Apostila 2º ano

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LIVRO DE
FILOSOFIA
2º ANO
PROFESSOR: LEONARDO CARRIJO FERREIRA
2010
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DE FILOSOFIA
O CONHECIMENTO: FILOSOFIA GREGA
1. Mito e Logos.
2. Os Pré-socráticos.


Parmênides: imobilidade do ser
Heráclito: o eterno fluxo
3. Platão:


Sócrates: ironia e aporia.
Teoria das idéias: o mito da caverna.
4. Aristóteles:

Metafísica:
o
o

As categorias: substância e acidente.
Teoria das quatro causas.
Noções de lógica:
o
o
Proposição: verdade e falsidade.
Os termos do silogismo: a validade.
O CONHECIMENTO: RAZÃO NATURAL E FÉ CRISTÃ
1. A patrística:

Agostinho: a doutrina da iluminação.
2. A escolástica:

O problema dos universais:
o
o
A posição realista.
A posição nominalista.
3. Tomás de Aquino:


Os princípios do conhecimento.
As provas da existência de Deus.
O CONHECIMENTO: A TEORIA DO CONHECIMENTO
1. Descartes:



As regras do método.
A dúvida e o cogito.
As idéias inatas.
2. Hume:



Impressões e idéias
Princípios de associação: semelhança, contigüidade, causa e efeito
Hábito e conhecimento
O CONHECIMENTO: A FILOSOFIA GREGA
1. MITO E LOGOS
Introdução:
Etimologicamente a palavra filosofia
é composta por duas outras: philo e sophia.
Philo deriva-se de philia, que significa
amizade, amor fraterno, respeito entre os
iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela
vem a palavra sophos, sábio. Filosofia
significa, portanto amizade pela sabedoria,
amor e respeito pelo saber. Filósofo: o que
ama a sabedoria tem amizade pelo saber,
deseja saber. Assim, filosofia indica um
estado de espírito, o da pessoa que ama,
isto é, deseja o conhecimento, o estima, o
procura e o respeita. A filosofia representa a
busca amorosa da verdade. Pitágoras,
filósofo e matemático do século V a.C., teria
usado a palavra filosofia pela primeira vez.
Portanto, quando se pensa em
filosofia estamos nos referindo a um saber
inacabado, uma reaprendizagem constante
da visão de mundo, a uma reflexão crítica do
conhecimento. O filósofo é aquele que
observa, contempla, avalia e julga o valor
das coisas, das ações e da vida.
Senso comum e filosofia:
Chamamos
senso
comum
ao
conhecimento
adquirido
por
tradição,
herdado dos antepassados e ao qual
acrescentamos os resultados da experiência
vivida na coletividade a que pertencemos. É
um conhecimento ingênuo, fragmentário,
assistemático, incoerente e conservador. Só
quando transformamos este senso comum
em bom senso, podemos nos aproximar da
filosofia. Ao “filosofar” espontâneo do
homem
comum,
costumamos
chamar
filosofia de vida. Por exemplo: quando um
jovem está sempre praticando esportes, com
alimentação regrada, evitando o uso de fumo
e álcool, justificando que este é o segredo
para se viver uma vida duradoura, feliz e
saudável.
A filosofia propriamente dita só é
possível quando o pensar é posto em causa,
tornando-se objeto de reflexão. Esta reflexão
só é realmente filosófica quando possui três
características básicas:


Radical: A filosofia busca explicitar os
conceitos fundamentais usados em todos
os campos do pensar e do agir, ou seja,
ela investiga as “raízes” ou princípios
que orientam as várias formas de saber.
Rigorosa: O filósofo deve dispor de um
método claramente explicitado a fim de
proceder com rigor, garantindo a
coerência e o exercício da crítica. Deve
usar uma linguagem rigorosa e sempre
justificar com argumentos as suas
afirmações.

De conjunto: Enquanto as ciências são
particulares, a filosofia é globalizante,
porque examina os problemas sobre a
perspectiva de conjunto, relacionando os
diversos aspectos entre si. Neste
sentido, além de considerarmos que o
objeto da filosofia é tudo (porque nada
escapa a seu interesse), completamos
que a filosofia visa ao todo, à totalidade.
Ciência e filosofia:
Quando a ciência iniciou estava
ligada
à
filosofia,
sendo
o
filósofo
responsável pela reflexão em todos os
setores da indagação humana. Nesse
sentido, os filósofos Tales e Pitágoras eram
também geômetras, e Aristóteles escreveu
sobre física e astronomia.
Na ordem do saber estipulada por
Platão, o homem começa a conhecer pela
forma imperfeita da opinião (doxa), depois
passa ao grau mais avançado da ciência
(episteme), para só então ser capaz de
atingir o nível mais alto do saber filosófico.
A partir do século XVII, a revolução
metodológica iniciada por Galileu promove a
autonomia da ciência e o seu desligamento
da filosofia. Pouco a pouco, desse período
até o século XX, aparecem as chamadas
ciências particulares - física, astronomia,
química, biologia, psicologia, sociologia etc.-,
delimitando
um
campo
específico
de
pesquisa.
Na verdade, o que estava ocorrendo
era o nascimento da ciência, como a
entendemos
modernamente.
Com
a
fragmentação do saber, cada ciência se
ocupa de um objeto específico: à física cabe
investigar o movimento dos corpos; à
biologia, a natureza dos seres vivos; à
química, as transformações substanciais, e
assim por diante. Além da delimitação do
objeto
da
ciência,
se
acrescenta
o
aperfeiçoamento
do
método
científico,
fundado, sobretudo na experimentação e
matematização.
O confronto dos resultados e a sua
verificabilidade permitem uniformidade de
conclusões e, portanto, certa objetividade.
As afirmações da ciência são chamadas
juízos de realidade, já que de uma forma ou
de outra pretendem mostrar como os
fenômenos ocorrem, quais as suas relações
e, consequentemente, como prevê-los.
A primeira questão que nos assalta é
imaginar o que resta à filosofia, se, ao longo
do tempo, foi “esvaziada” do seu conteúdo
pelo aparecimento das ciências particulares,
tornadas independentes. Ainda mais que, no
século XX, até as questões referentes ao
homem passam a reivindicar o estatuto de
cientificidade, representado pela procura do
método das ciências humanas.
Ora, a filosofia continua tratando da
mesma realidade apropriada pelas ciências.
Apenas que as ciências se especializaram e
observam “recortes” do real, enquanto a
filosofia jamais renuncia a considerar o seu
objeto do ponto de vista da totalidade. A
visão da filosofia é de conjunto, ou seja, o
problema tratado nunca é examinado de
modo parcial, mas sempre sob a perspectiva
de conjunto, relacionando cada aspecto com
os outros do contexto em que está inserido.
Se a ciência tende cada vez mais
para a especialização, a filosofia, no sentido
inverso, quer superar a fragmentação do
real, para que o homem seja resgatado na
sua integridade e não sucumba à alienação
do saber parcelado. Por isso a filosofia tem
uma
função
de
interdisciplinaridade,
estabelecendo o elo entre as diversas formas
do saber e do agir.
O trabalho da filosofia sob esse
aspecto é importante e, sem negar o papel
do especialista nem o valor da técnica que
deriva desse saber, é preciso reconhecer que
o saber especializado, sem a devida visão de
conjunto, leva à exaltação do “discurso
competente” e às conseqüentes formas de
dominação.
A filosofia ainda se distingue da
ciência pelo modo como aborda seu objeto:
em todos os setores do conhecimento e da
ação, a filosofia está presente como reflexão
crítica a respeito dos fundamentos desse
conhecimento e desse agir. Então, por
exemplo, se a física ou a química se
denominam ciências e usam determinado
método, não é da alçada do próprio físico ou
do químico saber o que é ciência, o que
distingue esse conhecimento de outros, o
que é método, qual a sua validade, e assim
por diante. Eles até podem dedicar-se a
esses assuntos, mas, quando o fazem,
passam a se colocar questões filosóficas. O
mesmo acontece com o psicólogo ao usar,
por exemplo, o conceito de homem livre.
Indagar sobre o que é a liberdade é fazer
filosofia.
Mudando o enfoque: e se a questão
for o comércio, ou a fábrica? A partir da
análise das relações sociais resultantes da
divisão do trabalho, podemos questionar
sobre o conceito subjacente de homem que
se encontra nas relações estabelecidas
socialmente.
Portanto, a filosofia não faz juízos de
realidade, como a ciência, mas juízos de
valor. O filósofo parte da experiência vivida
do homem trabalhando na linha de
montagem, repetindo sempre o mesmo
gesto, e vai além dessa constatação. Não vê
apenas como é, mas como deveria ser. Julga
o valor da ação, sai em busca do significado
dela. Filosofar é dar sentido à experiência.
EXERCÍCIOS
1.
(UFU-97)
Escolha
a
alternativa
CORRETA.
Na época de seu surgimento na Grécia
Antiga, e com base em sua etimologia, o
significado da palavra Filosofia (philos
sophia) é
A) Conhecimento indubitável.
B) Amor à sabedoria.
C) Amizade
de
Pitágoras
discípulos.
D) Amor à leitura.
E) Intuição racional.
por
seus
2.
Todas as características abaixo são
requisitos
para
se
definir
um
conhecimento como filosófico, EXCETO:
A)
B)
C)
D)
E)
Totalidade.
Rigor do método.
Radical, no sentido de ir até as raízes.
Visão de conjunto.
Especialização.
3.
Quanto ao senso comum, podemos
considerar como suas características:
A) Estabelecer leis e fórmulas a serem
aplicadas em várias situações.
B) Ser radical, rigoroso e ter visão de
conjunto.
C) Basear-se em métodos rígidos para se
chegar a determinadas conclusões.
D) Pertencer à pessoas graduadas e
cientistas diversos.
E) Ser ametódico e assistemático, baseado
muitas
vezes
em
conhecimentos
transmitidos de geração para geração.
4.
Assinale a alternativa INCORRETA.
Quanto ao conhecimento
podemos afirmar que:
científico,
A) É particular e específico quanto à sua
área de saber.
B) Era ligado à Filosofia até o século XVII,
quando Galileu Galilei criou a Física
como ciência.
C) Baseia-se
na
experimentação
e
matematização do conhecimento.
D) Considera a visão global onde se
encontra inseridas as suas descobertas.
E) Os primeiros filósofos também foram
matemáticos e biólogos.
5.
Assinale a alternativa CORRETA:
A partir do século XVII d.C. a ciência se
torna um saber diferenciado da filosofia.
Esta nova forma de conhecimento se
caracteriza por:
A) Basear-se em um método experimental.
B) Tratar de assuntos que envolvam a
totalidade em que o saber está inserido.
C) Afirmar a existência de uma ordem
cósmica estável e finita.
D) Estabelecer a teoria geocêntrica de
Ptolomeu
como
verdade
pura
e
inquestionável.
E) Evitar relacionar as teorias com o
trabalho
a
ser
realizado
pelos
trabalhadores.
O nascimento da Filosofia
Durante
o
século
VIII
a.C.
predominava o pensamento mítico através
dos poemas de Homero (Ilíada e Odisséia) e
Hesíodo (Teogonia). Enquanto os poemas de
Homero relatavam feitos heróicos, Hesíodo
tentava aplicar a origem do mundo através
do surgimento dos deuses, apelando para os
mitos, ou seja, uma explicação através da
fantasia e da ilusão. Este período é
conhecido como Mitológico ou cosmogônico.
Os poemas homéricos resultam de
um longo, mas progressivo desenvolvimento
da poesia oral, em que trabalharam muitas
gerações. Usando significantes dos fins do
século IX e meados do século VIII a.C.,
épocas em que foram, ao que parece,
“compostas”,
na
Ásia
Menor
Grega,
respectivamente a Ilíada e a Odisséia, o
poeta nos transmite significados do século
XIII ao século VIII a.C. O mérito
extraordinário
de
Homero
foi
saber
genialmente reunir esse acervo imenso em
dois insuperáveis poemas que, até hoje, se
constituem no arquétipo (modelo primitivo,
idéias inatas) da épica ocidental.
Hesíodo é um poeta dos fins do
século VIII a.C., nascido na povoação de
Ascra,
junto
ao
monte
Hélicon.
Cronologicamente, a primeira produção do
poeta-camponês denominou-se Teogonia.
Teogonia, de théos, deus, e gígnestheai,
nascer, significa nascimento ou origem dos
deuses. Trata-se, portanto, de um poema de
cunho didático, em que se procura
estabelecer a genealogia dos Imortais.
Hesíodo, todavia, vai além e, antes da
teogonia,
coloca
os
fundamentos
da
cosmologia, quer dizer, as origens do
mundo.
Do século VIII ao século VI a.C.,
grandes novidades vão causar grandes
transformações nas visões que o homem
tinha de si mesmo e do mundo. Estas
novidades foram:

Aparecimento da moeda: a moeda que
tinha sido inventada na Lídia, aparece na
Grécia por volta do século VII a.C. que
permitiu uma forma de troca que não se
realiza através das coisas concretas ou
dos objetos concretos trocados por
semelhança, mas uma troca abstrata,
uma troca feita pelo cálculo do valor
semelhante
das
coisas
diferentes,
revelando,
portanto,
uma
nova
capacidade
de
abstração
e
de


generalização. Ou seja, a moeda tornase necessária porque, com o comércio,
os produtos que antes eram feitos,
sobretudo com valor de uso passam a
ter valor de troca, isto é, transformamse em mercadoria. Daí a exigência de
algo que funcionasse como valor
equivalente universal das mercadorias. A
invenção da moeda desempenha papel
revolucionário, pois está vinculada ao
nascimento do pensamento racional.
Isso porque passa a ser emitida e
garantida
pela
Cidade,
revertendo
benefícios para a própria comunidade.
Além
desse
efeito
político
de
democratização, a moeda sobrepõe aos
símbolos sagrados e afetivos o caráter
racional de sua concepção: muito mais
do que um metal precioso que se troca
por qualquer mercadoria, a moeda é um
artifício
racional,
uma
convenção
humana, uma noção abstrata de valor
que estabelece a medida comum entre
valores diferentes;
A invenção da escrita alfabética: na
Grécia surge por influência dos fenícios e
já no século VIII a.C. se acha
suficientemente
desligada
de
preocupação esotéricas e religiosas.
Enquanto os rituais religiosos são cheios
de fórmulas mágicas, termos fixos e
inquestionados, os escritos deixam de
ser reservados apenas aos que detêm o
poder e passam a ser divulgados em
praça pública, sujeitos a discussão e à
crítica.
Apenas
um
parêntese
esclarecedor: isso não significa que a
escrita tenha se tornado acessível a
todos. Muito ao contrário, permanece
ainda grande o número de analfabetos.
O que está em questão, no entanto, é a
dessacralização da escrita, ou seja, seu
desligamento da religião. A escrita gera
uma nova idade mental porque exige de
quem escreve uma postura diferente
daquela de quem apenas fala. Como a
escrita
fixa
a
palavra,
e
consequentemente o mundo, para além
de quem a proferiu, necessita de mais
rigor e clareza, o que estimula o espírito
crítico. Portanto a escrita aparece como
possibilidade maior de abstração e de
generalização, uma vez que a escrita
alfabética ou fonética, diferentemente de
outras escritas, supõe que não se
represente uma imagem da coisa que
está sendo dita, mas a idéia dela, o que
dela se pensa e se transcreve. Uma
maior reflexão da palavra que tenderá a
modificar
a
própria
estrutura
do
pensamento;
A lei escrita: Drácon (séc. VII a.C.),
Sólon e Clístenes (séc. VI a.C.) são os
primeiros legisladores que marcaram
uma nova era: a justiça, até então
dependente da arbitrariedade dos reis ou
da interpretação da vontade divina, é



