A EVOLUÇÃO DE UM QUADRO DE PNEUMOCISTOSE ASSOCIADA À SARA EM UM PACIENTE IMUNOSSUPRIMIDO: RELATO DE CASO SOB A VISÃO DA FISIOTERAPIA Bruna K. Grano1, Adriana R. de Andrade2, Francieli Wilhelms2, Juliana Gaffuri2, Marcela M. A. Costa2, Erica Fernanda Osaku3, Claudia Macedo Costa3 Introdução: A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) incide em 600 mil pessoas no Brasil 1 com predomínio feminino, em jovens, heterossexuais e pessoas de baixo nível socioeconômico e de escolaridade 2. A SIDA é um processo viral que ataca o sistema imunológico humano e destrói as células que defendem o organismo contra infecções. Nessa doença ocorre vulnerabilidade o que favorece a instalação de doenças infecciosas oportunistas, podendo levar à morte 2. A pneumonia por pneumocistose é uma infecção severa e potencialmente fatal comumente encontrada em pacientes imunossuprimidos, a não adesão a terapia antiretroveiral torna ainda mais comum o desenvolvimento da pneumocistose 3. Essa doença é uma infecção fúngica (Pneumocystis Jirovecii) transmitida por via inalatória lesionando os pneumócitos I, que acarreta aumento da permeabilidade alvéolo-capilar com conseqüente edema intersticial e exsudato espumoso eosinofílico 3. Essas alterações pulmonares prejudicam a relação ventilação-perfusão em diferentes graus de severidade. Pode-se classificar como Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA) quando instalase de forma súbita, apresenta relação entre pressão arterial de oxigênio/fração inspirada de oxigênio (PaO2/FiO2) menor de 200 mmHg, além de presença de infiltrados bilaterais observados no raio X e pressão capilar pulmonar menor de 18mmHg sem evidências clínicas de hipertensão atrial esquerda 4. A SARA se caracteriza por edema pulmonar, agudo, não hidrostático ou não cardiogênico, acompanhado de hipoxemia persistente, refratária à terapia com oxigênio. Seu desenvolvimento pode associa-se a diversas causas de origem direta e indireta. Os fatores diretos são: aspiração, infecção pulmonar difusa, afogamento, inalação tóxica, contusão pulmonar, embolia gordurosa e toxicidade pelo oxigênio. Já os fatores indiretos incluem a síndrome séptica, politraumatismo, politransfusão, choque, grandes queimaduras, pancreatite, intoxicação exógena, coagulação intravascular disseminada e excesso de fluidos 5. O quadro clínico característico da SARA apresenta sinais e sintomas como a dispnéia, taquicardia, taquipnéia com batimentos das asas do nariz e cianose. Além disso, há presença de roncos e estertores pulmonares bilaterais e difusos na ausculta pulmonar. Dentre as alterações funcionais mais importantes, destacam-se a diminuição da complacência pulmonar ou fibrose 5. A fisioterapia respiratória por meio de suas técnicas e procedimentos terapêuticos em nível hospitalar ou em terapia intensiva objetiva restabelecer um padrão respiratório funcional e minimizar e/ou prevenir complicações associadas a doenças que tem maior incidência em pacientes imunossuprimidos. Objetivos: Este relato de caso tem como objetivo explanar sobre SIDA, pneumocistose e SARA em um paciente internado na Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTIA) do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP). E posteriormente, discutir a respeito da atuação fisioterapêutica no caso apresentado. Metodologia: Este é um estudo retrospectivo, realizado na UTIA do HUOP. A coleta de dados foi efetuada por meio de análise do prontuário no período de 14/02/2010 à 23/03/2010. Relato do caso: Paciente S. R. F. do sexo feminino, 29 anos. Em 14/02/2010 a paciente foi encaminhada à enferrmaria do HUOP, com diagnóstico de pneumonia e com 1 Acadêmica do 5º ano do curso de Fisioterapia da UNIOESTE [email protected]. 2 Acadêmicas do 5º ano do curso de Fisioterapia da UNIOESTE – Cascavel. 3 Professoras mestre do curso de Fisioterapia da UNIOESTE – Cascavel. – Cascavel, sinais e sintomas de febre, fraqueza em membros inferiores, náuseas, dor retroesternal, dispnéia aos mínimos esforços com cefaléia frontal associada, apresentando histórico de desconforto respiratório desde o dia 09/02, suspensão da terapia antiretroviral há um ano e emagrecimento súbito. Dia 15/02 recebeu o diagnóstico de Pneumocistose. No dia seguinte, pelo quadro grave de hipoxemia, recebeu suporte de O 2 por máscara (6 a 7 l/min). Na quartafeira (17/02) houve piora do quadro respiratório com dispnéia aos mínimos esforços, ausência de expectoração, necessitando de mais O2. No mesmo dia optou-se pelo uso de ventilação mecânica não-invasiva (VMNI), modo CPAP (Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas), por duas horas. Os parâmetros adotados foram: Pressão de Suporte (PS) =12 cmH 2O, Pressão Positiva Expiratória Final (PEEP)=5cmH2O e Fração Inspirada de Oxigênio (FiO 2=40%). No dia 18/02 o quadro continuava grave, porém estável e