a critica transcendental de apel ao solipsismo moderno e

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A CRÍTICA TRANSCENDENTAL DE APEL AO
SOLIPSISMO MODERNO E CONTEMPORANEO
Renê Ferreira Soares*
RESUMO: A filosofia da linguagem de Apel se configura a um caráter filosófico diferente do
caráter gnosiológico e antropológico da consciência individual da modernidade. Para superar
a fase crítica da razão, elevada ao radical aporético por meio da pergunta transcendental de
Kant sobre “quais são as possibilidades de conhecimento, Apel desenvolve por meio do seu
contato com o racionalismo critico, com a filosofia analítica e a hermenêutica transcendental,
uma nova maneira de repensar a própria filosofia, revelando-a como uma estrutura
semioticamente ligada a linguagem humana. Com essa virada transcendental, não se sobrepõe
mais dominantemente a busca pela verdade individual do cogito de Descartes, nem mesmo a
consciência objetivista de Kant prevalece com suas postulações universais da razão acerca do
que podemos conhecer e fazer, também o pensamento de Wittigesntein se encontra limitado
diante do problema da fundamentação do campo epistemológico para o campo pratico, assim
como Popper também esbarra no limite da dedução logica-formal do discurso, sem validade
reflexiva e critica para o campo da ação do homem. Todas as formas transcendentais do
sujeito, doravante, agora se equacionam na intersubjetividade linguisticamente mediada e
constituída pela classe universal de falantes num processo de compreensão linguística.
PALAVRAS-CHAVE: Transcendental. Linguagem. Discurso. Intersubjetividade
ABSTRACT: The philosophy of language of Apel configures itself to a philosophical
character different from character and anthropology of individual consciousness of
modernity,To overcome the critical phase of reason, high to the radical aporético through the
transcendental question of Kant on "What are the possibilities of knowledge, Apel develops
through its contact with the critical rationalism, with analytical philosophy and
hermeneutics transcendental form, a new way to rethink their philosophy, revealing it as a
structure semioticamente linked to human language. With this transcendental turning, the
search for the individual truth of the cogito of Descartes does not overlap even more
dominantly, not even the objectivist consciousness of Kant prevails with its universal
postulations of reason about what we can know and do, also the thought of Wittigesntein is
limited In the face of the problem of the grounding of the epistemological field for the
practical field, just as Popper also comes up against the limit of the logical-formal deduction
of discourse, without reflexive and critical validity for the field of human action. All the
transcendental forms of the subject, henceforth, are now equated in the linguistically
mediated intersubjectivity and constituted by the universal class of speakers in a process of
linguistic comprehension.
KEYWORDS: Transcendental. Language. Speech. Intersubjectivity
* Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará – UECE. Especialista em Filosofia da
Educação pela Faculdade Católica Rainha do Sertão – FCRS.
ISSN: 2447-8806
A crítica transcendental de Apel ao solipsismo moderno e contemporâneo.
INTRODUÇÃO
Este artigo busca analisar a pragmática transcendental, por meio do pensamento
filosófico de Karl Otto Apel (15 de março de 1922) como sendo herdeiro do
transcendentalismo de Kant (1724 – 1804), também é nosso intuito, confrontar esse modelo
de ética com as bases auto-reflexivas da tradição transcendental, do racionalismo cientifico e
da filosofia analítica, por estas concederem a enfática primazia do sujeito do conhecimento e
omitirem as múltiplas possibilidades de relações comunicativas com o mundo-relação1.
Neste trabalho refletiremos as bases da teoria da auto-reflexão de Apel, suas
finalidades e de como o pensamento desse herdeiro kantiano, evoluiu e destacou-se da própria
tradição transcendental. Analisaremos como Apel recusa o solipsismo metodológico
transcendental de Kant, cuja relação estrutural da transcendentalidade, limitava-se
unilateralmente ao sujeito transcendental e suas formas universais da experiência. Desse
modo será diante do solipsismo do sujeito cognoscente e também da ânsia pela
universalização a priori da experiência que se ergueram os próprios limites da filosofia
kantiana.