codificada numa legislação escrita. Regra
comum a todos, norma racional, sujeita
à discussão e modificação, a lei escrita
passa a encarnar uma dimensão
propriamente humana.
As
reformas
provocadas
pela
legislação de Clístenes fundam a polis
sobre uma base nova: a antiga
organização
tribal
é
abolida
e
estabelecem-se novas relações, não
mais baseadas na consangüinidade, mas
determinadas por nova organização
administrativa.
Tais
modificações
expressam o ideal igualitário que
prepara a democracia nascente, pois a
unificação do corpo social abole a
hierarquia
fundada
no
poder
aristocrático das famílias;
Da cidadania: o nascimento da polis (por
volta dos séculos VIII a.C. e VII a.C.) é
um acontecimento decisivo que “marca
um começo, uma verdadeira invenção”,
que provocou grandes alterações na vida
social e nas relações entre os homens.
A originalidade da cidade grega é
que ela está centralizada na ágora
(praça pública), espaço onde se debatem
os problemas de interesse comum. A
polis se faz pela autonomia da palavra,
não mais a palavra mágica dos mitos,
palavra dada pelos deuses e, portanto,
comum a todos, mas a palavra humana
do
conflito,
da
discussão,
da
argumentação. O saber deixa de ser
sagrado e passa a ser objeto de
discussão. Agora, com a polis, a cidade
política, surge a palavra como direito de
cada cidadão de emitir em público sua
opinião, discuti-la com os outros,
persuadi-los a tomar uma decisão
proposta por ele, de tal modo que surge
o discurso político como diálogo,
discussão de deliberação humana, isto é,
como decisão racional e exposição dos
motivos ou das razões para fazer ou não
fazer alguma coisa.
Separam-se na polis o domínio público e
privado: isto significa que ao ideal de
valor de sangue, restrito a grupos
privilegiados em função do nascimento
ou fortuna, se sobrepõe à justa
distribuição dos direitos dos cidadãos
enquanto representantes dos interesses
da cidade. Está sendo elaborado o novo
ideal de justiça, pelo qual todo cidadão
tem direito ao poder. A nova noção de
justiça assume caráter político, e não
apenas moral, ou seja, ela não diz
respeito apenas ao indivíduo e aos
interesses da tradição familiar, mas se
refere a sua atuação na comunidade. A
idéia da lei como expressão da vontade
de uma coletividade humana que decide
por si mesma o que é melhor para si e
como ela definirá suas relações internas;
o surgimento da vida urbana: com
predomínio do comércio e do artesanato,
dando desenvolvimento a técnicas de
fabricação e de troca, e diminuindo o
prestígio das famílias da aristocracia
proprietária de terras, por quem e para
quem os mitos foram criados; além
disso, o surgimento de uma classe de
comerciantes
ricos,
que
precisava
encontrar pontos de poder e de prestígio
para suplantar o velho poderio da
aristocracia de terras e de sangue (as
linhagens constituídas pelas famílias),
fez com que se procurasse o prestígio
pelo patrocínio e estímulo às artes, às
técnicas
e
aos
conhecimentos,
favorecendo um ambiente onde a
filosofia poderia surgir.

Da democracia: o apogeu da democracia
ateniense se dá no século V a.C. Atenas
possuía meio milhão de habitantes, dos
quais 300 mil eram escravos e 50 mil
estrangeiros, excluídas mulheres e
crianças,
restavam
apenas
10%
considerados
cidadãos
propriamente
ditos, capacitados para decidir por todos.
Por isso quando falamos em
democracia ateniense, é bom lembrar
que a maior parte da população se
achava excluída do processo político.
Aliás, quanto mais se desenvolvia a idéia
de cidadão ideal, com a consolidação da
democracia, mais a escravidão surgia
como contraponto indispensável, na
medida em que ao escravo eram
reservadas as tarefas consideradas
“menores” dos trabalhos manuais e da
luta pela sobrevivência. Mas não resta
dúvida de que, na fase aristocrática
anterior, havia ainda outros tipos de
privilégios. O que enfatizamos no
processo é a mutação do ideal político e
o surgimento de uma nova concepção de
poder;

As viagens marítimas: que permitiram
aos gregos descobrir que os locais que
os mitos diziam habitados por deuses,
titãs e heróis eram, na verdade,
habitados por outros seres humanos; e
que as regiões dos mares que os mitos
diziam habitados por monstros e seres
fabulosos não possuíam nem monstros
nem seres fabulosos. As viagens
produziram o desencadeamento ou a
desmistificação do mundo, que passou,
assim, a exigir uma explicação sobre sua
origem, explicação que o mito já não
podia oferecer;

A invenção do calendário: que é uma
forma de calcular o tempo segundo as
estações do ano, as horas do dia, os
fatos importantes que se repetem,
revelando, com isso, uma capacidade de
abstração nova, ou uma percepção do
tempo como algo natural e não como um
poder divino incompreensível;
As
transformações
decorrentes
destas novidades levaram à necessidade de
um pensamento que não apelasse para as
fantasmagorias e imaginações.
A atividade filosófica, enquanto
abordagem racional e toda a forma de
pensamento do ocidente, surge no contexto
cultural grego, se expressando inicialmente
como tentativa de explicar a realidade do
mundo sem recorrer à religião. É o período
dos chamados filósofos pré-socráticos, de
cujas obras nos restam apenas alguns
fragmentos.
Dentre esses filósofos, alguns vão
explicar o mundo apelando para um arqué,
ou seja, o elemento constitutivo básico do
qual a totalidade do universo seria
constituída. Note-se que a preocupação é
que haja um princípio ordenador, que dê
ordem ao universo.
O declínio do pensamento mítico e
começo de um saber de tipo racional datase, então no século VI a.C. na Mileto jônica.
E
Tales,
Anaximandro,
Anaxímenes
inauguram um novo modo de reflexão
concernente à natureza que tomam por
objeto de uma investigação sistemática.
EXERCÍCIOS
1.
(UFU-97) A respeito do nascimento da
filosofia no mundo grego, assinale a
ÚNICA alternativa INCORRETA.
A) A filosofia está intimamente ligada à
cosmologia, tentando oferecer uma
explicação racional para a origem e a
ordem do mundo.
B) A filosofia, como continuidade da
tradição helênica, dava uma nova
dimensão para o mito, inaugurando uma
nova maneira de explicar os conflitos e
as tensões sociais, conservando a base
mítica.
C) A filosofia surgiu inicialmente na Grécia
antiga, como o resultado do contato
entre os povos antigos e da herança
recebida de outras civilizações.
D) A filosofia nasceu no contexto da polis e
da experiência de um discurso (logos)
público pautado pelo diálogo.
E) Os primeiros filósofos desenvolveram um
pensamento organizado por princípios
universais e lógicos, com a finalidade de
que o discurso fosse verdadeiro.
2.
Assinale a alternativa CORRETA.
Apesar de se falar em “milagre grego”,
alguns autores salientam a importância
de algumas novidades no processo de
mudança do pensamento mítico para o
pensamento racional. Algumas dessas
novidades foram:
A)
B)
C)
D)
Filosofia, monarquia, teatro e poesia.
Filosofia, tragédia, lei e monarquia.
Poesia, escrita, romance e religião.
Cidadania, poesia, teatro e religião.
E)
Moeda, lei, escrita e cidadania.
3.
Assinale a alternativa INCORRETA:
Podemos considerar que o pensamento
filosófico em seu nascimento tinha como
traços principais:
A) Tendência à racionalidade, isto é, a
razão é o critério da explicação de
alguma coisa.
B) Exigência
de
que
o
pensamento
apresenta
suas
regras
de
funcionamento,
isto
é,
as
idéias
filosóficas seguem regras universais do
pensamento.
C) Recusa de explicação preestabelecida,
rompendo com as características do
pensamento mitológico.
D) Tendência à especialização, isto é,
mostrar que cada exploração atende
uma coisa diferente, sem se preocupar
com semelhanças e identidades.
E) Tendência a submeter os problemas à
análise, à crítica, à discussão e à
demonstração,
buscando
respostas
conclusivas e verdadeiras.
4.
(UFU-97) “Foi, com efeito, outrora, pela
admiração que os homens, assim hoje
como no começo, foram levados a
filosofar, sendo primeiramente abalados
pelas dificuldades mais óbvias, e
progredindo em seguida, pouco a pouco,
até resolverem problemas maiores: por
exemplo, as mudanças da Lua, as do
Sol e dos astros e a gênese do Universo.
Ora, quem duvida e se admira julga
ignorar (...) Pelo que, se foi para fugir à
ignorância que filosofaram, claro está
que procuraram a ciência [filosofia] pelo
desejo de conhecer, e não em vista de
qualquer utilidade.”
(Aristóteles,
“Metafísica”,
II,
Os
Pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1979.)
O texto acima se refere ao nascimento
da filosofia. Explique como ocorreu a
passagem do mito para uma nova forma
de ver e entender o mundo, que,
posteriormente, foi chamada filosofia.
2. OS PRÉ-SOCRÁTICOS
Os
primeiros
pensadores
que
tentaram encontrar esta explicação racional
foram os filósofos pré-socráticos, no século
VI a.C. Estes filósofos preocuparam em
encontrar a origem de todas as coisas e o
elemento constitutivo de tudo o que existia.
Eis a apresentação sintetizada destes
filósofos e suas idéias:
A escola Jônica
Situadas na região da Jônia, alguns
filósofos procuraram concentrar o seu estudo
na Physis (natureza). Preocuparam com uma
substância básica que existisse em todos os
seres e que fosse a origem de tudo.
Tales de Mileto: filósofo e matemático
encontrou na água esta substância básica.
Tales afirmava: “Tudo é água”, “a terra está
sobre a água” e “Tudo está cheio de deuses”.
Anaxímenes de Mileto:
substância era o ar.
dizia
que
esta
Anaximandro de Mileto: afirmava que “Tudo
é Apeiron” (infinito, indeterminado).
Heráclito de Éfeso: despreocupado com esta
substância básica afirma que “Tudo é vir-aser” ou “Tudo flui”, ou seja, o mundo é algo
dinâmico, representa tensão e harmonia.
Para Heráclito, existia prazer porque existia
dor, alegria devido à tristeza, etc. Ele se
tornou o estreante da dialética.
A escola Eleática
A escola Eleática se preocupou em
encontrar um princípio racional como ponto
de referência para qualquer tipo de
conhecimento. Seus principais filósofos
foram: Parmênides, Xenófanes e Zenão.
Parmênides de Eléia: foi o grande pensador
desta escola, tendo os outros dois como
seguidores de suas idéias. O princípio
racional de Parmênides era: “O ser é. O nãoser
não
é.”
Dentro
deste
princípio
Parmênides afirmará que o ser é UNO
(indivisível) e IMÓVEL (o movimento é
ilusório). Ele pode ser considerado o
estreante da metafísica.
Zenão de Eléia: discípulo de Parmênides,
elaborou argumentos para defender a
doutrina de seu mestre. Com eles pretendia
demonstrar que a própria noção de
movimento era inviável e contraditória.
Xenófanes: foi o fundador da escola eleática.
A escola Itálica
Pitágoras de Samos: foi o grande filósofo
desta escola. Ele afirmava que tudo poderia
ser atribuído pela matemática. Todas as
coisas poderiam ser quantificáveis, ou seja,
o número era a realidade primeira. Para
Pitágoras o mundo nada mais era do que a
passagem da unidade para a multiplicidade.
O famoso teorema de Pitágoras na
matemática, que afirma que a soma dos
quadrados dos catetos é igual ao quadrado
da hipotenusa, surgiu há dois mil e
quinhentos anos atrás através dos estudos
deste grande filósofo e matemático.
A escola Atomista
Nesta escola, destacaram-se Leucipo
e Demócrito. Este último foi o mais
importante.
Leucipo de Mileto: a phýsis ou o Ser é o
átomo, o não cortável, isto é o indivisível.
Demócrito de Abdera: afirmava que todas as
coisas eram compostas por átomos. Estes
átomos eram partículas indivisíveis e de
várias formas diferentes. Conforme a junção
entre determinadas formas estruturavam-se
as diversas matérias e substâncias.
Outros grandes filósofos
Empédocles de Agrigento: assim como os
filósofos da Jônia, preocupou-se com uma
substância básica. Enquanto os outros
jônicos encontraram esta única substância,
Empédocles encontrou quatro elementos
básicos: terra, ar, água e fogo. Ele
acreditava que tudo que existia partia da
junção destes elementos.
Anaxágoras de Clazomenas: afirmava que as
transformações que se dão na Phisys devem
ser pensadas em termos de composição e
decomposição, unidade e multiciplidade.
A
filosofia
pré-socrática
se
caracteriza pela preocupação com a natureza
do mundo exterior. O nascimento da filosofia
na Grécia é marcado pela passagem da
cosmogonia
para
a
cosmologia.
A
cosmogonia, típica do pensamento mítico, é
descritiva e explica como do caos surge o
cosmos, a partir da geração dos deuses,
identificados às forças da natureza. Na
cosmologia, as explicações rompem com a
religiosidade: a arché (princípio) não se
encontra mais na ordem do tempo mítico,
mas significa princípio teórico, enquanto
fundamento de todas as coisas. Daí a
diversidade de escolas filosóficas, dando
origem a fundamentações conceituais (e,
portanto abstratas) muito diferentes entre si.
Vamos destacar dois dentre os présocráticos:
Heráclito
e
Parmênides.
Relembramos também que o tempo destruiu
grande parte da obra dos primeiros filósofos,
deles nos restando apenas fragmentos e os
comentários sobre seus textos feitos pelos
filósofos do período clássico.

Parmênides: a imobilidade do ser
O ser é imóvel
Parmênides (540 – 470 a.C.) viveu
em Eléia, cidade do sul da Magna Grécia
(atual Itália) e é o principal expoente da
chamada
escola
eleática.
Elaborou
importantíssima teoria filosófica na medida
em que influenciou de forma decisiva o
pensamento
ocidental.
Ocupou-se
longamente
em
criticar
a
filosofia
heraclitiana: ao “tudo flui” (panta rei) de
Heráclito, contrapôs a imobilidade do ser.
Para Parmênides é absurdo e
impensável considerar que uma coisa pode
ser e não ser ao mesmo tempo. À
contradição opõe o princípio segundo o qual
“o ser é” e o “não-ser não é”. Mais tarde, os
lógicos chamarão a isto princípio de
identidade,
base
de
toda
construção
metafísica posterior.
Por raciocínios que não cabe
examinar neste pequeno espaço, Parmênides
conclui, a partir do princípio estabelecido,
que o ser é único, imutável, infinito e imóvel.
Não há, entretanto, como negar a existência
do movimento no mundo que percebemos,
onde as coisas nascem e morrem, mudam de
lugar e se expõem em infinita multiplicidade.
Para Parmênides, o movimento existe
apenas no mundo sensível, e a percepção
levada a efeito pelos sentidos é ilusória. Só o
mundo inteligível é verdadeiro, pois está
submetido ao princípio que hoje chamamos
de identidade e de não-contradição.
Uma das conseqüências dessa teoria
é a identidade entre o ser e o pensar. Ou
seja, as coisas que existem fora de mim são
idênticas ao meu pensamento, e o que eu
não conseguir pensar não pode ser na
realidade.

