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CRIANDO HÁBITOS DE ESTUDO
(direitos da adaptação reservados ao Instituto Marilza Mestre)
CREATING STUDY HABITS
(adaptation rights reserved to Marilza Mestre Institute)
Marilza Mestre1
RESUMO
Ao trabalhar com queixas de ansiedade, quer com jovens com os mais diversos tipos de medos e,
também, dificuldades de aprendizagem, ou adultos que desejam prestar concursos e se angustiam
com ter “branco” ao fazer provas, a autora ao longo de sua prática observou que, além da ansiedade
estas pessoas careciam de aprendizagem de seguir regras de estudar. Para tentar resolver esta
questão, ela voltou-se ao estudo de neurologia e adaptou um método para “aprender a aprender”.
Obviamente este material precisa ser testado em pesquisa experimental para validação; por ora o
presente estudo apresenta uma instrumentação de uso em clinica e, portanto, o objetivo desta
publicação foi possibilitar o refletir com os colegas e, quem sabe, propor uma testagem do método.
No trabalho acha-se descrito como este é exposto aos pais (ou adultos e até adolescentes), para sua
prática, lembrando que neste propósito, se escolheu a escrita em linguagem coloquial.
Palavras-chave: aprendizagem de regras de estudar; ansiedade e consequências educacionais.
ABSTRACT
When working with anxiety complaints, if with young with the most diverse types of fears and,
also, difficulties of learning, or adults who desire to give competitions and if tests distress with
having “white” when making that, the author throughout practical its, observed that, beyond the
anxiety these people lacked of learning to follow rules to study. To try to solve this question, she
turned it the study of neurology and applied a method “to learn to learn”. Obviously this necessary
material to be tested in experimental research for validation; for however the present study it
presents an instrumentation of use in clinic and, therefore, the objective of this publication was to
make possible reflecting with the colleagues and, who knows, considering this method in a
research. In the present work it is found described as this is displayed to the parents (or adults and
until adolescents), for practical its, remembering that in this intention, if it chose the writing in
simple language.
Keywords: learning of rules to study; educational anxiety and consequences.
1
Psicóloga, doutora, professora do curso de psicologia da FEPAR,
nas disciplinas: Análise Experimental do Comportamento e
Psicologia do Desenvolvimento IV: adultos e 3ª Idade;
supervisora de estágio em psicologia hospitalar. Diretora do
Instituto de psicologia Marilza Mestre.
Aprovado em: 05/03/2012
Autor para correspondência: Marilza Mestre
Contato: [email protected]
Revista Eletrônica da Faculdade Evangélica do Paraná, Curitiba, v.2, n.1, p.47-57, jan./mar. 2012.
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CRIANDO HÁBITOS DE ESTUDO
INTRODUÇÃO
A capacidade de estudar por iniciativa própria, ao contrário do que a sociedade pensa, é um
comportamento aprendido por modelagem e, portanto, construído passo a passo. É, ainda, uma
competência que depende de várias habilidades, já adquiridas anteriormente, como pré-requisito
para que se desenvolva (1).
Não se trata de “boa-vontade” (ou “bom caráter”) do estudante estudar ou de “má-vontade”
(“ou mau caráter”) do estudante que não estuda. Um paradoxo, não? Um estudante que não estuda é
semelhante ao trabalhador que não trabalha e daí a analogia; mas o trabalhador foi treinado no
serviço e o estudante, será que teve modelos de bem estudar? Alguém o ensinou a focar no estudo
com prazer? Qual o ganho dele nesta atividade?
Ao longo de 35 anos de formação (se acrescidos aos cinco da graduação) vivenciei o
trabalho de ajudar estudantes de todos os níveis educacionais a “aprender a aprender” estudar para,
depois, gostar de tal atividade, como parte de vencer sua ansiedade e autoexigências.
DESENVOLVIMENTO
Estudar é um comportamento como outro qualquer e, nesta categoria, depende de
múltiplas variáveis de controle, uma delas é, sem dúvida, o tipo de prazer que se tira disto e
como os nossos modelos passaram ter ou não ganhos sociais no ato de estudar. Vamos analisar
algumas delas:
A) Começa com seguir Modelos, o que, na prática do psicólogo é chamado de aprendizagem
vicariante, ou a observação da família (pais, avós, irmãos, tios, etc...). Estes gostam de estudar?
