Boletim Económico N.8 REPuBlICA DEMOCRAtICA DE SAO tOME E PRInCIPE MInIStERIO DE PlAnO E DESEnvOlvIMEntO 2º Semestre 2011 Com referência ao ano de 2011 O CIAD - Centro de Investigação e de Análise de Políticas para o Desenvolvimento, órgão autónomo de consulta do Governo, criado através do Decreto n.º 51/2006 e As entrado em funcionamento em actividades do 2007, tutelado pelo Ministério CIAD, nestes quatro anos, foram concretizadas através de responsável pela área do realização de cerca de 23 Planeamento, cuja natureza estudos/trabalhos de investigação e/ou visa apoiar os decisores na reflexão de apoio à tomada de decisão, 20 tomada de decisão em acções de formação de curta duração, com matéria de política uma carga horária de 40horas/formação, económica, na envolvendo mais de 700 participantes dos mais capacitação de quadros variados sectores da vida nacional, e trabalhos de aconselhamento ao Governo e Assembleia Nacional, nacionais para uma que abrangeram as áreas de i) análise e gestão da melhor gestão e política económica; ii) administração e gestão públicas; implementação das iii) gestão financeira e administração e iv) apoio diferentes políticas de parlamentar. desenvolvimento e Os trabalhos realizados neste período e os resultados redução da pobreza, alcançados demonstram alguma contribuição dada pelo CIAD ao País, no âmbito da melhoria da boa completou quatro anos do exercício das governação económica em S. Tomé e Príncipe e da redução da pobreza. suas atividades em Finda esta etapa, o ano de 2012 será um ano, em que 2011. Este marco, o CIAD deverá se dedicar aos trabalhos visando a sua considerado como o reorganização e a renovação/busca de patrocinadores e parcerias que respondam a fim de um ciclo do funcionamento do CIAD, dinâmica que os novos desafios impõem, continuando a desenvolver no entanto que culminou também actividades enquadradas nas suas com o término do competências e capacidades. financiamento do seu principal patrocinador, ACBF Fundação Africana para o Reforço das Capacidades - em 31 de Dezembro de 2011. É deveras importante aproveitar este quadro para apresentar sintetizadamente o balanço das atividades desenvolvidas pelo CIAD ao longo deste ciclo, tirando lições de aprendizagem que se adaptem aos novos desafios, no quadro do estabelecimento próximo ciclo. Pag. 2 Evolução recente da economia Internacional É já mais que evidente que a crise financeira internacional iniciada em 2007, que se transformou numa crise económica, social e política, ... Evolução recente da economia Nacional ... as autoridades vêm envidando esforços... com vista a garantir a estabilidade macroeconómica e a criação de ambiente favorável à atracção de investimentos... Assim, em 2010 e 2011, registou-se uma tendência inversa... Pag.8 Perspectivas para 2012 no plano internacional a recuperação da economia mundial será ainda lenta em 2012... no que concerne ao continente africano, a projeção aponta um crescimento acima dos 5%... Com respeito à economia nacional espera-se poder seguir a mesma tendência da região. Boletim económico Órgão de divulgação do CIAD Centro de Investigação e de Análise de Políticas para o Desenvolvimento SeDe Largo das Alfandegas Tel.: 2139-5700 Fax.: 2240-5625 e-mail: [email protected] www.min-financas.st/ciad DiRectoR/eDitoR Adelino Castelo David colaBoRaDoReS DilsonTiny Valdemiro Afonso PRoJeto GRÁFico Nilton Doria [email protected] tiRaGem 100 exemplares imPReSSao Xfile Conjuntura económica InternacIonal BOlETIM ECONóMICO - N.º 8 - 2º Semestre 2011 É É já mais que evidente que a crise financeira internacional iniciada em 2007, que se transformou numa crise económica, social e política, deixando o mundo cada vez mais perplexo, aparentava ser algo ligeiro e transitório, cuja solução seria imediatamente encontrada, mas tornou-se entretanto um calvário para as grandes economias – com altas taxas de desemprego e a austeridade fiscal cada vez mais drástica -, particularmente as europeias e a de Estados Unidos da América. Este facto que, não obstante os esforços que os decisores dessas economias vêm desencadeando ao longo de todo este tempo para debelar o fenómeno da crise e poder proporcionar uma recuperação económica mais rápida e sustentada, vem sendo assinalado com a