Sendo assim, Apel afim de reabilitar o fundamento da razão bem como resolvera o
problema sobre o fim das ações morais dos sujeitos, realiza em seu pensamento filosófico uma
inversão paradigmática na estrutura da relação transcendental, de forma que está agora darse-á entre sujeitos: de sujeito para sujeito, acrescentando destarte a auto-reflexão o potencial
para a fala e comunicação, principio este da comunicabilidade que funda o sentido
intersubjetivo da linguagem.
Todavia, também apresentaremos as oposições apenianas da linguagem para com a
concepção ordinária da linguagem predominante nos jogos de linguagem do segundo
Wittgenstein (1889 – 1951), por estes jogos serem desprovidos de um valor universal do
significado, devido ao uso particular e auto-reflexivo da linguagem em cada ato na sua
individualidade.
De outro modo também percorreremos os caminhos do racionalismo critico de Apel e
suas críticas direcionadas a Popper (1902 – 1994) cuja teoria cientifica sustenta uma
1
O mundo é uma estrutura orgânica e cultural, que se pode dizer que é sempre um mundo aberto ao movimento,
as relações, sem as quais ele não teria sentido, o mesmo que poderíamos dizer sobre o sujeito.
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teleologia puramente cognoscitiva, onde o conhecimento intenciona unicamente alcançar o
status de verdade. Em contraposição ao falsificacionismo popperiano, Apel constitui o
falibilismo como meio cientifico da razão, cuja teleologia comunicacional e hermenêutica são
exigidas em cada teoria. A representação de cada classe comunicacional, exerce uma
pretensão a verdade, onde através da subjetividade defendida, a estrutura transcendental
passa a ser reconhecida pelo seu conteúdo onto-hermenêutico que se concretiza desde a
relação auto-reflexiva do sujeito para consigo mesmo, até mesmo, entre sujeitos e sujeitos,
construindo assim o sentido e significado do próprio mundo.
O caminho da filosofia da linguagem de Apel inverte portanto a estrutura da relação
transcendental do sujeito e sua atividade de conhecer ao acrescentar a potencialidade da fala,
da comunicação e da alteridade ao sujeito, elevando assim a linguagem ao status de médium
instransponível, responsável por mediar e realizar o encontro do sujeito com sua
subjetividade hermeneuticamente aprofundada nas relações exteriores.
1. A linguagem como médium da classe universal de falantes
A filosofia da linguagem de Apel se configura a um caráter filosófico diferente do
caráter gnosiológico e antropológico da consciência individual da modernidade, por ser a
modernidade profundamente marcada pela reflexão e considerações cientifico - empíricas,
que nada mais são do que postulações cognoscentes e solipsistas de um sujeito transcendental
que quer reger a ordem do mundo pela ordem do conhecimento individual.
Apel para superar a fase critica dessa finalidade da razão, elevada ao radical por meio
da pergunta transcendental de Kant sobre “quais são as possibilidades de conhecimento, o
filosofo neokantiano desenvolve por meio do seu contato com o racionalismo critico, com a
filosofia analítica e a hermenêutica transcendental, uma nova maneira de repensar a própria
filosofia, novidade essa em que a filosofia e portanto a estrutura transcendental do sujeito se
revelam como uma estrutura semioticamente ligada a linguagem humana, cuja sua finalidade
é a possibilidade de compreensão intersubjetiva.
Uma filosofia transcendental, transformada semioticamente, pode compreender que
as colocações hermenêuticas dos problemas tem sua origem no interesse pelo
acordo, que é complementar ao interesse cientifico do conhecimento: estabelecida
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como sujeito do conhecimento – enquanto função mediada por signos- a
comunidade comunicativa, a filosofia transcendental, semioticamente transformada,
supera o solipsismo metódico da teoria tradicional do conhecimento, segundo o
qual somente podemos pensar os outros homens e suas ações comunicativas como
como objetos de um sujeito isolado do conhecimento (APEL, 1985, p. 192)
A partir desse problema, devemos voltar-nos a origem da crise da razão cujo centro
aporético está na especificidade cientifica da modernidade e no individualismo do homem
moderno. A razão na constituição da sociedade moderna é abalada pelo relativismo
cientificista moderno que quebra a unidade da razão, relativizando assim, os fundamentos da
ação do homem ao discurso puramente cientifico e desautorizando a metafisica e religião de
qualquer possibilidade de discurso e unidade referente a razão. Tal postura moderna fizera
surgir efeitos negativos que refletiram diretamente na vida social dos homens e na história da
humanidade conforme nos explica Manfredo:
Vivemos sob o fracasso assumido de uma fundamentação última de nosso saber a
agir. Trata-se, em última análise, de uma crise da razão como tribunal de
julgamento, como os gregos a conceberam, diante da qual se deve justificar todas as
representações e todos os valores de uma sociedade. (OLIVEIRA, 2001.p. 251)
A destruição moderna do todo, faz que o sujeito no mundo atual além de experimentar
a anulação dos empreendimentos metafísicos e das religiões acerca do sentido unitário da
razão, também o fazem experimentar a individualização como processo de socialização, sendo
portanto impossível articular um sentido intersubjetivo ético e também moral como
fundamental racional para as ações humanas, pelo fato destas se organizarem isoladamente.
