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Trabalho 145
ADOLESCENTE HOSPITALIZADA COM PÊNFIGO FOLIÁCEO
ENDÊMICO: IDENTIFICAÇÃO E DIAGNÓSTICOS DE
ENFERMAGEM
Lillian Chimenes da Silva*
Carlos Alberto da Silva Castro*
Dayanne Kallassa Barbosa do Nascimento*
Jullyeth Aparecida Delmondes de Oliveira*
Karine Gomes Jarcem*
Tallyta Araujo Pivetta*
Marisa Rufino Ferreira Luizari**
Introdução: Os relatos de Pênfigo Foliáceo Endêmico (PFE) ou Fogo Selvagem (FS)
datam desde 1730 no Brasil. Em 1903 foi registrado o primeiro caso no nordeste de São
Paulo, seguido de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, e mais tarde ao norte do
Paraná. A história epidemiológica do PFE mostra ascensão seguida de queda da
endemia, que acompanhou trajetória coincidente com o desbravamento e ocupação do
território brasileiro. Atualmente, parece haver estabilização da endemia em áreas
restritas, remanescentes dos grandes focos(1). O termo pênfigo refere-se a um grupo de
doenças com comprometimento cutâneo e algumas vezes mucoso, que tem como
característica comum a presença de bolhas intraepiteliais acantolíticas. O PFE é
considerado doença de caráter autoimune, crônica e endêmica em algumas regiões do
mundo. O PFE incide predominantemente em adultos jovens e adolescentes que vivem
próximo a córregos e rios, em áreas rurais e em algumas tribos indígenas, sem
predileção por sexo ou raça. A literatura refere à ocorrência familiar como uma das
características, e trabalhos recentes mostram que, em sua maioria, os casos são
geneticamente relacionados(2). Em Mato Grosso do Sul (MS), um estudo descritivo com
o objetivo de caracterizar epidemiologicamente o PFE, publicado no ano de 2005,
investigou 307 casos e foi verificado que a patologia predominou no trabalhador rural
de 10 a 42 anos, e que houve maior incidência em dezembro, janeiro, fevereiro, março e
maio (média de 30,7 casos anuais). Em Campo Grande/MS, o Hospital Adventista do
Pênfigo é considerado de referência na área(3). Objetivos: Apresentar a doença PFE,
relatando um caso de hospitalização e seus respectivos diagnósticos de enfermagem,
segundo a versão atual de diagnósticos da Associação Norte Americana dos
Diagnósticos de Enfermagem (NANDA), correlacionando com a literatura atual.
Metodologia: Trata-se de um estudo acadêmico, com cliente adolescente hospitalizada
com diagnóstico de PFE há dois anos, por ocasião das atividades práticas na disciplina
de Enfermagem Pediátrica, do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em uma Unidade Hospitalar de Alta
Complexidade do município de Campo Grande/MS. Este seguiu todos os passos
relativos aos procedimentos éticos e legais, iniciando-se somente após a assinatura do
termo de consentimento livre e esclarecido pelo responsável da adolescente. Foi
realizada assistência de enfermagem no período de uma semana, levantando-se os
problemas e identificando-se diagnósticos para a situação atual da cliente. Discussão:
as lesões cutâneas primárias são bolhas superficiais que se rompem facilmente. Essas
podem encontrar-se transformadas em discretas erosões, escama fina e aderente ou em
pequena crosta hemorrágica. É comum o líquido da vesícula conter bactérias que, com o
rompimento e ressecamento, deixam escamas e crostas amareladas. As lesões iniciamse de forma branda, pela cabeça, seguindo pelo pescoço, espalhando-se em seguida pelo
∗ Acadêmica do 7º semestre do curso de Graduação em Enfermagem (UFMS); E-mail:
[email protected]
** Orientadora. Professora adjunta do Departamento enfermagem - CCBS/UFMS/Cidade Universitária.
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corpo todo após algumas semanas ou meses. Na maioria dos pacientes, as lesões
concentram-se nas regiões da pele expostas ao sol(4). A etiopatogenia do PFE é
complexa e multifatorial, com o envolvimento de fatores genéticos, ambientais e
imunológicos(3,5). É provocada por autoanticorpos IgG, predominando o subtipo IgG4.
São patogênicos, específicos para a epiderme e responsáveis pelo fenômeno da
acantólise, separação dos ceratinócitos. O papel de possíveis agentes ambientais no
envolvimento do PFE tem sido incansavelmente aventado, especialmente o do
simulídeo ou borrachudo. Em um dos primeiros estudos epidemiológicos sobre o PFE,
foi reportado que picaduras de simulídeos eram 4,7 vezes mais freqüentes em
indivíduos com a doença do que em controles. Em trabalho posterior, o Simulium
nigrimanum foi detectado como sendo a espécie predominante em áreas de alta
prevalência do PFE, como a Terra Indígena Teréna de Limão Verde/MS. Esse achado
desperta interesse, já que a espécie de simulídeo predominante na área endêmica diferiu
das espécies das áreas não endêmicas. A exposição do doente a outros insetos
hematófagos (triatomídeos e cimecídeos) e moradias rústicas mostraram-se relevante no
desencadeamento do PFE(5). Assim, o PFE é a única doença autoimune e endêmica ao
mesmo tempo(1). O fato de a cliente ter residido no interior de MS, Rochedo, região de
mata, pode ou não estar associado à ocorrência do PFE devido ao suposto contato com
os simulídeos, já que ainda é inconclusivo o papel destes no desenvolvimento do PFE(1).
