixa (3); média (5); alta (7) Resistência a H. vastatrix Ausente (1); presente (2) Ciclo de maturação Muito precoce (1); precoce (3); médio (5); tardio (7); muito tardio (9) Folha Flor Fruto Semente a Ciclo até 1 produção após plantio Precoce (3); médio (5); tardio (7) Comprimento Curto (3); médio (5); longo (7) Largura Estreita (3); média (5); larga (7) Forma Elíptica (1); ovalada (2); lanceolada (3) Cor da folha jovem Verde (1); bronze (2); verde e bronze (3); púrpura (4) Cor da folha adulta Verde-clara (1); verde-escura (2); púrpura (3) Ondulação das bordas Ausente (1); presente (9) Intensidade de ondulação Fraca (3); média (5); forte (7) Profundidadeda nervura 2ária Baixa (3); média (5); alta (7) Domácias Ausente (1); parcialmente desenvolvida (2); bem desenvolvida (3) Pubescência das domácias Ausente (1); presente (9) Inflorescências/axila Baixa (3); média (5); alta (7) Flores/inflorescência Baixa (3); média (5); alta (7) Pólen Fértil (1); estéril (2) Compatibilidade Autocompatível (1); parcialmente compatível (2); auto-incompatível (3) Tamanho Muito pequeno (1); pequeno (3); médio (5); grande (7); muito grande (9) Formato Redondo (1); elíptico (2); oblongo (3) Cor Amarela (1); vermelho-alaranjada (2); vermelho-média (3); vermelho-escura (4) Sépala Ausente (1); presente (2) Grau aderência ao ramo Baixo (3); médio(5); alto (7) Comprimento Curto (3); médio (5); longo (7) Largura Estreita (3); média (5); larga (7) Espessura Fina (3); média (5); grossa (7) Cor do endosperma Amarela (1); verde (2) Tonalidade da película prateada Clara (1); escura (2) Aderência da película prateada Fraca (3); média (5); forte (7) Teor de cafeína Baixo (3); média (5); alto (7) Massa de cem sementes Baixa (3); média (5); alta (7) Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.179-192, 2004 184 Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.179-192, 2004 Tabela 3. Variáveis qualitativas das plantas avaliadas nas diferentes linhagens de café de cultivares de C. arabica Cultivar Formato Altura Diâmetro Comprimento Ramificação plagiotrópica Ramo ortotrópico da planta da copa do internódio Tipo Intensidade Quantidade Flexibilidade Cilindrocônico Alta Grande Longo Horizontal Baixa Baixa Média Acaiá IAC 474-16 Cilindrocônico Alta Grande Longo Horizontal Baixa Baixa Média Acaiá IAC 474-19 Cilindrocônico Alta Grande Longo Horizontal Baixa Baixa Média Bourbon Amarelo IAC J18 Cilíndrico Alta Grande Longo Horizontal Baixa Baixa Média Catuaí Amarelo IAC 47 Cilíndrico Média Médio Médio Horizontal Alta Baixa Média Catuaí Amarelo IAC 62 Cilíndrico Média Médio Médio Horizontal Alta Baixa Média Catuaí Amarelo IAC 74 Cilíndrico Média Médio Médio Horizontal Alta Baixa Média Catuaí Amarelo IAC 86 Cilíndrico Média Médio Médio Horizontal Alta Baixa Média Catuaí Amarelo IAC 100 Cilíndrico Média Médio Médio Horizontal Alta Baixa Média Catuaí Vermelho IAC 44 Cilíndrico Média Médio Médio Horizontal Alta Baixa Média Catuaí Vermelho IAC 46 Cilíndrico Média Médio Médio Horizontal Alta Baixa Média Catuaí Vermelho IAC 81 Cilíndrico Média Médio Médio Horizontal Alta Baixa Média Catuaí Vermelho IAC 99 Cilíndrico Média Médio Médio Horizontal Alta Baixa Média Catuaí Vermelho IAC 144 Cilíndrico Média Médio Médio Horizontal Alta Baixa Média Icatu Amarelo IAC 2944-6 Cilíndrico Alta Grande Longo Horizontal Média Baixa Média Icatu Precoce IAC 3282 Cilíndrico Alta Grande Longo Horizontal Média Baixa Média Icatu Vermelho IAC 2945 Cilíndrico Alta Grande Longo Horizontal Média Baixa Média Icatu Vermelho IAC 4040 Cilíndrico Alta Grande Longo Horizontal Média Baixa Média Icatu Vermelho IAC 4042 Cilíndrico Alta Grande Longo Horizontal Média Baixa Média Icatu Vermelho IAC 4045 Cilíndrico Alta Grande Longo Horizontal Média Baixa Média Icatu Vermelho IAC 4046 Cilíndrico Alta Grande Longo Horizontal Média Baixa Média Mundo Novo IAC 376-4 Cilíndrico Muito alta Muito grande Longo Horizontal Média Baixa Média Mundo Novo IAC 379-19 Cilíndrico Muito alta Muito grande Longo Horizontal Média Baixa Média Mundo Novo IAC 388-17 Cilíndrico Muito alta Muito grande Longo Horizontal Média Baixa Média Mundo Novo IAC 501 Cilíndrico Muito alta Muito grande Longo Horizontal Média Baixa Média Mundo Novo IAC 515 Cilíndrico Muito alta Muito grande Longo Horizontal Média Baixa Média Ouro Verde IAC H5010-5 Cilíndrico Média Médio Médio Horizontal Alta Baixa Média Obatã IAC 1669-20 Cilíndrico Baixa Pequeno Curto Horizontal Alta Baixa Média Tupi IAC 1669-33 Cilíndrico Baixa Pequeno Curto Horizontal Alta Baixa Média A.T.E. Aguiar et al Acaiá IAC 474-4 Caracterização de cultivares de Coffea arabica 185 3.2 Folhas 3.3 Flores A descrição das cultivares com base em características das folhas jovens e adultas é apresentada na tabela 4. Seis das dez características avaliadas foram bastante homogêneas e pouco eficientes na diferenciação das 29 cultivares de C. arabica utilizadas no estudo. Pode-se dizer que esse conjunto de cultivares apresenta, sem qualquer variação, folhas adultas de coloração verde-escura, formato elíptico, bordas onduladas, nervuras secundárias de pequena profundidade e domácias glabras e parcialmente desenvolvidas. As características das flores foram pouco eficientes na discriminação do germoplasma. Somente o número de inflorescência por axila e o número de flores por inflorescência apresentaram poucas variações (Tabela 5). Como a produção de frutos é definida por uma equação complexa, cujas duas características têm um peso bastante importante (M ÔNACO et al., 1965), e as cultivares são selecionadas, em princípio, pelo nível de produtividade das plantas, a classificação alta atribuída a todas elas era bastante previsível. O tamanho das folhas, caracterizado pelo comprimento e largura máxima da lâmina foliar, apresentou apenas pequena variação entre o germoplasma avaliado. Folhas da cultivar Bourbon Amarelo IAC J18 são mais curtas e estreitas, enquanto as folhas das cultivares Obatã IAC 1669-20 e Tupi IAC 1669-33 são longas e largas, certamente em função do parentesco com a espécie C. canephora. Apenas a cultivar Bourbon Amarelo IAC J18 apresentou índice médio para essas características. Convém salientar que se trata da mais antiga das cultivares avaliadas neste estudo, e que um ganho significativo de produção foi acumulado no desenvolvimento das cultivares mais recentes (C ARVALHO et al., 1964). As cultivares Icatu Amarelo IAC 2944-6, Icatu Precoce IAC 3282 e do grupo Icatu Vermelho, também obtidas a partir da hibridação entre as espécies C. arabica e C. canephora, apresentaram, assim como as cultivares dos grupos Acaiá, Catuaí Vermelho, Catuaí Amarelo, Mundo Novo e Ouro Verde IAC H5010-5, folhas de tamanho médio. A cor das folhas jovens, determinada pela expressão de um gene com dominância incompleta (KRUG e CARVALHO, 1942), é importante descritor para as cultivares do grupo Mundo Novo. Por meio dela, foi possível separar as cultivares Mundo Novo IAC 3764 e Mundo Novo IAC 388-17, que possuem brotos verdes (br br), das cultivares Mundo Novo IAC 501, Mundo Novo IAC 515 e Mundo Novo IAC 379-19, com folhas novas de coloração bronze (Br Br). As cultivares Icatu Amarelo IAC 2944-6, Icatu Precoce IAC 3282 e as do grupo Icatu Vermelho não possuem essa característica fixada e são de difícil discriminação partindo dessa característica. Da mesma maneira, a cultivar Bourbon Amarelo IAC J18 que tem sua origem mais provável no cruzamento natural das cultivares Amarelo de Botucatu (Br Br) e Bourbon Vermelho (br br), também segrega para a coloração das folhas jovens (C ARVALHO et al., 1957). As cultivares Obatã IAC 1669-20 e Tupi IAC 1669-33 apresentam folhas com forte intensidade de ondulação, semelhantes às de cultivares de C. canephora (CHEVALIER , 1947); o mesmo não ocorre com as cultivares Icatu Amarelo IAC 2944-6, Icatu Precoce IAC 3282 e aquelas do grupo Icatu Vermelho, também obtidas a partir de cruzamentos de C. arabica com essa espécie diplóide. Todas as cultivares de C. arabica apresentaram pólen fértil, sendo autocompatíveis, embora a taxa de polinização cruzada varie ligeiramente, sobretudo nas cultivares do grupo Icatu Vermelho, Icatu Amarelo IAC 2944-6, Icatu Precoce IAC 3282, Tupi IAC 166933 e Obatã IAC 1669-20 que apresentam origem interespecífica (FAZUOLI, 1991; FAZUOLI et al., 2000). 3.4 Frutos Os dados referentes às características dos frutos encontram-se na tabela 5. Os frutos das cultivares de C. arabica possuem formato oblongo e não apresentam sépalas desenvolvidas (sd sd), como as presentes na variedade botânica denominada goiaba (K RUG e C ARVALHO, 1946). Nas cultivares comerciais (Sd Sd) as sépalas são reduzidas a dentículos bem pouco aparentes nos frutos maduros (C ARVALHO et al., 1991). Por sua vez, a cor dos frutos no cafeeiro é determinada pela expressão de um gene recessivo de dominância incompleta denominado xanthocarpa (K RUG e CARVALHO, 1940). Plantas xc xc produzem frutos de exocarpo amarelo, enquanto em plantas de constituição genética Xc Xc, o exocarpo dos frutos é de coloração vermelha. Embora apenas duas classes de cultivares possam ser estabelecidas a partir dessa característica, a cor dos frutos foi considerada um importante descritor por permitir a distinção entre as cultivares dos grupos Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo, assim como, dos grupos Icatu Vermelho e Icatu Amarelo. Os frutos das cultivares avaliadas apresentam, em geral, tamanho médio. Apenas as cultivares do grupo Acaiá e Bourbon Amarelo IAC J18 têm, respectivamente, frutos de tamanho grande e pequeno. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.179-192, 2004 186 Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.179-192, 2004 Tabela 4. Características qualitativas das folhas de diferentes cultivares de C. arabica Ondulação Intensidade Profundida da Comprimento Largura Forma Jovens Cor das folhas Adultas das bordas de ondulação nervura secundária Acaiá IAC 474-4 Médio Média Elíptica Bronze Verde-escura Presente Média Baixa Parcial Ausente Acaiá IAC 474-16 Médio Média Elíptica Bronze Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Acaiá IAC 474-19 Médio Média Elíptica Bronze Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Bourbon Amarelo IAC J18 Curto Estreita Elíptica Verde e Bronze Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Catuaí Amarelo IAC 47 Médio Média Elíptica Verde Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Catuaí Amarelo IAC 62 Médio Média Elíptica Verde Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Catuaí Amarelo IAC 74 Médio Média Elíptica Verde Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Catuaí Amarelo IAC 86 Médio Média Elíptica Verde Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Catuaí Amarelo IAC 100 Médio Média Elíptica Verde Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Catuaí Vermelho IAC 44 Médio Média Elíptica Verde Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Catuaí Vermelho IAC 46 Médio Média Elíptica Verde Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Catuaí Vermelho IAC 81 Médio Média Elíptica Verde Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Catuaí Vermelho IAC 99 Médio Média Elíptica Verde Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Catuaí Vermelho IAC 144 Médio Média Elíptica Verde Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Icatu Amarelo IAC 2944-6 Médio Média Elíptica Verde e Bronze Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Icatu Precoce IAC 3282 Médio Média Elíptica Verde e Bronze Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Icatu Vermelho IAC 2945 Médio Média Elíptica Verde e Bronze Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Icatu Vermelho IAC 4040 Médio Média Elíptica Verde e Bronze Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Icatu Vermelho IAC 4042 Médio Média Elíptica Verde e Bronze Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Icatu Vermelho IAC 4045 Médio Média Elíptica Verde e Bronze Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Icatu Vermelho IAC 4046 Médio Média Elíptica Verde e Bronze Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Mundo Novo IAC 376-4 Médio Média Elíptica Verde Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Mundo Novo IAC 379-19 Médio Média Elíptica Bronze Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Mundo Novo IAC 388-17 Médio Média Elíptica Verde Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Mundo Novo IAC 501 Médio Média Elíptica Bronze Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Mundo Novo IAC 515 Médio Média Elíptica Bronze Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Ouro Verde IAC H5010-5 Médio Média Elíptica Bronze Verde-escura Presente Média Baixa Parc. desenv. Ausente Obatã IAC 1669-20 Longo Larga Elíptica Verde Verde-escura Presente Forte Baixa Parc. desenv. Ausente Tupi IAC 1669-33 Longo Larga Elíptica Bronze Verde-escura Presente Forte Baixa Parc. desenv. Ausente Cultivar Domácias Desenvolvimento Pubescência A.T.E. Aguiar et al Tabela 5. Características qualitativas das flores e frutos de diferentes cultivares de C. arabica Flor Cultivar Inflorescências Flores por por axila inflorescência Acaiá IAC 474-4 Alta Acaiá IAC 474-16 Alta Acaiá IAC 474-19 Fruto Grau de Pólen Compatibilidade Tamanho Formato Cor Sépala Alta Fértil Autocompatível Grande Oblongo Vermelho-média Ausente Médio Alta Fértil Autocompatível Grande Oblongo Vermelho-média Ausente Médio aderência ao ramo Alta Fértil Autocompatível Grande Oblongo Vermelho-média Ausente Médio Média Fértil Autocompatível Pequeno Oblongo Amarela Ausente Médio Catuaí Amarelo IAC 47 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Amarela Ausente Médio Catuaí Amarelo IAC 62 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Amarela Ausente Médio Catuaí Amarelo IAC 74 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Amarela Ausente Médio Catuaí Amarelo IAC 86 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Amarela Ausente Médio Catuaí Amarelo IAC 100 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Amarela Ausente Médio Catuaí Vermelho IAC 44 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Vermelho-média Ausente Médio Catuaí Vermelho IAC 46 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Vermelho-média Ausente Médio Catuaí Vermelho IAC 81 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Vermelho-média Ausente Médio Catuaí Vermelho IAC 99 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Vermelho-média Ausente Médio Catuaí Vermelho IAC 144 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Vermelho-média Ausente Médio Icatu Amarelo IAC 2944-6 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Amarela Ausente Alto Icatu Precoce IAC 3282 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Amarela Ausente Alto Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Vermelho-média Ausente Alto Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Vermelho-média Ausente Alto Icatu Vermelho IAC 4042 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Vermelho-média Ausente Alto Icatu Vermelho IAC 4045 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Vermelho-média Ausente Alto Icatu Vermelho IAC 4046 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Vermelho-média Ausente Alto Mundo Novo IAC 376-4 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Vermelho-média Ausente Alto Mundo Novo IAC 379-19 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Vermelho-média Ausente Médio Mundo Novo IAC 388-17 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Vermelho-média Ausente Médio Mundo Novo IAC 501 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Vermelho-média Ausente Médio Mundo Novo IAC 515 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Vermelho-média Ausente Médio Ouro Verde IAC H5010-5 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Vermelho-média Ausente Médio Obatã IAC 1669-20 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Vermelho-média Ausente Alto Tupi IAC 1669-33 Alta Alta Fértil Autocompatível Médio Oblongo Vermelho-média Ausente Alto 187 Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.179-192, 2004 Icatu Vermelho IAC 2945 Icatu Vermelho IAC 4040 Caracterização de cultivares de Coffea arabica Alta Média Bourbon Amarelo IAC J18 188 A.T.E. Aguiar et al A aderência dos frutos aos ramos tem fundamental importância para a colheita dos frutos, principalmente para a colheita mecânica. Essa característica separa as cultivares em apenas dois grupos: alta, para as cultivares de origem interespecífica como Obatã IAC 1669-20, Tupi IAC 1669-33, Icatu Amarelo IAC 2944-6, Icatu Precoce IAC 3282 e as do grupo Icatu Vermelho, e média para as demais. Naquelas cultivares, a queda de frutos maduros ou secos é bastante reduzida. Se essa característica pode resultar em menor rendimento da mão-de-obra na colheita (F AZUOL i et al., 2001), frutos que permanecem por mais tempo na planta têm maior potencial para a produção de cafés de qualidade. 3.5 Sementes O tamanho das sementes tem também importante componente ambiental, e pode variar em função do local de cultivo, das condições de manejo e climáticas presentes durante o ciclo produtivo anual (Tabela 6). No entanto, em condições uniformes, as cultivares do grupo Acaiá apresentam sementes maiores e a cultivar Bourbon Amarelo IAC J18 possui sementes menores que as demais cultivares avaliadas, tanto em relação ao comprimento quanto à largura. Todas as cultivares apresentaram sementes de espessura média, endosperma de coloração verde, película prateada clara e ligeiramente aderida ao endosperma e médio teor de cafeína. Quantitativamente, esse teor varia em torno de 1,0% na espécie C. arabica (A SHIRHARA e CROZIER, 2001). de maturação do que a cultivar Icatu Amarelo IAC 2944-6. Situação bastante parecida é observada em relação às cultivares Tupi IAC 1669-33 e Obatã IAC 1669-20: ambas têm porte baixo, são resistentes ao agente da ferrugem e produzem frutos com exocarpo vermelho. Todavia, a cultivar Tupi IAC 1669-33 é mais precoce do que a Obatã IAC 1669-20. Convém ressaltar que a cor das folhas jovens cumpre a mesma função do ciclo de maturação para distinguir as duas cultivares, com a vantagem de permitir a identificação ainda na fase de muda em viveiro. Com relação ao período até a primeira produção após o plantio, ou precocidade produtiva (Tabela 6), as cultivares dos grupos Acaiá e Mundo Novo foram classificadas como tardias; Bourbon Amarelo IAC J18, média e as demais, precoces. Sua utilização, entretanto, é pouco útil para identificar as cultivares de cada um dos grupos. Este estudo foi desenvolvido visando à identificação dos descritores mínimos eficientes na caracterização de cultivares de cafeeiros. A opção pela utilização de cultivares selecionadas pelo IAC deve-se, sobretudo à certificação de origem genética do material avaliado e também à sua representatividade no cenário agrícola nacional, uma vez que cerca de 90% do parque cafeeiro de C. arabica é composto por cultivares selecionadas pelo Instituto Agronômico (IAC), de Campinas. 3.6 Características agronômicas Embora parte importante das 38 características qualitativas utilizadas nesse estudo tenha revelado certa eficácia na diferenciação de cultivares de C. arabica, seis delas – altura das plantas, resistência a H. vastatrix, cor dos frutos, ciclo de maturação dos frutos, cor das folhas jovens e diâmetro da copa – foram selecionadas para a rápida discriminação dos diferentes grupos de cultivares e em alguns casos, na distinção entre cultivares de um mesmo grupo (Tabela 7). À exceção do ciclo de maturação e diâmetro da copa a expressão das demais características sofre pouco influência ambiental e parte delas pode ser avaliada ainda na fase de mudas em viveiro. A duração do ciclo de maturação (Tabela 6) período compreendido entre a antese e a maturação completa dos frutos - contribui eficazmente para a distinção de algumas cultivares, como Icatu Amarelo IAC 2944-6 e Icatu Precoce IAC 3282 ou Obatã IAC 166920 e Tupi IAC 1669-33. No primeiro caso, ambas têm porte alto, são resistentes a H. vastatrix e produzem frutos de coloração amarela e segregam para a cor das folhas jovens. No entanto, a cultivar Icatu Precoce IAC 3282 tem, como o próprio nome indica, ciclo mais curto Em síntese, os descritores avaliados podem ser considerados eficientes na identificação de grupos distintos de cultivares, mas pouco úteis na discriminação entre cultivares de um mesmo grupo, como Catuaí Vermelho, Catuaí Amarelo e Icatu Vermelho. Quanto às cultivares do grupo Mundo Novo, o descritor cor das folhas novas, pode separá-las em dois grupos: Mundo Novo IAC 376 e Mundo Novo IAC 388-17 – brotos verdes – e as demais cultivares – brotos bronzes. A densidade dos grãos é uma característica de grande importância para as cultivares comerciais de café, uma vez que apresenta relação inversa com o número de sementes por unidade de massa, guardando estreita correlação com o tamanho – comprimento, largura e espessura – das sementes. Observa-se, no entanto, que a massa de cem sementes é bastante uniforme entre as cultivares avaliadas, sendo considerada alta apenas para as cultivares do grupo Acaiá e média para as demais (Tabela 6). Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.179-192, 2004 Tabela 6. Características qualitativas das sementes e características agronômicas de diferentes cultivares de C. arabica Cultivar Comprimento Largura Espessura Cor Tonalidade Aderência Teor Massa Ciclo Ciclo do da película da película de de cem de até 1. a endosperma prateada prateada cafeíena sementes maturação produção Resistência à H. vastatrix Longo Estreita Média Verde Clara Fraca Médio Alta Precoce Tardio Ausente Acaiá IAC 474-16 Longo Estreita Média Verde Clara Fraca Médio Alta Precoce Tardio Ausente Acaiá IAC 474-19 Longo Estreita Média Verde Clara Fraca Médio Alta Precoce Tardio Ausente Bourbon Amarelo IAC J18 Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Precoce Médio Ausente Catuaí Amarelo IAC 47 Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Tardio Precoce Ausente Catuaí Amarelo IAC 62 Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Tardio Precoce Ausente Catuaí Amarelo IAC 74 Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Tardio Precoce Ausente Catuaí Amarelo IAC 86 Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Tardio Precoce Ausente Catuaí Amarelo IAC 100 Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Tardio Precoce Ausente Catuaí VermelhoIAC 44 Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Tardio Precoce Ausente Catuaí Vermelho IAC 46 Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Tardio Precoce Ausente Catuaí Vermelho IAC 81 Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Tardio Precoce Ausente Catuaí Vermelho IAC 99 Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Tardio Precoce Ausente Catuaí Vermelho IAC 144 Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Tardio Precoce Ausente Icatu Amarelo IAC 2944-6 Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Tardio Precoce Presente Icatu Precoce IAC 3282 Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Precoce Precoce Presente Icatu Vermelho IAC 2945 Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Tardio Precoce Presente Icatu Vermelho IAC 4040 Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Tardio Precoce Presente Icatu Vermelho IAC 4042 Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Tardio Precoce Presente Icatu Vermelho IAC 4045 Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Tardio Precoce Presente Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Tardio Precoce Presente Médio Média Média Verde Clara Fraca Médio Média Médio Tardio Ausente Mundo Novo IAC 379-19 Médio Média Média Verde Clara Fraca Médio Média Médio Tardio Ausente Mundo Novo IAC 388-17 Médio Média Média Verde Clara Fraca Médio Média Médio Tardio Ausente Mundo Novo IAC 501 Médio Média Média Verde Clara Fraca Médio Média Médio Tardio Ausente Mundo Novo IAC 515 Médio Média Média Verde Clara Fraca Médio Média Médio Tardio Ausente Ouro Verde IAC H5010-5 Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Tardio Precoce Ausente Obatã IAC 1669-20 Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Tardio Precoce Presente Tupi IAC 1669-33 Curto Larga Média Verde Clara Fraca Médio Média Precoce Precoce Presente 189 Icatu Vermelho IAC 4046 Mundo Novo IAC 376-4 Caracterização de cultivares de Coffea arabica Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.179-192, 2004 Acaiá IAC 474-4 Altura das plantas Resistência a Hemileia vastatrix Cor dos frutos Ciclo de maturação Precoce Resistente Vermelha (Xc Xc) Tardio Tardio Baixa ou Média (Ct Ct) Vermelha Cor das folhas jovens Bronze (Br Br) Verde (br br) Bronze (Br Br) (Xc Xc) Tardio Suscetível (xc xc) Vermelha (Xc Xc) Resistente Tardio Tardio Precoce Amarela (xc xc) Tardio Alta ou Muita Alta (ct ct) Precoce Vermelha (Xc Xc) (br br) Verde (br br) Verde e Bronze (br br) e (Br Br) Verde e Bronze (br br) e (Br Br) Verde e Bronze (br br) e (Br Br) Bronze (Br Br) Verde (br br) Suscetível Grupo de cultivares Tupi IAC 1669-33 Tupi Obatã IAC 1669-20 Obatã Ouro Verde IAC H5010-5 Ouro Verde Catuaí Vermelho IAC 44, Catuaí Vermelho IAC 46, Catuaí Vermelho IAC 81, Catuaí Vermelho IAC 99 Catuaí Vermelho e Catuaí Vermelho IAC 144 Catuaí Amarelo IAC 47, Catuaí Amarelo IAC 62, Catuaí Amarelo IAC 74, Catuaí Amarelo IAC 86 Catuaí Amarelo e Catuaí Amarelo IAC 100 Icatu Vermelho IAC 2945, Icatu Vermelho IAC 4040, Icatu Vermelho IAC 4042, Icatu VermelhoIAC 4045 Icatu Vermelho e Icatu Vermelho IAC 4046 Icatu Precoce IAC 3282 Icatu Precoce Icatu Amarelo IAC 2944-6 Icatu Amarelo Acaiá IAC 474-4, Acaiá IAC 474-16 e Acaiá IAC 474-19 Acaiá Mundo Novo IAC 376-4 e Mundo Novo IAC 388-17 Mundo Novo Tardio Amarela (xc xc) Precoce Bronze Mundo Novo IAC 379-19, Mundo Novo IAC 501 (Br Br) e Mundo Novo IAC 515 Verde (br br) Bourbon Amarelo IAC J18 Mundo Novo Bourbon Amarelo A.T.E. Aguiar et al Amarela Verde Cultivares 190 Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.179-192, 2004 Tabela 7. Relação das características qualitativas mais eficientes para a identificação de cultivares de C. arabica em testes de distinguibilidade Caracterização de cultivares de Coffea arabica Embora o diâmetro da copa tenha sido considerado como “muito grande” para todas as cultivares do grupo Mundo Novo, a cultivar Mundo Novo IAC 388-17 tem diâmetro da copa 20% maior que Mundo Novo IAC 376-4 e as demais cultivares do grupo. Assim, propõe-se uma nova classe – extremamente grande – para essa característica na relação dos descritores oficiais para a proteção de cultivares de café, utilizando-se a cultivar Mundo Novo IAC 38817-8 como referência. Se o diâmetro da copa pode separar as cultivares Mundo Novo IAC 376 e Mundo Novo IAC 388-17, as cultivares Mundo Novo IAC 37919, Mundo Novo IAC 501 e Mundo Novo IAC 515 continuam agrupadas e de difícil identificação a partir dos descritores utilizados no estudo. A utilização de marcadores moleculares ou de descritores bioquímicos poderá auxiliar sobremaneira na identificação de diferenças entre cultivares semelhantes de um mesmo grupo ou entre as já registradas e as novas a serem protegidas. Diversas pesquisas já vêm sendo desenvolvidas nessa direção e certamente poderão enriquecer qualitativamente a atual lista de descritores mínimos para a proteção de cultivares de cafeeiros. REFERÊNCIAS ANTHONY, F.; BERTRAND, B.; QUIROS, O.; WILCHES, A.; LASHERMES, P.; BERTHAUD, J.; CHARRIER, A. Genetic diversity of wild coffee (Coffea arabica L.) using molecular markers. Euphytica, Dordrecht, v.118, n.1, p.53-65, 2001. ASHIHARA, H. AND CROZIER, A. 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Brasiliense Choisy seeds Maria Luisa Bertelle FaronI; Maria Beatriz PerecinI; Antonio Augusto do LagoII; Odair Alves BoviI; Nilson Borlina MaiaI ICentro de Análise e Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Horticultura, do Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP). E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected] IILaboratório de Sementes, Centro Experimental Central, IAC. E-mail: [email protected] RESUMO Hypericum perforatum L. e H. brasiliense Choisy, da família Clusiaceae, são espécies de plantas de considerável valor medicinal. A primeira é comercialmente cultivada na Europa e largamente utilizada como fitoterápico para tratamento da depressão. A segunda é nativa do Brasil e, recentemente, vem sendo objeto de muitos estudos por possuir o mesmo potencial farmacológico. Neste trabalho, as sementes de ambas as espécies foram investigadas com relação à massa de mil sementes e a diversas condições de germinação, combinando-se quatro temperaturas, ou seja, 20, 25, 30 e 20-30 ºC, em presença ou ausência de luz e com ou sem umedecimento do substrato de germinação com solução aquosa de nitrato de potássio a 0,2%. O diminuto tamanho das sementes ficou bem revelado pelos valores da massa de mil sementes que foram de 0,13 g (7.692 sementes por grama) e 0,02 g (50.000 sementes por grama) para H. perforatum e H. brasiliense respectivamente. As temperaturas mais benéficas à germinação foram as alternadas de 20-30 ºC, para as duas espécies, ou as constantes de 20 ºC, para H. perforatum e de 30 ºC, para H. brasiliense. A luz foi necessária para a germinação das sementes das duas espécies, porém seu efeito foi mais pronunciado em H. brasiliense. Em H. perforatum o efeito da luz foi mais evidente a 20-30 ºC enquanto em H. brasiliense esse efeito acentuou-se em todas as temperaturas estudadas. A aplicação de nitrato de potássio a 0,2% foi eficaz para as sementes de H. brasiliense porém não afetou as de H. perforatum. Palavras-chave: Hypericum perforatum, Hypericum brasiliense, plantas medicinais, sementes, massa de sementes, porcentagem de germinação. ABSTRACT Hypericum perforatum L. and H. brasiliense Choisy, both belonging to the Clusiaceae family, are plant species of remarkable medicinal value. The former is commercially grown in Europe, and widely used as a phytotherapic for depression treatment while the latter, native to Brazil, has been recently studied as to its similar pharmacological potential. In this research work, seeds of both species were investigated as to the trait 1.000 seeds weight and the effects of several germination conditions (four temperature regimes: 20, 25, 30 and 20-30 ºC), presence or absence of light; presence or absence of 0.2% potassium nitrate in the seed germination medium. The results for 1.000 seeds weight were 0.13 g (7,692 seeds/g) and 0.02 g (50,000 seeds /g) for H. perforatum and H. brasiliense, respectively. The highest seed germination rate increases were observed with the following temperature regimes: 20 ºC or 20-30 ºC (H. perforatum) and 30 ºC (H. brasiliense). White light was required for seed germination in both species; moreover, light effect was more pronounced in H. brasiliense. In H. perforatum the light effect was strongly marked only at 20-30 ºC while in H. brasiliense it was present in all studied temperature regimes. Germination substrate moistening with potassium nitrate was effective for H. brasiliense but did not affect H. perforatum seed germination. Key words: Hypericum perforatum, Hypericum brasiliense, medicinal plants, seeds, seed dry mass, germination percentage. 1. INTRODUÇÃO O gênero Hypericum, da família Clusiaceae, é composto por 350 espécies e diversas são consideradas medicinais. Dentre elas, a mais conhecida pelas suas reconhecidas propriedades fitoterápicas é a H. perforatum L., nativa da Europa, Ásia e norte da África (CAMPBELL, 1985), conhecida pelos nomes comuns de "St. John's wort", erva-desão-joão, hipérico e outros (LORENZI e MATTOS, 2002). Pesquisas têm indicado seu valor como medicamento para a depressão, especialmente na Alemanha onde, em 1997, os preparados à base de H. perforatum perfaziam 25% de todas as prescrições de antidepressivos (SCHENKEL et al., 2000). Essa espécie é largamente cultivada na Europa, preferindo áreas abertas e ensolaradas, atingindo porte de 0,80 m, com flores amarelo-claras e produzindo uma quantidade satisfatória de sementes; no Brasil, as tentativas de adaptação não foram bem sucedidas, pois não atinge porte adequado, não floresce e, portanto, não produz sementes. A espécie brasileira H. brasiliense Choisy vem sendo estudada farmacologicamente, mostrando propriedades fitoterápicas semelhantes, inclusive com relação ao mesmo efeito antidepressivo relatado em H. perforatum, mantendo várias outras semelhanças morfológicas e químicas com sua congênere européia (ROCHA et al., 1994, 1995, 1996; MARQUES, 1999; ABREU, 2002). Planta de porte herbáceo a subarbustivo, com distribuição geográfica nos domínios da Mata Atlântica dos Estados do Sul e Sudeste do Brasil. porém ainda não é cultivada (CARDOSO e OLIVEIRA, 1996). Ocorre, de preferência em áreas úmidas, terrenos perturbados e beiras de estradas, geralmente em populações pequenas(2). Devido à crescente importância farmacológica e ao potencial interesse comercial, H. brasiliense vem sendo estudada também com relação à sua multiplicação in vitro (CARDOSO e OLIVEIRA, 1996), aspectos anatômicos (FERREIRA, 2001), teor de óleos essenciais, comportamento em condições de estresses e estimativas preliminares de sua variabilidade isoenzimática (ABREU, 2002). Não há, porém, relatos na literatura sobre as exigências de germinação dessa espécie e, portanto, não existem recomendações sobre as condições para o teste de germinação nas Regras para Análise de Sementes – RAS (BRASIL, 1992). Além disso, até mesmo com relação a H. perforatum, muito mais estudada além de comercializada internacionalmente, as recomendações das RAS, para a realização desse teste, deixam a desejar. Não há informações especiais sobre promover a germinação, em caso de dormência, como por exemplo, regime de luz ou aplicação de solução aquosa de nitrato de potássio a 0,2% no substrato de germinação. Nas normas para a execução do teste de germinação de H. perforatum são recomendadas a temperatura constante de 20 ºC ou as alternadas de 20-30 ºC (BRASIL, 1992). Regimes de temperatura, de luz e tratamentos químicos, entre os quais a aplicação de nitrato de potássio, são fatores que afetam a germinação de sementes (POPINIGIS, 1985; CARVALHO e NAKAGAWA, 1988); além disso, podem revelar diversos mecanismos de dormência, exigindo técnicas específicas para sua superação (KHAN, 1977). Esses fatores encontram-se, de certa forma, relacionados com o crescimento inicial, fase vegetativa e ciclo ótimo da planta (POPINIGIS, 1985), além do que são também importantes para a avaliar a qualidade de uma amostra ou lote de sementes, tanto para objetivos de comercialização, semeadura e estabelecimento da cultura como de conservação de germoplasma. As sementes de numerosas espécies de plantas cultivadas ou silvestres apresentam resposta positiva a temperaturas alternadas (ROBERTS, 1972; POPINIGIS, 1985; CAMPBELL, 1985; BRASIL, 1992; SANTOS et al., 1999), muito provavelmente porque simulam as condições naturais, com temperaturas noturnas mais baixas e diurnas mais altas. CAMPBELL (1985), investigando diversos fatores que afetam a germinação de H. perforatum na Austrália, verificou que as sementes recém-colhidas foram beneficiadas pela presença de luz, com acréscimo na germinação de 44% para 70%. No entanto, sementes com nove anos de idade, com bom potencial germinativo, não apresentaram resposta significativa à luz, o que, segundo o autor, está relacionado à perda de dormência. O efeito positivo da adição de solução aquosa de nitrato de potássio ao substrato de germinação de sementes é freqüentemente relatado na literatura. Já em 1956, Toole et al. salientaram que nitratos são um dos principais agentes de superação de dormência em numerosas espécies. Mais recentemente, GUPTA (2002), estudando diversas espécies de Ocimum, conseguiu a superação da dormência das sementes pela utilização de soluções de nitrato de potássio. Na espécie Plantago major, SARUHAN et al. (2002) aumentaram a germinação ao embeber as sementes em solução de nitrato de potássio a 1 mM ou 10 mM. ROBERTS (1972) afirmou que o efeito isolado do íon nitrato pode ser pouco significativo; no entanto, em interação com luz e, mais ainda, com temperaturas alternadas, o efeito estimulador aumenta fortemente, chegando a mencionar casos em que o nitrato pode até substituir a necessidade de luz. Observações preliminares sobre condições de germinação mostraram, para as duas espécies, que o uso de substrato tipo SP (papel de filtro ao fundo de caixas plásticas transparentes), e da câmara de germinação tipo BOD foram adequados; ademais, dado o tamanho diminuto das sementes e plântulas, as observações e contagens precisaram ser feitas com auxílio de lupa, com aumentos de três a 12 vezes. A germinação foi epígea e a emissão de radícula ocorreu nos primeiros cinco dias, havendo indicativo de efeitos isolados ou combinados de temperatura e luz na germinação de ambas as espécies (dados não publicados). Dada à importância cada vez mais atual de estudos sobre a qualidade fisiológica e física das sementes de espécies medicinais ainda não domesticadas, a completa ausência de informações sobre os requisitos de germinação para H. brasiliense e também por não haver informações mais completas para H. perforatum, o presente trabalho investigou os efeitos de fatores como temperatura, luz e tratamento químico (KNO3) na germinação dessas sementes. Além disso, determinou-se a massa de mil sementes e, por cálculo, o número de sementes por grama, importante dado para indicar o tamanho de lotes, a amostragem, análise da pureza física e estimativa da densidade de semeadura, inclusive para H. perforatum, para a qual as RAS (BRASIL, 1992) são omissas. 2. MATERIAL E MÉTODOS As sementes de H. brasiliense Choisy foram coletadas em Delfim Moreira (MG), em fevereiro de 2001, provenientes de uma população de plantas que cresciam espontaneamente, em solo encharcado, ao redor de um lago natural. As de H. perforatum L. foram adquiridas no mercado em 2002, procedentes da Holanda, cujo rótulo indicava 80% de germinação e 99% de pureza, não necessitando, portanto, de posterior manipulação para aprimorar a pureza. O material proveniente da coleta de H. brasiliense continha grande quantidade de impurezas (partes de flores, restos de frutos, sementes mal formadas e sementes chochas) as quais foram eliminadas com auxílio de peneiras metálicas de perfurações circulares e de fluxo de ar, em ventilador vertical de laboratório, seguido de separação manual para retirar as impurezas remanescentes. As sementes foram mantidas dentro de embalagem de papel, em ambiente de laboratório durante a execução das avaliações. Determinou-se o teor de água pelo método da estufa a 105 ºC por 24 horas, utilizandose duas subamostras de 0,5 g de sementes cada uma e os resultados foram expressos com base na massa úmida (BRASIL, 1992). As indicações da massa de mil sementes seguiram as recomendações da RAS (BRASIL, 1992), com a diferença de que foram realizadas com oito subamostras de mil sementes cada uma, ao invés de oito de cem, devido à diminuta massa de cem sementes dessas duas espécies. As avaliações de germinação foram realizadas com quatro repetições de 50 sementes cada uma, distribuídas sobre substrato especial de germinação do tipo mata-borrão, colocado dentro de caixas plásticas transparentes, umedecido com um volume de água (9,5 mL) igual a 2,5 vezes a sua massa e mantido em germinador tipo BOD; as avaliações e contagens das sementes com protrusão de radícula foram feitas aos 7, 10, 14, 17 e 21 dias após a semeadura. As temperaturas estudadas foram as constantes de 20 ºC, 25 ºC e 30 ºC e as alternadas de 20-30 ºC (20 ºC por 16 horas e 30 ºC por oito horas). No caso da aplicação de luz, foi feita por 16 horas em todas as temperaturas e no período da temperatura alternada de 30 ºC. No caso da germinação em ausência de luz (no escuro) as caixas transparentes respectivas foram envoltas em filme plástico preto de 0,15 mm de espessura, para vedar totalmente a passagem da luz. Nos tratamentos que envolveram ausência de luz, as avaliações e contagens foram feitas em câmara escura, sob luz verde, nos períodos acima mencionados. No estudo do efeito de nitrato de potássio, ao invés de água, o substrato foi umedecido com solução aquosa de KNO3 a 0,2%, nas mesmas proporções mencionadas. O delineamento foi o inteiramente casualizado, em esquema fatorial 4 x 2 x 2, ou seja, quatro temperaturas, dois regimes de luz (presença ou ausência) e duas formas de aplicação de KNO3 (presença ou ausência), com quatro repetições para cada espécie. Na análise estatística, as porcentagens de germinação foram transformadas em arcsen , porém, nas tabelas e figuras, estão apresentados os dados originais. A comparação de médias foi feita pelo teste de Tukey a 5%. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO O diminuto tamanho dessas sementes foi revelado pelas determinações da massa de mil sementes, de 0,13 g (7.692 sementes por grama) e 0,02 g (50.000 sementes por grama), na umidade de 5,8% e de 6,8%, respectivamente, para H. perforatum e H. brasiliense. Esses resultados colocam as sementes dessas duas espécies no grupo das mais leves que constam nas RAS (BRASIL, 1992); nenhuma delas é tão ou mais leve que as de H. brasiliense. Os resultados das indicações de germinação, correspondentes aos efeitos significativos dos fatores isolados ou em combinação, estão expostos na tabela 1 e nas figuras 1 e 2. Houve variação na resposta das duas espécies com relação à temperatura. Em H. perforatum, as porcentagens de germinação foram significativamente maiores nas temperaturas mais baixas e nas alternadas de 20-30 ºC, em que a temperatura mais baixa (20ºC) foi aplicada por 16 horas a cada 24 horas (Tabela 1). Por outro lado, a temperatura de 20 ºC não foi favorável à germinação de H. brasiliense, sendo apenas de 13,0%; a temperaturas mais altas, porém, houve tendência de aumento gradativo da germinação; o maior valor absoluto foi obtido a 20-30 ºC que, no entanto, não diferiu estatisticamente de 30 ºC. Esses resultados contrastantes dos efeitos da temperatura nas duas espécies são muito interessantes quando considerados do ponto de vista ecológico e evolutivo. H. perforatum é espécie originária de regiões temperadas e, provavelmente, mantém características evolutivas adaptadas àquelas regiões, sendo a temperatura menor mais eficiente para promover a germinação de suas sementes. Uma espécie originária de regiões subtropicais, como a H. brasiliense, ainda que do mesmo gênero, deve responder melhor a temperaturas altas do que uma de clima temperado, hipótese que encontra evidências nos resultados deste trabalho. Vale lembrar que as Regras para Análise de Sementes – RAS (BRASIL, 1992), que mencionam apenas H. perforatum, recomendam, para o teste oficial de germinação dessa espécie, as temperaturas de 2030 ºC e 20 ºC, sendo as que produziram os melhores resultados, no presente trabalho, para essa espécie. Dos fatores testados, a presença de luz foi o mais importante a influenciar a germinação das duas espécies. Os tratamentos que simularam fotoperíodo de oito horas de luz e 16 horas no escuro melhoraram significativamente a média de germinação do H. perforatum de 20,1 para 30,6%, mas foi na espécie H. brasiliense que a presença de luz mostrou efeito ainda mais substancial, provocando aumento, na média de germinação, de quase cinco vezes, passando de apenas 7,2% para 34,1% (Tabela 1). Os resultados de promoção da germinação de H. perforatum por meio de luz confirmam aqueles obtidos por CAMPBELL (1985). POPINIGIS (1985) afirmou que as sementes da maioria das plantas cultivadas germinam igualmente no escuro ou em presença de luz; porém, quando há exigência de luz para a germinação, o que ocorre para numerosas espécies (BRASIL, 1992), esse comportamento está relacionado a um tipo de dormência. Algumas espécies, mesmo depois de domesticadas, mantém o requerimento de luz para germinar, como por exemplo Chamomila recutita e Stevia rebaudiana, da família das Asteráceas, cujas sementes tão diminutas são incapazes de romper camadas de solo e atingir a superfície com a pequena quantidade de material de reserva que possuem. Dessa forma, essas espécies têm que obrigatoriamente germinar sobre o solo onde se estabelecerão e é razoável a hipótese de ser o estímulo luminoso que sinaliza essa situação. É possível que H. brasiliense, uma espécie não domesticada e que também possui sementes extremamente diminutas, apresente o mesmo mecanismo de dormência. A esse respeito, é prescrição generalizada das RAS (BRASIL, 1992) a utilização de luz para realizar os testes de germinação em numerosas gramíneas forrageiras, hortaliças, ornamentais e medicinais, cujas sementes são comumente pequenas. O umedecimento do substrato de germinação com solução aquosa de KNO3 a 0,2% aumentou a germinação de H. brasiliense, mas não produziu efeito significativo em H. perforatum (Tabela 1). A maioria das centenas de espécies de valor econômico contidas nas RAS (BRASIL, 1992), sobretudo as das grandes culturas, não reagem ao nitrato de potássio; no entanto, a aplicação desse estimulante é freqüentemente recomendada para testes de germinação de sementes de gramíneas forrageiras, hortaliças e ornamentais, mostrando que o efeito de KNO3 realmente difere significamente entre espécies. BITHELL et al. (2002), estudando superação da dormência em sementes de Solanum nigrum e S. physalifolium, conseguiram alguma germinação apenas na segunda espécie, quando umedeceram o substrato com solução de nitrato de potássio a 0,2%. No Brasil, LAGO (1974) verificou efeitos substanciais da aplicação de nitrato de potássio na germinação de sementes da gramínea forrageira Brachiaria brizantha Stapf. Esse tratamento pode também ser benéfico para sementes de espécies silvestres. HUXLEY e TURK (1966), estudando diversas espécies de plantas daninhas africanas, observaram que, mesmo em presença de luz, a adição de 0,2% de KNO3 ao substrato promoveu aumento na germinação em duas das espécies estudadas, ou seja, Tagetes minuta e Euphorbia hirta. Da mesma forma que ocorre com o requerimento de luz, é provável que o efeito do KNO3 varie não somente com a espécie, mas também com a idade cronológica da semente, conforme observado por CAMPBELL (1985) em H. perforatum. Estudando as interações dos efeitos de temperatura e luz (Figuras 1 e 2) constatou-se que, em H. perforatum, não houve efeito de luz na temperatura mais baixa de 20 ºC; esse efeito foi pouco pronunciado a 25 e 30 ºC e bem marcante à temperatura alternada de 20-30 ºC. Por outro lado, em H. brasiliense, a luz foi altamente benéfica em todas as temperaturas estudadas; na temperatura pouco favorável de 20 ºC, a germinação em ausência de luz foi praticamente nula, só ocorrendo em valores significativos quando a luz foi aplicada. 4. CONCLUSÕES 1. As espécies H. perforatum e H. brasiliense possuem sementes de tamanho muito reduzido, com massa de mil sementes de 0,13 e 0,02 g respectivamente; H. brasiliense, cujas sementes são mais diminutas do que a menor semente encontrada nas RAS, é provavelmente a espécie mais leve já descrita no Brasil. 2. A presença de luz, disponível às sementes em fotoperíodos de 16 horas, foi necessária para a germinação de ambas as espécies; seu efeito foi mais pronunciado em H. brasiliense, espécie com menor grau de domesticação que H. perforatum. 3. As temperaturas que mais beneficiaram as espécies foram as alternadas de 20-30 ºC para ambas as espécies ou constantes de 20 ºC para H. perforatum e 30 ºC para H. brasiliense. 4. O umedecimento do substrato com solução aquosa de nitrato de potássio a 0,2% favoreceu a germinação de H. brasiliense, mas não afetou H. perforatum. AGRADECIMENTOS Aos técnicos do Laboratório de Sementes do Centro Experimental Central do IAC pela ajuda na execução dos ensaios; à Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (FUNDAG) pelo apoio financeiro ao projeto e aos revisores anônimos que deram valiosas contribuições e sugestões. REFERÊNCIAS ABREU, I. N. Isolamento e produção de substâncias de interesse farmacológico de Hypericum brasiliense Choisy. 2002, 167f. 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Germinação de sementes de Hypericum perforatum L. e H. brasiliense Choisy 193 TEMPERATURA, NITRATO DE POTÁSSIO E FOTOPERÍODO NA GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE HYPERICUM PERFORATUM L. E H. BRASILIENSE CHOISY (1) MARIA LUISA BERTELLE FARON(2); MARIA BEATRIZ PERECIN(2); ANTONIO AUGUSTO DO LAGO(3); ODAIR ALVES BOVI(2); NILSON BORLINA MAIA(2) RESUMO Hypericum perforatum L. e H. brasiliense Choisy, da família Clusiaceae, são espécies de plantas de considerável valor medicinal. A primeira é comercialmente cultivada na Europa e largamente utilizada como fitoterápico para tratamento da depressão. A segunda é nativa do Brasil e, recentemente, vem sendo objeto de muitos estudos por possuir o mesmo potencial farmacológico. Neste trabalho, as sementes de ambas as espécies foram investigadas com relação à massa de mil sementes e a diversas condições de germinação, combinando-se quatro temperaturas, ou seja, 20, 25, 30 e 20-30 ºC, em presença ou ausência de luz e com ou sem umedecimento do substrato de germinação com solução aquosa de nitrato de potássio a 0,2%. O diminuto tamanho das sementes ficou bem revelado pelos valores da massa de mil sementes que foram de 0,13 g (7.692 sementes por grama) e 0,02 g (50.000 sementes por grama) para H. perforatum e H. brasiliense respectivamente. As temperaturas mais benéficas à germinação foram as alternadas de 20-30 ºC, para as duas espécies, ou as constantes de 20 ºC, para H. perforatum e de 30 ºC, para H. brasiliense. A luz foi necessária para a germinação das sementes das duas espécies, porém seu efeito foi mais pronunciado em H. brasiliense. Em H. perforatum o efeito da luz foi mais evidente a 20-30 ºC enquanto em H. brasiliense esse efeito acentuou-se em todas as temperaturas estudadas. A aplicação de nitrato de potássio a 0,2% foi eficaz para as sementes de H. brasiliense porém não afetou as de H. perforatum. Palavras-chave: Hypericum perforatum, Hypericum brasiliense, plantas medicinais, sementes, massa de sementes, porcentagem de germinação. ABSTRACT LIGHT, TEMPERATURE AND POTASSIUM NITRATE IN THE GERMINATION OF Hypericum. perforatum L. AND H. brasiliense Choisy SEEDS Hypericum perforatum L. and H. brasiliense Choisy, both belonging to the Clusiaceae family, are plant species of remarkable medicinal value. The former is commercially grown in Europe, and widely used as a phytotherapic for depression treatment while the latter, native to Brazil, has been recently studied as to its similar pharmacological potential. In this research work, seeds of both species were investigated as to the trait 1.000 seeds weight and the effects of several germination conditions (four temperature regimes: 20, 25, 30 and 20-30 ºC), presence or absence of light; presence or absence of 0.2% potassium nitrate in the seed germination medium. The results for 1.000 seeds weight were 0.13 g (7,692 seeds/g) and 0.02 g (50,000 seeds /g) for H. perforatum and H. brasiliense, respectively. The highest seed germination rate increases were observed with the following temperature regimes: 20 o C or 20-30 ºC (H. perforatum) and 30 ºC (H. brasiliense). White light was required for seed germination in both species; ( 1) Parte da Dissertação de Mestrado da primeira autora, apresentada ao Instituto Agronômico de Campinas, na Área de Concentração Tecnologia da Produção Agrícola, do Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical e Subtropical. Recebido para publicação em 7 de julho de 2003 e aceito em 12 de abril de 2004. ( 2) Centro de Análise e Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Horticultura, do Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP). E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected] ( 3) Laboratório de Sementes, Centro Experimental Central, IAC. E-mail: [email protected] Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.193-199, 2004 194 M.L.B. Faron e al. moreover, light effect was more pronounced in H. brasiliense. In H. perforatum the light effect was strongly marked only at 20-30 ºC while in H. brasiliense it was present in all studied temperature regimes. Germination substrate moistening with potassium nitrate was effective for H. brasiliense but did not affect H. perforatum seed germination. Key words: Hypericum perforatum, Hypericum brasiliense, medicinal plants, seeds, seed dry mass, germination percentage. 1. INTRODUÇÃO O gênero Hypericum, da família Clusiaceae, é composto por 350 espécies e diversas são consideradas medicinais. Dentre elas, a mais conhecida pelas suas reconhecidas propriedades fitoterápicas é a H. perforatum L., nativa da Europa, Ásia e norte da África (C AMPBELL , 1985), conhecida pelos nomes comuns de “St. John’s wort”, erva-de-são-joão, hipérico e outros (LORENZI e MATTOS, 2002). Pesquisas têm indicado seu valor como medicamento para a depressão, especialmente na Alemanha onde, em 1997, os preparados à base de H. perforatum perfaziam 25% de todas as prescrições de antidepressivos (SCHENKEL et al., 2000). Essa espécie é largamente cultivada na Europa, preferindo áreas abertas e ensolaradas, atingindo porte de 0,80 m, com flores amarelo-claras e produzindo uma quantidade satisfatória de sementes; no Brasil, as tentativas de adaptação não foram bem sucedidas, pois não atinge porte adequado, não floresce e, portanto, não produz sementes. A espécie brasileira H. brasiliense Choisy vem sendo estudada farmacologicamente, mostrando propriedades fitoterápicas semelhantes, inclusive com relação ao mesmo efeito antidepressivo relatado em H. perforatum, mantendo várias outras semelhanças morfológicas e químicas com sua congênere européia (ROCHA et al., 1994, 1995, 1996; M ARQUES, 1999; A BREU, 2002). Planta de porte herbáceo a subarbustivo, com distribuição geográfica nos domínios da Mata Atlântica dos Estados do Sul e Sudeste do Brasil. porém ainda não é cultivada (C ARDOSO e O LIVEIRA , 1996). Ocorre, de preferência em áreas úmidas, terrenos perturbados e beiras de estradas, geralmente em populações pequenas(4). Devido à crescente importância farmacológica e ao potencial interesse comercial, H. brasiliense vem sendo estudada também com relação à sua multiplicação in vitro (CARDOSO e OLIVEIRA, 1996), aspectos anatômicos (FERREIRA, 2001), teor de óleos essenciais, comportamento em condições de estresses e estimativas preliminares de sua variabilidade isoenzimática (ABREU, 2002). Não há, porém, relatos na literatura so- ( 4) Observações pessoais dos autores. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.193-199, 2004 bre as exigências de germinação dessa espécie e, portanto, não existem recomendações sobre as condições para o teste de germinação nas Regras para Análise de Sementes – RAS (B RASIL , 1992). Além disso, até mesmo com relação a H. perforatum, muito mais estudada além de comercializada internacionalmente, as recomendações das RAS, para a realização desse teste, deixam a desejar. Não há informações especiais sobre promover a germinação, em caso de dormência, como por exemplo, regime de luz ou aplicação de solução aquosa de nitrato de potássio a 0,2% no substrato de germinação. Nas normas para a execução do teste de germinação de H. perforatum são recomendadas a temperatura constante de 20 ºC ou as alternadas de 20-30 ºC (BRASIL , 1992). Regimes de temperatura, de luz e tratamentos químicos, entre os quais a aplicação de nitrato de potássio, são fatores que afetam a germinação de sementes (POPINIGIS, 1985; CARVALHO e NAKAGAWA, 1988); além disso, podem revelar diversos mecanismos de dormência, exigindo técnicas específicas para sua superação (KHAN, 1977). Esses fatores encontram-se, de certa forma, relacionados com o crescimento inicial, fase vegetativa e ciclo ótimo da planta (POPINIGIS, 1985), além do que são também importantes para a avaliar a qualidade de uma amostra ou lote de sementes, tanto para objetivos de comercialização, semeadura e estabelecimento da cultura como de conservação de germoplasma. As sementes de numerosas espécies de plantas cultivadas ou silvestres apresentam resposta positiva a temperaturas alternadas (ROBERTS , 1972; POPINIGIS , 1985; C AMPBELL, 1985; BRASIL , 1992; SANTOS et al., 1999), muito provavelmente porque simulam as condições naturais, com temperaturas noturnas mais baixas e diurnas mais altas. C AMPBELL (1985), investigando diversos fatores que afetam a germinação de H. perforatum na Austrália, verificou que as sementes recém-colhidas foram beneficiadas pela presença de luz, com acréscimo na germinação de 44% para 70%. No entanto, sementes com nove anos de idade, com bom potencial germinativo, não apresentaram resposta significativa à luz, o que, segundo o autor, está relacionado à perda de dormência. Germinação de sementes de Hypericum perforatum L. e H. brasiliense Choisy O efeito positivo da adição de solução aquosa de nitrato de potássio ao substrato de germinação de sementes é freqüentemente relatado na literatura. Já em 1956, TOOLE et al. salientaram que nitratos são um dos principais agentes de superação de dormência em numerosas espécies. Mais recentemente, G UPTA (2002), estudando diversas espécies de Ocimum, conseguiu a superação da dormência das sementes pela utilização de soluções de nitrato de potássio. Na espécie Plantago major, SARUHAN et al. (2002) aumentaram a germinação ao embeber as sementes em solução de nitrato de potássio a 1 mM ou 10 mM. ROBERTS (1972) afirmou que o efeito isolado do íon nitrato pode ser pouco significativo; no entanto, em interação com luz e, mais ainda, com temperaturas alternadas, o efeito estimulador aumenta fortemente, chegando a mencionar casos em que o nitrato pode até substituir a necessidade de luz. Observações preliminares sobre condições de germinação mostraram, para as duas espécies, que o uso de substrato tipo SP (papel de filtro ao fundo de caixas plásticas transparentes), e da câmara de germinação tipo BOD foram adequados; ademais, dado o tamanho diminuto das sementes e plântulas, as observações e contagens precisaram ser feitas com auxílio de lupa, com aumentos de três a 12 vezes. A germinação foi epígea e a emissão de radícula ocorreu nos primeiros cinco dias, havendo indicativo de efeitos isolados ou combinados de temperatura e luz na germinação de ambas as espécies (dados não publicados). Dada à importância cada vez mais atual de estudos sobre a qualidade fisiológica e física das sementes de espécies medicinais ainda não domesticadas, a completa ausência de informações sobre os requisitos de germinação para H. brasiliense e também por não haver informações mais completas para H. perforatum, o presente trabalho investigou os efeitos de fatores como temperatura, luz e tratamento químico (KNO3) na germinação dessas sementes. Além disso, determinou-se a massa de mil sementes e, por cálculo, o número de sementes por grama, importante dado para indicar o tamanho de lotes, a amostragem, análise da pureza física e estimativa da densidade de semeadura, inclusive para H. perforatum, para a qual as RAS (BRASIL , 1992) são omissas. 2. MATERIAL E MÉTODOS As sementes de H. brasiliense Choisy foram coletadas em Delfim Moreira (MG), em fevereiro de 2001, provenientes de uma população de plantas que cresciam espontaneamente, em solo encharcado, ao redor de um lago natural. As de H. perforatum L. foram adquiridas no mercado em 2002, procedentes da 195 Holanda, cujo rótulo indicava 80% de germinação e 99% de pureza, não necessitando, portanto, de posterior manipulação para aprimorar a pureza. O material proveniente da coleta de H. brasiliense continha grande quantidade de impurezas (partes de flores, restos de frutos, sementes mal formadas e sementes chochas) as quais foram eliminadas com auxílio de peneiras metálicas de perfurações circulares e de fluxo de ar, em ventilador vertical de laboratório, seguido de separação manual para retirar as impurezas remanescentes. As sementes foram mantidas dentro de embalagem de papel, em ambiente de laboratório durante a execução das avaliações. Determinou-se o teor de água pelo método da estufa a 105 ºC por 24 horas, utilizando-se duas subamostras de 0,5 g de sementes cada uma e os resultados foram expressos com base na massa úmida (BRASIL , 1992). As indicações da massa de mil sementes seguiram as recomendações da RAS (Brasil, 1992), com a diferença de que foram realizadas com oito subamostras de mil sementes cada uma, ao invés de oito de cem, devido à diminuta massa de cem sementes dessas duas espécies. As avaliações de germinação foram realizadas com quatro repetições de 50 sementes cada uma, distribuídas sobre substrato especial de germinação do tipo mata-borrão, colocado dentro de caixas plásticas transparentes, umedecido com um volume de água (9,5 mL) igual a 2,5 vezes a sua massa e mantido em germinador tipo BOD; as avaliações e contagens das sementes com protrusão de radícula foram feitas aos 7, 10, 14, 17 e 21 dias após a semeadura. As temperaturas estudadas foram as constantes de 20 ºC, 25 ºC e 30 ºC e as alternadas de 20-30 ºC (20 ºC por 16 horas e 30 ºC por oito horas). No caso da aplicação de luz, foi feita por 16 horas em todas as temperaturas e no período da temperatura alternada de 30 ºC. No caso da germinação em ausência de luz (no escuro) as caixas transparentes respectivas foram envoltas em filme plástico preto de 0,15 mm de espessura, para vedar totalmente a passagem da luz. Nos tratamentos que envolveram ausência de luz, as avaliações e contagens foram feitas em câmara escura, sob luz verde, nos períodos acima mencionados. No estudo do efeito de nitrato de potássio, ao invés de água, o substrato foi umedecido com solução aquosa de KNO3 a 0,2%, nas mesmas proporções mencionadas. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.193-199, 2004 196 M.L.B. Faron e al. O delineamento foi o inteiramente casualizado, em esquema fatorial 4 x 2 x 2, ou seja, quatro temperaturas, dois regimes de luz (presença ou ausência) e duas formas de aplicação de KNO 3 (presença ou ausência), com quatro repetições para cada espécie. Na análise estatística, as porcentagens de germinação foram transformadas em arcsen x / 100 , porém, nas tabelas e figuras, estão apresentados os dados originais. A comparação de médias foi feita pelo teste de Tukey a 5%. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO O diminuto tamanho dessas sementes foi revelado pelas determinações da massa de mil sementes, de 0,13 g (7.692 sementes por grama) e 0,02 g (50.000 sementes por grama), na umidade de 5,8% e de 6,8%, respectivamente, para H. perforatum e H. brasiliense. Esses resultados colocam as sementes dessas duas espécies no grupo das mais leves que constam nas RAS (BRASIL, 1992); nenhuma delas é tão ou mais leve que as de H. brasiliense. Os resultados das indicações de germinação, correspondentes aos efeitos significativos dos fatores isolados ou em combinação, estão expostos na tabela 1 e nas figuras 1 e 2. Houve variação na resposta das duas espécies com relação à temperatura. Em H. perforatum, as porcentagens de germinação foram significativamente maiores nas temperaturas mais baixas e nas alternadas de 20-30 ºC, em que a temperatura mais baixa (20ºC) foi aplicada por 16 horas a cada 24 horas (Tabela 1). Por outro lado, a temperatura de 20 ºC não foi favorável à germinação de H. brasiliense, sendo apenas de 13,0%; a temperaturas mais altas, porém, houve tendência de aumento gradativo da germinação; o maior valor absoluto foi obtido a 20-30 ºC que, no entanto, não diferiu estatisticamente de 30 ºC. Esses resultados contrastantes dos efeitos da temperatura nas duas espécies são muito interessantes quando considerados do ponto de vista ecológico e evolutivo. H. perforatum é espécie originária de regiões temperadas e, provavelmente, mantém características evolutivas adaptadas àquelas regiões, sendo a temperatura menor mais eficiente para promover a germinação de suas sementes. Uma espécie originária de regiões subtropicais, como a H. brasiliense, ainda que do mesmo gênero, deve responder melhor a temperaturas altas do que uma de clima temperado, hipótese que encontra evidências nos resultados deste trabalho. Vale lembrar que as Regras para Análise de Sementes – RAS (BRASIL , 1992), que mencionam apenas H. perforatum, recomendam, para Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.193-199, 2004 o teste oficial de germinação dessa espécie, as temperaturas de 20-30 ºC e 20 ºC, sendo as que produziram os melhores resultados, no presente trabalho, para essa espécie. Dos fatores testados, a presença de luz foi o mais importante a influenciar a germinação das duas espécies. Os tratamentos que simularam fotoperíodo de oito horas de luz e 16 horas no escuro melhoraram significativamente a média de germinação do H. perforatum de 20,1 para 30,6%, mas foi na espécie H. brasiliense que a presença de luz mostrou efeito ainda mais substancial, provocando aumento, na média de germinação, de quase cinco vezes, passando de apenas 7,2% para 34,1% (Tabela 1). Os resultados de promoção da germinação de H. perforatum por meio de luz confirmam aqueles obtidos por CAMPBELL (1985). P OPINIGIS (1985) afirmou que as sementes da maioria das plantas cultivadas germinam igualmente no escuro ou em presença de luz; porém, quando há exigência de luz para a germinação, o que ocorre para numerosas espécies (BRASIL, 1992), esse comportamento está relacionado a um tipo de dormência. Algumas espécies, mesmo depois de domesticadas, mantém o requerimento de luz para germinar, como por exemplo Chamomila recutita e Stevia rebaudiana, da família das Asteráceas, cujas sementes tão diminutas são incapazes de romper camadas de solo e atingir a superfície com a pequena quantidade de material de reserva que possuem. Dessa forma, essas espécies têm que obrigatoriamente germinar sobre o solo onde se estabelecerão e é razoável a hipótese de ser o estímulo luminoso que sinaliza essa situação. É possível que H. brasiliense, uma espécie não domesticada e que também possui sementes extremamente diminutas, apresente o mesmo mecanismo de dormência. A esse respeito, é prescrição generalizada das RAS (B RASIL , 1992) a utilização de luz para realizar os testes de germinação em numerosas gramíneas forrageiras, hortaliças, ornamentais e medicinais, cujas sementes são comumente pequenas. O umedecimento do substrato de germinação com solução aquosa de KNO3 a 0,2% aumentou a germinação de H. brasiliense, mas não produziu efeito significativo em H. perforatum (Tabela 1). A maioria das centenas de espécies de valor econômico contidas nas RAS (B RASIL , 1992), sobretudo as das grandes culturas, não reagem ao nitrato de potássio; no entanto, a aplicação desse estimulante é freqüentemente recomendada para testes de germinação de sementes de gramíneas forrageiras, hortaliças e ornamentais, mostrando que o efeito de KNO 3 realmente difere significamente entre espécies. B ITHELL et al. (2002), estudando superação da dormência em sementes de Solanum nigrum e S. physalifolium, conseguiram al- 197 Germinação de sementes de Hypericum perforatum L. e H. brasiliense Choisy guma germinação apenas na segunda espécie, quando umedeceram o substrato com solução de nitrato de potássio a 0,2%. varie não somente com a espécie, mas também com a idade cronológica da semente, conforme observado por CAMPBELL (1985) em H. perforatum. No Brasil, LAGO (1974) verificou efeitos substanciais da aplicação de nitrato de potássio na germinação de sementes da gramínea forrageira Brachiaria brizantha Stapf. Esse tratamento pode também ser benéfico para sementes de espécies silvestres. HUXLEY e TURK (1966), estudando diversas espécies de plantas daninhas africanas, observaram que, mesmo em presença de luz, a adição de 0,2% de KNO 3 ao substrato promoveu aumento na germinação em duas das espécies estudadas, ou seja, Tagetes minuta e Euphorbia hirta. Da mesma forma que ocorre com o requerimento de luz, é provável que o efeito do KNO3 Estudando as interações dos efeitos de temperatura e luz (Figuras 1 e 2) constatou-se que, em H. perforatum, não houve efeito de luz na temperatura mais baixa de 20 ºC; esse efeito foi pouco pronunciado a 25 e 30 ºC e bem marcante à temperatura alternada de 20-30 ºC. Por outro lado, em H. brasiliense, a luz foi altamente benéfica em todas as temperaturas estudadas; na temperatura pouco favorável de 20 ºC, a germinação em ausência de luz foi praticamente nula, só ocorrendo em valores significativos quando a luz foi aplicada. Tabela 1. Porcentagens de germinação de sementes de Hypericum perforatum e H. brasiliense em resposta a efeitos isolados de temperatura, luz e nitrato de potássio Efeito H. perforatum Temperatura (ºC) 20 H. brasiliense Germinação (%) 29,6 a 13,0 b 25 27,6 a 19,5 a 30 13,9 b 22,6 a 20-30 30,1 a 27,5 a Sem 20,1 b 7,2 b Com 30,6 a 34,1 a Sem 17,7 b 24,3 a Com 23,6 a 26,3 a Luz KNO3 Médias seguidas de mesma letra , nas colunas e dentro de um mesmo tipo de efeito, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%. Figura 1. Efeito de temperatura e luz na germinação de Hypericum perforatum. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.193-199, 2004 198 M.L.B. Faron e al. Figura 2. Efeito de temperatura e luz na germinação de Hypericum brasiliense. 4. CONCLUSÕES 1. As espécies H. perforatum e H. brasiliense possuem sementes de tamanho muito reduzido, com massa de mil sementes de 0,13 e 0,02 g respectivamente; H. brasiliense, cujas sementes são mais diminutas do que a menor semente encontrada nas RAS, é provavelmente a espécie mais leve já descrita no Brasil. 2. A presença de luz, disponível às sementes em fotoperíodos de 16 horas, foi necessária para a germinação de ambas as espécies; seu efeito foi mais pronunciado em H. brasiliense, espécie com menor grau de domesticação que H. perforatum. 3. As temperaturas que mais beneficiaram as espécies foram as alternadas de 20-30 ºC para ambas as espécies ou constantes de 20 ºC para H. perforatum e 30 ºC para H. brasiliense. 4. O umedecimento do substrato com solução aquosa de nitrato de potássio a 0,2% favoreceu a germinação de H. brasiliense , mas não afetou H. perforatum. REFERÊNCIAS ABREU, I. N. 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AGRADECIMENTOS Aos técnicos do Laboratório de Sementes do Centro Experimental Central do IAC pela ajuda na execução dos ensaios; à Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (FUNDAG) pelo apoio financeiro ao projeto e aos revisores anônimos que deram valiosas contribuições e sugestões. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.193-199, 2004 GUPTA, S.C. Seed dormancy studies in some Ocimum species and its control through chemical treatment. Journal of Medicinal and Aromatic Plant Sciences, Lucknow, v.24, n.4, p.957960, 2002. HUXLEY, P.A.; TURK, A. Factors which affect the germination of six common East African weeds. Experimental Agriculture, Cambridge, v.2, n.1, p.17-25, 1966. Germinação de sementes de Hypericum perforatum L. e H. brasiliense Choisy 199 KHAN, A.A. The physiology and biochemistry of seed dormancy and germination. Amsterdam: Elsevier/NorthHolland, 1977. 447p. ROCHA, L.; MARSTON, A.; POTTERAT, O.; KAPLAN, M.; HOSTETTMANN, K. More phoroglucinois from Hypericum brasiliense. 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Neste trabalho, foi estudada a influência do número de subcultivos na indução de variantes em bananeira, cultivar Pacovan (Musa spp., grupo AAB). Ápices caulinares foram introduzidos e multiplicados in vitro, utilizando-se no estabelecimento o meio de cultura MS com adição de 2,5 mg.L-1 de BAP e nos subcultivos subseqüentes, o meio MS com 4,0 mg.L-1 de BAP para indução de brotações laterais. Foram obtidas gerações com diferentes números de subcultivos (3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9), e comparadas com mudas obtidas de rizomas. Observaram-se as plantas obtidas, no total de 426, em condições de campo no Vale do Açu (RN). Para cálculo da porcentagem de variantes somaclonais, avaliaram-se as seguintes características morfológicas: estatura da planta, coloração e forma das folhas e conformação do cacho. Foram consideradas como variantes apenas as plantas cujos perfilhos também mostravam o mesmo tipo de variação. Constatou-se a ocorrência de variação somaclonal nas mudas provenientes dos tratamentos a partir de cinco subcultivos, atingindo-se o valor de 5,8% de variantes no nono subcultivo. O aumento da porcentagem de variação somaclonal com o do número de subcultivos indica o cuidado que as biofábricas devem ter em relação a esse parâmetro, desenvolvendo protocolos de micropropagação específicos para cada cultivar a ser comercializada. Palavras-chave: produção de mudas, Musa spp, in vitro, variação somaclonal. ABSTRACT The occurrence of somaclonal variation for plants in developed from tissue culture is well documented in the literature. The present study evaluated the influence of numbers subculture in the induction of variants in Pacovan banana tree (Musa spp., AAB group). Apex stems were introduced and multiplied in vitro using culture media MS, with addition of 2.5 mg.L-1 of BAP. In subsequent subcultures, MS with 4.0 mg.L-1 of BAP was used to induce side buds. Results showed that plants were regenerated with different numbers of subculture (3, 4, 5, 6, 7, 8, and 9). These data were compared with seedlings from developed rhizomes. All the plants, were observed at field conditions in Vale do Açu, Rio Grande do Norte State. The percentage of somaclonal variants, some was estimated using morphological characteristics, such as plant size, color and shape of leaves and bunch shape. Only plants in which buds showed the same type of variation were considered as variables. Somaclonal variation occurred from the fifth subculture, and on the 9th subculture a 5.8% variation was observed. The increase of percentage of somaclonal variation, due to a higher number of subcultures, indicates the necessity of protocols for micropropagation specific for each variety to be commercialized. Key words: seedling production, banana, in vitro, somaclonal variation. 1. INTRODUÇÃO Com a utilização da técnica de micropropagação, mudas de bananeira provenientes de cultura de tecidos são produzidas e colocadas à disposição do agricultor. Ainda hoje, a falta de domínio dessa tecnologia, para algumas cultivares regionais de bananeira, é responsável pela colocação no mercado de mudas de qualidade duvidosa, trazendo prejuízos aos agricultores devido à ocorrência de alta taxa de variação somaclonal. Segundo KARP (1994), o aparecimento de variações incontroláveis e inexplicáveis, em plantas produzidas por essa tecnologia, é um fator inesperado e indesejado para empresários e agricultores. Estudos sobre os fatores que podem influenciar a taxa de variação somaclonal no processo de micropropagação, descritos por SCOWCROFT (1984) e GEORGE e SHERRINGTON (1984), mostraram que o aparecimento de calos em determinada fase do processo de micropropagação, relaciona-se com a taxa de variação somaclonal, bem como períodos prolongados de cultivo in vitro. Foi observada ainda, a diferença na taxa de variação somaclonal em diferentes genótipos de bananeira para um mesmo protocolo de multiplicação, mostrando diferenças de comportamento dos genótipos ao cultivo in vitro. Com relação ao número de subcultivos in vitro, alguns autores foram enfáticos em afirmar, que se trata de um fator importante no controle da ocorrência de variação somaclonal. REUVENI et al. (1986) sugeriram que o número máximo de plantas obtido a partir de um ápice caulinar deve ser de aproximadamente 1.000 plantas para a cv. Willians (grupo AAA). KRIKORIAN et al. (1993) sem especificar números, sugeriram que possa ocorrer influência do número excessivo de subcultivos in vitro no aumento da taxa de variação somaclonal. Trabalhando com uma população representativa de bananeira cv. Grande Naine, micropropagadas in vitro, STOVER (1987) encontrou aproximadamente 25% de plantas atípicas ou variantes. Segundo seus relatos, alguns tipos de variações se manifestaram cinco ou seis meses após o plantio ou a floração. A variação mais comumente encontrada foi com relação ao porte, variando de baixo ao gigantismo. Avaliando as variantes somaclonais com relação à morfologia, SMITH (1988) encontrou plantas com estatura anormal, de porte baixo ou mini e até gigantismo; as folhas apresentavam forma afilada (característica tetraplóide), coloração variegada semelhante a um mosaico virótico, ondulações laterais e ausência de cerosidade no limbo foliar. No experimento de campo realizado por VUYLSTKE et al. (1996), o desempenho de plantas variantes do grupo AAB foi avaliada com relação às características agronômicas. Cerca de três de cada quatro variantes apresentavam desenvolvimento inferior ao de plantas normais. A cultivar Nanicão, estudada por RODRIGUES et al. (1998), no Vale do Ribeira (SP), apresentou aumento da taxa de variação somaclonal com o do número de subcultivos in vitro, ocorrendo as primeiras variantes a partir do nono subcultivo. Nesse trabalho, que avaliou em condições de campo 1.991 mudas produzidas em diferentes subcultivos, foram observados diferentes tipos de variantes somaclonais, sendo o mais comum o VMIF (Variante Morfológica da Inserção da Folha no Pseudocaule) responsável por redução significativa na produção. O objetivo do presente trabalho foi observar a influência do número de subcultivos durante o processo de multiplicação in vitro, da cultivar Pacovan, na taxa de variação somaclonal em mudas produzidas e destinadas ao plantio comercial. 2. MATERIAL E MÉTODOS O material utilizado como matriz no processo de micropropagação constituiu-se de rizomas (brotos laterais), da cv. Pacovan (grupo AAB). Foram selecionados 20 rizomas, retiradas as folhas externas, até atingir, aproximadamente, 7,0 cm de comprimento por 2,5 cm de diâmetro. Os rizomas foram mergulhados em solução de água e hipoclorito de sódio (2% de cloro ativo), na proporção de 3:1, por aproximadamente 25 minutos. Após o tratamento asséptico, os rizomas foram lavados com água destilada estéril (4 vezes), no interior de câmara de fluxo laminar. Após a assepsia, com o auxílio de pinça e bisturi, isolou-se o ápice caulinar, constituído de duas a três folhas, envolvendo o meristema e um pequeno segmento de rizoma. Os ápices caulinares foram submetidos à inoculação em meio de cultura MS (MURASHIGE e SKOOG, 1962), sólido (6,0 g.L-1 de agar), suplementado com vitaminas de MS, sacarose (30,0 g.L-1), 6-benziladenina (2,5 mg.L-1), pH ajustado para 5,8 e incubado à temperatura média de 26 ºC e fotoperíodo de 16 horas de luz. Os subcultivos dos explantes, para a formação das diferentes gerações a serem testadas no experimento, iniciaram-se com a transferência dos explantes para meio de cultura com sais e vitaminas de MS suplementado com 4,0 mg.L-1 de BAP, para indução de brotações laterais nas mesmas condições de temperatura e fotoperíodo citados anteriormente. A partir do segundo subcultivo e com a certeza de não ocorrer contaminações, foram selecionados sete ápices caulinares, isolando e subcultivando os explantes, em meio de cultura fresco, ocorrendo subcultivos a intervalos de quatro semanas. Cada ápice caulinar foi subcultivado um número predeterminado de vezes formando tratamentos com 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9 subcultivos, cujas plantas obtidas durante o processo foram utilizadas para indução de novas brotações. À medida que o número de subcultivos de cada geração foi sendo atingido, as plântulas foram transferidas para frascos contendo meio de cultura de enraizamento, constituído de meio de cultura básico, com metade da concentração de sais de MS, sólido (6,0 g.L-1 de agar), vitaminas MS, sacarose (30,0 g.L-1) e de IBA (ácido indolbutírico) 0,2 mg.L-1, onde permaneceram por aproximadamente 20 dias, ou até atingirem enraizamento e alongamento satisfatórios. Depois de atingirem o estádio desejado (7,0 a 10,0 cm), as plântulas foram transferidas para caixas plásticas contendo vermiculita e mantidas em câmara úmida, com uso de nebulizadores por cinco dias. Após a aclimatização, as mudas foram transferidas para bandejas plásticas de 24 células, contendo substrato estéril PlantiMax (horticultura), misturado a 2% da formulação 10-10-10, permanecendo por 21 dias em viveiro com sombrite 50%. A testemunha constituiu-se de 48 rizomas, coletados no próprio local do experimento, localizado no Lote 78 do Distrito de Irrigação do Baixo Açu, município de Alto do RODRIGUES, Vale do Açu (RN). À medida que os tratamentos foram sendo obtidos, realizou-se seu plantio em julho de 2001. Cada tratamento foi plantado em lotes, compostos por linhas contíguas em espaçamento de 3,5 x 2,20 m, os quais receberam individualmente adubação de plantio e os tratos culturais normais de manutenção do pomar, inclusive irrigação por microaspersão. Não foi possível montar um delineamento experimental convencional, mesmo sem a inclusão de repetições, devido ao diferente número de plantas obtido de cada tratamento e a necessidade de realizar o plantio dentro de época apropriada. As avaliações foram mensais e consistiram em observar planta por planta, no intuito de se encontrar algum tipo de variação morfológica. Durante a avaliação, observaram-se características morfológicas variantes com relação à inserção das folhas no pseudocaule, formas da folha, variação da clorofila na folha, retardamento no desenvolvimento, interação dessas características e características gerais do cacho, como tamanho de dedo e número de pencas/cacho. