Boletim Neuro Atual-Resenhas de Trabalhos Científicos em Neurologia Volume 3 Número 6- 2011 “The relationship between the Epworth Sleepiness Scale and polysomnographic parameters in obstructive sleep apnea patients”. Lee SJ, Kang HW, Lee LH. European Archives of Oto-Rhino-Laryngology publicado on line em 29 de outubro de 2011. A sonolência excessiva diurna (SED) é uma das queixas mais comuns em pacientes com a síndrome da apnéia obstrutiva do sono (SAOS), sendo que a sua prevalência pode chegar até a 87%. A SED é um fator de risco importante e conhecido para vários acidentes, podendo também resultar em baixa qualidade de vida. A escala de sonolência de Epworth (ESE) é o instrumento mais utilizado para avaliação de SED, particularmente entre aqueles com SAOS. Todavia, a SED é influenciada por diversos fatores, sendo a fragmentação do sono e a apnéia/hipoxemia os principais mecanismos propostos para explicar a SED em pacientes com SAOS. O objetivo deste estudo é investigar a relação entre a subjetividade da ESE e a objetividade dos parâmetros polissonográficos, comparados em grupos dicotomizados de pacientes com SAOS, com ou sem SED. Foi feita uma revisão dos prontuários de 96 pacientes consecutivos (81 homens e 15 mulheres) que roncam e que tem suspeita clínica de SAOS. Somente foram incluídos pacientes que freqüentaram o ambulatório de otorrinolaringologia e que apresentavam problemas de via aérea superior. Foram coletados dados como idade, sexo e índice de massa corporal (IMC) de cada paciente. Utilizou-se a versão coreana validada do questionário ESE, sendo a entrevista feita à noite, antes da realização da polissonografia (PSG). As comparações estatísticas entre ambos os grupos de pacientes (com ou sem SED) foram feitas utilizando-se os testes de Mann-Whitney. O coeficiente de correlação de Pearson foi calculado para quantificar correlações entre o valor da ESE e os parâmetros polissonográficos [Idade (anos), IMC (kg/m2), índice de apnéia hipopnéia IAH, tempo ronco (%), tempo total de sono (min), latência sono para N1, eficiência do sono (%), N1 - N2 sono (%), N3 sono (%), sono REM (%), vigília (%), índice de despertar respiratório, índice total despertar, índice de dessaturação de oxigênio - IDO, SpO2 mínima (%), tempo de duração SpO2 < 90% (min)]. Pacientes com SED demonstraram IAH e IDO significativamente maiores, maior porcentagem do tempo de ronco, maior tempo de SpO2 < 90% e menor SpO2 mínima. Não houve diferença estatística nos parâmetros de sono (tempo total de sono, latência de sono, eficiência do sono, arquitetura do sono e índices de despertar). Foi identificada uma correlação positiva fraca entre a ESE e o IMC, porcentagem do tempo de ronco, tempo de SpO2 < 90% e SpO2 mínima. Outros parâmetros como IHA e IDO não tiveram correlação estatística com a ESE. Os autores sugerem que há algumas controvérsias na relação entre a ESE e os parâmetros polissonográficos: (1) a SED é determinada por múltiplas condições fisiológicas e patológicas, como a idade e o índice de massa corporal; (2) o uso da ESE para avaliar SED é um método subjetivo; (3) estudos anteriores não são homogêneos, demonstrando resultados e conclusões diferentes. Os achados deste estudo também mostraram que pacientes com SED tinham apnéia/hipopnéia mais grave do que aqueles que não tinham SED e que pode haver algum grau de relação entre IAH e o IDO, com a ESE e SED. Os achados também corroboram a hipoxemia noturna como importante determinante de SED em pacientes com SAOS, apesar de os mecanismos biológicos exatos serem desconhecidos. Para justificar essa relação, foi postulado que a hipoxemia causa danos neurais graves às estruturas que promovem o despertar, causando SED. Os autores ponderam que a "ESE, devido à sua subjetividade, pode não ser confiável para mostrar correlação direta com os parâmetros polissonográficos.... Apesar de todas as controvérsias, nossa conclusão é que a apneia / hipoxemia tem coerência considerável com a SED medida pela ESE em pacientes com SAOS ". Andre S. Giorelli, neurologista, aluno da Pós-graduação do Departamento de Clínica Médica da FM-UFRJ Thiago Carnaval, estudante de medicina da FM-UFRJ Marleide da Mota Gomes, professora associada da FM-UFRJ, Insituto de Neurologia da UFRJ