A DIALÉTICA TRANSCENDENTAL

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01/10/2012
A DIALÉTICA TRANSCENDENTAL
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Se a dialética de filiação sofística é uma lógica da aparência (que consiste em dar
à própria ignorância ou às próprias ilusões voluntárias “as tintas da verdade”), a
dialética transcendental pretende ser uma crítica do uso suprafísico da razão. Ela,
contudo, não conseguirá desfazer as aparências dos juízos transcendentes de tais
tipos; apenas as desvelará e disciplinará, impedindo que elas simplesmente se
corrompam.
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Isto ocorre pela tendência natural ao pensamento humano de ir além do limite da
experiência possível.
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Kant também está convencido de que os conceitos da razão pura terão um uso
prático absolutamente necessário (moral).
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Oposição entre o transcendental e o transcendente. À dialética transcendental
cabe “atualizar a aparência dos juízos transcendentes e ao mesmo tempo impedir
que ela nos engane”. (B 355)
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“A razão, em seu funcionamento natural, produz conceitos que relaciona com os
do entendimento, mas que, por sua vez, não podem ser dados na experiência.
Kant dará um nome a tais conceitos, apoiando-se na tradição filosófica. Cuidando
para não criar inutilmente um termo novo, ele decide chamar de idéias os
conceitos da razão; essa palavra, de origem platônica, significando
imediatamente para a linguagem comum, assim como para a filosofia, uma
entidade infinitamente distante da sensibilidade”. (Olivier Dekens, p. 74)
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Kant tratará de pensar essas idéias como correspondentes às modalidades dos
juízos sintéticos oferecidas no quadro apresentado pela analítica dos conceitos.
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Idéias transcendentais (porque as pensamos em sua relação sintética com o que é
condicionado) como conceitos transcendentes:
1. A unidade absoluta e incondicionada do sujeito pensante, que, pelo conceito
de alma, será o objeto de uma psicologia racional.
2. A unidade absoluta e incondicionada das condições do fenômeno, que no
conceito de mundo, será o objeto de uma cosmologia racional.
3. A unidade absoluta e incondicionada de todos os objetos de pensamento em
geral, que, pelo conceito de Deus, será objeto de uma teologia racional.
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A PSICOLOGIA E OS SEUS PARALOGISMOS TRANSCENDENTAIS
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O FUNDAMENTO TRANSCENDENTAL DO PENSAMENTO É A BASE PARA ILAÇÕES
SOBRE O EU SUBSTANCIAL
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Pela dedução da apercepção transcendental, tendemos a dizer que temos a
intuição da alma pelo sentido interno, assim como se deu em relação ao corpo
pelo sentido externo. Mas, se num extremo temos o conhecimento sensível do
corpo e de nossa mente e em outro extremo temos a representação da função
lógica do sujeito transcendental, entre eles não há lugar para um conhecimento
do eu penso. Crê-se poder atribuir-lhe qualidades: a alma é uma substância
imaterial, simples, incorruptível, idêntica, espiritual etc. Mas não podemos
rigorosamente ter experiência da imaterialidade, da simplicidade, da
incorruptibilidade, da unidade, da espiritualidade etc. Conheço pelo sentido
interno o eu empírico, cuja experiência é determinada pelo eu transcendental, mas
não conheço o eu determinante. Não se pode aplicar a categoria de substância ao
eu penso como unidade do pensamento, pois aqui nenhum objeto da intuição é
dado. O sujeito das categorias não pode, apenas pelo fato de pensá-las,
converter-se num objeto oferecido a elas como intuição.
A COSMOLOGIA E AS SUAS ANTINOMIAS
TESE
ANTÍTESE
Primeira antinomia
O mundo tem um começo temporal e
um limite espacial. Supõe ser impossível
ao homem pensar uma totalidade que
não seja limitada (nos dois sentidos), o
que implicaria uma problemática
regressão ao infinito.
O mundo não tem começo temporal
nem limites espaciais. Apóia-se na
afirmação do absurdo de um começo
absoluto do mundo, o que levaria a
pressupor um antes do mundo, além de
um espaço vazio além do mundo ou no
qual o mundo estivesse em suspensão.
Por isso o mundo é
espaciotemporalmente infinito.
Segunda antinomia
Existem apenas o simples e o composto O conceito de partes simples é absurdo
(a composição) de partes simples.
e sem qualquer correspondência na
experiência. Não há nada de simples em
nenhum lugar.
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TESE
ANTÍTESE
Terceira antinomia
A causalidade segundo as leis da
Não há liberdade alguma; tudo sempre
natureza não é a única explicação dos
ocorre unicamente segundo o
fenômenos. Há também uma
determinismo das leis da natureza.
causalidade incondicionada, uma causa
sem causa, na origem da própria série
causal.
Quarta antinomia
Há um ser que, como parte ou causa do Não há em qualquer parte um ser
mundo, é absolutamente necessário.
absolutamente necessário.
Observações:
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1 e 2: Antinomias matemáticas, de qualidade e quantidade.
•
3 e 4: Antinomias dinâmicas, sendo que a quarta é uma variante da terceira.
Ambas opõem Natureza (determinismo) à Liberdade (espontaneidade).
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Nas quatro antinomias, opõem-se o racionalismo dogmático (tese) e o empirismo
(antítese).
Considerações kantianas:
•
“Se toda causalidade no mundo dos sentidos fosse meramente natureza, todo
evento seria determinado, segundo leis necessárias, por um outro no tempo, [o
que] aniquilaria (...) toda a liberdade prática”. (B 562)
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“... se os fenômenos são coisas em si mesmas, então não é possível salvar a
liberdade”. (B 564)
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As antíteses são verdadeiras na perspectiva do entendimento, apenas.
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• Sentido cosmológico da liberdade: “faculdade de iniciar
espontaneamente um estado”. (B 561)
• No mundo dos fenômenos, toda causa há de ser, antes, efeito, pois a
série é indefinida. Defendê-la remete à pergunta, sempre aberta: Já que
tudo é condicionado, o que causa a própria série indefinida de eventos
sensíveis?
• No universo prático-moral, estas duas teses antitéticas das antinomias
dinâmicas se articulam na condição bidimensional do agente humano. Nas
mesmas ações, encontram-se o caráter empírico e o caráter inteligível do
sujeito moral: uma causalidade que não é fenômeno (a razão prática
pura), mas que encontra os seus efeitos no fenômeno.
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