persistência permanente dessa mesma crise, gerando expectativas de incertezas ainda maiores, com a indução a depressões ou recuperações muito lentas, obrigando, por conseguinte, que essas economias revejam permanentemente as suas previsões macroeconómicas, ora em baixa ou em alta, quando é o caso, mas timidamente. Não obstante a situação dramática que as economias atrás referidas, de uma forma geral, estão vivendo – queda de procura e recuperação económica muito lenta – regista-se o contrário nas economias em desenvolvimento, conforme demonstra as publicações das organizações, tais como FMI, OCDE, ONU, etc. Assim, a mais recente publicação das Nações Unidas sobre a Situação Económica Mundial e as Perspetivas aponta que a economia mundial, em 2011, dever-se-á ter expandido em 3,1 % e crescerá, 3,5 %, em 2012, valor considerado estar muito aquém do desejado para poder recuperar os empregos perdidos devido a crise. No entanto, a perspectiva apresentada acima pode ainda ser mais sombria se associada a riscos de deterioração, caso a cooperação entre as principais economias com vista a encontrar uma solução mais adequada para fazer face a crise enfraqueça, facto que debilitará a eficácia das respostas para a crise, como situações de alguma descoordenação ocorridas - no caso da política monetária - que transformaram numa fonte de turbulência e incerteza nos mercados financeiros. O relatório da ONU já acima referido adianta que a economia dos Estados Unidos, cujo ritmo de recuperação tem sido moderado, mas ainda fraco considerando a experiência do país pós recessão, registando um crescimento de 2,6 % em 2010, que cai ligeiramente para 2,2 % em 2011, e seguida da perspectiva de uma ligeira melhoria para 2,8 % em 2012. As perspectivas de crescimento para a Europa e Japão são ainda mais baixas, com a zona Euro a ter uma estagnação do crescimento do PIB, cujo valor em 2010 foi de 1,6%, devendo situar-se em torno de 1,3% em 2011, com a previsão para 1,7% em 2012, não obstante a Alemanha 2 - www.min-financas.st/ciad poder ter uma recuperação moderada. Esse ritmo de crescimento é a demonstração clara que não vai, pelo menos a curto prazo, poder contribuir muito para a recuperação de empregos perdidos. Países como a Grécia, Espanha e Portugal - cuja situação da dívida soberana é motivo de preocupação, a procura interna vem diminuindo devido à política fiscal cada vez mais restritiva e o nível de desemprego cada vez mais elevado, terão um crescimento ainda menor, ao ponto de, no curto prazo, permanecer em recessão ou estagnação. A economia japonesa que conhecia inicialmente uma forte recuperação, impulsionada pelo crescimento das exportações líquidas, poderá crescer apenas em 1,1 % em 2011 e 1,4% em 2012, continuando com uma certa hesitação observada ao longo de 2010, resultante da deflação persistente e dívida pública elevada, não obstante esta ser interna e de curto prazo. No que concerne ao continente asiático em desenvolvimento, em que a China e a Índia vêm liderando, o desempenho de um crescimento económico forte deverá continuar, mas também algo moderado, com a expectativa de atingir uma taxa de crescimento em torno dos 7% nos anos de 2011 e 2012. Com respeito ao continente africano, a publicação “Regional Economic Outlook” do FMI, de Outubro de 2011, salienta que a expectativa para a maioria das economias da África subsaariana é de um crescimento acima dos 5 % em 2011, provocado principalmente pela forte procura e os elevados preços das comodities. No entanto, torna-se necessário realçar que essa recuperação parece estar ainda muito abaixo do potencial que a África dispõe, uma vez que as condições são muito variadas de região para região. Pois, enquanto, por exemplo, a zona do SADC está mostrando um forte crescimento, muitos outros países mais pobres, particularmente as da zona do Sahel, têm sofrido problemas de seca e de insegurança, proporcionando o aumento da fome com prejuízos enormes em termos de recuperação económica. nacIonal Apreciação global A ocorrência de choques exógenos, que começara primeiramente com o aumento dos preços de bens alimentares e do petróleo seguido da eclosão da crise financeira que veio desembocar numa recessão económica mundial, mostrou nitidamente quão frágil é a economia