Valorizam tal atividade como prazerosa ou ao menos proveitosa? Mais ainda, estudar é o trabalho
do estudante, estes pais, avós e/ou familiares concordam com esta visão? Que opinião e atitudes têm
acerca do próprio trabalho?
Quer dizer, a percepção que se tira daquilo que se observa no meio ambiente onde se está
inserido é muito poderosa e cria regras de como levar nossa vida, mesmo que nem saibamos que as
temos. Os ditados populares (senso comum) nos ensinam muito acerca da sociedade onde vivemos:
“... faça o que eu digo e não faça o que eu faço!” e isto é um problema, pois o “modelo arrasta”. E
é disto que se está falando, de modelos poderosos, a família. Tal modelação pode se dar de forma
positiva e ou negativa (2).
A.1) Na modelação positiva a pessoa tende a repetir aquilo que propiciou ao seu “Outro”, (o
modelo, aquele com o qual se identifica) se “dar bem na vida”. Ao observar e identificar qual a
classe de comportamentos que trouxe os benefícios para aquele, tendemos a repetir seus passos ou
evitar os que trouxeram prejuízos ao modelo. Por exemplo, se os pais amam estudar, se dedicam ao
seu trabalho, falam bem deste, convivem bem com seus colegas, adoram ler e fazer cursos de
aperfeiçoamento ganhando dinheiro que permita uma boa qualidade de vida e, se mais ainda, esta
família inclui as crianças nestas atividades, há grande chance que estas venham a aprender a gostar
de estudar e, consequentemente, estudar bem, com bons resultados de aprendizagem. Porém, se
estes modelos não gostam e demonstram este não gostar, com reclamações e expressões (mesmo
que sutis) sobre este modo de ver o trabalho, sem parar para pensar ou sem pensar que está sendo
observado: “Meu Deus, segunda feira de novo, que saco!” ou ” Nossa, se eu pudesse tirava férias
de novo!”. Estas falas e outros modos de agir da família dizem de como o trabalho é algo ruim (e,
de novo, vamos lembrar que estudar é o trabalho do estudante), cria-se uma associação de que
trabalhar - portanto estudar – é algo nocivo.
Diz-se que é modelação positiva porque fazemos “igual” a nossos modelos, se ele gosta,
então gostamos, se ele não gosta, portanto não faz ou foge deste fazer, então fazemos do mesmo
modo que ele: não fazemos.
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CRIANDO HÁBITOS DE ESTUDO
A.2) A modelação negativa, fala da evitação que fazemos dos comportamentos do “Outro” (nossos
modelos) que trouxeram, a nós, prejuízos. Acontece na mesma situação anterior dos pais amarem o
estudo, demonstrarem isto, porém colocarem a vida profissional acima da pessoal, relegando os
filhos a último plano. Então, ele, os filhos, “perdem” para o trabalho dos pais. Há uma grande
probabilidade de estes filhos passarem a competir com esta situação se esquivando do estudo. É o
fazer o contrário do que eles fizeram. O pai que ganhou prêmios deixando o filho sozinho corre o
risco de esta pessoa vir a querer ser alguém bem diferente deste modelo.
B) Assim como o poder dos modelos que “arrastam” os aprendizes, não se pode esquecer-se de
outra força ainda maior. O efeito dos comportamentos destes agentes de identificação, que de
forma direta influenciam o comportamento de quem convive com eles. Falo do poder das
consequências, chamados cientificamente de reforços (os ganhos que podemos ou não ter com
nossos atos) ou punições (o quanto pagamos pelo que ganhamos). A este fenômeno se nomeia de
modelagem. Esta palavra tem relação com a capacidade de moldar algo, lenta e progressivamente.
Todos já vivenciamos o poder que as consequências “boas” e “mas” têm sobre nosso repertório de
ação (1).
