A PERCEPÇÃO DA PAISAGEM RURAL DOS MORADORES DO BAIRRO SANTA CLARA, ALFENAS-MG. Pietro de A. Cândido¹; Artur L. Andrade²; Sérgio H. C. Esporte³; Felipe de P. Rui4; Flamarion D. Alves5. [email protected]¹; [email protected]²; [email protected]³; [email protected]; [email protected]. 1, 2, 3, 4 Graduandos em Geografia – UNIFAL-MG. 5 Prof. Inst. de Ciências da Natureza– UNIFAL-MG. Palavras-chave: Geografia Cultural; Paisagem Rural; Alfenas. Introdução Os geógrafos questionam-se a respeito da extrema diversidade cultural dos povos desde Heródoto (séc. V a.C.). As respostas sobre esta questão nunca foram unânimes, pois cada questionamento utilizava conceitos diferentes e seguia uma perspectiva filosófica (CLAVAL, 2007). Pode destacar a perspectiva corológica, originada nas formulações de Kant, que buscava uma síntese de conhecimentos relativos ao homem, privilegiando a visão espacial, apresentando-se como contrapartida da perspectiva cronológica. Desta forma, encontra-se em muitos autores a ideia de Geografia como sinônimo de estudo da paisagem, restringindo a análise geográfica aos aspectos visíveis do real (MORAES, 2005). Outras propostas surgem e a Geografia é associada ao estudo da individualidade dos lugares ou ao estudo da diferenciação de áreas (Idem). Em meio a essas propostas, surge um conceito importantíssimo para a evolução do pensamento geográfico: a paisagem. Hoje a ideia de paisagem depende muito da cultura das pessoas que a percebem e a constroem, sendo um produto cultural resultado do meio ambiente sob ação da atividade humana. Paisagem natural: elementos combinados de terreno, vegetação, solo, rios e lagos. Paisagem cultural: humanizada, modificações feitas pelo homem, como nos espaços urbanos e rurais (Claval, 2007). A paisagem cultural constitui um conceito-chave para a geografia, que para muitos geógrafos, é responsável por integrar a geografia, articulando o saber sobre a natureza com o saber sobre o homem, ou seja, um conjunto de formas materiais dispostas e articuladas entre si no espaço como os campos, as cercas vivas, os caminhos, a casa, a Igreja, entre outras, com seus estilos e cores, resultante da ação transformadora do homem sobre a 1 Alfenas-MG, 3 a 6 de Setembro de 2012 Universidade Federal de Alfenas-MG natureza. Como matriz cultural as paisagens através de muitos de seus elementos servem como mediação na transmissão de conhecimentos, valores ou símbolos, contribuindo para transferir de uma geração a outra o saber, crenças, sonhos e atitudes sociais (Corrêa, 1995). A paisagem cultural analisada pelo viés do espaço rural será o bairro Santo Clara, localizado no extremo oeste do município de alfenas, com 35.832 km² é o menor bairro da cidade. Atualmente sofre grandes obras de urbanização, com a construção de 118 casas populares e a implantação da Unidade Educacional II da Universidade Federal de Alfenas. Objetivos Verificar a percepção dos moradores do bairro Santa Clara sobre os elementos da paisagem geográfica rural; Identificar como é realizada essa percepção a partir da bagagem cultural, social, emocional de cada intérprete nesse espaço e tempo; Aplicar as metodologias e referências da Geografia Cultural. Fundamentação Teórica As relações entre fenomenologia semiótica e geografia da percepção norteiam a fundamentação teórica do presente trabalho, pois, segundo Rocha (2003), o espaço geográfico configura-se de acordo com a vasão dos sentimentos humanos, sendo retratos das culturas que vão se sucedendo e deixando sua marca indelével, que dará a identidade especifica de cada grupo que organizou determinado trabalho. Desta forma, os métodos apresentados são formas para captar as impressões culturais do espaço. A fenomenologia procura levantar as experiências concretas do homem, é o campo de análise da essência dos fenômenos, tanto materiais (naturais), quanto imateriais (culturais). Ou seja, mostra que o ser humano vê o mundo e seus fenômenos de acordo com sua cultura, meio ambiente, formação educacional, estado emocional, entre outros fatores que formam seu entorno e seu interior (Rocha, 2003). A semiótica é o estudo de fenômenos representados por signos que são percebidos e interpretados pela linguagem verbal e não-verbal (imagens, gestos, sinais, entre outros). “E o signo fala. Mas fala diferente para pessoas diferentes, em momentos diferentes” (Rocha, p.72 2003), ou seja, a leitura do signo poderá trazer sentimentos (topofilia), pelo envolvimento emocional que o intérprete da paisagem tem com o signo. A Geografia da Percepção estuda o espaço, a paisagem e os lugares, tendo em vista também a experiência e a vivência de seus moradores, conseguindo, assim, a imagem de 2 Alfenas-MG, 3 a 6 de Setembro de 2012 Universidade Federal de Alfenas-MG muitas cidades dentro de uma cidade. Seu objeto de estudo considera a termo geografia como o padrão pessoal de atividades e encontros com lugares e paisagens (Rocha, 2003). Outro conceito importante a ser abordado é a topofilia, que é o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico. Para ter esse elo, diversos fatores influenciam na percepção final do ambiente. A percepção da paisagem rural vai depender dos interesses do indivíduo com o lugar em que vive, de que forma mantém relação com essa paisagem, até mesmo a frequência que possui contato com o rural. Ou seja, perceber, conhecer a paisagem é definido pelo valor do seu espaço de vida (TUAN, 1974 e 1983). Metodologia A partir da exploração da fundamentação teórica, com os conceitos de fenomenologia, semiótica, geografia