Avicultura / Nº 11 - 2003 Sistema imune das aves Mecanismos imunes não-específicos, e introdução sobre os mecanismos imunes específicos. Adaptado por Marcelo A. Fagnani Zuanaze, médico veterinário do Laboratório Biovet, a partir de texto da Univ. da Flórida. O sistema imune aviário pode ser dividido em mecanismos imunes específicos e não-específicos. Os mecanismos imunes não-específicos incluem os "caminhos natos ou inerentes" pelos quais as aves resistem às doenças. Este sistema protetor quase sempre não é considerado quando se planeja um programa de sanidade aviária. Muitos programas tendem a preocupar-se primariamente com vacinações e/ou antibióticos para manter a saúde dos lotes. A importância dos mecanismos imunes nãoespecíficos se dá por: Fatores Genéticos: aves podem não ter receptores complementares que permitam a infecção por certos organismos. Como exemplo, algumas aves são geneticamente resistentes ao vírus da leucose linfóide aviária. Temperatura corporal: a alta temperatura corporal das aves impossibilita a infecção por muitos agentes. Se a temperatura corporal das aves diminuir, algumas infecções podem ocorrer. Características anatômicas: muitos patógenos não podem penetrar em cobertura do corpo intacto (por exemplo: peles e mucosas), ou ficam presos nas secreções. Algumas deficiências nutricionais (exemplo: deficiência de biotina) ou doenças infecciosas comprometem a integridade das coberturas corpóreas, permitindo a penetração de patógenos. Microflora normal: a pele e o intestino normalmente mantêm uma densa microbiota. Esta microflora previne a invasão de organismos por alguns patógenos através da competição. O uso inapropriado de alguns antibióticos ou uma desinfecção inadequada pode romper este balanço da microflora. Trato ciliar respiratório: partes do sistema respiratório são cobertas com cílios que removem organismos patogênicos e débeis. Se o ar do galpão tem baixa qualidade devido à poeira ou amônia, o sistema ciliar pode ser oprimido e tornar-se não efetivo. Outros fatores que envolvem a resistência natural incluem nutrição, meio ambiente (exemplo: deve-se evitar o estresse calórico). Idade dos animais, jovens ou velhos são mais susceptíveis às infecções, processos inflamatórios, fatores metabólicos. A importância destas boas práticas de manejo na manutenção da boa saúde das aves é mais bem entendida quando os mecanismos imunes não-específicos são definidos. Por exemplo: o uso exagerado de antibióticos ou a inadequada desinfecção pode conduzir a um rompimento da microflora normal; nutrição deficiente pode conduzir a deficiências que permitirão a ação de organismos patogênicos presentes na flora; a seleção de raças resistentes aos patógenos pode diminuir ou impossibilitar os efeitos de certas doenças, entre outros. Mecanismo imune específico - Os mecanismos imunes específicos (sistema adquirido) são caracterizados por especificidade, homogenicidade e memória. Este sistema é dividido em celular e humoral. Os componentes humorais incluem imunoglobulinas (anticorpos) e as células que os produzem. Anticorpos são específicos (especificidade) para corpos estranhos (antígenos), o qual combatem. Os anticorpos contra o vírus da doença de Newcastle, por exemplo, terão eficácia somente contra o próprio vírus de Newcastle, e não para o vírus da bronquite infecciosa aviária. Existem três classes de anticorpos que são produzidos pelas aves, após a exposição a organismos patogênicos sendo eles: IgM, IgG e IgA. Continua na próxima edição do Informativo técnico. Ponto de vista O mundo do ovo Professor Benedito, de Minas Gerais, faz um raio-X da avicultura brasileira As opiniões em destaque nesta e na próxima página são do Dr. Benedito Lemos de Oliveira, médico veterinário e professor aposentado e voluntário da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Oliveira atua como diretor técnico do Aviário Santo Antônio Ltda. Além disso, é membro do Conselho Estadual de Sanidade Avícola e do Conselho Técnico da Associação dos Avicultores de Minas Gerais. A seguir, ele tece comentários sobre o setor de postura e a avicultura em geral. Desempenho do setor de postura O ano de 2002 encerrou o período de estagnação, com sérias dificuldades para a classe, que enfrentou instabilidade cambial, incertezas do novo governo, crise do milho e doenças preocupantes como Laringotraqueíte e Pneumovirose - sem contar os efeitos tardios