A cada vez que fazemos qualquer ato, se este é validado, “reforçado” pelas pessoas que
julgamos importantes para nós, a propensão é repetir este ato que trouxe tais consequências boas e
evitar as que trouxeram as ruins. Obedece ao principio do SE ocorrem ENTÃO aumentam a
probabilidade de voltar a acontecer o ato que produziu as tais consequências ou reforços. Estas
consequências são classificadas em:
B.1) Reforços Naturais: são as consequências que o próprio ato traz, independente de outro
julgar que é bom. Exemplo: Se eu estudar, e nenhuma variável interferir (método errado, déficit
cognitivo, entre outras coisas) então é natural que eu aprenda. Verdade, mas isto vai ocorrer em
longo prazo e pode ser que eu desista antes da aprendizagem solidificar;
B.2) Reforços Arbitrários: são as consequências que a sociedade, de forma arbitrária, atribui a
um determinado ato. Por exemplo: Se eu estudar, então vou tirar nota alta, ganhar elogios, viajar
para tal lugar... A nota é arbitrária porque é outro alguém que “dá” este valor, que muitas vezes é
subjetivo e, por isto, nos coloca na situação de depender deste outro. A vantagem deste tipo de
reforço é que, imediatamente, a pessoa percebe o que a sociedade deseja dele. E, vejam, o reforço
arbitrário só funciona se for imediato ao fazer, assim as notas foram criadas para dar este
conhecimento gradual e imediato do que, quando e como fazer. No entanto, a maior parte dos
professores leva muito tempo para dar a devolutiva das notas. Absurdo, não é?
B.3) Reforços Primários: são as consequências que mantém vida biológica e que dependem dos
nossos atos suprirem as nossas necessidades de sobrevivência. Muitas vezes estes são
associados, errônea e arbitrariamente, ao ato de estudar. Mas, como são potentes, acabam
mantendo por um tempo este comportamento. Alimentos doces são os mais frequentes, mas é uma
situação que deveria ser extinta do contexto educativo. São eles:
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CRIANDO HÁBITOS DE ESTUDO
Quadro 1: relação das necessidades básicas de sobrevivência e os reforços primários, compartilhados
por todos os seres vivos, que mantém a vida biológica.
Necessidade
Reforço primário
Respirar
1. AR (oxigênio)
Hidratação
2. ÀGUA
Nutrição
3. ALIMENTOS
Homeostase
4. MANTER a FISIOLOGIA integra, via: urinar;
defecar; suar; aquecer ou resfriar temperatura
corpo; etc.
Fuga de situação de perigos físicos
5. SEGURANÇA: Evitar dor; doenças, morte.
Reprodução da espécie
6. SEXO biológico
Fonte: literatura da análise experimental do comportamento com base no behaviorismo (1).
B.4) Reforços Secundários: são as consequências que são particulares á vida de cada pessoa e que
apenas para ela serão reforçadoras. Dependem da associação particular que cada história ou curso
de vida criou. Para umas pessoas estudar pode estar significando poder ir ao jogo decisivo de seu time.
Para um colega dele isto não significará nada. Mas talvez esta segunda pudesse amar poder assistir
aquele filme que acabou de sair. Para uma terceira valeria a pena dedicar-se horas aos livros e cadernos
para poder sair mais cedo de férias e ir pescar com o pai. Descobrir o que é significativo para cada
estudante seria bem positivo para arbitrar consequências (1).
B.5) Reforços Sociais: São reforços adquiridos ao longo da evolução cultural. Implicam no
contato com o grupo social. São chamados de generalizados, pois são compartilhados por muitas
pessoas, em qualquer cultura e em todos os tempos. Acredita-se que ao longo da evolução da espécie,
os homens foram se “humanizando” com a aproximação do “Outro”.
É o comportamento do indivíduo que produz o reforço, mas é necessária a convivência em grupo
para existirem os ganhos, pois estes são consequências que todos nós precisamos para nos constituir
como membros de uma dada cultura. Por isto são comuns aos membros de uma mesma sociedade.
Daí o seu nome. Há seis deles que todos os humanos valorizam (e os animais domésticos também).
Quadro 2: necessidades sociais (generalizados) que permitem a sobrevivência dos grupos culturais,
compartilhados por todos os seres vivos, que mantém a mesma unidade cultural e, portanto,
a sobrevivência de seus membros.
ATENÇÃO
O bebê só sobrevive se o outro – alguém que desempenhe a função materna – prestar
atenção em suas necessidades ,tanto as fisiológicas quanto as sociais. A partir daí
todos valorizamos receber atenção positiva e tememos receber atenção sobre
comportamentos que podem ser punidos.
APROVAÇÃO
O grupo social só irá proteger aquele que passar por seu “controle de qualidade”, isto
é, fizer coisas que este grupo julgue ser certo. Na adolescência, os jovens buscam
apoio nos grupos de iguais e o resto da vida buscamos aprovação e a isto se dá o
nome de “pertencimento”.