Heráclito: o eterno fluxo
Tudo flui
Heráclito (544 - 484 a.C.) nasceu
em Éfeso, na Jônia (atual Turquia). Tal como
seus contemporâneos pré-socráticos, busca
compreender a multiplicidade do real. Mas,
ao
contrário
deles,
não
rejeita
as
contradições e quer apreender a realidade na
sua mudança, no seu devir. Todas as coisas
mudam sem cessar, e o que temos diante de
nós em dado momento é diferente do que foi
há pouco e do que será depois: “Nunca nos
banhamos duas vezes no mesmo rio”, pois
na segunda vez não somos os mesmos, e
também o rio mudou.
Portanto não há ser estático, e o
dinamismo pode bem ser representado pela
metáfora do fogo, forma visível da
instabilidade, símbolo da eterna agitação do
devir, “o fogo eterno e vivo, que ora se
acende e ora se apaga”.
Para Heráclito o ser é o múltiplo.
Não no sentido apenas de que existe a
multiplicidade das coisas, mas de que o ser é
múltiplo por estar constituído de oposições
internas. O que mantém o fluxo do
movimento não é o simples aparecer de
novos seres, mas a luta dos contrários, pois
“a guerra é pai de todos, rei de todos”. E é
da luta que nasce a harmonia, como síntese
dos contrários.
Pode-se dizer que Heráclito teve a
intuição da lógica dialética a ser elaborada
por Hegel e depois Marx, no século XIX.
EXERCÍCIOS
1.
Durante o nascimento da filosofia, os
primeiros filósofos buscaram princípios
racionais sobre a ordem e origem do
mundo. Posteriormente, esses filósofos
foram chamados de:
A) Sofistas
B) Empiristas
C) Materialistas
D) Pré-socráticos
E) Racionalistas
2.
Podemos considerar entre os filósofos da
natureza ou pré-socráticos:
A)
B)
C)
D)
E)
Pitágoras e Heráclito
Homero e Hesíodo
Platão e Sócrates
Protágoras e Crítias
Parmênides e Sófocles
3.
Assinale a alternativa INCORRETA:
Os filósofos pré-socráticos contribuíram
para formular pensamentos racionais
desvinculados dos mitos. Sobre esses
filósofos pode-se afirmar que:
A) Parmênides,
Zenão
e
Xenófanes
pertencem à escola eleática, buscando
um princípio racional lógico.
B) Heráclito de Éfeso afirmava que o
mundo era tensão entre os contrários.
C) Pitágoras afirmou: “O número é a
medida de todas as coisas”.
D) Demócrito estabeleceu quatro elementos
básicos: terra, água, ar e fogo.
E) Os filósofos de Mileto encontraram na
água, no ar e no “apeíron” a
possibilidade de cada um desses
elementos ser o princípio de todas as
coisas.
4.
(UFU-98)
O
filósofo
pré-socrático,
Parmênides e Eléia, afirmava que “o ser
é e o não ser não é”. Por essa afirmação,
ele foi considerado pelos filósofos
posteriores como:
A)
B)
C)
D)
E)
O
O
O
O
O
5.
“Não banhamos duas vezes no mesmo
rio. Pois, na segunda vez, as águas não
são mais as mesmas e nós também não
somos os mesmos.” Esse pensamento de
Heráclito de Éfeso também pode ser
demonstrado através da afirmação:
pai do ceticismo
fundador da Metafísica.
fundador da sofística
iniciador do método dialético.
filósofo do absurdo.
A)
B)
C)
D)
E)
6.
“O ser é. O não-ser não é”.
“Tudo é ar”
“Tudo é água”
“O número é a medida de todas as
coisas”
“Tudo é vir-a-ser”
Podemos
afirmar
socráticos,
I.
II.
III.
IV.
V.
Assinale
sobre
os
pré-
Buscam uma substância básica na
natureza, assim como princípios
lógicos, visando entender a ordem e
a origem do mundo.
Heráclito afirma a unidade e
imobilidade do ser, demonstrando
que não podemos acreditar nos
sentidos.
Parmênides de Eléia, através do
princípio “o ser é; o não ser não é”,
lança as bases para o conhecimento
metafísico e a supremacia da
racionalidade.
Enquanto Parmênides descreve o
imutável, Heráclito afirma o devir,
através de seu “tudo flui”.
“O mundo é tensão entre contrários”
e “a guerra é o pai de todos nós”
são princípios que podem ser
atribuídos a Parmênides.
A)
B)
C)
D)
E)
Se
Se
Se
Se
Se
apenas
apenas
apenas
apenas
apenas
I e III estiverem corretas.
I, II e IV estiverem corretas.
I, II e V estiverem corretas.
II, IV e V estiverem corretas.
I, III e IV estiverem corretas.
7.
“Outros dizem que a alma é ar, como
Anaxímenes
e
alguns
estóicos
(Filópono)”.
“As estrelas surgiram da Terra, ao
destacar-se
desta
a
umidade
ascendente; com a rarefação da
umidade, surgiu o fogo; e do fogo, que
se elevava, constituíram-se as estrelas
(Hipólito).”
Esse texto consta de fragmentos dos
pré-socráticos
encontrados
e
organizados por Herman Diels e Walter
Kranz. Discuta o tema central dos
primeiros filósofos conforme o ponto-devista de Anaxímenes.
3. PLATÃO:
Introdução
Platão foi discípulo de Sócrates. Seu
nome
era
Arístocles,
e
recebeu
o
pseudônimo de Platão por ter ombros largos.
Ele foi responsável por ter escrito todas as
idéias de Sócrates, pois este não deixou uma
linha sequer. Sua obra apresenta-se em
diálogos, característica da dialética. Ele
fundou sua própria escola de filosofia
chamada Academia, onde se ensinava
matemática e ginástica além da própria
filosofia.
Os Sofistas
No século V a.C. surgiram vários
mestres ambulantes que passavam de
cidade em cidade, e de casa em casa,
ensinando aos jovens as suas sabedorias e
cobrando
pelos
seus
ensinamentos.
Ensinavam a areté (a virtude, ou a
habilidade). Preocupavam-se com o imediato
da vida política e do poder. Portanto,
ensinavam a Paidéia, o que significava a
preparação do jovem para o ideal do homem
belo e bom, sendo esta a principal virtude.
A grande mudança de pensamento
causada pelos sofistas foi o deslocamento do
foco de estudo da razão: enquanto os présocráticos se concentravam na natureza para
se chegar à compreensão racional do mundo,
os sofistas vão se concentrar no homem.
Protágoras, um dos mais eminentes sofistas,
dizia: “O homem é a medida de todas as
coisas”. Os sofistas afirmavam que o homem
era o responsável pela criação dos valores.
Outros grandes sofistas foram: Crítias,
Górgias, Hippias.

Sócrates: ironia e aporia.
Sócrates (470-399 a.C.) foi o grande
filósofo por excelência. Ele viveu em Atenas
no século V a.C. Era um homem feio, gordo,
mas, quando falava, era dono de um
estranho fascínio. Permanecia sempre em
praça pública, discutindo com os jovens.
Interpelava os transeuntes, dizendo-se
ignorante, e fazia perguntas aos que
julgavam entender determinado assunto.
Colocava interlocutor em tal situação que
não havia saída senão reconhecer a própria
ignorância. Suas máximas eram: “Conhecete a ti mesmo” e “Só sei que nada sei.” Com
estas
frases,
Sócrates
demonstrava:
primeiro, o ponto de partida para se chegar
ao conhecimento era o próprio homem; e
segundo, que só a partir do reconhecimento
de sua própria ignorância é que se pode
alcançar a sabedoria.
Sócrates,
através
do
diálogo,
questionava os jovens e seus conhecimentos
aprendidos com os sofistas. Diferentemente
dos sofistas, Sócrates mantém a separação
entre opinião e verdade, entre aparência e
realidade, entre percepção sensorial e
pensamento. Por isso, sua busca visa a
alcançar algo muito precioso: passar da
multiplicidade de opiniões contrárias, da
multiplicidade de aparências opostas, da
multiplicidade de percepções divergentes à
unidade do conceito ou da idéia (que é a
definição universal e necessária da coisa
procurada). Ele não se preocupava em
transmitir conhecimentos verdadeiros e
acabados, e sim indagar os jovens de tal
forma que eles mesmos chegassem ao
conhecimento. Esta era a chamada maiêutica
socrática, “a arte de dar a luz aos espíritos”.
Sócrates foi um grande crítico e usava da
ironia para questionar aqueles que se
achavam sábios. Com sua crítica aos
ensinamentos dos sofistas, os quais não
admitiam questionamentos, Sócrates foi
considerado um subversivo em sua época.
Sendo assim, o grande filósofo de Atenas
acabou sendo condenado à morte, obrigado
a tomar cicuta.
Cabe a Sócrates o mérito de ter
colocado em questão a importância da
definição de conceitos para se organizar o
saber. Ele não escreveu nada; coube a seus
seguidores, principalmente Platão, seu mais
importante discípulo, todos os relatos a
respeito de seus diálogos e idéias.
A Maiêutica
Libertos do orgulho e da pretensão
de que tudo sabiam, os discípulos podiam
então iniciar o caminho da reconstrução de
suas próprias idéias. Novamente, Sócrates
lhes propunha uma série de questões
habilmente colocadas.
Nesta segunda fase do diálogo, o
objetivo de Sócrates era ajudar seus
discípulos a conceberem suas próprias
idéias. Assim, transportava para o campo da
filosofia o exemplo de sua mãe, Fenareta,
que, sendo parteira, ajudava a trazer
crianças ao mundo. Por isso, essa fase do
diálogo socrático, destinada à concepção de
idéias, era chamada de maiêutica, termo
grego que significa arte de trazer à luz.
Um corruptor da juventude?
Sócrates não dava importância à
posição socioeconômica de seus discípulos.
Dialogava com ricos e pobres, cidadãos e
escravos. O que importava eram as
condições interiores, psicológicas, de cada
pessoa,
pois
essas
condições
eram
indispensáveis
ao
processo
de
autoconhecimento.
Para a democracia ateniense, da
qual não participava a maioria da população,
composta de escravos, estrangeiros e
mulheres,
Sócrates
foi
considerado
subversivo. Representava uma ameaça
social, na medida em que desrespeitava a
ordem vigente e dirigia suas atenções para
as pessoas, sem fazer distinções de classe
ou posição social. Interessado tão-somente
na prática da virtude e na busca da verdade,
contrariava os valores dogmáticos da
sociedade ateniense. Por isso, recebeu a
acusação de ser injusto com os deuses da
cidade e de corromper a juventude. No final
do processo foi condenado a beber cicuta
(veneno extraído de uma planta do mesmo
nome).
Diante de seus juizes, Sócrates
assumiu uma postura viril, altaneira,
imperturbável,
de
quem
nada
teme.
Permanecia absolutamente em paz com sua
própria
consciência.
Se
alguém
lhe
perguntasse “Não te envergonhas, Sócrates,
de ter dedicado a vida a uma atividade pela
qual
te
condenam
a
morte?”,
ele
responderia: Estás enganado, se pensas que
um homem de bem deve ficar pesando, ao
praticar seus atos, sobre as possibilidades de
vida ou de morte. O homem de valor moral
deve considerar apenas, em seus atos, se
eles são justos ou injustos, corajosos ou
covardes.
Foi assim que Sócrates procurou
caracterizar sua vida: construindo uma
personalidade corajosa e guiando sua
conduta pelo seu critério de justiça. Viveu
conforme sua própria consciência. Morreu
sem ter renunciado a seus mais caros
valores morais.
EXERCÍCIOS
1.
Em relação aos sofistas, pode-se afirmar
que:
I.
Representam
um
movimento
popular em defesa dos reis.
Defenderam as idéias de Sócrates
em Atenas.
Ensinavam
aos
jovens
uma
educação política.
Preocuparam, sobretudo com a
natureza
e
explicações
cosmológicas.
II.
III.
IV.
Assinale
A) se apenas I estiver correta.
B) se apenas III estiver correta.
C) se apenas I e III estiverem corretas.
D) se apenas I e IV estiverem corretas.
E) se apenas II e III estiverem corretas.
2.
Podemos perceber uma mudança da
tendência racional de se explicar as
coisas
pela
natureza,
buscando
centralizar-se nas questões humanas a
partir do aparecimento dos:
A)
B)
C)
D)
E)
Sofistas.
Eleátas.
Jônicos.
Estóicos.
Atomistas.
3.
Assinale a alternativa INCORRETA.
Sócrates foi condenado a tomar cicuta por
ser
responsabilizado
de
corromper
a
juventude de sua época. A seu respeito,
pode-se afirmar que:
A) Defendia a existência de conceitos
universais válidos em qualquer época ou
local.
B) Ensinava-se os jovens através de
diálogos, estabelecendo a maiêutica.
C) Preocupava com as questões morais e
políticas, assim como os sofistas.
D) Deixou sua obra escrita, encarregando
Aristóteles de interpretá-la e divulgá-la.
E) Usava da ironia dizendo-se ignorante,
fazendo com que os outros chegassem
ao conhecimento verdadeiro.
4.
Assinale a alternativa INCORRETA
Sobre o método socrático pode-se
afirmar
A) O nome maiêutica se refere a uma
homenagem a sua mãe, que era
parteira, acrescentando que se ela fazia
parto de corpo, ele “dava a luz” a novas
idéias.
B) Seu método se inicia com uma parte de
exortação, que é a chamada para o
diálogo.
C) Uma de suas partes consiste em destruir
o saber pré-concebido, usando a
argumentação irônica.
D) Os diálogos críticos de Sócrates buscam
as questões abstratas referentes à
política e a ética do homem, daí
perguntar em que consiste a coragem, a
covardia, a justiça, e assim por diante.
E) É um método onde os interlocutores
buscam a verdade relativa, o que
importa é a “arte de convencer”.
5.
Assinale
a
única
alternativa
INCORRETA sobre Sócrates:
A) Sócrates nada deixou escrito, e teve
suas idéias divulgadas por dois de seus
principais
discípulos,
Xenofonte
e
Arístocles (Platão).
B) Costumava conversar com todos, fossem
velhos ou moços, nobres ou escravos,
preocupado
com
o
método
do
conhecimento.
C) Tinha um pressuposto de partida, “só sei
que nada sei”, que consiste justamente
na sabedoria de reconhecer a própria
ignorância, de onde se inicia a procura
do conhecimento.
D) As questões que Sócrates privilegia são
as referentes à natureza e aos
fenômenos físicos principalmente.
E) Sócrates, por meio de perguntas destrói
o saber constituído para reconstruí-lo na
procura da definição do conceito.
6.
“Ateniense, eu vos sou reconhecido e
vos quero bem, mas obedecerei antes ao
deus que a vós; enquanto tiver alento e
puder fazê-lo, jamais deixarei de
filosofar, de vos dirigir exortações, de
ministrar ensinamentos em toda ocasião
àquele de vós deparar, (...)outra coisa
que não faço senão andar por aí
persuadindo-vos, moços e velhos, a não
cuidar tão aferradamente do corpo e das
riquezas, como de melhorar o mais
possível a alma, dizendo-vos que dos
haveres não vem a virtude para os
homens, mas da virtude vêm os haveres
e todos os outros bens particulares e
públicos.”
(Os pensadores – Sócrates, abril
cultural, São Paulo, 1972)
Diante deste fragmento de Platão do
texto da defesa de Sócrates explique o
pressuposto de Socrático sobre o
conhecimento, “conhece-te a ti mesmo”.