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao término da fase de laboratório e aclimatização, formaram-se os sete tratamentos de gerações de plantas obtidas através de 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9 subcultivos, com total de 426 plantas da cv. Pacovan, como demonstra a Tabela 1. Após as diversas avaliações, os seguintes tipos de variantes somaclonais foram identificados: 1. Variante de Cacho (VC) - caracteriza-se por apresentar a planta com as propriedades morfológicas normais da cv. Pacovan, como altura da planta, coloração e forma das folhas e pseudocaule, exceto pela conformação do cacho. Nesse caso, o cacho da variante apresenta-se com número médio de cinco pencas/cacho e dedos da segunda penca com tamanho médio de 14,4 cm, enquanto o controle apresenta cacho com número médio de oito pencas/cacho e dedos da segunda penca com tamanho médio de 22,1 cm, normal para o primeiro ciclo de cultivo dessa cultivar irrigada. O menor número de pencas/cacho e o tamanho reduzido dos dedos com conseqüente diminuição da massa, em média de 26%, faz com que esse cacho seja classificado como de segunda, tendo pouco valor comercial e acarretando prejuízo ao agricultor. 2. Variante Variegada (VV) - caracteriza-se por apresentar variegações em todas as partes da planta, das folhas ao pseudocaule incluindo o cacho. A produção é inexpressiva, uma vez que o cacho apresenta tamanho reduzido e danos por queimadura solar devido a pouca clorofila existente na planta. Os descendentes apresentam o mesmo tipo de variegação dessa planta que revela potencial para ornamentação. 3. Variante Morfológica da Forma da Folha associada a uma Variação da Clorofila na Folha (VMFF - VCF) - caracteriza-se pelo estreitamento do limbo foliar com um afilamento pronunciado na ponta da folha, deixando-a com forma lanceolada. Associada a essa característica, um dos lados da folha, geralmente o direito para quem vê a folha pela face inferior, é menor e com variegações acompanhando toda a extensão de sua borda. Em sua face superior, podem ser observadas pequenas manchas de coloração negra semelhante a queimaduras. A extremidade da borda que circunda toda a folha é ligeiramente mais grossa, dando um aspecto serrilhado a essa estrutura. A área foliar é menor que uma folha de planta normal. 4. Variante da Coloração do Pseudocaule (VCP) - caracteriza-se por apresentar coloração negra e brilhante no pseudocaule, acompanhando o engaço em tom opaco até chegar nas flores. Fica bem evidente a diferença da coloração quando comparada ao controle que possui tonalidade verde-clara e opaca. Pela Tabela 1 verificam-se os tipos de variantes encontrados e a porcentagem de variação somaclonal total para cada tratamento estudado na cv. Pacovan. Observa-se que até em 5 subcultivos (F5) não houve a ocorrência de variantes e que a partir do 6.º subcultivo (F6) foram detectadas variantes (4,8%), atingindo o máximo de 5,8% em nove subcultivos (F9). A variante mais comum encontrada foi do tipo VC, que apresentou modificações morfológicas no cacho. Os tipos de variantes classificados como VMFF-VCF e VCP, estudados no presente trabalho, foram também observados por SMITH (1988) e RODRIGUES et al (1998), na caracterização de variantes somaclonais em mudas de bananeira in vitro. O aumento da porcentagem da variação somaclonal, em vista do número de subcultivos, foi relatado também por SCOWCROFT (1984) e GEORGE e SHERRINGTON (1984), sendo um dos fatores responsáveis pela ocorrência de anomalias em plantas micropropagadas. Tais resultados mostram que as biofábricas devem ter um total controle desse parâmetro, pois como demonstrou YUYLSTEKE (1996), a maioria das variantes apresentaram desempenho inferior ao de uma planta normal. Os resultados do presente trabalho revelam que para obtenção de mudas de bananeira da cv. Pacovan com qualidade genética deve-se micropropagar um ápice caulinar até cinco subcultivos. A mesma preocupação foi demonstrada por KRIKORIAN et al. (1993), no controle do número de subcultivos, para a manutenção da qualidade da muda. Para REUVENI et al. (1986) o número de plantas obtidas a partir de um ápice caulinar de uma triplóide AAA, não deve ultrapassar a 1.000 plantas, mantendo-se assim a qualidade genética da muda micropropagada. Deve-se ressaltar que RODRIGUES et al (1998), trabalhando com a cv. Nanicão, obtiveram resultado semelhante com relação à influência do número de subcultivos e o aumento da taxa de variação somaclonal, recomendando até sete subcultivos para essa cultivar. No presente trabalho, apesar de indicar a mesma tendência de aumento da variação somaclonal em vista do número de subcultivos, fica demonstrado que a cv. Pacovan (AAB) possui um comportamento in vitro diferente da cv. Nanicão (AAA). Enquanto na cv. Nanicão as variantes aparecem a partir de nove subcultivos (RODRIGUES et al, 1998), na cv. Pacovan, no sexto subcultivo, ocorre o aparecimento de plantas indesejáveis na porcentagem de 4,8%, chegando a 5,8% no nono subcultivo, taxa superior quando comparada à cv. Nanicão, que apresentou 2,2% também no nono. Além de diferentes taxas de variação somaclonal entre as cultivares, observaram-se tipos de variantes que não foram encontrados na cv. Nanicão, bem como variantes dessa cultivar também não encontradas na 'Pacovan'. A variante VC, mais comum para a cv. Pacovan, não ocorre na 'Nanicão' e a VMIF (Variante Morfológica da Inserção da Folha no Pseudocaule), típica da triplóide AAA Nanicão (RODRIGUES et al., 1998) não ocorre na triplóide AAB Pacovan. Portanto o genótipo utilizado deve ser considerado em trabalhos de micropropagação de bananeira, principalmente quando se visa à produção comercial de mudas. Como na presente pesquisa, observou-se que os perfilhos apresentavam as mesmas características das variantes, excluiu-se então a possibilidade de outros fatores serem responsáveis pelas modificações encontradas. Apesar disso, os autores reconhecem que outros testes (análise molecular) podem ser realizados para a comprovação final. Os estudos revelam o risco que corre o agricultor ao plantar mudas micropropagadas, adquiridas de biofábricas que não observem as condições adequadas para micropropagação, incluindo o número de subcultivos, pois pode haver alta porcentagem de variantes somaclonais, comprometendo não somente a primeira colheita. 4. CONCLUSÕES 1. A porcentagem de variação somaclonal aumenta com o número de subcultivos e, portanto, as biofábricas devem limitar o número de subcultivos para obtenção de mudas de alta qualidade genética. 2. Para cada cultivar de bananeira deve-se aplicar um procedimento diferenciado no processo de micropropagação, considerando os diferentes genótipos, a fim de se evitar alterações na qualidade genética da muda. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a CAPES pela concessão das bolsas aos autores, ao Distrito de Irrigação do Baixo Açu (DIBA) – RN, pela cessão de área experimental e a BioCampo Biotecnologia Agrícola Ltda., pelo apoio técnico na produção das mudas. 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American Journal Society for Horticultural Science, Alexandria, v.121, n.1, p.42-46, 1996. Recebido para publicação em 3 de fevereiro de 2003 e aceito em 15 de abril de 2004 Variação somaclonal em mudas micropropagadas de bananeira 201 VARIAÇÃO SOMACLONAL EM MUDAS MICROPROPAGADAS DE BANANEIRA, CULTIVAR PACOVAN (1) CYNTHIA CHRISTINA CARVALHO DOS SANTOS(2); PAULO HERCÍLIO VIEGAS RODRIGUES(3) RESUMO A literatura tem relatado a ocorrência de variação somaclonal em plantas derivadas de cultura de tecidos. Neste trabalho, foi estudada a influência do número de subcultivos na indução de variantes em bananeira, cultivar Pacovan (Musa spp., grupo AAB). Ápices caulinares foram introduzidos e multiplicados in vitro, utilizando-se no estabelecimento o meio de cultura MS com adição de 2,5 mg.L-1 de BAP e nos subcultivos subseqüentes, o meio MS com 4,0 mg.L-1 de BAP para indução de brotações laterais. Foram obtidas gerações com diferentes números de subcultivos (3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9), e comparadas com mudas obtidas de rizomas. Observaram-se as plantas obtidas, no total de 426, em condições de campo no Vale do Açu (RN). Para cálculo da porcentagem de variantes somaclonais, avaliaram-se as seguintes características morfológicas: estatura da planta, coloração e forma das folhas e conformação do cacho. Foram consideradas como variantes apenas as plantas cujos perfilhos também mostravam o mesmo tipo de variação. Constatou-se a ocorrência de variação somaclonal nas mudas provenientes dos tratamentos a partir de cinco subcultivos, atingindo-se o valor de 5,8% de variantes no nono subcultivo. O aumento da porcentagem de variação somaclonal com o do número de subcultivos indica o cuidado que as biofábricas devem ter em relação a esse parâmetro, desenvolvendo protocolos de micropropagação específicos para cada cultivar a ser comercializada. Palavras-chave: produção de mudas, Musa spp, in vitro, variação somaclonal. ABSTRACT SOMACLONAL VARIATION EVENT ON MICROPROPAGATED PACOVAN BANANA SEEDLING (Musa spp. AAB group) The occurrence of somaclonal variation for plants in developed from tissue culture is well documented in the literature. The present study evaluated the influence of numbers subculture in the induction of variants in Pacovan banana tree (Musa spp., AAB group). Apex stems were introduced and multiplied in vitro using culture media MS, with addition of 2.5 mg.L-1 of BAP. In subsequent subcultures, MS with 4.0 mg.L-1 of BAP was used to induce side buds. Results showed that plants were regenerated with different numbers of subculture (3, 4, 5, 6, 7, 8, and 9). These data were compared with seedlings from developed rhizomes. All the plants, were observed at field conditions in Vale do Açu, Rio Grande do Norte State. The percentage of somaclonal variants, some was estimated using morphological characteristics, such as plant size, color and shape of leaves and bunch shape. Only plants in which buds ( 1) Recebido para publicação em 3 de fevereiro de 2003 e aceito em 15 de abril de 2004. ( 2) Departamento de Biologia Celular e Genética, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Av. Senador Salgado Filho, Campus Universitário, Lagoa Nova, BR 101, 59078-970 Natal (RN). ( 3) Laboratório de Cultura de Tecidos Vegetais (PPGBMG/UFRN/BioCampo, Alameda das mansões, 1.178, Candelária, 59067-000 Natal (RN). E-mail: [email protected] Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.201-205, 2004 202 C.C.C. Santos e P.H.V. Rodrigues showed the same type of variation were considered as variables. Somaclonal variation occurred from the fifth subculture, and on the 9 th subculture a 5.8% variation was observed. The increase of percentage of somaclonal variation, due to a higher number of subcultures, indicates the necessity of protocols for micropropagation specific for each variety to be commercialized. Key words: seedling production, banana, in vitro, somaclonal variation. 1. INTRODUÇÃO Com a utilização da técnica de micropropagação, mudas de bananeira provenientes de cultura de tecidos são produzidas e colocadas à disposição do agricultor. Ainda hoje, a falta de domínio dessa tecnologia, para algumas cultivares regionais de bananeira, é responsável pela colocação no mercado de mudas de qualidade duvidosa, trazendo prejuízos aos agricultores devido à ocorrência de alta taxa de variação somaclonal. Segundo K ARP (1994), o aparecimento de variações incontroláveis e inexplicáveis, em plantas produzidas por essa tecnologia, é um fator inesperado e indesejado para empresários e agricultores. Estudos sobre os fatores que podem influenciar a taxa de variação somaclonal no processo de micropropagação, descritos por SCOWCROFT (1984) e GEORGE e SHERRINGTON (1984), mostraram que o aparecimento de calos em determinada fase do processo de micropropagação, relaciona-se com a taxa de variação somaclonal, bem como períodos prolongados de cultivo in vitro. Foi observada ainda, a diferença na taxa de variação somaclonal em diferentes genótipos de bananeira para um mesmo protocolo de multiplicação, mostrando diferenças de comportamento dos genótipos ao cultivo in vitro. Com relação ao número de subcultivos in vitro, alguns autores foram enfáticos em afirmar, que se trata de um fator importante no controle da ocorrência de variação somaclonal. REUVENI et al. (1986) sugeriram que o número máximo de plantas obtido a partir de um ápice caulinar deve ser de aproximadamente 1.000 plantas para a cv. Willians (grupo AAA). KRIKORIAN et al. (1993) sem especificar números, sugeriram que possa ocorrer influência do número excessivo de subcultivos in vitro no aumento da taxa de variação somaclonal. Trabalhando com uma população representativa de bananeira cv. Grande Naine, micropropagadas in vitro, STOVER (1987) encontrou aproximadamente 25% de plantas atípicas ou variantes. Segundo seus relatos, alguns tipos de variações se manifestaram cinco ou seis meses após o plantio ou a floração. A variação mais comumente encontrada foi com relação ao porte, variando de baixo ao gigantismo. Avaliando as variantes somaclonais com relação à morfologia, Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.201-205, 2004 SMITH (1988) encontrou plantas com estatura anormal, de porte baixo ou mini e até gigantismo; as folhas apresentavam forma afilada (característica tetraplóide), coloração variegada semelhante a um mosaico virótico, ondulações laterais e ausência de cerosidade no limbo foliar. No experimento de campo realizado por VUYLSTKE et al. (1996), o desempenho de plantas variantes do grupo AAB foi avaliada com relação às características agronômicas. Cerca de três de cada quatro variantes apresentavam desenvolvimento inferior ao de plantas normais. A cultivar Nanicão, estudada por RODRIGUES et al. (1998), no Vale do Ribeira (SP), apresentou aumento da taxa de variação somaclonal com o do número de subcultivos in vitro, ocorrendo as primeiras variantes a partir do nono subcultivo. Nesse trabalho, que avaliou em condições de campo 1.991 mudas produzidas em diferentes subcultivos, foram observados diferentes tipos de variantes somaclonais, sendo o mais comum o VMIF (Variante Morfológica da Inserção da Folha no Pseudocaule) responsável por redução significativa na produção. O objetivo do presente trabalho foi observar a influência do número de subcultivos durante o processo de multiplicação in vitro, da cultivar Pacovan, na taxa de variação somaclonal em mudas produzidas e destinadas ao plantio comercial. 2. MATERIAL E MÉTODOS O material utilizado como matriz no processo de micropropagação constituiu-se de rizomas (brotos laterais), da cv. Pacovan (grupo AAB). Foram selecionados 20 rizomas, retiradas as folhas externas, até atingir, aproximadamente, 7,0 cm de comprimento por 2,5 cm de diâmetro. Os rizomas foram mergulhados em solução de água e hipoclorito de sódio (2% de cloro ativo), na proporção de 3:1, por aproximadamente 25 minutos. Após o tratamento asséptico, os rizomas foram lavados com água destilada estéril (4 vezes), no interior de câmara de fluxo laminar. Após a assepsia, com o auxílio de pinça e bisturi, isolou-se o ápice caulinar, constituído de duas a três folhas, envolvendo o meristema e um pequeno segmento de rizoma. Variação somaclonal em mudas micropropagadas de bananeira 203 Os ápices caulinares foram submetidos à inoculação em meio de cultura MS (MURASHIGE e SKOOG, 1962), sólido (6,0 g.L -1 de agar), suplementado com vitaminas de MS, sacarose (30,0 g.L -1), 6-benziladenina (2,5 mg.L -1), pH ajustado para 5,8 e incubado à temperatura média de 26 oC e fotoperíodo de 16 horas de luz. tratos culturais normais de manutenção do pomar, inclusive irrigação por microaspersão. Os subcultivos dos explantes, para a formação das diferentes gerações a serem testadas no experimento, iniciaram-se com a transferência dos explantes para meio de cultura com sais e vitaminas de MS suplementado com 4,0 mg.L -1 de BAP, para indução de brotações laterais nas mesmas condições de temperatura e fotoperíodo citados anteriormente. As avaliações foram mensais e consistiram em observar planta por planta, no intuito de se encontrar algum tipo de variação morfológica. A partir do segundo subcultivo e com a certeza de não ocorrer contaminações, foram selecionados sete ápices caulinares, isolando e subcultivando os explantes, em meio de cultura fresco, ocorrendo subcultivos a intervalos de quatro semanas. Cada ápice caulinar foi subcultivado um número predeterminado de vezes formando tratamentos com 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9 subcultivos, cujas plantas obtidas durante o processo foram utilizadas para indução de novas brotações. À medida que o número de subcultivos de cada geração foi sendo atingido, as plântulas foram transferidas para frascos contendo meio de cultura de enraizamento, constituído de meio de cultura básico, com metade da concentração de sais de MS, sólido (6,0 g.L-1 de agar), vitaminas MS, sacarose (30,0 g.L -1) e de IBA (ácido indolbutírico) 0,2 mg.L-1, onde permaneceram por aproximadamente 20 dias, ou até atingirem enraizamento e alongamento satisfatórios. Depois de atingirem o estádio desejado (7,0 a 10,0 cm), as plântulas foram transferidas para caixas plásticas contendo vermiculita e mantidas em câmara úmida, com uso de nebulizadores por cinco dias. Após a aclimatização, as mudas foram transferidas para bandejas plásticas de 24 células, contendo substrato estéril PlantiMax (horticultura), misturado a 2% da formulação 10-10-10, permanecendo por 21 dias em viveiro com sombrite 50%. A testemunha constituiu-se de 48 rizomas, coletados no próprio local do experimento, localizado no Lote 78 do Distrito de Irrigação do Baixo Açu, município de Alto do Rodrigues, Vale do Açu (RN). À medida que os tratamentos foram sendo obtidos, realizou-se seu plantio em julho de 2001. Cada tratamento foi plantado em lotes, compostos por linhas contíguas em espaçamento de 3,5 x 2,20 m, os quais receberam individualmente adubação de plantio e os Não foi possível montar um delineamento experimental convencional, mesmo sem a inclusão de repetições, devido ao diferente número de plantas obtido de cada tratamento e a necessidade de realizar o plantio dentro de época apropriada. Durante a avaliação, observaram-se características morfológicas variantes com relação à inserção das folhas no pseudocaule, formas da folha, variação da clorofila na folha, retardamento no desenvolvimento, interação dessas características e características gerais do cacho, como tamanho de dedo e número de pencas/cacho. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao término da fase de laboratório e aclimatização, formaram-se os sete tratamentos de gerações de plantas obtidas através de 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9 subcultivos, com total de 426 plantas da cv. Pacovan, como demonstra a Tabela 1. Após as diversas avaliações, os seguintes tipos de variantes somaclonais foram identificados: 1. Variante de Cacho (VC) - caracteriza-se por apresentar a planta com as propriedades morfológicas normais da cv. Pacovan, como altura da planta, coloração e forma das folhas e pseudocaule, exceto pela conformação do cacho. Nesse caso, o cacho da variante apresenta-se com número médio de cinco pencas/cacho e dedos da segunda penca com tamanho médio de 14,4 cm, enquanto o controle apresenta cacho com número médio de oito pencas/cacho e dedos da segunda penca com tamanho médio de 22,1 cm, normal para o primeiro ciclo de cultivo dessa cultivar irrigada. O menor número de pencas/cacho e o tamanho reduzido dos dedos com conseqüente diminuição da massa, em média de 26%, faz com que esse cacho seja classificado como de segunda, tendo pouco valor comercial e acarretando prejuízo ao agricultor. 2. Variante Variegada (VV) - caracteriza-se por apresentar variegações em todas as partes da planta, das folhas ao pseudocaule incluindo o cacho. A produção é inexpressiva, uma vez que o cacho apresenta tamanho reduzido e danos por queimadura solar devido a pouca clorofila existente na planta. Os descendentes apresentam o mesmo tipo de variegação dessa planta que revela potencial para ornamentação. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.201-205, 2004 204 C.C.C. Santos e P.H.V. Rodrigues Tabela 1.Variantes somaclonais encontrados nas diferentes tratamentos da cultivar Pacovan no Vale do Açu (RN), em 2002 Plantas observadas Tratamentos Total Normal Tipos de variantes somaclonais Variantes VC VV % VMFF-VCF VCP % Controle 48 48 (100) 0 0 0 0 0 F3 11 11 (100) 0 0 0 0 0 F4 16 16 (100) 0 0 0 0 0 F5 31 31 (100) 0 0 0 0 0 F6 41 39 (95,20) 2 (4,80) 1 (2,40) 0 0 1 (2,40) F7 65 63 (96,93) 2 (3,07) 2 (3,07) 0 0 0 F8 90 86 (95,52) 4 (4,48) 2 (2,24) 1 (1,12 ) 1 (1,12) 0 F9 172 162 (94,20) 10 (5,80) 6 (3,48) 0 2 (1,16) 2 (1,16) VC = variante de cacho. VV = variante variegada. VMFF-VCF = variante morfológica da forma da folha e clorofila da folha. VCP = variante da coloração do pseudocaule. 3. Variante Morfológica da Forma da Folha associada a uma Variação da Clorofila na Folha (VMFF - VCF) - caracteriza-se pelo estreitamento do limbo foliar com um afilamento pronunciado na ponta da folha, deixando-a com forma lanceolada. Associada a essa característica, um dos lados da folha, geralmente o direito para quem vê a folha pela face inferior, é menor e com variegações acompanhando toda a extensão de sua borda. Em sua face superior, podem ser observadas pequenas manchas de coloração negra semelhante a queimaduras. A extremidade da borda que circunda toda a folha é ligeiramente mais grossa, dando um aspecto serrilhado a essa estrutura. A área foliar é menor que uma folha de planta normal. 4. Variante da Coloração do Pseudocaule (VCP) - caracteriza-se por apresentar coloração negra e brilhante no pseudocaule, acompanhando o engaço em tom opaco até chegar nas flores. Fica bem evidente a diferença da coloração quando comparada ao controle que possui tonalidade verde-clara e opaca. Pela Tabela 1 verificam-se os tipos de variantes encontrados e a porcentagem de variação somaclonal total para cada tratamento estudado na cv. Pacovan. Observa-se que até em 5 subcultivos (F5) não houve a ocorrência de variantes e que a partir do 6.o subcultivo (F6) foram detectadas variantes (4,8%), atingindo o máximo de 5,8% em nove subcultivos (F9). A variante mais comum encontrada foi do tipo VC, que apresentou modificações morfológicas no cacho. Os tipos de variantes classificados como VMFF-VCF e VCP, estudados no presente trabalho, foram também observados por SMITH (1988) e RODRIGUES et al (1998), na caracterização de variantes somaclonais em mudas de bananeira in vitro. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.201-205, 2004 O aumento da porcentagem da variação somaclonal, em vista do número de subcultivos, foi relatado também por S COWCROFT (1984) e G EORGE e SHERRINGTON (1984), sendo um dos fatores responsáveis pela ocorrência de anomalias em plantas micropropagadas. Tais resultados mostram que as biofábricas devem ter um total controle desse parâmetro, pois como demonstrou YUYLSTEKE (1996), a maioria das variantes apresentaram desempenho inferior ao de uma planta normal. Os resultados do presente trabalho revelam que para obtenção de mudas de bananeira da cv. Pacovan com qualidade genética deve-se micropropagar um ápice caulinar até cinco subcultivos. A mesma preocupação foi demonstrada por K RIKORIAN et al. (1993), no controle do número de subcultivos, para a manutenção da qualidade da muda. Para R EUVENI et al. (1986) o número de plantas obtidas a partir de um ápice caulinar de uma triplóide AAA, não deve ultrapassar a 1.000 plantas, mantendo-se assim a qualidade genética da muda micropropagada. Deve-se ressaltar que R ODRIGUES et al (1998), trabalhando com a cv. Nanicão, obtiveram resultado semelhante com relação à influência do número de subcultivos e o aumento da taxa de variação somaclonal, recomendando até sete subcultivos para essa cultivar. No presente trabalho, apesar de indicar a mesma tendência de aumento da variação somaclonal em vista do número de subcultivos, fica demonstrado que a cv. Pacovan (AAB) possui um comportamento in vitro diferente da cv. Nanicão (AAA). Enquanto na cv. Nanicão as variantes aparecem a partir Variação somaclonal em mudas micropropagadas de bananeira de nove subcultivos (R ODRIGUES et al, 1998), na cv. Pacovan, no sexto subcultivo, ocorre o aparecimento de plantas indesejáveis na porcentagem de 4,8%, chegando a 5,8% no nono subcultivo, taxa superior quando comparada à cv. Nanicão, que apresentou 2,2% também no nono. Além de diferentes taxas de variação somaclonal entre as cultivares, observaram-se tipos de variantes que não foram encontrados na cv. Nanicão, bem como variantes dessa cultivar também não encontradas na ‘Pacovan’. A variante VC, mais comum para a cv. Pacovan, não ocorre na ‘Nanicão’ e a VMIF (Variante Morfológica da Inserção da Folha no Pseudocaule), típica da triplóide AAA Nanicão (R ODRIGUES et al., 1998) não ocorre na triplóide AAB Pacovan. Portanto o genótipo utilizado deve ser considerado em trabalhos de micropropagação de bananeira, principalmente quando se visa à produção comercial de mudas. Como na presente pesquisa, observou-se que os perfilhos apresentavam as mesmas características das variantes, excluiu-se então a possibilidade de outros fatores serem responsáveis pelas modificações encontradas. Apesar disso, os autores reconhecem que outros testes (análise molecular) podem ser realizados para a comprovação final. Os estudos revelam o risco que corre o agricultor ao plantar mudas micropropagadas, adquiridas de biofábricas que não observem as condições adequadas para micropropagação, incluindo o número de subcultivos, pois pode haver alta porcentagem de variantes somaclonais, comprometendo não somente a primeira colheita. 205 REFERÊNCIAS GEORGE, E.F.; SHERRINGTON, P.D. Plant propagation by tissue culture. In: EXEGETICS. Handbook and directory of commercial laboratories. London: Exegetics, 1984. p.51-78. KARP, A. Origins, causes and uses of variation in plant tissue cultures. Plant Cell Tissue and Organ Culture, Dordrecht, v.7, p.139-151, 1994. KRIKORIAN, A.D.; IRRIZARRY, H.; CRONAUER, S.; RIVERA, E. Clonal fidelity and variation in plantain (Musa AAB) regenerated from vegetative stem and floral axis tips in vitro. Annals of Botany, New York, v.71, p.519-535, 1993. MURASHIGE, T.; SKOOG, F. A revised medium for rapid growth and bio assays with tabacco tissue culture. Physiologia Plantarum, Copenhagen, v.15, p.473-497, 1962. REUVENI, O.; ISRAELI, Y.; DEGANI, H.; ESHDAT, Y. Genetic variability in banana plants multiplied via in vitro techniques. In: INTERNATIONAL BOARD FOR PLANT GENETIC RESOURCES MEETING, 1986, Rome. Resumos... Rome: IBPGR, 1986. p.36. RODRIGUES, P.H.V.; TULMANN NETO, A.; CASSIERI NETO, P.; MENDES, B.M.J. Influência do número de subcultivos na ocorrência de variação somaclonal em mudas de bananeira cv. Nanicão, no Vale do Ribeira - SP. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.20, n.1, p.74-79, 1998. SCOWCROFT, W.R. Genetic variability in tissue culture, impact on germplasm conservation and utilization. In: INTERNATIONAL BOARD FOR PLANT GENETIC RESOURCES MEETING, 1986, Rome. Resumos... Rome: IBPGR, 1984. p.41. 4. CONCLUSÕES SMITH, M.K. A review of factors influencing the genetic stability of micropropagated bananas. Fruits, Paris, v.43, n.4, p.219-223, 1988. 1. A porcentagem de variação somaclonal aumenta com o número de subcultivos e, portanto, as biofábricas devem limitar o número de subcultivos para obtenção de mudas de alta qualidade genética. STOVER, R.H. Somaclonal variation in Grande Naine and Saba bananas in the nursery and field. In: PERSLEY, G.J.; DELANGHE, E.A. (Eds.). INTERNATIONAL WORKSHOP ON BANANA AND PLANTAIN BREEDING STRATEGIES, 1986, Cairs. Proceedings... Cairs, 1987. p.136-139. 2. Para cada cultivar de bananeira deve-se aplicar um procedimento diferenciado no processo de micropropagação, considerando os diferentes genótipos, a fim de se evitar alterações na qualidade genética da muda. VUYLSTEKE, D.; SWENNEN, R.; DE LANGUE, E. Field performance of variants of plantain (Musa spp., AAB group). American Journal Society for Horticultural Science, Alexandria, v.121, n.1, p.42-46, 1996. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a CAPES pela concessão das bolsas aos autores, ao Distrito de Irrigação do Baixo Açu (DIBA) – RN, pela cessão de área experimental e a BioCampo Biotecnologia Agrícola Ltda., pelo apoio técnico na produção das mudas. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.201-205, 2004 Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.63 no.2 Campinas 2004 MELHORAMENTO GENÉTICO VEGETAL Avaliação de progênies obtidas de cruzamentos de descendentes do Híbrido de Timor com as cultivares Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo(1) Evaluation of coffee progenies from crosses of Catuaí Vermelho and Catuaí Amarelo with "Hibrido de Timor" descents Paulo BonomoI; Cosme Damião CruzII; José Marcelo Soriano VianaII; Antonio Alves PereiraIII; Valter Rodrigues de OliveiraIV; Pedro Crescêncio Souza CarneiroII IUniversidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Departamento de Estudos Básicos e Instrumentais, 45700-000 Itapetininga (BA) E-mail: [email protected] IIDepartamento de Biologia, Universidade Federal de Viçosa, 36571-000 Viçosa (MG). Email: [email protected]; [email protected] IIIEmpresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), Viçosa (MG). E-mail: [email protected] IVEmbrapa Hortaliças, km 09, Caixa Postal 218, 70359-970 Brasília (DF). E-mail: [email protected] RESUMO Avaliou-se com este trabalho o comportamento de 28 progênies F3 de Coffea arabica obtidas de cruzamentos das cultivares Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo com descendentes do Híbrido de Timor, realizados pela Epamig em conjunto com a UFV. Estimaram-se os parâmetros genéticos e as correlações entre caracteres, buscando conhecer a estrutura genética da população e seu potencial para o melhoramento. O experimento foi instalado em Patrocínio, Estado de Minas Gerais, em delineamento de blocos casualizados com seis repetições, contendo 28 progênies F3 e duas testemunhas da cultivar Catuaí Vermelho IAC 15. Analisaram-se as produções obtidas nas quatro colheitas iniciais, de 1997 a 2000 e alguns caracteres vegetativos. As progênies avaliadas apresentaram média de produção de grãos superior à testemunha, e grande variabilidade genética, sugerindo a possibilidade de se obter linhagens superiores. As progênies avaliadas apresentaram-se resistentes às raças fisiológicas da ferrugem presentes na região do experimento. A progênie 505-9-2 se destaca como material produtivo e vigoroso e de porte alto, enquanto as progênies 514-7-10 e 514-76 além de produtivas e vigorosas apresentaram porte baixo semelhante à cultivar Catuaí Vermelho IAC 15. A produção de grãos apresentou correlação genotípica alta e positiva com os caracteres diâmetro do caule, vigor, porte, altura e diâmetro da planta, mas não apresentou resultados consistentes de correlação com carga pendente. A produção de grãos de anos de colheita mostrou-se correlacionada com a produção total de quatro anos apenas a partir do segundo ano de produção. Palavras-chave: café, Coffea arabica L., melhoramento do cafeeiro, Híbrido de Timor. ABSTRACT This research aimed to evaluate the behavior of twenty eight F3 progenies of arabica coffee obtained from crosses between Catuaí cultivar and the Híbrido de Timor descents, done by Epamig in association with UFV. Genetic parameters and correlation coefficients among agronomic traits were estimated in order to know the genetic structure and the potential of the population for breeding programs. The experiment was set up in Patrocínio (MG), using randomized block design. Yields of first initial harvests (from 1997 to 2000) and some vegetative traits were analyzed. The progenies presented average yield of coffee beans higher than the control and a high genetic variability, suggesting the possibility of obtaining superior inbred lines. The progenies evaluated were resistant to the races of leaf rust present in the field. The progeny 505-9-2 is productive, vigorous and tall, while the progenies 514-7-10 and 514-7-6 are productive, vigorous and dwarf, similar to the Catuaí cultivar. Bean yield showed high positive genotypic correlations with plant vigor, plant size, plant height, stem diameter and plant diameter. Annual yields showed to be correlated with total yield of four years only after the second productive year. Key words: Coffea arabica L., breeding, Híbrido de Timor, genotypic correlations. 1. INTRODUÇÃO Existem descritas aproximadamente 100 espécies do gênero Coffea. Somente duas produzem frutos que têm importância econômica no mercado internacional: C. arabica L. e C. canephora Pierre ex A. Froehner (CHARRIER e BERTHAUD, 1985). O Brasil tem ocupado historicamente a primeira posição entre os países produtores e exportadores de café no mundo, sendo aproximadamente 70% da produção, proveniente de cultivares da espécie C. arabica, responsável por um produto de boa qualidade e maior aceitação no mercado consumidor, porém apresenta menor rusticidade (MATIELLO, 1998; FONSECA, 1999). O provável centro de origem e diversidade de C. arabica é a Etiópia, de onde teria sido dispersado pelo mundo e chegado ao Brasil em 1727. As primeiras mudas introduzidas no Brasil originaram a cultivar Típica, também conhecida como Arábica. Provavelmente, em 1859, foi introduzida a cultivar Bourbon Vermelho, muito cultivada devido à sua produtividade. 'Sumatra', introduzida em 1896, embora pouco cultivada, originou, por hibridação natural com o 'Bourbon Vermelho' a cultivar Mundo Novo, selecionada a partir de 1943 (CARVALHO et al., 1952), e até hoje uma das cultivares mais plantadas. A mutação mais importante para a cafeicultura brasileira ocorreu provavelmente na variedade Bourbon Vermelho, dando origem às cultivares Caturra Vermelho e Caturra Amarelo. Não há informações completas a respeito da origem dessas cultivares, porém existem relatos de plantações existentes no Espírito Santo em 1937. Essas cultivares apresentam um gene mutante que determina a redução do comprimento dos internódios e, conseqüentemente, do porte da planta (CARVALHO et al., 1984). Uma hibridação realizada em 1949, no Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, entre 'Caturra Amarelo' e 'Mundo Novo', deu origem às cultivares Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo, que reuniram as características de produtividade e rusticidade do 'Mundo Novo' com o porte reduzido de 'Caturra' (CARVALHO e MONACO, 1972). Existem hoje diversas linhagens de 'Catuaí Vermelho' e 'Catuaí Amarelo', sendo as cultivares mais plantadas atualmente no Brasil (PEREIRA e SAKIYAMA, 1999; FAZUOLI et al., 2002). No processo de dispersão do café foram utilizadas pequenas quantidades de sementes, em conseqüência, a base genética da cafeicultura no Brasil e no mundo é estreita (CARVALHO et al., 1993). O estudo da diversidade genética em café, utilizando marcadores moleculares do tipo RAPD, comprovou a pequena diversidade genética existente entre as cultivares (OROZCO et al., 1994; LASHERMES et al., 1996). A ferrugem alaranjada das folhas (Hemileia vastatrix Berk. & Br.) é a principal moléstia do cafeeiro no Brasil e ataca as plantações em todas as regiões do mundo. Foi constatada no Brasil, em 1970, quando todas as variedades cultivadas eram suscetíveis à raça II detectada. O prejuízo causado pela doença atinge, em média, 35%. Sob condições de estiagem prolongada nos períodos de maior severidade da doença, as perdas na produção podem atingir mais de 50%. O controle químico da doença é eficiente e vem sendo amplamente utilizado. Embora seja a principal forma de controle da doença, essa prática é onerosa e de difícil implementação (ZAMBOLIM et al., 1999). Cultivares resistentes e, ou, tolerantes são de muito interesse dos produtores, pois reduziriam grande parte dos custos de produção. Diversas populações resistentes têm sido desenvolvidas nos países produtores de café, como as cultivares Icatu Vermelho IAC 2945, Icatu Amarelo IAC 2944, Icatu Precoce IAC 3282, Iapar-59, Catucaí-Açu, Obatã IAC 1669-20, Obatã Amarelo IAC 4739, Tupi IAC 1669-33, Oeiras MG 6851, Paraíso MG H-419-1 e outras em fase de preparação para lançamento (FAZUOLI et al., 2002; PEREIRA et al., 2002; SERA et al., 2002). Grande número de genótipos, supostamente resistentes à ferrugem, foi recebido em Campinas, em 1971. Desses, destacaram-se várias seleções do café conhecido como Híbrido de Timor e, também, descendentes de hibridações realizadas em Portugal, entre esse café e outras fontes de resistência à ferrugem. São denominados Híbrido de Timor, cafeeiros selecionados na ilha de Timor português, possivelmente resultantes do cruzamento natural de C. arabica e C. canephora, retrocruzados com C. arabica (MEDINA et al., 1984). O Híbrido de Timor e as progênies derivadas do cruzamento desse híbrido com outras cultivares vêm sendo estudados em diversas regiões cafeeiras do mundo (VARZEA et al., 2002). Esse germoplasma tem sido valioso para os programas de melhoramento, visando à resistência ao agente da ferrugem. Além da introdução CIFC 832/1 se manter resistente a todas as raças conhecidas do patógeno, até o momento, é tetraplóide e se cruza facilmente com as cultivares de C. arabica, favorecendo a transferência de sua resistência (CARVALHO et al., 1989). Segundo Várzea et al. (2002), alguns anos após a introdução e o cultivo em larga escala, na Índia, da cultivar "Cauvery" (Catimor - Caturra x Híbrido de Timor 832/1), começou a mostrar suscetibilidade à ferrugem. Estudos revelaram tratar-se de novas raças de ferrugem com capacidade para infectar toda a população de Catimor existente no CIFC. Especial atenção tem sido dada ao estudo de populações derivadas do cruzamento do Híbrido de Timor, resistente a várias raças do agente da ferrugem (CHAVES, 1976; ABREU, 1988; BETTENCOURT e RODRIGUES, 1988; PEREIRA, 1995), e as cultivares de porte reduzido de C. arabica. Os descendentes dos cruzamentos do Híbrido de Timor com diversas cultivares e linhagens de C. arabica revelaram-se nas condições de Campinas, pouco a médio produtivos, sempre inferiores à cultivar Catuaí Vermelho IAC 81, mesmo sem tratamento fitossanitário contra a ferrugem (CARVALHO et al., 1989). Por outro lado, algumas progênies derivadas do cruzamento do Híbrido de Timor com a cultivar Caturra vêm-se desenvolvendo bem e com boas produções em certas regiões cafeeiras do Brasil, como em Minas Gerais (PEREIRA et al., 1987), e em outros países cafeicultores, como Quênia, Colômbia, Índia e El Salvador (BETTENCOURT e RODRIGUES, 1988). Também várias cultivares oriundas de progênies derivadas do Híbrido de Timor foram lançadas no Brasil nos últimos anos (SERA et al., 2000; SERA et al., 2002; FAZUOLI et al., 2002; PEREIRA et al., 2002). O objetivo deste trabalho foi avaliar um conjunto de progênies de C. arabica, obtidas pela Epamig e UFV, por meio de cruzamentos das cultivares Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo com descendentes do Híbrido de Timor. Esses cruzamentos visaram ampliar a variabilidade genética, principalmente resistência ao agente causador da ferrugem, aumento de produtividade e porte baixo, além de outras características. Com esse propósito foram estimados os parâmetros genéticos e as correlações entre caracteres, buscando conhecer a estrutura genética da população e seu potencial para melhoramento. 2. MATERIAL E MÉTODOS Foram avaliadas 28 progênies na geração F3, descendentes de cruzamentos de seleções do Híbrido de Timor com as cultivares Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo (Tabela 1), pertencentes ao programa de melhoramento genético da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) em conjunto com a Universidade Federal de Viçosa (UFV). O experimento foi instalado em fevereiro de 1995 na Fazenda Experimental de Patrocínio, Estado de Minas Gerais, pertencente à Epamig. Também fizeram parte do experimento duas testemunhas da cultivar Catuaí Vermelho IAC 15. O experimento foi instalado em delineamento de blocos ao acaso, com seis repetições e quatro plantas por parcela, totalizando 720 covas. O espaçamento entre as plantas foi de 1,5 m e 3,5 m entre fileiras, correspondendo a 1.904 plantas por hectare. Nas bordaduras, foram plantados cafeeiros das mesmas progênies do experimento, distribuídas aleatoriamente nas laterais da área útil. Entre os tratamentos não foi deixado espaço nem bordadura. O solo da área experimental é classificado como Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico (Lvd), textura argilosa, originalmente sob vegetação de cerrado. A área, de relevo suave ondulado, está situada a altitude de 934 m, latitude de 18º57' S e longitude de 47º00' W. Apresenta precipitação pluvial média anual de 1.372 mm, concentrada de outubro a março, temperatura média anual de 21,8 ºC, e o clima é classificado como Cwa, segundo a classificação de Köppen. O manejo da cultura foi feito conforme recomendações para o plantio de café na região do cerrado mineiro, com o uso de calagem, adubação com NPK e micronutrientes, mas sem controle de pragas e doenças. Foram avaliadas de 1997 a 2000 as seguintes características: Produção: efetuaram-se duas colheitas de frutos maduros em cada ano. A soma das colheitas corresponde à massa total de café maduro, sendo convertido em massa de grãos beneficiados com 12% de umidade e expressos em quilograma por planta. As siglas utilizadas no texto para produção de grãos beneficiados foram: 1997 (P97), 1998 (P98), 1999 (P99), 2000 (P20) e nas combinações de anos 1997 e 1998 (P12), 1998 e 1999 (P23), 1999 e 2000 (P34), 1997, 1998 e 1999 (P123), 1998, 1999 e 2000 (P234) e total dos quatro anos (PT). Porte da planta (Pt): escala de notas arbitrárias conferidas aos cafeeiros antes da colheita variando de 1 a 4, sendo: 1 = planta baixa e 4 = maiores plantas do experimento. Vigor da planta (Vg): escala de notas conferidas aos cafeeiros antes da safra variando de 1 a 10, sendo: 1 = planta depauperada e 10 = planta com vigor vegetativo máximo. Carga pendente (Cp): escala de notas conferidas aos cafeeiros antes da colheita, variando de 1 a 4, sendo: 1 = planta com poucos grãos e 4 = planta com muitos grãos. Resistência à ferrugem: escala de notas conferidas aos cafeeiros, variando de 1 a 4, sendo: 1 = sem incidência; 2 = incidência moderada; 3 = incidência moderada a alta, sem desfolha e 4 = alta incidência, com desfolha. Foram avaliadas apenas em 2000 as seguintes características: Altura de planta (Ap): distância da superfície do solo à extremidade do ramo ortotrópico e expressa em metro (m). Diâmetro do caule (Dc): tomado a 5 cm da superfície do solo e expresso em centímetro (cm). Diâmetro de planta (Dp): média entre uma medida do diâmetro da planta tomado a 20 cm da superfície do solo e outra no "terço médio" da planta, e expresso em metro (m). Foram realizadas análises de variância univariada, considerando 30 tratamentos (28 progênies F3 e duas testemunhas), com base na média de parcelas das características avaliadas no experimento. Para a produção, além das colheitas individuais, foram também consideradas produções acumuladas. Os tratamentos são considerados de efeito fixo, pois inicialmente existe interesse na inferência a respeito dos genótipos avaliados no experimento. Os graus de liberdade para tratamentos foram decompostos em três grupos: progênies, testemunhas e progênies vs testemunhas, sendo o efeito de progênie considerado como aleatório. As médias de tratamentos foram comparadas pelo teste Duncan a 5% de probabilidade. Foram também estimados parâmetros genéticos e não genéticos referentes à população, visando avaliar a possibilidade de praticar seleção. As análises estatísticas utilizadas neste trabalho foram realizadas utilizando o programa GENES: Aplicativo computacional em genética e estatística (CRUZ, 2001). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados das análises de variância individuais e as estimativas dos parâmetros genéticos e não genéticos para a produção, em quilogramas de grãos beneficiados por planta, avaliada em 1997, 1998, 1999 e 2000, e nas combinações de anos, encontramse na tabela 2. As análises de variância apontaram diferenças significativas entre os tratamentos, P = 0,06 no ano de 1997, e P < 0,01 para as demais colheitas e combinações de anos, pelo teste F, permitindo afirmar que existe média de tratamento (ou tratamentos) que difere das demais. Observando-se, na mesmo tabela, o desdobramento da soma de quadrados de tratamentos, verifica-se a existência de variância genética significativa entre as progênies, P < 0,02 para as produções em 1998, 1999, 2000 e combinação de anos. Na colheita de 1997, existe variância genética entre as progênies, apenas quando considerado um valor de probabilidade de 14,1%. Esses resultados permitem concluir que existe variabilidade genética para o caráter produção de grãos no conjunto de progênies estudadas. Não se observou diferença significativa entre as testemunhas, P = 1,0, resultado consistente, pois se trata de mesmo material genético. A produção média da testemunha 'Catuaí Vermelho' IAC 15 foi superior à média das progênies na primeira colheita e inferior nas demais. Os resultados revelam que as progênies avaliadas são de menor precocidade de produção em relação à testemunha. Evidenciam, porém, seu potencial para seleção, pois associam variabilidade genética e média altas, condições que permitem a seleção de genótipos superiores. Os resultados desse trabalho não estão de acordo com aqueles encontrados por CARVALHO et al. (1989), que avaliaram progênies de cruzamentos entre descendentes do Híbrido de Timor com diferentes cultivares e linhagens de C. arabica, tendo sido pouco produtivas nas condições de Campinas (SP), bem inferiores à testemunha 'Catuaí Vermelho' IAC 81 utilizada sem o controle de ferrugem. Por outro lado, PEREIRA et al. (1987), BETTENCOURT e RODRIGUES (1988), PEREIRA et al. (1995), MELO et al. (1998), SERA et al. (2000) e FAZUOLI et al. (2002) observaram boas produções em progênies derivadas de cruzamentos entre descendentes do Híbrido de Timor e cultivares de C. arabica. Os coeficientes de variação experimental (CVe) foram 44,63%, 42,14%, 24,52% e 77,42%, respectivamente, em 1997, 1998, 1999 e 2000 (Tabela 2). Altos coeficientes de variação são verificados em experimentos de avaliação de progênies de café, em anos individuais, variando entre 20% e 40%, e menores na análise de combinações de anos (SERA, 1980; MENDES, 1994; FONSECA, 1999). O elevado coeficiente de variação observado em 2000 se deve a condições climáticas desfavoráveis para a cultura, pois nesse ano a região passou por longo período de seca e alta incidência de ferrugem. No entanto, houve expressiva redução nas estimativas de CVe, quando se analisaram os dados em combinações de colheitas, variando de 21,66% a 30,69%. Essa redução no CVe reforça a idéia de que o agrupamento das colheitas contribui para reduzir os efeitos da bienalidade da produção. Resultados semelhantes foram encontrados por SERA (1980) e MENDES (1994). A média de produção de grãos beneficiados por planta, para tratamentos, foi crescente nos três primeiros anos avaliados, passando de 0,248 kg por planta para 0,464 kg/planta e 1,626 kg/planta, respectivamente, na primeira, segunda e terceira colheita. Houve redução drástica na quarta colheita, para 0,571 kg por planta. Segundo FAZUOLI (1977), as plantas de café indicam tendência em aumentar a produção até a 5.ª colheita, com menos oscilação bienal. A redução da produção na 4.a colheita pode ser decorrente da seca ocorrida na região, ou também do início da manifestação da bienalidade da produção de grãos apresentada pela espécie cultivada a pleno sol e sem poda. O coeficiente de herdabilidade (h2), estimado com base nas médias de progênies, ficou entre 70% e 80% para as colheitas de 1998 e 1999 e combinação de anos. Na primeira (1997) e quarta colheitas (2000), foi de 25,19% e 43,34% respectivamente. Excetuando-se a primeira e quarta colheitas, tem-se uma situação favorável para realizar a seleção, o que está de acordo com CARVALHO et al. (1969), FAZUOLI (1977) e FAZUOLI et al. (2000). Esses autores indicam ser os anos de maior produção os mais favoráveis para a realizar a seleção. As combinações P23, P123, P234 e PT apresentaram herdabilidade igual a 80,36%, 77,46%, 78,30% e 76,27% respectivamente. A condição mais favorável é a combinação de anos porque reduz o efeito de interação genótipo x ambiente. A combinação P23 foi a mais favorável seguida da combinação P234. O índice de variação ( q ) é a proporção entre o coeficiente de variação genética (CVg) e o coeficiente de variação ambiental (CVe). Segundo VENCOVSKY (1987), quando esse índice é próximo ou superior a 1,0 indica uma situação favorável à seleção. Nesse estudo, essa relação, multiplicada por 100, resulta em valores concordantes com os obtidos para os coeficientes de herdabilidade, sendo apenas pouco inferiores. Assim, a discussão para θ é a mesma daquela da herdabilidade, corroborando uma situação favorável para a seleção. Os coeficientes de variação genética (CVg) oscilaram entre 10,82% e 31,73%, para os anos avaliados e combinações de anos, revelando que a seleção das melhores progênies possibilitará expressivo aumento no valor genético da população, quanto ao caráter em questão. A estimativa de parâmetros genéticos de uma população é de grande importância nos programas de melhoramento. Porém, para um dado caráter, a estimativa de um parâmetro pode ser variável, sendo função da variabilidade genética existente na população e das condições do ambiente. No caso da produção inicial de grãos de café, as diferentes estimativas encontradas para os quatro anos iniciais e combinação de anos são, provavelmente, função dos diferentes genes que se estão expressando ao longo do crescimento e desenvolvimento da planta, de diferenças no tamanho e desenvolvimento inicial das mudas logo após o plantio no campo e das condições do ambiente apresentadas nos anos de colheita. Além disso, na interpretação das estimativas dos coeficientes de herdabilidade, deve-se estar atento ao viés dessas estimativas, pois sendo a herdabilidade no sentido amplo uma relação da variância genética entre progênies e a variância fenotípica, em experimentos desenvolvidos em apenas um local, a variância genética possível de ser estimada fica inflacionada pelo componente de variância dada pela interação genótipo x local. Com relação à resistência ao agente causador da ferrugem, em 1997 e 1998, todas as plantas do experimento receberam nota 1, ou seja, não houve incidência da ferrugem, possivelmente devido ser os anos iniciais de produção das plantas coincidindo com anos desfavoráveis ao ataque da doença. Nos anos seguintes, todas as plantas das 28 progênies F3 em estudo receberam nota 1, enquanto as plantas da testemunha 'Catuaí Vermelho' IAC 15 receberam notas que variaram de 2 a 4. Os resultados atestam que as progênies avaliadas no experimento apresentam resistência às raças de ferrugem presentes na região do experimento. O cafeeiro conhecido como Híbrido de Timor apresenta, pelo menos, quatro genes SH6, SH7, Sh8 e SH9 que conferem resistência ao agente da ferrugem (VARZEA et al., 2000). Devido à natureza dominante desses genes, entre os descendentes de cruzamentos com cultivares suscetíveis à freqüência de plantas suscetíveis na geração F3 deve ser bastante reduzida, sobretudo quando se efetua seleção para essa característica na geração anterior (F2). Os resultados apresentados neste trabalho corroboram essa hipótese. Analisando as características que compõem o aspecto geral da cultura, verificou-se que, para os caracteres porte, vigor, altura e diâmetro da planta, carga pendente e diâmetro do caule ocorreram diferenças significativas, P < 0,05, pelo teste F, entre os tratamentos nos respectivos anos avaliados. Verificou-se ainda que não ocorreram diferenças significativas entre as testemunhas (P < 0,01). Para o contraste genótipos vs testemunhas na maioria dos casos ocorreram diferenças significativas. Considerando a existência de variabilidade genética entre as progênies, P < 0,05 para os caracteres relacionados, será possível praticar seleção com o objetivo de se obter variedades que se adaptem a diferentes sistemas de cultivo. As médias de produção em quilogramas de grãos beneficiados por planta, obtidas em 1997, 1998, 1999 e 2000 e nas combinações de anos, encontram-se na tabela 3, bem como o resultado do teste de Duncan, a 5% de probabilidade para a comparação entre as médias. Ao se comparar o desempenho dos genótipos em 1997, verifica-se que a cultivar Catuaí Vermelho IAC 15 foi a mais produtiva (0,357 kg por planta), contudo não diferiu das progênies 515-4-2, 438-7-2 e 514-5-5. Como se trata do primeiro ano de produção, há evidência de precocidade da cultivar Catuaí em relação ao conjunto de progênies avaliadas; no entanto, é possível selecionar progênies de maturação semelhante a essa cultivar. Nas colheitas de 1998 e 1999, a progênie 505-9-2 foi a mais produtiva com média de 0,874 kg/planta e 2,400 kg/planta, respectivamente, diferindo estatisticamente dos demais tratamentos. Essa progênie manteve-se também entre as mais produtivas na colheita de 2000, com produção média de 0,977 kg/planta, e foi a mais produtiva em todas as combinações de anos. Quando se observa a produção acumulada da 2.ª, 3.ª e 4.ª colheitas, várias progênies foram mais produtivas que a testemunha Catuaí Vermelho IAC 15, destacando-se 505-9-2, 514-7-10, 514-7-8, 518-3-6, 514-7-6, 5182-6, 493-1-2 e 514-7-16. Ao selecionar antecipadamente as 10 melhores progênies em 1998, que corresponde à 2ª safra, incluiria sete entre as oito primeiras classificadas considerando a produção acumulada da 2.ª, 3.ª e 4.ª colheitas. Assim, poderia praticar seleção antecipada eficiente usando somente a produção de 1988. A oscilação na produção apresentada pelas plantas de café é fator desfavorável ao produtor, pois em períodos posteriores aos anos de baixa produção haverá problemas econômicos para o manejo da lavoura. Nesse aspecto, verifica-se que as progênies 5059-2 e 514-7-8 apresentaram baixa produção na primeira colheita, porém nas três colheitas seguintes estiveram entre as mais produtivas, enquanto a cultivar Catuaí Vermelho IAC 15 e as progênies 514-7-6 e 493-1-2 oscilaram entre altas e baixas produções. A progênie 505-9-2 que se destacou como a mais produtiva, também apresentou bom vigor de planta e diâmetro de caule, porém, porte, altura e diâmetro de planta iguais ou superiores à testemunha 'Catuaí Vermelho' IAC 15 (Tabela 4). As progênies 514-710 e 514-7-6, que se destacaram também como bastante produtivas, mostraram vigor de planta semelhante à progênie 505-9-2. Essas duas progênies, entretanto, apresentaram porte, altura, diâmetro de planta e diâmetro de caule inferiores à progênie 505-9-2 e semelhantes à testemunha 'Catuaí Vermelho' IAC 15. Como se pode verificar, com base no conjunto de progênies avaliadas é possível selecionar progênies que atendam a diferentes sistemas de cultivo. Por exemplo, selecionar progênies com porte mais alto indicadas para plantios menos adensados, e, por outro lado, selecionar progênies com menor porte para plantios mais adensados. Na Tabela 5, verificam-se as estimativas dos coeficientes de correlação genotípica (rg), fenotípica (rF) e de ambiente (re) entre os caracteres carga pendente, vigor de planta e porte da planta com a produção de grãos do respectivo ano de avaliação e a produção de grãos do ano seguinte. De maneira geral, as estimativas dos coeficientes de correlação fenotípica e genotípica entre os caracteres mencionados e a produção de grãos do respectivo ano de avaliação e do ano seguinte, apresentaram concordância entre si, demonstrando baixa influência dos anos de colheita na associação entre esses caracteres. Os valores do coeficiente de correlação genética, entre carga pendente e produção de grãos do respectivo ano de avaliação, foram: -0,22; -1,00; -0,83 e -0,85. Com exceção do primeiro valor, são valores altos de correlação negativa. Esses resultados contrariam o esperado, uma vez que se visava utilizar a característica carga pendente, avaliada subjetivamente por meio de notas, como critério auxiliar ou até mesmo substitutivo, do caráter produção. Assim, novos estudos devem ser realizados, porém os resultados deste trabalho indicam ser pouco promissor o uso da característica carga pendente na seleção indireta para produção. O vigor da planta correlacionou-se de forma negativa com a produção na primeira colheita (rg = -0,48), fato explicável, pois aquelas progênies com início de produção tardio dispõem de maior quantidade de energia para crescimento vegetativo. Porém, nos anos seguintes, o vigor vegetativo apresentou correlação positiva com a produção de grãos do mesmo ano de avaliação. O vigor da planta também se apresentou correlacionado positivamente com a produção de grãos do ano seguinte. Em 2000, quando ocorreu intensa seca na região, a correlação do vigor da planta com a produção de grãos de 0,90 apresentou seu mais alto valor. Esse fato revela que existe, no conjunto de progênies avaliadas, material genético com provável adaptação à seca. Correlação positiva entre o vigor da planta e a produção também foi observada por FAZUOLI (1977), CARVALHO et al. (1979), CARVALHO et al. (1984), entre outros. Da mesma forma, como se nota na tabela 5, o porte das plantas mostrou-se correlacionado positivamente com a produção de grãos somente a partir do segundo ano de produção. A correlação genotípica de 0,33, observada entre a altura da planta e a produção total (Tabela 6), está de acordo em sinal, e tem magnitude próxima, de 0,22 a 0,42, em DHALIWAL (1968), 0,58 em ROCHA et al. (1980) e 0,43 em SERA (1987). A correlação genotípica entre a produção total e o diâmetro de caule de 0,56 é concordante com os valores observados por DHALIWAL (1968), entre 0,26 e 0,62 e com os de SRINIVASAN (1980), que variaram entre 0,55 e 0,51. A correlação genotípica de 0,41 entre o diâmetro da planta e a produção total é condizente com os valores de 0,04 a 0,67 obtidos por DHALIWAL (1968), em amostras de várias cultivares, 0,51 em ROCHA et al. (1980) e 0,29 em SERA (1987). A existência dessa correlação indica a necessidade de corrigir a produção por planta para produção por hectare, de acordo com a altura e o diâmetro da copa das progênies. Assim, possibilitará selecionar as mais produtivas por hectare para os cultivos mais intensivos cuja produtividade por hectare é mais importante que a produção por planta. As estimativas de correlações apresentadas na tabela 5 mostram que as correlações entre os anos de produção foram de alta magnitude considerando os três últimos anos de produção. No entanto, foram de baixa magnitude ou negativas, quando consideradas com o primeiro ano de produção. Esse fato revela que a produção do primeiro ano deve ser excluída para possibilitar seleção precoce branda eficiente, ao se considerar a 2.ª, 3.ª e 4.ª colheitas. 4. CONCLUSÕES 1. As progênies avaliadas apresentaram média de produção de grãos superiores à testemunha, e grande variabilidade genética, sugerindo a possibilidade de se obter linhagens superiores. 2. As progênies avaliadas apresentaram-se resistentes às raças fisiológicas da ferrugem presentes na região do experimento. 3. Com base nas análises dos caracteres vegetativos do conjunto de progênies avaliado, é possível obter linhagens que atendam a diferentes objetivos do melhoramento do cafeeiro. 4. A progênie 505-9-2 se destaca como material produtivo e vigoroso e de porte alto, enquanto a 514-7-10 e a 514-7-6, além de produtivas e vigorosas, apresentaram porte baixo semelhante à cultivar Catuaí Vermelho IAC 15. 5. O caráter produção de grãos revelou correlação genotípica alta e positiva com os caracteres diâmetro do caule, vigor, porte, altura e diâmetro da planta. Não apresentou, porém, resultados consistentes de correlação com carga pendente. 6. A seleção para a produção de grãos neste experimento somente poderá ser realizada com eficiência a partir do segundo ano de produção. REFERÊNCIAS ABREU, M.S. Resistência horizontal a Hemileia vastatrix Berk e Br. em cafeeiros descendentes do Híbrido de Timor. Viçosa, 1988. 68f. Dissertação (Mestrado em Fitopatologia) - Universidade Federal de Viçosa. BETTENCOURT, A.J.; RODRIGUES, C.J. Principles and practice of coffee breeding for resistance to rust and other diseases. In: CLARKE, R.J.; MACRAE, R. (Eds.). Coffee: agronomy. London: Elsevier Applied Science, 1988. v.4, p.199-234. CARVALHO, A.; FAZUOLI, L.C. Café. In: FURLANI, A.M.C.; VIÉGAS, G.P. (Eds.). O melhoramento de plantas no Instituto Agronômico. 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Avaliação de progênies descendentes do Híbrido de Timor 207 MELHORAMENTO GENÉTICO VEGETAL AVALIAÇÃO DE PROGÊNIES OBTIDAS DE CRUZAMENTOS DE DESCENDENTES DO HÍBRIDO DE TIMOR COM AS CULTIVARES CATUAÍ VERMELHO E CATUAÍ AMARELO (1) PAULO BONOMO(2); COSME DAMIÃO CRUZ(3); JOSÉ MARCELO SORIANO VIANA(3); ANTONIO ALVES PEREIRA(4); VALTER RODRIGUES DE OLIVEIRA(5); PEDRO CRESCÊNCIO SOUZA CARNEIRO(3) RESUMO Avaliou-se com este trabalho o comportamento de 28 progênies F3 de Coffea arabica obtidas de cruzamentos das cultivares Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo com descendentes do Híbrido de Timor, realizados pela Epamig em conjunto com a UFV. Estimaram-se os parâmetros genéticos e as correlações entre caracteres, buscando conhecer a estrutura genética da população e seu potencial para o melhoramento. O experimento foi instalado em Patrocínio, Estado de Minas Gerais, em delineamento de blocos casualizados com seis repetições, contendo 28 progênies F3 e duas testemunhas da cultivar Catuaí Vermelho IAC 15. Analisaram-se as produções obtidas nas quatro colheitas iniciais, de 1997 a 2000 e alguns caracteres vegetativos. As progênies avaliadas apresentaram média de produção de grãos superior à testemunha, e grande variabilidade genética, sugerindo a possibilidade de se obter linhagens superiores. As progênies avaliadas apresentaram-se resistentes às raças fisiológicas da ferrugem presentes na região do experimento. A progênie 505-9-2 se destaca como material produtivo e vigoroso e de porte alto, enquanto as progênies 514-7-10 e 514-7-6 além de produtivas e vigorosas apresentaram porte baixo semelhante à cultivar Catuaí Vermelho IAC 15. A produção de grãos apresentou correlação genotípica alta e positiva com os caracteres diâmetro do caule, vigor, porte, altura e diâmetro da planta, mas não apresentou resultados consistentes de correlação com carga pendente. A produção de grãos de anos de colheita mostrou-se correlacionada com a produção total de quatro anos apenas a partir do segundo ano de produção. Palavras-chave: café, Coffea arabica L., melhoramento do cafeeiro, Híbrido de Timor. ( 1) Extraído da tese de doutorado apresentada pelo primeiro autor à Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa (MG). Recebido para publicação em 18 de fevereiro de 2003 e aceito em 20 de fevereiro de 2004. ( 2) Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Departamento de Estudos Básicos e Instrumentais, 45700-000 Itapetininga (BA). E-mail: [email protected] ( 3) Departamento de Biologia, Universidade Federal de Viçosa, 36571-000 Viçosa (MG). E-mail: [email protected]; [email protected] ( 4) Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), Viçosa (MG). E-mail: [email protected] (5) Embrapa Hortaliças, km 09, Caixa Postal 218, 70359-970 Brasília (DF). E-mail:[email protected] Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.207-219, 2004 208 P. Bonomo et al. ABSTRACT EVALUATION OF COFFEE PROGENIES FROM CROSSES OF CATUAÍ VERMELHO AND CATUAÍ AMARELO WITH "HIBRIDO DE TIMOR" DESCENTS This research aimed to evaluate the behavior of twenty eight F3 progenies of arabica coffee obtained from crosses between Catuaí cultivar and the Híbrido de Timor descents, done by Epamig in association with UFV. Genetic parameters and correlation coefficients among agronomic traits were estimated in order to know the genetic structure and the potential of the population for breeding programs. The experiment was set up in Patrocínio (MG), using randomized block design. Yields of first initial harvests (from 1997 to 2000) and some vegetative traits were analyzed. The progenies presented average yield of coffee beans higher than the control and a high genetic variability, suggesting the possibility of obtaining superior inbred lines. The progenies evaluated were resistant to the races of leaf rust present in the field. The progeny 505-9-2 is productive, vigorous and tall, while the progenies 514-7-10 and 514-7-6 are productive, vigorous and dwarf, similar to the Catuaí cultivar. Bean yield showed high positive genotypic correlations with plant vigor, plant size, plant height, stem diameter and plant diameter. Annual yields showed to be correlated with total yield of four years only after the second productive year. Key words: Coffea arabica L., breeding, Híbrido de Timor, genotypic correlations. 1. INTRODUÇÃO Existem descritas aproximadamente 100 espécies do gênero Coffea. Somente duas produzem frutos que têm importância econômica no mercado internacional: C. arabica L. e C. canephora Pierre ex A. Froehner (CHARRIER e Berthaud, 1985). O Brasil tem ocupado historicamente a primeira posição entre os países produtores e exportadores de café no mundo, sendo aproximadamente 70% da produção, proveniente de cultivares da espécie C. arabica, responsável por um produto de boa qualidade e maior aceitação no mercado consumidor, porém apresenta menor rusticidade (MATIELLO , 1998; FONSECA , 1999). (CARVALHO et al., 1984). Uma hibridação realizada em 1949, no Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, entre 'Caturra Amarelo' e 'Mundo Novo', deu origem às cultivares Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo, que reuniram as características de produtividade e rusticidade do 'Mundo Novo' com o porte reduzido de 'Caturra' (CARVALHO e MONACO, 1972). Existem hoje diversas linhagens de 'Catuaí Vermelho' e 'Catuaí Amarelo', sendo as cultivares mais plantadas atualmente no Brasil (PEREIRA e S AKIYAMA, 1999; FAZUOLI et al., 2002). No processo de dispersão do café foram utilizadas pequenas quantidades de sementes, em conseqüência, a base genética da cafeicultura no Brasil e no mundo é estreita (CARVALHO et al., 1993). O estudo da diversidade genética em café, utilizando marcadores moleculares do tipo RAPD, comprovou a pequena diversidade genética existente entre as cultivares (OROZCO et al., 1994; L ASHERMES et al., 1996). O provável centro de origem e diversidade de C. arabica é a Etiópia, de onde teria sido dispersado pelo mundo e chegado ao Brasil em 1727. As primeiras mudas introduzidas no Brasil originaram a cultivar Típica, também conhecida como Arábica. Provavelmente, em 1859, foi introduzida a cultivar Bourbon Vermelho, muito cultivada devido à sua produtividade. 'Sumatra', introduzida em 1896, embora pouco cultivada, originou, por hibridação natural com o 'Bourbon Vermelho' a cultivar Mundo Novo, selecionada a partir de 1943 (CARVALHO et al., 1952), e até hoje uma das cultivares mais plantadas. A mutação mais importante para a cafeicultura brasileira ocorreu provavelmente na variedade Bourbon Vermelho, dando origem às cultivares Caturra Vermelho e Caturra Amarelo. Não há informações completas a respeito da origem dessas cultivares, porém existem relatos de plantações existentes no Espírito Santo em 1937. A ferrugem alaranjada das folhas (Hemileia vastatrix Berk. & Br.) é a principal moléstia do cafeeiro no Brasil e ataca as plantações em todas as regiões do mundo. Foi constatada no Brasil, em 1970, quando todas as variedades cultivadas eram suscetíveis à raça II detectada. O prejuízo causado pela doença atinge, em média, 35%. Sob condições de estiagem prolongada nos períodos de maior severidade da doença, as perdas na produção podem atingir mais de 50%. O controle químico da doença é eficiente e vem sendo amplamente utilizado. Embora seja a principal forma de controle da doença, essa prática é onerosa e de difícil implementação (ZAMBOLIM et al., 1999). Essas cultivares apresentam um gene mutante que determina a redução do comprimento dos internódios e, conseqüentemente, do porte da planta Cultivares resistentes e, ou, tolerantes são de muito interesse dos produtores, pois reduziriam grande parte dos custos de produção. Diversas populações Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.207-219, 2004 Avaliação de progênies descendentes do Híbrido de Timor resistentes têm sido desenvolvidas nos países produtores de café, como as cultivares Icatu Vermelho IAC 2945, Icatu Amarelo IAC 2944, Icatu Precoce IAC 3282, Iapar-59, Catucaí-Açu, Obatã IAC 1669-20, Obatã Amarelo IAC 4739, Tupi IAC 1669-33, Oeiras MG 6851, Paraíso MG H-419-1 e outras em fase de preparação para lançamento (FAZUOLI et al., 2002; PEREIRA et al., 2002; SERA et al., 2002). Grande número de genótipos, supostamente resistentes à ferrugem, foi recebido em Campinas, em 1971. Desses, destacaram-se várias seleções do café conhecido como Híbrido de Timor e, também, descendentes de hibridações realizadas em Portugal, entre esse café e outras fontes de resistência à ferrugem. São denominados Híbrido de Timor, cafeeiros selecionados na ilha de Timor português, possivelmente resultantes do cruzamento natural de C. arabica e C. canephora, retrocruzados com C. arabica (M EDINA et al., 1984). O Híbrido de Timor e as progênies derivadas do cruzamento desse híbrido com outras cultivares vêm sendo estudados em diversas regiões cafeeiras do mundo (VARZEA et al., 2002). Esse germoplasma tem sido valioso para os programas de melhoramento, visando à resistência ao agente da ferrugem. Além da introdução CIFC 832/1 se manter resistente a todas as raças conhecidas do patógeno, até o momento, é tetraplóide e se cruza facilmente com as cultivares de C. arabica, favorecendo a transferência de sua resistência (C ARVALHO et al., 1989). Segundo Várzea et al. (2002), alguns anos após a introdução e o cultivo em larga escala, na Índia, da cultivar "Cauvery" (Catimor - Caturra x Híbrido de Timor 832/1), começou a mostrar suscetibilidade à ferrugem. Estudos revelaram tratar-se de novas raças de ferrugem com capacidade para infectar toda a população de Catimor existente no CIFC. Especial atenção tem sido dada ao estudo de populações derivadas do cruzamento do Híbrido de Timor, resistente a várias raças do agente da ferrugem (C HAVES, 1976; A BREU , 1988; B ETTENCOURT e RODRIGUES , 1988; P EREIRA , 1995), e as cultivares de porte reduzido de C. arabica. Os descendentes dos cruzamentos do Híbrido de Timor com diversas cultivares e linhagens de C. arabica revelaram-se nas condições de Campinas, pouco a médio produtivos, sempre inferiores à cultivar Catuaí Vermelho IAC 81, mesmo sem tratamento fitossanitário contra a ferrugem (CARVALHO et al., 1989). Por outro lado, algumas progênies derivadas do cruzamento do Híbrido de Timor com a cultivar Caturra vêm-se desenvolvendo bem e com boas produções em certas regiões cafeeiras do Brasil, como em Minas Gerais (PEREIRA et al., 1987), e em outros países cafeicultores, como Quênia, Colômbia, Índia e El Salvador 209 (BETTENCOURT e R ODRIGUES, 1988). Também várias cultivares oriundas de progênies derivadas do Híbrido de Timor foram lançadas no Brasil nos últimos anos (SERA et al., 2000; SERA et al., 2002; FAZUOLI et al., 2002; PEREIRA et al., 2002). O objetivo deste trabalho foi avaliar um conjunto de progênies de C. arabica, obtidas pela Epamig e UFV, por meio de cruzamentos das cultivares Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo com descendentes do Híbrido de Timor. Esses cruzamentos visaram ampliar a variabilidade genética, principalmente resistência ao agente causador da ferrugem, aumento de produtividade e porte baixo, além de outras características. Com esse propósito foram estimados os parâmetros genéticos e as correlações entre caracteres, buscando conhecer a estrutura genética da população e seu potencial para melhoramento. 2. MATERIAL E MÉTODOS Foram avaliadas 28 progênies na geração F3, descendentes de cruzamentos de seleções do Híbrido de Timor com as cultivares Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo (Tabela 1), pertencentes ao programa de melhoramento genético da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) em conjunto com a Universidade Federal de Viçosa (UFV). O experimento foi instalado em fevereiro de 1995 na Fazenda Experimental de Patrocínio, Estado de Minas Gerais, pertencente à Epamig. Também fizeram parte do experimento duas testemunhas da cultivar Catuaí Vermelho IAC 15. O experimento foi instalado em delineamento de blocos ao acaso, com seis repetições e quatro plantas por parcela, totalizando 720 covas. O espaçamento entre as plantas foi de 1,5 m e 3,5 m entre fileiras, correspondendo a 1.904 plantas por hectare. Nas bordaduras, foram plantados cafeeiros das mesmas progênies do experimento, distribuídas aleatoriamente nas laterais da área útil. Entre os tratamentos não foi deixado espaço nem bordadura. O solo da área experimental é classificado como Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico (Lvd), textura argilosa, originalmente sob vegetação de cerrado. A área, de relevo suave ondulado, está situada a altitude de 934 m, latitude de 18o57' S e longitude de 47o00' W. Apresenta precipitação pluvial média anual de 1.372 mm, concentrada de outubro a março, temperatura média anual de 21,8 o C, e o clima é classificado como Cwa, segundo a classificação de Köppen. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.207-219, 2004 210 P. Bonomo et al. Tabela 1. Genealogia das progênies F 3 utilizadas no experimento Híbrido Cruzamentos N.o de progênies F3 H 428 CV IAC 81 (UFV 2145-113 EL7) x HT (UFV 428-08) 1 H 436 CV IAC 99 (UFV 2147-295 EL7) x HT (UFV 442-42) 1 H 438 CA IAC 86 (UFV 2154-74 EL7) x HT (UFV 451-41) 1 H 493 CV IAC 44 (UFV 2144-71 EL7) x HT (UFV 446-08) 2 H 504 CV IAC 81 (UFV 2145-79 EL7) x HT (UFV 438-01) 2 H 505 CV IAC 81 (UFV 2145-79 EL7) x HT (UFV 438-52) 1 H 514 CA IAC 86 (UFV 2154-344 EL7) x HT (UFV 440-10) 10 H 515 CA IAC 86 (UFV 2154-344 EL7) x HT (UFV 378-33) 2 H 516 CA IAC 86 (UFV 2154-345 EL7) x HT (UFV 446-08) 1 H 518 CV IAC 141 (UFV 2194-341 EL7) x HT (UFV 442-34) 7 CV: Catuaí Vermelho; CA: Catuaí Amarelo; HT: Híbrido de Timor. O manejo da cultura foi feito conforme recomendações para o plantio de café na região do cerrado mineiro, com o uso de calagem, adubação com NPK e micronutrientes, mas sem controle de pragas e doenças. Foram avaliadas de 1997 a 2000 as seguintes características: Produção: efetuaram-se duas colheitas de frutos maduros em cada ano. A soma das colheitas corresponde à massa total de café maduro, sendo convertido em massa de grãos beneficiados com 12% de umidade e expressos em quilograma por planta. As siglas utilizadas no texto para produção de grãos beneficiados foram: 1997 (P97), 1998 (P98), 1999 (P99), 2000 (P20) e nas combinações de anos 1997 e 1998 (P12), 1998 e 1999 (P23), 1999 e 2000 (P34), 1997, 1998 e 1999 (P123), 1998, 1999 e 2000 (P234) e total dos quatro anos (PT). Porte da planta (Pt): escala de notas arbitrárias conferidas aos cafeeiros antes da colheita variando de 1 a 4, sendo: 1 = planta baixa e 4 = maiores plantas do experimento. Vigor da planta (Vg): escala de notas conferidas aos cafeeiros antes da safra variando de 1 a 10, sendo: 1 = planta depauperada e 10 = planta com vigor vegetativo máximo. Carga pendente (Cp): escala de notas conferidas aos cafeeiros antes da colheita, variando de 1 a 4, sendo: 1 = planta com poucos grãos e 4 = planta com muitos grãos. Resistência à ferrugem: escala de notas conferidas aos cafeeiros, variando de 1 a 4, sendo: 1 = sem incidência; 2 = incidência moderada; 3 = Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.207-219, 2004 incidência moderada a alta, sem desfolha e 4 = alta incidência, com desfolha. Foram avaliadas apenas em 2000 as seguintes características: Altura de planta (Ap): distância da superfície do solo à extremidade do ramo ortotrópico e expressa em metro (m). Diâmetro do caule (Dc): tomado a 5 cm da superfície do solo e expresso em centímetro (cm). Diâmetro de planta (Dp): média entre uma medida do diâmetro da planta tomado a 20 cm da superfície do solo e outra no "terço médio" da planta, e expresso em metro (m). Foram realizadas análises de variância univariada, considerando 30 tratamentos (28 progênies F 3 e duas testemunhas), com base na média de parcelas das características avaliadas no experimento. Para a produção, além das colheitas individuais, foram também consideradas produções acumuladas. Os tratamentos são considerados de efeito fixo, pois inicialmente existe interesse na inferência a respeito dos genótipos avaliados no experimento. Os graus de liberdade para tratamentos foram decompostos em três grupos: progênies, testemunhas e progênies vs testemunhas, sendo o efeito de progênie considerado como aleatório. As médias de tratamentos foram comparadas pelo teste Duncan a 5% de probabilidade. Foram também estimados parâmetros genéticos e não genéticos referentes à população, visando avaliar a possibilidade de praticar seleção. Avaliação de progênies descendentes do Híbrido de Timor As análises estatísticas utilizadas neste trabalho foram realizadas utilizando o programa GENES: Aplicativo computacional em genética e estatística (CRUZ, 2001). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados das análises de variância individuais e as estimativas dos parâmetros genéticos e não genéticos para a produção, em quilogramas de grãos beneficiados por planta, avaliada em 1997, 1998, 1999 e 2000, e nas combinações de anos, encontramse na tabela 2. As análises de variância apontaram diferenças significativas entre os tratamentos, P = 0,06 no ano de 1997, e P < 0,01 para as demais colheitas e combinações de anos, pelo teste F, permitindo afirmar que existe média de tratamento (ou tratamentos) que difere das demais. Observando-se, na mesmo tabela, o desdobramento da soma de quadrados de tratamentos, verifica-se a existência de variância genética significativa entre as progênies, P < 0,02 para as produções em 1998, 1999, 2000 e combinação de anos. Na colheita de 1997, existe variância genética entre as progênies, apenas quando considerado um valor de probabilidade de 14,1%. Esses resultados permitem concluir que existe variabilidade genética para o caráter produção de grãos no conjunto de progênies estudadas. Não se observou diferença significativa entre as testemunhas, P = 1,0, resultado consistente, pois se trata de mesmo material genético. A produção média da testemunha 'Catuaí Vermelho' IAC 15 foi superior à média das progênies na primeira colheita e inferior nas demais. Os resultados revelam que as progênies avaliadas são de menor precocidade de produção em relação à testemunha. Evidenciam, porém, seu potencial para seleção, pois associam variabilidade genética e média altas, condições que permitem a seleção de genótipos superiores. Os resultados desse trabalho não estão de acordo com aqueles encontrados por CARVALHO et al. (1989), que avaliaram progênies de cruzamentos entre descendentes do Híbrido de Timor com diferentes cultivares e linhagens de C. arabica, tendo sido pouco produtivas nas condições de Campinas (SP), bem inferiores à testemunha 'Catuaí Vermelho' IAC 81 utilizada sem o controle de ferrugem. Por outro lado, P EREIRA et al. (1987), B ETTENCOURT e R ODRIGUES (1988), PEREIRA et al. (1995), MELO et al. (1998), SERA et al. (2000) 211 e FAZUOLI et al. (2002) observaram boas produções em progênies derivadas de cruzamentos entre descendentes do Híbrido de Timor e cultivares de C. arabica. Os coeficientes de variação experimental (CVe) foram 44,63%, 42,14%, 24,52% e 77,42%, respectivamente, em 1997, 1998, 1999 e 2000 (Tabela 2). Altos coeficientes de variação são verificados em experimentos de avaliação de progênies de café, em anos individuais, variando entre 20% e 40%, e menores na análise de combinações de anos (S ERA , 1980; M ENDES , 1994; F ONSECA, 1999). O elevado coeficiente de variação observado em 2000 se deve a condições climáticas desfavoráveis para a cultura, pois nesse ano a região passou por longo período de seca e alta incidência de ferrugem. No entanto, houve expressiva redução nas estimativas de CVe, quando se analisaram os dados em combinações de colheitas, variando de 21,66% a 30,69%. Essa redução no CVe reforça a idéia de que o agrupamento das colheitas contribui para reduzir os efeitos da bienalidade da produção. Resultados semelhantes foram encontrados por S E R A (1980) e M ENDES (1994). A média de produção de grãos beneficiados por planta, para tratamentos, foi crescente nos três primeiros anos avaliados, passando de 0,248 kg por planta para 0,464 kg/planta e 1,626 kg/planta, respectivamente, na primeira, segunda e terceira colheita. Houve redução drástica na quarta colheita, para 0,571 kg por planta. Segundo F AZUOLI (1977), as plantas de café indicam tendência em aumentar a produção até a 5.a colheita, com menos oscilação bienal. A redução da produção na 4.a colheita pode ser decorrente da seca ocorrida na região, ou também do início da manifestação da bienalidade da produção de grãos apresentada pela espécie cultivada a pleno sol e sem poda. O coeficiente de herdabilidade (h2), estimado com base nas médias de progênies, ficou entre 70% e 80% para as colheitas de 1998 e 1999 e combinação de anos. Na primeira (1997) e quarta colheitas (2000), foi de 25,19% e 43,34% respectivamente. Excetuandose a primeira e quarta colheitas, tem-se uma situação favorável para realizar a seleção, o que está de acordo com CARVALHO et al. (1969), FAZUOLI (1977) e FAZUOLI Et al. (2000). Esses autores indicam ser os anos de maior produção os mais favoráveis para a realizar a seleção. As combinações P23, P123, P234 e PT apresentaram herdabilidade igual a 80,36%, 77,46%, 78,30% e 76,27% respectivamente. A condição mais favorável é a combinação de anos porque reduz o efeito de interação genótipo x ambiente. A combinação P23 foi a mais favorável seguida da combinação P234. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.207-219, 2004 FV Quadrados Médios* GL Blocos 5 P97 P98 P99 P20 P12 P23 P34 P123 P234 PT 0,029 0,300 0,180 0,501 0,505 0,839 0,745 1,167 1,556 1,936 Tratamentos 29 0,018 6,3 0,175 0,0 0,551 0,0 0,433 0,1 0,159 0,0 1,054 0,0 1,198 0,0 1,064 0,0 2,065 0,0 2,006 0,0 Progênies (G) 27 0,016 1 4 , 1 0,175 0,0 0,580 0,0 0,345 1,8 0,167 0,0 1,131 0,0 1,228 0,0 1,139 0,0 2,094 0,0 2,065 0,0 Testemunha (C) 1 0,011 1 0 0 0,000 1 0 0 0,009 1 0 0 0,005 1 0 0 0,010 1 0 0 0,009 1 0 0 0,001 1 0 0 0,039 1 0 0 0,001 1 0 0 0,017 1 0 0 G vs C 1 0,080 1,2 0,335 0 , 3 6 0,303 1 7 , 0 3,247 0,0 0,088 1 7 , 8 0,001 1 0 0 1,567 3,5 0,064 1 0 0 3,350 0,7 2,397 2,8 0,012 0,038 0,159 0,195 0,048 0,222 0,345 0,257 0,454 0,490 Tratamentos 0,248 0,464 1,626 0,571 0,713 2,091 2,197 2,339 2,662 2,910 Progênies (G) 0,243 0,476 1,615 0,607 0,719 2,091 2,222 2,334 2,698 2,941 Testemunha (C) 0,327 0,303 1,780 0,068 0,630 2,083 1,848 2,410 2,152 2,478 Resíduo 145 212 Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.207-219, 2004 Tabela 2. Resumo das análises de variâncias individuais, considerando média de parcelas, médias de tratamentos, progênies e testemunhas e estimativas de parâmetros genéticos e não-genéticos do caráter produção de grãos beneficiados, em kg/planta, nos anos 1997 (P97), 1998 (P98), 1999 (P99) e 2000 (P20) e nas combinações de anos 1997 e 1998 (P12), 1998 e 1999 (P23), 1999 e 2000 (P34), 1997, 1998 e 1999 (P123), 1998, 1999 e 2000 (P234) e total dos quatro anos (PT), de 30 genótipos de C. arabica avaliados em Patrocínio (MG) Média 44,63 42,14 24,52 77,42 30,69 22,54 26,73 21,66 25,32 24,05 σˆ F2 0,0027 0,0292 0,0967 0,0575 0,0278 0,1885 0,2047 0,1899 0,3490 0,3442 σ̂ e 0,0020 0,0064 0,0265 0,0326 0,0080 0,0370 0,0575 0,0428 0,0757 0,0817 σˆ 0,0007 0,0228 0,0702 0,0249 0,0198 0,1515 0,1472 0,1471 0,2732 0,2625 2 g h 2 (%) 25,19 78,13 72,59 43,34 71,33 80,36 71,90 77,46 78,30 76,27 CVg (%) 10,82 31,73 16,40 26,01 19,60 18,61 17,26 16,45 19,37 17,42 0,24 0,77 0,66 0,36 0,64 0,83 0,65 0,76 0,77 0,73 θˆ (CVg/CVe) * Valores de probabilidade, para significância pelo teste F, estão apresentados em sobrescrito. P. Bonomo et al. CVe(%) Avaliação de progênies descendentes do Híbrido de Timor O índice de variação ( θ ) é a proporção entre o coeficiente de variação genética (CVg) e o coeficiente de variação ambiental (CVe). Segundo VENCOVSKY (1987), quando esse índice é próximo ou superior a 1,0 indica uma situação favorável à seleção. Nesse estudo, essa relação, multiplicada por 100, resulta em valores concordantes com os obtidos para os coeficientes de herdabilidade, sendo apenas pouco inferiores. Assim, a discussão para θ é a mesma daquela da herdabilidade, corroborando uma situação favorável para a seleção. Os coeficientes de variação genética (CVg) oscilaram entre 10,82% e 31,73%, para os anos avaliados e combinações de anos, revelando que a seleção das melhores progênies possibilitará expressivo aumento no valor genético da população, quanto ao caráter em questão. A estimativa de parâmetros genéticos de uma população é de grande importância nos programas de melhoramento. Porém, para um dado caráter, a estimativa de um parâmetro pode ser variável, sendo função da variabilidade genética existente na população e das condições do ambiente. No caso da produção inicial de grãos de café, as diferentes estimativas encontradas para os quatro anos iniciais e combinação de anos são, provavelmente, função dos diferentes genes que se estão expressando ao longo do crescimento e desenvolvimento da planta, de diferenças no tamanho e desenvolvimento inicial das mudas logo após o plantio no campo e das condições do ambiente apresentadas nos anos de colheita. Além disso, na interpretação das estimativas dos coeficientes de herdabilidade, deve-se estar atento ao viés dessas estimativas, pois sendo a herdabilidade no sentido amplo uma relação da variância genética entre progênies e a variância fenotípica, em experimentos desenvolvidos em apenas um local, a variância genética possível de ser estimada fica inflacionada pelo componente de variância dada pela interação genótipo x local. Com relação à resistência ao agente causador da ferrugem, em 1997 e 1998, todas as plantas do experimento receberam nota 1, ou seja, não houve incidência da ferrugem, possivelmente devido ser os anos iniciais de produção das plantas coincidindo com anos desfavoráveis ao ataque da doença. Nos anos seguintes, todas as plantas das 28 progênies F 3 em estudo receberam nota 1, enquanto as plantas da testemunha 'Catuaí Vermelho' IAC 15 receberam notas que variaram de 2 a 4. Os resultados atestam que as progênies avaliadas no experimento apresentam resistência às raças de ferrugem presentes na região do experimento. 213 O cafeeiro conhecido como Híbrido de Timor apresenta, pelo menos, quatro genes SH6, SH 7, Sh 8 e SH 9 que conferem resistência ao agente da ferrugem (VARZEA et al., 2000). Devido à natureza dominante desses genes, entre os descendentes de cruzamentos com cultivares suscetíveis à freqüência de plantas suscetíveis na geração F 3 deve ser bastante reduzida, sobretudo quando se efetua seleção para essa característica na geração anterior (F 2 ). Os resultados apresentados neste trabalho corroboram essa hipótese. Analisando as características que compõem o aspecto geral da cultura, verificou-se que, para os caracteres porte, vigor, altura e diâmetro da planta, carga pendente e diâmetro do caule ocorreram diferenças significativas, P < 0,05, pelo teste F, entre os tratamentos nos respectivos anos avaliados. Verificouse ainda que não ocorreram diferenças significativas entre as testemunhas (P < 0,01). Para o contraste genótipos vs testemunhas na maioria dos casos ocorreram diferenças significativas. Considerando a existência de variabilidade genética entre as progênies, P < 0,05 para os caracteres relacionados, será possível praticar seleção com o objetivo de se obter variedades que se adaptem a diferentes sistemas de cultivo. As médias de produção em quilogramas de grãos beneficiados por planta, obtidas em 1997, 1998, 1999 e 2000 e nas combinações de anos, encontramse na tabela 3, bem como o resultado do teste de Duncan, a 5% de probabilidade para a comparação entre as médias. Ao se comparar o desempenho dos genótipos em 1997, verifica-se que a cultivar Catuaí Vermelho IAC 15 foi a mais produtiva (0,357 kg por planta), contudo não diferiu das progênies 515-4-2, 438-7-2 e 514-5-5. Como se trata do primeiro ano de produção, há evidência de precocidade da cultivar Catuaí em relação ao conjunto de progênies avaliadas; no entanto, é possível selecionar progênies de maturação semelhante a essa cultivar. Nas colheitas de 1998 e 1999, a progênie 5059-2 foi a mais produtiva com média de 0,874 kg/ planta e 2,400 kg/planta, respectivamente, diferindo estatisticamente dos demais tratamentos. Essa progênie manteve-se também entre as mais produtivas na colheita de 2000, com produção média de 0,977 kg/ planta, e foi a mais produtiva em todas as combinações de anos. Quando se observa a produção acumulada da 2.ª, 3.ª e 4.ª colheitas, várias progênies foram mais produtivas que a testemunha Catuaí Vermelho IAC 15, destacando-se 505-9-2, 514-7-10, 514-7-8, 518-3-6, 514-7-6, 518-2-6, 493-1-2 e 514-7-16. Ao selecionar antecipadamente as 10 melhores progênies em 1998, que corresponde à 2ª safra, incluiria sete entre as oito primeiras classificadas considerando a produção acumulada da 2. a, 3.a e 4.a colheitas. Assim, poderia praticar seleção antecipada eficiente usando somente a produção de 1988. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.207-219, 2004 P97 P98 P99 P20 P123 P234 PT ProgênieX Progênie X Progênie 505-9-2 0,874 A 505-9-2 2,400 a 0,340 ab 514-7-16 0,738 B 518-2-6 2,108 b 438-7-2 0,324 abc 514-7-10 0,735 B 515-4-2 1,975 bc 504-5-6 1,033 ab 493-1-2 2,710 c 514-7-8 3,265 bc 514-7-6 3,414 c 514-5-5 0,321 abc 518-3-6 0,702 Bc 514-7-8 1,928 cd 505-9-2 0,977 abc 515-4-2 2,702 c 518-3-6 3,191 cd 514-7-8 3,400 c 514-7-2 0,303 bcd 493-1-2 0,678 Bc 518-2-2 1,856 cde 514-7-16 0,880 bcd 514-7-8 2,692 c 514-7-6 3,128 cde 518-2-6 3,392 cd IAC 15 0,297 bcde 514-7-8 0,629 Cd 514-7-14 1,843 cde 514-5-2 514-7-14 2,666 cd 518-2-6 3,110 cdef 518-3-6 3,387 cd 493-1-2 3,063 cdefg 493-1-2 3,343 cde 514-7-16 3,024 cdefg 515-4-2 3,300 cdef Progênie X Progênie IAC 15 0,357 a 515-4-2 518-2-10 0,290 cde X Progênie X 514-7-10 1,090 a 505-9-2 3,463 a 505-9-2 4,251 a 505-9-2 4,441 a 514-7-6 518-2-6 2,905 b 514-7-10 3,465 b 514-7-10 3,684 b X 1,070 a 0,842 cde 1,834 cde 518-3-6 0,731 def 1,808 de 514-7-8 0,708 efg 2,656 cd 518-2-10 2,653 518-3-6 cd Progênie X 514-5-2 0,572 De 518-2-10 516-8-2 0,289 cde 514-7-14 0,559 Def IAC 15 514-7-6 0,286 cde 518-2-10 0,530 Efg 436-1-4 1,776 def 518-2-4 0,648 fgh 518-2-2 2,595 cde 515-4-2 2,960 defgh 514-7-16 3,235 cdefg 518-2-6 0,282 cde 518-2-6 0,515 efgh 518-3-6 1,758 efg 493-1-2 0,633 fghi 514-7-10 2,593 cde 514-7-14 2,956 defgh 514-7-14 3,221 cdefgh 0,281 cde 518-2-2 0,506 efghi IAC 15 1,752 efg 436-1-4 0,629 fghi 436-1-4 2,472 def 504-5-6 defgh 518-2-10 3,187 cdefgh 0,270 def 504-5-6 0,502 efghi 493-1-2 1,752 efg 514-5-4 0,603 fghi IAC 15 2,467 def 518-2-10 2,898 efgh 504-5-6 3,132 cdefgh 514-7-4 0,269 def 518-2-4 0,487 Fghi 514-7-6 1,739 efg 515-4-2 0,598 fghi 514-7-4 2,427 ef 436-1-4 2,848 efgh 436-1-4 3,101 defgh 514-5-4 0,483 Fghi 514-5-4 1,725 efgh 514-7-14 0,554 fghi 514-5-4 2,370 fg 518-2-2 2,835 fgh 518-2-2 3,068 efgh 514-7-16 2,356 436-1-4 0,253 efgh 438-7-2 0,455 Ghij 514-7-4 1,715 efgh 516-8-2 0,537 ghi 518-2-2 0,233 fghi 514-7-4 0,444 Hijk 514-7-10 1,639 fghi 514-7-4 0,534 ghi IAC 15 2,353 fg 514-5-2 2,817 gh 514-5-2 3,040 fgh fg 514-5-4 2,811 gh 514-5-4 2,973 ghi 518-2-8 0,233 fghi 436-1-4 0,443 Hijk 514-5-5 1,608 ghij 518-2-10 0,534 ghi 514-7-6 2,345 fg 518-2-4 2,711 h 514-7-4 2,961 ghi 518-2-4 0,229 fghi 428-7-1 0,430 Ijkl 518-2-4 1,576 hijk 518-2-8 514-5-5 2,297 fgh 514-7-4 2,692 h 518-2-4 2,940 hi 514-5-2 0,223 ghi 0,512 hi 515-4-2 0,387 Jklm 493-1-3 1,540 ijkl 518-2-6 0,487 hij 518-2-4 2,292 fgh 514-5-5 2,426 i 514-5-5 2,747 ij 514-7-10 0,219 hi 514-5-5 0,368 klmn 518-2-8 1,539 ijkl 428-7-1 0,483 hij 438-7-2 2,202 ghi 518-2-8 2,412 ij 518-2-8 2,644 jk 493-1-3 0,213 hi 504-5-8 0,364 lmno 516-8-2 1,451 jklm 504-5-8 0,479 hij 514-5-2 2,199 ghi 516-8-2 2,286 ijk 516-8-2 2,575 jkl 514-7-16 0,212 hi 518-2-8 0,362 lmno 438-7-2 1,423 klm 518-2-2 0,473 hij 518-2-8 2,133 hi 438-7-2 2,204 ijk 438-7-2 2,527 jkl 515-4-4 514-7-6 0,320 mnop 514-7-16 1,406 lmn 515-4-4 0,468 hij 504-5-6 2,099 hi IAC 15 2,159 jkl IAC 15 2,516 jkl 0,209 hij 504-5-8 0,203 ijk IAC 15 0,304 Nop 514-5-2 1,404 lmn 514-5-5 0,450 ij 516-8-2 2,038 ij IAC 15 2,144 kl IAC 15 2,441 klm 504-5-6 0,201 ijk IAC 15 0,302 Nop 504-5-6 1,397 lmn 438-7-2 0,325 jk 493-1-3 2,037 ij 504-5-8 2,100 kl 428-7-1 2,331 lmn 518-3-6 0,196 ijk 516-8-2 0,298 Nop 514-7-2 1,301 mno 518-3-4 0,273 k 514-7-2 1,879 jk 428-7-1 2,061 klm 504-5-8 2,303 lmn 505-9-2 0,190 ijk 515-4-4 0,290 Nop 504-5-8 1,257 no 514-7-2 0,245 kl 428-7-1 1,849 jk 493-1-3 2,019 klm 493-1-3 2,232 mn 518-3-4 0,166 jkl 493-1-3 0,284 Op 515-4-4 1,153 o 493-1-3 0,195 klm 504-5-8 1,824 kl 515-4-4 1,910 lm 514-7-2 2,124 n 514-5-4 0,162 kl 514-7-2 0,275 P 428-7-1 1,149 o IAC 15 0,088 lm 515-4-4 1,651 l 514-7-2 1,822 m 515-4-4 2,119 n 514-7-8 0,135 l 518-3-4 0,103 Q 518-3-4 0,987 p IAC 15 0,049 m 518-3-4 1,256 m 518-3-4 1,363 n 518-3-4 1,529 o *Médias seguidas de pelo menos uma mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente entre si, a 5% de probabilidade, pelo teste de Duncan. P. Bonomo et al. 493-1-2 428-7-1 514-7-14 0,265 defg 2,931 214 Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.207-219, 2004 Tabela 3. Médias do caráter produção de grãos beneficiados, expressos em kg/planta, nos anos 1997 (P97), 1998 (P98), 1999 (P99) e 2000 (P20) e nas combinações de anos 1997 e 1998 (P12), 1998 e 1999 (P23), 1999 e 2000 (P34), 1997, 1998 e 1999 (P123), 1998, 1999 e 2000 (P234) e total dos quatro anos (PT), 30 genótipos de C. arabica avaliados em Patrocínio (MG) 215 Avaliação de progênies descendentes do Híbrido de Timor A oscilação na produção apresentada pelas plantas de café é fator desfavorável ao produtor, pois em períodos posteriores aos anos de baixa produção haverá problemas econômicos para o manejo da lavoura. Nesse aspecto, verifica-se que as progênies 505-9-2 e 514-7-8 apresentaram baixa produção na primeira colheita, porém nas três colheitas seguintes estiveram entre as mais produtivas, enquanto a cultivar Catuaí Vermelho IAC 15 e as progênies 514-7-6 e 493-1-2 oscilaram entre altas e baixas produções. A progênie 505-9-2 que se destacou como a mais produtiva, também apresentou bom vigor de planta e diâmetro de caule, porém, porte, altura e diâmetro de planta iguais ou superiores à testemunha 'Catuaí Vermelho' IAC 15 (Tabela 4). As progênies 514-7-10 e 514-7-6, que se destacaram também como bastante produtivas, mostraram vigor de planta semelhante à progênie 505-9-2. Essas duas progênies, entretanto, apresentaram porte, altura, diâmetro de planta e diâmetro de caule inferiores à progênie 505-9-2 e semelhantes à testemunha 'Catuaí Vermelho' IAC 15. Como se pode verificar, com base no conjunto de progênies avaliadas é possível selecionar progênies que atendam a diferentes sistemas de cultivo. Por exemplo, selecionar progênies com porte mais alto indicadas para plantios menos adensados, e, por outro lado, selecionar progênies com menor porte para plantios mais adensados. Tabela 4. Produção acumulada (1998/2000) de grãos beneficiados, expressos em kg por planta (P234) e caracteres morfológicos da planta avaliados no ano 2000, das oito progênies mais produtivas e cultivar testemunha Catuaí Vermelho IAC 15 avaliadas em Patrocínio (MG) Progênie * Produção Porte da Vigor da Altura de Diâmetro do Diâmetro P234 Planta planta Planta Caule Planta kg pontos pontos m cm m 505-9-2 4,251a 2,79a 6,76bc 2,22a 7,05a 2,02a 514-7-10 3,465b 1,99jkl 6,67bcd 1,75jkl 6,11i 1,69jkl 514-7-8 3,265bc 2,38fg 6,46cdef 1,99ef 6,04i 1,85cde 518-3-6 3,191cd 2,53cdef 6,57cd 2,06bcde 6,99ab 2,00ab 514-7-6 3,128cde 1,75nop 6,43cdef 1,67n 6,37fgh 1,72ijk 518-2-6 3,110cdef 2,14ij 6,31def 1,90gh 6,64cde 1,86cde 493-1-2 3,063cdefg 1,92lmn 6,67bcd 1,72lmn 6,26ghi 1,89cd 514-7-16 3,024cdefg 1,96klm 7,00ab 1,80jk 6,51def 1,90c 1,860lmn 5,19ij 1,74jkl 5,42j 1,60mn Catuaí Vermelho IAC 15 2,152jkl Médias seguidas de pelo menos uma mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente entre si, a 5% de probabilidade, pelo teste de Duncan. Na Tabela 5, verificam-se as estimativas dos coeficientes de correlação genotípica (rg), fenotípica (rF) e de ambiente (re) entre os caracteres carga pendente, vigor de planta e porte da planta com a produção de grãos do respectivo ano de avaliação e a produção de grãos do ano seguinte. De maneira geral, as estimativas dos coeficientes de correlação fenotípica e genotípica entre os caracteres mencionados e a produção de grãos do respectivo ano de avaliação e do ano seguinte, apresentaram concordância entre si, demonstrando baixa influência dos anos de colheita na associação entre esses caracteres. Os valores do coeficiente de correlação genética, entre carga pendente e produção de grãos do respectivo ano de avaliação, foram: -0,22; -1,00; -0,83 e -0,85. Com exceção do primeiro valor, são valores altos de correlação negativa. Esses resultados contrariam o esperado, uma vez que se visava utilizar a característica carga pendente, avaliada subjetivamente por meio de notas, como critério auxiliar ou até mesmo substitutivo, do caráter produção. Assim, novos estudos devem ser realizados, porém os resultados deste trabalho indicam ser pouco promissor o uso da característica carga pendente na seleção indireta para produção. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.207-219, 2004 216 P. Bonomo et al. Tabela 5. Estimativa dos coeficientes de correlação genotípica (rg ), fenotípica (rF ) e de ambiente (r e) entre os caracteres carga pendente (Cp), vigor da planta (Vg) e porte da planta (Pt) com a produção de grãos do respectivo ano de avaliação e com a produção do ano seguinte Caracteres rg rF re Cp97 – P97 -0,22 -0,19 -0,21 Cp98 – P98 -1,17 -0,85** -0,43 Cp99 – P99 -0,83 -0,65** -0,35 Cp20 – P20 -0,85 -0,75** -0,66 Vg97 – P97 -0,48 -0,24 -0,07 Vg98 – P98 0,35 0,34 0,39 Vg99 – P99 0,17 0,15 0,12 Vg20 – P20 0,90 0,58** 0,41 Vg97 – P98 0,88 0,79** 0,51 Vg98 – P99 0,27 0,29 0,37 Vg99 – P20 0,90 0,58** 0,23 Pt97 – P97 -0,55 -0,06 0,26 Pt98 – P98 0,32 0,28 0,17 Pt99 – P99 0,55 0,42** 0,06 Pt20 – P20 0,18 0,19 0,24 Pt97 – P98 0,33 0,24 0,08 Pt98 – P99 0,36 0,32 0,23 Pt99 – P20 0,18 0,19 0,10 ** Significativo a 1% de probabilidade pelo teste t. O vigor da planta correlacionou-se de forma negativa com a produção na primeira colheita (rg = -0,48), fato explicável, pois aquelas progênies com início de produção tardio dispõem de maior quantidade de energia para crescimento vegetativo. Porém, nos anos seguintes, o vigor vegetativo apresentou correlação positiva com a produção de grãos do mesmo ano de avaliação. O vigor da planta também se apresentou correlacionado positivamente com a produção de grãos do ano seguinte. Em 2000, quando ocorreu intensa seca na região, a correlação do vigor da planta com a produção de grãos de 0,90 apresentou seu mais alto valor. Esse fato revela que existe, no conjunto de progênies avaliadas, material genético com provável adaptação à seca. Correlação positiva entre o vigor da planta e a produção também foi observada por FAZUOLI (1977), C ARVALHO et al. (1979), C ARVALHO et al. (1984), entre outros. Da mesma forma, como se nota na tabela 5, o porte das plantas mostrou-se correlacionado positivamente com a produção de grãos somente a partir do segundo ano de produção. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.207-219, 2004 A correlação genotípica de 0,33, observada entre a altura da planta e a produção total (Tabela 6), está de acordo em sinal, e tem magnitude próxima, de 0,22 a 0,42, em DHALIWAL (1968), 0,58 em ROCHA et al. (1980) e 0,43 em SERA (1987). A correlação genotípica entre a produção total e o diâmetro de caule de 0,56 é concordante com os valores observados por DHALIWAL (1968), entre 0,26 e 0,62 e com os de SRINIVASAN (1980), que variaram entre 0,55 e 0,51. A correlação genotípica de 0,41 entre o diâmetro da planta e a produção total é condizente com os valores de 0,04 a 0,67 obtidos por D HALIWAL (1968), em amostras de várias cultivares, 0,51 em ROCHA et al. (1980) e 0,29 em SERA (1987). A existência dessa correlação indica a necessidade de corrigir a produção por planta para produção por hectare, de acordo com a altura e o diâmetro da copa das progênies. Assim, possibilitará selecionar as mais produtivas por hectare para os cultivos mais intensivos cuja produtividade por hectare é mais importante que a produção por planta. 217 Avaliação de progênies descendentes do Híbrido de Timor Tabela 6 - Estimativa dos coeficientes de correlação fenotípica (r F, acima da diagonal) e genotípica (r g, abaixo da diagonal) correspondentes às combinações de 10 caracteres de 30 genótipos de C. arabica, avaliados em Patrocínio (MG) Caráter P97 P97 - P98 P99 P20 P123 P234 PT Ap Dc Dp -0,23 0,08 -0,25 0,09 -0,12 -0,03 -0,28 -0,14 -0,39 P98 -0,46 - 0,59 0,64 0,79 0,86 0,84 0,30 0,34 0,56 P99 -0,11 0,73 - 0,34 0,95 0,83 0,85 0,44 0,43 0,36 P20 -0,77 0,94 0,62 - 0,46 0,77 0,75 0,14 0,30 0,31 P123 -0,18 0,87 0,97 0,75 - 0,92 0,93 0,40 0,42 0,43 P234 -0,42 0,94 0,91 0,89 0,97 - 1,00 0,37 0,45 0,48 PT -0,37 0,94 0,92 0,87 0,98 1,00 - 0,35 0,44 0,45 Ap -0,82 0,33 0,49 0,08 0,41 0,37 0,33 - 0,72 0,64 Dc -0,61 0,48 0,63 0,40 0,58 0,58 0,56 0,89 - 0,64 Dp -1,11 0,64 0,39 0,25 0,45 0,46 0,41 0,64 0,79 - P97, P98, P99, P20: produção de grãos nos anos 1997, 1998, 1999 e 2000; P123, P234, PT: produção de grãos nas combinações de anos; Ap: altura de plantas; Dc: diâmetro de caule; Dp: diâmetro de planta. As estimativas de correlações apresentadas na tabela 5 mostram que as correlações entre os anos de produção foram de alta magnitude considerando os três últimos anos de produção. No entanto, foram de baixa magnitude ou negativas, quando consideradas com o primeiro ano de produção. Esse fato revela que a produção do primeiro ano deve ser excluída para possibilitar seleção precoce branda eficiente, ao se considerar a 2. a, 3. a e 4.a colheitas. 4. CONCLUSÕES 1. As progênies avaliadas apresentaram média de produção de grãos superiores à testemunha, e grande variabilidade genética, sugerindo a possibilidade de se obter linhagens superiores. 2. As progênies avaliadas apresentaram-se resistentes às raças fisiológicas da ferrugem presentes na região do experimento. 3. Com base nas análises dos caracteres vegetativos do conjunto de progênies avaliado, é possível obter linhagens que atendam a diferentes objetivos do melhoramento do cafeeiro. 4. A progênie 505-9-2 se destaca como material produtivo e vigoroso e de porte alto, enquanto a 514-7-10 e a 514-7-6, além de produtivas e vigorosas, apresentaram porte baixo semelhante à cultivar Catuaí Vermelho IAC 15. 5. O caráter produção de grãos revelou correlação genotípica alta e positiva com os caracteres diâmetro do caule, vigor, porte, altura e diâmetro da planta. Não apresentou, porém, resultados consistentes de correlação com carga pendente. 6. A seleção para a produção de grãos neste experimento somente poderá ser realizada com eficiência a partir do segundo ano de produção. REFERÊNCIAS ABREU, M.S. Resistência horizontal a Hemileia vastatrix Berk e Br. em cafeeiros descendentes do Híbrido de Timor. Viçosa, 1988. 68f. Dissertação (Mestrado em Fitopatologia) - Universidade Federal de Viçosa. BETTENCOURT, A.J.; RODRIGUES, C.J. Principles and practice of coffee breeding for resistance to rust and other diseases. In: CLARKE, R.J.; MACRAE, R. (Eds.). Coffee: agronomy. 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Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.207-219, 2004 Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.63 no.2 Campinas 2004 MELHORAMENTO GENÉTICO VEGETAL Conteúdo cianogênico em progênies de mandioca originadas do cruzamento de variedades mansas e bravas Cyanide acid content in progenies from crosses of bitter and sweet cassava cultivars Teresa Losada ValleI; Cássia Regina Limonta CarvalhoI; Maria Teresa Baraldi RamosI; Gilda Santos MühlenIII; Omar Vieira VillelaII IInstituto Agronômico (IAC) - Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP), Brasil. Email: [email protected]; [email protected] IIPólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Vale do Paraíba, Caixa Postal 32, 12400-000 Pindamonhangaba (SP) IIIBolsista de pós-doutorado da FAPESP, atualmente na Universidade Federal de Rondônia, campus de Rolim de Moura RESUMO As variedades de mandioca (Manihot esculenta Crantz ssp esculenta) são classificadas pela taxonomia popular em bravas e mansas. As bravas têm sabor amargo, contêm alto teor de glicosídeos cianogênicos (superior a 100 mg de equivalente HCN/kg de polpa fresca de raiz) e são consumidas após serem processadas na forma de farinha, fécula e outros produtos. As mansas ou doces não têm sabor amargo, contêm baixo teor de glicosídeos cianogênicos, são consumidas com ou sem qualquer processamento, principalmente por meio de preparados domésticos simples. Neste trabalho, foram feitos cruzamentos para verificar o perfil cianogênico das progênies segregantes visando utilizar variedades bravas no melhoramento de mandiocas mansas. Duas variedades mansas (IAC 289-70 e IAC 576-70) e uma brava (SRT-1330 Xingu) foram polinizadas com uma variedade mansa (SRT-797 Ouro do Vale). Dos cruzamentos entre variedades mansas, 85,7% dos genótipos apresentaram teores abaixo de 100 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz. Do cruzamento entre as variedades mansa e a brava, apenas 31,3% dos genótipos mostraram teores abaixo desse valor. A média das progênies foi muito próxima à média dos parentais. Em todos os cruzamentos, a maior freqüência de genótipos esteve na classe entre 50 e 100 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz, mesmo no cruzamento entre brava e mansa. Em todos os cruzamentos apareceram segregantes transgressivos para maior e menor potencial cianogênico em relação a qualquer parental. O tipo de segregação observada indica ser a cianogênese um caráter com herança quantitativa que, embora tenha algum grau de influência ambiental, torna possível a seleção de indivíduos com maior ou menor teor cianogênico devido à alta herdabilidade oriunda de ampla variabilidade genotípica. Assim, variedades bravas podem surgir como recombinantes de variedades mansas, sendo também possível selecionar variedades com baixo teor cianogênico em cruzamentos de mandiocas mansas com mandiocas bravas. Palavras-chave: ácido cianídrico, mandioca brava, mandioca mansa, melhoramento de mandioca de mesa. ABSTRACT Cassava varieties are popularly separated by taste as bitter or sweet cultivars. Roots of bitter cultivars have a high HCN content (over 100 mg HCN equivalent/kg fresh roots) and are consumed only after processing, as flour, starch and other products. Sweet cultivars have low HCN content and can be consumed without any kind of processing. With the purpose of studing the possibility of using bitter varieties in the breeding of sweet cassava varieties, crosses were made between the different types of varieties to verify the cyanogenic profile of the segregating progenies. Two sweet varieties (IAC 289-70, IAC 576-70) and a bitter variety (SRT-1330 Xingu) were pollinated by a sweet variety (SRT-797 Ouro do Vale). Crosses between sweet cultivars yielded progenies with 85.7% of individuals with a HCN content below 100 mg HCN equivalent/kg fresh roots, while only 31.3% of the individuals from crosses between sweet and bitter varieties were under this value. The average HCN content of the progenies was very similar to the average of parents. In all crosses most of individuals showed values between 50 and 100 mg HCN equivalent/kg fresh roots, even those derivated from the cross between sweet and bitter varieties. All crosses yielded transgressive segregants, with HCN content superior or inferior to either parent. The observed data show that the HCN content is a quantitative characteristic and that there is genetic variability allowing selections for high or low HCN content. Bitter cultivars may arise from crosses between sweet cultivars and sweet cultivars may be selected from crosses between sweet and bitter cultivars. Key words: breeding, HCN content, sweet cassava, bitter cassava, sweet cassava breeding. 1. INTRODUÇÃO A mandioca é uma espécie domesticada pelas populações pré-colombianas nas terras quentes da América. Devido à ampla adaptabilidade às condições ambientais e à capacidade produtiva, tornou-se alimento básico para muitas populações indígenas e complementar para outras (BROCHADO, 1977). Atualmente, é uma das principais fontes alimentícias para as populações dos países tropicais e importante matéria-prima para a extração de amido. Desde as culturas pré-colombianas até os dias atuais, a taxonomia popular, utilizando como critério a toxicidade e palatabilidade das raízes, classifica as variedades de mandioca em dois grupos: mansas ou doces e bravas ou amargas. De maneira bastante subjetiva, as variedades bravas têm sabor amargo e as doces não, são levemente adocicadas. O sabor amargo está associado ao potencial cianogênico, ou seja, à capacidade da liberação de ácido cianídrico (HCN), substância altamente tóxica (PEREIRA e PINTO, 1962; PEREIRA et al., 1965 e outros). Evidências revelam que o sabor amargo é perceptível a partir de 100 mg eq. HCN/kg de polpa das raízes (DUFOUR, 1988; LORENZI et al.,1993). Não há entre os grupos qualquer característica morfológica da planta que permita distingui-los. A diferença mais concreta entre variedades bravas e mansas encontra-se no modo de consumo. As bravas são utilizadas para produzir farinha, extrair amido e outros produtos, mas somente são consumidas após algum tipo de processamento industrial com efeito destoxificante. Variedades mansas são mais versáteis, podem ser destinadas ao processamento tal qual as variedades bravas, e também consumidas após preparos mais simples como cozidas, fritas ou assadas. Até o início do século 20, na América, as variedades bravas e mansas seguiam um padrão de distribuição geográfica definido. Algumas tribos indígenas cultivavam somente mandiocas bravas, outras apenas mandiocas mansas e um terceiro grupo, utilizavam-se de variedades bravas e mansas (Nordenskiöld, apud RENVOIZE, 1972; BROCHADO, 1977). As evidências citadas indicam ser possível a existência de duas populações, uma de variedades mansas e outra de variedades bravas. Estudos mais recentes com marcadores moleculares reforçam essa possibilidade, separando grupos de variedades bravas e mansas (MÜHLEN et al., 2001). Atualmente, em regiões do Centro-Sul do Brasil, há cultivo intensivo em grandes áreas, exclusivamente para fins comerciais. Próximo aos grandes centros urbanos, mandioca mansa (chamada de mesa) é cultivada em sistemas de produção diferenciados do cultivo de mandioca para as indústrias de farinha e amido. A produção de mandioca de mesa é uma atividade agrícola bastante expressiva e destinada somente à comercialização in natura e indústria de congelados. Variedades de mesa, além de bom desempenho agrícola, devem possuir qualidades sensoriais típicas e baixo potencial cianogênico para que não tenham sabor amargo e ofereçam riscos de intoxicação aos consumidores. O objetivo deste trabalho foi avaliar a possibilidade de se utilizarem mandiocas bravas no melhoramento de mandioca de mesa no que tange à segregação do potencial cianogênico, visto que genótipos com alto potencial cianogênico não podem ser selecionados para variedades de mesa. 2. MATERIAL E MÉTODOS As variedades IAC 576-70 (mansa), IAC 289-70 (mansa) e SRT 1330-Xingu (brava) foram cruzadas com a variedade SRT 797-Ouro do Vale (mansa). As progênies e os parentais foram avaliados no campo em linhas de cinco plantas por genótipo, cultivados no Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Vale do Paraíba, DDD/APTA, em Pindamonhangaba (SP). Para os genótipos segregantes não ocorreram repetições e, para os parentais, houve de quatro a oito repetições. Avaliaram-se, no mínimo, 32 genótipos de cada cruzamento. Aos doze meses, foi feita a colheita e de cada linha foram retiradas, aleatoriamente, no mínimo, sete raízes e enviadas ao laboratório para análise do teor dos glicosídeos cianogênicos (HCN). As amostras foram armazenadas dentro de sacos plásticos sob refrigeração até o momento da análise. Com a finalidade de avaliar perdas dos compostos cianogênicos durante o período de armazenagem das raízes, conjuntamente com as raízes coletadas, foram analisadas, periodicamente, amostras de uma variedade padrão (STR 1310 – Pioneira). Verificou-se que não houve perdas durante o período de armazenagem. Para a análise do teor de glicosídeos cianogênicos foram retirados três cilindros de aproximadamente 4 cm, da parte inicial, mediana e distal de cada uma das raízes. Os cilindros foram descascados, triturados e homogeneizados. Duas subamostras de 50 g foram retiradas, quantificando-se o teor de glicosídeos cianogênicos, segundo o método argentimétrico descrito pela AOAC (WILLIAMS, 1990), mantendo-se as amostras em autólise durante 16 horas. Os parâmetros genéticos foram estimados considerando-se: a) variância ambiental diferenças entre repetições dos clones parentais; b) variância fenotípica – diferenças entre genótipos originados do mesmo cruzamento; c) variância genética – diferença entre a variância fenotípica e a média da variância ambiental estimada pelos dois parentais; e d) herdabilidade no sentido amplo (variância genética/variância ambiental). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Variedades parentais As variedades utilizadas nos cruzamentos mostraram teor cianogênico dentro do esperado, de acordo com a taxonomia popular (Tabela 1). A variedade SRT 1330 – Xingu, de sabor pronunciadamente amargo, apresentou, em média, 379,1 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz. Nas variedades identificadas como mansas e sem sabor amargo (IAC 289-70, IAC 576-70 e SRT-797 Ouro do Vale), os teores de HCN foram, respectivamente, 56,3; 79,9 e 61,9 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz, valores também observados em outros trabalhos com mandiocas mansas, ou seja, inferiores a 100 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz (DUFOUR, 1988; LORENZI et al.,1993). A utilização dessas variedades mansas é indicativa de sua baixa cianogênese. As duas primeiras variedades são originadas do programa de melhoramento de mandioca de mesa do IAC. A IAC 576-70 é a mais cultivada no Estado de São Paulo para comércio in natura e indústria de congelados. A variedade SRT-797 Ouro do Vale é, desde a década de 60, amplamente cultivada em quintais da periferia urbana e áreas rurais, sendo bastante apreciada pelas suas excelentes qualidades culinárias e organolépticas. 3.2 Cruzamentos Os genótipos recombinantes mostraram uma variação do potencial cianogênico bastante ampla, de 31,2 a 645,3 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz (Tabela 2). Nos cruzamentos envolvendo apenas variedades mansas, IAC 289-70 x Ouro do Vale e IAC576-70 x Ouro do Vale, 84,2% e 87,2% dos genótipos, respectivamente, apresentaram potencial cianogênico inferior a 100 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz, ou seja, dentro do padrão de seleção para mandiocas de mesa. Nenhum genótipo ultrapassou a faixa de 150 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz. No cruzamento em que participou a variedade altamente tóxica 'Xingu', 31,3% dos genótipos da progênie obtiveram potencial cianogênico inferior a 100 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz, portanto dentro da categoria de mandioca mansa, e 15% dos indivíduos tiveram mais de 400 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz, que são altamente tóxicos. O número de genótipos abaixo do nível crítico de cianogênese no cruzamento envolvendo a variedade Xingu, cerca de 31%, viabiliza sua utilização no melhoramento de mandioca de mesa. No entanto, é necessário considerar-se que mandiocas bravas não sofreram pressão de seleção para consumo in natura e podem conter genes desfavoráveis para características peculiares em mandioca de mesa como paladar atípico e qualidades culinárias desfavoráveis. Genótipos com baixo teor de HCN também podem, em raríssimas exceções, apresentar sabor amargo porque essas características parecem não ter o mesmo controle genético, embora sejam altamente correlacionadas fenotipicamente nas variedades nativas (PEREIRA e PINTO, 1962; PEREIRA et al., 1965). As maiores freqüências dos genótipos segregantes estão na classe entre 50 e 100 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz, mesmo no cruzamento em que participou a variedade Xingu (Figura 1). Esse tipo de segregação pode ser compreendida se considerarmos que a cianogênese é um processo metabólico secundário, ou seja, não essencial, que resulta na liberação do gás HCN para defesa da planta. A liberação desse gás depende fundamentalmente de uma complexa rota metabólica enzimática de síntese e transporte do substrato linamarina (sintetizado a partir da valina) e da atividade da enzima linamarase (ß-glucosidase), e ainda, do contato entre ambos (MCMAHON et al., 1995). Assim, para que uma variedade de mandioca tenha alto potencial cianogênico é necessário que todos os genes envolvidos no processo cianogênico estejam em perfeito funcionamento. Perturbações em qualquer passo do controle genético do sistema contribuiriam para a diminuição do potencial cianogênico. O acúmulo dessas perturbações explica a maior freqüência de genótipos com baixo teor cianogênico. Segregantes transgressivos apareceram nos três cruzamentos. Aqueles que envolveram variedades mansas, IAC 289-70 x Ouro do Vale e IAC576-70 x Ouro do Vale, produziram, respectivamente, 21% e 18% dos indivíduos com teor de HCN inferior a 50 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz (Figura 1), enquanto os parentais estiveram na faixa de 56,3 a 79,9 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz (Tabela 1). Mesmo o cruzamento entre variedades brava e mansa (Xingu x Ouro do Vale) obteve 3% dos indivíduos da progênie na classe de menor teor cianogênico (Figura 1). Segregantes transgressivos para baixo potencial cianogênico também foram encontrados por IGLESIAS et al. (2002) em cruzamentos de variedades bravas com mansas. Cerca de 16% e 10% dos genótipos dos cruzamentos de variedades mansas atingiram níveis entre 100 e 150 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz e 3% atingiram a classe de 150 a 200 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz (Figura 1). Assim, é possível supor que, em regiões onde se cultivam variedades mansas para produção de fécula ou farinha, podem aparecer variedades bravas através de recombinação, como é o caso da 'Branca de Santa Catarina', uma variedade com alto teor de glicosídeos cianogênicos, que ocupou grandes áreas de cultivo no Estado de São Paulo. As médias das progênies aproximaram-se das médias dos respectivos parentais nos três cruzamentos e surgiram indivíduos transgressivos aos parentais para maior e menor cianogênese (Tabela 2). A variância genética foi duas a quatro vezes superior à variância ambiental nos cruzamentos entre variedades mansas e, quase dez vezes superior no cruzamento entre mansa e brava (Tabela 3). Assim, o tipo de segregação observada indica ser a cianogênese um caráter com herança quantitativa. Embora tenha algum grau de influência ambiental, é possível selecionar indivíduos com maior ou menor teor cianogênico devido à alta herdabilidade oriunda de ampla variabilidade genotípica. Nos cruzamentos envolvendo apenas as variedades mansas, os valores da herdabilidade mostraram que 66,2% e 81,2% da variabilidade foi causada por diferenças genéticas entre os indivíduos. No cruzamento em que participou a variedade Xingu, altamente tóxica, a variação genotípica foi responsável por 90,8% da variação total. Portanto, uma vez que a principal responsável pela variação do potencial cianogênico nas progênies é a constituição genética dos indivíduos, espera-se que processos seletivos simples, como a escolha dos parentais e a avaliação fenotípica, sejam eficientes para reduzir o teor de glicosídeos cianogênicos em populações segregantes. 4. CONCLUSÕES 1. O teor de glicosídeos cianogênicos não é impeditivo para a utilização de mandiocas bravas no melhoramento de mandiocas de mesa. 2. A segregação transgressiva do caráter permite o aparecimento de variedades mansas nos cruzamentos que participam mandiocas com alto potencial cianogênico. 3. Variedades bravas podem surgir do cruzamento de variedades mansas. REFERÊNCIAS BROCHADO, J. P. Alimentação na floresta tropical. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1977, 103p. (caderno n. 2) DUFOUR, D. L. Cyanide content of cassava (manihot esculenta, Euphorbiaceae) cultivars used by Tukanoan Indians in northwest Amazonia. Economic Botany, v.42, n.2, p.255-266, 1988. IGLESIAS, C.A.; SANCHEZ, T.; YEOH, H. Cyanogens and linamarase activities in storage roots of cassava plants from breeding programs. Journal of Food Composition and Analysis, v.15, n.4, p.379-387, 2002. LORENZI, J.O.; RAMOS, M.T.B.; MONTEIRO, D.A.; VALLE, T.L.; GODOY JUNIOR, G. Teor de ácido cianídrico em variedades de mandioca cultivadas em quintais do Estado de São Paulo. Bragantia, Campinas, v.52, n., p.1-5, 1993. MCMAHON, J. C.; WHITE, W. L. B.; SAYRE, T. Cyanogenesis in cassava (manihot esculenta Crantz). Journal of Experimental botany, v.46, n.288, p.731-741, 1995. MÜHLEN, G. S.; COLOMBO, C. A.; VALLE, T. L. Mandioca brava e aipim: diferenciação genética. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MELHORAMENTO DE PLANTAS, 1., 2001, Goiânia. Anais... (resumo expandido) - CD-Rom PEREIRA, A.S.; PINTO, M.G. Determinação da toxicidade da mandioca pelo paladar das raízes "in natura". Bragantia, Campinas, v.21, nota n.25, p.CXLV-CL, 1962. PEREIRA, A.S.; NERY, J.P.; IGUE, T. Seleção de novos clones de mandioca para mesa, pela toxicidade e paladar de suas raízes "in natura". Bragantia, Campinas, v.24, nota n.10, p. LV-LVIII, 1965. RENVOIZE, B.S. The area of origin of Manihot esculenta as a crop plant – a review of the evidence. Economic Botany, v.26, n.4, p.352-360, 1972. WILLIAMS, S. (Ed.). Hydrocyanic acid in beans, alkaline titration method. In: Official Methods of Analyses of the Association of Official Analytical Chemists. 15th ed. Arlington: AOAC, 1990. p.1213. Recebido para publicação em 22 de abril de 2003 e aceito em 4 de maio de 2004 Conteúdo cianogênio em progênies de mandioca 221 CONTEÚDO CIANOGÊNICO EM PROGÊNIES DE MANDIOCA ORIGINADAS DO CRUZAMENTO DE VARIEDADES MANSAS E BRAVAS (1) TERESA LOSADA VALLE(2); CÁSSIA REGINA LIMONTA CARVALHO(2); MARIA TERESA BARALDI RAMOS(2); GILDA SANTOS MÜHLEN(4); OMAR VIEIRA VILLELA(3) RESUMO As variedades de mandioca (Manihot esculenta Crantz ssp esculenta) são classificadas pela taxonomia popular em bravas e mansas. As bravas têm sabor amargo, contêm alto teor de glicosídeos cianogênicos (superior a 100 mg de equivalente HCN/kg de polpa fresca de raiz) e são consumidas após serem processadas na forma de farinha, fécula e outros produtos. As mansas ou doces não têm sabor amargo, contêm baixo teor de glicosídeos cianogênicos, são consumidas com ou sem qualquer processamento, principalmente por meio de preparados domésticos simples. Neste trabalho, foram feitos cruzamentos para verificar o perfil cianogênico das progênies segregantes visando utilizar variedades bravas no melhoramento de mandiocas mansas. Duas variedades mansas (IAC 289-70 e IAC 576-70) e uma brava (SRT-1330 Xingu) foram polinizadas com uma variedade mansa (SRT-797 Ouro do Vale). Dos cruzamentos entre variedades mansas, 85,7% dos genótipos apresentaram teores abaixo de 100 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz. Do cruzamento entre as variedades mansa e a brava, apenas 31,3% dos genótipos mostraram teores abaixo desse valor. A média das progênies foi muito próxima à média dos parentais. Em todos os cruzamentos, a maior freqüência de genótipos esteve na classe entre 50 e 100 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz, mesmo no cruzamento entre brava e mansa. Em todos os cruzamentos apareceram segregantes transgressivos para maior e menor potencial cianogênico em relação a qualquer parental. O tipo de segregação observada indica ser a cianogênese um caráter com herança quantitativa que, embora tenha algum grau de influência ambiental, torna possível a seleção de indivíduos com maior ou menor teor cianogênico devido à alta herdabilidade oriunda de ampla variabilidade genotípica. Assim, variedades bravas podem surgir como recombinantes de variedades mansas, sendo também possível selecionar variedades com baixo teor cianogênico em cruzamentos de mandiocas mansas com mandiocas bravas. Palavras-chave: ácido cianídrico, mandioca brava, mandioca mansa, melhoramento de mandioca de mesa. ABSTRACT CYANIDE ACID CONTENT IN PROGENIES FROM CROSSES OF BITTER AND SWEET CASSAVA CULTIVARS Cassava varieties are popularly separated by taste as bitter or sweet cultivars. Roots of bitter cultivars have a high HCN content (over 100 mg HCN equivalent/kg fresh roots) and are consumed only after processing, as flour, starch and other products. Sweet cultivars have low HCN content and can be consumed without any kind of processing. With the purpose of studing the possibility of using bitter varieties in the breeding of sweet cassava varieties, crosses were made between the different types of varieties to verify the cyanogenic profile of the segregating progenies. Two sweet varieties (IAC 289-70, IAC 576-70) and a bitter variety (SRT-1330 Xingu) were pollinated by a sweet variety (SRT-797 Ouro do Vale). Crosses (1) Recebido para publicação em 22 de abril de 2003 e aceito em 4 de maio de 2004. ( 2 ) Instituto Agronômico (IAC) - Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP), Brasil. E-mail: [email protected]; [email protected] (3) Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Vale do Paraíba, Caixa Postal 32, 12400-000 Pindamonhangaba (SP). (4) Bolsista de pós-doutorado da FAPESP, atualmente na Universidade Federal de Rondônia, campus de Rolim de Moura. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.221-226, 2004 222 T.L. Valle et al. between sweet cultivars yielded progenies with 85.7% of individuals with a HCN content below 100 mg HCN equivalent/kg fresh roots, while only 31.3% of the individuals from crosses between sweet and bitter varieties were under this value. The average HCN content of the progenies was very similar to the average of parents. In all crosses most of individuals showed values between 50 and 100 mg HCN equivalent/kg fresh roots, even those derivated from the cross between sweet and bitter varieties. All crosses yielded transgressive segregants, with HCN content superior or inferior to either parent. The observed data show that the HCN content is a quantitative characteristic and that there is genetic variability allowing selections for high or low HCN content. Bitter cultivars may arise from crosses between sweet cultivars and sweet cultivars may be selected from crosses between sweet and bitter cultivars. Key words: breeding, HCN content, sweet cassava, bitter cassava, sweet cassava breeding. 1. INTRODUÇÃO A mandioca é uma espécie domesticada pelas populações pré-colombianas nas terras quentes da América. Devido à ampla adaptabilidade às condições ambientais e à capacidade produtiva, tornou-se alimento básico para muitas populações indígenas e complementar para outras (BROCHADO, 1977). Atualmente, é uma das principais fontes alimentícias para as populações dos países tropicais e importante matériaprima para a extração de amido. Desde as culturas pré-colombianas até os dias atuais, a taxonomia popular, utilizando como critério a toxicidade e palatabilidade das raízes, classifica as variedades de mandioca em dois grupos: mansas ou doces e bravas ou amargas. De maneira bastante subjetiva, as variedades bravas têm sabor amargo e as doces não, são levemente adocicadas. O sabor amargo está associado ao potencial cianogênico, ou seja, à capacidade da liberação de ácido cianídrico (HCN), substância altamente tóxica (P EREIRA e PINTO, 1962; PEREIRA et al., 1965 e outros). Evidências revelam que o sabor amargo é perceptível a partir de 100 mg eq. HCN/kg de polpa das raízes (DUFOUR , 1988; L ORENZI et al.,1993). Não há entre os grupos qualquer característica morfológica da planta que permita distingui-los. A diferença mais concreta entre variedades bravas e mansas encontra-se no modo de consumo. As bravas são utilizadas para produzir farinha, extrair amido e outros produtos, mas somente são consumidas após algum tipo de processamento industrial com efeito destoxificante. Variedades mansas são mais versáteis, podem ser destinadas ao processamento tal qual as variedades bravas, e também consumidas após preparos mais simples como cozidas, fritas ou assadas. Até o início do século 20, na América, as variedades bravas e mansas seguiam um padrão de distribuição geográfica definido. Algumas tribos indígenas cultivavam somente mandiocas bravas, outras apenas mandiocas mansas e um terceiro grupo, utilizavam-se de variedades bravas e mansas (Nordenskiöld, apud RENVOIZE, 1972; BROCHADO, 1977). Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.221-226, 2004 As evidências citadas indicam ser possível a existência de duas populações, uma de variedades mansas e outra de variedades bravas. Estudos mais recentes com marcadores moleculares reforçam essa possibilidade, separando grupos de variedades bravas e mansas (MÜHLEN et al., 2001). Atualmente, em regiões do Centro-Sul do Brasil, há cultivo intensivo em grandes áreas, exclusivamente para fins comerciais. Próximo aos grandes centros urbanos, mandioca mansa (chamada de mesa) é cultivada em sistemas de produção diferenciados do cultivo de mandioca para as indústrias de farinha e amido. A produção de mandioca de mesa é uma atividade agrícola bastante expressiva e destinada somente à comercialização in natura e indústria de congelados. Variedades de mesa, além de bom desempenho agrícola, devem possuir qualidades sensoriais típicas e baixo potencial cianogênico para que não tenham sabor amargo e ofereçam riscos de intoxicação aos consumidores. O objetivo deste trabalho foi avaliar a possibilidade de se utilizarem mandiocas bravas no melhoramento de mandioca de mesa no que tange à segregação do potencial cianogênico, visto que genótipos com alto potencial cianogênico não podem ser selecionados para variedades de mesa. 2. MATERIAL E MÉTODOS As variedades IAC 576-70 (mansa), IAC 28970 (mansa) e SRT 1330-Xingu (brava) foram cruzadas com a variedade SRT 797-Ouro do Vale (mansa). As progênies e os parentais foram avaliados no campo em linhas de cinco plantas por genótipo, cultivados no Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Vale do Paraíba, DDD/APTA, em Pindamonhangaba (SP). Para os genótipos segregantes não ocorreram repetições e, para os parentais, houve de quatro a oito repetições. Avaliaram-se, no mínimo, 32 genótipos de cada cruzamento. Aos doze meses, foi feita a colheita e de cada linha foram retiradas, aleatoriamente, no mínimo, sete raízes e enviadas ao 223 Conteúdo cianogênio em progênies de mandioca laboratório para análise do teor dos glicosídeos cianogênicos (HCN). As amostras foram armazenadas dentro de sacos plásticos sob refrigeração até o momento da análise. Com a finalidade de avaliar perdas dos compostos cianogênicos durante o período de armazenagem das raízes, conjuntamente com as raízes coletadas, foram analisadas, periodicamente, amostras de uma variedade padrão (STR 1310 – Pioneira). Verificou-se que não houve perdas durante o período de armazenagem. Para a análise do teor de glicosídeos cianogênicos foram retirados três cilindros de aproximadamente 4 cm, da parte inicial, mediana e distal de cada uma das raízes. Os cilindros foram descascados, triturados e homogeneizados. Duas subamostras de 50 g foram retiradas, quantificando-se o teor de glicosídeos cianogênicos, segundo o método argentimétrico descrito pela AOAC (WILLIAMS, 1990), mantendo-se as amostras em autólise durante 16 horas. Os parâmetros genéticos foram estimados considerando-se: a) variância ambiental - diferenças entre repetições dos clones parentais; b) variância fenotípica – diferenças entre genótipos originados do mesmo cruzamento; c) variância genética – diferença entre a variância fenotípica e a média da variância ambiental estimada pelos dois parentais; e d) herdabilidade no sentido amplo (variância genética/variância ambiental). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Variedades parentais As variedades utilizadas nos cruzamentos mostraram teor cianogênico dentro do esperado, de acordo com a taxonomia popular (Tabela 1). A variedade SRT 1330 – Xingu, de sabor pronunciadamente amargo, apresentou, em média, 379,1 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz. Nas variedades identificadas como mansas e sem sabor amargo (IAC 289-70, IAC 576-70 e SRT-797 Ouro do Vale), os teores de HCN foram, respectivamente, 56,3; 79,9 e 61,9 mg eq. HCN/ kg de polpa fresca de raiz, valores também observados em outros trabalhos com mandiocas mansas, ou seja, inferiores a 100 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz (DUFOUR , 1988; LORENZI et al.,1993). A utilização dessas variedades mansas é indicativa de sua baixa cianogênese. As duas primeiras variedades são originadas do programa de melhoramento de mandioca de mesa do IAC. A IAC 576-70 é a mais cultivada no Estado de São Paulo para comércio in natura e indústria de congelados. A variedade SRT-797 Ouro do Vale é, desde a década de 60, amplamente cultivada em quintais da periferia urbana e áreas rurais, sendo bastante apreciada pelas suas excelentes qualidades culinárias e organolépticas. 3.2 Cruzamentos Os genótipos recombinantes mostraram uma variação do potencial cianogênico bastante ampla, de 31,2 a 645,3 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz (Tabela 2). Nos cruzamentos envolvendo apenas variedades mansas, IAC 289-70 x Ouro do Vale e IAC576-70 x Ouro do Vale, 84,2% e 87,2% dos genótipos, respectivamente, apresentaram potencial cianogênico inferior a 100 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz, ou seja, dentro do padrão de seleção para mandiocas de mesa. Nenhum genótipo ultrapassou a faixa de 150 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz. No cruzamento em que participou a variedade altamente tóxica ‘Xingu’, 31,3% dos genótipos da progênie obtiveram potencial cianogênico inferior a 100 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz, portanto dentro da categoria de mandioca mansa, e 15% dos indivíduos tiveram mais de 400 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz, que são altamente tóxicos. Tabela 1. Número de repetições, média, desvio-padrão e coeficiente de variação do teor de glicosídeos cianogênicos de variedades de mandioca utilizadas em cruzamentos Parentais Repetições n. IAC 289-70 4 IAC 576-70 SRT 1330 – Xingu SRT 797 - Ouro do Vale o Média Desvio-padrão mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz Coeficiente de variação % 56,3 5,7 10,1 7 79,9 17,0 22,4 4 379,1 65,1 17,2 8 61,9 13,4 21,7 Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.221-226, 2004 224 T.L. Valle et al. Tabela 2. Cruzamento, genótipos avaliados, média dos parentais, da progênie, amplitude do teor de glicosídeos cianogênicos e genótipos selecionáveis em cruzamentos de mandioca genótipos Cruzamento avaliados na progênie Média Média dos parentais da progênie n.o Amplitude Genótipos selecionaveis (1) mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz % IAC 289-70 x SRT 797 - Ouro do Vale 38 59,1 68,5 31,2 - 134,3 84,2 IAC 576-70 x SRT 797 - Ouro do Vale 39 70,9 74,4 33,6 - 159,8 87,2 SRT1330-Xingu x SRT 797 - Ouro do Vale 32 220,5 220,7 48,0 - 645,3 31,3 ( 1 ) Genótipos com teor cianogênico inferior a 100 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz. O número de genótipos abaixo do nível crítico de cianogênese no cruzamento envolvendo a variedade Xingu, cerca de 31%, viabiliza sua utilização no melhoramento de mandioca de mesa. No entanto, é necessário considerar-se que mandiocas bravas não sofreram pressão de seleção para consumo in natura e podem conter genes desfavoráveis para características peculiares em mandioca de mesa como paladar atípico e qualidades culinárias desfavoráveis. Genótipos com baixo teor de HCN também podem, em raríssimas exceções, apresentar sabor amargo porque essas características parecem não ter o mesmo controle genético, embora sejam altamente correlacionadas fenotipicamente nas variedades nativas (PEREIRA e PINTO , 1962; P EREIRA et al., 1965). As maiores freqüências dos genótipos segregantes estão na classe entre 50 e 100 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz, mesmo no cruzamento em que participou a variedade Xingu (Figura 1). Esse tipo de segregação pode ser compreendida se considerarmos que a cianogênese é um processo metabólico secundário, ou seja, não essencial, que resulta na liberação do gás HCN para defesa da planta. A liberação desse gás depende fundamentalmente de uma complexa rota metabólica enzimática de síntese e transporte do substrato linamarina (sintetizado a partir da valina) e da atividade da enzima linamarase (ß-glucosidase), e ainda, do contato entre ambos (M CM AHON et al., 1995). Assim, para que uma variedade de mandioca tenha alto potencial cianogênico é necessário que todos os genes envolvidos no processo cianogênico estejam em perfeito funcionamento. Perturbações em qualquer passo do controle genético do sistema contribuiriam para a diminuição do potencial cianogênico. O acúmulo dessas perturbações explica a maior freqüência de genótipos com baixo teor cianogênico. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.221-226, 2004 Segregantes transgressivos apareceram nos três cruzamentos. Aqueles que envolveram variedades mansas, IAC 289-70 x Ouro do Vale e IAC576-70 x Ouro do Vale, produziram, respectivamente, 21% e 18% dos indivíduos com teor de HCN inferior a 50 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz (Figura 1), enquanto os parentais estiveram na faixa de 56,3 a 79,9 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz (Tabela 1). Mesmo o cruzamento entre variedades brava e mansa (Xingu x Ouro do Vale) obteve 3% dos indivíduos da progênie na classe de menor teor cianogênico (Figura 1). Segregantes transgressivos para baixo potencial cianogênico também foram encontrados por IGLESIAS et al. (2002) em cruzamentos de variedades bravas com mansas. Cerca de 16% e 10% dos genótipos dos cruzamentos de variedades mansas atingiram níveis entre 100 e 150 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz e 3% atingiram a classe de 150 a 200 mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz (Figura 1). Assim, é possível supor que, em regiões onde se cultivam variedades mansas para produção de fécula ou farinha, podem aparecer variedades bravas através de recombinação, como é o caso da ‘Branca de Santa Catarina’, uma variedade com alto teor de glicosídeos cianogênicos, que ocupou grandes áreas de cultivo no Estado de São Paulo. As médias das progênies aproximaram-se das médias dos respectivos parentais nos três cruzamentos e surgiram indivíduos transgressivos aos parentais para maior e menor cianogênese (Tabela 2). A variância genética foi duas a quatro vezes superior à variância ambiental nos cruzamentos entre variedades mansas e, quase dez vezes superior no cruzamento entre mansa e brava (Tabela 3). 225 Conteúdo cianogênio em progênies de mandioca 80 70 60 50 Parentais Ouro do Vale - 61,9 mg.kg-1 IAC 576-70 - 79,9 mg.kg-1 IAC 289-7 - 56,3 mg.kg-1 Xingu - 379,1 mg.kg-1 IAC 289-70 x Ouro do Vale (média 59,1 mg/kg) IAC 576-70 x Ouro do Vale (média 70,9 mg/kg) Xingu x Ouro do Vale (média 220,1 mg/kg) 40 30 20 10 0 00 >5 0 50 045 0 45 040 0 40 035 0 35 030 0 30 025 0 25 020 0 20 015 0 15 010 00 -1 50 0 <5 mg.eq HCN/kg de polpa da raiz (mg.kg-1) Figura 1. Distribuição de freqüência de genótipos em classes segundo o teor de glicosídeos cianogênicos em três cruzamentos de mandioca. Tabela 3. Variâncias fenotípica, ambiental e genética e herdabilidade do teor de glicosídeos cianogênicos em cruzamentos de mandioca Cruzamentos Variância Variância Variância fenotípica ambiental genética mg eq. HCN/kg de polpa fresca de raiz Herdabilidade (1) % IAC 289-70 x SRT 797 - Ouro do Vale 565,02 106,47 458,55 81,2 IAC 576-70 x SRT 797 - Ouro do Vale 739,88 250,39 489,48 66,2 24088,18 2207,34 21880,84 90,8 SRT1330-Xingu x SRT 797 - Ouro do Vale ( 1 ) Herdabilidade no sentido amplo (variância genotípica / variância fenotípica). Assim, o tipo de segregação observada indica ser a cianogênese um caráter com herança quantitativa. Embora tenha algum grau de influência ambiental, é possível selecionar indivíduos com maior ou menor teor cianogênico devido à alta herdabilidade oriunda de ampla variabilidade genotípica. como a escolha dos parentais e a avaliação fenotípica, sejam eficientes para reduzir o teor de glicosídeos cianogênicos em populações segregantes. Nos cruzamentos envolvendo apenas as variedades mansas, os valores da herdabilidade mostraram que 66,2% e 81,2% da variabilidade foi causada por diferenças genéticas entre os indivíduos. No cruzamento em que participou a variedade Xingu, altamente tóxica, a variação genotípica foi responsável por 90,8% da variação total. Portanto, uma vez que a principal responsável pela variação do potencial cianogênico nas progênies é a constituição genética dos indivíduos, espera-se que processos seletivos simples, 1. O teor de glicosídeos cianogênicos não é impeditivo para a utilização de mandiocas bravas no melhoramento de mandiocas de mesa. 4. CONCLUSÕES 2. A segregação transgressiva do caráter permite o aparecimento de variedades mansas nos cruzamentos que participam mandiocas com alto potencial cianogênico. 3. Variedades bravas podem surgir do cruzamento de variedades mansas. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.221-226, 2004 226 T.L. Valle et al. REFERÊNCIAS BROCHADO, J. P. Alimentação na floresta tropical. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1977, 103p. (caderno n. 2) DUFOUR, D. L. 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Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.63 no.2 Campinas 2004 FITOSSANIDADE Efeito de inseticidas na semeadura sobre pragas iniciais e produtividade de milho safrinha em plantio direto Effect of inseticides at sowing on seedling pests and yield offseason maize crop under no-tillage system Gessi CecconI; Adalton RagaII; Aildson Pereira DuarteI; Romildo Cássio SilotoII IConvênio IAC/Fundag/Coopermota, Pólo de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Médio Paranapanema, Caixa Postal 263, 19805-000, Assis (SP). Email: [email protected] IICentro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal/Instituto Biológico (IB), Caixa Postal 70, 13001-970 Campinas (SP). E-mail: [email protected] RESUMO Considerando o aumento do complexo de pragas em lavouras de milho safrinha, foram desenvolvidos dois experimentos (A e B) no município de Cândido Mota (SP). O objetivo foi avaliar o efeito de inseticidas sobre pragas de solo (percevejos-castanhos e corós), lagarta-do-cartucho na fase inicial da cultura e desenvolvimento das plantas. Os inseticidas utilizados na semeadura foram: thiamethoxam (Cruiser 700 WS), carbofuran (Furazin 310 TS), imidacloprid (Gaucho FS), imidacloprid (Gaucho FS) + carbofuran (Furazin 310 TS), fipronil (Regent 800 WG) e thiodicarb (Semevin 350 RPA), nas doses recomendadas de cada produto, e a testemunha sem inseticida. As pragas de solo foram avaliadas aos 14 e 28 dias após a emergência das plantas (DAE), no experimento A, e aos 7 e 21 DAE, no experimento B. Os parâmetros agronômicos foram avaliados aos 14 e 28 DAE, juntamente com o ataque por Spodoptera frugiperda, e também por ocasião da colheita dos grãos. Os inseticidas fipronil e carbofuran destacaram-se no controle do percevejo-castanho Scaptocoris castanea e o fipronil sobressaiu no controle dos corós (Phyllophaga spp). Os inseticidas carbofuran e thiodicarb reduziram o número de plantas danificadas pela lagarta-do-cartucho Spodoptera frugiperda. O controle químico do complexo de pragas do solo e da lagartado-cartucho proporcionou aumentos significativos da produtividade de grãos de milho apenas na área A, onde o número de corós era maior. Palavras-chave: Manejo de pragas, Scaptocoris castanea, Phyllophaga spp, Spodoptera frugiperda, Zea mays. ABSTRACT Due to an increasing pest diversity in maize crop during the off-season, two autumnwinter experiments were conducted in the Medium Paranapanema region, State of São Paulo, Brazil, designated as Fields A and B, both in Cândido Mota County. The aim of the experiments were to evaluate the effect of insecticides on the control of pests occurring in the initial plant development. Treatments were the recommended dosage of the insecticides thiamethoxam (Cruiser 700 WS), carbofuran (Furazin 310 TS), imidacloprid (Gaucho FS), imidacloprid (Gaucho FS) + carbofuran (Furazin 310 TS), fipronil (Regent 800 WG), thiodicarb (Semevin 350 RPA); and the control (without insecticide). The soil insects (burrowing bugs and grubs) populations were evaluated at 14th and 28th days after plant emergency (DAE), in Field A, and at 7th and 21th DAE, in the Field B. Spodoptera frugiperda incidence and corn plant parameters were evaluated at 14th and 28th DAE. Fipronil and carbofuran performed best on the control of Scaptocoris castanea. Fipronil alone provided also the best control for grubs (Phyllophaga spp.). Carbofuran and thiodicarb reduced damages from fall armyworm. The chemical control of corn pests in the initial stage of the crop enhanced grain productivity only in the field A were the number of grubs in the soil was highest. Key words: Pest management, Scaptocoris castanea, Phyllophaga spp, Spodoptera frugiperda, Zea mays. 1. INTRODUÇÃO Na cultura de milho safrinha, o aumento de ocorrência de pragas subterrâneas, de pragas iniciais da cultura e de insetos vetores de fitopatógenos está associado a fatores como monocultura da sucessão soja-milho safrinha, semeadura em época marginal e aumento de lavouras em plantio direto. Entre as medidas de manejo, devese priorizar a rotação de culturas e a semeadura na época indicada, a fim de viabilizar a utilização de insumos, importantes componentes no custo de produção (DUARTE, 2001). Uma das alternativas que visam minimizar a ação das pragas e evitar perdas de produtividade das culturas é a utilização de inseticidas via tratamento de sementes (CRUZ et al., 1999). Dentre as principais pragas de solo que podem ocorrer na cultura do milho safrinha destacam-se adultos e ninfas de percevejos-castanhos (Hemiptera: Cydnidae) e larvas de corós (Coleoptera: Scarabaeoidea). Os percevejos-castanhos possuem hábitos subterrâneos e podem ser encontrados em todas as épocas do ano em diferentes profundidades do solo (CRUZ e BIANCO, 2001). No Brasil, esses insetos causam prejuízos em diversas culturas de importância econômica, principalmente em soja, milho, algodão e pastagens (SILOTO e RAGA, 1998), como também em plantas invasoras (RAMIRO et al., 1997). No Estado de São Paulo, a espécie Scaptocoris castanea tem sido observada com maior freqüência e intensidade em soja, milho e algodão, apresentando ataque nas raízes das plantas, no sentido da linha de semeadura, nem sempre formando reboleiras típicas (RAGA et al. 2000). Segundo SILOTO e RAGA (1998), as plantas atacadas têm suas raízes sugadas por ninfas e adultos, tornando-se raquíticas, com desenvolvimento reduzido e afetando diretamente a produção. Em ataques severos, nos estádios iniciais da cultura, pode haver necessidade de replantio. Hábito subterrâneo e deslocamento no perfil do solo são características desses insetos que constituem fatores limitantes no seu manejo e a aplicação de produtos, via tratamento de sementes, tem sido uma alternativa de controle (ÁVILA e GOMES, 2001; RAGA et al., 2000; SILOTO et al., 2001). Os percevejos-castanhos deslocam-se no perfil do solo, aprofundando-se nas épocas mais secas e voltando à superfície no período chuvoso. Esse fato pode estar associado a um gradiente ótimo de umidade e ser influenciado pela ocorrência de chuvas, semelhante ao que descreveram MEDEIROS e SALES JUNIOR (2000), que observaram correlação positiva entre o volume de chuvas e o número de ninfas e adultos de Atarsocoris brachiariae, coletados principalmente na faixa de 0,20 m de profundidade. SILOTO et al. (2001), estudando a incidência de S. castanea na camada de zero a 50 cm, observaram picos populacionais da praga, de 30 a 60 dias após os meses de maior precipitação pluvial. Os corós constituem-se em importantes pragas das culturas anuais no Brasil. Os gêneros mais comuns são Phyllophaga, Cyclocephala, Diloboderus e Liogenys e existem poucas informações sobre a quantificação de seus danos em milho (GASSEN, 1999). O ataque em plantas de milho, pela alimentação das larvas, provocam enfraquecimento do sistema radicular e conseqüente tombamento e morte das plântulas (CRUZ e BIANCO, 2001). Os gêneros Diloboderus e Phyllophaga têm sido relatados em cereais de inverno no Rio Grande do Sul (SALVADORI, 1997) e este último também em milho safrinha na Região Centro-Oeste do Brasil (OLIVEIRA et al., 1999). Em Mato Grosso do Sul, a ocorrência do gênero Liogenys foi constatada na cultura do milho por ÁVILA e RUMIATTO (1997). No oeste do Paraná, a espécie Phyllophaga cuyabana foi relatada em soja por OLIVEIRA et al. (1996). Os adultos do gênero Phyllophaga ocorrem em revoadas nos meses de novembro e dezembro, e as larvas a partir de dezembro até setembro, deslocando-se sob a superfície do solo em direção à base das plantas, das quais consomem as raízes até completar a fase larval ou causar a morte da planta hospedeira (GASSEN, 1996). No México, as larvas de Phyllophaga spp. consomem raízes de diversas espécies de gramíneas e são pragas severas em milho (MORÓN, 1986), estimando-se perdas de 0,4 a 1,3 toneladas de milho por hectare/ano (VILLALOBOS, 1988). A lagarta-do-cartucho Spodoptera frugiperda é a principal praga da cultura do milho devido à sua ocorrência generalizada e ao seu potencial de ataque em todas as fases de desenvolvimento da planta, provocando quedas significativas no rendimento (CRUZ e TURPIN, 1982). Quando o ataque ocorre na fase inicial da cultura, essas perdas são ainda mais significativas devido à morte das plântulas e à diminuição do número de plantas por unidade de área. O controle com inseticidas via pulverização torna-se pouco efetivo em função da reduzida área foliar das plântulas nessa fase, dificultando a retenção do produto nas folhas e diminuindo o seu poder residual. A utilização de produtos sistêmicos via tratamento de sementes, nesse caso, tem-se constituído em alternativa viável (CRUZ e BIANCO, 2001). O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar o efeito de inseticidas sobre pragas de solo (percevejos-castanhos e corós), a lagarta-do-cartucho na fase inicial da cultura e o desenvolvimento das plantas de milho. 2. MATERIAL E MÉTODOS Foram desenvolvidos dois experimentos, ambos no município de Cândido Mota (SP), em lavouras de milho safrinha, sob sistema de plantio direto em Latossolo Vermelho eutroférrico, com reconhecido histórico de ataque de pragas de solo e da lagarta-docartucho na fase inicial da cultura. Experimento A. Instalado no Sítio Cinco Irmãos, utilizou-se o híbrido Tork, com semeadura em 2/3/2001 e emergência em 8/3/2001. A adubação foi realizada apenas na semeadura, com 150 kg.ha-1 da fórmula NPK 15-15-15. Experimento B. Instalado no Sítio Santa Luzia, com utilização do híbrido Exceler, semeado em 3/3/2001 e com emergência em 8/3/2001. Na semeadura, empregou-se 145 kg.ha-1 da fórmula NPK 05-25-25 e em cobertura, 20 kg.ha-1 de N na forma de uréia. O registro de chuvas foi obtido na estação meteorológica automatizada da Cooperativa Coopermota, eqüidistante aproximadamente 5 km dos dois experimentos (Figura 1). O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, com cinco repetições, sendo cada parcela constituída por seis linhas de 20 m de comprimento e 0,9 m entre linhas e densidade inicial de 50.000 sementes por hectare. As avaliações foram realizadas nas duas linhas centrais de cada parcela. Os tratamentos consistiram dos inseticidas thiamethoxam, carbofuran, imidacloprid, imidacloprid + carbofuran, fipronil e thiodicarb, além da testemunha sem inseticida (Tabela 1). O tratamento com o inseticida fipronil foi aplicado via pulverização em jato dirigido na linha de semeadura, com bico leque e 200 L.ha-1 de calda. Os demais inseticidas foram aplicados via tratamento de sementes. Aos 16 dias após a emergência das plantas (DAE), foi realizada uma pulverização com inseticida Decis 25 CE® (deltamethrin), nos dois experimentos, na dose de 200 mL.ha1 e 200 L.ha-1 de calda, com pulverizador tratorizado visando ao controle de S. frugiperda. O efeito dos tratamentos sobre percevejos-castanhos e corós foi avaliado aos 14 e 28 DAE no experimento A e aos 7 e 21 DAE no experimento B. Foram realizadas duas amostragens por parcela, sendo cada uma constituída de solo retirado junto à linha de plantio em 1 m de comprimento e 0,2 m de largura e profundidade. O solo foi peneirado e os insetos coletados e contados, sendo consideradas as ninfas e os adultos para percevejos-castanhos e as larvas para corós. Os insetos foram armazenados em álcool 70% para identificação no Laboratório de Entomologia Econômica do Instituto Biológico, em Campinas (SP). O valor de cada parcela foi obtido calculando-se a média das duas amostragens. O efeito sobre a lagarta-do-cartucho foi avaliado aos 14 DAE e 28 DAE nos dois experimentos. Foram realizadas duas amostragens por parcela; em cada amostragem foram avaliadas as plantas presentes em 1 m de linha, considerando-se presençaausência de danos no cartucho e calculado o índice de plantas danificadas (IPD = 100 x n.º de plantas danificadas/total de plantas avaliadas). O valor de cada parcela também foi obtido calculando-se a média das duas amostragens. Aos 14 e 28 DAE foram avaliados os seguintes parâmetros agronômicos: população, uniformidade de crescimento de plantas e massa seca da parte aérea. Os parâmetros foram calculados com base no número de plantas coletadas em 5 m de linha por parcela. Calculou-se a uniformidade de crescimento de plantas segundo o percentual de plantas raquíticas (com altura menor que a média do experimento) em relação ao total de plantas avaliadas. Para obtenção da massa seca da parte aérea, o material coletado foi seco em estufa a 60 ºC. Na colheita foram avaliados os parâmetros de altura e população de plantas, massa seca da parte aérea sem espiga (palha), produtividade, massa de grãos por espiga e massa de mil grãos. O dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F (P<0,05) e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Os dados originais relativos aos insetos foram transformados em 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Segundo BECKER (1967), as ninfas e os adultos de percevejos-castanhos foram identificados como S. castanea e com base em GASSEN (1996), as larvas de corós foram identificadas como Phyllophaga spp. Nos dois experimentos foram encontradas mais ninfas do que adultos nas duas avaliações. No experimento A, o número médio de percevejos-castanhos foi de 29,7 aos 14 DAE e de 13,6 aos 28 DAE (Tabela 2). No experimento B, o número médio desses insetos foi de 11,4 aos 7 DAE e de 11,6 aos 21 DAE; o número de adultos foi bastante reduzido, com média dos tratamentos inferior a dois insetos (Tabela 3). No experimento A, houve queda acentuada no nível populacional de S. castanea entre a 1.ª e a 2.