AFEIÇÃO
Por afeto tanto se entende o amor quanto o ódio. É afeto aquilo que desperta
emoções e sensações que põem em desequilíbrio o cotidiano. O amor pode servir de
antídoto à desaprovação social.
SUBMISSÃO DE O bebê logo aprende o poder que seu choro tem sobre os adultos e como esses correm
OUTROS
a suprir suas necessidades. Todos têm certo poder sobre os demais membros de
(PODER)
nosso grupo e, na prática, ocorre rodízio na troca de competências; no entanto, nem
sempre há percepção deste fato.
RECOMPENSAS Todas as culturas possuem símbolos de reforços (e de punições também). O maior
SIMBÓLICAS
deles é o dinheiro, pois este – na cultura - pode ser trocado por um número enorme de
outras coisas. Outros ganhos simbólicos costumam ser: status, títulos, prêmios,
certificados, notas, etc.
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CRIANDO HÁBITOS DE ESTUDO
PREMACK
“O Princípio de Premack afirma que se uma atividade ocorre mais frequentemente do
que outra, ela será um reforçador eficaz para a atividade que ocorrer com menos
frequência”(1:.112).
Quanto menor o contato social adequado que a pessoa tem, maior o número de
Premack no modo de agir.
1. A resposta como reforço secundário de si mesma, como acontece em atividades
prazerosas para quem as realiza (por exemplo: pintar quadros) e em atividades
de tics e auto-estimulação (balanceio do próprio corpo, no autista). Ex.: Ler um
livro sem compromisso social é um atividade prazerosa em si mesma.
2. A reposta como reforço secundário para outra resposta, como acontece em relações
encadeadas, ou seja, onde uma é pré-requisito para outra atividade. Ex: passar
conhecimento serve de reforço para preparar esse texto.
Fonte: literatura da análise experimental do comportamento com base no behaviorismo (1).
B.6) Reforços positivos: são as consequências que ocorrem quando o ato da pessoa aproxima,
traz para si, coisas “boas”. É o que agrega algo ao comportamento. Exemplo: estudar traz elogios
(aprovação social), respeito (status e poder social) e, acima de tudo conhecimento, sabedoria,
aprendizagem.
B.7) Reforços negativos: são as consequências que ocorrem quando o ato da pessoa evita, afasta
de si, coisas “más”. É o que retira algo do ambiente, graças ao comportamento. Exemplo: estudar
afasta desaprovação social (rejeição), bullying - coerção social- como rótulos de “burro” e, acima de
tudo, afasta a ignorância.
C) Dificuldades pessoais que podem ser barreiras ao estudar:
Déficits neurológicos como eram, até recentemente, conhecidos podem ser, na verdade,
superávits mal compreendidos (3,4).
Por exemplo, a dislexia e a disgrafia podem ser resultado de uma situação de excesso de
informações. Assim que entra na escola, a criança ainda não consegue filtrar informações, estas
são em grande número e por muitas pessoas que ela não convivia até ali (professora, coleguinhas,
pessoal de administração e faxina, transporte, etc.).
A criança pode ir ficando cada vez mais confusa e acumulando déficits (portanto são déficits
culturais e não neurológicos), que enfraquecem seu repertório de estudar e cada vez mais alimenta
suas diferenças com seu grupo de inclusão e, então, pode se tornar um excluído.
A autoestima se fragmenta e a autoimagem passa a refletir a de alguém “diferente” e por isto
menos amado, porquanto menos competente (4,5).
A família também se desorganiza e se frustra. Afinal, via de regra, tais crianças foram bebes
“espertos”, com rápida aprendizagem motora, com alta capacidade de empatia (5), foram bebes
“simpáticos”, sorridentes, brincalhões, alegres, “vivos”, inteligentes.
Agora, ao entrar na escola começam a ser rotulados como a criança problema, a que não
estuda a que não faz a lição, a que não compreende o que o professor explica e “todos” na sala
assimilam, menos ela.
A análise de quais são as variáveis mais significativas para cada caso necessita da presença de
um profissional, de preferência de uma equipe destes, para fazer um projeto terapêutico que
possibilitasse vencer tais dificuldades.
Ao longo da profissão vim ajudando crianças e adultos a vencer tais problemas. Às vezes é
necessário ampliar estímulos e ás vezes há que se estreitá-los.