Teoria das
caverna
idéias:
o
mito
da
Teoria
do
conhecimento:
teoria
das
reminiscências – uma alma imortal
Mundo das Idéias e Mundo dos Sentidos
Uma das primeiras preocupações de
Platão era a relação entre o eterno e
imutável, de um lado, e o que flui de outro.
Enquanto os sofistas consideravam questões
a respeito da moral do homem e os ideais ou
virtudes da sociedade como algo que se
modificava de cidade-Estado para cidadeEstado e de geração para geração, Sócrates
acreditava em regras ou normas eternas.
Portanto,
Platão
seguindo
a
mesma
orientação de seu mestre vai se preocupar
com o eterno e imutável tanto na natureza
quanto na moral e na sociedade. Sendo
assim, ele fará uma divisão entre dois
mundos, ou seja, Platão defende um
dualismo psicofísico no que se refere ao
homem, ou seja, a alma, como pertencente
ao mundo das idéias, é imortal; enquanto o
corpo, como pertencente ao mundo dos
sentidos, é perecível. Sendo assim, segundo
a visão platônica, as idéias são inatas, estão
adormecidas até que se entre em contato
com o mundo concreto. É a chamada teoria
das reminiscências.
O mundo da natureza é para Platão
um “mundo dos sentidos”, feito de material
sujeito a corrosão do tempo; neste mundo
tudo flui e é passageiro. Porém existe um
outro mundo feito de formas eternas e
imutáveis, este mundo é o mundo das idéias.
A estas formas, “imagens padrão”, imagens
primordiais, Platão chamou de “mundo das
idéias”. O mundo dos sentidos seria apenas
uma cópia imperfeita do mundo das idéias. E
o caminho do filósofo deve compreender a
passagem
do
mundo
dos
sentidos,
imperfeito, enganoso e feito de opiniões
incertas, para o mundo das idéias, feito de
um conhecimento seguro que reconhecemos
com a razão. Podemos dizer que: a razão é
eterna e universal, justamente porque elas
só se manifesta sobre dados que são eternos
e universais.
Dialética Platônica
A primeira etapa do processo de
conhecimento é dominada pelas impressões
ou sensações advindas dos sentidos. Essas
impressões sensíveis são responsáveis pela
opinião que temos da realidade. A opinião
(doxa) representa o saber que temos sem
tê-lo procurado metodicamente.
O conhecimento, entretanto, para
ser autêntico, deve ultrapassar a esfera das
impressões sensoriais, o plano da opinião, e
penetrar na esfera racional da sabedoria, o
mundo das idéias. Para atingir esse mundo,
o homem não pode ter apenas “amor às
opiniões” (filodoxia); precisa possuir um
“amor ao saber” (filosofia).
O método proposto por Platão para
atingir o conhecimento autêntico (epistéme)
é a dialética. A dialética consiste na
contraposição de uma opinião com a crítica
que dela podemos fazer, ou seja, na
afirmação de uma tese qualquer seguida de
uma discussão e negação desta tese, com o
objetivo de purificá-la dos erros e equívocos.
Segundo Platão todos os objetos sensíveis
possuem caráter contraditório, pois o
intermédio entre o ser e o não-ser e
apropriados como objeto de opinião mas não
de conhecimento, ou seja, o que é belo é
também, sob certo aspecto, feio; o que é
justo é, sob certo aspecto, injusto, e assim
por diante.
Teoria política
A república
Platão cria um Estado idealizado e
utópico, em um desejo de reconstrução da
polis grega. Como características deste
Estado, defende a abolição da família e da
propriedade privada, direitos iguais para as
mulheres e educação das crianças através de
TEXTO COMPLEMENTAR
ALEGORIA DA CAVERNA
CAVERNA”
-“O
MITO
DA
Trata-se de um trecho do Livro VII
de A República: no diálogo, as falas na
primeira pessoa são de Sócrates, e.seus
interlocutores, Glauco e Adimanto, são os
irmãos mais novos de Platão.
– Agora – continuei - representa da
seguinte forma o estado de nossa natureza
relativamente à instrução e à ignorância.
Imagina homens em morada subterrânea,
em forma de caverna, que tenha em toda a
largura uma entrada aberta para a luz; estes
homens aí se encontram desde a infância,
com as pernas e o pescoço acorrentados, de
sorte que não podem mexer-se nem ver
alhures exceto diante deles, pois a corrente
os impede de virar a cabeça; a luz lhes vem
um sistema público. Ele cria um sistema
classista e uma sofocracia na sociedade,
estabelecendo uma comparação entre o
corpo, a alma e o Estado.
A organização dessa sociedade
classista aconteceria da escola. Haveria um
processo de seleção ao longo da formação
acadêmica. Ao completar vinte anos, os
alunos que menos se destacassem seriam
considerados como alma de bronze e
representariam
os
trabalhadores.
Completados mais dez anos de estudo,
aqueles que menos destacaram seriam
considerados como alma de prata e
representariam os guerreiros. Os mais
notáveis que sobrariam destes cortes, por
terem alma de ouro, seriam os filósofos.
Dentre eles, aos cinqüenta anos, seriam
escolhidos
o
corpo
supremo
dos
magistrados,
aqueles
que
ficariam
responsáveis pelo governo da cidade.
O mito da caverna
Do clássico A República, temos no
livro VII, A Alegoria da Caverna (em anexo).
Neste capítulo o pensamento de Platão pode
ser expresso e entendido por duas vias. A
visão epistemológica e a política. Na visão
epistemológica, o mito da caverna é uma
alegoria a respeito das duas principais
formas de conhecimento: na teoria das
idéias, Platão distingue o mundo sensível,
dos fenômenos, e o mundo inteligível, das
idéias. A visão política entende-se o papel do
sábio, que é ensinar e governar, pois os
homens não vêem. Para Platão o filósofo é o
único que pode atingir o mundo das idéias,
usando o caminho do conhecimento. Tratase da necessidade da ação política, da
transformação dos homens e da sociedade,
desde que essa ação seja dirigida pelo
modelo ideal contemplado.
de um fogo aceso sobre uma eminência, ao
longe atrás deles; entre o fogo e os
prisioneiros passa um caminho elevado;
imagina que, ao longo deste caminho, erguese um pequeno muro, semelhante aos
tabiques que os exibidores de fantoches
erigem à frente deles e por cima dos quais
exibem as suas maravilhas.
– Vejo isso – disse ele.
– Figura, agora, ao longo deste
pequeno muro homens a transportar objetos
de todo gênero, que ultrapassam o muro,
bem como estatuetas de homens e animais
de pedra, de madeira e de toda espécie de
matéria;
naturalmente,
entre
estes
portadores, uns falam e outros se calam.
–Eis – exclamou – um estranho
quadro e estranhos prisioneiros!
– Eles se nos assemelham –
repliquei – mas, primeiro, pensas que em tal
situação jamais hajam visto algo de si
próprios e de seus vizinhos, afora as
sombras projetadas pelo fogo sobre a parede
da caverna que está à sua frente?
– E como poderiam? – observou – se
são forçados a quedar-se a vida toda com a
cabeça imóvel? E com os objetos que
desfilam, não acontece o mesmo?
– Incontestavelmente. Se, portanto,
conseguissem conversar entre si não julgas
que tomariam por objetos reais sombras que
avistassem? .
– Necessariamente.
...............................................................
.............................................
– Considera agora o que lhes
sobrevirá naturalmente se forem libertos das
cadeias e curados da ignorância. Que se
separe um desses prisioneiros, que o forcem
a levantar-se imediatamente, a volver o
pescoço, a caminhar, a erguer os olhos à
luz: ao efetuar todos esses movimentos
sofrerá, e o ofuscamento o impedirá de
distinguir os objetos cuja sombra enxergava
há pouco. O que achas, pois, que ele
responderá se alguém lhe vier dizer que tudo
quanto vira até então eram vãos fantasmas,
mas que presentemente, mais perto da
realidade e voltado para objetos mais reais,
vê de maneira mais justa? Se, enfim,
mostrando-lhe
cada
uma
das
coisas
passantes, o obrigar, à força de perguntas, a
dizer o que é isso? Se, e, dizer o que é isso?
Não crês que ficará embaraçado e que as
sombras que viu há pouco lhe parecerão
mais verdadeiras do que os objetos que ora
lhe são mostrados?
–
Muito
mais
verdadeiras
reconheceu ele.
– E se o forçam a fitar a própria luz,
não ficarão os seus olhos feridos? Não tirará
dela a vista, para retornar às coisas que
pode olhar, e não crerá que estas são
realmente mais distintas do que as outras
que lhe são mostrados? .
– Seguramente.
– E se – prossegui – o arrancam à
força de sua caverna, o compelem a escalar
a rude e escarpada encosta e não o soltam
antes de arrastá-lo até a luz do sol, não
sofrerá ele novamente e não se queixará
destas violências? E quando houver chegado
à luz, poderá, com os olhos completamente
deslumbrados pelo fulgor, distinguir uma só
das
coisas
que
agora
chamamos
verdadeiras?
– Não poderá – respondeu –; ao
menos desde logo.
– Necessitará, penso, de hábito para
ver os objetos da região superior. Primeiro
distinguirá mais facilmente as sombras,
depois as imagens dos homens e dos outros
objetos que se refletem nas águas, a seguir
os próprios objetos. Após isso, poderá,
enfrentando a claridade dos astros e da lua,
–
Partilho de tua opinião - replicou
- na medida em que posso.
contemplar mais facilmente durante a noite
os corpos celestes e o céu mesmo, do que
durante o dia o sol e sua luz.
– Sem dúvida.
– Por fim, imagino, há de ser o sol,
não suas vãs imagens refletidas nas águas
ou em qualquer outro local, mas o próprio
sol em seu verdadeiro lugar, que ele poderá
ver e contemplar tal como é.
– Necessariamente.
– Depois disso, há de concluir, a
respeito do sol, que é este que faz as
estações e os anos, que governa tudo no
mundo visível e que, de certa maneira, é
causa de tudo quanto ele via, com os seus
companheiros, na caverna.
– Evidentemente, chegará a esta
conclusão.
...............................................................
.............................................
– Imagina ainda que este homem
torne a descer a caverna e vá sentar-se em
seu antigo lugar; não terá ele os olhos
cegados pelas trevas, ao vir subitamente do
pleno sol?
– Seguramente sim disse ele.
– E se, para julgar estas sombras,
tiver de entrar de novo em competição, com
os cativos que não abandonaram as
correntes, no momento em que ainda está
com a vista confusa e antes que seus olhos
se tenham reacostumado (e o hábito à
obscuridade exigirá ainda bastante tempo),
não provocará riso à própria custa e não
dirão eles que, tendo ido para cima, voltou
com a vista arruinada, de sorte que não vale
mesmo a pena tentar subir até lá? E se
alguém tentar soltá-los e conduzi-los ao alto,
e conseguissem eles pegá-lo e matá-lo, não
o matarão?
– Sem dúvida alguma – respondeu.
– Agora, meu caro Glauco –
continuei – cumpre aplicar ponto por ponto
esta imagem ao que dissemos mais acima,
comparar o mundo que a vista nos revela à
morada da prisão e a luz do fogo que a
ilumina ao poder do sol. No que se refere à
subida à região superior e à contemplação
de seus objetos, se a considerares como a
ascensão da alma ao lugar inteligível, não te
enganarás sobre o meu pensamento, posto
que também desejas conhecê-lo. Deus sabe
se ele é verdadeiro. Quanto a mim, tal é
minha opinião: no mundo inteligível, a idéia
do bem é percebida por último e a custo,
mas não se pode percebê-la sem concluir
que é a causa de tudo quanto há de direito e
belo em todas as coisas; que ela engendrou,
no mundo visível, a luz e o soberano da luz;
que, no mundo inteligível, ela própria é
soberana e dispensa a verdade e a
inteligência; e que é preciso vê-la para
conduzir-se com sabedoria na vida particular
e na vida pública.
(Platão, A República, v. II, p. 105 a 109. lI,
p. (105 a l09.)
EXERCÍCIOS
1.
Quanto à visão política da “República” de
Platão, podemos dizer que se trata de,
EXCETO:
A) Um estado utópico, onde os filósofos
seriam os governantes.
B) Uma sociedade onde a família deve ser
responsável pela educação das crianças.
C) Uma sociedade classista, dividida em
governantes, guerreiros e trabalhadores.
D) Uma organização social onde homens e
mulheres têm direitos iguais.
E) Uma defesa da sofocracia, ou seja, o
poder dos sábios.
2.
Assinale a alternativa INCORRETA:
Platão representa um dos filósofos mais
importantes da Antigüidade. A seu
respeito pode-se afirmar:
A) Escreveu os diálogos de Sócrates com os
sofistas do século V a.C.
B) Estabeleceu a distinção entre um mundo
inteligível e um mundo sensível.
C) Teve Aristóteles como seu discípulo, o
qual também contestou algumas de suas
idéias.
D) Defendeu idéias relativas à política,
sugerindo que os filósofos deveriam
governar.
E) Enfatizou a matéria como perfeição e
como fonte e origem das idéias.
3.
A idéia de República de Platão considera
que:
I.
Bom governo depende da virtude
(justiça) dos bons governantes.
Os filósofos não devem assumir
compromissos políticos.
Os
guerreiros
devem
ser
os
governantes.
As pessoas mais jovens devem
evitar questões políticas.
II.
III.
IV.
A)
B)
C)
D)
E)
Assinale:
Se apenas
Se apenas
Se apenas
Se apenas
Se apenas
II.
III.
IV.
Assinale a opção CORRETA.
A)
B)
C)
D)
E)
I e III são interpretações possíveis.
II e IV são interpretações possíveis.
I e IV são interpretações possíveis.
I e II são interpretações possíveis.
III e IV são interpretações possíveis.
5.
(UFU-97)
CORRETA.
(UFU-97) O "mito da Caverna" (livro VII,
A república, de Platão) tem como
pressuposto
a
teoria
das
idéias.
Considera-se então que seja
I.
Uma metáfora do conhecimento: o
movimento
de
saída
e
a
contemplação da luz significam o
Marque
a
alternativa
O livro VII da República de Platão,
também conhecido como “O mito da
caverna”, nos apresenta:
A) A explicação para o surgimento das
civilizações antigas que se originaram a
partir dos homens.
B) O ideal platônico de formação do
filósofo, sendo que este modelo de
formação possui uma dimensão ética e
política.
C) Uma fábula sobre a origem do homem,
que esclarece o aparecimento das
civilizações antigas.
D) A teoria materialista platônica cuja
essência é a dialética, entendida por
Platão como sendo a arte da sofistica.
E) A teoria política grega e as diferentes
formas de governo, sendo a República
um governo divino.
6.
I estiver correta.
I e III estiverem corretas.
III estiver correta.
II e III estiverem corretas.
I e IV estiverem corretas.
4.
processo
de
aquisição
do
conhecimento, o qual se inicia como
a opinião indo até o entendimento
(idéias).
Um relato da libertação dos grilhões
que prendiam os homens no interior
da caverna.
Uma forma de Platão representar a
importância e a superioridade do
filósofo, como aquele que chega ao
conhecimento e tem a missão de
transmiti-lo aos outros.
Uma história que simboliza a vida do
homem das cavernas.
(UFU-97) “... Partirei daí, admitindo que
há um Belo em si e por si, um Bom, um
Grande, e assim quanto ao resto (...)
Parece-me que, se existe algo de belo
fora do Belo em si, essa coisa só é bela
porque participa desse belo em si, e digo
que o mesmo ocorre quanto a todas as
outras coisas.”
A partir do trecho acima extraído de um
diálogo entre Sócrates e seu discípulo
Cebes no Fédon de Platão, explique o
que são as idéias no contexto da filosofia
platônica.
7.
“Por isso, antes e acima de tudo, o deus
ordena aos magistrados que vigiem
atentamente as crianças, que tomem
muito cuidado com o metal misturado
em suas almas e, caso seus próprios
filhos apresentem mistura de bronze ou
de ferro, que sejam impiedosos com eles
e lhes concedam o gênero de honor
devido à respectiva natureza, relegandoos à classe dos artesãos e dos
lavradores;”
(Platão, A República, v. 1, p. 192).
Comente o aspecto classista do modelo
de sociedade proposto por Platão, a
partir dos conceitos: alma de ouro, alma
de prata e alma de bronze.
ARISTÓTELES:

Metafísica:
Introdução
Aristóteles foi filósofo e cientista.
Pode ser considerado como o último filósofo
grego e o primeiro grande biólogo da
Europa. Foi aluno de Platão durante vinte
anos, e assim como Platão havia fundado a
Academia, Aristóteles fundou uma escola
chamada Liceu. Acima de tudo, Aristóteles
foi um grande organizador de conceitos e um
pesquisador da natureza.
A crítica a Platão
Aristóteles retoma a problemática do
conhecimento e se preocupa em definir a
ciência como conhecimento verdadeiro,
conhecimento pelas causas, capaz de
superar os enganos da opinião e de
compreender a natureza do devir. Mas ao
analisar a oposição entre o mundo sensível e
o inteligível segundo a tradição de Heráclito,
Parmênides e Platão, Aristóteles recusa as
soluções
apresentadas
e
critica
pormenorizadamente o mundo “separado”
das idéias platônicas. Para ele, as idéias não
são inatas como afirmava Platão. Aristóteles
parte do estudo do mundo concreto e conclui
que as idéias surgem a partir do
conhecimento empírico, da experiência
vivida.