dos surtos da Doença de Gumboro. As lições aprendidas e o bom desempenho neste 2003 fazem acreditar em algo diferente para o segundo semestre, incluindo a retomada de projetos de modernização e ou ampliação. Admite-se alguma preocupação com farelo de soja, mas uma certa tranqüilidade com relação ao milho. Os alojamentos certamente aumentarão, visando o quadrimestre inicial de 2004, sempre favorável. Agora, será normal uma precocidade de postura gerando excedentes e ovos pequenos, com promoções de baixo preço em supermercados, principalmente se medidas reguladoras forem efetivadas cerceando muda-forçada em regiões de risco, com redução da oferta de ovos maiores. Entretanto, a classe hoje está mais capacitada a ajustar rapidamente os plantéis para amenizar crises de preço. E confia-se ainda em medidas econômicas que melhorem o giro de dinheiro e o poder de compra no comércio do final de ano. Ovo X Saúde Neste aspecto, tenho uma opinião bem diferente da maioria. Creio que estamos importando uma estratégia certa para os americanos e errada para a realidade brasileira na promoção do ovo. Existe um potencial enorme de promoção desvinculado da questão médica, muito polêmica e ótima, portanto, para a imprensa, que cada vez confunde mais o consumidor real (classes B e C) e esclarece um público rico e culto, mas de consumo líquido muito baixo. Seria bom falar menos do complexo "ovo-colesterol-doenças" e entrar de frente, de modo simples, entendível e direto no tema do valor nutricional, nos pontos positivos, nos modos de preparo e na importância da utilização do ovo em nossas famílias, nos restaurantes institucionais, nas refeições públicas e subsidiadas que servem a população de baixo poder aquisitivo. Neste aspecto, parabenizo a ASGAV (Associação Gaúcha de Avicultura) pelo trabalho que vem desenvolvendo. Outro erro estratégico é esperar só de granjeiros a promoção do ovo, onde sua participação não passa de 10%. Na verdade, entendemos, como em outros países, que produtores são importante veículo de vendas para cerca de 40% de insumos específicos para alimentação, manejo, saúde das aves e principalmente de embalagens. Algumas empresas isoladas já entenderam isto, mas uma ação integrada seria mais abrangente. Para melhorar a imagem do ovo, além dos itens já mencionados, é preciso enaltecer a qualidade e oferecer bons produtos. Milhões de embalagens de ovos chegam às cozinhas brasileiras todos os dias, sem qualquer mensagem neste sentido. Precisamos mudar o conceito de qualidade que cresce nas empresas, mas pouco evolui nos pontos-de-venda. As justificativas são várias, mas na prática, destaca-se o descompromisso dos atacadistas. Em locais como sacolões e até em bons supermercados, ainda encontram-se ovos de baixa qualidade, sujos, trincados e mofados. Ainda pior, ovos de peso comprovadamente abaixo da legislação. Por outro lado, o alto custo de embalagens faz crescer o uso de alternativas como ovos "filmados", justamente num país de clima tropical onde os locais de armazenamento e vendas nem sempre são adequados, favorecendo a degradação da qualidade externa (trincas e mofos) e interna. Esta imagem não é conhecida das granjas e empresas produtoras, cuja maioria jamais acompanhou seu produto até o mercado, muitas vezes vendido em embalagem de terceiros. Ainda são poucas as granjas que fazem auditorias junto ao consumidor final. E, assim mesmo, apenas em grandes redes de comercialização. Ovos ruins são freqüentemente alvo de promoções a baixo preço que influenciam as cotações dos bons e ajudam a formar imagens negativas e duradouras do produto pelos consumidores. Parece utopia, mas a melhor maneira de melhorar a imagem do ovo ainda é cumprir a legislação (Resolução 05/91-DIPOA- MAPA). Ovos especiais As universidades se baseiam em pesquisas publicadas, e estas ainda não respaldam a produção comercial de ovos com baixo colesterol. Quanto à produção de ovos com ômega-3, é tecnologia facilmente comprovada em pesquisas e de amplo domínio e uso nos principais países do mundo evoluído. A matéria-prima tem suporte de multinacionais de renome, e os técnicos envolvidos em cada granja produtora sabem da seriedade exigida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), pessoalmente transmitida pelo Dr. Rui Vargas. Neste aspecto, minha opinião pessoal é de que, ao contrário dos ovos comuns, o enfoque dos ovos especiais tem que ser direcionado