O exame físico permite caracterizar a natureza das lesões (disseminadas, descamativas e
crônicas). O diagnóstico de enfermagem proporciona, logo, a orientação das
intervenções de enfermagem visando alcançar os objetivos pelos quais o enfermeiro é
responsável: a qualidade e a resolutividade da assistência. Resultados: Adolescente de
12 anos de idade, sexo feminino, natural de Rochedo/MS, onde residiu até sete anos de
idade. Iniciou manifestação da doença há cerca de dois anos, época em que sofria abuso
sexual regularmente. Ao exame físico: couro cabeludo com lesões descamativas,
cabelos quebradiços, alopecia em região frontal e parietal esquerda. Presença de
secreção purulenta em grande quantidade em ambos os ouvidos. Ausculta pulmonar e
cardíaca sem particularidades. Mamas em estágio 4 (projeção da aréola e da papila, com
aréola saliente em relação ao contorno da mama). Presença de acesso venoso central
(AVC) em subclávia esquerda. Abdômen globoso, doloroso à palpação superficial,
ruídos hidroaéreos presentes, presença de secreção purulenta em média quantidade em
cicatriz umbilical. Pêlos pubianos em estagio 2 (pêlos longos, finos e lisos ao longo dos
grandes lábios). Presença de secreção amarelada em moderada quantidade em canal
vaginal. Presença de sonda vesical de demora (SVD). Lesões dérmicas descamativas
presentes em todo o corpo, sendo mais acentuado na região torácica anterior e posterior,
abdômen e região genital e perianal, sendo algumas sangrantes. Em isolamento devido à
cultura positiva de Pseudomonas sp. Diagnósticos de enfermagem identificados:
Integridade da pele prejudicada caracterizada por rompimento da superfície da pele
relacionado com o déficit imunológico; Risco de infecção relacionado a defesas
primárias inadequadas, como pele rompida e procedimentos invasivos; Dor crônica
caracterizada por expressão facial e relato verbal de dor relacionada à incapacidade
física crônica; Eliminação urinária prejudicada caracterizada por retenção relacionada a
múltiplas causas; Déficit no autocuidado para banho caracterizado por incapacidade de
lavar o corpo relacionado à dor; Náusea caracterizada por aversão a comida, relato de
náusea e sensação de vômito relacionada a fármacos; Termorregulação ineficaz
caracterizada por flutuações na temperatura corporal, acima e abaixo dos parâmetros
normais relacionado à doença; Diarréia caracterizada por urgência para evacuar
relacionada com abuso de laxantes e ansiedade; Mobilidade no leito prejudicada
caracterizada por capacidade prejudicada para virar-se de um lado para outro
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relacionado à dor devido às lesões; Deambulação prejudicada caracterizada por
capacidade prejudicada para percorrer distâncias necessárias relacionado à dor; Risco
de solidão relacionado ao isolamento social e físico; Risco de baixa autoestima
situacional relacionado ao distúrbio na imagem corporal e doença física; Síndrome do
estresse por mudança caracterizado por isolamento, perda da autoestima e solidão
relacionado à saúde psicossocial prejudicada; Conhecimento deficiente em relação à
patologia caracterizada por verbalização do problema relacionado à falta de exposição e
interesse em aprender; Atividade de recreação deficiente caracterizada por declarações
da cliente relacionada à ausência de atividade de recreação no ambiente hospitalar.
Conclusão: O PFE deve ser encarado como de extrema importância na saúde pública
no Brasil, pois associa aspectos endêmicos a uma doença de características autoimunes.
Sua ocorrência em crianças e adultos jovens, a presença de casos familiares e a
identificação de áreas endêmicas a torna uma doença de características únicas (5). Em
MS, a doença revelou-se ativa, com média de 30,7 casos anuais (3). Implicações para a
Enfermagem: O diagnóstico de enfermagem constitui uma das etapas da
Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), a qual torna possível a conclusão
do levantamento de dados e a implementação do cuidado, envolvendo raciocínio e
julgamento. É neste sentido que o diagnóstico de enfermagem se torna imprescindível
para descrever e direcionar as intervenções de enfermagem na prática clínica, fazendo,
assim, um planejamento direcionado para um melhor assistência, otimizando e
potencializando as capacidades prognósticas de recuperação do cliente.
Palavras-Chave: Pênfigo. Diagnósticos de Enfermagem. Assistência de Enfermagem.
Referências:
1. Pimentel LCF. Perfil sócio-demográfico e distribuição dos casos de pênfigo foliáceo
endêmico nas diferentes regiões do estado de Minas Gerais, no período de 2005 a
2006 [dissertação]. Belo Horizonte:Universidade Federal de Minas Gerais,
Faculdade de Medicina Belo Horizonte; 2008.
2. Silvestre MC, Netto JCA. Pênfigo foliáceo endêmico: características sócio-
demográficas e incidência nas microrregiões do estado de Goiás, baseadas em estudo
de pacientes atendidos no Hospital de Doenças Tropicais, Goiânia, GO. An Bras
Dermatol. 2005; 80(3):261-6.
3. Chagas ACF, Ivo ML, Honer MR, Correa Filho R. Situação do pênfigo foliáceo
endêmico em Mato Grosso do Sul, Brasil, 1990-1999. Rev Latino-am Enfermagem.
2005 mar-abr; 13(2):274-6.
4. Köhler KF. Existe alguma relação entre variantes de genes de apoptose e pênfigo
foliáceo endêmico? [dissertação]. Curitiba: Universidade Federal do Paraná; 2005.
5. Aoki V, Rivitti EA, Ivo LM, Hans-Filho G, Diaz LA. Perfil histórico da
imunopatogenia do pênfigo foliáceo endêmico (fogo selvagem). An Bras Dermatol.
2005; 80(3):287-92.
6. Nanda. Diagnósticos de enfermagem da NANDA: Definições e classificação (2009-
2011). Porto Alegre: Artmed; 2010.
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