As
categorias:
acidente.
substância
e
A teoria de Aristóteles se baseia em
três distinções fundamentais, que passamos
a descrever simplificadamente: substânciaessência-acidente;
ato-potência;
formamatéria, que por sua vez desembocam na
teoria das quatro causas.
Aristóteles “traz a idéias do céu à
terra”: rejeita o mundo das idéias de Platão,
fundindo o mundo sensível e o inteligível no
conceito da substância, enquanto “aquilo que
é em si mesmo”, ou enquanto suporte dos
atributos.
Ora, quando dizemos algo de uma
substância, podemos nos referir a atributos
que lhe convêm de tal forma que, se lhe
faltassem, a sustância não seria o que é.
Designamos esses atributos de essência
propriamente dita, e chamamos de acidente
o atributo que a substância pode ter ou não,
sem deixar de ser o que é. Então, a
substância individual “este homem” tem
como características essenciais os atributos
pelos quais este homem é homem
(Aristóteles diria, a essência do homem é a
racionalidade) e outros, acidentais (como ser
gordo, velho ou belo), atributos esses que
não mudam o ser do homem em si.
No
entanto,
o
problema
das
transformações dos seres ainda não se
resolve com os conceitos de essência e
acidente, e por isso Aristóteles recorre às
noções de forma e matéria. Matéria é o
princípio indeterminado de que o mundo
físico é composto, é “aquilo de que é feito
algo”, o que não coincide exatamente o que
nós entendemos por matéria, na física, por
se caracterizar pela indeterminação. Forma é
“aquilo que faz com que uma coisa seja o
que é”.
Todo ser é constituído de matéria e
forma, princípios indissociáveis. Enquanto a
forma é o princípio inteligível, a essência
comum aos indivíduos da mesma espécie,
pela qual todos são o que são, a matéria é
pura passividade, contendo a forma em
potência. Numa estátua, por exemplo, a
matéria (que nesse caso é a matéria
segunda, pois já tem alguma determinação)
é o mármore; a forma é a idéia que o
escultor realiza na estátua.
É através da noção de matéria e forma
que se explica o devir. Todo ser tende a
tornar atual a forma que tem em si como
potência. A potência é a capacidade de
tornar-se alguma coisa e, para tal, é preciso
que sofra a ação de outro ser já em ato.

Teoria das quatro causas
O movimento é a passagem da
potência para o ato. A semente que contém
o carvalho em potência foi gerada por um
carvalho em ato. Tais considerações levam à
distinção dos diversos tipos de movimento e
às causas do movimento ou teoria das
quatro causas: as mudanças derivam da
causa material, da causa formal, da causa
eficiente e da causa final.




Causa formal: é aquilo que faz com
que
um
ser
seja
tal
ser
determinado;
Causa material: é aquilo de que algo
surge, a matéria de que é uma coisa
é feita;
Causa eficiente: é aquilo pelo qual
uma coisa é, o fenômeno que produz
outro;
Causa final: é aquilo em razão do
qual algo existe, é o fim pretendido
na consecução de um ato.
Causa primordial, primeiro motor imóvel, ato
puro: DEUS.
Toda a estrutura teórica da filosofia
aristotélica desemboca na teologia. A
descrição das relações entre as coisas leva
ao reconhecimento da existência de um ser
superior e necessário, ou seja, Deus. Isso
porque, se as coisas são contingentes, já que
não têm em si mesmas a razão de sua
existência,
é preciso concluir que são
produzidas por causas a elas exteriores.
Assim, todo ser contingente foi produzido
por outro ser, que também é contingente e
assim por diante.
A escada da natureza
Para Aristóteles tudo o que ocorre na
natureza pode ser dividido em dois grupos
principais: o grupo das coisas inanimadas e
o grupo das criaturas vivas. No primeiro
grupo temos como exemplo: as pedras,
gotas de água e torrões de terra. Já no
segundo, o das criaturas vivas, possuem
dentro de si uma potencialidade de
transformação. Para Aristóteles, a natureza
progride das coisas inanimadas para as
criaturas vivas. Ao reino das coisas
inanimadas segue-se primeiramente o reino
das plantas, que, “em relação ao reino das
coisas inanimadas, parece quase animado, e
em relação ao reino dos animais parece
quase inanimado”. Aristóteles divide o reino
das criaturas vivas em dois subgrupos, o dos
animais e o do homem.
Ética
Aristóteles acha que o homem só é
feliz se puder desenvolver e utilizar todas as
suas
capacidades
e
possibilidades.
Aristóteles acreditava em três formas de
felicidades: a primeira forma de felicidade é
uma vida de prazeres e satisfações. A
segunda forma de felicidade é uma vida
como cidadão livre, responsável. E a terceira
forma de felicidade é a vida como
pesquisador e filósofo. Ressalta que é
necessário integrar essas três formas afim
de que o homem possa levar uma vida
realmente feliz. Ele recusa toda e qualquer
decisão unilateral.
No que concerne às virtudes,
Aristóteles chama a atenção para um “meio
termo de ouro”. Não devemos ser nem
covardes, nem audaciosos, mas corajosos.
(Coragem de menos significa covardia e
coragem demais significa audácia). Também
não
devemos
ser
avarentos,
nem
extravagantes,
mas
generosos.
(Generosidade de menos é avareza e
generosidade demais é extravagância). O
mesmo vale para a alimentação.
Política
Aristóteles critica o autoritarismo de
Platão, considerando sua utopia impraticável
e inumana. Recusa a sofocracia platônica
que atribui poder ilimitado a apenas uma
parte do corpo social, os mais sábios. A
reflexão aristotélica sobre a política não se
separa da ética, pois a vida individual está
conjugada com a vida comunitária. Se
Aristóteles conclui que a finalidade da ação
moral é a felicidade do indivíduo, também a
política tem por fim organizar a cidade feliz.
Dá importância a educação na formação
ética dos indivíduos. A justiça é o que
garante o princípio da igualdade. Refere a
uma justiça distributiva, segundo a qual a
distribuição justa é a que leva em conta o
mérito das pessoas. Isso significa que não se
pode dar o igual para desiguais, já que as
pessoas são diferentes. Para Aristóteles, a
justiça está intimamente ligada ao império
da lei, pela qual se faz prevalecer a razão
sobre paixões cegas.
Para Aristóteles o cidadão seria
aquele que tivesse qualidades que variavam
conforme as exigências da constituição
aceita pela cidade. Excluía os escravos, os
estrangeiros e as mulheres. Excluí também
da cidadania a classe dos artesãos,
comerciantes e trabalhadores braçais em
geral, em primeiro lugar porque a ocupação
não lhes permite o tempo de ócio necessário
para participar do governo e segundo lugar
porque, reforçando o desprezo que os
antigos tinham pelo trabalho manual,
Aristóteles pondera que esse tipo de
atividade embrutece a alma e torna o
indivíduo incapaz da prática de uma virtude
esclarecida.
Aristóteles estabelece uma tipologia
das formas de governo que se tornou
clássica. Usa o critério de número, da
quantidade, para distinguira a monarquia, a
aristocracia e a politéia. Aristóteles considera
que as três formas de governo podem ser
consideradas boas, quando visam o interesse
comum, e más, corrompidas, degeneradas,
quando têm como objetivo o interesse
particular.
Visão da mulher
A visão que Aristóteles tinha da
mulher não era tão animadora quanto a de
Platão. Para ele a mulher era o homem
inacabado, incompleto. O homem dá a forma
e a mulher a substância, na formação da
criança.
EXERCÍCIOS
1.
(UFU-97) Marque a alternativa que NÃO
se relaciona à teoria das quatro causas
de Aristóteles:
A) Matéria é a substância que compõe o
mundo físico.
B) Potência é a capacidade intrínseca dos
corpos de vir a ser.
C) Forma é o princípio inteligível das coisas.
D) Movimento é a passagem da potência
para o ato.
E) Ato puro é a contingência da matéria.
2.
Assinale a alternativa CORRETA.
“É, pois manifesto que a ciência a
adquirir é a das causas primeiras (pois
dizemos que conhecemos cada coisa
somente quando julgamos conhecer a
sua
primeira
causa)
(...)”
Esses
princípios fazem parte da Teoria das
Quatro Causas de:
A) Platão
B) Sócrates
C) Protágoras
D) Aristóteles
E) Parmênides
3.
(UFU-98) As diferenças básicas entre o
pensamento de Platão e Aristóteles
podem ser resumidas no seguinte:
A) Enquanto o primeiro privilegia o mundo
das idéias, o segundo desqualifica a
matéria.
B) O segundo afirma a realidade da
matéria, enquanto o primeiro nega o
mundo espiritual.
C) As idéias, para Platão, são as únicas
verdades
e
para
Aristóteles
são
expressões
lógicas
da
realidade
mitológica.
D) O segundo recupera o realismo como
forma de conhecimento enquanto o
primeiro desqualifica o mundo material,
concebendo-o como cópia das idéias.
E) Na verdade, o mundo das idéias
corresponde à lógica formal aristotélica.
4.
5.
Aristóteles defende três formas boas de
governo, as quais também podem ser
corrompidas. A respeito dessa concepção
política, pode-se afirmar que:
A) A tirania se refere ao governo de um só
quando visa o interesse próprio.
B) A oligarquia é uma forma corrompida da
aristocracia.
C) A politéia (ou democracia) é uma forma
boa onde o povo está no poder.
D) A aristocracia é quando prevalece o
interesse dos mais ricos ou nobres.
E) A monarquia, ao ser corrompida,
transforma-se em tirania.
6.
“Toda a estrutura teórica da filosofia
aristotélica desemboca na teologia. A
descrição das relações entre as coisas
leva ao reconhecimento da existência de
um ser superior e necessário, ou seja,
Deus”.
(Aranha, Maria L. A. & Martins, Maria H.
P., Filosofando, São Paulo, Moderna, 1996).
Explique por que o pensamento de
Aristóteles desemboca numa teoria de Deus.
7.