Uma destas estratégias é a adaptação do método SQ3R para instalar hábitos de estudo (7)
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CRIANDO HÁBITOS DE ESTUDO
A) COMO ESTUDAR NO MÉTODO SQ 3R
Este é um método simples e muito eficaz para estabelecer hábitos de leitura e estudo para
quem tem de fazê-lo regularmente. Sugerimos sua leitura e prática como ferramenta auxiliar no
cumprimento das etapas acadêmicas.
A.1) Situação Problema
Esta situação acontece, diariamente, em todas as escolas, de todos os níveis. Acontece,
também, em quase todos os lares. Um estudante deseja estudar. É um estudante bem intencionado.
Organizou um horário de estudo, conseguiu um local adequado para realizar seu trabalho, tem todo
o material necessário e sabe o que pretende estudar.
Seus objetivos amplos são:
• Aprender tanto quanto lhe seja possível;
• Aprender o que é importante;
• Deixar de lado o que é trivial;
• Lembrar-se, depois, do que estudou.
Como fazer o melhor uso possível do tempo disponível em presença de tais objetivos? Qual
o melhor meio de realizar com êxito esta tarefa?
A.2) SQ3R – Uma solução (8)
Há como resumir as principais atividades para se obter sucesso no estudar em cinco fases do
estudo. Estas fases se condensam no esquema de estudo SQ3R.
SQ3R é uma sigla que, em inglês, significa:
S = SURVEY
Pesquisar
Q = QUESTION
Perguntar
3 R = READ
R1. Ler
*[RESUME]
R4. Resumir dados
RECITE
R2. Recitar
REVIEW
R3. Revisar
*Ao longo do processo de uso do método com vários estudantes (inclusive eu
mesma) acrescentei um quarto R, intermediário ao review e o recite: o
resume.
Reparem que nossa memória é alimentada pela qualidade de estímulos captados e
filtrados. Ao alimentar a informação com a leitura em voz alta, dois sistemas informativos são
usados: visual e auditivo. Ao questionar já ocorreu uma seleção prévia de alguns estímulos
captados. Ao rever os dados reafirmamos o que havíamos captado. Porém, se fizer um resumo
escrito (manual ou digitado) daquilo que foi captado, estaremos alimentando a memória motora e
é sabido que aquilo que aprendemos fazendo jamais é esquecido (andar de bicicleta, a própria
digitação, dirigir, etc.). Então, vamos resumir e escrever o que foi visto e depois ouvir, lendo em
voz alta, fixando a aprendizagem(8).
A.3) DESENVOLVIMENTO DAS FASES DO ESTUDO
A.3.1. PESQUISAR (SURVEY)
A primeira das cinco fases é a pesquisa. Pesquisar proporciona a imagem global (nesta fase,
a visão é o principal instrumento de aquisição ou assimilação da aprendizagem) do que será
estudado mais tarde em pormenores. Deve merecer dos estudantes uma atenção especial.
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A maioria dos estudantes não faz suficiente trabalho de pesquisa. Adquiriram o hábito de
adentrar pelo texto sem ter uma noção dos aspectos básicos e fundamentais que orientarão o estudo
e a aprendizagem desejados.
A.3.1.1. Pesquisando um livro
a) Ler o prefácio – O autor oferece as razões que o levaram a escrever o livro e o que tentou
realizar. O prefácio oferece, geralmente, uma imagem clara do que se vai ler, a quem se destina e
quais os pré-requisitos para a leitura.
b) Ler o índice – O índice é uma relação do conteúdo apresentado no livro. Ler lentamente.
Descobrir nele quanto possa a respeito do que o livro contém. Nele está contido o “fio condutor”
das idéias principais contidas no livro.
c) Folhear o livro e ler os sumários – Em pouco tempo pode-se virar todas as páginas de
um livro passando os olhos pelos cabeçalhos e lendo também algumas sentenças embaixo deles.
Esta atividade facilita a percepção do livro como um todo. Se existem sumários eles devem ser
lidos como parte da pesquisa inicial.
A. 3.1.2. Pesquisando um capítulo ou artigo
Antes de ler cada capítulo é necessário pesquisá-lo. Essa pesquisa deve ser feita com mais
cuidado do que a anterior. A atenção será concentrada nos títulos. Os títulos representam,
geralmente, o esforço dos autores para sintetizar os conteúdos que virão a seguir. O estudante não
deve ignorar os títulos porque eles se constituem em informações significativas e úteis para a
aprendizagem dos conteúdos. Mostra qual vai ser o principal assunto.