Em comparação aos antigos da filosofia grega, perdemos a consideração para com a
razão, onde sua posição nesta filosofia equivalia a um tribunal que justificava as decisões
sobre os valores da sociedade, onde o indivíduo era impossível ser pensado separado dela.
Deste modo auto-reflexão para os gregos não tinha nada a ver com o projeto auto-reflexivo da
consciência individual moderna, onde o homem quer ser acima da razão, que ser o todo.
É nesse contexto que vai emergir a reflexão filosófica de Karl-Otto Apel com uma
preocupação primeira: restabelecer a razão como algo instranscendível na vida
humana. A pragmática transcendental emerge do contexto da crise da razão, e sua
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pretensão fundamental é responder aos desafios que se levantam a partir da crise.
(OLIVEIRA. 2001, p. 253)
É nesse contexto de crise que Apel busca superar tais problemas gnosiológicos e
antropológicos, ao desenvolver sua teoria pragmática transcendental. Apel intenta que ao
acrescentar a comunicação na estrutura do sujeito do conhecimento, que o sujeito possa
surgir numa comunidade real e ilimitada de experimentação e interpretação, onde deixa de
ser uma referência instrumental, e que com sua práxis e seu conhecimento experimente-se
como condição hermenêutica-transcendental capaz de promover a articulação intersubjetiva
dos princípios éticos e morais da comunidade de falantes.
2. A linguagem como tema e meio para a Reflexão Transcendental
Definitivamente estamos atravessando um novo paradigma de reflexão filosófica: a
gnosiologia que antigamente era tratada como cerne da filosofia, evoluiu a filosofia da
linguagem, enquanto condição do conhecimento humano. Com essa evolução radical
podemos entender a superação do solipsismo kantiano. Neste feito Apel, fala das múltiplas
formas de relações estruturais da linguagem e refaz a estrutura transcendental da tradição, ao
expandir essas estruturas para além da relação isolada do sujeito transcendental consigo
próprio no nível apenas do conhecimento do sujeito, fazendo-a alcançar os níveis de relações
entre sujeito-objeto e adquirindo conhecimento sobre o mundo, e a relação sujeito-sujeito,
numa mediação semioticamente linguística.
Mediação entre sujeito e objeto, na forma de interpretação do mundo, e a mediação
entre sujeitos, na forma de interpretação da linguagem; ambas as formas de
conhecimento mediadas pelos signos são sem dúvidas, originariamente
complementares, porque se complementam e também se excluem entre si. (APEL,
1985, p. 154)
Com essa virada transcendental, não se sobrepõe mais dominantemente a busca pela
verdade individual do cogito de Descartes, nem mesmo a consciência objetivista de Kant
prevalece com suas postulações universais da razão acerca do que podemos conhecer e fazer,
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todas formas transcendentais do sujeito se equacionam agora na intersubjetividade
linguisticamente mediada e constituída pela classe universal de falantes num processo de
compreensão linguística.
3. A pragmática universal e o Solipsismo Metodológico
Na comunidade ideal de falantes o sujeito não pode sozinho estabelecer lei de ação e
legitimá-la apenas pela sua própria consciência, esse intento solipsista da modernidade foi
que fundou a modernidade com bases na consciência individual.
Apel reconhece que Kant não construiu seu pensamento acerca da reflexão, fundandoo numa comunidade comunicativa. A reflexão para a modernidade carece de um jogo
transcendental da linguagem, pois não conhecemos em tal contexto as possibilidades de
falhas e nem de reprovações dos enunciados, das proposições linguísticas e até mesmo
cientificas.