A) Ele defendia que a mulher tivesse os
mesmos direitos que os homens.
B) Ele percebia a mulher como um
homem incompleto.
C) Ele considerava que o homem
oferecia a substância e a mulher a
forma no processo de concepção.
D) Ele acreditava em uma sociedade
mais justa quando a mulher
estivesse no poder.
E) Sua visão ajudou no processo de
liberdade vivido pelas mulheres na
Idade Média.
(UFU-99) “E se indagamos quais são os
princípios ou elementos das substâncias,
relações e quantidades – se são os
mesmos ou diferentes – é claro que
quando os nomes das causas são usados
em vários sentidos as causas de cada
um são as mesmas, mas quando
distinguimos os sentidos elas são
diferentes”.
(Aristóteles – Metafísica – Editora Globo
– Porto Alegre)
O texto de Aristóteles refere-se à
distinção das causas em sua teoria da
causalidade. Quais são as causas
aristotélicas? Descreva a especificidade
de cada uma delas.
Assinale a alternativa CORRETA.
Sobre a visão da mulher na Grécia
Antiga por parte de Aristóteles, pode-se
afirmar que:
Assinale a alternativa INCORRETA:
Noções de lógica:
Introdução
A diferença entre forma e substância
também
é
muito
importante
quando
Aristóteles
descreve
como
o
homem
reconhece as coisas do mundo. Quando
reconhecemos as coisas, nós a colocamos
em
diferentes
grupos
ou
categorias.
Aristóteles foi um organizador, um homem
extremamente meticuloso, que queria pôr
ordem nos conceitos dos homens. Fundou a
ciência da lógica e estabeleceu uma série de
normas rígidas para que as conclusões ou
provas
pudessem
ser
consideradas
logicamente válidas.
A palavra lógica vem do grego logos,
que
significa
“palavra”,
“expressão”,
“pensamento”,
“conceito”,
“discurso”,
“razão”. Portanto, a lógica oferece as regras
do pensamento correto. A lógica foi tratada
como ciência por Aristóteles. A lógica
aristotélica foi apresentada em sua obra
Órganon, que significa “instrumento” (ou
seja, o instrumento para se proceder
corretamente no pensar). Aristóteles se
preocupava com as leis do pensamento e o
ato de raciocinar (argumentar) propriamente
dito. O que é o raciocínio? “É um tipo de
operação
discursiva
do
pensamento,
consistente em encadear logicamente juízos
e deles tirar uma conclusão”. ‘É um tipo de
conhecimento mediato, isto é, procede por
mediação entre determinados elementos
básicos. Para se construir um raciocínio
lógico, é preciso organizar os elementos
básicos necessários à sua construção. Eis um
exemplo de raciocínio lógico:
mortal”, a conclusão é necessária porque
deriva
das
premissas
(proposições).
Podemos dizer que o silogismo é um
raciocínio que parte de uma proposição geral
e conclui outra proposição geral ou
particular. Vejam um exemplo do raciocínio
acima descrito:
Toda baleia é um mamífero.
Ora, nenhum mamífero é
peixe.
Logo, a baleia não é peixe.
A
grande
crítica
à
dedução
aristotélica é que é estéril, na medida em
que não nos ensina nada de novo, mas
apenas
organiza
o
conhecimento
já
adquirido.
O primeiro destes elementos é o
termo. O termo ou conceito é uma simples
apreensão; é o ato pelo qual a inteligência
atinge ou percebe alguma coisa, sem dela
nada afirmar ou negar. No exemplo acima,
“baleia”, “mamífero” e “peixe” são exemplos
de termos.
O segundo elemento é a proposição.
A proposição é a representação lógica do
juízo. Juízo é o ato pelo qual a inteligência
afirma ou nega a identidade representativa
de dois conceitos. Exemplos:
Mortais
Sócrates
Homens
A
inferência
silogística
deve
obedecer a oito regras, sem as quais a
dedução não terá validade, não sendo
possível dizer se a conclusão é verdadeira ou
falsa:
1.
2.
Toda
baleia
é
um
mamífero.
(afirmação)
Nenhum mamífero é peixe. (negação)
O homem é livre. (Afirmação)
O homem não é mineral. (Negação)
O
terceiro
elemento
é
a
argumentação. Argumentação é a terceira
operação do espírito. É o ato pelo qual o
espírito, com o que já conhece, adquire um
novo conhecimento. Estabelece relações
entre proposições estabelecidas (premissas)
e delas pode se tirar uma conclusão. No
exemplo acima, das proposições “toda baleia
é um mamífero” e “nenhum mamífero é
peixe”, chega-se a conclusão “a baleia não é
peixe”.
Dedução ou silogismo
Dedução ou silogismo é uma
inferência que vai dos princípios para uma
conseqüência logicamente necessária. É o
que conhecemos em matemática como: se x
= y e y = z, então x = z. Assim, quando
dizemos “Todos os homens são mortais /
Sócrates é homem / Logo Sócrates é
3.
4.
5.
6.
Um silogismo deve ter um termo maior,
um menor e um médio e somente três
termos, nem mais, nem menos;
O termo médio deve aparecer nas duas
premissas
e
jamais
aparecer
na
conclusão; deve ser tomado em toda a
sua extensão (isto é, como um
universal) pelo menos uma vez, pois, do
contrário, não se poderá ligar o maior e
o menor. Por exemplo, se eu disse “Os
nordestinos são brasileiros” e “Os
paulistas são brasileiros”, não poderei
tirar conclusão alguma, pois o termo
médio “brasileiros” foi tomado sempre
em parte de sua extensão e nenhuma
vez no todo de sua extensão;
Nenhum termo pode ser mais extenso
na conclusão do que nas premissas,
pois, nesse caso, concluiremos mais do
que seria permitido. Isso significa que
uma das premissas sempre deverá ser
universal (afirmativa ou negativa);
A conclusão não pode conter o termo
médio, já que a função deste se esgota
na ligação entre o maior e o menor,
ligação que é a conclusão;
De duas premissas negativas nada pode
ser concluído, pois o médio não terá
ligado os extremos;
De duas premissas particulares nada
poderá ser concluído, pois o médio não
terá sido tomado em toda a sua
extensão pelo menos uma vez e não
poderá ligar o maior e o menor;
7.
8.
Duas premissas afirmativas devem ter a
conclusão afirmativa, o que é evidente
por si mesmo;
A conclusão sempre acompanha a parte
mais fraca, isto é, se houver uma
premissa negativa, a conclusão será
negativa, se houver uma premissa
particular, a conclusão será particular, e
se houver uma premissa particular
negativa,
a
conclusão
será
uma
particular negativa.
Os sofismas ou falácias são falsos
raciocínios. Existem várias formas de
sofismas onde aparecem os raciocínios
incorretos. Seguindo os modelos do método
dedutível podemos encontrar sofismas em
relação à matéria (conteúdo) e à forma
(estrutura).
Examinaremos
alguns
argumentos:
loiros.
O silogismo científico não admite
premissas contraditórias. Suas premissas
são universais necessárias e sua conclusão
não admite discussão ou refutação, mas
exige demonstração. Por esse motivo, o
silogismo científico deve obedecer a quatro
regras, sem as quais sua demonstração não
terá valor:
1.
2.
3.
4.
As premissas devem ser verdadeiras
(não podem ser possíveis ou prováveis,
nem falsas);
As premissas devem ser primárias ou
primeiras, isto é, indemonstráveis, pois
se
tivermos
que
demonstrar
as
premissas, termos que ir de regressão
em regressão, indefinidamente, e nada
demonstraremos;
As premissas devem ser mais inteligíveis
do que a conclusão, pois a verdade
desta última depende inteiramente da
absoluta clareza e compreensão que
tenhamos das suas condições, isto é,
das premissas.
As premissas devem ser causa da
conclusão, isto é, devem estabelecer as
coisas ou os fatos que causam a
conclusão e que a explicam, de tal
maneira que, ao conhecê-las, estamos
obedecendo as causas da conclusão.
Esta regra é da maior importância
porque, para Aristóteles, conhecer é
conhecer as causas ou pelas causas.
Indução
Indução é uma argumentação na
qual,
a
partir
de
dados
singulares
suficientemente enumerados, inferimos uma
verdade universal. Exemplos:
O cobre é condutor de eletricidade, e
o ouro, e o ferro, e o zinco, e a prata
também; logo, o metal ( isto é todo metal )
é condutor de eletricidade.
Apesar da aparente fragilidade da
indução, que não possui o rigor do raciocínio
dedutivo, trata-se de uma forma muito
fecunda de pensar, sendo responsável pela
fundamentação de grande parte de nossos
conhecimentos na vida diária e de grande
valia nas ciências experimentais.
Sofismas ou falácias
a) Todos os homens são
Ora, eu sou homem.
Logo, eu sou loiro.
b) Todos os homens são
vertebrados.
Ora, eu sou vertebrado.
Logo, eu sou homem.
EXERCÍCIOS
1.
Podemos afirmar a respeito da Lógica:
A) É uma parte da Filosofia que estuda as
regras de um pensamento correto.
B) “Todos os mamíferos são vertebrados” é
uma proposição particular afirmativa.
C) “Animal”, “homem”, “livre”, são exemplos
de proposições.
D) Teve
seus
principais
fundamentos
organizados por Platão
E) “Nenhum homem é mineral” é uma
proposição universal afirmativa.
2.
(UFU-98)
CORRETA.
Assinale
a
alternativa
No argumento dedutivo, o enunciado da
conclusão não excede o conteúdo das
premissas; segundo Aristóteles, este
raciocínio também pode ser chamado de:
A)
B)
C)
D)
E)
3.
Silogismo.
Raciocínio hipotético.
Analogia.
Falácia.
Raciocínio disjuntivo.
(UFU-97) Assinale a única alternativa
INCORRETA.
Na lógica aristotélica, o silogismo
científico é formulado de modo que as
premissas obedeçam a determinadas
condições, sem as quais seriam apenas
opiniões. Para Aristóteles, as premissas
devem:
A) Conter o universal e necessário, não
sendo passíveis de refutação nem de
persuasão.
B) Ser verdadeiras, portanto, não podem
ser prováveis nem falsas.
C) Ser primárias ou primeiras, isto é,
indemonstráveis.
D) Ser mais inteligíveis que a conclusão,
por isso, toda conclusão depende da
absoluta compreensão e clareza das
premissas.
E) Se referir à coisas prováveis, possíveis,
contingentes, isto é, coisas que podem
ser ou não ser.
4.
Observe a seguinte falácia: “Todos os
uberlandenses são calvos. João é
uberlandense. Logo, João é calvo”.
Dentro
das
regras
do
silogismo
apresentadas abaixo, assinale aquela
que NÃO foi considerada:
A) Termo médio jamais deve aparecer na
conclusão.
B) De duas premissas particulares nada
poderá ser concluído.
C) As premissas devem ser verdadeiras
(não podem ser possíveis ou prováveis,
nem falsas).
D) De duas premissas negativas nada pode
ser concluído.
E) Nenhum termo pode ser mais extenso
na conclusão do que nas premissas.
5.
Podemos
considerar
como
afirmativo:
I.
O termo mamífero é o termo médio.
II.
O termo mamífero é o extremo
maior.
III.
O termo cão é o extremo menor.
IV.
O termo vertebrado é o termo
médio.
Assinale:
E)
Se apenas I e II estiverem corretas.
Se apenas I e III estiverem corretas.
Se apenas II e III estiverem corretas.
Se apenas II, III e IV estiverem
corretas.
Se nenhuma alternativa estiver correta.
6.
Pode-se considerar como exemplos de
dedução
aristotélica,
os
seguintes
raciocínios:
I.
Na prova de física, o problema se
refere a um caso específico, tendo
sido fornecidos os dados em
questão; lembramos então da lei,
aplicando-a aos dados fornecidos a
fim de resolver o problema.
Depois
de
ter
feito
várias
experiências com fígado de macaco,
Claude Bernard concluiu que o
fígado tem uma função glicogênica.
II.
IV.
Como
estudante
do
curso
secundário, você deveria saber
redigir melhor.
Diversos
metais,
tendo
sido
aquecidos, se dilataram, o que nos
fez concluir que o calor dilata os
corpos.
Assinale:
A) se apenas I e II estiverem corretas.
B) se apenas III e IV estiverem corretas.
C) se apenas I e III estiverem corretas.
D) se apenas II e IV estiverem corretas.
E) se todas as alternativas estiverem
corretas.
7.
Observe o seguinte raciocínio:
“Todas as baleias são mamíferos
Todos os mamíferos têm pulmões
Portanto, todas as baleias têm pulmões.”
Comente o significado de termo,
proposição e dedução a partir do exemplo
acima.
Observe o seguinte raciocínio dedutivo:
“Todos
os
mamíferos
são
vertebrados
Ora, os cães são mamíferos
Logo, os cães são vertebrados.”
A)
B)
C)
D)
III.
O CONHECIMENTO: RAZÃO NATURAL E
FÉ CRISTÃ
Introdução:
Poder ideológico da igreja.
Com a queda do Império Romano a
religião surge lentamente como elemento
agregador dos inúmeros reinos bárbaros
formados após sucessivas invasões; seus
chefes são pouco a pouco convertidos ao
cristianismo, e a Igreja se transforma em
soberana absoluta da vida espiritual do
mundo ocidental.
Sistema Econômico: Feudalismo.
A
cultura
greco-romana
quase
desaparece nos períodos mais turbulentos da
implantação do modo feudal de produção,
mas permanece latente, guardada nos
mosteiros. São os monges os únicos letrados
em um mundo onde nem os servos nem os
nobres sabem ler. A igreja, neste período,
torna-se dona de aproximadamente um
terço das áreas cultiváveis da Europa
ocidental.
Fechamento da Academia de Platão.
No ano de 529 d.C. a Academia de
Platão em Atenas, foi fechada. E no mesmo
ano foi fundada a ordem dos Beneditinos, a
primeira grande ordem religiosa.
Mosteiros e Conventos: obras filosóficas controle.
Uma constante se faz notar no pano
de fundo desse pensamento: a tentativa de
conciliar razão e fé. A temática religiosa
predomina na preocupação apogélica, isto é,
na defesa da fé cristã e no trabalho de
conversão dos não cristãos. A máxima
predominante é “Crer para compreender, e
compreender para crer”. A filosofia, embora
se distinguindo da teologia, é instrumento
desta, é serva da teologia.
1. A PATRÍSTICA:
Neste período de decadência do
Império Romano, com a expansão do
cristianismo, surge a partir do século II d.C.
a filosofia dos Padres da Igreja, conhecida
como patrística. Desde que surgiu o
cristianismo tornou-se necessário explicar
seus ensinamentos às autoridades romanas
e ao povo em geral. Mesmo com o
estabelecimento e a consolidação da
doutrina cristã, a Igreja católica sabia que
esses preceitos não podiam simplesmente
ser impostos pela força. Eles tinham de ser
apresentados de maneira convincente,
mediante
um
trabalho
de
conquista
espiritual.
Foi assim que os primeiros Padres da
Igreja se empenharam na elaboração de
inúmeros textos sobre a fé e a revelação
cristãs. O conjunto desses textos ficou
conhecido como patrística por terem sido
escrito principalmente pelos grandes Padres
da Igreja.
Uma das principais correntes da
filosofia patrística, inspirada na filosofia
greco-romana, tentou munir a fé de
argumentos racionais. Esse projeto de
conciliação entre o cristianismo e o
pensamento pagão teve como principal
expoente o Padre Agostinho.

Agostinho: a doutrina da iluminação.
Cristianização de Platão (Neoplatonismo).
 Perfeito e imperfeito
 Reino do céu e reino da terra
Constituição do sistema escolar.
No século VIII d.C. Carlos Magno
resolveu organizar o ensino por todo o seu
império e fundar escolas ligadas às
instituições católicas. A cultura grecoromana, guardada nos mosteiros até então,
voltou a ter uma influência mais marcante
nas reflexões da época. Era a renascença
carolíngia.
EXERCÍCIOS
1.
Assinale a alternativa CORRETA:
Santo Agostinho foi padre e filósofo
durante a Idade Média. Pode-se se
considerar como parte de sua teoria
cristã:
A) As verdades da fé dispensam qualquer
compreensão racional.
B) O homem fornece a fôrma e a mulher a
substância no processo de concepção.
C) Res Cogitans e res extensa sãos
entidades separadas.
D) Existe uma escala evolutiva na natureza:
vegetal - animal - homem - anjos Deus.
E) Alguns homens mais elevados são
escolhidos para entrarem no reino de
Deus.
2.
(UFU-98) Para Santo Agostinho,
homem chega à verdade:
o
A) Apenas pela fé em Deus.
B) Pelo método alegórico aplicado à
interpretação da Bíblia.
C) Pela iluminação divina.
D) Pela recordação da alma que estava
junto a Deus.
E) Pelos sentidos e pelo intelecto.
Santo Agostinho nasce no ano de
354 e morre em 430 d. C., apropria-se das
inspirações de Platão, por intermédio do
neoplatonismo, colocando, no entanto, no
lugar do Mundo das Idéias, a consciência de
Deus, que assume as qualidades e as
prerrogativas da Idéia do bem. Podemos
dizer
3.
Em relação a Santo Agostinho, pode-se
afirmar que:
I.
Preocupação com:
IV.
Foi o principal representante da
patrística
Foi responsável por ter cristianizado
as idéias de Aristóteles
Buscava a verdade absoluta por trás
de todas as verdades particulares.
Foi um dos primeiros filósofos da
universidade de Oxford.









Fé e ciência
Natureza de Deus
Alma
Vida moral
Ética rigorosa
Abdicação do mundo
Controle racional das paixões
Separação entre bem e mal
Espírito e matéria
II.
III.
Assinale:
A)
B)
C)
D)
E)
Se
Se
Se
Se
Se
apenas I e II estiverem corretas.
apenas I e III estiverem corretas.
apenas III e IV estiverem corretas.
apenas II e IV estiverem corretas.
todas estiverem corretas.
4.
(UFU-97) Em suas reflexões sobre a
questão
da
fé,
Santo
Agostinho
considera que
I.
É preciso crer acima de tudo, mesmo
que não se entenda por que
acreditar.
A razão e a fé são duas disposições
do
espírito
que
devem
ser
consideradas no mesmo grau de
importância.
Deus é a voz interior daqueles
homens que se dedicam à busca do
conhecimento; Ele os inspira em
suas investigações.
A razão deve estar sempre acima da
fé, só assim se chega à verdade.
II.
III.
IV.
Assinale a ÚNICA opção que apresenta
as afirmativas corretas.
A)
B)
C)
D)
E)
I e II
I e III
III e IV
I e IV
II e IV
5.
(UFU-97) Discuta a idéia central deste
fragmento, de acordo com a filosofia de
Santo Agostinho.
"Diz o profeta: 'Se não credes, não
entendereis'; certamente não diria isto
se não julgasse necessário pôr uma
diferença entre as duas coisas. Portanto,
creio tudo o que entendo, mas nem tudo
que creio também entendo."
(Santo Agostinho, De Magistro, S. Paulo,
Abril, 1973)
2. A ESCOLÁSTICA:
Introdução:
A escolástica é a filosofia cristã que
se desenvolve desde o século IX, tem seu
apogeu no século XIII e começo do século
XIV, quando entra em decadência.
Sistemas
de
Quadrivium.
disciplinas:
Trivium
e
Tendo a educação romana como
modelo, começaram a ser ensinadas as
seguintes matérias: gramática, retórica e
dialética (trivium) e geometria, aritmética,
astronomia e música (quadrivium). Todas
elas estavam submetidas à teologia. A
fundação dessas escolas e as primeiras
universidades no século XI fizeram surgir
uma
produção
filosófico-teológica
denominada escolástica.
Primeiras universidades: Oxford, Bologna e
de Paris.
A partir do século XI, com o
renascimento urbano, começaram a surgir
ameaças de ruptura da unidade da Igreja, e
as heresias anunciam o novo tempo de
contestação e debates em que a razão busca
sua autonomia. Inúmeras universidades
aparecem por toda a Europa.

O problema dos universais:


A posição realista.
A posição nominalista.
A questão dos universais: o que há entre as
palavras e as coisas
O
método
escolástico
de
investigação, segundo o historiador francês
Jacques Le Goff, privilegiava o estudo da
linguagem (o trivium) para depois passar
para o exame das coisas (o quadrivium).
Desse método surgiu a seguinte pergunta:
qual a relação entre as palavras e as coisas?
Rosa, por exemplo, é o nome de
uma flor. Quando a flor morre, a palavra
rosa continua existindo. Nesse caso, a
palavra fala de uma idéia geral. Mas como
isso acontece? O grande inspirador da
questão foi o neoplatônico Porfírio, em sua
obra Isagoge: Não tentarei enunciar se os
gêneros e as espécies existem por si
mesmos ou na pura inteligência, nem, no
caso de subsistirem, se são corpóreos ou
incorpóreos, nem se existem separados dos
objetos
sensíveis
ou
nestes
objetos,
formando parte dos mesmos.
Esse problema filosófico
gerou
muitas disputas. Era a grande discussão
sobre a existência ou não das idéias gerais,
isto
é,
os
chamados
universais
de
Aristóteles. Tal discussão ficou conhecida
como a querela ou questão dos universais.
Os nominalistas sustentavam que os
universais são palavras sem existência real.
Os realistas defendiam a concepção de que
eles existem de fato.
Pedro Abelardo, célebre por seu
amor por Heloísa, adotou uma posição
intermediária, fornecendo um modelo de
argumentação que seria bastante utilizado
pela escolástica: o confronto de duas
posições contraditórias para daí extrair uma
conclusão satisfatória.
EXERCÍCIOS
1.
(UFU-98) A relação ente as palavras,
que designam idéias e as coisas, foi um
problema filosófico que marcou a Idade
Média. Foi grande a discussão sobre a
existência real ou não daquelas palavras,
isto é, os chamados "universais". Nessa
discussão, os filósofos nominalistas
defenderam
a
posição
que
os
"universais" são:
A) Idéias gerais que só existem na mente
de Deus.
B) Apenas palavras sem existência real.
C) Nomes que Deus põe nas coisas
particulares.
D) Nomes com existência real d coisas que
já não existem.
E) Apenas os axiomas matemáticos.
2.
(UFU-99) Pedro Abelardo foi um filósofo
medieval que participou de uma acirrada
disputa filosófica no século XII. Essa
disputa centrava-se sobre
A)
B)
C)
D)
E)
A existência de Deus.
O predomínio da fé sobre a razão.
A questão da existência dos universais.
A presença do mal no mundo.
A morte da alma.
Retomando as idéias de Aristóteles
sobre o ser e o saber (ver capítulo anterior),
Tomás de Aquino enfatizou a importância da
realidade
sensorial.
No
processo
de
conhecimento dessa realidade, ressaltou
uma série de princípios considerados
básicos, dentre os quais se destacam:

Princípio de contradição: o ser é ou
não é. Não existe nada que possa
ser e não ser ao mesmo tempo e
sob o mesmo ponto de vista.