da percepção e topofilia, foi elaborado um questionário semiaberto com 11 questões, tendo o objetivo de identificar a percepção dos entrevistados em relação aos elementos da paisagem geográfica rural, abordando aspectos culturais, sociais e emocionais vinculados a paisagem rural, além de identificar o perfil dos entrevistados. A pesquisa de campo foi realizada no bairro Santa Clara, no mês de maio de 2012, onde foram entrevistados 11 pessoas, de forma aleatória, residentes do bairro que esporam suas percepções do objeto de estudo proposto no presente trabalho. Resultados Os entrevistados se caracterizam na faixa etária, em sua maioria, com mais de 30 anos (80%); a escolaridade predominante de ensino fundamental I (50%) seguido por ensino fundamental II (34%) e com ensino médio e analfabetos ambos com 8%; o tempo de moradia no bairro varia de 1 a 10 anos (34%) e 11 a 20 anos (33%), o restante consta com mais de 20 anos residindo no bairro. A análise dos resultados obtidos em relação à paisagem rural a partir dos moradores do bairro Santa Clara é esquematizada no Quadro 1. Observa-se dois seguimentos que são predefinidos pelas características culturais dos entrevistados a primeira são os que cresceram vinculados a zona rural e a outra aos que cresceram com o vínculo ao espaço urbano. Ou seja, a partir da bagagem cultural, social e emocional do observador se tem dois perfis traçados, isto demostra diferentes formas de formação cultural imposta pelo espaço de desenvolvimento pessoal dos entrevistados. 3 Alfenas-MG, 3 a 6 de Setembro de 2012 Universidade Federal de Alfenas-MG Quadro 1: Esquematização da percepção da paisagem rural. Fonte: Pesquisa de campo. Os que cresceram vinculados a zona rural se caracterizam com mais de 30 anos e com vinculo de subsistência com o rural. A relação destes com a paisagem rural se mostraram mais forte, pois cresceram e tiraram a subsistência do rural. Indagados sobre a representação da área rural em suas vidas se teve respostas como: “é minha vida”; “bom, bonito, gosto de morar no meio do mato”; “lugar onde eu cresci”; “lugar de onde eu tiro meu sustento”. Em relação à semiologia que culturalmente os entrevistados carregam sobre o rural se teve uma descrição mais especifica dos signos relacionados à paisagem estudada, se teve relatos e descrições de contato cotidiano com as ferramentas para com o trato do solo, armazenamento de alimentos, além de danças, comidas e folclores. Já os que cresceram vinculados a zona urbana têm em torno de 30 anos ou menos, e seu vinculo econômico esta atrelado ao rural e ao urbano, isso se da pela forma de trabalho que este perfil exerce, trabalhando somente em época de colheita do café e sua prioridade está em buscar postos de trabalho fixo na cidade. Desta forma, a representação do rural em sua cultura é vista de forma diferente do primeiro perfil apresentado, tal como questionados ao rural para eles se teve respostas como “lugar saudável e puro”, “benefícios da área verde e ar puro”, “paz”, “natureza”, estes relacionando o rural mais a práticas de lazer. Desta forma, a semiologia listada pelos entrevistados deste perfil se mostra mais escassa, com signos generalizados e midiáticos, tal como danças e comidas relacionadas a festas juninas e os símbolos físicos voltados a plantações de monocultura. 4 Alfenas-MG, 3 a 6 de Setembro de 2012 Universidade Federal de Alfenas-MG Conclusões A percepção rural dos moradores do Bairro Santa Clara seguem algumas tendências pelo histórico dos moradores e suas bagagens culturais, sociais e emocionais. Desta forma, as pressões da expansão urbana que o bairro vem sofrendo atingem os moradores e suas relações culturais, as novas gerações nascidas no bairro seguem a tendência de assumir com maior intensidade relações com o urbano, descaracterizando a atual conjuntura do bairro. A discussão entre definir se o bairro é rural ou urbano é pertinente no trabalho, para o IBGE tudo que está fora do perímetro urbano é rural (PONTE, 2004), entretanto, atualmente, as relações dos moradores com as práticas rurais são constantes, tal como o cultivo de hortas e o uso de utensílios rurais. Isso se dá pela característica de formação do bairro que, por ser uma periferia da mancha urbana, seus habitantes não foram excluídos da cidade sendo obrigados a morar no subúrbio, mas sim foram expulsos do espaço rural pela expansão das monoculturas implantadas na região, tendo que ir para a cidade, mas muitos mantêm relações proletarizadas com grandes fazendas, assim a maior parte do sustento dos habitantes do bairro vem do rural. Bibliografia CLAVAL, P. A geografia cultural. 3 ed. Florianópolis: Ed. UFSC, 2007. CORRÊA, R. L. A dimensão cultural do espaço: alguns temas. Espaço e Cultura. Rio de Janeiro: UERJ, vol.1, n°1, 1995. HOLZER, W. Uma discussão fenomenológica sobre os conceitos de paisagem e lugar, território e meio ambiente. Revista TERRITÓRIO, ano II, nº 3, jul./dez. 1997. MORAES, A. C. R. Geografia: pequena história crítica. 20 ed. São Paulo: Annamblume, 2005. PONTE, K. F. (Re) Pensando o Conceito do Rural. Revista NERA, n. 4, p. 20 –28. 2004. ROCHA, L. B. Fenomenologia, semiótica e geografia da percepção: alternativas para analisar o espaço geográfico. Revista da Casa da Geografia de Sobral, Sobral, v. 4/5. p. 67-79, 2002/2003. TUAN, Yi-Fu. Espaço e Lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel, 1983. TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. São Paulo: Difel, 1974. 5 Alfenas-MG, 3 a 6 de Setembro de 2012 Universidade Federal de Alfenas-MG