A filosofia transcendental de Apel não se reduz a justificativa do tipo kantiano dos
enunciados gnoseo-antropologicos da consciência individual. Ele tematiza o sentido
da argumentação e as implicações de tal sentido. Para Apel, Kant não concebe uma
comunidade comunicativa e nem o jogo transcendental da linguagem,
desconhecendo, inclusive, a possibilidade de fracasso tanto dos enunciados
científicos como das proposições dos acordos lingüísticos. (PIZZI, 1994, p. 93)
Apel expande a teoria kantiana da validação da reflexão no sentido de se opor a
pretensão analítica de negar a validade transcendental e da reflexão a puros levantamentos de
teorias e metateorias como é próprio na filosofia analítica. Na verdade deve ser entendido que
as categorias subjetivas da reflexão devem ser postas no problema da fundamentação que a
filosofia transcendental abre espaço na época atual, porém não mais considerada como dogma
de verdade, mas sim, devemos entender os juízos transcendentais como pretensões a verdade.
Se é possível – e até imprescindível – estabelecer o principio regulativo de uma
verdade absoluta do acordo em uma comunidade ilimitada de interpretação e
interação, é também inegável, então, que, em certo sentido, a autoconsciência critica
é capaz de considerar vigente, frente a si mesma como consciência empírica e finita,
a comunidade ilimitada; sempre que a autoconsciência critica não seja entendida
conforme o modelo solipsista, mas como membro e representante de uma
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comunidade ilimitada de interpretação. Mesmo quando não podemos substituir o
diálogo da comunidade ilimitada de interpretação pelo monólogo de um pensador, a
reflexão filosófica pode alcançar – com a ajuda da linguagem ordinária, que é própria
metalinguagem – o nível adequado para antecipar formalmente a meta e defende-la
em qualquer momento. Parece-me que, somente assegurando este principio de
reflexão, é que a filosofia pode compreender a pretensão universal de suas próprias
proposições e colocá-las em vigência com sentido. (APEL, 1985, p. 206-7)
A filosofia, portanto mesmo pondo a intersubjetividade como eixo central não perde a
dimensão da subjetividade, somente repensa em outro panorama, assim como se fez com a
objetividade. A preocupação é de fundamentar o discurso pela via transcendental da
linguagem, articulando-a, fazendo surgir uma estrutura real da comunicação livre,
intersubjetiva e sem coerção, universalizando o exercício da fala, para conseguir tornar a ação
transcendental numa ação ética do discurso mediado pela própria linguagem.
O discurso parte da intelecção reflexivo-transcendental de que nós no discurso
“liberado pela ação” temos reconhecido já sempre que nossa argumentação deve ser
realizada sem domínio e sem violência. (HERRERO, 2001, p. 186)
Ao afirmar que o processo da ação comunicativa ou ético-comunicativa, dar-se-á de
início pela fase transcendental da ação individual, Apel responde a crítica a Wittgenstein, que
segundo o mesmo é preciso se partir da auto-reflexão enquanto liberada para a interação e
não da interação precedendo então a auto-reflexão.
Apel concebe ampliar o transcendental kantiano para um transcendental que
compreende a interação entre as estruturas constituintes do mundo e da linguagem: o sujeito,
os outros e o mundo. Essa interação se destina portanto a categoria do abstrato, mas em
contato dos sujeitos e com o mundo supera além da categoria da subjetividade, também o
simples contato descritivo que os jogos de linguagem propõem.
A auto-reflexão transcendental realiza também um relacionamento implícito do
homem para consigo mesmo, pois para que os entes cheguem ao estágio da significabilidade o
percurso é a condição de possibilidade de um relacionamento intersubjetivo e o
relacionamento auto-reflexivo, efetivada na própria situação existencial de ser-no-mundo
para com “as suas possibilidades”, de onde se extraem as significações do que os homens são
para si, e também para que se deem significados aos objetos que lhes são alheios.
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Essa significabilidade ou construção de sentido é agora de gênero social e histórico,
dar-se-á no desenrolar-se da existência no mundo contrapondo a filosofia transcendental
clássica, em que a construção do sentido era construída pelo sujeito isolado, isto é, a formação
do conceito transcendental hermenêutico da linguagem.
