6. CIRCUITOS DE CORRENTE CONTÍNUA 6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 Força Electromotriz Resistências em Série e em Paralelo. As Regras de Kirchhoff Circuitos RC Instrumentos Eléctricos • Análise de circuitos simples que incluem baterias, R e C, diversamente combinados. • A análise é simplificada pelo uso das (duas) Regras de Kirchhoff. • As regras são consequência das leis da conservação da energia e da conservação da carga. 6.1 Força Electromotriz • Uma fonte de força electromotriz (fem) é um dispositivo qualquer (uma bateria ou um gerador) que aumenta a energia potencial das cargas que circulam num circuito. • A fem, ε, duma fonte é medida pelo trabalho feito sobre uma carga unitária. A unidade SI de fem é o volt. • Vamos admitir que os fios de ligação têm R desprezável. • Se desprezássemos a resistência interna (r) da bateria ⇒ ∆V na bateria (a V entre os terminais) = à fem da bateria. • Uma bateria real tem sempre uma certa r, por isso V entre os terminais ≠ da fem da bateria. -+ r a ε b bateria I R d c • Uma carga (+) deslocando-se entre “a” e “b” ⇒ quando passa do terminal (–) para o terminal (+) da bateria, o seu V aumenta de ε; ao deslocar-se através de r, o seu V diminui de Ir (I= corrente no circuito) ⇒ V = Vb – Va = ε - Ir ← entre os terminais da bateria • ε é a voltagem em circuito aberto, a voltagem entre os terminais quando a corrente é nula. V ε r R ε Ir IR a b c d • Variações de V quando o circuito for percorrido no sentido a, b, c, d. • A voltagem, V, entre os terminais da bateria = à diferença de potencial na R, que é muitas vezes denominada a resistência de carga, V = IR V = ε - Ir V = IR ε = IR + Ir ,, I= ε R+r ! I depende de r e da R ! Quando R >> r ⇒ podemos desprezar r na análise. Iε = I2 R + I2 r A potência total debitada pela fonte de fem, Iε, converte-se em potência dissipada pelo efeito Joule na resistência de carga, I2R, mais a potência dissipada na resistência interna, I2r. ! Se R >> r ⇒ a maior parte da P da bateria transfere-se para a resistência de carga. 6.2 Resistências em Série e em Paralelo Resistências em Série a I R1 b R2 V + - c I • A corrente é a mesma através de ambas as resistência, pois qualquer carga que passa por R1 também passa por R2 • Queda de potencial entre a e b = IR1 Queda de potencial entre b e c = IR2 ⇒ A queda de potencial de a para c: V = IR1 + IR 2 = I ( R1 + R2 ) • Podemos substituir os dois R em série por uma única resistência equivalente Req, Req = R1 + R2 • Req é equivalente à combinação em série R1 + R2 porque I no circuito será a mesma se Req substituir R1 + R2 • Três ou mais resistências ligadas em série: Req = R1 + R2 + R3 + ... • A Req de resistências em série é sempre maior do que qualquer das resistências individuais. Resistências em Paralelo. R1 I1 a I R2 I2 b + V • A diferença de potencial é a mesma em todas as resistências. • A corrente não é, em geral, a mesma en todas as resistências. • Quando I atinge “a” (um nó), divide-se em duas partes, I1 pelo ramo R1, e I2 pelo ramo R2. Se R1 > R2 ⇒ I1 < I2. A carga tende a seguir a via de menor R. • A carga dever ser conservada ⇒ I = I 1 + I2 (a corrente I que entra no nó “a” deve ser igual à corrente que sai deste nó, I1 + I2 ) • Uma vez que a queda de potencial em cada R é a mesma, a lei de Ohm dá: ⎛1 V V 1 ⎞ V = V ⎜⎜ + ⎟⎟ = I = I1 + I 2 = + R1 R2 ⎝ R1 R2 ⎠ Req 1 1 1 → = + ⇒ Req R1 R2 R eq = R1 R 2 R1 + R 2 • Para três ou mais resistências 1 1 1 1 = + + R eq R1 R 2 R3 • Cada nova R ligada em paralelo com uma ou mais resistências diminui a Req do conjunto. 6.3 As Regras de Kirchhoff • • Muitas vezes não é possível reduzir um circuito a uma simples malha que possa ser analisada pela Lei de Ohm e as regras das ligações das R em série ou em paralelo. A análise de circuitos mais complicados pode simplificar-se pelo uso de duas regras simples, as regras de Kirchhoff: 1. A soma das correntes que entram num nó é igual à soma das correntes que saem desse nó. (Um nó é qualquer ponto do circuito onde é possível a divisão da corrente.) 