santomense, registando a desaceleração da nossa economia, com a taxa de crescimento económico a cair de 6% em 2008 para 4% em 2009. A fim de fazer face à esta crise e impulsionar mais a economia, as autoridades - com o apoio dos parceiros de desenvolvimento - vêm envidando esforços continuados, implementando medidas de reformas com vista a garantir a estabilidade macroeconómica e a criação de ambiente favorável à atracção de investimentos e, daí, a criação Conjuntura eConómiCa - naCional Produção Antes de tudo, é importante salientar que o Instituto Nacional de Estatística procedeu em 2010 a atualização do cálculo do PIB, considerando 2008 como o ano base. Assim sendo, doravante todos os indicadores relacionados ao PIB terão em conta esta atualização. O crescimento estimativo do PIB de 4,9% em 2011 contra os 4,5% do período homólogo (cf. Gráfico 1) demonstra-nos como a produção nacional cresceu, não obstante a conjuntura económica e financeira internacional desfavorável, que influenciou negativamente a entrada do investimento externo directo estrangeiro no País. O investimento público, o comércio e serviços tiveram um contributo bastante significativo neste crescimento, sobretudo no sector da construção e comércio. GráfICo 1: Evolução do PIB (1999-2011) Fonte: INE STP Inflação A tendência da inflação nacional tem sido decrescente desde há cinco anos (cf. gráfico 2), tendo registado 27,4% em Dezembro de 2007, 12,9% em 2010 e 11,9 % no período em análise, segundo os dados do Instituto Nacional da Estatística. A diminuição da taxa de inflação registada em 2011 em relação a 2010 deveu-se, num primeiro momento - como fora já atrás referido - ao impacto do estabelecimento da paridade fixa da moeda nacional “Dobra” em relação ao Euro, que entrou em vigor no primeiro no primeiro dia de Janeiro de 2010 e o resultado da consolidação fiscal que gradualmente vem-se observando. E, num segundo momento, a conjuntura internacional marcada pelo abrandamento da economia mundial acompanhado da diminuição da inflação. GráfICo 2: TAxA dE INflAção ANuAl Fonte: INE STP Torna-se necessário referir que a implementação do novo regime cambial, por si só, sem a implementação concertada com outras medidas de políticas, não é suficiente para garantir a estabilidade dos preços, A leitura do gráfico 3 a seguir mostra que os preços ao consumidor conheceram aumentos substanciais durante os primeiros quatro meses de 2011, com um pico de 2,3% em Abril, para depois se observar uma inversão do comportamento desse indicador nos três meses seguintes, com o mês de Julho a registar o valor mais baixo (0,2%). No entanto, a partir de Agosto, voltou-se a registar tendências inflacionistas com um pico de 1,8% em Dezembro, não obstante ter-se registado quedas ligeiras deste indicador nos meses de Setembro e Outubro. Em 2010, este indicador teve uma tendência decrescente de Janeiro a Maio, momento em que voltou a subir, até atingir um pico de 1,6% em Julho, tendência que se manteve BOlETIM ECONóMICO - N.º 8 - 2º Semestre 2011 de empregos, facto cujos sinais positivos começaram a se manifestar desde 2010, tornando mais visível em 2011. Assim, em 2010 e 2011, registou-se uma tendência inversa, com a economia a crescer na ordem dos 4,5% e 4,9% respetivamente. A inflação vem caindo há cinco anos consecutivos, passando de 27,4% em 2007 para 11,9% em 2011. O défice fiscal, em especial o défice fiscal primário, vem conhecendo também uma redução gradual em dois anos consecutivos, tendo atingido 3,4% do PIB em 2011, depois de se ter registado 4,3% em 2010. Em termos de contribuição para a melhoria do ambiente de negócios, é de salientar um dos maiores feitos históricos de S.Tomé e Príncipe registado em 2011 – senão o maior. Tratou-se da divulgação, pela primeira vez, do relatório Doing Business” em S. Tomé e Príncipe. Pois, este relatório demonstra que 125 das 183 economias cobertas pelo projecto implementaram um total de 245 reformas das suas regulamentações no âmbito do ambiente de negócios – 13% mais reformas do que no ano anterior - , com a África Subsaariana a registar um recorde, ou seja, 36 das 46 economias aperfeiçoaram as suas regulamentações de negócios neste ano. Segundo ainda a mesma edição do relatório Doing Business 2012, São Tomé e