para a classe médico/nutricionista, e a partir daí, difundir-se para os consumidores já mais conscientes. Bem-estar das aves Sou favorável à obtenção do máximo de produtividade das poedeiras até mesmo para atender aos princípios da aplicação de dons (ciência e técnicas) para o bem do próximo, mas sem os exageros da etologia (bem-estar animal) e até da ecologia como fim. Aponto algumas regras básicas: - Confinamento sem excessos, oferecendo um mínimo de frente de cocho e área por ave. - Observar pesquisas sobre o número de aves por nipple, temperatura e renovação de ar, temperatura da água nos meses quentes. - Poupar os efeitos negativos das práticas estressantes usando conhecimentos disponíveis, por exemplo, em debicagens, vacinações e transportes. - Já que confinamos as aves temos também a obrigação de fornecer rações sem deficiências. Meus professores, Lamas e Egladson, deram a regra geral "o que é bom para nós é bom para as aves também". Estamos assistindo agressões a estas regras a todo o momento, bastando citar as altas densidades usadas como recurso de vendas de equipamentos calculados em função do custo por ave instalada. Como resultado observa-se a dificuldade das frangas em ganhar peso, problemas de casca, altas taxas de "body checked" ou "casca fina", e o que é pior, difícil controle de doenças infecciosas "emergentes" e, ainda, viabilidades anormais. Sanidade Valorizar mais as medidas de biossegurança em três frentes: movimentação de aves de descarte principalmente oriundas das áreas comprovadamente de risco para doenças emergentes; movimentação de embalagens usadas e trânsito de veículos e pessoas estranhos à granja. Além disso, até em respeito às novas normas ambientais, cuidar adequadamente de dejetos (esgoto e esterco) e aves mortas. Vejo com muito entusiasmo os resultados obtidos com uso de probióticos e a quase eliminação de antibióticos. Entretanto, são preocupantes o excesso de vacinações e o fantasma das micotoxinas por seus efeitos imunossupressores e implicações na sanidade como um todo. Sobre salmoneloses, outro ponto bastante comentado, não vejo como problemas de poedeiras em granjas de melhor manejo, desde que recebam pintainhas de um dia livres. A cada dia, elimina-se o uso de água corrente e esgotos a céu aberto que geravam proliferação de moscas e ratos. Os programas de qualidade aliados à mecanização; as boas práticas de higiene e alimentação com menos subprodutos de origem animal, além da aplicação de probióticos, têm contribuído para controlar as salmonelas nas granjas. Gostaria de dizer que em documento recente o MAPA, cumprindo normas do PNSA (Plano Nacional de Sanidade Avícola), está liberando vacinação para S Enteritidis em poedeiras comerciais sob condições divulgadas pelo COESA-MG, do qual faço parte, e que devem ser conhecidas e cumpridas por técnicos de cada empresa. Comentário final Gostaria de aproveitar esta oportunidade para expressar alguns pensamentos. O setor de postura tem um crescimento futuro inevitável, ditado pela conjuntura européia, pelo potencial de mercado de ovos industrializados no mundo e pelas condições gerais brasileiras (clima, condições ambientais, disponibilidade de água, baixo custo de grãos). E o principal, uma grande população carente de boa alimentação, pronta para consumir quando o poder aquisitivo e a educação melhorarem. Se os produtores de ovos se unirem em uma entidade supra, além das empresas, além do regionalismo, este futuro será abreviado. O setor de postura tem nas empresas de produção de insumos e serviços um trunfo em relação a outros países. Neste caso, destacamos o Laboratório Biovet, com quem me relaciono há mais de 30 anos, usufruindo principalmente da valorização profissional, consideração e amizade, aliadas à qualidade dos seus produtos. Mercado & Afins Safra de grãos 2002/03 A produção nacional de grãos da safra 2002/2003 chegou a 122,38 milhões de toneladas, segundo levantamento final realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A safra recorde é 26,5% superior as 96,76 milhões de toneladas colhidas em 2001/2002. Os números finais, pesquisados entre os dias 25 e 30 de agosto em 284 municípios do país, mostram que a produção total de milho será de 47,38 milhões de toneladas, um volume 34,3% superior as 35,28 milhões de toneladas de 2001/2002. O levantamento final de safra da Conab confirma ainda a excelente safra de soja, que