Aconselha-se que se leia algumas das sentenças após os títulos. Após este contato deve ser
realizada uma leitura rápida que servirá para localizar os pontos relacionados com os títulos.
Qualquer outra coisa seria de importância secundária ou sem importância. Ler o sumário do
capítulo, se houver.
A.3.2. PERGUNTAR (QUESTION)
Pessoa com perguntas é pessoa com propósitos. As pessoas parecem lembrar-se com mais
facilidade do que aprenderam através de perguntas. O mesmo não acontece com as pessoas que
aprendem através de respostas. São as perguntas que dão finalidade à leitura do estudante.
A pessoa que está tentando aprender será beneficiada se levantar dúvidas do texto que está
estudando, através de perguntas. Cada vez que um título aparece deve ser seguido por perguntas.
Perguntas sobre o significado de palavras e de frases.
Para adquirir o hábito de perguntar é necessário praticar. Deve-se iniciar praticando em tudo
o que se estuda. De início deve-se escrevê-las. Mais tarde fazê-las mentalmente até que se torne um
hábito arraigado. Esta atividade é trabalhosa e exige tempo, mas ajuda o estudante. Esta fase conta
com dois outros instrumentos de alimento da memória: ao falar em voz alta as perguntas,
alimentamos via audição e ao escrevê-las via motricidade e, aquilo que aprendemos fazendo,
jamais é esquecido.
A. 3.2.2. Perguntas do autor
Alguns autores usam, às vezes, perguntas na apresentação dos conteúdos. É comum que
se apresente, no início de um capítulo, uma relação de perguntas que serão respondidas durante o
desenvolvimento do capítulo. Deve-se usar as perguntas do autor sempre que elas surgirem.
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CRIANDO HÁBITOS DE ESTUDO
A.3.3. LER (READ)
Esta atividade é a que a maioria dos estudantes coloca em primeiro lugar. Acreditam,
erradamente, que estudar é passar os olhos pelos livros algumas vezes. Ler não é a primeira fase,
não é a última e não é, necessariamente, a fase mais importante.
A.3.3.1. Leia ATIVAMENTE
Quando se lê com o objetivo de estudar não se deve ler passivamente. Deve-se
PARTICIPAR ATIVAMENTE da leitura. Para evitar a leitura passiva, leia para responder às
perguntas que formulou ou às perguntas formuladas pelo autor. Insistir em desafiar-se para
garantir a compreensão do texto.
A.3.3.2. ANOTE os trechos importantes
Tome nota de qualquer palavra ou frase em itálico ou negrito. Os autores geralmente usam
este recurso para chamar a atenção para os principais conceitos e princípios. Repita estas
anotações algumas vezes. Certifique-se de que compreende o seu significado.
A.3.3.3. Leia TUDO
Leia quadros, gráficos, instruções, explicações de rodapés, além do texto propriamente dito.
A.3.4. RECITAR
Reler em voz alta é o único meio que evita que o estudante esqueça aqueles trechos que
julga ter compreendido. Ë uma estratégia antiga de aprender. Os estudantes não avaliam que a
recitação é também um processo eficaz de aprendizagem quando se lê um livro, um capítulo,
uma apostila.
A.3.4.1. – Quanto se deve REPETIR PARA SI MESMO
Se o assunto não é interessante ou não é bastante claro, o estudante deve usar 90% do seu
tempo de estudo na repetição. O volume de matéria que se consegue recordar graças a essa
atividade é tão grande que compensa o esforço e ajuda nas revisões futuras.
A.3.4.2. – Quando ler em voz alta
Esperar até terminado um capítulo é esperar muito. O estudante já estaria pouco seguro do
seu conteúdo. O esquecimento já teria iniciado seu trabalho. Do conteúdo estudado talvez reste
pouco mais de 50%. Após a leitura de um trecho compreendido entre dois títulos parece ser o
ideal. Em títulos principais, outra leitura em voz alta. No final do capítulo, outra. Além de melhorar
a memória e economizar tempo a leitura em voz alta oferece outros benefícios: manter a atenção na
tarefa.
A.3.5. REVISAR e RESUMIR escrevendo
É uma repetição e combinação das fases anteriores.