Príncipe foi um dos quatro melhores reformadores do mundo, melhorando em doze posições. A sua posição neste relatório é de 162 entre 183 países, quando no Doing Business 2011 posicionava-se em 174 entre 183 país. As mais destacadas reformas concluídas e que mais contribuíram para esta melhoria foram i) a implementação do Guiché único que veio reduzir consideravelmente o período para criação de empresas, que acontece agora num prazo máximo de 3 dia, quando anteriormente o mesmo serviço era prestado num período acima de 180 dias; ii) a simplificação do processo de licenciamento para negócios. Esta acção conduziu a redução substancial do período para a obtenção de licenças de negócios, isto é, o que acontecia anteriormente em 144 passou para apenas 6 dias; iii) A redução do processo e do tempo para a obtenção de licenças de construção; iv) a redução do tempo e dos custos dos processos para pedidos de licença e transferência de propriedade e v) a simplificação do processo de pagamento de impostos. www.min-financas.st/ciad - 3 Conjuntura eConómiCa - naCional até Novembro (1,9%), com algumas variações nos meses intercalares, para terminar o ano de 2010 com uma ligeira queda, cuja cifra foi de 1,6%, o contrário da tendência observada em Dezembro de 2011 (1,8%). O aumento dos preços registado nos primeiros quatro meses de 2011 é explicado essencialmente pela combinação de diversos factores, como a alta dos preços de bens alimentares a nível internacional, o ajustamento de preços internos dos produtos petrolíferos e escassez e roturas acentuadas de stocks de bens de primeiras necessidades, proporcionando deste modo situações de especulações. A tendência inflacionista também observada de Setembro a Dezembro de 2011deveu-se, entre outros factores, a antecipação do início do período de gravana (situação observada também em 2010) que começa geralmente em Junho - e não em Abril como foi o caso - e se prolonga até ao mês de Setembro, a dificuldade do País em garantir com alguma regularidade a oferta de bens de primeira necessidade consumidas localmente - sejam elas produzidas localmente ou importadas-, bem como a liquidez adicional decorrente das eleições presidenciais. BOlETIM ECONóMICO - N.º 8 - 2º Semestre 2011 GráfICo 3: TAxA dE INflAção (vArIAção mENSAl) Fonte: INE STP âmbito do Sistema da Administração Financeira do Estado, associadas a medidas de política no que se refere à contenção de despesas. O bom desempenho na arrecadação de receitas provenientes de impostos directos e uma forte contenção de despesas primárias, particularmente as correntes primárias, observado no período em análise são exemplos de resultados destas medidas de políticas. GráfICo 4: SAldo PrImárIo Em % do PIB Fonte: Ministério das Finanças e Cooperação Internacional Da leitura do gráfico 5 a seguir, constata-se que, em 2011, o valor do rácio receitas correntes/PIB efectivamente arrecadas (18%), excluindo as ligadas ao petróleo, situou-se ligeiramente acima do valor programado para o mesmo período (17%), mas abaixo do período homólogo de 2010 (20%). Contribuíram para esse crescimento, em termos de execução em relação ao valor programado para o ano em análise, os aumentos registados basicamente nas receitas provenientes dos impostos directos, enquanto que as aduaneiras - não obstante o registo do aumento das importações no mesmo período - e as provenientes de impostos sobre o produto local conheceram quedas na ordem dos 2% do PIB. A manutenção desta tendência, num momento em que se regista a fraca entrada de capitais, impõe que medidas de políticas adequadas e concertadas sejam tomadas, compatibilizando-as com os esforços que o País vem fazendo na implementação de reformas visando a criação de um ambiente de negócios cada vez mais saudável. Assim, a viragem da tendência inflacionária, será uma contribuição importante para a atracção de investidores privados, a fim de participarem connosco no desenvolvimento para o bem-estar que todos nós almejamos. Sector fiscal GráfICo 5: rECEITAS Cor. (-PETrólEo) E S/ComPoNENTES Em % do PIB Fonte: Ministério das Finanças e Cooperação Internacional A execução das operações financeiras do Estado santomense, em 2011, indica que as contas fiscais registaram um défice primário na ordem de 3,4% do PIB, contra