2. A soma algébrica das variações de potencial em todos os elementos duma malha fechada do circuito é igual a zero. • A primeira regra é um enunciado da conservação da carga: qualquer q que chega a um dado ponto do circuito, deve abandonar esse ponto, pois não pode haver acumulação de q em nenhum ponto. I1 • I2 I3 I1=I2+I3 A segunda regra é consequência da conservação da energia: qualquer q que se desloque ao longo de qualquer malha fechada num circuito (começa e termina o deslocamento no mesmo ponto) deve ganhar tanta energia como aquela que perder. • Aplicação da segunda regra de Kirchhoff Regras de cálculo: 1. Se uma R for atravessada na direcção da I, a variação do potencial (∆V) na R é -IR I a 2. b ∆V = Vb – Va = -IR Se R for atravessada numa direcção oposta à de I ⇒ a ∆V no R é +IR I a ∆V = Vb – Va = +IR b 3. Se uma fonte de fem for atravessada na direcção da fem (do terminal (-) para o (+)), a ∆V é +ε a 4. - + ε ∆V = Vb – Va = +ε Se uma fonte de fem for atravessada na direcção oposta à da fem (do (+) para (-)), a ∆V é - ε + a ! b ε b ∆V = Vb – Va = - ε A regra das nós pode ser utilizada tantas vezes quantos os nós no circuito. ! A regra das malhas pode ser usada desde que em cada nova equação apareça um novo elemento do circuito (R ou + - ) ou uma nova I. * Em geral o número de vezes que a regra dos nós deve ser usada é uma unidade menor que o número de nós no circuito. • • • ! O número de equações independentes de que se precisa deve ser pelo menos igual ao número de incógnitas, para que um certo problema seja solúvel. Redes complicadas ⇒ grande número de eq. lineares independentes e grande número de incógnitas ⇒ álgebra de matrizes (ou programas de computador) Admite-se que os circuitos estejam em estado estacionário, e as I nos diversos ramos sejam constantes. Se um C aparecer como componente dum ramo, esse C actua como um interruptor aberto no circuito, e a I no ramo onde estiver será nula. Estratégia e sugestões para a resolução de problemas: 1. 2. 3. 4. * Faça o diagrama do circuito e identifique, com nomes ou símbolos, todas as grandezas conhecidas e desconhecidas. Em cada parte do circuito, atribua uma direcção a I. (*) Aplique a regra dos nós (fácil!) Aplique a segunda regra. Tenha atenção aos sinais!!! Resolva o sistema de equações. Não fique preocupado se fizer uma escolha incorrecta do sentido duma corrente: nesse caso, o resultado terá o sinal negativo, mas o seu valor estará correcto. Embora seja arbitrária a fixação inicial da direcção de I, a partir daí é indispensável respeitá-la RIGOROSAMENTE ao aplicar as regras de Kirchhoff. 6.4 Circuitos RC ! Até agora: circuitos com as correntes constantes, os circuitos em estado estacionário. ! Agora: circuitos com C, nos quais as correntes podem variar com o tempo. Quando se aplica uma diferença de potencial a um C descarregado, a velocidade de carga do C depende da sua capacidade e da resistência do circuito. Carregando um Condensador • C inicialmente descarregado. t<0 • Quando S estiver aberto ⇒ não há I no C circuito. ε R • Se S for fechado (t=0) ⇒ estabelece-se uma I ⇒ principia a carga do C. S • Durante esse processo, as cargas não passam através do C. +q I C • Há transferência de q duma para outra -q placa através de R, S e ε, até que o C ε R adquira a plena carga. S • O valor da qmax depende da fem da bateria. • Uma vez atingida esta qmax → I no circuito é nula. t>0 Discussão Quantitativa: Aplicamos a regra das malhas (Kirchhoff), ao circuito depois de S ter sido fechado ⇒ 1 ε − IR − q =0 C queda de potencial no C queda de