Princípio
da
substância:
na
existência
dos
seres
podemos
distinguir a substância (a essência,
propriamente dita, de uma coisa,
sem a qual ela não seria aquilo que
é) e o acidente (a qualidade nãoessencial, acessória do ser).

Princípio da causa eficiente: todos os
seres que captamos pelos sentidos
são seres contingentes, isto é, não
possuem em si próprios, a causa
eficiente
de
suas
existências.
Portanto,
para
existir,
o
ser
contingente depende de um outro
ser que representa a sua causa
eficiente: este outro ser é chamado
de ser necessário.

Princípio da finalidade: todo ser
contingente existe em função de
uma finalidade, de um objetivo, de
uma “razão de ser”. Enfim, todo ser
contingente possui uma causa final.

Princípio do ato e da potência: Todo
ser
contingente
possui
duas
dimensões: o ato e a potência. O ato
representa a existência atual do ser,
aquilo
que
está
realizado
e
determinado. A potência representa
a capacidade real do ser, aquilo que
não se realizou mas pode realizarse. É a passagem da potência para o
ato que explica toda e qualquer
mudança.
3. TOMÁS DE AQUINO:
A Cristianização de Aristóteles.
Tomás de Aquino (1225-1275)
nasceu em Nápoles, sul da Itália, e faleceu
no convento Fossanuova, próximo de sua
cidade natal, aos 49 anos de idade. É
considerado o maior filósofo da escolástica
medieval.
Foi responsável por uma extensa
obra fundamentada em Aristóteles. O
tomismo representou uma tentativa de
harmonizar
as
posições
básicas
do
cristianismo com os pressupostos ontológicos
do aristotelismo, foi considerado a base
filosófica da teologia da Igreja Católica.
Síntese entre razão e fé.
 Causa primordial - Deus Bíblico.
 Escada evolutiva: plantas animais
homens anjos  Deus.
 Visão da mulher: homem inacabado =
costela de Adão.
 Conhecimentos científicos = revelações
divinas.

Os princípios do conhecimento.
Inserida no movimento escolástico,
a filosofia de Tomás de Aquino (o tomismo)
já nasceu com objetivos claros: não
contrariar a fé. De fato, a finalidade de sua
filosofia era organizar um conjunto de
argumentos para demonstrar e defender as
revelações do cristianismo.
Assim, Tomás de Aquino reviveu em
grande parte o pensamento aristotélico com
a finalidade de nele buscar os elementos
racionais que explicassem os principais
aspectos da fé cristã. Enfim, fez da filosofia
de Aristóteles um instrumento a serviço da
religião católica, ao mesmo tempo em que
transformou essa filosofia numa síntese
original.

As provas da existência de Deus.
Em um de seus mais famosos livros,
a Suma teológica, Santo Tomás propõe cinco
provas de existência de Deus:
1ª O primeiro motor
Tudo aquilo que se move é movido
por outro ser. Por sua vez, este outro ser,
para que se mova, necessita também que
seja movido por outro ser. E, assim,
sucessivamente. Se não houvesse um
primeiro ser movente, cairíamos num
processo indefinido. Logo, conclui Tomás de
Aquino, é necessário chegar a um primeiro
ser movente que não seja movido por
nenhum outro. Esse ser é Deus.
2ª A causa eficiente
Todas as coisas existentes no mundo
não possuem em si próprias a causa
eficiente de suas existências. Devem ser
consideradas efeitos de alguma causa.
Tomás de Aquino afirma ser impossível
remontar indefinidamente à procura das
causas eficientes. Logo, é necessário admitir
a existência de uma primeira causa eficiente,
responsável pela sucessão de efeitos. Essa
causa primeira é Deus.
3ª Ser necessário e ser contingente
Este argumento é uma variante do
segundo. Afirma que todo ser contingente,
do mesmo modo que existe, pode deixar de
existir. Ora, se todas as coisas que existem
podem deixar de ser, então, alguma vez,
nada existiu. Mas, se assim fosse, também
agora nada existiria, pois aquilo que não
existe somente começa a existir em função
de algo que já existia. É preciso admitir,
então, que há um ser que sempre existiu,
um ser absolutamente necessário, que não
tenha fora de si a causa da sua existência,
mas, ao contrário, que seja a causa da
necessidade de todos os seres contingentes.
Esse ser necessário é Deus.
4ª Os graus de perfeição
Em relação à qualidade de todas as
coisas
existentes,
pode-se
afirmar
a
existência de graus diversos de perfeição.
Assim, afirmamos que tal coisa é melhor que
outra, ou mais bela, ou mais poderosa, ou
mais verdadeira etc. Ora, se uma coisa
possui “mais” ou “menos” determinada
qualidade positiva, isto supõe que deve
existir um ser com o máximo dessa
qualidade, ao nível da perfeição. Devemos
admitir, então, que existe um ser com o
máximo de bondade, de beleza, de poder, de
verdade, sendo, portanto, um ser máximo e
pleno. Esse ser é Deus.
5ª A finalidade do ser
Todas as coisas brutas, que não
possuem inteligência própria, existem na
natureza cumprindo uma função, um
objetivo, uma finalidade, semelhante à
flecha dirigida pelo arqueiro. Devemos
admitir, então, que existe algum ser
inteligente que dirige todas as coisas da
natureza para que cumpram seu objetivo.
Esse ser é Deus.
Proclamado pela Igreja católica
como o Doutor Angélico e o Doutor por
Excelência,
Tomás
de
Aquino
é
permanentemente reverenciado nos meios
católicos pelos filósofos e professores de
filosofia. Nesse sentido, o pensador católico
Jacques Maritain escreveu sobre ele:
Não só transportou para o domínio
do pensamento cristão a filosofia de
Aristóteles na sua integridade, para fazer
dela o instrumento de uma síntese teológica
admirável, como também e ao mesmo
tempo superelevou e, por assim dizer,
transfigurou essa filosofia. Purificou-a de
todo vestígio de erro (...) sistematizou-a
poderosa
e
harmoniosamente,
aprofundando-lhe os princípios, destacando
as conclusões, alargando os horizontes, e se
nada
cortou,
muito
acrescentou,
enriquecendo-a com o imenso tesouro da
tradição latina e cristã.
Por outro lado, filósofos não-cristãos
como Bertrand Russell questionam os
méritos filosóficos de Tomás de Aquino,
considerando-os insuficientes para justificar
sua imensa reputação. Diz Russell.
Há pouco do verdadeiro espírito
filosófico em Aquino (....) Não está
empenhado numa pesquisa cujo resultado
não possa ser conhecido de antemão. Antes
de começar a filosofar, ele já conhece a
verdade; está declarada na fé católica. Se,
aparentemente,
consegue
encontrar
argumentos racionais para algumas partes
da fé, tanto melhor; se não, basta-lhe voltar
de novo à revelação.
A descoberta de argumentos para uma
conclusão dada de antemão não é filosofia,
mas uma alegação especial. Não posso,
portanto, admitir que mereça ser colocado
no mesmo nível que os melhores filósofos da
Grécia ou dos tempos modernos.
Em que pese essa discordância de
opiniões sobre a genialidade de Tomás de
Aquino,
é
praticamente
unânime
o
reconhecimento de que sua obra filosófica
representou o apogeu do pensamento
medieval
católico.
Tal
pensamento,
entretanto, foi sendo progressivamente
questionado pelos movimentos filosóficos
que se desenvolveram na Renascença e na
Idade Moderna.
CONCEITOS-CHAVE

Santo Agostinho: sua obra pertence à
patrística (textos dos primeiros grandes
Padres da Igreja). Seu pensamento
reflete os principais passos de sua
trajetória intelectual, marcada pelo
maniqueísmo,
o
ceticismo,
o
neoplatonismo
e,
finalmente,
o
cristianismo, que predominou sobre as
fases anteriores. Defendeu as idéias de
que: “o mal é o afastamento de Deus”,
somente o íntimo da alma, iluminada por
Deus, pode atingir a verdade das coisas;
a alma deve reinar sobre o corpo; nem
todos os homens estão predestinados à
salvação.

Santo Tomás de Aquino: sua obra
pertence à escolástica e tem como
problemática fundamental a busca de
harmonização entre fé cristã e razão.
Reviveu a filosofia de Aristóteles,
utilizando-a como instrumento a serviço
da religião católica. No processo de
conhecimento da realidade, enfatizou a
importância
dos
dados
sensoriais.
Reafirmou os princípios de contradição,
substância, causa eficiente, causa final,
ato
e
potência.
Elaborou
cinco
argumentos para provar a existência de
Deus.
D) A filosofia tem pontos que entram em
contradição com a religião e isto deve
ser respeitado.
E) Razão e fé caminham lado a lado no
processo de conhecimento, sendo a fé
subordinada à razão.
3.
(UFU-99) O filósofo grego que maior
influência exerceu sobre Santo Tomás de
Aquino foi
Alquimia - perseguição pela Santa
Inquisição.
Árabes - várias contribuições.
Censura e autoritarismo da igreja.
Declínio cultural - mil anos de trevas.
A)
B)
C)
D)
E)
Platão.
Aristóteles.
Sócrates.
Heráclito.
Parmênides.
Obras
 Confissões - Santo Agostinho
 De Magistro - Santo Agostinho
 Suma Teológica - Santo Tomás de
Aquino
 Compêndio de Teologia - Santo Tomás
de Aquino
 Súmula contra os gentios - São Tomás
de Aquino
4.
A respeito da Filosofia Medieval, pode-se
afirmar:
I.
Um
tema
central
dentro
da
escolástica foi a questão dos
universais, onde havia três posições
diferentes: realista, nominalista e
conceptualista.
Aquino apresenta três provas da
existência de Deus, segundo a teoria
platônica.
Agostinho é materialista e proclama
a supremacia da fé, dando pouca
importância para a compreensão
racional.
Primeiro motor, causa eficiente, ser
necessário, entre outros, são alguns
conceitos filosóficos que confirmam
verdades teológicas.
Outros aspectos




II.
EXERCÍCIOS
1.
(UFU-98)
Assinale
a
alternativa
VERDADEIRA no que se refere ao
tomismo.
A) Não há conflito entre razão e fé, pois a
fé ultrapassa os limites de julgamento da
razão.
B) A fé sempre deve prevalecer sobre a
razão, porque Deus assim o estabelece.
C) Somente as verdades filosóficas são
suficientes para julgar as verdades da
religião.
D) Quando o homem alcançar a revelação
das verdades religiosas, haverá o
predomínio da razão.
E) S. Tomas de Aquino despreza as
verdades da filosofia, preocupando-se
somente com as verdades da teologia.
2.
III.
IV.
Assinale:
A)
B)
C)
D)
E)
Se
Se
Se
Se
Se
5.
(UFU-98) "A criação das coisas por parte
de Deus é a melhor, pois é próprio de
quem é o melhor fazer tudo da melhor
maneira. Ora, é melhor fazer uma coisa
em vista de um fim do que fazê-la sem
visar a uma finalidade. Por conseguinte,
Deus fez as coisas com vistas a uma
meta".
“(...) Deus não pode infundir no homem
opiniões ou uma fé que vão contra os
dados do conhecimento adquiridos pela
razão natural” (São Tómas de Aquino,
Súmula
contra
os
gentios.
Os
pensadores, São Paulo, Abril Cultural,
1973, p. 70). De acordo com essa
citação, podemos afirmar a respeito do
tomismo:
A) Razão e fé devem ser complementares;
não há contradição entre ambas.
B) As verdades religiosas devem ser
formuladas para reforçar as verdades
filosóficas.
C) A idéia de que Deus é um ser racional
nos leva a ter fé nas verdades da razão.
I e II estiverem corretas
II e III estiverem corretas
I e IV estiverem corretas
I, III e IV estiverem corretas.
II, III e IV estiverem corretas.
Esse argumento da finalidade das coisas
é freqüente no pensamento de Tomás de
Aquino. Explique como Tomás de Aquino
utiliza-o para provar a existência divina.
6.
“Se é verdade que a verdade da fé cristã
ultrapassa as capacidades da razão
humana, nem por isso os princípios
inatos naturalmente à razão podem
estar em contradição com esta verdade
sobrenatural”.
(Santo Tomás de Aquino, Súmula contra
os gentios, Os Pensadores, São Paulo,
Abril Cultural, 1973, p. 70.)
Discuta a necessidade de se relacionar
razão e fé durante a idade média de
acordo com o pensamento de Santo
Tomás de Aquino.
O CONHECIMENTO:
CONHECIMENTO
A
TEORIA
DO
Renascimento: Período de transição século
XV e XVII
Apogeu cultural - grande produção artística e
cultural.
Renascimento significa “nascer de
novo”. Com a desestruturação da unidade
cristã, filosofia e ciência começaram a se
libertar da teologia. Sendo assim, a arte e a
cultura da Antigüidade voltam a nascer de
novo. O homem se torna livre para criar
produções artísticas e culturais sem a
censura da Igreja. Destacam-se nesse
período:
Humanismo - nova visão do homem - nova
concepção de vida.
Depois da longa Idade Média, que
via todos os aspectos da vida a partir de um
prisma divino, o homem volta a ocupar o
centro de tudo. A laicização do saber, da
moral, da política é estimulada pela
capacidade de livre exame. O homem passa
a ser visto agora como algo infinitamente
grandioso e valioso. O homem não existe
apenas para servir a Deus, mas também
para ser ele próprio.
monetária
Nova visão da natureza.
A natureza passou a ser vista como
algo positivo. Não havia mais na Idade
Média, um abismo intransponível entre Deus
e sua criação. A natureza podia ser vista
como algo divino, um “desdobramento de
Deus”. Deus estava presente em sua criação.
Novo método científico - Experimentação.
Introdução:
Economia
burguesia.
repressão a qualquer tipo de pensamento
não-religioso, como fora a Santa Inquisição.
-
ascensão
da
O princípio vigente agora era o de
que a investigação da natureza devia se
construir fundamentalmente na observação,
na experimentação e nos experimentos.
Surge o método empírico, baseado em
experimentos sistemáticos. Galileu Galilei
será um dos cientistas mais importantes do
século XVII.
Idade Moderna: Século XVII a XVIII
Quebra da ordem cósmica.
A substituição da teoria geocêntrica
pela teoria heliocêntrica, não só retirou a
terra do centro do universo, mas também
esfacelou uma construção estética que
ordenava os espaços. A descoberta da Via
Láctea contrapôs, a um mundo fechado e
finito, a idéia da infinitude do céu. Pascal,
pensador racionalista, vai dizer: “O silêncio
desses espaços infinitos me apavora”.
Modo de produção - capitalismo.
O valor do novo homem que surge
se encontra mais família ou linhagem, mas
no prestígio resultante do seu esforço e
capacidade de trabalho. A classe ociosa,
opõe-se o valor do trabalho, a riqueza
baseada em terras, opõe-se o valor da
moeda, dos metais preciosos, da produção
manufatureira em crescimento, da procura
de outras terras e mercados.
Nesta época, houve uma transição
da economia à base de troca para a
economia monetária. No final da Idade
Média, havia cidades de comércio intenso e
de comerciantes experientes, com economia
de base monetária e sistema bancário. Desta
forma, surgiu uma burguesia que havia
conquistado
certa
independência
com
referência às necessidades vitais básicas. O
que se precisa para viver comprava-se agora
com dinheiro.
Valorização do trabalho.
Queda do poder da igreja.
Ciência - técnica / dominação da natureza.
A igreja deixa de ter o poder
ideológico que aplicava durante a Idade
Média, onde havia criado aparelhos de
Os inventos e descobertas desse
período são inseparáveis da ciência, já que,
para o desenvolvimento da indústria, a
burguesia necessitava de uma ciência que
Durante a Antigüidade, o modo de
produção
era
escravista,
sendo
desvalorizado o trabalho manual, ofício de
escravos. Na Idade Média, os servos são
responsáveis pelo trabalho produtivo, o qual
também é desvalorizado. Agora, a burguesia
ascendendo ao poder através de seu
trabalho, vai fazer com que este seja
valorizado.
investigasse as forças da natureza para,
dominando-as, usá-las em seu benefício.
A QUESTÃO DO CONHECIMENTO
Como se dá o conhecimento?
A revolução científica determinou a
quebra
do
modelo
de
inteligibilidade
apresentada pelo aristotelismo, o que
provocou nos novos pensadores, o receio de
enganar-se novamente. À procura da
maneira de evitar o erro faz surgir a principal
característica do pensamento moderno: a
questão do método.
Relação sujeito / objeto.
Há dois pólos no processo do
conhecimento: o sujeito cognoscente (que é
o sujeito que conhece) e o objeto conhecido.
Quando o pensamento que o sujeito tem do
objeto concorda com o objeto, dá-se o
conhecimento. Mas qual é o critério para se
ter certeza de que o pensamento concorda
com o objeto? As teorias do conhecimento
vão tentar estabelecer os critérios de que se
pode valer o homem para ver se um
conhecimento é ou não verdadeiro.
Racionalismo / Empirismo.
As soluções apresentadas a essas
questões vão originar duas correntes, o
racionalismo e o empirismo.
Sistema filosófico - método da dúvida.
Descartes estabelece um sistema
filosófico ao converter a dúvida em método.
Duvida de tudo: das afirmações do senso
comum, dos argumentos da autoridade, do
testemunho dos sentidos, das infirmações da
consciência, das verdades deduzidas pelo
raciocínio, da realidade do mundo exterior e
da realidade do próprio corpo.
Primeira verdade racional - “Cogito, ergo
sum” - “Penso, logo existo”.
Descartes só interrompe essa cadeia
de dúvidas diante do seu próprio ser que
duvida. Se duvido, penso; se penso, existo.
“Cogito, ergo sum”, “Penso, logo existo”. Eis
o ponto de partida para a construção de todo
o seu pensamento. Essa intuição primeira é
indubitável.
Existência de Deus - comprovação racional.
Descartes usa a prova ontológica da
existência de Deus. O pensamento deste
objeto é a idéia de um ser perfeito. Se um
ser é perfeito, deve ter a perfeição da
existência, senão lhe faltaria algo para ser
perfeito. Portanto ele existe.
O mundo - duas realidades
substância pensante (Res Cogitans)
substância material (Res Extensa)