os 4,0% do PIB programado para 2011 e 4,3% do PIB executado em 2010. Este indicador revela-nos um desempenho evolutivo positivo das contas fiscais, que está em linha com as metas programadas com o FMI. A melhoria do défice primário alcançado em 2011 (3,4% do PIB) em relação ao ano precedente (4,3%), cf. gráfico 4, é, entre outros, o sinal positivo dos resultados da implementação do pacote de reformas que o Governo vem levando a cabo, enquadradas no Em termos de estrutura das diversas componentes das receitas correntes, excluindo as provenientes do petróleo (gráfico 6), observa-se que, em 2011, as receitas aduaneiras que constituíam a principal componente das receitas fiscais – com um peso médio sempre acima dos 40% - situaram, em termos de contribuição para as receitas correntes, ao mesmo nível do conjunto das receitas provenientes do IRS e IRC (39%). Esse registo histórico é o sinal evidente dos esforços visando que os impostos directos venham a constituir a principal fonte de receitas fiscais em S. Tomé e Príncipe. 4 - www.min-financas.st/ciad Conjuntura eConómiCa - naCional GráfICo 8: ESTruTurA dAS ComPoNENTES dAS dESPESAS PrImárIAS Fonte: Ministério das Finanças e Cooperação Internacional GráfICo 6: ESTruTurA dAS rECEITAS CorrENTES (SEm PETrólEo) Fonte: Ministério das Finanças e Cooperação Internacional Como se pode observar através do gráfico 7 abaixo, no que concerne às despesas primárias, o Governo prosseguiu em 2011 com a política de rigor orçamental que já vem dos anos anteriores, contendo todas as despesas dentro do quadro orçamental programado para todas rubricas, com a exceção da classe de bens e serviços, cujo valor ficou ligeiramente acima do limite da sua programação (0,9%), onde as despesas com a Água e Energia excederam em cerca de 24,4% do valor programado. Este desvio resulta de consumo de energia pelos diversos serviços autónomos, cujos valores não eram registados adequadamente. a levar a cabo, não obstante o período coincidir com o das eleições presidenciais. Assim, os esforços do Governo, para que esta tendência se mantenha continua a ser imprescindível, porque constituirá um importante contributo para que o objectivo do equilíbrio nas Finanças Públicas seja gradualmente alcançado, considerando, pelo menos, numa primeira fase, as operações correntes, ou seja, a capacidade do Estado em poder financiar inicialmente as suas despesas correntes com os recursos resultantes das receitas internas (impostos, taxas, entre outras). Para o financiamento do défice global, o Governo contou com, entre outros, o financiamento interno, constituído por fundo HIPC, verba anual do petróleo. Do lado externo, as origens do financiamento foram essencialmente do Governo taiwanês, português, do FMI no âmbito do programa para a redução da pobreza e o crescimento, do Banco Mundial, BAD no âmbito do projecto de apoio ao desenvolvimento da pecuária, BADEA inerente ao abastecimento de água, etc. GráfICo 7: dESPESAS PrImárIAS E S/ComPoNENTES Em % do PIB Fonte: Ministério das Finanças e Cooperação Internacional Em termos da estrutura das despesas primárias, o gráfico 8 ilustra que o total das despesas com o pessoal realizado em 2011 representou cerca de 43% das despesas primárias totais, seguido de despesas com bens e serviços (20%) e transferências correntes (21%). No entanto, as despesas com o investimento público, financiadas com recursos internos, não foram além dos 8%,valor muito inferior ao registado nos dois anos anteriores. Esta redução deveuse essencialmente a reorientação de recursos para financiamento de outras despesas de funcionamento consideradas inadiáveis. Torna-se necessário realçar que o controlo das despesas primárias observado em 2011 esteve em coerência com a política para a consolidação da sustentabilidade fiscal que o Governo tem estado Analisando os principais indicadores apresentados no gráfico 9 a seguir, observa-se que ao longo do ano de 2011, os ativos externos líquidos, depois de atingir o valor mais baixo em 31 de março, esse indicador volta a crescer gradualmente até 31 de dezembro – como consequência da entrada de algum recurso externo -, alcançando uma cifra ligeiramente acima dos mil milhões de Dobras, enquanto que, em 31de dezembro de 2010, o mesmo indicador