ª avaliações, inclusive na testemunha, assemelhando-se aos resultados obtidos por SILOTO et al. (2000) que também observaram esse fato em experimento com inseticidas para o controle de percevejos-castanhos, quando se registrou, nos 26 dias anteriores à última avaliação, precipitação pluvial de apenas 8 mm. Os percevejoscastanhos têm grande capacidade de deslocamento no perfil do solo, provavelmente influenciado por um gradiente ótimo de umidade (SILOTO et al., 2001). Houve diminuição das chuvas no período de realização dos experimentos (Figura 1) e sua distribuição não foi uniforme, o que pode ter levado os insetos a se deslocarem para camadas mais profundas. Houve redução significativa de S. castanea, em comparação à testemunha, no tratamento com fipronil 800 WG aos 14 DAE, no experimento A, e no tratamento com carbofuran 310 TS aos 21 DAE, no experimento B. Os referidos tratamentos não diferiram do thiamethoxam nos dois experimentos (Tabelas 2 e 3). No experimento A, aos 14 DAE, o número de percevejos-castanhos (ninfas + adultos) foi significativamente menor para o tratamento com fipronil em relação aos tratamentos com carbofuran, imidacloprid + carbofuran e thiodicarb, mas não diferiu de thiamethoxam e da testemunha. Aos 28 DAE os tratamentos não apresentaram diferença significativa entre si (Tabela 2). No experimento B, houve diferença significativa entre os tratamentos aos 21 DAE; carbofuran apresentou redução da população em relação aos tratamentos com imidacloprid, fipronil e testemunha, sem diferir de thiamethoxam (Tabela 3). A ação dos inseticidas, por repelência, possivelmente contribuiu para evitar a presença desses insetos junto às raízes nas parcelas tratadas. Esses são fatores que podem influir na análise do efeito dos inseticidas. CORSO et al. (1999), em trabalho realizado na região de Cândido Mota (SP), detectaram eficiência média superior a 30% até 30 DAE para os produtos thiamethoxam, imidacloprid e clorpirifós (tratamento de sementes) e também para fipronil (pulverizado no sulco de plantio), considerando-se avaliações a partir de 12 DAE. RAGA e SILOTO (1999), em trabalho realizado em milho safrinha em Florínea (SP), obtiveram níveis médios de mortalidade de 95,8% e 90%, respectivamente, para terbufós e fipronil. NAKANO e FLORIM (1999) concluíram que fipronil 250 FS e fipronil 800 WG mostraram maior eficiência a 70% no controle da espécie Atarsocoris brachiariae, em soja, em Jataí (GO). O número médio de corós foi relativamente grande no experimento A (8,0 e 9,2 em cada avaliação) e pequeno no experimento B (2,0 e 0,3), não se observando diferenças significativas entre os tratamentos nesse último experimento. No experimento A, aos 28 DAE, o número de corós foi menor no tratamento com fipronil em relação ao carbofuran e thiamethoxam, não diferindo de imidacloprid + carbofuran, testemunha e thiodicarb. MARTINS et al. (1999), avaliando o efeito de diferentes inseticidas sobre Phyllophaga spp. em milho, concluíram que fipronil 800 WG nas três dosagens testadas, proporcionou controle com eficiência de 100%. HABE et al. (2001) testaram o efeito de diferentes produtos químicos sobre Liogenys sp. em milho e obtiveram controle de 80% até 21 DAE com thiodicarb 300 SC, enquanto thiamethoxam na dose de 210 g i.a. promoveu maior produtividade e vigor de plantas. O efeito dos tratamentos sobre a lagarta-do-cartucho foi significativo nos dois experimentos. No experimento A, thiodicarb se destacou em relação à testemunha e fipronil. Os tratamentos com carbofuran, thiamethoxam e imidacloprid + carbofuran também foram significativamente superiores ao fipronil, sem diferir da testemunha. No experimento B, carbofuran diferiu em relação à testemunha. Tanto thiodicarb, no experimento A, quanto carbofuran, no B, apresentaram índices de plantas danificadas inferiores a 20% (Figura 2). Thiodicarb é recomendado para o controle da lagarta-docartucho e foi aplicado exclusivamente no experimento A. CRUZ (1996) obteve redução significativa da infestação de S. frugiperda, até os 10 DAE, em plantas cujas sementes foram tratadas com thiodicarb. BELLETTINI et al. (2002) obtiveram eficiência superior a 80% até 25 DAE, com thiamethoxam 700 WS via tratamento de sementes. Esses inseticidas retardaram o início da infestação por S. frugiperda, o que é fator positivo, pois favorece o desenvolvimento das plantas e adia o início das pulverizações. Na fase inicial da cultura, o controle via pulverização das plantas pode ser pouco efetivo, pois como possuem reduzida área foliar, dificulta a retenção do produto nas folhas, diminuindo o poder residual. O controle mais tardio pode possibilitar o estabelecimento e o incremento de inimigos naturais - importantes componentes no manejo integrado de pragas do milho. Quanto aos caracteres agronômicos, no experimento A, houve diferença significativa para a população de plantas aos 28 DAE e para plantas raquíticas e massa seca, aos 14 e 28 DAE (Tabela 4). Nas avaliações aos 28 DAE, os tratamentos com imidacloprid + carbofuran e carbofuran apresentaram maiores populações de plantas do que a testemunha. CRUZ (1996) obteve um estande maior que a testemunha em 19%, tratando as sementes de milho com carbofuran 350 SC a 2,0 L de p.c./100 kg de semente. O número de plantas raquíticas foi menor em todos os tratamentos em relação à testemunha, menos com fipronil aos 28 DAE, evidenciando-se o efeito dos inseticidas na manutenção de maior proporção de plantas normais. Conseqüentemente, a massa seca da parte aérea foi significativamente maior com a aplicação de inseticidas nas duas épocas, com exceção de thiamethoxam aos 14 DAE. No experimento B, houve diferença para plantas raquíticas aos 14 DAE e para massa seca da parte aérea aos 14 e 28 DAE (Tabela 4). O imidacloprid destacou-se especificamente aos 14 DAE, de maneira inconsistente em relação aos 28 DAE, apresentando menor percentual de plantas raquíticas do que a testemunha e o carbofuran. Com relação à massa seca, aos 14 DAE, o carbofuran apresentou menor valor em relação aos tratamentos thiamethoxam e imidacloprid. Aos 28 DAE, os tratamentos com thiamethoxam e carbofuran apresentaram maiores valores de massa seca em relação aos demais. Carbofuran se destacou nesse experimento no controle da lagarta-do-cartucho e, especificamente, de percevejo-castanho no solo, na segunda avaliação. O thiamethoxam foi intermediário entre o carbofuran e os demais tratamentos para o controle do percevejo-castanho (Tabela 3). Por ocasião da colheita de grãos do experimento A, houve diferença significativa para os parâmetros avaliados, com exceção da altura de plantas. O tratamento com imidacloprid + carbofuran apresentou maior população de plantas do que o fipronil (Tabela 5), de maneira coerente com a superioridade da sua população de plantas aos 28 DAE (Tabela 4). O tratamento com o fipronil foi o que apresentou maior massa de palha, sem diferir apenas de thiodicarb. Nas condições de outono-inverno, cujoo potencial produtivo é relativamente baixo, há uma compensação da produtividade com populações variando entre 33 e 44 mil plantas por hectare (DUARTE, 2001). Esse fato pode explicar porque o tratamento com fipronil, mesmo com menor população, produziu maior quantidade de palha do que o tratamento com imidacloprid + carbofuran. A produtividade de grãos foi maior no tratamento com thiamethoxam, o qual diferiu da testemunha, mas não dos demais tratamentos (Tabela 5). Nos parâmetros de espiga, os tratamentos com thiamethoxam e fipronil foram significativamente superiores à testemunha e imidacloprid + carbofuran para massa de grãos por espiga e ao imidacloprid + carbofuran para massa de mil grãos. No experimento B, não houve diferença entre os tratamentos para população de plantas, produtividade de grãos e massa de mil grãos. Obteve-se maior altura de plantas no tratamento com fipronil, sem diferir do carbofuran. Carbofuran se destacou quanto à massa de palha, juntamente com o thiamethoxam, e à massa de grãos por espiga. O carbofuran também apresentou maior produtividade de grãos, sem diferir significativamente dos demais tratamentos. Nas duas áreas avaliadas, a maior produção de massa seca da parte aérea não assegurou maior produtividade de grãos. Provavelmente, devido à baixa produtividade de grãos de milho e às diferenças pouco acentuadas entre os tratamentos, o número de repetições do trabalho tenha sido pequeno para diferenciar melhor os tratamentos. No experimento B, thiamethoxam e carbofuran se destacaram quanto à produção de matéria seca da parte aérea, mas não houve diferença entre os tratamentos para produção de grãos (Tabela 5). No experimento A, onde havia maior número de insetos, o tratamento fipronil destacou-se quanto à massa de palha, sem diferir do thiodicarb. No entanto, o tratamento com o thiamethoxam foi o único que apresentou produtividade de grãos superior à testemunha (Tabela 5). Esses resultados de minimização dos prejuízos da produção de massa de palha e/ou grãos de milho corroboram com os obtidos por CRUZ (1996), que verificou benefícios do tratamento de sementes associando thiodicarb e carbofuran sobre a produtividade do milho, possivelmente devido ao controle do complexo de pragas. SALVADORI (2001a) obteve rendimento de grãos de trigo superior à testemunha de 8,4% e 6,5%, respectivamente, para thiamethoxam e fipronil, via tratamento de sementes, em área com corós. Esse mesmo autor (SALVADORI, 2001b), porém, não registrou diferença na produtividade para fipronil ao realizar tratamento via pulverização no sulco de semeadura. O efeito dos tratamentos na produtividade de grãos, no experimento A, não foi coerente com seu efeito sobre a massa de grãos por espiga, o que pode ser explicado, entre outros fatores, pelas acentuadas diferenças na população de plantas entre os tratamentos. Geralmente, para um mesmo potencial produtivo, quanto maior o número de plantas, menor a massa de grãos de cada espiga. Assim, o tratamentocom imidacloprid + carbofuran apresentou, ao mesmo tempo, maior população de plantas e menor massa de grãos por espiga, ao contrário do tratamento com fipronil (Tabela 5). Ressalte-se que o número de espigas por planta é variável e algumas espigas podem ser chochas, dificultando as extrapolações dessa inferência. Algumas inferências do efeito dos tratamentos sobre o desenvolvimento das plantas não foram as mesmas nos estádios iniciais da cultura e por ocasião da colheita. As avaliações das plantas raquíticas e da população inicial de plantas foram pouco esclarecedoras, ocorrendo discrepâncias com a avaliação final no experimento A, provavelmente devido ao erro experimental, e redução acentuada da população de plantas até o fim do ciclo em todos os tratamentos, no experimento B. De maneira geral, considerando-se as duas áreas experimentais (A e B), a aplicação dos inseticidas fipronil e carbofuran proporcionou menor número de indivíduos de pragas de solo, sendo o carbofuran específico para percevejo-castanho, destacando-se também quanto à produtividade de palha e aos parâmetros de espiga. O thiamethoxam, especificamente em área com alta infestação de percevejoscastanhos e larvas de corós (experimento A), obteve valores intermediários para o número de indivíduos de percevejo-castanho e destacou-se quanto à produtividade de grãos e aos parâmetros de espigas. Ao comparar os inseticidas, deve-se considerar ainda a relação entre o benefício do controle das pragas, avaliado pelo aumento da produtividade versus o valor de venda do milho, e o custo de cada produto. Os valores médios de aumento de produtividade com a aplicação dos inseticidas foram 28% e 12% para as áreas A e B respectivamente. Por ocasião da realização deste trabalho, verificou-se que os inseticidas avaliados apresentavam grande diferença de custo por unidade de área tratada. 4. CONCLUSÕES 1. Os inseticidas fipronil e carbofuran destacaram-se no controle do percevejocastanho S. castanea; o fipronil destacou-se também no controle do coró Phyllophaga spp. 2. Os inseticidas carbofuran e thiodicarb reduziram o número de plantas danificadas por S. frugiperda. 3. Os inseticidas fipronil e thiamethoxam sobressaíram quanto aos parâmetros agronômicos na colheita do milho em área com alta infestação de percevejoscastanhos e larvas de corós. O inseticida carbofuran destacou-se na área com predominância de percevejos-castanhos, mas sem aumento da produtividade de grãos em relação à testemunha. AGRADECIMENTOS Aos produtores Sidiney Néspoli Andrade, Centirlei Néspoli Andrade e Odail Daví Vasques, pela cessão das áreas, ao departamento técnico da Coopermota pelo acompanhamento e facilidades oferecidas para desenvolver os experimentos e à empresa Aventis Crop Science, atualmente Bayer Crop Science, pelo financiamento parcial do projeto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ÁVILA, C.J.; GOMES, S.A. Controle químico do percevejo-castanho Atarsocoris brachiariae (Hem.: Cydnidae) na cultura do milho. 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Recebido para publicação em 30 de abril de 2002 e aceito em 5 de abril de 2004 Efeito de inseticidas na semeadura de milho safrinha 227 FITOSSANIDADE EFEITO DE INSETICIDAS NA SEMEADURA SOBRE PRAGAS INICIAIS E PRODUTIVIDADE DE MILHO SAFRINHA EM PLANTIO DIRETO (1) GESSI CECCON(2 ); ADALTON RAGA(3 ); AILDSON PEREIRA DUARTE(2); ROMILDO CÁSSIO SILOTO(3) RESUMO Considerando o aumento do complexo de pragas em lavouras de milho safrinha, foram desenvolvidos dois experimentos (A e B) no município de Cândido Mota (SP). O objetivo foi avaliar o efeito de inseticidas sobre pragas de solo (percevejos-castanhos e corós), lagarta-do-cartucho na fase inicial da cultura e desenvolvimento das plantas. Os inseticidas utilizados na semeadura foram: thiamethoxam (Cruiser 700 WS), carbofuran (Furazin 310 TS), imidacloprid (Gaucho FS), imidacloprid (Gaucho FS) + carbofuran (Furazin 310 TS), fipronil (Regent 800 WG) e thiodicarb (Semevin 350 RPA), nas doses recomendadas de cada produto, e a testemunha sem inseticida. As pragas de solo foram avaliadas aos 14 e 28 dias após a emergência das plantas (DAE), no experimento A, e aos 7 e 21 DAE, no experimento B. Os parâmetros agronômicos foram avaliados aos 14 e 28 DAE, juntamente com o ataque por Spodoptera frugiperda, e também por ocasião da colheita dos grãos. Os inseticidas fipronil e carbofuran destacaramse no controle do percevejo-castanho Scaptocoris castanea e o fipronil sobressaiu no controle dos corós (Phyllophaga spp). Os inseticidas carbofuran e thiodicarb reduziram o número de plantas danificadas pela lagarta-do-cartucho Spodoptera frugiperda. O controle químico do complexo de pragas do solo e da lagarta-do-cartucho proporcionou aumentos significativos da produtividade de grãos de milho apenas na área A, onde o número de corós era maior. Palavras-chave: Manejo de pragas, Scaptocoris castanea, Phyllophaga spp, Spodoptera frugiperda, Zea mays. ABSTRACT EFFECT OF INSETICIDES AT SOWING ON SEEDLING PESTS AND YIELD OFF-SEASON MAIZE CROP UNDER NO-TILLAGE SYSTEM Due to an increasing pest diversity in maize crop during the off-season, two autumn-winter experiments were conducted in the Medium Paranapanema region, State of São Paulo, Brazil, designated as Fields A and B, both in Cândido Mota County. The aim of the experiments were to evaluate the effect of insecticides on the control of pests occurring in the initial plant development. Treatments were the recommended dosage of the insecticides thiamethoxam (Cruiser 700 WS), carbofuran (Furazin 310 TS), imidacloprid (Gaucho FS), imidacloprid (Gaucho FS) + carbofuran (Furazin 310 TS), fipronil (Regent 800 ( 1) Recebido para publicação em 30 de abril de 2002 e aceito em 5 de abril de 2004. ( 2) Convênio IAC/Fundag/Coopermota, Pólo de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Médio Paranapanema, Caixa Postal 263, 19805-000, Assis (SP). E-mail:[email protected] ( 3 ) Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal/Instituto Biológico (IB), Caixa Postal 70, 13001-970 Campinas (SP). E-mail: [email protected] Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.227-237, 2004 228 G. Ceccon et al. WG), thiodicarb (Semevin 350 RPA); and the control (without insecticide). The soil insects (burrowing bugs and grubs) populations were evaluated at 14th and 28 th days after plant emergency (DAE), in Field A, and at 7 th and 21 th DAE, in the Field B. Spodoptera frugiperda incidence and corn plant parameters were evaluated at 14 th and 28 th DAE. Fipronil and carbofuran performed best on the control of Scaptocoris castanea. Fipronil alone provided also the best control for grubs ( Phyllophaga spp.). Carbofuran and thiodicarb reduced damages from fall armyworm. The chemical control of corn pests in the initial stage of the crop enhanced grain productivity only in the field A were the number of grubs in the soil was highest. Key words: Pest management, Scaptocoris castanea, Phyllophaga spp, Spodoptera frugiperda, Zea mays. 1. INTRODUÇÃO Na cultura de milho safrinha, o aumento de ocorrência de pragas subterrâneas, de pragas iniciais da cultura e de insetos vetores de fitopatógenos está associado a fatores como monocultura da sucessão soja-milho safrinha, semeadura em época marginal e aumento de lavouras em plantio direto. Entre as medidas de manejo, deve-se priorizar a rotação de culturas e a semeadura na época indicada, a fim de viabilizar a utilização de insumos, importantes componentes no custo de produção (D UARTE, 2001). Uma das alternativas que visam minimizar a ação das pragas e evitar perdas de produtividade das culturas é a utilização de inseticidas via tratamento de sementes (CRUZ et al., 1999). Dentre as principais pragas de solo que podem ocorrer na cultura do milho safrinha destacam-se adultos e ninfas de percevejos-castanhos (Hemiptera: Cydnidae) e larvas de corós (Coleoptera: Scarabaeoidea). Os percevejos-castanhos possuem hábitos subterrâneos e podem ser encontrados em todas as épocas do ano em diferentes profundidades do solo (CRUZ e BIANCO, 2001). No Brasil, esses insetos causam prejuízos em diversas culturas de importância econômica, principalmente em soja, milho, algodão e pastagens (SILOTO e R AGA , 1998), como também em plantas invasoras (RAMIRO et al., 1997). No Estado de São Paulo, a espécie Scaptocoris castanea tem sido observada com maior freqüência e intensidade em soja, milho e algodão, apresentando ataque nas raízes das plantas, no sentido da linha de semeadura, nem sempre formando reboleiras típicas (RAGA et al. 2000). Segundo S ILOTO e R AGA (1998), as plantas atacadas têm suas raízes sugadas por ninfas e adultos, tornando-se raquíticas, com desenvolvimento reduzido e afetando diretamente a produção. Em ataques severos, nos estádios iniciais da cultura, pode haver necessidade de replantio. Hábito subterrâneo e deslocamento no perfil do solo são características desses insetos que constituem fatores limitantes no seu manejo e a aplicação Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.227-237, 2004 de produtos, via tratamento de sementes, tem sido uma alternativa de controle (ÁVILA e GOMES, 2001; RAGA et al., 2000; SILOTO et al., 2001). Os percevejos-castanhos deslocam-se no perfil do solo, aprofundando-se nas épocas mais secas e voltando à superfície no período chuvoso. Esse fato pode estar associado a um gradiente ótimo de umidade e ser influenciado pela ocorrência de chuvas, semelhante ao que descreveram MEDEIROS e SALES J UNIOR (2000), que observaram correlação positiva entre o volume de chuvas e o número de ninfas e adultos de Atarsocoris brachiariae, coletados principalmente na faixa de 0,20 m de profundidade. S ILOTO et al. (2001), estudando a incidência de S. castanea na camada de zero a 50 cm, observaram picos populacionais da praga, de 30 a 60 dias após os meses de maior precipitação pluvial. Os corós constituem-se em importantes pragas das culturas anuais no Brasil. Os gêneros mais comuns são Phyllophaga, Cyclocephala, Diloboderus e Liogenys e existem poucas informações sobre a quantificação de seus danos em milho (G ASSEN, 1999). O ataque em plantas de milho, pela alimentação das larvas, provocam enfraquecimento do sistema radicular e conseqüente tombamento e morte das plântulas (CRUZ e BIANCO , 2001). Os gêneros Diloboderus e Phyllophaga têm sido relatados em cereais de inverno no Rio Grande do Sul (SALVADORI , 1997) e este último também em milho safrinha na Região Centro-Oeste do Brasil ( OLI VEIRA et al., 1999). Em Mato Grosso do Sul, a ocorrência do gênero Liogenys foi constatada na cultura do milho por ÁVILA e R UMIATTO (1997). No oeste do Paraná, a espécie Phyllophaga cuyabana foi relatada em soja por OLIVEIRA et al. (1996). Os adultos do gênero Phyllophaga ocorrem em revoadas nos meses de novembro e dezembro, e as larvas a partir de dezembro até setembro, deslocando-se sob a superfície do solo em direção à base das plantas, das quais consomem as raízes até completar a fase larval ou causar a morte da planta hospedeira (GASSEN, 1996). No México, as larvas de Phyllophaga spp. consomem raízes de diversas espécies de gramíneas e são pragas severas em milho (M ORÓN, 1986), estimandose perdas de 0,4 a 1,3 toneladas de milho por hectare/ ano (VILLALOBOS , 1988). Efeito de inseticidas na semeadura de milho safrinha 229 A lagarta-do-cartucho Spodoptera frugiperda é a principal praga da cultura do milho devido à sua ocorrência generalizada e ao seu potencial de ataque em todas as fases de desenvolvimento da planta, provocando quedas significativas no rendimento (C RUZ e T URPIN, 1982). Quando o ataque ocorre na fase inicial da cultura, essas perdas são ainda mais significativas devido à morte das plântulas e à diminuição do número de plantas por unidade de área. O controle com inseticidas via pulverização torna-se pouco efetivo em função da reduzida área foliar das plântulas nessa fase, dificultando a retenção do produto nas folhas e diminuindo o seu poder residual. A utilização de produtos sistêmicos via tratamento de sementes, nesse caso, tem-se constituído em alternativa viável (CRUZ e BIANCO, 2001). Experimento A. Instalado no Sítio Cinco Irmãos, utilizou-se o híbrido Tork, com semeadura em 2/3/2001 e emergência em 8/3/2001. A adubação foi realizada apenas na semeadura, com 150 kg.ha-1 da fórmula NPK 15-15-15. O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar o efeito de inseticidas sobre pragas de solo (percevejos-castanhos e corós), a lagarta-do-cartucho na fase inicial da cultura e o desenvolvimento das plantas de milho. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, com cinco repetições, sendo cada parcela constituída por seis linhas de 20 m de comprimento e 0,9 m entre linhas e densidade inicial de 50.000 sementes por hectare. As avaliações foram realizadas nas duas linhas centrais de cada parcela. 2. MATERIAL E MÉTODOS Os tratamentos consistiram dos inseticidas thiamethoxam, carbofuran, imidacloprid, imidacloprid + carbofuran, fipronil e thiodicarb, além da testemunha sem inseticida (Tabela 1). Foram desenvolvidos dois experimentos, ambos no município de Cândido Mota (SP), em lavouras de milho safrinha, sob sistema de plantio direto em Latossolo Vermelho eutroférrico, com reconhecido histórico de ataque de pragas de solo e da lagarta-do-cartucho na fase inicial da cultura. Experimento B. Instalado no Sítio Santa Luzia, com utilização do híbrido Exceler, semeado em 3/3/2001 e com emergência em 8/3/2001. Na semeadura, empregou-se 145 kg.ha -1 da fórmula NPK 05-25-25 e em cobertura, 20 kg.ha-1 de N na forma de uréia. O registro de chuvas foi obtido na estação meteorológica automatizada da Cooperativa Coopermota, eqüidistante aproximadamente 5 km dos dois experimentos (Figura 1). O tratamento com o inseticida fipronil foi aplicado via pulverização em jato dirigido na linha de semeadura, com bico leque e 200 L.ha -1 de calda. Os demais inseticidas foram aplicados via tratamento de sementes. 250 200 mm 150 100 50 0 Jan Mar Maio Jul Figura 1. Precipitação pluvial decendial registrada na estação meteorológica automatizada da Cooperativa Coopermota, em Cândido Mota (SP), 2001. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.227-237, 2004 230 G. Ceccon et al. Tabela 1. Produtos utilizados para controle de insetos no milho safrinha em plantio direto no município de Cândido Mota, em 2001 Tratamento Dose utilizada Ingrediente ativo Ingrediente ativo Produto comercial Cruiser 700 WS ® thiamethoxam 210 g/100 kg semente 300 ml/100 kg semente Furazin 310 TS ® carbofuran 620 g/100 kg semente 2,0 L/100 kg semente imidacloprid 210 g/100 kg semente 350 ml/100 kg semente imidacloprid+ carbofuran 105 g + 350 g/100 kg semente 175 m + 500 ml/ 100 kg semente fipronil 64 g/ha 80 g/ha thiodicarb 700 g/100 kg semente 2,0 L/100 kg semente Gaucho FS ® (1) Gaucho®+Furazin ® (2) Regent 800 ® WG Semevin 350 ® RPA ( 1 ) Utilizado apenas no experimento B; (2) Utilizado apenas no experimento A. Aos 16 dias após a emergência das plantas (DAE), foi realizada uma pulverização com inseticida Decis 25 CE ® (deltamethrin), nos dois experimentos, na dose de 200 mL.ha-1 e 200 L.ha -1 de calda, com pulverizador tratorizado visando ao controle de S. frugiperda. cela. Calculou-se a uniformidade de crescimento de plantas segundo o percentual de plantas raquíticas (com altura menor que a média do experimento) em relação ao total de plantas avaliadas. Para obtenção da massa seca da parte aérea, o material coletado foi seco em estufa a 60 °C. O efeito dos tratamentos sobre percevejoscastanhos e corós foi avaliado aos 14 e 28 DAE no experimento A e aos 7 e 21 DAE no experimento B. Foram realizadas duas amostragens por parcela, sendo cada uma constituída de solo retirado junto à linha de plantio em 1 m de comprimento e 0,2 m de largura e profundidade. O solo foi peneirado e os insetos coletados e contados, sendo consideradas as ninfas e os adultos para percevejos-castanhos e as larvas para corós. Os insetos foram armazenados em álcool 70% para identificação no Laboratório de Entomologia Econômica do Instituto Biológico, em Campinas (SP). O valor de cada parcela foi obtido calculando-se a média das duas amostragens. Na colheita foram avaliados os parâmetros de altura e população de plantas, massa seca da parte aérea sem espiga (palha), produtividade, massa de grãos por espiga e massa de mil grãos. O efeito sobre a lagarta-do-cartucho foi avaliado aos 14 DAE e 28 DAE nos dois experimentos. Foram realizadas duas amostragens por parcela; em cada amostragem foram avaliadas as plantas presentes em 1 m de linha, considerando-se presença-ausência de danos no cartucho e calculado o índice de plantas danificadas (IPD = 100 x n.º de plantas danificadas/total de plantas avaliadas). O valor de cada parcela também foi obtido calculandose a média das duas amostragens. Aos 14 e 28 DAE foram avaliados os seguintes parâmetros agronômicos: população, uniformidade de crescimento de plantas e massa seca da parte aérea. Os parâmetros foram calculados com base no número de plantas coletadas em 5 m de linha por par- Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.227-237, 2004 O dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F (P<0,05) e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Os dados originais relativos aos insetos foram transformados em x + 0 , 5. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Segundo BECKER (1967), as ninfas e os adultos de percevejos-castanhos foram identificados como S. castanea e com base em GASSEN (1996), as larvas de corós foram identificadas como Phyllophaga spp. Nos dois experimentos foram encontradas mais ninfas do que adultos nas duas avaliações. No experimento A, o número médio de percevejos-castanhos foi de 29,7 aos 14 DAE e de 13,6 aos 28 DAE (Tabela 2). No experimento B, o número médio desses insetos foi de 11,4 aos 7 DAE e de 11,6 aos 21 DAE; o número de adultos foi bastante reduzido, com média dos tratamentos inferior a dois insetos (Tabela 3). No experimento A, houve queda acentuada no nível populacional de S. castanea entre a 1.ª e a 2.ª avaliações, inclusive na testemunha, assemelhando-se 231 Efeito de inseticidas na semeadura de milho safrinha aos resultados obtidos por SILOTO et al. (2000) que também observaram esse fato em experimento com inseticidas para o controle de percevejos-castanhos, quando se registrou, nos 26 dias anteriores à última avaliação, precipitação pluvial de apenas 8 mm. Os percevejos-castanhos têm grande capacidade de deslocamento no perfil do solo, provavelmente influenciado por um gradiente ótimo de umidade (SILOTO et al., 2001). Houve diminuição das chuvas no período de realização dos experimentos (Figura 1) e sua distribuição não foi uniforme, o que pode ter levado os insetos a se deslocarem para camadas mais profundas. mento com carbofuran 310 TS aos 21 DAE, no experimento B. Os referidos tratamentos não diferiram do thiamethoxam nos dois experimentos (Tabelas 2 e 3). No experimento A, aos 14 DAE, o número de percevejos-castanhos (ninfas + adultos) foi significativamente menor para o tratamento com fipronil em relação aos tratamentos com carbofuran, imidacloprid + carbofuran e thiodicarb, mas não diferiu de thiamethoxam e da testemunha. Aos 28 DAE os tratamentos não apresentaram diferença significativa entre si (Tabela 2). No experimento B, houve diferença significativa entre os tratamentos aos 21 DAE; carbofuran apresentou redução da população em relação aos tratamentos com imidacloprid, fipronil e testemunha, sem diferir de thiamethoxam (Tabela 3). Houve redução significativa de S. castanea, em comparação à testemunha, no tratamento com fipronil 800 WG aos 14 DAE, no experimento A, e no trata- Tabela 2. Número médio de insetos coletados em milho safrinha sob diferentes tratamentos com inseticidas e avaliados aos 14 e 28 dias após a emergência das plantas (DAE), em Cândido Mota (A), em 2001 N.º de percevejos-castanhos Tratamento Ninfas Adultos N.º de corós Total 14 DAE Thiamethoxam 16,8 ns 25,1 ab 9,7 ns Carbofuran 30,8 15,2 a 46,0 a 0,4 Imidacloprid+Carbofuran 27,0 12,7 a 39,7 a 12,8 5,0 2,2 b 7,2 b 6,4 Thiodicarb 27,0 9,9 ab 37,6 a 9,5 Testemunha 16,8 5,8 ab 22,6 ab 9,4 9,0 29,7 8,0 43 23 Fipronil Média C.V.(%) 0,6 42 8,3 ab 47 28 DAE ns ns ns Thiamethoxam 9,4 Carbofuran 5,8 1,9 7,7 Imidacloprid+Carbofuran 14,2 5,9 20,1 8,3 ab Fipronil 13,3 4,2 17,6 4,8 b Thiodicarb 10,5 3,9 14,4 10,0 ab Testemunha 6,1 3,9 10,0 8,7 ab Média 9,9 3,7 13,6 9,2 30 25 C.V.(%) 31 2,6 12,0 32 Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem pelo teste de Tukey a 5%; ns 11,3 a 12,2 a = não significativo pelo teste F a 5%. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.227-237, 2004 232 G. Ceccon et al. Tabela 3. Número médio de insetos coletados em milho safrinha sob diferentes tratamentos com inseticidas e avaliados aos 7 e 21 dias após a emergência das plantas (DAE), em Cândido Mota (B), em 2001 N º de percevejos-castanhos Tratamento Ninfa Adulto N º de corós Total 7 DAE Thiamethoxam 5,1 Carbofuran 8,2 Imidacloprid ns 0,9 ns 6,0 1,4 ns 9,6 1,7 3,0 6,9 0,4 7,3 1,9 Fipronil 19,7 1,9 21,6 1,2 Testemunha 11,3 1,0 12,3 2,0 Média 10,2 C.V.(%) 51 1,1 11,4 45 49 ns 2,0 20 21 DAE Thiamethoxam 9,5 ab 1,1 Carbofuran 2,9 b ns 10,6 ab 0,2 0,7 3,6 b 0,6 Imidacloprid 11,4 2,3 13,7 a 0,1 Fipronil 14,1 a 0,8 14,9 a 0,2 Testemunha 13,2 a 2,1 15,3 a 0,3 Média C.V.(%) 10,2 37 1,4 50 Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem pelo teste de Tukey a 5 %; A ação dos inseticidas, por repelência, possivelmente contribuiu para evitar a presença desses insetos junto às raízes nas parcelas tratadas. Esses são fatores que podem influir na análise do efeito dos inseticidas. C ORSO et al. (1999), em trabalho realizado na região de Cândido Mota (SP), detectaram eficiência média superior a 30% até 30 DAE para os produtos thiamethoxam, imidacloprid e clorpirifós (tratamento de sementes) e também para fipronil (pulverizado no sulco de plantio), considerando-se avaliações a partir de 12 DAE. RAGA e S ILOTO (1999), em trabalho realizado em milho safrinha em Florínea (SP), obtiveram níveis médios de mortalidade de 95,8% e 90%, respectivamente, para terbufós e fipronil. NAKANO e FLORIM (1999) concluíram que fipronil 250 FS e fipronil 800 WG mostraram maior eficiência a 70% no controle da espécie Atarsocoris brachiariae, em soja, em Jataí (GO). O número médio de corós foi relativamente grande no experimento A (8,0 e 9,2 em cada avaliação) e pequeno no experimento B (2,0 e 0,3), não se observando diferenças significativas entre os tratamentos nesse último experimento. No experimento A, aos 28 DAE, o número de corós foi menor no tratamento com fipronil em relação ao carbofuran e Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.227-237, 2004 11,6 36 ns ns 0,3 100 = não significativo pelo teste F a 5%. thiamethoxam, não diferindo de imidacloprid + carbofuran, testemunha e thiodicarb. M ARTINS et al. (1999), avaliando o efeito de diferentes inseticidas sobre Phyllophaga spp. em milho, concluíram que fipronil 800 WG nas três dosagens testadas, proporcionou controle com eficiência de 100%. HABE et al. (2001) testaram o efeito de diferentes produtos químicos sobre Liogenys sp. em milho e obtiveram controle de 80% até 21 DAE com thiodicarb 300 SC, enquanto thiamethoxam na dose de 210 g i.a. promoveu maior produtividade e vigor de plantas. O efeito dos tratamentos sobre a lagarta-docartucho foi significativo nos dois experimentos. No experimento A, thiodicarb se destacou em relação à testemunha e fipronil. Os tratamentos com carbofuran, thiamethoxam e imidacloprid + carbofuran também foram significativamente superiores ao fipronil, sem diferir da testemunha. No experimento B, carbofuran diferiu em relação à testemunha. Tanto thiodicarb, no experimento A, quanto carbofuran, no B, apresentaram índices de plantas danificadas inferiores a 20% (Figura 2). Thiodicarb é recomendado para o controle da lagarta-do-cartucho e foi aplicado exclusivamente no experimento A. CRUZ (1996) obteve redução significativa da infestação de S. frugiperda, Efeito de inseticidas na semeadura de milho safrinha até os 10 DAE, em plantas cujas sementes foram tratadas com thiodicarb. BELLETTINI et al. (2002) obtiveram eficiência superior a 80% até 25 DAE, com thiamethoxam 700 WS via tratamento de sementes. Esses inseticidas retardaram o início da infestação por S. frugiperda, o que é fator positivo, pois favorece o desenvolvimento das plantas e adia o início das pulverizações. 233 Na fase inicial da cultura, o controle via pulverização das plantas pode ser pouco efetivo, pois como possuem reduzida área foliar, dificulta a retenção do produto nas folhas, diminuindo o poder residual. O controle mais tardio pode possibilitar o estabelecimento e o incremento de inimigos naturais - importantes componentes no manejo integrado de pragas do milho. Figura 2. Incidência de S. frugiperda (%) em plantas de milho safrinha, aos 14 e 28 dias após a emergência (DAE), em Cândido Mota (SP), 2001. Quanto aos caracteres agronômicos, no experimento A, houve diferença significativa para a população de plantas aos 28 DAE e para plantas raquíticas e massa seca, aos 14 e 28 DAE (Tabela 4). Nas avaliações aos 28 DAE, os tratamentos com imidacloprid + carbofuran e carbofuran apresentaram maiores populações de plantas do que a testemunha. C RUZ (1996) obteve um estande maior que a testemunha em 19%, tratando as sementes de milho com carbofuran 350 SC a 2,0 L de p.c./100 kg de semente. O número de plantas raquíticas foi menor em todos os tratamentos em relação à testemunha, menos com fipronil aos 28 DAE, evidenciando-se o efeito dos inseticidas na manutenção de maior proporção de plantas normais. Conseqüentemente, a massa seca da parte aérea foi significativamente maior com a aplicação de inseticidas nas duas épocas, com exceção de thiamethoxam aos 14 DAE. No experimento B, houve diferença para plantas raquíticas aos 14 DAE e para massa seca da parte aérea aos 14 e 28 DAE (Tabela 4). O imidacloprid destacou-se especificamente aos 14 DAE, de maneira inconsistente em relação aos 28 DAE, apresentando menor percentual de plantas raquíticas do que a testemunha e o carbofuran. Com relação à massa seca, aos 14 DAE, o carbofuran apresentou menor valor em relação aos tratamentos thiamethoxam e imidacloprid. Aos 28 DAE, os tratamentos com thiamethoxam e carbofuran apresentaram maiores valores de massa seca em relação aos demais. Carbofuran se destacou nesse experimento no controle da lagarta-do-cartucho e, especificamente, de percevejo-castanho no solo, na segunda avaliação. O thiamethoxam foi intermediário entre o carbofuran e os demais tratamentos para o controle do percevejo-castanho (Tabela 3). Por ocasião da colheita de grãos do experimento A, houve diferença significativa para os parâmetros avaliados, com exceção da altura de plantas. O tratamento com imidacloprid + carbofuran apresentou maior população de plantas do que o fipronil (Tabela 5), de maneira coerente com a superioridade da sua população de plantas aos 28 DAE (Tabela 4). O tratamento com o fipronil foi o que apresentou maior massa de palha, sem diferir apenas de thiodicarb. Nas condições de outono-inverno, cujoo potencial produtivo é relativamente baixo, há uma compensação da produtividade com populações variando entre 33 e 44 mil plantas por hectare (D UARTE, 2001). Esse fato pode explicar porque o tratamento com fipronil, mesmo com menor população, produziu maior quantidade de palha do que o tratamento com imidacloprid + carbofuran. A produtividade de grãos foi maior no tratamento com thiamethoxam, o qual diferiu da testemunha, mas não dos demais tratamentos (Tabela 5). Nos parâmetros de espiga, os tratamentos com thiamethoxam e fipronil foram significativamente superiores à testemunha e imidacloprid + carbofuran para massa de grãos por espiga e ao imidacloprid + carbofuran para massa de mil grãos. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.227-237, 2004 234 G. Ceccon et al. Tabela 4. População de plantas, plantas raquíticas e massa seca aos 14 e 28 dias após a emergência (DAE) em duas lavouras de milho safrinha em Cândido Mota, em 2001 População Tratamento 14 DAE Plantas raquíticas 28 DAE 14 DAE 28 DAE plantas.ha–1 Massa seca 14 DAE 28 DAE kg ha -1 % Experimento A Thiamethoxam 37.300 Carbofuran ns 44.000 ab 19,8 b 13,2 b 80 cd 1.535 a 45.300 46.600 a 11,5 b 8,6 b 105 bc 1.468 a + Carbofuran 47.500 48.400 a 8,5 b 8,5 b 125 ab 1.503 a Fipronil 40.800 40.800 ab 14,1 b 21,6 ab 107 abc 1.170 a Thiodicarb 52.000 43.100 ab 24,9 b 8,3 b 149 a 1.546 a Testemunha 35.500 33.300 b 67,3 a 48,0 a 55 d 319 b Média 43.100 42.700 24,4 18,0 21 12 55 12 Imidacloprid C.V.(%) 103 1.257 21 19 Experimento B ns 48.400 ns 2,8 ns 157 a 2.668 a 17,8 a 6,6 116 b 2.452 a 50.200 1,8 c 8,0 148 a 1.801 b 46.700 50.200 7,6 abc 8,8 140 ab 1.852 b Testemunha 45.800 48.400 12,0 130 ab 1.673 b Média 46.000 48.900 138 2.089 5 5 11 14 Thiamethoxam 45.800 Carbofuran 44.900 47.500 Imidacloprid 46.700 Fipronil C.V.(%) 4,7 bc 15,3 ab 9,4 66 Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem pelo teste de Tukey a 5%; No experimento B, não houve diferença entre os tratamentos para população de plantas, produtividade de grãos e massa de mil grãos. Obteve-se maior altura de plantas no tratamento com fipronil, sem diferir do carbofuran. Carbofuran se destacou quanto à massa de palha, juntamente com o thiamethoxam, e à massa de grãos por espiga. O carbofuran também apresentou maior produtividade de grãos, sem diferir significativamente dos demais tratamentos. Nas duas áreas avaliadas, a maior produção de massa seca da parte aérea não assegurou maior produtividade de grãos. Provavelmente, devido à baixa produtividade de grãos de milho e às diferenças pouco acentuadas entre os tratamentos, o número de repetições do trabalho tenha sido pequeno para diferenciar melhor os tratamentos. No experimento B, thiamethoxam e carbofuran se destacaram quanto à produção de matéria seca da parte aérea, mas não houve diferença entre os trata- Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.227-237, 2004 7,6 71 ns = não significativo pelo teste F a 5%. mentos para produção de grãos (Tabela 5). No experimento A, onde havia maior número de insetos, o tratamento fipronil destacou-se quanto à massa de palha, sem diferir do thiodicarb. No entanto, o tratamento com o thiamethoxam foi o único que apresentou produtividade de grãos superior à testemunha (Tabela 5). Esses resultados de minimização dos prejuízos da produção de massa de palha e/ou grãos de milho corroboram com os obtidos por CRUZ (1996), que verificou benefícios do tratamento de sementes associando thiodicarb e carbofuran sobre a produtividade do milho, possivelmente devido ao controle do complexo de pragas. SALVADORI (2001a) obteve rendimento de grãos de trigo superior à testemunha de 8,4% e 6,5%, respectivamente, para thiamethoxam e fipronil, via tratamento de sementes, em área com corós. Esse mesmo autor (SALVADORI, 2001b), porém, não registrou diferença na produtividade para fipronil ao realizar tratamento via pulverização no sulco de semeadura. 235 Efeito de inseticidas na semeadura de milho safrinha Tabela 5. Parâmetros agronômicos na colheita do milho safrinha submetido a diferentes inseticidas aplicados na semeadura em dois experimentos em Cândido Mota, em 2001 Parâmetros de plantas Tratamentos Altura População Produtividade Palha Plantas.ha-1 m Grãos Parâmetros de Espiga Massa de Massa de grãos / espiga mil grãos kg.ha–1 gramas Experimento A Thiamethoxam 1,49 Carbofuran ns 37.778 ab 4.973 bc 5.664 a 151 a 268 a 1,34 41.333 ab 4.054 c 5.347 ab 130 ab 250 ab Imidacloprid+Carbofuran 1,50 46.444 a 4.314 bc 5.334 ab 114 b 242 b Fipronil 1,53 35.778 b 7.520 a 5.343 ab 147 a 269 a Thiodicarb 2,07 42.000 ab 6.103 ab 5.379 ab 126 ab 251 ab Testemunha 1,16 37.778 ab 4.178 bc 4.224 b 112 b 254 ab Média 1,51 40.185 5.190 5.332 130 255 12 19 11 10 4 C.V.(%) 36 Experimento B Thiamethoxam 1,27 d 43.800 Carbofuran 1,50 ab Imidacloprid ns 4.989 b 4.361 36.200 6.651 a 1,38 cd 42.000 Fipronil 1,52 a Testemunha ns 97 b 271 4.912 135 a 294 3.738 c 3.759 87 b 252 40.600 3.668 c 4.320 104 b 271 1,40 bc 37.800 3.714 c 3.873 100 b 260 Média 1,41 40.080 4.552 4.245 105 270 C.V.(%) 4 10 10 14 12 9 ns Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem pelo teste de Tukey a 5%; ( 1 ) Massa seca da parte aérea das plantas sem espigas; ns = não significativo pelo teste F a 5%. O efeito dos tratamentos na produtividade de grãos, no experimento A, não foi coerente com seu efeito sobre a massa de grãos por espiga, o que pode ser explicado, entre outros fatores, pelas acentuadas diferenças na população de plantas entre os tratamentos. Geralmente, para um mesmo potencial produtivo, quanto maior o número de plantas, menor a massa de grãos de cada espiga. Assim, o tratamentocom imidacloprid + carbofuran apresentou, ao mesmo tempo, maior população de plantas e menor massa de grãos por espiga, ao contrário do tratamento com fipronil (Tabela 5). Ressalte-se que o número de espigas por planta é variável e algumas espigas podem ser chochas, dificultando as extrapolações dessa inferência. Algumas inferências do efeito dos tratamentos sobre o desenvolvimento das plantas não foram as mesmas nos estádios iniciais da cultura e por ocasião da colheita. As avaliações das plantas raquíticas e da população inicial de plantas foram pouco esclarecedoras, ocorrendo discrepâncias com a avaliação final no experimento A, provavelmente devido ao erro experimental, e redução acentuada da população de plantas até o fim do ciclo em todos os tratamentos, no experimento B. De maneira geral, considerando-se as duas áreas experimentais (A e B), a aplicação dos inseticidas fipronil e carbofuran proporcionou menor número de indivíduos de pragas de solo, sendo o carbofuran específico para percevejo-castanho, destacando-se também quanto à produtividade de palha e aos parâmetros de espiga. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.227-237, 2004 236 G. Ceccon et al. O thiamethoxam, especificamente em área com alta infestação de percevejos-castanhos e larvas de corós (experimento A), obteve valores intermediários para o número de indivíduos de percevejo-castanho e destacou-se quanto à produtividade de grãos e aos parâmetros de espigas. Ao comparar os inseticidas, deve-se considerar ainda a relação entre o benefício do controle das pragas, avaliado pelo aumento da produtividade versus o valor de venda do milho, e o custo de cada produto. Os valores médios de aumento de produtividade com a aplicação dos inseticidas foram 28% e 12% para as áreas A e B respectivamente. Por ocasião da realização deste trabalho, verificou-se que os inseticidas avaliados apresentavam grande diferença de custo por unidade de área tratada. 4. CONCLUSÕES 1. Os inseticidas fipronil e carbofuran destacaram-se no controle do percevejo-castanho S. castanea; o fipronil destacou-se também no controle do coró Phyllophaga spp. 2. Os inseticidas carbofuran e thiodicarb reduziram o número de plantas danificadas por S. frugiperda. 3. Os inseticidas fipronil e thiamethoxam sobressaíram quanto aos parâmetros agronômicos na colheita do milho em área com alta infestação de percevejos-castanhos e larvas de corós. 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Circular Técnica 31). DUARTE, A.P. Milho: como fazer uma boa segunda safra. Cultivar, Pelotas, n.5, p.10-18, 2001. AGRADECIMENTOS Aos produtores Sidiney Néspoli Andrade, Centirlei Néspoli Andrade e Odail Daví Vasques, pela cessão das áreas, ao departamento técnico da Coopermota pelo acompanhamento e facilidades oferecidas para desenvolver os experimentos e à empresa Aventis Crop Science, atualmente Bayer Crop Science, pelo financiamento parcial do projeto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ÁVILA, C.J.; GOMES, S.A. Controle químico do percevejocastanho Atarsocoris brachiariae (Hem.: Cydnidae) na cultura do milho. In: REUNIÃO SUL BRASILEIRA SOBRE PRAGAS DE SOLO, 8., 2001, Londrina. Resumos... Londrina: Embrapa Soja, 2001. p.232-235. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.227-237, 2004 GASSEN, D.N. Novos problemas com pragas na cultura do milho safrinha. In: SEMINÁRIO SOBRE A CULTURA DO MILHO SAFRINHA, 5, Barretos, 1999. Anais... Campinas: Instituto Agronômico, 1999. p.51-76. GASSEN, D.N. 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Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.227-237, 2004 Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.63 no.2 Campinas 2004 FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DE PLANTAS Nutrição do cafeeiro arábica em função da densidade de plantas e da fertilização com NPK Coffee nutrition as a function of plant density and NPK fertilization Luiz Carlos PrezottiI; Aledir Cassiano da RochaII IInstituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural - Solos e Nutrição de Plantas, 29375-000 Venda Nova do Imigrante (ES). E.mail [email protected] IIInstituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural - Fitotecnia RESUMO Embora aumente a produtividade por área, o adensamento reduz a produção por planta, eleva sua eficiência de recuperação de nutrientes, o que contribui para a redução da quantidade de fertilizantes a ser aplicada por planta. O objetivo deste trabalho foi avaliar a resposta do cafeeiro arábica à aplicação de N (100, 300, 500 e 700 kg.ha-1 de N), P (0, 60, 120 e 180 kg.ha-1 de P2O5) e K (100, 300, 500 e 700 kg.ha-1 de K2O), cultivados em diferentes densidades de plantio (3.333, 5.000, 10.000 e 20.000 plantas por hectare). Com base em informações obtidas em cinco produções, não foram observadas diferenças significativas de produtividade em função da densidade de plantas. A resposta em produtividade do café arábica às doses de N, P e K foi variável nos diversos espaçamentos, com maior freqüência de resultados positivos a N e P e menos expressivos para K. Os teores foliares de N e P foram pouco influenciados pelas doses de N e P2O5. Os teores foliares de K foram fortemente influenciados pelas doses de K2O. Cafeeiros submetidos ao sistema de cultivo adensado apresentaram maiores teores foliares de P e K, quando comparados àqueles cultivados em espaçamento mais largo. Os solos sob cultivo adensado, quando comparados a solos sob cultivos mais largos, apresentaram variações em suas características químicas, sendo mais evidente a redução do teor de H + Al. Palavras-chave: café, nutrição, adubação, adensamento, análise de solo. ABSTRACT Although increasing in productivity, high-density tree planting provides reduction of the production per plant, increases the efficiency of recovery of nutrients by plants, and can contributes to the reduction of the amount of fertilizers to be applied per plant. Due to evaluate the answer of coffee tree plants (Coffea arabica L.) to N (100, 300, 500 e 700 kg.ha-1 of N); P (0, 60, 120 and 180 kg.ha-1 of P2O5) and K (100, 300, 500 and 700 kg.ha-1 of K2O) application, on work was carried out in a coffee cultivated at four densities (3,333; 5,000; 10,000 and 20,000 plants/ha). Database obtained at five harvests showed no significant differences of productivity as function of planting densities. Answers in productivity were obtained more strongly related to N and P doses. Answers to K application were less expressive. N and P foliar levels were little influenced by the doses of N and P2O5 applied by soil each year. K foliar levels were strongly influenced by the doses of K2O. Foliar levels of N and K were highest in coffee high-density tree when compared with those cultivated in wider spacing. The major variation on chemical soil characteristics was the highest levels of reduction on H+Al observed in coffee high-density tree coffee. Key words: Arabic coffee, high density, fertilization, nitrogen, phosphorus, potassium, soil analysis. 1. INTRODUÇÃO Diversas práticas culturais têm sido utilizadas para se aumentar a produtividade da cultura do café. Entretanto, nenhuma tem sido tão eficiente quanto ao aumento da população de plantas por unidade de área, ou seja, o uso de plantios adensados. Até o advento do adensamento das lavouras de café, predominavam as recomendações de adubação por cova. Assim, pequenas variações na população de plantas pouco influenciavam a quantidade a ser aplicada por hectare. Atualmente, com o aumento considerável da densidade de plantas por área, a simples multiplicação da quantidade de fertilizantes a ser aplicado por planta pelo número de plantas por área tornou-se inadequada, superestimando as recomendações. Essa relação não é verdadeira, pois com o aumento da densidade, há redução da produção por planta, tanto de biomassa de frutos como vegetativa (folhas, ramos, caule e raiz) em vista da competição entre elas. Outro fator a ser considerado é que, com o aumento da densidade de raízes e mais umidade do solo, proporcionada pela maior cobertura do solo, ocorre aumento da eficiência de recuperação de nutrientes pelas plantas, contribuindo para reduzir a quantidade de fertilizantes a ser aplicada à lavoura. Esse fato foi confirmado por PAVAN et al. (1990), PAVAN et al. (1991) e PAVAN et al. (1994), quando obtiveram maior produtividade de lavouras adensadas com níveis médios de adubação, ao passo que, em lavouras plantadas em espaçamentos mais largos, o aumento da produção foi obtido com maiores níveis de fertilização. Dados obtidos por esse autor mostram as alterações químicas e físicas do solo causadas pelo adensamento do cafeeiro: aumento do pH, dos teores de Ca, Mg, K, P e Carbono Orgânico, índice de estabilidade de agregados e na umidade do solo. Mesmo para o sistema de plantio não adensado, são citados na literatura, resultados contrastantes, com relação à resposta do cafeeiro à fertilização com macro e micronutrientes. Na maioria dos casos, observa-se efeito positivo da fertilização com NPK. Entretanto, diversos trabalhos têm demonstrado pouca ou nenhuma resposta à aplicação desses nutrientes. SANZONOWICZ et al. (2001) trabalhando com doses de N em solo de Cerrado, observaram que o N não influenciou a flutuação anual da produção, proporcionando acréscimo de 35,9% na produção de grãos. Não houve alteração dos teores foliares desse elemento. RAIJ et al. (1996) trabalhando com N e K, obtiveram resposta negativa à aplicação de K em solos com teores iniciais de 78 mg.dm-3 e 109 mg.dm-3 de K. A maioria das respostas ao nitrogênio, embora não muito acentuadas, foram positivas, sendo negativa apenas no biênio 91/92 no município de Mandaguari. Observou-se pequena influência das adubações com N e K nos teores foliares desses elementos. GALLO et al. (1999), estudando a resposta do cafeeiro a NPK, observaram efeito depressivo na produção para os três nutrientes. GARCIA (1999) realizou estudo para determinar a saturação de potássio para o cafeeiro em solos com diferentes valores de CTC. A variação da saturação de K na CTC do solo de 0 para 12% proporcionou modificações dos teores de K foliar de 1,56 a 1,90 dag.kg-1 na cultivar Acaiá e de 2,12 a 2,28 dag.kg-1 em 'Mundo Novo'. Não houve diferenças estatísticas na produção. Os teores de 130 mg.dm-3 (4% de K na T) no solo de CTC média e 180 mg.dm-3 (4,5 % na T) no solo de CTC alta, segundo os autores, foram suficientes para o suprimento do elemento à cultura. VIANA et al. (1987), avaliando a resposta do cafeeiro a N e K, observaram resposta linear a N (dose máxima de 400 kg.ha-1 de N) e quadrática a K, concluindo que a adubação potássica apenas propiciou ganho na produção, quando o solo se apresentava com menos de 138 mg.dm-3 de K (Mehlich-1). SILVA et al. (1998) sugerem, para o cafeeiro, o nível crítico de 100 mg.dm-3 de K pelo extrator Mehlich-1. Buscando explicar as variadas respostas do cafeeiro à fertilização potássica, SILVA et al. (1997) demonstraram que, mesmo em solos com alto grau de intemperização, existem reservas de potássio não-trocável que podem atender a médio e longo prazo a demanda parcial do cafeeiro por esse nutriente. O objetivo deste trabalho foi avaliar a resposta do cafeeiro aos nutrientes N, P e K, quando cultivado em diferentes densidades de plantio. 2. MATERIAL E MÉTODOS Foram desenvolvidos quatro experimentos com as seguintes densidades de plantas: 3.333 plantas por ha (3 m x 1 m); 5.000 plantas por ha (2 m x 1 m); 10.000 plantas por ha (2 m x 0,5 m) e 20.000 plantas por ha (1 m x 0,5 m). Os experimentos foram instalados na Fazenda Experimental do Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER), no município de Venda Nova do Imigrante (ES), a 720 m de altitude, em solo LVd3 (Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico, relevo montanhoso e forte ondulado), representativo da região de café Arábica do Estado do Espírito Santo. As características químicas do solo são apresentadas na Tabela 1. Foi utilizada a cultivar Catuaí Vermelho, plantada em covas de 40 cm x 40 cm x 40 cm (uma muda por cova). A adubação até o primeiro ano e os tratos culturais dos experimentos seguiram as recomendações publicadas no Manual Técnico para a Cultura do Café no Estado do Espírito Santo (COSTA, 1995). Após esse período, foram aplicados os tratamentos: 100, 300, 500 e 700 kg.ha-1 de N; 0, 60, 120 e 180 kg.ha-1 de P2O5; 100, 300, 500, e 700 kg.ha-1 de K2O. Como fonte de N, P2O5 e K2O, utilizouse uréia (45% de N), superfosfato triplo (45% de P2O5) e cloreto de potássio (60% de K2O). As doses indicadas foram aplicadas anualmente, sendo P fornecido de uma só vez, por ocasião do primeiro parcelamento. N e K foram parcelados em três vezes, durante o período chuvoso (setembro a março). O esquema experimental foi o fatorial fracionado ½ (4 x 4 x 4), totalizando 32 tratamentos, dispostos no delineamento de blocos casualisados com duas repetições. As parcelas foram constituídas por 36 plantas, sendo as 10 plantas centrais consideradas como úteis. As variáveis observadas foram: produtividade e teores de nutrientes no solo e nas folhas. Os dados foram analisados por regressão, sendo citadas as significâncias das regressões e dos modelos até o nível de 20% de probabilidade. A amostragem do solo foi retirada na projeção da copa do cafeeiro, à profundidade de 0 a 20 cm. Foram realizadas as seguintes determinações: pH em água, P, K, Al, Ca, Mg e MO. As análises seguiram o método proposto pela EMBRAPA (1997). A amostragem foliar foi realizada, coletando-se o 4.º par de folhas de ramos produtivos, na altura mediana da planta e nos quatro quadrantes. Foram feitas análises de macro e micronutrientes, segundo o método proposto por BATAGLIA et al. (1983) 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A influência dos diferentes espaçamentos sobre a produtividade de café arábica pode ser observada na Tabela 2. Mesmo apresentando uma diferença de produção de 11,3 sc.ha-1 entre os espaçamentos 3 m x 1 m e 2 m x 1 m, não houve diferença significativa entre as médias de produtividade dos experimentos. Analisando-se as tendências, observa-se que a maior produtividade foi obtida em lavouras com espaçamento de 2 m x 1 m e 1 m x 0,5 m. Embora tenham obtido o mesmo nível de produtividade, os cafeeiros plantados no espaçamento de 1 m x 0,5 m apresentaram efeito marcante da bianualidade, principalmente de 1999 para 2000 com produtividade de 79 sc.ha-1 e 10,1 sc.ha-1 respectivamente. Esse efeito foi menos marcante no espaçamento de 2 m x 1 m. As equações lineares múltiplas da produção de café arábica em função de doses de N, P2O5 e K2O para os diversos anos e espaçamentos encontram-se na Tabela 3. Na safra de 1997 não se observou acréscimo de produção com as doses de N, visto que nos espaçamentos de 2 m x 1 m e 2 m x 0,5 m a reposta foi negativa. Observou-se acréscimo de produção com as doses de P nos espaçamentos de 2 m x 1 m e 1 m x 0,5 m. Resposta positiva ao K somente se notou no espaçamento 3 m x 1 m, quando as interações NK, PK e NP apresentaram efeitos e tendências variados. Pelo intercepto das equações, observa-se que a safra de 1998 foi um ano de baixas produções, obtendo-se resposta positiva a N em todos os espaçamentos. O mesmo foi notado para P, com exceção do espaçamento de 1 m x 0,5 m. É interessante observar a interação NK influenciando negativamente a produção em todos os espaçamentos, com exceção em 2 m x 0,5 m. Na safra de 1999 houve resposta a N e P em todos os espaçamentos. Resposta positiva a K somente se notou no espaçamento 2 m x 1 m. Na safra de 2000, respostas positivas a N se observaram nos espaçamentos 3 m x 1 m e 2 m x 1m. Não se observou resposta positiva a P. Aumento de produção com as doses de K foi observada nos espaçamentos de 2 m x 1 m e 2 m x 0,5 m. As interações apresentaram comportamento diverso. Na safra de 2001, a resposta positiva a N e P somente não foi observada no espaçamento de 3 m x 1 m, que respondeu exclusivamente ao K e à interação NP. A influência do adensamento na resposta do café arábica à aplicação de N, P e K pode ser observada na Tabela 4, em que foram correlacionados os coeficientes angulares do efeito linear para N, P e K das equações apresentadas na Tabela 3, com a média de produtividade obtida nas safras de 97/98/99/00/01 (Tabela 2). Houve aumento progressivo dos coeficientes de correlação para N nos espaçamentos mais estreitos, indicando maior resposta a esse nutriente em sistemas mais adensados. Esse mesmo efeito observou-se para P e para a interação NK. Os coeficientes de correlação para K foram progressivamente menores à medida que se reduziu o espaçamento, indicando menor resposta a K em sistemas mais adensados. As interações NP e PK não permitiram correlações em razão do reduzido número de ocorrência nas diversas equações. Objetivando avaliar o efeito da bianualidade do cafeeiro arábica na resposta à aplicação de N, P e K, foram relacionados, na Tabela 5, as equações lineares múltiplas da produtividade em função de doses dos nutrientes para os anos cuja produtividade foi inferior a 30 sc.ha-1 (anos de baixa produção) e superiores a 30 sc.ha-1 (anos de alta produção). Nos anos de baixa produtividade, houve resposta linear positiva ao N em todos os espaçamentos, com exceção de 2 m x 0,5 m, cuja resposta à aplicação de N se deu quando aplicado juntamente com o K. A resposta ao K foi negativa no espaçamento 3 m x 1 m e 2 m x 0,5 m, linear positiva em 2 m x 1 m, e quadrática em 1 m x 0,5 m, sendo a dose de 227 kg.ha-1 de K2O responsável por 90% da produção máxima. Nos anos de alta produtividade foram observadas respostas quadráticas a N nos espaçamentos de 3 m x 1 m, 2 m x 1 m e 2 m x 0,5 m, sendo as doses de 323 kg.ha1, 441 kg.ha-1 e 282 kg.ha-1 de N responsáveis por 90% da produção máxima. No espaçamento de 1 m x 0, 5m a resposta a N e P foi linear positiva e linear negativa para K. No espaçamento de 2 m x 0,5 m a resposta ao K foi quadrática, sendo a dose de 141 kg.ha-1 de K2O responsável por 90% da produção máxima. As interações NP, NK e PK influenciaram a produção do café arábica de maneira diversa, sendo observada maior freqüência de resposta negativa da interação NK. A alta freqüência de equações de regressão lineares positivas nos anos de baixa produtividade é indicativo da maior exigência de N pelo cafeeiro neste período, o que se atribui à necessidade de reconstituição da biomassa vegetativa da planta, afetada pelo maior carreamento dos nutrientes para os frutos em anos de alta produção. Na literatura, são freqüentes os trabalhos que demonstram respostas a N (CARVAJAL, 1984; RAIJ et al., 1996; GALLO et al., 1999; GARCIA, 2002). Ressalta-se a necessidade de correlações da resposta do cafeeiro ao nitrogênio e os teores de matéria orgânica do solo. Embora seja conhecida a baixa resposta do cafeeiro ao fósforo, observou-se neste trabalho aumento médio de produção de 12%. Esse valor é semelhante ao de 15% obtido por URIBE (1980) e de 16% obtido por GALLO et. al (1999). Corroborando com os dados obtidos neste trabalho, de modo geral, a resposta do cafeeiro ao potássio é bastante controvertida, quando se observam os trabalhos apresentados na literatura. Alguns apresentam respostas expressivas e outros, pequenas ou mesmo ausência de resposta (MIGUEL et al., 1983; RAIJ et al., 1996; BARROS et al., 1997; GALLO et al., 1999). Os teores iniciais de potássio dos solos utilizados neste trabalho variaram de 76 a 100 mg.dm-3, sendo comuns em solos da região serrana do Estado do Espírito Santo. Mesmo assim, a resposta ao potássio foi pouco expressiva, o que não seria de se esperar, uma vez que o nível crítico de produção preconizado para a cultura do café está na faixa de 200 mg.dm-3 (DE MUNER e PREZOTTI, 2001). Resultados semelhantes foram obtidos por GALLO et al. (1999) com solos do município de Mococa (SP), embora os teores iniciais de fósforo e potássio dos solos fossem muito elevados (22 mg.dm-3 de P resina e 214 mg.dm-3 de K). A maioria das justificativas para a ausência de resposta está nos elevados teores iniciais de potássio dos solos utilizados para o desenvolvimento dos experimentos. Entretanto, é necessário maior aprofundamento na busca de explicações para esse fato. Análises das diferentes formas de K no solo, além da forma trocável, poderia ser importante informação, pois alguns tipos de solos contêm minerais como, por exemplo, as micas, que possuem potássio em sua estrutura, em forma não disponível para as plantas. Com a redução da concentração de potássio próximo às raízes do cafeeiro, esse nutriente pode ser liberado dessa estrutura, tornando-se então disponível e contribuindo para a nutrição das plantas. SILVA et al. (1997) demonstraram que, mesmo em solos com alto grau de intemperização, existem reservas de potássio nãotrocável que podem atender a médio e longo prazo a demanda parcial do cafeeiro por esse nutriente. Foram realizadas análises conjuntas dos teores de nutrientes foliares e do solo em função das doses de N, P2O5 e K2O para cada safra e espaçamento. Entretanto, assim como a produtividade, os resultados mostraram-se variáveis, não apresentando uniformidade das respostas, o que dificulta a visualização das tendências. Desse modo, optou-se pela apresentação das análises de regressão dos teores foliares de N, P e K em função de doses de N, P2O5 e K2O, para os diferentes espaçamentos, considerandose a média dos teores de cada nutriente nas safras de 1997 a 2001 (Figura 1). Observaram-se aumentos dos teores foliares de N somente nos experimentos com espaçamentos 2 m x 1 m (0,04 dag.kg-1 para cada 100 kg de N) e 1 m x 0,5 m (0,03 dag.kg-1 para cada 100 kg de N). Para o cafeeiro, são comuns recomendações de N próximas a 300 kg.ha-1 e indicação de teores foliares de 3 dag.kg-1 de N como adequado. Entretanto, observou-se neste trabalho que a dose inicial de 100 kg.ha-1 foi suficiente para atingir teores foliares médios de 3,1 dag.kg-1, mesmo em experimentos com espaçamentos mais abertos. Ressalta-se aqui a necessidade de acrescentar, em trabalhos dessa natureza, o tratamento sem a aplicação do elemento, para que seja possível determinar o potencial de suprimento do solo e a correlação dessa informação com outras variáveis que possam influenciar a disponibilidade desse nutriente, como por exemplo, o teor de matéria orgânica do solo. O aumento do teor foliar de P somente foi significativo no tratamento com espaçamento de 2 m x 0,5 m (0,1 dag.kg-1 para cada 100 kg de P2O5). Os teores foliares de K foram fortemente influenciados pelas doses de K2O, com acréscimos de até 0,17 dag.kg-1 para cada 100 kg de K2O. Importante informação obtida neste trabalho pode ser observada na Figura 2, em que plantas submetidas ao sistema adensado apresentam maiores teores de P e K, quando comparadas àquelas cultivadas em espaçamentos mais abertos. Uma possível explicação para esse fato está na maior umidade do solo, proporcionada por mais sombreamento e maior acúmulo de biomassa vegetal na superfície do solo. Assim, há maior difusão desses elementos no solo, principalmente de P e conseqüentemente maior absorção pelas plantas. Caso este fato seja comprovado por outros trabalhos, ficará então evidenciada a necessidade de inclusão da variável "população de plantas" em estudos de determinação dos níveis críticos foliares desses elementos. Não se observou, porém, variação do teor de N com o aumento da densidade de plantas. O aumento dos teores de P e K no solo, detectado em amostras retiradas na projeção de copa do cafeeiro, em função das doses de P2O5 e K2O e seu efeito cumulativo com o passar dos anos (1999 para 2001) pode ser visualizado na Figura 3. Observa-se que, mesmo nas parcelas onde não se aplicou fósforo, há elevação de seu teor no solo, principalmente nas lavouras mais adensadas. Certamente, esse aumento é atribuído a maior acúmulo de matéria orgânica na superfície do solo, contribuindo tanto no aspecto quantitativo do elemento quanto no fenômeno da solubilização do P por enzimas e ácidos orgânicos. Esse mesmo argumento pode ser utilizado para explicar a influência da população de plantas sobre as características químicas do solo, conforme dados apresentados na Tabela 6. Das variáveis analisadas, as que apresentaram maior tendência de variação foram o H + Al (significativo a 9,41% de probabilidade) e pH, Al e V apesar de não-significativos (Figura 4). Esse fenômeno também foi observado por PAVAN et al. (1994). 4. CONCLUSÕES 1. Não foram observadas diferenças significativas de produtividade em função da densidade de plantas. 2. No espaçamento 1 m x 0,5 m observou-se maior efeito da bianualidade da produção. 3. Houve aumento progressivo da intensidade de resposta ao N, P e à interação NK com o adensamento da cultura. Para o K as respostas foram progressivamente menores com o adensamento. 4. Observou-se maior exigência a N em anos de baixa produtividade. 5. Os teores foliares de N e P foram pouco influenciados pelas doses de N e P2O5. Os teores foliares de K foram fortemente influenciados pelas doses de K2O. 6. Cafeeiros submetidos ao sistema de cultivo adensado apresentaram maiores teores foliares de P e K quando comparados àqueles cultivados em espaçamento mais largos. 7. Os solos sob cultivo adensado, quando comparados a solos sob cultivos mais largos, apresentaram variações em suas características químicas, sendo mais evidente a redução do teor de H + Al. REFERÊNCIAS BARROS, U.V.; MATIELLO, J.B.; BARBOSA, C.M. Níveis de nitrogênio e potássio para a formação e produção do cafeeiro adensado. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 23., 1997, Manhuaçu. Anais... Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro do Café, 1997. p.50-51. BATAGLIA, O. C.; FURLANI, A. M. C.; TEIXEIRA, J. P. F.; FURLANI, P. R.; GALLO, J. R. Métodos de análise química de plantas. Campinas: Instituto Agronômico, 1983. 48p. (Boletim Técnico, 78). CARVAJAL, J.F. Cafeto: Cultivo y fertilizacion. 2.ed. Bern, Switz: Instituto Internacional de la Potassa, 1984. 254p. COSTA, E.B. Manual técnico para a cultura do café no Estado do Espírito Santo. Vitória: SEAG, 1995. 163p. DE NUNER, L. H.; PREZOTTI, L. C. Recomendação de adubação para o cafeeiro arábica. 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Trabalho recebido para publicação em 28 de junho de 2002 e aceito em 19 de fevereiro de 2004 239 Nutrição do cafeeiro arábica FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DE PLANTAS NUTRIÇÃO DO CAFEEIRO ARÁBICA EM FUNÇÃO DA DENSIDADE DE PLANTAS E DA FERTILIZAÇÃO COM NPK (1) LUIZ CARLOS PREZOTTI(2 ); ALEDIR CASSIANO DA ROCHA(3 ) RESUMO Embora aumente a produtividade por área, o adensamento reduz a produção por planta, eleva sua eficiência de recuperação de nutrientes, o que contribui para a redução da quantidade de fertilizantes a ser aplicada por planta. O objetivo deste trabalho foi avaliar a resposta do cafeeiro arábica à aplicação de N (100, 300, 500 e 700 kg.ha -1 de N), P (0, 60, 120 e 180 kg.ha -1 de P 2O 5) e K (100, 300, 500 e 700 kg.ha-1 de K 2O), cultivados em diferentes densidades de plantio (3.333, 5.000, 10.000 e 20.000 plantas por hectare). Com base em informações obtidas em cinco produções, não foram observadas diferenças significativas de produtividade em função da densidade de plantas. A resposta em produtividade do café arábica às doses de N, P e K foi variável nos diversos espaçamentos, com maior freqüência de resultados positivos a N e P e menos expressivos para K. Os teores foliares de N e P foram pouco influenciados pelas doses de N e P 2O5 . Os teores foliares de K foram fortemente influenciados pelas doses de K2O. Cafeeiros submetidos ao sistema de cultivo adensado apresentaram maiores teores foliares de P e K, quando comparados àqueles cultivados em espaçamento mais largo. Os solos sob cultivo adensado, quando comparados a solos sob cultivos mais largos, apresentaram variações em suas características químicas, sendo mais evidente a redução do teor de H + Al. Palavras-chave: café, nutrição, adubação, adensamento, análise de solo. ABSTRACT COFFEE NUTRITION AS A FUNCTION OF PLANT DENSITY AND NPK FERTILIZATION Although increasing in productivity, high-density tree planting provides reduction of the production per plant, increases the efficiency of recovery of nutrients by plants, and can contributes to the reduction of the amount of fertilizers to be applied per plant. Due to evaluate the answer of coffee tree plants (Coffea arabica L.) to N (100, 300, 500 e 700 kg.ha -1 of N); P (0, 60, 120 and 180 kg.ha -1 of P 2O 5) and K (100, 300, 500 and 700 kg.ha -1 of K 2O) application, on work was carried out in a coffee cultivated at four densities (3,333; 5,000; 10,000 and 20,000 plants/ha). Database obtained at five harvests showed no significant differences of productivity as function of planting densities. Answers in productivity were obtained more strongly related to N and P doses. Answers to K application were less expressive. N and P foliar levels (1) Trabalho recebido para publicação em 28 de junho de 2002 e aceito em 19 de fevereiro de 2004. (2) Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural - Solos e Nutrição de Plantas, 29375-000 Venda Nova do Imigrante (ES). E.mail [email protected] (3) Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural - Fitotecnia. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.239-251, 2004 240 L.C. Prezotti e A.C. da Rocha were little influenced by the doses of N and P2O5 applied by soil each year. K foliar levels were strongly influenced by the doses of K 2O. Foliar levels of N and K were highest in coffee high-density tree when compared with those cultivated in wider spacing. The major variation on chemical soil characteristics was the highest levels of reduction on H+Al observed in coffee high-density tree coffee. Key words: Arabic coffee, high density, fertilization, nitrogen, phosphorus, potassium, soil analysis. 1. INTRODUÇÃO Diversas práticas culturais têm sido utilizadas para se aumentar a produtividade da cultura do café. Entretanto, nenhuma tem sido tão eficiente quanto ao aumento da população de plantas por unidade de área, ou seja, o uso de plantios adensados. Até o advento do adensamento das lavouras de café, predominavam as recomendações de adubação por cova. Assim, pequenas variações na população de plantas pouco influenciavam a quantidade a ser aplicada por hectare. Atualmente, com o aumento considerável da densidade de plantas por área, a simples multiplicação da quantidade de fertilizantes a ser aplicado por planta pelo número de plantas por área tornou-se inadequada, superestimando as recomendações. Essa relação não é verdadeira, pois com o aumento da densidade, há redução da produção por planta, tanto de biomassa de frutos como vegetativa (folhas, ramos, caule e raiz) em vista da competição entre elas. Outro fator a ser considerado é que, com o aumento da densidade de raízes e mais umidade do solo, proporcionada pela maior cobertura do solo, ocorre aumento da eficiência de recuperação de nutrientes pelas plantas, contribuindo para reduzir a quantidade de fertilizantes a ser aplicada à lavoura. Esse fato foi confirmado por PAVAN et al. (1990), P AVAN et al. (1991) e PAVAN et al. (1994), quando obtiveram maior produtividade de lavouras adensadas com níveis médios de adubação, ao passo que, em lavouras plantadas em espaçamentos mais largos, o aumento da produção foi obtido com maiores níveis de fertilização. Dados obtidos por esse autor mostram as alterações químicas e físicas do solo causadas pelo adensamento do cafeeiro: aumento do pH, dos teores de Ca, Mg, K, P e Carbono Orgânico, índice de estabilidade de agregados e na umidade do solo. Mesmo para o sistema de plantio não adensado, são citados na literatura, resultados contrastantes, com relação à resposta do cafeeiro à fertilização com macro e micronutrientes. Na maioria dos casos, observa-se efeito positivo da fertilização com NPK. Entretanto, diversos trabalhos têm demonstrado pouca ou nenhuma resposta à aplicação desses nutrientes. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.239-251, 2004 SANZONOWICZ et al. (2001) trabalhando com doses de N em solo de Cerrado, observaram que o N não influenciou a flutuação anual da produção, proporcionando acréscimo de 35,9% na produção de grãos. Não houve alteração dos teores foliares desse elemento. R AIJ et al. (1996) trabalhando com N e K, obtiveram resposta negativa à aplicação de K em solos com teores iniciais de 78 mg.dm -3 e 109 mg.dm-3 de K. A maioria das respostas ao nitrogênio, embora não muito acentuadas, foram positivas, sendo negativa apenas no biênio 91/92 no município de Mandaguari. Observou-se pequena influência das adubações com N e K nos teores foliares desses elementos. G ALLO et al. (1999), estudando a resposta do cafeeiro a NPK, observaram efeito depressivo na produção para os três nutrientes. G ARCIA (1999) realizou estudo para determinar a saturação de potássio para o cafeeiro em solos com diferentes valores de CTC. A variação da saturação de K na CTC do solo de 0 para 12% proporcionou modificações dos teores de K foliar de 1,56 a 1,90 dag.kg-1 na cultivar Acaiá e de 2,12 a 2,28 dag.kg-1 em ‘Mundo Novo’. Não houve diferenças estatísticas na produção. Os teores de 130 mg.dm-3 (4% de K na T) no solo de CTC média e 180 mg.dm -3 (4,5 % na T) no solo de CTC alta, segundo os autores, foram suficientes para o suprimento do elemento à cultura. VIANA et al. (1987), avaliando a resposta do cafeeiro a N e K, observaram resposta linear a N (dose máxima de 400 kg.ha-1 de N) e quadrática a K, concluindo que a adubação potássica apenas propiciou ganho na produção, quando o solo se apresentava com menos de 138 mg.dm-3 de K (Mehlich-1). S ILVA et al. (1998) sugerem, para o cafeeiro, o nível crítico de 100 mg.dm -3 de K pelo extrator Mehlich-1. Buscando explicar as variadas respostas do cafeeiro à fertilização potássica, S ILVA et al. (1997) demonstraram que, mesmo em solos com alto grau de intemperização, existem reservas de potássio nãotrocável que podem atender a médio e longo prazo a demanda parcial do cafeeiro por esse nutriente. O objetivo deste trabalho foi avaliar a resposta do cafeeiro aos nutrientes N, P e K, quando cultivado em diferentes densidades de plantio. 241 Nutrição do cafeeiro arábica 2. MATERIAL E MÉTODOS Foram desenvolvidos quatro experimentos com as seguintes densidades de plantas: 3.333 plantas por ha (3 m x 1 m); 5.000 plantas por ha (2 m x 1 m); 10.000 plantas por ha (2 m x 0,5 m) e 20.000 plantas por ha (1 m x 0,5 m). Os experimentos foram instalados na Fazenda Experimental do Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER), no município de Venda Nova do Imigrante (ES), a 720 m de altitude, em solo LVd3 (Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico, relevo montanhoso e forte ondulado), representativo da região de café Arábica do Estado do Espírito Santo. As características químicas do solo são apresentadas na Tabela 1. Foi utilizada a cultivar Catuaí Vermelho, plantada em covas de 40 cm x 40 cm x 40 cm (uma muda por cova). A adubação até o primeiro ano e os tratos culturais dos experimentos seguiram as recomendações publicadas no Manual Técnico para a Cultura do Café no Estado do Espírito Santo (COSTA, 1995). Após esse período, foram aplicados os tratamentos: 100, 300, 500 e 700 kg.ha -1 de N; 0, 60, 120 e 180 kg.ha -1 de P 2O5; 100, 300, 500, e 700 kg.ha-1 de K 2O. Como fonte de N, P 2O5 e K2O, utilizou-se uréia (45% de N), superfosfato triplo (45% de P2 O 5) e cloreto de potássio (60% de K2O). As doses indicadas foram aplicadas anualmente, sendo P fornecido de uma só vez, por ocasião do primeiro parcelamento. N e K foram parcelados em três vezes, durante o período chuvoso (setembro a março). Tabela 1. Características químicas do solo da Fazenda Experimental de Venda Nova do Imigrante, utilizado para a realização dos experimentos Espaçamento m 3 x 1 2 x 1 2 x 0,5 1 x 0,5 Profundidade pH P cm K mg.dm Ca Mg -3 Al H+Al cmol c .dm S CTC -3 V MO % dag.kg -1 0 - 20 5,0 4 89 1,6 0,5 0,9 7 2,33 9,33 24,96 2,5 20 - 40 4,8 1 47 0,5 0,2 1,4 5 0,82 5,82 14,10 1,5 0 - 20 5,2 3 100 2,4 0,9 0,5 6 3,56 9,56 37,21 2,9 20 - 40 5,0 1 72 1,0 0,3 1,3 7 1,48 8,48 17,50 1,9 0 - 20 5,3 3 78 3,0 1,0 0,1 4 4,20 8,20 51,22 2,6 20 - 40 5,1 1 43 1,7 0,6 0,5 4 2,41 6,41 37,60 1,5 0 - 20 5,2 4 76 2,2 0,7 0,3 4 3,09 7,09 43,62 2,0 20 - 40 5,0 1 46 1,2 0,4 0,7 3 1,72 4,72 36,41 1,3 O esquema experimental foi o fatorial fracionado ½ (4 x 4 x 4), totalizando 32 tratamentos, dispostos no delineamento de blocos casualisados com duas repetições. As parcelas foram constituídas por 36 plantas, sendo as 10 plantas centrais consideradas como úteis. As variáveis observadas foram: produtividade e teores de nutrientes no solo e nas folhas. Os dados foram analisados por regressão, sendo citadas as significâncias das regressões e dos modelos até o nível de 20% de probabilidade. A amostragem do solo foi retirada na projeção da copa do cafeeiro, à profundidade de 0 a 20 cm. Foram realizadas as seguintes determinações: pH em água, P, K, Al, Ca, Mg e MO. As análises seguiram o método proposto pela EMBRAPA (1997). A amostragem foliar foi realizada, coletando-se o 4.º par de folhas de ramos produtivos, na altura mediana da planta e nos quatro quadrantes. Foram feitas análises de macro e micronutrientes, segundo o método proposto por BATAGLIA et al. (1983) 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A influência dos diferentes espaçamentos sobre a produtividade de café arábica pode ser observada na Tabela 2. Mesmo apresentando uma diferença de produção de 11,3 sc.ha-1 entre os espaçamentos 3 m x 1 m e 2 m x 1 m, não houve diferença significativa entre as médias de produtividade dos experimentos. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.239-251, 2004 242 L.C. Prezotti e A.C. da Rocha Tabela 2. Produtividade de café arábica em função do plantio em diferentes espaçamentos Ano Espaçamento 1997 1998 1999 2000 2001 Média -1 m Produtividade (sc.ha ) 3x1 20,0 22,7 33,0 11,9 38,0 25,1 a 2x1 28,7 36,7 50,2 11,1 55,3 36,4 a 2 x 0,5 28,0 21,8 46,5 6,3 44,6 29,4 a 1 x 0,5 35,0 18,8 79,0 10,1 38,5 36,3 a Média 27,9 25,0 52,2 9,9 44,1 31,8 Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si (Duncan – 5%). Analisando-se as tendências, observa-se que a maior produtividade foi obtida em lavouras com espaçamento de 2 m x 1 m e 1 m x 0,5 m. Embora tenham obtido o mesmo nível de produtividade, os cafeeiros plantados no espaçamento de 1 m x 0,5 m apresentaram efeito marcante da bianualidade, principalmente de 1999 para 2000 com produtividade de 79 sc.ha -1 e 10,1 sc.ha -1 respectivamente. Esse efeito foi menos marcante no espaçamento de 2 m x 1 m. As equações lineares múltiplas da produção de café arábica em função de doses de N, P 2O5 e K 2O para os diversos anos e espaçamentos encontram-se na Tabela 3. Na safra de 1997 não se observou acréscimo de produção com as doses de N, visto que nos espaçamentos de 2 m x 1 m e 2 m x 0,5 m a reposta foi negativa. Observou-se acréscimo de produção com as doses de P nos espaçamentos de 2 m x 1 m e 1 m x 0,5 m. Resposta positiva ao K somente se notou no espaçamento 3 m x 1 m, quando as interações NK, PK e NP apresentaram efeitos e tendências variados. Pelo intercepto das equações, observa-se que a safra de 1998 foi um ano de baixas produções, obtendo-se resposta positiva a N em todos os espaçamentos. O mesmo foi notado para P, com exceção do espaçamento de 1 m x 0,5 m. É interessante observar a interação NK influenciando negativamente a produção em todos os espaçamentos, com exceção em 2 m x 0,5 m. Na safra de 1999 houve resposta a N e P em todos os espaçamentos. Resposta positiva a K somente se notou no espaçamento 2 m x 1 m. Na safra de 2000, respostas positivas a N se observaram nos espaçamentos 3 m x 1 m e 2 m x 1m. Não se observou resposta positiva a P. Aumento de produção com as doses de K foi observada nos espaçamentos de 2 m x 1 m e 2 m x 0,5 m. As interações apresentaram comportamento diverso. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.239-251, 2004 Na safra de 2001, a resposta positiva a N e P somente não foi observada no espaçamento de 3 m x 1 m, que respondeu exclusivamente ao K e à interação NP. A influência do adensamento na resposta do café arábica à aplicação de N, P e K pode ser observada na Tabela 4, em que foram correlacionados os coeficientes angulares do efeito linear para N, P e K das equações apresentadas na Tabela 3, com a média de produtividade obtida nas safras de 97/98/99/00/ 01 (Tabela 2). Houve aumento progressivo dos coeficientes de correlação para N nos espaçamentos mais estreitos, indicando maior resposta a esse nutriente em sistemas mais adensados. Esse mesmo efeito observou-se para P e para a interação NK. Os coeficientes de correlação para K foram progressivamente menores à medida que se reduziu o espaçamento, indicando menor resposta a K em sistemas mais adensados. As interações NP e PK não permitiram correlações em razão do reduzido número de ocorrência nas diversas equações. Objetivando avaliar o efeito da bianualidade do cafeeiro arábica na resposta à aplicação de N, P e K, foram relacionados, na Tabela 5, as equações lineares múltiplas da produtividade em função de doses dos nutrientes para os anos cuja produtividade foi inferior a 30 sc.ha-1 (anos de baixa produção) e superiores a 30 sc.ha-1 (anos de alta produção). Nos anos de baixa produtividade, houve resposta linear positiva ao N em todos os espaçamentos, com exceção de 2 m x 0,5 m, cuja resposta à aplicação de N se deu quando aplicado juntamente com o K. A resposta ao K foi negativa no espaçamento 3 m x 1 m e 2 m x 0,5 m, linear positiva em 2 m x 1 m, e quadrática em 1 m x 0,5 m, sendo a dose de 227 kg.ha 1 de K2O responsável por 90% da produção máxima. 243 Nutrição do cafeeiro arábica Tabela 3. Equações lineares múltiplas da produção (sc.ha-1) de café arábica (Prod.) em função de doses (kg,ha-1) de N, P 2O5 (P) e K 2O (K) para os diversos anos e espaçamentos Ano Espaçamento Equação (1) R2 m 1997 3 x 1 Prod = 18,833 + 0,008832 K – 0,0000146 NK 0,211 (3,22) 1997 2 x 1 Prod = 30,537 - 0,0277 N + 0,0000315 N 2 + 0,1102 P - 0,000437 P 2 – 0,00005084 PK 0,193 (NS) 1997 2 x 0,5 Prod = 37,347 – 0,02189 N – 0,02357 K + 0,0000645 NK - 0,00004077 PK 0,201 (17,97) 1997 1 x 0,5 Prod = 29,148 + 0,1367 P – 0,0007 P 2 + 0,000067 NP 0,171 (14,81) 1998 3 x 1 Prod = 18,715 + 0,01228 N + 0,02617 P – 0,00002038 NK 0,143 (NS) 1998 2 x 1 Prod = 15,334 + 0,03799 N + 0,0739 P + 0,031 K - 0,00008039 NK 0,273 (6,30) 1998 2 x 0,5 Prod = 9,4257 + 0,02438 N + 0,0295 P 0,257 (1,35) 1998 1 x 0,5 Prod = 7,18 + 0,02179 N – 0,01974 P + 0,05142 K - 0,0000499 K 2 – 0,00003343 NK 0,197 (NS) 1999 3 x 1 Prod = 24,974 + 0,0251 N + 0,0182 P – 0,00005753 NK 0,115 (NS) 1999 2 x 1 Prod = 14,762 + 0,0823 N – 0,0000554 N 2 + 0,1327 P + 0,0629 K – 0,000081 NK – 0,000277 PK 0,355 (6,72) 1999 2 x 0,5 Prod = 27,803 + 0,0987 N – 0,00009968 N 2 + 0,04765 P - 0,03049 K + 0,00005044 NK 0,388 (1,94) 1999 1 x 0,5 Prod = 49,487 + 0,0731 N + 0,1885 P – 0,01544 K - 0,0002931 NP 0,372 (1,59) 2000 3 x 1 Prod = 29,444 + 0,0206 N – 0,04278 P – 0,01208 K + 0,000112 PK 0,294 (4,49) 2000 2 x 1 Prod = 15,687 + 0,02445 N + 0,02029 K – 0,00004181 NK 0,181 (12,77) 2000 2 x 0,5 Prod = 32,401 – 0,0281 N + 0,00003375 N 2 + 0,06557 P - 0,0001875 P 2 + 0,02235 K – 0,0000214 K 2 + 0,00001045 NK – 0,00006642 PK 2000 1 x 0,5 0,419 (8,12) Prod = 12,885 – 0,04033 N + 0,0003336 N 2 + 0,06159 P - 0,0004384 P 2 + 0,02849 K – 0,0004555 K 2 + 0,00002831 NK 0,281 (NS) 0,289 (4,89) 2001 3 x 1 Prod = 31,540 + 0,0501 K – 0,0000399 K 2 + 0,0000997 NP 2001 2 x 1 Prod = 29,646 + 0,09027 N – 0,00008122 N 2 + 0,1527 P + 0,02611 K – 0,0001544 NP – 0,00003262 NK - 0,0001899 PK 0,373 (9,08) 2001 2 x 0,5 Prod = 24,107 + 0,07263 N - 0,00009539 N 2 + 0,04973 P + 0,06742 K – 0,00009531 K 2 0,349 (3,79) 2001 1 x 0,5 Prod = 24,787 + 0,01954 N + 0,03524 P + 0,04326 K - 0,00006947 K 2 0,232 (11,63) ( 1) Significativo ao nível de 20% de probabilidade (p < 0,2). Os valores sobrescritos entre parêntesis correspondem ao nível de significância expresso em porcentagem. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.239-251, 2004 244 L.C. Prezotti e A.C. da Rocha Tabela 4. Correlação entre os coeficientes angulares do efeito linear para N, P e K das equações da Tabela 3 com a média de produtividade obtida nas safras de 97/98/99/00/01 da Tabela 2 Espaçamento N P K NK 3x1 0,33 -0,98 1,00 -0,997 2x1 0,73 0,61 0,52 -0,29 2 x 0,5 0,87 0,79 -0,02 0,74 1 x 0,5 0,89 0,76 -0,82 1,00 Nos anos de alta produtividade foram observadas respostas quadráticas a N nos espaçamentos de 3 m x 1 m, 2 m x 1 m e 2 m x 0,5 m, sendo as doses de 323 kg.ha -1 , 441 kg.ha-1 e 282 kg.ha -1 de N responsáveis por 90% da produção máxima. No espaçamento de 1 m x 0, 5m a resposta a N e P foi linear positiva e linear negativa para K. No espaçamento de 2 m x 0,5 m a resposta ao K foi quadrática, sendo a dose de 141 kg.ha-1 de K2O responsável por 90% da produção máxima. As interações NP, NK e PK influenciaram a produção do café arábica de maneira diversa, sendo observada maior freqüência de resposta negativa da interação NK. A alta freqüência de equações de regressão lineares positivas nos anos de baixa produtividade é indicativo da maior exigência de N pelo cafeeiro neste período, o que se atribui à necessidade de reconstituição da biomassa vegetativa da planta, afetada pelo maior carreamento dos nutrientes para os frutos em anos de alta produção. Na literatura, são freqüentes os trabalhos que demonstram respostas a N (CARVAJAL, 1984; RAIJ et al., 1996; G ALLO et al., 1999; GARCIA , 2002). Ressalta-se a necessidade de correlações da resposta do cafeeiro ao nitrogênio e os teores de matéria orgânica do solo. Embora seja conhecida a baixa resposta do cafeeiro ao fósforo, observou-se neste trabalho aumento médio de produção de 12%. Esse valor é semelhante ao de 15% obtido por URIBE (1980) e de 16% obtido por GALLO et. al (1999). Tabela 5. Equações lineares múltiplas da produção (sc,ha-1) de café arábica (Prod) em função das doses (kg.ha-1) de N, P2O5 (P) e K 2O (K) para os diversos espaçamentos para anos de baixa e alta produção Espaçamento Produtividade (1) Equação (2) R2 m 3 x 1 Baixa Alta 2 x 1 Baixa Alta 2 x 0,5 Baixa Alta 1 x 0,5 Baixa Alta Prod = 19,1866 + 0,00662 N – 0,022 K + 0,0000257 K 2 0,151 (0,19) 0,00004264 K 2 + 0,00007609 NP – 0,00004494 NK 0,274 (0,19) Prod = 14,0466 + 0,01417 N + 0,01190 K - 0,00002887 NK 0,114 (ns) 0,04055 K - 0,00006467 NK + 0,0001617 PK 0,440 (0,01) Prod = 18,100 - 0,009609 K + 0,00002797 NK 0,243 (0,01) 0,04876 K - 0,00007292 K 2 0,335 (0,04) Prod = 7,7293 + 0,007309 N+ 0,03893 K - 0,00004776 K 2 – 0,00004728 NK 0,183 (ns) Prod = 41,084 + 0,02386 N + 0,04799 P - 0,01031 K 0,364 (0,00) Prod = 23,711 + 0,03586 N – 0,00003953 N 2 + 0,0478 K - Prod = 22,479 + 0,0588 N – 0,00003711 N 2 + 0,1016 P + Prod = 19,141 + 0,09579 N – 0,00009754 N 2 + 0,04869 P + ( 1 ) Considerou-se 30 sc.ha-1 como o limite entre alta e baixa produtividade. (2) Significativo a 20% de probabilidade (p < 0,2). Os valores sobrescritos entre parêntesis correspondem ao nível de significância expresso em porcentagem. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.239-251, 2004 Nutrição do cafeeiro arábica Corroborando com os dados obtidos neste trabalho, de modo geral, a resposta do cafeeiro ao potássio é bastante controvertida, quando se observam os trabalhos apresentados na literatura. Alguns apresentam respostas expressivas e outros, pequenas ou mesmo ausência de resposta (MIGUEL et al., 1983; R AIJ et al., 1996; B ARROS et al., 1997; G ALLO et al., 1999). Os teores iniciais de potássio dos solos utilizados neste trabalho variaram de 76 a 100 mg.dm -3, sendo comuns em solos da região serrana do Estado do Espírito Santo. Mesmo assim, a resposta ao potássio foi pouco expressiva, o que não seria de se esperar, uma vez que o nível crítico de produção preconizado para a cultura do café está na faixa de 200 mg.dm-3 (D E MUNER e P REZOTTI, 2001). Resultados semelhantes foram obtidos por GALLO et al. (1999) com solos do município de Mococa (SP), embora os teores iniciais de fósforo e potássio dos solos fossem muito elevados (22 mg.dm-3 de P resina e 214 mg.dm-3 de K). A maioria das justificativas para a ausência de resposta está nos elevados teores iniciais de potássio dos solos utilizados para o desenvolvimento dos experimentos. Entretanto, é necessário maior aprofundamento na busca de explicações para esse fato. Análises das diferentes formas de K no solo, além da forma trocável, poderia ser importante informação, pois alguns tipos de solos contêm minerais como, por exemplo, as micas, que possuem potássio em sua estrutura, em forma não disponível para as plantas. Com a redução da concentração de potássio próximo às raízes do cafeeiro, esse nutriente pode ser liberado dessa estrutura, tornando-se então disponível e contribuindo para a nutrição das plantas. SILVA et al. (1997) demonstraram que, mesmo em solos com alto grau de intemperização, existem reservas de potássio não-trocável que podem atender a médio e longo prazo a demanda parcial do cafeeiro por esse nutriente. Foram realizadas análises conjuntas dos teores de nutrientes foliares e do solo em função das doses de N, P 2O5 e K2O para cada safra e espaçamento. Entretanto, assim como a produtividade, os resultados mostraram-se variáveis, não apresentando uniformidade das respostas, o que dificulta a visualização das tendências. Desse modo, optou-se pela apresentação das análises de regressão dos teores foliares de N, P e K em função de doses de N, P 2 O 5 e K 2 O, para os diferentes espaçamentos, considerando-se a média dos teores de cada nutriente nas safras de 1997 a 2001 (Figura 1). Observaram-se aumentos dos teores foliares de N somente nos experimentos com espaçamentos 2 m x 1 m (0,04 dag.kg -1 para cada 100 kg de N) e 1 m x 0,5 m (0,03 dag.kg -1 para cada 100 kg de N). Para o cafeeiro, são comuns recomendações de N próximas 245 a 300 kg.ha-1 e indicação de teores foliares de 3 dag.kg-1 de N como adequado. Entretanto, observou-se neste trabalho que a dose inicial de 100 kg.ha-1 foi suficiente para atingir teores foliares médios de 3,1 dag.kg -1 , mesmo em experimentos com espaçamentos mais abertos. Ressalta-se aqui a necessidade de acrescentar, em trabalhos dessa natureza, o tratamento sem a aplicação do elemento, para que seja possível determinar o potencial de suprimento do solo e a correlação dessa informação com outras variáveis que possam influenciar a disponibilidade desse nutriente, como por exemplo, o teor de matéria orgânica do solo. O aumento do teor foliar de P somente foi significativo no tratamento com espaçamento de 2 m x 0,5 m (0,1 dag.kg-1 para cada 100 kg de P 2O 5). Os teores foliares de K foram fortemente influenciados pelas doses de K 2O, com acréscimos de até 0,17 dag.kg -1 para cada 100 kg de K 2O. Importante informação obtida neste trabalho pode ser observada na Figura 2, em que plantas submetidas ao sistema adensado apresentam maiores teores de P e K, quando comparadas àquelas cultivadas em espaçamentos mais abertos. Uma possível explicação para esse fato está na maior umidade do solo, proporcionada por mais sombreamento e maior acúmulo de biomassa vegetal na superfície do solo. Assim, há maior difusão desses elementos no solo, principalmente de P e conseqüentemente maior absorção pelas plantas. Caso este fato seja comprovado por outros trabalhos, ficará então evidenciada a necessidade de inclusão da variável “população de plantas” em estudos de determinação dos níveis críticos foliares desses elementos. Não se observou, porém, variação do teor de N com o aumento da densidade de plantas. O aumento dos teores de P e K no solo, detectado em amostras retiradas na projeção de copa do cafeeiro, em função das doses de P2O5 e K 2O e seu efeito cumulativo com o passar dos anos (1999 para 2001) pode ser visualizado na Figura 3. Observa-se que, mesmo nas parcelas onde não se aplicou fósforo, há elevação de seu teor no solo, principalmente nas lavouras mais adensadas. Certamente, esse aumento é atribuído a maior acúmulo de matéria orgânica na superfície do solo, contribuindo tanto no aspecto quantitativo do elemento quanto no fenômeno da solubilização do P por enzimas e ácidos orgânicos. Esse mesmo argumento pode ser utilizado para explicar a influência da população de plantas sobre as características químicas do solo, conforme dados apresentados na Tabela 6. Das variáveis analisadas, as que apresentaram maior tendência de variação foram o H + Al (significativo a 9,41% de probabilidade) e pH, Al e V apesar de não-significativos (Figura 4). Esse fenômeno também foi observado por PAVAN et al. (1994). Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.239-251, 2004 246 L.C. Prezotti e A.C. da Rocha 0,20 3,10 y = -5E-05x + 3,255 2,90 2 R = 0,172 (ns) 2,70 0,18 0,16 0,14 y = 2E-05x + 0,161 2 R = 0,067 (ns) 0,12 200 300 400 500 600 2,20 0,20 -1 Teor de P (dag.kg ) 3,30 3,10 y = 5E-05x + 3,0995 R 2 = 0,274 (ns) 2,70 100 150 100 200 200 300 400 500 600 2x1 y = -1E-06x2 + 0,0003x + 0,169 0,14 2 R = 0,900 (ns) 0,12 2,40 50 100 150 200 100 R 2 = 0,658 (18,86%) 400 500 600 0,18 y = 0,0001 x + 0,201 0,16 2 R = 0,900 (5,13%) 0,14 700 Dose de N (kg.ha ) 100 150 -1 2,20 200 200 R 2 = 0,918 (4,18%) 2,70 400 600 800 0,22 0,20 0,18 y = -5E-0,5 x + 0,222 0,16 2 R = 0,600 (ns) 0,14 Dose de N (kg.ha ) 400 500 600 700 -1 1 x 0,5 3,20 3,00 2,80 2,60 y = -1E-06 x2 + 0,0017 x + 2,5915 2,40 R 2 = 0,972 (16,58%) 2,20 0,12 -1 300 Dose de K2 O (kg.ha ) -1 -1 Teor de P (dag.kg ) y = 0,0003 x + 3,1025 200 50 1 x 0,5 3,10 2,90 y = -9E-07x2 + 0,0014 x + 2,2858 R 2 = 0,985 (12,13%) 2,40 0,24 -1 Teor de N (dag.kg ) 2,60 Dose de P 2O5 (kg.ha ) 3,30 700 2,80 100 0 1 x 0,5 600 2,00 -1 3,50 500 2 x 0,5 -1 0,20 Teor de K (dag.kg ) 300 400 3,00 0,22 0,12 200 300 -1 Teor de K (dag.kg ) -1 Teor de P (dag.kg ) -1 Teor de N (dag.kg ) y = 0,0004 x + 2,99 100 200 Dose de K2 O (kg.ha ) 2 x 0,5 2,70 0 R 2 = 0,975 (15,79%) 2,20 0,24 2,90 y = -9E-07 x2 + 0,0014 x + 2,2804 -1 3,10 700 2,60 Dose de P 2 O5 (kg.ha ) 3,30 600 2,00 0 -1 2 x 0,5 500 2x1 2,80 0,16 Dose de N (kg.ha ) 3,50 400 -1 0,18 700 300 Dose de K2O (kg.ha ) 0,10 2,50 100 200 Dose de P 2 O5 (kg.ha ) 2x1 2,90 50 -1 3,50 y = -1E-06 x2 + 0,0017 x + 2,2949 R 2 = 0,999 (2,04%) 2,40 -1 -1 Dose de N (kg.ha ) -1 2,60 2,00 0 700 Teor de K (dag.kg ) 100 3x1 2,80 0,10 2,50 Teor de N (dag.kg ) 3,00 3x1 -1 -1 -1 3,30 Teor de K (dag.kg ) 3x1 Teor de P (dag.kg ) Teor de N (dag.kg ) 3,50 0 0 50 100 150 -1 Dose de P 2O5 (kg.ha ) 200 400 200 600 800 -1 Dose de K2 O (kg.ha ) Obs: Os valores porcentuais entre parênteses indicam o nível de probabilidade da regressão. Níveis de probabilidade acima de 20% são indicados como não-significativos (ns). Figura 1: Teor foliar de N, P e K em função da dose de N, P 2O 5 e K 2O para cafeeiros nos diferentes espaçamentos (média das safras de 2000 e 2001). Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.239-251, 2004 247 Nutrição do cafeeiro arábica Teor foliar de N (dag.kg-1) 3,50 3,30 3,10 y = 1E-06x + 3,164 R2 = 0,04 (ns) 2,90 2,70 2,50 3000 7000 11000 15000 19000 Teor foliar de P (dag.kg-1) Plantas.ha-1 0,25 0,20 0,15 y = -4E-10x 2 + 1E-05 x + 0,1287 R2 = 0,9991 (3,04%) 0,10 3000 7000 11000 15000 19000 -1 Teor foliar de K (dag.kg-1) Plantas.ha 3,50 3,00 2,50 y = 4E-05 x + 2,4327 R2 = 0,835 (8,63%) 2,00 1,50 1,00 3000 7000 11000 15000 19000 Plantas.ha-1 Obs: Os valores porcentuais entre parênteses indicam o nível de probabilidade da regressão. Níveis de probabilidade acima de 20% são indicados como não-significativos (ns). Figura 2: Teor foliar de N, P e K em cafeeiros em função da população de plantas (média das safras de 2000 e 2001). Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.239-251, 2004 248 L.C. Prezotti e A.C. da Rocha 400 3x1 180 160 140 120 100 Ano 1999 Ano 2001 80 60 40 20 0 Teor de P (dag.kg-1) Teor de P (dag.kg-1) 200 3x1 300 Ano 1999 Ano 2001 200 100 0 0 60 120 100 180 Dose de P2O5 (kg.ha-1) 400 2x1 100 80 Ano 1999 Ano 2001 60 40 20 Teor de P (dag.kg-1) Teor de P (dag.kg-1) 120 300 500 Dose de K 2O (kg.ha-1) 700 2x1 300 Ano 1999 Ano 2001 200 100 0 0 100 0 180 300 500 Dose de K2O (kg.ha-1) 700 400 2 x 0,5 2 x 0,5 60 Ano 1999 Ano 2001 40 20 Teor de P (dag.kg-1) Teor de P (dag.kg-1) 80 60 120 Dose de P2O5 (kg.ha-1) 0 300 Ano 1999 Ano 2001 200 100 0 0 60 120 Dose de P2O5 (kg.ha-1) 180 100 300 1 x 0,5 120 300 500 Dose de K2O (kg.ha-1) 700 1 x 0,5 80 Ano 1999 Ano 2001 60 40 Teor de P (dag.kg-1) Teor de P (dag.kg-1) 100 200 Ano 1999 Ano 2001 100 20 0 0 0 60 120 Dose de P2O5 (kg.ha-1) 180 100 300 Figura 3. Teor de P e K no solo em função das doses de P2O5 e K2O nos anos de 1999 Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.239-251, 2004 500 Dose de K 2O (kg.ha-1) 700 249 Nutrição do cafeeiro arábica 5,5 pH 5,0 y = 2E-05x + 4,6905 R2 = 0,440 (ns) 4,5 4,0 3.000 7.000 11.000 15.000 19.000 População (pl.ha-1) Al (cmolc.dm -3) 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 3.000 y = -2E-05x + 1,0672 R2 = 0,467 (ns) 7.000 11.000 15.000 19.000 População (pl.ha-1) H+Al (cmolc.dm -3) 15 y = -0,0003 x + 13,727 R2 = 0,821(9,41%) 13 11 9 7 5 3.000 7.000 11.000 15.000 19.000 População (pl.ha-1) V (%) 20 15 y = 0,0004x + 9,9228 R2 = 0,613 (ns) 10 5 3.000 7.000 11.000 População 15.000 19.000 (pl.ha-1) Obs: Os valores porcentuais entre parênteses indicam o nível de probabilidade da regressão. Figura 4: Influência da população de cafeeiros no pH, teor de Al, H+Al e saturação em bases do solo. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.239-251, 2004 250 L.C. Prezotti e A.C. da Rocha Tabela 6. Composição química do solo em função da densidade de plantas Variável pH P K Ca Mg Al H + Al SB CTC V M.O. (1) Ano População (plantas por hectare) 3.330 5.000 10.000 20.000 1999 4,66 4,73 5,15 5,00 2001 5,09 6,53 5,09 5,10 1999 46,09 44,94 50,12 48,09 2001 94,78 58,69 57,44 84,00 1999 247,53 177,45 221,06 183,31 2001 250,94 219,19 195,38 171,20 1999 0,51 0,93 1,20 0,90 2001 0,79 1,35 1,23 0,97 1999 0,17 0,25 0,29 0,25 2001 0,13 0,26 0,23 0,23 1999 1,07 1,05 0,62 0,75 2001 1,01 0,77 0,78 0,79 1999 12,33 13,43 9,28 7,86 2001 7,73 7,72 6,94 6,27 1999 1,32 1,64 2,05 1,62 2001 1,59 2,18 1,97 1,63 1999 13,65 15,07 11,33 9,50 2001 9,32 9,90 8,90 7,89 1999 10,08 10,98 18,40 17,40 2001 17,25 22,11 21,74 20,84 1999 1,78 2,27 2,03 1,57 2001 1,82 2,56 2,10 1,80 ( 1 ) P e K: mg.dm -3 ; Ca, Mg, Al, H+Al, SB, CTC e V: cmolc.dm -3 e M.O.: dag.kg -1 . 4. CONCLUSÕES 1. Não foram observadas diferenças significativas de produtividade em função da densidade de plantas. 2. No espaçamento 1 m x 0,5 m observou-se maior efeito da bianualidade da produção. 3. Houve aumento progressivo da intensidade de resposta ao N, P e à interação NK com o adensamento da cultura. Para o K as respostas foram progressivamente menores com o adensamento. 4. Observou-se maior exigência a N em anos de baixa produtividade. 5. Os teores foliares de N e P foram pouco influenciados pelas doses de N e P2O5. Os teores foliares de K foram fortemente influenciados pelas doses de K2O. 6. Cafeeiros submetidos ao sistema de cultivo adensado apresentaram maiores teores foliares de P Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.239-251, 2004 e K quando comparados àqueles cultivados em espaçamento mais largos. 7. Os solos sob cultivo adensado, quando comparados a solos sob cultivos mais largos, apresentaram variações em suas características químicas, sendo mais evidente a redução do teor de H + Al. REFERÊNCIAS BARROS, U.V.; MATIELLO, J.B.; BARBOSA, C.M. 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Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.239-251, 2004 Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.63 no.2 Campinas 2004 FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DE PLANTAS Diagnose nutricional do cafeeiro pelo DRIS variandose a constante de sensibilidade dos nutrientes de acordo com a intensidade e freqüência de resposta na produção Nutrient diagnosis of coffee-tree by DRIS using different sensitivity constants according to the nutrient yield response Ondino Cleante BatagliaI, *; José Antonio QuaggioI; Wagner Rodrigues dos SantosII; Mônica Ferreira de AbreuI ICentro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 130001-970 Campinas (SP). E-mail: [email protected] IIEngenheiro Agrícola, MSc., TASQA Serviços Analíticos Ltda., Avenida José Paulino, 1370, 13140-000 Paulínia (SP) RESUMO O objetivo deste trabalho foi testar a hipótese de usar escores diferenciados para nutrientes irresponsivos (I), medianamente responsivos (M) e responsivos (R), como forma de reduzir os efeitos da interdependência no cálculo dos índices do DRIS (Sistema Integrado de Diagnose e Recomendação) e seus efeitos na diagnose nutricional do cafeeiro. O trabalho foi desenvolvido usando os resultados do monitoramento nutricional, pela análise foliar, de talhões de cafeeiros em empresas produtoras situadas nos municípios de Matão e Franca (SP). Os dados foram coletados durante os anos de 1999 a 2001. Os cálculos dos índices do DRIS foram feitos usandose a fórmula proposta em 1981 por Jones, em sua forma original com uma constante de sensibilidade k = 30 para todas as relações entre nutrientes, ou atribuindo diferentes valores para a constante de sensibilidade em função da resposta do cafeeiro aos nutrientes. Os resultados, quando avaliados pela relação entre o índice de balanço nutricional médio (IBNm) e a produtividade, mostraram que a atribuição de escores diferenciados na ordem I<M<R mostrou maior eficiência quando comparada ao método tradicional de cálculo dos índices DRIS. A melhor relação foi 1-6-10 e a pior, 1-10-1. Na análise comparativa com os diagnósticos obtidos pelo critério de faixas de suficiência (CFS) o uso de escores diferenciados para o cálculo do DRIS mostrou desempenho ligeiramente superior para as melhores relações (I-M-R) quando se compararam as melhores e as piores relações, porém os ganhos em relação ao procedimento tradicional de cálculo, cujo peso relativo de todos os nutrientes é o mesmo, foram pequenos, indicando a necessidade de ajustes locais para a diagnose nutricional do cafeeiro pelo critério de faixas de suficiência. Palavras-chave: café, DRIS, diagnose foliar, estado nutricional. ABSTRACT The objective of this study was to test the use of standard scores to reduce the dependence among nutrients on DRIS indices. Different scores were attributed to nutrients with common (R), intermediate (M) and rare (I) response to coffee crop. The study was conducted using data of leaf analysis from plantation farms at Matão and Franca, State of São Paulo, Brazil. Leaves were taken from bearing branches during the summer, from 1999 to 2001. DRIS indices were calculated using the original formula defined in 1981 by Jones with a sensitivity constant k = 30 for all nutrient relations. The tested method attributed different values for the constant k, depending on the type of response of coffee-tree to each nutrient. When the methods were evaluated by comparison of the relations between the nutrient balance index (NBI) and yield, the use of scores in the order I<M<R showed to be more efficient then the usual method using the same score for all nutrients. The methods had about the same efficiency when evaluated by comparing the leaf nutrient diagnosis by DRIS with the sufficiency range method. Key words: coffee, DRIS, leaf analysis, nutrient status. 1. INTRODUÇÃO O monitoramento nutricional de cafezais mediante análise química das folhas vem-se transformando em prática essencial para recomendações de adubações mais equilibradas e economicamente mais ajustadas. Assim, RAIJ et al. (1997) e GUIMARÃES et al. (1999) estabelecem as recomendações de adubação nitrogenada em função da produtividade esperada e do teor de N nas folhas do cafeeiro. Outros sistemas, como o Programa de Adubação Modular (ROMERO e ROMERO, 2000), fazem uso da análise foliar para ajuste de recomendação de todos os nutrientes. Esses critérios para avaliação do estado nutricional do cafeeiro baseiam-se nos conceitos de nível crítico e de faixas de concentração, caracterizados pela independência entre nutrientes. O teor de um nutriente não afeta a classificação dos demais. Por outro lado, possui a grave limitação de não identificar quais nutrientes são mais limitantes (TRANI et al., 1983; RAIJ et al., 1997; MARTINEZ et al., 1999; MARTINEZ et al., 2000; ROMERO e ROMERO, 2000). Algumas das limitações dos critérios acima descritos para avaliação do estado nutricional do cafeeiro foram superadas pelo sistema integrado de diagnose e recomendação (DRIS), desenvolvido originalmente por BEAUFILS (1973). O sistema permite o cálculo de índices para cada nutriente, usando as relações dele com os demais e comparando-as com uma população de referência. Esses índices apresentam a vantagem de possibilitar um ordenamento de nutrientes, desde os mais limitantes até os excessivos. Todavia, se por um lado a interdependência permite uma classificação e ordenamento de nutrientes, também pode se transformar em grande desvantagem traduzida em falsos diagnósticos, em função das distorções provocadas por fatores não controlados (BALDOCK e SCHULTE, 1989; BEVERLY, 1993). Para qualquer fórmula de cálculo dos índices DRIS (BEAUFILS, 1973; JONES, 1981; ELWALI e GASCHO, 1984), os efeitos da interdependência podem ser agravados quando ocorrem contaminações das amostras por resíduos de nutrientes aplicados via foliar, principalmente em plantas perenes como o café (BATAGLIA et al., 2000). Além dessas contaminações, alguns nutrientes cuja ocorrência nas plantas é muito variável acabam acarretando prejuízos para outros de composição mais estável. Nutrientes como ferro e manganês, que mostram grande variabilidade de concentrações, principalmente devido às condições edafoclimáticas, são alguns exemplos preocupantes. Algumas estratégias têm sido testadas para minimizar esses desvios causados pela interdependência no cálculo dos índices. BEVERLY (1987) fez uso de dados com transformação logarítmica visando atenuar grandes variações de concentração de alguns nutrientes, entretanto, o procedimento não mostrou grande eficiência. BALDOCK e SCHULTE (1996) propuseram um sistema com base em escores padronizados visando associar o DRIS com o critério de faixa de suficiência e assim eliminar os freqüentes erros de diagnóstico observados para a cultura do milho. BATAGLIA et al., (2000) sugeriram a restrição de uso de nutrientes em nível de contaminação por resíduos como forma de evitar erros no cálculo dos índices do DRIS de nutrientes não contaminados. O objetivo deste trabalho foi testar, como forma de reduzir os efeitos da interdependência no cálculo dos índices do DRIS, a hipótese de se trabalhar com valores diferenciados para a constante k em função da intensidade de resposta de cada nutriente em relação à produtividade do cafeeiro. A proposta, apesar de diferenciada, segue alguns dos princípios estabelecidos por BALDOCK e SCHULTE (1996) para estabelecer o PASS (análise de plantas com escores padronizados), usado com sucesso para milho. 2. MATERIAL E MÉTODOS Os dados analisados neste trabalho foram obtidos de produtoras de café situadas nos municípios de Matão Paulo. Nessas fazendas, os cafezais foram mapeados feitas amostragens de folhas e anotados os dados de 1999 a 2001, em empresas e Franca, no Estado de São em talhões, e em cada um foram produtividade por ano. A amostragem de folhas foi feita no verão, coletando-se a terceira folha de ramos frutíferos na altura média das plantas em cerca de 50 plantas por talhão, conforme recomendações de RAIJ et al. (1997). As amostras, após lavagem, secagem a 60 ºC e moagem, foram submetidas à análise de macro e micronutrientes usando os métodos descritos por BATAGLIA et al. (1983), com as determinações feitas por espectrometria de emissão atômica de plasma induzido (ICP-AES). A população usada como referência para os cálculos do DRIS foi estabelecida de acordo com os critérios de BEAUFILS (1973), considerando-se apenas amostras provenientes de talhões de plantas com produtividade na faixa correspondente à média mais e menos um desvio-padrão da população original e nutricionalmente equilibradas (BATAGLIA et al., 2001). As características da população de referência são apresentadas na tabela 1 para as de relações entre nutrientes. Para o cálculo dos índices do DRIS, aplicou-se a fórmula geral proposta por BEAUFILS (1973), sendo para um nutriente Y: Os valores das funções intermediárias f(Y/X) foram obtidos pela fórmula de JONES (1981). Para a relação N/P, por exemplo, a função intermediária f(N/P) foi obtida como segue: f(N/P) = [(N/P)a - (N/P)p] k/s em que: (N/P)a= relação na amostra; (N/P)p= relação na população de referência; k = constante de sensibilidade; s = desvio-padrão da relação na população de referência. O índice de balanço nutricional médio (IBNm) para cada amostra foi calculado pela média dos valores absolutos dos índices DRIS de cada nutriente, dividido pelo número de nutrientes envolvidos. IBNm = (|IY1| + |IY2| + ... + |IYn|)/n Os testes de escores diferenciados dos nutrientes, de acordo com o efeito que cada um deles exerce na produtividade do cafeeiro, foram realizados atribuindo-se valores diferenciados aos nutrientes responsivos (R) incluindo-se nesta categoria N, K, S, B e Zn, nutrientes medianamente responsivos (M): P, Ca, Mg e Mn e pouco responsivos (I): Cu e Fe. Para testar esses escores diferenciados, os talhões originais usados para o estabelecimento da população de referência deste trabalho, foram agrupados em treze classes de produtividade com os respectivos teores médios de nutrientes nas folhas, conforme apresentação na tabela 2. Para o cálculo dos índices, os valores de k da fórmula foram ajustados em função dos grupos de nutrientes (I, M ou R). Foram simuladas todas as combinações atribuindo-se para os nutrientes irresponsivos (Cu e Fe) valores de 1 a 5 e para os medianamente responsivos e responsivos de 1 a 10. Assim, foram simulados cálculos dos índices pelo método tradicional (DRISJ), quando I = 1, M = 1 e R = 1. Nesse caso, do cálculo tradicional pela fórmula de JONES (1981), o escore atribuído a todos os nutrientes tem o valor 1 e a constante k = 30. As outras combinações I-M-R variaram desde 1-1-2, com k = 14,35 até 5-10-10 com k = 0,44. Atribuindo-se valores diferenciados para os nutrientes classificados como I, M ou R, a constante de sensibilidade k foi ajustada de modo que seu valor ponderado médio ficasse sempre na faixa de 29,5 a 30,5 e, dessa forma, os índices pudessem ser comparados em uma mesma ordem de grandeza. A interpretação do estado nutricional do cafeeiro pelo DRIS para separação de diagnósticos (baixo, adequado, alto) foi feita utilizando-se o conceito de potencial de resposta proposto por WADT (1996), sendo considerados adequados, nutrientes cujos índices do DRIS, em valores absolutos, não excedessem o valor do IBNm abaixo e acima de zero. Nutrientes com índices negativos em valores absolutos maiores do que o IBNm foram considerados baixos. Índices positivos com valor absoluto maior do que o IBNm foram considerados altos para fins de diagnóstico. Os critérios para avaliação da eficiência dos escores diferenciados foram indicados com base na relação IBNm x produtividade, considerando-se para isso as treze classes dentro da população de referência. Usou-se também a comparação do diagnóstico pelo DRIS com as diferentes relações com o CFS. Nesse caso, procederam-se comparações dos diagnósticos pelo DRIS e CFS, atribuindo-se valor 1 para coincidência de diagnóstico e valor 0 para a não-coincidência. Esse procedimento foi feito com as análises dos talhões comerciais de café de Matão e de Franca em 1999, 2000 e 2001. Foram calculadas as porcentagens de coincidência de diagnóstico. A análise estatística foi feita aplicando-se a transformação (x + 0,5)1/2. As médias foram comparadas pelo teste t a 5%. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para os estudos propostos neste trabalho, as amostras de folhas de uma população abrangente de cafeeiros arábica foram grupadas em treze classes com médias de produtividade entre 155 e 3.114 kg.há-1 de café beneficiado (Tabela 2). Como se tratam de médias, há certa uniformização dos valores. Dessa forma, apesar das diferenças marcantes de produtividade, as maiorias absolutas são consideradas como teores adequados quando se usa o CFS para diagnóstico nutricional. Já na tabela 3, os índices do DRIS começam evidenciar diferenças não perceptíveis pelo critério de faixas. Alguns nutrientes anteriormente classificados como adequados (Ca) ou altos (S) mostraram índices negativos, o que determina um diagnóstico diferenciado. Pode-se verificar também nessa tabela a relação inversa entre o IBNm e a produtividade, fato bastante documentado na literatura do DRIS. Observe-se que para a combinação I = 1, M = 6 e R =10 (Tabela 4), há melhor evidência dos diagnósticos identificando diversos distúrbios nutricionais não detectados pelo CFS e pelo cálculo tradicional do DRIS quando todos os nutrientes tem o mesmo escore 1. A relação característica do DRIS – IBNm x produtividade - foi usada como ferramenta para se testar a eficiência das combinações de escores atribuídos aos nutrientes classificados como I, M ou R, admitindo-se que o sinal negativo dos coeficientes de correlação mostrem a relação inversa entre DRIS – IBNm e produtividade, e os valores absolutos maiores indiquem melhor desempenho da combinação de escores atribuídos aos nutrientes com respostas diferenciais na nutrição do cafeeiro. Os dados da tabela 5 mostram os resultados desse teste para combinações de nutrientes responsivos e medianamente responsivos (variação de 1 a 10) fixando-se o escore 1 para os nutrientes irresponsivos. Os dados revelam a existência de uma população de combinações que apresentaram melhores coeficientes de correlação, com valores abaixo de -0,900. O maior valor (r = - 0,923) foi obtido com a relação 1-6-10, embora valores muito próximos tenham sido observados para outras combinações. O pior coeficiente de correlação foi verificado para a combinação 1-10-1 (r = - 0,544) A figura 1 mostra a dispersão das relações entre os valores de IBNm e a produtividade para três combinações de escores dos grupos de nutrientes. Os gráficos mostram o melhor ajuste linear entre IBNm e produtividade, em que o melhor ajuste corresponde ao tratamento 1-6-10, com coeficiente de determinação R2 = 0,8516 e o pior, ao tratamento 1-10-1 com R2 = 0,2957. O tratamento 1-1-1, que corresponde ao método tradicional de cálculo dos índices do DRIS, mostrou um comportamento intermediário, R2 = 0,6143, evidenciando por essa abordagem ser possível melhorar o diagnóstico nutricional, atribuindo-se diferentes níveis de sensibilidade a nutrientes com maior ou menor resposta na produtividade do cafeeiro. Conforme foi tratado anteriormente na discussão da tabela 5, há uma série de combinações eficientes, o que pode ser bem visualizada nas superfícies de resposta da figura 2. À medida que se atribuem escores mais elevados (4 ou 5) para os nutrientes irresponsivos, o número de combinações de M e R com elevados coeficientes de correlação, em valor absoluto, é muito reduzido. Observam-se escores em que I<M<R tende a apresentar melhores correlações entre IBNm e produtividade. Atribuindo-se valor 1 para os nutrientes irresponsivos, nota-se uma grande área de valores de r entre -0,95 e 0,90. É possível destacar muitas combinações para M e R. Algumas combinações eficientes, ocupando pontos centrais dessas superfícies, podem ser destacadas como: 1-3-6; 1-4-7; 1-5-8; 1-6-10. Para valores I = 2, a superfície de valores na mesma faixa de coeficientes de correlação é menor, mas mesmo assim podem-se destacar alguns pontos como 2-3-7; 2-4-8 e 2-5-9. Quando I = 3, a superfície dos coeficientes de correlação, ainda na mesma faixa, é bem restrita, mesmo assim podem-se identificar as combinações 3-4-10 e 3-5-10. Para combinações com I = 4 ou 5, não ocorre nenhuma combinação com valores de r abaixo de -0,900. Os piores resultados foram observados para combinações com valores elevados para os nutrientes e irresponsivos ou medianamente responsivos e valores baixos para os responsivos como, por exemplo, as combinações 1-10-1, 3-10-1 e 5-10-1. O procedimento tradicionalmente usado no país como método de avaliação nutricional do cafeeiro baseia-se no CFS. Esse método mostrou grande evolução sendo indicado pelos principais manuais de recomendação de adubação para a cultura (MALAVOLTA, 1981; MALAVOLTA, 1993; RAIJ et al., 1997; GUIMARÃES et al., 1999; THOMAZIELLO et al., 2000). Por essa razão, esse critério foi usado como referência para comparar os procedimentos do DRIS ora em estudo. Os dados das tabelas 6 e 7 calculados a partir das análises de folhas de cafezais de Franca e Matão mostram resultados pouco concordantes entre os diagnósticos pelo CFS e pelo DRIS. Ao contrário do teste anterior, quando a relação 1-6-10 mostrou-se bastante superior a 1-10-1 na relação IBNm x produtividade; nesse caso, não houve superioridade destacada em relação à proporção de coincidências entre os dois critérios de diagnóstico. Pode-se notar ligeira superioridade da relação 1-6-10 sobre a 1-10-1, que são casos extremos. Quando se compara com a relação 1-1-1 que é a forma tradicional de cálculo do DRIS, observa-se que a vantagem dos escores diferenciados é menos marcante. Na prática há certa equivalência entre o procedimento tradicional (relação 1-1-1) e o de escores diferenciados (relação 1-6-10). Os diagnósticos são bastante discrepantes para enxofre, qualquer que seja a modalidade de cálculo, revelando que provavelmente há necessidade de ajuste das faixas de concentração para diagnose nutricional do cafeeiro pelo CFS. Os dados do presente trabalho permitiram uma avaliação mais criteriosa do uso de escores diferenciados em função da resposta do cafeeiro aos nutrientes. Mesmo sem ter mostrado uma eficiência comparativa ao CFS, as relações entre o balanço de nutrientes e a produtividade possibilitaram uma seleção bastante adequada das melhores relações de sensibilidade para nutrientes irresponsivos, medianamente responsivos e responsivos. A seleção dessas relações mostrou-se objetiva, sem o empirismo observado em outros trabalhos, (BALDOCK e SCHULTE, 1996). Outro aspecto relevante deste trabalho foi o uso da técnica de probabilidade de resposta proposta por WADT (1996) como método de diagnóstico. O método permite a avaliação do estado nutricional de cada amostra, com base no IBNm da própria amostra. Apesar disso, ainda há muito espaço para o desenvolvimento de novos métodos de diagnóstico com base nos índices do DRIS. Uma das possibilidades é o desenvolvimento de faixas de índices com diagnóstico para teores de nutrientes considerados baixos, adequados e altos, com base na distribuição normal de uma população de índices. Assim, a comparação da amostra seria feita com a população a que ela pertence e não apenas com ela mesma, como ocorre com a avaliação realizada pelo procedimento indicado por WADT (1996). Essa pode ter sido uma das razões da falta de coincidência entre os diagnósticos observados para alguns nutrientes. A outra razão é a necessidade de melhor ajuste nos valores das faixas de concentração de nutrientes usadas pelo CFS. Aparentemente, há necessidade de ajustes locais desses valores. 4. CONCLUSÕES 1. As relações entre IBNm e produtividade do cafeeiro foram melhores quando se usaram escores diferenciados para calculo do DRIS para o cafeeiro. Os melhores coeficientes de determinação foram obtidos quando os escores seguiram a ordem para os nutrientes: irresponsivos<medianamente responsivos<responsivos. 2. O uso de escores diferenciados não melhorou a praticidade do diagnóstico nutricional do DRIS em relação ao DRIS tradicional, quando comparados ao critério de faixas de suficiência. REFERÊNCIAS BALDOCK, J.O.; SCHULTE, E.E. The DRIS/Calcium problem. In: FERTILIZE, AGLIME & PEST MANAGEMENT CONFERENCE, 28th, 1989, Madison. Proceedings... Madison: Department of Soil Science, University of Wisconsin, 1989. p.36-43. BALDOCK, J.O.; SCHULTE, E.E. Plant analysis with standardized scores combines DRIS and sufficiency range approaches for corn. Agronomy Journal, Madison, v.88, p.448456, 1996. BATAGLIA, O. C.; FURLANI, A.M.C.; TEIXEIRA, J.P.F.; FURLANI, P.R.; GALLO, J.R. Métodos de Análise Química de Plantas. Campinas: Instituto Agronômico, 1983, 48p. (Boletim Técnico, 78) BATAGLIA, O.C.; SANTOS, W.R.; QUAGGIO, J.A. 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Recebido para publicação em 7 de agosto de 2002 e aceito em 3 de março de 2004 Trabalho financiado pelo Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D Café). * Bolsista do CNPq Diagnose nutricional do cafeeiro pelo DRIS 253 DIAGNOSE NUTRICIONAL DO CAFEEIRO PELO DRIS VARIANDO-SE A CONSTANTE DE SENSIBILIDADE DOS NUTRIENTES DE ACORDO COM A INTENSIDADE E FREQÜÊNCIA DE RESPOSTA NA PRODUÇÃO (1) ONDINO CLEANTE BATAGLIA(2,4); JOSÉ ANTONIO QUAGGIO(2); WAGNER RODRIGUES DOS SANTOS(3); MÔNICA FERREIRA DE ABREU(2) RESUMO O objetivo deste trabalho foi testar a hipótese de usar escores diferenciados para nutrientes irresponsivos (I), medianamente responsivos (M) e responsivos (R), como forma de reduzir os efeitos da interdependência no cálculo dos índices do DRIS (Sistema Integrado de Diagnose e Recomendação) e seus efeitos na diagnose nutricional do cafeeiro. O trabalho foi desenvolvido usando os resultados do monitoramento nutricional, pela análise foliar, de talhões de cafeeiros em empresas produtoras situadas nos municípios de Matão e Franca (SP). Os dados foram coletados durante os anos de 1999 a 2001. Os cálculos dos índices do DRIS foram feitos usando-se a fórmula proposta em 1981 por Jones, em sua forma original com uma constante de sensibilidade k = 30 para todas as relações entre nutrientes, ou atribuindo diferentes valores para a constante de sensibilidade em função da resposta do cafeeiro aos nutrientes. Os resultados, quando avaliados pela relação entre o índice de balanço nutricional médio (IBNm) e a produtividade, mostraram que a atribuição de escores diferenciados na ordem I<M<R mostrou maior eficiência quando comparada ao método tradicional de cálculo dos índices DRIS. A melhor relação foi 1-6-10 e a pior, 1-10-1. Na análise comparativa com os diagnósticos obtidos pelo critério de faixas de suficiência (CFS) o uso de escores diferenciados para o cálculo do DRIS mostrou desempenho ligeiramente superior para as melhores relações (I-M-R) quando se compararam as melhores e as piores relações, porém os ganhos em relação ao procedimento tradicional de cálculo, cujo peso relativo de todos os nutrientes é o mesmo, foram pequenos, indicando a necessidade de ajustes locais para a diagnose nutricional do cafeeiro pelo critério de faixas de suficiência. Palavras-chave: café, DRIS, diagnose foliar, estado nutricional. ABSTRACT NUTRIENT DIAGNOSIS OF COFFEE-TREE BY DRIS USING DIFFERENT SENSITIVITY CONSTANTS ACCORDING TO THE NUTRIENT YIELD RESPONSE The objective of this study was to test the use of standard scores to reduce the dependence among nutrients on DRIS indices. Different scores were attributed to nutrients with common (R), intermediate (M) and rare (I) response to coffee crop. The study was conducted using data of leaf analysis from plantation farms at Matão and Franca, State of São Paulo, Brazil. Leaves were taken from bearing branches during the summer, from 1999 to 2001. DRIS indices were calculated using the original formula defined in 1981 by J ONES with a sensitivity constant k = 30 for all nutrient relations. The tested method attributed different (1) Trabalho financiado pelo Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D Café). Recebido para publicação em 7 de agosto de 2002 e aceito em 3 de março de 2004. (2) Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e Recursos Ambientais, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 130001-970 Campinas (SP). E-mail: [email protected] (3) Engenheiro Agrícola, MSc., TASQA Serviços Analíticos Ltda., Avenida José Paulino, 1370, 13140-000 Paulínia (SP). (4) Bolsista do CNPq. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.253-263, 2004 254 O.C. Bataglia et al. values for the constant k, depending on the type of response of coffee-tree to each nutrient. When the methods were evaluated by comparison of the relations between the nutrient balance index (NBI) and yield, the use of scores in the order I<M<R showed to be more efficient then the usual method using the same score for all nutrients. The methods had about the same efficiency when evaluated by comparing the leaf nutrient diagnosis by DRIS with the sufficiency range method. Key words: coffee, DRIS, leaf analysis, nutrient status. 1. INTRODUÇÃO O monitoramento nutricional de cafezais mediante análise química das folhas vem-se transformando em prática essencial para recomendações de adubações mais equilibradas e economicamente mais ajustadas. Assim, R AIJ et al. (1997) e G UIMARÃES et al. (1999) estabelecem as recomendações de adubação nitrogenada em função da produtividade esperada e do teor de N nas folhas do cafeeiro. Outros sistemas, como o Programa de Adubação Modular (R OMERO e ROMERO, 2000), fazem uso da análise foliar para ajuste de recomendação de todos os nutrientes. Esses critérios para avaliação do estado nutricional do cafeeiro baseiam-se nos conceitos de nível crítico e de faixas de concentração, caracterizados pela independência entre nutrientes. O teor de um nutriente não afeta a classificação dos demais. Por outro lado, possui a grave limitação de não identificar quais nutrientes são mais limitantes (TRANI et al., 1983; RAIJ et al., 1997; MARTINEZ et al., 1999; MARTINEZ et al., 2000; ROMERO e ROMERO, 2000). Algumas das limitações dos critérios acima descritos para avaliação do estado nutricional do cafeeiro foram superadas pelo sistema integrado de diagnose e recomendação (DRIS), desenvolvido originalmente por B EAUFILS (1973). O sistema permite o cálculo de índices para cada nutriente, usando as relações dele com os demais e comparando-as com uma população de referência. Esses índices apresentam a vantagem de possibilitar um ordenamento de nutrientes, desde os mais limitantes até os excessivos. Todavia, se por um lado a interdependência permite uma classificação e ordenamento de nutrientes, também pode se transformar em grande desvantagem traduzida em falsos diagnósticos, em função das distorções provocadas por fatores não controlados (B ALDOCK e SCHULTE , 1989; BEVERLY, l993). Para qualquer fórmula de cálculo dos índices DRIS (BEAUFILS, 1973; J ONES, 1981; ELWALI e GASCHO , 1984), os efeitos da interdependência podem ser agravados quando ocorrem contaminações das amostras por resíduos de nutrientes aplicados via foliar, principalmente em plantas perenes como o café (B ATAGLIA et al., 2000). Além dessas contaminações, alguns nutrientes cuja ocorrência nas plantas é muito variável Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.253-263, 2004 acabam acarretando prejuízos para outros de composição mais estável. Nutrientes como ferro e manganês, que mostram grande variabilidade de concentrações, principalmente devido às condições edafoclimáticas, são alguns exemplos preocupantes. Algumas estratégias têm sido testadas para minimizar esses desvios causados pela interdependência no cálculo dos índices. B EVERLY (1987) fez uso de dados com transformação logarítmica visando atenuar grandes variações de concentração de alguns nutrientes, entretanto, o procedimento não mostrou grande eficiência. B ALDOCK e S CHULTE (1996) propuseram um sistema com base em escores padronizados visando associar o DRIS com o critério de faixa de suficiência e assim eliminar os freqüentes erros de diagnóstico observados para a cultura do milho. BATAGLIA et al., (2000) sugeriram a restrição de uso de nutrientes em nível de contaminação por resíduos como forma de evitar erros no cálculo dos índices do DRIS de nutrientes não contaminados. O objetivo deste trabalho foi testar, como forma de reduzir os efeitos da interdependência no cálculo dos índices do DRIS, a hipótese de se trabalhar com valores diferenciados para a constante k em função da intensidade de resposta de cada nutriente em relação à produtividade do cafeeiro. A proposta, apesar de diferenciada, segue alguns dos princípios estabelecidos por BALDOCK e S CHULTE (1996) para estabelecer o PASS (análise de plantas com escores padronizados), usado com sucesso para milho. 2. MATERIAL E MÉTODOS Os dados analisados neste trabalho foram obtidos de 1999 a 2001, em empresas produtoras de café situadas nos municípios de Matão e Franca, no Estado de São Paulo. Nessas fazendas, os cafezais foram mapeados em talhões, e em cada um foram feitas amostragens de folhas e anotados os dados de produtividade por ano. A amostragem de folhas foi feita no verão, coletando-se a terceira folha de ramos frutíferos na altura média das plantas em cerca de 50 plantas por talhão, conforme recomendações de RAIJ et al. (1997). 255 Diagnose nutricional do cafeeiro pelo DRIS As amostras, após lavagem, secagem a 60 ºC e moagem, foram submetidas à análise de macro e micronutrientes usando os métodos descritos por BATAGLIA et al. (1983), com as determinações feitas por espectrometria de emissão atômica de plasma induzido (ICP-AES). A população usada como referência para os cálculos do DRIS foi estabelecida de acordo com os critérios de B EAUFILS (1973), considerando-se apenas amostras provenientes de talhões de plantas com produtividade na faixa correspondente à média mais e menos um desvio-padrão da população original e nutricionalmente equilibradas (BATAGLIA et al., 2001). As características da população de referência são apresentadas na tabela 1 para as de relações entre nutrientes. Tabela 1. Valores das relações entre nutrientes na população de referência para cafeeiros arábica Relação Média Desvio-padrão Relação Média Desvio-padrão N/P 20,2662 3,3519 Ca/Mg 3,4464 0,5202 N/K 1,4087 0,2142 Ca/S 5,9810 1,0725 N/Ca 2,4586 0,3419 Ca/B 0,2396 0,0567 N/Mg 8,3985 1,2466 Ca/Cu 0,9768 0,2346 N/S 14,3334 2,4925 Ca/Fe 0,1398 0,0328 N/B 0,5864 0,1421 Ca/Mn 0,1067 0,0362 N/Cu 2,4401 0,5667 Ca/Zn 1,2686 0,4709 N/Fe 0,3402 0,0797 Mg/S 1,7484 0,3083 N/Mn 0,2587 0,0826 Mg/B 0,0699 0,0146 N/Zn 3,0223 1,1305 Mg/Cu 0,2755 0,0664 P/K 0,0711 0,0125 Mg/Fe 0,0393 0,0111 P/Ca 0,1233 0,0199 Mg/Mn 0,0305 0,0098 P/Mg 0,4280 0,0730 Mg/Zn 0,3666 0,1151 P/S 0,7323 0,1179 S/B 0,0397 0,0089 P/B 0,0292 0,0076 S/Cu 0,1561 0,0341 P/Cu 0,1222 0,0340 S/Fe 0,0228 0,0056 P/Fe 0,0169 0,0037 S/Mn 0,0178 0,0057 P/Mn 0,0131 0,0045 S/Zn 0,1983 0,0640 P/Zn 0,1503 0,0571 B/Cu 3,8522 1,0721 K/Ca 1,7709 0,3320 B/Fe 0,6068 0,1861 K/Mg 6,0288 0,9876 B/Mn 0,4350 0,1489 K/S 10,4020 1,6985 B/Zn 5,1375 1,7995 K/B 0,4241 0,0910 Cu/Fe 0,1439 0,0437 K/Cu 1,6844 0,4735 Cu/Mn 0,1001 0,0384 K/Fe 0,2416 0,0646 Cu/Zn 1,5445 0,4782 K/Mn 0,1868 0,0608 Fe/Mn 0,8251 0,3082 K/Zn 2,0997 0,7350 Fe/Zn 9,6458 4,1574 Mn/Zn 13,3186 5,9303 Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.253-263, 2004 256 O.C. Bataglia et al. Para o cálculo dos índices do DRIS, aplicouse a fórmula geral proposta por BEAUFILS (1973), sendo para um nutriente Y: n IY = m ∑ f (Y / X ) − ∑ f ( X i i =1 j =1 j O índice de balanço nutricional médio (IBNm) para cada amostra foi calculado pela média dos valores absolutos dos índices DRIS de cada nutriente, dividido pelo número de nutrientes envolvidos. /Y ) IBNm = (|IY1| + |IY2| + ... + |IYn|)/n n+m Os valores das funções intermediárias f(Y/X) foram obtidos pela fórmula de JONES (1981). Para a relação N/P, por exemplo, a função intermediária f(N/ P) foi obtida como segue: f(N/P) = [(N/P)a - (N/P)p] k/s em que: (N/P)a= relação na amostra; (N/P)p= relação na população de referência; k = constante de sensibilidade; s = desvio-padrão da relação na população de referência. Os testes de escores diferenciados dos nutrientes, de acordo com o efeito que cada um deles exerce na produtividade do cafeeiro, foram realizados atribuindo-se valores diferenciados aos nutrientes responsivos (R) incluindo-se nesta categoria N, K, S, B e Zn, nutrientes medianamente responsivos (M): P, Ca, Mg e Mn e pouco responsivos (I): Cu e Fe. Para testar esses escores diferenciados, os talhões originais usados para o estabelecimento da população de referência deste trabalho, foram agrupados em treze classes de produtividade com os respectivos teores médios de nutrientes nas folhas, conforme apresentação na tabela 2. Tabela 2. Teores médios de nutrientes em folhas de cafeeiros com diferentes classes de produtividade N P K Ca Mg S B Cu g.kg -1 Fe Mn Zn mg.kg -1 Produção kg.ha -1 32,7 1,7 23,5 12,8 3,8 2,2 51,8 14,5 115,0 99,9 10,9 3.114 31,8 1,7 24,0 13,5 3,8 2,3 58,2 16,4 98,2 133,5 15,2 2.853 31,9 1,6 22,6 12,9 3,9 2,2 47,5 13,9 104,4 122,0 12,5 2.608 32,4 1,6 23,3 13,1 3,9 2,1 57,9 14,8 113,0 148,7 14,6 2.350 32,2 1,6 21,2 12,7 3,9 2,2 52,6 14,8 100,4 186,3 14,0 2.101 32,0 1,6 22,8 13,4 4,0 2,3 54,5 14,6 103,2 149,4 14,2 1.852 32,7 1,7 23,3 12,8 4,0 2,2 59,1 14,7 107,1 175,5 15,1 1.591 31,5 1,9 24,5 13,5 4,1 2,5 55,7 14,6 106,0 164,5 16,1 1.355 31,6 1,5 23,1 12,8 4,2 2,1 55,0 17,3 96,4 190,0 14,0 1.125 32,0 1,5 24,0 11,5 3,9 2,1 49,1 18,6 91,9 160,7 18,8 848 32,9 1,5 24,2 11,9 4,2 2,0 57,1 10,7 77,7 151,3 17,9 600 31,8 1,7 26,8 12,7 4,0 2,3 60,4 14,6 85,7 124,6 16,1 349 32,4 1,7 28,0 12,6 3,6 2,2 53,3 14,6 119,2 156,8 16,6 155 Para o cálculo dos índices, os valores de k da fórmula foram ajustados em função dos grupos de nutrientes (I, M ou R). Foram simuladas todas as combinações atribuindo-se para os nutrientes irresponsivos (Cu e Fe) valores de 1 a 5 e para os medianamente responsivos e responsivos de 1 a 10. Assim, foram simulados cálculos dos índices pelo método tradicional (DRISJ), quando I = 1, M = 1 e R = 1. Nesse caso, do cálculo tradicional pela fórmula de Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.253-263, 2004 JONES (1981), o escore atribuído a todos os nutrientes tem o valor 1 e a constante k = 30. As outras combinações I-M-R variaram desde 1-1-2, com k = 14,35 até 5-10-10 com k = 0,44. Atribuindo-se valores diferenciados para os nutrientes classificados como I, M ou R, a constante de sensibilidade k foi ajustada de modo que seu valor ponderado médio ficasse sempre na faixa de 29,5 a 30,5 e, dessa forma, os índices pudessem ser comparados em uma mesma ordem de grandeza. 257 Diagnose nutricional do cafeeiro pelo DRIS A interpretação do estado nutricional do cafeeiro pelo DRIS para separação de diagnósticos (baixo, adequado, alto) foi feita utilizando-se o conceito de potencial de resposta proposto por W ADT (1996), sendo considerados adequados, nutrientes cujos índices do DRIS, em valores absolutos, não excedessem o valor do IBNm abaixo e acima de zero. Nutrientes com índices negativos em valores absolutos maiores do que o IBNm foram considerados baixos. Índices positivos com valor absoluto maior do que o IBNm foram considerados altos para fins de diagnóstico. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para os estudos propostos neste trabalho, as amostras de folhas de uma população abrangente de cafeeiros arábica foram grupadas em treze classes com médias de produtividade entre 155 e 3.114 kg.há-1 de café beneficiado (Tabela 2). Como se tratam de médias, há certa uniformização dos valores. Dessa forma, apesar das diferenças marcantes de produtividade, as maiorias absolutas são consideradas como teores adequados quando se usa o CFS para diagnóstico nutricional. Já na tabela 3, os índices do DRIS começam evidenciar diferenças não perceptíveis pelo critério de faixas. Os critérios para avaliação da eficiência dos escores diferenciados foram indicados com base na relação IBNm x produtividade, considerando-se para isso as treze classes dentro da população de referência. Usou-se também a comparação do diagnóstico pelo DRIS com as diferentes relações com o CFS. Nesse caso, procederam-se comparações dos diagnósticos pelo DRIS e CFS, atribuindo-se valor 1 para coincidência de diagnóstico e valor 0 para a não-coincidência. Esse procedimento foi feito com as análises dos talhões comerciais de café de Matão e de Franca em 1999, 2000 e 2001. Foram calculadas as porcentagens de coincidência de diagnóstico. A análise estatística foi feita aplicando-se a transformação (x + 0,5)1/2. As médias foram comparadas pelo teste t a 5%. Alguns nutrientes anteriormente classificados como adequados (Ca) ou altos (S) mostraram índices negativos, o que determina um diagnóstico diferenciado. Pode-se verificar também nessa tabela a relação inversa entre o IBNm e a produtividade, fato bastante documentado na literatura do DRIS. Observe-se que para a combinação I = 1, M = 6 e R =10 (Tabela 4), há melhor evidência dos diagnósticos identificando diversos distúrbios nutricionais não detectados pelo CFS e pelo cálculo tradicional do DRIS quando todos os nutrientes tem o mesmo escore 1. Tabela 3. Índices DRIS calculados para os dados da tabela 2 usando se a fórmula tradicional de Jones com escores para I-M-R 1-1-1 e k = 30 N P K Ca Mg S B Cu Fe Mn Zn IBNm Produção kg.ha-1 2 7 0 -7 -1 -1 -6 4 17 -20 5 6 3.114 -11 0 -4 -5 -8 -1 1 10 -6 -2 25 7 2.853 0 -7 -4 -3 4 5 -16 -1 8 -3 16 6 2.608 -5 -6 -6 -8 -1 -15 2 0 11 6 23 8 2.350 -2 -10 -18 -10 3 -1 -6 2 1 19 21 9 2.101 -7 -12 -9 -4 2 3 -4 -1 2 7 22 7 1.852 -7 -5 -9 -14 1 -5 2 -3 3 14 24 8 1.591 -18 9 -7 -11 0 7 -8 -7 -1 9 26 9 1.355 -9 -16 -7 -11 9 -10 -4 16 -6 19 19 11 1.125 -2 -18 3 -24 0 -10 -15 26 -9 10 37 14 848 9 -14 9 -13 21 -11 9 -32 -24 10 37 17 600 -9 -1 16 -13 0 -1 7 -1 -20 -6 29 9 349 -8 -7 22 -17 -21 -7 -10 -3 14 8 29 13 155 Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.253-263, 2004 258 O.C. Bataglia et al. Tabela 4. Índices DRIS calculados para os teores foliares das amostras da tabela 2 usando os escores para IM-R de 1-6-10, k=0,64 combinação que mostrou melhor correlação entre IBNm e produção Classe N P K Ca Mg S B Cu Fe Mn Zn IBNm Produção kg.ha-1 1 7 8 4 -5 0 1 -7 1 3 -16 6 5 3.114 2 -16 0 -7 -4 -8 -1 2 1 -1 -1 34 7 2.853 3 2 -6 -5 -2 4 9 -24 0 1 -2 22 7 2.608 4 -5 -3 -8 -6 0 -22 4 0 2 6 32 8 2.350 5 0 -8 -26 -8 3 -1 -9 0 0 18 29 9 2.101 6 -9 -11 -14 -3 2 5 -6 0 0 6 30 8 1.852 7 -9 -4 -14 -12 0 -8 3 -1 0 13 33 9 1.591 8 -27 8 -11 -9 -1 10 -13 -1 0 8 36 11 1.355 9 -10 -13 -9 -8 9 -13 -4 2 -1 18 28 10 1.125 10 0 -16 7 -21 0 -15 -22 4 -1 10 54 14 848 11 3 -19 4 -19 11 -29 2 -6 -4 7 49 14 600 12 -19 -5 18 -15 -4 -8 5 -1 -3 -6 38 11 349 13 -12 -6 34 -16 -21 -12 -16 -1 2 7 41 15 155 A relação característica do DRIS – IBNm x produtividade - foi usada como ferramenta para se testar a eficiência das combinações de escores atribuídos aos nutrientes classificados como I, M ou R, admitindose que o sinal negativo dos coeficientes de correlação mostrem a relação inversa entre DRIS – IBNm e produtividade, e os valores absolutos maiores indiquem melhor desempenho da combinação de escores atribuídos aos nutrientes com respostas diferenciais na nutrição do cafeeiro. Os dados da tabela 5 mostram os resultados desse teste para combinações de nutrientes responsivos e medianamente responsivos (variação de 1 a 10) fixando-se o escore 1 para os nutrientes irresponsivos. Os dados revelam a existência de uma população de combinações que apresentaram melhores coeficientes de correlação, com valores abaixo de -0,900. O maior valor (r = - 0,923) foi obtido com a relação 1-6-10, embora valores muito próximos tenham sido observados para outras combinações. O pior coeficiente de correlação foi verificado para a combinação 1-10-1 (r = - 0,544) A figura 1 mostra a dispersão das relações entre os valores de IBNm e a produtividade para três combinações de escores dos grupos de nutrientes. Os gráficos mostram o melhor ajuste linear entre IBNm e produtividade, em que o melhor ajuste corresponde ao tratamento 1-6-10, com coeficiente de determinação R 2 = 0,8516 e o pior, ao tratamento 1-10-1 com R 2 = 0,2957. O tratamento 1-1-1, que corresponde ao método tradicional de cálculo dos índices do DRIS, Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.253-263, 2004 mostrou um comportamento intermediário, R 2 = 0,6143, evidenciando por essa abordagem ser possível melhorar o diagnóstico nutricional, atribuindo-se diferentes níveis de sensibilidade a nutrientes com maior ou menor resposta na produtividade do cafeeiro. Conforme foi tratado anteriormente na discussão da tabela 5, há uma série de combinações eficientes, o que pode ser bem visualizada nas superfícies de resposta da figura 2. À medida que se atribuem escores mais elevados (4 ou 5) para os nutrientes irresponsivos, o número de combinações de M e R com elevados coeficientes de correlação, em valor absoluto, é muito reduzido. Observam-se escores em que I<M<R tende a apresentar melhores correlações entre IBNm e produtividade. Atribuindo-se valor 1 para os nutrientes irresponsivos, nota-se uma grande área de valores de r entre -0,95 e 0,90. É possível destacar muitas combinações para M e R. Algumas combinações eficientes, ocupando pontos centrais dessas superfícies, podem ser destacadas como: 1-3-6; 1-4-7; 1-5-8; 1-6-10. Para valores I = 2, a superfície de valores na mesma faixa de coeficientes de correlação é menor, mas mesmo assim podem-se destacar alguns pontos como 2-3-7; 2-4-8 e 2-5-9. Quando I = 3, a superfície dos coeficientes de correlação, ainda na mesma faixa, é bem restrita, mesmo assim podem-se identificar as combinações 3-4-10 e 3-5-10. Para combinações com I = 4 ou 5, não ocorre nenhuma combinação com valores de r abaixo de -0,900. 259 Diagnose nutricional do cafeeiro pelo DRIS I = 1; M = 1; R = 1 4000 y = -220,79x + 3727,2 3500 R2 = 0,6143 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 0 5 10 15 20 I = 1; M = 6; R = 10 4000 y = -293,15x + 4509,3 Produtividade (kg.ha-1) 3500 R2 = 0,8516 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 0 5 10 15 20 I = 1; M = 10; R = 1 4000 y = -127,32x + 2869,3 3500 R2 = 0,2957 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 0 5 10 15 20 Figura 1. Relação entre os valores de IBNm e a produtividade do cafeeiro obtidas com combinações de escores para nutrientes irresponsivos (I), medianamente responsivos (M) e responsivos (R). Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.253-263, 2004 260 O.C. Bataglia et al. Intervalo de Coeficientes de Correlação Figura 2. Superfícies de resposta de coeficientes de correlação entre IBNm e produtividade para diferentes combinações de valores atribuídos aos nutrientes classificados como Irresponsivos, Medianamente Responsivos e Responsivos (I,M,R). Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.253-263, 2004 261 Diagnose nutricional do cafeeiro pelo DRIS Tabela 5. Coeficientes de correlação entre IBNm e produtividade obtidos usando-se escore I=1 e variando-se M e R de 1 a 10. M R 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 -0,784 -0,880 -0,899 -0,897 -0,890 -0,880 -0,871 -0,863 -0,857 -0,784 -0,728 -0,846 -0,896 -0,911 -0,912 -0,908 -0,902 -0,895 -0,887 -0,880 -0,680 -0,788 -0,867 -0,902 -0,915 -0,918 -0,916 -0,912 -0,907 -0,901 -0,643 -0,746 -0,826 -0,877 -0,904 -0,916 -0,920 -0,920 -0,918 -0,914 -0,614 -0,713 -0,784 -0,846 -0,883 -0,904 -0,916 -0,921 -0,922 -0,921 -0,591 -0,683 -0,753 -0,813 -0,858 -0,887 -0,904 -0,915 -0,921 -0,923 -0,574 -0,657 -0,727 -0,781 -0,832 -0,866 -0,889 -0,904 -0,914 -0,920 -0,560 -0,635 -0,704 -0,757 -0,805 -0,844 -0,872 -0,891 -0,904 -0,913 -0,551 -0,618 -0,684 -0,735 -0,779 -0,821 -0,853 -0,876 -0,892 -0,904 -0,544 -0,603 -0,665 -0,716 -0,759 -0,798 -0,833 -0,859 -0,879 -0,893 Tabela 6. Porcentagens de coincidências entre os diagnósticos pelo DRIS com escores diferenciados e pelo CFS em Franca (SP). Ano Macronutrientes Relação N P K Ca Mg S % 1999 2000 2001 1-1-1 1-6-10 1-10-1 1-1-1 1-6-10 1-10-1 1-1-1 1-6-10 1-10-1 42 42 11 32 36 12 60 55 65 a a b a a b a a a 74 68 32 72 88 16 65 60 60 a a b b a c a a a 47 63 47 32 28 80 50 45 80 a a a b b a a a a 53 58 37 56 60 56 45 35 35 ab a b a a a a a a 47 42 42 36 44 48 20 35 35 a a a a a a a a a 53 26 26 28 20 48 10 15 1 a b b b b a a a a Médias seguidas por letras diferentes indicam diferenças estatísticas pelo teste t a 5%. Tabela 7. Porcentagens de coincidências entre os diagnósticos pelo DRIS com escores diferenciados e pelo CFS em Matão (SP) Ano Relação Macronutrientes N P K Ca Mg S % 1999 2000 2001 1-1-1 1-6-10 1-10-1 1-1-1 1-6-10 1-10-1 1-1-1 1-6-10 1-10-1 45 52 28 34 48 59 14 28 24 a a a a a a a a a 83 86 17 66 72 48 14 7 38 a a b a a a ab b a 48 62 31 10 17 21 55 72 21 a a b a a a a a b 62 59 24 66 59 24 62 62 38 a a b a ab b a a a 52 52 48 45 66 34 38 38 17 a a a a a a a a b 38 59 21 10 14 01 21 28 14 ab a b a a a a a a Médias seguidas por letras diferentes indicam diferenças estatísticas pelo teste t a 5%. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.253-263, 2004 262 O.C. Bataglia et al. Os piores resultados foram observados para combinações com valores elevados para os nutrientes e irresponsivos ou medianamente responsivos e valores baixos para os responsivos como, por exemplo, as combinações 1-10-1, 3-10-1 e 5-10-1. O procedimento tradicionalmente usado no país como método de avaliação nutricional do cafeeiro baseia-se no CFS. Esse método mostrou grande evolução sendo indicado pelos principais manuais de recomendação de adubação para a cultura (MALAVOLTA , 1981; MALAVOLTA , 1993; RAIJ et al., 1997; G UIMARÃES et al., 1999; T HOMAZIELLO et al., 2000). Por essa razão, esse critério foi usado como referência para comparar os procedimentos do DRIS ora em estudo. Os dados das tabelas 6 e 7 calculados a partir das análises de folhas de cafezais de Franca e Matão mostram resultados pouco concordantes entre os diagnósticos pelo CFS e pelo DRIS. Ao contrário do teste anterior, quando a relação 1-6-10 mostrou-se bastante superior a 1-10-1 na relação IBNm x produtividade; nesse caso, não houve superioridade destacada em relação à proporção de coincidências entre os dois critérios de diagnóstico. Pode-se notar ligeira superioridade da relação 1-6-10 sobre a 1-101, que são casos extremos. Quando se compara com a relação 1-1-1 que é a forma tradicional de cálculo do DRIS, observa-se que a vantagem dos escores diferenciados é menos marcante. Na prática há certa equivalência entre o procedimento tradicional (relação 1-1-1) e o de escores diferenciados (relação 1-6-10). Os diagnósticos são bastante discrepantes para enxofre, qualquer que seja a modalidade de cálculo, revelando que provavelmente há necessidade de ajuste das faixas de concentração para diagnose nutricional do cafeeiro pelo CFS. Os dados do presente trabalho permitiram uma avaliação mais criteriosa do uso de escores diferenciados em função da resposta do cafeeiro aos nutrientes. Mesmo sem ter mostrado uma eficiência comparativa ao CFS, as relações entre o balanço de nutrientes e a produtividade possibilitaram uma seleção bastante adequada das melhores relações de sensibilidade para nutrientes irresponsivos, medianamente responsivos e responsivos. A seleção dessas relações mostrou-se objetiva, sem o empirismo observado em outros trabalhos, (BALDOCK e SCHULTE, 1996). Outro aspecto relevante deste trabalho foi o uso da técnica de probabilidade de resposta proposta por W ADT (1996) como método de diagnóstico. O método permite a avaliação do estado nutricional de cada amostra, com base no IBNm da própria amostra. Apesar disso, ainda há muito espaço para o Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.253-263, 2004 desenvolvimento de novos métodos de diagnóstico com base nos índices do DRIS. Uma das possibilidades é o desenvolvimento de faixas de índices com diagnóstico para teores de nutrientes considerados baixos, adequados e altos, com base na distribuição normal de uma população de índices. Assim, a comparação da amostra seria feita com a população a que ela pertence e não apenas com ela mesma, como ocorre com a avaliação realizada pelo procedimento indicado por WADT (l996). Essa pode ter sido uma das razões da falta de coincidência entre os diagnósticos observados para alguns nutrientes. A outra razão é a necessidade de melhor ajuste nos valores das faixas de concentração de nutrientes usadas pelo CFS. Aparentemente, há necessidade de ajustes locais desses valores. 4. CONCLUSÕES 1. As relações entre IBNm e produtividade do cafeeiro foram melhores quando se usaram escores diferenciados para calculo do DRIS para o cafeeiro. Os melhores coeficientes de determinação foram obtidos quando os escores seguiram a ordem para os nutrientes: irresponsivos<medianamente responsivos<responsivos. 2. O uso de escores diferenciados não melhorou a praticidade do diagnóstico nutricional do DRIS em relação ao DRIS tradicional, quando comparados ao critério de faixas de suficiência. REFERÊNCIAS BALDOCK, J.O.; SCHULTE, E.E. The DRIS/Calcium problem. In: FERTILIZE, AGLIME & PEST MANAGEMENT CONFERENCE, 28th, 1989, Madison. Proceedings... 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Centenário, 303, 13400-970 Piracicaba (SP). E-mail: [email protected], [email protected], [email protected] IISN Centro de Pesquisa e Promoção de Sulfato de Amônio, Av. Independência 546, cj. 31/32, 13416-220 Piracicaba (SP). E-mail: [email protected]. Bolsista da FAPESP IIIInstituto Agronômico, Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP). E-mail: [email protected], [email protected] ABSTRACT The wheat crop in São Paulo State, Brazil, is fertilized with N, P and K. The rate of applied N (0 to 120 kg.ha-1) depends on the previous grown crop and the irrigation possibility. The response of wheat to rates and time of N application and the fate of N applied to irrigated wheat were studied during two years. Residual N recovery by soybean grown after the wheat was also studied. The maximum grain productivity was obtained with 92 kg.ha-1 of N. The efficiency of 15N-urea utilization ranged from 52% to 85%. The main loss of applied 15N, 5% to 12% occurred as ammonia volatilized from urea applied on soil surface. The N loss by leaching even at the N rate of 135 kg.ha-1, was less than 1% of applied 15N, due to the low amount of rainfall during the wheat grown season and a controlled amount of irrigated water, that were sufficient to moisten only the wheat root zone. The residual 15N after wheat harvest represents around 40% of N applied as urea: 20% in soil, 3% in wheat root system and 16% in the wheat straw. Soybean recovered less than 2% of the 15N applied to wheat at sowing or at tillering stage. Key words: Nitrogen fertilization, efficiency, ammonia, volatilization RESUMO No Estado de São Paulo, a cultura do trigo é adubada, além de P e K, com N, cuja dose (0 a 120 kg ha-1) depende do cultivo anterior e da possibilidade de irrigação. A resposta do trigo às doses e épocas de aplicação e o destino do N aplicado foi estudada em dois cultivos de trigo, seguidos pela soja. Também se avaliou a recuperação do N residual pela soja cultivada nas mesmas parcelas após o trigo. A produtividade máxima estimada de grãos seria obtida com a dose de 92 kg.ha-1 de N. A eficiência de absorção 15N-uréia variou de 52% a 85%. A principal perda de N, que variou de 5% a 12%, ocorreu através de volatilização de amônia proveniente da uréia aplicada na superfície do solo. Por lixiviação foi perdido menos que 1% do N aplicado, pois a água da chuva ou da irrigação foi suficiente para molhar somente a camada do solo onde se encontrava o sistema radicular do trigo. O N residual após o cultivo do trigo correspondeu a 40% do total aplicado, posto que 20% permaneceu no solo, 3% na matéria vegetal radicular do trigo e 16% na matéria vegetal da palha do trigo, depositada sobre o solo. A soja recuperou menos que 2% do 15N aplicado no solo na semeadura ou no perfilhamento do trigo. Palavras-chave: adubação nitrogenada, eficiência, amônia, volatilização. 1. INTRODUCTION Nitrogen and water are the most common limiting factors in agricultural systems throughout the world. Wheat crops need sufficient N and available water for obtaining optimum and good quality grain yield (IAEA, 2000). Researches carried out in São Paulo State have shown good response of wheat to the N fertilization, but it is related to the supply of water (MÉLLO JUNIOR, 1992) and the previous grown crop (INSTITUTO AGRONÔMICO, 1996). The maximum rate of N fertilization for irrigated wheat in São Paulo State is 92 kg.ha-1, one third at seeding and two thirds at tillering stage (RAIJ et al., 1997). The balance between the possible maximum productivity of the cultivar by supplying N and minimizing pollution of environment from excessive N application is a goal to be reached. In one side, demands for food are on increase due to the growth of population. In other side, there are environmental and ethical pressures to minimize pollution caused by fertilizers with N. The ideal achievement of N fertilization management is productivity and profit maximization with minimum pollution. However, many factors, such as weather patterns, make it difficult to achieve a suitable balance (IAEA, 2000). It is known for a long time that, when N fertilizer is applied to soil, N suffers transformations and the fate of this nutrient depends on many factors as soil, plant environment and fertilizer (STEVENSON, 1982). For reaching the target of efficient use of N fertilizer it is necessary a comprehensive knowledge of all factors which the N fate depends on. The joint FAO/IAEA Division implemented an international research project on the use of nuclear techniques for optimizing fertilizer application under irrigated wheat, to increase the efficient use of N fertilizers and consequently reduce environmental pollution. The co-ordinated research project aimed to investigate various aspects of N use efficiency of wheat crop under irrigation through an interregional research network of experimental sites in countries with large cultivated areas of irrigated wheat (IAEA, 2000). The wheat grain yield response to the N fertilization and N recovery by wheat plant varied from site to site, even between sites of the same country. The N recovery by wheat plant of the first of third split of N application (applied at planting) was usually less than the second two third split application applied at tillering (IAEA, 2000). The data of most studies on fertilizer N efficiency using 15N labelled fertilizers have shown that at harvest it generally range from 20% to 80%. These variation are probably arisen from the interaction between factors such as form of fertilizer, time of application, type of soil and climatic conditions (RECOUS et al al., 1988b). The main losses of N from urea are the nitrate leaching in soil, denitrification and ammonia volatilization. Nitrate leaching from fertilizer from the wheat rooting zone was observed in three countries out of ten, in experiments carried out in sandy or clay soils (IAEA, 2000). Nitrogen loss from the one soil was high as 57%, whereas average loss in the other soil was 17%. In others experiments, as RECOUS et al. (1988a), leaching loss of N from fertrilizer appeared negligible, since only trace of inorganic N was measured in the subsoil, between 30 and 120 cm. Part of N fertilizer applied remains in the soil after the grain harvest, immobilized by soil microorganisms, in the root systems and in the wheat straw. There is a lack of data on the recovery by the subsequent crop of this N. There were some studies in Brazil using 15N in wheat crop at late 1960's and early 70's. These studies were carried out under a co-ordinated research project sponsored by International Atomic Energy Agency (IAEA) with the objective of studying the efficiency of different N sources (urea, ammonium sulphate and ammonium nitrate). Experiments were carried out in field conditions and allowed to conclude that the efficiency of the N utilization ranges from 5 to 27% with a quite similar response to all N sources, depending on the time of application (MURAOKA, 1973). Another study showed that the N fertilizer applied at seeding or at tillering stages yielded similar efficiency (BOARETTO, 1974). These results were obtained in wheat crops without irrigation. This work presents data of N dynamic in double crop wheat-soybean and soil fertilized with different rates of urea under irrigation. 2. MATERIAL AND METHODS The experimental site is located at the IAC research farm, Campinas, in São Paulo State (latitude = 22º54'S and longitude = 47º05'W), 674 m above sea level. The soil of the experimental site is a Dark Red Latosol (Eutrudox), with a V=54%, high P and K contents and 28 g.kg-1 of organic matter. The previous crop grown in the experimental area was soybean. The experiments were conducted in 1995 and 1996, in two places of the same site. Treatments are shown in table 1, and rainfall and temperature variations on the site, in both years, are shown in table 2. Four replicates of each treatment were distributed in randomized blocks design. Urea, triple superphosphate and potassium chloride were applied at seeding of wheat (cultivar IAC 24) in the planting furrow under the seeds and part of urea was broadcast between the rows of plants at tillering stage. Labeled urea was applied at sowing and tillering stage (5-6 Feaks scale) in different micro-plots inside the plot. Many cultivars have been used in São Paulo State, but the IAC 24 was the predominant one in 70% of cultivated area in 1995 and 1996. The growth cycle of IAC 24 is around 130 days; it is aluminum tolerant and is recommended for both irrigated and non-irrigated conditions (INSTITUTO AGRONÔMICO, 1996). The potential yield for this cultivar under irrigation is around 5.000 kg.ha-1 of grain. Sufficient water was supplied after sowing to almost saturate the soil from the surface up to 40 cm depth, following the recommendation for wheat crop. In both years irrigation took place whenever the tensiometers placed at 20 cm depth reached the value of 0.6 atm. The amount of supplied water was estimated by the amount of water evaporated from a class A tank and crop coefficient (Kc). Measurements of SPAD values were performed in 1995, using a chlorophyll meter were performed before N was top-dressed at tillering and at anthesis stages. At tillering and anthesis stages, the SPAD measurements were performed in the second leaves with visible sheath and in the leaf flag. N content was analyzed in above ground part of wheat at tillering and in the leaf flag at anthesis stages. After harvesting, plants were separated in straw and grain, dried at 65 ºC and analyzed for total N and 15N. In the experiments of 1995 and 1996 the wheat straw was left over on the soil in the respective plots after the wheat harvest, and soybean (Cristalina cultivar) was sown to determine the amount of N absorbed by soybean from the fertilizer applied to wheat crop. At the end of the soybean cycle, samples of plants were harvested, dried at 65ºC, and analyzed for total N and 15N. For estimating N leaching during the wheat cycle, soil water content was monitored by mercury tensiometers installed at 20, 40, 90 and 110 cm soil depths. Soil water content, hydraulic gradient and drainage values were calculated for 50 and 100 cm soil depths. Soil solution was extracted from 50 and 100 cm of soil depths by porous ceramic cups, which were evacuated for approximately 2 hours, twice a week. The collected soil solutions were immediately placed in glass cups and deep-frozen. Details can be found in SPOLIDORIO (1999). These samples were then analyzed for N as nitrate and ammonium (BREMNER, 1965 and BREMNER and KEENEY, 1966). Soil solution samples were prepared by micro-diffusion (BROOKS et al., 1989) and sent to IAEA Laboratory, Seibersdorf, Austria, for 15N analysis. As the urea was broadcasted at tillering stage, the volatilization of ammonia was estimated. A semi-open static type collector was used to trap the ammonia volatilized from urea, which was calibrated according to LARA CABEZAS (1987) and LARA CABEZAS and TRIVELIN (1990). As the collector has a cap, whenever the irrigation took place, equivalent amount of water applied by irrigation was put inside the collectors, but the same number of replicates without irrigation inside the collectors were maintained with the aim of evaluating the effect of irrigation on ammonia volatilization. Wheat root system and soil were collected after wheat harvest in 1995 and before seeding of soybean (SPOLIDORIO, 1999) for estimating the N derived from fertilizer remained in soil. 3. RESULTS AND DISCUSSION 3.1 Yield of grain and straw The data on dry matter yields of straw and grain (12% of moisture) obtained in two years of experimentation are shown in figure 1. The highest yield of grain in 1995 was obtained with the application of 92 kg ha-1 estimated by regression equation, but there was no effect of N application in 1996. In both years, 1995 and 1996, the yield of grain was higher than the São Paulo State average yield, which is lesser than 2 t.ha-1. Although the grain yield in 1995 was lower than the genotype potential under irrigation, around 5 t. ha-1, which was almost reached in 1996. The difference on yield between the two years was probably due to the high temperatures (above 28ºC) occurred in 1995 during the ear formation stage and high insolation in this same year, reducing the IAC-24 wheat cycle. Water content in soil surface was sufficient in both years (Figure 2). 