potencial na R ! q e I são valores instantâneos durante o processo de carga do C. Podemos usar 1 para achar a I inicial no circuito e a qmax no condensador: • Em t = 0, S é fechado ⇒ a carga no C é zero. ⇒ 1 → a I inicial no circuito, I0, é um máximo I 0 = ε R (I em t = 0) ! Nesse instante, a queda de potencial ocorre inteiramente na resistência. • Quando o C estiver com a sua qmax = Q ⇒ cessa o movimento das q, I = 0 ⇒ ! A queda de potencial ocorre inteiramente no C I=0+ 1 → Q = Cε (q máxima) • Dependência temporal da q e da I: 1 d 1 dq q dI ⎛ ⎞ ε − − IR ⎟ = 0 − −R =0 dt ⎜⎝ C C dt dt ⎠ dq I= dt dI I R =− dt C dI 1 = dt I RC dε ε = cte ⇒ =0 dt R e C são constantes ⇒ esta equação pode ser integrada, com a condição inicial. I = I0 em t = 0 ∫ I I0 dI −1 = I RC ∫ t 0 dt ⎛ I ⎞ t ⎜ ⎟ = − , ln ⎜ ⎟ RC ⎝ I0 ⎠ I (t ) = I 0e −t RC = ε R e −t RC 2 A fim de achar q no C, em função de t, podemos substituir dq na Eq 2 e integrar: I= dt dq ε −t RC = e , dt R dq = ε R e −t RC dt Usando q = 0 em t = 0 ⇒ ∫ q 0 dq = ε t R ∫0 e −t RC dt e , usando ∫ e −α x dx = − 1 α −t −t ⎡ ⎡ RC ⎤ q (t ) = Cε 1 − e = Q 1 − e RC ⎤ ⎢⎣ ⎥⎦ ⎢⎣ ⎥⎦ e −αx , vem : 3 q max no C I q Cε I0 0.63Cε I0 = E R τ = RC τ 0.37 I0 t 3 τ t 2 ! q = 0 em t = 0; q → qmax = Cε quando t → ∞ ! Imax = I0 = ε/R em t = 0 e decai exponencialmente até zero quando t → ∞ • A grandeza RC das Eqs. é a constante de tempo, τ, do circuito → O tempo necessário para I decrescer para o valor 1/e do seu valor inicial. • No tempo τ, I = e-1 I0= 0.37 I0 No tempo 2τ I = e-2 I0= 0.135 I0 • Da mesma forma, no tempo τ a carga aumentará de zero até [ ] C ε 1 − e − 1 = 0 .63 C ε • [τ ] = [RC ] = ⎡⎢V × Q ⎤⎥ = ⎡⎢ ⎣I V⎦ Q ⎤ = [T ] ⎥ ⎣Q T ⎦ ← Dimensão de tempo • Trabalho feito pela bateria no processo de carga Qε = C ε2 C completamente carregado → energia no C: ½ Qε = ½Cε2 = metade do W feito pela bateria. → A outra metade é dissipada como calor na R, por efeito de Joule. Descarga de um Condensador C +Q -Q s R t<0 • Carga inicial no C → Q • t < 0, interruptor (S) aberto ⇒ C +q -q I R t>0 V = Q/C no C V = 0 na R (I = 0) • t = 0, interruptor (S) fechado ⇒ o C principia a descarregar-se através da R. • Num certo instante t ⇒ corrente = I, carga = q • 2ª regra de Kirchhoff ⇒ IR = q/C → a queda de potencial na R = à diferença de potencial no C. A corrente no circuito é igual à taxa de diminuição da carga no C, I = -dq/dt → − R dq q = , dt C dq 1 = − dt q RC Integrando, com a condição inicial q = Q em t = 0 1 dq ∫Q q = RC q ⎛q⎞ t ∫0 dt , , ln ⎜⎜⎝ Q ⎟⎟⎠ = − RC → t q(t ) = Qe −t RC Derivando a Eq. em ordem ao tempo ⇒ −t dq Q −t RC I (t ) = − = e = I 0e RC dt RC Onde I0 = Q/RC (corrente inicial) A carga no C e a I no circuito decrescem exponencialmente a uma taxa caracterizada pela constante de tempo τ = RC 6.5 Instrumentos Eléctricos • O Amperímetro → aparelho que mede corrente eléctrica +A No caso ideal, um amperímetro deve ter resistência nula, de modo a não alterar a corrente a ser medida. • O Voltímetro → dispositivo que mede diferenças de potencial. V Um voltímetro ideal tem resistência infinita, de modo que não haja passagem de corrente através dele. ! Ter sempre em conta a polaridade do instrumento. • O Galvanómetro → é o principal componente dos amperímetros e dos voltímetros. • A operação do galvanómetro baseia-se no facto de haver um momento sobre uma espira de corrente na presença dum campo magnético. • O momento sobre a bobina é proporcional à corrente na bobina: a deflexão angular da bobina é proporcional à corrente. • Galvanómetro típico ⇒ R ~ 60 Ω Galvanómetro num Amperímetro 60 Ω RP – resistência shunt RP << RG RP Exemplo: para medir uma I = 2A com um galvanómetro, RG = 60 Ω ⇒ RP ~ 0.03 Ω Galvanómetro num Voltímetro 60 Ω RS RS >> RG Exemplo: para medir uma Vmax = 100V com um galvanómetro,, RG = 60 Ω ⇒ RS~ 105 Ω