situava-se ligeiramente abaixo dos mil milhões de Dobras. Pois, torna-se necessário realçar que o aumento que se registou nos ativos externos líquidos foi insuficiente para manter também a mesma tendência no que respeita às reservas internacionais líquidas em meses de importação, que diminuíram cerca de 7% no mesmo período (gráfico 10). Este registo deveu-se essencialmente a entrada insuficiente de recursos externos, quer sob a forma de donativos quer sob a forma de capitais para investimentos públicos ou privados, como consequência da crise financeira instalada a nível mundial, forçando deste modo o Governo a utilizar recursos internos, reduzindo os depósitos acima do seu valor programado, para financiar despesas BOlETIM ECONóMICO - N.º 8 - 2º Semestre 2011 Sector monetário e financeiro www.min-financas.st/ciad - 5 Conjuntura eConomia - naCional públicas, que inicialmente contavam com recursos externos. Ou seja, É neste contexto que se verifica uma redução de crédito líquido ao Governo na ordem dos 46%. GráfICo 11: BASE moNETárIA E SuAS ComPoNENTES (mIl mIlhõES doBrAS) Fonte: BCSTP GráfICo 9: INdICAdorES dE ExPANSão dA lIquIdEz (mIl mIlhõES doBrAS) Fonte: BCSTP A expansão do crédito a economia em 15% observada em 2011 (gráfico 9), ritmo muito menos acelerado do que o registado no período homólogo (43%) – permitindo uma evolução da liquidez mais moderada do que se observou em 2010 - continuou a ser dinamizada pelo crédito concedido aos setores de comércio, construções e, não menos importante, aos funcionários públicos sob a forma de pagamentos de salários antecipados. Este último, como consequência da bancarização do pagamento de salários aos funcionários e não só, que se vem implementando gradualmente no âmbito da reforma do SAFE, facto que tem permitido aos bancos aumentarem as suas capacidades de avaliação dos riscos de crédito de seus potenciais clientes. mite libertar recursos que conduzam ao desenvolvimento do país, através de concessão de crédito à economia. No que concerne à política de taxa de juro do Banco Central, o gráfico 12 abaixo indica que, ao longo de 2011, ela nem sempre esteve alinhada a taxa de inflação. Este alinhamento recomenda que os ajustes, a nível de taxas de juro, devem ser efetuados acompanhando a evolução da taxa de inflação, mas mantendo sempre um diferencial de, pelo menos, três dígitos acima da taxa da inflação. Neste contexto, constata-se que, em 2011, esse alinhamento foi cumprido apenas parcialmente, por se verificar que, de março a outubro, a taxa de inflação situou-se acima da taxa de juro, o contrário do registado em 2010, que apenas nos meses de novembro e dezembro se observou que a taxa de inflação ficou acima. GráfICo 12: TAxAS dE INflAção E dE juro do BANCo CENTrAl Fonte: BCSTP BOlETIM ECONóMICO - N.º 8 - 2º Semestre 2011 GráfICo 10: rESErvAS INTErNACIoNAIS líquIdAS Em mESES dE ImPorTAção Fonte: BCSTP O gráfico 11 a seguir retrata que a base monetária total conheceu, em 2011, uma ligeira contração na ordem dos 0,7%, justificada essencialmente pela redução dos ativos internos líquidos na ordem dos 17%, uma vez que os ativos externos cresceram ligeiramente em 6% (gráfico 9). No que concerne as suas componentes, observou-se a expansão da emissão fora do Banco Central e das reservas bancárias em moeda estrangeira na ordem respetivamente de 6,3% e 13,6%, enquanto que as reservas em moeda nacional diminuíram em torno dos 10,5%. É importante salientar que ao longo de 2011, o Banco Central, no quadro da sua contribuição para a estabilidade macroeconómica que vem prosseguindo – mas sem pôr em causa a sua atividade supervisora - procedeu três reduções sucessivas das reservas mínimas de caixa, passando de 24,5% para 18%. Esta política per- 6 - www.min-financas.st/ciad A permanência da tendência decrescente da taxa de inflação nos próximos anos é sinal evidente que a taxa de juro de referência deverá seguir também a mesma linha – que associada aos recursos libertos no quadro da diminuição das reservas mínimas de caixa proporcionará também aos bancos a possibilidade de reduzir as suas taxas de juros ativas a níveis que incentivem a procura de empréstimos produtivos, como forma de contribuir para a criação de empregos mais duradouros. Sector Externo divida Externa