CULTURA URBANA: MAIS RURAL DO QUE URBANA LUCAS ANTÔNIO DONIZETTI PIZZA1 e FLAMARION DUTRA ALVES2 [email protected],[email protected] 1 Aluno do curso de Geografia Licenciatura – Grupo de Pesquisas Regionais e Socioespaciais – Unifal-MG 2 Professor do curso de Geografia – Líder do Grupo de Pesquisas Regionais e Socioespaciais Unifal-MG Palavras-chave: Ruralidade; Geografia Urbana; Geografia Cultural. INTRODUÇÃO Vivemos em um período que se consolidar como cultura é cada vez mais difícil, para tanto a Cultura Popular é renegada, jogada a segundo plano e muitas vezes desaparecidas dos ambientes urbanos. Mas é possível notar e exemplificar manifestações culturais que, em uma tentativa desesperada de não extinguir-se, estão presentes no meio urbano. Essas manifestações, quase sempre originárias do campo, são remanescentes de uma população que nasceu e cresceu no meio rural e devido ao baixo incentivo do homem no campo e o grande domínio dos latifúndios sobre as pequenas propriedades, migraram pros meios urbanos. Essas manifestações estão, em muitas vezes, fadadas ao abandono e esquecimento, uma vez que as novas gerações, já nascidas no meio urbano, não se interessam e não estimulam a continuação e preservação da cultura de seus pais e avós. Consolidar-se como cultura é difícil no contexto atual, referindo à presença da globalização cultural, onde os jovens são atraídos por culturas vindas do exterior e não valorizam aquelas que estão presentes há décadas (ou talvez séculos) no seu contexto social. Uma nova manifestação que nasça neste meio, se não tiver o apoio e divulgação da mídia, estará condenada a não prosperar. Destaca-se que o presente artigo aborda a visão da presença da ruralidade no meio cultural urbano, e a urbanização modifica nesse contexto e nessas manifestações. 1 Alfenas-MG, 3 a 6 de Setembro de 2012 Universidade Federal de Alfenas-MG A GEOGRAFIA CULTURAL E A PAISAGEM CULTURAL Para iniciarmos nossas considerações, é importante destacar o contexto histórico da Geografia Cultural e definirmos o que é paisagem cultural. A Geografia Cultural reaparece nos anos de 1980 com enorme vitalidade. Segundo Yi-Fu Tuan (1982), a Geografia Humanística tenta especificamente entender como as atividades e os fenômenos geográficos revelam a qualidade da conscientização humana. A paisagem cultural é para Roberto Lobato Correa (2003, 2011) um conjunto de formas materiais dispostas e articuladas entre si no espaço como os campos, as cercas vivas, os caminhos, a casa, a igreja, entre outras, com seus estilos e cores, resultante da ação transformadora do homem sobre a natureza. A paisagem é uma vitrine permanente de todo o saber, expressando a cultura em seus diversos aspectos, possuindo uma faceta funcional e outra simbólica. Cosgrove vai mais além e identifica dois tipos gerais de paisagens. O primeiro é a “Cultura Dominante”, um dos meios através dos quais o grupo dominante tem seu poder. O segundo é constituído pelas “Paisagens Alternativas”, formado por grupos não-dominantes e que, por isso mesmo, apresentam menos visibilidade. Cosgrove ainda distingue três subtipos: “Paisagens Residuais” cujo interesse está no fato de permitirem a reconstrução da geografia do passado, constituem o primeiro subtipo. Algumas áreas rurais apresentam paisagens residuais; “Paisagens Emergentes”, oriundas de novos grupos podem ter caráter transitório. Como exemplo os hippies dos anos 1960 e os sem-terra; “Paisagens excluídas” são as minorias e os grupos pouco integrados como os ciganos e minorias raciais. Ainda segundo Roberto Lobato Corrêa, a natureza e o espaço socialmente produzido, do qual o homem é parte integrante, constituem o ambiente geográfico. Firey argumentou que símbolos e sentimentos são variáveis que podem conformar o espaço e que este não se caracteriza apenas por atributos econômicos, também pode conter simbolismos que derivam de valores culturais que ali se acham enraizados. Firey indica claramente como símbolos e sentimentos podem conferir outra 2 Alfenas-MG, 3 a 6 de Setembro de 2012 Universidade Federal de Alfenas-MG racionalidade à organização espacial, racionalidade para a qual a cultura constitui-se em ingrediente fundamental. Roberto Lobato Corrêa estabelece três momentos para a Geografia Cultural no Brasil: O primeiro vai do inicio ao final dos anos 1990, onde não a havia a aceitação do subgrupo; O segundo vai de 2001 a 2005, onde há a aceitação do subgrupo e agregação daqueles a criticavam; O terceiro refere-se a sua vulgarização. Hoefle fala que a cultura pode ser entendida por três eixos. No primeiro a cultura é vista numa perspectiva abrangente ou restrita, abarcando, respectivamente inúmeros fenômenos ou limitada aos significados construídos a respeito das diferentes esferas da vida; No segundo eixo a cultura é vista de acordo com o papel que desempenha na sociedade. No terceiro eixo, a cultura é considerada em relação ao processo de mudança. Cosgrove reconhece o papel da imaginação que reelabora metamorficamente tudo aquilo que os sentidos capturam, criando e recriando a compreensão a respeito da existência humana. Mas os significados não são apenas um produto social, constituem também uma condição para a reprodução social, incluindo não apenas valores, crenças, mitos e utopias, mas também as relações sociais e a espacialidade humana. CONCLUSÃO Conclui-se com nossos estudos que a cultura popular vive atualmente um processo de substituição, onde a cultura de massa se consolida mais forte. Vimos que o grande fator que resulta na mudança e no esquecimento da cultura popular é o êxodo rural, sendo que a cultura existente no campo não consegue se fixar no meio urbano. 3 Alfenas-MG, 3 a 6 de Setembro de 2012 Universidade Federal de Alfenas-MG Em uma tentativa de firmar a cultura do campo no meio urbano é comum vermos manifestações tipicamente rurais na cidade. Muitas vezes distorcidas, devido ao fato que essas manifestações devem adaptar-se ao meio urbano. As festas populares são grandes eventos de reprodução da cultura tradicional-rural frente às novas ondas culturais que se inserem no interior do Brasil. Todavia, a manutenção dessa cultura aponta para uma fixação das raízes, mas sobretudo aos traços originários da população que ali vive, seja na cidade ou no campo. Os jovens, movidos pelas culturas de massa e por um processo de globalização da cultura, não se interessam por sua própria cultura e pela cultura de seus conterrâneos, preferindo a cultura veiculada pelos meios de comunicação. Entendemos que o poder público, é o responsável por manter essas manifestações, não deixando caírem em processo de degradação e abandono. REFERÊNCIAS BUTTIMER, A. Aprendendo o dinamismo do mundo. In: CHRISTOFOLETTI, A., Perspectiva da Geografia, 2. ed. São Paulo: DIFEL, 1982. CORREA, R. L. A dimensão cultural do espaço: Alguns temas, GEOgraphia, p. 113– 123, n. 10, 2003. CORREA, R. L. Sobre a Geografia Cultural. Disponível em <http://www.ihgrgs.org.br/Contribuicoes/Geografia_Cultural.htm> Acesso em: 01 de novembro de 2011. HOLZER, W. O conceito de lugar na Geografia Cultural – Humanista: Uma contribuição para a Geografia Contemporânea. GEOgraphia. v.5, n.10, 2003. RABELLO, E.T. e PASSOS, J. S. Vygotsky e o desenvolvimento humano. 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