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CRIANDO HÁBITOS DE ESTUDO
A.3.5.1. Pesquisa e recitação
Mesmo procedimento já apresentado. Ao passar os olhos pelos títulos do livro ou capítulo,
pode-se perguntar qual o seu significado e o que lhe é subordinado. Depois de cada título deve-se
ler em voz alta os pontos-chave previamente lidos e que se espera lembrar.
A.3.5.2. Reler
Reler para conferir. Verificar se não omitiu nada e se a memória está em condições. Reler
os sumários em voz alta. Repassar os apontamentos.
• Primeira revisão – imediatamente após ter estudado. Será rápida porque houve pouco tempo
para esquecer. Deve constituir-se, principalmente, de recitação.
• Uma ou duas revisões – até o exame. Base: recitação.
• Revisão final – Intensiva. Deve-se rever todo o material não desistindo no meio da tarefa. Não
deve ser de última hora. Deve ser planejada.
B) ADAPTAÇÃO DO INSTITUTO MARILZA MESTRE DO MÉTODO SQ 3R
B.1) ESTUDANTES DE QUALQUER NÍVEL ESTUDANTIL
B.1.1. SEGUIR A GRADE DE DISCIPLINAS VISTAS NO DIA.
Exemplo: se o estudante é do turno da manhã, deveria estudar no próprio dia, à tarde, as matérias
vistas pela manhã. Se é do turno da tarde, fazer o estudo pela manhã, ANTES do próximo dia de
aula.
Mas o estudo deve seguir por ordem de maior dificuldade para a mais fácil (deixar a
“sobremesa” para o fim). Observe a grade com exemplo. A 1ª aula dada foi língua portuguesa, mas
a mais difícil para esta criança é Inglês. Então deve ser a 1ª a ser revista e feito a lição. A mais fácil
para ele é ensino religioso, deve ficar por último. E assim sucessivamente.
Quadro 3: simulação de uma grade horária de aluno do ensino fundamental.
Aulas
2a feira
3a feira
4a feira
5a feira
dadas
1ª
Português
Matemática
História
Matemática
2a +dificil
2ª
Ciências
Português
Inglês
Matemática
4a +dificil
3ª
História
Geografia
Matemática
Português
3a +dificil
4ª
Inglês
Literatura
Português
Geografia
1a +dificil
5ª
Ens. Religioso Ed. Física
Português
Literatura
5a +dificil
Ordem
Dificulda
de
2a feira
1ª
2ª
3ª
4ª
5ª
Inglês
Português
História
Ciências
Ens. Religioso
3a feira
4a feira
5a feira
6a feira
Ens. Relig.
Ciências
Matemática
Português
Ed. Artistica
6a feira
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CRIANDO HÁBITOS DE ESTUDO
B.1.2. CONSTRUÇÃO DO “MEMOREX”, como adaptação do SQ3R
Construir um caderno de “estudo”, que irá se transformar em um resumão de estudo.
Desta forma, na 2ª feira, logo após o almoço (para os que foram às aulas pela manhã) a pessoa irá
abrir a agenda e ver se tem “tarefas”. SEMPRE iniciar pela disciplina mais dificil.
B.1.2.a) Abre o “memorex” e falando em voz alta consigo mesmo ele “conta” o que viu na
aula de inglês neste dia. Digamos que lembra foi o verbo To Be e suas declinações. Escreve
isto no caderno e se pergunta alto: para que mesmo o professor (a) disse que serve este
verbo? Tenta responder e escrever isto. Vai à apostila e vê se “acertou” a resposta. Lê em
voz alta tudo o que escreveu (um ou dois parágrafos no máximo). Dá exemplos de frases
com o tal verbo e faz a tarefa pedida na agenda.
B.1.2.b) Faz o mesmo com a próxima disciplina: português. “Lembra” o que foi visto.
Análise sintática. Pergunta-se em voz alta: “o que é e para que serve? Como eu faço?” Tenta
responder, escrevendo sinteticamente no memorex. Vai ao livro e lê vendo se respondeu
certo, se tiver tarefa faz o exercício, se não tiver, pega uma frase do livro e tenta fazer a
análise e leva suas dúvidas para o professor na próxima aula.
B.1.2.c) Assim sucessivamente: da mais dificil para a mais fácil das disciplinas vistas aquele
dia. 1º faz o memorex e daí vai para a tarefa. Se alguma delas não tiver tarefa (o professor
não pediu) ele faz pelo menos 3 exercícios do livro ou apostila, no próprio memorex.