O gráfico 13 abaixo indica que o valor stock da dívida pública externa de S. Tomé e Príncipe,em 2006, rondava os 359,5 milhões de USD (cerca de quatro vezes do PIB nacional), depois do perdão conseguido da parte dos credores no âmbito das iniciativas HIPC e MDRI, em 2007, esse valor caiu para níveis em torno dos 150 milhões de USD (cerca de duas vezes do PIB) e 110 milhões de Conjuntura eConómiCa - naCional GráfICo 13: SToCk dA dívIdA ExTErNA E Em % do PIB Fonte: MFCI, INE e cálculos do CIAD Os indicadores do serviço da dívida em relação às receitas fiscais bem como em relação às exportações de bens e serviços apresentados no gráfico 14, cujas cifras atingiram respetivamente 123% e 156%, ilustra como o País, antes do perdão dívida, em 2007, acumulou os atrasados, não obstante o serviço da dívida ter absorvido em média cerca de 30% dos recursos provenientes de impostos e de exportação. Pois, o aumento gradual do stock da dívida que se registando, depois do perdão da dívida, por um lado, e a capacidade limitada do produto (receitas internas) dessa dívida poder fazer face ao serviço da dívida decorrente do aumento desse stock da dívida, por outro, devem merecer particular atenção das autoridades, no sentido de analisar a eficácia e a eficiência dos resultados da aplicação dos empréstimos, como forma de podermos evitar os erros do passado, e garantir um crescimento mais sustentável, isto é, investindo em sectores que proporcionem sempre mais-valia e de uma forma sustentada. GráfICo 14: - SErvIço dA dívIdA PAGo/rECEITAS fISCAIS - SErvIço dA dívIdA /ExP. dE BENS E SErvIçoS Fonte: MFCI, INE e cálculos do CIAD Assim sendo, é recomendável que o Governo continue envidando esforços no sentido de contratar empréstimos externos em condições que conduzam ao desenvolvimento sustentado do País. A necessidade de financiamento assente nestas condições é fundamental para superar as debilidades estruturais, uma vez que as unidades produtivas nacionais e os investimentos necessários para reestruturar essas unidades com vista a responder as exigências que o mercado impõe são quase inexistentes ou mesmo inexistentes. Balança Comercial Como pode-se observar no gráfico 13 abaixo, em 2011, o valor registado nas exportações de bens foi de USD 5,3 milhões, contra os USD 6,4 milhões registados em 2010, representando assim uma queda na ordem dos 17,7%. Esta redução veio inverter a tendência crescente, ainda que muito tímida, que se vinha registando nesta rubrica desde 2008. A queda registada no valor das exportações, em 2011, foi o resultado da queda da quantidade de bens para produzidos internamente, que teve como consequência o período prolongado da gravana que, por um lado, se antecipou para o mês de Abril e, por outro, se prolongou até ao mês de Outubro, durante os anos de 2010 e 2011 consecutivamente. É de salientar que o período de gravana, considerado como a estação seca, decorre normalmente de Junho a Setembro, enquanto a estação das chuvas vai de Setembro a Maio. GráfICo 15: ExPorTAçõES dE BENS (mIlhõES dE uSd) Fonte: INE e cálculos do CIAD Ao contrário das exportações, o gráfico 14 a seguir revela uma tendência crescente das importações de bens, tendo-se registado em 2011 cerca de USD 120,6 milhões, contra os 111,7 e 101,7 em 2010 e 2009 respetivamente, representando assim um crescimento médio na ordem dos 9% nestes respectivos anos. Esta tendência crescente das importações que é inversa a registada nas exportações constitui uma situação preocupante, uma vez que assinala com evidência a deterioração contínua da balança comercial do País. Aliás, o registo do rácio exportações /importações dos últimos três anos, demonstra que este indicador caíu de 6,1% em 2009, para 5,7% em 2011 e para 4,4% em 2011. Este comportamento da balança comercial deve ser visto com muita preocupação por parte das autoridades nacionais, com vista a tomar medidas conducentes a melhoria da situação. Nesse contexto, torna-se necessário prosseguir com o processo de desburocratização, tornando mais célere o funcionamento do aparelho administrativo público, melhorando cada vez mais o ambiente de negócios, como forma de estimular a mobilização de investimentos para se poder reestruturar o aparelho produtivo – não obstante a persistência da crise financeira mundial - visando o aumento mais acelerado das exportações, que por sua vez contribuirá para melhorar cada vez mais a cobertura das importações. BOlETIM ECONóMICO - N.