apresentava pequena quantidade de secreção. Como estratégia de tratamento foi utilizada VMNI modo Binível de Pressão Positiva na Via Aérea (BIPAP) por três horas, com PS=12 cmH 2O, PEEP=5cmH2O, FiO2=45%. No outro dia houve piora do quadro, sendo instalado novamente CPAP. Sem a remissão dos sintomas, a paciente foi admitida na UTIA, com diagnóstico de Insuficiência Respiratória Aguda (IRA). A mesma apresentava-se instável hemodinamicamente, com uso de drogas vasoativas e sedação (midazolan e fentanil). Posteriormente realizou-se biópsia pulmonar e a intubação orotraqueal (IOT) para receber a ventilação mecânica invasiva (VMI) no modo SIMV (Ventilação Mandatória Intermitente Sincronizada), com FiO 2 de 50%, PEEP de 10 cmH2O, mantendo a Saturação de O2 (StO2) em 93%, utilizando dreno de tórax esquerdo com débito sanguinolento, ausculta pulmonar (Ap) apresentando murmúrio vesicular presente, com roncos difusos e secreção em média quantidade de cor amarela. Nos dias subseqüentes de internação na UTI, a paciente mostrou grande instabilidade clínica, com alterações dos padrões ventilatórios, das imagens radiográficas, do uso de medicamentos como também na quantidade e no aspecto das secreções. A seguir serão descritos os pontos mais relevantes das alterações do quadro clínico da observada. Quanto à ventilação mecânica a paciente permaneceu do dia 19/02 (1º dia de internamento na UTI) ao dia 23/02 no modo SIMV. Ainda no dia 23/02 foi submetida à troca de decúbito supino para pronado, permanecendo assim durante 29 horas. Nos dias 24 e 25/02 o modo do ventilador foi alterado para Assisto-Controlado (A/C). Nos dias subseqüentes (26/02 a 12/03) retornou-se ao modo SIMV. No dia seguinte (13/03) a paciente tornou a utilizar o modo A/C permanecendo nesse até 18/03. Do dia 19/03 ao dia 22/03, houve alteração do modo da VMI para SIMV. . Os parâmetros variaram durante todo o período da internação, tanto no modo A/C quanto no SIMV. Portanto, apresentam-se a seguir os valores máximos e mínimos, respectivamente, de FiO2 = 90% e 45%, de PEEP= 18 cmH2O e 6 cmH2O e de PIP= 36cmH2O e 20cmH2O. No último dia da coleta de dados do estudo (23/03), a paciente apresentou melhora do quadro, com Glasgow 15, responsiva, contactuante e foi colocada em VMI modo CPAP. Neste mesmo dia, foram realizados testes de função pulmonar para verificar a possibilidade de desmame do ventilador. Na avaliação de evolução da SARA, a PaO2/FiO2 apresentou valores que variaram entre 105 e 309. Sendo que no último dia de avaliação do estudo este parâmetro indicava-se 264. Sobre as secreções pulmonares aspiradas tanto em sistema aberto quanto fechado, a quantidade variou de pequena a grande, e quanto ao aspecto, esse permaneceu espesso a maioria dos dias, sendo raras vezes, fluido e viscoso. Já a coloração alternou entre amarelada, sanguinolenta e esbranquiçada, sendo as duas primeiras mais freqüentes. As imagens radiográficas são características do quadro clínico de SARA e Pneumocistose, 1 Acadêmica do 5º ano do curso de Fisioterapia da UNIOESTE [email protected]. 2 Acadêmicas do 5º ano do curso de Fisioterapia da UNIOESTE – Cascavel. 3 Professoras mestre do curso de Fisioterapia da UNIOESTE – Cascavel. – Cascavel, revelando comprometimento grave do parênquima pulmonar, representada por infiltrados difusos e opacidades alveolares. Conclusão: Diante de todas as considerações expostas, a fisioterapia preocupa-se em oferecer um tratamento global e individualizado, reduzindo riscos de complicações e aumento da sobrevida. Por isso a equipe deve buscar o conhecimento cientifico sobre clinica e fisiopatologia pertinente aos pacientes, embasando e justificando o uso das estratégias terapêuticas. Palavras-chave: UTI, Fisioterapia, Paciente Imunossuprimido. Referências 1. Fonseca MGP, Bastos FI. Twenty-five years of the aids epidemic in brazil: principal epidemiological findings, 1980-2005. Cad Saúde Pública. 2007;23 Supl 3:533-44. 2. Santos SMS, Oliveira MLF. (Com) vivendo com a Aids: perfil dos portadores de HIV/Aids na região noroeste do estado do paraná, 1989-2005 Acta sci Health sci. 2009;32(1):51-6. 3. Carneiro EM, Maneira RZ, Rocha E. Ventilação mecânica não-invasiva em paciente com provável pneumonia por pneumocystis jirovecii: relato de caso. Rev Bras Ter Intensiva. 2008;20(2):210-12. 4. Neto JAC, Neves LAT, Mata GF, Barbosa RRM, Firmo GO, Neves DS. Síndrome da angústia respiratória aguda na criança: relato de caso. HU Revista. 2007;33(3): 99-102. 5. Antoniazzi P, Júnior GAP, Marson F, Abeid M, Baldisserotto S, Filho AB. Síndrome da angústia respiratória aguda (SARA). Rev Med. 1998;31:493-506. 1 Acadêmica do 5º ano do curso de Fisioterapia da UNIOESTE [email protected]. 2 Acadêmicas do 5º ano do curso de Fisioterapia da UNIOESTE – Cascavel. 3 Professoras mestre do curso de Fisioterapia da UNIOESTE – Cascavel. – Cascavel,