3.2 Fate of 15N-urea Wheat recovery of applied 15N The recovery of applied N was high in both years (Tables 3 and 4). Wheat N recovery depends on the time of application of urea, among others factors (STRONG, 1995). In the present case, the urea applied broadcast at tillering stage promoted higher N use compared to applied at seeding, probably due to better synchronization of applied N with the wheat requirement for this nutrient. Similar results were obtained by many others authors (IAEA, 2000; RECOUS et al., 1998ab) Loss of N by ammonia volatilization from applied urea Urea was applied broadcast at tillering stage, between the plant rows, without incorporation into the soil. The amount of volatilized N depends on the rate of urea application and irrigation. The values ranged from 2.8 to 4.8 kg.ha-1 when irrigation followed the fertilization (Figure 3), but these data increased threefold without irrigation. Considering the collector efficiency, according to LARA CABEZAS and TRIVELIN (1990), about 13% (with irrigation) and 39% (without irrigation) of the total N-urea applied at tillering stage were volatilized as ammonia (Figure 4). RECOUS et al. (1988a) estimated a N loss of 3.1 kg.ha-1 when urea was applied diluted in water on soil surface cultivated with a wheat crop using a hand-sprayer and trapped the volatilized urea using a closed PVC cylinders. However the authors commented that the closed-chamber technique used creates artificial conditions which could either underestimate or overestimate the true losses of NH3 from urea. N leaching Nitrates in soil can be leached below the root zone together with percolating water. The quantity of water, which percolates through the soil surface and rate of applied N determine the amount of fertilizer N that can be leached within any system. The wheat was sown in June and harvested in October, months with low rainfall. The amount of supplied water was controlled to moisten only the root zone. It is expected that such a procedure would not cause nitrate leaching below the root zone. The result of cumulative loss of nitrate at 50 cm soil depth confirms that less than 1 kg ha-1 of N was lost from root zone. Only a small portion (90 g.ha-1) of it was derived from applied urea, which is around 1% of total applied N (figure 5). The data obtained from the experiment carried out in 1996 corroborated the previous year data. As these data were obtained from the plot, which received 135 kg.ha-1 of N, the N loss by leaching would be much lower in the normal crop when less than 120 kg.ha-1 of N is applied. RECOUS et al. (1988a) found a negligible amount of N leached from fertilizer in a deep loamy soil. Residual soil 15N from applied urea in wheat root system and in the different layers of The amount of N, derived from urea, that remained in the wheat root system after the harvest, for the treatment of 90 kg.ha-1 of N as urea, in the experiment carried out in 1995, is shown in Table 5. It was less than 3% of the applied N. In the soil without roots it was found around 20% of total applied N (Table 6). As it was expected (STRONGT, 1995), the largest portion of residual N from applied urea was recovered in surface layer (0-15 cm) of soil. N recovery by soybean growing after wheat The wheat straw, which remained on soil after the harvest of grain, contained 25 kg.ha1 of N, part of it derived from N applied as urea (around 16 kg.ha-1, in the treatment which received 90 kg.ha-1 of N at 1995 experiment). The amount of N applied to wheat, which remained in the plots, was around 36.5 kg.ha-1. This value, which corresponds to 40% of total applied N, can be estimated adding the amount of N remained in soil (table 5) plus the amount of N in the wheat root (table 6) and straw. Soybean recovered around 1.5 kg ha-1 of this N, only less than 2% of applied N to wheat or less than 4% of N from the applied urea which remained in the soil. Similar results were obtained in the 1996 experiment (table 7). According to Strong (1995), recovery of residual N by the crops rarely exceeds 5% of the N originally applied to the previous crop. There are no reports in the literature on the recovery of N from fertilizer applied in wheat crop by soybean crop grown in succession. 3.3 Plant analysis for N recommendation to wheat Nitrogen fertilization of wheat is performed in São Paulo State, part at sowing and part at tillering stage, using information of the previous crop. The methods of testing soil available N to detect previously possible response of wheat to N fertilization have proved not be useful (RAIJ et al., 1997). Plant analysis of above ground parts of wheat for determination of N concentration and SPAD values should be performed in samples collected at early stages of development, at least at tillering stage, to be useful for N fertilization. Data obtained from the experiments in 1995 (table 8) and 1996 showed no correlation between N fertilization and N concentration or SPAD values at tillering stage. Data from Vidal et al. (1999) corroborate with the present results showing that the chlorophyll meter may not be effective in predicting N deficiency at tillering stage. 4. CONCLUSIONS 1. The wheat response to N fertilization can not be predicted by soil or tissue analysis. The optimization of the N fertilizer applied in irrigated wheat can be reached by improving the N recovery and minimizing its possible losses. 2. To optimize the N recovery a major portion of N fertilizer should be applied at the tillering stage. In condition of São Paulo State the main loss of N occurs through ammonia volatilization from urea applied broadcast. For minimizing this loss, irrigation should be done immediately after the N fertilization. Loss of nitrate from N fertilizer by leaching beyond the root zone is very small when irrigation is technically controlled, even when N rates applied are beyond the wheat demands. Less than 5% of residual N in the soil was recovered by soybean grown after wheat. ACKNOWLEDGMENT To IAEA - International Atomic Energy Agency, for the financial support (project: 8087/RB). REFERENCES BOARETTO, A.E. Efeitos de fontes e modos de distribuição de nitrogênio (15N) na cultura do trigo (Triticum aestivum L.). 1974. 73f. Dissertação (Mestrado em Solos e Nutrição de Plantas) Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"-USP, Piracicaba. BREMNER, J.M. Total nitrogen. In: BLACK, C.A.; EVANS, D.D.; WHITE, L.L.; ENSMINGER, L.E.; CLARK, F.E. (Eds.) Methods of soil analysis. Madison: ASA, 1965. Part 2, p.11491178. BREMNER, J.M.; KEENEY, D.R. Determination and isotope ratio analysis of different forms of nitrogen in soils, 3. Exchangeable ammonium, nitrate and nitrite by extraction distillation methods. Soil Science Society of America Proceedings, Madison, v.30, p.577-582, 1966. BROOKS, P.D.; MCINTEER, J.M.; PRESTON, T. Diffusion method to prepare soil extracts for automated nitrogen-15 analysis. 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Received for publication in March 17, 2003, and accepted in April 20, 2004 * Com bolsa de produtividade de pesquisa do CNPq Fate of N-urea applied to wheat-soybean sucession FATE OF 15 265 N-UREA APPLIED TO WHEAT-SOYBEAN SUCCESSION CROP (1) ANTONIO ENEDI BOARETTO(2 ,5); EDUARDO SCARPARI SPOLIDORIO(3 ,5) ; JOSÉ GUILHERME DE FREITAS(4 ,5) PAULO CESAR OCHEUZE TRIVELIN(2,5) TAKASHI MURAOKA(2,5), HEITOR CANTARELLA(4,5) ABSTRACT The wheat crop in São Paulo State, Brazil, is fertilized with N, P and K. The rate of applied N (0 to 120 kg.ha -1) depends on the previous grown crop and the irrigation possibility. The response of wheat to rates and time of N application and the fate of N applied to irrigated wheat were studied during two years. Residual N recovery by soybean grown after the wheat was also studied. The maximum grain productivity was obtained with 92 kg.ha -1 of N. The efficiency of 15N-urea utilization ranged from 52% to 85%. The main loss of applied 15N, 5% to 12% occurred as ammonia volatilized from urea applied on soil surface. The N loss by leaching even at the N rate of 135 kg.ha -1, was less than 1% of applied 15 N, due to the low amount of rainfall during the wheat grown season and a controlled amount of irrigated water, that were sufficient to moisten only the wheat root zone. The residual 15N after wheat harvest represents around 40% of N applied as urea: 20% in soil, 3% in wheat root system and 16% in the wheat straw. Soybean recovered less than 2% of the 15N applied to wheat at sowing or at tillering stage. Key words: Nitrogen fertilization, efficiency, ammonia, volatilization RESUMO DESTINO DE 15N-URÉIA APLICADA EM SUCESSÃO TRIGO-SOJA No Estado de São Paulo, a cultura do trigo é adubada, além de P e K, com N, cuja dose (0 a 120 kg ha -1 ) depende do cultivo anterior e da possibilidade de irrigação. A resposta do trigo às doses e épocas de aplicação e o destino do N aplicado foi estudada em dois cultivos de trigo, seguidos pela soja. Também se avaliou a recuperação do N residual pela soja cultivada nas mesmas parcelas após o trigo. A produtividade máxima estimada de grãos seria obtida com a dose de 92 kg.ha-1 de N. A eficiência de absorção 15N-uréia variou de 52% a 85%. A principal perda de N, que variou de 5% a 12%, ocorreu através de volatilização de amônia proveniente da uréia aplicada na superfície do solo. Por lixiviação foi perdido menos que 1% do N aplicado, pois a água da chuva ou da irrigação foi suficiente para molhar somente a camada do solo onde se encontrava o sistema radicular do trigo. O N residual após o cultivo do trigo correspondeu a 40% do total aplicado, posto que 20% permaneceu no solo, 3% na matéria vegetal radicular do trigo e 16% na matéria vegetal da palha do trigo, depositada sobre o solo. A soja recuperou menos que 2% do 15N aplicado no solo na semeadura ou no perfilhamento do trigo. Palavras-chave: adubação nitrogenada, eficiência, amônia, volatilização. ( 1) Received for publication in March 17, 2003, and accepted in April 20, 2004. ( 2 ) Centro de Energia Nuclear na Agricultura - USP, Av. Centenário, 303, 13400-970 Piracicaba (SP). E-mail: [email protected], [email protected], [email protected] ( 3) SN Centro de Pesquisa e Promoção de Sulfato de Amônio, Av. Independência 546, cj. 31/32, 13416-220 Piracicaba (SP). E-mail: [email protected]. Bolsista da FAPESP. ( 4) Instituto Agronômico, Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP). E-mail: [email protected], [email protected] ( 5) Com bolsa de produtividade de pesquisa do CNPq. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.265-274, 2004 266 A.E. Boaretto et al. 1. INTRODUCTION Nitrogen and water are the most common limiting factors in agricultural systems throughout the world. Wheat crops need sufficient N and available water for obtaining optimum and good quality grain yield (IAEA, 2000). Researches carried out in São Paulo State have shown good response of wheat to the N fertilization, but it is related to the supply of water (M ÉLLO J UNIOR, 1992) and the previous grown crop (INSTITUTO A GRONÔMICO , 1996). The maximum rate of N fertilization for irrigated wheat in São Paulo State is 92 kg.ha-1 , one third at seeding and two thirds at tillering stage (RAIJ et al., 1997). The balance between the possible maximum productivity of the cultivar by supplying N and minimizing pollution of environment from excessive N application is a goal to be reached. In one side, demands for food are on increase due to the growth of population. In other side, there are environmental and ethical pressures to minimize pollution caused by fertilizers with N. The ideal achievement of N fertilization management is productivity and profit maximization with minimum pollution. However, many factors, such as weather patterns, make it difficult to achieve a suitable balance (IAEA, 2000). It is known for a long time that, when N fertilizer is applied to soil, N suffers transformations and the fate of this nutrient depends on many factors as soil, plant environment and fertilizer (STEVENSON, 1982). For reaching the target of efficient use of N fertilizer it is necessary a comprehensive knowledge of all factors which the N fate depends on. The joint FAO/IAEA Division implemented an international research project on the use of nuclear techniques for optimizing fertilizer application under irrigated wheat, to increase the efficient use of N fertilizers and consequently reduce environmental pollution. The coordinated research project aimed to investigate various aspects of N use efficiency of wheat crop under irrigation through an interregional research network of experimental sites in countries with large cultivated areas of irrigated wheat (IAEA, 2000). The wheat grain yield response to the N fertilization and N recovery by wheat plant varied from site to site, even between sites of the same country. The N recovery by wheat plant of the first of third split of N application (applied at planting) was usually less than the second two third split application applied at tillering (IAEA, 2000). The data of most studies on fertilizer N efficiency using 15N labelled fertilizers have shown that at harvest it generally range from 20% to 80%. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.265-274, 2004 These variation are probably arisen from the interaction between factors such as form of fertilizer, time of application, type of soil and climatic conditions (RECOUS et al al., 1988b). The main losses of N from urea are the nitrate leaching in soil, denitrification and ammonia volatilization. Nitrate leaching from fertilizer from the wheat rooting zone was observed in three countries out of ten, in experiments carried out in sandy or clay soils (IAEA, 2000). Nitrogen loss from the one soil was high as 57%, whereas average loss in the other soil was 17%. In others experiments, as Recous et al. (1988a), leaching loss of N from fertrilizer appeared negligible, since only trace of inorganic N was measured in the subsoil, between 30 and 120 cm. Part of N fertilizer applied remains in the soil after the grain harvest, immobilized by soil microorganisms, in the root systems and in the wheat straw. There is a lack of data on the recovery by the subsequent crop of this N. There were some studies in Brazil using 15N in wheat crop at late 1960’s and early 70’s. These studies were carried out under a co-ordinated research project sponsored by International Atomic Energy Agency (IAEA) with the objective of studying the efficiency of different N sources (urea, ammonium sulphate and ammonium nitrate). Experiments were carried out in field conditions and allowed to conclude that the efficiency of the N utilization ranges from 5 to 27% with a quite similar response to all N sources, depending on the time of application (M URAOKA, 1973). Another study showed that the N fertilizer applied at seeding or at tillering stages yielded similar efficiency (BOARETTO, 1974). These results were obtained in wheat crops without irrigation. This work presents data of N dynamic in double crop wheat-soybean and soil fertilized with different rates of urea under irrigation. 2. MATERIAL AND METHODS The experimental site is located at the IAC research farm, Campinas, in São Paulo State (latitude = 22 o54’S and longitude = 47o05’W), 674 m above sea level. The soil of the experimental site is a Dark Red Latosol (Eutrudox), with a V=54%, high P and K contents and 28 g.kg-1 of organic matter. The previous crop grown in the experimental area was soybean. The experiments were conducted in 1995 and 1996, in two places of the same site. Treatments are shown in table 1, and rainfall and temperature variations on the site, in both years, are shown in table 2. Four replicates of each treatment were distributed in randomized blocks design. 267 Fate of N-urea applied to wheat-soybean sucession Table 1. Nitrogen rates and time of application to wheat crop in 1995 and 1996 1995 1996 Sowing Tillering (1) Sowing Tillering kg.ha-1 of N kg.ha-1 of N 0 0 0 0 10 * 20 * 15 30 20 * 40 * 30 * 60 * 30 * 60 ** 45 * 90 ** 40 * 80 * 60 120 * 15 N as urea was applied at sowing and at tillering in the different micro-plots. ** 15N as urea was applied at sowing and at tillering in the same micro-plots ( 1 ) 5-6 Feeks scale. Table 2. Rainfall and temperature during the wheat growing season Rainfall Month 1995 Lowest temperature 1996 1995 Highest temperature 1996 o mm 1995 1996 C June 33 40 12.6 11.1 24.8 25.3 July 20 5 14.1 11.1 25.8 24.7 August 1 27 15.1 14.0 29.1 28.6 September 69 159 15.4 15.6 27.8 26.6 October 174 163 16.6 17.5 27.1 28.6 Total 297 394 - - - - Urea, triple superphosphate and potassium chloride were applied at seeding of wheat (cultivar IAC 24) in the planting furrow under the seeds and part of urea was broadcast between the rows of plants at tillering stage. Labeled urea was applied at sowing and tillering stage (5-6 Feaks scale) in different microplots inside the plot. Many cultivars have been used in São Paulo State, but the IAC 24 was the predominant one in 70% of cultivated area in 1995 and 1996. The growth cycle of IAC 24 is around 130 days; it is aluminum tolerant and is recommended for both irrigated and non-irrigated conditions (I NSTITUTO A GRONÔMICO , 1996). The potential yield for this cultivar under irrigation is around 5.000 kg.ha-1 of grain. Sufficient water was supplied after sowing to almost saturate the soil from the surface up to 40 cm depth, following the recommendation for wheat crop. In both years irrigation took place whenever the tensiometers placed at 20 cm depth reached the value of 0.6 atm. The amount of supplied water was estimated by the amount of water evaporated from a class A tank and crop coefficient (Kc). Measurements of SPAD values were performed in 1995, using a chlorophyll meter were performed before N was top-dressed at tillering and at anthesis stages. At tillering and anthesis stages, the SPAD measurements were performed in the second leaves with visible sheath and in the leaf flag. N content was analyzed in above ground part of wheat at tillering and in the leaf flag at anthesis stages. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.265-274, 2004 268 A.E. Boaretto et al. After harvesting, plants were separated in straw and grain, dried at 65 oC and analyzed for total N and 15N. In the experiments of 1995 and 1996 the wheat straw was left over on the soil in the respective plots after the wheat harvest, and soybean (Cristalina cultivar) was sown to determine the amount of N absorbed by soybean from the fertilizer applied to wheat crop. At the end of the soybean cycle, samples of plants were harvested, dried at 65 oC, and analyzed for total N and 15N. For estimating N leaching during the wheat cycle, soil water content was monitored by mercury tensiometers installed at 20, 40, 90 and 110 cm soil depths. Soil water content, hydraulic gradient and drainage values were calculated for 50 and 100 cm soil depths. Soil solution was extracted from 50 and 100 cm of soil depths by porous ceramic cups, which were evacuated for approximately 2 hours, twice a week. The collected soil solutions were immediately placed in glass cups and deep-frozen. Details can be found in S P O L I D O R I O (1999). These samples were then analyzed for N as nitrate and ammonium (BREMNER, 1965 and B REMNER and K EENEY, 1966). Soil solution samples were prepared by micro-diffusion (BROOKS et al., 1989) and sent to IAEA Laboratory, Seibersdorf, Austria, for 15 N analysis. As the urea was broadcasted at tillering stage, the volatilization of ammonia was estimated. A semiopen static type collector was used to trap the ammonia volatilized from urea, which was calibrated according to L ARA C ABEZAS (1987) and LARA C ABEZAS and T R I V E L I N (1990). As the collector has a cap, whenever the irrigation took place, equivalent amount of water applied by irrigation was put inside the collectors, but the same number of replicates without irrigation inside the collectors were maintained with the aim of evaluating the effect of irrigation on ammonia volatilization. Wheat root system and soil were collected after wheat harvest in 1995 and before seeding of soybean (SPOLIDORIO , 1999) for estimating the N derived from fertilizer remained in soil. 3. RESULTS AND DISCUSSION 3.1 Yield of grain and straw The data on dry matter yields of straw and grain (12% of moisture) obtained in two years of Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.265-274, 2004 experimentation are shown in figure 1. The highest yield of grain in 1995 was obtained with the application of 92 kg ha -1 estimated by regression equation, but there was no effect of N application in 1996. In both years, 1995 and 1996, the yield of grain was higher than the São Paulo State average yield, which is lesser than 2 t.ha -1 . Although the grain yield in 1995 was lower than the genotype potential under irrigation, around 5 t. ha -1, which was almost reached in 1996. The difference on yield between the two years was probably due to the high temperatures (above 28 oC) occurred in 1995 during the ear formation stage and high insolation in this same year, reducing the IAC24 wheat cycle. Water content in soil surface was sufficient in both years (Figure 2). 3.2 Fate of 15N-urea Wheat recovery of applied 15N The recovery of applied N was high in both years (Tables 3 and 4). Wheat N recovery depends on the time of application of urea, among others factors (STRONG, 1995). In the present case, the urea applied broadcast at tillering stage promoted higher N use compared to applied at seeding, probably due to better synchronization of applied N with the wheat requirement for this nutrient. Similar results were obtained by many others authors (IAEA, 2000; RECOUS et al., 1998ab) Loss of N by ammonia volatilization from applied urea Urea was applied broadcast at tillering stage, between the plant rows, without incorporation into the soil. The amount of volatilized N depends on the rate of urea application and irrigation. The values ranged from 2.8 to 4.8 kg.ha -1 when irrigation followed the fertilization (Figure 3), but these data increased threefold without irrigation. Considering the collector efficiency, according to LARA CABEZAS and TRIVELIN (1990), about 13% (with irrigation) and 39% (without irrigation) of the total N-urea applied at tillering stage were volatilized as ammonia (Figure 4). RECOUS et al. (1988a) estimated a N loss of 3.1 kg.ha-1 when urea was applied diluted in water on soil surface cultivated with a wheat crop using a hand-sprayer and trapped the volatilized urea using a closed PVC cylinders. However the authors commented that the closed-chamber technique used creates artificial conditions which could either underestimate or overestimate the true losses of NH 3 from urea. 269 Fate of N-urea applied to wheat-soybean sucession STRAW GRAIN 1995 6000 2 kg ha -1 y = -0.069x + 17.34x + 4040.4 R2 = 0.97 5000 4000 2 y = -0.092x + 17.01x + 3198.3 R2 = 0.90 3000 0 30 60 90 120 135 180 -1 N (kg ha ) 1996 kg ha -1 6000 5000 4000 3000 0 45 90 N (kg ha-1) Figure 1. Effect of N rates on wheat straw and grain yield in 1995 and 1996. 0.35 1995 3 -3 WATER CONTENT (cm cm ) 1996 0.30 0.25 0.20 6/18 7/2 7/16 7/30 8/13 8/27 9/10 9/24 10/8 10/22 11/5 Figure 2. Soil water content at Z r = 50 cm. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.265-274, 2004 270 A.E. Boaretto et al. Table 3. Wheat recovery of N from urea applied at sowing and tillering - 1995 Wheat 15N recovery from applied urea Time of application Sowing Tillering Straw N rate (kg. ha-1) Grain kg.ha-1 % kg.ha-1 Total % 10* 20* 4.4 15 18.0 60 75 20* 40* 9.4 16 33.7 56 72 30* 60* 15.7 17 53.1 59 76 40* 80* 19.3 16 63.6 53 69 * 15 N-urea. Table 4. Wheat recovery of N from urea applied at sowing and tillering - 1996 Wheat 15N recovery from applied urea Time of application Sowing Tillering Straw N rate (kg.ha-1) Grain kg.ha-1 % kg.ha-1 Total % 30* 60 4.4 15 11,1 37 52 45* 90 9.0 20 15.7 35 55 30 60* 12.5 21 38.7 64 85 45* 90* 31.5 23 74.9 56 79 15 N-urea. 18 60 kg/ha, with irrigation 60 kg/ha, without irrigation 90 kg/ha, with irrigation 90 kg/ha, without irrigation 16 NVf (kg ha-1) 14 12 10 8 6 4 2 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 DAYS AFTER N FERTILIZATION Figure 3. Cumulative N loss by ammonia volatilization from applied urea (NVf) in 1996. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.265-274, 2004 Fate of N-urea applied to wheat-soybean sucession 271 35 60 kg/ha, with irrigation 60 kg/ha, without irrigation 90 kg/ha, with irrigation 90 kg/ha, without irrigation NVf (kg ha-1) 30 25 20 15 10 5 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 DAYS AFTER N FERTILIZATION Figure 4. Cumulative N loss by ammonia volatilization from applied urea (NVf), considering the collector efficiency, in 1996. N leaching Nitrates in soil can be leached below the root zone together with percolating water. The quantity of water, which percolates through the soil surface and rate of applied N determine the amount of fertilizer N that can be leached within any system. The wheat was sown in June and harvested in October, months with low rainfall. The amount of supplied water was controlled to moisten only the root zone. It is expected that such a procedure would not cause nitrate leaching below the root zone. The result of cumulative loss of nitrate at 50 cm soil depth confirms that less than 1 kg ha -1 of N was lost from root zone. Only a small portion (90 g.ha -1) of it was derived from applied urea, which is around 1% of total applied N (figure 5). The data obtained from the experiment carried out in 1996 corroborated the previous year data. As these data were obtained from the plot, which received 135 kg.ha-1 of N, the N loss by leaching would be much lower in the normal crop when less than 120 kg.ha-1 of N is applied. RECOUS et al. (1988a) found a negligible amount of N leached from fertilizer in a deep loamy soil. Residual 15N from applied urea in wheat root system and in the different layers of soil The amount of N, derived from urea, that remained in the wheat root system after the harvest, for the treatment of 90 kg.ha-1 of N as urea, in the experiment carried out in 1995, is shown in Table 5. It was less than 3% of the applied N. In the soil without roots it was found around 20% of total applied N (Table 6). As it was expected (STRONG t, 1995), the largest portion of residual N from applied urea was recovered in surface layer (0-15 cm) of soil. N recovery by soybean growing after wheat The wheat straw, which remained on soil after the harvest of grain, contained 25 kg.ha -1 of N, part of it derived from N applied as urea (around 16 kg.ha1 , in the treatment which received 90 kg.ha-1 of N at 1995 experiment). The amount of N applied to wheat, which remained in the plots, was around 36.5 kg.ha-1. This value, which corresponds to 40% of total applied N, can be estimated adding the amount of N remained in soil (table 5) plus the amount of N in the wheat root (table 6) and straw. Soybean recovered around 1.5 kg ha -1 of this N, only less than 2% of applied N to wheat or less than 4% of N from the applied urea which remained in the soil. Similar results were obtained in the 1996 experiment (table 7). According to S TRONG (1995), recovery of residual N by the crops rarely exceeds 5% of the N originally applied to the previous crop. There are no reports in the literature on the recovery of N from fertilizer applied in wheat crop by soybean crop grown in succession. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.265-274, 2004 272 A.E. Boaretto et al. Table 5. Residual N remained in wheat root system after the harvest. (Means of treatment of 90-kg.ha-1 of 15N in 1995) Depth Root dry matter 15 N -1 -1 N Recovery -1 cm kg.ha 0-5 2,860 35 5-10 1,113 13 270 0.3 kg.ha g.ha % 2,170 2.4 20-40 135 1 50 <0.1 40-60 153 1 40 <0.1 >60 102 <1 20 <0.1 Table 6. Residual N remained in soil after the wheat harvest. (Means of treatment of 90-kg.ha-1 of 15N in 1995) 15 Depth cm N g ha Recovery -1 % 0-5 6,800 7.6 5-15 4,200 4.7 15-30 1,300 1.4 30-60 2,800 3.1 >60 2,900 3.2 18,000 20.0 Total Table 7. Soybean N recovery from residual 15N-urea applied to wheat Time of application in wheat crop Sowing Tillering kg.ha -1 N Recovery 15 N-urea g.ha Shoot -1 Root % 30 60* 1,690 3 - 45* 90* 6,430 5 <1 * 15 N. 3.3 Plant analysis for N recommendation to wheat Nitrogen fertilization of wheat is performed in São Paulo State, part at sowing and part at tillering stage, using information of the previous crop. The methods of testing soil available N to detect previously possible response of wheat to N fertilization have proved not be useful (RAIJ et al., 1997). Plant analysis of above ground parts of wheat for determination of N concentration and SPAD values Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.265-274, 2004 should be performed in samples collected at early stages of development, at least at tillering stage, to be useful for N fertilization. Data obtained from the experiments in 1995 (table 8) and 1996 showed no correlation between N fertilization and N concentration or SPAD values at tillering stage. Data from VIDAL et al. (1999) corroborate with the present results showing that the chlorophyll meter may not be effective in predicting N deficiency at tillering stage. 273 Fate of N-urea applied to wheat-soybean sucession Table 8. N (means of 4 replicates) and SPAD values (means of 100 replicates) at tillering and anthesis stages - 1995 Sowing Tillering -1 N rate (kg.ha ) Tillering N, g.kg -1 Anthesis SPAD N. g kg -1 SPAD 0 0 33.1 35.73 19.0 43.73 10 20 34.4 36.10 29.1 45.55 20 40 35.4 35.58 25.6 45.65 30 60 34.3 35.58 27.3 46.18 40 80 36.5 35.70 36.4 46.50 4. CONCLUSIONS 1. The wheat response to N fertilization can not be predicted by soil or tissue analysis. The optimization of the N fertilizer applied in irrigated wheat can be reached by improving the N recovery and minimizing its possible losses. 2. To optimize the N recovery a major portion of N fertilizer should be applied at the tillering stage. In condition of São Paulo State the main loss of N occurs through ammonia volatilization from urea applied broadcast. For minimizing this loss, irrigation should be done immediately after the N fertilization. Loss of nitrate from N fertilizer by leaching beyond the root zone is very small when irrigation is technically controlled, even when N rates applied are beyond the wheat demands. Less than 5% of residual N in the soil was recovered by soybean grown after wheat. ACKNOWLEDGMENT To IAEA - International Atomic Energy Agency, for the financial support (project: 8087/RB). REFERENCES BOARETTO, A.E. Efeitos de fontes e modos de distribuição de nitrogênio (15N) na cultura do trigo (Triticum aestivum L.). 1974. 73f. Dissertação (Mestrado em Solos e Nutrição de Plantas) Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”-USP, Piracicaba. BREMNER, J.M. Total nitrogen. 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Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.63 no.2 Campinas 2004 FITOTECNIA Comportamento do cafeeiro Apoatã em consórcio com culturas anuais Behavior of coffee intercropped with annual crops Edison Martins PauloI, III; Ronaldo Severiano BertonII; José Carlos CavichioliI; Francisco Seiiti KasaiI IPólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios da Alta Paulista/DDD/APTA, Caixa Postal 191, 17800-000 Adamantina (SP) IICentro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e de Recursos Ambientais/IAC/APTA, Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP) IIIPós-graduando em Agronomia, Área de Sistema de Produção, UNESP, Ilha Solteira. Email: [email protected] RESUMO Estudou-se no Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios da Alta Paulista, em Adamantina, SP, no período de 1989 a 1993 o comportamento do cafeeiro cv. Apoatã IAC 2258 (Coffea canephora Pierre ex Froehner), consorciado com espécies anuais cultivadas no verão. Adotou-se o delineamento estatístico de blocos ao acaso com cinco repetições. Os tratamentos consistiram de culturas de algodão (Gossypium hirsutum L.) var. IAC 20; amendoim (Arachis hypogaea L.) var. Tatu; arroz (Oryza sativa L.) var. IAC 165; mamona (Ricinus communis L.) var. Guarani e milho (Zea mays L.) var. IAC 100-B, semeadas a 50 cm da projeção da copa das plantas de café, e uma testemunha sem cultura intercalar. Avaliaram-se no período experimental a produtividade, a altura e o diâmetro do caule dos cafeeiros e a fitomassa e a produção das culturas intercalares. Os resultados mostraram que o consórcio do cafeeiro com as plantas de mamona, milho, algodão e amendoim diminuíram significativamente a produção de café em coco, mas não a altura e o diâmetro do caule do cafeeiro. A produção de café foi inversamente correlacionada com a produção de fitomassa das culturas intercalares. Palavras-chave: Coffea canephora, cultura intercalar, produção, crescimento. ABSTRACT This study was conducted in Adamantina, region of Alta Paulista, São Paulo State, Brazil, from 1989 to 1993. Yield of Apoatã coffee (Coffea canephora Pierre ex Froehner) was evaluated during four years of intercropping with five plant species: IAC 20 - cotton (Gossypium hirsutum L.); cv. Tatu - peanut (Arachis hypogaea L.); IAC 165 - rice (Oryza sativa L.); cv. Guarani - castor bean (Ricinus communis L.) and IAC 100-B - corn (Zea mays L.). The crops were seeded 50 cm apart from coffee canopy. The treatments were arranged in randomized complete block design with five replications. Yield was significantly decreased when coffee was intercropped with castor bean, corn, cotton and peanut, but height and diameter of orthotropic branches were not affected. Linear correlation analysis showed that coffee yield was inversely correlated with the dry biomass of the intercrops. Key words: Coffea canephora, yield, growth. 1. INTRODUÇÃO Pequenas e médias propriedades freqüentemente cultivam plantas anuais entre as linhas da cultura de café com baixa densidade de plantio, obtendo maior uso do solo durante a fase de formação da lavoura. Os aspectos positivos resultantes da adoção dessa prática consistem na redução dos custos, na fixação da mão-de-obra na propriedade rural, na conservação (MELLES e SILVA, 1978, INSTITUTO BRASILEIRO DO CAFÉ, 1985, CHAVES e GUERREIRO, 1989) e no uso mais intensivo do solo, na diversificação de culturas, na proteção contra ventos (MELLES e SILVA, 1978), contribuindo para a produção de alimentos (CHAVES e GUERREIRO, 1989). Contudo, as dificuldades de mecanização e de execução dos tratos fitossanitários, a concorrência das culturas intercalares por água, nutrientes e luz, com a conseqüente redução no crescimento e produção dos cafeeiros (MELLES e SILVA, 1978), tornam controvertida a recomendação de culturas intercalares em cafezais. Culturas intercalares podem ser empregadas na fase de formação do cafeeiro até o terceiro ano da lavoura (CHAVES, 1977, MELLES et al., 1979; 1985, INSTITUTO BRASILEIRO DO CAFÉ, 1985), devendo-se evitar o consórcio após o início da produção de café (INSTITUTO BRASILEIRO DO CAFÉ, 1979). As plantas de porte alto, principalmente as de ciclo longo como mamona e mandioca e, em menor escala, algodão e milho, reconhecidamente, diminuem a produção do cafeeiro (MORAES et al., 1967; CHAVES, 1984, INSTITUTO BRASILEIRO DO CAFÉ, 1985, CHAVES e GUERREIRO, 1989). Entretanto, dependendo da espécie, do ciclo (CHAVES e GUERREIRO, 1989), das adubações e do manejo das culturas envolvidas (MELLES et al., 1985) o sistema pode ser implantado mesmo em lavouras de café adultas. O cafeeiro Apoatã IAC 2258 (Coffea canephora Pierre ex Froehner) é produtivo e apresenta tolerância aos nematóides, à ferrugem e ao bicho mineiro, podendo ser utilizado como porta-enxerto na produção do café arábica (Coffea arabica L.) (VEGRO et al., 1996). A importância socioeconômica dessa cultivar é evidente posto que, devido a sua característica de tolerância aos nematóides, viabilizou o retorno da cafeicultura às regiões da Alta Paulista, Noroeste e Alta Araraquarense. Além disso, pode ser cultivado como pé franco em regiões marginais para o café arábica, como na Região Oeste do Estado de São Paulo e no Vale do Ribeira, produzindo matéria-prima para a indústria de café solúvel (FAZUOLI et al., 1999). Contudo, o plantio de Coffea canephora consorciado com culturas anuais não foi estudado nas condições paulistas. O presente trabalho objetivou investigar o comportamento da cultivar Apoatã IAC 2258, submetida ao plantio consorciado com espécies de verão, em Adamantina (SP). 2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado no Pólo Regional de Desenvolvimento de Tecnologia dos Agronegócios da Alta Paulista, no período de 1989 a 1993, em Adamantina (SP), com o cafeeiro Apoatã IAC 2258, em Latossolo Vermelho, eutrófico típico, textura média, A moderado (PRADO et al., 2003), cujas características químicas estão apresentadas na Tabela 1. Adotou-se o delineamento de blocos ao acaso com seis tratamento e cinco repetições. Os tratamentos constituíram de culturas de algodão (Gossypium hirsutum L.) var. IAC 20; amendoim (Arachis hypogaea L.) var. Tatu; arroz (Oryza sativa L.) var. IAC 165; mamona (Ricinus communis L.) var. Guarani e milho (Zea mays L.) var. IAC 100-B, semeadas entre as linhas dos cafeeiros e uma testemunha sem cultura intercalar. A parcela experimental contou com 16 covas com dois cafeeiros cada uma, dispostas em quatro linhas, no espaçamento de 4,0 x 2,0 m, adubadas no plantio com 45 g de P2O5 e 18 g de K2O, respectivamente, na forma de superfosfato simples e de KCl. As culturas intercalares foram estabelecidas anualmente no período de 1989/90 até 1992/93, a 50 cm da projeção da copa dos cafeeiros, utilizando-se os espaçamentos de 1,0 m entre as linhas das plantas de algodão, milho e mamona e de 0,5 m para as de amendoim e arroz. As épocas de semeadura, densidade de plantio e os tratos culturais seguiram a recomendação técnica para cada cultura (PEDRO JÚNIOR et al., 1987), exceto para algodão e amendoim, que foram semeados em 30/11/1992. As doses de adubação das culturas em cada ano da experimentação encontram-se na Tabela 2. No período experimental, avaliou-se a produção de café em coco nas quatro covas centrais de cada parcela; em julho de 1993, determinaram-se a altura e o diâmetro do caule dos cafeeiros a 30 cm do solo. A fitomassa das culturas intercalares foi obtida no momento da colheita, coletando-se as plantas em quatro pontos amostrais de 0,5 m cada um, marcados ao acaso nas linhas de semeadura e na área útil das parcelas, determinando-se a massa das plantas amostradas depois de secas ao ar por um período de 20 dias. Anualmente, coletaram-se amostras de solo nas entrelinhas do cafeeiro, à profundidade de 0-20 cm, para fins de análise de fertilidade, segundo o método descrito por RAIJ e QUAGGIO (1983). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO No primeiro triênio, excetuando-se o arroz, as demais culturas intercalares diminuiram a produtividade do cafeeiro Apoatã IAC 2258, em relação ao tratamento testemunha, observando-se a seguinte ordem decrescente na produção dos cafeeiros: mamona < algodão = milho < amendoim = arroz (Tabela 3). Estudos têm mostrado que a produção e o crescimento do cafeeiro são diminuídos pelas culturas de algodão e milho (MENDES, 1950; CHAVES, 1978; 1984; CHAVES e GUERREIRO, 1989) mas não por culturas de porte baixo, como a de arroz e feijoeiro (CHEBABI et al., 1984, MELLES et al., 1985 e CHAVES e GUERREIRO, 1989). Os resultados têm possível explicação na maior capacidade de competição das plantas intercalares de porte alto com os cafeeiros, pelos recursos do meio, comparativamente com as de porte baixo. Constata-se que culturas de porte alto, principalmente as de ciclo longo como mamona, e em menor escala, algodão e milho, influenciam negativamente na produção do cafeeiro devido à maior concorrência por água, nutrientes e luz (INSTITUTO BRASILEIRO DO CAFÉ, 1985). No período experimental, a maior quantidade de fitomassa foi produzida pela cultura de mamona, seguida de milho, algodão, arroz, e amendoim (Tabela 4), havendo correlação negativa entre a fitomassa e a produtividade do cafeeiro (r = -0,74). A tendência em diminuir a produção apresentada pelo cafeeiro ao ser submetido a quantidades crescentes de fitomassa (Figura 1) nas entrelinhas da lavoura deve-se, provavelmente, às quantidades de água e nutrientes do solo extraídas proporcionalmente à matéria seca acumulada pelas plantas intercalares. As plantas de porte alto, além de acumularem maior quantidade de fitomassa, também projetam sobre os cafeeiros maior área de sombra que as de porte baixo, o que explica os resultados, pois, de acordo com RENA e MAESTRI (1987), o sombreamento provavelmente diminui a razão C/N, inibindo a formação das gemas florais no cafeeiro. Os resultados obtidos do consórcio do cafeeiro com a cultura do arroz não confirmam aqueles em que o arroz provocou diminuição (MENDES, 1950) ou aumento de 30% na produção de café (CHAVES, 1978). A produtividade de arroz, amendoim e algodoeiro, em 1990 e 1993, foi inferior à média do Estado de São Paulo (INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA, 1994) (Tabela 5). A menor produtividade dessas culturas intercalares em relação à média estadual pode ser atribuída à competição dos cafeeiros. No primeiro ano, as culturas intercalares apresentam produção satisfatória (CHAVES e GUERREIRO, 1989) e, embora o milho produza regularmente, a produtividade do algodoeiro e do arroz é prejudicada pelo cafeeiro (MENDES, 1950). Excetuando-se a mamoneira, no primeiro ano do estudo, a produtividade das culturas intercalares foi a menor do período experimental, provavelmente devido às condições climáticas inadequadas e dificuldades de aplicação dos tratos culturais. As culturas intercalares não diminuíram a altura, bem como o diâmetro do caule do cafeeiro comparativamente à testemunha (Tabela 6). Verifica-se que a cultura do arroz não altera essas variáveis no cafeeiro, enquanto o milho diminui o diâmetro e o algodoeiro, a altura e o diâmetro do caule (Chaves, 1977). O resultado da análise das amostras de solo coletadas em 1993 (Tabela 7) mostrou que nenhuma das culturas intercalares alterou os teores de potássio e de matéria orgânica, o pH ou a CTC do solo. Cabe salientar que a CTC do solo poderia variar caso fossem alterados os valores de pH e de matéria orgânica pelos tratamentos. Comparativamente ao solo não cultivado, a cultura do milho reduziu o teor de cálcio, enquanto as culturas de algodão, arroz e milho diminuíram as quantidades de magnésio e a saturação por bases do solo, além de elevar os índices de H + Al. Os resultados mostram a elevada capacidade das culturas intercalares para removerem nutrientes do solo, competindo assim por esses recursos do meio com o cafeeiro. Vale ressaltar que a calagem deve ser prática usual para as culturas intercalares, pois nenhum tratamento atingiu a saturação por bases recomendada para o bom desenvolvimento das plantas, ou seja, 50% para a cultura do arroz, 60% para a do amendoim e a da soja e 70% para a do algodão e a do milho (RAIJ et al., 1996). A variação observada para o fósforo nas culturas de algodão, amendoim e arroz, provavelmente, foi devido às quantidades do fertilizante mineral adicionadas para a suplementação desse nutriente no solo maior que às exportadas pelas culturas, explicando o aumento do teor do elemento no solo. 4. CONCLUSÕES 1. O cultivo intercalar do arroz não reduz a produtividade do cafeeiro Apoatã IAC 2258 na fase de formação. 2. As culturas intercalares de algodão, amendoim, arroz, mamona e milho diminuem a produtividade, mas não a altura e o diâmetro do caule do cafeeiro Apoatã IAC 2258. REFERÊNCIAS CHAVES, J.C.D. Culturas intercalares na formação de lavouras cafeeiras. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 5., 1977, Guarapari. Resumos... Rio de Janeiro: IBC-GERCA, 1977. p.54-59. CHAVES, J.C.D. Culturas intercalares em lavouras cafeeiras. In: ENCONTRO SOBRE A CAFEICULTURA PARANAENSE, 1984, Londrina.... Londrina: IAPAR – ACARPA – S.A. do Paraná – SEAG – IBA, 1984. p.78-81. CHAVES, J.C.D. Estudos de culturas intercalares em cafezais recepados e em formação. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 6., 1978, Ribeirão Preto. Resumos... Rio de Janeiro: IBC-GERCA, 1978. p.125-127. CHAVES, J.C.D.; GUERREIRO, E. Culturas intercalares em lavouras cafeeiras. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.24, n.2, p.177-190, 1989. CHEBABI, M.A.A.; BARTHOLO, G.F.; DUARTE, C.S.; CARVALHO, M.M. Influência da competição nutricional de culturas anuais (arroz, milho, feijão e soja) no desenvolvimento do cafeeiro (Coffea arabica, L.). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 11., 1984, Londrina. Resumos... Rio de Janeiro, IBC-GERCA, 1984. p.154. FAZUOLI, L.C.; MEDINA FILHO, H.P.; GUERREIRO FILHO, O.; GONÇALVES, W. SILVAROLLA, M.B.; LIMA, M.M.A.de; CARVALHO, A. Cultivares de café. Campinas: Instituto Agronômico, 1999. (fôlder) INSTITUTO BRASILEIRO DO CAFÉ. Cultura do café no Brasil: Manual de recomendações. Rio de Janeiro: IBC/GERCA, 1979. 312p. INSTITUTO BRASILEIRO DO CAFÉ . Culturas intercalares. In: CULTURA do café no Brasil: Manual de recomendações. Rio de Janeiro: IBC/GERCA, 1985. p.189-194. INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Prognóstico Agrícola 1994/95: Mercado de Produtos. Informações Econômicas, São Paulo, v.24, n.9,p.42-81, 1994. MELLES, C.C.A.; CHEBABI, M.A.A.; NACIF, A.de P.; GUIMARÃES, P.T.G Culturas intercalares em lavouras cafeeiras nas fases de formação e produção. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.11, n.126, p.65-68, 1985. MELLES, C.C.A.; GUIMARÃES, P.T.G.; NACIF, A.P.; SILVA, C.M.; CARVALHO, M.M.; ANDRADE, M.A.. Efeito de culturas intercalares na formação do cafeeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 7., 1979, Araxá. Resumos... Rio de Janeiro: IBC-GERCA, 1979. p.174-175. MELLES, C.C.A.; SILVA, C.M. Culturas intercalares. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.4, n.44, p.70-71, 1978. MENDES, J.E.T. Culturas intercalares em cafezais. Boletim da Superintendência Serviços Café, São Paulo, v.25, n.281, p.498-504. 1950. MORAES, M.V.; FIGUEIREDO, J.I.; LAZZARINI, V.; MORAES, F.R.P.; BRILHO, C.C.; TOLEDO, S.V.; VIANNA, A.C.C. Ensaios de culturas intercalares. In: LAZZARINI et al. Experimentação cafeeira: 1929-1963. Campinas: Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo/Instituto Agronômico, 1967. p.90-94. PEDRO JÚNIOR, M.J.; BULISANI, E.A.; POMMER, C.V.; PASSOS, F.A.; GODOY, I.J.; ARANHA, C. Instruções agrícolas para o Estado de São Paulo. 4.ed. Campinas, Instituto Agronômico, 1987. 231p. PRADO, H.; TREMOCOLDI, W.A.; MENK, J.R.F. Levantamento pedológico detalhado do Núcleo de Agronomia da Alta Paulista, Adamantina, SP. Campinas: Instituto Agronômico, 2003. 27p. (Série Pesquisa APTA. Boletim Científico, 10). RAIJ, B. van; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J.A.; FURLANI, A.M.C. Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. 2.ed. Campinas: Instituto Agronômico & Fundação IAC, 1996. 285p. (IAC, Boletim Técnico, 100) RAIJ, B. van; QUAGGIO, J.A. Métodos de análises de solos para fins de fertilidade. Campinas: Instituto Agronômico, 1983. 31p. (IAC, Boletim Técnico, 81) RENA, A.B.; MAESTRI, M. Ecofisiologia do cafeeiro. In: CASTRO, R.C.; FERREIRA, S.O.; YAMADA, T. (Eds). Ecofisiologia do cafeeiro. Piracicaba: Associação Brasileira para Pesquisa da Potassa e do Fosfato, 1987. p.119-147. VEGRO, C.L.R.; CAMARGO, A.P. de; OLIVEIRA, E.G. de, MORICOCHI, L.; MARTIN, N.B.; THOMAZIELLO, R.A. Café Robusta: uma alternativa para a cafeicultura paulista. Informações Econômicas, São Paulo, v.26, n.7, p.66-70, 1996. Recebido para publicação em 31 de março de 2003 e aceito em 20 de fevereiro de 2004 Cafeeiro Apoatã em consórcio com culturas anuais 275 FITOTECNIA COMPORTAMENTO DO CAFEEIRO APOATÃ EM CONSÓRCIO COM CULTURAS ANUAIS EDISON MARTINS PAULO(2,4); RONALDO SEVERIANO BERTON(3); JOSÉ CARLOS CAVICHIOLI(2); FRANCISCO SEIITI KASAI(2) RESUMO Estudou-se no Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios da Alta Paulista, em Adamantina, SP, no período de 1989 a 1993 o comportamento do cafeeiro cv. Apoatã IAC 2258 (Coffea canephora Pierre ex Froehner), consorciado com espécies anuais cultivadas no verão. Adotou-se o delineamento estatístico de blocos ao acaso com cinco repetições. Os tratamentos consistiram de culturas de algodão (Gossypium hirsutum L.) var. IAC 20; amendoim (Arachis hypogaea L.) var. Tatu; arroz (Oryza sativa L.) var. IAC 165; mamona (Ricinus communis L.) var. Guarani e milho (Zea mays L.) var. IAC 100-B, semeadas a 50 cm da projeção da copa das plantas de café, e uma testemunha sem cultura intercalar. Avaliaram-se no período experimental a produtividade, a altura e o diâmetro do caule dos cafeeiros e a fitomassa e a produção das culturas intercalares. Os resultados mostraram que o consórcio do cafeeiro com as plantas de mamona, milho, algodão e amendoim diminuíram significativamente a produção de café em coco, mas não a altura e o diâmetro do caule do cafeeiro. A produção de café foi inversamente correlacionada com a produção de fitomassa das culturas intercalares. Palavras-chave: Coffea canephora, cultura intercalar, produção, crescimento. ABSTRACT BEHAVIOR OF COFFEE INTERCROPPED WITH ANNUAL CROPS This study was conducted in Adamantina, region of Alta Paulista, São Paulo State, Brazil, from 1989 to 1993. Yield of Apoatã coffee (Coffea canephora Pierre ex Froehner) was evaluated during four years of intercropping with five plant species: IAC 20 - cotton (Gossypium hirsutum L.); cv. Tatu - peanut (Arachis hypogaea L.); IAC 165 - rice (Oryza sativa L.); cv. Guarani - castor bean (Ricinus communis L.) and IAC 100-B - corn (Zea mays L.). The crops were seeded 50 cm apart from coffee canopy. The treatments were arranged in randomized complete block design with five replications. Yield was significantly decreased when coffee was intercropped with castor bean, corn, cotton and peanut, but height and diameter of orthotropic branches were not affected. Linear correlation analysis showed that coffee yield was inversely correlated with the dry biomass of the intercrops. Key words: Coffea canephora, yield, growth. ( 1) Recebido para publicação em 31 de março de 2003 e aceito em 20 de fevereiro de 2004. (2) Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios da Alta Paulista/DDD/APTA, Caixa Postal 191, 17800-000 Adamantina (SP). ( 3) Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Solos e de Recursos Ambientais/IAC/APTA, Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP). ( 4) Pós-graduando em Agronomia, Área de Sistema de Produção, UNESP, Ilha Solteira. E-mail: [email protected] Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.275-281, 2004 276 E.M. Paulo et al. 1. INTRODUÇÃO Pequenas e médias propriedades freqüentemente cultivam plantas anuais entre as linhas da cultura de café com baixa densidade de plantio, obtendo maior uso do solo durante a fase de formação da lavoura. Os aspectos positivos resultantes da adoção dessa prática consistem na redução dos custos, na fixação da mão-de-obra na propriedade rural, na conservação (M ELLES e S ILVA , 1978, INSTITUTO B RASILEIRO do CAFÉ , 1985, C HAVES e GUERREIRO , 1989) e no uso mais intensivo do solo, na diversificação de culturas, na proteção contra ventos (MELLES e S ILVA , 1978), contribuindo para a produção de alimentos (C HAVES e GUERREIRO, 1989). Contudo, as dificuldades de mecanização e de execução dos tratos fitossanitários, a concorrência das culturas intercalares por água, nutrientes e luz, com a conseqüente redução no crescimento e produção dos cafeeiros (M ELLES e S ILVA , 1978), tornam controvertida a recomendação de culturas intercalares em cafezais. Culturas intercalares podem ser empregadas na fase de formação do cafeeiro até o terceiro ano da lavoura (C HAVES , 1977, M ELLES et al., 1979; 1985, INS TITUTO B RASILEIRO do C AFÉ , 1985), devendo-se evitar o consórcio após o início da produção de café (INSTITUTO B RASILEIRO do C AFÉ , 1979). As plantas de porte alto, principalmente as de ciclo longo como mamona e mandioca e, em menor escala, algodão e milho, reconhecidamente, diminuem a produção do cafeeiro (M ORAES et al., 1967; CHAVES , 1984, INSTITUTO B RASILEIR O do C A F É , 1985, C H A V E S e G U E R R E I R O , 1989). Entretanto, dependendo da espécie, do ciclo (C HAVES e G UERREIRO , 1989), das adubações e do manejo das culturas envolvidas (M ELLES et al., 1985) o sistema pode ser implantado mesmo em lavouras de café adultas. O cafeeiro Apoatã IAC 2258 (Coffea canephora Pierre ex Froehner) é produtivo e apresenta tolerância aos nematóides, à ferrugem e ao bicho mineiro, podendo ser utilizado como porta-enxerto na produção do café arábica (Coffea arabica L.) (V EGRO et al., 1996). A importância socioeconômica dessa cultivar é evidente posto que, devido a sua característica de tolerância aos nematóides, viabilizou o retorno da cafeicultura às regiões da Alta Paulista, Noroeste e Alta Araraquarense. Além disso, pode ser cultivado como pé franco em regiões marginais para o café arábica, como na Região Oeste do Estado de São Paulo e no Vale do Ribeira, produzindo matéria-prima para a indústria de café solúvel (F AZUOLI et al., 1999). Contudo, o plantio de Coffea canephora consorciado com culturas anuais não foi estudado nas condições paulistas. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.275-281, 2004 O presente trabalho objetivou investigar o comportamento da cultivar Apoatã IAC 2258, submetida ao plantio consorciado com espécies de verão, em Adamantina (SP). 2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado no Pólo Regional de Desenvolvimento de Tecnologia dos Agronegócios da Alta Paulista, no período de 1989 a 1993, em Adamantina (SP), com o cafeeiro Apoatã IAC 2258, em Latossolo Vermelho, eutrófico típico, textura média, A moderado (P R A D O et al., 2003), cujas características químicas estão apresentadas na Tabela 1. Adotou-se o delineamento de blocos ao acaso com seis tratamento e cinco repetições. Os tratamentos constituíram de culturas de algodão (Gossypium hirsutum L.) var. IAC 20; amendoim (Arachis hypogaea L.) var. Tatu; arroz (Oryza sativa L.) var. IAC 165; mamona (Ricinus communis L.) var. Guarani e milho (Zea mays L.) var. IAC 100-B, semeadas entre as linhas dos cafeeiros e uma testemunha sem cultura intercalar. A parcela experimental contou com 16 covas com dois cafeeiros cada uma, dispostas em quatro linhas, no espaçamento de 4,0 x 2,0 m, adubadas no plantio com 45 g de P2O5 e 18 g de K2O, respectivamente, na forma de superfosfato simples e de KCl. As culturas intercalares foram estabelecidas anualmente no período de 1989/90 até 1992/93, a 50 cm da projeção da copa dos cafeeiros, utilizando-se os espaçamentos de 1,0 m entre as linhas das plantas de algodão, milho e mamona e de 0,5 m para as de amendoim e arroz. As épocas de semeadura, densidade de plantio e os tratos culturais seguiram a recomendação técnica para cada cultura (P EDRO J ÚNIOR et al., 1987), exceto para algodão e amendoim, que foram semeados em 30/11/1992. As doses de adubação das culturas em cada ano da experimentação encontram-se na Tabela 2. No período experimental, avaliou-se a produção de café em coco nas quatro covas centrais de cada parcela; em julho de 1993, determinaram-se a altura e o diâmetro do caule dos cafeeiros a 30 cm do solo. A fitomassa das culturas intercalares foi obtida no momento da colheita, coletando-se as plantas em quatro pontos amostrais de 0,5 m cada um, marcados ao acaso nas linhas de semeadura e na área útil das parcelas, determinando-se a massa das plantas amostradas depois de secas ao ar por um período de 20 dias. Anualmente, coletaram-se amostras de solo nas entrelinhas do cafeeiro, à profundidade de 0-20 cm, para fins de análise de fertilidade, segundo o método descrito por RAIJ e QUAGGIO (1983). 277 Cafeeiro Apoatã em consórcio com culturas anuais Tabela 1. Resultados da análise química do solo anterior à implantação da lavoura de café e das culturas intercalares Tratamentos P mg.dm M.O. 3 g.dm ph K Ca Mg 3 S.B. mmol.dm H+Al T V -3 % Algodão 11 19 5,0 3,5 9,2 6,2 18,9 17,0 36,0 52 Amendoim 7 17 5,0 3,9 9,2 6,2 19,3 16,6 35,8 53 Arroz 10 17 5,0 3,9 9,8 6,6 20,3 17,8 38,4 53 Mamona 8 17 4,9 3,3 9,2 6,0 18,5 16,6 35,0 52 Milho 8 17 4,9 3,3 9,2 6,4 18,9 17,6 36,6 52 Testemunha 8 16 4,8 3,4 8,0 5,6 17,0 18,0 35,0 49 0,58 ns 2,13 ns 1,69 ns 1,23 ns 0,85 ns 1,03 ns 1,26 ns 2,12 ns 1,65 ns 0,99 ns 50,53 9,76 2,14 15,97 15,70 12,31 12,38 5,47 6,12 7,35 F C.V. (%) ns: não significativo. Tabela 2. Doses de nitrogênio, fósforo e potássio fornecidas ao cafeeiro e às culturas intercalares durante o período experimental Culturas N P2O5 intercalares K2O Ano agrícola 89 90 91 92 89 90 91 92 89 90 91 92 kg.ha -1 Algodão 60 70 75 66 72 80 60 67 20 42 40 58 - 17 - - 54 60 40 40 10 34 10 10 Arroz 60 67 70 80 36 50 20 40 - 27 - - Café 20 25 100 100 63 4 62 25 23 15 95 50 Mamona 60 69 75 71 54 70 40 40 20 37 20 20 Milho 60 69 75 77 45 65 30 50 20 35 20 27 Amendoim 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO No primeiro triênio, excetuando-se o arroz, as demais culturas intercalares diminuiram a produtividade do cafeeiro Apoatã IAC 2258, em relação ao tratamento testemunha, observando-se a seguinte ordem decrescente na produção dos cafeeiros: mamona ‹ algodão = milho ‹ amendoim = arroz (Tabela 3). Estudos têm mostrado que a produção e o crescimento do cafeeiro são diminuídos pelas culturas de algodão e milho (MENDES , 1950; CHAVES, 1978; 1984; C HAVES e GUERREIRO, 1989) mas não por culturas de porte baixo, como a de arroz e feijoeiro (CHEBABI et al., 1984, MELLES et al., 1985 e CHAVES e GUERREIRO , 1989). Os resultados têm possível explicação na maior capacidade de competição das plantas intercalares de porte alto com os cafeeiros, pelos recursos do meio, comparativamente com as de porte baixo. Constata-se que culturas de porte alto, principalmente as de ciclo longo como mamona, e em menor escala, algodão e milho, influenciam negativamente na produção do cafeeiro devido à maior concorrência por água, nutrientes e luz (INSTITUTO BRASILEIRO do C AFÉ , 1985). Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.275-281, 2004 278 E.M. Paulo et al. Tabela 3. Produtividade do cafeeiro cv. Apoatã IAC 2258 submetido a culturas intercalares Tratamento Produção de café em coco (1) kg.ha -1 Algodão 2.919,9 c Amendoim 3.527,4 b Arroz 4.539,9 ab Mamona 1.377,8 d Milho 3.082,0 c Testemunha 5.008,8 a F 9,08** C.V. (%) 28,08 Médias seguidas por letras distintas diferem entre si pelo teste de Duncan a 5%. ** Significativo a 1% de probabilidade. ( 1 ) Primeira produção efetiva de café (1993). No período experimental, a maior quantidade de fitomassa foi produzida pela cultura de mamona, seguida de milho, algodão, arroz, e amendoim (Tabela 4), havendo correlação negativa entre a fitomassa e a produtividade do cafeeiro (r = -0,74). A tendência em diminuir a produção apresentada pelo cafeeiro ao ser submetido a quantidades crescentes de fitomassa (Figura 1) nas entrelinhas da lavoura devese, provavelmente, às quantidades de água e nutrientes do solo extraídas proporcionalmente à matéria seca acumulada pelas plantas intercalares. As plantas de porte alto, além de acumularem maior quantidade de fitomassa, também projetam sobre os cafeeiros maior área de sombra que as de porte baixo, o que explica os resultados, pois, de acordo com RENA e MAESTRI (1987), o sombreamento provavelmente diminui a razão C/N, inibindo a formação das gemas florais no cafeeiro. Tabela 4. Fitomassa seca da parte aérea sem os frutos das culturas intercalares ao cafeeiro Apoatã IAC 2258 acumulada até a colheita Ano da produção Tratamento 90 91 92 93 Total 5,22 bc 6,64ab 25,67 bc t.ha -1 Algodão 6,57 b 7,24 b Amendoim 4,30 cd 3,89 c 3,83 c 3,71 b 15,73 d Arroz 6,25 bc 5,22 bc 7,64 b 3,41 b 22,52 c Mamona 4,12 d 12,43 a 11,58 a 8,66 a 36,79 a Milho 13,75 a 4,52 bc 4,70 c 8,63 a 31,60 ab F 35,11** 15,66** 14,20** 5,26** 15,99** 21,22 29,39 28,10 40,12 17,18 CV (%) Médias seguidas por letras distintas, na vertical, diferem entre si pelo teste de Duncan a 5%. **Significativo a 1% de probabilidade. -1 café em coco (kg.ha ) 5000 y = -107,73x + 5979,8 R2 = 0,5544 4000 algodão 3000 amendoim arroz 2000 mamona milho 1000 0 0 10 20 30 40 -1 fitomassa seca das culturas (t.ha ) Figura 1. Produção de café em coco relacionada à produção de fitomassa seca total das culturas intercalares. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.275-281, 2004 279 Cafeeiro Apoatã em consórcio com culturas anuais atribuída à competição dos cafeeiros. No primeiro ano, as culturas intercalares apresentam produção satisfatória (CHAVES E GUERREIRO , 1989) e, embora o milho produza regularmente, a produtividade do algodoeiro e do arroz é prejudicada pelo cafeeiro (MENDES, 1950). Excetuando-se a mamoneira, no primeiro ano do estudo, a produtividade das culturas intercalares foi a menor do período experimental, provavelmente devido às condições climáticas inadequadas e dificuldades de aplicação dos tratos culturais. Os resultados obtidos do consórcio do cafeeiro com a cultura do arroz não confirmam aqueles em que o arroz provocou diminuição (MENDES , 1950) ou aumento de 30% na produção de café (CHAVES, 1978). A produtividade de arroz, amendoim e algodoeiro, em 1990 e 1993, foi inferior à média do Estado de São Paulo (INSTITUTO de ECONOMIA A GRÍCOLA, 1994) (Tabela 5). A menor produtividade dessas culturas intercalares em relação à média estadual pode ser Tabela 5. Produtividade das culturas intercalares ao cafeeiro cv. Apoatã IAC 2258 durante o período experimental Ano da colheita Tratamento 1990 1991 kg.ha 1992 1993 -1 Algodão 739 1.985 1.400 1.066 Amendoim 562 1.760 950 1.049 Arroz 201 1.051 1.175 1.477 Mamona 1.851 2.127 1.195 1.213 Milho 1.151 4.956 2.603 2.418 As culturas intercalares não diminuíram a altura, bem como o diâmetro do caule do cafeeiro comparativamente à testemunha (Tabela 6). Verifica-se que a cultura do arroz não altera essas variáveis no cafeeiro, enquanto o milho diminui o diâmetro e o algodoeiro, a altura e o diâmetro do caule (CHAVES, 1977). O resultado da análise das amostras de solo coletadas em 1993 (Tabela 7) mostrou que nenhuma das culturas intercalares alterou os teores de potássio e de matéria orgânica, o pH ou a CTC do solo. Cabe salientar que a CTC do solo poderia variar caso fossem alterados os valores de pH e de matéria orgânica pelos tratamentos. Tabela 6. Altura e diâmetro do caule do cafeeiro cv. Apoatã IAC 2258 submetido a culturas intercalares Tratamento Altura da planta Diâmetro do caule cm mm Algodão 238,5 35,4 bc Amendoim 255,7 45,0 a Arroz 254,4 41,1 ab Mamona 236,8 32,1 c Milho 260,7 34,1 bc Testemunha 262,2 38,3 abc F 2,30ns C.V. 6,48 4,37** 13,63 Médias seguidas por letras distintas diferem entre si pelo teste de Duncan a 5%. ns: não significativo. ** significativo a 1% de probabilidade. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.275-281, 2004 280 E.M. Paulo et al. Tabela 7. Resultados da análise química do solo após cultivo com culturas intercalares por quatro anos consecutivos Tratamentos P mg.dm M.O. -3 g.dm ph K Ca -3 Mg S.B. mmol.dm H+Al T -3 V % Algodão 27ab 14 4,5bc 3,9 11,7abc 4,4bcd 20,0abc 26,4ab 46,4 43b Amendoim 31a 15 5,1a 4,5 13,3ab 5,4ab 23,2ab 19,8d 43,0 54a Arroz 25ab 16 4,3c 4,0 10,0bc 4,0cd 18,0bc 28,8a 46,8 38bc Mamona 18b 15 4,8ab 4,3 14,9a 5,0abc 24,2a 24,2bc 48,4 49a Milho 15b 16 4,5bc 3,8 8,6c 3,2d 15,6c 27,2ab 42,8 36c Testemunha 15b 16 4,9a 4,3 12,9ab 6,0a 23,2ab 21,8cd 45,0 51a 2,76* 0,82ns 7,88** 0,97ns 3,55* 5,31** 3,94* 12,33** 1,06ns 13,94** 41,4 12,6 5,1 15,8 22,9 21,0 10,6 9,7 F C.V. (%) 18,6 8,8 Médias seguidas por letras distintas, na vertical, diferem entre si pelo teste de Duncan a 5%. ns: não significativo.*, ** Significativo a 5% e a 1% de probabilidade. Comparativamente ao solo não cultivado, a cultura do milho reduziu o teor de cálcio, enquanto as culturas de algodão, arroz e milho diminuíram as quantidades de magnésio e a saturação por bases do solo, além de elevar os índices de H + Al. Os resultados mostram a elevada capacidade das culturas intercalares para removerem nutrientes do solo, competindo assim por esses recursos do meio com o cafeeiro. Vale ressaltar que a calagem deve ser prática usual para as culturas intercalares, pois nenhum tratamento atingiu a saturação por bases recomendada para o bom desenvolvimento das plantas, ou seja, 50% para a cultura do arroz, 60% para a do amendoim e a da soja e 70% para a do algodão e a do milho (RAIJ et al., 1996). A variação observada para o fósforo nas culturas de algodão, amendoim e arroz, provavelmente, foi devido às quantidades do fertilizante mineral adicionadas para a suplementação desse nutriente no solo maior que às exportadas pelas culturas, explicando o aumento do teor do elemento no solo. 4. CONCLUSÕES 1. O cultivo intercalar do arroz não reduz a produtividade do cafeeiro Apoatã IAC 2258 na fase de formação. 2. As culturas intercalares de algodão, amendoim, arroz, mamona e milho diminuem a Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.275-281, 2004 produtividade, mas não a altura e o diâmetro do caule do cafeeiro Apoatã IAC 2258. REFERÊNCIAS CHAVES, J.C.D. Culturas intercalares na formação de lavouras cafeeiras. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 5., 1977, Guarapari. Resumos... Rio de Janeiro: IBC-GERCA, 1977. p.54-59. CHAVES, J.C.D. Culturas intercalares em lavouras cafeeiras. In: ENCONTRO SOBRE A CAFEICULTURA PARANAENSE, 1984, Londrina.... 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(fôlder) Cafeeiro Apoatã em consórcio com culturas anuais INSTITUTO BRASILEIRO DO CAFÉ. Cultura do café no Brasil: Manual de recomendações. Rio de Janeiro: IBC/GERCA, 1979. 312p. INSTITUTO BRASILEIRO DO CAFÉ . Culturas intercalares. In: CULTURA do café no Brasil: Manual de recomendações. Rio de Janeiro: IBC/GERCA, 1985. p.189-194. INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Prognóstico Agrícola 1994/95: Mercado de Produtos. Informações Econômicas, São Paulo, v.24, n.9,p.42-81, 1994. MELLES, C.C.A.; CHEBABI, M.A.A.; NACIF, A.de P.; GUIMARÃES, P.T.G Culturas intercalares em lavouras cafeeiras nas fases de formação e produção. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.11, n.126, p.65-68, 1985. MELLES, C.C.A.; GUIMARÃES, P.T.G.; NACIF, A.P.; SILVA, C.M.; CARVALHO, M.M.; ANDRADE, M.A.. Efeito de culturas intercalares na formação do cafeeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 7., 1979, Araxá. Resumos... Rio de Janeiro: IBC-GERCA, 1979. p.174-175. MELLES, C.C.A.; SILVA, C.M. 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Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.275-281, 2004 Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.63 no.2 Campinas 2004 FITOTECNIA Manejo de plantas daninhas em beterraba com metamitron e sua persistência em Argissolo Weed control in table beet with metamitron and its persistence in Ultisol-Kandiucults Robert DeuberI; Maria do Carmo de Salvo Soares NovoI; Paulo Espíndola TraniII; Ronaldo Tavares de AraújoIII; Ademir SantiniIV ICentro de Ecofisiologia e Biofísica, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 13001970 Campinas (SP). E-mail: [email protected] IICentro de Horticultura, IAC, Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP). E-mail: [email protected] IIIMestre em Produção Vegetal, IAC. Casa da Agricultura de Santa Cruz da Conceição (SP) IVMestre em Produção Vegetal, IAC. Bayer CropScience, Caixa Postal 921, 13140-000 Paulínia (SP) RESUMO O experimento foi realizado no Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Frutas (IAC), localizado no município de Jundiaí (SP), em condições usuais de cultivo da beterraba (Beta vulgaris L.) cultivar Tall Top Wonder, em Argissolo Vermelho-Amarelo, distrófico. Os objetivos do experimento foram avaliar a eficácia de metamitron, aplicado em pré-emergência, no controle de plantas daninhas; verificar sua seletividade à cultura, e determinar seu período residual. O experimento foi disposto em blocos ao acaso, com quatro repetições; as parcelas foram divididas em duas partes, sendo uma para a beterraba e outra para o estudo do efeito residual. Foram avaliados os efeitos de doses de metamitron (2,8, 3,5 e 4,2 kg.ha-1 de i.a), mantendo-se duas testemunhas: uma sempre capinada e outra mantida com plantas daninhas até o fim do ciclo. As avaliações do controle das plantas daninhas e da seletividade à cultura foram realizadas aos 28 e 70 dias após a aplicação (DAA) do herbicida. A persistência foi avaliada aos 0, 21, 40 e 70 DAA, em biotestes, com alface (Lactuca sativa L.) cultivar Elisa Crespa como planta-teste. As principais plantas daninhas na área experimental foram: Eleusine indica (L.) Gaertn. (capim-pé-degalinha), Galinsoga parviflora Cav (picão-branco) e Coronopus didymus (L.) Sm. (mentruz). As doses de metamitron aplicadas não causaram sintomas visíveis de intoxicação à parte aérea das plantas de beterraba. O picão branco e o mentruz foram eficientemente controlados com quaisquer das doses de metamitron. Aos 28 DAA, o capim-pé-de-galinha foi totalmente controlado pelas doses de metamitron aplicadas. Entretanto, aos 70 DAA, somente com as doses de 3,5 e 4,2 kg.ha-1 obteve-se controle eficiente dessa espécie. A atividade residual de metamitron, para as doses de 2,8 e 3,5 kg.ha-1, foi igual a 70 dias e para 4,2 kg.ha-1 foi superior a esse período. O controle de plantas daninhas resultou na obtenção de raízes do tipo comercial em maior número e com mais biomassa de matéria fresca. Palavras-chave: controle químico, período residual, produção, Beta vulgaris L., bioensaio. ABSTRACT In order to study weed control efficiency and soil persistence, a field experiment was carried out in Ultisol-Kandiucult with table beet (Beta vulgaris L.) cultivar Tall Top. The treatments were: metamitron applied in pre-emergence at 2,8; 3,5 and 4,2 kg.ha-1 a.i, plus two controls, one weeded and another always with weeds, in a randomized block design with four replications. Weed control and selectivity were evaluated at 28 and 70 days and persistence in soil at 0, 21, 49 and 70 days after treatments (DAA), with bioassays using lettuce (Lactuca sativa L.) cultivar Elisa Crespa. The main weeds occuring in the trial were Eleusine indica (L.) Gaertn, Galinsoga parviflora Cav. and Coronopus dydimus (L.) Sm. Metamitron at the applied rates was apparently selective to table beets, considering the leaves. G. parviflora and C. dydimus were efficiently controlled with any of the applied rates up to 70 DAA. E. indica was well controlled until 28 DAA with all rates and until 70 DAA only with 3,5 and 4,2 kg.ha-1. Residual activity for 2,8 and 3,5 kg, lasted until 70 DAA, but for 4,2 kg it was longer. Chemical weed control improved yield with an increase on table beet roots of commercial type. Key words: chemical control, residual period, yield, Beta vulgaris L., bioassay. 1. INTRODUÇÃO A beterraba, planta da família Chenopodiaceae, é originária da Europa, de elevado valor nutricional, destacando-se, entre as hortaliças, pelo seu conteúdo em vitaminas do complexo B e os nutrientes potássio, sódio, ferro, cobre e zinco (FERREIRA e TIVELLI, 1990). Segundo CAMARGO FILHO e MAZZEI (2002), no Estado de São Paulo existem, aproximadamente, 700 propriedades agrícolas, perfazendo 5.000 ha, onde são produzidas 115.000 toneladas de beterraba por ano. Ainda, segundo esses autores, ao contrário da cenoura e de outras raízes tuberosas, o mercado e o consumo "per capita" de raízes de beterraba apresentaram acréscimo substancial nas quantidades comercializadas no ETSP-CEAGESP (São Paulo - Capital). A comercialização mensal, no período de 1984 a 1991, foi de 60.975 caixas de 22 kg e, no de 1991 a 1994, de 80.452 caixas. Um dos fatores determinantes para se alcançar boas produções de hortaliças, entre elas a beterraba, é o manejo adequado das plantas daninhas. Com o incremento, em anos recentes, do sistema de sucessão de cultivos, tornou-se importante o estudo da presença de resíduos de herbicidas no solo, uma vez que os ciclos dessas culturas são geralmente curtos. TRANI e PASSOS (1998) recomendam a alface como uma das hortaliças em sucessão à beterraba. Para a cultura da beterraba, há poucas opções de herbicidas destinados ao controle de plantas daninhas. Recentemente foi introduzido o metamitron, pertencente ao grupo químico das triazinonas, a ser aplicado tanto em pré- como em pós-emergência precoce e é seletivo à beterraba. O produto é absorvido principalmente pelas raízes, mas não atua sobre as sementes das plantas daninhas. Sua ação ocorre quando se inicia o processo fotossintético inibindo o transporte de elétrons (HERBICIDE HANDBOOK COMMITTEE, 2002). O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficácia do herbicida metamitron no manejo de plantas daninhas e sua seletividade às plantas de beterraba cv. Tall Top Wonder, bem como determinar seu período residual no solo. 2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado a campo, no Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Frutas, do Instituto Agronômico, localizado no município de Jundiaí (SP), em condições usuais de cultivo da beterraba (Beta vulgaris L.) cultivar Tall Top Wonder, em Argissolo Vermelho-Amarelo, distrófico. As análises químicas e granulométricas de amostra de solo, coletada na camada de 020 cm de profundidade, apresentaram os seguintes resultados: pH (em CaCl2): 5,1; 17 g.dm-3 de M.O.; 43 mg.dm-3 de P (resina); 3,6 mmolc.dm-3 de K; 14 mmolc.dm-3 de Ca; 4 mmolc.dm-3 de Mg; H+Al: 23 mmolc.dm-3 e CTC 49,4; V% = 44 mmolc.dm-3; 19,2% de argila; 15,8% de silte: 47,4% de areia grossa e 17,6% de areia fina. A calagem e a adubação foram realizadas conforme as recomendações de TRANI et al. (1997). O plantio no campo foi realizado em 15/5/2002, utilizando-se mudas de beterraba com 30 dias de idade, provenientes de bandejas de 72 células, cultivadas em substrato Plantmax HT da Eucatex. As parcelas mediam 1,00 m de largura por 3,00 m de comprimento, sendo divididas em duas partes de 1,50 m por 1,00 m. Em uma das partes, as mudas de beterraba foram plantadas em quatro linhas espaçadas de 0,25 m entre linhas e de 0,10 cm entre plantas. Na outra parte da parcela nada foi plantado e destinou-se ao estudo da persistência do metamitron. Foram realizados tratamentos fitossanitários preventivos, com mancozeb, para evitar a cercosporiose e curativos, com paration metílico, para o controle de vaquinha (Diabrotica speciosa) nas doses e freqüência de aplicação indicadas por FERREIRA e TIVELLI (1990). O delineamento adotado foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições para a cultura da beterraba. Foram estudados os efeitos de doses de metamitron, (2,8, 3,5 e 4,2 kg.ha-1 de ingrediente ativo), empregando-se a formulação comercial Goltik, contendo 70% desse composto. Além desses tratamentos, havia duas testemunhas, uma sempre capinada e outra mantida com plantas daninhas durante todo o ciclo. O metamitron foi aplicado em área total sobre as plantas de beterraba e préemergência das plantas daninhas, em toda a extensão das parcelas (3,00 m2), logo após o transplantio das mudas, com pulverizador costal a CO2, dotado de uma barra com dois bicos de jato plano (80.02), espaçados de 0,50 m, e consumo de calda correspondente a 400 L.ha-1, à pressão constante de 2,15 kgf.cm-2 . A condição térmica do local foi adequada ao desenvolvimento da cultura, sendo necessária a irrigação suplementar por aspersão. Para a determinação do período residual, a partir da aplicação do herbicida foram realizadas amostragens, na camada de 0 a 10 cm de profundidade, aos 0, 21, 49 e 70 dias DAA, nas metades das parcelas sem plantio de beterraba. Para essas análises, obedeceu-se ao delineamento de parcelas subdivididas no tempo, cada época correspondendo a uma subparcela. As amostras de terra de cada época foram destorroadas e passadas por peneira de 2 mm antes de serem utilizadas nos testes. A atividade residual do metamitron no solo foi avaliada por meio de bioensaios, nos quais o desenvolvimento da planta-teste, em condições de casa-de-vegetação, indica a presença do produto aplicado. O método de SANTELMAN et al. (1971) foi aplicado na forma descrita por NOVO et al. (1991). Como planta-teste empregou-se a alface (Lactuca sativa L.) cultivar Elisa Crespa, sendo semeadas dez sementes por vaso e desbastadas após a germinação para cinco plantas. As plantas de alface foram cortadas rente ao solo, aos 21 dias após a semeadura, sendo avaliada a biomassa de matéria fresca da parte aérea, uma vez que a quantidade de material era muito pequena para se determinar a massa seca. Para o estudo da relação entre o efeito de doses de metamitron e o crescimento da parte aérea, a biomassa de matéria fresca da parte aérea foi transformada em porcentagem em relação ao desenvolvimento da planta-teste do tratamentotestemunha considerado igual a 100%. As avaliações de eficiência no controle das plantas daninhas e de seletividade às plantas de beterraba do herbicida metamitron foram realizadas, nas duas linhas centrais, aos 28 e 70 DAA, por amostragem, em área correspondente a 5% da parcela. Utilizaram-se amostradores de 0,25 x 0,25 m aos 28 DAA e circulares com 0,50 m de diâmetro aos 70 DAA. Considerou-se eficiente o tratamento que resultou em redução igual ou superior a 80 % da infestação calculada em relação à testemunha sem capina. Aos 90 DAA, foram medidas nas linhas de bordadura de cada subparcela, a altura de dez plantas. Todas as plantas das duas linhas centrais foram colhidas, separadas as raízes da parte aérea e determinadas a biomassa de matéria fresca. As raízes foram separadas por tamanho, e consideradas como 'tipo comercial' as que não apresentavam defeitos e com diâmetro médio entre 5 e 8 cm. As raízes com diâmetros inferiores ou superiores a esses ou as que apresentavam defeitos foram consideradas como 'tipo descarte'. Após a classificação, as raízes foram contadas e pesadas. Foi, também, determinado o diâmetro médio das raízes comerciais, sendo medidas, ao acaso, dez unidades de cada parcela. Para os dados da atividade residual do metamitron em alface, as variáveis foram submetidas à análise de variância de acordo com o método para experimentos com parcelas subdivididas no tempo (STEEL e TORREIE, 1980), empregando-se o teste F. O efeito de doses por época foi avaliado através de regressão polinomial. O efeito de época de amostragem (subparcela) para cada dose foi caracterizado pela equação de ajuste que melhor representou o comportamento da variável porcentagem de crescimento em relação à testemunha, sendo consideradas as equações que tinham significado biológico. Os outros dados, quando significativos, apresentaram suas médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Os dados em porcentagem e de número de raízes, antes de serem analisados estatisticamente, foram transformados, respectivamente, em arco seno de raiz de x/100 e em raiz de x. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em relação à fitotoxicidade, verificou-se que metamitron, em todas as doses aplicadas, foi, aparentemente, seletivo às plantas de beterraba, não sendo observados sintomas de intoxicação até os 70 DAA na parte aérea. As principais espécies daninhas presentes na área experimental foram: Eleusine indica (L.) Gaertn. (capim-pé-de-galinha), Galinsoga parviflora Cav (picão-branco) e Coronopus didymus (L.) Sm. (mentruz). As porcentagens de controle das plantas daninhas identificadas no experimento encontram-se na tabela 1. Tanto na amostragem realizada aos 28, quanto aos 70 DAA, picão-branco e mentruz foram totalmente controlados com quaisquer das doses aplicadas. MATALLO et al. (1991) verificaram que quando foram aplicadas doses entre 3,5 e 5,6 kg/ha de metamitron, houve controle superior a 91% para o picão-branco. O capim-pé-de-galinha (Tabela 1), aos 28 DAA, foi totalmente controlado com quaisquer das doses de metamitron aplicadas. Entretanto, aos 70 DAA, somente com as doses de 3,5 e 4,2 kg.ha-1 observou-se controle eficiente dessa espécie. MATALLO et al. (1991) notaram que na dose de 2,8 kg/ha, o metamitron mostrou controle diferenciado, por espécie; para o picão-branco e o capim-pé-de-galinha, o controle foi, respectivamente, muito bom (superior a 81%) e regular ( acima de 41%). Quanto aos dados de persistência, observou-se que a biomassa de matéria fresca das plantas de alface, para a dose zero, diminuiu linearmente em função do tempo (Tabela 2). Para a dose de 2,8 kg.ha-1, ao contrário, com o passar do tempo houve aumento linear na biomassa da matéria fresca em vista da degradação do produto. Para as doses de 3,5 e 4,2 kg.ha-1, a biomassa de matéria fresca da parte aérea, seguiu uma equação do segundo grau. A redução da massa seca na testemunha pode ser explicada pela ocorrência de elevada infestação de plantas daninhas que consumiram, gradativamente, os nutrientes disponíveis do solo. O efeito de doses de metamitron no crescimento da alface em relação à testemunha, nas diferentes épocas de amostragens está apresentado na figura 1. Pode-se observar que para quaisquer doses, houve resposta exponencial em relação ao efeito de época para cada uma. Verificou-se que, para as doses 2,8 e 3,5 kg.ha-1, o período residual foi de 70 dias e para 4,2 kg.ha-1 foi pouco superior, ainda que não determinado (Tabela 3). Dados da HERBICIDE HANDBOOK COMMITTEE (2002) ressaltam que sob condições normais de cultivo, a persistência desse produto é de quatro a seis semanas. Acredita-se que a maior persistência observada nesse experimento deve-se às temperaturas mais baixas nas condições de outono-inverno. Não foram encontrados relatos de avaliação de persistência de metamitron para as condições do Brasil. Considerando-se a dose de 3,5 kg.ha-1 suficiente para o controle de plantas daninhas em beterraba, metamitron não deverá apresentar riscos às culturas plantadas em seqüência. Verificou-se que, nos tratamentos em que foi feita capina ou aplicado metamitron, na dose de 4,2 kg.ha-1 , ocorreu maior número de raízes comerciais de beterraba, quando comparados com a testemunha não capinada (Tabela 4). O não-controle das plantas daninhas afetou a qualidade das raízes, observando-se que no tratamento não capinado ocorreu maior número de raízes tipo descarte, quando comparado aos tratamentos em que se empregou metamitron em dose acima de 3,5 kg.ha-1 e a testemunha capinada. Segundo TOZANI et al. (1997), quando a beterraba convive com a comunidade de plantas daninhas durante todo o ciclo, ocorre redução de 84% na produção; sugere-se que para obter a produção adequada é necessário manter a cultura no limpo até os 50 dias. Na avaliação do número de raízes total (tipos comercial + descarte) não se observou diferença entre os tratamentos (Tabela 4). Quando se realizou o controle das plantas daninhas, houve aumento no diâmetro das raízes comerciais (Tabela 4). A biomassa de matéria fresca de raiz do tipo comercial foi maior no tratamento capinado e menor no não-capinado. Não houve diferença entre o tratamento capinado e as doses de 3,5 e 4,2 kg.ha-1 de metamitron. Não houve diferença entre tratamentos quanto à massa de matéria fresca da parte aérea e de raíz do tipo descarte (Tabela 5). A biomassa de matéria fresca de raíz do tipo comercial foi maior no tratamento capinado e menor no não-capinado. Não houve diferença entre o tratamento capinado e as doses 3,5 e 4,2 kg.ha-1 de metamitron. A produção de raízes do tipo comercial no tratamento com 2,8 kg.ha-1 de metamitron foi inferior ao da testemunha capinada devido à infestação do capim-pé-de-galinha (Tabela 1). Em relação à biomassa da matéria fresca total de raízes (tipos comercial + descarte), verificou-se que apenas a testemunha não capinada apresentou resultado inferior ao da capinada (Tabela 5). Segundo FILGUEIRA (2000), a produtividade da beterraba situa-se entre 2,0 e 3,5 kg.m-2, verificando-se que todos os tratamentos, exceto a testemunha não capinada, apresentaram produção de raízes de beterraba com qualidade comercial. 4. CONCLUSÕES 1. Metamitron aplicado nas diversas doses não causou fitotoxicidade à cultura da beterraba. 2. O picão-branco e o mentruz foram eficientemente controlados com quaisquer das doses de metamitron. Aos 28 dias, o capim-pé-de-galinha foi controlado com quaisquer das doses de metamitron aplicada; aos 70 DAA, somente com doses de 3,5 e 4,2 kg.ha-1 obteve-se controle eficiente. 3. O período residual de metamitron para as doses de 2,8 e 3,5 kg.ha-1 foi de 70 dias e para 4,2 kg.ha-1 foi superior a esse período. 4. O controle de plantas daninhas resultou em maior número e maior quantidade de biomassa de matéria fresca de raízes do tipo comercial. REFERÊNCIAS CAMARGO FILHO, W.P.; MAZZEI, A.R. Mercado de beterraba em São Paulo. Informações Econômicas, São Paulo, v.32, n.4, p.56-58, 2002. FERREIRA, M.D.; TIVELLI, S.W. Cultura da beterraba: recomendações gerais. 3.ed. Guaxupé: COOXUPÉ, 1990. 14p. (Boletim Técnico Olericultura, 2). FILGUEIRA, F.A.R. Chenopodiaceae - beterraba e hortaliças herbáceas. In: FILGUEIRA, F.A.R. Novo Manual de Olericultura: agroecologia moderna e comercialização de HERBICIDE HANDBOOK COMMITTEE. Herbicide Handbook. 8.ed. Lawrence: Weed Science Society of America, 2002. p.292. MATALLO, M.B.; SALVO, S.; BLANCO, H.G. Seletividade e eficiência do metamitron sobre plantas daninhas na cultura da beterraba hortícola. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HERBICIDAS E PLANTAS DANINHAS, 18., 1991, Brasília. Resumos... Brasília: SBHED, 1991. p.100. NOVO, M.C.S.S.; LOPES, E.S.; ORTOLANI, M.C.A. Levantamento da nodulação, persistência de herbicidas e isolamento de Bradyrhizobium spp. de áreas com rotação cana-de-açúcar/amendoim. Revista de Microbiologia, São Paulo, v.22, p.60-65, 1991. STEEL, R.G.D. ; TORRIE, J.H. Analysis of variance: IV. Split-plot designs and analysis. In: STEEL, R.G.D.; TORRIE, J.H. (Eds.). Principles and Procedures of Statistics. 2.ed. New York: McGraw Hill, 1980. cap.16, p.377-400. TOZANI, R.; SOUZA, C.L.M.; MORAIS, V.; COELHO, R.G.; LOPES, C.A.; JÚNIOR, O.F.O. Interferência de plantas daninhas nas culturas da cenoura (Daucus carota) e beterraba (Beta vulgaris). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS, 21., 1991, Caxambu. Resumos... Viçosa: SBCPD, 1997. p.390. TRANI, P.E. ; PASSOS, F.A. Beterraba. In: FAHL, J.I. et al. (Eds.). Instruções agrícolas para as principais culturas econômicas. 6.ed. Campinas: Instituto Agronômico, 1998. p. 184-185. (Boletim Técnico, 200) TRANI, P.E.; PASSOS, F.A.; TAVARES, M.; AZEVEDO FILHO, J.A. Beterraba, cenoura, nabo, rabanete e salsa. In: RAIJ, B.; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J.A.; FURLANI, A.M. (Eds.). Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. 2.ed. Campinas: Instituto Agronômico & Fundação IAC, 1997. p.174. (Boletim Técnico, 100). Recebido para publicação em 18 de fevereiro de 2003 e aceito em 1.º de março de 284 R. Deuber et al. bioassays using lettuce (Lactuca sativa L.) cultivar Elisa Crespa. The main weeds occuring in the trial were Eleusine indica (L.) Gaertn, Galinsoga parviflora Cav. and Coronopus dydimus (L.) Sm. Metamitron at the applied rates was apparently selective to table beets, considering the leaves. G. parviflora and C. dydimus were efficiently controlled with any of the applied rates up to 70 DAA. E. indica was well controlled until 28 DAA with all rates and until 70 DAA only with 3,5 and 4,2 kg.ha-1. Residual activity for 2,8 and 3,5 kg, lasted until 70 DAA, but for 4,2 kg it was longer. Chemical weed control improved yield with an increase on table beet roots of commercial type. Key words: chemical control, residual period, yield, Beta vulgaris L., bioassay. 1. INTRODUÇÃO 2. MATERIAL E MÉTODOS A beterraba, planta da família Chenopodiaceae, é originária da Europa, de elevado valor nutricional, destacando-se, entre as hortaliças, pelo seu conteúdo em vitaminas do complexo B e os nutrientes potássio, sódio, ferro, cobre e zinco (FERREIRA e T IVELLI, 1990). O experimento foi instalado a campo, no Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Frutas, do Instituto Agronômico, localizado no município de Jundiaí (SP), em condições usuais de cultivo da beterraba (Beta vulgaris L.) cultivar Tall Top Wonder, em Argissolo Vermelho-Amarelo, distrófico. Segundo CAMARGO F ILHO e M AZZEI (2002), no Estado de São Paulo existem, aproximadamente, 700 propriedades agrícolas, perfazendo 5.000 ha, onde são produzidas 115.000 toneladas de beterraba por ano. Ainda, segundo esses autores, ao contrário da cenoura e de outras raízes tuberosas, o mercado e o consumo “per capita” de raízes de beterraba apresentaram acréscimo substancial nas quantidades comercializadas no ETSP-CEAGESP (São Paulo - Capital). A comercialização mensal, no período de 1984 a 1991, foi de 60.975 caixas de 22 kg e, no de 1991 a 1994, de 80.452 caixas. Um dos fatores determinantes para se alcançar boas produções de hortaliças, entre elas a beterraba, é o manejo adequado das plantas daninhas. Com o incremento, em anos recentes, do sistema de sucessão de cultivos, tornou-se importante o estudo da presença de resíduos de herbicidas no solo, uma vez que os ciclos dessas culturas são geralmente curtos. T RANI e P ASSOS (1998) recomendam a alface como uma das hortaliças em sucessão à beterraba. Para a cultura da beterraba, há poucas opções de herbicidas destinados ao controle de plantas daninhas. Recentemente foi introduzido o metamitron, pertencente ao grupo químico das triazinonas, a ser aplicado tanto em pré- como em pósemergência precoce e é seletivo à beterraba. O produto é absorvido principalmente pelas raízes, mas não atua sobre as sementes das plantas daninhas. Sua ação ocorre quando se inicia o processo fotossintético inibindo o transporte de elétrons (HERBICIDE HANDBOOK C OMMITTEE, 2002). O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficácia do herbicida metamitron no manejo de plantas daninhas e sua seletividade às plantas de beterraba cv. Tall Top Wonder, bem como determinar seu período residual no solo. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.283-289, 2004 As análises químicas e granulométricas de amostra de solo, coletada na camada de 0-20 cm de profundidade, apresentaram os seguintes resultados: pH (em CaCl2): 5,1; 17 g.dm -3 de M.O.; 43 mg.dm-3 de P (resina); 3,6 mmolc.dm-3 de K; 14 mmolc.dm -3 de Ca; 4 mmolc.dm-3 de Mg; H+Al: 23 mmolc.dm-3 e CTC 49,4; V% = 44 mmolc.dm -3; 19,2% de argila; 15,8% de silte: 47,4% de areia grossa e 17,6% de areia fina. A calagem e a adubação foram realizadas conforme as recomendações de TRANI et al. (1997). O plantio no campo foi realizado em 15/5/ 2002, utilizando-se mudas de beterraba com 30 dias de idade, provenientes de bandejas de 72 células, cultivadas em substrato Plantmax HT da Eucatex. As parcelas mediam 1,00 m de largura por 3,00 m de comprimento, sendo divididas em duas partes de 1,50 m por 1,00 m. Em uma das partes, as mudas de beterraba foram plantadas em quatro linhas espaçadas de 0,25 m entre linhas e de 0,10 cm entre plantas. Na outra parte da parcela nada foi plantado e destinou-se ao estudo da persistência do metamitron. Foram realizados tratamentos fitossanitários preventivos, com mancozeb, para evitar a cercosporiose e curativos, com paration metílico, para o controle de vaquinha (Diabrotica speciosa) nas doses e freqüência de aplicação indicadas por FERREIRA e T IVELLI (1990). O delineamento adotado foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições para a cultura da beterraba. Foram estudados os efeitos de doses de metamitron, (2,8, 3,5 e 4,2 kg.ha-1 de ingrediente ativo), empregando-se a formulação comercial Goltik, contendo 70% desse composto. Além desses tratamentos, havia duas testemunhas, uma sempre capinada e outra mantida com plantas daninhas durante todo o ciclo. Manejo de plantas daninhas em beterraba com metamitron O metamitron foi aplicado em área total sobre as plantas de beterraba e pré-emergência das plantas daninhas, em toda a extensão das parcelas (3,00 m2), logo após o transplantio das mudas, com pulverizador costal a CO 2, dotado de uma barra com dois bicos de jato plano (80.02), espaçados de 0,50 m, e consumo de calda correspondente a 400 L.ha-1 , à pressão constante de 2,15 kgf.cm-2 . A condição térmica do local foi adequada ao desenvolvimento da cultura, sendo necessária a irrigação suplementar por aspersão. Para a determinação do período residual, a partir da aplicação do herbicida foram realizadas amostragens, na camada de 0 a 10 cm de profundidade, aos 0, 21, 49 e 70 dias DAA, nas metades das parcelas sem plantio de beterraba. Para essas análises, obedeceu-se ao delineamento de parcelas subdivididas no tempo, cada época correspondendo a uma subparcela. As amostras de terra de cada época foram destorroadas e passadas por peneira de 2 mm antes de serem utilizadas nos testes. A atividade residual do metamitron no solo foi avaliada por meio de bioensaios, nos quais o desenvolvimento da planta-teste, em condições de casa-de-vegetação, indica a presença do produto aplicado. O método de SANTELMAN et al. (1971) foi aplicado na forma descrita por NOVO et al. (1991). Como planta-teste empregou-se a alface (Lactuca sativa L.) cultivar Elisa Crespa, sendo semeadas dez sementes por vaso e desbastadas após a germinação para cinco plantas. As plantas de alface foram cortadas rente ao solo, aos 21 dias após a semeadura, sendo avaliada a biomassa de matéria fresca da parte aérea, uma vez que a quantidade de material era muito pequena para se determinar a massa seca. Para o estudo da relação entre o efeito de doses de metamitron e o crescimento da parte aérea, a biomassa de matéria fresca da parte aérea foi transformada em porcentagem em relação ao desenvolvimento da planta-teste do tratamento-testemunha considerado igual a 100%. As avaliações de eficiência no controle das plantas daninhas e de seletividade às plantas de beterraba do herbicida metamitron foram realizadas, nas duas linhas centrais, aos 28 e 70 DAA, por amostragem, em área correspondente a 5% da parcela. Utilizaram-se amostradores de 0,25 x 0,25 m aos 28 DAA e circulares com 0,50 m de diâmetro aos 70 DAA. Considerou-se eficiente o tratamento que resultou em redução igual ou superior a 80 % da infestação calculada em relação à testemunha sem capina. 285 Aos 90 DAA, foram medidas nas linhas de bordadura de cada subparcela, a altura de dez plantas. Todas as plantas das duas linhas centrais foram colhidas, separadas as raízes da parte aérea e determinadas a biomassa de matéria fresca. As raízes foram separadas por tamanho, e consideradas como ‘tipo comercial’ as que não apresentavam defeitos e com diâmetro médio entre 5 e 8 cm. As raízes com diâmetros inferiores ou superiores a esses ou as que apresentavam defeitos foram consideradas como ‘tipo descarte’. Após a classificação, as raízes foram contadas e pesadas. Foi, também, determinado o diâmetro médio das raízes comerciais, sendo medidas, ao acaso, dez unidades de cada parcela. Para os dados da atividade residual do metamitron em alface, as variáveis foram submetidas à análise de variância de acordo com o método para experimentos com parcelas subdivididas no tempo (STEEL e TORREIE, 1980), empregando-se o teste F. O efeito de doses por época foi avaliado através de regressão polinomial. O efeito de época de amostragem (subparcela) para cada dose foi caracterizado pela equação de ajuste que melhor representou o comportamento da variável porcentagem de crescimento em relação à testemunha, sendo consideradas as equações que tinham significado biológico. Os outros dados, quando significativos, apresentaram suas médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Os dados em porcentagem e de número de raízes, antes de serem analisados estatisticamente, foram transformados, respectivamente, em arco seno de raiz de x/100 e em raiz de x. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em relação à fitotoxicidade, verificou-se que metamitron, em todas as doses aplicadas, foi, aparentemente, seletivo às plantas de beterraba, não sendo observados sintomas de intoxicação até os 70 DAA na parte aérea. As principais espécies daninhas presentes na área experimental foram: Eleusine indica (L.) Gaertn. (capim-pé-de-galinha), Galinsoga parviflora Cav (picãobranco) e Coronopus didymus (L.) Sm. (mentruz). As porcentagens de controle das plantas daninhas identificadas no experimento encontram-se na tabela 1. Tanto na amostragem realizada aos 28, quanto aos 70 DAA, picão-branco e mentruz foram totalmente controlados com quaisquer das doses aplicadas. MATALLO et al. (1991) verificaram que quando foram aplicadas doses entre 3,5 e 5,6 kg/ha de metamitron, houve controle superior a 91% para o picão-branco. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.283-289, 2004 286 R. Deuber et al. Tabela 1. Porcentagem de controle de picão-branco (Galinsoga parviflora Cav) - GASPA, mentruz (Coronopus didymus) - CODPI e capim-pé-de-galinha (Eleusine indica (L.) Gaertn.) - ELEIN, nas avaliações realizadas aos 28 e 70 DAA de metamitron em Jundiaí (SP), 2002 Porcentagem de controle Doses de metamitron GASPA (1) CODPI ELEIN 28 dias 70 dias 28 dias 70 dias 28 dias 70 dias 0b 0b 0b 0b 0b 0c 2,8 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 40 b 3,5 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 4,2 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a kg.ha-1 0 ( 1 ) Dados transformados em arco seno raiz de x/100 para análise estatística. O capim-pé-de-galinha (Tabela 1), aos 28 DAA, foi totalmente controlado com quaisquer das doses de metamitron aplicadas. Entretanto, aos 70 DAA, somente com as doses de 3,5 e 4,2 kg.ha -1 observou-se controle eficiente dessa espécie. MATALLO et al. (1991) notaram que na dose de 2,8 kg/ha, o metamitron mostrou controle diferenciado, por espécie; para o picão-branco e o capim-pé-de-galinha, o controle foi, respectivamente, muito bom (superior a 81%) e regular ( acima de 41%). Quanto aos dados de persistência, observouse que a biomassa de matéria fresca das plantas de alface, para a dose zero, diminuiu linearmente em função do tempo (Tabela 2). Para a dose de 2,8 kg.ha -1 , ao contrário, com o passar do tempo houve aumento linear na biomassa da matéria fresca em vista da degradação do produto. Para as doses de 3,5 e 4,2 kg.ha -1, a biomassa de matéria fresca da parte aérea, seguiu uma equação do segundo grau. A redução da massa seca na testemunha pode ser explicada pela ocorrência de elevada infestação de plantas daninhas que consumiram, gradativamente, os nutrientes disponíveis do solo. O efeito de doses de metamitron no crescimento da alface em relação à testemunha, nas diferentes épocas de amostragens está apresentado na figura 1. Pode-se observar que para quaisquer doses, houve resposta exponencial em relação ao efeito de época para cada uma. Verificou-se que, para as doses 2,8 e 3,5 kg.ha -1 , o período residual foi de 70 dias e para 4,2 kg.ha -1 foi pouco superior, ainda que não determinado (Tabela 3). Dados da H ERBICIDE H ANDBOOK C OMMITTEE (2002) ressaltam que sob condições normais de cultivo, a persistência desse produto é de quatro a seis semanas. Acredita-se que a maior persistência observada nesse experimento deve-se às temperaturas mais baixas nas condições de Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.283-289, 2004 outono-inverno. Não foram encontrados relatos de avaliação de persistência de metamitron para as condições do Brasil. Considerando-se a dose de 3,5 kg.ha-1 suficiente para o controle de plantas daninhas em beterraba, metamitron não deverá apresentar riscos às culturas plantadas em seqüência. Verificou-se que, nos tratamentos em que foi feita capina ou aplicado metamitron, na dose de 4,2 kg.ha-1 , ocorreu maior número de raízes comerciais de beterraba, quando comparados com a testemunha não capinada (Tabela 4). O não-controle das plantas daninhas afetou a qualidade das raízes, observando-se que no tratamento não capinado ocorreu maior número de raízes tipo descarte, quando comparado aos tratamentos em que se empregou metamitron em dose acima de 3,5 kg.ha-1 e a testemunha capinada. Segundo TOZANI et al. (1997), quando a beterraba convive com a comunidade de plantas daninhas durante todo o ciclo, ocorre redução de 84% na produção; sugere-se que para obter a produção adequada é necessário manter a cultura no limpo até os 50 dias. Na avaliação do número de raízes total (tipos comercial + descarte) não se observou diferença entre os tratamentos (Tabela 4). Quando se realizou o controle das plantas daninhas, houve aumento no diâmetro das raízes comerciais (Tabela 4). A biomassa de matéria fresca de raiz do tipo comercial foi maior no tratamento capinado e menor no não-capinado. Não houve diferença entre o tratamento capinado e as doses de 3,5 e 4,2 kg.ha-1 de metamitron. Não houve diferença entre tratamentos quanto à massa de matéria fresca da parte aérea e de raíz do tipo descarte (Tabela 5). A biomassa de matéria fresca de raíz do tipo comercial foi maior no tratamento capinado e menor no não-capinado. Não houve diferença entre o tratamento capinado e as doses 3,5 e 4,2 kg.ha-1 de metamitron. 287 % DE CRESCIMENTO EM RELAÇÃO À TESTEMUNHA (arc sen raiz x/100) Manejo de plantas daninhas em beterraba com metamitron 90 75 60 45 30 15 0 0 7 14 21 28 35 42 49 56 63 70 DIAS APÓS A APLICAÇÃO 2,8 KG/HA 3,5 KG/HA 4,2 KG/HA Figura 1. Efeito de doses de metamitron, aplicado em Argissolo, no crescimento da planta-teste (alface) em relação à testemunha nas diferentes épocas. Tabela 2. Efeito de doses de metamitron, aplicado em Argissolo, na biomassa da matéria fresca de plantas de alface para as diferentes épocas de amostragens de solo para bioensaio, em Jundiaí (SP), 2002 Biomassa da matéria fresca das plantas de alface (mg.planta-1) Épocas de amostragem nas diferentes doses de metamitron 0 kg.ha-1 2,8 kg.ha-1 3,5 kg.ha-1 4,2 kg.ha -1 0 dias 150,0 0,0 0,0 0,0 21 dias 145,0 13,5 10,5 0,0 49 dias 77,5 63,3 50,5 34,2 70 dias 92,5 90,8 85,0 90,0 a1 152,67241 -5,81897 -0,34483 0,30172 b -1,04064 1,36269 0,21053 -0,61917 c - - 0,016521 0,02709 87,38 98,82 99,99 99,99 r 2 /R2 2 ( 1 ) Coeficientes das equações de regressão linear (a e b) ou quadrática (a, b e c) respectivamente. ( 2 ) Coeficientes de determinação linear e quadrático respectivamente. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.283-289, 2004 288 R. Deuber et al. Tabela 3. Equações de ajuste referentes ao efeito de época de amostragem para cada dose de metamitron quanto à porcentagem de crescimento em relação à testemunha Equação de ajuste (1) Dose de metamitron kg.ha Período residual -1 dias 2,8 0,0260 1/ (0,7673 + -0,6770 x 3,5 112,8853/ (1 + 30,2334 exp 4,2 1/ (0,2267 – 0,0735 x ) 70 (-0,0682 x ) 0,2524 ) 70 ) > 70 ( 1 ) Os dados foram transformados em arco seno de raiz de x/100. Tabela 4. Efeitos dos tratamentos no número e no diâmetro de raízes de beterraba no experimento desenvolvido em Jundiaí (SP). Número de raízes (1) Tratamentos Comercial Descarte Diâmetro de raiz Total comercial n o /1,5 m 2 cm Testemunha capinada 30,68 a 13,93 c 44,61 a 6,77 a Test. não capinada 20,04 b 32,97 a 53,01 a 5,83 b -1 27,73 ab 24,17 ab 51,90 a 6,72 a -1 30,20 ab 19,52 bc 49,72 a 6,71 a -1 33,21 a 17,46 bc 50,67 a 6,59 ab C.V. (%) 8,55 8,95 4,90 5,99 DMS 5% 1,02 0,93 0,78 0,88 2,8 kg.ha de metamitron 3,5 kg.ha de metamitron 4,2 kg.ha de metamitron ( 1 ) Dados transformados em raiz de x para análise estatística, sendo apresentados os dados originais. Tabela 5. Efeito dos tratamentos nas biomassas de matéria frescas (BMF) de raízes e da parte aérea e na altura média de plantas de beterraba no experimento realizado em Jundiaí (SP) BMF de raiz Tratamentos Comercial Descarte Total BMF Altura média Parte aérea de plantas -2 g.1,5 m cm Testemunha capinada 3.772 a 460 a 4.232 a 1.839,25 a 38,03 a Test. Não capinada 1.018 c 889 a 1.907 b 1.221,63 a 38,55 a 2.505 b 808 a 3.313 a 2.020,75 a 37,90 a de metamitron 2.980 ab 780 a 3.760 a 2.047,53 a 39,40 a de metamitron 2.997 ab 724 a 3.721 a 2.168,50 a 35,73 a C.V. (%) 19,60 39,78 17,93 27,60 10,65 DMS 5% 1.173,26 657 1369 1.157,31 9,10 -1 2,8 kg.ha de metamitron -1 3,5 kg.ha -1 4,2 kg.ha Obs. Dados transformados em raiz de x para análise estatística, sendo apresentados os dados originais. Valores nas colunas, seguidos de letras iguais não diferem entre si a 5% pelo teste de Tukey. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.283-289, 2004 Manejo de plantas daninhas em beterraba com metamitron A produção de raízes do tipo comercial no tratamento com 2,8 kg.ha-1 de metamitron foi inferior ao da testemunha capinada devido à infestação do capim-pé-de-galinha (Tabela 1). Em relação à biomassa da matéria fresca total de raízes (tipos comercial + descarte), verificou-se que apenas a testemunha não capinada apresentou resultado inferior ao da capinada (Tabela 5). Segundo F I L G U E I R A (2000), a produtividade da beterraba situa-se entre 2,0 e 3,5 kg.m-2, verificando-se que todos os tratamentos, exceto a testemunha não capinada, apresentaram produção de raízes de beterraba com qualidade comercial. 4. CONCLUSÕES 1. Metamitron aplicado nas diversas doses não causou fitotoxicidade à cultura da beterraba. 2. O picão-branco e o mentruz foram eficientemente controlados com quaisquer das doses de metamitron. Aos 28 dias, o capim-pé-de-galinha foi controlado com quaisquer das doses de metamitron aplicada; aos 70 DAA, somente com doses de 3,5 e 4,2 kg.ha-1 obteve-se controle eficiente. 3. O período residual de metamitron para as doses de 2,8 e 3,5 kg.ha-1 foi de 70 dias e para 4,2 kg.ha -1 foi superior a esse período. 4. O controle de plantas daninhas resultou em maior número e maior quantidade de biomassa de matéria fresca de raízes do tipo comercial. REFERÊNCIAS CAMARGO FILHO, W.P.; MAZZEI, A.R. Mercado de beterraba em São Paulo. Informações Econômicas, São Paulo, v.32, n.4, p.56-58, 2002. 289 FILGUEIRA, F.A.R. Chenopodiaceae - beterraba e hortaliças herbáceas. In: FILGUEIRA, F.A.R. Novo Manual de Olericultura: agroecologia moderna e comercialização de hortaliças. Viçosa: UFV, 2000. p.362-366. HERBICIDE HANDBOOK COMMITTEE. Herbicide Handbook. 8.ed. Lawrence: Weed Science Society of America, 2002. p.292. MATALLO, M.B.; SALVO, S.; BLANCO, H.G. Seletividade e eficiência do metamitron sobre plantas daninhas na cultura da beterraba hortícola. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HERBICIDAS E PLANTAS DANINHAS, 18., 1991, Brasília. Resumos... Brasília: SBHED, 1991. p.100. NOVO, M.C.S.S.; LOPES, E.S.; ORTOLANI, M.C.A. Levantamento da nodulação, persistência de herbicidas e isolamento de Bradyrhizobium spp. de áreas com rotação cana-de-açúcar/ amendoim. Revista de Microbiologia, São Paulo, v.22, p.6065, 1991. STEEL, R.G.D. ; TORRIE, J.H. Analysis of variance: IV. Splitplot designs and analysis. In: STEEL, R.G.D.; TORRIE, J.H. (Eds.). Principles and Procedures of Statistics. 2.ed. New York: McGraw Hill, 1980. cap.16, p.377-400. TOZANI, R.; SOUZA, C.L.M.; MORAIS, V.; COELHO, R.G.; LOPES, C.A.; JÚNIOR, O.F.O. 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Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.283-289, 2004 Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.63 no.2 Campinas 2004 TECNOLOGIA DE SEMENTES Beneficiamento e qualidade de sementes de café arábica Processing and quality of arabica coffee seeds Gerson Silva GiomoI; Luiz Fernandes RazeraII; Paulo Boller GalloI IPólo de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Nordeste Paulista, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Caixa Postal 58, 13730-970 Mococa (SP). E-mail: [email protected] IICentro de Insumos Estratégicos e Serviços Especializados, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas-(SP) RESUMO Com o objetivo de estudar os efeitos do beneficiamento na qualidade das sementes de café arábica, submeteu-se um lote de sementes de café Catuaí Amarelo à ação conjunta de máquina de ar e peneiras (pré-limpeza) e mesa gravitacional. As frações obtidas durante as operações realizadas pelos equipamentos em cada etapa do beneficiamento foram amostradas, constituindo-se os tratamentos. As sementes foram avaliadas pelo teste de germinação, primeira contagem da germinação, emergência de plântulas em casa de vegetação, índice de velocidade de emergência de plântulas e massa seca de plântulas. Foram realizadas também determinações de teor de água, proporção de sementes chatas e de sementes mocas e quantidade de sementes beneficiadas. Verificou-se que o beneficiamento em máquina de ar e peneiras e em mesa gravitacional pode contribuir para o aprimoramento da qualidade fisiológica das sementes de café, sendo equipamentos eficientes para a separação do lote em frações com qualidade fisiológica distinta. As sementes de menor tamanho e menor densidade apresentam qualidade fisiológica inferior à das demais e as sementes mocas podem revelar qualidade fisiológica similar à das sementes chatas. Palavras-chave: Coffea arabica L., tipos de sementes, germinação, qualidade fisiológica. ABSTRACT A coffee seed lot of Catuaí Amarelo cultivar was processed by air-screen machine and gravity table in order to study the effect of processing on seed quality. Samples were obtained in each step of the process constituting the treatments. It were evaluated on to germination, at 15 and 30 days, emergence index and speed in green house, and seedling dry matter. Water content, shape (peaberry and flat seeds) and the amount of seeds processed were also determined. Processing in air screen machine and gravity table improved the physiological quality of the coffee seeds; the equipments were efficient to separate a coffee seed lot into fractions of distinct physiological quality. Both, small and the light seeds showed inferior physiological quality compared to the other types. Peaberry seeds may have physiological quality similar to flat seeds. Key words: Coffea arabica L., kind of seeds, seed germination, physiological seed quality. 1. INTRODUÇÃO O beneficiamento constitui parte essencial dentre as diversas etapas de produção de sementes, quando os lotes precisam ser manuseados adequadamente para aprimorar a qualidade. O tamanho e a densidade são fatores diferenciais utilizados nas separações realizadas durante o beneficiamento (VAUGHAN et al., 1976) e podem constituir indicativos de qualidade fisiológica das sementes. Assim, dentro de um mesmo lote, as sementes de menor tamanho ou menor densidade podem apresentar, de modo geral, menores valores de germinação e vigor do que as demais (POPINIGIS, 1985). Entretanto, segundo CARVALHO e NAKAGAWA (2000), os efeitos do tamanho e da densidade das sementes sobre a germinação, vigor, crescimento inicial e produção da planta não estão ainda inteiramente elucidados. As sementes de café são extraídas de frutos maduros (estádio cereja) por processamento "via-úmida" (SILVA, 2000), sendo comum nos lotes a presença de fragmentos do epicarpo (casca) e do endocarpo (pergaminho), de frutos não descascados (café em coco), de sementes sem pergaminho, de sementes quebradas e de sementes miúdas, que precisam ser removidos durante o beneficiamento para aprimorar a qualidade do lote. Quanto à forma, segundo FAZUOLI (1986), há predominância de sementes chatas (achatadas) nos lotes de café arábica, embora ocorram sementes mocas (ovaladas) em freqüência variável. A semente moca origina-se do desenvolvimento exclusivo de uma única semente, de forma ovalada, no fruto (CARVALHO e KRUG, 1949; MENDES, 1957). De acordo com CASTRO (1960), as sementes mocas têm potencial genético e fisiológico idêntico ao das sementes chatas, podendo originar plantas que vão produzir tanto sementes chatas quanto mocas, em proporção variável segundo as características da cultivar e da sua interação com o ambiente; a diferença entre esses dois tipos de sementes é morfológica, não havendo, portanto, motivo de natureza fisiológica para se removerem as sementes mocas dos lotes de café (GIOMO et al., 2001a, b). No entanto, para o Estado de Minas Gerais há um limite de tolerância de 12% de sementes mocas nos lotes de café para fins de comercialização (LOBATO e CARVALHO, 1988). As máquinas utilizadas no beneficiamento de sementes realizam as separações com base em diferenças físicas entre os componentes do lote e, para que as operações sejam realizadas de maneira eficaz, é necessário o uso de um ou mais equipamentos especializados que permitam a remoção de materiais indesejáveis, promovendo um efetivo aprimoramento da qualidade dos lotes (WELCH, 1973; VAUGHAN et al., 1976). BUITRAGO et al. (1991) observaram, em lotes de feijão, que o uso exclusivo da máquina de ar e peneiras não melhorou a qualidade das sementes. Essas, porém, coletadas na descarga superior da mesa gravitacional apresentaram qualidade superior à das sementes das demais frações. Por sua vez, BORGES et al. (1991) verificaram que a máquina de ar e peneiras e a mesa gravitacional podem causar injúrias mecânicas, com reflexos negativos à qualidade das sementes de feijão. Trabalhando com sementes de milho, BAUDET e MISRA (1991) verificaram que a mesa gravitacional foi eficiente para separar o lote em frações com qualidade distinta, quando as sementes coletadas na descarga superior apresentaram melhor qualidade física e fisiológica, nas comparações com as demais frações. ALEXANDRE e SILVA (2001) avaliaram a eficiência da mesa gravitacional no beneficiamento de sementes de ervilhaca-comum (Vicia sativa L.) e verificaram que a separação das sementes, segundo a massa volumétrica e densidade, proporcionou alterações favoráveis ao lote, cujas sementes de maior densidade apresentaram qualidade fisiológica superior. Na maioria das pesquisas realizadas observa-se que há concordância quanto à necessidade de remoção das sementes de menor tamanho e menor densidade do lote, pois a pequena quantidade de substâncias de reserva pode proporcionar um lento desenvolvimento às plântulas. Além disso, em inúmeros trabalhos já se verificou que a separação das sementes por tamanho e densidade é vantajosa para o aprimoramento da qualidade de diversas espécies. O presente trabalho foi realizado com o objetivo de estudar os efeitos do beneficiamento em máquina de ar e peneiras e em mesa gravitacional na qualidade fisiológica das sementes de café arábica. 2. MATERIAL E MÉTODOS Foram estudadas as sementes da cultivar Catuaí Amarelo IAC 62 de café arábica (Coffea arabica L.), produzidas no Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Nordeste Paulista, sediado em Mococa (SP). O lote de sementes foi, inicialmente, submetido à pré-limpeza em máquina de ar e peneiras visando à remoção de sementes miúdas e de materiais leves (resíduos de cascas e de pergaminhos). Para tanto, utilizaram-se peneiras com perfurações oblongas de 13/64 x ¾ de polegada na desfolha e circulares de 18/64 de polegada na peneiração. Em seguida, as sementes retidas na peneira inferior foram encaminhadas à mesa gravitacional regulada de acordo com as recomendações de GREGG e FAGUNDES (1975). As seções de descarga foram ajustadas de maneira a permitir maior concentração de materiais indesejáveis (sementes sem pergaminho, sementes com pergaminho danificado e sementes com casca) na descarga inferior. Após a estabilização do funcionamento dos equipamentos coletaram-se amostras de aproximadamente dois quilogramas de sementes em cada etapa do beneficiamento para comparação com as sementes não beneficiadas do lote original. A seqüência operacional utilizada permitiu a obtenção dos seguintes tratamentos: NB – sementes não beneficiadas (lote original); PL13 e PL<18 – sementes retidas na peneira 13/64 x ¾ de polegada e sementes que atravessaram a peneira 18/64 de polegada da máquina de ar e peneiras respectivamente; MGS, MGIS, MGII e MGI – sementes retidas na peneira 18/64 de polegada da máquina de ar e peneiras e coletadas nas descargas superior, intermediária-superior, intermediária-inferior e inferior da mesa gravitacional respectivamente. Logo após, as sementes foram submetidas às seguintes avaliações: a) Teor de água: determinado pelo método da estufa a 105 ± 3 ºC durante 24 horas, conforme as recomendações das Regras para Análise de Sementes (Brasil, 1992). Foram utilizadas duas subamostras de 25 sementes sem pergaminho para cada repetição e o cálculo do teor de água foi feito com base na massa de sementes úmidas; b) Proporção de sementes chatas e mocas: determinada em quatro amostras de 500 gramas para cada tratamento, em que as sementes chatas e mocas foram separadas e tiveram suas massas determinadas. As percentagens foram obtidas dividindo-se a massa de cada tipo de semente (chata ou moca) pela massa total de sementes de cada amostra respectiva (chatas + mocas); c) Quantidade de sementes beneficiadas: todos os materiais separados na máquina de ar e peneiras e na mesa gravitacional foram recolhidos, e dividiu-se a massa de cada fração pela massa total de sementes do lote, obtendo-se o percentual de sementes beneficiadas. A quantidade de sementes obtidas em cada fração foi utilizada para o cálculo da média ponderada da porcentagem de germinação; d) Teste de germinação: realizado com quatro subamostras de 50 sementes sem pergaminho para cada tratamento, colocadas em rolos de papel toalha "germitest" umedecido com água destilada na proporção de 2,5 vezes a massa do papel seco. O endocarpo foi cuidadosamente removido, de acordo com as recomendações de HUXLEY (1965) e as sementes, colocadas para germinar à temperatura constante de 30 ºC na presença de luz. A contagem final foi realizada no trigésimo dia após a semeadura, computando-se o número de plântulas normais, conforme os critérios estabelecidos pelas Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 1992). Foram determinadas, também, as porcentagens de plântulas anormais e de sementes mortas. Calculou-se a média ponderada da germinação do novo lote obtido após o beneficiamento, considerando-se a germinação (%) e a quantidade de sementes (kg) dos melhores tratamentos. e) Primeira contagem da germinação: foi determinada juntamente com o teste de germinação, computando-se o número de plântulas normais no 15.º dia após a semeadura, conforme método descrito por NAKAGAWA (1999); f) Teste de emergência de plântulas: realizado em casa de vegetação, de acordo com o método de NAKAGAWA (1994). Foram semeadas diretamente no solo quatro subamostras de 50 sementes com pergaminho para cada tratamento, a uma profundidade de 1,5 cm e em sulcos espaçados de 25 cm. A contagem das plântulas foi feita após a conclusão da emergência, aos 77 dias da semeadura, estando as plântulas no estádio de folhas cotiledonares expandidas (orelha-de-onça); g) Velocidade de emergência de plântulas: determinada juntamente com o teste de emergência de plântulas. Foi feita a contagem das plântulas diariamente, desde o surgimento da primeira plântula até a finalização da emergência. Calculou-se a velocidade de emergência conforme os critérios propostos por MAGUIRE (1962); h) Massa seca de plântulas: no fim do teste de emergência, as plântulas foram extraídas do solo, lavadas em água corrente e colocadas para secar em estufa com circulação de ar à temperatura de 60 ºC, até atingirem massa constante. A massa obtida foi dividida pelo número de plântulas da parcela, obtendo-se a massa de matéria seca por plântula, em miligramas (mg). Adotou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado, considerando-se sete tratamentos com quatro repetições. Para fins estatísticos, os dados obtidos em porcentagem foram transformados em arco seno de (x/100)½, porém nos resultados são apresentados os valores originais. A comparação entre as médias foi feita pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Os dados de quantidade de sementes beneficiadas e a proporção de sementes chatas e mocas não foram submetidos à análise estatística. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Segundo os dados apresentados na Tabela 1, observa-se que o lote original (NB) apresentou cerca de 19% de sementes mocas antes do beneficiamento. No entanto, a maioria dessas sementes ficou retida na peneira 13/64 x ¾ de polegada da máquina de ar e peneiras, de maneira que o material conduzido à mesa gravitacional passou a ser constituído, predominantemente, por sementes chatas. Assim, a quantidade de sementes mocas baixou para menos de 1% nos tratamentos obtidos na mesa gravitacional (MGS, MGIS, MGII e MGI), indicando o efeito positivo da máquina de ar e peneiras para a separação de sementes mocas. Os dados de germinação, apresentados na Tabela 2, mostram que as sementes foram separadas em dois grupos distintos de acordo com a qualidade fisiológica. Observa-se que as sementes dos tratamentos PL13 e MGS expressaram os maiores valores de germinação, enquanto as sementes dos tratamentos NB, PL<18 e MGI apresentaram os menores valores. Já as sementes dos tratamentos MGIS e MGII indicaram valores intermediários de germinação, porém sem diferir significativamente dos tratamentos cujas sementes apresentaram os maiores ou os menores valores de germinação. Os dados da primeira contagem da germinação revelam que as sementes dos tratamentos MGIS, MGS e PL13 apresentaram vigor superior, diferindo significativamente das sementes com menor valor de vigor (MGI). Os tratamentos NB, MGII e PL<18 não diferiram significativamente entre si, embora tenham apresentado sementes com valores numéricos intermediários de vigor, em relação aos tratamentos cujas sementes apresentaram vigor superior ou inferior. Esses resultados reforçam os efeitos benéficos da máquina de ar e peneiras e da mesa gravitacional no aprimoramento da qualidade das sementes de café. A porcentagem de plântulas anormais não diferiu significativamente entre os tratamentos, não servindo, portanto, como parâmetro diferenciador da qualidade fisiológica das sementes neste experimento. Já em relação às sementes mortas, observa-se que os tratamentos PL13 e MGS apresentaram os menores valores, motivo pelo qual possuíram sementes com qualidade fisiológica superior. Nos tratamentos NB, MGIS e MGII foram verificados valores intermediários, porém sem diferir significativamente dos tratamentos PL<18 e PL13 que apresentaram, respectivamente, os maiores e os menores valores de sementes mortas. Constata-se, adicionalmente, que as sementes dos tratamentos PL<18 e MGI constituíram materiais de baixa qualidade fisiológica, pelo teste de germinação, devido ao alto percentual de sementes mortas. Ressalta-se que o lote original (NB), mesmo sendo recém-colhido, já apresentava elevadas porcentagens de plântulas anormais e de sementes mortas. Confrontando-se os resultados do teste de germinação com os valores de teor de água (Tabela 1), infere-se que o elevado grau de umidade das sementes durante o beneficiamento não foi prejudicial à qualidade, haja vista que as sementes submetidas à ação da máquina de ar e peneiras e mesa gravitacional (tratamentos PL13, MGS, MGIS e MGII) apresentaram qualidade fisiológica superior à das sementes não beneficiadas do lote original (tratamento NB). Assim, embora não tenham sido feitas avaliações de danos mecânicos, é provável que o endocarpo rígido (pergaminho) possa ter protegido as sementes contra abrasões e impactos durante as operações do beneficiamento, preservando sua integridade física. As determinações da porcentagem e da velocidade de emergência de plântulas em casa de vegetação proporcionaram resultados idênticos na avaliação da qualidade fisiológica, indicando vigor superior para as sementes dos tratamentos MGS, MGIS, PL13 e NB, e vigor inferior para as sementes dos tratamentos PL<18 e MGI. Nota-se, também, que as sementes do tratamento MGII apresentaram superioridade numérica dessas variáveis em relação aos tratamentos PL<18 e MGI, porém sem diferir significativamente desses tratamentos. A avaliação da massa seca de plântulas indicou vigor superior para as sementes dos tratamentos NB, PL13 e MGS e inferior para as sementes do tratamento PL<18. O vigor das sementes dos tratamentos MGIS, MGII e MGI foi intermediário, em termos numéricos, porém não diferiu significativamente das sementes dos demais tratamentos. A não-detecção da baixa qualidade fisiológica das sementes do tratamento MGI, pela avaliação de massa seca de plântulas, pode ter sido devido ao longo período decorrido entre a emergência das plântulas e a determinação dessa variável (77 dias). Assim, as plântulas que emergiram primeiro atingiram antes o estádio de folhas cotiledonares completamente desenvolvidas (orelha-de-onça) e podem ter realizado fotossíntese, incrementando a produção de matéria seca e contribuindo para igualar as médias. Observa-se que as sementes dos tratamentos PL<18 e MGI apresentaram baixos valores de germinação e vigor em quase todos os testes realizados, mostrando que a remoção dessas frações do lote poderia contribuir para a melhoria da qualidade fisiológica das sementes, porém com descarte de 5% do lote original, conforme os dados apresentados na tabela 1. Confrontando-se os dados de germinação com o padrão de sementes fiscalizadas de café (germinação > 70%), somente as sementes dos tratamentos PL13 e MGS poderiam ser comercializadas. Entretanto, considerandose a média ponderada de germinação das sementes dos melhores tratamentos (PL13, MGS, MGIS e MGII), constata-se que a composição da mistura dessas sementes resultaria em novo lote com 70% de germinação, atendendo ao padrão mínimo recomendado para o Estado de São Paulo (São Paulo, 1997). Dessa forma, a germinação das sementes não beneficiadas passaria de 62% para 70% no novo lote, obtido após o beneficiamento, revelando que a máquina de ar e peneiras e a mesa gravitacional foram benéficas para o aprimoramento da qualidade fisiológica das sementes de café. As sementes do tratamento PL13, constituído por aproximadamente 76% de sementes mocas, apresentaram qualidade fisiológica similar à das sementes dos tratamentos MGS e MGIS, constituídos quase exclusivamente por sementes chatas. Assim, considerando-se a qualidade fisiológica dessas sementes e as observações feitas por CARVALHO e KRUG (1949), MENDES (1957), CASTRO (1960) e GIOMO et al. (2001a, b), não há motivo de natureza fisiológica para que as sementes mocas sejam removidas do lote. Outro inconveniente advindo da remoção das sementes mocas do lote (PL13) seria o descarte de 26% do lote original, conforme os dados apresentados na Tabela 1, o que certamente acarretaria prejuízos ao produtor de sementes de café. 4. CONCLUSÕES 1. O beneficiamento em máquina de ar e peneiras e mesa gravitacional pode contribuir para o aprimoramento da qualidade fisiológica das sementes de café. 2. A máquina de ar e peneiras e a mesa gravitacional são equipamentos eficientes para a separação do lote de sementes de café em frações com qualidade fisiológica distinta. 3. As sementes de café de menor tamanho e menor densidade apresentam qualidade fisiológica inferior à das demais. 4. As sementes mocas de café podem apresentar qualidade fisiológica similar à das sementes chatas. REFERÊNCIAS ALEXANDRE, A.D.; SILVA, W.R. Mesa gravitacional e qualidade fisiológica e sanitária de sementes de ervilhaca comum (Vicia sativa L.). Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.23, n.1, p.167-174, 2001. BAUDET, L.; MISRA, M. Atributos de qualidade de sementes de milho beneficiadas em mesa de gravidade. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.13, n.2, p.91-97, 1991. BORGES, J.W.M.; MORAES, E.A.; VIEIRA, M.G.G.C. Efeitos do beneficiamento sobre a viabilidade de sementes de feijão (Phaseolus vulgaris L.) armazenada. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.13, n.2, p.135-138, 1991. BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para análise de sementes. Brasília: SNDA/DNDV/CLAV, 1992. 365p. BUITRAGO, I.C.; VILLELA, F.A.; TILLMANN, M.A.A.; SILVA, J.B. Perdas e qualidade de sementes de feijão beneficiadas em máquina de ventiladores e peneiras e mesa de gravidade. 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Foram realizadas também determinações de teor de água, proporção de sementes chatas e de sementes mocas e quantidade de sementes beneficiadas. Verificou-se que o beneficiamento em máquina de ar e peneiras e em mesa gravitacional pode contribuir para o aprimoramento da qualidade fisiológica das sementes de café, sendo equipamentos eficientes para a separação do lote em frações com qualidade fisiológica distinta. As sementes de menor tamanho e menor densidade apresentam qualidade fisiológica inferior à das demais e as sementes mocas podem revelar qualidade fisiológica similar à das sementes chatas. Palavras-chave: Coffea arabica L., tipos de sementes, germinação, qualidade fisiológica. ABSTRACT PROCESSING AND QUALITY OF ARABICA COFFEE SEEDS A coffee seed lot of Catuaí Amarelo cultivar was processed by air-screen machine and gravity table in order to study the effect of processing on seed quality. Samples were obtained in each step of the process constituting the treatments. It were evaluated on to germination, at 15 and 30 days, emergence index and speed in green house, and seedling dry matter. Water content, shape (peaberry and flat seeds) and the amount of seeds processed were also determined. Processing in air screen machine and gravity table improved the physiological quality of the coffee seeds; the equipments were efficient to separate a coffee seed lot into fractions of distinct physiological quality. Both, small and the light seeds showed inferior physiological quality compared to the other types. Peaberry seeds may have physiological quality similar to flat seeds. Key words: Coffea arabica L., kind of seeds, seed germination, physiological seed quality. ( 1) Recebido para publicação em 12 de junho de 2003 e aceito em 16 de abril de 2004. ( 2) Pólo de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Nordeste Paulista, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Caixa Postal 58, 13730-970 Mococa (SP). E-mail: [email protected] ( 3) Centro de Insumos Estratégicos e Serviços Especializados, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas-(SP). Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.291-297, 2004 292 G.S. Giomo et al. 1. INTRODUÇÃO O beneficiamento constitui parte essencial dentre as diversas etapas de produção de sementes, quando os lotes precisam ser manuseados adequadamente para aprimorar a qualidade. O tamanho e a densidade são fatores diferenciais utilizados nas separações realizadas durante o beneficiamento (V AUGHAN et al., 1976) e podem constituir indicativos de qualidade fisiológica das sementes. Assim, dentro de um mesmo lote, as sementes de menor tamanho ou menor densidade podem apresentar, de modo geral, menores valores de germinação e vigor do que as demais (P OPINIGIS, 1985). Entretanto, segundo CARVALHO e N AKAGAWA (2000), os efeitos do tamanho e da densidade das sementes sobre a germinação, vigor, crescimento inicial e produção da planta não estão ainda inteiramente elucidados. As sementes de café são extraídas de frutos maduros (estádio cereja) por processamento “via-úmida” (SILVA , 2000), sendo comum nos lotes a presença de fragmentos do epicarpo (casca) e do endocarpo (pergaminho), de frutos não descascados (café em coco), de sementes sem pergaminho, de sementes quebradas e de sementes miúdas, que precisam ser removidos durante o beneficiamento para aprimorar a qualidade do lote. Quanto à forma, segundo FAZUOLI (1986), há predominância de sementes chatas (achatadas) nos lotes de café arábica, embora ocorram sementes mocas (ovaladas) em freqüência variável. A semente moca origina-se do desenvolvimento exclusivo de uma única semente, de forma ovalada, no fruto (C ARVALHO e KRUG , 1949; MENDES , 1957). De acordo com CASTRO (1960), as sementes mocas têm potencial genético e fisiológico idêntico ao das sementes chatas, podendo originar plantas que vão produzir tanto sementes chatas quanto mocas, em proporção variável segundo as características da cultivar e da sua interação com o ambiente; a diferença entre esses dois tipos de sementes é morfológica, não havendo, portanto, motivo de natureza fisiológica para se removerem as sementes mocas dos lotes de café (GIOMO et al., 2001a, b). No entanto, para o Estado de Minas Gerais há um limite de tolerância de 12% de sementes mocas nos lotes de café para fins de comercialização (LOBATO e C ARVALHO, 1988). As máquinas utilizadas no beneficiamento de sementes realizam as separações com base em diferenças físicas entre os componentes do lote e, para que as operações sejam realizadas de maneira eficaz, é necessário o uso de um ou mais equipamentos especializados que permitam a remoção de materiais indesejáveis, promovendo um efetivo aprimoramento da qualidade dos lotes (WELCH, 1973; VAUGHAN et al., 1976). Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.291-297, 2004 BUITRAGO et al. (1991) observaram, em lotes de feijão, que o uso exclusivo da máquina de ar e peneiras não melhorou a qualidade das sementes. Essas, porém, coletadas na descarga superior da mesa gravitacional apresentaram qualidade superior à das sementes das demais frações. Por sua vez, B ORGES et al. (1991) verificaram que a máquina de ar e peneiras e a mesa gravitacional podem causar injúrias mecânicas, com reflexos negativos à qualidade das sementes de feijão. Trabalhando com sementes de milho, BAUDET e M ISRA (1991) verificaram que a mesa gravitacional foi eficiente para separar o lote em frações com qualidade distinta, quando as sementes coletadas na descarga superior apresentaram melhor qualidade física e fisiológica, nas comparações com as demais frações. ALEXANDRE e SILVA (2001) avaliaram a eficiência da mesa gravitacional no beneficiamento de sementes de ervilhaca-comum (Vicia sativa L.) e verificaram que a separação das sementes, segundo a massa volumétrica e densidade, proporcionou alterações favoráveis ao lote, cujas sementes de maior densidade apresentaram qualidade fisiológica superior. Na maioria das pesquisas realizadas observase que há concordância quanto à necessidade de remoção das sementes de menor tamanho e menor densidade do lote, pois a pequena quantidade de substâncias de reserva pode proporcionar um lento desenvolvimento às plântulas. Além disso, em inúmeros trabalhos já se verificou que a separação das sementes por tamanho e densidade é vantajosa para o aprimoramento da qualidade de diversas espécies. O presente trabalho foi realizado com o objetivo de estudar os efeitos do beneficiamento em máquina de ar e peneiras e em mesa gravitacional na qualidade fisiológica das sementes de café arábica. 2. MATERIAL E MÉTODOS Foram estudadas as sementes da cultivar Catuaí Amarelo IAC 62 de café arábica (Coffea arabica L.), produzidas no Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Nordeste Paulista, sediado em Mococa (SP). O lote de sementes foi, inicialmente, submetido à pré-limpeza em máquina de ar e peneiras visando à remoção de sementes miúdas e de materiais leves (resíduos de cascas e de pergaminhos). Para tanto, utilizaram-se peneiras com perfurações oblongas de 13/64 x ¾ de polegada na desfolha e circulares de 18/64 de polegada na peneiração. Beneficiamento e qualidade de sementes de café arábica Em seguida, as sementes retidas na peneira inferior foram encaminhadas à mesa gravitacional regulada de acordo com as recomendações de GREGG e F AGUNDES (1975). As seções de descarga foram ajustadas de maneira a permitir maior concentração de materiais indesejáveis (sementes sem pergaminho, sementes com pergaminho danificado e sementes com casca) na descarga inferior. Após a estabilização do funcionamento dos equipamentos coletaram-se amostras de aproximadamente dois quilogramas de sementes em cada etapa do beneficiamento para comparação com as sementes não beneficiadas do lote original. A seqüência operacional utilizada permitiu a obtenção dos seguintes tratamentos: NB – sementes não beneficiadas (lote original); PL13 e PL<18 – sementes retidas na peneira 13/64 x ¾ de polegada e sementes que atravessaram a peneira 18/64 de polegada da máquina de ar e peneiras respectivamente; MGS, MGIS, MGII e MGI – sementes retidas na peneira 18/64 de polegada da máquina de ar e peneiras e coletadas nas descargas superior, intermediária-superior, intermediária-inferior e inferior da mesa gravitacional respectivamente. Logo após, as sementes foram submetidas às seguintes avaliações: a) Teor de água: determinado pelo método da estufa a 105 ± 3 ºC durante 24 horas, conforme as recomendações das Regras para Análise de Sementes (BRASIL , 1992). Foram utilizadas duas subamostras de 25 sementes sem pergaminho para cada repetição e o cálculo do teor de água foi feito com base na massa de sementes úmidas; b) Proporção de sementes chatas e mocas: determinada em quatro amostras de 500 gramas para cada tratamento, em que as sementes chatas e mocas foram separadas e tiveram suas massas determinadas. As percentagens foram obtidas dividindo-se a massa de cada tipo de semente (chata ou moca) pela massa total de sementes de cada amostra respectiva (chatas + mocas); c) Quantidade de sementes beneficiadas: todos os materiais separados na máquina de ar e peneiras e na mesa gravitacional foram recolhidos, e dividiu-se a massa de cada fração pela massa total de sementes do lote, obtendo-se o percentual de sementes beneficiadas. A quantidade de sementes obtidas em cada fração foi utilizada para o cálculo da média ponderada da porcentagem de germinação; d) Teste de germinação: realizado com quatro subamostras de 50 sementes sem pergaminho para cada tratamento, colocadas em rolos de papel toalha “germitest” umedecido com água destilada na proporção de 2,5 vezes a massa do papel seco. 293 O endocarpo foi cuidadosamente removido, de acordo com as recomendações de H UXLEY (1965) e as sementes, colocadas para germinar à temperatura constante de 30 ºC na presença de luz. A contagem final foi realizada no trigésimo dia após a semeadura, computando-se o número de plântulas normais, conforme os critérios estabelecidos pelas Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 1992). Foram determinadas, também, as porcentagens de plântulas anormais e de sementes mortas. Calculou-se a média ponderada da germinação do novo lote obtido após o beneficiamento, considerando-se a germinação (%) e a quantidade de sementes (kg) dos melhores tratamentos. e) Primeira contagem da germinação: foi determinada juntamente com o teste de germinação, computando-se o número de plântulas normais no 15.o dia após a semeadura, conforme método descrito por NAKAGAWA (1999); f) Teste de emergência de plântulas: realizado em casa de vegetação, de acordo com o método de NAKAGAWA (1994). Foram semeadas diretamente no solo quatro subamostras de 50 sementes com pergaminho para cada tratamento, a uma profundidade de 1,5 cm e em sulcos espaçados de 25 cm. A contagem das plântulas foi feita após a conclusão da emergência, aos 77 dias da semeadura, estando as plântulas no estádio de folhas cotiledonares expandidas (orelha-de-onça); g) Velocidade de emergência de plântulas: determinada juntamente com o teste de emergência de plântulas. Foi feita a contagem das plântulas diariamente, desde o surgimento da primeira plântula até a finalização da emergência. Calculou-se a velocidade de emergência conforme os critérios propostos por MAGUIRE (1962); h) Massa seca de plântulas: no fim do teste de emergência, as plântulas foram extraídas do solo, lavadas em água corrente e colocadas para secar em estufa com circulação de ar à temperatura de 60 ºC, até atingirem massa constante. A massa obtida foi dividida pelo número de plântulas da parcela, obtendo-se a massa de matéria seca por plântula, em miligramas (mg). Adotou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado, considerando-se sete tratamentos com quatro repetições. Para fins estatísticos, os dados obtidos em porcentagem foram transformados em arco seno de (x/100)½ , porém nos resultados são apresentados os valores originais. A comparação entre as médias foi feita pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Os dados de quantidade de sementes beneficiadas e a proporção de sementes chatas e mocas não foram submetidos à análise estatística. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.291-297, 2004 294 G.S. Giomo et al. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Segundo os dados apresentados na Tabela 1, observa-se que o lote original (NB) apresentou cerca de 19% de sementes mocas antes do beneficiamento. No entanto, a maioria dessas sementes ficou retida na peneira 13/64 x ¾ de polegada da máquina de ar e peneiras, de maneira que o material conduzido à mesa gravitacional passou a ser constituído, predominantemente, por sementes chatas. Assim, a quantidade de sementes mocas baixou para menos de 1% nos tratamentos obtidos na mesa gravitacional (MGS, MGIS, MGII e MGI), indicando o efeito positivo da máquina de ar e peneiras para a separação de sementes mocas. Os dados de germinação, apresentados na Tabela 2, mostram que as sementes foram separadas em dois grupos distintos de acordo com a qualidade fisiológica. Observa-se que as sementes dos tratamentos PL13 e MGS expressaram os maiores valores de germinação, enquanto as sementes dos tratamentos NB, PL<18 e MGI apresentaram os menores valores. Já as sementes dos tratamentos MGIS e MGII indicaram valores intermediários de germinação, porém sem diferir significativamente dos tratamentos cujas sementes apresentaram os maiores ou os menores valores de germinação. Os dados da primeira contagem da germinação revelam que as sementes dos tratamentos MGIS, MGS e PL13 apresentaram vigor superior, diferindo significativamente das sementes com menor valor de vigor (MGI). Os tratamentos NB, MGII e PL<18 não diferiram significativamente entre si, embora tenham apresentado sementes com valores numéricos intermediários de vigor, em relação aos tratamentos cujas sementes apresentaram vigor superior ou inferior. Esses resultados reforçam os efeitos benéficos da máquina de ar e peneiras e da mesa gravitacional no aprimoramento da qualidade das sementes de café. Tabela 1. Valores médios para o teor de água (%), proporção de sementes chatas e mocas (%), e quantidade de sementes em cada fração (kg e %), obtidos em lote de sementes de café Catuaí Amarelo beneficiado em máquina de ar e peneiras e mesa gravitacional Tratamento Teor de água Proporção de sementes Chatas Quantidade de sementes Mocas % kg % NB 48,5 a 80,8 b 19,2 c (376) (100) PL13 44,2 b 23,8 d 76,2 a 98 26 PL<18 39,5 d 66,8 c 33,2 b 8 2 MGS 44,1 b 99,9 a 0,1 d 118 31 MGIS 43,2 bc 99,9 a 0,1 d 93 25 MGII 42,1 c 99,9 a 0,1 d 49 13 MGI 38,1 d 99,9 a 0,1 d 10 3 CV (%) 1,6 3,3 14,5 - - Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. A porcentagem de plântulas anormais não diferiu significativamente entre os tratamentos, não servindo, portanto, como parâmetro diferenciador da qualidade fisiológica das sementes neste experimento. Já em relação às sementes mortas, observa-se que os tratamentos PL13 e MGS apresentaram os menores valores, motivo pelo qual possuíram sementes com qualidade fisiológica superior. Nos tratamentos NB, MGIS e MGII foram verificados valores intermediários, porém sem diferir significativamente dos Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.291-297, 2004 tratamentos PL<18 e PL13 que apresentaram, respectivamente, os maiores e os menores valores de sementes mortas. Constata-se, adicionalmente, que as sementes dos tratamentos PL<18 e MGI constituíram materiais de baixa qualidade fisiológica, pelo teste de germinação, devido ao alto percentual de sementes mortas. Ressalta-se que o lote original (NB), mesmo sendo recém-colhido, já apresentava elevadas porcentagens de plântulas anormais e de sementes mortas. 295 Beneficiamento e qualidade de sementes de café arábica Tabela 2. Valores médios de germinação (GE), primeira contagem da germinação (PC), plântulas anormais (PA), sementes mortas (SM), emergência de plântulas em casa de vegetação (EC), índice de velocidade de emergência (IVE) e massa de matéria seca de plântulas (MSP), obtidos em lote de sementes de café Catuaí Amarelo beneficiado em máquina de ar e peneiras e mesa gravitacional Tratamento GE PC PA SM EC IVE % MSP mg NB 62,0 b 38,0 abc 22,0 a 16,0 abc 73,0 a 1,2 a 94,1a PL13 73,0 a 41,5 ab 17,0 a 9,0 c 74,0 a 1,2 a 93,0 a PL<18 57,5 b 34,0 bc 17,5 a 25,0 a 55,0 b 0,8 b 67,1b MGS 73,0 a 42,0 ab 17,5 a 9,5 bc 79,0 a 1,3 a 92,3a MGIS 65,5 ab 43,5 a 19,0 a 14,5 abc 75,0 a 1,2 a 86,3ab MGII 64,5 ab 36,5 abc 19,0 a 16,5 abc 66,0 ab 1,1 ab 82,4ab MGI 58,5 b 32,0 c 20,5 a 21,0 ab 54,0 b 0,8 b 81,2ab 6,8 10,7 20,0 8,3 9,7 10,4 CV (%) 31,6 Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Confrontando-se os resultados do teste de germinação com os valores de teor de água (Tabela 1), infere-se que o elevado grau de umidade das sementes durante o beneficiamento não foi prejudicial à qualidade, haja vista que as sementes submetidas à ação da máquina de ar e peneiras e mesa gravitacional (tratamentos PL13, MGS, MGIS e MGII) apresentaram qualidade fisiológica superior à das sementes não beneficiadas do lote original (tratamento NB). Assim, embora não tenham sido feitas avaliações de danos mecânicos, é provável que o endocarpo rígido (pergaminho) possa ter protegido as sementes contra abrasões e impactos durante as operações do beneficiamento, preservando sua integridade física. As determinações da porcentagem e da velocidade de emergência de plântulas em casa de vegetação proporcionaram resultados idênticos na avaliação da qualidade fisiológica, indicando vigor superior para as sementes dos tratamentos MGS, MGIS, PL13 e NB, e vigor inferior para as sementes dos tratamentos PL<18 e MGI. Nota-se, também, que as sementes do tratamento MGII apresentaram superioridade numérica dessas variáveis em relação aos tratamentos PL<18 e MGI, porém sem diferir significativamente desses tratamentos. A avaliação da massa seca de plântulas indicou vigor superior para as sementes dos tratamentos NB, PL13 e MGS e inferior para as sementes do tratamento PL<18. O vigor das sementes dos tratamentos MGIS, MGII e MGI foi intermediário, em termos numéricos, porém não diferiu significativamente das sementes dos demais tratamentos. A não-detecção da baixa qualidade fisiológica das sementes do tratamento MGI, pela avaliação de massa seca de plântulas, pode ter sido devido ao longo período decorrido entre a emergência das plântulas e a determinação dessa variável (77 dias). Assim, as plântulas que emergiram primeiro atingiram antes o estádio de folhas cotiledonares completamente desenvolvidas (orelhade-onça) e podem ter realizado fotossíntese, incrementando a produção de matéria seca e contribuindo para igualar as médias. Observa-se que as sementes dos tratamentos PL<18 e MGI apresentaram baixos valores de germinação e vigor em quase todos os testes realizados, mostrando que a remoção dessas frações do lote poderia contribuir para a melhoria da qualidade fisiológica das sementes, porém com descarte de 5% do lote original, conforme os dados apresentados na tabela 1. Confrontando-se os dados de germinação com o padrão de sementes fiscalizadas de café (germinação ≥ 70%), somente as sementes dos tratamentos PL13 e MGS poderiam ser comercializadas. Entretanto, considerando-se a média ponderada de germinação das sementes dos melhores tratamentos (PL13, MGS, MGIS e MGII), constata-se que a composição da mistura dessas sementes resultaria em novo lote com 70% de germinação, atendendo ao padrão mínimo recomendado para o Estado de São Paulo (SÃO P AULO , 1997). Dessa forma, a germinação das sementes não beneficiadas passaria de 62% para 70% no novo lote, obtido após o beneficiamento, revelando que a máquina de ar e peneiras e a mesa gravitacional foram benéficas para o aprimoramento da qualidade fisiológica das sementes de café. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.291-297, 2004 296 G.S. Giomo et al. As sementes do tratamento PL13, constituído por aproximadamente 76% de sementes mocas, apresentaram qualidade fisiológica similar à das sementes dos tratamentos MGS e MGIS, constituídos quase exclusivamente por sementes chatas. Assim, considerando-se a qualidade fisiológica dessas sementes e as observações feitas por CARVALHO e KRUG (1949), MENDES (1957), CASTRO (1960) e GIOMO et al. (2001a, b), não há motivo de natureza fisiológica para que as sementes mocas sejam removidas do lote. Outro inconveniente advindo da remoção das sementes mocas do lote (PL13) seria o descarte de 26% do lote original, conforme os dados apresentados na Tabela 1, o que certamente acarretaria prejuízos ao produtor de sementes de café. BUITRAGO, I.C.; VILLELA, F.A.; TILLMANN, M.A.A.; SILVA, J.B. Perdas e qualidade de sementes de feijão beneficiadas em máquina de ventiladores e peneiras e mesa de gravidade. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.13, n.2, p.99-104, 1991. CARVALHO, A.; KRUG, C.A. Agentes de polinização da flor do cafeeiro (Coffea arabica L.). Bragantia, Campinas, v.IX, n.14, p.11-24, 1949. CARVALHO, N.M.; NAKAGAWA, J. Vigor de sementes. In: ___. (Eds.). Sementes: ciência, tecnologia e produção. 4 ed. Jaboticabal: FUNEP, 2000. p.224-242. CASTRO, F.S. Escogencia y tratamiento de la semilla de café. Agricultura Tropical, San José, v.16, n.11, p.715-724, 1960. 4. CONCLUSÕES FAZUOLI, L.C. Genética e melhoramento do cafeeiro. In: RENA, A.B.; MALAVOLTA, E.; ROCHA, M.; YAMADA, T. (Eds.). Cultura do cafeeiro: fatores que afetam a produtividade. Piracicaba: POTAFÓS, 1986. p.87-113. 1. O beneficiamento em máquina de ar e peneiras e mesa gravitacional pode contribuir para o aprimoramento da qualidade fisiológica das sementes de café. GIOMO, G.S.; RAZERA, L.F.; GALLO, P.B. Beneficiamento de sementes de café (Coffea arabica L.) em máquina de ar e peneiras e mesa gravitacional. In: SIMPÓSIO DE PESQUISA DE CAFÉS DO BRASIL, 2., 2001, Vitória. Resumos... Brasília: MAA/CBPDC/EMBRAPA, 2001a. p.1648-1658. 2. A máquina de ar e peneiras e a mesa gravitacional são equipamentos eficientes para a separação do lote de sementes de café em frações com qualidade fisiológica distinta. GIOMO, G.S.; RAZERA, L.F.; GALLO, P.B. Qualidade fisiológica de sementes de café (Coffea arabica L.) beneficiadas em máquina de ventiladores e peneiras e mesa gravitacional. Informativo ABRATES, Curitiba, v.11, n.2, p.68, 2001b. 3. As sementes de café de menor tamanho e menor densidade apresentam qualidade fisiológica inferior à das demais. GREGG, B.R.; FAGUNDES, S.R.F. Manual de operações da mesa de gravidade. Brasília: AGIPLAN, 1975. 78p. 4. As sementes mocas de café podem apresentar qualidade fisiológica similar à das sementes chatas. REFERÊNCIAS ALEXANDRE, A.D.; SILVA, W.R. Mesa gravitacional e qualidade fisiológica e sanitária de sementes de ervilhaca comum (Vicia sativa L.). Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.23, n.1, p.167-174, 2001. 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E-mail: [email protected] IIIPolo Regional de Desenvolvimento Tecnológico do Nordeste Paulista (DDD/APTA), Caixa Postal 58, 13730-970 Mococa (SP) RESUMO Foi realizado um estudo visando comparar os ambientes de várzea sistematizada e de posto meteorológico, no município de Mococa (SP), por meio de medições de temperatura e umidade relativa do ar, radiação solar global e velocidade do vento. No ambiente de várzea, foi medido também o saldo de radiação. A comparação de médias foi feita por análise de dados pareados, de outubro a março (representando as condições de primavera/verão) e de abril a julho (outono e inverno). A evapotranspiração na escala diária foi estimada pelo método de Penman–Monteith, adotado como padrão pela FAO. No período outono-inverno (O-I), observou-se que, para a temperatura máxima do ar, a diferença média entre os ambientes foi de 0,1 ºC; para a temperatura mínima do ar, a várzea apresentou média inferior de 3,4 ºC, enquanto no período de primavera-verão as temperaturas máximas, na várzea, foram, em média, 0,9 ºC mais elevadas que no posto meteorológico. Os valores de evapotranspiração, no período de primavera/verão, os dois ambientes analisados foram muito semelhantes. A evapotranspiração em ambos os ambientes variou entre 1,0 e 7,8 mm por dia com valores máximos ocorrendo no período outubro/novembro. Durante o outono/inverno as estimativas feitas para o posto meteorológico foram superiores em 1,6 mm por dia às da várzea. No período de outono-inverno foram mais acentuadas as diferenças entre várzea e posto meteorológico. Palavras-chave: microclima, várzea, temperatura, umidade relativa, evapotranspiração. ABSTRACT A study was conducted to compare the systematic flood plain environment and that of a Weather Station. The survey was conducted in the Mococa county, São Paulo State, Brazil. The measurements of the microclimatic parameters at the weather station and floodplain environment were made by means of the automated weather station (SCI) determining: temperature and relative humidity of the air, and global solar radiation. In the floodplain environment the net radiation was also measured. The average values were compared by paired comparison analysis, for the months from October to March (representing spring and summer conditions) and the months from April to July (representing autumn and winter conditions).The evapotranspiration in the daily scale was estimated by the Penman-Monteith method adopted by FAO. During the autumnwinter (O-I) period, in the floodplain, it was observed that the average maximum air temperature were 0.1ºC and the minimum air temperature was found to be 3.4ºC lower than the weather station environment. During autumn-winter period the maximum temperatures, at the floodplain, were 0,9 ºC higher than the standard weather conditions. Considering the evapotranspiration in the spring/summer period, the values in the two conditions analyzed (station vs. floodplain) were very similar. Evapotranspiration in both environments varied between 1.0 and 7.8 mm/day with maximum values occurring during the October/November period. On the other hand, the estimates made during the autumn/winter period for the weather station were higher, than those made for the floodplain. In the autumn/winter period the evapotranspiration estimated for the station were mostly superior( 1.6 mm/day) to those of the floodplain. During the autumn/winter period the differences between the environment of flood plains and weather station were higher showing that for the floodplains the microclimatic parameters are more extreme than for the weather station. Key-words: microclimate, temperature, relative humidity, evapotranspiration. 1. INTRODUÇÃO As várzeas são extensões de terra localizadas à margem de rios ou lagos, cuja topografia permite a exploração de culturas adaptadas a esse ambiente e apresentam grande potencial de exploração no Estado de São Paulo. Apesar da importância em conhecer o comportamento da temperatura e da umidade relativa nesse ambiente, poucos trabalhos existem na quantificação das condições de várzea e suas relações com as características macroclimáticas determinadas em condição de Posto Meteorológico. YOSHINO (1975) descreve que em condições de microclima como várzeas, vales e bases de montanha a temperatura do ar é mínima no local onde a altitude é menor, tanto pelo resfriamento da superfície como pelo acúmulo do ar frio. Esse mesmo autor também ressalta que a temperatura máxima do ar apresenta menores diferenças, por ser essa função da taxa de resfriamento do ar e da exposição de vertente. CAMARGO (1972) afirma que os terrenos de baixada para onde converge o ar frio das adjacências, tornando-se cada vez mais frios e úmidos, ficam mais sujeitos à ocorrência de temperaturas mínimas mais baixas. Essa redução mais acentuada de temperatura propicia um aumento da umidade relativa do ar, induzindo, muitas vezes, à ocorrência de orvalho e neblina. Os trabalhos existentes na literatura visam quantificar as variações da temperatura e umidade do ar em diferentes ambientes, porém poucos estão diretamente relacionados ao ambiente de várzea. Embora o clima seja determinado pelos parâmetros ou fatores climáticos, grandes extensões de água ou florestas têm impactos locais pela redução, principalmente, na amplitude térmica, embora GEIGER (1950) afirme que a caracterização isolada da influência de uma floresta sobre o clima seja dificultada pelos fatores macroclimáticos e a própria variabilidade sazonal e temporal dos elementos meteorológicos. A evapotranspiração é outro fator importante a ser avaliado, principalmente, devido às características topográficas e de umidade do solo que ocorrem em condições de várzea. Existem inúmeras fórmulas de estimativa da evapotranspiração (PEREIRA et al. 1997), e o uso de cada uma delas está condicionado à disponibilidade ou existência dos parâmetros necessários à sua aplicação. Dentre essas destaca-se a de Penman (PENMAN, 1948), principalmente para estimativas diárias. BERLATO e MOLION (1981), analisando a fórmula de Penman para estimativa da evaporação, verificaram que sua expressão fora derivada para a superfície livre de água e, no caso de se analisar a evapotranspiração, os fatores de solo e planta devem ser incluídos. Posteriormente, objetivando estimativas de evapotranspiração para culturas agrícolas, a fórmula de Penman foi adaptada, tendo sido incluídos parâmetros de resistência da cultura e do ar ao transporte de vapor d'água . ABTEW (1996) comparou diferentes métodos para estimativa da evapotranspiração em regiões de terras úmidas, nos Everglades da Flórida, e observou que a fórmula de Penman-Monteith apresentou as menores diferenças em comparação aos valores medidos. WESSEL e ROUSE (1994), ao modelar a evaporação de Tundra, comparando diferentes métodos e uma versão modificada do método de Penman-Monteith ,verificam que este último obteve maior potencial de uso nessas condições. MAO et al (2002) estudaram as taxas de evapotranspiração estimadas e medidas em diferentes ambientes de áreas inundáveis na Flórida (USA), utilizando o método de Penman-Monteith. Os resultados mostraram que as estimativas da evapotranspiração, em base mensal, foram muito próximas aos valores medidos. O rápido avanço das técnicas de medidas dos parâmetros meteorológicos com o uso de Estações Meteorológicas Automáticas (HUBBARD e SIVAKUMAR, 2001) deve ser considerado na utilização dos diferentes métodos de estimativa da evapotranspiração, em especial para uso da fórmula de Penman-Monteith. Com base no trabalho de ALLEN et al. (1989), a FAO (ALLEN et al.,1998) recomendou a adoção do método de Penman-Monteith como padrão para a estimativa da evapotranspiração de referência e vários testes têm sido realizados nas condições brasileiras para a escala diária. PEREIRA et al. (2002b) comprovaram o uso adequado dos dados de estações meteorológicas automáticas (EMA) para estimativa da evapotranspiração de referência diária, com base no boletim FAO-56 (ALLEN et al., 1998), comparando com os resultados de estações convencionais e de medidas lisimétricas de evapotranspiração. As várzeas devido às áreas características peculiares de topografia e alta disponibilidade de umidade do solo durante todo o ano necessitam de estudos mais detalhados de medição de temperatura e umidade de ar e de estimativa de evapotranspiração. Portanto, foi desenvolvido este experimento visando caracterizar o ambiente de várzea e comparar com ambiente de posto meteorológico. 3. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi desenvolvido em área experimental do Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Nordeste Paulista (DDD/APTA), localizado no município de Mococa (latitude: 21º 28' Sul; longitude: 47º 01'Oeste e altitude: 665 m). O clima da região, de acordo com a classificação de Köppen, é Aw, com verão úmido e inverno seco. A temperatura média anual é de 22,4 ºC, e o total médio anual de precipitação pluvial é de 1.514 mm. Os ambientes monitorados foram de posto meteorológico e de várzea sistematizada. As medições dos parâmetros microclimáticos em ambiente de posto meteorológico com grama batatais, e área útil 30 x 30 m foram feitas por meio de Estação Meteorológica Automática, modelo Campbell Scientific, e os sensores utilizados foram: a) temperatura do ar/umidade relativa do ar –modelo HMP45C; b) anemômetro – MetOne, modelo 014A; c) radiação solar - radiômetro – Kipp e Zonen - modelo SP Lite. A estação meteorológica automática possuía um sistema de coleta e armazenamento dos registros dos sinais dos sensores (Campbell Scientific, modelo CR 10X). A várzea sistematizada compreende uma área de 15 ha sendo grande parte cultivada com arroz inundado durante o verão e aveia e trigo no inverno. Aproximadamente 2/3 foi deixada em pousio, local onde se realizou o monitoramento dos parâmetros em escala microclimática. Confronta-se ao Norte com o rio das Onças e sua vegetação ciliar, e ao Sudoeste com uma pequena elevação que configura a área de várzea. A vegetação dominante constituía-se de plantas daninhas, composta de tiriricão (Echinochloa crusgalli) (80%), capim arroz (Cyperus esculentus) (15%) e outras de menor ocorrência (5%). Dessa maneira, a vegetação se assemelhava à de grama do Posto Meteorológico, sendo a altura da cobertura vegetal entre 15 e 20 cm na maioria do período de realização do experimento. No ambiente de várzea foi medido, além dos parâmetros relacionados para ambiente de posto meteorológico, o saldo de radiação por meio de saldo radiômetro (Campbell Scientific, Inc – modelo Q-7). Para caracterizar a variação dos valores diários da temperatura do ar máxima e mínima, radiação solar global, umidade relativa do ar em ambiente de várzea e de posto meteorológico e saldo de radiação apenas na várzea, foram analisados os valores extremos e/ou médias diárias dos valores obtidos nas estações meteorológicas automáticas. As medições foram feitas no período de outubro de 2001 a julho de 2002 agrupando-se outubro a março, representando as condições de primavera/verão, e abril a julho, representando outono/inverno. Os valores diários dos diferentes parâmetros foram submetidos à análise de variância de dados emparelhados ou pareados (SOKAL e ROHLF, 1969) para comparação entre os diferentes ambientes analisados e verificou-se a significância pelo teste F. A evapotranspiração foi estimada pelo método de Penman, adaptado por ALLEN et al. (1989) em escala diária. Atualmente, é o método-padrão adotado pela FAO (ALLEN et al., 1998), sendo ETP (mm.d-1) dada pela seguinte fórmula, conforme descrito em Pereira et al.(2002a): sendo: Rn - o saldo de radiação total diária (MJ.m-2.d-1); G - o fluxo de calor no solo (MJ m-2 .d-1); g = 0,063 kPa ºC-1 - a constante psicrométrica; T - a temperatura média do ar (ºC); U2 - a velocidade do vento a 2 m de altura (m.s-1); es - a pressão de saturação de vapor (kPa); ea - a pressão parcial de vapor (kPa); e s - a declividade da curva de pressão de vapor na temperatura do ar, em kPa ºC-1, dado por: s = (4098.es) / (T + 237,3)2 es = (esTmax + esTmin) / 2 esTmax = 0,6108.e[(17,27.Tmax) / (237,3 + Tmax)] esTmin = 0,6108.e[(17,27Tmin) / (237,3 + Tmin)] ea = (URmed.es) / 100 URmed = (URmax + URmin) / 2 T = (Tmax + Tmin) / 2 sendo: Tmax - a temperatura máxima do ar (ºC); Tmin - a temperatura mínima do ar (ºC); Urmax - a umidade relativa máxima do ar (%); Urmin - a umidade relativa mínima do ar (%). Para o ambiente de posto meteorológico o saldo de radiação foi estimado em função da radiação solar global como sugerido por Pereira (1998): Rn = 0,574 Rs Rs - a radiação solar global (MJ. m-2.d-1) 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A caracterização do microclima, as análises e a comparação entre os ambientes de várzea e os de posto meteorológico foram divididas em virtude das estações do ano, e das características do estudo, em dois segmentos: primavera/verão e outono/inverno. 3.1 Temperatura do ar A variação dos valores de temperatura do ar máxima e mínima diários referentes ao período primavera/verão é mostrada na Figura 1. Esse período é caracterizado por um aumento de temperatura do ar do início da primavera até março, e com uma característica de precipitação pluviométrica com índices menores, baixos na primavera e maiores durante o verão. Os valores máximos e mínimos médios foram, respectivamente, de 31,3 ºC e 18,9 ºC para a várzea e de 30,4 ºC e 19,4 ºC, para as condições do posto meteorológico, mostrando-se as temperaturas máximas superiores, em 0,9 ºC, na várzea em relação ao posto meteorológico, enquanto as mínimas foram inferiores, em média 0,5 ºC, na condição de várzea. A variação dos valores diários das temperaturas máximas e mínimas nos ambientes durante o período de outono/inverno é apresentada na Figura 2. Deve-se ressaltar que o período outono/inverno caracteriza-se por uma diminuição constante da temperatura do ar, de abril a julho, assim como da precipitação pluvial. Observa-se que com relação à temperatura máxima do ar durante o período de outono/inverno as diferenças não são marcantes entre os ambientes (Várzea-Posto), com diferença média de 0,2 ºC. Em relação à temperatura mínima do ar, porém, a várzea foi em média 3,2 ºC inferior à do posto, no período outono/inverno, com valores extremos até de 6,4 ºC inferior à do posto (15/maio). Esse fato pode ser explicado pelo maior acúmulo de ar frio na baixada (várzea), em função da sua topografia. Esses resultados corroboram as afirmações de YOSHINO (1975), ao afirmar que comparando-se as características térmicas de clima local (microclima) em relação às variações macroclimáticas, as maiores diferenças são observadas na temperatura mínima do ar devido ao acúmulo de ar frio. A amplitude térmica nas condições de várzea foi maior que no posto meteorológico. Na várzea, no período primavera/verão a amplitude térmica média foi 12,3 ºC, enquanto no posto a amplitude térmica média foi 11,0 ºC. Já no período outono/inverno, a amplitude térmica média da várzea foi 17,7 ºC, enquanto no posto, 14,2 ºC, devido às condições topoclimáticas, que permitem maior acúmulo de ar frio nas condições de várzea, induzindo à menor temperatura noturna e, conseqüentemente, maior amplitude térmica que no posto meteorológico. Deve-se salientar também que essas condições se acentuam a partir de maio, quando as condições locais para acúmulo de ar frio são favorecidas. 3.2 Umidade relativa do ar A comparação dos valores extremos da umidade relativa do ar é apresentada na figura 3 para o período primavera/verão e na figura 4 para outono/inverno. Observa-se que ocorreram pequenas diferenças nos valores máximos da umidade relativa do ar; na várzea, notaram-se valores superiores ao do posto meteorológico, provavelmente em vista da maior umidade do solo em condições de várzea. Com relação aos valores da umidade relativa mínima do ar verificou-se que as diferenças foram muito menores. Na várzea, os valores máximos da umidade do ar no período outono/inverno (Figura 4), ficaram sempre próximos a 100%, enquanto no posto oscilou entre 70% e 98%. Já os valores mínimos de UR foram semelhantes em ambos os ambientes avaliados. Os maiores valores de UR máxima na várzea, obtidos tanto no período de primavera/verão quanto de outono/inverno, podem ter sido influenciados pelas características de topoclima, mais próprias ao acúmulo de ar frio e também por duas outras situações, ou seja, o solo mais úmido que no posto, devido ao lençol freático mais superficial e à proximidade do rio que favorece maior umidade do ar. 3.3 Evapotranspiração Os valores obtidos de evapotranspiração estimada para o posto meteorológico gramado e em condição de várzea são mostrados nas figuras 5 e 6, para os períodos de primavera/verão e outono/inverno. Observa-se que no período de primavera/verão os valores de evapotranspiração nas condições analisadas (posto e várzea) foram muito semelhantes (Figura 5). A evapotranspiração em ambos os ambientes variou entre extremos de 1,0 e 7,8 mm por dia com ocorrência de valores mais elevados no período outubro/novembro. Por outro lado, durante o outono/inverno as estimativas feitas para posto meteorológico foram superiores às da várzea. Esse fato provavelmente está relacionado às diferenças de umidade do ar e velocidade do vento entre os ambientes, tornando o parâmetro aerodinâmico da fórmula de Penman mais influente e com peso maior no caso das estimativas para o posto. Nesse período (outono/inverno) fica evidenciado, principalmente no período de abril a junho, quando as condições de advecção, sendo mais acentuadas no ambiente de posto meteorológico, propiciam estimativas de evapotranspiração maiores no posto do que no ambiente de várzea. A comparação entre a evapotranspiração em condições de várzea e a evapotranspiração no posto meteorológico, para os dois períodos de análise, indicou haver diferenças entre os ambientes, principalmente no período de outono/inverno. Para analisar a causa dessas diferenças foram feitas correlações da evapotranspiração com a radiação solar e o saldo de radiação. Os resultados obtidos de coeficiente de determinação das correlações entre a evapotranspiração e a radiação solar global e o saldo de radiação (Rn), são apresentados na tabela 1. Nota-se que no período primavera/verão, devido à alta correlação entre a evapotranspiração e a radiação solar e o saldo de radiação, o efeito advectivo, ou seja, do termo aerodinâmico da fórmula de Penman foi menor, com coeficiente de determinação (R²) de 0,86 para as condições de posto e 0,93 para as de várzea. MATZENAUER et al (1999) correlacionaram a ET obtida em lisímetro com valores de radiação solar global incidente para a cultura de milho. Esses autores relataram haver alta relação entre ET e Rg, do mesmo modo como encontrado neste trabalho. Por outro lado, durante o período de outono inverno, nas condições de posto meteorológico, os coeficientes de determinação foram mais baixos (R2= 0,58), demonstrando maior efeito do termo aerodinâmico nas estimativas da evapotranspiração que no ambiente de várzea, para a qual o coeficiente de determinação foi mais elevado (R2= 0,88). Esse fato ocorreu, provavelmente, porque as condições de umidade de solo da várzea fizeram com que o termo do balanço de energia da fórmula de Penman tivesse maior influência, quando comparado ao posto onde o solo estava mais seco. 3.4 Resumo das comparações microclimáticas em ambiente de várzea e posto meteorológico Na tabela 2 são apresentados os valores da diferença média dos parâmetros analisados para as condições de posto meteorológico e várzea, para as épocas primavera/verão e outono/inverno e os resultados de significância da análise de dados pareados. Durante o período de primavera-verão (P/V) os valores de temperatura máxima, umidade relativa máxima e amplitude térmica foram superiores no ambiente de várzea em relação ao de posto meteorológico. Entretanto, os valores de temperatura mínima, umidade relativa mínima, velocidade do vento e evapotranspiração foram inferiores na várzea quando comparados aos do posto. A mesma tendência desses parâmetros analisados se manteve durante o período de outono-inverno(O/I). Pode-se notar, porém, pela Tabela 2, que as diferenças entre os valores de temperatura mínima e evapotranspiração da várzea e do posto foram intensificadas em relação ao período P/V. Fato não caracterizado para a umidade relativa mínima e velocidade do vento. As diferenças entre várzea e posto com relação à temperatura máxima no O/I e à evapotranspiração na P/V, apesar de serem muito pequenas, foram significativas ao nível de 5% pela análise de dados pareados. A comparação da umidade relativa mínima nos dois ambientes mostrou-se não significativa. A comparação das diferenças entre os ambientes de várzea e de posto meteorológico (Tabela 2) permitiu verificar que a várzea, devido às suas características topográficas, influenciou nos parâmetros microclimáticos analisados, de maneira a se sobrepor aos efeitos macroclimáticos. O ambiente de várzea influiu favorecendo a ocorrência de maiores diferenças das condições microclimáticas, fazendo com que as temperaturas e umidade relativa máximas fossem mais elevadas, e as mínimas, mais baixas, quando comparadas ao posto meteorológico. Conseqüentemente, a amplitude térmica no ambiente de várzea foi mais elevada que no posto meteorológico. Essa característica fica mais evidente no período de outono/inverno, com relação à temperatura mínima, quando a diferença entre os ambientes foi mais acentuada. 4. CONCLUSÕES 1. No período de primavera-verão o ambiente de várzea mostrou temperaturas máximas e amplitudes térmicas mais elevadas e temperaturas mínimas menores; umidade relativa máxima mais elevada e umidade relativa mínima e evapotranspiração mais baixas. 2. No período de outono inverno no ambiente de várzea foram observadas maiores diferenças de temperatura mínima, umidade relativa máxima, amplitude térmica e evapotranspiração em comparação ao de posto meteorológico, sendo mais acentuadas que no período de primavera-verão. Ainda, foi notado um efeito mais acentuado do fator aerodinâmico da fórmula de estimativa da evapotranspiração. REFERÊNCIAS ABTEW, W. Evapotranspiration measurements and modeling for three wetland systems in south Florida. Water Resources Bulletin, Herndon, v. 32, n.3, p.465-473, 1996. ALLEN, R.G.; JEMEN, M.E.; WRIGHT, J.L.; BURMAN, R.D. Operational Estimates of reference evapotranspiration. Agronomy Journal, Madison, v. 81, p.650-662, 1989. ALLEN, R.G.; PEREIRA, L.S.; RAES, D.; SMITH, M. Crop evapotranspiration: Guidelines for computing crop water requirements, Rome: FAO, 1998. 300 p. (Irrigation and Drainage Paper, 56) BERLATO, M.A.; MOLION, L.C.B. Evaporação e evapotranspiração. Porto Alegre: IPAGRO, 1981. 96p. 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Recebido para publicação em 11 de julho de 2003 e aceito em 26 de abril de 2004 Comparação microclimática de ambiente de várzea e de posto meteorológico 299 AGROMETEOROLOGIA COMPARAÇÃO MICROCLIMÁTICA DE AMBIENTE DE VÁRZEA E DE POSTO METEOROLÓGICO (1) ANDREW PATRICK CIARELLI BRUNINI(2 ); MARIO JOSÉ PEDRO JÚNIOR(3 ); PAULO BOLLER GALLO(4 ) RESUMO Foi realizado um estudo visando comparar os ambientes de várzea sistematizada e de posto meteorológico, no município de Mococa (SP), por meio de medições de temperatura e umidade relativa do ar, radiação solar global e velocidade do vento. No ambiente de várzea, foi medido também o saldo de radiação. A comparação de médias foi feita por análise de dados pareados, de outubro a março (representando as condições de primavera/verão) e de abril a julho (outono e inverno). A evapotranspiração na escala diária foi estimada pelo método de Penman–Monteith, adotado como padrão pela FAO. No período outono-inverno (O-I), observou-se que, para a temperatura máxima do ar, a diferença média entre os ambientes foi de 0,1 o C; para a temperatura mínima do ar, a várzea apresentou média inferior de 3,4 oC, enquanto no período de primavera-verão as temperaturas máximas, na várzea, foram, em média, 0,9 °C mais elevadas que no posto meteorológico. Os valores de evapotranspiração, no período de primavera/verão, os dois ambientes analisados foram muito semelhantes. A evapotranspiração em ambos os ambientes variou entre 1,0 e 7,8 mm por dia com valores máximos ocorrendo no período outubro/ novembro. Durante o outono/inverno as estimativas feitas para o posto meteorológico foram superiores em 1,6 mm por dia às da várzea. No período de outono-inverno foram mais acentuadas as diferenças entre várzea e posto meteorológico. Palavras-chave: microclima, várzea, temperatura, umidade relativa, evapotranspiração. ABSTRACT MICROCLIMATIC COMPARISON OF THE ENVIRONMENT OF WEATHER STATION AND FLOODPLAINS A study was conducted to compare the systematic flood plain environment and that of a Weather Station. The survey was conducted in the Mococa county, São Paulo State, Brazil. The measurements of the microclimatic parameters at the weather station and floodplain environment were made by means of the automated weather station (SCI) determining: temperature and relative humidity of the air, and global solar radiation. In the floodplain environment the net radiation was also measured. The average values were compared by paired comparison analysis, for the months from October to March (representing spring and summer conditions) and the months from April to July (representing autumn and winter (1) Recebido para publicação em ll de julho de 2003 e aceito em 26 de abril de 2004. (2) Curso de Pós Graduação em Agricultura Tropical e Subtropical, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28 , 13001-970 Campinas (SP). (3) Instituto Agronômico (IAC/APTA). Bolsista do CNPq. E-mail: [email protected] (4) Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico do Nordeste Paulista (DDD/APTA), Caixa Postal 58, 13730-970 Mococa (SP). Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.299-308, 2004 300 A.P.C. Brunini at al. conditions).The evapotranspiration in the daily scale was estimated by the Penman-Monteith method adopted by FAO. During the autumn-winter (O-I) period, in the floodplain, it was observed that the average maximum air temperature were 0.1°C and the minimum air temperature was found to be 3.4°C lower than the weather station environment. During autumn-winter period the maximum temperatures, at the floodplain, were 0,9 °C higher than the standard weather conditions. Considering the evapotranspiration in the spring/summer period, the values in the two conditions analyzed (station vs. floodplain) were very similar. Evapotranspiration in both environments varied between 1.0 and 7.8 mm/ day with maximum values occurring during the October/November period. On the other hand, the estimates made during the autumn/winter period for the weather station were higher, than those made for the floodplain. In the autumn/winter period the evapotranspiration estimated for the station were mostly superior( 1.6 mm/day) to those of the floodplain. During the autumn/winter period the differences between the environment of flood plains and weather station were higher showing that for the floodplains the microclimatic parameters are more extreme than for the weather station. Key-words: microclimate, temperature, relative humidity, evapotranspiration. 1. INTRODUÇÃO As várzeas são extensões de terra localizadas à margem de rios ou lagos, cuja topografia permite a exploração de culturas adaptadas a esse ambiente e apresentam grande potencial de exploração no Estado de São Paulo. Apesar da importância em conhecer o comportamento da temperatura e da umidade relativa nesse ambiente, poucos trabalhos existem na quantificação das condições de várzea e suas relações com as características macroclimáticas determinadas em condição de Posto Meteorológico. YOSHINO (1975) descreve que em condições de microclima como várzeas, vales e bases de montanha a temperatura do ar é mínima no local onde a altitude é menor, tanto pelo resfriamento da superfície como pelo acúmulo do ar frio. Esse mesmo autor também ressalta que a temperatura máxima do ar apresenta menores diferenças, por ser essa função da taxa de resfriamento do ar e da exposição de vertente. CAMARGO (1972) afirma que os terrenos de baixada para onde converge o ar frio das adjacências, tornando-se cada vez mais frios e úmidos, ficam mais sujeitos à ocorrência de temperaturas mínimas mais baixas. Essa redução mais acentuada de temperatura propicia um aumento da umidade relativa do ar, induzindo, muitas vezes, à ocorrência de orvalho e neblina. Os trabalhos existentes na literatura visam quantificar as variações da temperatura e umidade do ar em diferentes ambientes, porém poucos estão diretamente relacionados ao ambiente de várzea. Embora o clima seja determinado pelos parâmetros ou fatores climáticos, grandes extensões de água ou florestas têm impactos locais pela redução, principalmente, na amplitude térmica, embora GEIGER (1950) afirme que a caracterização isolada da influência de uma floresta sobre o clima seja dificultada Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.299-308, 2004 pelos fatores macroclimáticos e a própria variabilidade sazonal e temporal dos elementos meteorológicos. A evapotranspiração é outro fator importante a ser avaliado, principalmente, devido às características topográficas e de umidade do solo que ocorrem em condições de várzea. Existem inúmeras fórmulas de estimativa da evapotranspiração (PEREIRA et al. 1997), e o uso de cada uma delas está condicionado à disponibilidade ou existência dos parâmetros necessários à sua aplicação. Dentre essas destaca-se a de Penman (P ENMAN, 1948), principalmente para estimativas diárias. BERLATO e MOLION (1981), analisando a fórmula de Penman para estimativa da evaporação, verificaram que sua expressão fora derivada para a superfície livre de água e, no caso de se analisar a evapotranspiração, os fatores de solo e planta devem ser incluídos. Posteriormente, objetivando estimativas de evapotranspiração para culturas agrícolas, a fórmula de Penman foi adaptada, tendo sido incluídos parâmetros de resistência da cultura e do ar ao transporte de vapor d’água . A BTEW (1996) comparou diferentes métodos para estimativa da evapotranspiração em regiões de terras úmidas, nos Everglades da Flórida, e observou que a fórmula de Penman-Monteith apresentou as menores diferenças em comparação aos valores medidos. W ESSEL e R OUSE (1994), ao modelar a evaporação de Tundra, comparando diferentes métodos e uma versão modificada do método de Penman-Monteith ,verificam que este último obteve maior potencial de uso nessas condições. M A O et al (2002) estudaram as taxas de evapotranspiração estimadas e medidas em diferentes ambientes de áreas inundáveis na Flórida (USA), utilizando o método de Penman-Monteith. Os resultados Comparação microclimática de ambiente de várzea e de posto meteorológico mostraram que as estimativas da evapotranspiração, em base mensal, foram muito próximas aos valores medidos. O rápido avanço das técnicas de medidas dos parâmetros meteorológicos com o uso de Estações Meteorológicas Automáticas (HUBBARD e S IVAKUMAR, 2001) deve ser considerado na utilização dos diferentes métodos de estimativa da evapotranspiração, em especial para uso da fórmula de Penman-Monteith. Com base no trabalho de ALLEN et al. (1989), a FAO (ALLEN et al.,1998) recomendou a adoção do método de Penman-Monteith como padrão para a estimativa da evapotranspiração de referência e vários testes têm sido realizados nas condições brasileiras para a escala diária. PEREIRA et al. (2002b) comprovaram o uso adequado dos dados de estações meteorológicas automáticas (EMA) para estimativa da evapotranspiração de referência diária, com base no boletim FAO-56 (ALLEN et al., 1998), comparando com os resultados de estações convencionais e de medidas lisimétricas de evapotranspiração. As várzeas devido às áreas características peculiares de topografia e alta disponibilidade de umidade do solo durante todo o ano necessitam de estudos mais detalhados de medição de temperatura e umidade de ar e de estimativa de evapotranspiração. Portanto, foi desenvolvido este experimento visando caracterizar o ambiente de várzea e comparar com ambiente de posto meteorológico. 3. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi desenvolvido em área experimental do Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Nordeste Paulista (DDD/APTA), localizado no município de Mococa (latitude: 21º 28’ Sul; longitude: 47º 01’Oeste e altitude: 665 m). O clima da região, de acordo com a classificação de Köppen, é Aw, com verão úmido e inverno seco. A temperatura média anual é de 22,4 ºC, e o total médio anual de precipitação pluvial é de 1.514 mm. Os ambientes monitorados foram de posto meteorológico e de várzea sistematizada. As medições dos parâmetros microclimáticos em ambiente de posto meteorológico com grama batatais, e área útil 30 x 30 m foram feitas por meio de Estação Meteorológica Automática, modelo Campbell Scientific, e os sensores utilizados foram: a) temperatura do ar/umidade relativa do ar –modelo HMP45C; b) anemômetro – Met-One, modelo 014A; c) radiação solar - radiômetro – Kipp e Zonen - modelo SP Lite. 301 A estação meteorológica automática possuía um sistema de coleta e armazenamento dos registros dos sinais dos sensores (Campbell Scientific, modelo CR 10X). A várzea sistematizada compreende uma área de 15 ha sendo grande parte cultivada com arroz inundado durante o verão e aveia e trigo no inverno. Aproximadamente 2/3 foi deixada em pousio, local onde se realizou o monitoramento dos parâmetros em escala microclimática. Confronta-se ao Norte com o rio das Onças e sua vegetação ciliar, e ao Sudoeste com uma pequena elevação que configura a área de várzea. A vegetação dominante constituía-se de plantas daninhas, composta de tiriricão (Echinochloa crusgalli) (80%), capim arroz (Cyperus esculentus) (15%) e outras de menor ocorrência (5%). Dessa maneira, a vegetação se assemelhava à de grama do Posto Meteorológico, sendo a altura da cobertura vegetal entre 15 e 20 cm na maioria do período de realização do experimento. No ambiente de várzea foi medido, além dos parâmetros relacionados para ambiente de posto meteorológico, o saldo de radiação por meio de saldo radiômetro (Campbell Scientific, Inc – modelo Q-7). Para caracterizar a variação dos valores diários da temperatura do ar máxima e mínima, radiação solar global, umidade relativa do ar em ambiente de várzea e de posto meteorológico e saldo de radiação apenas na várzea, foram analisados os valores extremos e/ou médias diárias dos valores obtidos nas estações meteorológicas automáticas. As medições foram feitas no período de outubro de 2001 a julho de 2002 agrupando-se outubro a março, representando as condições de primavera/verão, e abril a julho, representando outono/inverno. Os valores diários dos diferentes parâmetros foram submetidos à análise de variância de dados emparelhados ou pareados (SOKAL e ROHLF, 1969) para comparação entre os diferentes ambientes analisados e verificou-se a significância pelo teste F. A evapotranspiração foi estimada pelo método de Penman, adaptado por ALLEN et al. (1989) em escala diária. Atualmente, é o método-padrão adotado pela FAO (ALLEN et al., 1998), sendo ETP (mm.d-1) dada pela seguinte fórmula, conforme descrito em PEREIRA et al.(2002a): ETP = γ 900 U 2 (e s − e a ) T + 273 s + γ (1 + 0,34 U 2 ) 0,408 s (Rn - G) + Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.299-308, 2004 302 A.P.C. Brunini at al. sendo: Rn - o saldo de radiação total diária (MJ.m -2.d-1 ); G - o fluxo de calor no solo (MJ m-2 .d-1); g = 0,063 kPa ºC -1 - a constante psicrométrica; T - a temperatura média do ar (ºC); U2 - a velocidade do vento a 2 m de altura (m.s -1); e s - a pressão de saturação de vapor (kPa); e a - a pressão parcial de vapor (kPa); e s - a declividade da curva de pressão de vapor na temperatura do ar, em kPa ºC-1, dado por: s = (4098.es) / (T + 237,3)2 es = (esTmax + es Tmin) / 2 esTmax = 0,6108.e [(17,27.Tmax) / (237,3 + Tmax)] es Tmin = 0,6108.e [(17,27Tmin) / (237,3 + Tmin)] ea = (URmed.es) / 100 URmed = (URmax + URmin) / 2 T = (Tmax + Tmin) / 2 sendo: Tmax - a temperatura máxima do ar (ºC); Tmin - a temperatura mínima do ar ( ºC); Urmax - a umidade relativa máxima do ar (%); Urmin - a umidade relativa mínima do ar (%). Para o ambiente de posto meteorológico o saldo de radiação foi estimado em função da radiação solar global como sugerido por PEREIRA (1998): superiores, em 0,9 ºC, na várzea em relação ao posto meteorológico, enquanto as mínimas foram inferiores, em média 0,5 ºC, na condição de várzea. A variação dos valores diários das temperaturas máximas e mínimas nos ambientes durante o período de outono/inverno é apresentada na Figura 2. Deve-se ressaltar que o período outono/inverno caracteriza-se por uma diminuição constante da temperatura do ar, de abril a julho, assim como da precipitação pluvial. Observa-se que com relação à temperatura máxima do ar durante o período de outono/inverno as diferenças não são marcantes entre os ambientes (Várzea-Posto), com diferença média de 0,2 ºC. Em relação à temperatura mínima do ar, porém, a várzea foi em média 3,2 ºC inferior à do posto, no período outono/inverno, com valores extremos até de 6,4 ºC inferior à do posto (15/maio). Esse fato pode ser explicado pelo maior acúmulo de ar frio na baixada (várzea), em função da sua topografia. Esses resultados corroboram as afirmações de YOSHINO (1975), ao afirmar que comparando-se as características térmicas de clima local (microclima) em relação às variações macroclimáticas, as maiores diferenças são observadas na temperatura mínima do ar devido ao acúmulo de ar frio. A caracterização do microclima, as análises e a comparação entre os ambientes de várzea e os de posto meteorológico foram divididas em virtude das estações do ano, e das características do estudo, em dois segmentos: primavera/verão e outono/inverno. A amplitude térmica nas condições de várzea foi maior que no posto meteorológico. Na várzea, no período primavera/verão a amplitude térmica média foi 12,3 ºC, enquanto no posto a amplitude térmica média foi 11,0 ºC. Já no período outono/inverno, a amplitude térmica média da várzea foi 17,7 ºC, enquanto no posto, 14,2 ºC, devido às condições topoclimáticas, que permitem maior acúmulo de ar frio nas condições de várzea, induzindo à menor temperatura noturna e, conseqüentemente, maior amplitude térmica que no posto meteorológico. Deve-se salientar também que essas condições se acentuam a partir de maio, quando as condições locais para acúmulo de ar frio são favorecidas. 3.1 Temperatura do ar 3.2 Umidade relativa do ar A variação dos valores de temperatura do ar máxima e mínima diários referentes ao período primavera/verão é mostrada na Figura 1. Esse período é caracterizado por um aumento de temperatura do ar do início da primavera até março, e com uma característica de precipitação pluviométrica com índices menores, baixos na primavera e maiores durante o verão. A comparação dos valores extremos da umidade relativa do ar é apresentada na figura 3 para o período primavera/verão e na figura 4 para outono/ inverno. Rn = 0,574 Rs Rs - a radiação solar global (MJ. m-2 .d-1) 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores máximos e mínimos médios foram, respectivamente, de 31,3 ºC e 18,9 ºC para a várzea e de 30,4 ºC e 19,4 ºC, para as condições do posto meteorológico, mostrando-se as temperaturas máximas Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.299-308, 2004 Observa-se que ocorreram pequenas diferenças nos valores máximos da umidade relativa do ar; na várzea, notaram-se valores superiores ao do posto meteorológico, provavelmente em vista da maior umidade do solo em condições de várzea. Com relação aos valores da umidade relativa mínima do ar verificou-se que as diferenças foram muito menores. 303 Comparação microclimática de ambiente de várzea e de posto meteorológico Temperatura (°C) 40 30 20 10 T m ax Vz T m in Vz T m ax P T m in P 0 Out Nov Dez Jan Fev Ma r Figura 1. Temperatura máxima (Tmax) e mínima (Tmin) do ar para as condições de várzea (VZ) e de posto meteorológico (P), observadas durante o período de outubro/2001 a março/2002, em Mococa (SP). Temperatura (°C) 40 30 20 10 T m ax Vz T m in Vz T m ax P T min P 0 Mar Abr MaiO Jun Jul Figura 2. Temperatura máxima (Tmax) e mínima (Tmin) do ar para as condições de várzea (VZ) e de posto meteorológico (P), observadas durante o período de março/2002 a julho/2002, em Mococa (SP). Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.299-308, 2004 304 A.P.C. Brunini at al. 100 Umidade re la tiva (%) 80 60 40 20 UR m ax Vz UR m in Vz UR m ax P UR m in P 0 Out Nov Dez Jan Fev Ma r Figura 3. Umidade relativa máxima (URmax) e mínima (URmin) do ar para as condições de várzea (VZ) e de posto meteorológico (P), observadas durante o período de outubro/2001 a março/2002, em Mococa (SP). Umidade re la tiva (%) 100 80 60 40 20 UR m ax Vz UR m in Vz UR m ax P UR m in P 0 Ma r Abr MaiO Jun Jul Figura 4. Umidade relativa máxima (URmax) e mínima (URmin) do ar para as condições de várzea (VZ) e de posto meteorológico (P), observadas durante o período de março/2002 a julho/2002, em Mococa (SP). Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.299-308, 2004 305 Comparação microclimática de ambiente de várzea e de posto meteorológico Na várzea, os valores máximos da umidade do ar no período outono/inverno (Figura 4), ficaram sempre próximos a 100%, enquanto no posto oscilou entre 70% e 98%. Já os valores mínimos de UR foram semelhantes em ambos os ambientes avaliados. Os maiores valores de UR máxima na várzea, obtidos tanto no período de primavera/verão quanto de outono/inverno, podem ter sido influenciados pelas características de topoclima, mais próprias ao acúmulo de ar frio e também por duas outras situa- ções, ou seja, o solo mais úmido que no posto, devido ao lençol freático mais superficial e à proximidade do rio que favorece maior umidade do ar. 3.3 Evapotranspiração Os valores obtidos de evapotranspiração estimada para o posto meteorológico gramado e em condição de várzea são mostrados nas figuras 5 e 6, para os períodos de primavera/verão e outono/inverno. 10 Evapotranspira ção (mm) V árzea Po sto 8 6 4 2 0 Out Nov De z Ja n Fe v Mar Figura 5. Evapotranspiração para as condições de várzea (Várzea) e de posto meteorológico (Posto), observadas durante o período de outubro/2001 a março/2002, em Mococa (SP). 10 Evapotranspira ção (mm) Várze a Po s to 8 6 4 2 0 Mar Abr MaiO Jun Jul Figura 6. Evapotranspiração para as condições de várzea (Várzea) e de posto meteorológico (Posto) observadas durantes o período de março/2002 a julho/2002, em Mococa-SP. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.299-308, 2004 306 A.P.C. Brunini at al. Observa-se que no período de primavera/verão os valores de evapotranspiração nas condições analisadas (posto e várzea) foram muito semelhantes (Figura 5). A evapotranspiração em ambos os ambientes variou entre extremos de 1,0 e 7,8 mm por dia com ocorrência de valores mais elevados no período outubro/novembro. Por outro lado, durante o outono/inverno as estimativas feitas para posto meteorológico foram superiores às da várzea. Esse fato provavelmente está relacionado às diferenças de umidade do ar e velocidade do vento entre os ambientes, tornando o parâmetro aerodinâmico da fórmula de Penman mais influente e com peso maior no caso das estimativas para o posto. A comparação entre a evapotranspiração em condições de várzea e a evapotranspiração no posto meteorológico, para os dois períodos de análise, indicou haver diferenças entre os ambientes, principalmente no período de outono/inverno. Nesse período (outono/inverno) fica evidenciado, principalmente no período de abril a junho, quando as condições de advecção, sendo mais acentuadas no ambiente de posto meteorológico, propiciam estimativas de evapotranspiração maiores no posto do que no ambiente de várzea. Nota-se que no período primavera/verão, devido à alta correlação entre a evapotranspiração e a radiação solar e o saldo de radiação, o efeito advectivo, ou seja, do termo aerodinâmico da fórmula de Penman foi menor, com coeficiente de determinação (R²) de 0,86 para as condições de posto e 0,93 para as de várzea. Para analisar a causa dessas diferenças foram feitas correlações da evapotranspiração com a radiação solar e o saldo de radiação. Os resultados obtidos de coeficiente de determinação das correlações entre a evapotranspiração e a radiação solar global e o saldo de radiação (Rn), são apresentados na tabela 1. Tabela 1. Comparação dos coeficientes de determinação (R 2) das relações entre evapotranspiração (ET) e radiação solar global (Rg) e saldo de radiação (Rn) para os diferentes ambientes e épocas do ano. Local ET x Rg ET x Rn Posto P/V 0,86 0,86 Várzea P/V 0,97 0,93 Posto O/I 0,58 0,58 Várzea O/I 0,88 0,88 PV = primavera/verão; O/I = outono/inverno. MATZENAUER et al (1999) correlacionaram a ET obtida em lisímetro com valores de radiação solar global incidente para a cultura de milho. Esses autores relataram haver alta relação entre ET e Rg, do mesmo modo como encontrado neste trabalho. Na tabela 2 são apresentados os valores da diferença média dos parâmetros analisados para as condições de posto meteorológico e várzea, para as épocas primavera/verão e outono/inverno e os resultados de significância da análise de dados pareados. Por outro lado, durante o período de outono inverno, nas condições de posto meteorológico, os coeficientes de determinação foram mais baixos (R2= 0,58), demonstrando maior efeito do termo aerodinâmico nas estimativas da evapotranspiração que no ambiente de várzea, para a qual o coeficiente de determinação foi mais elevado (R 2= 0,88). Durante o período de primavera-verão (P/V) os valores de temperatura máxima, umidade relativa máxima e amplitude térmica foram superiores no ambiente de várzea em relação ao de posto meteorológico. Entretanto, os valores de temperatura mínima, umidade relativa mínima, velocidade do vento e evapotranspiração foram inferiores na várzea quando comparados aos do posto. Esse fato ocorreu, provavelmente, porque as condições de umidade de solo da várzea fizeram com que o termo do balanço de energia da fórmula de Penman tivesse maior influência, quando comparado ao posto onde o solo estava mais seco. 3.4 Resumo das comparações microclimáticas em ambiente de várzea e posto meteorológico Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.299-308, 2004 A mesma tendência desses parâmetros analisados se manteve durante o período de outono-inverno(O/I). Pode-se notar, porém, pela Tabela 2, que as diferenças entre os valores de temperatura mínima e evapotranspiração da várzea e do posto foram intensificadas em relação ao período P/V. Fato não caracterizado para a umidade relativa mínima e velocidade do vento. 307 Comparação microclimática de ambiente de várzea e de posto meteorológico Tabela 2. Resumo da comparação das observações microclimáticas entre ambiente de várzea e de posto meteorológico Variável Época DT NS RR Temperatura Máxima (°C) P/V 0,9 * Várzea>Posto Temperatura Máxima (°C) O/I 0,1 * Várzea>Posto Temperatura Mínima (°C) P/V -0,5 * Várzea<Posto Temperatura Mínima (°C) O/I -3,4 * Várzea<Posto Amplitude Térmica (°C) P/V 1,4 * Várzea>Posto Amplitude Térmica (°C) O/I 3,5 * Várzea>Posto Umidade Relativa Máxima (°C) P/V 2,9 * Várzea<Posto Umidade Relativa Máxima (°C) O/I 9,0 * Várzea<Posto Umidade Relativa Mínima (o C) P/V -2,1 * Várzea<Posto Umidade Relativa Mínima (o C) O/I 0,0 ns Várzea<Posto Velocidade do Vento (m.s-1) O/I -0,8 * Várzea<Posto -1 Velocidade do Vento (m.s ) P/V -0,7 * Várzea<Posto Evapotranspiração (mm.dia-1) P/V -0,2 * Várzea<Posto Evapotranspiração (mm.dia-1) O/I -1,6 * Várzea<Posto P/V= primavera/verão; O/I= outono/inverno; DT= Diferença média entre os tratamentos. NS=nível de significância pela análise de variância dos dados pareados :*= 5%; ns= não significativo, RR=resultado resumido. As diferenças entre várzea e posto com relação à temperatura máxima no O/I e à evapotranspiração na P/V, apesar de serem muito pequenas, foram significativas ao nível de 5% pela análise de dados pareados. A comparação da umidade relativa mínima nos dois ambientes mostrou-se não significativa. A comparação das diferenças entre os ambientes de várzea e de posto meteorológico (Tabela 2) permitiu verificar que a várzea, devido às suas características topográficas, influenciou nos parâmetros microclimáticos analisados, de maneira a se sobrepor aos efeitos macroclimáticos. O ambiente de várzea influiu favorecendo a ocorrência de maiores diferenças das condições microclimáticas, fazendo com que as temperaturas e umidade relativa máximas fossem mais elevadas, e as mínimas, mais baixas, quando comparadas ao posto meteorológico. Conseqüentemente, a amplitude térmica no ambiente de várzea foi mais elevada que no posto meteorológico. Essa característica fica mais evidente no período de outono/inverno, com relação à temperatura mínima, quando a diferença entre os ambientes foi mais acentuada. 4. CONCLUSÕES 1. No período de primavera-verão o ambiente de várzea mostrou temperaturas máximas e amplitudes térmicas mais elevadas e temperaturas mínimas menores; umidade relativa máxima mais elevada e umidade relativa mínima e evapotranspiração mais baixas. 2. No período de outono inverno no ambiente de várzea foram observadas maiores diferenças de temperatura mínima, umidade relativa máxima, amplitude térmica e evapotranspiração em comparação ao de posto meteorológico, sendo mais acentuadas que no período de primavera-verão. Ainda, foi notado um efeito mais acentuado do fator aerodinâmico da fórmula de estimativa da evapotranspiração. REFERÊNCIAS ABTEW, W. 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E-mail: [email protected] e [email protected] RESUMO Com o objetivo de avaliar a influência da assistência de ar na deposição da calda de pulverização, em plantas de feijoeiro (Phaseolus vulgaris) aos 26 dias após a emergência (DAE), com pontas de pulverização de jato cônico vazio (JA-0,5 e JA-1) e jato plano (AXI-110015), e volumes de calda, foi realizado um experimento em delineamento inteiramente casualizado, utilizando como traçador o íon cobre. Alvos coletores (papel de filtro com 3 x 3 cm) foram afixados nas superfícies adaxial e abaxial de folíolos posicionados nas partes superior e inferior das plantas. Para aplicar a solução traçadora, utilizou-se pulverizador com barras de 14 metros, com e sem assistência de ar, volumes de 60 e 100 L.ha-1, e velocidade do ar correspondente a 50% da rotação máxima do ventilador. Após a aplicação, os coletores foram lavados individualmente em solução extratora de ácido nítrico a 1,0 mol.L-1, e a quantificação dos depósitos através de espectrofotometria. A assistência de ar não influenciou na deposição da calda tanto a 60 quanto a 100 L.ha-1. O maior volume proporcionou maiores depósitos, sendo constatadas elevadas perdas para o solo (mais de 60%). Palavras-chave: tecnologia de aplicação, assistência de ar, pulverizador de barra, depósitos, Phaseolus vulgaris. ABSTRACT Aiming to evaluate the effect of air-assistance in spray deposition on bean plants (Phaseolus vulgaris) with hollow nozzles (JA-0,5 and JA-1) and flat fan nozzle type (AXI-110015), and volume rates by air-assisted and non-assisted sprayers, a completely randomized experiment was carried out using copper ion as a tracer to the evaluation of the deposits. At 26 days after emergence, artificial targets were positioned on the upper and under-side of the leaflets, on the top and bottom parts of the same plants under spray boom. For the application of tracer solution it was used a fourteen meter boom sprayer with and without air-assistance at 60 and 100 L.ha-1 of volume rates. The air flow was 50% of the maximum fan rotation. After application, targets were individually washed with an extracting solution of nitric acid (1.0 mol L-1), and the tracer deposition was quantified by spectrofotometry. The air-assistance did not influence spray deposition at rates of 60 as well as 100 L.ha-1. The higher the volume was the higher the deposit levels as well as the spray losses to soil (above 60%). Key words: application technology, air-assistance, boom sprayer, tracer, Phaseolus vulgaris. 1. INTRODUÇÃO Dentre os problemas fitossanitários que ocorrem na cultura do feijoeiro, a mosca branca (Bemisia tabaci) merece destaque por se tratar de espécie vetora; os níveis de dano econômico não dependem somente dos prejuízos provenientes de sua alimentação mas, principalmente, da doença que transmite, e mesmo em densidades relativamente baixas, pode causar danos consideráveis (ALMEIDA et al., 1984). Segundo GREATHEAD (1986), essa espécie, altamente polífaga, transmite o BGMV a partir de plantas-reservatório, havendo registro de mais de 500 espécies de plantas de inúmeras famílias botânicas como suas hospedeiras, entre elas o tomateiro (Lycopersicon esculentum) e o algodão (Gossypium hirsutum). Uma vez adquirido o vírus pelo inseto, ele o transmitirá por toda a vida e, segundo NENE (1973), pode produzir até 15 gerações por ano em espécies como a soja (Glycine max). A doença torna-se mais importante no plantio "da seca", devido à alta população da mosca branca nessa época. Nos Estados do Paraná e de São Paulo, os prejuízos causados pelo BGMV podem atingir 100% quando altas populações do inseto coincidem com o início do desenvolvimento do feijoeiro (BIANCHINI et al., 1981). Em São Paulo, ALMEIDA et al. (1984) observaram reduções médias na produção por planta de 73% e 43%, respectivamente, quando os sintomas foram observados precoce e tardiamente. Práticas culturais para o controle da mosca branca, com efetiva redução da incidência do BGMV, seriam a eliminação de fontes alternativas de inóculo e cultivo do feijoeiro em épocas de menor população da mosca, práticas nem sempre possíveis. O melhoramento genético para a resistência varietal seria a medida mais apropriada, mas as tentativas não têm obtido sucesso. Por esse motivo, mundialmente, o controle químico tem-se constituído no principal método de controle à mosca branca, embora sua efetividade seja discutível, devido, entre outros fatores, à ressurgência da praga anualmente e à ineficiência dos métodos de aplicação utilizados, normalmente, nas pulverizações (OMER et al., 1997). Assim, SERVIN-VILLEGAS et al. (1997) afirmam que o controle químico não tem-se mostrado prática satisfatória pela baixa eficiência dos métodos de aplicação em colocar o produto na face inferior das folhas, reduzindo a exposição de ninfas e adultos aos produtos fitossanitários. Relacionado a essa dificuldade, o uso de pulverizadores providos de assistência de ar junto à barra pulverizadora podem ser eficientes, uma vez que promovem maior penetração da calda na cultura do feijoeiro (BAUER e RAETANO, 2000) e da batata (VAN DE ZANDE et al., 1994; TAYLOR e ANDERSEN, 1997). Outro fator a ser considerado se relaciona à conclusão de MAY (1991) em que a assistência de ar junto à barra de pulverização, aumentou a deposição em 30% na superfície abaxial das folhas de beterraba açucareira. Esse fato, embora pouco relatado e discutido na literatura, assume fundamental importância no controle da mosca branca, com conseqüente diminuição na incidência do BGMV. Assim, a busca de técnicas e equipamentos que possibilitem melhor eficiência no controle dessa praga justifica a realização de pesquisas na área. O presente estudo teve como objetivo avaliar a influência da assistência de ar sobre a deposição da calda, nas superfícies abaxial e adaxial de folíolos de feijoeiro, em início de desenvolvimento, em aplicações com diferentes pontas de pulverização e volumes de calda. 2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi desenvolvido na Fazenda Experimental Lageado da Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Campus de Botucatu, em cultura de feijoeiro, cultivar Carioca, aos 26 dias após a emergência (DAE), com linhas de plantio espaçadas de 0,50 m e população estimada de 250.000 plantas por hectare, no momento da instalação do experimento, adubadas segundo recomendação de MORAES (1988). Os tratos culturais foram realizados de forma similar aos de uma cultura comercial, com exceção da aplicação de fungicidas, quando não se fez uso de nenhum tipo de produto cúprico. À época das aplicações (12/4/2000), as plantas se encontravam com, aproximadamente, 30 cm de altura proporcionando 60% de cobertura do solo e 40% do solo descoberto. O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com seis tratamentos (Tabela 1) e 25 repetições; cada planta selecionada, ao acaso, dentro da faixa de aplicação foi considerada uma repetição. As aplicações foram efetuadas com solução traçadora contendo 200 g.100 L-1 de óxido cuproso, correspondendo a 100 g de cobre metálico. As pontas de pulverização foram selecionadas em função do volume de calda aplicado e da faixa de pressão recomendada pelo fabricante, visando à boa cobertura das plantas. Um pulverizador Modelo Falcon Vortex, equipado com barra de pulverização de 14 m e assistência de ar foi utilizado em todos os tratamentos, devido à capacidade em operar com ou sem assistência de ar, mantendo inalteradas as demais condições operacionais. Em todas as aplicações, a altura da barra pulverizadora e o espaçamento entre os bicos foram mantidos em 0,50 m. A velocidade de deslocamento do pulverizador, determinada pela cronometragem do tempo para percorrer 50 metros, após três repetições, foi adequada a fim de manter o volume de calda aplicado dentro dos padrões inicialmente selecionados (Tabela 1). Pelo fato de as plantas ainda se encontrarem em estádio inicial de desenvolvimento, com grande parte do solo ainda descoberto, optou-se por utilizar a assistência de ar com 50% da capacidade total do equipamento. Para isso, convencionou-se que a rotação máxima do ventilador proporciona velocidade máxima do ar na barra e 50% da rotação total resulta em velocidade de 50% do ar na barra. A rotação máxima, medida com fototacômetro digital, foi de 2.903 rpm. Antecedendo as pulverizações foi realizado o ajuste de pressão, separadamente, para cada ponta utilizada, visando obter a vazão necessária em função do volume de calda desejado e da velocidade do equipamento. Após os ajustes devidos, antes do começo da aplicação na respectiva parcela, o equipamento iniciava a pulverização convencional, com a assistência de ar desativada, adentrando na parcela com velocidade e vazão estabilizadas. Após o término dessa parcela, em área reservada para manobras e com o equipamento ainda em movimento, porém antes do início da parcela seguinte, o operador acionava a assistência de ar adentrando em outra parcela com a assistência de ar ativada e estabilizada, interrompendo a pulverização ao fim dessa parcela. Posteriormente, em outra área para manobras, o trator interrompia seu movimento até a parada total e ali iniciavam-se os ajustes necessários para a execução de outros dois tratamentos, envolvendo outras pontas de pulverização. Esse procedimento, utilizado para todas as pontas em estudo, permitiu realizar duas pulverizações em condições ambientais muito similares (Tabela 2), em que a única diferença, entre esses dois tratamentos, foi o uso ou não da assistência de ar. Cada parcela e área de manobra foram demarcadas com 15 m de largura e 15 m de comprimento. As amostragens da deposição da calda nas plantas foram feitas em papel-filtro, com dimensões de 3 x 3 cm (alvo coletor), distribuídos em 25 plantas, selecionadas ao acaso sob a barra pulverizadora, no sentido perpendicular ao deslocamento do equipamento. Um alvo coletor foi fixado na superfície adaxial e outro na abaxial do folíolo mais alto da planta; adotou-se o mesmo procedimento para o folíolo mais próximo ao solo, totalizando quatro alvos coletores por planta. As perdas da calda pulverizada para o solo também foram estimadas com o uso de papel-filtro porém, nesse caso, com 9 cm de diâmetro dentro de placas de Petri. Esses coletores, foram posicionados entre as linhas de plantio, a 5 cm de altura e distanciados em 1,5 m entre si, no sentido perpendicular ao deslocamento do pulverizador, totalizando cinco coletores em cada tratamento. Todos os coletores foram retirados, imediatamente após cada pulverização, acondicionados em sacos de papel e armazenados em caixa térmica. No fim de todas as pulverizações foram colocados em vidros contendo 10 mL de solução extratora de ácido nítrico a 1,0 mol.L-1 e, após agitação, levados ao espectrofotômetro para quantificação do íon cobre, método já utilizado com sucesso por CHAIM et al. (1999) e BAUER e RAETANO (2003). A concentração de cobre total na calda permitiu estabelecer o volume capturado através da equação 1: em que: Ci = concentração de cobre na calda (mg.L-1); Cf = concentração de cobre detectada no espectrofotômetro de absorção atômica (mg.L-1); Vi = volume capturado pelo alvo (mL); Vf = volume da diluição da amostra (mL) Altos Coeficientes de Variação (CV) foram observados e, após a aplicação do Teste de Hartley, para verificar a homogeneidade das variâncias, optou-se pela transformação "raiz de x + 0,5" dos dados, constantes da Tabela 3. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO As condições meteorológicas registradas durante as pulverizações são apresentadas na tabela 2. Pode-se verificar que a temperatura e a umidade relativa do ar, no momento das aplicações com a ponta JA-0,5, estavam no limite aceitável para a utilização dessa técnica de aplicação, no entanto, a velocidade do vento foi favorável, fato que motivou a continuidade dos trabalhos. Verificou-se que, aos 26 DAE das plantas de feijoeiro, não houve efeito da assistência de ar junto à barra de pulverização sobre os níveis de depósitos, para os tratamentos em teste (Tabela 3). De modo geral, os tratamentos com maiores volumes de aplicação obtiveram níveis significativamente maiores de depósitos, ao se comparar os obtidos com o menor volume aplicado na planta toda. Essa constatação também foi feita por BAUER e RAETANO (2003), aos 48 DAE de feijoeiro (cultivar Carioca), utilizando o mesmo equipamento pulverizador, com volumes de calda variando de 60 L a 210 L.ha-1, porém na rotação máxima do ventilador. Analisando a superfície adaxial dos folíolos, percebe-se não houve influência da assistência de ar sobre os níveis de depósitos, tanto para os folíolos posicionados no ponteiro quanto para aqueles da parte inferior das plantas havendo, somente, diferenças relacionadas ao volume de calda (Tabela 3). No entanto, nessa mesma superfície, mas na parte inferior das plantas, as diferenças relacionadas ao volume de calda não foram tão evidentes como na parte superior. Esse fato indica a dificuldade de se atingir as folhas mais próximas ao solo devido, possivelmente, ao pequeno porte das plantas que sofrem muita influência mecânica do ar, com movimentação excessiva das plantas e/ou deflexão do ar na superfície do solo em decorrência da manutenção de sua velocidade devido à pequena área foliar. Admitindo-se a ocorrência dessas hipóteses, a utilização de menores pressões de trabalho e/ou a ausência da assistência de ar ou, ainda, melhor adequação da velocidade do ar na barra, poderia melhorar a deposição da pulverização nessa parte da planta, nesse estádio de desenvolvimento. Os depósitos, na superfície abaxial dos folíolos, não diferiram na ausência ou presença da assistência de ar. Diferenças de deposição foram relacionadas somente aos volumes de calda. Nessa superfície, na parte mais baixa das plantas, todos os tratamentos foram estatisticamente iguais, não ocorrendo diferenças, inclusive, em relação ao volume de calda. Há que se destacar as pontas JA-0,5 que, mesmo aplicando menor volume de calda, conseguiram se igualar aos depósitos das demais pontas em condições meteorológicas mais críticas para a pulverização (Tabela 2). A distribuição menos heterogênea da pulverização ao utilizar a ponta JA-0,5 com e sem assistência de ar, em relação às demais, deve-se, talvez, ao fato de que um menor volume de calda tenha efeito mais positivo, em relação à deposição com a agitação mecânica das folhas. Ao comparar as pontas AXI 110015 e JA-1, que aplicaram volumes de calda iguais, pode-se observar que não houve diferenças na deposição, mesmo com a primeira, de jato plano, produzindo gotas com diâmetro mediano volumétrico (dmv) ao redor de 135 µm e a segunda, de jato cônico vazio e gotas com dmv de 68 µm, segundo informações do fabricante. Assim, o aspecto diâmetro de gotas, parece não ter influenciado nos resultados obtidos com esses tratamentos. Pode-se, também, constatar maior concentração dos depósitos na superfície adaxial dos folíolos superiores, mais próximos à barra pulverizadora, superando até em duas vezes aos obtidos nos folíolos mais próximos ao solo. Além disso, nota-se níveis de depósitos similares na superfície abaxial, tanto nos folíolos superiores quanto nos inferiores, independentemente do tipo de ponta e do volume de calda. Os valores médios de perda de calda para o solo estão, assim como a deposição total nas plantas, relacionados ao volume de calda aplicado. Há, porém, que se observar os altos índices relativos de perdas (Tabela 4), chegando a depositar 2,13 vezes mais calda no solo do que nas plantas, mesmo havendo somente 40% do solo descoberto. Essas condições revelam que mais de 60% do volume aplicado foi perdido para o solo. Além disso, as perdas não se relacionaram ao uso ou não da assistência de ar. Esse fato é contrário ao constatado por MAY (1991), no qual notou que o uso da assistência de ar aumentou a deposição entre as linhas da cultura de beterraba açucareira, mas de acordo com os resultados observados por BAUER e RAETANO (2000), embora esses autores tenham trabalhado com maior nível de cobertura do solo em cultura de soja. A Figura 1 permite observar níveis de depósitos totais nas plantas e perdas para o solo muito parecidos entre os tratamentos em que se aplicou 100 L.ha-1, indicando não haver diferenças entre as pontas JA-1 e AXI 110015, a despeito de produzirem espectro de gotas diferentes. 4. CONCLUSÕES 1. A assistência de ar junto à barra pulverizadora não influenciou na deposição, independentemente da superfície foliar e da localização do folíolo na planta; 2. Elevadas perdas para o solo, acima de 60% do volume aplicado, ocorrem em pulverizações do feijoeiro nessa fase de desenvolvimento; 3. Maiores volumes de calda proporcionaram maiores depósitos. 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Recebido para publicação em 15 de agosto de 2003 e aceito em 24 de março de 2004 Deposição e perdas de calda em feijoeiro 309 ENGENHARIA AGRÍCOLA DEPOSIÇÃO E PERDAS DA CALDA EM FEIJOEIRO EM APLICAÇÃO COM ASSISTÊNCIA DE AR NA BARRA PULVERIZADORA (1) CARLOS GILBERTO RAETANO(2); FERNANDO CESAR BAUER(2) RESUMO Com o objetivo de avaliar a influência da assistência de ar na deposição da calda de pulverização, em plantas de feijoeiro (Phaseolus vulgaris) aos 26 dias após a emergência (DAE), com pontas de pulverização de jato cônico vazio (JA-0,5 e JA-1) e jato plano (AXI-110015), e volumes de calda, foi realizado um experimento em delineamento inteiramente casualizado, utilizando como traçador o íon cobre. Alvos coletores (papel de filtro com 3 x 3 cm) foram afixados nas superfícies adaxial e abaxial de folíolos posicionados nas partes superior e inferior das plantas. Para aplicar a solução traçadora, utilizou-se pulverizador com barras de 14 metros, com e sem assistência de ar, volumes de 60 e 100 L.ha-1, e velocidade do ar correspondente a 50% da rotação máxima do ventilador. Após a aplicação, os coletores foram lavados individualmente em solução extratora de ácido nítrico a 1,0 mol.L -1 , e a quantificação dos depósitos através de espectrofotometria. A assistência de ar não influenciou na deposição da calda tanto a 60 quanto a 100 L.ha -1. O maior volume proporcionou maiores depósitos, sendo constatadas elevadas perdas para o solo (mais de 60%). Palavras-chave: tecnologia de aplicação, assistência de ar, pulverizador de barra, depósitos, Phaseolus vulgaris. ABSTRACT SPRAY DEPOSITION AND SPRAY LOSS USING AIR-ASSISTANCE BOOM ON BEAN PLANTS Aiming to evaluate the effect of air-assistance in spray deposition on bean plants (Phaseolus vulgaris) with hollow nozzles (JA-0,5 and JA-1) and flat fan nozzle type (AXI-110015), and volume rates by airassisted and non-assisted sprayers, a completely randomized experiment was carried out using copper ion as a tracer to the evaluation of the deposits. At 26 days after emergence, artificial targets were positioned on the upper and under-side of the leaflets, on the top and bottom parts of the same plants under spray boom. For the application of tracer solution it was used a fourteen meter boom sprayer with and without air-assistance at 60 and 100 L.ha -1 of volume rates. The air flow was 50% of the maximum fan rotation. After application, targets were individually washed with an extracting solution of nitric acid (1.0 mol L -1), and the tracer deposition was quantified by spectrofotometry. The air-assistance did not influence spray deposition at rates of 60 as well as 100 L.ha-1. The higher the volume was the higher the deposit levels as well as the spray losses to soil (above 60%). Key words: application technology, air-assistance, boom sprayer, tracer, Phaseolus vulgaris. (1) Recebido para publicação em 15 de agosto de 2003 e aceito em 24 de março de 2004. (2) Departamento de Produção Vegetal, Defesa Fitossanitária, Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Caixa Postal 237, 18603-970, Botucatu (SP). E-mail: [email protected] e [email protected] Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.309-315, 2004 310 C.G. Raetano e F.C. Bauer 1. INTRODUÇÃO Dentre os problemas fitossanitários que ocorrem na cultura do feijoeiro, a mosca branca (Bemisia tabaci) merece destaque por se tratar de espécie vetora; os níveis de dano econômico não dependem somente dos prejuízos provenientes de sua alimentação mas, principalmente, da doença que transmite, e mesmo em densidades relativamente baixas, pode causar danos consideráveis (ALMEIDA et al., 1984). Segundo G REATHEAD (1986), essa espécie, altamente polífaga, transmite o BGMV a partir de plantas-reservatório, havendo registro de mais de 500 espécies de plantas de inúmeras famílias botânicas como suas hospedeiras, entre elas o tomateiro (Lycopersicon esculentum) e o algodão (Gossypium hirsutum). Uma vez adquirido o vírus pelo inseto, ele o transmitirá por toda a vida e, segundo NENE (1973), pode produzir até 15 gerações por ano em espécies como a soja (Glycine max). A doença torna-se mais importante no plantio “da seca”, devido à alta população da mosca branca nessa época. Nos Estados do Paraná e de São Paulo, os prejuízos causados pelo BGMV podem atingir 100% quando altas populações do inseto coincidem com o início do desenvolvimento do feijoeiro (BIANCHINI et al., 1981). Em São Paulo, ALMEIDA et al. (1984) observaram reduções médias na produção por planta de 73% e 43%, respectivamente, quando os sintomas foram observados precoce e tardiamente. Práticas culturais para o controle da mosca branca, com efetiva redução da incidência do BGMV, seriam a eliminação de fontes alternativas de inóculo e cultivo do feijoeiro em épocas de menor população da mosca, práticas nem sempre possíveis. O melhoramento genético para a resistência varietal seria a medida mais apropriada, mas as tentativas não têm obtido sucesso. Por esse motivo, mundialmente, o controle químico tem-se constituído no principal método de controle à mosca branca, embora sua efetividade seja discutível, devido, entre outros fatores, à ressurgência da praga anualmente e à ineficiência dos métodos de aplicação utilizados, normalmente, nas pulverizações (OMER et al., 1997). Assim, SERVIN-VILLEGAS et al. (1997) afirmam que o controle químico não tem-se mostrado prática satisfatória pela baixa eficiência dos métodos de aplicação em colocar o produto na face inferior das folhas, reduzindo a exposição de ninfas e adultos aos produtos fitossanitários. Relacionado a essa dificuldade, o uso de pulverizadores providos de assistência de ar junto à Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.309-315, 2004 barra pulverizadora podem ser eficientes, uma vez que promovem maior penetração da calda na cultura do feijoeiro (BAUER e RAETANO , 2000) e da batata (V AN DE ZANDE et al., 1994; T AYLOR e A NDERSEN, 1997). Outro fator a ser considerado se relaciona à conclusão de MAY (1991) em que a assistência de ar junto à barra de pulverização, aumentou a deposição em 30% na superfície abaxial das folhas de beterraba açucareira. Esse fato, embora pouco relatado e discutido na literatura, assume fundamental importância no controle da mosca branca, com conseqüente diminuição na incidência do BGMV. Assim, a busca de técnicas e equipamentos que possibilitem melhor eficiência no controle dessa praga justifica a realização de pesquisas na área. O presente estudo teve como objetivo avaliar a influência da assistência de ar sobre a deposição da calda, nas superfícies abaxial e adaxial de folíolos de feijoeiro, em início de desenvolvimento, em aplicações com diferentes pontas de pulverização e volumes de calda. 2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi desenvolvido na Fazenda Experimental Lageado da Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Campus de Botucatu, em cultura de feijoeiro, cultivar Carioca, aos 26 dias após a emergência (DAE), com linhas de plantio espaçadas de 0,50 m e população estimada de 250.000 plantas por hectare, no momento da instalação do experimento, adubadas segundo recomendação de MORAES (1988). Os tratos culturais foram realizados de forma similar aos de uma cultura comercial, com exceção da aplicação de fungicidas, quando não se fez uso de nenhum tipo de produto cúprico. À época das aplicações (12/4/2000), as plantas se encontravam com, aproximadamente, 30 cm de altura proporcionando 60% de cobertura do solo e 40% do solo descoberto. O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com seis tratamentos (Tabela 1) e 25 repetições; cada planta selecionada, ao acaso, dentro da faixa de aplicação foi considerada uma repetição. As aplicações foram efetuadas com solução traçadora contendo 200 g.100 L -1 de óxido cuproso, correspondendo a 100 g de cobre metálico. As pontas de pulverização foram selecionadas em função do volume de calda aplicado e da faixa de pressão recomendada pelo fabricante, visando à boa cobertura das plantas. 311 Deposição e perdas de calda em feijoeiro Um pulverizador Modelo Falcon Vortex, equipado com barra de pulverização de 14 m e assistência de ar foi utilizado em todos os tratamentos, devido à capacidade em operar com ou sem assistência de ar, mantendo inalteradas as demais condições operacionais. Em todas as aplicações, a altura da barra pulverizadora e o espaçamento entre os bicos foram mantidos em 0,50 m. A velocidade de deslocamento do pulverizador, determinada pela cronometragem do tempo para percorrer 50 metros, após três repetições, foi adequa- da a fim de manter o volume de calda aplicado dentro dos padrões inicialmente selecionados (Tabela 1). Pelo fato de as plantas ainda se encontrarem em estádio inicial de desenvolvimento, com grande parte do solo ainda descoberto, optou-se por utilizar a assistência de ar com 50% da capacidade total do equipamento. Para isso, convencionou-se que a rotação máxima do ventilador proporciona velocidade máxima do ar na barra e 50% da rotação total resulta em velocidade de 50% do ar na barra. A rotação máxima, medida com fototacômetro digital, foi de 2.903 rpm. Tabela 1 Condições operacionais em pulverizações com o equipamento Falcon Vortex, com e sem assistência de ar (convencional) na cultura do feijoeiro aos 26 DAE Tratamento Condição de aplicação Tipo de ponta Volume Velocidade Velocidade de calda do ar na barra do equipamento kPa L.ha-1 % km h-1 Pressão 1 Convencional JA – 0,5 793,5 60 2 Assistência de ar JA – 0,5 793,5 60 3 Convencional JA - 1 862,5 100 4 Assistência de ar JA - 1 862,5 100 5 Convencional AXI-110015 241,5 100 6 Assistência de ar AXI-110015 241,5 100 6,5 50* 6,5 6,5 50* 6,5 5,5 50* 5,5 * velocidade do ar com 50% da rotação máxima do ventilador (2.903 rpm). Antecedendo as pulverizações foi realizado o ajuste de pressão, separadamente, para cada ponta utilizada, visando obter a vazão necessária em função do volume de calda desejado e da velocidade do equipamento. Após os ajustes devidos, antes do começo da aplicação na respectiva parcela, o equipamento iniciava a pulverização convencional, com a assistência de ar desativada, adentrando na parcela com velocidade e vazão estabilizadas. Após o término dessa parcela, em área reservada para manobras e com o equipamento ainda em movimento, porém antes do início da parcela seguinte, o operador acionava a assistência de ar adentrando em outra parcela com a assistência de ar ativada e estabilizada, interrompendo a pulverização ao fim dessa parcela. Posteriormente, em outra área para manobras, o trator interrompia seu movimento até a parada total e ali iniciavam-se os ajustes necessários para a execução de outros dois tratamentos, envolvendo outras pontas de pulverização. Esse procedimento, utilizado para todas as pontas em estudo, permitiu realizar duas pulverizações em condições ambientais muito similares (Tabela 2), em que a única diferença, entre esses dois tratamentos, foi o uso ou não da assistência de ar. Cada parcela e área de manobra foram demarcadas com 15 m de largura e 15 m de comprimento. As amostragens da deposição da calda nas plantas foram feitas em papel-filtro, com dimensões de 3 x 3 cm (alvo coletor), distribuídos em 25 plantas, selecionadas ao acaso sob a barra pulverizadora, no sentido perpendicular ao deslocamento do equipamento. Um alvo coletor foi fixado na superfície adaxial e outro na abaxial do folíolo mais alto da planta; adotou-se o mesmo procedimento para o folíolo mais próximo ao solo, totalizando quatro alvos coletores por planta. As perdas da calda pulverizada para o solo também foram estimadas com o uso de papel-filtro porém, nesse caso, com 9 cm de diâmetro dentro de placas de Petri. Esses coletores, foram posicionados entre as linhas de plantio, a 5 cm de altura e distanciados em 1,5 m entre si, no sentido perpendicular ao deslocamento do pulverizador, totalizando cinco coletores em cada tratamento. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.309-315, 2004 312 C.G. Raetano e F.C. Bauer Altos Coeficientes de Variação (CV) foram observados e, após a aplicação do Teste de Hartley, para verificar a homogeneidade das variâncias, optou-se pela transformação “raiz de x + 0,5” dos dados, constantes da Tabela 3. Todos os coletores foram retirados, imediatamente após cada pulverização, acondicionados em sacos de papel e armazenados em caixa térmica. No fim de todas as pulverizações foram colocados em vidros contendo 10 mL de solução extratora de ácido nítrico a 1,0 mol.L -1 e, após agitação, levados ao espectrofotômetro para quantificação do íon cobre, método já utilizado com sucesso por CHAIM et al. (1999) e BAUER e R AETANO (2003). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A concentração de cobre total na calda permitiu estabelecer o volume capturado através da equação 1: Ci x V i = C f x V f As condições meteorológicas registradas durante as pulverizações são apresentadas na tabela 2. Pode-se verificar que a temperatura e a umidade relativa do ar, no momento das aplicações com a ponta JA-0,5, estavam no limite aceitável para a utilização dessa técnica de aplicação, no entanto, a velocidade do vento foi favorável, fato que motivou a continuidade dos trabalhos. (Equação 1) em que: Ci = concentração de cobre na calda (mg.L -1 ); C f = concentração de cobre detectada no espectrofotômetro de absorção atômica (mg.L -1); Vi = volume capturado pelo alvo (mL); Vf = volume da diluição da amostra (mL) Tabela 2. Condições ambientais observadas no momento da realização dos tratamentos Tratamento Condição de aplicação Tipo de ponta Temperatura o UR Velocidade do vento C % km.h-1 Hora do início 1 Convencional JA – 0,5 30,1 52 0,8 16:40 2 Assistência de ar JA – 0,5 30,1 56 0,2 16:45 3 Convencional JA - 1 26,1 64 0,8 17:15 4 Assistência de ar JA - 1 25,9 63 1,1 17:30 5 Convencional AXI-110015 23,1 72 1,5 18:05 6 Assistência de ar AXI-110015 22,9 72 2,2 18:10 Verificou-se que, aos 26 DAE das plantas de feijoeiro, não houve efeito da assistência de ar junto à barra de pulverização sobre os níveis de depósitos, para os tratamentos em teste (Tabela 3). De modo geral, os tratamentos com maiores volumes de aplicação obtiveram níveis significativamente maiores de depósitos, ao se comparar os obtidos com o menor volume aplicado na planta toda. Essa constatação também foi feita por BAUER e R AETANO (2003), aos 48 DAE de feijoeiro (cultivar Carioca), utilizando o mesmo equipamento pulverizador, com volumes de calda variando de 60 L a 210 L.ha-1, porém na rotação máxima do ventilador. Analisando a superfície adaxial dos folíolos, percebe-se não houve influência da assistência de ar sobre os níveis de depósitos, tanto para os folíolos posicionados no ponteiro quanto para aqueles da parte Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.309-315, 2004 inferior das plantas havendo, somente, diferenças relacionadas ao volume de calda (Tabela 3). No entanto, nessa mesma superfície, mas na parte inferior das plantas, as diferenças relacionadas ao volume de calda não foram tão evidentes como na parte superior. Esse fato indica a dificuldade de se atingir as folhas mais próximas ao solo devido, possivelmente, ao pequeno porte das plantas que sofrem muita influência mecânica do ar, com movimentação excessiva das plantas e/ou deflexão do ar na superfície do solo em decorrência da manutenção de sua velocidade devido à pequena área foliar. Admitindose a ocorrência dessas hipóteses, a utilização de menores pressões de trabalho e/ou a ausência da assistência de ar ou, ainda, melhor adequação da velocidade do ar na barra, poderia melhorar a deposição da pulverização nessa parte da planta, nesse estádio de desenvolvimento. 313 Deposição e perdas de calda em feijoeiro Tabela 3. Valores médios dos depósitos da calda (µl/cm 2) em diferentes alturas e superfícies do folíolo de feijoeiro e em toda a planta, após pulverização aos 26 DAE, em presença e ausência da assistência de ar junto à barra de pulverização Assistência Ponta de ar utilizada adaxial abaxial adaxial abaxial toda 1 ausente JA-0,5 0,851(1) a 0,852 ab 0,880 a 0,892 a 1,345 a 2 presente 0,992 a 0,919 b 0,981 ab 0,825 a 1,483 a 3 ausente 1,426 b 0,770 a 0,997 abc 0,809 a 1,734 b 4 presente 1,289 b 0,866 ab 1,184 c 0,886 a 1,762 b 5 ausente 1,354 b 0,795 a 1,030 bc 0,843 a 1,741 b 6 presente 1,386 b 0,817 ab 1,101 bc 0,822 a 1,773 b C.V.(%) 18,85 17,05 22,60 20,67 13,43 DMS 0,185 0,115 0,188 0,141 0,178 Tratamento JA-1 AXI 110015 Superior Inferior Planta ( 1 ) Valores transformados em vx + 0,5. Médias, na coluna, seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo Teste de Tukey a 5%. Os depósitos, na superfície abaxial dos folíolos, não diferiram na ausência ou presença da assistência de ar. Diferenças de deposição foram relacionadas somente aos volumes de calda. Nessa superfície, na parte mais baixa das plantas, todos os tratamentos foram estatisticamente iguais, não ocorrendo diferenças, inclusive, em relação ao volume de calda. Pode-se, também, constatar maior concentração dos depósitos na superfície adaxial dos folíolos superiores, mais próximos à barra pulverizadora, superando até em duas vezes aos obtidos nos folíolos mais próximos ao solo. Além disso, nota-se níveis de depósitos similares na superfície abaxial, tanto nos folíolos superiores quanto nos inferiores, independentemente do tipo de ponta e do volume de calda. Há que se destacar as pontas JA-0,5 que, mesmo aplicando menor volume de calda, conseguiram se igualar aos depósitos das demais pontas em condições meteorológicas mais críticas para a pulverização (Tabela 2). Os valores médios de perda de calda para o solo estão, assim como a deposição total nas plantas, relacionados ao volume de calda aplicado. Há, porém, que se observar os altos índices relativos de perdas (Tabela 4), chegando a depositar 2,13 vezes mais calda no solo do que nas plantas, mesmo havendo somente 40% do solo descoberto. Essas condições revelam que mais de 60% do volume aplicado foi perdido para o solo. A distribuição menos heterogênea da pulverização ao utilizar a ponta JA-0,5 com e sem assistência de ar, em relação às demais, deve-se, talvez, ao fato de que um menor volume de calda tenha efeito mais positivo, em relação à deposição com a agitação mecânica das folhas. Ao comparar as pontas AXI 110015 e JA-1, que aplicaram volumes de calda iguais, pode-se observar que não houve diferenças na deposição, mesmo com a primeira, de jato plano, produzindo gotas com diâmetro mediano volumétrico (dmv) ao redor de 135 µm e a segunda, de jato cônico vazio e gotas com dmv de 68 µm, segundo informações do fabricante. Assim, o aspecto diâmetro de gotas, parece não ter influenciado nos resultados obtidos com esses tratamentos. Além disso, as perdas não se relacionaram ao uso ou não da assistência de ar. Esse fato é contrário ao constatado por M AY (1991), no qual notou que o uso da assistência de ar aumentou a deposição entre as linhas da cultura de beterraba açucareira, mas de acordo com os resultados observados por BAUER e RAETANO (2000), embora esses autores tenham trabalhado com maior nível de cobertura do solo em cultura de soja. A Figura 1 permite observar níveis de depósitos totais nas plantas e perdas para o solo muito parecidos entre os tratamentos em que se aplicou 100 L.ha -1 , indicando não haver diferenças entre as pontas JA-1 e AXI 110015, a despeito de produzirem espectro de gotas diferentes. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.309-315, 2004 314 C.G. Raetano e F.C. Bauer Tabela 4. Valores médios de perdas para o solo (µl/cm2) e de depósitos em plantas de feijoeiro após pulverização aos 26 DAE, em presença e ausência da assistência de ar junto à barra de pulverização Tratamento Assistência de ar Depósitos Ponta utilizada Planta(A) Relação Solo(B) B/A 0,173 0,341 1,97 0,222 0,358 1,61 0,362 0,772 2,13 0,387 0,568 1,47 0,368 0,727 1,98 0,381 0,722 1,90 µl/cm2 1 ausente 2 presente 3 ausente 4 presente 5 ausente 6 presente JA-0,5 JA-1 AXI 110015 0,8 planta -2 Deposição (ul.cm ) 0,7 solo 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 JA-0,5-s/ar JA-0,5-c/ar 110015-s/ar 110015-c/ar JA-1-s/ar JA-1-c/ar Ponta utilizada com (c/ar) e sem (s/ar) assistência de ar Figura 1. Perdas para o solo e deposição em plantas de feijoeiro (µl.cm-2) após pulverização aos 26 DAE, em presença e ausência da assistência de ar. 4. CONCLUSÕES REFERÊNCIAS 1. A assistência de ar junto à barra pulverizadora não influenciou na deposição, independentemente da superfície foliar e da localização do folíolo na planta; ALMEIDA, L.P.; PEREIRA, J.C.V.N.A.; RONZELLI JUNIOR, P.; COSTA, A.S. Avaliação de perdas causadas pelo mosaico dourado do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) em condições de campo. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.9, p.213-219, 1984. 2. Elevadas perdas para o solo, acima de 60% do volume aplicado, ocorrem em pulverizações do feijoeiro nessa fase de desenvolvimento; BAUER, F.C.; RAETANO, C.G. Air-assisted boom sprayer in spray deposition on bean plants. Scientia Agricola, Piracicaba, v.60, n.2, p.211-215, 2003. 3. Maiores volumes de calda proporcionaram maiores depósitos. Bragantia, Campinas, v.63, n.2, p.309-315, 2004 BAUER, F.C.; RAETANO, C.G. Assistência de ar na deposição e perdas de produtos fitossanitários em pulverizações na cultura da soja. Scientia Agricola, Piracicaba, v.57, n.2, p.271-276, 2000. 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