chegou a 52 milhões de toneladas, um resultado 24,2% acima da safra passada. O presidente da Conab atribui a nova safra recorde aos investimentos dos produtores nas lavouras e à alta profissionalização do setor. Segundo Guedes Pinto, um exemplo disso é o crescimento do nível de produtividade da agricultura nacional. Nas últimas 13 safras, a área plantada no Brasil cresceu 1,2% ao ano enquanto a produção aumentou 6,4% ao ano. Na próxima pesquisa de safra, entre 5 e 11 de outubro, a Conab fará o primeiro levantamento de intenção de plantio para a atual safra 2003/04. Biovet na AVMA O Laboratório Biovet participou entre os dias 19 e 23 de julho, em Denver, Colorado (EUA), da 140th AVMA (American Veterinary Medical Association) Annual Convention. Um dos mais importantes eventos de medicina veterinária do mundo, o AVMA contou em 2003 com a participação de 9.314 pessoas. Durante o encontro, o Biovet apresentou o trabalho "Very Virulent IBDV: Experimental Studies In Vaccinated And Unvaccinated Chickens", assinado por Marcelo A. Fagnani Zuanaze e pelos co-autores Hugo Scanavini Neto, Nair M. K. Ito, Claudio Miyaji, Sandra Okabayashi, Eduardo Lima e Antonio Roberto A. Corrêa. Exportação No acumulado do ano, até agosto, as exportações de frango atingiram 1,265 milhão de toneladas. O principal destino foi Ásia e Oriente Médio, que importaram 88 mil toneladas. Houve uma queda de 12% em relação aos embarques para União Européia (26 mil toneladas), em virtude de medidas protecionistas como a elevada taxação dos cortes de peito salgado (75%) e inspeção de nitrofurano em todas as cargas à Europa. No acumulado de 2003, as exportações brasileiras do setor já somam US$ 1,09 bilhão (35% a mais do que o exercício anterior). As informações são da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef). Postura Depois de três anos de estagnação, o mercado de ovos no país alimenta expectativa de crescimento neste segundo semestre. Segundo José Carlos Teixeira, diretor-executivo da Associação Paulista de Avicultura (APA), a pequena redução dos custos de produção - queda dos preços do milho e da soja - em andamento, já beneficia o aumento da produção e, em conseqüência, a diminuição do preço do ovo. "Estivemos praticamente estagnados nos últimos três anos, situação provocada também pelos preços da soja e do milho, que este ano iniciaram movimento de queda. Devemos crescer entre 2,5% e 3% no segundo semestre deste ano em comparação aos primeiros seis meses do ano, apesar de ser apenas uma retomada tímida", previu em meados de agosto José Carlos Teixeira, diretor executivo da Associação Paulista de Avicultura. Para se ter uma idéia da importância do setor, a cadeia produtiva da avicultura de postura movimenta US$ 2 bilhões anualmente no Brasil, com produção de cerca de 16,4 bilhões de unidades de ovo por ano. Produto Bio-Bronk-Vet (H-120) Vacina viva contra a Bronquite Infecciosa Aviária constituída da amostra de vírus Massachussets (H120), preparada em ovos embrionados de galinhas livres de agentes patogênicos específicos (SPF Specific Pathogen Free). A vacinação sistemática das aves é realmente a medida mais eficaz na prevenção da Bronquite Infecciosa Aviária, uma doença grave das aves. Como medida de reforço recomenda-se revacinar as aves periodicamente. A vacina pode ser aplicada via oral, ocular/nasal ou spray. Bio-Bronk-Vet (H-120) é apresentada em frascos, liofilizada, com 1.000 ou 2.000 doses. O Informativo Técnico Biovet/Avicultura é uma publicação mensal dirigida aos clientes, fornecedores e colaboradores do Laboratório. O compromisso de qualidade da publicação é o mesmo firmado diariamente na nossa planta de produção e repassado a todos os nossos produtos e lançamentos. Os interessados em receber o informativo devem enviar seus dados postais por meio do site www.biovet.com.br Expediente Publicação mensal do Laboratório Bio-Vet S/A (Rua Coronel José Nunes dos Santos, 639 - Centro - CEP 06730.000 - Vargem Grande Paulista - SP - Tel. 11.4158.8200 - Internet: www.biovet.com.br). Supervisão: Médico Veterinário Hugo Scanavini Neto. Editora responsável: EiraCom - Registro especial conforme art. 1º do Decreto-lei nº 1.593, de 21 de dezembro de 1977, concedido pela ARF/Itu sob nº de identificação 13876.000763/2001-92 (Senapro/Ministério da Fazenda/Serpro). Jornalista responsável: Alessandro Mancio de Camargo (MTb 24.440). Diagramação: André Chiodo Silva.