B.1.2.d) Um dos responsáveis (pai, mãe, um dos avós ou tios, um irmão mais velho ou
mesmo a babá caso saiba fazê-lo e na ausência eventual dos pais) assina o memorex e
agenda. [Obviamente um adulto pula este passo]
B.1.2.e) Ao final da semana será computado o número de assinaturas de atividade do
memorex feita completa, com mais de 70% feita, será reforçada a criança (adolescente) com
um reforço social ou pessoal, nunca primário e nunca dinheiro. [Obviamente o adulto pula
este passo]
Ao final de mais ou menos uns dois meses o estudante terá internalizado o processo e o
resultado de obter notas mais altas já terá começado. Ao mesmo tempo irá perceber que começa a
entender melhor as aulas dadas em sala. Conseguirá melhor e maior participação e o reforço natural
vai criar as contingências de aderir ao estudo.
A partir daí as assinaturas deverão ocorrer em caráter intermitente, ora sim ora não. Às vezes
o pai assina dois dias seguidos, às vezes dia sim dia não, às vezes passa três dias sem assinar. Mas
quando o fizer irá verificar se os dias em que não assinou foram realizadas as anotações do
memorex. Se for, o reforço deverá ser ainda maior. Se não foi, se retorna ao esquema anterior.
IMPORTANTE
1) Instruir a criança/adolescente ou adulto a fazer duas disciplinas (cerca de 1 hora, ou seja,
trinta minutos para cada disciplina) e parar dez minutos entre estas – o descanso é muito
importante para dar uma folga ao cérebro. Pode-se aproveitar para ir ao banheiro, se
alongar... E depois retomar a atividade;
2) Na medida em que se vai realizando, vai se aperfeiçoando e o tempo de atividade vai
diminuindo;
3) Adultos também realizam desta forma, só que a assinatura não existe. Ele próprio se
autorreforça, em contrato com o professor, terapeuta ou pedagogo.
Revista Eletrônica da Faculdade Evangélica do Paraná, Curitiba, v.2, n.1, p.47-57, jan./mar. 2012.
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CRIANDO HÁBITOS DE ESTUDO
4) Um bom hábito está incorporado após de um ano de uso contínuo, onde as consequências
positivas irão manter o comportamento. Portanto, há que persistir antes de “ver” os
benefícios.
CONCLUSÃO
O uso deste método de “aprender a aprender” a estudar tem beneficiado clientes como
os descritos na introdução deste artigo. Ao longo da prática acadêmica da autora, já foi repassado a
alguns ex-alunos que, enquanto profissionais, também o colocaram em uso com os próprios
pacientes, com resultados semelhantes. Além disto, alguns colegas o têm utilizado em si próprios
com os mesmos resultados.
Os estudantes e seus pais relatam facilidade em executá-lo após os dois primeiros meses e os
adultos referem melhora na ansiedade de desempenho. Em face destes dados clínicos, em estudos
de caso pontuais, veio a ideia de publicação e partilha do método, afim de transformar em proposta
de pesquisa clinica ou experimental que possa validá-lo como instrumento terapêutico.
REFERÊNCIAS
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2 Bandura A. Principles of behavior modification. New York: Holt; 1969.
3 Delacato C. O diagnóstico e tratamento dos problemas de fala e leitura. Rio de Janeiro: Centro de
Reabilitação N. S. da Glória; 1966.
4 Doman G. O que fazer pela criança de cérebro lesado. Rio de janeiro: Auriverde; 1980.
5 Guilhardi HJ.
Autoestima, autoconfiança e responsabilidade.In: Brandão Z(org.).
Comportamento Humano: tudo ou quase tudo que você gostaria de saber para viver melhor. Santo
André: ESETec; 2002.
6 Ellis A. Can we change thoughts by reinforcements? A reply to Howard Rachilin. Behavior
therapy. 1977; 8: 666-72.
7 Allen KE, Henke LB, Harris FR, Baer DM, Reynolds NJ. Control of hyperactivity by socila
reinforcement of attending behavior. Journal of educational psychology. 1967; 58: 231-7.
8 Rimm D, Masters J. Terapia comportamental: técnicas e resultados experimentais. São Paulo:
Manole; 1983.
Revista Eletrônica da Faculdade Evangélica do Paraná, Curitiba, v.2, n.1, p.47-57, jan./mar. 2012.
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