4. Falibilismo de Apel e o falsificacionismo de Popper
Sobre a filosofia contemporânea duas vertentes filosóficas que atuam em todas as áreas
do mundo vivido são bastante pertinentes. De um lado temos os pressupostos da linha do
racionalismo critico ou falsificacionismo popperiano e peirciano, que são empregados tanto
do paradigma cientifico quanto também ético e social na famosa “sociedade aberta”,
comparáveis inclusive ao falibilismo de Apel, onde os pressupostos são de intenção final o
entendimento mutuo, inclusive das próprias possibilidades de refutação e falsificação das
teorias.
Submeter teorias, enunciados ou discursos ao falibilismo quer dizer, analisar
criticamente pelas fases da auto-reflexão e também da interação com as ciências empíricas,
alcançar aquilo que existe de incoerente e não verdadeiro em uma teoria significa
automaticamente está disposto a acolher outros pressupostos e submetê-los ao mesmo
processo de verificação.
Agir deste modo é diferente da outra maneira contemporânea de considerar os
pressupostos universais e irrefutáveis, este que se contradizem pela sua própria
fundamentação, porque enquanto supõe sua irrefutabilidade, não negam a existência das
pretensões de validação dos pressupostos transcendendo a contingência histórica. Popper
pensa diferente dessa tradição positivista logico, e no exemplo quando lhe perguntam sobre a
existência de Deus, seu método e sua finalidade são bastantes claras “Popper teria dito que é
um enunciado no qual está presente significado e que poderia ser verdadeiro, não sendo um
enunciado cientifico por não haver maneira concebível de mostra-lo falso” (MAGEE, 1974,
p.55)
Essas duas teorias também diferem no sentido da ação, pois para Apel, a teoria
epistemológica popperiana carece de potencial para fundamentação pratica, ou seja, no
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campo ético, dado a falta do uso de regras do próprio discurso, pois o critério fundamental da
validade do argumento não é ser puramente uma dedução logico-formal posta para ser
puramente falsificada e refutada, mas sim deve haver o interesse de se impor como pretensão
radical a verdade afim de guiar ação do homem conforme os ditames de uma reflexão crítica.
CONCLUSÃO
Sem dúvida alguma somos profundamente marcados pelos sinais sensíveis da
modernidade, e isso é em todos setores, desde ao gnosiológico, cultural, antropológico ético e
político. Experimentamos a sensação do vazio, ético, da crise da razão, a perca do todo. A
filosofia contemporânea vem através de muitos filósofos, especialmente Apel, empenhada em
superar essa crise, pelo caminho da própria razão, trata-se mais de um reabilitar a razão,
reconstruir um sentido unitário para as diretrizes e normas da ação e do conhecimento. O
homem deve-se fazer parte desse todo, levar em conta sua contingência histórica e se
conceber em auto-reflexão numa classe universal de falantes, cuja a capacidade da fala e da
comunicação é um motor da linguem, cujo fim é a compreensão mutua dos seres humanos e
efetivação do diálogos entre os homens.
A linguagem torna-se a própria filosofia em sua dimensão mais holística, universal e
fundamentadora da razão. Médium instransponível da auto-reflexão e da alteridade, capaz de
permitir a hermenêutica transcendental ajustada não unicamente no sujeito por ele em si
isolado, mas nele e em suas relações, como ser da linguagem capaz de criar e transmitir
significados, para organizar a sociedade e o mundo em que vive.
A nível de conclusão é necessário superar o solipsismo do sujeito e esgotar os
problemas da auto-reflexão moderna e cientifica, ir além da consciência individual de
verdade, refletir criticamente a objetividade objetificada pela ânsia gnosiológica da
universalização a priori da experiência, que pretende ser o ordem individual do mundo total.
Apel é importantíssimo na filosofia contemporânea, embora sendo um neokantiano se
destacou dos próprios neokantianos ao refazer as estruturas e finalidades do pensamento
transcendental e reabilitar o fundamento da razão, abrindo o campo das possibilidades de
resposta acerca do fim moral das ações dos sujeitos. O pensamento appeliano realiza uma
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inversão paradigmática que possibilita o sentido intersubjetivo da linguagem ou seja, da
própria filosofia.
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