º 8 - 2º Semestre 2011 USD (62% do PIB), em 2008. No entanto, as informações disponíveis indicam que, em 2011, o endividamento externo do País, ainda que provisório, atingiu cerca de 180 milhões de USD (aproximadamente 80% do PIB). www.min-financas.st/ciad - 7 Conjuntura eConomia - naCional rização gradual até ao último dia de Junho, com a Dobra a atingir 20.235/USD, para voltar a se registar uma situação inversa com poucas oscilações até 31 de Dezembro de 2010, data em que um Dólar cotava Dobras 18.587. GráfICo 16: ImPorTAçõES dE BENS (mIlhõES dE uSd) Fonte: INE e cálculos do CIAD mercado de Câmbios Uma vez que a Dobra tem a paridade fixa em relação ao Euro, desde Janeiro de 2010, em que 1 Euro equivale a Dobras 24.500, já a taxa de câmbio da Dobra em relação ao Dólar americano mantém flexível. Em 31 de Dezembro de 2011, um Dólar americano equivalia a Dobras 19.151 contra Dobras 18.587 do dia 31 de Dezembro de 2011. Tendo assim registado uma depreciação da Dobra face ao Dólar na ordem dos 3,3%, quando em 2009 essa depreciação foi de 8,9%. Como pode-se observar através do gráfico 15, o comportamento da taxa do câmbio da Dobra em relação ao Dólar americano, em 2011, apresenta uma forma côncava, o que se significa que ela começou por conhecer uma depreciação logo em Janeiro seguida de uma apreciação gradual, que se estendeu até ao mês de Abril, mês a partir do qual voltou-se a registar o início de uma nova desvalorização até ao último dia do ano. No entanto, em 2010, nota-se que a taxa de câmbio da Dobra em relação ao Dólar americano teve o comportamento inverso ao de 2011, apresentando tendencialmente uma forma convexa. Ou seja, um Dólar que, em 31 de Janeiro de 2010, cotava 17.632 Dobras, foi seguido de uma valo- GráfICo 17: TAxA dE CâmBIo STd/uSd No que se refere ao comportamento do Euro em relação ao Dólar americano, o gráfico 15 a seguir ilustra que, ao longo de 2011, a relação entre estas duas moedas continuou a conhecer alguma instabilidade como foi no ano de 2010, resultante das incertezas que ainda persistem em termos de confiança no mercado mundial, como consequência da lenta recuperação das economias. GráfICo 18: TAxA dE CâmBIo Euro/uSd BOlETIM ECONóMICO - N.º 8 - 2º Semestre 2011 Perspectiva para 2012 no plano internacional, mantém-se a análise já apresentada no boletim económico nº 7 do CIAD, baseada nas fontes, como as do BM, FMI, Onu e união Europeia, segundo a qual a recuperação da economia mundial será ainda lenta em 2012, não permitindo a recuperação rápida de empregos como se esperava, e aumentando ainda mais o risco de incertezas quanto ao futuro, como consequência da crise mundial que persiste. no que concerne ao continente africano, a projeção do FMI aponta um crescimento acima dos 5% para 2012, que dependerá por sua vez do crescimento económico global, o que significa que um abrandamento acentuado das economias avançadas, reduzindo a procura global, poderá ter efeitos contrários significativos no crescimento para as nossas economias, particularmente para aquelas cuja integração está mais globalizada. Com respeito à economia nacional, em 2012, espera-se 8 - www.min-financas.st/ciad Fonte: BCSTP e cálculos do CIAD Fonte: BCSTP e cálculos do CIAD poder seguir a mesma tendência da sub-região, uma vez que a crise social instalada em alguns países doadores de S. tomé e Príncipe não lhes permitirá garantir o financiamento ao orçamento do Estado, conforme inicialmente previsto. Por isso, estando garantido a estabilidade político e institucional interna, os esforços nacionais devem ir no sentido de prosseguir com as medidas que garantam a estabilidade macroeconómica - através de finanças públicas e inflação a níveis sustentáveis (a nível de dígito) -, e reformas estruturais sãs, pela via de desburocratização e simplificação de processos, visando incentivo à atração de capitais privados, particularmente, de investimentos diretos estrangeiros, para que nos próximos anos a economia possa conhecer níveis de crescimento superiores a 6%, taxas de desemprego reduzidas e qualidade de vida da população melhorada.