Dualismo Psicofísico
Mente X Corpo
1. Descartes:
René Descartes (1596 - 1650)
representa o expoente máximo da tendência
racionalista. É considerado o “pai da filosofia
moderna”. Ao se preocupar com o problema
do conhecimento, busca uma verdade
primeira que não possa ser colocada em
dúvida.
Várias viagens.
Nasce na França, pertencendo a uma
família de prósperos burgueses. Estudou em
colégio jesuíta. Excetuando a aprendizagem
que fez da matemática, decepcionou-se com
a educação jesuíta. Ingressando na carreira
militar, mudando-se para Holanda. Viajou
por vários países europeus, estabelecendo
contatos com vários sábios de seu tempo.
Primeira preocupação - conhecimento seguro
através da razão.
Descartes não se conformava com a
opinião dos céticos, e então preocupa-se
com um método exato e seguro para a
reflexão filosófica.

A dúvida e o cogito.
Se Deus existe e é infinitamente
perfeito, não se engana. A existência de
Deus é garantia de que os objetos pensados
por idéias claras e distintas são reais.
Portanto, o mundo tem realidade. E dentre
as coisas do mundo, o meu próprio corpo
existe. O que caracteriza a natureza do
mundo é a matéria e o movimento (res
extensa), em oposição à natureza espiritual
do pensamento (res cogitans). Estabelece-se
o caráter originário do cogito como
autoevidência do sujeito pensante e princípio
de todas as evidências. Acentua-se o caráter
absoluto e universal da razão que, partindo
do cogito, só com suas próprias forças pode
chegar a descobrir todas as verdades
possíveis. Daí a importância de um método
de pensamento que garanta que as imagens
mentais, ou representações da razão,
correspondam aos objetos a que se referem
e que são exteriores a essa mesma razão.
Estabelecem-se dois domínios diferentes: o
corpo, objeto de estudo da ciência, e a
mente, objeto apenas da reflexão filosófica.

As regras do método.
Da sua obra discurso do método,
podemos extrair quatro regras básicas,
consideradas por Descartes capazes de
conduzir o espírito na busca da verdade:





Regra da evidência: só aceitar algo
como verdadeiro, desde que seja
absolutamente evidente por sua
clareza e distinção.
Regra da análise: dividir cada uma
das dificuldades surgidas em tantas
partes quantas forem necessárias
para resolvê-las melhor.
Regra da síntese: ordenar o
raciocínio
dos
problemas
mais
simples para os mais complexos.
Regra da enumeração: realizar
verificações completas e gerais para
se ter absoluta segurança de que
nenhum aspecto do problema foi
omitido.
As idéias inatas.
Descartes procura distinguir as
idéias claras e distintas das idéias duvidosas
e confusas.
Matematização do conhecimento.
A partir do século XVII, passa-se a
buscar o ideal matemático. Isso não significa
aplicar a matemática no conhecimento do
mundo,
mas
usar
o
seu
tipo
de
conhecimento, que é completo, inteiramente
dominado pela inteligência e baseado na
ordem e na medida, permitindo estabelecer
cadeias de razões.
Obras:
Discurso do método e Meditações metafísicas
Outros racionalistas:
Espinosa, Leibniz, Malebranche, Pascal.
EXERCÍCIOS
1.
Assinale a alternativa INCORRETA:
O racionalismo cartesiano constitui uma
tendência filosófica onde:
A) Pensamento é o princípio básico para se
chegar ao conhecimento.
B) Existem
idéias
inatas,
as
quais
independem
do
testemunho
dos
sentidos.
C) A existência de Deus pode ser
comprovada através da razão.
D) As certezas em relação ao conhecimento
são decorrentes do hábito.
E) Existe um dualismo psicofísico em
relação ao homem, pois este possui uma
substância pensante e uma substância
material.
2.
(UFU-97)
Assinale
INCORRETA.
a
alternativa
O
caminho
para
se
chegar
ao
conhecimento, segundo Descartes, está
relacionado à necessidade de:
A) Utilizar um método para bem conduzir
suas idéias.
B) Iniciar pelas idéias mais simples e pouco
a pouco conceber as idéias mais
complexas.
C) Examinar as impressões sensíveis acerca
dos fenômenos do mundo, e concluir por
sua realidade.
D) Começar por duvidar de tudo para
perceber a realidade do pensamento.
E) Perceber que as impressões sensíveis
são enganosas, e procurar as verdades
primeiras através de uma via segura
para razão.
3.
(UFU-97)
CORRETA:
Escolha
a
alternativa
“Enfim, considerando que todos os
mesmos
pensamentos
que
temos
quando despertos nos podem também
ocorrer quando dormimos, sem que haja
nenhum,
nesse
caso,
que
seja
verdadeiro, resolvi fazer de conta que
todas as coisas que até então haviam
entrado no meu espírito não eram mais
verdadeiras que as ilusões de meus
sonhos. Mas logo em seguida, adverti
que, enquanto eu queria assim pensar
que
tudo
era
falso,
cumpria
necessariamente que eu, que pensava,
fosse alguma coisa.”
(René Descartes, Discurso do método.
São Paulo: Abril Cultural, 1973.)
De acordo com a citação
Descartes quis afirmar que:
acima,
A) O cogito nada mais é que a convicção
que
tenho
através
das
minhas
percepções.
B) A realidade e os sonhos são da mesma
natureza e, portanto, as idéias são
sempre verdadeiras, independente do
estado de vigília do espírito.
C) O fato de se poder duvidar de tudo
oferece uma primeira idéia clara e
distinta que é a certeza de que o sujeito,
que pensa, existe verdadeiramente.
D) As sensações e as ilusões dos sonhos
são todas elas verdadeiras e conferem
certeza ao conhecimento.
E) O duvidar é perfeição maior que o
conhecer; este é o argumento que os
céticos usam ao defender que não existe
idéia clara e distinta.
4.
(UFU-97) "Mas, logo em seguida, adverti
que, enquanto eu queria assim pensar
que
tudo
era
falso,
cumpria
necessariamente que eu, que pensava,
fosse alguma coisa. E, notando que esta
verdade; eu penso, logo existo, era tão
firme e tão certa que todas as mais
extravagantes suposições dos céticos
não seriam capazes de abalar, julguei
que podia aceitá-la, sem escrúpulo,
como o primeiro princípio da Filosofia
que procurava."
(René Descartes, O discurso do método,
S. Paulo, Difel, 1962)
Explique a importância do pensamento
para Descartes a partir de "eu penso, logo
existo."
5.
(UFU-98) “Assim, porque os nossos
sentidos nos enganam às vezes, quis
supor que não havia coisa alguma que
fosse tal como eles nos fazem
imaginar.”.
(René Descartes, Discurso do método, S.
Paulo, Difel, 1962).
Uma
das
grandes
novidades
do
pensamento cartesiano consiste na
proposta de um “método de conhecer” a dúvida metódica. Explique em que
consiste este método.
2. HUME:
Introdução:
David Hume (1711-1776), filósofo
escocês, leva mais adiante o empirismo de
Francis bacon e Locke. A sua filosofia é
considerada ainda hoje a mais importante
filosofia empírica. Hume sentia “uma
insuperável aversão a tudo, menos à filosofia
e a erudição”.
Doutrina
divina
ou
fantasmagoria e ilusão
metafísica
-
Partindo do princípio de que só os
fenômenos são observáveis e de que o
mecanismo íntimo do real não é passível de
experiência, afirma que as relações são
exteriores aos seus termos, ou seja, se não
são observáveis, não podem pertencer aos
objetos. Como empírico Hume considerava
sua tarefa eliminar todos os conceitos
obscuros e os raciocínios intricados criados
até então. Naquela época, circulavam por
escrito e oralmente toda a sorte de antigos
resquícios de concepções medievais e
conceitos das filosofias racionalistas do
século XVII. Para ele, nenhuma filosofia que
não aquela a que chegamos pela reflexão de
nosso cotidiano seria capaz de nos conduzir
para além dessas mesmas experiências
cotidianas. O raciocínio que não fosse sobre
fatos e sobre a vida e baseado em
experiências seria considerado ilusão e
fantasmagoria.

A origem das idéias.
Impressões:
percepção
imediata
da
realidade exterior (original)
Idéias: lembrança da impressão (cópia)
Simples.
Complexas: podem levar à noções
falsas
Deus - idéia complexa (Hume - agnóstico)
Digamos que Deus, para nós, é uma
criatura infinitamente inteligente, sábia e
boa. Temos aí, portanto, uma noção
complexa formada por algo infinitamente
sábio,
infinitamente
inteligente
e
infinitamente bom. Se nunca tivéssemos
experimentado a inteligência, a sabedoria e
a bondade, não poderíamos ter tal conceito
de Deus. E pode ser também que nossa
imagem de Deus nos fale de um pai severo,
mas justo. Quer dizer, outra noção complexa
composta por “severo” , “justo” e “pai”.
Portando, Hume que atacar tudo e qualquer
pensamento ou idéia que não possa ser
atribuído
a
uma
impressão
sensorial
correspondente.
Noção de eu - idéia complexa
Para Hume, a sensação de que
nossa personalidade possui um núcleo
constante seria falsa. Nossa noção de eu
compõe-se, na verdade, de uma longa
cadeia de impressões isoladas, que nunca
conseguimos vivenciar simultaneamente.

Hábito - crenças formadas a partir de
experiências repetidas
Leis imutáveis da natureza
Lei de causa e efeito
Quando Hume aborda a questão da
força do hábito, ele se concentra na
chamada lei da causa. Segundo esta lei tudo
o que acontece precisa ter uma causa, não
esquecendo que só podemos ter certeza
daquilo
que
experimentamos.
Quando
falamos de “leis da natureza” ou de “causa e
efeito” estamos falando na verdade de
hábitos humanos e não de algo racional.
Para Hume, o que observamos é a
sucessão de fatos ou a seqüência de
eventos, e não o nexo causal entre esses
mesmos fatos ou eventos. O que nos faz
ultrapassar o dado e afirmar mais do que
pode ser alcançado pela experiência é o
hábito criado através da observação de
casos
semelhantes.
A
partir
deles,
imaginamos que o fato atual se comportará
de forma análoga. As relações são simples
modos que o homem tem de passar de um
objeto a outro, de um termo a outro, de uma
idéia particular a outra. São apenas
passagens externas que nos permitem
associar os termos a partir dos princípios de
causalidade, semelhança e contigüidade.
As leis da natureza não são racionais
nem irracionais. Elas simplesmente são. O
mundo
é
como
é
e
nós
vamos
experimentando isto pouco a pouco.
Ética e moral - sentimento
Hume se opôs ao pensamento
racionalista. Os racionalistas consideravam
uma qualidade inata da razão humana o fato
de ela poder distinguir entre certo e errado.
Esta idéia do chamado direito natural nós já
a encontramos em muitos filósofos, de
Sócrates a Locke. Mas Hume não acredita
que a razão determina o que dizemos e
fazemos, e sim os sentimentos. Segundo ele,
todos nós temos um sentimento acerca do
bem-estar e do mal-estar dos outros.
Temos, portanto, a capacidade de sentir
compaixão pelos outros. Mas nada disso tem
a ver com a razão.
Obra: Tratado sobre a natureza humana.
Outros empiristas: John Locke, Francis
Bacon, Thomas Hobbes, George Berkeley.
EXERCÍCIOS
1.
Assinale a alternativa CORRETA:
A questão do conhecimento no início do
século XVII d.C. é marcada pelo embate
filosófico entre o racionalismo e o
empirismo. Podemos destacar como
representantes da tendência empirista:
IV.
sensíveis, porque nenhuma idéia
possui esse grau de universalidade.
As impressões são a única fonte do
conhecimento, e a validade das
idéias é determinada a partir das
impressões que lhes deram origem.
Assinale:
A) Se apenas I e II estiverem corretas.
B) Se apenas I, II e IV estiverem corretas.
C) Se apenas II, III e IV estiverem
corretas.
D) Se apenas I, II e IV estiverem corretas.
E) Se apenas I, II e III estiverem corretas.
4.
(UFU-98) A idéia de causalidade, ou
seja, a idéia de estabelecer relações de
causa
e
efeito
entre
os
vários
fenômenos, para o filósofo David Hume,
constitui-se:
A) No exame de todas as possibilidades de
vínculo
entre
os
vários
eventos
observáveis.
B) Na antecedência de um fato sobre o
outro, que considera um como causa e o
outro como efeito.
C) No hábito que nossa mente adquire de
considerar um fato conseqüente do
outro, baseando-se nas percepções e
impressões sucessivas.
D) Na forma como o cientista considera a
temporalidade dos fatos envolvidos.
E) No resultado de estudos sobre a
finalidade das idéias inatas de nossa
mente e sua integração como o meio
ambiente.
5.
A)
B)
C)
D)
E)
Descartes, Locke e Hume.
Bacon, Hume e Leibniz.
Locke, Leibniz e Espinosa.
Locke, Bacon e Hume.
Hobbes, Locke e Rousseau.
2.
David Hume, filósofo empirista, derrubou
as bases da metafísica racionalista, ao
afirmar que as certezas absolutas eram
decorrência de:
A)
B)
C)
D)
E)
indução
hábito
silogismo
idéias
intuição
3.
(UFU-97)
Acerca
do
conhecimento
segundo Hume, pode-se considerar que:
I.
As idéias são inatas e, portanto, o
conhecimento dedutivo é válido.
A crença é a única hipótese para o
conhecimento de leis gerais sobre o
mundo.
Não existe conhecimento absoluto e
necessário a partir dos fenômenos
II.
III.
(UFU-97) “Todos admitirão sem hesitar
que existe uma considerável diferença
entre as percepções da mente quando o
homem sente a dor de um calor
excessivo ou o prazer de um ar
moderado tépido e quando relembra
mais tarde essa sensação ou a antecipa
pela imaginação.”.
(David Hume, Investigação sobre o
entendimento humano, S. Paulo, Abril).
O texto acima se refere a dois conceitos
fundamentais para a questão do
conhecimento,
segundo
Hume:
as
impressões e as idéias. Explique-os.
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